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<p>AULA 4</p><p>ERGONOMIA</p><p>Prof.ª Silvana Stumm</p><p>2</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Nesta aula, abordaremos assuntos mais específicos da nossa disciplina.</p><p>Por serem temas mais aprofundados, sugere-se que, além da aula, você pesquise</p><p>e leia artigos, estudos e outros materiais que contribuam para a compreensão das</p><p>temáticas. Com a visão holística da ergonomia iremos explorar e conceituar</p><p>sistemas, falar sobre métodos de análise e, para finalizar, teremos exemplos de</p><p>ferramentas ergonômicas. Nossos tópicos serão os seguintes: sistemas</p><p>ergonômicos; sistema humano-máquina-ambiente; métodos ergonômicos; análise</p><p>ergonômica do trabalho; outros métodos de avaliação ergonômica</p><p>TEMA 1 – SISTEMAS EM ERGONOMIA</p><p>Segundo Oliveira (1986), “sistema é um conjunto de partes integrantes e</p><p>interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado</p><p>objetivo e efetuam determinada função”. Chiavenato (1987) o define como:</p><p>um conjunto de elementos interdependentes e interagentes; um grupo</p><p>de unidades combinadas que formam um todo organizado e cujo</p><p>resultado (output) é maior do que o resultado que as unidades poderiam</p><p>ter se funcionassem independentemente.</p><p>Como a nossa disciplina é de ergonomia, vamos citar a abordagem que</p><p>Chiavenato (1987) faz, entendendo o ser humano também como ���um sistema que</p><p>consiste em um número de órgãos e membros, e somente quando estes</p><p>funcionam de modo coordenado o homem é eficaz”. E a ergonomia estuda a</p><p>interação entre o ser humano e o trabalho no ambiente laboral. Todo esse sistema</p><p>opera em conjunto.</p><p>Os estudos ergonômicos, conforme Iida e Buarque (2016), fundamentam-</p><p>se na teoria de sistemas que, segundo Chiavenato (1987), produz teorias e</p><p>formulações conceituais com capacidade de criar condições de aplicações na</p><p>realidade empírica. No entanto, para a ergonomia, afirmam Iida e Buarque (2016),</p><p>adota-se o conceito biológico de sistema: “conjunto de elementos (ou</p><p>subsistemas) que interagem entre si, evoluem no tempo, seguindo certos</p><p>procedimentos (processos, normas, regras ou leis), tendo um objetivo em</p><p>comum”. Os aspectos que caracterizam um sistema dividem-se em componentes,</p><p>interações entre os subsistemas, contínua evolução, existência de procedimentos,</p><p>regras ou normas e alcance das metas e objetivos.</p><p>3</p><p>Em relação aos elementos que compõem o sistema, conforme Iida e</p><p>Buarque (2016), temos:</p><p>a. Fronteira – limites do sistema;</p><p>b. Subsistemas – contidos na fronteira;</p><p>c. Interações – relações entre os subsistemas;</p><p>d. Entradas ou inputs - variáveis independentes;</p><p>e. Saídas ou outputs - variáveis dependentes;</p><p>f. Processamento – atividades que interagem e ambiente – variáveis que</p><p>podem influenciar o desempenho do sistema; e</p><p>g. Ambientes – variáveis dentro ou fora da fronteira sem relação direta com o</p><p>processamento, mas podem influir no desempenho do sistema</p><p>Figura 1 – Exemplo de sistema</p><p>Crédito: Inspiring/Shutterstock.</p><p>Interpretando de modo bastante simples a Figura 1, vamos imaginar que</p><p>estão sendo inseridos dados ou inputs para a fabricação de um novo</p><p>medicamento. Esses dados são processados em diversas operações e resultam</p><p>em um produto final ou outputs. Se quisermos entender uma das operações ou</p><p>subsistemas de forma particular, como a ação de determinado componente,</p><p>colocamos uma fronteira, ou seja, delimitamos o componente e o processamos</p><p>como um novo sistema, dentro do sistema original. É importante destacar que</p><p>existe relação entre os subsistemas.</p><p>Entrada</p><p>Saída</p><p>Sistema Subsistema</p><p>com fronteira</p><p>4</p><p>TEMA 2 – SISTEMA HUMANO-MÁQUINA-AMBIENTE</p><p>Agora que já estudamos os sistemas, vamos ao nosso novo assunto.</p><p>Todavia, antes de abordá-lo, é importante relembrar o objetivo da NR 17: definir</p><p>parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às</p><p>características psicofisiológicas dos trabalhadores, a fim de promover o máximo</p><p>de conforto, segurança e desempenho eficiente.