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<p>SEMIOLOGIA</p><p>FISIOTERAPÊUTICA</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Anamnese e exame</p><p>físico geral</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p>� Identificar os critérios de anamnese e como se procede à avaliação.</p><p>� Determinar as características e os critérios do exame físico geral.</p><p>� Relacionar os achados da anamnese com o exame físico geral.</p><p>Introdução</p><p>Na área da saúde, existe uma preocupação crescente dos diversos profis-</p><p>sionais em aprimorar conhecimentos técnicos e científicos, estimulando,</p><p>com isso, seu desenvolvimento e aumentando suas responsabilidades,</p><p>de forma que o nível de assistência prestada ao cliente, à família e à</p><p>comunidade seja qualificado.</p><p>A anamnese e o exame físico representam um instrumento de</p><p>grande valia para a assistência, uma vez que permitem ao fisiotera-</p><p>peuta realizar o diagnóstico e planejar as ações terapêuticas, bem como</p><p>acompanhar e avaliar a evolução do paciente.</p><p>Neste capítulo, você vai identificar os critérios de uma anamnese</p><p>completa e como proceder à avaliação, determinar as características e</p><p>os critérios do exame físico geral e relacionar os achados da anamnese</p><p>ao exame físico geral.</p><p>Critérios de anamnese e como se procede à</p><p>avaliação</p><p>A finalidade do exame clínico é a coleta de sinais e sintomas para que seja</p><p>possível elaborar hipóteses de diagnóstico. Para isso, deve-se cumprir uma</p><p>sequência lógica, completa e minuciosa em duas fases: anamnese e exame</p><p>físico (BARROS, 2002).</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Na anamnese, são pesquisados os sintomas por meio do relato livre e es-</p><p>pontâneo do paciente, sendo possível orientá-lo a manter a cronologia dos fatos</p><p>durante a descrição (LAMPERT, 1996; SANTOS; FERRETTI-REBUSTINI;</p><p>PAULA, 2015).</p><p>É fundamental que haja um clima de tranquilidade, de modo que o paciente</p><p>se sinta à vontade para relatar, da maneira mais fiel possível, sua queixa e</p><p>seus sintomas. Em princípio, a narração não deve ser interrompida, pois</p><p>muitas vezes a sequência ou a livre associação de ideias é importante para</p><p>a elaboração do diagnóstico, principalmente no que diz respeito à avaliação</p><p>de aspectos emocionais. Deve-se levar em conta a personalidade e o nível</p><p>intelectual e cultural do paciente para promover uma interação empática,</p><p>procurando estabelecer confiança mútua e demonstrando sincero interesse em</p><p>seus problemas. Também se deve considerar que o paciente vem apreensivo</p><p>e angustiado à procura de alguém que o ampare, compreenda e o livre dos</p><p>sintomas que o incomodam (LAMPERT, 1996).</p><p>A anamnese deve obedecer à seguinte sequência cronológica:</p><p>1. identificação do paciente;</p><p>2. queixa principal/duração;</p><p>3. história da doença atual;</p><p>4. história da doença pregressa;</p><p>5. história familiar;</p><p>6. história psicossocial.</p><p>Identificação do paciente</p><p>A anamnese se inicia pela identificação do paciente, que não precisa ser feita</p><p>necessariamente pelo clínico, mas pelo recepcionista ou mesmo pelo próprio</p><p>paciente, preenchendo formulários com todos os dados necessários (BARROS,</p><p>2002; LAMPERT, 1996; SANTOS; FERRETTI-REBUSTINI; PAULA, 2015;</p><p>PORTO, 2000, 2008).</p><p>� Nome: deve ser completo, sem abreviações. Recomenda-se constar</p><p>no envelope ou programa informatizado de identificação o último</p><p>sobrenome, seguido de vírgula e do(s) primeiro(s) nome(s).</p><p>� Idade: é importante o registro da idade do paciente devido à ocorrência</p><p>de certas doenças prevalentes em determinadas épocas da vida.</p><p>� Gênero: masculino ou feminino. Certas doenças acometem mais in-</p><p>divíduos de um determinado sexo.</p><p>Anamnese e exame físico geral2</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>� Etnia: algumas doenças têm prevalência em um determinado grupo</p><p>étnico.</p><p>� Estado civil: informar se o paciente é solteiro, casado, viúvo ou</p><p>divorciado.</p><p>� Nacionalidade: refere-se ao país ao qual o paciente está legalmente</p><p>vinculado (nato ou naturalizado).</p><p>� Procedência (naturalidade): local onde o paciente residiu a maior parte</p><p>de sua vida, assim como o local onde esteve recentemente. É impor-</p><p>tante conhecer a procedência do paciente para a avaliação de eventuais</p><p>doenças que ocorrem predominantemente em determinada região.</p><p>� Residência: o registro do lugar onde o paciente pode ser encontrado</p><p>é fundamental caso ele necessite de retorno para a complementação</p><p>de um diagnóstico ou tratamento ou para o acompanhamento de um</p><p>processo de cura.</p><p>� Profissão: ocupação principal do paciente ou ocupação que ele tenha</p><p>exercido no maior período de sua vida. Nem sempre o indivíduo exerce</p><p>sua profissão de formação. É comum observar prontuários em que</p><p>consta a profissão aposentado. É importante saber se o paciente não</p><p>exerce nenhuma atividade no momento, o que ele fazia antes de se</p><p>aposentar e se hoje, apesar de aposentado, trabalha em alguma função</p><p>ou se tem alguma ocupação. Além disso, o conhecimento do local e das</p><p>condições em que exerce suas atividades profissionais é fundamental</p><p>para a elaboração do diagnóstico.</p><p>Queixa principal</p><p>A queixa principal é a referência ao sintoma mais importante. A duração é</p><p>entendida como o tempo decorrido desde o início do sintoma até o momento</p><p>atual.</p><p>Alguns indivíduos, quando ansiosos, tornam-se prolixos, mascarando</p><p>a queixa principal. É função do examinador destacar do relato a queixa e a</p><p>duração e transcrevê-las da maneira referida pelo paciente, com suas palavras.