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<p>TEORIAS CRÍTICAS</p><p>DA LITERATURA</p><p>Nadia Studzinski Estima de Castro</p><p>A crítica literária</p><p>brasileira: principais</p><p>autores e tendências</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p>� Reconhecer as origens da crítica literária brasileira.</p><p>� Comparar as tendências de críticas literárias brasileiras.</p><p>� Descrever as principais contribuições de críticas brasileiras para a</p><p>produção literária.</p><p>Introdução</p><p>Neste capítulo, você ampliará a sua leitura sobre a trajetória de consoli-</p><p>dação da crítica literária no contexto brasileiro. De início marcadamente</p><p>europeu, a crítica conduzida no Brasil passou a percorrer uma trajetória</p><p>de consolidação nacionalista na busca de um distanciamento desses</p><p>moldes originários.</p><p>A teoria da literatura é uma área que objetiva construir um tipo de</p><p>discurso específico, ou seja, voltado a teorizar, explicar, criticar e historicizar</p><p>sobre o texto literário. Considerando o contexto brasileiro, buscaremos</p><p>aqui compreender a origem e as influências que estão diretamente re-</p><p>lacionadas ao desenvolvimento do campo denominado crítica literária,</p><p>tendo em conta as influências das produções estrangeiras, sobretudo</p><p>de Portugal, e a sua posterior fase de consolidação de uma crítica</p><p>nacionalista.</p><p>1 Origens da crítica literária brasileira</p><p>No contexto brasileiro, segundo Campos (2001, p. 50), a constituição de um</p><p>pensamento crítico em relação às produções literárias está relacionada a</p><p>“[...] substancialidade histórica e contributo constitutivo da nacionalidade,</p><p>na medida em que se fazia necessário que a literatura aqui produzida deixasse</p><p>de ser apenas objeto de olhares longínquos, curiosos de assinalar exotismos,</p><p>diferenças e legitimações”. Em outras palavras, a crítica literária no contexto</p><p>brasileiro tem as suas origens relacionadas a contribuições estrangeiras, data-</p><p>das do século XVIII, considerando, no entanto, o movimento de legitimação</p><p>nacional para uma produção crítica literária nacional.</p><p>Nesse processo de desenvolvimento e consolidação do campo no Brasil,</p><p>nomes como os de “[...] Friedrich Bouterwek e do suíço Simonde de Sismondi,</p><p>que incluíram autores nascidos no Brasil em obras relativas à história da litera-</p><p>tura europeia, além do francês Ferdinand Denis que, em 1826, distinguiu pela</p><p>primeira vez a literatura brasileira da portuguesa, tratando-a como um todo</p><p>autônomo” (CAMPOS, 2001, p. 50), devem ser conhecidos, pois ampliaram</p><p>o entendimento sobre a crítica literária, mas em uma perspectiva externa</p><p>(produções geradas fora do contexto nacional até então). Aqui, queremos</p><p>reforçar que as produções brasileiras eram observadas por esses e outros</p><p>autores de maneira crítica, constituindo as origens da crítica literária que</p><p>viria a ser consolidada no país.</p><p>Ainda pelos resquícios do processo de colonização, o que era produzido</p><p>no Brasil passava por certa trajetória de legitimação externa para, então, ser</p><p>reconhecido, motivo pelo qual se adotavam moldes europeus para o desenvol-</p><p>vimento do pensamento crítico nacional. Para Campos (2001, p. 50):</p><p>Tratava-se, então, de “abrasileirar”, o que se efetuava em dois sentidos: traduzir</p><p>em discurso brasileiro toda uma série de interpretações críticas e históricas que</p><p>os “estrangeiros” vinham construindo sobre a nossa realidade sociocultural,</p><p>e, na medida do possível, constituir uma visão “de dentro” sobre a literatura</p><p>que aqui se ia fazendo.