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<p>1</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Carga Horária: 12h</p><p>Professores: Alanna Cassé,</p><p>Alisson Cleiton</p><p>Taciana Maria</p><p>Ética, Bioética e Biossegurança</p><p>2</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>ÉTICA E BIOÉTICA</p><p>O PLANO ÉTICO</p><p>Comumente, as palavras ‘moral’ e ‘ética’ são empregadas como sinônimas. Por</p><p>exemplo, diz-se de uma pessoa que ‘ela não tem ética’ para criticar seus comportamentos e</p><p>atitudes; poder-se-ia muito bem chamá-la ‘imoral’. Quando se fala em ‘problemas éticos’,</p><p>costuma-se fazer referência a questões atinentes aos deveres, portanto, ao plano moral. Em</p><p>uma palavra, emprega-se, na maioria das vezes, ética como sinônimo de moral. Note-se que</p><p>tal sinonímia é perfeitamente aceitável do ponto de vista acadêmico, e alguns autores</p><p>empregam um ou outro conceito indistintamente. Vejamos definições de dicionário para nos</p><p>convencermos da legitimidade dessa sinonímia. O Dicionário Houaiss (2001), por exemplo,</p><p>traz como uma das definições de moral “conjunto de regras, preceitos, etc. característicos</p><p>de um determinado grupo social que os estabelece e defende”. Para a ética, o referido</p><p>dicionário coloca: “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um</p><p>indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade”. Outros dicionários também atestam a</p><p>sinonímia.</p><p>Há de se notar que, hoje em dia, assistimos a uma valorização da palavra ‘ética’ em</p><p>detrimento da palavra ‘moral’. Eis a avaliação crítica que Spitz (1995) faz dessa preferência:</p><p>“Esse termo (ética), que tomou uma importância cada vez maior, veio para aliviar o</p><p>inextricável embaraço daqueles que desejariam falar em moral sem ousar pronunciar esta</p><p>palavra”. Eis um diagnóstico convincente! Todavia, há possibilidades de estabelecer, por</p><p>convenção, diferenças entre ‘moral’ e ‘ética’. As duas mais frequentes e consagradas</p><p>mantêm os dois termos como referência a deveres. A primeira dessas possibilidades consiste</p><p>em reservar a palavra ‘ética’ a deveres de ordem pública. É o caso de expressões como ‘ética</p><p>da política’, ‘ ética da empresa’, ‘código de ética’ (de determinadas profissões), ou ainda</p><p>‘comitê de ética para pesquisa com seres humanos’. Está claro que em todos esses exemplos,</p><p>o que está em jogo é um conjunto de princípios e regras que visam estabelecer obrigações</p><p>por parte das pessoas contempladas. Ética na política nos remete, entre outros conteúdos,</p><p>ao preceito da honestidade (não enganar o eleitor, não apoderar-se de bens públicos, não</p><p>fazer tráfico de influências etc.): tal ética, portanto, exige comportamento moral.</p><p>Os diversos códigos de ética trazem normas que devem, de maneira obrigatória,</p><p>reger as atividades dos profissionais, normas cujas raízes encontram-se na moral legitimada</p><p>pela sociedade. Mesma coisa pode-se dizer da atualmente muito em voga ‘ética da empresa’:</p><p>3</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>trata-se de normatizar condutas (respeitar o cliente, por exemplo). Finalmente, os comitês</p><p>de ética na pesquisa com seres humanos visam a regulamentar as atividades de investigação</p><p>para garantir o bem-estar físico e psicológico dos sujeitos que se submetem a procedimentos</p><p>de investigação científica. Além de sua referência a deveres, o que há em comum nas</p><p>expressões analisadas é o fato de referirem-se a ações que dizem respeito ao espaço público</p><p>(não faria muito sentido em se falar em ‘ética familiar’). Uma segunda possibilidade de</p><p>diferenciar ética de moral é reservar a primeira para os estudos científicos e filosóficos do</p><p>fenômeno moral. É esta, aliás, a diferenciação mais empregada no meio acadêmico. Kant</p><p>(1994), um dos primeiros a colocar ordem nos conceitos de moral e ética, propõe que se</p><p>defina ética como a ciência das leis da liberdade (a física seria a ciência das leis da natureza).</p><p>Outros autores, como o já citado Tugendhat (1998), definem ética de forma semelhante:</p><p>reflexão filosófica sobre a moral. Mas, como já dito, a reflexão pode ser de ordem científica,</p><p>como a busca empírica de dados para explicar o fenômeno moral, como o fizeram autores</p><p>como Lévy-Bruhl (1971), Durkheim (1974), Freud (1991), Piaget (1932) e tantos outros.</p><p>Mesmo aceita essa diferença de sentido, verifica-se que se permanece no campo do dever,</p><p>da obrigatoriedade, portanto, permanece-se no que chamamos de plano moral: apenas o</p><p>nível de abstração faz a diferença entre os dois termos. Todavia, há outra possibilidade de</p><p>diferenciar-se ética de moral, que rompe claramente com a sinonímia. Leiamos a proposta</p><p>de Paul Ricoeur (1990), a qual faremos nossa: “É por convenção que reservarei o termo</p><p>ética para a busca (visée) de uma vida realizada (accomplie) e o de moral para a articulação</p><p>dessa busca com normas caracterizadas ao mesmo tempo pela pretensão à universalidade e</p><p>por um efeito de coação”.</p><p>Vemos que Ricoeur (1990) define moral como o fizemos até agora. Todavia, reserva</p><p>o termo ética para outro plano: o da definição e busca do que seja uma ‘vida realizada’, ou,</p><p>em termos filosóficos clássicos, uma ‘vida boa’ ou ‘feliz’. Outros autores contemporâneos</p><p>fazem distinção semelhante entre moral e ética. Citemos dois, começando por Bernard</p><p>Williams, que inicia seu livro L’Ethique et les Limites de la Philosophie (1990) afirmando</p><p>que “o objetivo da filosofia moral e a esperança de que ela possa merecer atenção estão</p><p>relacionados ao destino dado à questão de Sócrates (de que maneira viver?)”. Williams</p><p>(1990) reserva o conceito de ética para essa ampla questão, e o de moral para os deveres</p><p>que intimamente nos coagem. Comte-Sponville faz eco aos dois autores citados ao escrever</p><p>que “a moral responde à questão ‘que devo fazer?’, e a ética, à questão “como viver?’</p><p>(Comte-Sponville, em Comte-Sponville & Ferry, 1998). Como dito acima, seguiremos os</p><p>autores que acabamos de citar e diferenciaremos, portanto, o plano ético referente ao tema</p><p>4</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>da ‘vida boa’ e o plano moral, ao tema dos deveres para com outrem e para consigo mesmo.</p><p>Falamos em plano ético para diferenciar forma e conteúdo. Com efeito, as respostas ao que</p><p>seja uma ‘vida boa’ podem variar, logo, há variadas éticas, como há diversas morais. Isso</p><p>posto, devemos lembrar que a questão da vida boa não é nova, que ela preocupa os filósofos</p><p>desde a antiguidade, e que as respostas dadas costumam responder pelo nome de</p><p>eudemonismo (teoria da felicidade como bem para o homem).</p><p>Dizemos que costumam ser chamadas de eudemonismo porque, como apontado por</p><p>Dupréel (1967), há divergências a respeito de que propostas merecem, de fato, o nome de</p><p>eudemonismo. Esse autor opta por reservar o referido conceito para as propostas que</p><p>pressupõem que cada homem sabe muito em que consiste sua felicidade, cabendo à filosofia</p><p>elaborar as técnicas para conquistá-la. É, por exemplo, o caso do utilitarismo de Mill (1988),</p><p>para quem a felicidade consiste em “prazer e ausência de dor” (p. 48), e que discute regras</p><p>de prudência para buscar o prazer e evitar a dor. A outras propostas, que visam a ensinar ao</p><p>homem o que é a felicidade, Dupréel dá o nome de teorias idealistas. É o caso, por exemplo,</p><p>de Aristote (1965), cuja ética implica que a felicidade depende da elevação do homem por</p><p>intermédio do cultivo das virtudes. Mas deixemos as polêmicas a respeito de que nome</p><p>merecem os diversos sistemas que se debruçaram sobre a felicidade, pois o que nos interessa</p><p>aqui é sublinhar o fato de a reflexão sobre a ‘vida boa’ – seja ela intuitivamente conhecida</p><p>ou, pelo contrário, revelada pelos sábios – ser tema recorrente da chamada filosofia moral.</p><p>Aliás, pode-se dizer que esse tema tem sido muito mais trabalhado que o do dever – que</p><p>somente ganha realce filosófico a partir de Kant, embora tenha sido questão central das</p><p>religiões de origem judaica.</p><p>E é grande a variedade e riqueza</p><p>e legais, consultas podem ser feitas através do site</p><p>www.genec.blogger.com.br . Quais são os fundamentos das funerárias idôneas e legais?</p><p>Qual o critério elas têm que obedecer para figurar no site? Como medida de combate à</p><p>atuação dos “urubus”, o SINDINEF declarou a colocação de placas nas empresas</p><p>credenciadas pela prefeitura com os seguintes dizeres: “Contrate uma empresa idônea”. O</p><p>Tempo ainda lembra que a única regulamentação para o setor funerário em Belo Horizonte,</p><p>data de agosto de 1944, quando Juscelino Kubitschek era o prefeito. Este documento prevê</p><p>a concessão exclusiva da exploração dos serviços funerários à Santa Casa de Misericórdia</p><p>que, para compensar o benefício, ficou responsabilizada pelo enterro de indigentes e pessoas</p><p>carentes. Um decreto municipal passou a exigir das demais funerárias a compra de caixões</p><p>e urnas exclusivamente da Santa Casa. Caso contrário, elas não receberiam autorização para</p><p>entrada em hospitais e cemitérios (O TEMPO... apud FUNERARIANET). No ano de 1994,</p><p>foi aprovada pela Câmara Municipal de Belo Horizonte, uma lei com o intuito de</p><p>regulamentar a atividade, acabando com a exclusividade da Santa Casa, porém ela foi</p><p>anulada devido a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN). Segundo a Promotoria</p><p>de Fundações do Ministério Público, o contrato entre a Santa Casa e a prefeitura fere a lei</p><p>orgânica do município, que determina a realização de licitação para concessões públicas. Já</p><p>da parte da Santa Casa, foi afirmado que já não exerce mais a exclusividade devido a</p><p>algumas liminares adquiridas por outras funerárias na justiça. (O TEMPO... apud</p><p>FUNERARIANET).</p><p>As funerárias, segundo o Diário de São Paulo 22/09/2003 (apud</p><p>28</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>FUNERARIANET), também estão sob a observação do Ministério da Saúde e da CPI dos</p><p>Planos de Saúde, pois têm oferecido irregularmente, por meio de seus planos assistenciais</p><p>funerários, descontos em consultas médicas e odontológicas, exames de laboratório e</p><p>remédios. Os associados ainda têm descontos em salão de cabeleireiro, lojas, restaurantes,</p><p>revendedoras de gás, auto-escola e muitos outros serviços. Os associados dos planos</p><p>funerários em todo o país têm o perfil parecido: baixa renda e pouca instrução. Para</p><p>aumentar o faturamento e conquistar clientes, as funerárias utilizam o cartão desconto,</p><p>burlando a legislação dos planos de saúde. Os donos dessas funerárias, segundo o Diário de</p><p>São Paulo, são os responsáveis pelo site www.funerarianet.com.br, o qual inclusive</p><p>orientaria os proprietários a diversificar os investimentos. Segundo o referido jornal, a</p><p>página da internet dá dicas de como escapar da fiscalização e afirma que muitos empresários</p><p>do setor se protegem das ações da Agência Nacional de Saúde (ANS), que tem multado e</p><p>notificado as funerárias. (Essa é uma crítica interessante porque faz parecer que o</p><p>funerarianet não atua no sentido de promover uma ação ética, conforme as atribuições das</p><p>funerárias) Por fim, verifica-se que até mesmo nos países chamados “desenvolvidos”, os</p><p>serviços funerários seguem orientações diferentes das ditadas pela lei.</p><p>Segundo a Agência Reuters - Internacional/USA (apud FUNERARIANET) em</p><p>dezembro de 2002, em Miami, a maior empresa funerária do mundo, situada na Flórida, foi</p><p>acusada em um processo judicial, de desenterrar cadáveres e jogá-los no mato para dar lugar</p><p>a novos enterros. As famílias entraram com uma ação contra a empresa Service Corporation</p><p>International (SCI), por violar túmulos e 11 destruir restos mortais. A SCI disse que as</p><p>alegações são totalmente contrárias à política e procedimentos da empresa e que lutavam</p><p>para cumprir seus deveres profissionais aderindo aos mais altos padrões de serviços e ética.</p><p>Entretanto, os noticiários dos vários canais de televisão do país mostraram o quão danosas</p><p>e antiéticas foram as ações da SCI, a qual buscava arranjar “vagas” no cemitério jogando os</p><p>corpos lá enterrados em um lago adjacente. As notícias deixavam as pessoas perplexas</p><p>diante da violação realizada.</p><p>29</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>BIOSSEGURANÇA</p><p>A biossegurança compreende um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar,</p><p>mitigar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam interferir ou comprometer a</p><p>qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. Desta forma, a biossegurança</p><p>caracteriza-se como estratégica e essencial para a pesquisa e o desenvolvimento sustentável</p><p>sendo de fundamental importância para avaliar e prevenir os possíveis efeitos adversos de</p><p>novas tecnologias à saúde.</p><p>As ações de biossegurança em saúde são primordiais para a promoção e manutenção</p><p>do bem-estar e proteção à vida. A evolução cada vez mais rápida do conhecimento científico</p><p>e tecnológico propicia condições favoráveis que possibilitam ações que colocam o Brasil</p><p>em patamares preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação à</p><p>biossegurança em saúde. No Brasil, a biossegurança começou a ser institucionalizada a</p><p>30</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>partir da década de 80 quando o Brasil tomou parte do Programa de Treinamento</p><p>Internacional em Biossegurança ministrado pela OMS que teve como objetivo estabelecer</p><p>pontos focais na América Latina para o desenvolvimento do tema.