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<p>FUNDAMENTOS HISTÓRICOS</p><p>E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO</p><p>CURSOS DE GRADUAÇÃO - EAD</p><p>Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação – Prof. Dr. Stefan Vasilev Krastanov e</p><p>Prof. Ms. Rubens Arantes Corrêa.</p><p>Stefan Vasilev Krastanov é autor do livro Nietzsche: pathos</p><p>artístico versus consciência moral. É professor adjunto de</p><p>filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul</p><p>– UFMS. Possui doutorado em Filosofia pela Universidade</p><p>Federal de São Carlos – UFSCar. Além disso, é graduado,</p><p>pós-graduado e mestre em Filosofia pela Universidade</p><p>de Sofia, na Bulgária. Desde o ano de 2002, atua como</p><p>professor universitário, principalmente nas áreas da</p><p>História da Filosofia, Estética e Metafísica, além de ser autor</p><p>de vários materiais para cursos de graduação na modalidade EaD.</p><p>E-mail: stefanve@terra.com.br</p><p>Rubens Arantes Corrêa é autor do livro O Pensamento Político de</p><p>Raul Pompeia (publicado pela editora Ex Libris, em 2008). Possui</p><p>licenciatura em História pela Universidade Estadual Paulista -</p><p>UNESP (1987), mestrado em Ciências Sociais pela Universidade</p><p>Federal de São Carlos - UFSCar (2000) e, atualmente, é doutorando</p><p>em História pela Universidade Estadual Paulista - UNESP.</p><p>E-mail: rubens-arantes@netsite.com.br</p><p>Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação</p><p>FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E</p><p>FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO</p><p>Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>Stefan Vasilev Krastanov</p><p>Rubens Arantes Corrêa</p><p>Batatais</p><p>Claretiano</p><p>2013</p><p>Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação</p><p>© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)</p><p>Versão: dez./2013</p><p>370.1 C84</p><p>Corrêa, Rubens Arantes</p><p>Fundamentos históricos e filosóficos da educação / Rubens Arantes</p><p>Corrêa, Stefan Vasilev Krastanov – Batatais, SP : Claretiano, 2013.</p><p>198 p.</p><p>ISBN: 978-85-67425-65-8</p><p>1. Origem da problemática pedagógica e diferentes vertentes pedagógicas</p><p>na Antiguidade. 2. Educação na Antiguidade: Egito e Grécia Antiga. 3. A</p><p>Educação na época helenística e romana. 4. Idade Média e sua concepção educativa.</p><p>5. A Educação na Idade Média: Período Patrístico e Período Escolástico. 6.</p><p>Problemas pedagógicos na Modernidade. 7. Período Humanístico e Renascentista.</p><p>8. A Educação na Era Moderna e Contemporânea. 9. Modelos Contemporâneos</p><p>da Educação. I. Krastanov, Stefan Vasilev. II. Fundamentos históricos e filosóficos</p><p>da educação.</p><p>CDD 370.1</p><p>Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional</p><p>Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves</p><p>Preparação</p><p>Aline de Fátima Guedes</p><p>Camila Maria Nardi Matos</p><p>Carolina de Andrade Baviera</p><p>Cátia Aparecida Ribeiro</p><p>Dandara Louise Vieira Matavelli</p><p>Elaine Aparecida de Lima Moraes</p><p>Josiane Marchiori Martins</p><p>Lidiane Maria Magalini</p><p>Luciana A. Mani Adami</p><p>Luciana dos Santos Sançana de Melo</p><p>Luis Henrique de Souza</p><p>Patrícia Alves Veronez Montera</p><p>Rita Cristina Bartolomeu</p><p>Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli</p><p>Simone Rodrigues de Oliveira</p><p>Bibliotecária</p><p>Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11</p><p>Revisão</p><p>Cecília Beatriz Alves Teixeira</p><p>Felipe Aleixo</p><p>Filipi Andrade de Deus Silveira</p><p>Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz</p><p>Rodrigo Ferreira Daverni</p><p>Sônia Galindo Melo</p><p>Talita Cristina Bartolomeu</p><p>Vanessa Vergani Machado</p><p>Projeto gráfico, diagramação e capa</p><p>Eduardo de Oliveira Azevedo</p><p>Joice Cristina Micai</p><p>Lúcia Maria de Sousa Ferrão</p><p>Luis Antônio Guimarães Toloi</p><p>Raphael Fantacini de Oliveira</p><p>Tamires Botta Murakami de Souza</p><p>Wagner Segato dos Santos</p><p>Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer</p><p>forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na</p><p>web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do</p><p>autor e da Ação Educacional Claretiana.</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000</p><p>cead@claretiano.edu.br</p><p>Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006</p><p>www.claretianobt.com.br</p><p>SUMÁRIO</p><p>CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO</p><p>1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7</p><p>2 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO ...................................................................... 9</p><p>3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 33</p><p>UNIDADE 1 – A EDUCAÇÃO NO MUNDO ANTIGO</p><p>1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 35</p><p>2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 35</p><p>3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 36</p><p>4 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 36</p><p>5 EDUCAÇÃO NO EGITO ANTIGO ...................................................................... 37</p><p>6 EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA ..................................................................... 40</p><p>7 EDUCAÇÃO NA ÉPOCA DO HELENISMO ......................................................... 57</p><p>8 EDUCAÇÃO ROMANA ....................................................................................... 59</p><p>9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 61</p><p>10 CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 63</p><p>11 E-REFERÊNCIAS ................................................................................................ 64</p><p>12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 64</p><p>UNIDADE 2 – EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA</p><p>1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 65</p><p>2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 65</p><p>3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE .............................................. 66</p><p>4 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 67</p><p>5 CRISTIANISMO E O NOVO MODELO PEDAGÓGICO ...................................... 68</p><p>6 ALTA IDADE MÉDIA: EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE FEUDAL ............................ 79</p><p>7 BAIXA IDADE MÉDIA: EDUCAÇÃO NA ESCOLÁSTICA ..................................... 81</p><p>8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 89</p><p>9 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 90</p><p>10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 91</p><p>UNIDADE 3 – EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE</p><p>1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 93</p><p>2 CONTEÚDOS ..................................................................................................... 93</p><p>3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE ............................................... 94</p><p>4 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 96</p><p>5 ÉPOCA MODERNA: TRAÇOS GERAIS ............................................................... 97</p><p>6 RENASCIMENTO ............................................................................................... 99</p><p>7 REFORMISMO RELIGIOSO E EDUCAÇÃO ........................................................ 103</p><p>8</p><p>sangrenta</p><p>coroada pela glória – do que a existência feliz, a educação toma</p><p>inspiração.</p><p>A educação homérica foi o primeiro modelo de formação em</p><p>excelência; a primeira versão da Paideia grega. Temos de notar que</p><p>esse modelo propiciava a formação do lado subjetivo do homem,</p><p>todavia, essa formação de excelência traria também para o Estado</p><p>enorme benefício, pois é o herói quem, nos combates, glorificava</p><p>e dava relevância ao seu Estado.</p><p>Nesse período, o povo grego ainda não dominava a arte de</p><p>ler e escrever, e, por isso, a educação era transmitida oralmente. A</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>43© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>Ilíada e a Odisseia eram a base dessa transmissão oral. Os heróis</p><p>das epopeias serviram como modelo de imitação para os jovens.</p><p>O processo de formação dos jovens gregos efetuava-se por</p><p>meio da disputa e da concorrência, já que se acreditava que esse</p><p>era o caminho para o homem se desenvolver. Com isso, a disputa</p><p>tornar-se um meio imprescindível para o gênio se destacar e ficar</p><p>reconhecido. Foi o ostracismo que revelou esse modelo agônico</p><p>de educação. Segundo tal modelo, se, numa disputa, aparecesse</p><p>alguém que superasse, em muito, os outros competidores, este</p><p>teria de ser isolado e transferido para outro grau de disputa, para</p><p>que esta não cessasse. Pode-se reconhecer essa mentalidade em</p><p>todas as manifestações da cultura grega, como nos jogos olímpicos</p><p>e nas disputas sofísticas. Em suma, a educação homérica permea-</p><p>va e fundamentava essa cultura fenomenal.</p><p>No entanto, ao longo do tempo, rompeu na cultura grega</p><p>uma força racional que dominou toda a cultura ocidental. Este pe-</p><p>ríodo é denominado "Período Clássico", e tinha, na racionalidade,</p><p>sua marca fundamental. Vamos estudá-lo a seguir?</p><p>Período clássico</p><p>Por volta dos séculos 5 a.C e 4 a.C., a cultura grega entra no pe-</p><p>ríodo clássico do seu desenvolvimento. Nesse período, entre as pólis</p><p>gregas, duas merecem destaque, revelando dois modelos diferentes</p><p>de educação. Com efeito, trataremos de Esparta e Atenas.</p><p>Esparta</p><p>Por volta do ano 800 a.C., na estrutura social da Grécia, surge</p><p>a cidade-Estado, chamada pólis. Havia várias polis, com estruturas</p><p>política e social próprias. Entre elas, frequentemente explodiam</p><p>conflitos seguidos por guerras. Essa é a razão pela qual mantinha</p><p>os cidadãos em prontidão constante para, se necessário, travar lu-</p><p>tas em sua defesa, pois o bem do Estado conferia o maior valor às</p><p>ações humanas. Talvez, a manifestação mais clara dessa mentali-</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação44</p><p>dade grega seja apresentada por Esparta e seu modelo educativo,</p><p>o qual servirá, em partes, de base a Platão, para descrever o seu</p><p>Estado perfeito.</p><p>Em Esparta, o ideal homérico de formação manteve-se mais</p><p>intacto, pelo menos na sua versão bélica. No entanto, o indivíduo</p><p>não é concebido na sua dimensão subjetiva, e, portanto, a sua for-</p><p>mação tendia, sobremaneira, a beneficiar o Estado. O Estado atri-</p><p>buía à educação uma missão fundamental para a sua conservação,</p><p>na medida em que ela deveria formar cidadãos compatíveis com o</p><p>projeto político de Esparta.</p><p>Foi por essa razão que o Estado espartano considerava as</p><p>crianças e os jovens como sua propriedade, os quais deveriam ser</p><p>moldados conforme seus fins. Como o Estado era considerado o</p><p>Bem supremo, o papel da formação individual reduzia-se ao mí-</p><p>nimo. Percebe-se como a educação, nessa versão, visa somente</p><p>a moldar o indivíduo conforme as necessidades estatais. Obser-</p><p>vamos aqui que se trata de um homem "produzido" pelo e para</p><p>o Estado. Esse modelo de educação nos mostra uma formação</p><p>unilateral, que descarta o desenvolvimento subjetivo e pessoal do</p><p>indivíduo.</p><p>Ao contrário do modelo espartano, a educação ateniense</p><p>revela-nos um ideal mais humano e liberal, ou seja, mais volta-</p><p>do ao aperfeiçoamento pessoal e subjetivo. Vamos conhecer esse</p><p>modelo educativo a seguir.</p><p>Atenas</p><p>Se o Estado espartano atestava a propriedade das crianças,</p><p>em Atenas, tal propriedade cabia à família e, antes, ao pai.</p><p>O ideal educativo de Atenas visava a três aspectos: ginástica,</p><p>música e escrita. A ginástica justificava-se, além das necessidades</p><p>militares, pelo ideal humanista de harmonia entre corpo e mente.</p><p>Ao estudo da música, cabia o papel de formar o senso de tempe-</p><p>rança e de moderação nos jovens, como, por exemplo, evitar falar</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>45© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>e agir com indecência. Se, por um lado, à escrita cabe o principal</p><p>meio de aquisição de conhecimentos e interação com estes, por</p><p>outro, a criação do alfabeto naturalmente impõe a necessidade de</p><p>tal estudo. A esse respeito, Cambi (1999, p. 85) afirma: "Estamos</p><p>no liminar da grande descoberta educativa ateniense e, também,</p><p>de toda cultura grega: a Paidéia".</p><p>Por volta de 461 a.C. a 429 a.C., o grande protagonista políti-</p><p>co é Péricles. Inicia-se o século de ouro da cultura grega, o Classi-</p><p>cismo. As principais ideias que a sociedade ateniense eleva como</p><p>"bandeira" do seu humanismo expressam-se em termos de igual-</p><p>dade, liberdade e individualidade. Lembremo-nos desta célebre</p><p>frase de Protágoras: "o homem é a medida de todas as coisas".</p><p>Esse legado deixado pelo célebre sofista milagrosamente resume</p><p>todos esses ideais.</p><p>É o antropologismo, instaurado por meio dos sofistas e de</p><p>Sócrates, que constrói a pátria do Classicismo. Começa uma nova</p><p>era para o homem, tornando-se este o principal objeto da sua pró-</p><p>pria investigação. A famosa frase do templo de delfos ilustra esse</p><p>movimento espiritual: "Conhece-te a ti mesmo!". Eis a nova mun-</p><p>dividência, em que o homem aparece como protagonista e na qual</p><p>ele se pergunta sobre si mesmo e por si mesmo responde, desper-</p><p>tando a sua consciência pessoal e, com ela, o gosto pela liberdade.</p><p>A democracia está, pois, no seu apogeu.</p><p>Pensando nesse novo status humano, temos de destacar o</p><p>papel dos sofistas. Neste período surge a preocupação com um</p><p>processo educativo que requer, antes de tudo, uma formação hu-</p><p>mana no sentido amplo da palavra.</p><p>Sofistas</p><p>Com a ascensão dos comerciantes e o surgimento da classe</p><p>burguesa, o anseio democrático surgia cada vez mais manifestado</p><p>e, com ele, a vontade pelo poder social. Praticamente, todo ho-</p><p>mem tinha direito de assumir cargos públicos, ou até encabeçar o</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação46</p><p>Estado. Mas, para tal fim, era necessário que ele convencesse os</p><p>outros das suas capacidades.</p><p>Os sofistas, como mestres profissionais, prometiam, em tro-</p><p>ca de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse dedicar-</p><p>-se à vida pública. Estes fatores propiciaram o surgimento de es-</p><p>colas, nas quais se dava muita importância à oratória (a arte de</p><p>bem falar e arte de disputa), e, por meio desses conhecimentos,</p><p>preparava-se o discípulo para o ingresso na vida social.