</p><p>Kruger (2007) considera a reciprocidade entre o ser humano e a máquina,</p><p>relação em que o poder decisório cabe a quem opera a máquina. Dul e</p><p>Weerdmeester (2017) lembram que “a fronteira entre o homem e a máquina é</p><p>chamada de interface”.</p><p>Para Iida e Buarque (2016), o sistema humano-máquina-ambiente tem</p><p>como unidade básica de estudo a ergonomia. Nesse sistema, ser humano e</p><p>máquina interagem com a finalidade de realizar um trabalho. Máquina, afirmam</p><p>Iida e Buarque (2016), pode ser entendida como “qualquer tipo de artefato usado</p><p>pelo ser humano para realizar um trabalho ou melhorar o seu desempenho.</p><p>Portanto, pode ser desde um simples lápis ou chave de fenda até complexos</p><p>computadores e aeronaves”. Iida e Buarque (2016) descrevem a existência de</p><p>dois tipos de máquinas:</p><p>• Tradicionais: usadas para trabalhos físicos como ferramentas e veículos; e</p><p>• Cognitivas: usadas no processamento de informações, como os</p><p>computadores.</p><p>Como acontece a atuação humana nessas máquinas? As informações</p><p>recebidas são captadas pelos órgãos sensoriais e se processam no sistema</p><p>nervoso central (SNC). Com base na interpretação dessas informações é que</p><p>podemos decidir. A decisão se transforma em movimentos musculares e, desse</p><p>modo, a atuação humana na máquina se dará por intermédio de dispositivos de</p><p>controle. Conforme Kruger (2007), a máquina emitirá outra sucessão de</p><p>informações, numa contínua retroalimentação, permitindo ao operador alterar,</p><p>corrigir, além de reduzir eventuais desvios e discrepâncias. Fazem parte de todo</p><p>esse processo o ser humano, a máquina, o ambiente, as informações, a</p><p>organização e as consequências (acidentes de trabalho, a exemplo).</p><p>Os dispositivos de controle, segundo Dul e Weerdmeester (2017), podem</p><p>ser fixos ou remotos. Os fixos devem ser diferentes entre si para facilitarem a</p><p>identificação, sem a necessidade de visualizá-los. O correto é que os controles</p><p>5</p><p>tenham formatos variados, sejam de materiais e rugosidades diferentes sendo</p><p>assim possível reconhecê-los pelo tato.</p><p>Veja, a seguir a imagem de um painel com controles fixos (figura 1). Repare</p><p>na cor, no tamanho, na disposição dos controles. Essa diferenciação é</p><p>fundamental para evitar erros e acidentes.</p><p>Figura 2 – Controles fixos</p><p>Créditos: Hafakot/Shutterstock.</p><p>Diferentes em relação aos fixos, os controles remotos são acionados à</p><p>distância, tornando seu uso mais flexível e proporcionando mais liberdade de ação</p><p>ao usuário. Há, ainda, os controles que dispensam o uso das mãos. São</p><p>acionados por gestos, olhares ou fala como é o caso de operações de explosão</p><p>(Dul; Weermeester, 2017). Um exemplo atual de controle a distância diz respeito</p><p>à indústria 4.0, em que cada vez mais o uso de tecnologia se faz presente.</p><p>Figura 3 – Controle remoto</p><p>Créditos: Ico Maker/Shutterstock.</p><p>6</p><p>Além dos controles fixos e remotos, vamos falar um pouco sobre</p><p>mostradores. De acordo com Iida e Buarque (2016), “mostradores são os</p><p>instrumentos (partes da máquina) que apresentam informações ao operador no</p><p>sistema humano-máquina-ambiente”. Dividem-se em visuais e auditivos e podem</p><p>ser classificados, de um modo geral, em variáveis, escala, movimentos e</p><p>tecnologia, e permitem, entre si, combinações diversas. Dentre esses, vamos falar</p><p>sobre os variáveis.</p><p>Os mostradores variáveis dividem-se em quantitativos e qualitativos. Os</p><p>quantitativos são utilizados para informações mensuráveis, como leitura de</p><p>volume, pressão, peso, comprimento, temperatura, valor e outras informações que</p><p>sejam dimensíveis e subdividem-se em analógicos e digitais. O velocímetro de</p><p>alguns carros, por exemplo, é analógico, isto é, tem ponteiro ou uma escala móvel.</p><p>Outros têm velocímetro digital, mostrando a variação por meio de números. Os</p><p>digitais vêm substituindo gradativamente os analógicos, por serem mais fáceis e</p><p>precisos (Iida e Buarque, 2016). Entre os quantitativos temos, ainda, os estáticos,</p><p>habitualmente representados por gráficos de linhas ou</p><p>barras e cartazes, como as</p><p>placas de velocidade.