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<p>GESTÃO</p><p>EDUCACIONAL DA</p><p>EDUCAÇÃO BÁSICA</p><p>Maria Elena Roman de Oliveira Toledo</p><p>Gestão e planejamento</p><p>do trabalho pedagógico</p><p>no cotidiano escolar</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Identificar os movimentos de construção do projeto pedagógico</p><p>da escola.</p><p> Propor mecanismos de organização e participação coletiva na ela-</p><p>boração do projeto pedagógico.</p><p> Articular o projeto pedagógico às diferentes instâncias que o</p><p>compõem.</p><p>Introdução</p><p>A elaboração do projeto político-pedagógico (PPP) é muito importante</p><p>para a construção da identidade da escola e para a sua autonomia. Para</p><p>que cumpra o seu papel, esse documento deve estar de acordo com as</p><p>especificidades e necessidades da escola e da comunidade do entorno.</p><p>Por isso, a sua elaboração deve contemplar três movimentos distintos e</p><p>interligados, que passam pelo diagnóstico da realidade escolar e pela</p><p>identificação das concepções dos envolvidos, para que ações pertinentes</p><p>sejam propostas.</p><p>Além disso, a participação de todos os envolvidos deve ser oportuni-</p><p>zada pela criação de órgãos colegiados que participem da vida escolar e</p><p>da tomada de decisões. Isso possibilita a implementação de uma gestão</p><p>democrática na escola. Também não se pode perder de vista a relação</p><p>estabelecida entre o PPP e as diferentes instâncias da vida escolar, como</p><p>o planejamento, a organização do trabalho, o regimento, as práticas</p><p>pedagógicas e as políticas educacionais.</p><p>A construção do projeto pedagógico da escola</p><p>Cada unidade escolar possui características e demandas específi cas. Por</p><p>isso, deve elaborar o seu próprio projeto pedagógico. Para essa elaboração, o</p><p>conhecimento da realidade é fundamental, mas não é o sufi ciente. Também</p><p>é necessário o embasamento teórico do projeto, essencial para que a escola</p><p>avalie as dimensões e os princípios que nortearão a construção de seu projeto</p><p>pedagógico. As teorias podem subsidiar a leitura crítica das práticas, opor-</p><p>tunizando o planejamento de estratégias que promovam melhorias no ensino</p><p>oferecido e na aprendizagem dos alunos.</p><p>De acordo com as características e necessidades da unidade escolar, a constru-</p><p>ção do seu projeto pedagógico seguirá uma dinâmica própria. Apesar das diferen-</p><p>ças, é possível discutir o processo de construção do projeto político-pedagógico</p><p>tendo por base três grandes movimentos bastante interligados. Segundo Marçal,</p><p>Souza e Machado (2001), esses movimentos são relacionados e interdependentes</p><p>entre si. Eles devem ser realizados simultaneamente e demandam uma avaliação</p><p>constante. Assim, cada escola precisa se autoconhecer, refletir sobre as suas</p><p>práticas e construir o seu projeto pedagógico de maneira autônoma e coletiva.</p><p>O primeiro movimento diz respeito ao diagnóstico da realidade esco-</p><p>lar. A ideia é analisar a realidade da escola em suas dimensões pedagógica,</p><p>administrativa, financeira e jurídica. Para que esse movimento ocorra, todos</p><p>os envolvidos na elaboração do projeto pedagógico devem buscar responder</p><p>a esta questão: como é a nossa escola? Nesse movimento, a escola precisa</p><p>coletar dados sobre a sua realidade e analisá-los criteriosamente no que diz</p><p>respeito aos aspectos qualitativos e quantitativos. As informações coletadas</p><p>devem ser referentes a aspectos internos e externos da realidade escolar. Elas</p><p>servem para a identificação das dificuldades a serem superadas e dos aspectos</p><p>facilitadores do sucesso.</p><p>Ainda segundo Marçal, Souza e Machado (2001), para que o diagnóstico seja</p><p>bem detalhado, a escola precisa, por meio dos instrumentos adequados, levantar</p><p>questionamentos em dois níveis: um mais amplo e outro mais específico. Os</p><p>questionamentos em nível mais amplo devem possibilitar o estabelecimento de</p><p>relações entre a realidade escolar e os aspectos sociais, políticos e econômicos</p><p>da comunidade na qual ela está inserida e da sociedade brasileira como um</p><p>todo. Os questionamentos mais específicos, por sua vez, devem estar voltados</p><p>para a organização do trabalho pedagógico, considerando a atuação dos vários</p><p>segmentos escolares.