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<p>FASCÍCULO N° 03</p><p>RESISTÊNCIAS NEGRAS,</p><p>POLÍTICA ANTIRRACISTA,IDENTIDADE</p><p>E CULTURA AFRO-BRASILEIRA</p><p>IGUALDADE RACIAL</p><p>NAS ESCOLAS</p><p>Presidência da República</p><p>Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos</p><p>Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da</p><p>Igualdade Racial</p><p>Departamento de Políticas Étnico-Raciais</p><p>Coordenação-Geral de Políticas Étnico-Raciais</p><p>Universidade da Integração Internacional da</p><p>Lusofonia Afro-Brasileira</p><p>Coordenação Geral</p><p>Antonio Manoel Ribeiro Almeida</p><p>Coordenação Técnica</p><p>Segone Nadangalila Cossa</p><p>Coordenação Pedagógica</p><p>Ricardo Ossagô de Carvalho</p><p>Coordenação Audiovisual</p><p>Emmanuel Nogueira Ribeiro</p><p>Igualdade Racial nas Escolas</p><p>Autores</p><p>Márcio André de Oliveira e</p><p>Jucelia Bispo dos Santos</p><p>Projeto Gráfico /Programador Visual</p><p>Kallyl Welton Pinheiro Barroso</p><p>Designer instrucional EAD</p><p>Danyelle de Lima Teixeira</p><p>Revisão EaD</p><p>Idalina Freitas</p><p>Revisão Gramatical</p><p>Lavínia Rodrigues de Jesus</p><p>SUMÁRIO</p><p>APRESENTAÇÃO...........................................................................................................................................4</p><p>UNIDADE 1: ASSOCIATIVISMO E RESISTÊNCIAS NEGRAS NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO</p><p>HISTÓRICA BRASILERA...............................................................................................................................5</p><p>TÓPICO 1: RESISTÊNCIAS NEGRAS CONTRA O COLONIALISMO PORTUGUÊS.........................................5</p><p>TÓPICO 2: ASSOCIATIVISMO NEGRO DO FINAL DO SÉCULO 19: AS IRMANDADES RELIGIOSAS</p><p>NEGRAS; ASSOCIAÇÕES BENEFICENTES; CLUBES ASSOCIATIVOS NEGROS...........................................6</p><p>UNIDADE 2: MOVIMENTOS NEGROS E AÇÃO COLETIVA NEGRA NA LUTA CONTRA O RACISMO</p><p>ESTRUTURAL E INSTITUCIONAL E NA PROMOÇÃO DE POLÍTICAS ANTIRRACISTAS...........................7</p><p>TÓPICO 1: O QUE É MOVIMENTO NEGRO E QUAL SUA IMPORTÂNCIA?...................................................7</p><p>TÓPICO 2: A ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS NEGROS CONTRA O RACISMO NAS PRIMEIRAS</p><p>DÉCADAS DO SÉCULO 20..............................................................................................................................8</p><p>TÓPICO 3: “AQUI NÃO TEMOS RACISMO”: A LUTA CONTRA A IDEOLOGIA DA MESTIÇAGEM E O “MITO</p><p>DA DEMOCRACIA RACIAL”..........................................................................................................................10</p><p>UNIDADE 3: A QUESTÃO DO RACIAL NO BRASIL E REFLEXÕES EM TORNO DA CONSTRUÇÃO DE</p><p>NOVAS PROPOSTAS CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA.......................................................11</p><p>TÓPICO 1: O SURGIMENTO DA LEI 10.639/03..............................................................................................11</p><p>TÓPICO 2: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA NO BRASIL...................13</p><p>TÓPICO 3: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PARA QUILOMBOLAS NO BRASIL.....................14</p><p>REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................16</p><p>APRESENTAÇÃO...........................................................................................................................................4</p><p>UNIDADE 1: ASSOCIATIVISMO E RESISTÊNCIAS NEGRAS NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO</p><p>HISTÓRICA BRASILERA...............................................................................................................................5</p><p>TÓPICO 1: RESISTÊNCIAS NEGRAS CONTRA O COLONIALISMO PORTUGUÊS.........................................5</p><p>TÓPICO 2: ASSOCIATIVISMO NEGRO DO FINAL DO SÉCULO 19: AS IRMANDADES RELIGIOSAS</p><p>NEGRAS; ASSOCIAÇÕES BENEFICENTES; CLUBES ASSOCIATIVOS NEGROS...........................................6</p><p>UNIDADE 2: MOVIMENTOS NEGROS E AÇÃO COLETIVA NEGRA NA LUTA CONTRA O RACISMO</p><p>ESTRUTURAL E INSTITUCIONAL E NA PROMOÇÃO DE POLÍTICAS ANTIRRACISTAS...........................7</p><p>TÓPICO 1: O QUE É MOVIMENTO NEGRO E QUAL SUA IMPORTÂNCIA?...................................................7</p><p>TÓPICO 2: A ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS NEGROS CONTRA O RACISMO NAS PRIMEIRAS</p><p>DÉCADAS DO SÉCULO 20..............................................................................................................................8</p><p>TÓPICO 3: “AQUI NÃO TEMOS RACISMO”: A LUTA CONTRA A IDEOLOGIA DA MESTIÇAGEM E O “MITO</p><p>DA DEMOCRACIA RACIAL”..........................................................................................................................10</p><p>UNIDADE 3: A QUESTÃO DO RACIAL NO BRASIL E REFLEXÕES EM TORNO DA CONSTRUÇÃO DE</p><p>NOVAS PROPOSTAS CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA.......................................................11</p><p>TÓPICO 1: O SURGIMENTO DA LEI 