</p><p>Contudo, mesmo como um campo em desenvolvimento e com bases de</p><p>influência europeia, os estudos produzidos na Europa, principalmente em</p><p>Portugal, não são de amplo acesso. Nesse sentido, as pesquisas de Guilhermino</p><p>Cesar, por exemplo, são de grande utilidade, pois “[...] voltam-se para a recu-</p><p>peração de textos básicos de autores europeus, como os primeiros comentários</p><p>A crítica literária brasileira: principais autores e tendências2</p><p>críticos sobre as manifestações literárias no Brasil: trata-se de um admirável</p><p>empreendimento de coleta, tradução e crítica que veio possibilitar a leitura</p><p>dessa historiografia oitocentista” (CAMPOS, 2001, p. 51), possibilitando</p><p>encontrar as fontes primárias das produções que viriam a se tornar a base da</p><p>crítica literária brasileira.</p><p>De acordo com Souza (2011, p. 32), a crítica, em determinado ponto do desenvolvimento</p><p>dos estudos relacionados à literatura, conquista seu caráter individual:</p><p>Aplicada a textos, à medida que se liberta da tutela normativa exercida</p><p>pelas antigas disciplinas literárias — gramática, retórica e poética —,</p><p>a crítica como que se desregulamenta. Prevalecendo o livre exame e,</p><p>pois, o relativismo de julgamentos, tende a aproximar-se de uma nova</p><p>ramificação da filosofia emergente no século XVIII, a estética. Dela absorve</p><p>em especial a noção de “gosto”, que assim se desvencilha do estigma</p><p>de tema intratável [...].</p><p>Por fim, para entender as influências que marcaram o surgimento da</p><p>crítica literária brasileira, devemos compreender de que maneira esse campo</p><p>se consolidava em Portugal. Depois de diferentes esforços para se consolidar,</p><p>a crítica literária estaria relacionada naquele país a “[...] Fidelino de Figueiredo,</p><p>primeiro historiador da crítica literária, primeiro crítico da crítica portuguesa,</p><p>primeiro promulgador de uma ‘crítica científica’, e Fernando Pessoa, que</p><p>iniciou a sua carreira como crítico” (SARAIVA, 1971, p. 66).</p><p>Segundo Saraiva (1971), são esses os autores, além de Hernani Cidade e</p><p>Carolina Michaëlis, responsáveis por iniciar em Portugal aquilo que se poderia</p><p>chamar de “crítica moderna” ou “crítica profissional”, a qual, uma vez sendo</p><p>crítica na forma de leitura-escrita, discorre sobre a interferência recíproca e</p><p>simultânea entre sujeito e objeto, revezando suas funções sintáticas, conside-</p><p>rando que a crítica literária tem por missão o estudo específico da literatura e</p><p>da literariedade (mas não da literalidade, como definido por alguns autores),</p><p>e a explicação do que faz uma obra ser literatura, mas não da própria obra</p><p>ou de seu conteúdo; em resumo, do que nela é literatura (SARAIVA, 1971).</p><p>3A crítica literária brasileira: principais autores e tendências</p><p>Conforme Souza (1986), na Antiguidade, os gregos utilizavam como equi-</p><p>valentes as palavras kritikós e gramaikós, embora o primeiro termo tenha</p><p>caído em desuso; já os romanos, utilizaram muito pouco a palavra criticus,</p><p>pois preferiam gramaticus. No Renascimento, os termos “crítico” e “crítica”</p><p>voltaram a circular: “[...] primeiro à semelhança do uso grego antigo, crítico</p><p>é empregado como sinônimo de gramático; depois a palavra crítica designa</p><p>a atividade de estabelecer e restaurar textos antigos e também a atividade de</p><p>comparar, classificar e julgar a produção literária” (SOUZA, 1986, p. 30). Para</p><p>essa reflexão, é importante frisar que, a partir do século da segunda metade do</p><p>século VXII, em um uso que acabaria por atravessar o século XVIII, a expressão</p><p>“crítica literária” passou a “[...] designar o sistema do saber sobre a literatura”</p><p>(SOUZA, 1986, p. 30). Nessa perspectiva, delineou-se a crítica literária lusitana,</p><p>que influenciou diretamente na crítica literária produzida no contexto brasileiro.