</p><p>Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar2</p><p>O diagnóstico é uma radiografia da escola. Por isso, para elaborá-lo, é</p><p>preciso fazer um levantamento de dados sobre:</p><p> o local onde a escola está localizada (bairro);</p><p> a distância entre o bairro e o centro da cidade, a existência de transporte</p><p>público e a facilidade de acesso;</p><p> a clientela atendida (profissão dos pais, estruturação das famílias,</p><p>renda familiar, etc.);</p><p> os alunos da escola (quantidade total, quantidade por nível de ensino e</p><p>por ano, dados comparativos de ingressantes e concluintes por ano, etc.);</p><p> as causas de evasão escolar;</p><p> o rendimento escolar dos alunos (aprovação, reprovação, distorção</p><p>idade/série).</p><p>Para que esses dados sejam coletados de maneira fidedigna, vários instru-</p><p>mentos podem ser utilizados. Por exemplo: ficha para preenchimento pelos</p><p>pais no momento da matrícula; análise dos resultados das avaliações externas,</p><p>como Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e Exame Nacional do</p><p>Ensino Médio (Enem); avaliações dos professores; registros dos conselhos</p><p>de classe; registros anuais do rendimento escolar; levantamento dos dados da</p><p>Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad); Censo Escolar; dados</p><p>do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira</p><p>(Inep) e do Ministério da Educação (MEC).</p><p>O segundo movimento refere-se ao levantamento das concepções do coletivo</p><p>da escola. Ele tem como objetivo discutir as concepções do coletivo da escola em</p><p>relação ao trabalho pedagógico como um todo. A pergunta “qual é a identidade da</p><p>nossa escola?” deve ser respondida. Após a escola ter a sua situação diagnosticada,</p><p>ela precisa buscar uma fundamentação teórica que oriente a ação de seus segmen-</p><p>tos. A escolha de um referencial teórico é fundamental para o embasamento das</p><p>práticas e para a compreensão das situações que emergem do cotidiano escolar.</p><p>Nesse movimento, o principal objetivo deve ser o levantamento das</p><p>concepções do coletivo da escola em relação ao trabalho pedagógico como</p><p>um todo, visando à proposição de mudanças. A partir da discussão das</p><p>concepções dos vários segmentos, deve-se definir uma linha de ação única,</p><p>que traduza aquilo que é considerado prioritário pelo grupo para o trabalho</p><p>da escola. Esse movimento exige da escola um posicionamento político-</p><p>-pedagógico e a definição das concepções e ações que serão compartilhadas</p><p>por seus atores. Para que ele ocorra, é fundamental que o gestor crie e</p><p>oportunize a discussão e a troca de ideias.</p><p>3Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar</p><p>O terceiro movimento é a definição de estratégias, pessoas e/ou grupos,</p><p>objetivando assegurar a realização das ações propostas pelo coletivo da escola. Esse</p><p>movimento visa a definir as ações da escola, os responsáveis pela sua execução</p><p>e os recursos necessários à implantação do projeto pedagógico. A sua realização</p><p>demanda responder a esta questão: como executar as ações definidas pelo coletivo?</p><p>Após a definição das concepções que nortearão o trabalho dos diferentes</p><p>segmentos da escola, é necessário definir as estratégias que serão adotadas</p><p>por todos. Para que isso ocorra, segundo Marçal, Souza e Machado (2001),</p><p>a escola deve definir as suas prioridades, além de estabelecer as ações que</p><p>serão desenvolvidas e as pessoas que irão realizá-las. Esse processo deve ser</p><p>pautado pelas decisões tomadas de forma coletiva e visar à superação dos</p><p>problemas diagnosticados inicialmente. Outro aspecto bastante relevante nesse</p><p>momento, que não pode ser perdido de vista, é a necessidade de identificar os</p><p>responsáveis por cada uma das ações assumidas no coletivo.