</p><p>Figura 4 – Mostrador quantitativo analógico</p><p>Créditos: Nanahara Sung/Shutterstock.</p><p>7</p><p>Figura 5 – Mostrador quantitativo digital</p><p>Créditos: Gomolach/Shutterstock.</p><p>Os mostradores qualitativos são usados quando basta saber apenas o valor</p><p>aproximado da variável. Nesse tipo de mostrador, é possível acompanhar de que</p><p>forma esse valor evolui. Como exemplo, podemos citar a variação de temperatura</p><p>e de pressão (Iida; Buarque, 2016). Independentemente do mostrador a ser</p><p>utilizado, visual, auditivo ou em forma de documento, devemos lembrar que o seu</p><p>objetivo é informar algo, de modo claro e simples.</p><p>Figura 6 – Mostrador qualitativo (1)</p><p>Créditos: Daisy Daisy/Shutterstock.</p><p>8</p><p>Figura 7 – Mostrador qualitativo (2)</p><p>Créditos: Microone/Shutterstock.</p><p>Os movimentos dos mostradores, de acordo com Dul e Weerdmeester</p><p>(2017), devem ser compatíveis com os do controle. Acompanhe os três princípios,</p><p>que, segundo Iida e Buarque (2016, grifo nosso), regem os controles associados</p><p>aos mostradores.</p><p>• 1o princípio – movimentos rotacionais de controle no sentido horário</p><p>associam-se a movimentos de mostradores para cima e para a direita;</p><p>• 2o princípio – movimentos de controles e mostradores situados em</p><p>planos perpendiculares entre si, o mostrador segue o movimento da</p><p>ponta de um “parafuso” executado pelo controle, isto é, a rotação do</p><p>controle à direita afasta o mostrador e à esquerda aproxima; e</p><p>• 3o princípio – controles e mostradores executam movimentos no mesmo</p><p>sentido, no ponto mais próximo entre um e outro. É como se houvesse</p><p>uma engrenagem imaginária, em que o movimento de um deles</p><p>arrastasse o outro.</p><p>Para finalizar este nosso tema, vamos fazer uma abordagem breve, mas</p><p>não menos importante, sobre reflexo e estereótipo. Entende-se o reflexo, em</p><p>relação ao estímulo, como uma resposta automática e previsível. Em</p><p>contrapartida, define-se estereótipo como uma reação aprendida que se</p><p>estabelece como padrão. Segundo Dul e Weerdmester (2017), a compatibilidade</p><p>dos movimentos deve ser assegurada. Na sequência, você verá a descrição dos</p><p>movimentos considerados naturais, que são os estereótipos populares. Veja as</p><p>Figuras 8 e 9.</p><p>9</p><p>Figura 8 – Ultrassom</p><p>Créditos: Chistokolenko Svetlana/Shutterstock.</p><p>Figura 9 – Mostrador com comandos habituais</p><p>Créditos: Onemax/Shutterstock.</p><p>• Ligar: para cima, para a direita, afastando-se do usuário, sentido horário,</p><p>puxando para fora;</p><p>• Desligar: para baixo, para a esquerda, aproximando-se do usuário, sentido</p><p>anti-horário, pressionado;</p><p>• Aumentar: para cima, para a direita, afastando-se do usuário, sentido</p><p>horário, resistência crescente; e</p><p>10</p><p>• Diminuir: para baixo, para a esquerda, aproximando-se do usuário, sentido</p><p>anti-horário, resistência decrescente.</p><p>De modo simplificado, operamos as máquinas utilizando nossos reflexos e</p><p>conhecimentos aprendidos. Se você aciona um controle para a direita, no</p><p>mostrador o ponteiro irá para a direita. Se você movimentar uma alavanca para a</p><p>frente, para a direita e para cima, ligará determinado equipamento. Se fizer o</p><p>movimento contrário, isto é, alavanca para trás, em direção à esquerda e para</p><p>baixo, a máquina desligará.</p><p>TEMA 3 – MÉTODO ERGONÔMICO</p><p>De acordo com Dul e Weerdmeester (2017), o método ergonômico, além</p><p>da sua interdisciplinaridade, é aplicado em diversos tipos de projeto. É</p><p>fundamental, para se realizar análise ergonômica, melhorar algum produto ou</p><p>projetar um novo, adaptar um posto de trabalho, entre outras possiblidades. E</p><p>como optar pelo melhor método e de que forma devemos atuar?