</p><p>A partir daí, deu-se início a uma série de cursos, debates e implantação de medidas</p><p>para acompanhar os avanços tecnológicos em biossegurança. Em 1985, a FIOCRUZ</p><p>promoveu o primeiro curso de biossegurança no setor de saúde e passou a implementar</p><p>medidas de segurança como parte do processo de Boas Práticas em Laboratórios, que</p><p>desencadeou uma série de cursos sobre o tema. Foi também em 1995 que houve a publicação</p><p>da primeira Lei de Biossegurança, a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, posteriormente</p><p>revogada pela Lei no 11.105, de 24 de março de 2005. Departamento do Complexo</p><p>Industrial e Inovação em Saúde (DECIIS) por meio da Coordenação Geral de Assuntos</p><p>Regulatórios realizou a Oficina de Biossegurança em Saúde, nos dias 15 e 16 de junho de</p><p>2009.</p><p>DESCONTAMINAÇÃO</p><p>a) Descontaminar todas as superfícies de trabalho diariamente utilizando álcool a</p><p>70%, ou hipoclorito de sódio a 0,1-1% (biologia molecular). Quando houver respingos ou</p><p>derramamentos observar o processo de desinfecção específico para escolha e utilização do</p><p>agente desinfetante adequado.</p><p>b) Colocar todo o material potencialmente contaminado por agentes biológicos em</p><p>recipientes com tampa e a prova de vazamento, antes de removê-los do laboratório para</p><p>autoclavação.</p><p>c) Descontaminar por autoclavação ou por desinfecção química, todo o material</p><p>potencialmente contaminado por agentes biológicos, como: vidraria, equipamentos de</p><p>laboratório, etc.</p><p>d) Descontaminar todo equipamento antes de qualquer serviço de manutenção, de</p><p>acordo com o procedimento operacional padrão.</p><p>e) Colocar vidraria quebrada e pipetas descartáveis, após descontaminação, em caixa</p><p>com paredes rígidas para perfurocortantes, devidamente identificada, e descartada como</p><p>lixo comum.</p><p>EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI</p><p>São empregados para proteger o pessoal da área de saúde do contato com agentes</p><p>infecciosos, tóxicos ou corrosivos, calor excessivo, fogo e outros perigos. Também servem</p><p>para evitar a contaminação do material em experimento ou em produção. EPI,s (NR6</p><p>Portaria SIT nº194, de 07 de dezembro de 2010), afim de que a contenção exerça sua função</p><p>31</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>dentro do laboratório é imprescindível o conhecimento acerca do manuseio dos</p><p>equipamentos de proteção individual (EPI) e disponibilidade dos mesmos para a sua</p><p>utilização.</p><p>Esse equipamento de proteção trata-se de barreiras primárias que protegem a</p><p>integridade física e a saúde do profissional quanto o ambiente em que atua. A legislação</p><p>trabalhista</p><p>prevê que é obrigação do trabalhador: usar e conservar os EPI’s e quem falhar</p><p>nestas obrigações poderá ser responsabilizado; assim como o empregador poderá responder</p><p>na área criminal ou cível, além de ser multado pelo Ministério do Trabalho. O funcionário</p><p>está sujeito a sanções trabalhistas podendo até ser demitido por justa causa.</p><p>LUVAS</p><p>As luvas devem ser usadas em atividades laboratoriais com riscos químicos, físicos</p><p>(cortes, calor, radiações) e biológicos. Fornecem proteção contra dermatites, queimaduras</p><p>químicas e térmicas, bem como as contaminações ocasionadas pela exposição repetida a</p><p>pequenas concentrações de numerosos compostos químicos.</p><p>ATENÇÃO: Enquanto estiver de luvas, o trabalhador não pode manusear maçanetas,</p><p>telefones fixos ou celulares, puxadores de armários e outros objetos de uso comum; NÃO</p><p>usar luvas fora da área de trabalho; LAVAR INSTRUMENTOS e superfícies de trabalho</p><p>SEMPRE usando luvas; NUNCA reutilizar as luvas descartáveis, DESCARTÁ-LAS de</p><p>forma segura.</p><p>As luvas devem ser resistentes, anatômicas, flexíveis, pouco permeáveis, oferecer</p><p>conforto e destreza ao usuário, além de serem compatíveis com o tipo de trabalho executado.</p><p>Podem ter cano longo ou curto, com ou sem palma antiderrapante; o interior pode ser liso</p><p>ou flocado com algodão. São confeccionadas com grande variedade de materiais, com</p><p>características e empregos diversos. A seleção deve se basear nas características, condições</p><p>e duração de uso das luvas e nos perigos inerentes ao trabalho, conforme os exemplos a</p><p>seguir:</p><p>a) Luvas de proteção para o manuseio de material biológico. Usar luvas de látex</p><p>SEMPRE que houver CHANCE DE CONTATO com sangue, fluídos do corpo, dejetos,</p><p>trabalho com microrganismos e animais de laboratório. Devem ser utilizadas luvas de látex</p><p>descartáveis estéreis (luvas cirúrgicas) ou não estéreis (luvas de procedimento). Para</p><p>pessoas alérgicas ao látex, utilizar luvas de PVC, vinil ou nitrila.</p><p>b) Luvas de proteção ao calor. Para os trabalhos que geram calor, é recomendável</p><p>o uso de luvas de tecido resistente ou revestida de material resistente ao calor. Em trabalhos</p><p>que envolvem altas temperaturas, são recomendáveis as luvas de tecido atóxico do tipo</p><p>32</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>kevlar (fibras de aramida e grafatex) resistentes a temperaturas de até 400°C.</p><p>c) Luvas de proteção ao frio. Para procedimentos que envolvem a manipulação de</p><p>objetos em baixa temperatura, utilizam-se luvas de náilon impermeabilizado ou de tecido</p><p>emborrachado com revestimento interno de fibras naturais ou sintéticas. Para o manuseio</p><p>de objetos em temperaturas inferiores a 15°C, são utilizadas luvas de lã.</p><p>d) Luvas de proteção para o manuseio de produtos químicos. Para a manipulação de</p><p>substâncias químicas devem ser utilizadas luvas de borracha natural, neoprene, PVC, PVA e</p><p>borracha de butadieno. A escolha do tipo de luva deve ser de acordo com o tipo de substância</p><p>química a ser manipulada (Quadro 1).</p><p>Jaleco ou avental</p><p>O jaleco fornece uma barreira ou proteção e reduz a oportunidade de transmissão de</p><p>microrganismos e contaminação química. Previne a contaminação das roupas, protegendo</p><p>a pele da exposição a sangue e fluidos corpóreos, salpicos e derramamentos de material</p><p>infectado. Deve ser de mangas longas, confeccionado em algodão ou fibra sintética (não</p><p>inflamável). O jaleco ou avental descartável deve ser resistente e impermeável.</p><p>NOTAS:</p><p>I - Uso OBRIGATÓRIO de jaleco nos laboratórios ou quando o funcionário estiver</p><p>em procedimento;</p><p>II - Jalecos NUNCA devem ser colocados no armário onde são guardados objetos</p><p>pessoais. Devem ser descontaminados antes de serem lavados;</p><p>III – Jalecos NÃO devem ser utilizados nas áreas administrativas, banheiros,</p><p>33</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>refeitórios e outras áreas comuns.</p><p>Protetores para a cabeça e face</p><p>a) Óculos de Proteção - Os óculos de proteção (ou de segurança) oferecem proteção</p><p>contra respingos de agentes corrosivos, irritações e outras lesões oculares decorrentes da</p><p>ação de produtos químicos, radiações e partículas sólidas. Os óculos devem proporcionar</p><p>visão transparente e sem distorções. Para trabalhos que envolvam a luz UV, é necessária,</p><p>além dos óculos de segurança, a proteção de toda a face com protetores faciais.</p><p>b) Protetor Facial - Equipamentos que protegem toda a face contra riscos de</p><p>impactos (partículas sólidas, quentes ou frias), substâncias nocivas (poeiras, líquidos,</p><p>vapores químicos e materiais biológicos) e radiações. São disponíveis em plásticos como</p><p>propionatos, acetatos e policarbonatos simples ou revestidos com metais para absorção de</p><p>radiações infravermelhas.</p><p>c) Máscaras de proteção - As máscaras de proteção são equipamentos de proteção</p><p>das vias aéreas (nariz e boca), confeccionados em tecido ou fibra sintética descartável,</p><p>utilizadas em situações de risco de formação de aerossóis e salpicos de material</p><p>potencialmente contaminado. As máscaras ou respiradores “bicos de pato” N95 ou PFF2</p><p>(95 e 94% de eficiência de filtração, respectivamente) possuem filtro eficiente para retenção</p><p>de partículas maiores que 0,3 μm, vapores tóxicos e contaminantes presentes na atmosfera</p><p>sob a forma de aerossóis, tais como o bacilo da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis)</p><p>e outras doenças de transmissão aérea. Dessa forma, aumentam a proteção dos profissionais</p><p>manipuladores.</p><p>NOTA: Cuidados na utilização e preservação possibilitam a reutilização da máscara</p><p>N95/PFF2, tais como:</p><p>1- Não utilizar cosméticos (batons, maquiagens), pois os produtos</p><p>podem manchar e obstruir os filtros das máscaras, diminuindo a eficiência de</p><p>proteção;</p><p>2- 2- Não guardar em bolsos de jalecos, não dobrar, nem amassar.</p><p>Guardá-las sempre em local seco entre folhas de papel absorvente.</p><p>d) Máscaras de proteção respiratória - As máscaras de proteção respiratória são</p><p>necessárias quando se manipulam gases irritantes (cloreto de hidrogênio, dióxido de</p><p>enxofre, amônia, formaldeído), que produzem inflamações ao contato direto com tecidos –</p><p>pele, conjuntiva ocular e vias respiratórias. São usadas nas atividades que utilizam gases</p><p>anestésicos (éter) e solventes orgânicos que tem ação depressiva sobre o sistema nervoso</p><p>central e gases asfixiantes (hidrogênio, nitrogênio e dióxido de carbono) potencialmente</p><p>34</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>agressores ao cérebro.</p><p>Existem dois tipos de máscaras respiratórias: semifaciais e de proteção total.</p><p>As semifaciais são recomendadas para os casos em que a concentração dos vapores tóxicos</p><p>não ultrapasse a 10 vezes o limite de exposição, devendo ser acompanhadas do uso de óculos</p><p>de proteção. As máscaras de proteção total são utilizadas quando a concentração pode</p><p>atingir até 50 vezes o limite de exposição. As máscaras dispõem de filtros que protegem o</p><p>aparelho respiratório. Os filtros podem ser mecânicos (para proteção contra partículas</p><p>suspensas no ar), químicos (proteção contra gases e vapores orgânicos), ou combinados.</p><p>NOTA: O uso de máscara de proteção respiratória NÃO dispensa o uso da capela química</p><p>para manipulação de reagentes.</p><p>Outros equipamentos de proteção individual - Esses equipamentos deverão ser</p><p>utilizados dentro do laboratório de acordo com o procedimento e durante ele.</p><p>a) Toucas ou gorros: dependendo da atividade desenvolvida, devem ser utilizadas</p><p>toucas para proteger os cabelos de contaminação (aerossóis e respingos de líquidos) ou</p><p>evitar que os cabelos contaminem uma área estéril. As toucas são confeccionadas em</p><p>diferentes materiais, e devem permitir a oxigenação do couro cabeludo, podendo ser</p><p>reutilizáveis. Para isso, devem ser de material de fácil lavagem e desinfecção.</p><p>b) Botas ou calçados de segurança: Os trabalhadores com sandálias, calçados</p><p>abertos ou de pano estão sujeitos a acidentes e lesões nos pés. O calçado deve ser compatível</p><p>com o tipo de atividade. As botas de segurança devem</p><p>ser resistentes à ação de agentes</p><p>químicos (ácidos e bases fortes) e proteger contra respingos e materiais que causam</p><p>queimaduras. Para trabalhos de limpeza, são indicadas botas de borracha de PVC. Em</p><p>emergências, como o derrame de líquidos ou qualquer material perigoso, o responsável pela</p><p>limpeza deve estar com os pés devidamente protegidos. Quando o piso é escorregadio, é</p><p>recomendável o uso de calçados com solado antiderrapante.</p><p>c) Pró-pés: sapatilhas esterilizadas confeccionadas em algodão (em geral) para áreas</p><p>estéreis, que podem ser reutilizadas conforme o tipo de material de sua confecção e a</p><p>atividade desenvolvida.</p><p>d) Dispositivos de pipetagem: peras, pipetadores automáticos, e outros dispositivos</p><p>de pipetagem também são considerados EPIs.</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA - EPC São equipamentos que</p><p>possibilitam a proteção do pessoal do laboratório, do meio ambiente e da pesquisa</p><p>desenvolvida. São exemplos:</p><p>Cabines de Segurança Biológica – CSB As CSB constituem o principal meio de</p><p>35</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>contenção e são utilizadas para proteger o profissional e o ambiente laboratorial dos</p><p>aerossóis ou borrifos infectantes, gerados a partir de procedimentos como centrifugação,</p><p>trituração, homogeneização, agitação vigorosa e misturas, durante a manipulação dos</p><p>materiais biológicos. Protegem também o produto que está sendo manipulado, evitando a</p><p>sua contaminação, com exceção da CSB classe I.</p><p>As CSB são providas de filtros de alta eficiência/HEPA. Alguns procedimentos para</p><p>uso e manutenção da CSB devem ser observados: a) As cabines deverão estar localizadas</p><p>longe da passagem de pessoas e das portas, para que não interrompam o fluxo de ar; b)</p><p>Evitar a circulação de ar, mantendo as portas e janelas fechadas; c) Evitar a circulação de</p><p>pessoas; d) Manter o sistema de filtro HEPA e a luz UV funcionando durante 15 a 20</p><p>minutos antes e após o uso; e) Descontaminar o interior da CSB com álcool a 70%; f)</p><p>Minimizar os movimentos para evitar a ruptura do fluxo laminar de ar, comprometendo a</p><p>segurança do trabalho; g) Não armazenar objetos no interior da CSB; h) Usar EPI adequados</p><p>às atividades; i) Não colocar na CSB caderno, lápis, caneta, borracha ou outro material</p><p>poluente; j) Organizar os materiais de modo que os itens limpos e contaminados não se</p><p>misturem; k) As cabines devem ser testadas e certificadas in situ no laboratório, no momento</p><p>da instalação, sempre que forem removidas ou uma vez ao ano.