</p><p>Outros pacientes, todavia, apresentam-se de forma tímida, pouco falantes ou</p><p>extremamente inibidos. Porto (2008) acredita que, nesses casos, o examinador</p><p>deve auxiliá-los com perguntas do tipo O que sente? e Há quanto tempo?</p><p>3Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Os principais sinais e sintomas apresentados pelos pacientes que procuram</p><p>atendimento fisioterapêutico são:</p><p>� dor;</p><p>� tontura;</p><p>� falta de ar;</p><p>� cansaço;</p><p>� formigamento;</p><p>� hipersensibilidade;</p><p>� hipossensibilidade;</p><p>� queimação;</p><p>� edema;</p><p>� crepitações;</p><p>� atrofia muscular;</p><p>� instabilidade articular;</p><p>� enrijecimento articular;</p><p>� cefaleias;</p><p>� contraturas, entre outros.</p><p>Sinal vem do latim signalis, que significa manifestação, indício ou vestígio.</p><p>Os sinais são manifestações clínicas visíveis e perceptíveis pelo profissional</p><p>por meio de seus sentidos naturais (p. ex., edema articular, atrofia muscular</p><p>e enrijecimento da articulação) (LAMPERT, 1996).</p><p>Sintoma origina-se do grego sympitien, que significa acontecer. Os sin-</p><p>tomas são manifestações subjetivas percebidas pelo paciente e relatadas ao</p><p>profissional (p. ex., dor ao repouso, dor ao exercício, cansaço e perda de</p><p>movimento) (LAMPERT, 1996).</p><p>A dor é uma das sensações mais frequentes com que o fisioterapeuta</p><p>se depara diariamente em sua clínica, pois muitas vezes é ela que motiva</p><p>o paciente a procurar ajuda. Os pacientes nunca permanecem indiferentes</p><p>diante desse sintoma A dor pode estar relacionada com experiências prévias e</p><p>sempre apresenta dois aspectos distintos: um componente objetivo (somático)</p><p>e um componente subjetivo (emocional). Ela deve ser interpretada conside-</p><p>rando seu tipo de manifestação, de acordo com os critérios de avaliação da</p><p>sensibilidade dolorosa (SANTOS; FERRETTI-REBUSTINI; PAULA, 2015;</p><p>BARROS, 2016).</p><p>Anamnese e exame físico geral4</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>� Intensidade — pode ser leve, moderada ou alta. Quando o paciente</p><p>tem dificuldade de quantificar sua dor, é possível auxiliá-lo solicitando</p><p>que a enquadre em uma escala de 1 a 10, por exemplo. Existe variação</p><p>também conforme o indivíduo e seu perfil emocional em função do</p><p>seu limiar de suportar estímulo doloroso.</p><p>� Estímulo — a dor surge espontaneamente ou é provocada?</p><p>� Duração — instantânea ou prolongada? Por quanto tempo?</p><p>� Frequência — refere-se à periodicidade. Quantas vezes e por quanto</p><p>tempo o paciente já sentiu essa dor? É intermitente ou de manifestação</p><p>contínua?</p><p>� Localização — dores podem ser difusas (de difícil localização, pois</p><p>o</p><p>paciente não é capaz de apontar com precisão) ou situadas (o paciente</p><p>aponta com exatidão o ponto doloroso, que geralmente coincide com</p><p>o ponto desencadeante da dor — ponto gatilho).</p><p>� Fatores de alívio ou piora — medicação, frio, calor, abertura da boca,</p><p>alívio espontâneo, sazonalidade, variabilidade ao longo do dia, entre</p><p>outros.</p><p>História da doença atual</p><p>As palavras relatadas pelo paciente são transcritas entre aspas, pois são mes-</p><p>cladas com observações do examinador. Segundo Barros (202), é importante</p><p>enfatizar que esse item consiste no registro do relato da história natural da</p><p>doença desde o seu início, incluindo os fatos antecedentes que possam auxiliar</p><p>o diagnóstico e a sua evolução até a presente data.</p><p>Os medicamentos utilizados devem ser incluídos, assim como seus efeitos,</p><p>sejam eles terapêuticos ou colaterais. O mesmo se aplica a cirurgias, exames</p><p>ou quaisquer outros procedimentos realizados que enriqueçam a queixa e a</p><p>duração e auxiliem o diagnóstico (PORTO, 2000).</p><p>Quanto aos pacientes que falam muito, misturando aspectos supérfluos</p><p>para a anamnese, é necessário ter habilidade para extrair de seu discurso</p><p>apenas os aspectos de interesse para a elucidação do quadro clínico. Ainda</p><p>assim, deve-se ouvir com atenção, sem interrupção, deixando que o discurso</p><p>do paciente seja livre e sem interferências, pois tudo o que é dito por ele é</p><p>essencial para compor um perfil. Mesmo que não se transcreva na íntegra o</p><p>que foi ouvido durante a anamnese, é muito importante observar a forma e o</p><p>conteúdo da história apresentada (BARROS, 2002).</p><p>5Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Com base nesses dados, o examinador pode avaliar o indivíduo sob os</p><p>aspectos cultural e emocional, tendo então condições de conhecer melhor</p><p>seu paciente. Isso auxilia tanto na coleta de dados como no diagnóstico, no</p><p>trata-mento e no acompanhamento do paciente (SANTOS; FERRETTI-RE-</p><p>BUSTINI; PAULA, 2015).</p><p>História da doença pregressa</p><p>Em relação aos antecedentes gerais, pesquisam-se as doenças que acomete-</p><p>ram o paciente, as cirurgias realizadas, bem como as internações prévias e</p><p>os distúrbios sistêmicos. Dessa forma, segundo Porto (2000), adquirem-se</p><p>informações sobre toda a história médica do paciente, inclusive das condições</p><p>que não estejam relacionadas à doença atual.</p><p>Histórico familiar</p><p>De acordo com Porto (2000), no histórico familiar, são pesquisados os as-</p><p>pectos genéticos, como distúrbios ocorridos com descendentes e ascendentes</p><p>do paciente, que possam, de algum modo, estar vinculados com a lesão ou a</p><p>alteração que este apresenta.</p><p>Interessa saber se os pais estão vivos e se são saudáveis. Se forem falecidos,</p><p>deve-se investigar a causa da morte. É importante verificar se existem outros</p><p>casos de doença semelhante à que o paciente apresenta nos ascendentes e des-</p><p>cendentes. Além disso, os distúrbios sistêmicos que tenham vínculo genético</p><p>devem ser pesquisados, pois podem influir de alguma forma no diagnóstico,</p><p>no prognóstico e no tratamento (BARROS, 2016).