</p><p>Escolher um método, nos lembram Iida e Buarque (2016), está relacionado</p><p>ao objetivo que pretendemos alcançar e da habilidade e experiência do</p><p>pesquisador. Normalmente há vários profissionais envolvidos e cada um terá uma</p><p>visão particular. No entanto, algumas pesquisas precisam ser mais detalhadas</p><p>que outras. Algumas abordagens trazem mais resultados para determinado</p><p>produto do que outras. Independentemente da escolha a ser feita, primeiramente</p><p>lembre-se de que a gestão de um projeto, para se obterem bons resultados, deve</p><p>envolver desde o princípio, os usuários e as pessoas que nele estejam</p><p>interessadas. Você se lembra que conversamos sobre ergonomia de participação</p><p>anteriormente? Com isso, evitam-se erros, a equipe envolvida torna-se mais</p><p>receptiva às mudanças e os problemas são mais facilmente identificados.</p><p>Aderindo ao método participativo, o responsável pelo projeto passa a ser</p><p>integrante na solução de problemas, deixando de ser apenas o observador. Nesse</p><p>método, outros podem integrar o processo em busca de soluções. Já no método</p><p>convencional, os usuários e outros interessados informam e executam a ação</p><p>estabelecida. Nesta situação, o gestor não integra a equipe como participante</p><p>(Iida; Buarque, 2016). Contudo, é importante que que se utilizem técnicas</p><p>conhecidas pela equipe e pelos usuários envolvidos e sejam seguidas algumas</p><p>etapas (Dul e Weerdmeester, 2017), independentemente da técnica que será</p><p>utilizada. Para abordar etapas, as dividimos em subtítulos.</p><p>11</p><p>3.1 Planejar</p><p>Nessa primeira etapa, deve-se entender por que o problema existe,</p><p>elaborar questões e planejar o desenvolvimento do projeto. O objetivo precisa ser</p><p>bem definido e claro e compartilhado com o grupo envolvido. Deve-se saber quem</p><p>são os usuários do projeto. Enaltece-se a colaboração dos envolvidos para se ter</p><p>uma boa solução, a discussão de metodologias e benefícios, a realização de</p><p>avaliações no decorrer e o debate dos resultados obtidos até o momento.</p><p>Outro ponto que merece atenção refere-se aos procedimentos adotados,</p><p>que devem estar disponíveis a todos os integrantes da equipe. As informações</p><p>coletadas individualmente serão sigilosas e, se forem abertas, não deve haver</p><p>identificação pessoal. Lembre-se de que os resultados não serão imediatos e</p><p>sempre é bom ressaltar esse ponto ao usuário. Uma boa conversa evita possíveis</p><p>mal-entendidos. Defina um cronograma para implantar as alterações e deixe</p><p>claras todas as etapas do processo.</p><p>3.2 Coletar dados</p><p>Essa é a fase para se reunirem as informações e se analisarem as</p><p>alternativas possíveis. Todos os aspectos fundamentais devem ser considerados,</p><p>bem como reclamações, ideias e sugestões. Também nessa etapa é necessário</p><p>planejar de que forma os dados serão processados, evitando desperdício de</p><p>tempo e definir como será a validação.</p><p>Quanto à técnica de análise, sua definição será conforme os itens a serem</p><p>contemplados, portanto pode-se fazer uso de mais técnicas e não apenas uma.</p><p>Essa opção está vinculada à especificidade do projeto e à habilidade do projetista.</p><p>3.3 Selecionar alternativas</p><p>Nessa etapa, analisamos as alternativas possíveis, antes de optar pela</p><p>solução. É necessário entender que não há uma solução pronta para resolver os</p><p>problemas existentes ou para os que possam surgir. Em diversos casos, a fim de</p><p>se encontrar a melhor solução, usam-se modelos e testam-se os protótipos,</p><p>pensando tanto no usuário direto quanto no indireto, como funcionários que</p><p>trabalham com limpeza e manutenção.</p><p>3.4 Implementar o projeto</p><p>12</p><p>Tendo sido escolhida a melhor alternativa, começam-se algumas</p><p>atividades, lembrando inicialmente que qualquer inovação pode gerar</p><p>desconforto. Habitualmente o ser humano não é adepto a mudanças ou novas</p><p>culturas, por isso deve-se criar uma estratégia que torne essa transição</p><p>harmoniosa. A transição não existe apenas quando o projeto ou sistema é novo.</p><p>Existe também quando é necessário intervir com ajustes e correções. Os usuários</p><p>incluídos no projeto devem ser treinados, receber manuais bem escritos e de fácil</p><p>compreensão complementando as instruções verbais, estar envolvidos na</p><p>mudança e perceber as vantagens do projeto.