10.639/03..............................................................................................11</p><p>TÓPICO 2: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA NO BRASIL...................13</p><p>TÓPICO 3: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PARA QUILOMBOLAS NO BRASIL.....................14</p><p>REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................16</p><p>APRESENTAÇÃO</p><p>Prezado/a cursista:</p><p>As re�lexões que apontamos aqui permitem vislumbrar os modos pelos quais as populações negras no Brasil têm resisti-</p><p>do e lutado contra o racismo. De maneira panorâmica, vamos percorrer tópicos que discutem desde as rebeliões de</p><p>escravizados africanos e negros brasileiros, passando pela formação de irmandades religiosas, as resistências quilombo-</p><p>las, imprensa negra e clubes associativos até as atuais organizações que constituem os movimentos negros e formu-</p><p>lações de políticas públicas em prol da igualdade racial. A ideia é sublinhar criticamente que no longo e complexo proces-</p><p>so de formação da sociedade brasileira, determinados grupos foram negativamente racializados e sistematicamente</p><p>excluídos de uma efetiva participação cidadã. Em termos práticos, isso significa dizer que populações negras, indígenas</p><p>e povos tradicionais concentram os piores índices sociais e econômicos se comparados com a população branca.</p><p>Portanto, neste módulo, vocês terão acesso a um conjunto de temáticas no campo dos estudos sobre relações raciais</p><p>importantes para compreender as mudanças sofridas nas últimas décadas na sociedade brasileira. Esperamos que ao</p><p>final deste módulo, vocês possam ter tido um panorama geral sobre o associativismo negro e as resistências negras no</p><p>Brasil, potencializado o debate entre educadores para tais questões.</p><p>4</p><p>Objetivos do Módulo:</p><p>- Compreender as principais experiências e resistências negras nos últimos séculos;</p><p>- Analisar criticamente as práticas alternativas das populações negras contra o racismo;</p><p>- Conhecer protagonismos negros no campo cultural e político.</p><p>5</p><p>ASSOCIATIVISMO E RESISTÊNCIAS NEGRAS NO</p><p>CONTEXTO DA FORMAÇÃO HISTÓICA BRASILEIRA</p><p>Ao longo desta unidade, pretende-se discutir o associativismo e as resistências negras na história da sociedade brasileira e</p><p>apontar para a relevância destas temáticas para as lutas por igualdade racial na atualidade.</p><p>TÓPICO 1 | RESISTÊNCIAS NEGRAS CONTRA O COLONIALISMO PORTUGUÊS</p><p>A partir da nossa re�lexão sobre o lugar privilegiado dos povos europeus na formação da sociedade brasileira, podemos</p><p>assim indagar: o que justifica esse lugar de CENTRO, por isso EUROCENTRISMO? Trata-se de uma escolha que tomou por</p><p>critério o processo civilizatório ocidental, considerado universal, por isso tomado como parâmetro para entender os</p><p>rumos da humanidade em todo o mundo. Isso repercutiu em diferentes áreas, em especial no processo educativo.</p><p>Sabemos que toda tentativa de escravização contra os povos</p><p>negros teve como resposta imediata tentativas de revolta,</p><p>resistência e rebelião. No Brasil, durante a época colonial tivemos importantes rebeliões de escravizados nascidos no</p><p>continente africano e de negros brasileiros.</p><p>A escravidão negro-africana foi um sistema social, econômico e político extremamente violento e desumanizador.</p><p>Milhares de mulheres e homens africanos foram retirados à força de suas terras por traficantes de escravos europeus e</p><p>transportados para as Américas, Ásia, Europa e Oriente Médio. Esse processo levou séculos para terminar e desestru-</p><p>turou centenas de comunidades e sociedades africanas.</p><p>Antes da chegada dos primeiros traficantes de escravos europeus, o continente já tinha uma dinâmica social e política</p><p>marcada por contradições e ambiguidades. Con�litos e guerras por territórios, bens e outras riquezas eram relativa-</p><p>mente comuns em toda região, inclusive havia sistemas endógenos de servidão e escravidão entre os diferentes povos e</p><p>grupos étnicos africanos, do mesmo modo que em outras partes do mundo antigo, sobretudo na Europa. No entanto, a</p><p>entrada das potências europeias no tráfico e comercialização de pessoas no continente fez toda a diferença. Aproveitan-</p><p>do-se de con�litos e rivalidades previamente existentes e do poderio bélico e financeiro, aportaram centenas de navios</p><p>destinados a arrancar pela força famílias e comunidades inteiras do continente rumo às plantações de cana de açúcar,</p><p>café e fumo nas Américas. Calcula-se que entre os séculos 16 e 19 cerca de 4,86 milhões de africanos e africanas foram</p><p>desembarcados no Brasil.</p><p>UNIDADE 1 |</p><p>Saiba</p><p>Mais</p><p>Enquanto o tráfico trans-</p><p>atlântico de escravizados</p><p>enriquecia os traficantes</p><p>e gerava um montante</p><p>expressivo de riqueza</p><p>para os seus países de</p><p>origem, as sociedades</p><p>africanas eram sistemati-</p><p>camente pilhadas,</p><p>saqueadas e desorgani-</p><p>zadas pelas potências</p><p>europeias.