Prévia do material em texto
<p>Fotojornalismo</p><p>Material Teórico</p><p>Responsável pelo Conteúdo:</p><p>Prof. Dr. Felipe Gue Martini</p><p>Revisão Textual:</p><p>Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin</p><p>O Fotojornalismo em Ação</p><p>• Os Gêneros Fotojornalísticos;</p><p>• Fotografia de Notícias;</p><p>• Variedades ou Features;</p><p>• Retrato;</p><p>• Fotografia Esportiva;</p><p>• Histórias em Fotografias;</p><p>• Ilustrações Fotográficas;</p><p>• Fotografia Flagrante e Foto-Denúncia;</p><p>• Existe Um Tema Que Não Deve Ser Fotogrado?</p><p>• Reconhecer qualidades das imagens fotográfi cas para uso ético em publicações de dife-</p><p>rentes naturezas;</p><p>• Ter postura ética e resposta ágil para dilemas relativos à profi ssão de jornalista e seus</p><p>conceitos de verdade;</p><p>• Conhecer e compreender os diferentes gêneros fotojornalísticos.</p><p>OBJETIVOS DE APRENDIZADO</p><p>O Fotojornalismo em Ação</p><p>Orientações de estudo</p><p>Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem</p><p>aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua</p><p>formação acadêmica e atuação profissional, siga</p><p>algumas recomendações básicas:</p><p>Assim:</p><p>Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte</p><p>da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e</p><p>horário fixos como seu “momento do estudo”;</p><p>Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma</p><p>alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;</p><p>No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos</p><p>e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-</p><p>bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua</p><p>interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;</p><p>Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-</p><p>são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o</p><p>contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de</p><p>aprendizagem.</p><p>Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte</p><p>Mantenha o foco!</p><p>Evite se distrair com</p><p>as redes sociais.</p><p>Mantenha o foco!</p><p>Evite se distrair com</p><p>as redes sociais.</p><p>Determine um</p><p>horário fixo</p><p>para estudar.</p><p>Aproveite as</p><p>indicações</p><p>de Material</p><p>Complementar.</p><p>Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma</p><p>Não se esqueça</p><p>de se alimentar</p><p>e de se manter</p><p>hidratado.</p><p>Aproveite as</p><p>Conserve seu</p><p>material e local de</p><p>estudos sempre</p><p>organizados.</p><p>Procure manter</p><p>contato com seus</p><p>colegas e tutores</p><p>para trocar ideias!</p><p>Isso amplia a</p><p>aprendizagem.</p><p>Seja original!</p><p>Nunca plagie</p><p>trabalhos.</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>Os Gêneros Fotojornalísticos</p><p>Nas unidades anteriores, vimos que a popularização do fotojornalismo ao redor</p><p>do mundo, como meio de produção e de consumo de imagens, estabeleceu uma</p><p>linguagem própria.</p><p>Enquanto fotógrafos documentaram o século XX através de suas lentes, surgiram</p><p>comunidades de sentido em torno desse uso da fotografia. Tais modos de saber,</p><p>fazer e usar as fotografias podem ser reconhecidos como gêneros fotojornalísticos.</p><p>O gênero pode ser entendido como um conjunto de regras de linguagem que</p><p>vincula realizadores, produtores, editores e consumidores por meio de um potencial</p><p>aglutinador capaz de gerar partilhas de significado (MARTÍN-BARBERO, 1997).</p><p>Os gêneros conectam as diferentes esferas e etapas de um produto cultural em</p><p>torno de sentidos comuns, definem padrões de ocorrência, modelos de juízos de</p><p>valor e de gosto, discursos sobre adequação, pertinência e qualidade dos produtos.</p><p>Na fotojornalismo, há diferentes divisões dos gêneros jornalísticos. Numa distin-</p><p>ção geral, à primeira vista, podemos dividir os gêneros em notícias, features, re-</p><p>trato, ilustrações fotográficas, paisagem e histórias em fotografias (SOUSA, 2002,</p><p>p. 109), no entanto, com base nos trabalhos de Sousa (2002), Kobré (2011) e</p><p>Capovilla (2013), ampliamos essa divisão inicial e propomos algumas categorias</p><p>diferentes, apresentadas a seguir.</p><p>Fotografia de Notícias</p><p>As fotografias de notícias são divididas segundo a previsibilidade dos eventos</p><p>fotografados. Em termos gerais, quando as imagens são de spot news, registros</p><p>de acontecimentos duros (hard news), trazem como principal característica a parti-</p><p>cularidade e a singularidade. São fotografias únicas, tiradas a partir de um evento</p><p>espontâneo e imprevisível que o fotojornalista é chamado a cobrir.</p><p>Nesses casos, a capacidade de reação e a experiência do fotógrafo são deter-</p><p>minantes para a realização de um bom trabalho. É possível, e comum, que surjam</p><p>situações perigosas, traumáticas, tensas; por isso, o fotógrafo deve seguir à risca</p><p>protocolos éticos sobre o que deve registrar, de modo a construir hierarquias de</p><p>conteúdos e evitar o apelo ao sensacionalismo e à morbidez.</p><p>Por vezes, o fato em si (a violência, a brutalidade, a morte) não é tão expressivo</p><p>quanto os contextos humanos que explicam essa realidade, ou organizam para o</p><p>público, de modo claro e direto, motivações, razões, personagens, cenários.</p><p>É importante o domínio total da técnica para agir rapidamente na direção do</p><p>registro síntese, daquela imagem capaz de ocupar a memória das pessoas em</p><p>relação ao acontecimento.