</p><p>3.5 Avaliar</p><p>Essa é</p><p>a última etapa do projeto e o momento de verificar a ocorrência de</p><p>falhas e corrigi-las, averiguando se o resultado contempla o objetivo previamente</p><p>estabelecido. Essa avaliação precisa ser contínua após o sistema ter sido</p><p>implantando. Muitas vezes, a primeira ou as primeiras avaliações podem gerar</p><p>respostas incertas, devido à resistência dos usuários a mudanças, conforme</p><p>conversamos anteriormente. Outro aspecto relevante é verificar se o projeto está</p><p>sendo usado da forma prevista desde seu início.</p><p>Apresentadas as cinco etapas, Dul e Weerdmeester (2017) sugerem</p><p>elaborar uma lista de verificação sobre o método para lembrar-se dos pontos</p><p>importantes, prever possíveis problemas, avaliar os efeitos da implantação, ter</p><p>ideias ou soluções alternativas.</p><p>TEMA 4 – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO</p><p>Antes de nos aprofundarmos no tema, vamos primeiramente entender o</p><p>significado da análise ergonômica do trabalho (AET). Entendida como abordagem</p><p>metodológica, segundo Abrahão et al. (2009), a AET “é estruturada em várias</p><p>etapas que se encadeiam com o objetivo de compreender e transformar o</p><p>trabalho”. Conforme Iida e Buarque (2016), a AET foi desenvolvida por</p><p>pesquisadores franceses, constituindo-se como ergonomia de correção. Wisner</p><p>(2004) descreve a AET como uma metodologia eficiente, que nos possibilita</p><p>compreender a realidade do trabalho, respaldada por estudos científicos. De</p><p>acordo com Ferreira (2015), após uma das revisões da NR 17, a expressão</p><p>análise ergonômica do trabalho tornou-se mais conhecido desde a década de 90.</p><p>13</p><p>O Manual de Aplicação da NR 17 (Brasil, 2002) apresenta a seguinte</p><p>definição para AET:</p><p>A análise ergonômica do trabalho é um processo construtivo e</p><p>participativo para a resolução de um problema complexo que exige o</p><p>conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para realizá-las e</p><p>das dificuldades enfrentadas para se atingirem o desempenho e a</p><p>produtividade exigidos.</p><p>Falando mais um pouco em NR 17 (Brasil, 1978), encontramos as</p><p>seguintes etapas da AET, estabelecidas na norma:</p><p>• Explicitação da demanda do estudo;</p><p>• Análise das tarefas, atividades e situações de trabalho;</p><p>• Discussão e restituição dos resultados aso trabalhadores envolvidos;</p><p>• Recomendações ergonômicas específicas para os postos avaliados;</p><p>• Avaliação e revisão das intervenções efetuadas com a participação dos</p><p>trabalhadores, supervisores e gerentes;</p><p>• Avaliação da eficiência das recomendações.</p><p>Seguindo o mesmo raciocínio, Guérin et al., Santos e Fialho e Vidal (citados</p><p>por Iida; Buarque, 2016) apresentam também as etapas da AET, divididas em</p><p>cinco fases e abordadas separadamente na sequência.</p><p>• Análise da demanda;</p><p>• Análise da tarefa;</p><p>• Análise da atividade;</p><p>• Formulação do diagnóstico; e</p><p>• Recomendações ergonômicas.</p><p>4.1 Análise da demanda</p><p>Por demanda entende-se a descrição de determinado problema ou de</p><p>alguma situação que apresente problema e precise da ação ergonômica. O</p><p>objetivo dessa análise é entender a natureza e a dimensão dos problemas</p><p>existentes. A origem dessa análise pode ser da própria empresa, do empregado,</p><p>de sindicatos, de órgãos de fiscalização. É fundamental que participem gerentes,</p><p>supervisores, trabalhadores, ergonomistas e outros atores sociais que igualmente</p><p>estejam envolvidos.</p><p>4.2 Análise da tarefa</p><p>14</p><p>A tarefa corresponde à previsão do trabalho. Pode estar descrita em</p><p>documentos e manuais contendo a descrição dos cargos. É nesse estágio que</p><p>são analisadas e verificadas as diferenças entre o prescrito e o realizado. As</p><p>divergências ocorrem devido ao fato de as condições de trabalho especificadas</p><p>não serem, muitas vezes, seguidas, conforme já estudamos em outra</p><p>oportunidade.