</p><p>Todavia, essas intenções sofísticas de fazer que todo homem</p><p>pudesse participar na vida pública foram vistas por Sócrates e ou-</p><p>tros como algo desonroso. Por um lado, porque vendiam o conhe-</p><p>cimento como se fosse mercadoria, por outro, porque incitavam a</p><p>possibilidade de os plebeus entrarem na vida pública.</p><p>Embora Sócrates e outros contestassem o sucesso individual,</p><p>a carreira na vida pública e a vantagem pessoal, tal fato deveria</p><p>ocorrer em detrimento da realização plena do homem por meio das</p><p>virtudes morais. Talvez essa seja a razão da forte repulsa de Sócra-</p><p>tes, o primeiro teórico da ética, e de seu genuíno discípulo, Platão,</p><p>contra os sofistas. Vejamos o que Sócrates pensava a esse respeito!</p><p>Sócrates</p><p>Sócrates, diferentemente dos sofistas que acentuam o relati-</p><p>vismo humano, interrogava-se, permanentemente, sobre a natureza</p><p>humana, procurando a essência comum entre os homens. Sócrates,</p><p>com a célebre frase "conhece-te a ti mesmo", fazia com que o indi-</p><p>víduo a procurasse</p><p>em si mesmo a sua essência humana, que é co-</p><p>mum entre os homens. Como afirmava o velho mestre, tal essência</p><p>era a moral, mas uma moral não baseada na lei inexorável dos costu-</p><p>mes, mas sim na obrigação interna, no dever que ditado pela própria</p><p>consciência. O indivíduo deveria consultar o seu próprio "demônio"</p><p>para achar os motivos do seu agir.</p><p>Sócrates tornou-se o pai da filosofia moral com base racio-</p><p>nalista; assim, podemos entender sua frase marcante: "O conheci-</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>47© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>mento é virtude", pois a falta de virtude deve-se à falta de saber.</p><p>Se esse for o caso, então devemos imaginar que a formação huma-</p><p>na, que pressupõe aquisição do conhecimento, é imprescindível</p><p>para o alcance da vida virtuosa, e esta, por sua vez, conduzirá o</p><p>homem à felicidade. Temos de notar aqui um argumento poderoso</p><p>em prol da necessidade do ensino.</p><p>Sócrates designou como maiêutica (alusão à arte de parteira)</p><p>o método de instrução da alma humana, pelo qual esta se ascende</p><p>e se torna apta a ingressar no caminho das virtudes. Por meio de</p><p>perguntas e respostas, Sócrates foi de fato esse "parteiro intelec-</p><p>tual" que ajudava os jovens a descobrirem, por si mesmos, as ver-</p><p>dadeiras virtudes que habitavam suas almas. Nessa empreitada,</p><p>Sócrates era insuperável. Sua maiêutica, entendida como método</p><p>dialético, criou um novo paradigma na educação, atribuindo a esta</p><p>mais dinâmica e efetividade.</p><p>Se a Sócrates cabe o mérito de ter introduzido um novo mo-</p><p>delo de educação baseado na dinâmica entre o mestre e o discípulo,</p><p>Platão foi quem, utilizando-se do método dialético, criou uma base</p><p>sistemática da educação para vigorar numa sociedade perfeita. A</p><p>seguir, você irá conhecer as propostas pedagógicas de Platão.</p><p>Platão</p><p>Não será necessário sublinhar que o modelo educativo de</p><p>Platão é acentuadamente utópico. Todavia, não deixa de ser uma</p><p>teoria avançadíssima que, ao longo dos séculos, tem sido uma das</p><p>principais fontes de inspiração da literatura pedagógica.</p><p>O modelo pedagógico platônico ressalta dois aspectos: o as-</p><p>pecto moral, que visa à formação pessoal do indivíduo, e o aspec-</p><p>to social, que visa à participação do indivíduo na sociedade. Esses</p><p>dois aspectos devem convergir, para que haja formação perfeita.</p><p>Platão vê, na dialética, o suporte imprescindível para a formação</p><p>individual, e esta deve realizar o caminho ascendente para a con-</p><p>templação das ideias.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação48</p><p>A esse respeito, Heidegger notará que é a partir da paideia</p><p>que o "olho educado" aprende a contemplar as ideias. Na célebre</p><p>Alegoria da caverna, contida no livro 7 de A república, podemos</p><p>observar a primeira forma de educação, a individual: primeiro, na</p><p>libertação do prisioneiro curioso e dos grilhões; depois na tomada</p><p>do caminho ascendente; e, por fim, no alcance do mundo ensola-</p><p>rado das verdades eternas.</p><p>Para compreender melhor essa versão platônica de educa-</p><p>ção, convidamos você a observar, em detalhes, essa alegoria:</p><p>Alegoria da caverna ––––––––––––––––––––––––––––––––––</p><p>Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após ge-</p><p>ração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão</p><p>algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar</p><p>e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem</p><p>para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre,</p><p>de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no inte-</p><p>rior.</p><p>A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os</p><p>prisioneiros – no exterior – portanto, - há um caminho ascendente ao longo do</p><p>qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de ma-</p><p>rionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo</p><p>tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.</p><p>Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxer-</p><p>gam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas,</p><p>mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transpor-</p><p>tam.</p><p>Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas</p><p>são as próprias coisas.</p><p>Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens</p><p>(estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna.</p><p>Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior</p><p>e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna.</p><p>Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria</p><p>um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os ou-</p><p>tros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos</p><p>anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e,</p><p>deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.</p><p>Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade</p><p>é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-</p><p>-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, pros-</p><p>seguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante</p><p>toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas</p><p>projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a pró-</p><p>pria realidade.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>49© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria</p><p>desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.</p><p>Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não</p><p>acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas</p><p>caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em</p><p>afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por</p><p>matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos de-</p><p>mais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.</p><p>O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das esta-</p><p>tuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro</p><p>que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz</p><p>da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da</p><p>verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele</p><p>deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real</p><p>iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o</p><p>filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assem-</p><p>bléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o</p><p>único verdadeiro (CHAUI, 1997, p. 40).</p><p>––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––</p><p>O mito leva-nos, pois, a imaginar prisioneiros acorrentados</p><p>num mundo subterrâneo, em que eles apenas podem observar os</p><p>reflexos de tudo aquilo que uma fogueira lançava na parede da</p><p>caverna e acreditar que as imagens projetadas na caverna são ver-</p><p>dadeiras. Imaginemos a seguinte situação: um dos prisioneiros, o</p><p>mais curioso, liberta-se das correntes e começa a escalar as pare-</p><p>des. Ele está ofuscado pela luz que a verdadeira realidade produz</p><p>à medida que ele se aproxima dela. Por fim, alcança a verdadeira</p><p>realidade e, com ela, a felicidade por estar contemplando o mun-</p><p>do verdadeiro.</p><p>Até aqui, é possível observar que a alegoria descreve o pro-</p><p>cesso da formação individual. O prisioneiro, sozinho, rompe as</p><p>correntes, escala as paredes e chega ao mundo verdadeiro, que é,</p><p>também, o mundo da felicidade. Os preconceitos e as falsas cren-</p><p>ças (as correntes) são rompidos pela dialética que conduz o indiví-</p><p>duo do ilusório para o verdadeiro. O prisioneiro</p><p>curioso é o sábio,</p><p>e este, ao possuir conhecimento, alcança a vida virtuosa, que o</p><p>leva à felicidade.</p><p>Do que foi dito podemos concordar com Sócrates que so-</p><p>mente o sábio é feliz? Até então, Platão acompanha a versão so-</p><p>crática de educação, segundo a qual a felicidade – meta suprema</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação50</p><p>da vida humana – só é alcançada pelo saber, e temos de concluir</p><p>que o saber torna o sábio feliz.</p><p>No entanto, Platão dá um passo a mais que Sócrates no que</p><p>diz respeito à formação, envolvendo, com isso, razões políticas e</p><p>sociais. Se, para seu mestre, o importante era a bem-aventurança</p><p>individual e, sabendo que o acesso à felicidade é interditado para</p><p>os ignorantes, o ideal socrático mantém-se no nível subjetivo.</p><p>Partindo da formação subjetiva, descrita pelo caminho as-</p><p>cendente do prisioneiro curioso, Platão tenta mostrar que o sábio</p><p>pode desempenhar um papel extraordinário na sociedade. Ele nos</p><p>conta que o prisioneiro, apesar de estar no mundo ensolarado das</p><p>ideias, sentindo seu ser envolvido em plena felicidade, resolve re-</p><p>tornar à caverna para contar aos outros prisioneiros que há outra</p><p>realidade, mais verdadeira. É nesse momento que a responsabili-</p><p>dade social do sábio entra em jogo. Obviamente, ele corre risco de</p><p>ser morto ao tentar salvar os ignorantes de suas cavernas, mas só a</p><p>ele cabe o papel de instruir os outros e mostrar que é possível uma</p><p>sociedade perfeita a partir da formação do homem.</p><p>Platão tenta conjugar a visão subjetiva da educação, que</p><p>contemplava a formação integral do indivíduo, contemplada pela</p><p>versão socrática de formação, com a visão de uma educação para</p><p>o bem comum do Estado, sem, contudo, lesar a formação indivi-</p><p>dual do sujeito.</p><p>Vamos observar como isso é possível?</p><p>Inicialmente, Platão propõe uma educação igual para todos</p><p>– pelo menos em seu ponto de partida –, incluindo as mulheres.</p><p>Essa educação contempla dois aspectos: a ginástica, para o corpo,</p><p>e a música, para a alma. A música é responsável pelos estudos in-</p><p>telectuais: poesia, literatura, matemática etc.</p><p>Desse modo, de acordo com o desempenho de cada um, o</p><p>posterior desenvolvimento da educação contempla três modali-</p><p>dades, correspondentes às três classes sócias: governantes, guar-</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>51© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>diões e trabalhadores. Cada um deve ser instruído segundo a virtu-</p><p>de da justiça, pois é esta que ampara a divisão social do trabalho e</p><p>determina as modalidades educativas de cada classe. Assim, quem</p><p>é destinado a trabalhar e a produzir bens materiais deve aprender</p><p>saberes técnicos; aos guardiões, era reservada, segundo o mentor</p><p>de A república, uma formação militar forjada na coragem e na dis-</p><p>ciplina; e os destinados ao poder estatal, ou seja, os governantes,</p><p>devem, após um longo estudo teórico em matemática, literatura e</p><p>música, aprender a dialética, que dará abertura à visão panorâmi-</p><p>ca das verdades eternas. Então, somente os governantes estarão</p><p>aptos a exercer o poder administrativo.</p><p>Para compreender um pouco mais da significante proposta</p><p>pedagógica de Platão, vejamos um artigo de Renato José de Olivei-</p><p>ra, intitulado Platão e a Filosofia da Educação.</p><p>Platão e a Filosofia da Educação ––––––––––––––––––––––––</p><p>O pensamento filosófico de Platão se desenvolve em consonância com sua visão</p><p>educativa, a qual é apresentada principalmente nos diálogos A República e As</p><p>leis. Tendo por objetivo a fundação mental de um Estado perfeito, Platão propõe,</p><p>em A República, que se dê atenção especial à formação dos "guardiães", cuja</p><p>função social é a defesa da cidade.</p><p>O longo processo educativo que envolve a formação dos guardiães tem como</p><p>pilares duas artes bastante valorizadas pelos gregos: a música (que engloba</p><p>também a poesia) e a ginástica. Discorrendo sobre a educação musical, Platão</p><p>defende a instituição de uma censura com relação aos poemas épicos e trágicos</p><p>que fazem menção aos atos divinos de natureza "não digna", como por exemplo</p><p>a vingança. Partindo do princípio de que a divindade é boa em sua essência, o</p><p>filósofo ateniense julga ser danoso à formação moral dos guardiães o conheci-</p><p>mento desses relatos, que considera mentirosos. Quanto à educação do corpo,</p><p>ele diz ser preciso tomar por modelo a ginástica militar espartana, que tem por</p><p>base exercícios físicos e prescreve o rígido controle sobre os prazeres. Assim,</p><p>para Platão, as refeições deveriam ser frugais e sempre realizadas coletivamen-</p><p>te, de modo a reprimir os excessos motivados pela gula.</p><p>A grande articulação entre esses dois tipos de educação constitui a espinha dor-</p><p>sal da formação dos futuros guardiães. Mas como escolher, dentre eles, o mais</p><p>apto para governar a cidade? Platão entende ser necessário submeter os edu-</p><p>candos a duras provas de habilitação, as quais incluem avaliação da faculdade</p><p>mnemônica, da resistência à dor e à sedução e da capacidade demonstrada na</p><p>execução de trabalhos árduos. Os aprovados nesses exames devem prosseguir</p><p>no processo educativo, estudando matemáticas e, posteriormente, dialética. Aos</p><p>reprovados cabe trabalhar para a comunidade, prestando os mais diversos ser-</p><p>viços: comércio, manufatura de bens de consumo etc.