</p><p>8</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>9</p><p>Para o fotojornalista diário, essa espécie de repetição do instante decisivo no co-</p><p>tidiano pode corroer seu ímpeto pela novidade, pelo inédito, pelo momento ideal.</p><p>Mesmo diante de imagens de choque e situações limite, o olhar pode se naturalizar.</p><p>É tarefa do fotógrafo manter seu ímpeto humano e sua sensibilidade, como técnicas.</p><p>Nas fotografias de notícias em geral (general news) ou de eventos previstos, a</p><p>situação a ser fotografada está sob maior controle.</p><p>A previsão implica um conjunto de informações, uma pauta do evento, que ex-</p><p>plica e embasa o planejamento prévio do fotógrafo.</p><p>É possível separar equipamentos mais adequados, organizar um breve roteiro de</p><p>imagens (mesmo que seja mental), enfim, estabelecer uma ordem mínima e crité-</p><p>rios sobre o que se pretende com os registros.</p><p>Eventos políticos, entrevistas coletivas, pronunciamentos, lançamentos e inaugu-</p><p>rações se enquadram nesse modelo.</p><p>A estrutura, a princípio rígida, da fotografia de eventos previstos, pode levar a</p><p>um gessamento da pauta e da banalização da notícia.</p><p>Sousa chama atenção para a prática das chamadas photo opportunities, nas</p><p>quais se pretende registrar “os instantes cerimoniosos, típicos das ocasiões de es-</p><p>tado, durante os quais os políticos posam em grupo ou se deixam fotografar a</p><p>cumprimentarem-se” (2002, p. 112).</p><p>Essa estratégia de posar num momento específico do evento exige que os fotó-</p><p>grafos se programem, cheguem cedo e se posicionem em bons lugares, a fim de</p><p>não perder a “pose oficial”. Por outro lado, momentos de desatenção, de descons-</p><p>tração, quando autoridades ou celebridades baixam a guarda, podem render ao</p><p>revelar bastidores, ações inusitadas e flagrantes.</p><p>Uma regra que vale para jornalistas em geral: a todo momento pode acontecer</p><p>algo imprevisível, passível de registro.</p><p>Nessa fotografia de um protesto pela demarcação de terras indígenas, o repórter fotógrafico</p><p>faz uso criativo do plano de fundo, contrapondo a causa indígena com uma instituição do</p><p>governo brasileiro: http://bit.ly/33UpyEg</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>Variedades ou Features</p><p>A fotografia pela fotografia é produzida e consumida por uma espécie de interes-</p><p>se geral pela imagem, “As feature photos são imagens fotográficas que encontram</p><p>grande parte do seu sentido em si mesmas, reduzindo o texto complementar às infor-</p><p>mações básicas (quando aconteceu, onde aconteceu, etc.)” (SOUSA, 2002, p. 114).</p><p>Em geral, são cenas cotidianas que possuem um potencial estético marcante,</p><p>seja pela beleza plástica, seja pelo momento registrado. Imagens que dependem</p><p>9</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>muito da sensibilidade do olhar do fotógrafo, de sua capacidade de se encantar com</p><p>uma cena simples e transformá-la num enquadramento comunicativo e potente</p><p>para o público.</p><p>Além de atenção, o fotógrafo precisa de agilidade para fazer o clique no tempo</p><p>certo, quando essa confluência de forma e conteúdo se apresenta.</p><p>É um gênero que premia a liberdade e a criatividade do autor, por meio do qual</p><p>os fotógrafos expressam seu estilo e sua visão de mundo.</p><p>É comum a busca pela expressividade dos personagens, por cenas inusitadas,</p><p>curiosas, engraçadas e até patéticas.</p><p>O fotógrafo deve ter em mente que, para uma fotografia ganhar a atenção em si</p><p>mesma, deve ter algum elemento fora do comum, apesar de abordar a vida cotidiana.</p><p>Com a simplificação dos registros fotográficos por meio dos telefones celulares</p><p>e a prática ampliada dos registros e compartilhamentos domésticos nas Redes So-</p><p>ciais, essas fotografias desinteressadas adquiriram status quase banal.</p><p>O fotógrafo profissional, nesse contexto, precisa produzir registros de qualidade</p><p>irretocável e com alto nível de comunicabilidade e apuro técnico quando pretende</p><p>se diferenciar.</p><p>Conforme Sousa, as fotografias features se dividem em três categorias:</p><p>• Fotografias de interesse humano são momentos únicos e registrados de modo</p><p>natural, normalmente apresentados de modo bem-humorado e sutil, a fim de</p><p>divertir o consumidor. “Crianças e ‘velhotes’ engraçados e cheios de vida, frei-</p><p>ras, padres e pares românticos são alguns dos temas tradicionalmente mais</p><p>explorados neste tipo de imagens” (SOUSA, 2002, p. 116);</p><p>• Fotografias de interesse pictográfico são imagens que valem mais pelo impac-</p><p>to e por apresentarem um apelo visual intenso do que pelos motivos ou pelo</p><p>conteúdo em si. Tratam de propor um ângulo diferente, captar uma luz muito</p><p>singular, o fotógrafo cria e sensibiliza através das formas;</p><p>• Fotografias de animais são diferentes das imagens de vida selvagem. No geral,</p><p>são registros humanizados e engraçados de bichos, com apelo emocional.</p><p>Retrato</p><p>Uma das principais categorias da fotografia, responsável por propagar sua prá-</p><p>tica no século XIX, o retrato apresenta o ser humano. No Jornalismo, tem função</p><p>ilustrativa e representativa quando exibe ao público os personagens das histórias e</p><p>das situações noticiadas.</p><p>O retrato pode ser indivdual e coletivo, ambiental e não ambiental. Importante</p><p>levar em conta que não se trata de um registro frio do ser humano, mas de uma</p><p>10</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>11</p><p>fotografia posada com a qual o fotógrafo apresenta um personagem por meio de</p><p>um ou mais traços característicos (SOUSA, 2002, p. 122).