</p><p>4.3 Análise da atividade</p><p>A atividade diz respeito ao comportamento adotado pelo trabalhador para</p><p>realizar uma tarefa e alcançar os objetivos definidos. A análise da atividade é</p><p>resultado de um processo de adaptação e regulação entre fatores internos e</p><p>externos. Os internos referem-se ao trabalhador como idade e formação, por</p><p>exemplo; os externos envolvem as condições em que a atividade é realizada,</p><p>como conteúdo do trabalho e organização do trabalho.</p><p>4.4 Formulação do diagnóstico</p><p>O objetivo dessa etapa é conhecer as causas que geraram o problema</p><p>apontado na demanda. Investigam-se vários fatores pertinentes ao trabalho e à</p><p>empresa, que influenciam na atividade de trabalho. Como exemplo, a alta</p><p>rotatividade em algum setor específico pode estar acontecendo devido à falta de</p><p>treinamento dos envolvidos.</p><p>4.5 Recomendações ergonômicas</p><p>É nesse momento que são feitas as recomendações ergonômicas para que</p><p>o problema diagnosticado seja resolvido. Devem ser descritas de forma clara e</p><p>direta e conter as etapas necessárias para que o problema seja resolvido.</p><p>As Figuras 10 e 11 mostram uma avaliação ergonômica sendo realizada e</p><p>a indicação da forma certa e errada de levantamento de carga.</p><p>15</p><p>Figura 10 – Avaliação ergonômica</p><p>Fonte: Wavebreakmedia/Shutterstock</p><p>Figura 11 – Levantamento de carga</p><p>Fonte: Maanas/Shutterstock</p><p>Devemos ressaltar que tanto as etapas enumeradas na NR 17 (Brasil,</p><p>1978) quanto as definidas em Iida e Buarque (2016) são similares. O mais</p><p>importante em uma análise ergonômica é diagnosticar o problema e encontrar a</p><p>solução para resolvê-lo.</p><p>TEMA 5 – OUTROS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO ERGONÔMICA</p><p>Além da AET existem outros métodos e ferramentas de avaliação. Todas</p><p>contribuem na verificação de situações de trabalho, tornando mais fácil a</p><p>compreensão do que está acontecendo no ambiente, no posto de trabalho e no</p><p>próprio usuário. Falaremos sobre quatro técnicas e, no fim desta aula, você</p><p>encontrará o nome de mais alguns métodos.</p><p>16</p><p>5.1 Checklist de Couto</p><p>Essa ferramenta, criada em 1995 por Hudson de Araújo Couto e Remi</p><p>Lopes Antonio, possibilita avaliar os esforços aos quais a coluna vertebral está</p><p>submetida na execução de diversas atividades. Também conhecida como</p><p>checklist de avaliação de exigências para a coluna vertebral, a versão atualizada</p><p>e mais recente é do ano de 2020. Uma vez que permite uma compreensão mais</p><p>fácil, este checklist é usado tanto por profissionais da área de ergonomia quanto</p><p>por outros responsáveis pelos ambientes laborais.</p><p>Para que o uso dessa ferramenta permita a análise correta, o responsável</p><p>em aplicá-la deve conhecer bem o dia a dia do trabalhador em seu posto de</p><p>trabalho. Além disso, é necessário perguntar de que forma desempenha sua</p><p>tarefa e entender quais as dificuldades laborais existentes. Outro aspecto a ser</p><p>considerado refere-se às exigências mais acentuadas, que pode ou não haver, no</p><p>desempenho da função. Havendo exigência extrema, mesmo que tal fato não seja</p><p>repetitivo, já caracteriza grande esforço para a coluna vertebral. Seguindo com a</p><p>avaliação, o profissional deverá identificar as variáveis: postura estática do tronco,</p><p>movimentação de materiais, empurrar ou puxar e outros esforços e</p><p>posicionamentos não citados. Na próxima e última etapa, os pontos obtidos no</p><p>checklist classificando-se as exigências da coluna em baixa, média, alta e</p><p>altíssima.</p><p>Saiba mais</p><p>Mais informações sobre esta ferramenta você encontra acessando o link a</p><p>seguir e pode, inclusive, fazer o download da versão atualizada do checklist de</p><p>Couto e aplicar no seu local de trabalho:</p><p>CAIXA de ferramentas ergonômicas: checklist de Couto. Ergo, 20 maio</p><p>2020. Disponível em: <http://www.ergoltda.com.br/2020/05/caixa-de-ferramentas-</p><p>ergonomicas-checklist-de-couto/>. Acesso em: 21 dez. 2020.