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação52</p><p>A formação dos guardiães e, em particular, do governante, exige, posteriormente,</p><p>dedicação e esforços ainda maiores por parte dos educandos. Assim como nossos</p><p>olhos não conseguem contemplar o sol, fonte de toda luz do mundo visível, o Bem,</p><p>idéia suprema que governa o mundo supra-sensível, não pode ser contemplado se</p><p>os olhos da alma não forem cuidadosamente preparados para esse fim. A situação,</p><p>ilustrada pela bem conhecida alegoria da caverna, prevê que o homem possa se</p><p>libertar dos conhecimentos falsos, enganosos, gerados pela opinião (doxa), que</p><p>são apenas sombras ou simulacros dos conhecimentos verdadeiros. Tal ruptura,</p><p>porém, não é imediata, pois aquele que foi acostumado a viver nas sombras, quan-</p><p>do olha pela primeira vez o sol, tem sua vista ofuscada e se recusa a continuar</p><p>a observá-lo. O mesmo se dá com respeito às verdades e à idéia do soberano</p><p>Bem. Por essa razão, os estudos a serem feitos posteriormente (matemáticas e</p><p>dialética) devem prosseguir por muitos anos a fim de revelar quem possui alma</p><p>de filósofo. Segundo assinala Werner Jaeger (1995, p. 841-842), para Platão o</p><p>verdadeiro espírito filosófico é aquele que não se deixa perturbar pela variedade</p><p>das opiniões, tendo como meta alcançar a unidade na diversidade, isto é, "ver a</p><p>imagem fundamental, universal e imutável das coisas: a idéia".</p><p>A educação que revela, para o conjunto dos cidadãos, o melhor governante é</p><p>uma ascese espiritual: a alma que atinge o topo do conhecimento se acha em</p><p>plenas condições de governar, mas não deve se julgar superior aos demais ho-</p><p>mens e mulheres. Ao contrário, deve retornar ao mundo de sombras em que eles</p><p>vivem e, graças ao seu olhar mais acurado, ajudá-los a ver com maior nitidez no</p><p>escuro. O rei-filósofo não tem, portanto, como ideal de felicidade chegar ao poder</p><p>para ser honrado por sua sabedoria ou para adquirir prestígio e riqueza; ele não</p><p>cultiva qualquer tipo de orgulho e é feliz por ser o educador maior de todos, aque-</p><p>le que governa para fazer de seus concidadãos homens e mulheres melhores.</p><p>No diálogo As Leis, provavelmente o último escrito por Platão, o Estado ideal</p><p>é fundado na ilha de Creta, sendo também uma construção mental, e tem por</p><p>nome "Magnésia". Se na República o filósofo ateniense entendia que a palavra</p><p>do rei-filósofo poderia ser considerada justa e a melhor expressão das leis, em</p><p>"Magnésia" ele vê as leis escritas como algo de suma importância, sobretudo</p><p>devido ao conteúdo educativo que possuem: o espírito de uma lei deve envolver</p><p>a alma do cidadão como verdadeiro ethos, isto é, deve fazer com que o respeito</p><p>seja dado em função do papel que a lei cumpre no aprimoramento</p><p>da coesão</p><p>social e não em função do temor com relação às punições que prescreve.</p><p>Para Platão, toda lei tem um fundamento transcendente, que é a própria divin-</p><p>dade. Deus é a "norma das normas, medida das medidas" (ibid, p. 1341). Na</p><p>República, o princípio universal supremo é a idéia do Bem, que agora, nas Leis,</p><p>acaba por coincidir com a própria mente divina. A divindade se apresenta como o</p><p>legislador dos legisladores, mantendo com o homem uma relação eminentemen-</p><p>te pedagógica: assim como toda boa fonte sempre faz jorrar águas saudáveis,</p><p>Deus sempre prescreve o que é justo; Ele é, portanto, o "pedagogo universal"</p><p>(ibid, p. 1343).</p><p>A partir daí, Platão passa a dar mais atenção à extensão dos processos educati-</p><p>vos, ou seja, já não interessa tanto quem a educação irá apontar como apto para</p><p>governar, mas quantos serão bem formados para o exercício da vida cívica. As-</p><p>sim, Platão defende que a educação tenha caráter público e que seja ministrada</p><p>em prédios construídos especialmente para esse fim, onde meninos e meninas</p><p>recebam igual instrução. Esta, por sua vez, precisa ser iniciada o mais cedo</p><p>possível, sendo sugerida às crianças pequenas (na faixa etária de três a seis</p><p>anos) a prática de diferentes jogos, inventados por elas mesmas ou não. Para</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>53© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>as crianças mais velhas, Platão recomenda que pratiquem sempre os mesmos</p><p>jogos com as mesmas regras, pois quem se habitua a ser regido por princípios</p><p>bons não terá, no futuro, necessidade de alterar as leis e convenções aprovadas</p><p>pela comunidade.</p><p>Na medida em que a educação assume papel de destaque na formação dos</p><p>cidadãos, torna-se crucial supervisioná-la. Tal tarefa cabe a um ministro da edu-</p><p>cação altamente qualificado, o qual deve ter no mínimo cinqüenta anos e ser</p><p>indicado - por votação secreta, realizada no templo de Apolo - entre os mais</p><p>competentes funcionários da administração pública, mas o escolhido não pode</p><p>ser membro do Conselho Noturno.</p><p>O governo proposto por Platão em As Leis é um sistema que combina elemen-</p><p>tos da aristocracia e da democracia. A administração do Estado é exercida por</p><p>diferentes escalões de funcionários, acima dos quais figura o Conselho Noturno,</p><p>composto pelos servidores mais idosos e notáveis. Este Conselho não é eleito</p><p>pelos cidadãos, mas seus membros podem ter sido escolhidos, por via eletiva,</p><p>para ocupar os cargos públicos que antes exerciam. As principais funções do</p><p>Conselho Noturno são:</p><p>Desenvolver estudos filosóficos visando a mais completa compreensão das leis</p><p>que regem o Estado.</p><p>Fazer intercâmbio com filósofos de outras cidades a fim de aprimorar as leis</p><p>existentes em "Magnésia".</p><p>Zelar para que os princípios filosóficos e legais respeitados pelos conselheiros no</p><p>exercício de suas funções se difundam para o conjunto dos cidadãos.</p><p>Segundo Jaeger (op. cit.), embora surpreendente em alguns aspectos, a propos-</p><p>ta político-pedagógica de Platão não se modifica substancialmente em relação</p><p>a que fora apresentada na República porque os conselheiros cumprem papéis</p><p>análogos aos dos guardiães: são os supremos defensores e os principais difuso-</p><p>res da virtude (OLIVEIRA, 2010).</p><p>––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––</p><p>Antes de passarmos para o estudo da educação segundo o</p><p>pensamento do grande Aristóteles, vamos analisar as propostas</p><p>de Isócrates?</p><p>Isócrates</p><p>Apesar da perfeita elaboração conceitual, a Paideia platôni-</p><p>ca não encontra aplicação na prática, permanecendo, assim, no</p><p>leito da utopia. O modelo mais difundido e explorado nessa época</p><p>foi a obra de Isócrates. Sua proposta mantinha-se mais próxima</p><p>das necessidades da pólis do que a Paideia platônica, revelando-se</p><p>mais prática e utilitária.</p><p>Isócrates nasceu em 436 a.C. Contemporâneo de Platão, estu-</p><p>dou com o célebre sofista Górgias e fundou, em 393 a.C., sua própria</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação54</p><p>escola, quase na mesma época em que Platão fundou a Academia.</p><p>Na escola isocrática, o ensino girava em torno da retórica; era o cen-</p><p>tro de verdadeira compreensão do significado da palavra. A esse res-</p><p>peito, Cambi (1999, p. 91) afirma:</p><p>A Paidéia isocrática tem seu centro na palavra, é uma Paidéia do Lo-</p><p>gos como "palavra criadora da cultura", colocando o sujeito em posi-</p><p>ção de autonomia, mas sempre como interlocutor da cidade, na qual</p><p>e pela qual desenvolve uma subjetividade mais rica de humanidade.</p><p>Isócrates julga inaplicável o ideal platônico pela teoria das</p><p>ideias, cujo teor permanecia inacessível à maioria. Ao contrário,</p><p>dirige sua mensagem a todos e aposta na formação moral do</p><p>povo, com base em quatro virtudes: prudência, força, temperan-</p><p>ça e justiça. Essas virtudes, desenvolvidas pelo sujeito ao longo de</p><p>sua formação, têm como finalidade garantir a paz e a convivência</p><p>harmoniosa na sociedade. E, nisso consiste o papel da educação,</p><p>conforme entende Isócrates.</p><p>Figura 3 Paideia isocrática: a prudência, a força, a temperança e a justiça como bases do</p><p>desenvolvimento do homem.</p><p>O programa curricular do modelo isocrático foi basicamente</p><p>centrado no ensino literário e oratório, tentando formar um homem</p><p>que realmente mantivesse e expressasse o verdadeiro significado</p><p>das palavras, podendo assim realizar um discurso simples, claro e</p><p>acessível para todos. Na base disso, está a crítica de Isócrates dirigi-</p><p>da aos sofistas, por estes ensinarem uma técnica de falar que visava</p><p>não à verdade do discurso, mas, sobretudo, à vantagem pessoal.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>55© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>O processo educativo, segundo Isócrates, deve contemplar</p><p>três aspectos fundamentais: talento, prática e estudo. O talento</p><p>diz respeito à predisposição natural do sujeito para aprender, para</p><p>ser naturalmente apto a compreender a base da prática (segundo</p><p>aspecto) e para o estudo teórico (terceiro aspecto). O conteúdo</p><p>programático proposto por Isócrates tende a ser alheio à visão ge-</p><p>ral da educação na Grécia Antiga, a qual visa à formação do corpo</p><p>mediante a ginástica e a formação da alma por meio de estudos</p><p>de música, poesia, gramática, retórica, matemática e filosofia. Um</p><p>notável avanço no sistema curricular isocrático foi a inclusão da</p><p>história, compreendida como estudo de acontecimentos passados</p><p>que fornecem a base dos porvindos.</p><p>Por fim, o modelo isocrático serviu como fonte rica de ins-</p><p>piração, sobremaneira para os pensadores da época do Renasci-</p><p>mento.</p><p>A partir de agora, você entrará em contato com as propostas</p><p>pedagógicas de Aristóteles. Acompanhe!</p><p>Aristóteles</p><p>Assimn como seu mestre Platão, Aristóteles considerava o</p><p>processo de formação humana nos aspectos:</p><p>• individual – segundo a sua forma humana e seus dons</p><p>naturais, uma vez que o estagirita defende a posição de</p><p>uma desigualdade natural entre os homens;</p><p>• e social – uma formação para o cidadão, já que este é</p><p>uma parte integrante da sociedade.</p><p>Todavia, o modelo de Aristóteles apresenta, diferentemen-</p><p>te do de Platão, um caráter mais pragmático e realista. Em sua</p><p>obra História da Pedagogia, Cambi (1999, p. 92) reflete essa dife-</p><p>rença, que, no entanto, não chega a ser uma proposta alternativa:</p><p>"A Paidéia aristotélica é um pouco a correção empírica do grande e</p><p>ousado modelo platônico, mas de maneira nenhuma uma refuta-</p><p>ção e um modelo alternativo".</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação56</p><p>Como em sua teoria filosófica, Aristóteles é bastante realis-</p><p>ta em sua proposta pedagógica. Basta lembrar como o mármore</p><p>se transforma em bela estátua para melhor compreender essa</p><p>versão realista: a pedra de mármore tem toda a potencialidade</p><p>de virar uma estátua, assim como o sujeito humano oculta em</p><p>si tantas possibilidades. No entanto, o processo de formação só</p><p>se realiza pelo trabalho árduo do escultor, no caso da estátua, e</p><p>pelo estudo, no caso</p><p>do sujeito. Assim como o escultor retira da</p><p>pedra, com seu martelo e cinzel, o inessencial para que esta se</p><p>torne uma bela obra de arte, o sujeito humano, pela educação,</p><p>alcança excelência.</p><p>Na sua versão social, a educação aristotélica deve fornecer</p><p>a base sólida para a formação das virtudes sociais. A virtude, no</p><p>entanto, é algo que deve ser aprendido, e a responsabilidade des-</p><p>sa aprendizagem cabe à educação. Assim, a pedagogia vem à tona</p><p>como meio de promover tais virtudes no indivíduo para que este</p><p>esteja em sintonia com os outros e comungue com o bem comum</p><p>do Estado. Cabe, pois, ao Estado promover uma educação compa-</p><p>tível com seus fins. Se esse for o caso, então, a educação deve ser</p><p>pública, sustentada e financiada pelo Estado.</p><p>Nessa versão, a educação é, para Aristóteles (1973), um veí-</p><p>culo de ideias e de valores estatais e, por conseguinte, deve acom-</p><p>panhar as variações que ocorrem nas formas de governo, devendo</p><p>apresentar um mecanismo capaz de moldar os indivíduos confor-</p><p>me o projeto político vigente. É o que Aristóteles (1973, cap. I).</p><p>Salienta em sua política:</p><p>Que o legislador deve ocupar-se antes de tudo da educação dos</p><p>jovens, ninguém o contestará, pois nos Estados onde ela é negli-</p><p>genciada, as constituições sofrem prejuízo. Ora, a educação polí-</p><p>tica deve ser adaptada a cada instituição que em geral a protege</p><p>e funda-a desde o começo; assim o caráter democrático é o mais</p><p>seguro fundamento da democracia, e o oligárquico, da oligarquia.</p><p>Percebe-se, no fragmento citado, que a educação serve</p><p>como mecanismo fundamental de formação de cidadãos, e, assim,</p><p>há de ser igual para todos: "Como o objetivo do Estado é um só,</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>57© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>está claro que a educação deve ser uma só". (ARISTÓTELES, 1973,</p><p>cap. I). Como Platão em A república, Aristóteles, na sua Política,</p><p>concorda que cabe à educação o papel fundamental de garantir a</p><p>saúde do Estado. Dessa maneira, a formação individual do sujeito</p><p>deve ser norteada pela sua formação social à luz do projeto políti-</p><p>co do Estado.</p><p>Neste tópico, você pôde analisar as propostas pedagógicas</p><p>gregas do período clássico. No tópico a seguir, conhecerá as mu-</p><p>danças que ocorreram na Grécia na época do helenismo. Este pe-</p><p>ríodo é marcado pelas conquistas de Alexandre, o Grande, e pelo</p><p>sincretismo cultural, que criava uma cultura nova, à que chama-</p><p>mos helenismo. Acompanhe!</p><p>7. EDUCAÇÃO NA ÉPOCA DO HELENISMO</p><p>O protagonista dessa época é Alexandre, o Grande, homem</p><p>que transformou, profundamente, o mundo antigo. Em conse-</p><p>quência da sua política, a cidade-Estado perdeu sua atualidade.</p><p>Em virtude de sua política as fronteiras do novo império</p><p>avançaram implacavelmente. O inevitável sincretismo entre as</p><p>culturas e tradições dos diferentes povos, exigia um novo mode-</p><p>lo de homem, bem diferente do homem da pólis grega, o homem</p><p>cosmopolita. O desenvolvimento da infraestrutura e o surgimen-</p><p>to de novas cidades-centro, aspectos que descrevem o caráter de</p><p>cada grande império, mudam, completamente, a vida das pes-</p><p>soas.</p><p>Tais mudanças políticas e sociais engendram novos desafios</p><p>para a educação. No âmbito dessa visão cosmopolita, a educação</p><p>visa o desenvolvimento pessoal. Norteada pelos valores cosmo-</p><p>politas, a educação devia preparar o indivíduo para uma atuação</p><p>mais vasta e abrangente, que o fizesse ultrapassar as fronteiras da</p><p>sua cidade natal e atuar como cidadão do mundo, como verdadei-</p><p>ro cosmopolita.