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GESTÃO EDUCACIONAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA Pablo Rodrigo Bes Gestão nos e dos sistemas educacionais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o espaço de gestão dentro do sistema educacional nos âmbitos estadual e municipal. Relacionar o papel dos profissionais da gestão do sistema educacional com o desenvolvimento das escolas. Descrever os conselhos na perspectiva dos sistemas educacionais. Introdução Realizar a gestão de uma escola não é nada simples. Afinal, uma instituição de ensino é uma organização particular e única, diferente de todas as demais pelos seus aspectos estruturais e de recursos humanos e pelos seus objetivos. Da mesma forma, gerenciar os sistemas educacionais que abrangem inúmeras instituições de ensino é uma atividade complexa. Tal atividade requer competência dos gestores dos órgãos centrais e dos órgãos colegiados que apoiam as escolas na sua busca por atender o direito social de todos os brasileiros à educação. Neste capítulo, você vai estudar a gestão da educação na esfera dos estados e dos municípios. A ideia é que você perceba como essa gestão pode impactar as escolas. Além disso, você vai conhecer os conselhos existentes e as suas funções nos sistemas educacionais dos estados e dos municípios. A gestão educacional nos estados e municípios Para que você entenda como o sistema educacional brasileiro se organiza, precisa conhecer a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN, Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996). Essa Lei estabelece as bases, propõe as estruturas e normatiza os procedimentos utilizados para que a educação funcione no território nacional. O art. 8º da LDBN trata da organização da educação nacional, apontando que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino (BRASIL, 1996). Esse ponto é importante e muito signifi cativo, pois o regime de colaboração pressupõe que todos os entes (União, estados, Distrito Federal e municípios), mesmo possuindo atribuições diferentes e delimitadas, são corresponsáveis pelo atingimento dos objetivos educacionais em busca da garantia do direito social de todo cidadão brasileiro à educação. Com a instituição do regime de colaboração, os sistemas de ensino devem atuar de forma integrada e colaborativa. Segundo Carneiro (2006, p. 51), isso “[...] é indiscutivelmente importante para dar dinamismo e sinergia à organização da educação nacional”. Assim, os sistemas de ensino federais, estaduais e municipais precisam estar em harmonia, o que é possível por meio da atuação de seus órgãos centrais e de seus conselhos de educação. Trabalhando em conjunto, eles devem assegurar o cumprimento das políticas educacionais existentes, bem como a formulação de novas políticas públicas para atender às demandas da área educacional. Outro aspecto que você deve compreender é o próprio conceito de sistema. Segundo Bertalanffy (1968), um sistema é um conjunto de elementos que interagem e trocam entre si de forma interdependente para o alcance dos seus resultados. Uma boa forma de entender esse conceito é observar o próprio corpo humano e notar como ele apresenta uma relação de interdependência entre os vários sistemas que o compõem. Dessa forma, quando um dos sistemas não está bem, acaba afetando o funcionamento de todo o corpo, causando prejuízos, não é mesmo? O que faz com que o sistema educacional brasileiro seja operante e persiga de forma conjunta os objetivos educacionais é a união intencional proposta pela LDBN entre os órgãos que compõem esse sistema, como você pode ver na Figura 1, a seguir. Gestão nos e dos sistemas educacionais2 Figura 1. Sistema educacional brasileiro. Perceba, na Figura 1, as relações existentes entre os gestores dos órgãos públicos que dirigem os sistemas federal, estadual e municipal. Repare também nos respectivos órgãos colegiados. Todos esses órgãos refletem diretamente as ações desenvolvidas nas instituições de ensino da educação básica e do ensino superior. Também é importante você lembrar-se de que cada sistema de ensino se encarrega de adequar a sua instância de atuação ao Plano Nacional de Educação (PNE) vigente, bem como de garantir os espaços de participação cidadã e democrática por meio dos conselhos nacionais, estaduais ou muni- cipais de educação. São muitas as incumbências estaduais e municipais em relação à educação, como você pode ver a seguir. Ao Distrito Federal, aplicam-se as competências referentes aos estados e aos municípios (BRASIL, 1996). Atribuições dos estados (BRASIL, 1996): organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; definir, com os municípios, formas de colaboração na oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma das esferas do Poder Público; 3Gestão nos e dos sistemas educacionais elaborar e executar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus municípios; autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectiva- mente, os cursos