Prévia do material em texto
<p>AO JUÍZO DA Vara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná</p><p>Contestação dirigida ao Processo nº 0032145-19.2023.5.09.0003</p><p>José Francisco, [Nacionalidade do Réu], [Estado Civil do Réu], vendedor, portador do RG nº [RG do Réu], expedido por [Órgão Expedidor], inscrito no CPF/MF sob o nº [CPF/CNPJ do Réu], com endereço eletrônico em [Endereço Eletrônico do Réu], residente e domiciliado em [Endereço do Réu], por intermédio de seu advogado abaixo assinado, conforme instrumento de procuração em anexo, para receber intimações e notificações, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, apresentar a presente</p><p>Contestação</p><p>Em face de reclamação trabalhista (Processo nº 0032145-19.2023.5.09.0003) proposta por Afonso, tendo como fulcro o art. 335 e seguintes do Novo Código de Processo Civil Brasileiro, e alegando e requerendo o que se segue no presente instrumento.</p><p>Breve síntese da Petição Inicial</p><p>Trata-se de ação trabalhista movida em face do réu Bom Negócio Ltda., na qual o autor, José Francisco, alega ter sido dispensado sem justa causa após um longo período de trabalho, de 16 de novembro de 2010 até 31 de maio de 2023. O autor, que exercia a função de vendedor externo, sustenta que cumpria uma jornada de trabalho de 10 horas diárias sem receber o pagamento de horas extras, o que, segundo ele, configura uma violação dos direitos trabalhistas.</p><p>Além disso, José Francisco afirma que a empresa realizava descontos mensais em seu salário referentes à adesão a um plano de saúde em sistema de coparticipação, sem que ele tivesse dado consentimento para tais deduções. O autor questiona a legalidade e a validade desses descontos, alegando que nunca concordou com eles, o que expõe uma possível irregularidade na relação contratual entre empregado e empregador.</p><p>Outro ponto levantado na reclamação é a questão do veículo fornecido pela empresa para que o autor pudesse realizar suas visitas aos clientes. José Francisco argumenta que o valor do veículo não foi integrado ao seu salário, o que, segundo ele, deveria ocorrer, uma vez que o uso do veículo era essencial para o desempenho de suas funções. A não integração do valor do veículo ao salário é interpretada pelo autor como uma tentativa da empresa de reduzir os encargos trabalhistas.</p><p>Na tentativa de alcançar sua pretensão, a parte autora traz à demanda as seguintes provas: cópia da anotação da CTPS do empregado, indicando a função de vendedor externo, e termo de autorização de descontos salariais, firmado por ocasião da contratação, para inclusão no plano de saúde.</p><p>A presente Contestação visa, portanto, refutar os argumentos apresentados pela parte autora, trazendo à tona a realidade dos fatos e demonstrando que as alegações de José Francisco carecem de fundamento jurídico e probatório. Será demonstrado que a empresa Bom Negócio Ltda. agiu dentro dos limites da legalidade e que os direitos trabalhistas do autor foram devidamente respeitados durante todo o período contratual.</p><p>É a breve síntese do necessário.</p><p>Das Preliminares</p><p>Ilegitimidade Passiva</p><p>Inicialmente, a Reclamada suscita a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam, conforme preceitua o artigo 337, inciso XI, do Código de Processo Civil (CPC). A ilegitimidade passiva ocorre quando a parte demandada não é a responsável pelos direitos ou obrigações discutidos na lide.</p><p>No presente caso, a Reclamada, Bom Negócio Ltda., alega que não possui legitimidade para figurar no polo passivo da presente reclamação trabalhista, uma vez que os descontos relativos ao plano de saúde foram realizados por uma operadora de saúde contratada diretamente pelo Reclamante, sem qualquer interferência ou benefício à empresa. Ademais, a Reclamada sustenta que o veículo fornecido ao Reclamante era de propriedade de uma empresa terceirizada, contratada para prestar serviços de locação de veículos, não sendo, portanto, de sua responsabilidade a integração do valor do veículo ao salário do Reclamante.</p><p>Dessa forma, requer-se a exclusão da Reclamada do polo passivo da presente demanda, por ser parte ilegítima para responder pelos pleitos formulados pelo Reclamante.</p><p>Prescrição</p><p>A Reclamada suscita, ainda, a preliminar de prescrição quinquenal, conforme disposto no artigo 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal de 1988, que estabelece:</p><p>"Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:</p><p>(...)</p><p>XXIX - ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de:</p><p>a) cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;</p><p>(...)"</p><p>Considerando que a presente reclamação trabalhista foi protocolada em 12 de julho de 2023, e que o Reclamante foi dispensado em 31 de maio de 2023, resta claro que o prazo de dois anos para a propositura da ação foi respeitado. No entanto, os créditos trabalhistas pleiteados pelo Reclamante estão sujeitos à prescrição quinquenal, devendo ser considerados apenas os direitos relativos ao período compreendido entre 12 de julho de 2018 e 31 de maio de 2023.</p><p>Portanto, requer-se o reconhecimento da prescrição quinquenal e, consequentemente, a extinção do processo com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, inciso II, do CPC, em relação aos créditos trabalhistas anteriores a 12 de julho de 2018.