</p><p>6</p><p>ASSOCIATIVISMO NEGRO DO FINAL DO SÉCULO 19:</p><p>AS IRMANDADES RELIGIOSAS NEGRAS; ASSOCIAÇÕES</p><p>BENEFICENTES; CLUBES ASSOCIATIVOS NEGROS</p><p>A abolição da escravidão no Brasil, em 1888, não significou mudança alguma para a imensa parte da população negra, já</p><p>que não veio acompanhada de políticas de inclusão social por parte das elites. Essa imensa massa de marginalizados</p><p>continuou a ser tratada com o mesmo desprezo racista e discriminatório de antes, independentemente da região em que</p><p>se encontravam.</p><p>O período pós-abolição das décadas finais do século 19 e início do século 20 foram marcados por transformações políticas</p><p>e sociais significativas e que afetariam a população negra de diferentes maneiras. Enquanto boa parte dessa população</p><p>lutava arduamente para sobreviver às péssimas condições sociais ao qual era submetida, as elites brancas de todo o país</p><p>travavam uma série de debates em torno da ideia de construção da nacionalidade. Qual o projeto de nação que defen-</p><p>diam e sonhavam? Neste projeto nacional, todos os grupos étnico-raciais cabiam ou não? A resposta é que para boa parte</p><p>desta elite de ex-escravocratas e inspirados pelos padrões civilizatórios europeus, uma “nação moderna” significava</p><p>basicamente um país ocupado por pessoas brancas ou, pelo menos, racial e culturalmente embranquecidas. Os descen-</p><p>dentes dos antigos escravizados africanos e dos povos indígenas eram explicitamente designados como indesejáveis</p><p>neste projeto de nação. No lugar desses, havia uma ferrenha defesa da importação em massa de trabalhadores europeus</p><p>brancos para ocupar os postos de trabalho no campo e na cidade que “pretos, pardos e mestiços” desempenhavam até</p><p>então. Com recursos financeiros generosos tanto por parte do Estado brasileiro quanto de fazendeiros particulares,</p><p>milhares de europeus vindos de países como Itália, Espanha, Portugal, Suíça, Alemanha e Polônia aportaram no Brasil</p><p>para trabalhar na produção agrícola e nas indústrias das principais cidades da época.</p><p>Saiba</p><p>Mais</p><p>Pós-abolição se refere tanto ao período posterior a</p><p>abolição formal da escravidão em 1888 quanto a um</p><p>campo de estudos históricos envolvendo as complexas</p><p>dinâmicas sociais, políticas, institucionais e culturais que</p><p>tenham como centralidade as experiências negras. A</p><p>população negra, apesar da liberdade formal, em termos</p><p>práticos não gozava de condições mínimas de cidadania.</p><p>Pelo contrário, continuaram a amargar condições muito</p><p>desfavoráveis de sobrevivência durante várias décadas</p><p>após a abolição. Historiadores/as têm sublinhado que as</p><p>elites governantes daquele período não se comprometeram</p><p>devidamente com a construção de políticas públicas de</p><p>inserção das populações negras na vida social, diferente-</p><p>mente do tratamento recebido por imigrantes europeus</p><p>brancos que receberam estímulo e apoio financeiro públi-</p><p>co e privado.</p><p>TÓPICO 2 |</p><p>Esta política de embranquecimento</p><p>racial foi in�luente até meados dos</p><p>anos de 1930 no Brasil. Até os dias</p><p>atuais, os efeitos desse processo se</p><p>fazem sentir no imaginário social</p><p>brasileiro que continua a valorizar as</p><p>matrizes branco-européias de nossa</p><p>formação nacional em detrimento das</p><p>in�luências negro-africanas e indíge-</p><p>nas.</p><p>Para reagir às inúmeras manifestações</p><p>de práticas racistas, a população negra</p><p>foi obrigada a desenvolver estratégias</p><p>nos mais diferentes espaços de</p><p>atuação.</p><p>Irmandades religiosas negras tiveram um papel importante de agremiação deste segmento populacional, já que em</p><p>muitas igrejas não podiam entrar ou eram explicitamente tratados de maneira inferiorizante.</p><p>Em cidades como Rio de Janeiro, Campinas, São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Recife, Belo Horizonte, dentre outras,</p><p>geralmente os clubes associativos de descendentes de portugueses, espanhóis ou italianos praticavam formas abertas</p><p>ou sutis de racismo contra pessoas negras e/ou mestiças. Frente a esse racismo, grupos de pessoas negras criaram clubes</p><p>sociais específicos em que pudessem confraternizar e realizar festas livres do peso da discriminação racial.</p><p>Somadas com as rebeliões de escravizados no período anterior a abolição, as variadas experiências associativas negras</p><p>do final do século 19 e início do século 20 foram importantes aprendizados para o que depois passou a ser designado</p><p>como movimentos negros, sobretudo a partir da década de 1930 do século 20.</p><p>7</p><p>Nesta unidade vamos estudar a atuação política dos movimentos negros e analisar de que maneira essa militância tem</p><p>conseguido pautar o debate nacional no combate ao racismo e as desigualdades raciais.</p><p>TÓPICO 1 | O QUE É MOVIMENTO NEGRO E QUAL SUA IMPORTÂNCIA?