</p><p>Quando o retrato é não ambiental, esse traço será buscado na própria expres-</p><p>são, postura ou compleição física dos retratados. Nesse sentido, a pose é muito</p><p>importante, seja ela natural ou dirigida pelo fotógrafo, pois ela estabelece o nível de</p><p>comunicação do personagem com o público.</p><p>Bons retratos raramente ocorrem no primeiro clique. É necessário explorar di-</p><p>ferentes abordagens, enquadramentos, iluminações, utilizar preferencialmente a luz</p><p>natural e criar ambientes agradáveis – quando utilizar a luz do flash, deve-se evitar</p><p>luz direta na face.</p><p>Importante não aborrecer os modelos, para evitar que saiam com a cara fechada,</p><p>como os personagens dos primeiros retratos da história, que não conseguiam sorrir</p><p>devido ao tempo que permaneciam imóveis para uma pose, cerca de 20 minutos.</p><p>O uso dos retratos ambientais favorece a expressividade das fotografias. Via de</p><p>regra, os ambientes são escolhidos segundo seu significado, que tem relação direta</p><p>com as características do personagem ou da cena noticiada.</p><p>Esse ganho, no entanto, não deve ser utilizado de modo excessivo a ponto de</p><p>ofuscar a presença dos retratados, tampouco apresentar uma abordagem muito</p><p>clichê, como ilustração exageradamente simplificada.</p><p>Fotografia Esportiva</p><p>Há um mundo à parte quando pensamos na fotografia esportiva. Embora o inte-</p><p>resse nesse tipo de imagem esteja situado entre as notícias e as features, é possível,</p><p>a partir de Kobré, afirmar que a fotografia esportiva conforma um gênero específico.</p><p>Segundo Sousa, elas podem ser divididas em fotografias de Ação Esportiva e</p><p>Features de Esporte.</p><p>No primeiro caso, existe um interesse direto na cobertura do Evento Esportivo,</p><p>em sua prática e no seu resultado.</p><p>Para os espectadores, será importante ter uma leitura geral do acontecimento a</p><p>partir do registro factual do fotojornalista.</p><p>Segundo Kobré (2011, p. 99), é importante resumir a partida ou a disputa em</p><p>uma fotografia e, para isso, os fotógrafos devem estar bem informados, devem co-</p><p>nhecer os desportistas, as categorias, as rivalidades e as regras do jogo.</p><p>De modo geral, a fotografia de Esporte exige equipamentos específicos, lentes</p><p>teleobjetivas de longo alcance e boa luminosidade, flashes potentes, além de bom</p><p>preparo físico do fotógrafo (para ser ágil e conseguir carregar o material). Se na fo-</p><p>tografia cotidiana buscamos o momento decisivo, na fotografia de Ação Esportiva,</p><p>a cena síntese é quase a regra geral.</p><p>O gol, o ponto final, a linha de chegada, o salto, a manobra, são registros im-</p><p>prescindíveis. Para conseguir essas poses, o fotógrafo deve estar atento, bem po-</p><p>11</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>sicionado e contar com seu equipamento e qualidade técnica. Enquanto que, para</p><p>congelar as ações, serão necessárias altas velocidades e estabilidade máxima, uma</p><p>opção mais expressiva pode ser o uso de movimento e de rastros.</p><p>Mas é importante levar em conta que a nitidez clássica ainda é a regra de ouro</p><p>das fotos de Esporte para Jornais, Revistas e Portais de Notícias.</p><p>Não estão descartadas fotografias de contexto e de reação do público, bem como</p><p>fatos extracampo ou pós-jogo, são poses que podem revelar aspectos importantes.</p><p>A fotografia de Esporte implica trabalho em condições adversas, como, por</p><p>exemplo, enquadrar e clicar objetos em movimento acelerado, operar a câmera em</p><p>ambientes pouca iluminados e encarar intempéries.</p><p>O fotógrafo deve ter em mente que são essas as condições naturais de seu traba-</p><p>lho e que, portanto, deve se preparar de maneira adequada para variadas situações</p><p>e dificuldades técnicas específicas de cada Esporte.</p><p>A categoria Features de Esporte tangencia o valor notícia ao utilizar a prática</p><p>esportiva como contexto privilegiado para fotografias de interesse humano ou de</p><p>interesse pictográfico.</p><p>São cenas emotivas em relação às vitórias ou derrotas, fatos inusitados e engra-</p><p>çados, além de poses belíssimas possíveis graças ao caráter extraordinário e sobre-</p><p>-humano do Esporte.</p><p>Importante!</p><p>O fotógrafo de surfe precisa de um equipamento especial à prova d’água para sua câme-</p><p>ra e objetivas. Além disso, precisa saber nadar muito bem, entender o deslocamento das</p><p>ondas, as dinâmicas e os movimentos dos surfistas no mar, para conseguir realizar fotos</p><p>como esta, a seguir, muito próxima da ação.</p><p>Você Sabia?</p><p>Figura 1 – Captura de um tubo, manobra de extrema dificuldade no surfe</p><p>Fonte: Getty Images</p><p>12</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>13</p><p>Histórias em Fotografias</p><p>Conforme Sousa (2002, p. 127), “As histórias em fotografias são um género fo-</p><p>tojornalístico em que uma série de imagens se integram num conjunto que procura</p><p>constituir um relato compreensivo e desenvolvido de um tema”.</p><p>Trata-se de uma abordagem que deriva da fotografia documental e, geralmente, tem</p><p>como objetivo abordar temas sociais, histórias de vida, questões densas e complexas.</p><p>Por conta dessas características, é considerado um gênero nobre, por meio do</p><p>qual os fotojornalistas mostram seu talento de narradores e intérpretes sociais.