</p><p>Conclusão</p><p>Diante do exposto, a Reclamada requer o acolhimento das preliminares de ilegitimidade passiva e prescrição quinquenal, com a consequente extinção do processo em relação aos pleitos prescritos e àqueles que não são de sua responsabilidade, nos termos da legislação vigente.</p><p>Do Mérito</p><p>Inaplicabilidade do Controle de Jornada para Vendedores Externos</p><p>O artigo 62, inciso I, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), dispõe que os empregados que exercem atividades externas incompatíveis com a fixação de horário de trabalho não estão sujeitos ao controle de jornada. No caso em questão, José Francisco atuava como vendedor externo, função esta que, por natureza, implica em atividades realizadas fora das dependências da empresa e sem possibilidade de controle direto de horário.</p><p>A função de vendedor externo, desempenhada pelo autor, caracteriza-se pela realização de visitas a clientes fora do ambiente empresarial, o que inviabiliza a imposição de uma jornada de trabalho fixa. Dessa forma, a alegação de cumprimento de jornada de 10 horas diárias sem pagamento de horas extras não se sustenta, uma vez que a legislação trabalhista exclui esta categoria de trabalhadores do regime de controle de jornada.</p><p>Além disso, o ônus da prova quanto à existência de controle de jornada recai sobre o autor, conforme disposto no artigo 818 da CLT e no artigo 373, inciso I, do Código de Processo Civil (CPC). O autor não apresentou provas concretas que demonstrem que havia um controle efetivo de sua jornada de trabalho, limitando-se a apresentar a cópia da anotação da CTPS, que por si só não é suficiente para comprovar a alegada jornada de 10 horas diárias.</p><p>Portanto, a pretensão de José Francisco ao pleitear horas extras deve ser rejeitada. A empresa Bom Negócio Ltda. agiu dentro dos limites da legalidade ao não controlar a jornada de um empregado que exerce atividades externas, conforme a previsão do artigo 62, inciso I, da CLT. O pedido do autor carece de fundamento jurídico e probatório, devendo ser julgado improcedente.</p><p>Legalidade dos Descontos Relativos ao Plano de Saúde</p><p>O artigo 462, caput, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) permite que descontos sejam efetuados no salário do empregado desde que haja previsão contratual ou autorização expressa do empregado. No contexto dos descontos referentes ao plano de saúde em sistema de coparticipação, é essencial destacar que a adesão a tal benefício é geralmente acordada entre as partes envolvidas, sendo os descontos previamente pactuados.</p><p>No caso em tela, a empresa Bom Negócio Ltda. apresentou como prova um termo de autorização de descontos salariais, firmado por ocasião da contratação,</p><p>que inclui a adesão ao plano de saúde. Tal documento demonstra a anuência expressa do autor, José Francisco, em relação a esses descontos. Dessa maneira, verifica-se a conformidade com o disposto no artigo 462 da CLT, validando os descontos efetuados pela empresa.</p><p>Ademais, o artigo 458, §2º, inciso IV, da CLT esclarece que a assistência médica, hospitalar e odontológica fornecida direta ou indiretamente pelo empregador não integra o salário do empregado, não podendo ser considerada como salário in natura. Esse dispositivo legal explicita que os benefícios concedidos sob a forma de assistência à saúde não configuram remuneração, afastando qualquer pretensão de devolução dos valores descontados, desde que comprovada a anuência do empregado.</p><p>Portanto, diante da prova documental apresentada e da previsão legal clara, o pedido de devolução dos descontos relativos ao plano de saúde realizado pelo autor carece de fundamento jurídico. A empresa Bom Negócio Ltda. agiu estritamente dentro dos limites legais, e os descontos efetuados no salário do autor foram devidamente autorizados, conforme evidenciado pelo termo de autorização de descontos salariais.</p><p>A improcedência do pedido de devolução dos descontos referentes ao plano de saúde é evidente, pois os descontos foram realizados com base em autorização expressa do autor, conforme estabelecido pelo artigo 462 da CLT, e a assistência médica fornecida não integra o salário, conforme o artigo 458, §2º, inciso IV, da CLT.</p><p>_Para corroborar a fundamentação trazida acima, é pertinente a seguinte menção à Jurisprudência pátria_:</p><p>> _Jurisprudência em Teses (STJ)_: Em plano privado de assistência à saúde, não é abusiva cláusula contratual que estabeleça a coparticipação do usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tratamento médico realizado sem internação, desde que não caracterize financiamento integral do procedimento por parte do usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços. Julgados: AgInt no REsp 1812435/RS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/11/2019, DJe 27/11/2019; AgInt no AREsp 1067523/DF, Rel. Ministro LAZARO GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5º REGIÃO), QUARTA TURMA, julgado em 25/09/2018, DJe 02/10/2018; AgInt no REsp 1563986/MS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe 06/09/2017, AREsp 