Prévia do material em texto
<p>1</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Carga Horária: 12h</p><p>Professores: Alanna Cassé,</p><p>Alisson Cleiton</p><p>Taciana Maria</p><p>Ética, Bioética e Biossegurança</p><p>2</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>ÉTICA E BIOÉTICA</p><p>O PLANO ÉTICO</p><p>Comumente, as palavras ‘moral’ e ‘ética’ são empregadas como sinônimas. Por</p><p>exemplo, diz-se de uma pessoa que ‘ela não tem ética’ para criticar seus comportamentos e</p><p>atitudes; poder-se-ia muito bem chamá-la ‘imoral’. Quando se fala em ‘problemas éticos’,</p><p>costuma-se fazer referência a questões atinentes aos deveres, portanto, ao plano moral. Em</p><p>uma palavra, emprega-se, na maioria das vezes, ética como sinônimo de moral. Note-se que</p><p>tal sinonímia é perfeitamente aceitável do ponto de vista acadêmico, e alguns autores</p><p>empregam um ou outro conceito indistintamente. Vejamos definições de dicionário para nos</p><p>convencermos da legitimidade dessa sinonímia. O Dicionário Houaiss (2001), por exemplo,</p><p>traz como uma das definições de moral “conjunto de regras, preceitos, etc. característicos</p><p>de um determinado grupo social que os estabelece e defende”. Para a ética, o referido</p><p>dicionário coloca: “conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um</p><p>indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade”. Outros dicionários também atestam a</p><p>sinonímia.</p><p>Há de se notar que, hoje em dia, assistimos a uma valorização da palavra ‘ética’ em</p><p>detrimento da palavra ‘moral’. Eis a avaliação crítica que Spitz (1995) faz dessa preferência:</p><p>“Esse termo (ética), que tomou uma importância cada vez maior, veio para aliviar o</p><p>inextricável embaraço daqueles que desejariam falar em moral sem ousar pronunciar esta</p><p>palavra”. Eis um diagnóstico convincente! Todavia, há possibilidades de estabelecer, por</p><p>convenção, diferenças entre ‘moral’ e ‘ética’. As duas mais frequentes e consagradas</p><p>mantêm os dois termos como referência a deveres. A primeira dessas possibilidades consiste</p><p>em reservar a palavra ‘ética’ a deveres de ordem pública. É o caso de expressões como ‘ética</p><p>da política’, ‘ ética da empresa’, ‘código de ética’ (de determinadas profissões), ou ainda</p><p>‘comitê de ética para pesquisa com seres humanos’. Está claro que em todos esses exemplos,</p><p>o que está em jogo é um conjunto de princípios e regras que visam estabelecer obrigações</p><p>por parte das pessoas contempladas. Ética na política nos remete, entre outros conteúdos,</p><p>ao preceito da honestidade (não enganar o eleitor, não apoderar-se de bens públicos, não</p><p>fazer tráfico de influências etc.): tal ética, portanto, exige comportamento moral.</p><p>Os diversos códigos de ética trazem normas que devem, de maneira obrigatória,</p><p>reger as atividades dos profissionais, normas cujas raízes encontram-se na moral legitimada</p><p>pela sociedade. Mesma coisa pode-se dizer da atualmente muito em voga ‘ética da empresa’:</p><p>3</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>trata-se de normatizar condutas (respeitar o cliente, por exemplo). Finalmente, os comitês</p><p>de ética na pesquisa com seres humanos visam a regulamentar as atividades de investigação</p><p>para garantir o bem-estar físico e psicológico dos sujeitos que se submetem a procedimentos</p><p>de investigação científica. Além de sua referência a deveres, o que há em comum nas</p><p>expressões analisadas é o fato de referirem-se a ações que dizem respeito ao espaço público</p><p>(não faria muito sentido em se falar em ‘ética familiar’). Uma segunda possibilidade de</p><p>diferenciar ética de moral é reservar a primeira para os estudos científicos e filosóficos do</p><p>fenômeno moral. É esta, aliás, a diferenciação mais empregada no meio acadêmico. Kant</p><p>(1994), um dos primeiros a colocar ordem nos conceitos de moral e ética, propõe que se</p><p>defina ética como a ciência das leis da liberdade (a física seria a ciência das leis da natureza).</p><p>Outros autores, como o já citado Tugendhat (1998), definem ética de forma semelhante:</p><p>reflexão filosófica sobre a moral. Mas, como já dito, a reflexão pode ser de ordem científica,</p><p>como a busca empírica de dados para explicar o fenômeno moral, como o fizeram autores</p><p>como Lévy-Bruhl (1971), Durkheim (1974), Freud (1991), Piaget (1932) e tantos outros.</p><p>Mesmo aceita essa diferença de sentido, verifica-se que se permanece no campo do dever,</p><p>da obrigatoriedade, portanto, permanece-se no que chamamos de plano moral: apenas o</p><p>nível de abstração faz a diferença entre os dois termos. Todavia, há outra possibilidade de</p><p>diferenciar-se ética de moral, que rompe claramente com a sinonímia. Leiamos a proposta</p><p>de Paul Ricoeur (1990), a qual faremos nossa: “É por convenção que reservarei o termo</p><p>ética para a busca (visée) de uma vida realizada (accomplie) e o de moral para a articulação</p><p>dessa busca com normas caracterizadas ao mesmo tempo pela pretensão à universalidade e</p><p>por um efeito de coação”.</p><p>Vemos que Ricoeur (1990) define moral como o fizemos até agora. Todavia, reserva</p><p>o termo ética para outro plano: o da definição e busca do que seja uma ‘vida realizada’, ou,</p><p>em termos filosóficos clássicos, uma ‘vida boa’ ou ‘feliz’. Outros autores contemporâneos</p><p>fazem distinção semelhante entre moral e ética. Citemos dois, começando por Bernard</p><p>Williams, que inicia seu livro L’Ethique et les Limites de la Philosophie (1990) afirmando</p><p>que “o objetivo da filosofia moral e a esperança de que ela possa merecer atenção estão</p><p>relacionados ao destino dado à questão de Sócrates (de que maneira viver?)”. Williams</p><p>(1990) reserva o conceito de ética para essa ampla questão, e o de moral para os deveres</p><p>que intimamente nos coagem. Comte-Sponville faz eco aos dois autores citados ao escrever</p><p>que “a moral responde à questão ‘que devo fazer?’, e a ética, à questão “como viver?’</p><p>(Comte-Sponville, em Comte-Sponville & Ferry, 1998). Como dito acima, seguiremos os</p><p>autores que acabamos de citar e diferenciaremos, portanto, o plano ético referente ao tema</p><p>4</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>da ‘vida boa’ e o plano moral, ao tema dos deveres para com outrem e para consigo mesmo.</p><p>Falamos em plano ético para diferenciar forma e conteúdo. Com efeito, as respostas ao que</p><p>seja uma ‘vida boa’ podem variar, logo, há variadas éticas, como há diversas morais. Isso</p><p>posto, devemos lembrar que a questão da vida boa não é nova, que ela preocupa os filósofos</p><p>desde a antiguidade, e que as respostas dadas costumam responder pelo nome de</p><p>eudemonismo (teoria da felicidade como bem para o homem).</p><p>Dizemos que costumam ser chamadas de eudemonismo porque, como apontado por</p><p>Dupréel (1967), há divergências a respeito de que propostas merecem, de fato, o nome de</p><p>eudemonismo. Esse autor opta por reservar o referido conceito para as propostas que</p><p>pressupõem que cada homem sabe muito em que consiste sua felicidade, cabendo à filosofia</p><p>elaborar as técnicas para conquistá-la. É, por exemplo, o caso do utilitarismo de Mill (1988),</p><p>para quem a felicidade consiste em “prazer e ausência de dor” (p. 48), e que discute regras</p><p>de prudência para buscar o prazer e evitar a dor. A outras propostas, que visam a ensinar ao</p><p>homem o que é a felicidade, Dupréel dá o nome de teorias idealistas. É o caso, por exemplo,</p><p>de Aristote (1965), cuja ética implica que a felicidade depende da elevação do homem por</p><p>intermédio do cultivo das virtudes. Mas deixemos as polêmicas a respeito de que nome</p><p>merecem os diversos sistemas que se debruçaram sobre a felicidade, pois o que nos interessa</p><p>aqui é sublinhar o fato de a reflexão sobre a ‘vida boa’ – seja ela intuitivamente conhecida</p><p>ou, pelo contrário, revelada pelos sábios – ser tema recorrente da chamada filosofia moral.</p><p>Aliás, pode-se dizer que esse tema tem sido muito mais trabalhado que o do dever – que</p><p>somente ganha realce filosófico a partir de Kant, embora tenha sido questão central das</p><p>religiões de origem judaica.</p><p>E é grande a variedade e riqueza</p><p>e legais, consultas podem ser feitas através do site</p><p>www.genec.blogger.com.br . Quais são os fundamentos das funerárias idôneas e legais?</p><p>Qual o critério elas têm que obedecer para figurar no site? Como medida de combate à</p><p>atuação dos “urubus”, o SINDINEF declarou a colocação de placas nas empresas</p><p>credenciadas pela prefeitura com os seguintes dizeres: “Contrate uma empresa idônea”. O</p><p>Tempo ainda lembra que a única regulamentação para o setor funerário em Belo Horizonte,</p><p>data de agosto de 1944, quando Juscelino Kubitschek era o prefeito. Este documento prevê</p><p>a concessão exclusiva da exploração dos serviços funerários à Santa Casa de Misericórdia</p><p>que, para compensar o benefício, ficou responsabilizada pelo enterro de indigentes e pessoas</p><p>carentes. Um decreto municipal passou a exigir das demais funerárias a compra de caixões</p><p>e urnas exclusivamente da Santa Casa. Caso contrário, elas não receberiam autorização para</p><p>entrada em hospitais e cemitérios (O TEMPO... apud FUNERARIANET). No ano de 1994,</p><p>foi aprovada pela Câmara Municipal de Belo Horizonte, uma lei com o intuito de</p><p>regulamentar a atividade, acabando com a exclusividade da Santa Casa, porém ela foi</p><p>anulada devido a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN). Segundo a Promotoria</p><p>de Fundações do Ministério Público, o contrato entre a Santa Casa e a prefeitura fere a lei</p><p>orgânica do município, que determina a realização de licitação para concessões públicas. Já</p><p>da parte da Santa Casa, foi afirmado que já não exerce mais a exclusividade devido a</p><p>algumas liminares adquiridas por outras funerárias na justiça. (O TEMPO... apud</p><p>FUNERARIANET).</p><p>As funerárias, segundo o Diário de São Paulo 22/09/2003 (apud</p><p>28</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>FUNERARIANET), também estão sob a observação do Ministério da Saúde e da CPI dos</p><p>Planos de Saúde, pois têm oferecido irregularmente, por meio de seus planos assistenciais</p><p>funerários, descontos em consultas médicas e odontológicas, exames de laboratório e</p><p>remédios. Os associados ainda têm descontos em salão de cabeleireiro, lojas, restaurantes,</p><p>revendedoras de gás, auto-escola e muitos outros serviços. Os associados dos planos</p><p>funerários em todo o país têm o perfil parecido: baixa renda e pouca instrução. Para</p><p>aumentar o faturamento e conquistar clientes, as funerárias utilizam o cartão desconto,</p><p>burlando a legislação dos planos de saúde. Os donos dessas funerárias, segundo o Diário de</p><p>São Paulo, são os responsáveis pelo site www.funerarianet.com.br, o qual inclusive</p><p>orientaria os proprietários a diversificar os investimentos. Segundo o referido jornal, a</p><p>página da internet dá dicas de como escapar da fiscalização e afirma que muitos empresários</p><p>do setor se protegem das ações da Agência Nacional de Saúde (ANS), que tem multado e</p><p>notificado as funerárias. (Essa é uma crítica interessante porque faz parecer que o</p><p>funerarianet não atua no sentido de promover uma ação ética, conforme as atribuições das</p><p>funerárias) Por fim, verifica-se que até mesmo nos países chamados “desenvolvidos”, os</p><p>serviços funerários seguem orientações diferentes das ditadas pela lei.</p><p>Segundo a Agência Reuters - Internacional/USA (apud FUNERARIANET) em</p><p>dezembro de 2002, em Miami, a maior empresa funerária do mundo, situada na Flórida, foi</p><p>acusada em um processo judicial, de desenterrar cadáveres e jogá-los no mato para dar lugar</p><p>a novos enterros. As famílias entraram com uma ação contra a empresa Service Corporation</p><p>International (SCI), por violar túmulos e 11 destruir restos mortais. A SCI disse que as</p><p>alegações são totalmente contrárias à política e procedimentos da empresa e que lutavam</p><p>para cumprir seus deveres profissionais aderindo aos mais altos padrões de serviços e ética.</p><p>Entretanto, os noticiários dos vários canais de televisão do país mostraram o quão danosas</p><p>e antiéticas foram as ações da SCI, a qual buscava arranjar “vagas” no cemitério jogando os</p><p>corpos lá enterrados em um lago adjacente. As notícias deixavam as pessoas perplexas</p><p>diante da violação realizada.</p><p>29</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>BIOSSEGURANÇA</p><p>A biossegurança compreende um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar,</p><p>mitigar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam interferir ou comprometer a</p><p>qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. Desta forma, a biossegurança</p><p>caracteriza-se como estratégica e essencial para a pesquisa e o desenvolvimento sustentável</p><p>sendo de fundamental importância para avaliar e prevenir os possíveis efeitos adversos de</p><p>novas tecnologias à saúde.</p><p>As ações de biossegurança em saúde são primordiais para a promoção e manutenção</p><p>do bem-estar e proteção à vida. A evolução cada vez mais rápida do conhecimento científico</p><p>e tecnológico propicia condições favoráveis que possibilitam ações que colocam o Brasil</p><p>em patamares preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação à</p><p>biossegurança em saúde. No Brasil, a biossegurança começou a ser institucionalizada a</p><p>30</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>partir da década de 80 quando o Brasil tomou parte do Programa de Treinamento</p><p>Internacional em Biossegurança ministrado pela OMS que teve como objetivo estabelecer</p><p>pontos focais na América Latina para o desenvolvimento do tema.</p><p>A partir daí, deu-se início a uma série de cursos, debates e implantação de medidas</p><p>para acompanhar os avanços tecnológicos em biossegurança. Em 1985, a FIOCRUZ</p><p>promoveu o primeiro curso de biossegurança no setor de saúde e passou a implementar</p><p>medidas de segurança como parte do processo de Boas Práticas em Laboratórios, que</p><p>desencadeou uma série de cursos sobre o tema. Foi também em 1995 que houve a publicação</p><p>da primeira Lei de Biossegurança, a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, posteriormente</p><p>revogada pela Lei no 11.105, de 24 de março de 2005. Departamento do Complexo</p><p>Industrial e Inovação em Saúde (DECIIS) por meio da Coordenação Geral de Assuntos</p><p>Regulatórios realizou a Oficina de Biossegurança em Saúde, nos dias 15 e 16 de junho de</p><p>2009.