</p><p>Histórico psicossocial</p><p>Procura-se conhecer as condições de vida do paciente, seu dia a dia, seus</p><p>costumes, suas atividades e sua dieta. Em relação às condições de residência,</p><p>deve-se levar em conta o tipo de moradia e as condições de saneamento básico</p><p>(água encanada e esgoto). Além disso, é importante pesquisar uma eventual</p><p>exposição a agentes nocivos (MATTOS, 2017).</p><p>Anamnese e exame físico geral6</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Os dados obtidos durante a anamnese devem ser anotados em prontuário apropriado.</p><p>Após a exposição, o fisioterapeuta pode intervir com a finalidade de complementar</p><p>certos detalhes, se necessário. A finalidade da anamnese é a coleta dos sintomas</p><p>relatados pelo paciente.</p><p>Características e critérios do exame físico geral</p><p>Independente do motivo da consulta, o exame físico deve ser completo e feito</p><p>ordenadamente após a anamnese. A integração do exame físico à anamnese</p><p>permite o que se denomina diagnóstico. Todo doente é capaz de distinguir</p><p>um exame apressado e superficial de um interessado e cuidadoso. O paciente</p><p>cuja sensação foi a de um exame dedicado e atencioso cria, em relação ao</p><p>profissional, o respeito e a confiança indispensáveis para o tratamento.</p><p>O exame físico deve cobrir todas as regiões anatômicas em busca de altera-</p><p>ções clínicas compatíveis, em princípio, com a queixa do paciente. Os sinais são</p><p>obtidos fundamentalmente por meio dos órgãos dos sentidos do examinador,</p><p>direta ou indiretamente, sendo necessário conhecer as estruturas normais</p><p>como parâmetro em relação às alterações apresentadas (BARROS, 2016).</p><p>O exame clínico, portanto, é didaticamente dividido em duas partes: ana-</p><p>mnese e exame físico. É difícil, e muitas vezes impossível, obedecer a essa</p><p>divisão, principalmente nessa ordem, pois, ao entrar no consultório, alguns</p><p>dados clínicos já podem ser observados. Frequentemente, ao iniciar o exame</p><p>clínico, o paciente aponta uma lesão que é visivelmente evidenciada. Todavia,</p><p>deve-se, mesmo assim, efetuar um exame completo e sequencial, indepen-</p><p>dentemente de já se ter percebido uma lesão em determinada área. Não é</p><p>improvável haver outras lesões não percebidas pelo paciente, às vezes até</p><p>com maior gravidade do que a apontada. Para tanto, deve-se examinar todas</p><p>as estruturas utilizando as manobras de semiotécnica por meio dos sentidos</p><p>inspeção (visão), palpação, percussão e ausculta (LAMPERT, 1996; SANTOS;</p><p>FERRETTI-REBUSTINI; PAULA, 2015; PORTO, 2008).</p><p>O exame físico geral é a primeira etapa do exame clínico e, além de com-</p><p>plementar a anamnese (entrevista clínica), fornece uma visão do paciente</p><p>como um todo, não segmentada. Devemos ressaltar que, além da anamnese</p><p>e do exame físico, devem ser analisados os exames complementares que o</p><p>paciente realizou (raios X, exames de sangue, tomografia computadorizada,</p><p>7Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>ressonância magnética nuclear, entre outros). O exame físico é dividido em</p><p>duas partes: qualitativo e quantitativo, (BARROS, 2002; LAMPERT, 1996;</p><p>SANTOS; FERRETTI-REBUSTINI; PAULA, 2015; PORTO, 2000, 2008;</p><p>PORTO, 2000, 2008).</p><p>Exame clínico geral qualitativo</p><p>Em geral, as qualidades são organizadas em graus, sendo estes medidos de uma</p><p>a quatro cruzes (p. ex., edema distal no membro inferior direito +/4+ — o que</p><p>significa que, do máximo que uma pessoa pode ficar edemaciada [4 cruzes],</p><p>o paciente se encontra com uma cruz) (BARROS, 2016).</p><p>a) Avaliação do estado geral: avaliação subjetiva do que o paciente apa-</p><p>renta em sua totalidade — nível de consciência, fácies, fala, confusão</p><p>mental, mobilidade, entre outros. O paciente pode estar em bom estado</p><p>geral (BEG), regular estado geral (REG) ou mau estado geral (MEG).</p><p>b) Avaliação do grau de palidez: observar mucosa palpebral da conjun-</p><p>tiva, mucosa oral, leito ungueal e palma das mãos. O paciente pode estar</p><p>corado (mais avermelhado) ou descorado. Caso se encontre descorado,</p><p>deve-se classificar o grau (em cruzes).</p><p>c) Avaliação do grau de hidratação: observar a umidificação da mu-</p><p>cosa oral e do globo ocular e o turgor da pele. O paciente pode estar</p><p>hidratado ou desidratado, se estiver desidratado, deve-se classificar o</p><p>grau (em cruzes).</p><p>d) Avaliação da presença de icterícia: avaliar a coloração da palma da</p><p>mão, da esclera e do freio da língua. A icterícia é caracterizada por</p><p>apresentar um tom amarelado nessas regiões. O excesso de betacaroteno</p><p>pode se assemelhar à icterícia. Para diferenciar as duas condições,</p><p>observe se o tom amarelado/alaranjado está presente apenas na pele</p><p>(caroteno) ou também na esclera e no freio lingual (icterícia). A esclera</p><p>de pacientes idosos e negros pode ter um tom amarronzado devido</p><p>a uma hiperpigmentação normal observada neles. Esse tom é mais</p><p>importante na porção da esclera que fica exposta à luz. Portanto, para</p><p>facilitar a percepção da presença de icterícia nesses pacientes, deve-se</p><p>observar</p><p>a porção da esclera que normalmente não fica exposta à luz</p><p>(de baixo da pálpebra). O paciente pode estar ictérico ou anictérico.</p><p>Caso se encontre ictérico, o grau (em cruzes) precisa ser classificado.</p><p>Anamnese e exame físico geral8</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>e) Avaliação da presença de cianose: avaliar uma coloração mais azulada</p><p>no lábio, no leito ungueal e em outras extremidades (cianose), pois isto</p><p>indica a redução da oxigenação do sangue ou a redução da perfusão</p><p>sanguínea. O paciente pode estar com a coloração mais azulada por uma</p><p>hipoperfusão sanguínea em razão de frio (cianose periférica causada</p><p>pela vasoconstrição periférica induzida pelo frio), nesse caso, tente</p><p>esquentar a mão do paciente e observar se melhora. O paciente pode</p><p>estar cianótico ou acianótico.