</p><p>UNIDADE 2 | MOVIMENTOS NEGROS E AÇÃO COLETIVA NEGRA NA LUTA</p><p>CONTRA O RACISMO ESTRUTURAL E INSTITUCIONAL E NA</p><p>PROMOÇÃO DE POLÍTICAS ANTIRRACISTAS</p><p>Conforme visto acima, a sociedade brasileira sempre foi marcada por práticas racistas e discriminatórias contra as pessoas</p><p>negras, indígenas e de outras minorias étnico-raciais. Desde o final do século 19 e início do século 20, um importante</p><p>associativismo negro foi se formando nas principais cidades do país. No geral, esse associativismo negro se caracterizava</p><p>pela reunião de pessoas negras em espaços comunitários, religiosos, de entretenimento e outros espaços sociais privados,</p><p>direta ou indiretamente, pelo racismo antinegro existente naquele momento.</p><p>O associativismo negro e, consequentemente, a ação coletiva negra, foram as bases do que nos dias de hoje chamamos</p><p>de movimentos negros.</p><p>Movimentos negros são conjuntos de organizações, entidades, grupos e coletivos negros que atuam contra o racismo na</p><p>sociedade, incluindo também as esferas governamentais. Inclui organizações de diferentes tipos e modos de atuação,</p><p>incluindo-se aí as organizações negras de cunho político, cultural, associativo, religioso, literário, acadêmico, etc, constituí-</p><p>do e liderado majoritariamente por pessoas negras (pretas e pardas). Por in�luência dos movimentos negros, uma série de</p><p>organizações não-governamentais (ONGs), fundações e entidades civis passaram a incorporar em seus programas de ação</p><p>as pautas antirracistas.</p><p>Os movimentos negros são caracterizados</p><p>pelo pluralismo de ideias e diversidade de ação no espaço público. Nas últimas</p><p>décadas, tem-se visto uma ampliação de parcerias dos movimentos negros brasileiros com organizações negras de outros</p><p>países das Américas.</p><p>Fotografia</p><p>Ato público na Cinelândia, Rio de Janeiro, em</p><p>1983. Lélia Gonzalez discursa pelo Movimento</p><p>Negro Unificado (MNU) (Foto: Januário Garcia)</p><p>Saiba</p><p>Mais</p><p>8</p><p>As primeiras organizações negras que irão compor o movimento negro moderno surgem nas décadas iniciais do século 20.</p><p>Entre as décadas de 30 e 40, surgem organizações como a União dos Homens de Cor, a Frente Negra Brasileira, o Teatro</p><p>Experimental do Negro, dentre outras, que se caracterizam por uma postura de atuação política contra o racismo e a</p><p>discriminação racial e por ações propositivas no campo da educação, das artes e do mundo do trabalho. Pesquisas acadêmi-</p><p>cas recentes têm destacado o papel que essas organizações exerciam em seus espaços de atuação.</p><p>Esse incipiente movimento negro desenvolveu uma série de atividades educativas, teatrais, de socialização e qualifi-</p><p>cação profissional direcionadas para o público negro das mais diferentes cidades. Nas primeiras décadas do século 20, o</p><p>nível de marginalização social e pobreza da população negra era expressivo. O período conhecido como pós-abolição não</p><p>se traduziu em políticas públicas de integração da população negra na emergente sociedade de classes. Pelo contrário, o</p><p>que se observava era a manutenção das condições sociais e econômicas semelhantes aos anos da escravização. Superar</p><p>essa situação de pobreza extrema dependia basicamente da ajuda e apoio encontrado no próprio grupo de origem.</p><p>Como toda regra tem suas exceções, algumas poucas pessoas negras conseguiam empreender negócios ou estudar um</p><p>tempo maior que a média.</p><p>TÓPICO 2 |</p><p>Fotografia</p><p>Duas cofundadoras do grupo: Arinda Serafim e Marina</p><p>Gonçalves, ensaiando o papel da “velha nativa” em O impera-</p><p>dor Jones (Foto: José Medeiros)</p><p>A ORGANIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS NEGROS CONTRA</p><p>O RACISMO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO 20</p><p>Fotografia</p><p>Biblioteca Nacional / BBC News Brasil</p><p>A educação pública do Brasil do início do século 20 era precária para todos os segmentos e grupos sociais. Somente os</p><p>membros das elites agrárias e econômicas gozavam de níveis medianos de instrução quando comparados com o resto da</p><p>população. No entanto, a situação educacional era ainda pior para a população negra. Mais de 80% desta população não</p><p>sabia ler nem escrever.</p><p>Apesar do baixo letramento dessa população, resultado direto do racismo e da exclusão social existente, uma imprensa</p><p>negra digna de nota se desenvolveu. Jornais como A Voz da Raça, Alvorada, O Novo Horizonte, Senzala, União, Redenção, Cruzada</p><p>Cultural, Notícias de Ébano, Níger, O Mutirão, A Voz da Negritude, A Liberdade tematizavam os problemas e as questões que</p><p>afetavam a comunidade negra. Os assuntos abordados nessa imprensa eram os mais diversos: dicas de receitas culinárias,</p><p>divulgação literária, informações sobre eventos locais até denúncias de “preconceito de côr” (termo que se usava na época)</p><p>e análises políticas da situação do país.