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação58</p><p>Fundada por Alexandre, no ano 332 a.C., Alexandria tornou-</p><p>-se o centro principal do novo império, emergindo como o berço</p><p>da civilização alexandrina. Nela, surgem novas escolas cujo papel</p><p>fundamental é a transmissão desse novo ideal. Nesta cidade sur-</p><p>giu a maior instituição educativa do mundo antigo – o Mouseion,</p><p>que possuia o maior acervo de manuscritos (mais de 700.000) dos</p><p>maiores pensadores e cientistas até então conhecidos. O Mouseion</p><p>foi ambiente de encontros e de convívio entre mestres, sábios e dis-</p><p>cípulos, onde estes moravam e trocavam saberes e conhecimentos.</p><p>Figura 4 Mouseion Alexandrino: lugar de encontros e de convívio entre mestres e discípulos.</p><p>O enorme acervo da biblioteca possibilitava intensa intera-</p><p>ção com a literatura e suas diversas ramificações: filosofia, geo-</p><p>metria, gramática, geografia, história etc. Esse fato possibilitava o</p><p>novo ideal – a formação completa do homem.</p><p>É possível notar, claramente, a diferença entre o modelo</p><p>clássico e o modelo helenístico de educação a partir das mudanças</p><p>ocorridas no conceito de Paideia. Sócrates a entendia, sobretudo,</p><p>como caminho para a formação do homem como sujeito e cidadão,</p><p>a Paideia à base da herança clássica não visa mostrar o caminho</p><p>(pois este já está traçado pelos antigos), mas, antes, à apropriação</p><p>dessa herança cultural. E, visto que o modelo da pólis grega não</p><p>existe mais, impõe-se, portanto, a necessidade de reestruturação</p><p>dessa Paideia. Agora, a excelência da educação contempla a for-</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>59© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>mação intelectual do sujeito. A nova Paideia denota, como ideal</p><p>de formação, a erudição. O homem alexandrino é, pois, erudito.</p><p>Aos poucos, a cultura sincrética que caracterizava a época</p><p>helenística vai cedendo lugar à cultura bélica do poderoso Império</p><p>Romano; a anexação da Grécia pelo Império Romano, em 146 a.C.,</p><p>constitui um marco importante dessa transição. No tópico a seguir,</p><p>dedicaremos nossa atenção ao papel da educação na conservação</p><p>desse poderoso império.</p><p>8. EDUCAÇÃO ROMANA</p><p>A educação romana tem por objetivo a formação de virtudes</p><p>cívicas. Trata-se de uma educação voltada às necessidades do Es-</p><p>tado, baseanda, por muito tempo, nos mandamentos sagrados das</p><p>"Doze Tábuas". Ela dispensava a formação intelectual do indivíduo.</p><p>O ideal promovido por essas tábuas contemplava um código civil</p><p>inspirado na fidelidade à tradição, à dignidade, à firmeza, à cora-</p><p>gem e à piedade. A respeito dessa questão, em seu livro História</p><p>da educação, Thomas Ramson Giles (1989, p. 31) afirma: "O ideal</p><p>romano é prático, pois orienta-se para a lei e para a ordem, o dever</p><p>do Estado, às tradições ancestrais e à dignidade auto suficiente".</p><p>Essa citação mostra, claramente, que o ideal da sabedoria e</p><p>da virtude que a educação romana contemplava, na consiste em</p><p>aprender as artes que são necessárias para o Estado. Nesse caso,</p><p>estamos diante de uma educação voltada para a sociedade e sua</p><p>conservação. O fato de a escrita ter sido utilizada, sobretudo, para</p><p>copiar leis, tratados e orações, e não desempenhar o papel de vin-</p><p>cular novas ideias, como ocorria no período clássico, mostra o ca-</p><p>ráter conservativo da sociedade romana.</p><p>O papel fundamental dessa formação cívica cabia à família e</p><p>se centrava na figura do pai e no seu poder absoluto. Era na família</p><p>que as crianças aprendiam as virtudes morais, a reta conduta e as</p><p>obrigações sociais. Essa era a razão por que, naquele tempo, as</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação60</p><p>escolas tinham, no processo pedagógico, menor importância que</p><p>a família.</p><p>A formação, basicamente moral e cívica, que visava à conser-</p><p>vação da sociedade romana, vai-se alterando aos poucos em vir-</p><p>tude da política conquistadora do Império Romano. À medida que</p><p>Roma conquistava outros povos, era conquistada e transformada</p><p>por dentro pela cultura das terras dominadas.</p><p>Quando a cultura grega começou a penetrar e a romper com</p><p>os valores da sociedade arcaica romana, sua influência espalhou-</p><p>-se com a mesma velocidade das conquistas romanas. Em conse-</p><p>quência disso, a pedagogia tradicional também mudou, rompen-</p><p>do, aos poucos, com os costumes. Assim, no âmbito pedagógico, a</p><p>Paideia grega tornou-se predominante.</p><p>Foi Cícero quem possibilitou essa transição da cultura grega</p><p>para o Império Romano. A partir daí, o ideal da formação humana</p><p>começou a protagonizar a figura do orador, aquele que domina a</p><p>palavra, segundo o modelo isocrático. Os mestres cultos vindos de</p><p>fora, transmitiam novas ideias e novos conhecimentos aos roma-</p><p>nos; desse modo, surgiram escolas eruditas e iniciou-se a tradução</p><p>de literatura grega e os estudos de retórica, gramática, filosofia,</p><p>língua grega e arte –, em suma, tudo o que era indispensável para</p><p>uma educação erudita.</p><p>Assim, o romano erudito já não está tão fielmente ligado à tra-</p><p>dição, dispensando a necessidade da autodisciplina e das virtudes mo-</p><p>rais que garantiam a conservação do Estado. Giles (1989, p. 35) assim</p><p>descreve esse surto de erudição: "Mesmo as mulheres contratavam</p><p>tutores para aprenderem o grego. Fazia-se de tudo para adquirir ma-</p><p>nuscritos e escravos mestres. Importavam-se bibliotecas inteiras".</p><p>De qualquer maneira, pode-se dizer que o poderoso Império</p><p>Romano foi, aos poucos, profundamente alterado pela gloriosa e</p><p>ainda mais poderosa cultura grega. Ao longo dos séculos poste-</p><p>riores, qualquer tentativa de se romper com o modelo grego de</p><p>educação resultava, necessariamente, na sua retomada.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>61© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>Antes de passarmos ao estudo da Unidade 2, é importante</p><p>que você verifique se assimilou os pontos principais desta unida-</p><p>de. Nesse sentido, não deixe de fazer os exercícios propostos no</p><p>Tópico 9. Vamos lá?</p><p>9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS</p><p>Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar</p><p>as questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nes-</p><p>ta unidade, ou seja, das estruturas pedagógicas do mundo antigo,</p><p>bem como das propostas dos principais filósofos sobre a Paideia</p><p>dos cidadãos das civilizações antigas.</p><p>A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para</p><p>você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em</p><p>responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estuda-</p><p>dos para sanar as suas dúvidas. Este é o momento ideal para que</p><p>você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Edu-</p><p>cação a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma</p><p>cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas desco-</p><p>bertas com os seus colegas.</p><p>Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu</p><p>desempenho no estudo desta unidade:</p><p>1) Leia as afirmações e assinale a alternativa correta:</p><p>I – A pedagogia de Platão buscava harmonizar a formação individual e so-</p><p>cial.</p><p>II – A pedagogia de Platão, assim como a socrática, valorizava apenas a for-</p><p>mação subjetiva.</p><p>III – A pedagogia socrática valoriza, unicamente, a formação subjetiva.</p><p>Com base nesses dados, podemos afirmar que:</p><p>a) As alternativas I e II estão corretas.</p><p>b) As alternativas I e III estão corretas.</p><p>c) Somente a alternativa I está correta.</p><p>d) Somente a alternativa II está correta.</p><p>e) Todas as alternativas estão corretas.</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação62</p><p>2) Leia a citação a seguir:</p><p>O ideal é prático, pois orienta-se para a lei e para a ordem, o de-</p><p>ver do Estado, às tradições ancestrais e à dignidade auto suficiente.</p><p>Mesmo as mulheres contratavam tutores para aprenderem o gre-</p><p>go. Fazia-se de tudo para adquirir manuscritos e escravos mestres.</p><p>Importavam-se bibliotecas inteiras (GILES, 1987, p. 31).</p><p>O trecho amterior diz respeito à educação:</p><p>a) Ateniense.</p><p>b) Espartana.</p><p>c) Helênica.</p><p>d) Sofista.</p><p>e) Romana.</p><p>3) Sobre a educação em Atenas, no período clássico da Grécia Antiga, é correto</p><p>afirmar que:</p><p>a) O Estado ateniense considerava as crianças e os jovens como sua pro-</p><p>priedade, devendo ser moldados conforme seus fins.</p><p>b) Seu modelo de educação mostra-nos uma formação unilateral, que des-</p><p>carta o desenvolvimento subjetivo e pessoal do indivíduo.</p><p>c) O indivíduo não era concebido na sua dimensão subjetiva, e, portanto, a</p><p>sua formação tende, sobremaneira, a beneficiar o Estado.</p><p>d) A educação ateniense revelava-se como um ideal mais humano e liberal,</p><p>ou seja, mais voltado ao aperfeiçoamento pessoal e subjetivo.</p><p>e) O Estado atribuía à educação uma missão fundamental para a sua con-</p><p>servação, na medida em que a educação deveria formar cidadãos com-</p><p>patíveis com o projeto político de Atenas.</p><p>4) A epopeia homérica, que origina a religião dos antigos gregos, parece não</p><p>ter analogia a outra religião, pois não se baseia numa relação de adoração,</p><p>como em qualquer outra, mas, antes de tudo, de rivalidade. Aos deuses</p><p>gregos, são atribuídos traços humanos, ou seja, antropomórficos. Eles eram</p><p>bons ou maus, justos ou injustos, nobres e covardes; enfim, assim como são</p><p>os humanos. A única diferença que podemos ressaltar é o fato de os deuses</p><p>serem imortais. No entanto, os homens também poderiam sê-lo; bastava</p><p>agirem e comportarem-se como heróis. Da religião homérica, assim enten-</p><p>dida, originou-se o ostracismo, que estimulava a concorrência e a disputa.</p><p>Com base nesses dados, podemos afirmar que:</p><p>a) Os deuses sentiam-se melhores que os homens.</p><p>b) Os homens queriam ser melhores que os deuses.</p><p>c) Essa foi a primeira versão da Paideia grega.</p><p>d) Essa foi a versão mais pura da educação grega.</p><p>e) Essa foi a versão mais fraca da educação grega.</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>63© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>Gabarito</p><p>Depois de responder às questões autoavaliativas, é impor-</p><p>tante que você confira o seu desempenho, a fim de que possa sa-</p><p>ber se é preciso retomar o estudo desta unidade. Assim, confira, a</p><p>seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas pro-</p><p>postas anteriormente:</p><p>1) b.</p><p>2) e.</p><p>3) d.</p><p>4) c.</p><p>10. CONSIDERAÇÕES</p><p>Nesta unidade, você conheceu as primeiras concepções</p><p>educativas da sociedade organizada, que se inicia no Antigo Egito.</p><p>Ainda, pôde analisar as propostas educativas que mais se destaca-</p><p>ram na Grécia durante o período clássico, além de compreender</p><p>os principais objetivos da educação romana. Para isso, conheceu</p><p>alguns aspectos históricos e as principais propostas pedagógicas</p><p>daqueles filósofos que mais se destacaram no período proposto</p><p>para este estudo.</p><p>Devido à grande influência dos pensadores gregos (sofistas,</p><p>Sócrates, Platão, Isócrates e Aristóteles) no desenvolvimento cultu-</p><p>ral do Ocidente, dedicamos maior atenção aos aspectos históricos</p><p>e filosóficos da educação na Grécia Antiga, mesmo porque a cul-</p><p>tura grega invadiu fortemente o Império Romano e todo Ocidente</p><p>cristão teve, consequentemente, suas raízes culturais na Grécia</p><p>Antiga. Na Unidade 2, você terá a oportunidade de acompanhar</p><p>como essa influência grega continuou na Idade Média, atravessan-</p><p>do o Império Romano. Esperamos que os objetivos propostos te-</p><p>nham sido alcançados. Bom estudo!</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação64</p><p>11. E-REFERÊNCIAS</p><p>Lista de figuras</p><p>Figura 1 Papiro. Disponível em: <http://www.legambientearcipelagotoscano.it/</p><p>biodiversita/flora/habitat/naturalizzate/cyperus%20papyrus%20papiro.jpg.JPG>.</p><p>Acesso: 04 jun. 2008.</p><p>Figura 2 Grécia Antiga. Disponível em: <http://www.resortvacationstogo.com/images/</p><p>maps/cc/111.gif>. Acesso em: 30 jun. 2008.</p><p>Figura 3 Paideia isocrática: a prudência, a força, a temperança e a justiça como bases</p><p>do desenvolvimento do homem. Disponível em: <http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/</p><p>opombo/hfe/momentos/escola/isocrates/images/vaso_pintura.gif>. Acesso em: 30 jun.</p><p>2008.</p><p>Figura 4 Mouseion Alexandrino. Disponível em: <http://lemurianmouseion.files.</p><p>wordpress.com/2007/04/buildalex.jpg>. Acesso: 01 jul. 2008.</p><p>Sites pesquisados</p><p>OLIVEIRA, J. R. Platão e a filosofia da educação. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.</p><p>br/~wfil/platao.htm>. Acesso em: 27 set. 2010.</p><p>12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>ARISTÓTELES. Política: os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.</p><p>CAMBI, F. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Unesp, 1999.</p><p>CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997.</p><p>GILES, T. R. História da educação. São Paulo: EPU, 1987.</p><p>MANACORDA, M. A. História da educação:</p><p>da Antiguidade aos nossos dias. Tradução de</p><p>Gaetano lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989.</p><p>MARROU, H-I. História da educação na Antiguidade. Tradução de Mario Leonidas</p><p>Casanova. São Paulo: EPU, 1975.</p><p>PILETTI, C. Filosofia e história da educação. 9. ed. São Paulo: Ática, 1991.</p><p>o co-</p><p>nhecimento básico necessário a partir do qual você poderá cons-</p><p>truir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural</p><p>– para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com</p><p>competência cognitiva, ética e responsabilidade social. Com essa</p><p>perspectiva, vamos começar nossa aventura pela apresentação</p><p>das ideias e dos princípios básicos que fundamentam este CRC.</p><p>A problemática filosófica da educação</p><p>Vamos, então, falar um pouco sobre o conteúdo de Funda-</p><p>mentos Históricos e Filosóficos da Educação. Neste CRC, você terá</p><p>a oportunidade de se familiarizar com as principais vertentes da</p><p>educação situadas em um percurso histórico-filosófico.