</p><p>f) Avaliação do padrão respiratório: observar se há dificuldades para</p><p>respirar ou se o paciente está usando força excessiva (uso de musculatura</p><p>acessória) para inspirar. O paciente pode estar eupneico ou dispneico</p><p>(com dificuldades de respirar). Deve-se avaliar a frequência respira-</p><p>tória (o paciente pode estar bradipneico — poucas inspirações — ou</p><p>taquipneico — muitas inspirações). Exemplo: um paciente com esforço</p><p>para respirar e com frequência respiratória aumentada se encontra</p><p>taquidispneico.</p><p>Exame clínico geral quantitativo</p><p>O exame clínico geral quantitativo avalia os aspectos mensuráveis do paciente,</p><p>como medidas de pressão arterial (PA), peso, altura, índice de massa corpó-</p><p>rea (IMC), circunferência abdominal, frequência cardíaca (FC), pulsação e</p><p>frequência respiratória.</p><p>PA — a aferição da PA requer preparação do paciente e escolha do material</p><p>adequado (Figura 1) (MALACHIAS et al., 2016).</p><p>9Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Figura 1. Modelos de esfigmomanômetro.</p><p>Fonte: Barros (2016, p. 123).</p><p>Outro modelo muito utilizado, principalmente em domicílio, é o aparelho</p><p>de pressão digital. Antes de aferir a PA, deve-se perguntar ao paciente se:</p><p>� fumou ou bebeu café ou outros estimulantes há menos de 30 minutos;</p><p>� está sentindo dor;</p><p>� está com a bexiga cheia;</p><p>� está em repouso há menos de 3 minutos.</p><p>Se a resposta para todas as perguntas for não, podemos prosseguir com</p><p>o procedimento. O braço que terá a PA aferida deve estar apoiado sobre um</p><p>suporte, na altura do coração. O paciente pode estar em pé, sentado ou deitado</p><p>(para o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica, utilizamos os resultados</p><p>quando o paciente está sentado). Esse braço não pode ter manga de roupa e</p><p>não pode estar edemaciado ou ter fístula arteriovenosa.</p><p>Podemos, então, colocar o manguito. Para isso, devemos escolher aquele</p><p>cuja câmara tenha uma largura de cerca de 40% da circunferência do braço</p><p>e um comprimento de cerca de 80% da circunferência do braço (na prática, a</p><p>maioria dos pacientes se encaixa na faixa normal, mas, se ele for obeso, faça</p><p>as medições e peça o manguito de obeso, caso seja muito magro, solicite o</p><p>manguito infantil). Depois de palpar o P da artéria braquial (fica logo abaixo do</p><p>bíceps), para verificar se há P viável, o manguito correto deve ser posicionado</p><p>obedecendo à sinalização da artéria braquial (Figura 2).</p><p>Anamnese e exame físico geral10</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Figura 2. Exemplo da forma correta de avaliação da PA.</p><p>Fonte: kurhan/Shutterstock.com.</p><p>Uma vez preparado o paciente, a aferição da PA (que é medida em mmHg)</p><p>segue o seguinte protocolo:</p><p>1. medir a circunferência do braço do paciente;</p><p>2. selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço;</p><p>3. colocar o manguito sem deixar folgas acima da fossa cubital (cerca de</p><p>2 a 3 cm);</p><p>4. centralizar o meio da parte compressiva do manguito sobre a artéria</p><p>braquial;</p><p>5. estimar o nível da pressão sistólica pela palpação do P radial. Palpar</p><p>o P radial e inflar o manguito até seu desaparecimento e desinflar. O</p><p>seu reaparecimento corresponderá à pressão arterial sistólica (PAS);</p><p>6. palpar a artéria braquial na fossa cubital e colocar a campânula do</p><p>estetoscópio sem compressão excessiva;</p><p>7. inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg do nível estimado da</p><p>pressão sistólica obtido pela palpação;</p><p>8. proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 a 4 mmHg por segundo);</p><p>9. determinar a pressão sistólica na ausculta do primeiro som (fase I de</p><p>Korotkoff), que é um som fraco seguido de batidas regulares, e, em</p><p>seguida, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação;</p><p>10. determinar a pressão diastólica no desaparecimento do som (fase V</p><p>de Korotkoff);</p><p>11. auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do nível do som para confirmar</p><p>seu desaparecimento e, depois, proceder à deflação rápida e completa.</p><p>11Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>12. se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão</p><p>diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar os</p><p>valores da sistólica/diastólica/zero;</p><p>13. esperar em torno de 1 minuto antes de novas medidas;</p><p>14. informar os valores de PA obtidos para o paciente;</p><p>15. registrar os valores sem arredondamentos e o membro no qual foi</p><p>aferida a PA.</p><p>Segundo a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (MALACHIAS et</p><p>al., 2016), os limites de PA considerados normais sã o arbitrários, entretanto,</p><p>os valores que classificam o comportamento da PA em adultos por meio de</p><p>medidas casuais ou de consultório estão expressos no Quadro 1. Classifica-se</p><p>como normotenso quando as medidas de consultório sã o ≤ 120/80 mmHg.</p><p>A PA é caracterizada pela presença de PAS entre 121 e 139 e/ou PAD entre</p><p>81 e 89 mmHg. Os pré-hipertensos têm maior probabilidade de se tornarem</p><p>hipertensos e maiores riscos de desenvolvimento de complicações cardiovas-</p><p>culares quando comparados a indivíduos com PA normal (≤ 120/80 mmHg),</p><p>necessitando de acompanhamento periódico.</p><p>Fonte: Adaptada de Barroso, W. K. S., et at. (2021).</p><p>Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHg)</p><p>Ótima < 120 < 80</p><p>Normal 120–129 80–84</p><p>Pré-hipertenso 130–139 85–89</p><p>H.A. Estágio 1 140–159 90–99</p><p>H.A. Estágio 2 160–179 100–109</p><p>H.A. Estágio 3 ≥180 ≥110</p><p>Quadro 1. Classificação dos valores da PA para adultos > 18 anos</p><p>Frequência respiratória (FR) — contar a quantidade de inspirações em 1</p><p>minuto, observando os movimentos da caixa torácica ou da parede abdominal.