</p><p>DESCONTAMINAÇÃO</p><p>a) Descontaminar todas as superfícies de trabalho diariamente utilizando álcool a</p><p>70%, ou hipoclorito de sódio a 0,1-1% (biologia molecular). Quando houver respingos ou</p><p>derramamentos observar o processo de desinfecção específico para escolha e utilização do</p><p>agente desinfetante adequado.</p><p>b) Colocar todo o material potencialmente contaminado por agentes biológicos em</p><p>recipientes com tampa e a prova de vazamento, antes de removê-los do laboratório para</p><p>autoclavação.</p><p>c) Descontaminar por autoclavação ou por desinfecção química, todo o material</p><p>potencialmente contaminado por agentes biológicos, como: vidraria, equipamentos de</p><p>laboratório, etc.</p><p>d) Descontaminar todo equipamento antes de qualquer serviço de manutenção, de</p><p>acordo com o procedimento operacional padrão.</p><p>e) Colocar vidraria quebrada e pipetas descartáveis, após descontaminação, em caixa</p><p>com paredes rígidas para perfurocortantes, devidamente identificada, e descartada como</p><p>lixo comum.</p><p>EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI</p><p>São empregados para proteger o pessoal da área de saúde do contato com agentes</p><p>infecciosos, tóxicos ou corrosivos, calor excessivo, fogo e outros perigos. Também servem</p><p>para evitar a contaminação do material em experimento ou em produção. EPI,s (NR6</p><p>Portaria SIT nº194, de 07 de dezembro de 2010), afim de que a contenção exerça sua função</p><p>31</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>dentro do laboratório é imprescindível o conhecimento acerca do manuseio dos</p><p>equipamentos de proteção individual (EPI) e disponibilidade dos mesmos para a sua</p><p>utilização.</p><p>Esse equipamento de proteção trata-se de barreiras primárias que protegem a</p><p>integridade física e a saúde do profissional quanto o ambiente em que atua. A legislação</p><p>trabalhista</p><p>prevê que é obrigação do trabalhador: usar e conservar os EPI’s e quem falhar</p><p>nestas obrigações poderá ser responsabilizado; assim como o empregador poderá responder</p><p>na área criminal ou cível, além de ser multado pelo Ministério do Trabalho. O funcionário</p><p>está sujeito a sanções trabalhistas podendo até ser demitido por justa causa.</p><p>LUVAS</p><p>As luvas devem ser usadas em atividades laboratoriais com riscos químicos, físicos</p><p>(cortes, calor, radiações) e biológicos. Fornecem proteção contra dermatites, queimaduras</p><p>químicas e térmicas, bem como as contaminações ocasionadas pela exposição repetida a</p><p>pequenas concentrações de numerosos compostos químicos.</p><p>ATENÇÃO: Enquanto estiver de luvas, o trabalhador não pode manusear maçanetas,</p><p>telefones fixos ou celulares, puxadores de armários e outros objetos de uso comum; NÃO</p><p>usar luvas fora da área de trabalho; LAVAR INSTRUMENTOS e superfícies de trabalho</p><p>SEMPRE usando luvas; NUNCA reutilizar as luvas descartáveis, DESCARTÁ-LAS de</p><p>forma segura.</p><p>As luvas devem ser resistentes, anatômicas, flexíveis, pouco permeáveis, oferecer</p><p>conforto e destreza ao usuário, além de serem compatíveis com o tipo de trabalho executado.</p><p>Podem ter cano longo ou curto, com ou sem palma antiderrapante; o interior pode ser liso</p><p>ou flocado com algodão. São confeccionadas com grande variedade de materiais, com</p><p>características e empregos diversos. A seleção deve se basear nas características, condições</p><p>e duração de uso das luvas e nos perigos inerentes ao trabalho, conforme os exemplos a</p><p>seguir:</p><p>a) Luvas de proteção para o manuseio de material biológico. Usar luvas de látex</p><p>SEMPRE que houver CHANCE DE CONTATO com sangue, fluídos do corpo, dejetos,</p><p>trabalho com microrganismos e animais de laboratório. Devem ser utilizadas luvas de látex</p><p>descartáveis estéreis (luvas cirúrgicas) ou não estéreis (luvas de procedimento). Para</p><p>pessoas alérgicas ao látex, utilizar luvas de PVC, vinil ou nitrila.</p><p>b) Luvas de proteção ao calor. Para os trabalhos que geram calor, é recomendável</p><p>o uso de luvas de tecido resistente ou revestida de material resistente ao calor. Em trabalhos</p><p>que envolvem altas temperaturas, são recomendáveis as luvas de tecido atóxico do tipo</p><p>32</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>kevlar (fibras de aramida e grafatex) resistentes a temperaturas de até 400°C.</p><p>c) Luvas de proteção ao frio. Para procedimentos que envolvem a manipulação de</p><p>objetos em baixa temperatura, utilizam-se luvas de náilon impermeabilizado ou de tecido</p><p>emborrachado com revestimento interno de fibras naturais ou sintéticas. Para o manuseio</p><p>de objetos em temperaturas inferiores a 15°C, são utilizadas luvas de lã.</p><p>d) Luvas de proteção para o manuseio de produtos químicos. Para a manipulação de</p><p>substâncias químicas devem ser utilizadas luvas de borracha natural, neoprene, PVC, PVA e</p><p>borracha de butadieno. A escolha do tipo de luva deve ser de acordo com o tipo de substância</p><p>química a ser manipulada (Quadro 1).</p><p>Jaleco ou avental</p><p>O jaleco fornece uma barreira ou proteção e reduz a oportunidade de transmissão de</p><p>microrganismos e contaminação química. Previne a contaminação das roupas, protegendo</p><p>a pele da exposição a sangue e fluidos corpóreos, salpicos e derramamentos de material</p><p>infectado. Deve ser de mangas longas, confeccionado em algodão ou fibra sintética (não</p><p>inflamável). O jaleco ou avental descartável deve ser resistente e impermeável.</p><p>NOTAS:</p><p>I - Uso OBRIGATÓRIO de jaleco nos laboratórios ou quando o funcionário estiver</p><p>em procedimento;</p><p>II - Jalecos NUNCA devem ser colocados no armário onde são guardados objetos</p><p>pessoais. Devem ser descontaminados antes de serem lavados;</p><p>III – Jalecos NÃO devem ser utilizados nas áreas administrativas, banheiros,</p><p>33</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>refeitórios e outras áreas comuns.</p><p>Protetores para a cabeça e face</p><p>a) Óculos de Proteção - Os óculos de proteção (ou de segurança) oferecem proteção</p><p>contra respingos de agentes corrosivos, irritações e outras lesões oculares decorrentes da</p><p>ação de produtos químicos, radiações e partículas sólidas. Os óculos devem proporcionar</p><p>visão transparente e sem distorções. Para trabalhos que envolvam a luz UV, é necessária,</p><p>além dos óculos de segurança, a proteção de toda a face com protetores faciais.</p><p>b) Protetor Facial - Equipamentos que protegem toda a face contra riscos de</p><p>impactos (partículas sólidas, quentes ou frias), substâncias nocivas (poeiras, líquidos,</p><p>vapores químicos e materiais biológicos) e radiações. São disponíveis em plásticos como</p><p>propionatos, acetatos e policarbonatos simples ou revestidos com metais para absorção de</p><p>radiações infravermelhas.</p><p>c) Máscaras de proteção - As máscaras de proteção são equipamentos de proteção</p><p>das vias aéreas (nariz e boca), confeccionados em tecido ou fibra sintética descartável,</p><p>utilizadas em situações de risco de formação de aerossóis e salpicos de material</p><p>potencialmente contaminado. As máscaras ou respiradores “bicos de pato” N95 ou PFF2</p><p>(95 e 94% de eficiência de filtração, respectivamente) possuem filtro eficiente para retenção</p><p>de partículas maiores que 0,3 μm, vapores tóxicos e contaminantes presentes na atmosfera</p><p>sob a forma de aerossóis, tais como o bacilo da tuberculose (Mycobacterium tuberculosis)</p><p>e outras doenças de transmissão aérea. Dessa forma, aumentam a proteção dos profissionais</p><p>manipuladores.</p><p>NOTA: Cuidados na utilização e preservação possibilitam a reutilização da máscara</p><p>N95/PFF2, tais como:</p><p>1- Não utilizar cosméticos (batons, maquiagens), pois os produtos</p><p>podem manchar e obstruir os filtros das máscaras, diminuindo a eficiência de</p><p>proteção;</p><p>2- 2- Não guardar em bolsos de jalecos, não dobrar, nem amassar.</p><p>Guardá-las sempre em local seco entre folhas de papel absorvente.</p><p>d) Máscaras de proteção respiratória - As máscaras de proteção respiratória são</p><p>necessárias quando se manipulam gases irritantes (cloreto de hidrogênio, dióxido de</p><p>enxofre, amônia, formaldeído), que produzem inflamações ao contato direto com tecidos –</p><p>pele, conjuntiva ocular e vias respiratórias. São usadas nas atividades que utilizam gases</p><p>anestésicos (éter) e solventes orgânicos que tem ação depressiva sobre o sistema nervoso</p><p>central e gases asfixiantes (hidrogênio, nitrogênio e dióxido de carbono) potencialmente</p><p>34</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>agressores ao cérebro.</p><p>Existem dois tipos de máscaras respiratórias: semifaciais e de proteção total.</p><p>As semifaciais são recomendadas para os casos em que a concentração dos vapores tóxicos</p><p>não ultrapasse a 10 vezes o limite de exposição, devendo ser acompanhadas do uso de óculos</p><p>de proteção. As máscaras de proteção total são utilizadas quando a concentração pode</p><p>atingir até 50 vezes o limite de exposição. As máscaras dispõem de filtros que protegem o</p><p>aparelho respiratório. Os filtros podem ser mecânicos (para proteção contra partículas</p><p>suspensas no ar), químicos (proteção contra gases e vapores orgânicos), ou combinados.</p><p>NOTA: O uso de máscara de proteção respiratória NÃO dispensa o uso da capela química</p><p>para manipulação de reagentes.</p><p>Outros equipamentos de proteção individual - Esses equipamentos deverão ser</p><p>utilizados dentro do laboratório de acordo com o procedimento e durante ele.</p><p>a) Toucas ou gorros: dependendo da atividade desenvolvida, devem ser utilizadas</p><p>toucas para proteger os cabelos de contaminação (aerossóis e respingos de líquidos) ou</p><p>evitar que os cabelos contaminem uma área estéril. As toucas são confeccionadas em</p><p>diferentes materiais, e devem permitir a oxigenação do couro cabeludo, podendo ser</p><p>reutilizáveis. Para isso, devem ser de material de fácil lavagem e desinfecção.</p><p>b) Botas ou calçados de segurança: Os trabalhadores com sandálias, calçados</p><p>abertos ou de pano estão sujeitos a acidentes e lesões nos pés. O calçado deve ser compatível</p><p>com o tipo de atividade. As botas de segurança devem</p><p>ser resistentes à ação de agentes</p><p>químicos (ácidos e bases fortes) e proteger contra respingos e materiais que causam</p><p>queimaduras. Para trabalhos de limpeza, são indicadas botas de borracha de PVC. Em</p><p>emergências, como o derrame de líquidos ou qualquer material perigoso, o responsável pela</p><p>limpeza deve estar com os pés devidamente protegidos. Quando o piso é escorregadio, é</p><p>recomendável o uso de calçados com solado antiderrapante.</p><p>c) Pró-pés: sapatilhas esterilizadas confeccionadas em algodão (em geral) para áreas</p><p>estéreis, que podem ser reutilizadas conforme o tipo de material de sua confecção e a</p><p>atividade desenvolvida.</p><p>d) Dispositivos de pipetagem: peras, pipetadores automáticos, e outros dispositivos</p><p>de pipetagem também são considerados EPIs.</p><p>EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO COLETIVA - EPC São equipamentos que</p><p>possibilitam a proteção do pessoal do laboratório, do meio ambiente e da pesquisa</p><p>desenvolvida. São exemplos:</p><p>Cabines de Segurança Biológica – CSB As CSB constituem o principal meio de</p><p>35</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>contenção e são utilizadas para proteger o profissional e o ambiente laboratorial dos</p><p>aerossóis ou borrifos infectantes, gerados a partir de procedimentos como centrifugação,</p><p>trituração, homogeneização, agitação vigorosa e misturas, durante a manipulação dos</p><p>materiais biológicos. Protegem também o produto que está sendo manipulado, evitando a</p><p>sua contaminação, com exceção da CSB classe I.</p><p>As CSB são providas de filtros de alta eficiência/HEPA. Alguns procedimentos para</p><p>uso e manutenção da CSB devem ser observados: a) As cabines deverão estar localizadas</p><p>longe da passagem de pessoas e das portas, para que não interrompam o fluxo de ar; b)</p><p>Evitar a circulação de ar, mantendo as portas e janelas fechadas; c) Evitar a circulação de</p><p>pessoas; d) Manter o sistema de filtro HEPA e a luz UV funcionando durante 15 a 20</p><p>minutos antes e após o uso; e) Descontaminar o interior da CSB com álcool a 70%; f)</p><p>Minimizar os movimentos para evitar a ruptura do fluxo laminar de ar, comprometendo a</p><p>segurança do trabalho; g) Não armazenar objetos no interior da CSB; h) Usar EPI adequados</p><p>às atividades; i) Não colocar na CSB caderno, lápis, caneta, borracha ou outro material</p><p>poluente; j) Organizar os materiais de modo que os itens limpos e contaminados não se</p><p>misturem; k) As cabines devem ser testadas e certificadas in situ no laboratório, no momento</p><p>da instalação, sempre que forem removidas ou uma vez ao ano.</p><p>Os sistemas de filtração das CSB são de acordo com o tipo de microrganismo ou</p><p>produto que vai ser manipulado em cada cabine. As CSB são classificadas em três tipos:</p><p>a) Classe I b) Classe II, subdivididas em A, B1, B2 e B3. c) Classe III A escolha de uma</p><p>CSB depende, em primeiro lugar, do tipo de proteção que se pretende obter: proteção do</p><p>produto ou ensaio, proteção pessoal contra microrganismos das Classes de risco 1 a 4,</p><p>proteção pessoal contra exposição a radionuclídeos e químicos tóxicos voláteis, ou uma</p><p>combinação destes:</p><p>36</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>SEGURANÇA NO USO DE EQUIPAMENTOS E MATERIAIS - Os</p><p>equipamentos e materiais laboratoriais são fontes constantes de riscos físicos, que podem</p><p>ser enumerados dependendo dos equipamentos/materiais manuseados. Há também os riscos</p><p>físicos relacionados com as radiações ionizantes e não ionizantes, pressão anormal,</p><p>umidade, calor, ruídos, entre outros. Antes de iniciar o trabalho com um equipamento, as</p><p>instruções sobre sua a operação devem ser cuidadosamente observadas. Abaixo, algumas</p><p>recomendações gerais para evitar ou reduzir os riscos de acidentes no uso de equipamentos</p><p>elétricos, seguido da explanação sobre a segurança dos tipos de materiais e equipamentos</p><p>mais comuns utilizados em laboratórios:</p><p>- Os equipamentos elétricos somente devem ser operados quando os fios, tomadas e</p><p>pinos, estiverem em perfeitas condições e o fio terra estiver ligado;</p><p>- Nunca ligar equipamentos elétricos sem antes verificar a voltagem correta (110 ou</p><p>220 V) entre o equipamento e o circuito;</p><p>- Não usar equipamento elétrico sem identificação de voltagem. Caso não haja,</p><p>solicitar que os responsáveis pela manutenção façam a identificação;</p><p>37</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>- Remover frascos de produtos inflamáveis das proximidades do local onde são</p><p>usados equipamentos elétricos.