</p><p>As coleções fotográficas apresentadas</p><p>em caráter histórico possuem potencial</p><p>para sintetizar uma época, uma região, uma etnia ou um acontecimento marcante,</p><p>pois apresentam diferentes facetas da realidade, recortes produzidos e, posterior-</p><p>mente, editados com muito cuidado, a fim de criar um arranjo narrativo único, que</p><p>faça uso discreto do texto, deixando para o desencadeamento das fotografias o</p><p>sentido privilegiado.</p><p>Embora seja comum a utilização de uma pose da série como fotografia de notícia,</p><p>feature ou retrato, o modelo de trabalho para as histórias em fotografia é diferente.</p><p>Não é comum que um fotojornalista saia para fazer um retrato e decida, no</p><p>caminho, compor histórias. No geral, para a criação das histórias, há outro tipo</p><p>de aproximação e relação entre fotojornalista e personagens, que gira em torno de</p><p>certa intimidade e parceria.</p><p>Algumas histórias clássicas, como as fotografias de Getúlio Vargas realizadas por</p><p>Manzon, na revista O Cruzeiro, ou os ensaios marcantes de Dorothea Lange para</p><p>o FSA, exibem essa atmosfera de confiança.</p><p>A relação de cumplicidade exigida por tais projetos demanda mais tempo e</p><p>dedicação do fotógrafo. Sobretudo, quando os temas são polêmicos, dolorosos ou</p><p>podem expor a intimidade dos personagens.</p><p>Para criar uma história marcante, é necessário ir além do simples registro, na</p><p>direção de um mergulho quase etnográfico, profundo e imersivo.</p><p>Mas apesar dessa dimensão de entrega, contar com a técnica será importante, por</p><p>isso vale seguir o esquema básico para histórias em fotografia, proposto por Sousa:</p><p>As picture stories usualmente reúnem cinco tipos de fotografias: (1) pla-</p><p>nos gerais globalizantes em que participam os principais elementos signi-</p><p>ficativos, (2) planos médios e de conjunto das acções principais, (3) gran-</p><p>des planos e planos de pormenor de detalhes significativos do meio, dos</p><p>sujeitos e das acções, (4) retratos dos sujeitos, em close-up (grande plano)</p><p>ou noutros planos, como o plano americano (corte acima dos joelhos)</p><p>e (5) fotografia de encerramento. Os planos gerais globalizantes devem</p><p>procurar situar o observador e mostrar-lhe, de preferência numa única</p><p>imagem, a essência da história. (SOUSA, 2002, p. 129)</p><p>13</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>A fotorreportagem é uma categoria das histórias em fotografia, cujo “[...] objecti-</p><p>vo essencial (...) é, geralmente, situar, documentar, mostrar a evolução e carac-</p><p>terizar desenvolvidamente uma situação real e as pessoas que a vivem” (SOUSA,</p><p>2002, p. 131, grifo do autor).</p><p>Além dela, a foto-ensaio é outra maneira de criar narrativas, mas imprimindo</p><p>mais análise e opinião sobre as situações relatadas, normalmente por meio de tex-</p><p>tos mais longos e críticos.</p><p>Nos dois casos, é importante levar em conta que uma história possui um fio</p><p>narrativo, possui início, meio e fim, personagens, cenários, conflitos, resoluções,</p><p>dramas materiais e psicológicos, ou seja, não será a reunião ao acaso de cinco foto-</p><p>grafias que constituirão uma história. É preciso argumentar por meio das imagens.</p><p>No livro Fotoetnografia, da Biblioteca Jardim, o pesquisador Luiz Eduardo Achutti propõe</p><p>uma narrativa científica baseada majoritariamente em fotografias. No trabalho, ele destaca</p><p>a importância da imagem como modo de investigar e aprender, sem que a legenda ou o</p><p>texto condicionem as interpretações.</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>Ilustrações Fotográficas</p><p>Ao levarmos em conta que as ilustrações são normalmente “fotografias produ-</p><p>zidas” (CAPOVILLA, 2013, p. 243), é comum o questionamento sobre até que</p><p>ponto podem integrar um gênero fotojornalístico.</p><p>Pode uma fotografia arranjada ser considerada Jornalismo?</p><p>Na realidade, as ilustrações ganham as páginas sem o teor informativo dos ou-</p><p>tros gêneros, mas para compor graficamente os espaços em termos estéticos. Por</p><p>isso, são utilizadas em matérias mais amenas ou em temas duros que não possuem</p><p>vocação para boas fotos, como notícias de índices econômicos, por exemplo.</p><p>As ilustrações podem ser fotografias isoladas ou fotomontagens, com várias fotos</p><p>ou fotos acompanhadas de arte, texto e/ou grafismos diversos. Embora tenham esse</p><p>tom ameno, podem trazer um ponto de vista ou uma opinião em relação às matérias,</p><p>quando são consideradas “foto-opinião ou foto-análise” (SOUSA, 2002, p. 126).</p><p>Um exemplo muito conhecido dessa utilização foram as capas da revista inglesa</p><p>do The Economist, com fotomontagens do Cristo Redentor em ação, ora decolan-</p><p>do como foguete, ora em voo desajustado e em queda livre.</p><p>14</p><p>Jéssica Batista</p><p>Sublinhado</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>15</p><p>Fotografia Flagrante e Foto-Denúncia</p><p>Apesar de não ser considerado um gênero estabelecido, podemos afirmar</p><p>que existe uma nova modalidade de abordagem do fotojornalismo, nomeada por</p><p>Capovilla de “fotografia flagrante ou paparazzi”.</p><p>Segundo a autora, “Imagens não autorizadas de pessoas famosas ou com algu-</p><p>ma relevância social” que exibem em sua forma e composição o próprio processo</p><p>amador ou de difícil captação (2013, p. 244).</p><p>A diferença dessas fotografias para as candid cameras do início do século é sua</p><p>proliferação, principalmente, nas Revistas de fofoca e de política, com a assunção</p><p>radical de sua forma (granulada, desfocada, grosseira) e processo de realização</p><p>(sem autorização).