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<p>CENTRO COLABORADOR EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ESCOLAR</p><p>DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE (CECANE/UFS)</p><p>MÓDULO II - Conceitos, princípios, diretrizes e considerações importantes sobre o</p><p>Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) e Segurança Alimentar e Nutricional</p><p>(SAN)</p><p>UNIDADE V - Trajetória histórica da SAN e paralelo com a trajetória do DHAA</p><p>Desde o início do século XX, o Brasil manteve uma postura muito participativa no que</p><p>se diz respeito à atividade e discussão de medidas contra a fome, em um cenário onde já</p><p>começavam a surgir os conceitos e a importância do Direito Humano à Alimentação</p><p>Adequada. O início das pesquisas de Josué de Castro sobre a fome, foi de extrema</p><p>importância nesse período para entender os fatores que levavam à insegurança alimentar, onde</p><p>já era possível notar como as áreas mais pobres (Nordeste e Norte) sofriam mais com esse</p><p>mal, quando comparadas com as regiões mais ricas (Sul e Sudeste) (VASCONCELOS, 2008).</p><p>Com isso, ao final da década de 1930, durante o “Estado Novo” do até então</p><p>presidente Getúlio Vargas, começavam as pressões para o combate à fome, auxiliando assim</p><p>na criação do Decreto Lei nº 399 que criava um piso para o salário de todos os trabalhadores</p><p>adultos da época e que, em tese, pudesse atender todas as suas necessidades básicas (SILVA,</p><p>2014).</p><p>Ainda durante o governo de Getúlio Vargas houve a criação de órgãos que seriam</p><p>responsáveis por ações voltadas à melhora do quadro nutricional da época, como foi o caso da</p><p>criação do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS) em 1942. O SAPS garantia</p><p>uma alimentação adequada não só ao trabalhador, mas à sua família, e que além do caráter</p><p>alimentício em si tinha como função a delegação de ações educativas sobre esses temas a fim</p><p>de conscientizar esses trabalhadores (FOGAGNOLI, 2011).</p><p>No fim da Segunda Guerra Mundial, em meados de 1945, o conceito global de</p><p>segurança alimentar passa a ser entendido mais como uma maneira de controle de mercado do</p><p>que com o acesso à alimentação adequada em si. Em 1948, surgiu a Declaração dos Direitos</p><p>Humanos, na qual em seus ideais deixavam claro que todos os seres humanos, independente</p><p>de raça, gênero ou classe social, tinham direito à alimentação adequada, moldando, assim, o</p><p>futuro da trajetória da segurança alimentar (TELESAÚDE, 2019).</p><p>O maior marco no que diz respeito à SAN durante a segunda metade do século XX no</p><p>Brasil, foi, sem dúvida a revolução verde, que foi implementada durante a ditadura militar</p><p>entre as décadas de 60 e 70, em que a agricultura passou por um grande processo de</p><p>industrialização e modernização visando produções em larga escala que, em teoria, seria a</p><p>solução para a fome. Durante o início foram criadas diversas políticas públicas que ajudaram</p><p>os agricultores na implementação desse novo meio de produção, que foi marcado pelo uso de</p><p>fontes de energia não renováveis, uso também de agrotóxicos, insumos químicos e</p><p>fertilizantes. Outro ponto importante foi o início da manipulação genética de sementes, que</p><p>permitia uma melhor seleção dos produtos do plantio, gerando uma grande expansão do que</p><p>hoje se conhece como agronegócio (OCTAVIANO, 2010).</p><p>Entretanto, mesmo com o aumento massivo da produção houve um crescimento de</p><p>apenas 20% na produção de alimentos destinados à população, enquanto para exportação o</p><p>aumento foi de mais de 100%, sendo marcada também pela mudança cultural de pequenos</p><p>agricultores para a agroindústria (OCTAVIANO, 2010).</p><p>Nesse mesmo período, foi criado o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,</p><p>Sociais e Culturais (PIDESC), que teve como objetivo assegurar, tornando jurídicas as</p><p>questões relacionadas aos direitos humanos dos países que aceitassem participar. Porém o</p><p>Brasil só ratificou o PIDESC em 1992, responsabilizando-se assim no cumprimento desses</p><p>direitos (ROCHA, 2021).</p><p>A criação de uma nova constituição em 1988, após um longo período de ditadura</p><p>militar abriu novos paradigmas no que diz respeito à Segurança Alimentar e ao Direito</p><p>Humano à Alimentação Adequada. Mesmo que à época o DHAA não tenha sido estabelecido</p><p>diretamente, o fato da constituição assegurar a saúde como um direito universal abria portas</p><p>para que a segurança alimentar fosse trabalhada com maior seriedade (SOUZA, 2019).</p><p>Após a formulação da nova constituição e da ratificação do PIDESC, o caminho para a</p><p>SAN como conhecemos hoje começou a ser traçado com a criação de políticas públicas e</p><p>órgãos que cuidam da questão da SAN no país, como foi o caso da regulamentação do</p><p>Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA) em janeiro de 2003, da política</p><p>pública do Fome Zero, também em 2003, e também do SISAN (Sistema Nacional de</p><p>Segurança Alimentar) por meio da lei Orgânica de Segurança Alimentar n.º 11.356/2006</p><p>(LOSAN). Por fim, somente em 2010 com a emenda constitucional nº 64 que a alimentação</p><p>passou a ser um direito social assegurado pelo Estado no artigo 6º da Constituição Federal</p><p>(CASSARINO, DINIZ, 2020).</p>

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