</p><p>Esta última versão contempla quatro questões, cada uma abordando</p><p>diversos pontos. A pontuação acontece da seguinte forma em relação ao quesito</p><p>exigência da coluna vertebral. Veja o Quadro 1:</p><p>17</p><p>Quadro 1 – Pontuação checklist de Couto</p><p>0 a 2 baixa exigência</p><p>3 a 5 média exigência</p><p>6 a 9 alta exigência</p><p>acima de 9 alta altíssima exigência</p><p>Fonte:</p><p>Caixa..., 2020</p><p>A vantagem desse checklist consiste em ser de fácil uso e interpretação</p><p>pelo fato de permitir uma avaliação simplificada com bons resultados. É indicado</p><p>em várias situações de trabalho que exigem esforços da coluna com possibilidade</p><p>de causar distúrbios musculoesqueléticos, em especial dos membros superiores,</p><p>prevenindo a fadiga, LER/DORT e lombalgias.</p><p>5.2 OWAS – Ovako working posture analysing system</p><p>Desenvolvido na Finlândia por três pesquisadores e o Instituto Finlandês</p><p>de Saúde Ocupacional (Finnish Institute of Occupational Health – FIOH), esse</p><p>sistema tinha como objetivo a análise das posturas de trabalho na indústria</p><p>siderúrgica (Karhu; Kansi; Kuorinka, 1977). Segundo Iida e Buarque (2016),</p><p>iniciaram suas observações por meio de imagens, registrando fotograficamente</p><p>as posturas principais encontradas no trabalho pesado. Os pesquisadores</p><p>identificaram 72 posturas típicas resultantes das seguintes combinações:</p><p>• Dorso – 4 posições;</p><p>• Braços – 3 posições;</p><p>• Pernas - 7 posições.</p><p>Para o estudo considerou-se o peso da carga sendo movimentada. As</p><p>tarefas foram analisadas e registradas, gerando 252 posições classificadas em 4</p><p>categorias:</p><p>• Classe 1 – postura normal, sem necessidade de correção;</p><p>• Classe 2 – postura pouco prejudicial, com correções futuras;</p><p>• Classe 3 – postura prejudicial, com correção a curto prazo;</p><p>• Classe 4 – postura muito prejudicial, com correção imediata.</p><p>A Figura 12 mostra o sistema OWAS, conforme as posturas mencionadas.</p><p>Cada postura é descrita por um código de seis dígitos que representam as</p><p>posições do dorso, dos braços, das pernas e a carga.</p><p>18</p><p>Figura 12 – Sistema OWAS para registro de posturas</p><p>Fonte: Iida; Buarque, 2016.</p><p>A seguir, essas posturas são classificadas conforme a duração de cada</p><p>uma e depois de acordo com as combinações. Esse método é utilizado como</p><p>ferramenta de planejamento, tanto para estudos ergonômicos quanto para</p><p>estudos de saúde ocupacional.</p><p>5.3 RULA – Rapid upper-limb assessment</p><p>Assim como OWAS, o RULA é também uma técnica de registro e avaliação</p><p>de posturas. Desenvolvida por McAtamney, Corlett (1993), essa técnica é utilizada</p><p>para investigar a exposição do trabalhador a fatores de risco associados a</p><p>distúrbios de membros superiores relacionados à execução de tarefas laborais. O</p><p>RULA utiliza diagramas de posturas corporais e tabelas de pontuação para avaliar</p><p>a sobrecarga que inclui o número de movimentos, o trabalho muscular estático, a</p><p>força, as posturas e o trabalho sem pausa (McAtamney; Corlett, 1993).</p><p>Segundo Iida e Buarque (2016), o corpo é dividido em dois grupos, uma</p><p>para avaliar os membros superiores e outro para o corpo. Ambos consideram uma</p><p>estimativa de postura e força.</p><p>Em função do resultado dessa análise, são recomendados quatro níveis de</p><p>ação:</p><p>• Nível 1: postura aceitável, não necessitando investigações;</p><p>19</p><p>• Nível 2: investigar a médio prazo;</p><p>• Nível 3: investigar e tomar providências a curto prazo; e</p><p>• Nível 4: investigar e tomar providências imediatas.</p><p>5.4 REBA – Rapid entire body assessment</p><p>O Rapid Entire Body Assessment foi desenvolvido por Hignett e</p><p>McAtamney (2000) e, segundo Iida e Buarque (2016), é uma evolução do RULA.</p><p>De acordo com McAtamney e Hignett (2000), o desenvolvimento do REBA teve</p><p>como objetivo:</p><p>• Criar um sistema de análise postural sensível aos riscos</p><p>musculoesqueléticos em diversas tarefas;</p><p>• Codificar o corpo por segmentos individuais;</p><p>• Elaborar um sistema de pontuação para a atividade muscular em função</p><p>de posturas estáticas, dinâmicas, de mudança rápida ou instáveis;</p><p>• Entender que nem sempre é possível manusear cargas apenas com as</p><p>mãos;</p><p>• Mostar nível de ação indicando urgência de atuação; e</p><p>• Usar apenas papel e caneta.