</p><p>Não se deve contar ao paciente que a sua frequência respiratória está sendo</p><p>verificada, pois, inconscientemente, mudamos nosso padrão respiratório.</p><p>Anamnese e exame físico geral12</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>É importante verificar também o ritmo da respiração, que pode conter</p><p>pausas, períodos de inspiração/expiração profunda ou ser arrítmica, o uso</p><p>de musculatura acessória e a tiragem (retração dos espaços intercostais, da</p><p>fossa supraclavicular ou da região epigástrica), pois esses fatores evidenciam</p><p>a dificuldade para respirar. Observar se não há tempo expiratório prolongado</p><p>(o normal é o tempo da inspiração ser maior do que o da expiração, o que pode</p><p>se inverter em situação de broncoespasmo — crise de asma). A unidade de</p><p>medida utilizada é incursões respiratórias por minuto (irpm) (BARROS, 2016).</p><p>Altura e peso — para aferir a altura, o paciente deve estar com os pés des-</p><p>calços, em postura ereta e olhar para o horizonte. O peso deve ser aferido</p><p>preferencialmente em balança analítica, pois esta pode ser calibrada conforme</p><p>o ambiente em que está situada. Além de doenças do desenvolvimento, o peso</p><p>e a altura são importantes para determinar o IMC: IMC = peso/altura² (kg/m²).</p><p>Veja o Quadro 2.</p><p>Conforme a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Sín-</p><p>drome Metabólica, o IMC categoriza o paciente em magreza, eutrofia, sobre-</p><p>peso e graus de obesidade. É importante notar a proporção massa muscular/</p><p>massa de gordura, pois isto pode levar a interpretações errôneas acerca do</p><p>IMC, conforme demonstrado no Quadro 2.</p><p>Fonte: Adaptado de ABESO (2016).</p><p>IMC</p><p>(kg/m²)</p><p>Classificação</p><p>Obesidade</p><p>grau/classe</p><p>Risco de doença</p><p>< 18,5 Magro ou baixo peso 0 Normal ou elevado</p><p>18,5–24,9 Normal ou eutrófico 0 Normal</p><p>25–29,9 Sobrepeso ou</p><p>pré-obeso</p><p>0 Pouco elevado</p><p>30–34,9 Obesidade I Elevado</p><p>30–39,9 Obesidade II Muito elevado</p><p>≥ 40,0 Obesidade grave III Muitíssimo elevado</p><p>Quadro 2. Classificação internacional da obesidade segundo o IMC e o risco de doença</p><p>(OMS) que divide a adiposidade em graus ou classes</p><p>13Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Circunferência abdominal — a relação circunferência abdominal/quadril</p><p>(RCQ) foi, inicialmente, a medida mais comum para avaliar a obesidade</p><p>central, mas, há aproximadamente 20 anos, reconheceu-se que ela pode ser</p><p>menos válida como medida relativa. No entanto, na população brasileira,</p><p>a RCQ também demonstrou estar associada ao risco de comorbidades.</p><p>A medida da circunferência abdominal reflete melhor o conteúdo de gordura</p><p>visceral que a RCQ e também se associa muito à gordura corporal total. Com</p><p>o passar do tempo, sugeriram vários locais e padrões para avaliar a circun-</p><p>ferência abdominal. Solicita-se que o paciente fique em posição supina para</p><p>que inspire profundamente e, ao final da expiração, seja realizada a medida.</p><p>Pode-se realizar a medida no maior perímetro abdominal entre a última costela</p><p>e a crista ilíaca, segundo recomendações da OMS (ABESO, 2016) (Figura 3).</p><p>Figura 3. Região para medição da circunferência abdominal.</p><p>Fonte: FotoDuets/Shutterstock.com.</p><p>FC e pulso (P) — nem sempre as medidas serão equivalentes. Para a aferição</p><p>da FC, pode-se auscultar o coração e contar os batimentos cardíacos em 1</p><p>minuto. Para aferir o P, normalmente se palpa a artéria radial com o segundo</p><p>e o terceiro dedo, contando os batimentos em 1 minuto. É importante também</p><p>comparar a FC e o P. Na palpação do P, entre outras coisas, o mais importante</p><p>Anamnese e exame físico geral14</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>é verificar o ritmo (em alguns pacientes é possível ver alterações). A unidade</p><p>de medida utilizada é batimentos por minuto (bpm).</p><p>A média de FC em repouso para adultos é de 60 a 80 bpm, sendo a média</p><p>da FC em repouso das mulheres normalmente de 7 a 10 bpm mais alta que a</p><p>dos homens. FCs baixas (bradicardia) — de 28 a 40 bpm — foram identifica-</p><p>das em atletas de resistência altamente condicionados, enquanto indivíduos</p><p>mal-treinados e sedentários podem ter FC que exceda 100 bpm (taquicardia)</p><p>Pulmonar</p><p>O exame pulmonar é dividido em inspeção (estática e dinâmica), palpação,</p><p>percussão e ausculta (SANTOS; FERRETTI-REBUSTINI; PAULA, 2015;</p><p>PORTO, 2008; BARROS, 2016).</p><p>Inspeção</p><p>A inspeção pode ser dividida em duas partes: estática e dinâmica (PORTO,</p><p>2008).</p><p>Estática — basicamente, deve-se olhar a aparência do tórax e se o paciente</p><p>tem desvios da coluna (escoliose quando há uma espécie de S; cifose nos</p><p>casos em que há uma espécie de corcunda; e lordose, sendo esta uma entrada</p><p>aprofundada na coluna lombar). Além disso, no exame estático, é importante</p><p>observar a estrutura do esterno, das costelas e das vértebras, pois isto pode</p><p>ser indicativo de certas alterações estruturais, como o pectus excavatum</p><p>(tórax escavado ou tórax de sapateiro), no qual há a inversão da concavidade</p><p>do esterno, ou o tórax em barril, que apresenta uma retificação das colunas</p><p>vertebrais e a elevação do esterno (tórax comum em enfisematoso).</p><p>Dinâmica — a inspeção dinâmica visa a definir o padrão respiratório do</p><p>paciente, podendo apresentar os seguintes padrões:</p><p>1. eupneico: respiração normal sem dificuldades e com frequência normal;</p><p>2. taquipneia: respiração com frequência aumentada;</p><p>3. bradipneia: respiração com frequência diminuída. Há também alguns</p><p>outros padrões, mas estes não serão abordados agora.