</p><p>Os sistemas de filtração das CSB são de acordo com o tipo de microrganismo ou</p><p>produto que vai ser manipulado em cada cabine. As CSB são classificadas em três tipos:</p><p>a) Classe I b) Classe II, subdivididas em A, B1, B2 e B3. c) Classe III A escolha de uma</p><p>CSB depende, em primeiro lugar, do tipo de proteção que se pretende obter: proteção do</p><p>produto ou ensaio, proteção pessoal contra microrganismos das Classes de risco 1 a 4,</p><p>proteção pessoal contra exposição a radionuclídeos e químicos tóxicos voláteis, ou uma</p><p>combinação destes:</p><p>36</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>SEGURANÇA NO USO DE EQUIPAMENTOS E MATERIAIS - Os</p><p>equipamentos e materiais laboratoriais são fontes constantes de riscos físicos, que podem</p><p>ser enumerados dependendo dos equipamentos/materiais manuseados. Há também os riscos</p><p>físicos relacionados com as radiações ionizantes e não ionizantes, pressão anormal,</p><p>umidade, calor, ruídos, entre outros. Antes de iniciar o trabalho com um equipamento, as</p><p>instruções sobre sua a operação devem ser cuidadosamente observadas. Abaixo, algumas</p><p>recomendações gerais para evitar ou reduzir os riscos de acidentes no uso de equipamentos</p><p>elétricos, seguido da explanação sobre a segurança dos tipos de materiais e equipamentos</p><p>mais comuns utilizados em laboratórios:</p><p>- Os equipamentos elétricos somente devem ser operados quando os fios, tomadas e</p><p>pinos, estiverem em perfeitas condições e o fio terra estiver ligado;</p><p>- Nunca ligar equipamentos elétricos sem antes verificar a voltagem correta (110 ou</p><p>220 V) entre o equipamento e o circuito;</p><p>- Não usar equipamento elétrico sem identificação de voltagem. Caso não haja,</p><p>solicitar que os responsáveis pela manutenção façam a identificação;</p><p>37</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>- Remover frascos de produtos inflamáveis das proximidades do local onde são</p><p>usados equipamentos elétricos.</p><p>EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTOS PERFURANTES</p><p>a) Proteger as mãos com luvas adequadas e, sem dúvida, tomar os devidos cuidados</p><p>na manipulação, nunca voltando o instrumento contra o próprio corpo.</p><p>b) Apoiar adequadamente em superfície firme antes de utilizar os instrumentos</p><p>perfurantes, ou prender em equipamentos adequados para cada tipo de uso.</p><p>Resíduos perfurocortantes são materiais como: • Lâminas de barbear • Agulhas •</p><p>Seringas com agulhas • Escalpes • Ampolas de vidro • Brocas • Limas endodônticas • Pontas</p><p>diamantadas • Lâminas de bisturi • Lancetas • Tubos capilares • Tubos de vidro com</p><p>amostras • Micropipetas • Lâminas e lamínulas • Espátulas • Ponteiras de pipetas</p><p>automáticas • Todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta</p><p>sanguínea e placas de petri) e outros similares.</p><p>• Todos os materiais, limpos ou contaminados por resíduo infectante deverão ser</p><p>acondicionados em recipientes com tampa, rígidos e resistentes à punctura, ruptura e</p><p>vazamento. Em geral, são utilizadas caixas tipo DESCARTEX, DESCARPACK.</p><p>NÃO REENCAPAR NEM DESACOPLAR AGULHAS DA SERINGA PARA</p><p>DESCARTE. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Rdc N° 306 De 07 de</p><p>Dezembro de 2004</p><p>BIOSSEGURANÇA EM LABORATÓRIOS DE BIOLOGIA MÉDICA</p><p>CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DOS AGENTES BIOLÓGICOS O Ministério</p><p>da Saúde expediu a Portaria nº 1608/2007, que aprova a Classificação de risco dos agentes</p><p>biológicos, elaborada em 2004, atualizada em 2006 e 2010, pela Comissão de</p><p>Biossegurança em Saúde (CBS) do Ministério da Saúde. Os critérios de classificação</p><p>baseiam-se em: virulência, modo de transmissão, estabilidade do agente, concentração e</p><p>volume, origem do material potencialmente infeccioso, disponibilidade de medidas</p><p>profiláticas e de tratamento eficazes, dose infectante, tipo de ensaio e fatores referentes ao</p><p>trabalhador, dentre outros. Os agentes biológicos que afetam pessoas, animais e meio</p><p>ambiente são classificados conforme se segue:</p><p>- CLASSE DE RISCO 1: baixo risco individual e coletivo Inclui os agentes que</p><p>não provocam doenças em humanos ou animais adultos sadios.</p><p>Ex.: Lactobacillus spp, Lactococcus spp, Saccharomyces, Bacillus subtilis, Bacillus</p><p>polimyxa, cepas não patogênicas de E. coli, dentre outros.</p><p>38</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>- CLASSE DE RISCO 2: moderado risco individual e limitado risco coletivo Inclui</p><p>os agentes que podem provocar infecções e/ou doenças no homem ou nos animais, cujo</p><p>potencial de propagação na comunidade e de disseminação no ambiente é limitado, além de</p><p>existirem medidas terapêuticas, além de existirem medidas terapêuticas e profiláticas</p><p>eficazes.</p><p>Ex.: Escherichia coli, Salmonella spp, Streptococcus spp, Staphylococcus</p><p>aureus,Treponema pallidum, Vibrio cholerae, Trypanosoma cruzi, Candida albicans,</p><p>Schistosoma mansoni, HTLV*, HIV*, Hepatites virais, vírus da Dengue, Zika, vírus da</p><p>Rubéola, Sarampo, Caxumba, Citomegalovírus, Herpes (HSV, HZV), Rotavírus, dentre</p><p>outros. * Podem ser de Classe 2 ou 3 a depender do procedimento laboratorial.</p><p>- CLASSE DE RISCO 3: alto risco individual e moderado risco coletivo Inclui os</p><p>agentes biológicos que se transmite por via respiratória e que causam patologias humanas</p><p>ou animais, potencialmente letais, para as quais existem usualmente medidas profiláticas e</p><p>terapêuticas eficazes. Representam risco se disseminados na comunidade e no ambiente,</p><p>podendo se propagar de pessoa a pessoa.</p><p>Ex.: Mycobacterium tuberculosis*, Bacillus anthracis, Coccidioides immitis,</p><p>Clostridium botulinum, Escherichia coli enterohemorrágica, Shigella dysenteriae,</p><p>Hantavírus, vírus da Febre Amarela, vírus da Chikungunya, Influenza A H5N1 e H1N1,</p><p>dentre outros.</p><p>- CLASSE DE RISCO 4: alto risco individual e coletivo Inclui os agentes</p><p>biológicos que causam infecções e/ou doenças graves ao homem ou animais, e representam</p><p>um sério risco para os profissionais de laboratórios e para a coletividade. São agentes</p><p>patogênicos altamente infecciosos, que se propagam com facilidade pela via respiratória ou</p><p>de transmissão desconhecida (geralmente vírus). Podem causar a morte, pois, atualmente,</p><p>não existem medidas profiláticas ou terapêuticas eficazes. Ex.: Sabiá, Marburg, Ebola,</p><p>Varíola (major) Herpesvírus Simiae.</p><p>NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA</p><p>A avaliação do grau de risco, baseada na classificação dos agentes etiológicos, insere</p><p>cada laboratório em um nível de Biossegurança específico. As classes de risco biológico</p><p>dos microrganismos definem o grau de proteção ao pessoal do laboratório, ao meio ambiente</p><p>e à comunidade, e definem os Níveis de Biossegurança ou de contenção laboratorial,</p><p>denominados NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4, em ordem crescente de risco. Tais níveis</p><p>consistem em combinações de práticas e técnicas laboratoriais, equipamentos de segurança</p><p>e instalações do laboratório, permitindo ao profissional exercer suas atividades com</p><p>39</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>segurança.</p><p>ERGONOMIA EM LABORATÓRIOS Os riscos ergonômicos estão ligados à</p><p>execução e à organização de todos os tipos de tarefas. Por exemplo, a altura inadequada do</p><p>assento da cadeira, a distância insuficiente entre as pessoas numa seção, a monotonia do</p><p>trabalho, o isolamento do trabalhador, o treinamento inadequado ou inexistente etc.</p><p>A ergonomia ou engenharia humana é uma ciência relativamente recente que estuda</p><p>as relações entre homem e seu ambiente de trabalho. A Organização Internacional do</p><p>Trabalho (OIT) define a ergonomia como a "aplicação das ciências biológicas humanas</p><p>em conjunto com os recursos e técnicas da engenharia para alcançar o ajustamento</p><p>mútuo, ideal entre o homem e seu trabalho, e cujos resultados se medem em termos de</p><p>eficiência humana e bem-estar no trabalho". Os agentes ergonômicos podem gerar</p><p>distúrbios psicológicos e fisiológicos e provocar sérios danos à saúde do trabalhador porque</p><p>produzem alterações no organismo e no estado emocional, comprometendo sua</p><p>produtividade, saúde e segurança. Para evitar que esses agentes comprometam a atividade</p><p>é necessário adequar o homem às condições de trabalho do ponto de vista da praticidade,</p><p>do conforto físico e psíquico e do visual agradável.</p><p>Isso reduz a possibilidade da ocorrência de acidentes. Essa adequação pode ser</p><p>obtida por meio de melhores condições de higiene no local de trabalho, melhoria do</p><p>relacionamento entre as pessoas, modernização de máquinas e equipamentos, uso de</p><p>ferramentas adequadas, alterações no ritmo de tarefas, postura adequada, racionalização,</p><p>simplificação e diversificação do trabalho.</p><p>Os riscos ergonômicos e psicossociais no laboratório decorrem da organização e da</p><p>gestão do trabalho; podem ser apontados os esforços repetitivos, os turnos diferenciados de</p><p>trabalho e o controle rígido da produtividade. As medidas ergonômicas relacionadas com a</p><p>postura no ambiente de trabalho, assim como as soluções implementadas preventivamente,</p><p>são mais positivas, especialmente quando associadas à utilização de técnicas corretas no</p><p>processo de trabalho. Os agentes de risco ergonômico podem produzir alterações no</p><p>organismo e no estado emocional dos trabalhadores, comprometendo sua produtividade,</p><p>saúde e segurança.</p><p>O cansaço físico, as dores musculares, a hipertensão arterial, as alterações do sono,</p><p>as doenças nervosas, a taquicardia, a diabetes, algumas doenças do aparelho digestivo, como</p><p>a gastrite e a úlcera, a tensão, a ansiedade e problemas musculoesqueléticos são exemplos</p><p>dessas alterações. Os agentes de risco ergonômico não são facilmente identificados, uma</p><p>40</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>vez que seus efeitos são menos visíveis. Apesar de todas as conseqüências que os agentes</p><p>de risco ergonômico podem acarretar para a saúde dos profissionais dos laboratórios, o</p><p>trabalho com atividades em laboratório é considerado pouco desgastante, sendo os</p><p>problemas de saúde detectados atribuídos a outras situações que não o trabalho.</p><p>Com o incremento de novas tecnologias, atividades técnicas como a pipetagem, que</p><p>utiliza o pipetador automático, podem contribuir para o risco do desenvolvimento da Lesão</p><p>por Esforço Repetitivo (LER). Alguns trabalhos com outros equipamentos, tais como o</p><p>microscópio, o micrótomo e os computadores, também podem gerar essas lesões. Vale</p><p>ressaltar que os movimentos se definem como repetitivos não apenas quando são</p><p>exatamente iguais, mas também quando são semelhantes e solicitam de forma mais ou</p><p>menos similar os mesmos músculos e nervos.</p><p>A norma regulamentadora nº 17 (NR 17) do Ministério do Trabalho e Emprego</p><p>estabelece parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às</p><p>características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de</p><p>conforto, segurança e desempenho eficiente. Na área laboratorial a NR 17 recomenda para</p><p>os trabalhos que exige a postura em pé a verificação da possibilidade de executar o trabalho</p><p>na posição sentada. Nesse caso, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para</p><p>essa postura. Recomenda também a colocação de assentos para descanso em locais onde os</p><p>trabalhadores possam utilizá-los durante as pausas.</p><p>Trabalhar bem próximo da bancada com o ângulo de conforto do tornozelo em torno</p><p>de 90º e sem inclinar a coluna para frente. Para o trabalho nos laboratórios que exigem a</p><p>postura sentada os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes</p><p>requisitos mínimos (Figura):</p><p>• Altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida.</p><p>• Característica de pouca ou nenhuma conformação do assento. • Borda frontal</p><p>arredondada.</p><p>• Encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteger a região lombar.</p><p>• Em geral, as atividades nas bancadas exigem pequenas contrações estáticas, em</p><p>função de os braços e antebraços ficarem suspensos por períodos prolongados, gerando</p><p>fadiga e desconforto nos membros superiores, no ombro e no pescoço. Uma forma</p><p>importante de minimizar esses efeitos é trabalhar com o antebraço apoiado sempre que</p><p>possível. Na posição sentada o ângulo entre as coxas e o tronco deve ficar em torno de</p><p>100°, procurando também evitar a inclinação do tronco para frente. Trabalhar sempre com</p><p>as articulações o mais próximo possível do neutro ou no ângulo de maior conforto.</p><p>41</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>A NR 17 também recomenda as pausas compensatórias, de pelo menos cinco</p><p>minutos, a cada cinquenta minutos trabalhados, caminhar durante as pausas para melhorar</p><p>a circulação dos membros inferiores, ingerir água para minimizar a tendência à desidratação</p><p>gerada pela climatização artificial. A detecção precoce dos sintomas das disfunções</p><p>musculo-esqueléticas impede a instalação de quadros mais graves com incapacidade física.</p><p>Aos primeiros sinais e sintomas, deve-se procurar, imediatamente, ajuda e orientação nos</p><p>serviços de saúde do trabalhador e determinar se existem causas relacionadas com</p><p>inadequações no ambiente e no processo de trabalho.</p><p>PROCEDIMENTOS EM CASOS DE ACIDENTES</p><p>EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO</p><p>a) Lavar exaustivamente a área exposta com água e sabão/ soro fisiológico;</p><p>b) O profissional acidentado deve ser encaminhado para um serviço de saúde</p><p>especializado em ISTs. Seguir recomendação específica para imunização contra o tétano e</p><p>medidas de quimioprofilaxia para Hepatite B e HIV e acompanhamento sorológico para</p><p>Hepatite B / C / HIV;</p><p>c) A indicação de antirretrovirais deve</p><p>ser baseada em avaliação criteriosa do risco</p><p>de transmissão do HIV em função do tipo de acidente ocorrido e a toxicidade das</p><p>medicações antirretrovirais. Quando indicada, a quimioprofilaxia deverá ser iniciada o mais</p><p>rápido possível, dentro de 1 a 2 horas após o acidente.