</p><p>2 Tendências de críticas literárias brasileiras</p><p>A partir dessa influência, sobretudo de Portugal, surgiu, em meados do século</p><p>XVIII, a crítica literária no Brasil, junto, inclusive, com o aparecimento das</p><p>correntes literárias. Os escritos seguiam os moldes de Portugal, “[...] com o uso</p><p>de palavras muito rebuscadas, retórica clássica e muita erudição” (BARBOSA,</p><p>2009, p. 3). Na produção crítica, destacam-se o julgamento e o juízo de valor</p><p>dos textos analisados, em uma avaliação, de acordo com Barbosa (2009),</p><p>na maioria das vezes positiva, sem muita argumentação ou discordância.</p><p>É com o romantismo que a crítica literária recebeu mais atenção, inclusive</p><p>percebida como distinta da literatura. Para Barbosa (2009, p. 3), “[...] a Crítica</p><p>ganhou forma com o surgimento do Romantismo e as análises das obras ficaram</p><p>mais criteriosas e outros subsídios</p><p>que não as bajulações e gostos pessoais</p><p>puderam ser observados”. Acentuou-se a tendência a um maior nacionalismo</p><p>e a um distanciamento da narrativa lusitana, até mesmo com posicionamentos</p><p>antilusitanos. Com o modernismo, a crítica literária ganhou novos traços,</p><p>surgindo novos discursos e, com eles, diferentes embates e novos problemas.</p><p>Ainda segundo Barbosa:</p><p>Não há dúvida de que o pensamento não era o mesmo de alguns anos atrás.</p><p>As pessoas viam na contracultura, na arte e na nova literatura uma forma de</p><p>transgressão, ou mais, uma forma de criação. A tal intelectualidade brasileira e</p><p>a possibilidade de formação de um autêntico sistema de pensamento deixavam</p><p>entusiasmada certa parcela da sociedade. Mas este entusiasmo não era geral</p><p>(BARBOSA, 2009, p. 3).</p><p>A crítica literária brasileira: principais autores e tendências4</p><p>Nessa etapa, reforçou-se o movimento de “abrasileiramento” das inter-</p><p>pretações críticas feitas das produções brasileiras sob olhares estrangeiros,</p><p>constituindo um movimento com tendência nacionalista, no sentido de construir</p><p>uma análise interna do que se produzia na literatura nacional. De acordo com</p><p>Campos (2001, documento on-line), em texto datado de 1986, “João Alexandre</p><p>Barbosa localiza na tradição crítica brasileira uma perspectiva centrada na</p><p>busca de uma diferença com relação à Europa, perspectiva em busca de uma</p><p>identidade nacional”, cujo empenho era encontrar marcas literárias “[...] de um</p><p>‘reflexo’ do desenvolvimento histórico, das diferenças em relação ao português”.</p><p>Com tal empenho em se distanciar do colonizador, principalmente após</p><p>o período de independência, os textos de crítica literária que passaram a ser</p><p>produzidos no Brasil buscavam a construção de uma identidade nacional,</p><p>para “[...] identificar a correlação entre literatura e história sob o ângulo do</p><p>traçado da nacionalidade, em que a primeira aparece sempre como reflexo ou</p><p>ilustração da segunda” (CAMPOS, 2001, documento on-line).</p><p>Nessa proposta de produção, “[...] desde o começo das reflexões críticas no</p><p>Brasil, mesmo as menos sistemáticas, empreendidas pelos próprios criadores</p><p>entre os séculos XVII e XIX, o debate converge para a busca de uma diferença</p><p>com relação à Europa e, portanto, pela identidade nacional” (BARBOSA,</p><p>2009), movimento pelo qual as produções nacionais apresentavam-se “como</p><p>reflexo do desenvolvimento histórico”, por meio da indicação de temas de</p><p>cunho de interpretação da cultura nacional.