</p><p>Uma estética que apareceu por meio dos usos amadores e multideterminados</p><p>das câmeras (segurança, monitoramento, automatização etc.), mas que estaria ago-</p><p>ra invadindo redações como uma espécie de diferencial estético ou ganho de reali-</p><p>dade factual (discutiremos a seguir as questões éticas de tal prática).</p><p>No fundo, esse novo gênero dialoga com o que Kobré (2011, p. 204) intitula</p><p>foto-denúncia, praticada ao longo de toda a história da Fotografia, como uma es-</p><p>tratégia de transformar o mundo, de apresentar ao grande público a face oculta da</p><p>Sociedade, seja pela prática de crimes, seja pela desolação, seja pelo abandono dos</p><p>sujeitos pelos poderes instituídos (trabalhos de Riis, Hine, Lange).</p><p>A diferença, no entanto, seria o modo de esvaziamento do conteúdo da denún-</p><p>cia, na direção da banalização do flagrante como uma prática comum: não há o que</p><p>fazer ou a quem recorrer, todos estamos sendo observados.</p><p>Manipulação de imagens e ética jornalística</p><p>Na Unidade I, vimos que a realidade presente nas fotografias jornalísticas é pro-</p><p>duto do encontro entre fotógrafo e motivos fotografados, marcados pelos contextos</p><p>socioculturais e históricos de sua época, bem como dos objetivos do registro.</p><p>Como jornalista, você precisa ter sempre em mente que não existe uma apre-</p><p>ensão pura ou total dos fatos, mesmo em termos de imagens registradas por lentes</p><p>objetivas e câmeras.</p><p>A crença nas imagens fotográficas depende de um sistema que vincula produ-</p><p>ção, circulação e consumo. Se, no final do século XIX, as pessoas duvidavam ou</p><p>15</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>atribuíam aspectos mágicos para as incipientes tecnologias de registro, hoje, as</p><p>Tecnologias avançaram tanto, a ponto de alterarem a própria noção do que é real.</p><p>O centro desse debate é a noção de manipulação fotográfica. Quais são os limi-</p><p>tes que o fotógrafo tem ao manipular uma imagem? Onde começa e onde termina</p><p>esse processo?</p><p>Grosso modo, podemos dizer que as manipulações são as alterações ou monta-</p><p>gens após o registro fotográfico, no antigo Laboratório Fotoquímico, fazendo uso</p><p>de sobreposições, ou na transmissão das fotografias para os gravuristas dos primei-</p><p>ros Jornais, até a chegada dos softwares de manipulação de hoje.</p><p>Mas a interferência ou a presença do fotógrafo nas cenas fotografadas é muito</p><p>anterior à finalização da imagem, pois começa ainda no escritório, na definição da</p><p>pauta ou nas primeiras listas de imagens que se deseja produzir.</p><p>Por conta disso, há uma</p><p>dimensão ética que atravessa a prática do fotojornalismo</p><p>em todas as suas etapas, da pauta à publicação, que varia de acordo com os obje-</p><p>tivos da produção, os veículos de circulação, as culturas em suas épocas históricas.</p><p>A seguir, refletiremos sobre os limites éticos dessa prática, com base nos estudos</p><p>de Kobré (2011) e de Sousa (2002).</p><p>Para Kobré, podemos abordar a ética no fotojornalismo segundo duas perspec-</p><p>tivas: a utilitarista e a absolutista.</p><p>No primeiro caso, podemos afirmar que o fotojornalismo, como bem público,</p><p>pode e deve ser utilizado para transformar a Sociedade, para apresentar ao públi-</p><p>co situações diversas que auxiliem em melhorias a partir do acesso a informações</p><p>de qualidade.</p><p>A posição utilitarista reconhece que o fotojornalismo oferece informações</p><p>importantes para uma sociedade democrática. A fotografia pode mostrar</p><p>os horrores da guerra, a tragédia de um acidente e as dificuldades da</p><p>pobreza. (KOBRÉ, 2011, p. 354)</p><p>Segundo essa perspectiva, o registro singular apresentado nesses casos deve contri-</p><p>buir para informar e conscientizar a coletividade, numa espécie de circuito educativo.</p><p>Por outro lado, a visão absolutista afirma que não é possível relativizar o direito</p><p>à privacidade de todo e qualquer cidadão, ou seja, mesmo que o registro esteja à</p><p>serviço de um “bem maior”, deve ser evitado se não for consentido.</p><p>Ainda segundo Kobré, o meio-termo entre essas duas abordagens é que ele</p><p>chama de regra de ouro, um preceito exposto pela seguinte frase: “faça aos outros</p><p>aquilo que você gostaria que fizessem com você” (KOBRÉ, 2011, p. 354).</p><p>Nessa linha de abordagem, o fotojornalista seria um frequente praticante da</p><p>empatia, ao realizar o exercício diário de imaginar o que seus motivos e objetos sen-</p><p>16</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>17</p><p>tem. Não é uma tarefa fácil, mas, como um preceito, é importante levar em conta</p><p>esse aspecto, já que no cotidiano a tendência e a pressão profissional conduzem o</p><p>fotógrafo sempre ao utilitarismo.</p><p>Você é pago para trazer registros e imagens, como vai viver se respeitar demais</p><p>a dor do próximo e não fotografar ninguém que sofre?</p><p>Esse é o primeiro dilema.</p><p>Há uma distinção clara entre ética e legalidade. Existem procedimentos e postu-</p><p>ras que infringem a Lei, portanto são sempre reprováveis e puníveis.</p><p>Nesse sentido, vale relembrar dois artigos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros:</p><p>Art.° 5. A obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação e</p><p>a aplicação de censura ou autocensura são um delito contra a sociedade.</p><p>(...)