</p><p>DERRAMAMENTO DE MATERIAL BIOLÓGICO NO LABORATÓRIO</p><p>a) Solicitar às outras pessoas que estiverem na sala para saírem imediatamente;</p><p>b) Utilizar luvas e jaleco, incluindo, se necessário, proteção para a face e os olhos;</p><p>c) Cobrir o local onde o material biológico está derramado com material absorvente</p><p>(papel toalha) para minimizar a área afetada e a produção de aerossóis;</p><p>42</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>d) Derramar sobre o papel toalha hipoclorito de sódio 1 a 2% de cloro ativo (fenol a</p><p>5% para cultura de TB), de forma concêntrica iniciando pelo exterior da área de derrame e</p><p>avançando para o centro;</p><p>e) Deixar em repouso pelo menos 30 minutos para que o desinfetante exerça a sua</p><p>ação;</p><p>f) Retirar os materiais envolvidos no acidente, inclusive objetos cortantes utilizando</p><p>um apanhador ou um pedaço de cartão rígido para recolher o material e colocá-lo em um</p><p>recipiente resistente para descarte final; g) Limpar e desinfetar a área do derrame com gaze</p><p>ou algodão embebido em álcool etílico a 70%.</p><p>QUEBRA DE TUBOS NO INTERIOR DA CENTRÍFUGA</p><p>a) Interromper a operação; b) Manter a centrífuga fechada por pelo menos 30</p><p>minutos para que baixem os aerossóis; c) Remover e descartar os fragmentos de vidro em</p><p>condições seguras; d) Descontaminar a centrífuga, o rotor e as caçapas com desinfetante</p><p>adequado, conforme o item 13.2 e as instruções do fabricante no manual da centrífuga; e)</p><p>Utilizar, preferencialmente, caçapa de segurança e tubos de polipropileno com tampa</p><p>rosqueável, em substituição ao vidro.</p><p>QUEBRA DE TUBOS NO INTERIOR DE ESTUFAS BACTERIOLÓGICAS</p><p>a) Solicitar às pessoas que estiverem na sala para sair imediatamente;</p><p>b) Comunicar imediatamente ao supervisor do laboratório e ninguém deve entrar na</p><p>sala durante por pelo menos 1 hora;</p><p>c) Fixar na porta do laboratório um aviso indicando que a entrada é proibida,</p><p>constando o registro do horário que ocorreu o incidente;</p><p>d) Retornar ao local após 1 hora, utilizando EPIs apropriados (luvas, avental,</p><p>respirador e sapatos fechados);</p><p>e) Proceder à descontaminação com quantidades significativas e suficientes de</p><p>descontaminante químico que atuem, mas mantenha a integridade do equipamento. Poderão</p><p>ser utilizados álcool etílico a 70%, produtos fenólicos, ou hipoclorito de sódio 0,5 a 1% de</p><p>cloro ativo, desde que não cause danos ao equipamento;</p><p>f) Caso tenha bandejas ou estantes para tubos estas deverão ser retiradas,</p><p>descontaminadas e autoclavadas, se possível;</p><p>g) Remover os materiais contidos na estufa bacteriológica, desinfetando com álcool</p><p>a 70% ou desinfetante adequado e transferi-los para outra estufa;</p><p>h) Recolher os materiais contaminados não cortantes em um saco apropriado para a</p><p>autoclavação e os materiais cortantes em recipientes apropriados para serem descartados;</p><p>43</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>i) Limpar as superfícies da incubadora com detergente neutro em concentração</p><p>recomendada pelo fabricante, seguido de desinfecção com solução de álcool a 70% ou outro</p><p>desinfetante recomendado.</p><p>PROCEDIMENTOS PARA A LIMPEZA</p><p>Qualquer derramamento de produto ou reagente deve ser limpo imediatamente,</p><p>usando se para isso os EPI e outros materiais necessários. Em caso de dúvida quanto à</p><p>toxicidade ou cuidados especiais em relação ao produto derramado, não efetuar qualquer</p><p>operação de remoção sem orientação adequada. Consultar a FISPQ.</p><p>DERRAMAMENTO DE PRODUTOS TÓXICOS, INFLAMÁVEIS OU</p><p>CORROSIVOS SOBRE O TRABALHADOR - Remover as roupas atingidas sob o</p><p>chuveiro, lavando a área do corpo afetada com água fria por 15 minutos ou enquanto</p><p>persistir dor ou ardência.</p><p>PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS - O Corpo de Bombeiros fornece</p><p>gratuitamente treinamentos teórico-práticos para servidores públicos sobre prevenção e</p><p>combate a incêndios. Acionar a chefia imediata ou chefe do Núcleo da Qualidade para</p><p>agendamento e formação de turma. É imprescindível que todos os servidores do LACEN/ES</p><p>estejam familiarizados com este tema.</p><p>PREVENÇÃO a) Verificar se os extintores estão carregados e as mangueiras em</p><p>condições; b) Comunicar qualquer situação perigosa à sua chefia e ao serviço de</p><p>manutenção; c) É proibido usar, sob qualquer pretexto, os equipamentos de proteção para</p><p>outros fins que não o de combate ao fogo; d) Conservar sempre em seus lugares os</p><p>equipamentos destinados a incêndio, com seus acessos limpos e desimpedidos; e)</p><p>Familiarizar-se com os extintores e outros equipamentos de combate a incêndio existentes</p><p>na edificação, sabendo: - Onde se encontram; - Como operá-los; - Para que classes de</p><p>incêndio eles servem. f) Não fumar, não produzir chamas ou centelhas em locais proibidos;</p><p>g) Observar e ter cuidado com aparelhos elétricos que esquentam muito em pouco tempo de</p><p>uso; h) Deixar que somente eletricistas façam reparos nas instalações elétricas; i) Guardar</p><p>os recipientes que contenham substâncias voláteis em lugares apropriados e devidamente</p><p>tampados; j) Guardar cada coisa em seu lugar. A ordem e a arrumação são fatores</p><p>importantes na prevenção de incêndios; k) Ao sair, desligar todo o sistema de iluminação,</p><p>bem como os aparelhos e os equipamentos elétricos em geral.</p><p>COMBATE A INCÊNDIOS A extinção de incêndio baseia-se na remoção de um</p><p>dos três elementos que compõem o triângulo do fogo (comburente, combustível e agente</p><p>ígneo). Partindo desse princípio, estabeleceu-se a técnica moderna de combate a incêndio,</p><p>44</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>planejando-se o material necessário para tal fim e para a determinação dos agentes</p><p>extintores. Assim, a extinção de incêndio pode ser feita por:</p><p>a) Retirada do combustível quando possível;</p><p>b) Expulsão do oxigênio, por exemplo, quando o fogo é abafado;</p><p>c) Abaixamento de temperatura, por exemplo, quando o fogo é resfriado pela água.</p><p>NOTA: em instalações elétricas NUNCA USE extintores de água, espuma ou soda</p><p>– ácido; USE SOMENTE extintores de CO2 ou pó químico.</p><p>AGENTES EXTINTORES</p><p>a) Extintor de Incêndio:</p><p>A Base de Água: Utiliza o CO2 como propulsor. É usado em papel, tecido e</p><p>madeira. Não usar em eletricidade, líquidos inflamáveis, metais em ignição.</p><p>De CO2: Utiliza o CO2 como base. A força de seu jato é capaz de disseminar os</p><p>materiais incendiados. É usado em líquidos e gases inflamáveis, fogo de origem elétrica.</p><p>Não usar em metais alcalinos e papel.</p><p>De Pó Químico Seco: Usado em líquidos e gases inflamáveis, metais alcalinos, fogo</p><p>de origem elétrica. Só apaga fogo de superfície. De Espuma: Usado para líquidos</p><p>inflamáveis. Não usar para fogo causado por eletricidade.</p><p>De BCF: Utiliza o bromoclorofluormetano. É usado em líquidos inflamáveis,</p><p>incêndio de origem elétrica. Não utilizar em papel e madeira, pois só apaga fogo de</p><p>superfície. O ambiente precisa ser cuidadosamente ventilado após seu uso. De Pó de Grafite:</p><p>Único extintor adequado para incêndios da classe D. Qualquer outro tipo de extintor provoca</p><p>reações violentas.</p><p>b) Mangueira de Incêndio: São os condutores flexíveis utilizados para transportar</p><p>a água sob pressão, do seu ponto de tomada até o local onde deve ser utilizada para a</p><p>extinção dos incêndios. Modelo padrão, comprimento e localização são fornecidos pelo</p><p>Corpo de Bombeiros.</p><p>c) Hidrantes: Hidrantes externos estão localizados nas calçadas ligados ao sistema</p><p>de abastecimento de água da cidade e permitem abastecimento das viaturas de combate a</p><p>incêndio. No interior das organizações, encontramos hidrantes internos, estes contêm:</p><p>mangueiras, chaves de mangueiras e esguichos destinados ao combate a incêndio.</p><p>SIGLAS São usadas neste Manual as seguintes SIGLAS: ABNT – Associação</p><p>Brasileira de Normas Técnicas</p><p>EPI – Equipamento de Proteção Individual EPC –</p><p>Equipamento de Proteção Coletiva FISPQ – Fichas de Informações de Segurança de</p><p>45</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Produto Químico HEPA – High Efficiency Particulate Air IATA – International Air</p><p>Transport Association ISO – International Organization for Standardization ISTs –</p><p>Infecções Sexualmente Transmissíveis LACEN/ES – Laboratório Central do Estado do</p><p>Espírito Santo MB – Manual de Biossegurança MQ – Manual da Qualidade MS –</p><p>Ministério da Saúde NBR – Norma Brasileira OCAI – Organizational Culture Assessment</p><p>Instrument OIT – Organização Internacional do Trabalho OSHA – Occupational Safety and</p><p>Health Administration – USA PFF2 – Peça facial filtrante nível 2 (eficiência mínima de</p><p>filtração de 94%). SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade SO – Setor Organizacional.</p><p>máscara de proteção respiratória descartável tipo PFF2</p><p>REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA</p><p> Brasil. Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Diretrizes</p><p>Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Resolução CNE/</p><p>CES n. 4, Brasília (DF), 7 de novembro, 1-6; 2001.</p><p> BARROS, J. M. C. Ética é o Profissional. Revista CREF-SP. São Paulo, ano 1, n.</p><p>2, p. 10. Abril 2001.</p><p> BARROS, J. M. C. Exercício legal da profissão. Revista CREF-SP. São Paulo,</p><p>ano 3, n. 4, p. 11. Julho 2002. BORGES, E.; MEDEIROS, C. Comprometimento e</p><p>ética profissional: um estudo de suas relações juntos aos contabilistas. R. Cont.</p><p>Fin. USP, São Paulo, n. 44, p. 60 – 71, Maio /Agosto 2007.</p><p> BRAGAGNOLO, F. Ética e Valores Morais na Formação de Profissionais da</p><p>Educação. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, agosto de 2010. 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Seria talvez melhor dizer que é em parte</p><p>negativa. Expliquemo-lo, lembrando que fizemos uma diferenciação entre moral (conteúdo)</p><p>e plano moral (forma). É fato que os diversos sistemas que evocam, de uma maneira ou de</p><p>5</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>outra, a questão da ‘vida boa’, trazem-nos conteúdos morais sob forma de virtudes (justiça,</p><p>generosidade etc.); porém, eles não as tratam como obrigatórias, mas sim como desejáveis.</p><p>Ora, o plano moral implica o sentimento de obrigatoriedade. Portanto, se temos no</p><p>epicurismo, no estoicismo, no utilitarismo, e em outras reflexões éticas, análises precisas de</p><p>conteúdos morais, falta-nos a articulação entre a busca da felicidade e o dever, ou seja, a</p><p>articulação entre o que chamamos de plano ético e plano moral. E devemos, sem dúvidas, a</p><p>Kant o equacionamento preciso das enormes dificuldades de estabelecer tal articulação. Dos</p><p>argumentos kantianos podemos lembrar dois, a nosso ver, incontornáveis.</p><p>O primeiro: a variedade de respostas possíveis ao que seja a felicidade. Escreve Kant</p><p>(1994): “Embora o conceito de felicidade sirva em todos os casos de base para a relação</p><p>prática dos objetos da faculdade de desejar, ele é apenas o título geral dos princípios</p><p>subjetivos de determinação e nada determina especificamente ...” (p. 24). O segundo: a</p><p>busca da felicidade é determinada pela sensibilidade, logo por algo sobre o qual o homem</p><p>não tem domínio, em relação ao qual, portanto, é heterônomo. Ora, a responsabilidade moral</p><p>implica a autonomia. Em suma, para Kant (1990), a moral “é uma ciência que ensina não a</p><p>maneira pela qual nós devemos nos tornar felizes, mas aquela pela qual devemos nos tornar</p><p>dignos da felicidade”. Essa última definição de moral, rica e precisa, mostra o quanto os</p><p>planos moral e ético não se articulam facilmente. Todavia, a referência à ‘dignidade’</p><p>fornece-nos uma pista de como estabelecer essa articulação. Por enquanto, o leitor poderá</p><p>pensar que, se aceitamos as críticas de Kant a respeito da dificuldade de fazer do</p><p>eudemonismo uma ciência moral, estamos, a priori, discordando de nossa própria tese</p><p>segundo a qual os plano moral e ético devem ser pensados conjuntamente para explicarmos</p><p>os comportamentos morais dos homens.</p><p>A esse reparo responderíamos o seguinte: se a definição kantiana de dever</p><p>(imperativo categórico) corresponde a uma realidade psicológica, a referência exclusiva à</p><p>Razão não explica o fenômeno. Com efeito, vimos que as teorias psicológicas de inspiração</p><p>kantiana (Piaget e Kohlberg) deixam-nos, teórica e empiricamente, órfãos de uma</p><p>explicação energética da ação. É, digamos, o seu ‘calcanhar de Aquiles’. Aliás, note-se que</p><p>vários moralistas contemporâneos apontam essa lacuna do sistema kantiano (ver, entre</p><p>outros, MacIntyre, 1997; Taylor, 1998; Tugendhat, 1998). E vimos também a</p><p>impossibilidade de articular essas teorias psicológicas racionalistas com aquelas que</p><p>contemplam as motivações das ações (Durkheim e Freud), pois essas últimas levam ao</p><p>relativismo moral (variadas podem ser as inspirações do sentimento do sagrado e os</p><p>mandamentos do superego). Portanto, um mistério psicológico ainda persiste, pelo menos</p><p>6</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>para aqueles que aceitam, com Piaget e Kohlberg, um vetor no desenvolvimento moral e a</p><p>progressiva conquista da autonomia. É esse mistério que queremos ajudar, se não a</p><p>desvendar, pelo menos a melhor situar. Antes de encetarmos essa busca, finalizemos o item</p><p>dedicado ao plano ético observando duas coisas. A primeira: praticamente nada se encontra</p><p>em psicologia a respeito do plano ético. Talvez pudesse ser feita uma comparação entre as</p><p>teorias utilitaristas e a psicanálise, uma vez que ambas as abordagens dão ênfase à</p><p>importância do prazer e da dor para explicar as ações humanas. Todavia, essa comparação</p><p>certamente não será fácil porque a hipótese do inconsciente equivale a um verdadeiro</p><p>abismo separando ambas.