das instituições de educação superior e os estabele- cimentos do seu sistema de ensino; estabelecer normas complementares para o seu sistema de ensino; assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 da LDBN (redação dada pela Lei nº. 12.061, de 27 de outubro de 2009); assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual (incluído pela Lei nº. 10.709, de 31 de setembro de 2003). Agora veja as atribuições dos municípios (BRASIL, 1996): organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos estados; exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; estabelecer normas complementares para o seu sistema de ensino; autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, além de, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessi- dades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos definidos pela Constituição Federal para a manutenção e o desenvolvimento do ensino; assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal (incluído pela Lei nº. 10.709/2003). Como você pode perceber, as atribuições inerentes aos estados e aos muni- cípios são complexas e variadas. Elas exigem uma gestão organizada e eficiente para que se possa cumprir com as demandas. Agora, você vai conhecer a composição dos sistemas de ensino estaduais (e do Distrito Federal), verifi- cando como essa instância se organiza a fim de cumprir as suas incumbências. Os sistemas de ensino dos estados e do Distrito Federal, conforme o art. 17 da LDBN, compreendem: Gestão nos e dos sistemas educacionais4 [...] I — as instituições de ensino mantidas, respectivamente, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal; II — as instituições de educação superior mantidas pelo Poder Público mu- nicipal; III — as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa privada; IV — os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal, respectivamente (BRASIL, 1996, documento on-line). O principal órgão de educação estadual, responsável pelo gerenciamento da educação, pelo planejamento, pela implantação e pela execução das políticas públicas educacionais, costuma ser a Secretaria de Educação. Ela geralmente divide o território estadual em coordenariasregionais. Dentro das coorde- nadorias regionais, destaca-se o papel dos supervisores de ensino, que se responsabilizam pela visita e pelo suporte às instituições de ensino localizadas na área em que atuam. Além disso, existe o Conselho Estadual de Educação, órgão colegiado que apresenta funções deliberativas, fiscalizadoras e de formulação de políticas educacionais para o seu estado. O sistema de ensino municipal, por sua vez, é composto, conforme propõe o art. 18 da LDBN, por: [...] I — as instituições do ensino fundamental, médio e de educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal; II — as instituições de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada; III — os órgãos municipais de educação (BRASIL, 1996, documento on-line). Você deve notar, porém, que alguns municípios brasileiros ainda não possuem um sistema de ensino próprio, criado e homologado por lei muni- cipal. Tais municípios ficam subordinados ao sistema estadual de ensino ao qual pertencem. Quando o sistema municipal de ensino existe, constituído e legitimado por lei municipal, ele possui autonomia em sua supervisão e em sua rede de ensino, estando subordinado às políticas educacionais de Estado, e não às políticas destinadas à rede estadual de ensino. O principal órgão municipal de educação costuma ser a Secretaria Municipal de Educação, que se incumbe de colocar em prática no interior das escolas municipais os preceitos do Plano Municipal de Educação (quando ele existe) e das demais políticas educacionais. Os profissionais da educação que ocupam os cargos de gestão da educação municipal se encarregam de conduzir, orientar 5Gestão nos e dos sistemas educacionais e fiscalizar as escolas para o alcance e a efetivação das políticas públicas, bem como de propor a formulação de novas políticas sempre que for preciso atender a especificidades locais. A Secretaria Municipal de Educação dá suporte e se encarrega da capacitação e da formação continuada dos gestores escolares do município, pois por meio deles pode atingir os resultados que almeja. No município, há ainda o Conselho Municipal de Educação, um im- portante órgão colegiado que garante a participação da sociedade civil na área educacional. À semelhança do Conselho Estadual de Educação, esse órgão também pode exercer a função deliberativa, fiscalizadora e de produção de políticas educacionais. Para que os sistemas de ensino estaduais e municipais operem de forma eficaz, indo ao encontro dos resultados almejados, necessitam de gestores eficientes e que se empenhem no cumprimento de suas funções, visando ao desenvolvimento máximo dos sistemas e das escolas. Na próxima seção, você vai conhecer esses profissionais da área da gestão e ver como eles atuam em seus respectivos sistemas. Entre as atribuições dos gestores dos