</p><p>Art° 7. O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos</p><p>fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos</p><p>e sua correta divulgação.</p><p>Art. 12. O jornalista deve:</p><p>V – rejeitar alterações nas imagens captadas que deturpem a realidade,</p><p>sempre informando ao público o eventual uso de recursos de fotomonta-</p><p>gem, edição de imagem, reconstituição de áudio ou quaisquer outras ma-</p><p>nipulações. (CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS,</p><p>FENAJ, 2007)</p><p>O fotógrafo de Jornalismo trabalha na apuração de fatos e produz conteúdo com</p><p>o objetivo de informar com verdade. As imagens resultantes de seu esforço devem</p><p>ser pautadas por esses preceitos ou correm o risco de violar os sistemas de verdade,</p><p>credibilidade e legalidade de sua prática.</p><p>O fotojornalista, embora livre para registrar, tem deveres com a Sociedade, que</p><p>lhe confere essa espécie de voto de confiança, vez que, via de regra, a prática do</p><p>fotógrafo é solitária, seja no registro, seja na pós-produção.</p><p>Mas onde está o espaço para autoria frente a esses limites tão justos? Como um</p><p>fotógrafo se diferencia vivendo de registrar fatos que possuem tamanhas limitações?</p><p>Na realidade, o processo não é tão engessado assim e varia de acordo com o</p><p>gênero fotojornalístico.</p><p>Kobré chama de continuum de controle o espaço de criatividade do fotojornalis-</p><p>ta em relação aos fatos (quadro a seguir), quanto mais próximo das fotos de notícias,</p><p>hard news e spot news, menor deve ser o controle e a intromissão do fotógrafo</p><p>sobre a situação relatada.</p><p>17</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>A tabela a seguir é inspirado na proposta de Kobré (2011, p. 359), que propõe uma graduação</p><p>do controle admissível à ação do fotógrafo no campo de trabalho. Vamos considerar que</p><p>o nível de controle aumenta à medida em que as pautas e as situações fotografadas são</p><p>mais previsíveis e se distanciam do impacto social sensível aos fotografados. Assim, temos</p><p>as câmeras ocultas e flagrantes no nível zero de controle, até as ilustrações fotográficas, to-</p><p>talmente manipuláveis. A tabela não é exatamente igual ao do autor, mas adaptado à nossa</p><p>divisão dos gêneros fotojornalísticos.</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>Tabela 1 – Continuum de controle fotojornalístico</p><p>Nível de</p><p>controle</p><p>Gênero Fotojornalístico Descrição</p><p>0 Fotografia flagrante ou</p><p>foto-denúncia</p><p>Embora Kobré apresente a câmera oculta automatizada como nível 0 de controle,</p><p>propomos os flagrantes como registro primeiro, em que o fotógrafo conta com a</p><p>discrição para efetuar a pose adequada ao objetivo: flagrar</p><p>1 Fotografia esportiva Não há controle sobre as competições esportivas, exceto quando são features de</p><p>Esporte ou fotos de público e bastidores</p><p>2 Fotografia de notícias</p><p>É possível exercer controle em coberturas previstas, mas muito menos em</p><p>coberturas imprevistas. Apesar de ser comum algum tipo de intervenção, o</p><p>fotógrafo não deve alterar cenas ou pedir aos retratados que posem.</p><p>3 Variedades ou Features</p><p>O continuum é incerto, vez que é a qualidade estética que valida a fotografia</p><p>de variedades. Em termos éticos, para o público, as restrições são poucas, mas</p><p>elas se intensificam entre os fotógrafos. A imagem “sem filtro” expressaria uma</p><p>habilidade ímpar, mas, às vezes, um ajuste aqui ou ali, pode ser a diferença entre</p><p>a foto comum e o momento extraordinário.</p><p>4 Retratos e histórias</p><p>em fotografias</p><p>De modo geral o fotógrafo orienta poses, conduz os processos, dirige os</p><p>retratados a fim de obter imagens expressivas e representativas. Nos casos das</p><p>histórias, em registros de situações graves e intensas, o controle deve ser menor</p><p>a fim de evitar o sensacionalismo.</p><p>5 Ilustrações ou</p><p>fotomontagem</p><p>Aqui o controle é total, já que a fotografia está à serviço da ilustração. A</p><p>criatividade é o diferencial e isso exige produção. Normalmente, os leitores</p><p>compreendem as peculiaridades dessas fotografias e não esperam fidelidade ou</p><p>relação direta com a realidade.</p><p>Sempre é bom lembrar que o ato de fotografar, como afirma Cartier-Bresson</p><p>(ROUILLÈ, 2009), é uma escolha, um recorte, é autoria. Mas para além do en-</p><p>quadramento, da iluminação, da composição fotográfica, o fotógrafo interfere nas</p><p>cenas fatualmente, sobretudo quando se aproxima dos sujeitos fotografados e cria</p><p>uma relação com eles.</p><p>Para uma fotografia com maior impacto estético, fotógrafos criam ambienta-</p><p>ções, limpam cenas, fazem ajustes aqui e ali, sugerem poses. É claro que diante de</p><p>um protesto ou uma situação tensa e terrível, será mais complicado atuar, mas pau-</p><p>tas mais amenas, contam, muitas vezes, com a intromissão do olhar do fotógrafo</p><p>sobre a cena.</p><p>Para quem atua no dia a dia, essas atitudes se naturalizam e, quando menos se</p><p>espera, você pode estar pedindo para um autor de um crime hediondo posar para</p><p>sua câmera.</p><p>18</p><p>19</p><p>Há limites que precisam ser considerados, sempre caso a caso. Não é errado</p><p>fazer alguns ajustes, desde que se leve em conta os preceitos da verdade jornalística,</p><p>do teor de informação imposto pelas manipulações. É válido notar, porém, que, em</p><p>tempos de transparência, alterações desse tipo são cada vez menos aceitáveis.