</p><p>Para Campos (2001, documento on-line), portanto, “[...] os críticos desse</p><p>segundo período (segunda metade do século XIX) teriam executado um</p><p>movimento circular entre a interpretação da literatura como representação</p><p>da história e da história como justificativa da literatura”, em que interpretar</p><p>era, desse modo, “antes de mais nada, localizar na literatura os momentos de</p><p>aproximação ou recuo àquilo que se afirmava como fundamento da história”.</p><p>Nesse sentido, os críticos literários do período procuraram, na relação entre</p><p>história e literatura, ampliar a identidade nacional, distanciando-se, de certa</p><p>forma, de Portugal e do que se produzia no estrangeiro sobre as produções</p><p>literárias brasileiras. Do mesmo modo, e mantendo as suas especificidades,</p><p>autores como Afrânio Coutinho e Antonio Candido coincidem “[...] quanto</p><p>à preocupação com as origens e as marcas de nacionalidade” (BARBOSA,</p><p>2009, p. 53), mas diferenciam-se em “perspectiva, formação e gosto” (BAR-</p><p>BOSA, 2009, p. 53), bem como outros críticos literários, que, mesmo com um</p><p>objeto em comum e o objetivo de ampliar uma visão nacionalista da crítica</p><p>produzida sobre os textos da literatura brasileira, distinguem-se quanto às</p><p>suas abordagens.</p><p>5A crítica literária brasileira: principais autores e tendências</p><p>Você pode estar se perguntando: em que momento a expressão crítica literária começou</p><p>a aparecer como um campo de estudo específico e pôde, inclusive, ser entendida como</p><p>um espaço de desenvolvimento de pensamento que integra a ciência da literatura?</p><p>Além da história da literatura, em seus três modelos — o biográfico-</p><p>-psicológico, o sociológico e o filológico —, no século XIX se põe em</p><p>circulação outro termo para designar a disciplina que estuda a literatura:</p><p>trata-se da expressão ciência da literatura. Seu uso, porém, só se enrai-</p><p>zou na língua alemã, em que teve origem. [...] A meados do século XIX,</p><p>equivale no princípio a história da literatura (expressão consagrada nas</p><p>outras principais línguas do Ocidente). Depois [...], a expressão passa a</p><p>ser empregada para rotular diversas direções tomadas pelos estudos</p><p>literários do século XX, enquanto outras línguas ocidentais vão consagrar</p><p>para essa mesma finalidade os termos teoria da literatura, crítica literária</p><p>ou ainda poética (SOUZA, 1986, p. 29–30).</p><p>3 Contribuições de críticas brasileiras</p><p>para a produção literária</p><p>Inicialmente, precisamos compreender que muitos dos autores considerados</p><p>críticos literários desempenhavam tanto o papel de autores quanto de críticos,</p><p>como Machado de Assis, Manuel Bandeira, José de Alencar e Guimarães Rosa.</p><p>No campo específico da crítica literária brasileira, nos moldes citados</p><p>anteriormente (bases na crítica produzida em Portugal — século XVIII —</p><p>A crítica literária brasileira: principais autores e tendências6</p><p>e exercício de distanciamento do colonizador em busca da ampliação da</p><p>nacionalidade — sobretudo no século XIX), destacam-se os seguintes nomes:</p><p>� Afrânio Coutinho;</p><p>� Antonio Candido;</p><p>� Massaud Moisés;</p><p>� Silviano Santiago;</p><p>� Machado de Assis;</p><p>� Francisco Adolfo de Varnhagen;</p><p>� Sílvio Romero;</p><p>� Alfredo Bosi.