</p><p>9</p><p>A Imprensa Negra pode ser definida como um conjunto de jornais impressos, periódicos,</p><p>tablóides, revistas, websites, blogues e plataformas digitais que têm desempenhado um impor-</p><p>tante papel na organização política, social e cultural da população negra brasileira. Os primeiros</p><p>jornais surgiram antes mesmo da abolição da escravidão e a partir do final do século 19 ganha-</p><p>ram maior proeminência, apesar do caráter efêmero de sua maior parte. Temáticas como litera-</p><p>tura, cursos de formação profissional, ofertas de emprego, eventos festivos, preenchiam as</p><p>páginas desta imprensa do mesmo modo que protestos contra o que chamavam de “preconceito</p><p>de cor”. Nos dias atuais, a imprensa negra se reinventa das mais diferentes maneiras. Portais e</p><p>páginas na internet, blogues especializados, canais no youtube e outras redes sociais tem se</p><p>dedicado exclusivamente em tematizar as questões referentes às populações negras.</p><p>https://pib.socioambiental.org/pt/Quadro_Geral_dos_Povos</p><p>Saiba</p><p>Mais</p><p>Imagem</p><p>Exemplos de jornais da imprensa negra.</p><p>Domínio Público</p><p>Dica de leitura</p><p>sobre imprensa negra:</p><p>Di</p><p>ca</p><p>de</p><p>le</p><p>itu</p><p>ra</p><p>Di</p><p>ca</p><p>de</p><p>fi</p><p>lm</p><p>e</p><p>CULTNE - Histórias</p><p>do Pós-Abolição</p><p>10</p><p>https://pib.socioambiental.org/pt/Quadro_Geral_dos_Povos “AQUI NÃO TEMOS RACISMO”: A LUTA CONTRA A IDEOLOGIA</p><p>DA MESTIÇAGEM E O “MITO DA DEMOCRACIA RACIAL”TÓPICO 3 |</p><p>Após o declínio das teorias racistas oriundas da Europa, novas leituras sobre a formação do povo brasileiro ganharam</p><p>terreno nos meios mais intelectualizados. A Segunda Guerra Mundial e a nefasta experiência do nazismo alemão, que</p><p>perseguiu e matou centenas de milhares de judeus, ciganos e outras minorias étnicas, religiosas e políticas na Europa,</p><p>transformou qualquer tentativa de defesa da superioridade racial no mundo moderno em elemento danoso para a</p><p>convivência humana.</p><p>Dessa maneira, ao invés da afirmação da “raça branca” em detrimento das demais “raças”, surge entre nós no Brasil a</p><p>valorização da mestiçagem interracial. As elites intelectuais e políticas partem em defesa do “mestiço”, que não é nem</p><p>totalmente branco, nem totalmente negro e, tampouco, indígena. O mestiço seria o resultado ao mesmo tempo biológi-</p><p>co e cultural dessas três matrizes fundantes do povo brasileiro. O livro Casa Grande e Senzala, publicado em 1933 pelo</p><p>sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, foi uma das principais obras a defender o caráter profundamente mestiço da</p><p>nossa população. Os críticos da obra de Gilberto Freyre sublinham o tom romântico nas narrativas do autor quando</p><p>descreve as relações entre os colonizadores portugueses e as mulheres negras e indígenas, pautadas fundamentalmente</p><p>pela violência sexual e pelo estupro. Abdias do Nascimento, na obra O Negro Revoltado, faz duras críticas a essa construção</p><p>freyriana das relações raciais no Brasil. Outras tantas obras literárias e ditas científicas defendiam a mestiçagem como</p><p>um dos principais elementos da identidade nacional.</p><p>Saiba</p><p>Mais</p><p>A obra a "Redenção de Cam" de Modesto Brocos ilustra esteticamente ideia</p><p>chave do branqueamento posto em prática no Brasil.</p><p>Veja a análise aqui. https://www.edusp.com.br/mais/a-tela-a-redencao-de-cam-e-a-tese-do-branqueamento-no-brasil/</p><p>Dica</p><p>de leitura</p><p>11</p><p>O pano de fundo histórico de condenação mundial ao nazismo e sua defesa da supremacia racial ariana contra as demais</p><p>raças, somado com a valorização da mestiçagem possibilitou o fortalecimento do que se passou a chamar de “mito da</p><p>democracia racial”.</p><p>O “mito da democracia racial” é na verdade um conjunto de argumentos, narrativas e justificações de negação da</p><p>existência do racismo e da discriminação racial na sociedade brasileira. Desde fins do século 19, tem-se registros de uma</p><p>celebração da brasilidade como sinônimo de integração e incorporação dos “diferentes” no seio nacional. Preconceito,</p><p>intolerância religiosa, racismo eram coisas que se viam em outros países, mas no Brasil, não.</p><p>Esse mito e ideologia foram tão poderosos e convincentes que se espalharam por todas as instituições sociais e políticas</p><p>brasileiras. Florestan Fernandes, sociólogo paulista e um dos principais pesquisadores das relações raciais no Brasil, dizia</p><p>que o “brasileiro tem preconceito de ter preconceito”, já que não admitia o fato de se comportar por valores racistas no</p><p>dia a dia. Nosso imaginário social, ou seja, a maneira como imaginamos a nós mesmos, passou a ser moldado pela ideia</p><p>de que ser brasileiro/a significava automaticamente ser cego a cor da pele e mais tolerante às características culturais do</p><p>outro. Entretanto, em termos práticos, a realidade era completamente diferente.</p><p>E hoje em dia, ainda somos marcados pelo “mito da democracia racial”? No geral, não mais. Os movimentos negros e as</p><p>produções acadêmicas que atestam a existência</p><p>das desigualdades raciais e do racismo estrutural ajudaram a enfra-</p><p>quecer significativamente a força discursiva desse mito. Porém, a ideia-força de que vivemos em uma democracia racial,</p><p>em um país sem racismo, voltou a ser estimulada por segmentos conservadores nos governos e na sociedade civil.