</p><p>Em tempos de pós-verdade, os fotojornalistas se sentem impelidos a enrijecer</p><p>os limites de sua ação, pois seu trabalho sofre pressões sociais</p><p>e está sob a mira</p><p>da opinião pública. Essa mudança não é de hoje, já que as encenações, comuns</p><p>ao longo do século XX, perderam seu espaço gradualmente, como afirma Kobré</p><p>(2011, p. 357):</p><p>Recriações de situações de foto que eram aceitáveis por todos profissio-</p><p>nais na década de 1960 tornaram-se anátema para um grande segmento</p><p>da comunidade profissional no final da década de 1980. Hoje, os fotógra-</p><p>fos estão perdendo seus empregos por ações que provavelmente foram</p><p>aceitáveis no passado.</p><p>Em 2014, o fotógrafo mexicano Narciso Contreras foi demitido da agência fotográfica</p><p>Associated Press (AP), após admitir que manipulou a fotografia que o levou a ganhar o prê-</p><p>mio Pulitzer de 2013. Na manipulação, aparentemente simples, Narciso apagou do canto es-</p><p>querdo inferior da imagem uma câmera fotográfica que vazou no momento do clique de um</p><p>soldado sírio, armado com um rifle enquadrado em grande plano. A declaração da Associated</p><p>Press após a demissão e a exclusão de todas as fotografias de Narciso dos Bancos de Imagem</p><p>veio em sentido educativo, afirmando que por menor que sejam as alterações nas imagens,</p><p>são intoleráveis frente aos preceitos de credibilidade e responsabilidade da agência perante</p><p>o mundo. Ao utilizar a edição para copiar partes do chão a fim de ocultar um objeto presente</p><p>na imagem original, Narciso infringiu o Código de Ética da AP e foi punido a modo de exem-</p><p>plo. Leia mais em: http://bit.ly/35XqwRS</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>O outro lado dessa moeda são as situações limites presenciadas pelos fotógrafos,</p><p>que precisam decidir, em fração de segundos, se agem para alterar a história ou se</p><p>mantém o dedo no obturador. Um dos casos mais emblemáticos foi a autoimolação</p><p>do monge no Vietnã, fotografada por Malcolm Browne (KOBRÉ, 2011, p.448).</p><p>Em termos utilitaristas, podemos afirmar que o fotógrafo agiu eticamente, mas</p><p>até que ponto as fotografias contribuíram para mudar o mundo? Estamos vivendo</p><p>melhor depois delas? Valeu o esforço?</p><p>Uma vez na função de repórter fotográfico, o sujeito está posicionado como uma</p><p>espécie de entidade neutra, de passagem por conflitos, devastações e horrores.</p><p>Como separar o ímpeto profissional da sensibilidade humana frente a tais fatos?</p><p>Não se trata apenas de sangue frio ou de estômago, como dizem, mas, nesses</p><p>casos, estão em jogo a rapidez de raciocínio e a consciência plena do papel do</p><p>fotojornalista na Sociedade.</p><p>19</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>Repórteres de Guerra, Steven Silver (2012) – Nesse drama, baseado no livro The Bang</p><p>Bang Club, de Greg Marinovich e João Silva, o tema são as coberturas fotográficas das pri-</p><p>meiras eleições democráticas da África do Sul. Entre as diferentes situações apresentadas,</p><p>em torno da busca por imagens e relatos precisos dos eventos, aparece o caso do fotojor-</p><p>nalista sul-africano Kevin Carter. Autor de uma Fotografia marcante, vencedora do prêmio</p><p>Pulitzer de Fotografia Especial, em 1994, Carter acabou se suicidando após ser massacrado</p><p>pela opinião pública e entrar em depressão. A fotografia em questão é de uma criança su-</p><p>danesa em estado de desnutrição gravíssima, que agoniza em primeiro plano na fotografia,</p><p>enquanto um urubu aguarda sua morte pousado ao lado. Uma imagem que rodou o mundo</p><p>e que, provavelmente, você já viu. Após essa ampla divulgação, Carter foi acusado por não</p><p>ter agido na situação a fim de salvar a criança, embora no momento estivesse entre outros</p><p>fotojornalistas. O dilema foi tão avassalador que Carter não aguentou a pressão e deu fim à</p><p>própria vida no auge de sua carreira, aos 33 anos de idade.</p><p>Leia mais em: http://bit.ly/2N35qsD</p><p>Ex</p><p>pl</p><p>or</p><p>Existe Um Tema Que Não</p><p>Deve Ser Fotogrado?</p><p>A Constituição Brasileira e o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros existem</p><p>para garantir a atuação dos fotojornalistas, desde que estejam pautados pela ética,</p><p>com objetivos de informar a população à serviço do interesse público. Frente a tal</p><p>garantia, o fotógrafo goza de certa liberdade de ação, nas mais diferentes situações.</p><p>Mas como vimos no caso de Kevin Carter, ao registrar e publicar uma imagem</p><p>para o mundo, ele não tem mais controle sobre os efeitos e significados produzidos.</p><p>A princípio, as decisões mais importantes dos fotógrafos são: fotografar ou não</p><p>fotografar, publicar ou não publicar.</p><p>É preciso levar em conta que a ação do fotógrafo é pública. Em geral, ele é per-</p><p>cebido no campo, portanto, raramente consegue ocultar seu ofício (exceto no uso</p><p>da câmera oculta proposital), como afirma Sousa:</p><p>No que respeita ao fotojornalismo, há uma situação que merece um re-</p><p>paro: enquanto um redactor frequentemente pode abordar um assunto</p><p>no conforto do seu anonimato, um foto-repórter geralmente necessita de</p><p>actuar em campo aberto, no local dos acontecimentos, com as máquinas</p><p>à vista de todos. (SOUSA, 2002, p. 138)</p><p>20</p><p>21</p><p>Em alguns momentos dessa ação, o fotógrafo poderá se sentir intimidado, ou</p><p>até mesmo compelido a não agir, frente a situações de extrema fragilidade física e</p><p>mental dos sujeitos ou casos de violência ou pressão.