</p><p>Inicialmente, introduziremos o tema, ressaltando sua respec-</p><p>tiva proposta e enfocaremos os principais problemas do fenômeno</p><p>da educação durante a Antiguidade e a Idade Média. Posterior-</p><p>mente, daremos continuidade ao percurso histórico da educação</p><p>com a modernidade e a contemporaneidade.</p><p>Vamos lá?</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação10</p><p>Como já foi dito no Tópico Introdução, a formação, no senti-</p><p>do literal, é o processo que leva a ato as potencialidades da pessoa</p><p>humana, isto é, a ampliação de seus limites, a partir dos quais o</p><p>homem desenvolve suas possibilidades. Aristóteles em sua Meta-</p><p>física, ensinava que a formação é o processo que traz à tona aquilo</p><p>que era potência, a realização do ser.</p><p>Observe, a seguir, a metáfora comunicada pelas Figuras 1 e 2.</p><p>Figura 1 Mármore bruto.</p><p>Figura 2 Estátua de mármore.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>11© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>Imaginemos o processo que leva a pedra de mármore a uma</p><p>bela estátua. Eis o processo de formação. Assim como a pedra bru-</p><p>ta, pelo processo de formação, pode virar estátua, o sujeito huma-</p><p>no, pela mesma formação, pode realizar suas potencialidades. A</p><p>educação é isto: o meio para o desenvolvimento da pessoa huma-</p><p>na e para a realização de suas potencialidades.</p><p>O homem é um ser de relação, portanto, vive em uma socie-</p><p>dade, na qual interage com outros seres humanos. Essa situação</p><p>exige que o homem desenvolva competências em dois aspectos: a</p><p>sua formação pessoal, para desenvolver suas potencialidades pró-</p><p>prias, e uma formação social, a partir da qual ele possa se relacio-</p><p>nar com as outras pessoas.</p><p>Neste sentido, o homem deve desenvolver duas tendências:</p><p>• subjetiva, que requer o desenvolvimento dos dons natu-</p><p>rais do sujeito;</p><p>• e social, que requer que o indivíduo desenvolva as capaci-</p><p>dades exigidas pela sociedade.</p><p>Desse modo, se nossa ação educativa for orientada apenas</p><p>pelas tendências sociais, então, corremos o risco de uma prática</p><p>educativa incompleta, ou seja, de se instaurar uma educação que</p><p>imponha limites às capacidades subjetivas de cada pessoa huma-</p><p>na singular em prol de uma convivência padronizada e não confli-</p><p>tuosa. Todavia, se tomarmos estreitamente a posição da formação</p><p>pessoal subjetiva, corremos o risco de impedir que esta pessoa</p><p>humana possa se inserir de maneira positiva na sociedade. Neste</p><p>sentido, iremos refletir, de maneira crítica, como essas tendências</p><p>foram tratadas ao longo do desenvolvimento histórico da educa-</p><p>ção.</p><p>No tópico a seguir, faremos a análise filosófica do desenvol-</p><p>vimento histórico da educação, iniciando pela Antiguidade. Vamos</p><p>rastrear historicamente, como os filósofos procuraram solucionar</p><p>o problema da educação do homem?</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação12</p><p>A educação no Antigo Egito e na Grécia Antiga</p><p>Iniciaremos nossa reflexão histórico-filosófica sobre a educa-</p><p>ção pela civilização do Antigo Egito.</p><p>O Antigo Egito revela-se como uma civilização avançada. É</p><p>possível dizer que o avanço de uma civilização depende, estreita-</p><p>mente, de vários saberes que dão sustentação e condição para o</p><p>desenvolvimento da sociedade. Tais saberes devem ser dissemina-</p><p>dos e transmitidos e aprimorados de geração para geração.</p><p>O processo de transmissão, por sua vez, requer instituições</p><p>pedagógicas organizadas. Todavia, não se encontra, nesse período,</p><p>um sistema educacional organizado, mesmo porque a pedagogia</p><p>dava seus primeiros passos. O saber era transmitido por meio da</p><p>oralidade e destinado, sobretudo, às classes dominantes, reduzin-</p><p>do-se ao exercício de poder político. Aos poucos, surgiu, por assim</p><p>dizer, a educação para os plebeus, que visava, antes de tudo, ao</p><p>ensino das normas estabelecidas pelo faraó e dos saberes práticos.</p><p>Surgiram, portanto, dois modelos de educação: um intelec-</p><p>tual e bélico, destinado à classe nobre, e outro, técnico e normati-</p><p>vo, destinado aos plebeus. Esse modelo dual será a marca registra-</p><p>da da educação antiga, desde a civilização do Egito até a revolução</p><p>cultural do cristianismo.</p><p>Já os gregos antigos, no processo educacional, se revelaram</p><p>mais progressivos do que os egípcios ao elevarem o homem co-</p><p>mum como principal protagonista do cenário histórico. Trata-se do</p><p>ideal democrático. O homem torna-se cidadão e requer um com-</p><p>pleto desenvolvimento dos seus dons naturais e das suas poten-</p><p>cialidades. Juntamente com essa nova forma político-social, surge,</p><p>também, um novo ideal de homem e a necessidade de uma nova</p><p>forma de educação, uma Paideia.</p><p>Pensando nesse novo status humano, temos de destacar o</p><p>papel dos sofistas, mestres profissionais que pretendiam respon-</p><p>der aos novos desafios do homem livre. Eles prometiam, em troca</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>13© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>de dinheiro, tornar apta qualquer pessoa que quisesse se dedicar</p><p>à vida pública. Esse comportamento propiciou a criação de escolas</p><p>nas quais se preparava o discípulo para o ingresso na vida social e</p><p>se dedicava especial importância para a oratória, conhecida como</p><p>a arte do bem falar e da disputa.</p><p>Sócrates, diferentemente dos sofistas, que acentuam o rela-</p><p>tivismo humano, se interrogava sobre a natureza comum aos ho-</p><p>mens, sua essência. Esta, segundo afirmava o velho mestre, era a</p><p>moral. Não uma moral dos costumes, mas a moral interna, o dever,</p><p>que a própria consciência dita. Para Sócrates: o conhecimento era</p><p>virtude, pois a falta de virtude deve-se à falta de saber. Se esse</p><p>for o caso, devemos imaginar que a formação humana pressupõe</p><p>aquisição do conhecimento e que este é imprescindível para o al-</p><p>cance da virtude, que conduzirá o homem à felicidade.</p><p>O processo de instrução do homem pelo qual este se torna</p><p>apto para ingressar no caminho das virtudes, Sócrates designou</p><p>maiêutica, aludindo à arte de parteira. E foi justamente Sócrates</p><p>esse parteiro intelectual, que, por meio do seu método de pergun-</p><p>tas e respostas, ajudava os jovens atenienses a descobrirem, por si</p><p>mesmos, as verdadeiras virtudes que habitavam suas almas.</p><p>Sócrates introduziu um novo modelo de educação, baseado</p><p>na dinâmica entre mestre e discípulo, e Platão foi aquele que, utili-</p><p>zando-se do método dialético, criou uma base sistemática da educa-</p><p>ção para vigorar numa sociedade perfeita. O modelo pedagógico de</p><p>Platão deve ser abordado em dois aspectos: o aspecto moral, que</p><p>visa à formação pessoal do indivíduo, e o aspecto social, que visa à</p><p>participação harmoniosa e do indivíduo na sociedade. Esses dois as-</p><p>pectos devem convergir para que haja a formação humana perfeita.</p><p>Semelhante ao seu mestre Platão, Aristóteles também consi-</p><p>derava o processo da formação humana em dois aspectos:</p><p>• Individual: segundo a sua forma humana e seus dons na-</p><p>turais, uma vez que ele defende a posição de uma desi-</p><p>gualdade natural entre os homens;</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação14</p><p>• Social: uma formação para o cidadão, sendo este uma</p><p>parte integrante da sociedade. Todavia, o modelo de Aris-</p><p>tóteles apresenta, diferentemente de Platão, um caráter</p><p>mais pragmático e realista.</p><p>Nossa próxima parada nesta abordagem histórico-filosófica</p><p>da</p><p>educação será na época do helenismo. Vamos lá?</p><p>A educação durante o helenismo</p><p>Com as conquistas de Alexandre, o Grande a inevitável mistura</p><p>entre diferentes povos, culturas e tradições exigiu um novo ideal de</p><p>homem, bem diferente daquele dominante na antiguidade clássica,</p><p>com a quebra dessas fronteiras o homem tornou-se cosmopolita.</p><p>Todas essas mudanças políticas e sociais impuseram novos de-</p><p>safios para a educação. No âmbito dessa visão cosmopolita, a educa-</p><p>ção não visava, preferivelmente, à formação do bom cidadão, como</p><p>era na época anterior, mas, sobremaneira, ao seu desenvolvimen-</p><p>to pessoal, visto que o homem não mais participava das decisões</p><p>políticas de sua pátria. O homem torna-se "cidadão do mundo", o</p><p>que significa que ele não se identifica mais com povo algum. Quanto</p><p>mais globalizada é uma sociedade, menos autêntica ela se torna.</p><p>Alexandria, principal centro cultural do novo império funda-</p><p>do por Alexandre, emergiu como berço da civilização alexandrina.</p><p>Surgiram novas escolas, que tiveram papel fundamental para a</p><p>transmissão desse novo ideal. Justamente ali, em Alexandria, nas-</p><p>ceu a maior instituição educativa do mundo antigo – o Mouseion.</p><p>Esta, além de possuir o maior acervo de manuscritos, que conta</p><p>com mais de 700.000 dos maiores pensadores e cientistas até</p><p>então conhecidos, foi, também, um ambiente de encontros e de</p><p>convívio entre mestres, sábios e discípulos, onde estes moravam e</p><p>trocavam saberes e conhecimentos.</p><p>Seguindo o percurso histórico, chegamos ao período roma-</p><p>no, assim designado pelo domínio absoluto e soberano do Império</p><p>Romano.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>15© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>A educação no Império Romano</p><p>Em sua primeira versão, a educação romana teve por objeti-</p><p>vo a formação de virtudes cívicas. Foi uma educação inteiramente</p><p>voltada às necessidades do Estado Romano, baseada nos manda-</p><p>mentos sagrados das "Doze Tábuas". Esta dispensava a formação</p><p>intelectual do indivíduo. O ideal promovido por essas tábuas con-</p><p>templava um código civil inspirador da fidelidade, da tradição, da</p><p>dignidade, da firmeza, da coragem e da piedade. Nesse sentido,</p><p>estamos diante de uma educação inteiramente voltada para a so-</p><p>ciedade e para a sua conservação.</p><p>A formação romana, basicamente moral e cívica, foi-se alte-</p><p>rando aos poucos, em virtude da política conquistadora e imperia-</p><p>lista do Império Romano. Porém, à medida que Roma conquistava</p><p>outros povos, a cultura destes, conquistava Roma e transforma-</p><p>vam-na por dentro. Em consequência disso, a pedagogia tradicio-</p><p>nal também mudava, rompendo, gradualmente, com os costumes.</p><p>Nesta perspectiva, pode-se dizer que o poderoso Império Romano</p><p>foi profundamente alterado pela gloriosa e ainda mais poderosa</p><p>cultura grega.</p><p>Ao mesmo tempo em que o Império Romano entrava em de-</p><p>clínio, uma nova civilização estava prestes a nascer à base de uma</p><p>nova religião. Estamos falando do cristianismo.</p><p>Com a proliferação do cristianismo, iniciou-se uma profun-</p><p>da alteração de paradigmas, em virtude dos quais se impuseram</p><p>novas necessidades e desafios para a educação: as ideias de amor</p><p>e de fraternidade entre os homens, de solidariedade, de humil-</p><p>dade etc. romperam com o modelo estático bipolar da pedagogia</p><p>antiga; o fator religioso veio à tona como aspecto integrante da</p><p>sociedade; as novas ideias cristãs dissolveram as relações antigas</p><p>de classes e o modelo principal, sobre o qual se moldava a nova</p><p>Paideia Cristã, era a figura do Cristo e seus ensinamentos.</p><p>Nos primeiros séculos da nova religião, a prática educativa</p><p>consistia na imitação da pessoa de Cristo. Mas, como cada insti-</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação16</p><p>tuição devia fixar seus códigos morais para depois moldar os fiéis</p><p>conforme seus fins, a religião cristã precisava de fundamentos teó-</p><p>ricos e, curiosamente, encontrou-os na Filosofia Clássica. Vamos</p><p>conhecer um pouco sobre o que os filósofos mais importantes</p><p>pensavam sobre a educação do homem?</p><p>A educação na Idade Média</p><p>A herança helênica entrou na religião cristã via Patrística –</p><p>período em que começa a teorização do cristianismo. Nessa em-</p><p>preitada, um papel de destaque coube a Santo Agostinho. Em</p><p>quase todos os seus escritos, a questão da formação humana é</p><p>bastante atual e presente, pois tal formação é parte integrante da</p><p>renovação.</p><p>Em sua concepção pedagógica, Agostinho insiste em uma</p><p>formação enciclopédica baseada nos diversos conhecimentos e sa-</p><p>beres que devem iluminar e fazer consciente a viagem do homem</p><p>cristão ao encontro de Deus.</p><p>Obviamente, não podemos deixar de mencionar o grande</p><p>pensador e mestre da tradição escolástica, São Tomás de Aquino</p><p>(1225-1274). Em sua elaboração intelectual, Tomás não deixa de</p><p>sublinhar o importante papel da educação; na sua obra De Ma-</p><p>gistro, ele destaca o papel fundamental do mestre no processo</p><p>de despertar, cultivar e guiar o discípulo na aquisição do conheci-</p><p>mento. Assim como o agricultor não cria a árvore, mas cultiva-a,</p><p>o mestre não poderá ensinar, mas poderá, muito bem, despertar</p><p>e guiar o discípulo.</p><p>O declínio da época medieval começa por volta do século 15.</p><p>A crise na Igreja Católica, as corrupções e os abusos do clero aba-</p><p>laram ainda mais seus fundamentos. Guerras, conflitos políticos</p><p>e econômicos completam o quadro geral dessa época decadente.</p><p>Todavia, tais crises certamente despertam novos ideais, anseios e</p><p>desejos que circunscrevem os primeiros traços da modernidade.</p><p>Vamos conhecer um pouco dessa nova pedagogia?</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>17© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>Modernidade</p><p>Na transição do Medievo para o Renascimento uma questão</p><p>se colocava ao homem europeu:</p><p>• Como instaurar uma nova situação histórica, como funda-</p><p>mentar um mundo novo e cheio de esperança?</p><p>Na verdade, trata-se da reinvenção de um modelo que vem</p><p>do mundo greco-romano. A essa reinvenção, Francesco Petrarca</p><p>deu o nome "Re-nascimento".</p><p>Os primeiros passos da modernidade, na versão renascen-</p><p>tista, manifestam progressivo rompimento dos paradigmas econô-</p><p>micos e políticos vigentes no modelo estático da época medieval.</p><p>Cabe dizer que a modernidade é fruto de uma revolução multifa-</p><p>cetal: econômica, política, social, ideológica, geográfica e, não por</p><p>último, pedagógica.</p><p>As profundas alterações no Velho Continente colocam um</p><p>grande desafio diante da educação, à qual se atribui a missão de</p><p>produzir o homem novo, apto a compreender, a aceitar e a atuar</p><p>nos novos modelos e paradigmas.</p><p>O papel de vanguarda desses novos ideais cabe à educação.