</p><p>15Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Palpação</p><p>A realização da palpação pode ser dividida em duas fases, sendo elas (SANTOS;</p><p>FERRETTI-REBUSTINI; PAULA, 2015; PORTO, 2008):</p><p>a) Expansibilidade — deve ser realizada no ápice, na base e entre elas.</p><p>Para ser realizada no ápice, colocam-se as mãos na base do pescoço,</p><p>com os polegares juntos na região da proeminência das vértebras cer-</p><p>vicais na pele (processo espinhoso) e os dedos sobre a região acima</p><p>da escápula de cada lado. Peça para o paciente realizar movimentos</p><p>inspiratórios e expiratórios profundos, devendo ambos os lados estarem</p><p>com expansibilidade simétrica (as duas mãos devem fazer a mesma</p><p>amplitude de movimento). Deve-se repetir o processo mais duas vezes</p><p>até a base (aproximadamente até a vértebra T12). Com isso, procura-se</p><p>encontrar assimetrias entre os campos pulmonares (direito ou esquerdo)</p><p>e entre os terços pulmonares (superior, médio e inferior).</p><p>b) Frêmito toracovocal (FTV) — é como se define a vibração sentida</p><p>quando o paciente emite um som estridente, como quando requisitado</p><p>a falar 33. Isso é importante, pois auxilia no diagnóstico de processos</p><p>patológicos, tais como derrame pleural ou consolidações pulmonares.</p><p>Nos derrames, o frêmito se encontra diminuído devido ao fato de haver</p><p>líquido entre a pleura e o pulmão, o que dificulta a propagação do som</p><p>até a parede torácica, enquanto nas consolidações — uma espécie de</p><p>massa (p. ex., pneumonia ou tumor) — o som está aumentado, haja vista</p><p>que o meio sólido da consolidação permite maior transmissibilidade</p><p>por meio da árvore brônquica.</p><p>Percussão</p><p>A percussão deve ser realizada com a mão dominante, usando-se a falange</p><p>distal (ponta do dedo) do terceiro dedo sobre o segundo ou o terceiro dedo</p><p>da outra mão, que deve estar inteiramente em contato com a pele e com os</p><p>dedos bem separados. Você irá prosseguir batendo a falange contra os outros</p><p>dedos, realizando sempre a comparação entre os sons produzidos na porção</p><p>de um hemitórax com a do outro hemitórax. É possível identificar quatro sons</p><p>pulmonares (você, no entanto, só conseguirá diferenciar com clareza quando</p><p>tiver ouvido um som alterado e o comparar com o normal) (LAMPERT, 1996):</p><p>Anamnese e exame físico geral16</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>� som claro pulmonar: som da percussão do pulmão normal. Entre a</p><p>macicez e o timpanismo;</p><p>� som timpânico: som característico de estruturas mais ocas, ou seja,</p><p>com grande quantidade de ar no parênquima pulmonar ou na cavidade</p><p>torácica. Pode ser encontrado em casos de enfisema pulmonar e de</p><p>pneumotórax;</p><p>� som submaciço: ocorre quando há líquido interposto entre o parênquima</p><p>pulmonar e a parede torácica, como em derrames pleurais (uma espécie</p><p>de líquido na camada que reveste o pulmão);</p><p>� som maciço: obtido quando se percute regiões mais densas, ou seja,</p><p>quando há uma diminuição da quantidade de ar no pulmão ou em suas</p><p>proximidades, o que está presente em tumores periféricos e em pneu-</p><p>monias (consolidação). Você irá sentir que está percutindo algo sólido.</p><p>A percussão pode apresentar certas alterações que não determinam</p><p>estados patológicos. É importante ressaltar que abaixo do sexto espaço</p><p>intercostal direito é possível encontrar um som maciço que corresponde</p><p>ao fígado (principalmente quando a percussão é executada na porção</p><p>anterior do tórax).</p><p>Ausculta pulmonar</p><p>Para a ausculta, devemos pedir ao paciente que realize inspirações e expirações</p><p>profundas com a boca entreaberta, sem realizar barulho, uma vez que isso</p><p>pode gerar alguns ruídos adventícios (sons anormais e não esperados em um</p><p>exame normal). Assim como na percussão, deve-se realizar uma comparação</p><p>entre duas regiões simétricas do hemitórax, indo do ápice até a base em pelo</p><p>menos 4 pontos (Figura 4).</p><p>Os sons respiratórios normais podem ser classificados como som traqueal,</p><p>respiração brônquica e murmúrios vesiculares. Os murmúrios vesiculares</p><p>são o som normal escutado no pulmão e representam o som causado pela</p><p>entrada e saída de ar dos pulmões. Esses murmúrios podem estar ausentes</p><p>ou diminuídos (se houver algo que obstrua seu caminho ou que impeça que</p><p>o ar entre e saia do pulmão).</p><p>Em situações patológicas, é possível auscultar</p><p>ruídos adventícios (sons anormais), os quais são indicativos, cada um deles,</p><p>de certas alterações. Veja, a seguir, os principais indicativos e quais são as</p><p>suas classificações e características (LAMPERT, 1996).</p><p>17Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>� Estertores finos (crepitações): são tipos de sons nítidos e descontínuos</p><p>semelhantes ao friccionar dos cabelos (faça o teste de friccionar os</p><p>cabelos uns nos outros próximo à orelha e perceba que o som é similar</p><p>ao de abrir um velcro). Esses sons são gerados quando o ar entra em</p><p>um alvéolo pulmonar que contém líquido (p. ex., pneumonia, edema</p><p>pulmonar) e ocorrem no final da inspiração.</p><p>� Estertores grossos: são sons menos agudos e duram mais do que os</p><p>finos, os quais sofrem nítida alteração com a tosse e podem ser ouvidos</p><p>em todas as regiões do tórax. São audíveis no início da inspiração e</p><p>durante toda a expiração e têm origem na abertura e no fechamento</p><p>de vias aéreas contendo secreção viscosa e espessa, bem como pelo</p><p>afrouxamento da estrutura de suporte das paredes brônquicas, sendo</p><p>comuns na bronquite crônica e nas bronquiectasias.