</p><p>A segunda coisa que queremos frisar é o fato de o tema da ‘vida boa’ ou ‘felicidade’</p><p>ter voltado a ser objeto de publicações recentes. Exemplos: na França, Ferry (2002) acaba</p><p>de publicar um livro de filosofia intitulado Qu’est-ce qu’une vie réussie?; no Brasil,</p><p>Giannetti (2002) publicou diálogos sobre a Felicidade; aqui e ali são republicados antigos</p><p>livros sobre o tema como o de Bertrand Russel (1962), intitulado, em francês, La conquête</p><p>du bonheur; estão novamente em voga as virtudes, como o atesta o sucesso de venda dos</p><p>livros de Bennett (1995) e também do Dalai Lama (1999); lembremos também os inúmeros</p><p>textos de auto-ajuda, cujo triste sucesso reflete um desconforto existencial. Em suma,</p><p>parece-nos que a inquietação ética está na ordem do dia. A nosso ver é bom que assim seja,</p><p>pois as reflexões sobre a vida boa são sempre necessárias por incidirem sobre o sentido da</p><p>vida. Camus (1973), na introdução de seu Mito de Sísifo, afirma que “somente há um</p><p>problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar que a vida vale ou não a pena de ser</p><p>vivida é responder à questão fundamental da filosofia” (p. 15). Interessante lembrar que</p><p>Camus era um moralista e que, para ele, a busca de sentido para a vida não era estranha às</p><p>questões morais, como o atesta seu romance L’Etranger.</p><p>MORAL E ÉTICA</p><p>Personalidade Ética Aceitas as definições de plano moral e plano ético, a pergunta</p><p>que imediatamente surge é a de saber se um deles engloba ou determina o outro. Para</p><p>Comte-Sponville (em Comte-Sponville & Ferry, 1998), “a moral está dentro da ética</p><p>(responder à pergunta ‘como viver?’ é, entre outras coisas, perguntar-se que lugar reservar</p><p>aos deveres), bem mais do que a ética está dentro da moral (responder à pergunta ‘que devo</p><p>fazer?’, ainda não permite saber como viver e nem mesmo – uma vez que a vida não é, aos</p><p>meus olhos, um dever – se é preciso viver)” (p. 214)3 . Ricoeur (1990) apresenta uma</p><p>7</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>posição, por assim dizer, intermediária, ao estabelecer “a primazia da ética sobre a moral, a</p><p>necessidade para a perspectiva ética de passar pelo crivo da norma (moral), e a legitimidade</p><p>de um recurso da norma à perspectiva (ética) quando a norma conduz a impasses práticos”.</p><p>Quanto a Tugendhat (1998), “pode-se definir ética diferentemente da moral (ética como</p><p>busca da ‘vida boa’), mas não se pode definir a primeira como algo que englobe a segunda.</p><p>Isto é impossível”. Como nossa investigação é psicológica, e não filosófica, vamos nos</p><p>limitar a colocar algumas reflexões sobre a relação axiológica entre os planos moral e ético.</p><p>É claro que a questão ética é mais ampla que a questão moral, mas isso não significa</p><p>necessariamente que a primeira determine a segunda. Imaginemos, por exemplo, que se opte</p><p>por definir a ‘vida boa’ como a busca de poder sobre os homens: não se vê como, de tal</p><p>busca, podem se deduzir deveres morais. Mais ainda: não serão poucos aqueles que negarão</p><p>validade a essa opção ética, por achá-la egoísta. É isto que Ricoeur (1990) quer dizer quando</p><p>fala em passar as opções éticas pelo crivo da norma. Teríamos, portanto, o seguinte quadro:</p><p>a moral limita a ética.</p><p>Expressões como ‘a liberdade de cada um acaba quando começa a</p><p>liberdade de outrem’, ou ‘live and let live’, traduzem bem o referido quadro, que poderia</p><p>ser assim explicitado: cada um é livre para escolher a ‘vida boa’ que quiser, contanto que</p><p>reconheça aos outros o mesmo direito e não os trate como instrumento. Nessa formulação,</p><p>vê-se a moral como critério de limite para as escolhas do plano ético. Para alguns, o limite</p><p>acima enunciado ainda pode aparecer como demasiadamente amplo, pois deixaria as ações</p><p>de benevolência totalmente a critério de cada um, e, portanto, não como dever. Pode-se,</p><p>então, reformular o enunciado: cada um é livre para escolher a ‘vida boa’ que quiser,</p><p>contanto que reconheça aos outros o mesmo direito, que não os trate como instrumento e</p><p>que se preocupe com seu bem-estar. O que importa perceber nas formulações apresentadas</p><p>é que o limite moral não parece em nada decorrer das opções éticas. Ele teria outro</p><p>fundamento. Mas que fundamento é esse? Será que ele não é inspirado pela questão ética?</p><p>Com efeito, por que respeitar os outros? Por que fazer-lhes justiça? Por que preocupar-se</p><p>com seu bem estar? Não estará implícito que, sem respeito, sem justiça e sem benevolência,</p><p>a vida é infeliz? Onde está o poder de convencimento da importância da dignidade humana,</p><p>senão no fato de seu reconhecimento ser condição necessária para uma ‘vida boa’? E não</p><p>estará pressuposto, em Kant, que o ‘merecer ser feliz’ corresponde a um grau de felicidade</p><p>superior a outras formas de ‘vida boa’? É o que pensa Adam Smith: “Que maior felicidade</p><p>que aquela de ser amado e saber que merecemos o amor? Que pior castigo do que ser odiado</p><p>e saber que merecemos esse ódio?” (Smith, 1999).</p><p>Concordamos com ele, o que nos faz pensar que, do ponto de vista axiológico, há,</p><p>8</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>sim, relações entre o plano ético e o plano moral. Essa é a nossa convicção, do ponto de</p><p>vista psicológico. Para começar a apresentá-la, vamos nos debruçar sobre o que realmente</p><p>pode significar, para o ser humano, a ‘vida boa’ ou a ‘felicidade’, termos consagrados em</p><p>diversos sistemas éticos (não vamos revisitar as concepções da antiguidade, inspiradas em</p><p>sistemas metafísicos estranhos ao homem moderno). Gozar de saúde e ter condições</p><p>mínimas de sobrevivência, certamente, representam o patamar a partir do qual se pode falar</p><p>em ‘vida boa’. Aristote (1965) já o afirmava e o bom senso o confirma. Mas uma vez</p><p>garantido esse direito universal, o que mais associar ao alcance e usufruto da felicidade? O</p><p>leque de conteúdo pode ser grande: amar e ser amado, construir uma família, gostar do que</p><p>se faz no trabalho, reconhecimento social, amigos, possibilidades de lazer, de alimentar-se</p><p>intelectualmente, ter uma vida sexual ativa e prazerosa etc. Esses itens, e outros possíveis,</p><p>fazem todo sentido. O problema é que não se identifica, entre eles, um eixo comum. Estamos</p><p>em plena dispersão. Outro problema é que cada um deles levanta questões complexas quanto</p><p>à sua definição (por exemplo, o que é a amizade?). Outro problema ainda: é perfeitamente</p><p>possível pessoas dispensarem um ou outro item (o solitário prefere não ter amigos).</p><p>Finalmente, observemos que tais itens correspondem mais a ‘pedaços de vida’, do que à</p><p>vida como um todo. Ora, como o afirma Williams (1990), “é preciso pensar numa vida</p><p>inteira”, para realmente responder à questão de Sócrates sobre a vida que vale a pena ser</p><p>vivida.</p><p>Devemos, portanto, perguntar-nos se há algo em comum por detrás dos diversos</p><p>conteúdos que podem ocupar o plano ético. Uma resposta clássica consiste em identificar a</p><p>busca do prazer e a fuga do desprazer como invariantes do plano ético. Já vimos que os</p><p>utilitaristas e a psicanálise de Freud encontram-se, nesse ponto, em companhia dos</p><p>epicuristas. A tese hedonista é simples e elegante. Simples porque identifica no ‘princípio</p><p>do prazer’ a motivação básica de todas as ações humanas e elegante justamente em razão</p><p>dessa simplicidade, que evita a profusão de conceitos articulados em arquiteturas teóricas</p><p>complexas. Além do mais – e isto é essencial – permite separar claramente forma de</p><p>conteúdo: todos os hedonistas afirmam a fundamental importância da busca do prazer, mas</p><p>podem divergir sobre o que é, ou sobre o que deveria ser, esse prazer. Para o psicólogo, essa</p><p>tese permite explicar comportamentos totalmente diversos.</p><p>Em poucas palavras, a tese hedonista permite destacar o plano ético (busca do prazer</p><p>e fuga do desprazer) de diferentes éticas (conteúdos associados ao prazer). Todavia, ela não</p><p>deixa de apresentar problemas sérios, sendo o principal deles o aparente desmentido dos</p><p>fatos, como por exemplo, a autodestruição observável em vários indivíduos, que levou</p><p>9</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Freud a ir ‘para além do princípio de prazer’ e fazer a hipótese da existência e da força de</p><p>um instinto de morte. Spaemann (1994) apresenta um argumento diferente para negar a</p><p>central importância do princípio de prazer e de conservação. Ele nos pede para imaginar a</p><p>possibilidade de nosso cérebro ser conectado a cabos que conduzem correntes elétricas que</p><p>nos deixariam em estado constante de euforia, e nos pergunta se estaríamos dispostos a ficar</p><p>para o todo sempre nessa situação que nos garantiria prazer constante e ausência definitiva</p><p>de dor. Esse autor afirma que sentiríamos repulsa por uma alternativa de vida desta porque</p><p>implicaria estarmos “fora da vida efetivamente real, fora da realidade”.</p><p>Conclui o filósofo: “o sentido verdadeiro da vida não reside nem no prazer, nem na</p><p>conservação” (Spaemann, 1994). Concordamos com o inevitável reducionismo implicado</p><p>pelas teses hedonistas, embora reconheçamos não ser fácil derrubá-las. Mas há uma coisa</p><p>nelas que deve ser resgatada: a identificação de algo que esteja presente em todas as opções</p><p>possíveis de felicidade, ou, melhor dizendo, algo que explica – pelo menos em parte – as</p><p>escolhas feitas para viver uma ‘vida boa’. Acreditamos encontrar esse invariante na noção</p><p>de sentido da vida. Acabamos de ver que Spaemann (1994) nega que o prazer e a</p><p>conservação sejam aquilo que confere sentido à vida. Também vimos acima que Camus</p><p>(1973) elege o suicídio como grande problema filosófico porque julga que “o sentido da</p><p>vida é a mais urgente das perguntas”. Outros autores, como Taylor (1998), insistem sobre o</p><p>fato de a atribuição de sentido ser fundamental para se poder viver. Para esse autor, ‘dar</p><p>sentido’ é “definir o que torna as reações apropriadas: identificar o que torna algo um objeto</p><p>digno delas e, correlativamente, melhor definir a natureza das reações e explicar tudo que</p><p>está implicado quanto a nós mesmos e nossa situação no mundo”. Mais adiante, escreve que</p><p>a busca de algo na vida “é sempre busca de sentido”. Certamente, seriam necessárias várias</p><p>páginas para analisar em profundidade a importância maior do sentido da vida para a</p><p>realização de uma ‘vida boa’. Remetemos o leitor aos autores que citamos, entre eles</p><p>MacIntyre (1997) que aborda a questão pela dimensão da narrativa, dimensão esta tratada</p><p>por Ricoeur (1990). Limitemo-nos a dizer que o sentido da vida remete à questão do ‘por</p><p>que viver?’ e, logo, a escolhas existenciais que revelem o que é uma vida que vale a pena</p><p>ser vivida. As opções que colocamos como possíveis conteúdos da ‘vida boa’ (amor,</p><p>amizade, reconhecimento social, vida sexual etc.) não são estranhas ao tema do sentido, pois</p><p>cada uma pode corresponder a um ‘existir para’.</p><p>Para finalizar, lembremos que, no mundo contemporâneo, a angústia frequentemente</p><p>se traduz pela falta de sentido (ver Taylor, 1998). Como escreve Collin (2003), “a reflexão</p><p>ética moderna esteve frequentemente confrontada à questão da perda de sentido da vida” .</p><p>10</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Em resumo, para nós, o invariante do plano ético é a busca de sentido para a vida, e os</p><p>diversos conteúdos</p><p>dependerão dos diversos sentidos atribuídos à vida. Já podemos perceber</p><p>uma relação entre o plano ético e o plano moral: se o grande problema da vida é ela fazer</p><p>sentido, deduz-se que a moral, ela mesma, e as obrigações dela derivadas, devem também</p><p>fazer sentido. A questão do sentido é incontornável no plano moral, e certamente não é por</p><p>acaso que a anomia moral, ou o ‘crepúsculo do dever’, diagnosticados atualmente, são</p><p>contemporâneos das dificuldades de encontrar um sentido para a vida e, logo, para as ações.</p><p>Mas essa afirmação ainda não é suficiente para se saber que plano determina qual, ou se são</p><p>independentes. Para defender a hipótese da prevalência do plano ético sobre o plano moral,</p><p>devemos nos perguntar se há, dentro da própria problemática do sentido da vida, um outro</p><p>invariante de ordem psicológica. Pensamos que tal invariante existe: o sentimento de</p><p>‘expansão de si próprio’. Dito de outra forma: fazemos a hipótese de que a possibilidade de</p><p>‘expansão de si próprio’ é condição necessária para que a vida faça sentido, assim como</p><p>este fazer sentido é condição necessária à ‘vida boa’. Assumimos aqui a perspectiva teórica</p><p>de Adler (1991), para quem “é unicamente o sentimento de ter atingido um grau satisfatório</p><p>na tendência a elevar-se que pode fornecer um sentimento de quietude, de valor e de</p><p>felicidade”.</p><p>A expressão ‘expansão de si próprio’ não é de autoria de Adler, mas sim de Piaget</p><p>(1954), que concordava plenamente com o ex-colaborador de Freud, por ver, na tendência</p><p>à superação de si mesmo, o vetor do desenvolvimento e a motivação central para as ações.</p><p>Assumimos, portanto, a hipótese de que a vida somente pode fazer sentido para quem</p><p>experimenta o sentimento de nela autoafirmar-se, expandirse, em uma palavra, atribuir-se</p><p>valor. Pela recíproca, quem não consegue, seja lá por que motivo for, atribuir a si próprio</p><p>valor, não consegue dar sentido à sua vida e, logo, não usufrui de uma ‘vida boa’. A tese</p><p>acima exposta pode ser traduzida com dois outros termos: representações de si e valor.