</p><p>Basicamente, os humanistas do Renascimento voltam-se para o</p><p>modelo clássico de educação. Encabeçado por Francesco Petrarca</p><p>e seus discípulos, o processo de renascimento tem seu pleno vigor</p><p>com Leonardo Bruni e seu ideal de Studias Humanitatis.</p><p>Temos de ressaltar que as escolas humanistas, centradas nas</p><p>Studias Humanitatis, elaboravam um currículo baseado na Litera-</p><p>tura, nas Artes, na Ciência, na Ginástica e na Ética. Nota-se, tam-</p><p>bém, uma forte preocupação com a prática didática.</p><p>A partir do humanismo do século 15, abrem-se novas pers-</p><p>pectivas e necessidades diante do processo pedagógico, inspiradas</p><p>pelo novo modelo de homem, mais livre e mundano, que, no entan-</p><p>to, deve adotar, em sua educação, os valores cristãos. Os grandes</p><p>protagonistas dessa ênfase cristã na educação são Erasmo e Lutero.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação18</p><p>Erasmo foi considerado o representante mais ilustre do hu-</p><p>manismo do século 16. No âmbito pedagógico, ele propõe o de-</p><p>safio de renovar o sistema educacional. Seu ponto de partida são</p><p>as críticas que ele dirige ao modelo escolástico de educação e sua</p><p>esterilidade, que ele próprio teria sofrido.</p><p>A boa educação, na visão de Erasmo, requer mestres capa-</p><p>citados e aptos a lidar com as diferenças entre os alunos. Cabe ao</p><p>Estado</p><p>o dever de contratar e promover bons mestres, aptos para</p><p>a realização da formação integral do novo homem.</p><p>Por sua vez, Lutero – outra grande figura no processo de reno-</p><p>vação cristã –, fiel à sua fórmula protestante, preparou o solo para</p><p>um novo entendimento de educação: a torna-se o instrumento da</p><p>salvação humana, e ela é inspirada pelos textos sagrados, então, o</p><p>indivíduo, para alcançar a salvação pela fé, necessita compreender</p><p>tais textos, o que faz por meio de sua leitura. Daí a proposta luterana</p><p>de alfabetização do povo. Com isso, veio à tona a importância das</p><p>escolas públicas, nas quais Lutero apostava a salvação humana.</p><p>A proposta educativa de Lutero contempla dois desafios, a</p><p>saber: a formação do homem cristão, por um lado, e a formação</p><p>do cidadão, por outro.</p><p>A divisão do mundo cristão, operada por Lutero e sua pro-</p><p>posta protestante, causou a reação da Igreja católica em termos</p><p>de uma volta para trás aos ensinamentos doutrinais da Idade Mé-</p><p>dia e, sobretudo, da Escolástica. Em virtude disso, a Igreja Católica</p><p>travou uma luta desesperada contra o Estado Moderno, contra a</p><p>Reforma Protestante e contra todas as instituições novas, frutos</p><p>do pensamento moderno. Essa reação foi conhecida como o movi-</p><p>mento da Contrarreforma.</p><p>A cruzada contra o mundo protestante assume uma face es-</p><p>sencialmente educativa. Assim, o modelo contrarreformista cria</p><p>novas unidades escolares: o colégio e o internato, cogitando as</p><p>classes menos privilegiadas, revelando, assim, seu perfil ético, so-</p><p>cial e religioso.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>19© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>Todas as profundas alterações que a modernidade realiza no</p><p>decorrer histórico, começando pelo Renascimento e pela Reforma</p><p>Protestante, culminam, naturalmente, no Iluminismo. O grande</p><p>protagonista no âmbito educacional, desta época, é Rousseau.</p><p>Influenciado pelas ideias de Locke, Rousseau, em sua obra de</p><p>teor pedagógico Emílio, esboça a sua original doutrina educativa.</p><p>O tratado sobre a educação exposto em Emílio, definitivamente</p><p>rompe com o tradicional entendimento de educação, mostrando-</p><p>-se de acordo com o espírito iluminista.</p><p>Em Emílio Rousseau mostra-se ciente de que a transforma-</p><p>ção social só será possível se for anteriormente amparada por uma</p><p>educação que reflita o espírito da época. A possibilidade de uma</p><p>mudança social passa pelo retorno à natureza ou, pelo menos, ao</p><p>espírito da natureza. E nisso consiste a razão da constatação de</p><p>que o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Esse pen-</p><p>samento será o critério que irá permear o novo ideal de educação</p><p>proposto por ele. Para o pensador suíço, a formação do homem</p><p>determina-se por três aspectos fundamentais, a saber:</p><p>• a natureza;</p><p>• os outros homens;</p><p>• e as coisas.</p><p>Esses aspectos determinantes, segundo Rousseau se devem</p><p>contemplar na sua relação mútua para o alcance da plena e inte-</p><p>gral formação humana, uma vez que,</p><p>antes do Iluminismo todo processo educativo foi ineficaz, porque</p><p>derivava de duas fontes apenas, ou seja, os homens e as coisas.</p><p>Ignorava aquela base que é primeiríssima, a saber, a natureza (apud</p><p>GILES, 1987, p. 177).</p><p>No final do século 18 e início do século 19, no cenário peda-</p><p>gógico, aparece a figura de Pestalozzi e seu projeto de reformula-</p><p>ção da educação. Pestalozzi sofreu enorme influência do pensa-</p><p>mento de Rousseau. A sua intenção inicial foi de aplicar, na prática,</p><p>a teoria de Rousseau, exposta em Emílio.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação20</p><p>Para que possamos compreender as ideias de Pestalozzi e</p><p>suas tentativas de introduzi-las na prática, temos de analisar a</p><p>situação social que engendra tais ideias. Basicamente, a atenção</p><p>pedagógica de Pestalozzi está voltada ao povo carente, profun-</p><p>damente imerso na miséria e ignorância. Adepto ao Iluminismo</p><p>e suas ideias progressistas, ele acredita que seja possível uma</p><p>formação mais plena e mais digna também para o povo carente.</p><p>Nisto, consiste a mensagem de Pestalozzi: na criação de métodos</p><p>simples e eficientes que podem renovar a sociedade e garantir aos</p><p>seus membros, sobretudo, às crianças, um desenvolvimento em</p><p>termos morais e intelectuais. Temos de frisar que Pestalozzi foi o</p><p>educador mais famoso da sua época.</p><p>Vamos, agora, mergulhar na época contemporânea e anali-</p><p>sá-la brevemente.</p><p>A educação contemporânea</p><p>Cronologicamente, a contemporaneidade vem à luz, oficial-</p><p>mente, com a Revolução Francesa, o evento que enunciou, defini-</p><p>tivamente, as transvalorações sociais, econômicas e políticas. De</p><p>modo geral, podemos descrevê-la como a época de revoluções po-</p><p>líticas e sociais, condicionando, por um lado, a gênese da socieda-</p><p>de contemporânea e a Revolução Industrial delineando, por outro,</p><p>a nova ordem econômica. No âmbito desse novo cenário econô-</p><p>mico, social e político, o problema pedagógico assume o papel de</p><p>suporte indispensável à vida social, promovendo a integração dos</p><p>indivíduos. Apenas agora, a Pedagogia está diante do desafio de</p><p>se tornar uma ciência estruturada, capaz de criar e aplicar os seus</p><p>modelos teóricos.</p><p>Vale dizer que, no início, a educação contemporânea revela</p><p>uma face acentuadamente ideológica. As diferenças ideológicas,</p><p>todavia, cruzam o âmbito pedagógico, tecendo o seu caráter dialé-</p><p>tico, sempre aberto para novas propostas, mudando, assim, o de-</p><p>senho social e intensificando as tensões políticas. Temos de notar</p><p>que o modelo contemporâneo pedagógico oscila entre o ideal con-</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>21© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>formista de educação à base ideológica e o projeto emancipador</p><p>da formação pessoal do sujeito humano.</p><p>No século 20, após a polarização do mundo, a relação entre</p><p>a educação e a política torna-se ainda mais estreita. Mais acentua-</p><p>damente, nota-se esse processo de ideologização educacional nos</p><p>modelos socialistas, ao passo que, no capitalismo, a educação re-</p><p>vela um caráter mais liberal. Todavia, o modelo socialista mostra-</p><p>-se mais progressivo do que o modelo capitalista. A ideia de um</p><p>homem universal está na base da pedagogia socialista. Em con-</p><p>sequência, a exigência de uma educação forte e igual para todos</p><p>assume caráter de lei.</p><p>Após a ruptura do modelo bipolar na década de 1990, o</p><p>mundo entra, definitivamente, em processo de globalização. Com</p><p>isso, a educação ideológica torna-se inatual. O cenário globalizado</p><p>coloca o sujeito humano diante de novos desafios, que não con-</p><p>templam, os aspectos nacionais, patrióticos ou ideológicos, mas,</p><p>antes, valores cosmopolitas. Se o mundo assume traços de "gran-</p><p>de aldeia", o sujeito humano, independentemente da sua origem,</p><p>religião e costumes, tem de aprender a conviver com as diferenças</p><p>sociais, regionais, econômicas e políticas num ambiente globali-</p><p>zado. Aspectos importantes dessa nova visão são os meios de co-</p><p>municação e informação, espalhando-se, com incrível rapidez, via</p><p>internet, satélite e por outras mídias.</p><p>Na contemporaneidade, o principal foco da educação dirige-</p><p>-se ao trabalho. Muitos filósofos e sociólogos viam, na instrução</p><p>profissional, o ápice do processo educativo. Esse foco, especifica-</p><p>mente contemporâneo, começa a rejeitar os modelos humanistas</p><p>de educação, baseados na formação livresca e erudita, isto é, na</p><p>educação formal e teórica. A ênfase industrial, por sua vez, requer</p><p>da educação uma formação humana em termos de homo faber.</p><p>Na descrição da educação atual, não podemos deixar sem</p><p>nota, obviamente, um fenômeno tipicamente contemporâneo.</p><p>Trata-se de mass medias e meios virtuais de comunicação, que</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação22</p><p>promovem, por si, um verdadeiro processo de formação, paralelo</p><p>e alternativo aos tradicionais, independentemente da hora e do</p><p>lugar, isto é, independentemente da sala de aula.</p><p>Com a difusão desses meios alternativos e com seu acesso</p><p>amplo e fácil, informações e conhecimentos chegam</p><p>a dominar,</p><p>por completo, o espaço social em todos os seus aspectos. Mas</p><p>essa nova forma de aprendizagem, paralela às formas tradicionais</p><p>(escolas, universidades), cria condição de padronização e mani-</p><p>pulação dos indivíduos. Nesse novo cenário social, aparece como</p><p>grande protagonista a indústria cultural, que facilita o acesso e po-</p><p>pulariza a cultura.</p><p>Em contrapartida, a democratização dos valores culturais</p><p>implica a sua banalização, pois, ao interagir com a cultura, o gosto</p><p>do público começa a predominar de tal maneira que se torna crité-</p><p>rio da produção cultural, uma vez que o que vale é a venda, e esta</p><p>depende do público. A cultura, então, passa a ser dirigida pelas</p><p>massas. Com outras palavras, a indústria cultural ameaça vulgari-</p><p>zar os valores da cultura, pois ela dita, por intermédio das massas,</p><p>o gosto e as regras.</p><p>Esse processo de industrialização da cultura é observado,</p><p>com olhos bastante críticos, por muitos filósofos e sociólogos, as-</p><p>sumindo a dimensão de principal problema da cultura e da edu-</p><p>cação contemporâneas. Assim, a escola de Frankfurt, encabeçada</p><p>por Adorno e Horkheimer, ressalta o efeito devastador dessa in-</p><p>dustrialização, levando a cultura à pobreza, à vulgarização, à limi-</p><p>tação e à banalização. A massa inautêntica precisa de ídolos, e ela</p><p>os escolhe por seu gosto.</p><p>A indústria cultural propaga modelos, ideias e paradigmas</p><p>que são incorporados pela massa. O homem-massa não tem sua</p><p>própria "cara", mas, em compensação disso, tem a oportunidade</p><p>de escolher uma daquelas "caras" que, na indústria cultural, se</p><p>propaga. O eu impessoal, como bem nota Heidegger em Ser e</p><p>tempo, domina plenamente o espaço cultural.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>23© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>Todavia, há quem veja, na indústria cultural, um meio pre-</p><p>cioso para a formação do homem, na medida em que esse ho-</p><p>mem, pela mesma indústria, tem acesso aos valores culturais que</p><p>antes foram inacessíveis para ele.</p><p>De qualquer maneira, temos de deixar bem claro que, com</p><p>o surgimento da mass medias e da indústria cultural, o âmbito pe-</p><p>dagógico mudou, de vez, a sua cara. As novas ferramentas entram,</p><p>definitivamente, no cenário escolar. A figura do docente diante do</p><p>quadro-negro cede lugar aos projetores multimídia (data show),</p><p>com imagens e efeitos visuais e virtuais.</p><p>Com essas mudanças, as questões sobre o incerto futuro pe-</p><p>dagógico estão em pauta:</p><p>• Seria uma desqualificação do professor e de seus ensina-</p><p>mentos clássicos?</p><p>• Seria uma questão de reeducação do mestre a partir de</p><p>ensinamentos tecnológicos mais eficientes para a forma-</p><p>ção humana?</p><p>Hoje em dia, não é preciso muito esforço para se conseguir</p><p>a informação que se deseja; basta teclar no computador, e isso é</p><p>ótimo! Mas e quanto ao caminho que deve ser percorrido para a</p><p>aquisição do conhecimento, que é, ao mesmo tempo, o processo</p><p>de aprendizagem? Será que não testemunhamos a era em que o</p><p>sujeito humano aprende sem aprendizagem? Essas são as pergun-</p><p>tas mais frequentes que se colocam diante da educação do século</p><p>21, as quais ela deve enfrentar, analisar e tentar responder.</p><p>Em conclusão, podemos dizer que, desde a aurora da forma-</p><p>ção humana, perdendo-se nos hieróglifos orientais, até o software de</p><p>hoje, a resposta clara e definitiva sobre o modelo perfeito de educa-</p><p>ção, sobre a verdadeira "Paideia humana" não foi dada. Nem poderia</p><p>sê-la, pois a sociedade transforma, incessantemente, a sua face,</p><p>sob as necessidades emergentes em cada instante, no decorrer</p><p>histórico, político, social e cultural. Todavia, ao longo deste estu-</p><p>do, vemos delineando-se duas vertentes principais que se realizam</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação24</p><p>num jogo dialético entre si: a Paideia individual, que promove a</p><p>formação integral do homem, e a Paideia social, isto é, a formação</p><p>do bom cidadão.</p><p>Com vistas a razões políticas e sociais, nem sempre essas</p><p>duas vertentes andam juntas, como deveria ser, isto é, conjugar a</p><p>plena formação individual com a sua aplicação na vida social, na</p><p>interação com os outros. Eis o que deverá amparar o ideal da edu-</p><p>cação humana – ideal que mais oscila ao utópico do que ao real.</p><p>Podemos, no entanto, opinar, modestamente, que investir</p><p>na formação individual do homem indiretamente implicaria na</p><p>sua formação social. Não se pode querer uma convivência social</p><p>não conflituosa por meio de indivíduos manipulados, mas pode-se</p><p>pode muito bem realizar uma sociedade harmoniosa com indiví-</p><p>duos esclarecidos. "Harmoniosa" aqui não quer dizer sem tensões,</p><p>mas, ao contrário, tensões expressas por meio de sujeitos críticos</p><p>que mantém, no decurso histórico, o equilíbrio do ser existencial e</p><p>do ser social, realizando, assim, a harmonia.