</p><p>Massaud Moisés, por exemplo, em A literatura portuguesa, destaca di-</p><p>retamente a seguinte explicação sobre crítica literária e suas contribuições</p><p>(MOISÉS, 2005):</p><p>A crítica literária, por sua vez, não pode ser o forte de uma literatura acentua-</p><p>damente lírica: as mais das vezes, ou se resolve num historicismo arquivístico</p><p>mais ou menos superficial, quando não inócuo ou pedante, ou se resolve num</p><p>impressionismo sentimental e ufanista, extremado no elogio e na ofensa</p><p>(MOISÉS, 2005, p. 14).</p><p>O autor destaca que apenas nas últimas décadas (considerando o período</p><p>de produção de sua obra) “[...] atitudes racionalistas, de bom senso, ou de</p><p>ensaísmo criador, constituem exceções”, as quais “[...] experimentam métodos</p><p>objetivos de análise, endereçados mais ao cerne das obras que ao seu envoltório</p><p>erudito” (MOISÉS, 2005, p. 14). Cada um dos autores apresenta, portanto,</p><p>uma forma de abordagem e de contribuir com a crítica literária brasileira,</p><p>como veremos a seguir.</p><p>Como crítico, Machado de Assis produziu textos importantes para o período,</p><p>como “Instinto de nacionalidade” (1873) e “O passado, o presente e o futuro</p><p>da literatura” (1858). O primeiro é um ensaio crítico em que o autor procurou</p><p>refletir sobre a necessidade de uma literatura que abordasse assuntos nacionais,</p><p>mas sem deixar de observar o contexto mais amplo, ou seja, argumentando que</p><p>era preciso conduzir uma produção literária nacional que fosse coerente com a</p><p>realidade brasileira. Para isso, entendia a necessidade de os autores brasileiros</p><p>dominarem, por exemplo, a leitura (crítica) dos clássicos da literatura mundial</p><p>para construírem os textos e elaborarem uma crítica orientada. Já no segundo,</p><p>tem-se a reflexão sobre as influências e as necessidades de um distanciamento</p><p>7A crítica literária brasileira: principais autores e tendências</p><p>da literatura produzida em Portugal, destacando-se a preocupação do autor em</p><p>relação à literatura brasileira de manter-se como colonizada e à necessidade</p><p>de uma liberdade a partir de uma revolução intelectual baseada na análise</p><p>crítica do contexto social e histórico do Brasil, que deveria se fazer presente</p><p>na literatura brasileira, sem se manter escravizada e sem ufanismo exagerado.</p><p>Para esse objetivo, era necessária uma crítica literária, a que Machado de Assis</p><p>também se dedicou a produzir.</p><p>Outro nome importante para o campo é o de Francisco Adolfo de Varnhagen,</p><p>que,</p><p>como viajante constante, ultrapassou fronteiras e observou de diferentes</p><p>perspectivas os diferentes lugares, sobretudo a sua terra de origem, o Brasil.</p><p>Mesmo em constante distância da sua nação, o autor desejava também construir</p><p>a sua nacionalidade. De acordo com Cezar (2007, p. 162), Varnhagen:</p><p>[...] é autor de uma obra imensa, que, embora a partir de um certo momento</p><p>privilegie a história, atravessa vários domínios, da literatura à crítica literá-</p><p>ria, passando pela biografia, pela etnologia, pela política e diplomacia, pela</p><p>economia e mesmo pela filologia.</p><p>Com relação às suas produções no campo da crítica literária, en-</p><p>tendia que a distância do seu país possibilitava que o conhecesse mais</p><p>atentamente. O sofrimento da distância e a sua tarefa de pesquisar do-</p><p>cumentos sobre a história e a legislação do país ampliavam as suas re-</p><p>flexões críticas sobre o Brasil. Suas produções mais significativas são</p><p>O descobrimento do Brasil, O Caramuru perante a história, Tratado descritivo</p><p>do Brasil (1587), História completa das lutas holandesas no Brasil, Épicos</p><p>brasileiros, Florilégio da poesia brasileira, Amador Bueno, drama histórico e</p><p>Cancioneiro e literatura dos livros de cavalaria (FRANCISCO..., [20--?], do-</p><p>cumento on-line). As viagens realizadas por Varnhagen pelo território brasileiro</p><p>conferiram vasto material para que se tornasse um grande nome da investigação</p><p>histórica das produções literárias espalhadas pelo Brasil, encontrando e divul-</p><p>gando materiais esquecidos e, também, corrigindo falsidades e ilustrando fatos.