</p><p>A definição de um cronograma de trabalho é fundamental. Nele, devem ser defi-</p><p>nidas as ações que serão realizadas a curto, médio e longo prazos, para que possam</p><p>ser acompanhadas e avaliadas. O cronograma deve prever momentos dedicados ao</p><p>planejamento</p><p>pedagógico e às reuniões dos seus colegiados, como conselhos esco-</p><p>lares, conselhos de classe, associações de pais e mestres (APMs), grêmios estudan-</p><p>tis, entre outros. Nesse movimento, é preciso considerar também o tempo destinado</p><p>à redação do documento que retratará todo o processo desenvolvido pela escola.</p><p>Para isso, deve-se constituir um grupo de trabalho, com representantes dos vários</p><p>segmentos envolvidos.</p><p>Os colegiados, obedecendo ao cronograma das reuniões, devem sempre se</p><p>debruçar sobre o projeto político-pedagógico para verificar se o que foi proposto</p><p>está sendo executado e se os resultados esperados estão sendo atingidos. Assim,</p><p>a avaliação deve permear todo o processo de elaboração do PPP, possibilitando</p><p>mudanças sempre que necessário. Mudanças na legislação, alterações na oferta</p><p>de alguma das etapas do ensino (educação infantil, ensino fundamental ou ensino</p><p>médio), bem como alterações em relação às modalidades de ensino, precisam</p><p>ser sempre analisadas e discutidas, determinando adaptações no PPP, mas sem</p><p>que a identidade da comunidade seja perdida.</p><p>Organização e participação na elaboração</p><p>do projeto pedagógico</p><p>Segundo o Ministério da Educação e a Secretaria da Educação Básica (SEB)</p><p>(BRASIL, 2004a), a função social da escola pública é a formação dos cidadãos.</p><p>Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar4</p><p>A escola deve oportunizar a construção de conhecimentos, atitudes e valores</p><p>que tornem os educandos solidários, críticos, éticos e participativos. Para que</p><p>essa formação seja possível, a transmissão (pelos professores) e a apreensão</p><p>passiva (pelos estudantes) dos conhecimentos historicamente produzidos pela</p><p>humanidade não é sufi ciente. A escola deve lançar mão de estratégias que</p><p>oportunizem a construção dos conhecimentos pelos educandos de maneira</p><p>crítica e refl exiva. A ideia é que os saberes se constituam como instrumentos</p><p>de mudanças sociais. A apropriação desses saberes pelos estudantes e pela</p><p>comunidade local é um elemento decisivo para a democratização da sociedade.</p><p>Considere o seguinte:</p><p>A escola pública poderá, dessa forma, não apenas contribuir significativamente</p><p>para a democratização da sociedade, como também ser um lugar privilegiado</p><p>para o exercício da democracia participativa, para o exercício de uma cida-</p><p>dania consciente e comprometida com os interesses da maioria socialmente</p><p>excluída ou dos grupos sociais privados dos bens culturais e materiais pro-</p><p>duzidos pelo trabalho dessa mesma maioria. A contribuição significativa da</p><p>escola para a democratização da sociedade e para o exercício da democracia</p><p>participativa fundamenta e exige a gestão democrática na escola (BRASIL,</p><p>2004a, documento on-line).</p><p>O exercício da democracia participativa na escola se faz pela escolha dos</p><p>dirigentes e pela organização dos conselhos escolares e de toda a comunidade</p><p>escolar e local, que devem participar e fazer valer os seus direitos e deveres. Esse</p><p>exercício faz com que a escola pública contribua efetivamente para afirmar os</p><p>interesses coletivos e construir um país para todos, com igualdade e justiça social.</p><p>No Brasil, a criação dos órgãos de apoio, decisão e controle público da</p><p>sociedade civil na administração pública fez parte das lutas políticas pela</p><p>democratização. Na educação, essa organização de espaços colegiados pode</p><p>ser encontrada em diferentes esferas do poder, que vão do Conselho Nacional</p><p>de Educação (CNE) aos conselhos estaduais, municipais e escolares. Esses</p><p>espaços são muito relevantes para a criação de políticas educacionais que</p><p>orientem as práticas educativas e os processos de participação a partir das</p><p>diretrizes e dos princípios definidos pelas várias instâncias.