</p><p>Dedicamos dois livros à análise desses dois conceitos e de sua relação com o</p><p>sentimento de vergonha, e retemos o leitor a eles para o aprofundamento da questão (La</p><p>Taille, 2002a, 2006; ver também Harkot-de-La-Taille & La Taille, 2004). Basta aqui</p><p>apresentar as ideias básicas. Entendemos o Eu como um conjunto de representações de si</p><p>(imagens que a pessoa faz de si). Não importa conferir se tais representações correspondem,</p><p>de fato, ao que a pessoa realmente é ou a como é vista pelos outros, mas sim sublinhar o</p><p>fato de que elas correspondem ao que ela julga ser. Importante frisar que colocamos</p><p>representações de si no plural: não se trata de um autoconceito, portanto unitário, mas</p><p>realmente de um conjunto de representações, que podem até ser conflitivas ou contraditórias</p><p>11</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>entre si. Prossigamos: essas representações de si são sempre valor. Definimos valor como</p><p>investimento afetivo, tal qual Piaget (1954), e assumimos que, inevitavelmente, o Eu é</p><p>objeto de investimento afetivo. Por isso dizemos que as representações de si são sempre</p><p>valor.</p><p>Coerentemente com a teoria de Adler, assumimos também - e isto é essencial para</p><p>nossa análise - que a busca de representações de si com valor positivo é lei fundamental da</p><p>vida humana. O insucesso nessa busca causa o sentimento de vergonha, ou seja, a dor</p><p>psíquica resultante da consciência da disjunção entre uma ‘boa imagem’ (idealizada) e a</p><p>imagem que, de fato, se tem de si (Harkot-de-La-Taille, 1999). A força do sentimento de</p><p>vergonha – que pode ser letal – atesta a importância, para a vida, de conseguir ver a si</p><p>próprio como valor positivo. Como o leitor pode perceber, não hesitamos em colocar, no</p><p>plano ético, o ‘famigerado’ amor próprio. Mas não somos os únicos a reconhecer que a ética</p><p>não pode traduzir-se na negação do sujeito (ver Savater, 2000), e tampouco a moral pode</p><p>fazê-lo. Basta atentar para o fato de a pergunta do plano ético ‘que vida quero viver?’</p><p>implica outra: ‘quem quero ser?’. Portanto, parece-nos não haver possibilidade de se pensar</p><p>a ética sem contemplar a dimensão da identidade, e esta, sem a busca de atribuição pessoal</p><p>(e coletiva) de valor. Estamos agora em condições de defender nossa tese, segundo a qual,</p><p>para compreender os comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer a</p><p>perspectiva ética que eles adotam.</p><p>O CONCEITO DE ÉTICA</p><p>A Ética é um ramo da filosofia que lida com o que é moralmente bom ou mau, certo</p><p>ou errado. As palavras ética e moral têm a mesma base etimológica: a palavra grega ethos</p><p>e a palavra latina moral, ambas significam hábitos e costumes. A ética, como expressão</p><p>única do pensamento correto conduz à idéia da universalidade moral, ou ainda, à forma ideal</p><p>universal do comportamento humano, expressa em princípios válidos para todo pensamento</p><p>normal e sadio.</p><p>O termo ética assume diferentes significados, conforme o contexto em que os</p><p>agentes estão os agentes envolvidos. Uma definição particular diz que a “ética nos negócios</p><p>é o estudo da forma pela qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos</p><p>objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo</p><p>de como o contexto dos negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa moral</p><p>que atua como um gerente desse sistema”.</p><p>12</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Outro conceito difundido de ética nos negócios diz que “é ético tudo que está em</p><p>conformidade com os princípios de conduta humana; de acordo com o uso comum, os</p><p>seguintes termos são mais ou menos sinônimos de ético: moral, bom, certo, justo, honesto”.</p><p>As ações dos homens são, habitualmente, mas não sempre, um reflexo de suas</p><p>crenças: suas ações podem diferir de suas crenças, e, ambas, diferirem do que eles devem</p><p>fazer ou crer. Esse é o caso, por exemplo, do auditor contábil independente que foi escalado</p><p>por seu gerente de auditoria, para auditar as contas de uma empresa de auditoria e que tem</p><p>relações de parentesco com o presidente dela. Ao aceitar tal tarefa, o profissional estará</p><p>agindo de acordo com sua crença, a de que ele consegue separar assuntos pessoais dos</p><p>profissionais e que, portanto, nada há de errado em auditar as referidas contas.</p><p>Á luz da ética profissional, o auditor deve solicitar sua exclusão da tarefa a ele</p><p>incumbida, comunicando as razões para o gerente de auditoria. Desse modo, ele estará</p><p>agindo de acordo com a crença difundida de que este é o procedimento correto. O</p><p>comportamento esperado da empresa, também à luz da ética profissional, será o de que ela</p><p>substitua o auditor designado. Espera-se, assim, estar comunicando implicitamente à</p><p>sociedade que a firma de auditoria age com absoluta retidão de procedimentos, e em</p><p>conformidade com suas expectativas.</p><p>OBJETO E OBJETIVO DA ETICA</p><p>A Ética, enquanto ramo do conhecimento, tem por objeto o comportamento humano</p><p>do interior de cada sociedade. O estudo desse comportamento, com o fim de estabelecer os</p><p>níveis aceitáveis que garantam a convivência pacífica dentro das sociedades e entre elas,</p><p>constitui o objetivo da ética.</p><p>FUNÇÃO DA ETICA</p><p>Em qualquer sociedade que se observe, será sempre notada a existência de dilemas</p><p>morais em seu interior. Os dilemas morais são um reflexo das ações das pessoas, e surgem</p><p>a partir do momento em que, diante de uma situação qualquer, a ação de um indivíduo ou</p><p>de um grupo de indivíduos, contraria aquilo que genericamente a sociedade estabeleceu</p><p>como padrão de comportamento para aquela situação. O comportamento das pessoas,</p><p>enquanto fruto dos valores nos quais cada um acredita, sofre alterações ao longo da história.</p><p>Tal fato significa que aquilo que sempre foi considerado como um comportamento amoral</p><p>13</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>pode, a partir de determinado momento, passar a ser visto como</p><p>um comportamento</p><p>adequado à luz da moral Quando, por exemplo, um país se envolve em uma guerra, os</p><p>habitantes desse país (ou pelo menos grande parte deles) estão assumindo um</p><p>comportamento que normalmente condenam em tempo de paz, qual seja, matar seus</p><p>semelhantes. Os problemas relacionados com o comportamento do ser humano encontramse</p><p>inseridos no campo de preocupações da Ética. Ainda que não torne os indivíduos</p><p>“moralmente perfeitos”, a Ética tem por função investigar e explicar o comportamento das</p><p>pessoas ao longo das várias fases da história. Essa função apresenta-se como de grande</p><p>relevância, tanto no sentido de se entender o passado, quanto de servir como parâmetro para</p><p>fixação de comportamentos “padrões”, aceitos pela maioria, visando a diminuir o nível de</p><p>conflitos de interesses dentro da sociedade.</p><p>FONTES DE REGRAS ETICAS</p><p>O fato de se considerar a Ética como a expressão única do pensamento correto</p><p>implica a idéia de que existem certas formas de ação preferíveis a outras, às quais se</p><p>prendem necessariamente um espírito julgado correto. Tomando-se por base essa definição,</p><p>existiria uma natureza humana “verdadeira” que seria a fonte primeira das regras éticas.</p><p>1 a FONTE DAS REGRAS ETICAS: Essa natureza humana verdadeira seria aquela</p><p>do homem sadio e puro, em que habitariam todas as virtudes do caráter íntegro e correto.</p><p>Toda ação do homem ético seria uma ação ética. (universalidade ética).</p><p>2 a FONTE DAS REGRAS ETICAS: Existem, ainda , normas de caráter diverso e</p><p>até mesmo oposto à idéia da universalidade ética: as relacionadas à forma ideal universal e</p><p>comum do comportamento humano, expressa em princípios válidos para todo pensamento</p><p>são. Essa seria a segunda fonte das regras éticas.</p><p>3 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: A conseqüência da busca refletida dos</p><p>princípios do comportamento humano. Assim, cada significado do comportamento ético</p><p>torna-se-ia objeto de reflexão por parte dos agentes sociais. Essa seria a procura racional</p><p>das razões da conduta humana.</p><p>4 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: A legislação de cada país, ou de foros</p><p>internacionais, ou mesmo os códigos de ética Empresarial e Profissional. Não obstante a</p><p>literatura mencionar as leis como fonte de regras éticas, é de acreditar que dificilmente um</p><p>conjunto de leis poderia legislar satisfatoriamente sobre ética, pois uma lei específica não</p><p>poderia abarcar todas as situações que surgissem sobre determinado assunto, e, também,</p><p>14</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>porque nem toda lei pode ser considerada ética.</p><p>5 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: Normas éticas vem dos costumes.</p><p>A ÉTICA NA EMPRESA</p><p>Você já sabe que a fase atual da economia capitalista criou um clima favorável ao</p><p>surgimento de inúmeras interpretações – tanto otimistas como pessimistas – quanto ao</p><p>futuro da sociedade do trabalho. Sabe, também, que o conhecimento é uma condição</p><p>indispensável ao exercício da liberdade e, portanto, da cidadania. Por isso não podemos</p><p>desconhecer que a possibilidade de estendê-lo à grande massa dos trabalhadores (durante</p><p>tanto tempo excluídos de seu acesso) cria perspectivas de que se venha a resgatar o valor do</p><p>trabalho. E isso permite instituir uma nova ética nas empresas e na sociedade como um todo.</p><p>É hoje uma tendência cada vez mais constante na organização das fábricas a tomada</p><p>de consciência sobre a importância de que o trabalho seja estruturado a partir de tarefas</p><p>globais. Elas seriam executadas por equipes de profissionais suficientemente qualificados</p><p>para dar conta de um máximo de atividades e para assumir responsabilidade com autonomia</p><p>e criatividade. Essa forma de estruturação do trabalho não só representa o rompimento com</p><p>o taylorismo, como também anuncia uma nova orientação relativa a políticas de recursos</p><p>humanos.</p><p>Tal política visa à autodeterminação e ao crescimento de todos os envolvidos no</p><p>processo de trabalho nas organizações. Mas seria ingênuo acreditar que a revalorização e o</p><p>futuro da sociedade do trabalho dependeriam exclusivamente de uma política de recursos</p><p>humanos voltada para a qualificação do trabalhador. Sabe-se que, numa economia</p><p>globalizada, com um processo de produção flexível, a qualificação do trabalho não é</p><p>garantida de emprego e nem o cria. No entanto, não resta dúvida de que, no atual quadro</p><p>econômico, os novos empregos passarão a absorver os trabalhadores mais qualificados.</p><p>Nessas circunstâncias, uma reflexão sobre a dimensão ética empresas deverá passar</p><p>necessariamente pelo resgate da qualificação profissional, mais incluirá outros aspectos</p><p>organizacionais, fundamentais ao resgate da dimensão pública da ética e,</p><p>conseqüentemente, ao resgate da cidadania.</p><p>A RESPONSABILIDADE E O COMPROMISSO COM A COMUNIDADE</p><p>Para pensar a questão ética nas organizações empresariais é necessário, antes de</p><p>15</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>tudo, definir o objetivo desse tipo de organização. Uma organização empresarial, utilizando</p><p>determinada tecnologia, produz algum bem ou serviço, para ser comercializado em função</p><p>do atendimento a demandas da sociedade. Cabe à empresa desempenhar com qualidade sua</p><p>missão específica. Assim, por exemplo, espera-se de uma universidade que ela prepare o</p><p>profissional do futuro; de um hospital, que cuide da doença; de uma indústria</p><p>automobilística, que produza bons carros; de um restaurante, que ofereça boa comida. Por</p><p>outro lado, esse desempenho não pode estar dissociado de seu objetivo principal, que é a</p><p>obtenção de lucro. LUCRO É O PERCENTUAL QUE EXCEDE AS DESPESAS COM</p><p>MATÉRIAPRIMA, TECNOLOGIA, SALÁRIOS E QUE SE FAZ EMBUTIR NO PREÇO</p><p>FINAL DO PRODUTO. Mas não se pode perder de vista que uma organização empresarial</p><p>está localizada numa comunidade. Ela oferece emprego aos moradores, paga impostos e a</p><p>tecnologia que utiliza causa algum impacto sobre essa comunidade. Logo, ao refletir sobre</p><p>a dimensão ética na empresa, precisamos compreender que, além dos compromissos</p><p>relativos ao seu funcionamento interno, a organização empresarial possui compromissos</p><p>externos, de ordem social. E quais são esses compromissos? Como honrá-los? Vamos</p><p>analisar, inicialmente, a questão do lucro, seu objetivo primeiro. Essa, que parece uma</p><p>questão de interesse exclusivo da empresa, tem também importantes repercussões sociais.</p><p>A primeira responsabilidade de uma empresa é apresentar um bom desempenho econômico,</p><p>de forma a cobrir custos e acumular capital.</p><p>A consequência do seu sucesso econômico tende a se desdobrar socialmente em</p><p>empregos, melhores salários e arrecadação de impostos, preços mais adequados ao</p><p>consumidor, e qualidade dos serviços – fatores relacionados à justiça social. Legislação e</p><p>Ética Profissional Professora – Adriana Farias O objetivo de obter lucro é, portanto,</p><p>absolutamente legítimo. Isso porque uma empresa falida, não-lucrativa é má empregadora,</p><p>malvista na comunidade e não gera capital para a criação de empregos futuros. O</p><p>comprometimento social da empresa se expressa, ainda, no seu engajamento com programas</p><p>culturais e filantrópicos de interesse da comunidade, nos seus projetos de preservação</p><p>ambiental, especialmente porque, nesse último caso, a tecnologia por ela utilizada costuma</p><p>causar impactos sobre o meio ambiente. Na medida em que no mundo contemporâneo a</p><p>economia está predominantemente organizada com base na iniciativa privada, torna-se</p><p>indispensável o comprometimento amplo das organizações com as questões sociais. Hoje,</p><p>política social e ambiente escapam do âmbito do governo, tornando-se responsabilidade de</p><p>organizações empresariais e não-governamentais. O compromisso das organizações</p><p>empresariais é, hoje, muito mais amplo do que a própria relação emprego-empregador: ele</p><p>16</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>envolve questões raciais, de sexo, de distribuição de renda, manutenção do meio ambiente,</p><p>enfim, os problemas mais gerais que afligem a sociedade.