</p><p>� Roncos: são ruídos longos, graves e musicais gerados pelo turbilhão</p><p>aéreo que se forma com a movimentação de muco e de líquido dentro</p><p>da luz das vias aéreas (geralmente brônquios de grosso calibre). Indicam</p><p>asma brônquica, bronquites, bronquiectasias e obstruções localizadas.</p><p>Aparecem na inspiração e, com maior frequência, na expiração. São</p><p>fugazes e mutáveis, surgindo e desaparecendo em curtos períodos de</p><p>tempo.</p><p>� Sibilos: são sons contínuos, musicais e de longa duração. Como as cre-</p><p>pitações, os sibilos também têm sua origem nas vias aéreas e requerem</p><p>o fechamento prévio dos brônquios. As paredes brônquicas devem ser</p><p>trazidas aos pontos de oclusão para que ocorram os sibilos. Por outro</p><p>lado, em vez de acontecer uma reabertura súbita, as paredes brônquicas</p><p>passam a vibrar ao serem atingidas por fluxo aéreo em alta velocidade.</p><p>Os sibilos acompanham as doenças que levam à obstrução de fluxo</p><p>aéreo. Em geral, são múltiplos e disseminados por todo o tórax quando</p><p>provocados por enfermidades que comprometem a árvore brônquica</p><p>toda, como acontece na asma e na bronquite (DPOC — doença pulmonar</p><p>obstrutiva crônica).</p><p>� Atrito pleural: ocorre por um processo inflamatório das pleuras vis-</p><p>ceral (estrutura que reveste o pulmão) e parietal (estrutura que recobre</p><p>o interior da parede torácica), o que torna a superfície das pleuras</p><p>irregulares, gerando o atrito pleural.</p><p>Anamnese e exame físico geral18</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>� Estridor: o estridor pode ser considerado como um tipo especial de</p><p>sibilo, com maior intensidade na inspiração, sendo audível a distância,</p><p>e que acontece nas obstruções altas da laringe ou da traqueia, fato que</p><p>pode ser provocado por laringites agudas, câncer da laringe e estenose</p><p>da traqueia.</p><p>Você sabe como reconhecer alguns destes sons? Veja as dicas a seguir.</p><p>� O ronco tem um som característico, similar ao de uma pessoa roncando quando</p><p>dorme (só que absolutamente mais baixo e suave).</p><p>� O sibilo se apresenta como uma espécie de miado de gatoou apito de chaleira.</p><p>� O atrito pleural possui o som similar ao atrito de um pano velho.</p><p>Figura 4. Regiões para realizar a ausculta pulmonar posterior.</p><p>Fonte: Barros (2016, p. 229).</p><p>19Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Neste capítulo, abordou-se o exame físico geral. É importante salientar que, para</p><p>cada área específica do conhecimento, o exame físico pode ser mais aprofundado,</p><p>como, por exemplo, os materiais úteis ao exame cardiorrespiratório — estetoscópio,</p><p>esfigmomanômetro e peak flow —, ao exame neurológico — martelo para reflexos,</p><p>alfinetes/esponjas, etc. —, ao exame dermatofuncional — lupa, adipômetro, fita</p><p>métrica e balança — e ao exame traumato-ortopédico — fita métrica, simetrógrafo</p><p>e goniômetro.</p><p>Relação dos achados da anamnese</p><p>ao exame físico geral</p><p>O conjunto dos vários sinais e sintomas apresentados pelo paciente durante</p><p>o exame físico geral irá suscitar a necessidade de um exame mais detalhado</p><p>de algum segmento. O fisioterapeuta experiente utiliza o exame geral como</p><p>um recurso para estabelecer uma relação profissional de confiança com o</p><p>paciente e, então, proceder ao exame específico minucioso dos sistemas que</p><p>julgar necessário</p><p>Em relação à avaliação da postura e da capacidade de locomoção, é impor-</p><p>tante observar o posicionamento preferencial adotado pelo paciente no leito,</p><p>bem como o ritmo, a amplitude e a natureza dos movimentos. A atitude do</p><p>paciente caracteriza seu comportamento, que pode ser classificado como ativo</p><p>ou passivo. O decúbito assumido pelo paciente pode ser ventral, lateral, dorsal</p><p>ou supino, sendo de caráter obrigatório ou opcional. Em algumas patologias,</p><p>tais como insuficiência cardíaca esquerda, o paciente tem preferência pela</p><p>posição sentada, enquanto na DPOC ele pode adotar essa mesma posição,</p><p>mas se inclinando para a frente com os braços apoiados</p><p>O indivíduo portador de hipertireoidismo costuma apresentar movimentos</p><p>frequentes e rápidos, enquanto aquele em depressão pode assumir uma postura</p><p>desleixada, acompanhada de movimentos lentos. Também é importante avaliar</p><p>o tipo de marcha, verificando se o paciente caminha sem dificuldades, com</p><p>um bom equilíbrio ou se apresenta algum desconforto ao caminhar, como</p><p>claudicação, perda do equilíbrio ou outras alterações no funcionamento motor.</p><p>A avaliação da expressão facial (fácies) engloba o conjunto de aspectos</p><p>exibidos na face do paciente, sendo de fundamental importância, pois o formato</p><p>do rosto e a fisionomia expressa pelo paciente podem ser sinais indicativos</p><p>de algumas patologias ou do uso de alguns medicamentos. A face deve ser</p><p>Anamnese e exame físico geral20</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>observada em vários momentos no decorrer do exame físico, seja com o</p><p>paciente em repouso, durante a conversa sobre assuntos específicos ou na</p><p>interação com outras pessoas.</p><p>Como exemplos de fácies relacionadas a algumas patologias, pode-se citar:</p><p>a face imóvel do indivíduo portador de Parkinson (fácies parkinsoniana); o</p><p>olhar fixo e a presença de olhos salientes e brilhantes do portador de hipe-</p><p>tireoidismo (fácies basedowiana); o edema palpebral e a palidez cutânea do</p><p>portador de síndrome nefrótica (fácies renal); a face arredondada e averme-</p><p>lhada, com aumento da quantidade de pelos e de acne do indivíduo que faz</p><p>uso de corticoide (fácies cushingoide); o rosto arredondado, com nariz e lábios</p><p>grossos e os cabelos fracos e sem brilho do portador de hipotireoidismo (fácies</p><p>mixedematosa); o rosto com aspecto de cara de leão com a pele espessa, o</p><p>nariz alargado, os lábios grossos e proeminentes e as bochechas e o mento</p><p>que se deformam pelo aparecimento de nódulos, característico do paciente</p><p>com Hanseníase (fácies leonina); e o aumento das proeminências ósseas do</p><p>crânio no portador de acromegalia (fácies acromegálica).