</p><p>EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTOS PERFURANTES</p><p>a) Proteger as mãos com luvas adequadas e, sem dúvida, tomar os devidos cuidados</p><p>na manipulação, nunca voltando o instrumento contra o próprio corpo.</p><p>b) Apoiar adequadamente em superfície firme antes de utilizar os instrumentos</p><p>perfurantes, ou prender em equipamentos adequados para cada tipo de uso.</p><p>Resíduos perfurocortantes são materiais como: • Lâminas de barbear • Agulhas •</p><p>Seringas com agulhas • Escalpes • Ampolas de vidro • Brocas • Limas endodônticas • Pontas</p><p>diamantadas • Lâminas de bisturi • Lancetas • Tubos capilares • Tubos de vidro com</p><p>amostras • Micropipetas • Lâminas e lamínulas • Espátulas • Ponteiras de pipetas</p><p>automáticas • Todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta</p><p>sanguínea e placas de petri) e outros similares.</p><p>• Todos os materiais, limpos ou contaminados por resíduo infectante deverão ser</p><p>acondicionados em recipientes com tampa, rígidos e resistentes à punctura, ruptura e</p><p>vazamento. Em geral, são utilizadas caixas tipo DESCARTEX, DESCARPACK.</p><p>NÃO REENCAPAR NEM DESACOPLAR AGULHAS DA SERINGA PARA</p><p>DESCARTE. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Rdc N° 306 De 07 de</p><p>Dezembro de 2004</p><p>BIOSSEGURANÇA EM LABORATÓRIOS DE BIOLOGIA MÉDICA</p><p>CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DOS AGENTES BIOLÓGICOS O Ministério</p><p>da Saúde expediu a Portaria nº 1608/2007, que aprova a Classificação de risco dos agentes</p><p>biológicos, elaborada em 2004, atualizada em 2006 e 2010, pela Comissão de</p><p>Biossegurança em Saúde (CBS) do Ministério da Saúde. Os critérios de classificação</p><p>baseiam-se em: virulência, modo de transmissão, estabilidade do agente, concentração e</p><p>volume, origem do material potencialmente infeccioso, disponibilidade de medidas</p><p>profiláticas e de tratamento eficazes, dose infectante, tipo de ensaio e fatores referentes ao</p><p>trabalhador, dentre outros. Os agentes biológicos que afetam pessoas, animais e meio</p><p>ambiente são classificados conforme se segue:</p><p>- CLASSE DE RISCO 1: baixo risco individual e coletivo Inclui os agentes que</p><p>não provocam doenças em humanos ou animais adultos sadios.</p><p>Ex.: Lactobacillus spp, Lactococcus spp, Saccharomyces, Bacillus subtilis, Bacillus</p><p>polimyxa, cepas não patogênicas de E. coli, dentre outros.</p><p>38</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>- CLASSE DE RISCO 2: moderado risco individual e limitado risco coletivo Inclui</p><p>os agentes que podem provocar infecções e/ou doenças no homem ou nos animais, cujo</p><p>potencial de propagação na comunidade e de disseminação no ambiente é limitado, além de</p><p>existirem medidas terapêuticas, além de existirem medidas terapêuticas e profiláticas</p><p>eficazes.</p><p>Ex.: Escherichia coli, Salmonella spp, Streptococcus spp, Staphylococcus</p><p>aureus,Treponema pallidum, Vibrio cholerae, Trypanosoma cruzi, Candida albicans,</p><p>Schistosoma mansoni, HTLV*, HIV*, Hepatites virais, vírus da Dengue, Zika, vírus da</p><p>Rubéola, Sarampo, Caxumba, Citomegalovírus, Herpes (HSV, HZV), Rotavírus, dentre</p><p>outros. * Podem ser de Classe 2 ou 3 a depender do procedimento laboratorial.</p><p>- CLASSE DE RISCO 3: alto risco individual e moderado risco coletivo Inclui os</p><p>agentes biológicos que se transmite por via respiratória e que causam patologias humanas</p><p>ou animais, potencialmente letais, para as quais existem usualmente medidas profiláticas e</p><p>terapêuticas eficazes. Representam risco se disseminados na comunidade e no ambiente,</p><p>podendo se propagar de pessoa a pessoa.</p><p>Ex.: Mycobacterium tuberculosis*, Bacillus anthracis, Coccidioides immitis,</p><p>Clostridium botulinum, Escherichia coli enterohemorrágica, Shigella dysenteriae,</p><p>Hantavírus, vírus da Febre Amarela, vírus da Chikungunya, Influenza A H5N1 e H1N1,</p><p>dentre outros.</p><p>- CLASSE DE RISCO 4: alto risco individual e coletivo Inclui os agentes</p><p>biológicos que causam infecções e/ou doenças graves ao homem ou animais, e representam</p><p>um sério risco para os profissionais de laboratórios e para a coletividade. São agentes</p><p>patogênicos altamente infecciosos, que se propagam com facilidade pela via respiratória ou</p><p>de transmissão desconhecida (geralmente vírus). Podem causar a morte, pois, atualmente,</p><p>não existem medidas profiláticas ou terapêuticas eficazes. Ex.: Sabiá, Marburg, Ebola,</p><p>Varíola (major) Herpesvírus Simiae.</p><p>NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA</p><p>A avaliação do grau de risco, baseada na classificação dos agentes etiológicos, insere</p><p>cada laboratório em um nível de Biossegurança específico. As classes de risco biológico</p><p>dos microrganismos definem o grau de proteção ao pessoal do laboratório, ao meio ambiente</p><p>e à comunidade, e definem os Níveis de Biossegurança ou de contenção laboratorial,</p><p>denominados NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4, em ordem crescente de risco. Tais níveis</p><p>consistem em combinações de práticas e técnicas laboratoriais, equipamentos de segurança</p><p>e instalações do laboratório, permitindo ao profissional exercer suas atividades com</p><p>39</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>segurança.</p><p>ERGONOMIA EM LABORATÓRIOS Os riscos ergonômicos estão ligados à</p><p>execução e à organização de todos os tipos de tarefas. Por exemplo, a altura inadequada do</p><p>assento da cadeira, a distância insuficiente entre as pessoas numa seção, a monotonia do</p><p>trabalho, o isolamento do trabalhador, o treinamento inadequado ou inexistente etc.</p><p>A ergonomia ou engenharia humana é uma ciência relativamente recente que estuda</p><p>as relações entre homem e seu ambiente de trabalho. A Organização Internacional do</p><p>Trabalho (OIT) define a ergonomia como a "aplicação das ciências biológicas humanas</p><p>em conjunto com os recursos e técnicas da engenharia para alcançar o ajustamento</p><p>mútuo, ideal entre o homem e seu trabalho, e cujos resultados se medem em termos de</p><p>eficiência humana e bem-estar no trabalho". Os agentes ergonômicos podem gerar</p><p>distúrbios psicológicos e fisiológicos e provocar sérios danos à saúde do trabalhador porque</p><p>produzem alterações no organismo e no estado emocional, comprometendo sua</p><p>produtividade, saúde e segurança. Para evitar que esses agentes comprometam a atividade</p><p>é necessário adequar o homem às condições de trabalho do ponto de vista da praticidade,</p><p>do conforto físico e psíquico e do visual agradável.</p><p>Isso reduz a possibilidade da ocorrência de acidentes. Essa adequação pode ser</p><p>obtida por meio de melhores condições de higiene no local de trabalho, melhoria do</p><p>relacionamento entre as pessoas, modernização de máquinas e equipamentos, uso de</p><p>ferramentas adequadas, alterações no ritmo de tarefas, postura adequada, racionalização,</p><p>simplificação e diversificação do trabalho.</p><p>Os riscos ergonômicos e psicossociais no laboratório decorrem da organização e da</p><p>gestão do trabalho; podem ser apontados os esforços repetitivos, os turnos diferenciados de</p><p>trabalho e o controle rígido da produtividade. As medidas ergonômicas relacionadas com a</p><p>postura no ambiente de trabalho, assim como as soluções implementadas preventivamente,</p><p>são mais positivas, especialmente quando associadas à utilização de técnicas corretas no</p><p>processo de trabalho. Os agentes de risco ergonômico podem produzir alterações no</p><p>organismo e no estado emocional dos trabalhadores, comprometendo sua produtividade,</p><p>saúde e segurança.</p><p>O cansaço físico, as dores musculares, a hipertensão arterial, as alterações do sono,</p><p>as doenças nervosas, a taquicardia, a diabetes, algumas doenças do aparelho digestivo, como</p><p>a gastrite e a úlcera, a tensão, a ansiedade e problemas musculoesqueléticos são exemplos</p><p>dessas alterações. Os agentes de risco ergonômico não são facilmente identificados, uma</p><p>40</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>vez que seus efeitos são menos visíveis. Apesar de todas as conseqüências que os agentes</p><p>de risco ergonômico podem acarretar para a saúde dos profissionais dos laboratórios, o</p><p>trabalho com atividades em laboratório é considerado pouco desgastante, sendo os</p><p>problemas de saúde detectados atribuídos a outras situações que não o trabalho.</p><p>Com o incremento de novas tecnologias, atividades técnicas como a pipetagem, que</p><p>utiliza o pipetador automático, podem contribuir para o risco do desenvolvimento da Lesão</p><p>por Esforço Repetitivo (LER). Alguns trabalhos com outros equipamentos, tais como o</p><p>microscópio, o micrótomo e os computadores, também podem gerar essas lesões. Vale</p><p>ressaltar que os movimentos se definem como repetitivos não apenas quando são</p><p>exatamente iguais, mas também quando são semelhantes e solicitam de forma mais ou</p><p>menos similar os mesmos músculos e nervos.</p><p>A norma regulamentadora nº 17 (NR 17) do Ministério do Trabalho e Emprego</p><p>estabelece parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às</p><p>características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de</p><p>conforto, segurança e desempenho eficiente. Na área laboratorial a NR 17 recomenda para</p><p>os trabalhos que exige a postura em pé a verificação da possibilidade de executar o trabalho</p><p>na posição sentada. Nesse caso, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para</p><p>essa postura. Recomenda também a colocação de assentos para descanso em locais onde os</p><p>trabalhadores possam utilizá-los durante as pausas.</p><p>Trabalhar bem próximo da bancada com o ângulo de conforto do tornozelo em torno</p><p>de 90º e sem inclinar a coluna para frente. Para o trabalho nos laboratórios que exigem a</p><p>postura sentada os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes</p><p>requisitos mínimos (Figura):</p><p>• Altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida.</p><p>• Característica de pouca ou nenhuma conformação do assento. • Borda frontal</p><p>arredondada.</p><p>• Encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteger a região lombar.</p><p>• Em geral, as atividades nas bancadas exigem pequenas contrações estáticas, em</p><p>função de os braços e antebraços ficarem suspensos por períodos prolongados, gerando</p><p>fadiga e desconforto nos membros superiores, no ombro e no pescoço. Uma forma</p><p>importante de minimizar esses efeitos é trabalhar com o antebraço apoiado sempre que</p><p>possível. Na posição sentada o ângulo entre as coxas e o tronco deve ficar em torno de</p><p>100°, procurando também evitar a inclinação do tronco para frente. Trabalhar sempre com</p><p>as articulações o mais próximo possível do neutro ou no ângulo de maior conforto.</p><p>41</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>A NR 17 também recomenda as pausas compensatórias, de pelo menos cinco</p><p>minutos, a cada cinquenta minutos trabalhados, caminhar durante as pausas para melhorar</p><p>a circulação dos membros inferiores, ingerir água para minimizar a tendência à desidratação</p><p>gerada pela climatização artificial. A detecção precoce dos sintomas das disfunções</p><p>musculo-esqueléticas impede a instalação de quadros mais graves com incapacidade física.</p><p>Aos primeiros sinais e sintomas, deve-se procurar, imediatamente, ajuda e orientação nos</p><p>serviços de saúde do trabalhador e determinar se existem causas relacionadas com</p><p>inadequações no ambiente e no processo de trabalho.</p><p>PROCEDIMENTOS EM CASOS DE ACIDENTES</p><p>EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO</p><p>a) Lavar exaustivamente a área exposta com água e sabão/ soro fisiológico;</p><p>b) O profissional acidentado deve ser encaminhado para um serviço de saúde</p><p>especializado em ISTs. Seguir recomendação específica para imunização contra o tétano e</p><p>medidas de quimioprofilaxia para Hepatite B e HIV e acompanhamento sorológico para</p><p>Hepatite B / C / HIV;</p><p>c) A indicação de antirretrovirais deve</p><p>ser baseada em avaliação criteriosa do risco</p><p>de transmissão do HIV em função do tipo de acidente ocorrido e a toxicidade das</p><p>medicações antirretrovirais. Quando indicada, a quimioprofilaxia deverá ser iniciada o mais</p><p>rápido possível, dentro de 1 a 2 horas após o acidente.</p><p>DERRAMAMENTO DE MATERIAL BIOLÓGICO NO LABORATÓRIO</p><p>a) Solicitar às outras pessoas que estiverem na sala para saírem imediatamente;</p><p>b) Utilizar luvas e jaleco, incluindo, se necessário, proteção para a face e os olhos;</p><p>c) Cobrir o local onde o material biológico está derramado com material absorvente</p><p>(papel toalha) para minimizar a área afetada e a produção de aerossóis;</p><p>42</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>d) Derramar sobre o papel toalha hipoclorito de sódio 1 a 2% de cloro ativo (fenol a</p><p>5% para cultura de TB), de forma concêntrica iniciando pelo exterior da área de derrame e</p><p>avançando para o centro;</p><p>e) Deixar em repouso pelo menos 30 minutos para que o desinfetante exerça a sua</p><p>ação;</p><p>f) Retirar os materiais envolvidos no acidente, inclusive objetos cortantes utilizando</p><p>um apanhador ou um pedaço de cartão rígido para recolher o material e colocá-lo em um</p><p>recipiente resistente para descarte final; g) Limpar e desinfetar a área do derrame com gaze</p><p>ou algodão embebido em álcool etílico a 70%.</p><p>QUEBRA DE TUBOS NO INTERIOR DA CENTRÍFUGA</p><p>a) Interromper a operação; b) Manter a centrífuga fechada por pelo menos 30</p><p>minutos para que baixem os aerossóis; c) Remover e descartar os fragmentos de vidro em</p><p>condições seguras; d) Descontaminar a centrífuga, o rotor e as caçapas com desinfetante</p><p>adequado, conforme o item 13.2 e as instruções do fabricante no manual da centrífuga; e)</p><p>Utilizar, preferencialmente, caçapa de segurança e tubos de polipropileno com tampa</p><p>rosqueável, em substituição ao vidro.