</p><p>A ÉTICA DA DIGNIDADE DA</p><p>PESSOA HUMANA IMPEDIRÁ A EMPRESA DE FAZER QUALQUER TIPO DE</p><p>DISCRIMINAÇÃO POR UMA VISÃO PRECONCEITUOSA DE RAÇA OU DE SEXO.</p><p>ATUANDO COM BASE NO VALOR DA DIGNIDADE DA PESSOA, A EMPRESA</p><p>NÃO DEFINIRÁ, POR EXEMPLO, UMA POLÍTICA SALARIAL FUNDAMENTADA</p><p>NESSAS DIFERENÇAS. A QUESTÃO DO ASSÉDIO SEXUAL SERÁ TAMBÉM UMA</p><p>PREOCUPAÇÃO SUA.</p><p>Hoje, o que se põe em questão é o desenvolvimento de uma prática coerente com</p><p>uma ética pública, em que fiquem preservados os interesses da organização, sem</p><p>comprometimento das ações que contribuam para o bem-estar e o desenvolvimento da</p><p>sociedade como um todo. Para aborda os demais compromissos que uma organização</p><p>precisa assumir de modo a ser conceituada como ética é necessário pensarmos nos atores</p><p>ou agentes do processo organizacional, aqueles que fazem a empresa, que são responsáveis</p><p>pelo desenvolvimento de sua política e das atividades necessárias ao alcance de seus</p><p>objetivos. Nesse caso, estamos falando de empregadores (que passamos a identificar como</p><p>o administrador) e empregados.</p><p>ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL – A IMPORTÂNCIA NO NOVO</p><p>CENÁRIO EMPRESARIAL</p><p>Atualmente as pessoas, em geral, apresentam uma maior preocupação com o bem-</p><p>estar e a qualidade de vida, consubstanciadas numa ética de valorização do ser humano, ao</p><p>invés do padrão de produção capitalista, o qual prega a realização econômica em detrimento</p><p>da realização pessoal. Há também uma maior conscientização da importância da</p><p>participação das empresas na preservação do meio ambiente, da participação dos</p><p>trabalhadores na tomada de decisão e nos resultados da atividade produtiva e da necessidade</p><p>de melhoria dos padrões de qualidade de vida da comunidade que com que ela se relaciona.</p><p>Esse contexto tem trazido a discussão sobre ética e responsabilidade social das empresas</p><p>para a literatura econômica, administrativa e jurídica, sem contar que, tradicionalmente,</p><p>esses temas são abordados por filósofos e sociólogos. A inclusão destes temas tem</p><p>colaborado, inclusive, para o surgimento de associações empresariais e acadêmicas</p><p>envolvidas na disseminação de práticas eticamente corretas e socialmente responsáveis. O</p><p>benefício da realização dessas práticas ocorre não somente para as organizações envolvidas,</p><p>17</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>mas também para todos os envolvidos ou impactados pelas atividades econômicas levadas</p><p>a cabo pelo setor empresarial, os chamados stakeholders. Assim, tem sido possível a uma</p><p>parcela significativa da sociedade adquirir conhecimentos sobre ética. Ao mesmo tempo a</p><p>sociedade pode esperar, e exigir, das empresas que elas contribuam para o desenvolvimento</p><p>da comunidade, sendo socialmente responsáveis.</p><p>2.1 Ética</p><p>A ética, como reflexão científica e filosófica, estuda os costumes e normas de</p><p>comportamento. No presente trabalho essas normas de comportamento serão analisadas no</p><p>contexto corporativo. Considerando o contexto social, pode ser dito que os valores éticos</p><p>são passíveis de transformações, assim como as sociedades se modificam. Essas diferenças</p><p>se dão em épocas e sociedades distintas. Não são apenas os costumes que variam, mas</p><p>também os valores que os acompanham, as próprias normas concretas, os próprios ideais e</p><p>a própria sabedoria (VALLS, 1996). Assim, para compreensão da ética vigente em uma</p><p>sociedade, sob a ótica dos filósofos, é necessário estudar pinturas, esculturas, leis, livros de</p><p>medicina, etc. Mas as preocupações no estudo da ética vão muito além das variações dos</p><p>costumes, chegando à formulação de princípios universais. Uma boa teoria ética deveria</p><p>atender à pretensão de universalidade, ainda que simultaneamente capaz de explicar as</p><p>variações de comportamento, características das diferentes formações culturais e históricas</p><p>(VALLS, 1996).</p><p>Filósofos como Sócrates e Kant preocuparam-se com este caráter universal da ética.</p><p>Entre as tendências atuais valoriza-se a posição da liberdade como um ideal ético,</p><p>privilegiando o aspecto pessoal da ética. Outra perspectiva aponta a ética nas relações</p><p>sociais, tendo como ideal ético o de uma vida social mais justa. Para Valls (1996), a ética</p><p>preocupa-se com as formas humanas de resolver as contradições entre necessidade e</p><p>possibilidade, entre tempo e eternidade, entre o individual e o social, entre o econômico e o</p><p>moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o cultural e entre a inteligência e a</p><p>vontade. Algumas noções, mesmo que ainda abstratas, permanecem firmes no campo da</p><p>ética, como a distinção entre o bem e o mal, ou seja, entre o que é certo e o que é errado</p><p>dentro de uma organização. Ainda segundo Valls, hoje os grandes problemas de ética</p><p>encontram-se em três esferas: família, sociedade civil e Estado. Assim, despertar uma</p><p>consciência eticamente crítica nas pessoas é o desafio que pode ajudá-las a assumir uma</p><p>vida de maneira mais ética, e, neste sentido, mais livre e mais humana. Muitas são as razões</p><p>18</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>que têm levado as organizações a se preocuparem em promover a ética no ambiente</p><p>empresarial. Dentre elas: os custos de escândalos nas empresas, acarretando perda de</p><p>confiança na reputação da organização, multas elevadas, desmotivação dos empregados,</p><p>entre outras (TANSEY, 1995). Entretanto, para analisar a ética no universo corporativo faz-</p><p>se necessário, inicialmente, compreender a sua dimensão nas empresas. Ética dos negócios</p><p>é o estudo da forma pela qual as normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos</p><p>objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo</p><p>de como o contexto dos negócios cria problemas próprios e exclusivos à pessoa moral que</p><p>atua como um gerente desse sistema (NASH, 1993).</p><p>A ética é um fator relevante para garantir a competitividade da empresa. No entanto,</p><p>ter padrões éticos significa ter bons negócios em longo prazo. Existem estudos, por</p><p>exemplo, o mencionado por Pinedo (2003) indicando a veracidade dessa afirmativa.</p><p>Segundo ele, em estudo realizado pela Universidade de Harvard, empresas éticas e maduras</p><p>têm resultados 3 60% melhores que as menos éticas. Na maioria das vezes, contudo, as</p><p>empresas reagem a situações de curto prazo (TANSEY, 1995). Para Nash (1993), empresas</p><p>preocupadas com padrões de conduta ética em seu relacionamento com clientes,</p><p>fornecedores, funcionários e governantes, ganham a confiança de seus clientes e melhoram</p><p>o desempenho dos funcionários. Segundo Tansey (1995), assim como qualquer</p><p>comportamento ou cultura adotada pela empresa, a postura ética deve vir da alta</p><p>administração, ou seja, é a direção quem deve dar o exemplo aos seus colaboradores. Um</p><p>dos principais profissionais multiplicadores da postura ética é o Executivo de Relações</p><p>Públicas, visto que ele tem o papel de estabelecer o relacionamento da organização com seu</p><p>público e com a fundamentação da ética. Segundo Nash (1993), cumprir essa</p><p>responsabilidade exige, no mínimo, uma investigação e um posicionamento explícito sobre</p><p>os aspectos éticos da atividade empresarial, desde a estratégia até a folha de pagamento. A</p><p>atuação da empresa no mercado também deve ser considerada, pois a sua forma de agir</p><p>neste ambiente provoca reflexos internos, segundo Tansey (1995). Para a autora, não se</p><p>pode exigir conduta ética dos funcionários se a empresa está viciada em procedimentos</p><p>condenáveis.</p><p>Os padrões éticos da companhia são a base do comportamento dos funcionários.</p><p>Um dos problemas que prejudicam a postura ética nas organizações é a burocracia com que</p><p>elas executam suas funções. Segundo Tansey (1995), burocracia demais atrapalha. Como</p><p>são muitas as instruções a serem observadas, existe sempre a possibilidade das empresas</p><p>não cumprirem uma delas. Além da burocracia, levantada por Tansey, outros obstáculos à</p><p>19</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>implantação da ética nas organizações foram levantados</p><p>por Zoboli (2002). São eles: •</p><p>Imposição de regras sem intenção de considerá-las e o uso da missão da empresa apenas</p><p>como conveniência. Esses obstáculos se apresentam quando a missão da empresa não</p><p>representa claramente a meta e a finalidade da organização, mas expressam um conjunto de</p><p>normas e regulamentos, os quais não justificam os resultados buscados. •Alcance de</p><p>objetivos a qualquer preço. Acontece quando a organização busca realizar as suas metas</p><p>sem o respeito aos valores e direitos partilhados com a sociedade na qual está inserida. O</p><p>bem comum pode ser assegurado pelo uso de procedimentos idôneos. •Impaciência e pressa</p><p>para alcançar os objetivos organizacionais. Estas se constituem fatores para a negligência</p><p>no trato de questões éticas nas organizações, o que pode por em risco a satisfação de clientes</p><p>e colaboradores, podendo levar a um ciclo negativo e vir a afetar os resultados da</p><p>organização. •Perversidade: relação assimétrica e desigual, baseada na racionalidade</p><p>destrutiva. Acontece quando a organização isola-se das necessidades e demandas sociais,</p><p>levando ao esquecimento da sua missão e desmotivação dos seus integrantes. Os envolvidos</p><p>podem assumir um comportamento que justifica a desigualdade, chegando a considerá-la</p><p>normal ou nem percebê-la. Um exemplo clássico desta perversidade é representado pela</p><p>corrupção social, a qual provoca uma mudança arbitrária de valores. As organizações que</p><p>adotam a ética como substância das suas relações e realização de resultados são</p><p>organizações que capacitam as pessoas a demonstrarem um comportamento maduro. Este</p><p>tipo de comportamento é demonstrado pela reflexão a respeito dos bens internos, das</p><p>atividades e dos meios adequados para atuarem rumo a consecução da ética no ambiente</p><p>organizacional. Decorrente dessa reflexão surge uma atuação balizada pela responsabilidade</p><p>que a organização para com a sociedade.</p><p>2.2 Responsabilidade Social Empresarial</p><p>Moreira (2000) retrata o modismo que leva as empresas brasileiras a discursarem</p><p>sobre ética e desenvolverem códigos de comportamento para seus funcionários. Apontando</p><p>paradoxos, o autor demonstra a constante evidência de casos e “causos” de violação de</p><p>princípios éticos elementares e afirma que tal paradoxo torna-se inteligível quando são</p><p>examinados os traços básicos da cultura nacional (como o formalismo, as esferas culturais</p><p>da 4 casa e da rua, o jeitinho, entre outros) e se admite a influência de tais traços nas</p><p>organizações instaladas no país. Melo Neto e Froes (apud MENDONÇA e GONÇALVES,</p><p>2002) afirmam que houve uma mudança no foco da responsabilidade social corporativa, das</p><p>20</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>ações meramente filantrópicas para ações mais substanciais que proporcionem o</p><p>desenvolvimento social. Conforme Mendonça e Gonçalves (2002), atualmente muitas</p><p>empresas brasileiras buscam legitimidade através de ações de cunho social por</p><p>reconhecerem e/ou acreditarem que estas ações podem ter impactos positivos na imagem da</p><p>organização. Os autores pressupõem a existência de organizações que desenvolvem ações</p><p>sociais condizentes com seus valores organizacionais. Porém, outras parecem objetivar a</p><p>criação de uma imagem de responsabilidade social estabelecendo uma estratégia</p><p>mercadológica não condizente com os valores e práticas da organização.</p><p>Segundo Moreira (2000), atualmente, na sociedade brasileira encontram-se sinais</p><p>dos fatores que desencadearam mundialmente as preocupações com a ética e a</p><p>responsabilidade social nos negócios. Estes são: as pressões pela conservação do meio</p><p>ambiente, o fortalecimento dos movimentos de defesa do consumidor, as denúncias sobre</p><p>irresponsabilidades no setor da saúde, os esforços contra o trabalho infantil e outros. Assim,</p><p>as empresas têm dado maior importância às posturas éticas em relação aos seus funcionários</p><p>e à comunidade em geral, por meio da divulgação de seus códigos internos de ética, projetos</p><p>de reflorestamento, fundações educacionais e engajando-se em atividades filantrópicas.</p><p>Acreditase que esta postura é determinante para consolidar uma imagem positiva perante</p><p>clientes e funcionários e, por sua vez, fundamental para a perenidade da empresa. A</p><p>Responsabilidade Social Empresarial (RSE) tem como fundamento o compromisso ético da</p><p>empresa para com seus stakeholders, ou seja, clientes, fornecedores, empregados, parceiros</p><p>e colaboradores. A empresa é considerada ética se cumprir todos os compromissos éticos</p><p>que tiver, ou seja, agir de forma honesta com todos aqueles que têm algum tipo de</p><p>relacionamento com ela. Estão envolvidos neste grupo os clientes, os fornecedores, os</p><p>sócios, os funcionários, o governo e a comunidade como um todo (TANSEY, 1995).