</p><p>UNIDADE 3 | A QUESTÃO DO RACIAL NO BRASIL E REFLEXÕES EM TORNO</p><p>DA CONSTRUÇÃO DE NOVAS PROPOSTAS CURRICULARES</p><p>PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Nesta última unidade, pretendemos abordar a questão racial no Brasil e re�lexões em torno da construção de novas</p><p>propostas curriculares para a Educação Básica. Vamos analisar como surgiu a Lei 10.639/03 e como essa nova proposta</p><p>curricular se legitimou na educação brasileira.</p><p>TÓPICO 1 | O SURGIMENTO DA LEI 10.639/03</p><p>O que mudou na educação brasileira depois da criação da Lei 10.639/03? Essa lei alterou a LDB (Lei de Diretrizes e Bases,</p><p>1996) e tornou obrigatória a inclusão de temas relacionados à História da África e a cultura e história afro-brasileira no</p><p>currículo escolar de todos os níveis de ensino da rede privada e pública. A partir da nova norma, as escolas brasileiras têm</p><p>a missão de promover a divulgação e a valorização do legado cultural africano e da cultura afro-brasileira.</p><p>Quais foram as primeiras medidas adotadas pelo Ministério da Educação para que a Lei 10.639/03 fosse implementada</p><p>de modo mais sistemático nas escolas brasileiras? Em 2004, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação, o Parecer</p><p>CNE/CP 3/2004, que criou diretrizes curriculares do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana para a</p><p>educação básica e entendeu este projeto para o ensino superior também. O que diz essa norma criada pelo Conselho</p><p>Nacional de Educação?</p><p>12</p><p>Atender os propósitos expressos na indicação CNE/CP6/2002, bem como regulamentar a alteração trazida à</p><p>Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, pela Lei 10.639/2000[...]. Desta forma, busca cumprir</p><p>o estabelecido na Constituição Federal nos seus Art.5º, I, Art.210. Art.206, I,§ 1°do Art.242, Art.215 e Art.216, bem</p><p>como nos Art. 26,26ª e 79 B na Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que asseguram o</p><p>direito à igualdade de condições de vida e de cidadania , assim como garantem igual direito às histórias e</p><p>culturas que compõem a nação brasileira, além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional a</p><p>todos brasileiros (BRASIL, 2005, p. 9).</p><p>Através da divulgação do parecer CNE/CP 6/2002, a lei 10.639/03 tornou-se mais ampla, e assim criou subsídios</p><p>necessários para a implementação efetiva do ensino sobre aspectos da história e sociedades africanas na educação</p><p>básica e para o ensino superior.</p><p>A Lei Federal 10.639/03 se apresenta como uma conquista dos movimentos negros e educadores/as antirracistas e um</p><p>desafio tendo em vista a conjuntura social brasileira, marcada por clivagens de discriminação histórica para com os</p><p>africanos e afrodescendentes, além da sistemática desvalorização da cultura africana e afro-brasileira. Qual é o principal</p><p>desafio enfrentado no processo de efetivação da Lei Federal 10639/03? A Lei Federal citada obriga a escola a trabalhar</p><p>temáticas africanas e afro-brasileiras, o que re�lete a realidade do Brasil. O ensino brasileiro, durante séculos, foi</p><p>construído sob bases eurocêntricas e ainda na atualidade representa grande in�luência europeia. Atualmente, a escola</p><p>tem a missão de construir uma educação antirracista, mais democrática e respeitosa para com os direitos humanos e de</p><p>fomentar a partir dos conteúdos produzidos na sala de aula uma construção de representações positivas sobre as lutas e</p><p>história da população negra.</p><p>Lei 10639/03, o que ela diz e qual a sua importância?</p><p>Com a aprovação da Lei 10.639, sancionada em 09 de janeiro de 2003, tornou-se obrigatório, no ensino funda-</p><p>mental e médio, o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira e africana. O que mudou na organização</p><p>curricular da educação básica? Com a aprovação da 10.639/03, o conteúdo programático da educação básica</p><p>(ensino fundamental e médio) passou a incluir o estudo da História da África e dos Africanos e a cultura negra</p><p>brasileira. A lei 10.639/03 não criou novas disciplinas no currículo escolar, mas gerou um tema transversal que</p><p>deve ser incluído nas diversas áreas do conhecimento através do método de ensino que valoriza a interdisci-</p><p>plinaridade.</p><p>13</p><p>A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS</p><p>DE AÇÃO AFIRMATIVA NO BRASIL</p><p>TÓPICO 2 |</p><p>Neste tópico, iremos analisar como aconteceu a institucionalização das Políticas de Ação Afirmativa no Brasil e quais</p><p>foram as mudanças que essa nova proposta curricular consolidou na educação brasileira.</p><p>O que são Políticas de Ação Afirmativa? Como surgiram? Inicialmente, essas políticas surgiram nos Estados</p><p>Unidos, mais especificamente na década de 60 do século XX. Depois de inúmeros protestos feitos pelo movi-</p><p>mento negro dos Estados Unidos (também chamado de movimento pelos direitos civis), as políticas de ação</p><p>afirmativa começaram a ser implementadas na gestão do presidente John Kennedy com o objetivo de reduzir</p><p>as históricas desigualdades raciais entre negros e brancos e também de atuar na promoção da diversidade</p><p>social. No contexto brasileiro, a institucionalização das Políticas de Ação Afirmativa aproxima-se das questões</p><p>que se estabelecem entre o discurso da diferença cultural e o discurso da desigualdade social (temas que estão</p><p>inseridos na agenda de reivindicação do movimento negro).