</p><p>QUEBRA DE TUBOS NO INTERIOR DE ESTUFAS BACTERIOLÓGICAS</p><p>a) Solicitar às pessoas que estiverem na sala para sair imediatamente;</p><p>b) Comunicar imediatamente ao supervisor do laboratório e ninguém deve entrar na</p><p>sala durante por pelo menos 1 hora;</p><p>c) Fixar na porta do laboratório um aviso indicando que a entrada é proibida,</p><p>constando o registro do horário que ocorreu o incidente;</p><p>d) Retornar ao local após 1 hora, utilizando EPIs apropriados (luvas, avental,</p><p>respirador e sapatos fechados);</p><p>e) Proceder à descontaminação com quantidades significativas e suficientes de</p><p>descontaminante químico que atuem, mas mantenha a integridade do equipamento. Poderão</p><p>ser utilizados álcool etílico a 70%, produtos fenólicos, ou hipoclorito de sódio 0,5 a 1% de</p><p>cloro ativo, desde que não cause danos ao equipamento;</p><p>f) Caso tenha bandejas ou estantes para tubos estas deverão ser retiradas,</p><p>descontaminadas e autoclavadas, se possível;</p><p>g) Remover os materiais contidos na estufa bacteriológica, desinfetando com álcool</p><p>a 70% ou desinfetante adequado e transferi-los para outra estufa;</p><p>h) Recolher os materiais contaminados não cortantes em um saco apropriado para a</p><p>autoclavação e os materiais cortantes em recipientes apropriados para serem descartados;</p><p>43</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>i) Limpar as superfícies da incubadora com detergente neutro em concentração</p><p>recomendada pelo fabricante, seguido de desinfecção com solução de álcool a 70% ou outro</p><p>desinfetante recomendado.</p><p>PROCEDIMENTOS PARA A LIMPEZA</p><p>Qualquer derramamento de produto ou reagente deve ser limpo imediatamente,</p><p>usando se para isso os EPI e outros materiais necessários. Em caso de dúvida quanto à</p><p>toxicidade ou cuidados especiais em relação ao produto derramado, não efetuar qualquer</p><p>operação de remoção sem orientação adequada. Consultar a FISPQ.</p><p>DERRAMAMENTO DE PRODUTOS TÓXICOS, INFLAMÁVEIS OU</p><p>CORROSIVOS SOBRE O TRABALHADOR - Remover as roupas atingidas sob o</p><p>chuveiro, lavando a área do corpo afetada com água fria por 15 minutos ou enquanto</p><p>persistir dor ou ardência.</p><p>PREVENÇÃO E COMBATE A INCÊNDIOS - O Corpo de Bombeiros fornece</p><p>gratuitamente treinamentos teórico-práticos para servidores públicos sobre prevenção e</p><p>combate a incêndios. Acionar a chefia imediata ou chefe do Núcleo da Qualidade para</p><p>agendamento e formação de turma. É imprescindível que todos os servidores do LACEN/ES</p><p>estejam familiarizados com este tema.</p><p>PREVENÇÃO a) Verificar se os extintores estão carregados e as mangueiras em</p><p>condições; b) Comunicar qualquer situação perigosa à sua chefia e ao serviço de</p><p>manutenção; c) É proibido usar, sob qualquer pretexto, os equipamentos de proteção para</p><p>outros fins que não o de combate ao fogo; d) Conservar sempre em seus lugares os</p><p>equipamentos destinados a incêndio, com seus acessos limpos e desimpedidos; e)</p><p>Familiarizar-se com os extintores e outros equipamentos de combate a incêndio existentes</p><p>na edificação, sabendo: - Onde se encontram; - Como operá-los; - Para que classes de</p><p>incêndio eles servem. f) Não fumar, não produzir chamas ou centelhas em locais proibidos;</p><p>g) Observar e ter cuidado com aparelhos elétricos que esquentam muito em pouco tempo de</p><p>uso; h) Deixar que somente eletricistas façam reparos nas instalações elétricas; i) Guardar</p><p>os recipientes que contenham substâncias voláteis em lugares apropriados e devidamente</p><p>tampados; j) Guardar cada coisa em seu lugar. A ordem e a arrumação são fatores</p><p>importantes na prevenção de incêndios; k) Ao sair, desligar todo o sistema de iluminação,</p><p>bem como os aparelhos e os equipamentos elétricos em geral.</p><p>COMBATE A INCÊNDIOS A extinção de incêndio baseia-se na remoção de um</p><p>dos três elementos que compõem o triângulo do fogo (comburente, combustível e agente</p><p>ígneo). Partindo desse princípio, estabeleceu-se a técnica moderna de combate a incêndio,</p><p>44</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>planejando-se o material necessário para tal fim e para a determinação dos agentes</p><p>extintores. Assim, a extinção de incêndio pode ser feita por:</p><p>a) Retirada do combustível quando possível;</p><p>b) Expulsão do oxigênio, por exemplo, quando o fogo é abafado;</p><p>c) Abaixamento de temperatura, por exemplo, quando o fogo é resfriado pela água.</p><p>NOTA: em instalações elétricas NUNCA USE extintores de água, espuma ou soda</p><p>– ácido; USE SOMENTE extintores de CO2 ou pó químico.</p><p>AGENTES EXTINTORES</p><p>a) Extintor de Incêndio:</p><p>A Base de Água: Utiliza o CO2 como propulsor. É usado em papel, tecido e</p><p>madeira. Não usar em eletricidade, líquidos inflamáveis, metais em ignição.</p><p>De CO2: Utiliza o CO2 como base. A força de seu jato é capaz de disseminar os</p><p>materiais incendiados. É usado em líquidos e gases inflamáveis, fogo de origem elétrica.</p><p>Não usar em metais alcalinos e papel.</p><p>De Pó Químico Seco: Usado em líquidos e gases inflamáveis, metais alcalinos, fogo</p><p>de origem elétrica. Só apaga fogo de superfície. De Espuma: Usado para líquidos</p><p>inflamáveis. Não usar para fogo causado por eletricidade.</p><p>De BCF: Utiliza o bromoclorofluormetano. É usado em líquidos inflamáveis,</p><p>incêndio de origem elétrica. Não utilizar em papel e madeira, pois só apaga fogo de</p><p>superfície. O ambiente precisa ser cuidadosamente ventilado após seu uso. De Pó de Grafite:</p><p>Único extintor adequado para incêndios da classe D. Qualquer outro tipo de extintor provoca</p><p>reações violentas.</p><p>b) Mangueira de Incêndio: São os condutores flexíveis utilizados para transportar</p><p>a água sob pressão, do seu ponto de tomada até o local onde deve ser utilizada para a</p><p>extinção dos incêndios. Modelo padrão, comprimento e localização são fornecidos pelo</p><p>Corpo de Bombeiros.</p><p>c) Hidrantes: Hidrantes externos estão localizados nas calçadas ligados ao sistema</p><p>de abastecimento de água da cidade e permitem abastecimento das viaturas de combate a</p><p>incêndio. No interior das organizações, encontramos hidrantes internos, estes contêm:</p><p>mangueiras, chaves de mangueiras e esguichos destinados ao combate a incêndio.</p><p>SIGLAS São usadas neste Manual as seguintes SIGLAS: ABNT – Associação</p><p>Brasileira de Normas Técnicas</p><p>EPI – Equipamento de Proteção Individual EPC –</p><p>Equipamento de Proteção Coletiva FISPQ – Fichas de Informações de Segurança de</p><p>45</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Produto Químico HEPA – High Efficiency Particulate Air IATA – International Air</p><p>Transport Association ISO – International Organization for Standardization ISTs –</p><p>Infecções Sexualmente Transmissíveis LACEN/ES – Laboratório Central do Estado do</p><p>Espírito Santo MB – Manual de Biossegurança MQ – Manual da Qualidade MS –</p><p>Ministério da Saúde NBR – Norma Brasileira OCAI – Organizational Culture Assessment</p><p>Instrument OIT – Organização Internacional do Trabalho OSHA – Occupational Safety and</p><p>Health Administration – USA PFF2 – Peça facial filtrante nível 2 (eficiência mínima de</p><p>filtração de 94%). SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade SO – Setor Organizacional.</p><p>máscara de proteção respiratória descartável tipo PFF2</p><p>REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA</p><p> Brasil. Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Diretrizes</p><p>Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Resolução CNE/</p><p>CES n. 4, Brasília (DF), 7 de novembro, 1-6; 2001.</p><p> BARROS, J. M. C. Ética é o Profissional. Revista CREF-SP. São Paulo, ano 1, n.</p><p>2, p. 10. Abril 2001.</p><p> BARROS, J. M. C. Exercício legal da profissão. Revista CREF-SP. São Paulo,</p><p>ano 3, n. 4, p. 11. Julho 2002. BORGES, E.; MEDEIROS, C. Comprometimento e</p><p>ética profissional: um estudo de suas relações juntos aos contabilistas. R. Cont.</p><p>Fin. USP, São Paulo, n. 44, p. 60 – 71, Maio /Agosto 2007.</p><p> BRAGAGNOLO, F. Ética e Valores Morais na Formação de Profissionais da</p><p>Educação. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, agosto de 2010. BRASIL.</p><p>46</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>CASA CIVIL. Lei 9696 de 1º de setembro de 1998. Disponível em: . Acessado em</p><p>14 de maio de 2014.</p><p> FIGUEIREDO, A. M. Ética: origens e distinção da moral. Ethics: origins and</p><p>the moral distinction. Saúde, Ética & Justiça. 2008.</p><p> MELLO, M. P.; BARROSO, M. R. Profissão e corporação: limites éticos da</p><p>atuação do advogado. Sociologias, Porto Alegre, ano 13, n. 28, p. 346-369,</p><p>set./dez. 2011.</p><p> NASCIMENTO, J. A. B. Os benefícios da conduta ética na vida do</p><p>profissional. Uniceub. Brasília - DF, agosto de 2006.</p><p> NASCIMENTO, J. V. Escala de autopercepção de competência profissional em</p><p>Educação. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, ano 13, n.1, p. 5-21, jan./jun. 1999.</p><p> Machado MH. Os médicos e sua prática profissional: as metamorfoses de uma</p><p>profissão [tese]. Rio de Janeiro: IUPERJ; 1996.</p><p> REZENDE, Manoel Barbosa de. Ética e moral. Rev. Para. Med., Belém , v.</p><p>20, n. 3, p. 5-6, set. 2006 . Disponível em</p><p><http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-</p><p>59072006000300001&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 out. 2019.</p><p> Marins JJN. Os cenários de aprendizagem e o processo do cuidado em saúde.</p><p>In: Marins JJN, Rego S, Lampert JB, Araújo JGC. Educação médica em Gomes</p><p>AP et AL 16 Rev Assoc Med Bras 2010; 56(1): 11-6transformação: instrumentos</p><p>para a construção de novas realidades. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro:</p><p>Associação Brasileira de Educação Médica. 2004.</p><p> BARSANO, P. R. et al. Biossegurança: ações fundamentais para a promoção da</p><p>saúde. São Paulo: Érica, 2014.</p><p> HIRATA, M. H.; HIRATA, R. D. C.; MANCINI FILHO, J. Manual de</p><p>biossegurança. 2ed. São Paulo: Manole, 2012.</p><p> HINRICHSEN, Sylvia Lemos. Biossegurança e controle de infecções: risco</p><p>sanitário hospitalar. 3ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2018. cap. 1.</p><p> SILVA, J. V.; BARBOSA, S. R. M.; DUARTE, S. R. M. P. Biossegurança no</p><p>contexto da saúde. São Paulo: Iátria, 2013.</p><p>47</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>de temas humanos tratados em nome do que</p><p>estamos chamando de plano ético: a harmonia do universo e sua relação com o homem, a</p><p>natureza humana, o papel do conhecimento no alcance da felicidade, as mazelas e virtudes</p><p>das paixões, o egoísmo e o altruísmo, a convergência social de interesses, a evolução</p><p>histórica e o porvir do homem etc., e, também, a justiça, a benevolência, a coragem, a</p><p>fidelidade, ou seja, um conjunto de virtudes que também interessam à reflexão moral.</p><p>Podemos, então, dizer que a tese anunciada no início do presente texto – a saber, que para</p><p>compreendermos os comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer a</p><p>perspectiva ética que estes adotam – já foi defendida por diversos sistemas filosóficos? A</p><p>resposta a essa pergunta é, cremos, negativa. Seria talvez melhor dizer que é em parte</p><p>negativa. Expliquemo-lo, lembrando que fizemos uma diferenciação entre moral (conteúdo)</p><p>e plano moral (forma). É fato que os diversos sistemas que evocam, de uma maneira ou de</p><p>5</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>outra, a questão da ‘vida boa’, trazem-nos conteúdos morais sob forma de virtudes (justiça,</p><p>generosidade etc.); porém, eles não as tratam como obrigatórias, mas sim como desejáveis.</p><p>Ora, o plano moral implica o sentimento de obrigatoriedade. Portanto, se temos no</p><p>epicurismo, no estoicismo, no utilitarismo, e em outras reflexões éticas, análises precisas de</p><p>conteúdos morais, falta-nos a articulação entre a busca da felicidade e o dever, ou seja, a</p><p>articulação entre o que chamamos de plano ético e plano moral. E devemos, sem dúvidas, a</p><p>Kant o equacionamento preciso das enormes dificuldades de estabelecer tal articulação. Dos</p><p>argumentos kantianos podemos lembrar dois, a nosso ver, incontornáveis.</p><p>O primeiro: a variedade de respostas possíveis ao que seja a felicidade. Escreve Kant</p><p>(1994): “Embora o conceito de felicidade sirva em todos os casos de base para a relação</p><p>prática dos objetos da faculdade de desejar, ele é apenas o título geral dos princípios</p><p>subjetivos de determinação e nada determina especificamente ...” (p. 24). O segundo: a</p><p>busca da felicidade é determinada pela sensibilidade, logo por algo sobre o qual o homem</p><p>não tem domínio, em relação ao qual, portanto, é heterônomo. Ora, a responsabilidade moral</p><p>implica a autonomia. Em suma, para Kant (1990), a moral “é uma ciência que ensina não a</p><p>maneira pela qual nós devemos nos tornar felizes, mas aquela pela qual devemos nos tornar</p><p>dignos da felicidade”. Essa última definição de moral, rica e precisa, mostra o quanto os</p><p>planos moral e ético não se articulam facilmente. Todavia, a referência à ‘dignidade’</p><p>fornece-nos uma pista de como estabelecer essa articulação. Por enquanto, o leitor poderá</p><p>pensar que, se aceitamos as críticas de Kant a respeito da dificuldade de fazer do</p><p>eudemonismo uma ciência moral, estamos, a priori, discordando de nossa própria tese</p><p>segundo a qual os plano moral e ético devem ser pensados conjuntamente para explicarmos</p><p>os comportamentos morais dos homens.