</p><p>De acordo com Campos (2001, p. 53), citando João Alexandre Barbosa,</p><p>temos o seguinte apontamento sobre outros três autores da crítica literária</p><p>brasileira:</p><p>Embora identifique um processo de continuidade, Barbosa estabelece algumas</p><p>distinções entre os primeiros textos críticos escritos por brasileiros, que seguem</p><p>modelos românticos e adotam tons exaltados e patrióticos, e a nossa crítica</p><p>naturalista, tão “filosófica” quanto determinista, representada sobretudo por</p><p>Sílvio Romero, Araripe Júnior e José Veríssimo.</p><p>A crítica literária brasileira: principais autores e tendências8</p><p>De acordo Barbosa, há uma corrente com tendência mais marcante,</p><p>nos primeiros textos da crítica literária brasileira, aos modelos românticos,</p><p>enquanto outra a uma tendência mais naturalista. Na última, são representa-</p><p>tivos os nomes como os de Sílvio Romero, Araripe Júnior e José Veríssimo.</p><p>Afrânio Coutinho, como historiador e crítico da literatura brasileira, apre-</p><p>sentava uma análise das produções literárias centrada em uma metodologia</p><p>“[...] estética para análise do fenômeno literário” (BRESSAN, 2007, p. 20).</p><p>Nas palavras do autor:</p><p>É natural que a crítica tenha respondido a inspirações diversas nessas dife-</p><p>rentes fases da evolução literária. Procurar caracterizá-la é fazer a história</p><p>da crítica brasileira do Modernismo aos nossos dias. Pode-se dizer de uma</p><p>forma geral que a nossa crítica foi sociológica, num primeiro período, social,</p><p>num segundo período e estética no seguinte — orientação, esta última que,</p><p>havendo-se manifestado pelos meados dos anos 40, prolonga-se e se consolida</p><p>a partir de 1950 (COUTINHO, 1999, p. 598 apud BRESSAN, 2007, p. 19).</p><p>Nesse processo de desenvolvimento da crítica literária no Brasil, Afrânio</p><p>Coutinho se destaca como crítico que defende a perspectiva estético-literária</p><p>afastando-se do método histórico de análise, que usava um “[...] método bio-</p><p>gráfico no qual, após a leitura de ensaios críticos conhece-se muito mais</p><p>sobre a vida do autor do que propriamente sobre a obra literária em questão”</p><p>(BRESSAN, 2007, p. 23). Por fim, Afrânio Coutinho também contribuiu para</p><p>entender o conflito entre crítica e história, sugerindo que a união das duas</p><p>áreas seria o mais produtivo.</p><p>Por último, temos Silviano Santiago, outro nome que se dedica a renovar</p><p>a crítica literária brasileira, buscando desarticular, em certa medida, os prin-</p><p>cípios de etnocentrismo até então apresentados por outros autores. Segundo</p><p>Costa (2018, p. 75):</p><p>[...] Santiago reconhece o espaço de desenvolvimento da produção latino-</p><p>-americana, ao mesmo tempo em que define o lugar próprio em que as situa:</p><p>o entre-lugar, espaço em que reconhece a produção do artista e do intelectual</p><p>latino-americanos. No fundamento de sua perspectiva desenvolve uma reflexão</p><p>sobre a dependência cultural brasileira, em relação aos países colonizadores</p><p>que se apresentam ao Novo Mundo como centro e propagam seus valores</p><p>como únicos. A revisão desses parâmetros se torna o grande trabalho de sua</p><p>ação crítica.