</p><p>A efetivação da institucionalização das Políticas de Ação Afirmativa no Brasil ocorreu a partir da década de 2000. Na</p><p>perspectiva de promover mudanças efetivas no processo de garantia de direitos da população negra e assim atender às</p><p>expectativas dos movimentos sociais vinculados a essas comunidades, o governo Lula criou no dia 21 de março de 2003 a</p><p>Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR). Nesse período, foram desenvolvidas ações</p><p>afirmativas para a população negra, especialmente no acesso ao ensino superior, visando reduzir as desigualdades</p><p>raciais e os efeitos do racismo estrutural ao longo da formação brasileira. Dentre as metas de ações afirmativas</p><p>efetivadas para a população negra destacam-se (BRASIL, 2003): o Estatuto da Igualdade Racial; a Lei de Cotas no Ensino</p><p>Superior; as Leis 10.639/03 e 11.645/08; a Lei 12.990 que instituiu a reserva de 20% das vagas no serviço público federal</p><p>para a população negra.</p><p>Quais foram os principais objetivos desse projeto de institucionalização das Políticas de Ação Afirmativa criado no Brasil,</p><p>a partir dos anos 2000? No contexto brasileiro, a criação de políticas está associada aos discursos que tentavam criar uma</p><p>imagem de governo democrático, justo e legítimo, através da ampla participação da população em suas instâncias repre-</p><p>sentativas. Esse projeto de gestão de políticas públicas tinha por principal objetivo a construção de uma sociedade justa</p><p>e solidária, sem preconceito de cor, raça, religião e sexo, abolindo todas as formas de discriminação, segundo os artigos 1º</p><p>e 3º, da Constituição Federal.</p><p>14</p><p>A INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS</p><p>PARA QUILOMBOLAS NO BRASIL</p><p>TÓPICO 3 |</p><p>Nos dias atuais, é comum ouvir a expressão quilombolas, ou remanescentes de quilombo, mas você sabe como essas</p><p>terminações surgiram e como são utilizadas atualmente? Essas terminações possuem uma conotação que está marcada</p><p>a partir de diversos contextos e por múltiplas análises. Falar dos quilombos e dos quilombolas no atual contexto é,</p><p>portanto, falar de uma luta política e, consequentemente, uma re�lexão científica em processo de construção e que</p><p>passou por várias adaptações.</p><p>O termo quilombo surgiu oficialmente no Brasil na constituição do século XVIII, quando, em 1740, o Conselho Ultramari-</p><p>no valeu-se da seguinte definição, de que quilombo</p><p>era: “toda habitação de negros fugidos, que passem de cinco, em parte</p><p>despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se achem pilões nele”. Pelos tradicionais livros de história, a ideia</p><p>de quilombos está associada à reunião de escravizados fugidos que resistiam às tentativas de captura ou morte. Este</p><p>exemplo poderia ser compreendido na identificação de grupos de fugitivos que viviam na estrada à custa de assaltos às</p><p>fazendas ou mesmo aos passantes, ou seja, uma espécie de grupo nômade de economia predatória até uma organização</p><p>complexa (num território organizado).</p><p>A partir do final do século XX, o conceito de quilombo recebeu novos significados. Esse novo conceito de quilombo foi</p><p>organizado em torno das demandas por reconhecimento e redistribuição de terras das comunidades negras brasileiras,</p><p>especialmente aquelas que estavam no espaço rural. Como surgiu o termo remanescente de quilombo? Esse conceito</p><p>surgiu no Brasil depois da produção da Constituição de 1988. O texto constitucional entendeu o conceito de quilombo</p><p>como uma categoria histórica atemporal, por isso estabeleceu uma relação direta entre a ideia de quilombo e a organi-</p><p>zação do território étnico. Dessa forma, o direito constitucional brasileiro determinou a revisão do conceito clássico de</p><p>quilombos, uma vez que compreende o quilombola não necessariamente, como descendente de escravizados que</p><p>fugiam e se embrenhavam nas matas antes do fim da abolição. Assim, considera-se a hipótese de formação de comuni-</p><p>dades quilombolas num período pós-abolição.</p><p>Como o Estado brasileiro se apropriou da perspectiva de efetivação da Constituição de 1988 para reconhecer os rema-</p><p>nescentes de quilombos? Após a Constituição de 1988, o Estado brasileiro passou a ter a obrigação de catalogar e identifi-</p><p>car as comunidades quilombolas, onde se localizam, quantos moradores possuem, como vivem e quais dificuldades</p><p>fundiárias encaram. Desse modo, foi articulada uma luta empreendida entre ativistas, movimentos sociais, membros de</p><p>organizações não governamentais, bem como intelectuais empenhados na transformação social progressista. Esse</p><p>movimento tem promovido a visibilidade desses grupos, até então desconhecidos da sociedade e ignorados pelo poder</p><p>público. Como frutos dessa luta, podem-se citar: a construção de um arcabouço de leis e normas; o estabelecimento de</p><p>políticas públicas e programas governamentais dirigidos aos quilombolas; além de uma centena de titulações. A partir</p><p>de 20 de novembro de 2003, foi outorgado o Decreto 4.887/03, que trata do procedimento de demarcação, reconheci-</p><p>mento, delimitação e titulação das terras quilombolas.