</p><p>A esse reparo responderíamos o seguinte: se a definição kantiana de dever</p><p>(imperativo categórico) corresponde a uma realidade psicológica, a referência exclusiva à</p><p>Razão não explica o fenômeno. Com efeito, vimos que as teorias psicológicas de inspiração</p><p>kantiana (Piaget e Kohlberg) deixam-nos, teórica e empiricamente, órfãos de uma</p><p>explicação energética da ação. É, digamos, o seu ‘calcanhar de Aquiles’. Aliás, note-se que</p><p>vários moralistas contemporâneos apontam essa lacuna do sistema kantiano (ver, entre</p><p>outros, MacIntyre, 1997; Taylor, 1998; Tugendhat, 1998). E vimos também a</p><p>impossibilidade de articular essas teorias psicológicas racionalistas com aquelas que</p><p>contemplam as motivações das ações (Durkheim e Freud), pois essas últimas levam ao</p><p>relativismo moral (variadas podem ser as inspirações do sentimento do sagrado e os</p><p>mandamentos do superego). Portanto, um mistério psicológico ainda persiste, pelo menos</p><p>6</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>para aqueles que aceitam, com Piaget e Kohlberg, um vetor no desenvolvimento moral e a</p><p>progressiva conquista da autonomia. É esse mistério que queremos ajudar, se não a</p><p>desvendar, pelo menos a melhor situar. Antes de encetarmos essa busca, finalizemos o item</p><p>dedicado ao plano ético observando duas coisas. A primeira: praticamente nada se encontra</p><p>em psicologia a respeito do plano ético. Talvez pudesse ser feita uma comparação entre as</p><p>teorias utilitaristas e a psicanálise, uma vez que ambas as abordagens dão ênfase à</p><p>importância do prazer e da dor para explicar as ações humanas. Todavia, essa comparação</p><p>certamente não será fácil porque a hipótese do inconsciente equivale a um verdadeiro</p><p>abismo separando ambas.</p><p>A segunda coisa que queremos frisar é o fato de o tema da ‘vida boa’ ou ‘felicidade’</p><p>ter voltado a ser objeto de publicações recentes. Exemplos: na França, Ferry (2002) acaba</p><p>de publicar um livro de filosofia intitulado Qu’est-ce qu’une vie réussie?; no Brasil,</p><p>Giannetti (2002) publicou diálogos sobre a Felicidade; aqui e ali são republicados antigos</p><p>livros sobre o tema como o de Bertrand Russel (1962), intitulado, em francês, La conquête</p><p>du bonheur; estão novamente em voga as virtudes, como o atesta o sucesso de venda dos</p><p>livros de Bennett (1995) e também do Dalai Lama (1999); lembremos também os inúmeros</p><p>textos de auto-ajuda, cujo triste sucesso reflete um desconforto existencial. Em suma,</p><p>parece-nos que a inquietação ética está na ordem do dia. A nosso ver é bom que assim seja,</p><p>pois as reflexões sobre a vida boa são sempre necessárias por incidirem sobre o sentido da</p><p>vida. Camus (1973), na introdução de seu Mito de Sísifo, afirma que “somente há um</p><p>problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar que a vida vale ou não a pena de ser</p><p>vivida é responder à questão fundamental da filosofia” (p. 15). Interessante lembrar que</p><p>Camus era um moralista e que, para ele, a busca de sentido para a vida não era estranha às</p><p>questões morais, como o atesta seu romance L’Etranger.</p><p>MORAL E ÉTICA</p><p>Personalidade Ética Aceitas as definições de plano moral e plano ético, a pergunta</p><p>que imediatamente surge é a de saber se um deles engloba ou determina o outro. Para</p><p>Comte-Sponville (em Comte-Sponville & Ferry, 1998), “a moral está dentro da ética</p><p>(responder à pergunta ‘como viver?’ é, entre outras coisas, perguntar-se que lugar reservar</p><p>aos deveres), bem mais do que a ética está dentro da moral (responder à pergunta ‘que devo</p><p>fazer?’, ainda não permite saber como viver e nem mesmo – uma vez que a vida não é, aos</p><p>meus olhos, um dever – se é preciso viver)” (p. 214)3 . Ricoeur (1990) apresenta uma</p><p>7</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>posição, por assim dizer, intermediária, ao estabelecer “a primazia da ética sobre a moral, a</p><p>necessidade para a perspectiva ética de passar pelo crivo da norma (moral), e a legitimidade</p><p>de um recurso da norma à perspectiva (ética) quando a norma conduz a impasses práticos”.</p><p>Quanto a Tugendhat (1998), “pode-se definir ética diferentemente da moral (ética como</p><p>busca da ‘vida boa’), mas não se pode definir a primeira como algo que englobe a segunda.</p><p>Isto é impossível”. Como nossa investigação é psicológica, e não filosófica, vamos nos</p><p>limitar a colocar algumas reflexões sobre a relação axiológica entre os planos moral e ético.</p><p>É claro que a questão ética é mais ampla que a questão moral, mas isso não significa</p><p>necessariamente que a primeira determine a segunda. Imaginemos, por exemplo, que se opte</p><p>por definir a ‘vida boa’ como a busca de poder sobre os homens: não se vê como, de tal</p><p>busca, podem se deduzir deveres morais. Mais ainda: não serão poucos aqueles que negarão</p><p>validade a essa opção ética, por achá-la egoísta. É isto que Ricoeur (1990) quer dizer quando</p><p>fala em passar as opções éticas pelo crivo da norma. Teríamos, portanto, o seguinte quadro:</p><p>a moral limita a ética.</p><p>Expressões como ‘a liberdade de cada um acaba quando começa a</p><p>liberdade de outrem’, ou ‘live and let live’, traduzem bem o referido quadro, que poderia</p><p>ser assim explicitado: cada um é livre para escolher a ‘vida boa’ que quiser, contanto que</p><p>reconheça aos outros o mesmo direito e não os trate como instrumento. Nessa formulação,</p><p>vê-se a moral como critério de limite para as escolhas do plano ético. Para alguns, o limite</p><p>acima enunciado ainda pode aparecer como demasiadamente amplo, pois deixaria as ações</p><p>de benevolência totalmente a critério de cada um, e, portanto, não como dever. Pode-se,</p><p>então, reformular o enunciado: cada um é livre para escolher a ‘vida boa’ que quiser,</p><p>contanto que reconheça aos outros o mesmo direito, que não os trate como instrumento e</p><p>que se preocupe com seu bem-estar. O que importa perceber nas formulações apresentadas</p><p>é que o limite moral não parece em nada decorrer das opções éticas. Ele teria outro</p><p>fundamento. Mas que fundamento é esse? Será que ele não é inspirado pela questão ética?</p><p>Com efeito, por que respeitar os outros? Por que fazer-lhes justiça? Por que preocupar-se</p><p>com seu bem estar? Não estará implícito que, sem respeito, sem justiça e sem benevolência,</p><p>a vida é infeliz? Onde está o poder de convencimento da importância da dignidade humana,</p><p>senão no fato de seu reconhecimento ser condição necessária para uma ‘vida boa’? E não</p><p>estará pressuposto, em Kant, que o ‘merecer ser feliz’ corresponde a um grau de felicidade</p><p>superior a outras formas de ‘vida boa’? É o que pensa Adam Smith: “Que maior felicidade</p><p>que aquela de ser amado e saber que merecemos o amor? Que pior castigo do que ser odiado</p><p>e saber que merecemos esse ódio?” (Smith, 1999).</p><p>Concordamos com ele, o que nos faz pensar que, do ponto de vista axiológico, há,</p><p>8</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>sim, relações entre o plano ético e o plano moral. Essa é a nossa convicção, do ponto de</p><p>vista psicológico. Para começar a apresentá-la, vamos nos debruçar sobre o que realmente</p><p>pode significar, para o ser humano, a ‘vida boa’ ou a ‘felicidade’, termos consagrados em</p><p>diversos sistemas éticos (não vamos revisitar as concepções da antiguidade, inspiradas em</p><p>sistemas metafísicos estranhos ao homem moderno). Gozar de saúde e ter condições</p><p>mínimas de sobrevivência, certamente, representam o patamar a partir do qual se pode falar</p><p>em ‘vida boa’. Aristote (1965) já o afirmava e o bom senso o confirma. Mas uma vez</p><p>garantido esse direito universal, o que mais associar ao alcance e usufruto da felicidade? O</p><p>leque de conteúdo pode ser grande: amar e ser amado, construir uma família, gostar do que</p><p>se faz no trabalho, reconhecimento social, amigos, possibilidades de lazer, de alimentar-se</p><p>intelectualmente, ter uma vida sexual ativa e prazerosa etc. Esses itens, e outros possíveis,</p><p>fazem todo sentido. O problema é que não se identifica, entre eles, um eixo comum. Estamos</p><p>em plena dispersão. Outro problema é que cada um deles levanta questões complexas quanto</p><p>à sua definição (por exemplo, o que é a amizade?). Outro problema ainda: é perfeitamente</p><p>possível pessoas dispensarem um ou outro item (o solitário prefere não ter amigos).</p><p>Finalmente, observemos que tais itens correspondem mais a ‘pedaços de vida’, do que à</p><p>vida como um todo. Ora, como o afirma Williams (1990), “é preciso pensar numa vida</p><p>inteira”, para realmente responder à questão de Sócrates sobre a vida que vale a pena ser</p><p>vivida.</p><p>Devemos, portanto, perguntar-nos se há algo em comum por detrás dos diversos</p><p>conteúdos que podem ocupar o plano ético. Uma resposta clássica consiste em identificar a</p><p>busca do prazer e a fuga do desprazer como invariantes do plano ético. Já vimos que os</p><p>utilitaristas e a psicanálise de Freud encontram-se, nesse ponto, em companhia dos</p><p>epicuristas. A tese hedonista é simples e elegante. Simples porque identifica no ‘princípio</p><p>do prazer’ a motivação básica de todas as ações humanas e elegante justamente em razão</p><p>dessa simplicidade, que evita a profusão de conceitos articulados em arquiteturas teóricas</p><p>complexas. Além do mais – e isto é essencial – permite separar claramente forma de</p><p>conteúdo: todos os hedonistas afirmam a fundamental importância da busca do prazer, mas</p><p>podem divergir sobre o que é, ou sobre o que deveria ser, esse prazer. Para o psicólogo, essa</p><p>tese permite explicar comportamentos totalmente diversos.</p><p>Em poucas palavras, a tese hedonista permite destacar o plano ético (busca do prazer</p><p>e fuga do desprazer) de diferentes éticas (conteúdos associados ao prazer). Todavia, ela não</p><p>deixa de apresentar problemas sérios, sendo o principal deles o aparente desmentido dos</p><p>fatos, como por exemplo, a autodestruição observável em vários indivíduos, que levou</p><p>9</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Freud a ir ‘para além do princípio de prazer’ e fazer a hipótese da existência e da força de</p><p>um instinto de morte. Spaemann (1994) apresenta um argumento diferente para negar a</p><p>central importância do princípio de prazer e de conservação. Ele nos pede para imaginar a</p><p>possibilidade de nosso cérebro ser conectado a cabos que conduzem correntes elétricas que</p><p>nos deixariam em estado constante de euforia, e nos pergunta se estaríamos dispostos a ficar</p><p>para o todo sempre nessa situação que nos garantiria prazer constante e ausência definitiva</p><p>de dor. Esse autor afirma que sentiríamos repulsa por uma alternativa de vida desta porque</p><p>implicaria estarmos “fora da vida efetivamente real, fora da realidade”.</p><p>Conclui o filósofo: “o sentido verdadeiro da vida não reside nem no prazer, nem na</p><p>conservação” (Spaemann, 1994). Concordamos com o inevitável reducionismo implicado</p><p>pelas teses hedonistas, embora reconheçamos não ser fácil derrubá-las. Mas há uma coisa</p><p>nelas que deve ser resgatada: a identificação de algo que esteja presente em todas as opções</p><p>possíveis de felicidade, ou, melhor dizendo, algo que explica – pelo menos em parte – as</p><p>escolhas feitas para viver uma ‘vida boa’. Acreditamos encontrar esse invariante na noção</p><p>de sentido da vida. Acabamos de ver que Spaemann (1994) nega que o prazer e a</p><p>conservação sejam aquilo que confere sentido à vida. Também vimos acima que Camus</p><p>(1973) elege o suicídio como grande problema filosófico porque julga que “o sentido da</p><p>vida é a mais urgente das perguntas”. Outros autores, como Taylor (1998), insistem sobre o</p><p>fato de a atribuição de sentido ser fundamental para se poder viver. Para esse autor, ‘dar</p><p>sentido’ é “definir o que torna as reações apropriadas: identificar o que torna algo um objeto</p><p>digno delas e, correlativamente, melhor definir a natureza das reações e explicar tudo que</p><p>está implicado quanto a nós mesmos e nossa situação no mundo”. Mais adiante, escreve que</p><p>a busca de algo na vida “é sempre busca de sentido”. Certamente, seriam necessárias várias</p><p>páginas para analisar em profundidade a importância maior do sentido da vida para a</p><p>realização de uma ‘vida boa’. Remetemos o leitor aos autores que citamos, entre eles</p><p>MacIntyre (1997) que aborda a questão pela dimensão da narrativa, dimensão esta tratada</p><p>por Ricoeur (1990). Limitemo-nos a dizer que o sentido da vida remete à questão do ‘por</p><p>que viver?’ e, logo, a escolhas existenciais que revelem o que é uma vida que vale a pena</p><p>ser vivida. As opções que colocamos como possíveis conteúdos da ‘vida boa’ (amor,</p><p>amizade, reconhecimento social, vida sexual etc.) não são estranhas ao tema do sentido, pois</p><p>cada uma pode corresponder a um ‘existir para’.</p><p>Para finalizar, lembremos que, no mundo contemporâneo, a angústia frequentemente</p><p>se traduz pela falta de sentido (ver Taylor, 1998). Como escreve Collin (2003), “a reflexão</p><p>ética moderna esteve frequentemente confrontada à questão da perda de sentido da vida” .</p><p>10</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Em resumo, para nós, o invariante do plano ético é a busca de sentido para a vida, e os</p><p>diversos conteúdos</p><p>dependerão dos diversos sentidos atribuídos à vida. Já podemos perceber</p><p>uma relação entre o plano ético e o plano moral: se o grande problema da vida é ela fazer</p><p>sentido, deduz-se que a moral, ela mesma, e as obrigações dela derivadas, devem também</p><p>fazer sentido. A questão do sentido é incontornável no plano moral, e certamente não é por</p><p>acaso que a anomia moral, ou o ‘crepúsculo do dever’, diagnosticados atualmente, são</p><p>contemporâneos das dificuldades de encontrar um sentido para a vida e, logo, para as ações.</p><p>Mas essa afirmação ainda não é suficiente para se saber que plano determina qual, ou se são</p><p>independentes. Para defender a hipótese da prevalência do plano ético sobre o plano moral,</p><p>devemos nos perguntar se há, dentro da própria problemática do sentido da vida, um outro</p><p>invariante de ordem psicológica. Pensamos que tal invariante existe: o sentimento de</p><p>‘expansão de si próprio’. Dito de outra forma: fazemos a hipótese de que a possibilidade de</p><p>‘expansão de si próprio’ é condição necessária para que a vida faça sentido, assim como</p><p>este fazer sentido é condição necessária à ‘vida boa’. Assumimos aqui a perspectiva teórica</p><p>de Adler (1991), para quem “é unicamente o sentimento de ter atingido um grau satisfatório</p><p>na tendência a elevar-se que pode fornecer um sentimento de quietude, de valor e de</p><p>felicidade”.</p><p>A expressão ‘expansão de si próprio’ não é de autoria de Adler, mas sim de Piaget</p><p>(1954), que concordava plenamente com o ex-colaborador de Freud, por ver, na tendência</p><p>à superação de si mesmo, o vetor do desenvolvimento e a motivação central para as ações.