</p><p>Embora não seja um julgamento fácil de executar em frações de segundo, deverá</p><p>levar em conta seu Código de Ética:</p><p>Art. 11. O jornalista não pode divulgar informações:</p><p>I – visando o interesse pessoal ou buscando vantagem econômica;</p><p>II – de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores huma-</p><p>nos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes. (CÓDIGO DE</p><p>ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS, FENAJ, 2007)</p><p>Se conseguir realizar essa leitura e perceber como a morbidez e o sensacionalismo</p><p>se manifestam em termos de imagens, terá bom embasamento para sua atuação.</p><p>Além disso, o fotojornalista deve refletir sobre o tipo de relação que estabelece</p><p>com as pessoas, para não ferir privacidade e intimidade sem motivos justificáveis</p><p>ao interesse humano.</p><p>A regra de ouro é colocar-se no lugar do outro e perguntar: pela coletividade,</p><p>eu aceitaria me expor para mostrar essa cena?</p><p>Direitos do autor</p><p>Um último aspecto ético da profissão do fotojornalismo diz respeito ao direito de</p><p>autoria sobre as imagens produzidas.</p><p>O fotógrafo é o “dono” das imagens que produz, mesmo quando trabalha com</p><p>carteira assinada para um veículo, no entanto, o uso de suas fotografias é determi-</p><p>nado por um contrato de licenciamento no qual devem constar:</p><p>A discriminação da obra (que tipo de imagem está sendo licenciada); o</p><p>prazo para publicação e circulação; qual o veículo em que será publicada;</p><p>sua abrangência quanto à circulação (municipal, estadual, nacional ou</p><p>internacional); valor a receber pelo licenciamento e multa por descumpri-</p><p>mento do contrato. (ARFOC, 2019)</p><p>Por meio do contrato, o autor cede o Direito Patrimonial, ou seja, o uso da obra</p><p>com fins comerciais, total ou parcialmente, para sempre ou por tempo determina-</p><p>do, seja um fotógrafo contratado ou um free-lancer. Já o Direito Moral, o direito</p><p>do autor de ter seu nome citado toda vez que a obra for utilizada, é “invendável,</p><p>irrenunciável e inalienável” (ARFOC, 2019).</p><p>21</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>Jéssica Batista</p><p>Realce</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>Em caso de desvios de conduta de Editoras, Empresas ou Pessoas Físicas, a Lei</p><p>brasileira protege o autor que pode ir à justiça exigir seus direitos por meio de uma</p><p>ação por Danos Morais.</p><p>Frente à disseminação de imagens e à apropriação indébita, muito comum, so-</p><p>bretudo na Internet, é importante que o autor mantenha organizado seu acervo,</p><p>que utilize marcas d’água e versões em baixa resolução para visualização antes da</p><p>venda, que preserve sua produção autoral para que seja respeitado.</p><p>Importante!</p><p>As Leis brasileiras que regem o Direto Autoral são as seguintes:</p><p>• Constituição (Artigo 5º, Incisos XXVII e XXVIII; Artigo 170, Inciso II);</p><p>• Código Penal (Decreto – Lei n.º 2.848 de 7 de dezembro de 1940);</p><p>• Lei n.º 5.988, de 14 de dezembro de 1973;</p><p>• Lei n.º 5.250, de 9 de fevereiro de 1967;</p><p>• Lei n.º 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.</p><p>Importante!</p><p>22</p><p>23</p><p>Material Complementar</p><p>Indicações para saber mais sobre</p><p>os assuntos abordados nesta Unidade:</p><p>Sites</p><p>International Association of Art Photographers</p><p>Concursos fotográficos.</p><p>http://bit.ly/2Jc6N7l</p><p>iPhoto Channel | Dicas de fotografia</p><p>http://bit.ly/2Jd1tR3</p><p>NPPA – National Press Photographers Association</p><p>Associação dos fotógrafos de imprensa dos EUA.</p><p>http://bit.ly/2Na5abw</p><p>ARFOC – Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro</p><p>http://bit.ly/2PbSGCA</p><p>Livros</p><p>A ética no fotojornalismo da era digital</p><p>ALMEIDA, C. M. T. de; BONI, P. C. A ética no fotojornalismo da era digital. In:</p><p>Discursos Fotográficos, Londrina, v. 2, n. 2, p.11-42, 2006.</p><p>Uma história crítica do fotojornalismo ocidental</p><p>SOUSA, J. P. Uma história crítica do fotojornalismo ocidental. Florianópolis:</p><p>Letras Contemporâneas, 2000.</p><p>23</p><p>UNIDADE O Fotojornalismo em Ação</p><p>Referências</p><p>ARFOC – ASSOCIAÇÃO DOS REPÓRTERES FOTOGRÁFICOS PROFISSIONAIS</p><p>DO RIO DE JANEIRO, 2019. Direito Autoral. Disponível em: <https://arfoc.org.</p><p>br/index.php/direito-autoral>. Acesso em: 4 ago. 2019.</p><p>CAPOVILLA, J. O fotojornalismo nas revistas: do surgimento às novas práticas. In:</p><p>A revista e o seu jornalismo. Porto Alegre: Penso, 2013. p. 235-48.</p><p>FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Código de Ética dos</p><p>Jornalistas Brasileiros, 2007. Disponível em: <https://fenaj.org.br/wp-content/</p><p>uploads/2014/06/04-codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.pdf>. Acesso</p><p>em: 4 ago. 2019.</p><p>FONTCUBERTA, J. E. A câmera de pandora. A fotografi@ depois da fotografia.</p><p>São Paulo: Gustavo Gilli, 2012.</p><p>KOBRÉ, K. Fotojornalismo: uma abordagem profissional. Rio de Janeiro:</p><p>Elsevier, 2011.</p><p>MARTÍN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e</p><p>hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.</p><p>ROUILLÉ, A. A fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo:</p><p>Senac São Paulo, 2009.</p><p>SOUSA, J. P. Fotojornalismo: uma introdução à história, às técnicas e à linguagem</p><p>da fotografia na imprensa. Porto: Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação</p><p>(BOCC), 2012. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-</p><p>fotojornalismo.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2019.</p><p>24</p>