</p><p>Para avaliar e pontuar o risco, conforme Iida e Buarque (2016), existem três</p><p>grupos dividos em grupo A, grupo B e grupo C.</p><p>• A: posturas do tronco, pescoço e perna, braço, antebraço e punho;</p><p>• B: para os lados direito e esquerdo, separadamente; e</p><p>• C: pontuação para carga/força e tipo de pega</p><p>A soma da pontuação de cada grupo somado ao escore da atividade</p><p>definido em tabela, fornece o valor total, considerada de acordo com os seguintes</p><p>níveis de ação, que chamaremos de NA. Observe:</p><p>• NA 0: Pontuação 1. Risco inexistente. A postura é aceitável, não sendo</p><p>necessárias providências;</p><p>• NA 1: Pontuação 2 ou 3. Risco baixo, podendo ser necessárias</p><p>providências futuras.</p><p>• NA 2: Pontuação 4 a 7. Risco médio, sendo necessárias providências a</p><p>médio prazo.</p><p>20</p><p>• NA 3: Pontuação entre 8 e 10. Risco alto, sendo necessárias providências</p><p>a curto prazo;</p><p>• NA 4: Pontuação entre 11 e 15. Risco muito alto, sendo necessárias pro</p><p>vidências imediatas.</p><p>Existem outros métodos além do que falamos. Vamos citar os nomes de</p><p>mais alguns para que você os conheça:</p><p>• Checklist NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health);</p><p>• RWL (Recommended Weigth Limit);</p><p>• Strain Index;</p><p>• Checklist de Michigan;</p><p>• QEC (Quick Exposure Checklist);</p><p>• OCRA (Occupational Repetitive Action).</p><p>21</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABRAHÃO, J. et al. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo:</p><p>Edgard Blucher, 2009.</p><p>BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria MTb n. 3.124, de 8 de junho de 1978.</p><p>Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 6 jul. 1978.</p><p>BRASIL. Ministério da Economia. Manual de aplicação da NR 17. Brasília: MTE;</p><p>SIT, 2002. Disponível em:</p><p><https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_Publicacao_e_Ma</p><p>nual/CGNOR---MANUAL-DE-APLICAO-DA-NR-17.pdf>. Acesso em: 21 dez.</p><p>2020.</p><p>CAIXA de ferramentas ergonômicas: checklist de Couto. Ergo, 2020. Disponível</p><p>em: <http://www.ergoltda.com.br/2020/05/caixa-de-ferramentas-ergonomicas-</p><p>checklist-de-couto/>. Acesso em: 21 dez. 2020.</p><p>CHIAVENATO, I. Teoria dos sistemas. In: CHIAVENATO, I. Teoria geral da</p><p>administração. 3. ed. São Paulo: MacGraw-Hill do Brasil, 1987. p. 346-405.</p><p>DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Blucher, 2017.</p><p>FERREIRA, L. L. Sobre a análise ergonômica do trabalho ou AET. Revista</p><p>Brasileira de Saúde Ocupacional. São Paulo, v. 40, n 131, p. 8-11, 2015.</p><p>Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbso/v40n131/0303-7657-rbso-40-131-</p><p>8.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2020.</p><p>IIDA, I; BUARQUE, L. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard</p><p>Blücher, 2016.</p><p>KARHU, O.; KANSI, P.; KUORINKA, I. Correcting working postures in industry: a</p><p>practical method for analysis. Applied Ergonomics, v. 8, n. 4, p. 199-201, 1977.</p><p>KRUGER, J. A. Ergonomia e segurança do trabalho – Apostila para curso de</p><p>pós-graduação em gestão da produção. Goiânia: FATESG, 2007.</p><p>McATAMNEY, L; CORLETT E. N. RULA: a survey method for the investigation of</p><p>work-related upper limb disorders. Applied Ergonomics, v. 24, n. 2, p. 91-99,</p><p>1993.</p><p>McATAMNEY, L; HIGNETT, S. Rapid entire body assessment (REBA). Applied</p><p>Ergonomics, v. 31, n. 2, p. 201-205, abr. 2000. Disponível em:</p><p>22</p><p><https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0003687099000393>.</p><p>Acesso em: 21 dez. 2020.</p><p>OLIVEIRA, D. P. R. Sistemas, organização e métodos: uma abordagem</p><p>gerencial. São Paulo: Atlas, 1986.</p><p>WISNER, A. Questões epistemológicas em ergonomia e em análise do trabalho.</p><p>In: DANIELLOU, F. A ergonomia em busca de seus princípios: debates</p><p>epistemológicos. São Paulo: Edgar Blucher, 2004, p. 29-55.</p>

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