</p><p>Nossa vida biológica é composta por tensões, , mas mantém</p><p>o equilíbrio. O equilíbrio manifesta-se na presença de forças opos-</p><p>tas, pois não existe força singular; esta só se manifesta na presen-</p><p>ça de outra. Portanto, a paralisação de uma das forças implicaria,</p><p>de imediato, no desequilíbrio. Portanto a educação deve instaurar</p><p>e estimular a tensão entre a formação individual (subjetiva) e a</p><p>formação social (objetiva) para alcançar a harmonia.</p><p>Agora é hora de você aprofundar seus estudos. Vamos em</p><p>frente!</p><p>Glossário de Conceitos</p><p>O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-</p><p>pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um</p><p>bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de</p><p>conhecimento dos temas tratados no CRC Fundamentos Históricos</p><p>e Filosóficos da Educação. Por uma opção pedagógica do autor, os</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>25© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>termos do Glossário não seguem uma ordem alfabética, mas uma</p><p>ordem cronológica da importância que cada um dos conceitos ad-</p><p>quire ao longo do estudo deste material. Veja, a seguir, a definição</p><p>dos principais conceitos:</p><p>1) Academia: é a escola que Platão fundou, em 387 a.C., nos</p><p>jardins localizados em Atenas, os quais pertenciam, con-</p><p>forme a lenda, ao herói Academo.</p><p>2) Paradigma: modelo.</p><p>3) Paideia: pode-se aludir ao termo "formação". É o pro-</p><p>cesso em que algo que não tem forma a adquire grada-</p><p>tivamente.</p><p>4) Ostracismo: estratégia pedagógica baseada na compe-</p><p>tição. Os antigos acreditavam que, somente por meio</p><p>da disputa e da concorrência, o indivíduo humano pode</p><p>alcançar a excelência. O ostracismo era, pois, o modelo</p><p>pedagógico mais significativo da educação homérica.</p><p>5) Pólis: Cidade-Estado com sua própria organização social,</p><p>econômica, cultural e militar. Essa forma de vida estatal</p><p>era preconizada, sobretudo, na Grécia Clássica.</p><p>6) Demônio: conforme os gregos, o ser que possuía uma</p><p>natureza dupla, divina e humana, se associava ao demô-</p><p>nio. O demônio era o resultado do acasalamento formi-</p><p>dável entre o homem e o deus.</p><p>7) Maiêutica: método dialético de educação introduzido</p><p>por Sócrates. Consiste na interrogação à que o mestre</p><p>submete o discípulo, a fim de forçá-lo a pensar e a refle-</p><p>tir. Literalmente, significa "arte de parteira". Assim como</p><p>a parteira ajuda a dar a luz a criança, o mestre ajuda o</p><p>discípulo a engendrar de si mesmo as ideias.</p><p>8) Dialética: é um método de diálogo cujo foco é a con-</p><p>traposição e contradição de ideias que levam a outras</p><p>ideias e que tem sido um tema central na Filosofia Oci-</p><p>dental e Oriental desde os tempos antigos.</p><p>9) Mouseion: é a maior biblioteca e centro cultural do</p><p>mundo antigo, localizada em Alexandria.</p><p>10) Teoria da iluminação: trata-se da concepção epistemológi-</p><p>ca de Santo Agostinho, conforme a qual o intelecto huma-</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação26</p><p>no, sendo finito e limitado, não será capaz, por si mesmo,</p><p>de chegar às verdades eternas sem que Deus o elevasse e o</p><p>iluminasse. Assim com a luz é a condição de visão, a teoria</p><p>da iluminação explica o processo em que o intelecto huma-</p><p>no é iluminado para "ver" as verdades eternas.</p><p>11) De Magistro: sua tradução literal seria "Do mestre". Tra-</p><p>ta-se, nesse caso, de tratados sobre a educação.</p><p>12) Alta Idade Média: o termo faz referência ao primeiro pe-</p><p>ríodo da Época Medieval.</p><p>13) Baixa Idade Média: o termo faz referência ao último pe-</p><p>ríodo da Época Medieval.</p><p>14) Quadrivium: método escolástico de ensino que incluía</p><p>Aritmética, Geometria, Astronomia e Música.</p><p>15) Trivium: método escolástico de ensino que incluía Gra-</p><p>mática, Retórica e Dialética.</p><p>16) Studia humanitatis: Ciências Humanas (Gramática, Re-</p><p>tórica, Poesia, História e Ética).</p><p>17) Humanismo: denota a visão do mundo a partir do ho-</p><p>mem. O humanismo é o traço fundamental da visão cul-</p><p>tural do Renascimento.</p><p>18) Reforma Protestante: movimento reformista cristão ini-</p><p>ciado no século 16 por Martinho Lutero, que, por meio</p><p>da publicação de suas 95 teses, protestou contra diver-</p><p>sos pontos da doutrina da Igreja católica, propondo uma</p><p>reforma no catolicismo.</p><p>19) Protestantismo: refere-se ao conjunto de igrejas cristãs</p><p>e doutrinas que se identificam com as teologias desen-</p><p>volvidas no século 16, na Europa Ocidental, na tentati-</p><p>va de reforma da Igreja católica apostólica romana por</p><p>parte de um importante grupo de teólogos e clérigos,</p><p>no qual o ex-monge agostiniano Martinho Lutero teve</p><p>destaque.</p><p>20) Contrarreforma: é o nome dado ao movimento criado</p><p>no seio da Igreja católica em resposta à Reforma Protes-</p><p>tante, iniciada com Lutero em 1517.</p><p>21) Bildung: termo alemão que pode-se traduzir como for-</p><p>mação..</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>27© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>22) Si-natural: o termo faz referência ao estado natural do in-</p><p>divíduo antes de seu contato com a sociedade organizada.</p><p>23) Si-social: o termo faz referência ao indivíduo que, por</p><p>meio do processo pedagógico, se torna apto a integrar</p><p>a sociedade.</p><p>24) Homo faber: ser humano que maneja a técnica e pro-</p><p>duz artefatos (coisas produzidas pelo homem e que pos-</p><p>suem sentido apenas para ele).</p><p>25) Utilitarismo: concepção ética que avalia a ação moral de</p><p>acordo com o bem-estar da sociedade, ou seja, avalia a</p><p>ação conforme suas consequências.</p><p>26) Princípio da maximação: princípio utilitarista que re-</p><p>quer maior bem para maior número de pessoas.</p><p>27) Transvaloração de todos os valores: o termo foi utilizado</p><p>por Nietzsche para designar a transvaloração dos valores</p><p>morais que perderam seu eixo norteador – bem e mal.</p><p>28) Homem-massa: o terno designa o homem que perdeu a</p><p>sua pessoalidade e suas possibilidades próprias, tornan-</p><p>do-se impessoal. O homem-massa perdeu, então, sua</p><p>identidade própria, identificando-se com a multidão.</p><p>29) Tupi-guarani: tronco linguístico que compreende, no</p><p>Brasil, dez famílias vivas, distribuídas por 14 estados;</p><p>estende-se tb. pelos seguintes países: Guiana Francesa,</p><p>Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina</p><p>(HOUAISS, 2009).</p><p>Esquema dos Conceitos-chave</p><p>Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais</p><p>importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um</p><p>Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você</p><p>mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o</p><p>seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o</p><p>seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas</p><p>próprias percepções.</p><p>É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos</p><p>Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação28</p><p>tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais</p><p>complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você</p><p>na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de</p><p>ensino.</p><p>Com base na teoria da aprendizagem significativa, entende-</p><p>-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em es-</p><p>quemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu conhe-</p><p>cimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos peda-</p><p>gógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem.</p><p>Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-</p><p>colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas</p><p>em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,</p><p>na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-</p><p>tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos</p><p>conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,</p><p>novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem</p><p>pontos de ancoragem.</p><p>Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-</p><p>nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-</p><p>so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure</p><p>como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-</p><p>siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais</p><p>de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-</p><p>tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez</p><p>que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-</p><p>nitivas, outros serão também relembrados.</p><p>Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é</p><p>você o principal agente da construção do próprio conhecimento,</p><p>por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações inter-</p><p>nas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo</p><p>tornar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu co-</p><p>nhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, esta-</p><p>belecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>29© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adap-</p><p>tado do site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/</p><p>mapasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11</p><p>mar. 2010).</p><p>Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Fundamentos</p><p>Históricos e Filosóficos da Educação.</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação30</p><p>Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como</p><p>dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-</p><p>portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre</p><p>um e outro conceito deste CRC e descobrir o caminho para cons-</p><p>truir o seu processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, os</p><p>conceitos complexidade e educação implicam conhecer as etapas</p><p>da formação do pensamento pós-moderno de Kant a Morin; sem o</p><p>domínio conceitual desse processo explicitado pelo Esquema, po-</p><p>de-se ter uma visão confusa do tratamento da temática do ensino</p><p>de Filosofia proposto pelos autores deste CRC.</p><p>O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de</p><p>aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente</p><p>virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles</p><p>relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presen-</p><p>cialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se</p><p>da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento.</p><p>Questões Autoavaliativas</p><p>No final de cada unidade, você encontrará algumas questões</p><p>autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser</p><p>de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.</p><p>Responder, discutir e comentar essas questões, bem como</p><p>relacioná-las com a prática do ensino pode ser uma forma de você</p><p>avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de ques-</p><p>tões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando</p><p>para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma</p><p>maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir</p><p>uma formação sólida para a sua prática profissional.</p><p>Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabari-</p><p>to, que lhe permitirá conferir as suas respostas sobre as questões</p><p>autoavaliativas de múltipla escolha.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>31© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>ATENÇÃO!</p><p>As questões de múltipla escolha são as que têm como resposta</p><p>apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por ques-</p><p>tões abertas</p><p>objetivas as que se referem aos conteúdos matemá-</p><p>ticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada.</p><p>Já as questões abertas dissertativas obtêm por resposta uma in-</p><p>terpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não</p><p>há nada relacionado a elas no tópico Gabarito. Você pode comentar</p><p>suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma.</p><p>Bibliografia Básica</p><p>É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus</p><p>estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-</p><p>grafias complementares.</p><p>Figuras (ilustrações, quadros...)</p><p>Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-</p><p>grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-</p><p>tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no</p><p>texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-</p><p>teúdos do CRC, pois relacionar aquilo que está no campo visual</p><p>com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.</p><p>Dicas (motivacionais)</p><p>O estudo deste CRC convida você a olhar de forma mais apu-</p><p>rada a Educação como processo de emancipação do ser humano.</p><p>É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas</p><p>e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem</p><p>como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-</p><p>partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se</p><p>descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a</p><p>notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,</p><p>uma capacidade que nos impele à maturidade.</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação32</p><p>Você, como aluno dos cursos de Graduação na modalidade</p><p>EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.</p><p>Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor</p><p>presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-</p><p>mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades</p><p>nas datas estipuladas.</p><p>É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em</p><p>seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-</p><p>rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-</p><p>ções científicas.</p><p>Leia os livros da bibliografia indicada para que você amplie</p><p>seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta</p><p>a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.</p><p>No final de cada unidade, você encontrará algumas questões</p><p>autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os</p><p>conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos</p><p>para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,</p><p>pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-</p><p>cimento intelectual.