</p><p>Conselho escolar</p><p>O conselho escolar é muito importante para a democratização da educação e da</p><p>escola. Afi nal, ele reúne diretores, professores, funcionários, estudantes, pais</p><p>e outros representantes da comunidade com o objetivo de discutir, defi nir e</p><p>5Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar</p><p>acompanhar o desenvolvimento do projeto político-pedagógico da escola. A sua</p><p>confi guração varia entre os municípios, estados e outras instituições educativas,</p><p>sendo que a quantidade de representantes também é variável, dependendo, na</p><p>maioria das vezes, do número de estudantes que a instituição possui.</p><p>A criação e a atuação dos conselhos escolares encontram amparo no art. 206</p><p>da Constituição de 1988 e no art. 3º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação</p><p>Nacional (LDBN, Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que definem a</p><p>gestão democrática da escola pública como um princípio legal. Veja:</p><p>Trata-se de enfrentar o desafio de constituir uma gestão democrática que</p><p>contribua efetivamente para o processo de construção de uma cidadania</p><p>emancipadora, o que requer autonomia, participação, criação coletiva dos</p><p>níveis de decisão e posicionamentos críticos que combatam a ideia burocrática</p><p>de hierarquia (BRASIL 2004a, documento on-line).</p><p>Segundo o MEC (BRASIL, 2004b), as atribuições do conselho escolar</p><p>variam de acordo com as diretrizes do sistema de ensino e com as definições</p><p>das comunidades local e escolar. O que há em comum entre conselhos de</p><p>diferentes sistemas de ensino é o fato de que não podem perder de vista o</p><p>regimento escolar, construído coletivamente na escola e que se constitui como</p><p>a referência legal básica para o funcionamento da unidade escolar. Entre as</p><p>principais atribuições do conselho escolar, estão a coordenação do coletivo</p><p>da escola e a criação de mecanismos de participação.</p><p>O conselho escolar se beneficia da existência de outros espaços de partici-</p><p>pação na escola, como o grêmio estudantil e as associações de pais e mestres.</p><p>A participação nesses espaços oportuniza a vivência, no contexto escolar, da</p><p>função política da educação e da democracia. A implantação dos conselhos</p><p>escolares é fundamental para a democratização dos processos decisórios e</p><p>para a efetivação de uma gestão democrática.</p><p>Organizações estudantis</p><p>Em uma instituição educacional que tem o objetivo de formar cidadãos críticos,</p><p>as organizações estudantis, nas quais os educandos podem vivenciar processos</p><p>participativos e decisórios, são muito relevantes. Segundo o Todos pela Educação</p><p>(2018), uma dessas organizações é o grêmio escolar, que encontra amparo na</p><p>Lei nº. 7.398, de 4 de novembro de 1985, conhecida como Lei do Grêmio Livre.</p><p>Tal lei dispõe sobre a organização de entidades representativas dos estudantes</p><p>de 1º e 2º graus. Embora ela não determine a obrigatoriedade da existência do</p><p>Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar6</p><p>grêmio nas escolas, define tal entidade como autônoma e representativa dos</p><p>interesses dos estudantes secundaristas, com finalidades educacionais, culturais,</p><p>cívicas, esportivas e sociais. Segundo o texto da lei, o estatuto do grêmio precisa</p><p>ser aprovado em uma assembleia geral convocada pelo corpo discente da escola,</p><p>e os seus dirigentes e representantes devem ser eleitos por voto direto e secreto.</p><p>O grêmio, como instrumento de gestão democrática nas escolas, também</p><p>está previsto no Plano Nacional de Educação (PNE) aprovado em 2014 e</p><p>vigente até 2024. A meta 19 do PNE refere-se à garantia de condições para</p><p>que a gestão democrática seja implementada em todas as escolas públicas.</p><p>Para isso, uma das estratégias, prevista no item 19.4, é</p><p>estimular, em todas as redes de educação básica, a constituição e o fortale-</p><p>cimento de grêmios estudantis e associações de pais, assegurando-se-lhes,</p><p>inclusive, espaços adequados e condições de funcionamento nas escolas e</p><p>fomentando a sua articulação orgânica com os conselhos escolares, por meio</p><p>das respectivas representações (BRASIL, 2015, documento on-line).