</p><p>Em relação à avaliação dos sinais vitais, devem ser verificados e anotados</p><p>o P e a FC, a frequência respiratória, a temperatura corporal e a PA. Essa</p><p>avaliação poderá ser realizada no início do exame.</p><p>Para realizar a avaliação de pele, mucosas e anexos, é necessário considerar</p><p>uma série de fatores, como, por exemplo, a questão da etnia. Em pessoas de</p><p>pele escura, a melanina poderá mascarar outros pigmentos, dificultando a</p><p>identificação de palidez, vermelhidão incomum ou cianose. Nesse sentido,</p><p>devemos observar a cor, a umidade, a temperatura, a textura, o turgor e a</p><p>presença de lesões e edemas (LAMPERT, 1996).</p><p>A avaliação da coloração da pele deve ser realizada em um ambiente claro,</p><p>de preferência à luz do dia. A cor normal depende, principalmente, de quatro</p><p>pigmentos: a melanina, o caroteno, a oxiemoglobina e a desoxiemoglobina. A</p><p>quantidade de melanina é determinada</p><p>geneticamente, sendo aumentada por</p><p>meio da exposição à luz solar. O caroteno é um pigmento dourado, que existe</p><p>na gordura subcutânea e nas regiões queratinizadas do corpo, como as regiões</p><p>palmar e plantar. A oxiemoglobina é um pigmento vermelho, predominante</p><p>em artérias e capilares, que causa vermelhidão na pele quando em excesso e</p><p>palidez quando escasso. Caso a oxiemoglobina perca parte de seu oxigênio</p><p>para os tecidos, ela se transforma em desoxiemoglobina, que é um pigmento</p><p>mais escuro, menos avermelhado e mais azulado. Quando ocorrem grandes</p><p>concentrações desse pigmento nos vasos sanguíneos da pele, tornando-se</p><p>uma coloração azulada, há um quadro denominado cianose, que pode ser</p><p>21Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>um sinal indicativo de má perfusão sanguínea periférica ou, em casos mais</p><p>graves, central (LAMPERT, 1996; BARROS, 2016).</p><p>A cianose é avaliada ao observar os lábios, a mucosa bucal e a língua e</p><p>também pela verificação do enchimento capilar das extremidades, apertando-</p><p>-se a polpa digital e observando o tempo de retorno da circulação nesse local.</p><p>A coloração amarelada da pele é denominada de icterícia e pode estar associada</p><p>à presença excessiva de caroteno ou a distúrbios hepáticos ou à hemólise de</p><p>hemácias. Para a verificação da icterícia, devem ser observadas as escleróticas,</p><p>as conjuntivas palpebrais, os lábios, o palato duro e embaixo da língua. Em</p><p>relação à umidade da pele, deve ser observada a presença de ressecamentos,</p><p>oleosidades e sudorese</p><p>Quanto à temperatura, utiliza-se o dorso dos dedos para a identificação</p><p>de calor ou frio generalizados da pele ou de quaisquer áreas que estejam</p><p>avermelhadas e apresentem sinais de inflamação. A avaliação da textura da</p><p>pele é importante, pois pode estar relacionada a alguma doença, como no caso</p><p>de apresentar aspereza no hipotireoidismo. Já o turgor pode estar associado a</p><p>estados de desidratação, sendo avaliada por meio da formação de uma prega</p><p>cutânea, verificando-se a facilidade com que ela é deslocada e a velocidade</p><p>de seu retorno (PORTO, 2000, 2008).</p><p>Após a leitura deste capítulo, você deve estar um</p><p>pouco mais curioso sobre a aplicabilidade da anam-</p><p>nese. Acesse o link a seguir para assistir a uma aula</p><p>explicativa sobre exame físico geral.</p><p>https://goo.gl/HvNGwG</p><p>ABESO. Diretrizes brasileiras de obesidade 2016. 4. ed. São Paulo: ABESO, 2016.</p><p>BARROS, A. L. B. D. (org.). Anamnese e exame físico: avaliação diagnóstica de enferma-</p><p>gem no adulto. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.</p><p>Anamnese e exame físico geral22</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>BARROS, E. E. A. Exame clínico: consulta rápida. Porto Alegre: Artmed, 2002.</p><p>Barroso, W. K. S., et al. (2021). Diretrizes brasileiras de hipertensão arterial–2020. Arquivos</p><p>brasileiros de cardiologia, 116, 516-658. Pg 545. Disponível em: http://departamentos.</p><p>cardiol.br/sbc-dha/profissional/pdf/Diretriz-HAS-2020.pdf. Acesso em: 4 de mar. de</p><p>2024.</p><p>LAMPERT, J. B. O. Orientação semiotécnica para o exame clínico. Santa Maria: UFSM, 1996.</p><p>MALACHIAS, M. V. B. et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos Bra-</p><p>sileiros de Cardiologia, v. 107, no. 3, supl. 3, p. 1–83, set. 2016. Disponível em: http://</p><p>publicacoes. cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.pdf. Acesso</p><p>em: 19 fev. 2019.</p><p>MATTOS, W. E. Semiologia do adulto: diagnóstico clínico baseado em evidências. Rio</p><p>de Janeiro: MedBook, 2017.</p><p>PORTO, C. C. Exame clínico: bases para a prática médica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guana-</p><p>-bara Koogan, 2000.</p><p>PORTO, C. C. Exame clínico: bases para a prática médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guana-</p><p>-bara Koogan, 2008.</p><p>SANTOS, E. R. D.; FERRETTI-REBUSTINI, R. E. D. L.; PAULA, M. D. F. C. Exame físico na</p><p>prática clínica da enfermagem. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>HOPPENFELD, S. Propedêutica ortopédica: coluna e extremidades. 5. ed. São Paulo:</p><p>Atheneu, 2008.</p><p>PORTO, C. C. Exame clínico: base para a prática médica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guana-</p><p>bara--Koogan, 2008.</p><p>O’SULLIVAN, S.; SCHMITZ T. Fisioterapia: procedimentos, avaliação e tratamento. 4.</p><p>ed. Barueri, SP: Manole, 2004.</p><p>SANVITO, W. L. Propedêutica neurológica básica. São Paulo: Atheneu, 2000.</p><p>23Anamnese e exame físico geral</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p><p>Identificação interna do documento 9R4B58FPA9-VG1BN81</p>