</p><p>9A crítica literária brasileira: principais autores e tendências</p><p>Em suma, estes são apenas alguns nomes de críticos literários brasileiros</p><p>que contribuíram para o desenvolvimento do campo. Mantendo o objeto da</p><p>análise do texto literário sob diferentes perspectivas, é importante ampliar</p><p>a leitura e conhecer as obras de autores distintos para entender o objetivo</p><p>específico de cada um deles e sua contribuição para o fortalecimento da</p><p>crítica literária nacional.</p><p>BARBOSA, S. M. A. B. O espaço da crítica literária: a academia e os rodapés. Darandina</p><p>revisteletrônica – Programa de Pós-Graduação em Letras / UFJF, Juiz de Fora, v. 2, n. 1,</p><p>p. 1–15, maio 2009. Disponível em: https://www.ufjf.br/darandina/anteriores/v2n1/</p><p>files/2010/01/artigo05.pdf. Acesso em: 4 ago. 2020.</p><p>BRESSAN, I. C. Afrânio Coutinho, crítico e historiador da literatura brasileira: uma leitura.</p><p>Orientador: Luiz Roberto Velloso Cairo. 2007. 198 f. Dissertação (Mestrado em Letras,</p><p>área de concentração Literatura e Vida Social) — Faculdade de Ciências e Letras,</p><p>Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Assis, 2007. Disponível em:</p><p>https://repositorio.unesp.br/handle/11449/94135. Acesso em: 4 ago. 2020.</p><p>CAMPOS, M. C. A crítica e a literatura brasileira: metas, desvios e horizontes. Organon</p><p>– Revista do Instituto de Letras da UFRGS, Porto Alegre, v. 15, n. 30–31, p. 49–59, 2001.</p><p>Disponível em: https://seer.ufrgs.br/organon/article/view/29712. Acesso em: 4 ago. 2020.</p><p>CEZAR, T. Varnhagen em movimento: breve antologia de uma existência. Topoi, Rio</p><p>de Janeiro, v. 8, n. 15, p. 159–207, jul./dez. 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/</p><p>scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2237-101X2007000200159&lng=pt&nrm=iso&tl</p><p>ng=pt. Acesso em: 4 ago. 2020.</p><p>COSTA, J. C. Silviano Santiago e a Renovação da Crítica Literária Brasileira. Línguas &</p><p>Letras, Cascavel, v. 19, n. 42, p. 74–91, 2018. Disponível em: http://e-revista.unioeste.br/</p><p>index.php/linguaseletras/article/view/19514. Acesso em: 4 ago. 2020.</p><p>FRANCISCO Adolfo de Varnhagen. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, [20-</p><p>-?]. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/francisco-adolfo-de-</p><p>-varnhagen/biografia. Acesso em:</p><p>MOISÉS, M. A literatura portuguesa. 33. ed. São Paulo: Cultrix, 2005. 326 p.</p><p>SARAIVA, A. Para uma teoria da crítica portuguesa. In: SARAIVA, A. Literatura marginal/</p><p>izada. Porto: Árvore, 1975. p. 67–100.</p><p>SOUZA, R. A. Crítica literária: seu percurso e seu papel na atualidade. Floema – Caderno</p><p>de Teoria e História Literária, Vitória da Conquista, v. 7, n. 8, p. 29–38, jan./jun. 2011. Dis-</p><p>ponível em: http://periodicos2.uesb.br/index.php/floema/article/view/1803/. Acesso</p><p>em: 20 jul. 2020.</p><p>A crítica literária brasileira: principais autores e tendências10</p><p>SOUZA, R. A. Teoria da literatura. São Paulo: Ática, 1986. 80 p.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>CULLER, J. Teoria literária: uma introdução. São Paulo: Beca Produções Culturais, 1999.</p><p>140 p.</p><p>HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 12 ed. Rio de Janeiro: Lamparina,</p><p>2015. 58 p.</p><p>Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-</p><p>cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a</p><p>rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de</p><p>local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade</p><p>sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em</p><p>tais links.</p><p>11A crítica literária brasileira: principais autores e tendências</p>

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