estados e municípios, estão a formulação e a integração dos seus respectivos planos de educação ao PNE 2014–2024. A ideia é que o PNE atinja as 20 metas que propõe. A gestão do sistema educacional e o desenvolvimento das escolas Você já viu que a organização do sistema educacional brasileiro ocorre por meio da colaboração, da sinergia e da integração dos sistemas de ensino federal, estaduais e municipais. Essa dinâmica desafi a os gestores de tais instâncias a “[...] fornecer à sociedade cidadãos educados e competentes para cuidarem de si mesmos e contribuírem para a sobrevivência e melhoria da sociedade” (FONSECA, 2007, p. 115). Dessa forma, os sujeitos responsáveis pela gestão dos sistemas de ensino estaduais e municipais, normalmente representados por dirigentes, secretários, coordenadores regionais e supervisores de ensino, precisam realizar ações Gestão nos e dos sistemas educacionais6 de gerenciamento constantemente. Só assim eles são capazes de conduzir as suas instituições de ensino rumo aos objetivos propostos em seus respectivos planos de educação. Como você sabe, isso não é tarefa simples, uma vez que cada escola é uma organização singular. Ao analisar a constituição das escolas do sistema educacional brasileiro, Sanfelice (2006) aponta alguns pontos que as diferenciam: pertencimento a uma rede específica (federal, estadual, municipal, pública ou privada); níveis de atendimento (da educação infantil ao ensino superior); modalidades de ensino ofertadas (escolas técnicas, escolas de línguas, etc.); origens diferentes e peculiares; públicos desiguais (comunidade escolar); cultura desenvolvida na escola; postura diferenciada em relação ao cumprimento das políticas educacionais. Em relação ao último item, o autor acrescenta que “[...] as políticas educa- cionais oficiais também não entram nas unidades escolares da mesma maneira. Há múltiplos entendimentos a respeito delas. Há diferentes acomodações ou formas de resistências para cumpri-las. Quando elas se materializam no coti- diano escolar, essa materialização é ímpar” (SANFELICE, 2006, documento on-line). Ou seja, o papel dos gestores dos sistemas de ensino é importante e, muitas vezes, determinante para que a escola de fato se engaje e cumpra efetivamente a sua atribuição em relação às políticas públicas educacionais vigentes, bem como àquelas que passam a ser implementadas. A postura de liderança assumida por esses gestores frente às políticas educacionais pode determinar o sucesso ou não de sua implantação, principalmente quando sobre- vierem as ações de resistência que são típicas de uma mudança organizacional. Desde o início do século XXI, com a ascensão da gestão nas organizações, o sistema educacional brasileiro tem buscado capacitar os seus gestores. O objetivo disso é que eles consigam atender às demandas crescentes e com- plexas que se exigem da escola num cenário social que se reconfigura de forma dinâmica e, muitas vezes, radical e irreversível. Essas mudanças alteraram a vida em sociedade, bem como os estilos de aprendizagem disponíveis, o que afetou diretamente a escola e, inclusive, ressignificou a própria ação do professor. Ao refletir sobre tais mudanças e o papel dos gestores municipais de educação, Azevedo (2001, documento on-line) comenta que “[...] o crescente 7Gestão nos e dos sistemas educacionais papel dos municípios na educação infantil, no ensino fundamental e na edu- cação de jovens e adultos tem exigido um perfil diferenciado dos dirigentes municipais de educação, que inclui formação técnica e, ao mesmo tempo, capacidade de formulação e gestão das políticas públicas educacionais”. Na atualidade, é comum que o cargo de secretário de educação nos mu- nicípios e nos estados seja ocupado por profissionais que possuem formação e experiência na área da educação. Afinal, as competências necessárias para que se formulem ou implementem as políticas públicas educacionais em seus sistemas assim o exigem. Para entender a complexidade e as competências requeridas dos gestores dos órgãos centrais da educação nos municípios e nos estados da federa- ção brasileira, considere o triângulo de governo proposto por Caros Matus (HUERTAS, 1996), que compreende três vértices (Figura 2). Figura 2. O triângulo de governo. Fonte: Itaú Social, Unicef e Cenpec (2013, documento on-line). Para compreender melhor a Figura 2, veja as definições a seguir. Governabilidade: relação entre os recursos críticos que o ator controla e os que não controla. O ator social (público ou privado) deve viabilizar o seu projeto adequando a sua capacidade de governo e governabilidade, por meio de apoios e parcerias, à ousadia do projeto. Ele deve buscar, portanto, a estabilidade do triângulo. Aparato legal, liderança, capital político e recursos são aspectos da governabilidade. Capacidade de governo: implica capacidade de gestão, técnicas, ha- bilidades e metodologias. Trabalha-se com: ■ desenvolvimento humano; Gestão nos e dos sistemas educacionais8 ■ instrumentos de