</p><p>O grêmio defende os interesses dos alunos nas reuniões dos representantes</p><p>de classe, do conselho escolar e da associação de pais e mestres. Cabe a ele</p><p>levar as demandas estudantis para os professores, gestores e para a comunidade,</p><p>além de participar da tomada de decisões</p><p>importantes para a vida da escola.</p><p>Não existe, na legislação, um modelo único de grêmio. Boa parte das</p><p>diretrizes utilizadas para a criação dessas organizações foi elaborada por</p><p>uma organização não governamental chamada Sou da Paz. Em geral, um</p><p>grêmio surge a partir da vontade de um grupo de alunos, que conversa com a</p><p>direção da unidade escolar, comunica os demais alunos e inicia o processo de</p><p>elaboração de um estatuto, que, uma vez elaborado, é submetido à apreciação</p><p>de todos os estudantes em uma assembleia geral. Cabe à escola destinar um</p><p>local para a realização das reuniões periódicas do grêmio.</p><p>Associações de pais e mestres</p><p>A associação de pais e mestres é uma associação sem fi ns lucrativos que tem por</p><p>fi nalidade representar os interesses comuns dos profi ssionais e dos pais dos alunos</p><p>de uma unidade escolar. Trata-se de um órgão de caráter jurídico, criado com a</p><p>função de administrar os recursos fi nanceiros, sendo que a escola, enquanto órgão</p><p>público, não pode fazê-lo. Para a sua constituição, parte-se do pressuposto de que</p><p>a opinião dos pais e profi ssionais pode contribuir para a melhoria da qualidade do</p><p>ensino e impactar a aprendizagem dos alunos de maneira positiva.</p><p>7Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar</p><p>A APM deve auxiliar a equipe gestora da escola no cumprimento dos objetivos</p><p>e intenções do seu projeto político-pedagógico, além de representar os interesses de</p><p>pais e familiares em prol da educação das crianças frente à comunidade escolar. Ela</p><p>tem objetivos administrativos, pedagógicos e financeiros. Não há obrigatoriedade</p><p>da existência da APM nas escolas, com exceção daquelas que recebem verbas do</p><p>Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Nessas escolas, como as unidades</p><p>escolares não têm autonomia para gerir de forma direta as verbas recebidas,</p><p>cabe à APM decidir como os recursos governamentais serão gastos, assim como</p><p>definir as aplicações do dinheiro ganho com eventos e festas. Para a tomada de</p><p>decisões, a APM deve sempre se articular ao conselho da escola e aos demais</p><p>colegiados. Isso é importante para que os recursos sejam utilizados conforme a</p><p>proposta pedagógica da instituição e a visão da comunidade na qual ela se insere.</p><p>O Programa Dinheiro Direto na Escola foi criado em 1995 e tem por finalidade prestar</p><p>assistência financeira para as escolas, em caráter suplementar. A ideia é contribuir para</p><p>a manutenção e a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, com consequente</p><p>elevação do desempenho escolar.</p><p>Exceto pela obrigatoriedade da existência da APM nas escolas que recebem as</p><p>verbas federais, não existe uma legislação federal que trate especificamente da cria-</p><p>ção e da gestão dessas associações no sistema educacional brasileiro. Todavia, a</p><p>participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da</p><p>escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou</p><p>equivalentes estão previstas no art. 14 da LDBN. Além disso, a estratégia do PNE</p><p>que visa ao fortalecimento dos grêmios estudantis também visa ao fortalecimento das</p><p>APMs. Alguns estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, possuem uma legislação</p><p>própria que regulariza a atuação das APMs locais.</p><p>O projeto pedagógico e as suas diferentes</p><p>instâncias</p><p>O projeto político-pedagógico se articula intimamente com as diferentes instâncias</p><p>que o compõem. Tais instâncias são: o planejamento, a organização do trabalho</p><p>Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar8</p><p>escolar, o regimento escolar, as práticas pedagógicas e as políticas educacionais.