</p><p>Assumimos, portanto, a hipótese de que a vida somente pode fazer sentido para quem</p><p>experimenta o sentimento de nela autoafirmar-se, expandirse, em uma palavra, atribuir-se</p><p>valor. Pela recíproca, quem não consegue, seja lá por que motivo for, atribuir a si próprio</p><p>valor, não consegue dar sentido à sua vida e, logo, não usufrui de uma ‘vida boa’. A tese</p><p>acima exposta pode ser traduzida com dois outros termos: representações de si e valor.</p><p>Dedicamos dois livros à análise desses dois conceitos e de sua relação com o</p><p>sentimento de vergonha, e retemos o leitor a eles para o aprofundamento da questão (La</p><p>Taille, 2002a, 2006; ver também Harkot-de-La-Taille & La Taille, 2004). Basta aqui</p><p>apresentar as ideias básicas. Entendemos o Eu como um conjunto de representações de si</p><p>(imagens que a pessoa faz de si). Não importa conferir se tais representações correspondem,</p><p>de fato, ao que a pessoa realmente é ou a como é vista pelos outros, mas sim sublinhar o</p><p>fato de que elas correspondem ao que ela julga ser. Importante frisar que colocamos</p><p>representações de si no plural: não se trata de um autoconceito, portanto unitário, mas</p><p>realmente de um conjunto de representações, que podem até ser conflitivas ou contraditórias</p><p>11</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>entre si. Prossigamos: essas representações de si são sempre valor. Definimos valor como</p><p>investimento afetivo, tal qual Piaget (1954), e assumimos que, inevitavelmente, o Eu é</p><p>objeto de investimento afetivo. Por isso dizemos que as representações de si são sempre</p><p>valor.</p><p>Coerentemente com a teoria de Adler, assumimos também - e isto é essencial para</p><p>nossa análise - que a busca de representações de si com valor positivo é lei fundamental da</p><p>vida humana. O insucesso nessa busca causa o sentimento de vergonha, ou seja, a dor</p><p>psíquica resultante da consciência da disjunção entre uma ‘boa imagem’ (idealizada) e a</p><p>imagem que, de fato, se tem de si (Harkot-de-La-Taille, 1999). A força do sentimento de</p><p>vergonha – que pode ser letal – atesta a importância, para a vida, de conseguir ver a si</p><p>próprio como valor positivo. Como o leitor pode perceber, não hesitamos em colocar, no</p><p>plano ético, o ‘famigerado’ amor próprio. Mas não somos os únicos a reconhecer que a ética</p><p>não pode traduzir-se na negação do sujeito (ver Savater, 2000), e tampouco a moral pode</p><p>fazê-lo. Basta atentar para o fato de a pergunta do plano ético ‘que vida quero viver?’</p><p>implica outra: ‘quem quero ser?’. Portanto, parece-nos não haver possibilidade de se pensar</p><p>a ética sem contemplar a dimensão da identidade, e esta, sem a busca de atribuição pessoal</p><p>(e coletiva) de valor. Estamos agora em condições de defender nossa tese, segundo a qual,</p><p>para compreender os comportamentos morais dos indivíduos precisamos conhecer a</p><p>perspectiva ética que eles adotam.</p><p>O CONCEITO DE ÉTICA</p><p>A Ética é um ramo da filosofia que lida com o que é moralmente bom ou mau, certo</p><p>ou errado. As palavras ética e moral têm a mesma base etimológica: a palavra grega ethos</p><p>e a palavra latina moral, ambas significam hábitos e costumes. A ética, como expressão</p><p>única do pensamento correto conduz à idéia da universalidade moral, ou ainda, à forma ideal</p><p>universal do comportamento humano, expressa em princípios válidos para todo pensamento</p><p>normal e sadio.</p><p>O termo ética assume diferentes significados, conforme o contexto em que os</p><p>agentes estão os agentes envolvidos. Uma definição particular diz que a “ética nos negócios</p><p>é o estudo da forma pela qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos</p><p>objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo</p><p>de como o contexto dos negócios cria seus problemas próprios e exclusivos à pessoa moral</p><p>que atua como um gerente desse sistema”.</p><p>12</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>Outro conceito difundido de ética nos negócios diz que “é ético tudo que está em</p><p>conformidade com os princípios de conduta humana; de acordo com o uso comum, os</p><p>seguintes termos são mais ou menos sinônimos de ético: moral, bom, certo, justo, honesto”.</p><p>As ações dos homens são, habitualmente, mas não sempre, um reflexo de suas</p><p>crenças: suas ações podem diferir de suas crenças, e, ambas, diferirem do que eles devem</p><p>fazer ou crer. Esse é o caso, por exemplo, do auditor contábil independente que foi escalado</p><p>por seu gerente de auditoria, para auditar as contas de uma empresa de auditoria e que tem</p><p>relações de parentesco com o presidente dela. Ao aceitar tal tarefa, o profissional estará</p><p>agindo de acordo com sua crença, a de que ele consegue separar assuntos pessoais dos</p><p>profissionais e que, portanto, nada há de errado em auditar as referidas contas.</p><p>Á luz da ética profissional, o auditor deve solicitar sua exclusão da tarefa a ele</p><p>incumbida, comunicando as razões para o gerente de auditoria. Desse modo, ele estará</p><p>agindo de acordo com a crença difundida de que este é o procedimento correto. O</p><p>comportamento esperado da empresa, também à luz da ética profissional, será o de que ela</p><p>substitua o auditor designado. Espera-se, assim, estar comunicando implicitamente à</p><p>sociedade que a firma de auditoria age com absoluta retidão de procedimentos, e em</p><p>conformidade com suas expectativas.</p><p>OBJETO E OBJETIVO DA ETICA</p><p>A Ética, enquanto ramo do conhecimento, tem por objeto o comportamento humano</p><p>do interior de cada sociedade. O estudo desse comportamento, com o fim de estabelecer os</p><p>níveis aceitáveis que garantam a convivência pacífica dentro das sociedades e entre elas,</p><p>constitui o objetivo da ética.</p><p>FUNÇÃO DA ETICA</p><p>Em qualquer sociedade que se observe, será sempre notada a existência de dilemas</p><p>morais em seu interior. Os dilemas morais são um reflexo das ações das pessoas, e surgem</p><p>a partir do momento em que, diante de uma situação qualquer, a ação de um indivíduo ou</p><p>de um grupo de indivíduos, contraria aquilo que genericamente a sociedade estabeleceu</p><p>como padrão de comportamento para aquela situação. O comportamento das pessoas,</p><p>enquanto fruto dos valores nos quais cada um acredita, sofre alterações ao longo da história.</p><p>Tal fato significa que aquilo que sempre foi considerado como um comportamento amoral</p><p>13</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>pode, a partir de determinado momento, passar a ser visto como</p><p>um comportamento</p><p>adequado à luz da moral Quando, por exemplo, um país se envolve em uma guerra, os</p><p>habitantes desse país (ou pelo menos grande parte deles) estão assumindo um</p><p>comportamento que normalmente condenam em tempo de paz, qual seja, matar seus</p><p>semelhantes. Os problemas relacionados com o comportamento do ser humano encontramse</p><p>inseridos no campo de preocupações da Ética. Ainda que não torne os indivíduos</p><p>“moralmente perfeitos”, a Ética tem por função investigar e explicar o comportamento das</p><p>pessoas ao longo das várias fases da história. Essa função apresenta-se como de grande</p><p>relevância, tanto no sentido de se entender o passado, quanto de servir como parâmetro para</p><p>fixação de comportamentos “padrões”, aceitos pela maioria, visando a diminuir o nível de</p><p>conflitos de interesses dentro da sociedade.</p><p>FONTES DE REGRAS ETICAS</p><p>O fato de se considerar a Ética como a expressão única do pensamento correto</p><p>implica a idéia de que existem certas formas de ação preferíveis a outras, às quais se</p><p>prendem necessariamente um espírito julgado correto. Tomando-se por base essa definição,</p><p>existiria uma natureza humana “verdadeira” que seria a fonte primeira das regras éticas.</p><p>1 a FONTE DAS REGRAS ETICAS: Essa natureza humana verdadeira seria aquela</p><p>do homem sadio e puro, em que habitariam todas as virtudes do caráter íntegro e correto.</p><p>Toda ação do homem ético seria uma ação ética. (universalidade ética).</p><p>2 a FONTE DAS REGRAS ETICAS: Existem, ainda , normas de caráter diverso e</p><p>até mesmo oposto à idéia da universalidade ética: as relacionadas à forma ideal universal e</p><p>comum do comportamento humano, expressa em princípios válidos para todo pensamento</p><p>são. Essa seria a segunda fonte das regras éticas.</p><p>3 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: A conseqüência da busca refletida dos</p><p>princípios do comportamento humano. Assim, cada significado do comportamento ético</p><p>torna-se-ia objeto de reflexão por parte dos agentes sociais. Essa seria a procura racional</p><p>das razões da conduta humana.</p><p>4 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: A legislação de cada país, ou de foros</p><p>internacionais, ou mesmo os códigos de ética Empresarial e Profissional. Não obstante a</p><p>literatura mencionar as leis como fonte de regras éticas, é de acreditar que dificilmente um</p><p>conjunto de leis poderia legislar satisfatoriamente sobre ética, pois uma lei específica não</p><p>poderia abarcar todas as situações que surgissem sobre determinado assunto, e, também,</p><p>14</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>porque nem toda lei pode ser considerada ética.</p><p>5 a FONTE DAS REGRAS ÉTICAS: Normas éticas vem dos costumes.</p><p>A ÉTICA NA EMPRESA</p><p>Você já sabe que a fase atual da economia capitalista criou um clima favorável ao</p><p>surgimento de inúmeras interpretações – tanto otimistas como pessimistas – quanto ao</p><p>futuro da sociedade do trabalho. Sabe, também, que o conhecimento é uma condição</p><p>indispensável ao exercício da liberdade e, portanto, da cidadania. Por isso não podemos</p><p>desconhecer que a possibilidade de estendê-lo à grande massa dos trabalhadores (durante</p><p>tanto tempo excluídos de seu acesso) cria perspectivas de que se venha a resgatar o valor do</p><p>trabalho. E isso permite instituir uma nova ética nas empresas e na sociedade como um todo.</p><p>É hoje uma tendência cada vez mais constante na organização das fábricas a tomada</p><p>de consciência sobre a importância de que o trabalho seja estruturado a partir de tarefas</p><p>globais. Elas seriam executadas por equipes de profissionais suficientemente qualificados</p><p>para dar conta de um máximo de atividades e para assumir responsabilidade com autonomia</p><p>e criatividade. Essa forma de estruturação do trabalho não só representa o rompimento com</p><p>o taylorismo, como também anuncia uma nova orientação relativa a políticas de recursos</p><p>humanos.</p><p>Tal política visa à autodeterminação e ao crescimento de todos os envolvidos no</p><p>processo de trabalho nas organizações. Mas seria ingênuo acreditar que a revalorização e o</p><p>futuro da sociedade do trabalho dependeriam exclusivamente de uma política de recursos</p><p>humanos voltada para a qualificação do trabalhador. Sabe-se que, numa economia</p><p>globalizada, com um processo de produção flexível, a qualificação do trabalho não é</p><p>garantida de emprego e nem o cria. No entanto, não resta dúvida de que, no atual quadro</p><p>econômico, os novos empregos passarão a absorver os trabalhadores mais qualificados.</p><p>Nessas circunstâncias, uma reflexão sobre a dimensão ética empresas deverá passar</p><p>necessariamente pelo resgate da qualificação profissional, mais incluirá outros aspectos</p><p>organizacionais, fundamentais ao resgate da dimensão pública da ética e,</p><p>conseqüentemente, ao resgate da cidadania.</p><p>A RESPONSABILIDADE E O COMPROMISSO COM A COMUNIDADE</p><p>Para pensar a questão ética nas organizações empresariais é necessário, antes de</p><p>15</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>tudo, definir o objetivo desse tipo de organização. Uma organização empresarial, utilizando</p><p>determinada tecnologia, produz algum bem ou serviço, para ser comercializado em função</p><p>do atendimento a demandas da sociedade. Cabe à empresa desempenhar com qualidade sua</p><p>missão específica. Assim, por exemplo, espera-se de uma universidade que ela prepare o</p><p>profissional do futuro; de um hospital, que cuide da doença; de uma indústria</p><p>automobilística, que produza bons carros; de um restaurante, que ofereça boa comida. Por</p><p>outro lado, esse desempenho não pode estar dissociado de seu objetivo principal, que é a</p><p>obtenção de lucro. LUCRO É O PERCENTUAL QUE EXCEDE AS DESPESAS COM</p><p>MATÉRIAPRIMA, TECNOLOGIA, SALÁRIOS E QUE SE FAZ EMBUTIR NO PREÇO</p><p>FINAL DO PRODUTO. Mas não se pode perder de vista que uma organização empresarial</p><p>está localizada numa comunidade. Ela oferece emprego aos moradores, paga impostos e a</p><p>tecnologia que utiliza causa algum impacto sobre essa comunidade. Logo, ao refletir sobre</p><p>a dimensão ética na empresa, precisamos compreender que, além dos compromissos</p><p>relativos ao seu funcionamento interno, a organização empresarial possui compromissos</p><p>externos, de ordem social. E quais são esses compromissos? Como honrá-los? Vamos</p><p>analisar, inicialmente, a questão do lucro, seu objetivo primeiro. Essa, que parece uma</p><p>questão de interesse exclusivo da empresa, tem também importantes repercussões sociais.</p><p>A primeira responsabilidade de uma empresa é apresentar um bom desempenho econômico,</p><p>de forma a cobrir custos e acumular capital.</p><p>A consequência do seu sucesso econômico tende a se desdobrar socialmente em</p><p>empregos, melhores salários e arrecadação de impostos, preços mais adequados ao</p><p>consumidor, e qualidade dos serviços – fatores relacionados à justiça social. Legislação e</p><p>Ética Profissional Professora – Adriana Farias O objetivo de obter lucro é, portanto,</p><p>absolutamente legítimo. Isso porque uma empresa falida, não-lucrativa é má empregadora,</p><p>malvista na comunidade e não gera capital para a criação de empregos futuros. O</p><p>comprometimento social da empresa se expressa, ainda, no seu engajamento com programas</p><p>culturais e filantrópicos de interesse da comunidade, nos seus projetos de preservação</p><p>ambiental, especialmente porque, nesse último caso, a tecnologia por ela utilizada costuma</p><p>causar impactos sobre o meio ambiente. Na medida em que no mundo contemporâneo a</p><p>economia está predominantemente organizada com base na iniciativa privada, torna-se</p><p>indispensável o comprometimento amplo das organizações com as questões sociais. Hoje,</p><p>política social e ambiente escapam do âmbito do governo, tornando-se responsabilidade de</p><p>organizações empresariais e não-governamentais. O compromisso das organizações</p><p>empresariais é, hoje, muito mais amplo do que a própria relação emprego-empregador: ele</p><p>16</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>envolve questões raciais, de sexo, de distribuição de renda, manutenção do meio ambiente,</p><p>enfim, os problemas mais gerais que afligem a sociedade.