gestão; ■ planejamento, monitoramento e avaliação; ■ estruturação orgânica; ■ funcionamento da organização.O manual Melhoria da educação no município (ITAÚ SOCIAL; UNICEF; CENPEC, 2013, documento on-line), formulado por iniciativa da Fundação Itaú Social, estabelece as seguintes definições: O projeto: deve ser o foco e a finalidade da Educação pública municipal, por meio de uma política da Educação comprometida com a aprendizagem na idade correta, que busca a qualidade da Educação para todos os alunos. A capacidade de governo: determinação política e recursos existentes para a implantação de Educação de qualidade no município. A governabilidade: mecanismos que dão sustentabilidade para a gestão da Educação municipal. Como você pode perceber, para que exista a governabilidade, também conhe- cida como governança, deve-se perseguir o desenvolvimento da capacidade de governo dos gestores educacionais dos sistemas dos órgãos centrais municipais e estaduais — sejam eles secretários, superintendentes, dirigentes, coordenadores ou supervisores de ensino. Isso é possível por meio de uma formação voltada para a gestão, que proporcione as habilidades e os conhecimentos necessários a respeito das múltiplas dimensões da educação e de seu gerenciamento. Esse ponto é extremamente importante, pois faz parte do papel dos gestores colocar em prática os projetos educacionais existentes. Esses gestores devem promover o alcance de objetivos e metas educacionais que contemplem o proposto nas políticas públicas educacionais existentes, sejam elas de base, como as previstas na LDBN, ou ainda todas as demais que focalizam as áreas da avaliação, do currículo, do financiamento, da gestão de pessoas e da administração. Nas últimas décadas, ocorreu um aumento significativo nas políticas edu- cacionais, que muitas vezes chegam às escolas propondo mudanças e alterando as formas como os docentes e demais profissionais da educação realizam os seus afazeres. Para que todos possam aderir às políticas públicas educacionais, é necessário um trabalho de gestão que vise ao entendimento dos objetivos e proporcione a adaptação necessária, movimento realizado pelos gestores dos órgãos centrais de cada sistema de ensino. Ao realizar uma análise sobre as práticas de gerenciamento da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (SMED), no Rio Grande do Sul, Ivo e Hypólito (2015, documento on-line) perceberam o seguinte: 9Gestão nos e dos sistemas educacionais A SMED realizou cursos de capacitação tanto para os professores como para os gestores da rede municipal de ensino, com o objetivo de capacitar os profissionais para as novas exigências das atuais políticas educacionais [...] a SMED tem investido em cursos de formação continuada para os do- centes e os gestores. O trabalho tem sido realizado no sentido de sensibilizar os profissionais para aderirem ao plano de ações da Secretaria. Com os profissionais sensibilizados, maiores são as probabilidades de sucesso na implementação da política, visto que a consolidação de uma política, de modo geral, dá-se no contexto da prática. Uma vez que os professores e os gestores são concebidos como agentes sociais, que possuem suas concepções, ideologias, perspectivas, sempre há negociações, reinterpretações, inova- ções, resistências e adesões que modificam substancialmente as políticas no contexto da prática, fazendo com que umas sejam ineficientes, algumas sejam alteradas e outras sejam rejeitadas. Essas capacitações também ocorrem a nível estadual, procurando estabe- lecer discussões e deliberações em busca da construção de uma diretriz de trabalho comum a todos os dirigentes municipais de educação. É interessante você perceber que a atuação dos gestores dos órgãos centrais pode impactar diretamente a forma como a política pública é aplicada no contexto da prática cotidiana da escola. Nesse sentido, o grupo de professores e a comunidade es- colar como um todo podem aderir ou não às políticas propostas. Naturalmente, para atingir os seus objetivos, os gestores dos órgãos centrais da educação do estado e dos municípios contam ainda com a importante colaboração dos conselhos colegiados, como você vai ver a seguir. Para dar suporte às ações dos dirigentes das Secretarias Estaduais de Educação, existe o Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed). Ele é uma associação privada sem fins lucrativos existente desde 1986. A sua finalidade é promover a integração das redes estaduais de educação e intensificar a participação dos estados nos pro- cessos decisórios das políticas nacionais. Além disso, o Consed promove o regime de colaboração entre as unidades federativas para o desenvolvimento da escola pública. Da mesma forma, a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) busca instrumentalizar os dirigentes das Secretarias Municipais de Educação. Ela é uma associação civil sem fins lucrativos fundada em 1986 e com sede em Brasília (DF). A sua missão é articular, mobilizar e integrar os