</p><p>O projeto político-pedagógico de uma unidade escolar oferece diretrizes e esta-</p><p>belece prioridades para o trabalho coletivo. Contudo, para que ele cumpra o seu</p><p>papel, é necessário que se articule com o planejamento e a prática pedagógica.</p><p>Veja o que afirmam Marçal, Souza e Machado (2001, documento on-line):</p><p>A escola pública necessita de uma gestão que, partindo da construção do projeto</p><p>pedagógico, possibilite à escola alcançar sua finalidade, concretizando sua</p><p>função social: a promoção da cidadania, o desenvolvimento pleno e o sucesso</p><p>dos alunos. E para concretizar o que pretende, a escola necessita de um pla-</p><p>nejamento que organize o seu trabalho escolar e a sua prática pedagógica, de</p><p>modo que as ações implementadas se articulem, promovendo uma educação de</p><p>qualidade conforme o proposto no projeto pedagógico pelo coletivo da escola.</p><p>A relação entre o projeto pedagógico e o planejamento é bastante próxima</p><p>(Figura 1), embora ambos tenham diferentes significados. O projeto pedagógico</p><p>visa à construção da identidade da escola, delineando os rumos a serem seguidos e</p><p>explicitando o compromisso da instituição com a oferta de um ensino de qualidade</p><p>e com a aprendizagem dos alunos. O projeto pedagógico não pode ser construído</p><p>sem planejamento.</p><p>O planejamento deve permear todas as atividades escolares, constituindo-se</p><p>como um instrumento permanente para a elaboração e o desenvolvimento do</p><p>projeto pedagógico. Para a gestão escolar e a promoção de melhorias, é necessário</p><p>um planejamento capaz de identificar as condições favoráveis, diagnosticar os</p><p>problemas e apontar os caminhos para que os objetivos escolares sejam atingidos.</p><p>Figura 1. Relação entre o projeto pedagógico e o planejamento.</p><p>Fonte: Marçal, Souza e Machado (2001, documento on-line).</p><p>9Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar</p><p>O PPP relaciona-se também com a organização do trabalho escolar. O sucesso</p><p>escolar depende de políticas e diretrizes externas, mas também das características</p><p>organizacionais da escola. São consideradas características organizacionais: a</p><p>autonomia escolar, a gestão democrática, a articulação curricular, a participação</p><p>dos pais, a otimização do tempo, a estabilidade profissional, a capacitação dos</p><p>profissionais, o reconhecimento público e o apoio das autoridades.</p><p>A análise das características organizacionais de uma escola permite o</p><p>conhecimento da cultura escolar e a identificação das áreas determinantes</p><p>do sucesso ou do insucesso da instituição. O planejamento deve acompanhar</p><p>a organização do trabalho da escola, uma vez que esse é o espaço no qual o</p><p>PPP se realiza.</p><p>A cultura escolar é o conjunto de valores, crenças e ideologias compartilhadas pelos</p><p>membros da unidade escolar. Contudo, esses elementos nem sempre são explícitos.</p><p>A sua identificação pode ser feita pela análise das manifestações verbais, conceituais</p><p>e comportamentais.</p><p>O PPP apresenta diretrizes para a elaboração do regimento escolar, orien-</p><p>tando a estruturação e o funcionamento da escola de acordo com os seus</p><p>objetivos, visando também ao estabelecimento de um clima de convivência</p><p>harmônico e democrático. O regimento escolar deve apresentar uma série de</p><p>orientações que dizem respeito a diferentes áreas, garantindo o cumprimento</p><p>das leis e das diretrizes e resguardando espaços de autonomia e responsabili-</p><p>dade, inerentes à instituição escolar. Sob nenhuma hipótese o regimento pode</p><p>contrariar o que está posto no projeto pedagógico.</p><p>Ao traçar objetivos a serem atingidos em determinado tempo e delinear a</p><p>missão da escola, o PPP aponta para as práticas pedagógicas que devem ser</p><p>desenvolvidas para que o que está proposto no documento seja concretizado. As</p><p>práticas pedagógicas devem ser pensadas a partir dos referenciais curriculares</p><p>propostos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — relacionados ao</p><p>tipo de sujeito e de sociedade que se pretende construir — e da Constituição</p><p>Federal de 1988.