1564829/DF (decisão monocrática), Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, julgado em 21/02/2020, publicado em 27/02/2020; AgInt no REsp 1662767/RS (decisão monocrática), Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, julgado em 12/02/2020, publicado em 20/02/2020. (Vide Informativo de Jurisprudência N. 586)</p><p>Natureza Indenizatória do Veículo Fornecido pela Empresa</p><p>O artigo 458, §2º, inciso III, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), estabelece expressamente que não se considera salário a utilização de veículo fornecido pela empresa para o trabalho e para o deslocamento do empregado. No presente caso, o fornecimento do veículo pela empresa Bom Negócio Ltda. a José Francisco tinha como finalidade exclusiva o desempenho de suas atividades laborais, configurando-se, portanto, como uma ferramenta essencial para a execução de suas funções de vendedor externo.</p><p>A utilização do veículo para visitas aos clientes não se configura como um benefício salarial, mas sim como um meio indispensável para a realização do trabalho. A legislação trabalhista é clara ao excluir essa hipótese da composição salarial, o que refuta a pretensão do autor de integrar o valor do veículo ao salário. O intuito do legislador ao elaborar tal dispositivo foi diferenciar os benefícios que constituem salário daqueles que são fornecidos para o desempenho das atividades laborais, evitando assim a majoração indevida dos encargos trabalhistas.</p><p>Ademais, a empresa Bom Negócio Ltda. deve demonstrar que o veículo era utilizado exclusivamente para fins laborais, reforçando a natureza indenizatória e não salarial do benefício. Tal comprovação poderá ser realizada mediante apresentação de registros de utilização, rotas percorridas, e demais documentos que evidenciem o uso do veículo para o estrito cumprimento das funções profissionais do autor.</p><p>Portanto, o pedido de integração do valor do veículo ao salário não encontra amparo na legislação trabalhista vigente. A CLT, em seu artigo 458, §2º, inciso III, é explícita ao determinar que a utilização de veículo fornecido pela empresa para o trabalho não se considera salário. Assim, a pretensão do autor carece de fundamento jurídico, devendo ser julgada improcedente.</p><p>Inexistência de Direito Adquirido à Participação nos Lucros ou Resultados</p><p>A Lei nº 10.101/2000, que regula a participação nos lucros ou resultados (PLR), estabelece que tal participação deve ser objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante acordo ou convenção coletiva. Conforme o artigo 2º dessa lei, a concessão da PLR deve ser formalizada por meio de acordo coletivo, convenção coletiva ou comissão paritária.</p><p>No presente caso, o autor, José Francisco, não apresentou qualquer prova de que havia um acordo ou convenção coletiva prevendo a participação nos lucros ou resultados da empresa Bom Negócio Ltda. Sem a existência de tal acordo, não há base legal para a pretensão de pagamento de PLR. O artigo 7º, inciso XI, da Constituição Federal, reforça que a participação nos lucros ou resultados deve ser estabelecida por meio de negociação, não sendo um direito automático do empregado.</p><p>Ainda, a ausência de qualquer documento que comprove a existência de negociações ou acordos formais entre a empresa e o autor, conforme estabelecido pela Lei nº 10.101/2000, inviabiliza completamente a pretensão de José Francisco. A simples alegação de direito à PLR, sem a correspondente comprovação documental de um acordo ou convenção coletiva, é insuficiente e carece de fundamento jurídico.</p><p>Portanto, o pedido do autor para o pagamento da participação nos lucros ou resultados deve ser julgado improcedente, uma vez que não há qualquer respaldo legal ou probatório que justifique tal pretensão. A empresa Bom Negócio Ltda. agiu dentro dos limites da legalidade e em conformidade com a legislação vigente, inexistindo qualquer obrigação de pagamento de PLR ao autor.</p><p>Tempestividade</p><p>Em conformidade com o art. 335 do Novo CPC, que dispõe sobre o prazo da contestação ser de até 15 dias úteis após o termo inicial [Data do termo inicial], a presente medida se realiza tempestivamente, sendo protocolada no dia [Data de protocolo].</p><p>Dos requerimentos</p><p>Diante do acima exposto, e dos documentos acostados, é a presente contestação para requerer os seguintes pleitos:</p><p>- A improcedência do pedido de pagamento de horas extras, considerando a inaplicabilidade do controle de jornada para vendedores externos.</p><p>- A improcedência do pedido de devolução dos descontos referentes ao plano de saúde, uma vez que houve anuência do autor e tais descontos são legais.</p><p>- A improcedência do pedido de integração do valor do veículo ao salário, visto que o uso do veículo fornecido pela empresa tem natureza indenizatória e não salarial.</p><p>- A improcedência do pedido de pagamento de participação nos lucros ou resultados, pela inexistência de acordo ou convenção coletiva que preveja tal benefício.</p><p>- A condenação do autor ao pagamento de honorários advocatícios.</p><p>- A produção de todas as provas admitidas em direito, especialmente a documental, testemunhal e pericial, se necessário.</p><p>Nestes termos, pede deferimento.</p>