</p><p>A responsabilidade social empresarial ou corporativa, desde o início da última</p><p>década, vem sendo discutida no meio acadêmico, porém, ganhou força no Brasil</p><p>especialmente a partir da criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,</p><p>em setembro de 1998. No meio empresarial ela tomou maior impulso com o surgimento de</p><p>normas e padrões de certificação social e ambiental, tais como a Social Accountability 8000</p><p>(SA8000), Account Ability 1000 (AA1000) e International Standard Organization 14000</p><p>(ISO14000). Neste cenário mutante e demasiadamente complexo, as organizações operam</p><p>e lutam para se manter, para cumprir sua missão e visão e para cultivar seus valores</p><p>(KUNSCH, 1974). Neste contexto de mudanças e de transformações sociais, econômicas e</p><p>tecnológicas pelo qual passam as organizações, percebe-se a preocupação com o</p><p>21</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>estabelecimento de padrões de ética e responsabilidade social em suas atividades. Parece</p><p>lícito afirmar que hoje em dia as organizações precisam estar atentas não só às suas</p><p>responsabilidades econômicas e legais, mas também às suas responsabilidades éticas,</p><p>morais e sociais (ASHLEY, 2002). Por meio das considerações apresentadas pelo Serviço</p><p>Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), pode-se dizer que o fato de</p><p>uma empresa oferecer o melhor produto ou serviço para seus consumidores não quer dizer</p><p>que ela tenha ética nas suas relações. Principalmente se, por exemplo, no desenvolvimento</p><p>de suas atividades, não se preocupar com a poluição gerada no meio ambiente (SEBRAE,</p><p>2003). Além da preocupação com o meio ambiente, para considerar que uma empresa tenha</p><p>ética nas suas relações, outro valor bastante importante é a transparência, principalmente</p><p>em determinados segmentos, tais como o tratado neste estudo. Se não tiver transparência na</p><p>condução dos negócios a empresa pode ser prejudicada.</p><p>Um exemplo dado pelo SEBRAE (2003) é o das empresas que sonegam</p><p>informações importantes sobre seus produtos e serviços. Futuramente, elas podem ser</p><p>responsabilizadas por omissão. 5 Ashley (2002) afirma que responsabilidade social pode</p><p>ser definida como o compromisso que uma organização deve ter com a sociedade. Este</p><p>compromisso pode ser expresso por meio de atos e atitudes que afetem a sociedade</p><p>positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico. Assim, numa</p><p>visão expandida, responsabilidade social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a</p><p>melhoria da qualidade de vida da sociedade. O conceito RSE está relacionado com a ética e</p><p>a transparência na gestão dos negócios e deve refletir-se nas decisões cotidianas que podem</p><p>causar impactos na sociedade, no meio ambiente e no futuro dos próprios negócios. De</p><p>modo mais simples, pode-se dizer que a ética nos negócios ocorre quando as decisões de</p><p>interesse de determinada empresa também respeitam o direito, os valores e os interesses de</p><p>todos aqueles que são por ela afetados (SEBRAE, 2003).</p><p>A RSE tornou-se um fator de competitividade para os negócios. Fabricar produtos</p><p>ou prestar serviços que não degradem o meio ambiente, promover a inclusão social e</p><p>participar do desenvolvimento</p><p>da comunidade de que fazem parte, entre outras iniciativas,</p><p>são diferenciais cada vez mais importantes para as empresas na conquista de novos</p><p>consumidores ou clientes. Já é significativo o número de grandes e médias empresas que</p><p>selecionam fornecedores (micros e pequenos) utilizando critérios da RSE nos negócios.</p><p>Também no acesso aos créditos e financiamentos é crescente a incorporação de critérios de</p><p>gestão responsável (SEBRAE, 2003). Mas a importância da RSE não deve se resumir no</p><p>retorno que ela pode proporcionar em termos de melhoria de imagem, facilidade na</p><p>22</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>obtenção de crédito junto aos bancos e de aumento da competitividade no mercado em que</p><p>atuam, mas sim na sua importância para o crescimento do país.Diante do quadro de pobreza,</p><p>dos sérios problemas nas áreas de educação, saúde, emprego, segurança e meio ambiente é</p><p>bastante salutar que as organizações assumam um papel social e contribuam eficazmente</p><p>para o desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida no planeta. Ainda é</p><p>importante que, por meio deste movimento e do exemplo dos seus líderes, as empresas</p><p>contribuam para resgatar a ética no relacionamento humano e nos negócios (SANTARÉM,</p><p>2000).</p><p>A responsabilidade social deve estar inserida na infra-estrutura e na cultura das</p><p>organizações. As práticas de responsabilidade social devem fazer parte da vida das</p><p>organizações. Elas devem incorporar-se à gestão, aos valores, à missão e ao planejamento</p><p>estratégico das organizações. 2.2.1 A importância das práticas de responsabilidade social</p><p>Através do desenvolvimento e ampliação de projetos sociais, nos últimos anos, as práticas</p><p>de responsabilidade social têm tido destaque em muitas empresas. Segundo Silva (2001),</p><p>isso se deve ao fato da sociedade estar mais consciente de que o Estado não tem mais</p><p>recursos, capacidade de investimentos e competência gerencial para resolver sozinho os</p><p>graves problemas sociais que afligem a humanidade. Assim, a preocupação das empresas</p><p>com as causas sociais tem se tornado uma questão de estratégia e de sobrevivência no mundo</p><p>corporativo. Outra importância que pode ser atribuída à adoção de práticas de RSE é a</p><p>lucratividade que elas podem proporcionar à organização.</p><p>Segundo Ashley (2002), o mundo empresarial vê na responsabilidade social uma</p><p>nova estratégia para aumentar seu lucro e potencializar seu desenvolvimento. Deve haver o</p><p>desenvolvimento de estratégias empresariais competitivas por meio de soluções socialmente</p><p>corretas, ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis. Entre os resultados das</p><p>ações ética e socialmente responsáveis, merece ser mencionado o aumento da</p><p>competitividade das empresas praticantes. Isso se deve ao fato dos consumidores de hoje</p><p>estarem mais exigentes e, conseqüentemente, mais preocupados com a sociedade em que</p><p>estão inseridos. Percebe-se, portanto, que a RSE é fundamental para o 6 desenvolvimento</p><p>das organizações, já que os diversos públicos com os quais as empresas se relacionam</p><p>passam a exigir um retorno social e não somente lucros. Segundo Schiffman e Kanuk</p><p>(2000), a maioria das empresas reconhece que atividades socialmente responsáveis</p><p>melhoram a imagem delas junto aos consumidores, acionistas, comunidade financeira e</p><p>outros públicos relevantes. Elas descobriram que práticas éticas e socialmente responsáveis</p><p>simplesmente são negócios saudáveis que resultam em uma imagem favorável e, por</p><p>23</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>decorrência, em maiores vendas. O contrário também é verdadeiro: percepções de falta de</p><p>responsabilidade social da parte de uma empresa afetam negativamente as decisões de</p><p>compra do consumidor. Pode-se afirmar, portanto, que as práticas de responsabilidade social</p><p>desenvolvem uma maior identificação da empresa com o seu público socialmente</p><p>consciente, ou seja, aquelas pessoas e organizações que, como ela, procuram adotar</p><p>comportamentos politicamente corretos.</p><p>ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL EM FUNERÁRIAS</p><p>As empresas funerárias, responsáveis pela remoção, exumação e embalsamento de</p><p>cadáveres, prestam serviços a clientes que se encontram sob o peso de condições especiais</p><p>devido à perda de entes queridos. Diante disso, torna-se ainda mais importante a presença</p><p>da ética e da responsabilidade social para respaldar as relações das mesmas com os que as</p><p>contratam, razões que também justificam a verificação da atuação de empresas desse ramo</p><p>de atuação. De forma a auxiliar o setor, foi criado para a categoria, em 1998, pela</p><p>Associação Brasileira de Empresas e Diretores Funerários (ABREDIF), o Código de Ética</p><p>e Auto Regulamentação Funerária (CEARF). Este código se caracteriza como o primeiro</p><p>instrumento a estabelecer as normas que regulamentam o setor e a conduta dos profissionais</p><p>que nele atuam. O aludido código estabelece em seu capítulo II que as empresas do setor</p><p>funerário devem trabalhar baseadas na respeitabilidade, decência, honestidade e proteção à</p><p>intimidade, conforme detalhamento abaixo: Respeitabilidade - Toda atividade funerária</p><p>deverá caracterizar-se pelo respeito à dignidade da pessoa humana, aos seus sentimentos,</p><p>ao interesse social e ao núcleo da família; Decência - O Diretor Funerário preservará os</p><p>bons costumes, agindo com zelo e discrição para que o(a) falecido(a) ou sua família não</p><p>sejam expostos a situações constrangedoras; Honestidade - Os serviços funerários devem</p><p>ser oferecidos e realizados de forma a não se abusar da confiança, falta de experiência ou</p><p>desconhecimento da família, não se beneficiando ainda da credulidade ou estado emocional</p><p>do contratante; Proteção à intimidade - O Diretor Funerário manterá sigilo profissional nos</p><p>assuntos particulares de interesse daqueles que solicitarem seus serviços. Não prestará nem</p><p>divulgará qualquer informação, imagem ou fotografia que tenha relação com o atendimento</p><p>funerário, salvo quando autorizado pela família e ressalvada a sua obrigação de divulgar</p><p>informações exigíveis nos termos da lei. 8 O CEARF também estabelece que os interesses</p><p>da família do falecido devem estar sempre à frente dos interesses de qualquer situação de</p><p>concorrência. A cordialidade é outro valor que deve ser observado no atendimento e na</p><p>24</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>prestação dos serviços, uma vez que aqueles que recorrem aos serviços funerários já se</p><p>encontram fragilizados emocionalmente. Especificamente são destacados dois artigos do</p><p>CEARF, como exemplo do seu conteúdo.</p><p>Segundo o artigo 16, somente pessoas autorizadas e qualificadas procederão ao</p><p>manuseio de cadáveres, sempre após a assinatura do atestado de óbito por um médico e com</p><p>equipamentos de proteção. O artigo 18 do código estabelece que na comercialização</p><p>somente serão oferecidos produtos e serviços dentro das exigências técnicas, legais e</p><p>operacionais necessárias, sempre em conformidade com o poder aquisitivo do contratante,</p><p>ao qual serão fornecidas todas as descrições e comparações necessárias. A partir da</p><p>demonstração dos instrumentos de regulamentação das atividades do setor funerário, faz-se</p><p>mister identificar como as empresas têm atuado e a motivação das mesmas para a adoção</p><p>de postura ética e demonstrações de responsabilidade social.</p><p>O RETRATO DO SERVIÇO FUNERÁRIO</p><p>É importante salientar que os casos descritos aqui não devem ser generalizados,</p><p>porém estes se confundem com o dia-a-dia do serviço funerário no Brasil, assim como em</p><p>outros países. O setor funerário passou a contar com um serviço exclusivo na Internet, um</p><p>site criado para atender às necessidades da categoria, sendo um instrumento para debates de</p><p>assuntos polêmicos e canal de sugestões. O site se denomina como “o endereço eletrônico</p><p>dos empresários compromissados com a ética e profissionalismo”, sendo acessado pelo</p><p>endereço: http://www.funerarianet.com.br . Outro serviço disponível na web foi</p><p>desenvolvido pelo</p>EPI – Equipamento de Proteção Individual EPC – 
Equipamento de Proteção Coletiva FISPQ – Fichas de Informações de Segurança de 
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Produto Químico HEPA – High Efficiency Particulate Air IATA – International Air 
Transport Association ISO – International Organization for Standardization ISTs – 
Infecções Sexualmente Transmissíveis LACEN/ES – Laboratório Central do Estado do 
Espírito Santo MB – Manual de Biossegurança MQ – Manual da Qualidade MS – 
Ministério da Saúde NBR – Norma Brasileira OCAI – Organizational Culture Assessment 
Instrument OIT – Organização Internacional do Trabalho OSHA – Occupational Safety and 
Health Administration – USA PFF2 – Peça facial filtrante nível 2 (eficiência mínima de 
filtração de 94%). SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade SO – Setor Organizacional. 
 
 
 máscara de proteção respiratória descartável tipo PFF2 
 
 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
 
 Brasil. Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Diretrizes 
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Resolução CNE/ 
CES n. 4, Brasília (DF), 7 de novembro, 1-6; 2001. 
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2, p. 10. Abril 2001. 
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ano 3, n. 4, p. 11. Julho 2002. BORGES, E.; MEDEIROS, C. Comprometimento e 
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Fin. USP, São Paulo, n. 44, p. 60 – 71, Maio /Agosto 2007. 
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Educação. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, agosto de 2010. BRASIL. 
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14 de maio de 2014. 
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atuação do advogado. Sociologias, Porto Alegre, ano 13, n. 28, p. 346-369, 
set./dez. 2011. 
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profissional. Uniceub. Brasília - DF, agosto de 2006. 
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59072006000300001&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 out. 2019. 
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Associação Brasileira de Educação Médica. 2004. 
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saúde. São Paulo: Érica, 2014. 
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contexto da saúde. São Paulo: Iátria, 2013. 
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