</p><p>Ao mesmo tempo em que a escola tem uma identidade própria, ela</p><p>está inserida em um contexto maior. Portanto, ela está sujeita às ações</p><p>Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar10</p><p>das políticas públicas pensadas nos níveis federal, estadual e municipal.</p><p>Por isso, a elaboração do projeto político-pedagógico deve considerar o</p><p>que está posto nas políticas educacionais desde o nível mais amplo até</p><p>o local. Assim, o processo de</p><p>construção do PPP deve levar em conta o</p><p>contexto das políticas públicas educacionais presentes no cotidiano escolar.</p><p>Além disso, a dimensão local precisa ser considerada, já que possibilita a</p><p>adequação das práticas às especificidades e demandas da unidade escolar.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Diretoria de Estudos Educacionais. Plano Nacional de</p><p>Educação (PNE 2014-2024): linha de base. Brasília, 2015. Disponível em: http://portal.inep.</p><p>gov.br/documents/186968/485745/Plano+Nacional+de+Educa%C3%A7%C3%A3o+</p><p>PNE+2014-2024++Linha+de+Base/c2dd0faa-7227-40ee-a520-12c6fc77700f?version=1.1.</p><p>Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Programa nacional de fortalecimento dos conselhos</p><p>escolares: conselho escolar, gestão democrática da educação e escolha do diretor.</p><p>Caderno 5. Brasília: MEC/SEB, 2004b. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/</p><p>arquivos/pdf/Consescol/ce_cad5.pdf. Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>BRASIL. Ministério da Educação. Programa nacional de fortalecimento dos conselhos</p><p>escolares: conselhos escolares: democratização da escola e construção da cidadania.</p><p>Caderno 1. Brasília: MEC/SEB, 2004a. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/</p><p>arquivos/pdf/Consescol/ce_cad1.pdf. Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>MARÇAL, J. C.; SOUZA, J. V.; MACHADO, M. A. M. Progestão módulo III: como promover</p><p>a construção coletiva do projeto pedagógico da escola? Brasília: Consed, 2001. Dis-</p><p>ponível em: http://www.sed.sc.gov.br/documentos/plano-de-gestao-escolar-409/</p><p>processo-2016/progestao-modulos-atividades/4367-modulo-iii-como-promover-</p><p>-a-construcao-coletiva-do-projeto-pedagogico-da-escola/file. Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>TODOS PELA EDUCAÇÃO. Perguntas e respostas: o que é um grêmio escolar? 2018. Dis-</p><p>ponível em: https://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/perguntas-e-respostas-</p><p>-o-que-e-um-gremio-escolar. Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>BRASIL. Lei nº. 7.938, de 4 de novembro de 1985. Dispõe sobre a organização de</p><p>entidades representativas dos estudantes de 1º e 2º graus e dá outras providências.</p><p>Diário Oficial da União, Brasília, 5 nov. 1985. Disponível em: https://www.planalto.gov.</p><p>br/ccivil_03/leis/L7398.htm. Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>11Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar</p><p>LAFRAIA, B. et al. Guia grêmio em forma: material para formação de grêmios estudantis.</p><p>São Paulo: Instituto Sou da Paz, [20--]. Disponível em: http://www.soudapaz.org/upload/</p><p>pdf/guia_gremioemforma.pdf. Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>PARO, V. H. Gestão escolar democrática — Prof. Vitor Henrique Paro. Youtube, 2013. 1</p><p>vídeo (1 h e 41 min). Publicado pelo canal Vitor Henrique Paro. Disponível em: https://</p><p>www.youtube.com/watch?v=WhvyRmJatRs&t=9s. Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>TODOS PELA EDUCAÇÃO. Perguntas e respostas: o que é e como funciona uma As-</p><p>sociação de Pais e Mestres? 2018. Disponível em: https://todospelaeducacao.org.br/</p><p>conteudo/perguntas-e-respostas-o-que-e-e-como-funciona-uma-associacao-pais-</p><p>-e-mestres. Acesso em: 2 jul. 2019.</p><p>Gestão e planejamento do trabalho pedagógico no cotidiano escolar12</p>