</p><p>15</p><p>Na Constituição de</p><p>1988 nasce o termo</p><p>remanescente de</p><p>quilombo. No</p><p>mesmo ano foi</p><p>criada a Fundação</p><p>Cultural Palmares.</p><p>Na década de 1990 houve</p><p>o reconhecimento e a</p><p>demarcação de</p><p>território quilombola</p><p>eram feitos através das</p><p>orientações dos laudos</p><p>antropológicos.</p><p>Entre os anos de</p><p>2000 e 2001 foi</p><p>publicado o</p><p>Decreto n.º</p><p>3912/2001, a fim de</p><p>regulamentar as</p><p>terras por eles</p><p>ocupadas.</p><p>Em 2003 foi criado o</p><p>Decreto n.º 4.887,</p><p>que regulamenta a</p><p>titulação das terras</p><p>ocupadas por</p><p>remanescentes das</p><p>comunidades dos</p><p>quilombos.</p><p>Em 2012 foi criada a</p><p>resolução Nº 8, que</p><p>define as Diretrizes</p><p>Curriculares Nacionais</p><p>para a Educação Escolar</p><p>Quilombola na</p><p>Educação Básica.</p><p>Linha de tempo das políticas para quilombolas no Brasil</p><p>Essa nova legislação considerou o critério de autodefinição no processo de reconhecimento das comunidades quilombo-</p><p>las. Assim, consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos (ou quilombolas) os grupos étnicos raciais,</p><p>segundo critérios de autoatribuição, com trajetória própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção</p><p>de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.</p><p>Saiba</p><p>Mais</p><p>Saiba mais sobre a trajetória dos quilombolas no Brasil acessando as seguintes obras:</p><p>Indicação de leitura:</p><p>Devir quilomba e a feminização do conceito de quilombo no Brasil - Geledés</p><p>Acesse aqui</p><p>Sugestão de documentário:</p><p>Memórias do Cativeiro (2005, legendas em português)</p><p>Acesse aqui</p><p>https://www.geledes.org.br/devir-quilomba-e-a-feminizacao-do-conceito-de-quilombo-no-brasil/#:~:text=Devir%2C%20conceito%20�los%C3%B3�co%20que%20pressup%C3%B5e,quilombolas%20na%20luta%20pela%20terra.</p><p>https://www.youtube.com/watch?v=JEw4k8Wpofw</p><p>Possibilidades pedagógicas</p><p>A intenção deste documento é a de subsidiar o trabalho dos (as) agentes pedagógicos (as) escolares na construção de</p><p>uma pedagogia antirracista. Para tal, desejamos apresentar orientações didático-pedagógicas em relação à inserção</p><p>dos temas trabalhados neste módulo no Ensino Fundamental.</p><p>16</p><p>Temas que podem ser trabalhados da sala de aula:</p><p>Racismo como uma questão atual e não parte de um passado histórico isolado, o qual está presente em nosso cotidia-</p><p>no; Comparação entre diferentes imagens de representações racistas presentes nos livros didáticos (especialmente da</p><p>área de história); História de luta do movimento negro no Brasil; Políticas de Ação Afirmativa no Brasil.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Quilombos: sematologia face as novas identidades. In: Frechal: Terra de Preto -</p><p>Quilombo reconhecido como Reserva Extrativista. São Luís:</p><p>BRASÍLIA, Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações Étnico-raci-</p><p>ais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília, DF, CNE, 2004.</p><p>DOMINGUES, Petrônio J. Uma História Não Contada: negro, racismo e branqueamento em São Paulo no pós-abolição.</p><p>São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004.</p><p>FIGUEIREDO, Otto Vinicius Agra. Uma breve re�lexão sobre a implantação da lei 10.639/03 na rede municipal de ensino</p><p>de Salvador 2005-2006: parceria SMEC e CEAFRO. Dissertação de mestrado. Programa de Pós Graduação em Educação e</p><p>Contemporaneidade- PEC/UNEB. Dezembro, 2007.</p><p>GOMES, F. S.: "Quilombos do Rio de Janeiro do Século XIX", In: REIS, J. J. & GOMES, F. S. (orgs.): Liberdade Por um Fio.</p><p>História dos Quilombos no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1996.</p><p>GUIMARÃES, Antônio S. Racismo e Anti-Racismo no Brasil. São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo;</p><p>Ed. 34, 1999.</p><p>HANCHARD, Michael. Orfeu e o poder: movimento negro no Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1988). Rio de Janeiro:</p><p>EdUERJ, 2001.</p><p>MOORE, Carlos. Racismo e Sociedade: novas bases epistemológicas para entender o racismo. Belo Horizonte: Mazza</p><p>Edições, 2007.</p><p>SANTOS, Marcio André. Movimentos negros e lutas antirracistas no Brasil e Colômbia. 1. ed. Rio de Janeiro: Telha, 2021.</p><p>192p.</p><p>SANTOS, Jocéli Domansk Gomes dos. A Lei 10.639/03 e a importância de sua implementação na educação básica. Rio</p><p>de Janeiro: 2006.</p><p>SILVA, Ana Célia da. A discriminação do negro no Livro didático. IN: Mununga, Kabenguele (Org). Superando o racismo</p><p>na escola. Superando o racismo na escola. 2 edição, Ministério da Educação, Secretaria de Educação, Alfabetização e</p><p>diversidade, Brasília, 2005.</p>