</p><p>A ÉTICA DA DIGNIDADE DA</p><p>PESSOA HUMANA IMPEDIRÁ A EMPRESA DE FAZER QUALQUER TIPO DE</p><p>DISCRIMINAÇÃO POR UMA VISÃO PRECONCEITUOSA DE RAÇA OU DE SEXO.</p><p>ATUANDO COM BASE NO VALOR DA DIGNIDADE DA PESSOA, A EMPRESA</p><p>NÃO DEFINIRÁ, POR EXEMPLO, UMA POLÍTICA SALARIAL FUNDAMENTADA</p><p>NESSAS DIFERENÇAS. A QUESTÃO DO ASSÉDIO SEXUAL SERÁ TAMBÉM UMA</p><p>PREOCUPAÇÃO SUA.</p><p>Hoje, o que se põe em questão é o desenvolvimento de uma prática coerente com</p><p>uma ética pública, em que fiquem preservados os interesses da organização, sem</p><p>comprometimento das ações que contribuam para o bem-estar e o desenvolvimento da</p><p>sociedade como um todo. Para aborda os demais compromissos que uma organização</p><p>precisa assumir de modo a ser conceituada como ética é necessário pensarmos nos atores</p><p>ou agentes do processo organizacional, aqueles que fazem a empresa, que são responsáveis</p><p>pelo desenvolvimento de sua política e das atividades necessárias ao alcance de seus</p><p>objetivos. Nesse caso, estamos falando de empregadores (que passamos a identificar como</p><p>o administrador) e empregados.</p><p>ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL – A IMPORTÂNCIA NO NOVO</p><p>CENÁRIO EMPRESARIAL</p><p>Atualmente as pessoas, em geral, apresentam uma maior preocupação com o bem-</p><p>estar e a qualidade de vida, consubstanciadas numa ética de valorização do ser humano, ao</p><p>invés do padrão de produção capitalista, o qual prega a realização econômica em detrimento</p><p>da realização pessoal. Há também uma maior conscientização da importância da</p><p>participação das empresas na preservação do meio ambiente, da participação dos</p><p>trabalhadores na tomada de decisão e nos resultados da atividade produtiva e da necessidade</p><p>de melhoria dos padrões de qualidade de vida da comunidade que com que ela se relaciona.</p><p>Esse contexto tem trazido a discussão sobre ética e responsabilidade social das empresas</p><p>para a literatura econômica, administrativa e jurídica, sem contar que, tradicionalmente,</p><p>esses temas são abordados por filósofos e sociólogos. A inclusão destes temas tem</p><p>colaborado, inclusive, para o surgimento de associações empresariais e acadêmicas</p><p>envolvidas na disseminação de práticas eticamente corretas e socialmente responsáveis. O</p><p>benefício da realização dessas práticas ocorre não somente para as organizações envolvidas,</p><p>17</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>mas também para todos os envolvidos ou impactados pelas atividades econômicas levadas</p><p>a cabo pelo setor empresarial, os chamados stakeholders. Assim, tem sido possível a uma</p><p>parcela significativa da sociedade adquirir conhecimentos sobre ética. Ao mesmo tempo a</p><p>sociedade pode esperar, e exigir, das empresas que elas contribuam para o desenvolvimento</p><p>da comunidade, sendo socialmente responsáveis.</p><p>2.1 Ética</p><p>A ética, como reflexão científica e filosófica, estuda os costumes e normas de</p><p>comportamento. No presente trabalho essas normas de comportamento serão analisadas no</p><p>contexto corporativo. Considerando o contexto social, pode ser dito que os valores éticos</p><p>são passíveis de transformações, assim como as sociedades se modificam. Essas diferenças</p><p>se dão em épocas e sociedades distintas. Não são apenas os costumes que variam, mas</p><p>também os valores que os acompanham, as próprias normas concretas, os próprios ideais e</p><p>a própria sabedoria (VALLS, 1996). Assim, para compreensão da ética vigente em uma</p><p>sociedade, sob a ótica dos filósofos, é necessário estudar pinturas, esculturas, leis, livros de</p><p>medicina, etc. Mas as preocupações no estudo da ética vão muito além das variações dos</p><p>costumes, chegando à formulação de princípios universais. Uma boa teoria ética deveria</p><p>atender à pretensão de universalidade, ainda que simultaneamente capaz de explicar as</p><p>variações de comportamento, características das diferentes formações culturais e históricas</p><p>(VALLS, 1996).</p><p>Filósofos como Sócrates e Kant preocuparam-se com este caráter universal da ética.</p><p>Entre as tendências atuais valoriza-se a posição da liberdade como um ideal ético,</p><p>privilegiando o aspecto pessoal da ética. Outra perspectiva aponta a ética nas relações</p><p>sociais, tendo como ideal ético o de uma vida social mais justa. Para Valls (1996), a ética</p><p>preocupa-se com as formas humanas de resolver as contradições entre necessidade e</p><p>possibilidade, entre tempo e eternidade, entre o individual e o social, entre o econômico e o</p><p>moral, entre o corporal e o psíquico, entre o natural e o cultural e entre a inteligência e a</p><p>vontade. Algumas noções, mesmo que ainda abstratas, permanecem firmes no campo da</p><p>ética, como a distinção entre o bem e o mal, ou seja, entre o que é certo e o que é errado</p><p>dentro de uma organização. Ainda segundo Valls, hoje os grandes problemas de ética</p><p>encontram-se em três esferas: família, sociedade civil e Estado. Assim, despertar uma</p><p>consciência eticamente crítica nas pessoas é o desafio que pode ajudá-las a assumir uma</p><p>vida de maneira mais ética, e, neste sentido, mais livre e mais humana. Muitas são as razões</p><p>18</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>que têm levado as organizações a se preocuparem em promover a ética no ambiente</p><p>empresarial. Dentre elas: os custos de escândalos nas empresas, acarretando perda de</p><p>confiança na reputação da organização, multas elevadas, desmotivação dos empregados,</p><p>entre outras (TANSEY, 1995). Entretanto, para analisar a ética no universo corporativo faz-</p><p>se necessário, inicialmente, compreender a sua dimensão nas empresas. Ética dos negócios</p><p>é o estudo da forma pela qual as normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos</p><p>objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão moral separado, mas do estudo</p><p>de como o contexto dos negócios cria problemas próprios e exclusivos à pessoa moral que</p><p>atua como um gerente desse sistema (NASH, 1993).</p><p>A ética é um fator relevante para garantir a competitividade da empresa. No entanto,</p><p>ter padrões éticos significa ter bons negócios em longo prazo. Existem estudos, por</p><p>exemplo, o mencionado por Pinedo (2003) indicando a veracidade dessa afirmativa.</p><p>Segundo ele, em estudo realizado pela Universidade de Harvard, empresas éticas e maduras</p><p>têm resultados 3 60% melhores que as menos éticas. Na maioria das vezes, contudo, as</p><p>empresas reagem a situações de curto prazo (TANSEY, 1995). Para Nash (1993), empresas</p><p>preocupadas com padrões de conduta ética em seu relacionamento com clientes,</p><p>fornecedores, funcionários e governantes, ganham a confiança de seus clientes e melhoram</p><p>o desempenho dos funcionários. Segundo Tansey (1995), assim como qualquer</p><p>comportamento ou cultura adotada pela empresa, a postura ética deve vir da alta</p><p>administração, ou seja, é a direção quem deve dar o exemplo aos seus colaboradores. Um</p><p>dos principais profissionais multiplicadores da postura ética é o Executivo de Relações</p><p>Públicas, visto que ele tem o papel de estabelecer o relacionamento da organização com seu</p><p>público e com a fundamentação da ética. Segundo Nash (1993), cumprir essa</p><p>responsabilidade exige, no mínimo, uma investigação e um posicionamento explícito sobre</p><p>os aspectos éticos da atividade empresarial, desde a estratégia até a folha de pagamento. A</p><p>atuação da empresa no mercado também deve ser considerada, pois a sua forma de agir</p><p>neste ambiente provoca reflexos internos, segundo Tansey (1995). Para a autora, não se</p><p>pode exigir conduta ética dos funcionários se a empresa está viciada em procedimentos</p><p>condenáveis.</p><p>Os padrões éticos da companhia são a base do comportamento dos funcionários.</p><p>Um dos problemas que prejudicam a postura ética nas organizações é a burocracia com que</p><p>elas executam suas funções. Segundo Tansey (1995), burocracia demais atrapalha. Como</p><p>são muitas as instruções a serem observadas, existe sempre a possibilidade das empresas</p><p>não cumprirem uma delas. Além da burocracia, levantada por Tansey, outros obstáculos à</p><p>19</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>implantação da ética nas organizações foram levantados</p><p>por Zoboli (2002). São eles: •</p><p>Imposição de regras sem intenção de considerá-las e o uso da missão da empresa apenas</p><p>como conveniência. Esses obstáculos se apresentam quando a missão da empresa não</p><p>representa claramente a meta e a finalidade da organização, mas expressam um conjunto de</p><p>normas e regulamentos, os quais não justificam os resultados buscados. •Alcance de</p><p>objetivos a qualquer preço. Acontece quando a organização busca realizar as suas metas</p><p>sem o respeito aos valores e direitos partilhados com a sociedade na qual está inserida. O</p><p>bem comum pode ser assegurado pelo uso de procedimentos idôneos. •Impaciência e pressa</p><p>para alcançar os objetivos organizacionais. Estas se constituem fatores para a negligência</p><p>no trato de questões éticas nas organizações, o que pode por em risco a satisfação de clientes</p><p>e colaboradores, podendo levar a um ciclo negativo e vir a afetar os resultados da</p><p>organização. •Perversidade: relação assimétrica e desigual, baseada na racionalidade</p><p>destrutiva. Acontece quando a organização isola-se das necessidades e demandas sociais,</p><p>levando ao esquecimento da sua missão e desmotivação dos seus integrantes. Os envolvidos</p><p>podem assumir um comportamento que justifica a desigualdade, chegando a considerá-la</p><p>normal ou nem percebê-la. Um exemplo clássico desta perversidade é representado pela</p><p>corrupção social, a qual provoca uma mudança arbitrária de valores. As organizações que</p><p>adotam a ética como substância das suas relações e realização de resultados são</p><p>organizações que capacitam as pessoas a demonstrarem um comportamento maduro. Este</p><p>tipo de comportamento é demonstrado pela reflexão a respeito dos bens internos, das</p><p>atividades e dos meios adequados para atuarem rumo a consecução da ética no ambiente</p><p>organizacional. Decorrente dessa reflexão surge uma atuação balizada pela responsabilidade</p><p>que a organização para com a sociedade.</p><p>2.2 Responsabilidade Social Empresarial</p><p>Moreira (2000) retrata o modismo que leva as empresas brasileiras a discursarem</p><p>sobre ética e desenvolverem códigos de comportamento para seus funcionários. Apontando</p><p>paradoxos, o autor demonstra a constante evidência de casos e “causos” de violação de</p><p>princípios éticos elementares e afirma que tal paradoxo torna-se inteligível quando são</p><p>examinados os traços básicos da cultura nacional (como o formalismo, as esferas culturais</p><p>da 4 casa e da rua, o jeitinho, entre outros) e se admite a influência de tais traços nas</p><p>organizações instaladas no país. Melo Neto e Froes (apud MENDONÇA e GONÇALVES,</p><p>2002) afirmam que houve uma mudança no foco da responsabilidade social corporativa, das</p><p>20</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>ações meramente filantrópicas para ações mais substanciais que proporcionem o</p><p>desenvolvimento social. Conforme Mendonça e Gonçalves (2002), atualmente muitas</p><p>empresas brasileiras buscam legitimidade através de ações de cunho social por</p><p>reconhecerem e/ou acreditarem que estas ações podem ter impactos positivos na imagem da</p><p>organização. Os autores pressupõem a existência de organizações que desenvolvem ações</p><p>sociais condizentes com seus valores organizacionais. Porém, outras parecem objetivar a</p><p>criação de uma imagem de responsabilidade social estabelecendo uma estratégia</p><p>mercadológica não condizente com os valores e práticas da organização.</p><p>Segundo Moreira (2000), atualmente, na sociedade brasileira encontram-se sinais</p><p>dos fatores que desencadearam mundialmente as preocupações com a ética e a</p><p>responsabilidade social nos negócios. Estes são: as pressões pela conservação do meio</p><p>ambiente, o fortalecimento dos movimentos de defesa do consumidor, as denúncias sobre</p><p>irresponsabilidades no setor da saúde, os esforços contra o trabalho infantil e outros. Assim,</p><p>as empresas têm dado maior importância às posturas éticas em relação aos seus funcionários</p><p>e à comunidade em geral, por meio da divulgação de seus códigos internos de ética, projetos</p><p>de reflorestamento, fundações educacionais e engajando-se em atividades filantrópicas.</p><p>Acreditase que esta postura é determinante para consolidar uma imagem positiva perante</p><p>clientes e funcionários e, por sua vez, fundamental para a perenidade da empresa. A</p><p>Responsabilidade Social Empresarial (RSE) tem como fundamento o compromisso ético da</p><p>empresa para com seus stakeholders, ou seja, clientes, fornecedores, empregados, parceiros</p><p>e colaboradores. A empresa é considerada ética se cumprir todos os compromissos éticos</p><p>que tiver, ou seja, agir de forma honesta com todos aqueles que têm algum tipo de</p><p>relacionamento com ela. Estão envolvidos neste grupo os clientes, os fornecedores, os</p><p>sócios, os funcionários, o governo e a comunidade como um todo (TANSEY, 1995).