</p><p>Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na</p><p>modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando</p><p>sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.</p><p>Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a</p><p>este CRC, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para</p><p>ajudar você.</p><p>3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>ARISTÓTELES. Metafísica. Bauru: Edipro, 2006. (Clássicos Edipro).</p><p>CAMBI, F. História da pedagogia. Tradução de Álvaro Lorencini. São Paulo: Unesp, 1999.</p><p>GILES, T. R. História da educação. 3 ed. São Paulo: EPU, 1987.</p><p>MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. Tradução de</p><p>Gaetano lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989.</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>33© Caderno de Referência de Conteúdo</p><p>JAEGER, W. W. Paidéia: a formação do homem grego. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,</p><p>2003.</p><p>ROUSSEAU, J. Emílio ou da educação. Tradução de Roberto Leal Ferreira. 2. ed. São Paulo:</p><p>Martins Fontes, 1999.</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>1</p><p>EA</p><p>D</p><p>A Educação no Mundo</p><p>Antigo</p><p>1. OBJETIVOS</p><p>• Compreender como se organizam os conteúdos de Fun-</p><p>damentos Históricos e Filosóficos da Educação e discutir</p><p>sobre o seu propósito.</p><p>• Analisar e conhecer determinados conceitos necessários</p><p>ao estudo.</p><p>• Compreender as estruturas pedagógicas do mundo anti-</p><p>go, bem como as propostas dos principais filósofos sobre</p><p>a Paideia dos cidadãos das civilizações antigas.</p><p>2. CONTEÚDOS</p><p>• Introdução aos conteúdos de Fundamentos Históricos e</p><p>Filosóficos da Educação e formas de participação, intera-</p><p>ção e apropriação dos conteúdos.</p><p>• Programa para o desenvolvimento dos estudos.</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação36</p><p>3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE</p><p>Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que</p><p>você leia as orientações a seguir:</p><p>1) Durante o estudo desta unidade, procure realizar as re-</p><p>flexões sugeridas. Faça seu cronograma e não se apresse</p><p>em prosseguir seus estudos. Afinal, as reflexões são im-</p><p>portantes para possibilitar que você se envolva por intei-</p><p>ro na aprendizagem. Pense nisso...</p><p>2) Era chamada cidade-Estado uma região controlada por</p><p>uma grande cidade que fosse independente. As cidades-</p><p>-Estado eram comuns na Antiguidade, principalmente</p><p>na Grécia Antiga.</p><p>3) O papiro é uma planta nativa do Egito, encontrada às</p><p>margens do rio Nilo. Era utilizado na fabricação do papel.</p><p>É possível encontrar plantações de papiro em regiões do</p><p>sul da Itália.</p><p>4. INTRODUÇÃO</p><p>O surgimento e o desenvolvimento da problemática pedagó-</p><p>gica acompanham a gênese da sociedade desde seus primórdios</p><p>até os dias atuais. Assim, torna-se presente o questionamento so-</p><p>bre os fundamentos da educação, isto é, sobre as razões que tor-</p><p>nam possível esse fenômeno social e cultural. Tal questionamento</p><p>se reduz à pergunta sobre o fundamento no âmbito da reflexão</p><p>filosófica.</p><p>A educação encontra-se na base de qualquer sistema polí-</p><p>tico e social, sendo suporte indispensável para a realização tan-</p><p>to dos fins subjetivos (do indivíduo) como dos fins objetivos (da</p><p>sociedade). O grande desafio com o qual a educação sempre se</p><p>depara é como reconciliar os fins subjetivos com os objetivos. Essa</p><p>será a base da nossa reflexão, tendo como norteadora a gênese</p><p>histórica da educação.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>37© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>Assim, nesta unidade, você vai conhecer os primeiros pas-</p><p>sos da Educação na sociedade arcaica, no Egito Antigo especifi-</p><p>camente. Em seguida, terá a oportunidade de se familiarizar com</p><p>os modelos gregos de educação e seus grandes representantes,</p><p>como Homero, Sócrates, Platão, Isócrates, Aristóteles e outros,</p><p>compreendendo as influências que estes exerceram nas épocas</p><p>helenística e romana.</p><p>Iniciaremos nosso estudo sobre os fundamentos históricos e</p><p>filosófico da educação pelos vestígios mais remotos de uma ativi-</p><p>dade pedagógica da antiguidade no Egito. Acompanhe!</p><p>5. EDUCAÇÃO NO EGITO ANTIGO</p><p>O primeiro rastro de uma atividade pedagógica, segundo</p><p>Manacorda (1989), encontra-se na civilização do Antigo Egito. Essa</p><p>é a razão pela qual a nosso estudo histórico-filosófico da educação</p><p>deve começar por essa civilização.</p><p>Os povos que habitavam as margens do rio Nilo tinham per-</p><p>feitas condições de desenvolvimento de uma civilização avançada,</p><p>pois o solo fértil nas margens do rio propiciava condições de uma</p><p>agricultura avançada. Esta, por sua vez, necessitava de vários sa-</p><p>beres que, ao longo do tempo, foram desenvolvidos: matemática,</p><p>astronomia, engenharia, arquitetura etc.</p><p>Como podemos entender, todos esses conhecimentos estão</p><p>na base dessa civilização hidráulica. Assim como é de se esperar</p><p>que tais conhecimentos tenham sido transmitidos de geração a</p><p>geração, a fim de manter intacta a civilização, é de se pensar como</p><p>uma necessidade, a criação de escolas como veículos de transmis-</p><p>são desses saberes, a partir dos quais se aprendem várias habilida-</p><p>des e competências que atendam à necessidade da prática.</p><p>Apesar dessas razões que justificam o surgimento de institui-</p><p>ções pedagógicas, não encontramos provas de uma clara tendên-</p><p>cia pedagógica. E tudo isso porque a educação tinha um caráter</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação38</p><p>restrito, acessível somente a poucos,</p><p>isto é, às classes dominantes,</p><p>embora esse fato reduzisse seu currículo de instrução política ao</p><p>exercício de poder.</p><p>Foi no Egito que as crenças modernas e o conhecimento so-</p><p>bre o homem tiveram origem. Foi seu povo quem produziu a arte</p><p>e a literatura expressivas, como também foi o pioneiro na arquite-</p><p>tura de pedra, além de desenvolver o primeiro material adequado</p><p>para a escrita, o papiro (ver Figura 1).</p><p>Figura 1 Papiro.</p><p>Mesmo sem rastros de instituições pedagógicas organiza-</p><p>das, como vestígios dessa atividade encontramos versos de caráter</p><p>moral e comportamental. Pensemos nos Livros dos sábios. Esses</p><p>ensinamentos de cunho moral haviam sido transmitidos oralmen-</p><p>te, de geração a geração, de pai para filho, de mestre para discípu-</p><p>lo, pois a escrita não era, ainda, o veículo principal. A base desses</p><p>ensinamentos era mnemônica, ou seja, repetição e memorização.</p><p>No período feudal, em torno de 2.200 a 2.000 a.C., com a</p><p>inserção da ginástica e da arte de guerra, houve um avanço con-</p><p>siderável no quadro curricular. Juntamente com estas, a arte do</p><p>bem falar (oratória) veio contribuir para uma formação sistemati-</p><p>camente organizada, ainda que acessível apenas às classes domi-</p><p>nantes, que mantinham o poder político.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>39© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>Aos poucos, surgem escolas que não apenas contemplam</p><p>a formação de políticos e guerreiros – como no caso das classes</p><p>dominantes –, mas também se destinavam a formar os que man-</p><p>tinham certas relações com o soberano e não possuíam origem</p><p>nobre. Essas escolas dão origem à figura do mestre rodeado por</p><p>seus discípulos.</p><p>O período de 2.100 a 1.800 a.C. marcou um avanço notável</p><p>na educação. A memorização dos versos cedeu lugar ao estudo</p><p>das letras. O ofício das letras, dirigido pelo mestre, criava condição</p><p>para os próprios alunos interagirem com as sabedorias transmiti-</p><p>das pelos livros. A partir dessa época, a transmissão oral foi sendo</p><p>substituída pelo ofício das letras; os livros tornam-se a principal</p><p>fonte de sabedoria, e, para ter acesso a eles, era preciso que o</p><p>homem aprendesse a ler e escrever.</p><p>Essa passagem da tradição oral para a escrita certamente</p><p>muda o rumo da educação. Agora, o protagonista não é mais o sá-</p><p>bio, mas aquele que, ao dominar a arte de ler e escrever, apropria-</p><p>-se da sabedoria depositada nos livros. Na medida em que isso</p><p>se tornou uma realidade, iniciou-se a criação de bibliotecas como</p><p>uma espécie de "depósito do saber". Essa considerável mudança</p><p>na educação ocorreu por volta de 1.800 a 1.600 a.C.</p><p>Com o posterior desenvolvimento da sociedade antiga e com</p><p>o crescente anseio político de uma convivência social não confli-</p><p>tuosa, emerge a necessidade de uma educação para os súditos,</p><p>cujo objetivo era que estes aprendessem que a sua posição social</p><p>era a de súditos, ou seja, tratava-se de uma educação que visava à</p><p>submissão e à obediência.</p><p>Surgem, portanto, dois modelos de educação: a intelectual</p><p>e bélica, destinada à classe nobre, e outra, destinada aos plebeus.</p><p>Estes adquiriam conhecimentos profissionais para a produção de</p><p>coisas úteis, como era o caso, por exemplo, dos artesões. Esse mo-</p><p>delo bivalente será a marca registrada da educação antiga, desde</p><p>a civilização do Egito até a revolução cultural do cristianismo. É o</p><p>que sublinha Franco Cambi (1999, p. 52):</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação40</p><p>Todo o mundo antigo, até a revolução cultural do cristianismo, per-</p><p>manecerá ancorado a esse dualismo radical de modelos formati-</p><p>vos, que refletem e se encerram naquele dualismo entre trabalho</p><p>manual e trabalho intelectual que, por sua vez, foi uma infra-estru-</p><p>tura da cultura ocidental, pelo menos até o advento da modernida-</p><p>de que tornou a pôr em causa a cisão e a contraposição, exaltando</p><p>aquele homo faber que será o protagonista do mundo moderno.</p><p>Feito essas indicações importantes sobre o caráter da educa-</p><p>ção do Antigo Egito, vamos agora conhecer os desafios que surgem</p><p>diante da educação na Grécia Antiga.</p><p>6. EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA</p><p>Seguindo as pesquisas históricas e filosóficas, podemos re-</p><p>conhecer, na Grécia, principalmente no período clássico, esboços</p><p>de modelos teóricos, cognitivos, éticos e estéticos que dão origem</p><p>a toda a cultura ocidental. Essa gloriosa civilização grega e suas</p><p>incomparáveis contribuições no âmbito cultural vão-se desenro-</p><p>lando durante quatro períodos: homérico, clássico, helenístico e</p><p>romano.</p><p>Figura 2 Grécia.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Claretiano - Centro Universitário</p><p>41© U1 - A Educação no Mundo Antigo</p><p>Entre 2.500 e 1.400 a.C., existiu, na Ilha de Creta, uma cul-</p><p>tura avançada chamada "minoica", que nos impressiona pela exu-</p><p>berância e vitalidade; é uma cultura totalmente diferente daquela</p><p>dos melancólicos templos egípcios. A cultura minoica era marítima</p><p>com perfil comercial. Por volta de 1.600 a.C., ela estendeu-se até</p><p>a parte continental da Grécia e permaneceu vigorosa até 900 a.C.,</p><p>fundando, assim, a cultura micênica, da qual não se conhece muito</p><p>além das lendas e dos testemunhos de Homero.</p><p>Apesar de os gregos não serem um povo homogêneo, a par-</p><p>tir de um intenso intercâmbio comercial e cultural, formam sua</p><p>própria unidade espiritual. Esse processo começou por volta de</p><p>1.800 a.C. quando povos itinerantes de origem indo-europeia inva-</p><p>diram, inicialmente, a Ilha de Creta e, posteriormente, a parte con-</p><p>tinental da Grécia. Esses povos chegaram à Grécia em três etapas:</p><p>primeiro, vieram os jônios; depois, os eólios; e, por fim, os dórios.</p><p>Os jônios apropriaram-se totalmente da cultura minoica.</p><p>Apesar de ser um povo guerreiro, os jônios foram expulsos pelos</p><p>eólios. Conforme pesquisas arqueológicas, os eólios constituíram</p><p>um forte império por volta de 1.400 a.C. Enfraquecida pelas guer-</p><p>ras entre jônios e eólios, a civilização minoica foi praticamente ex-</p><p>tinta pelos últimos invasores – os dórios. Enquanto os jônios e os</p><p>eólios aceitavam a religião minoica, os dórios permaneciam em</p><p>sua religião indo-europeia. Assim, a religião minoica conservou-se</p><p>entre as classes baixas, ao passo que a religião da Grécia Clássica</p><p>as incorporou.</p><p>Diferentemente da visão oriental da civilização do Antigo</p><p>Egito, segundo a qual a educação intelectual cabia somente à</p><p>casta sacerdotal e a educação do povo se limitava ao ensino das</p><p>normas, os gregos tornaram o homem comum o principal prota-</p><p>gonista no cenário histórico pelo ideal democrático. A importância</p><p>do homem, nesse cenário, requer um completo desenvolvimento</p><p>dos seus dons naturais e potencialidades, o que exigia uma nova</p><p>Paideia.</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>Gretis</p><p>Realce</p><p>© Fundamentos Históricos e Filosóficos da Educação42</p><p>Para analisar essa nova mentalidade, faremos uma breve ex-</p><p>planação sobre Homero, intitulado por Platão como "o maior de</p><p>todos os mestres gregos". Vamos lá?</p><p>O período homérico e a educação</p><p>Para compreender melhor a educação homérica, temos de,</p><p>em princípio, compreender a sua religião, pois é desta que aquela</p><p>tomará inspiração.</p><p>A epopeia homérica, que origina a religião dos antigos gre-</p><p>gos, parece não ter analogia com outra religião, pois não se baseia</p><p>em uma relação de adoração, como qualquer outra, mas, antes de</p><p>tudo, de rivalidade. Aos deuses gregos, são atribuídos traços hu-</p><p>manos, ou seja, antropomórficos. Eles são bons ou maus, justos ou</p><p>injustos, nobres ou covardes; enfim, são como os humanos. A úni-</p><p>ca diferença que podemos ressaltar entre deuses e humanos é o</p><p>fato de os deuses serem imortais. No entanto, os homens também</p><p>poderiam sê-lo; bastava agirem e comportarem-se como heróis.</p><p>Havia uma rivalidade entre os deuses e os heróis humanos,</p><p>o que, por sua vez, forçava o homem a superar-se, a tornar-se um</p><p>deus e a concorrer com eles. Era uma religião que necessitava do</p><p>"homem-herói". À base desse paradigma heroico da existência hu-</p><p>mana, em que o herói preferia a morte – após uma luta</p>da Antiguidade aos nossos dias. Tradução de Gaetano lo Monaco. São Paulo: Cortez, 1989. MARROU, H-I. História da educação na Antiguidade. Tradução de Mario Leonidas Casanova. São Paulo: EPU, 1975. PILETTI, C. Filosofia e história da educação. 9. ed. São Paulo: Ática, 1991.