</p><p>A responsabilidade social empresarial ou corporativa, desde o início da última</p><p>década, vem sendo discutida no meio acadêmico, porém, ganhou força no Brasil</p><p>especialmente a partir da criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,</p><p>em setembro de 1998. No meio empresarial ela tomou maior impulso com o surgimento de</p><p>normas e padrões de certificação social e ambiental, tais como a Social Accountability 8000</p><p>(SA8000), Account Ability 1000 (AA1000) e International Standard Organization 14000</p><p>(ISO14000). Neste cenário mutante e demasiadamente complexo, as organizações operam</p><p>e lutam para se manter, para cumprir sua missão e visão e para cultivar seus valores</p><p>(KUNSCH, 1974). Neste contexto de mudanças e de transformações sociais, econômicas e</p><p>tecnológicas pelo qual passam as organizações, percebe-se a preocupação com o</p><p>21</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>estabelecimento de padrões de ética e responsabilidade social em suas atividades. Parece</p><p>lícito afirmar que hoje em dia as organizações precisam estar atentas não só às suas</p><p>responsabilidades econômicas e legais, mas também às suas responsabilidades éticas,</p><p>morais e sociais (ASHLEY, 2002). Por meio das considerações apresentadas pelo Serviço</p><p>Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), pode-se dizer que o fato de</p><p>uma empresa oferecer o melhor produto ou serviço para seus consumidores não quer dizer</p><p>que ela tenha ética nas suas relações. Principalmente se, por exemplo, no desenvolvimento</p><p>de suas atividades, não se preocupar com a poluição gerada no meio ambiente (SEBRAE,</p><p>2003). Além da preocupação com o meio ambiente, para considerar que uma empresa tenha</p><p>ética nas suas relações, outro valor bastante importante é a transparência, principalmente</p><p>em determinados segmentos, tais como o tratado neste estudo. Se não tiver transparência na</p><p>condução dos negócios a empresa pode ser prejudicada.</p><p>Um exemplo dado pelo SEBRAE (2003) é o das empresas que sonegam</p><p>informações importantes sobre seus produtos e serviços. Futuramente, elas podem ser</p><p>responsabilizadas por omissão. 5 Ashley (2002) afirma que responsabilidade social pode</p><p>ser definida como o compromisso que uma organização deve ter com a sociedade. Este</p><p>compromisso pode ser expresso por meio de atos e atitudes que afetem a sociedade</p><p>positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico. Assim, numa</p><p>visão expandida, responsabilidade social é toda e qualquer ação que possa contribuir para a</p><p>melhoria da qualidade de vida da sociedade. O conceito RSE está relacionado com a ética e</p><p>a transparência na gestão dos negócios e deve refletir-se nas decisões cotidianas que podem</p><p>causar impactos na sociedade, no meio ambiente e no futuro dos próprios negócios. De</p><p>modo mais simples, pode-se dizer que a ética nos negócios ocorre quando as decisões de</p><p>interesse de determinada empresa também respeitam o direito, os valores e os interesses de</p><p>todos aqueles que são por ela afetados (SEBRAE, 2003).</p><p>A RSE tornou-se um fator de competitividade para os negócios. Fabricar produtos</p><p>ou prestar serviços que não degradem o meio ambiente, promover a inclusão social e</p><p>participar do desenvolvimento</p><p>da comunidade de que fazem parte, entre outras iniciativas,</p><p>são diferenciais cada vez mais importantes para as empresas na conquista de novos</p><p>consumidores ou clientes. Já é significativo o número de grandes e médias empresas que</p><p>selecionam fornecedores (micros e pequenos) utilizando critérios da RSE nos negócios.</p><p>Também no acesso aos créditos e financiamentos é crescente a incorporação de critérios de</p><p>gestão responsável (SEBRAE, 2003). Mas a importância da RSE não deve se resumir no</p><p>retorno que ela pode proporcionar em termos de melhoria de imagem, facilidade na</p><p>22</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>obtenção de crédito junto aos bancos e de aumento da competitividade no mercado em que</p><p>atuam, mas sim na sua importância para o crescimento do país.Diante do quadro de pobreza,</p><p>dos sérios problemas nas áreas de educação, saúde, emprego, segurança e meio ambiente é</p><p>bastante salutar que as organizações assumam um papel social e contribuam eficazmente</p><p>para o desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida no planeta. Ainda é</p><p>importante que, por meio deste movimento e do exemplo dos seus líderes, as empresas</p><p>contribuam para resgatar a ética no relacionamento humano e nos negócios (SANTARÉM,</p><p>2000).</p><p>A responsabilidade social deve estar inserida na infra-estrutura e na cultura das</p><p>organizações. As práticas de responsabilidade social devem fazer parte da vida das</p><p>organizações. Elas devem incorporar-se à gestão, aos valores, à missão e ao planejamento</p><p>estratégico das organizações. 2.2.1 A importância das práticas de responsabilidade social</p><p>Através do desenvolvimento e ampliação de projetos sociais, nos últimos anos, as práticas</p><p>de responsabilidade social têm tido destaque em muitas empresas. Segundo Silva (2001),</p><p>isso se deve ao fato da sociedade estar mais consciente de que o Estado não tem mais</p><p>recursos, capacidade de investimentos e competência gerencial para resolver sozinho os</p><p>graves problemas sociais que afligem a humanidade. Assim, a preocupação das empresas</p><p>com as causas sociais tem se tornado uma questão de estratégia e de sobrevivência no mundo</p><p>corporativo. Outra importância que pode ser atribuída à adoção de práticas de RSE é a</p><p>lucratividade que elas podem proporcionar à organização.</p><p>Segundo Ashley (2002), o mundo empresarial vê na responsabilidade social uma</p><p>nova estratégia para aumentar seu lucro e potencializar seu desenvolvimento. Deve haver o</p><p>desenvolvimento de estratégias empresariais competitivas por meio de soluções socialmente</p><p>corretas, ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis. Entre os resultados das</p><p>ações ética e socialmente responsáveis, merece ser mencionado o aumento da</p><p>competitividade das empresas praticantes. Isso se deve ao fato dos consumidores de hoje</p><p>estarem mais exigentes e, conseqüentemente, mais preocupados com a sociedade em que</p><p>estão inseridos. Percebe-se, portanto, que a RSE é fundamental para o 6 desenvolvimento</p><p>das organizações, já que os diversos públicos com os quais as empresas se relacionam</p><p>passam a exigir um retorno social e não somente lucros. Segundo Schiffman e Kanuk</p><p>(2000), a maioria das empresas reconhece que atividades socialmente responsáveis</p><p>melhoram a imagem delas junto aos consumidores, acionistas, comunidade financeira e</p><p>outros públicos relevantes. Elas descobriram que práticas éticas e socialmente responsáveis</p><p>simplesmente são negócios saudáveis que resultam em uma imagem favorável e, por</p><p>23</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>decorrência, em maiores vendas. O contrário também é verdadeiro: percepções de falta de</p><p>responsabilidade social da parte de uma empresa afetam negativamente as decisões de</p><p>compra do consumidor. Pode-se afirmar, portanto, que as práticas de responsabilidade social</p><p>desenvolvem uma maior identificação da empresa com o seu público socialmente</p><p>consciente, ou seja, aquelas pessoas e organizações que, como ela, procuram adotar</p><p>comportamentos politicamente corretos.</p><p>ÉTICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL EM FUNERÁRIAS</p><p>As empresas funerárias, responsáveis pela remoção, exumação e embalsamento de</p><p>cadáveres, prestam serviços a clientes que se encontram sob o peso de condições especiais</p><p>devido à perda de entes queridos. Diante disso, torna-se ainda mais importante a presença</p><p>da ética e da responsabilidade social para respaldar as relações das mesmas com os que as</p><p>contratam, razões que também justificam a verificação da atuação de empresas desse ramo</p><p>de atuação. De forma a auxiliar o setor, foi criado para a categoria, em 1998, pela</p><p>Associação Brasileira de Empresas e Diretores Funerários (ABREDIF), o Código de Ética</p><p>e Auto Regulamentação Funerária (CEARF). Este código se caracteriza como o primeiro</p><p>instrumento a estabelecer as normas que regulamentam o setor e a conduta dos profissionais</p><p>que nele atuam. O aludido código estabelece em seu capítulo II que as empresas do setor</p><p>funerário devem trabalhar baseadas na respeitabilidade, decência, honestidade e proteção à</p><p>intimidade, conforme detalhamento abaixo: Respeitabilidade - Toda atividade funerária</p><p>deverá caracterizar-se pelo respeito à dignidade da pessoa humana, aos seus sentimentos,</p><p>ao interesse social e ao núcleo da família; Decência - O Diretor Funerário preservará os</p><p>bons costumes, agindo com zelo e discrição para que o(a) falecido(a) ou sua família não</p><p>sejam expostos a situações constrangedoras; Honestidade - Os serviços funerários devem</p><p>ser oferecidos e realizados de forma a não se abusar da confiança, falta de experiência ou</p><p>desconhecimento da família, não se beneficiando ainda da credulidade ou estado emocional</p><p>do contratante; Proteção à intimidade - O Diretor Funerário manterá sigilo profissional nos</p><p>assuntos particulares de interesse daqueles que solicitarem seus serviços. Não prestará nem</p><p>divulgará qualquer informação, imagem ou fotografia que tenha relação com o atendimento</p><p>funerário, salvo quando autorizado pela família e ressalvada a sua obrigação de divulgar</p><p>informações exigíveis nos termos da lei. 8 O CEARF também estabelece que os interesses</p><p>da família do falecido devem estar sempre à frente dos interesses de qualquer situação de</p><p>concorrência. A cordialidade é outro valor que deve ser observado no atendimento e na</p><p>24</p><p>| Ética, Bioética e Biossegurança |</p><p>prestação dos serviços, uma vez que aqueles que recorrem aos serviços funerários já se</p><p>encontram fragilizados emocionalmente. Especificamente são destacados dois artigos do</p><p>CEARF, como exemplo do seu conteúdo.</p><p>Segundo o artigo 16, somente pessoas autorizadas e qualificadas procederão ao</p><p>manuseio de cadáveres, sempre após a assinatura do atestado de óbito por um médico e com</p><p>equipamentos de proteção. O artigo 18 do código estabelece que na comercialização</p><p>somente serão oferecidos produtos e serviços dentro das exigências técnicas, legais e</p><p>operacionais necessárias, sempre em conformidade com o poder aquisitivo do contratante,</p><p>ao qual serão fornecidas todas as descrições e comparações necessárias. A partir da</p><p>demonstração dos instrumentos de regulamentação das atividades do setor funerário, faz-se</p><p>mister identificar como as empresas têm atuado e a motivação das mesmas para a adoção</p><p>de postura ética e demonstrações de responsabilidade social.</p><p>O RETRATO DO SERVIÇO FUNERÁRIO</p><p>É importante salientar que os casos descritos aqui não devem ser generalizados,</p><p>porém estes se confundem com o dia-a-dia do serviço funerário no Brasil, assim como em</p><p>outros países. O setor funerário passou a contar com um serviço exclusivo na Internet, um</p><p>site criado para atender às necessidades da categoria, sendo um instrumento para debates de</p><p>assuntos polêmicos e canal de sugestões. O site se denomina como “o endereço eletrônico</p><p>dos empresários compromissados com a ética e profissionalismo”, sendo acessado pelo</p><p>endereço: http://www.funerarianet.com.br . Outro serviço disponível na web foi</p><p>desenvolvido pelo</p>EPI – Equipamento de Proteção Individual EPC – Equipamento de Proteção Coletiva FISPQ – Fichas de Informações de Segurança de 45 | Ética, Bioética e Biossegurança | Produto Químico HEPA – High Efficiency Particulate Air IATA – International Air Transport Association ISO – International Organization for Standardization ISTs – Infecções Sexualmente Transmissíveis LACEN/ES – Laboratório Central do Estado do Espírito Santo MB – Manual de Biossegurança MQ – Manual da Qualidade MS – Ministério da Saúde NBR – Norma Brasileira OCAI – Organizational Culture Assessment Instrument OIT – Organização Internacional do Trabalho OSHA – Occupational Safety and Health Administration – USA PFF2 – Peça facial filtrante nível 2 (eficiência mínima de filtração de 94%). SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade SO – Setor Organizacional. máscara de proteção respiratória descartável tipo PFF2 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Brasil. Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Resolução CNE/ CES n. 4, Brasília (DF), 7 de novembro, 1-6; 2001. BARROS, J. M. C. Ética é o Profissional. Revista CREF-SP. São Paulo, ano 1, n. 2, p. 10. Abril 2001. BARROS, J. M. C. Exercício legal da profissão. Revista CREF-SP. São Paulo, ano 3, n. 4, p. 11. Julho 2002. BORGES, E.; MEDEIROS, C. Comprometimento e ética profissional: um estudo de suas relações juntos aos contabilistas. R. Cont. Fin. USP, São Paulo, n. 44, p. 60 – 71, Maio /Agosto 2007. BRAGAGNOLO, F. Ética e Valores Morais na Formação de Profissionais da Educação. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, agosto de 2010. BRASIL. 46 | Ética, Bioética e Biossegurança | CASA CIVIL. Lei 9696 de 1º de setembro de 1998. Disponível em: . Acessado em 14 de maio de 2014. FIGUEIREDO, A. M. Ética: origens e distinção da moral. Ethics: origins and the moral distinction. Saúde, Ética & Justiça. 2008. MELLO, M. P.; BARROSO, M. R. Profissão e corporação: limites éticos da atuação do advogado. Sociologias, Porto Alegre, ano 13, n. 28, p. 346-369, set./dez. 2011. NASCIMENTO, J. A. B. Os benefícios da conduta ética na vida do profissional. Uniceub. Brasília - DF, agosto de 2006. NASCIMENTO, J. V. Escala de autopercepção de competência profissional em Educação. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, ano 13, n.1, p. 5-21, jan./jun. 1999. Machado MH. Os médicos e sua prática profissional: as metamorfoses de uma profissão [tese]. Rio de Janeiro: IUPERJ; 1996. REZENDE, Manoel Barbosa de. Ética e moral. Rev. Para. Med., Belém , v. 20, n. 3, p. 5-6, set. 2006 . Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 59072006000300001&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 20 out. 2019. Marins JJN. Os cenários de aprendizagem e o processo do cuidado em saúde. In: Marins JJN, Rego S, Lampert JB, Araújo JGC. Educação médica em Gomes AP et AL 16 Rev Assoc Med Bras 2010; 56(1): 11-6transformação: instrumentos para a construção de novas realidades. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Educação Médica. 2004. BARSANO, P. R. et al. Biossegurança: ações fundamentais para a promoção da saúde. São Paulo: Érica, 2014. HIRATA, M. H.; HIRATA, R. D. C.; MANCINI FILHO, J. Manual de biossegurança. 2ed. São Paulo: Manole, 2012. HINRICHSEN, Sylvia Lemos. Biossegurança e controle de infecções: risco sanitário hospitalar. 3ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2018. cap. 1. SILVA, J. V.; BARBOSA, S. R. M.; DUARTE, S. R. M. P. Biossegurança no contexto da saúde. São Paulo: Iátria, 2013. 47 | Ética, Bioética e Biossegurança |