dirigentes municipais de educação para construir e defender a educação pública com qualidade social. Gestão nos e dos sistemas educacionais10 Os conselhos e a gestão do sistema educacional Os dirigentes estaduais e municipais de educação exercem um papel estrutu- rante e estratégico no gerenciamento educacional de seus sistemas de ensino. Afi nal, eles procuram articular as políticas públicas locais (municipais e estaduais) em busca da garantia do direito de aprendizagem a todos, crianças, adolescentes, jovens e adultos, em suas respectivas áreas de abrangência. Para cumprir com êxito essas atividades de gestão, os profi ssionais precisam se relacionar com os conselhos que se vinculam às políticas educacionais. Ao referir-se à importância da gestão democrática nas escolas, Cury (2007, documento on-line) destaca a relevância dos conselhos: “[...] a gestão con- temporânea impõe novos campos de articulação e de consulta. Hoje há um número já considerável de conselhos que permeiam o ambiente escolar”. Esses conselhos cooperam para que exista uma gestão participativa e integrada nos sistemas de ensino existentes. A seguir, veja os principais conselhos envolvidos com a gestão dos sistemas de ensino e que se vinculam às políticas educacionais na esfera dos estados e dos municípios: Conselho Estadual de Educação; Conselho Municipal de Educação; Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manu- tenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb); Conselho de Alimentação Escolar (CAE); Conselho Escolar; Conselho Tutelar. Esses conselhos podem ser nomeados como órgãos colegiados ou conselhos de direitos. Eles têm como uma de suas principais finalidades proporcionar a participação da sociedade civil nas áreas sociais sobre as quais o poder público exerce as suas ações. Ao analisar a importância dos Conselhos Estaduais de Educação para a garantia de uma democracia realmente participativa, Castro (2011, documento on-line) defende que: Os Conselhos de Direitos, em suas mais diferentes áreas (meio ambiente, saúde, educação, idoso, pessoa com deficiência, etc.), devem existir em todos os níveis da federação, posto que são órgãos formuladores de políticas públicas e, como tal, devem deliberar sobre essas políticas no âmbito nacional, distrital, estadual e municipal, numa forma de expressão da democracia participativa. 11Gestão nos e dos sistemas educacionais O Conselho Estadual de Educação costuma ser o responsável pela formu- lação dos objetivos e pelo traçado das normas que regulam o sistema de ensino do estado. Essas normas podem incluir: a concessão de auxílio do Estado a instituições de ensino sem fins lucrativos, a instalação de escolas de ensino fun- damental e médio mantidas por esse sistema, as autorizações de funcionamento e recredenciamento de instituições de ensino superior estaduais, entre outras. Tal conselho também tem importante função na elaboração e na manutenção do Plano Estadual de Educação, que deve ser aprovado pelo governador.Oliveira, Souza e Câmara (2018, documento on-line) argumentam que a Secretaria de Educação Estadual e o Conselho Estadual de Educação devem atuar de forma articulada, uma vez que: [...] o primeiro órgão, predominantemente executivo, exerce funções de co- ordenação, supervisão, articulação e implementação das políticas e ações educacionais. Já o segundo, órgão preponderantemente normativo, também com competências de assessoramento, atua na fiscalização e controle, e ainda na proposição de políticas educacionais locais. Dessa forma, enquanto a Secretaria Estadual de Educação se responsabiliza pela articulação e pela implementação das políticas educacionais emanadas pelo Ministério da Educação (MEC) no sistema de ensino estadual, cabe ao Conselho Estadual de Educação propor novas políticas educacionais para atender às demandas locais das instituições escolares. O Conselho Municipal de Educação também costuma possuir funções normativas, consultivas, fiscalizadoras e mobilizadoras perante as instituições de ensino do sistema de ensino municipal, o que inclui todos os estabelecimentos de ensino públicos e privados. Esse conselho promove, na esfera municipal, a par- ticipação da sociedade no campo da educação, reforçando a gestão democrática. O Conselho Municipal de Educação é o responsável por construir parâmetros mínimos de infraestrutura para escolas de educação infantil do sistema de ensino municipal, sejam elas públicas ou privadas. Para isso, consultam-se as normas existentes na esfera estadual e federal e, após a deliberação dos conselheiros, formula-se uma resolução que permite que as escolas de educação infantil sejam autorizadas a funcionar ou recreden- ciadas para continuar funcionando, desde que atendam aos requisitos estabelecidos. Gestão nos e dos sistemas educacionais12 O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundeb faz o controle social sobre a distribuição, a transferência e a aplicação dos recursos do Fundeb. É importante salientar o seguinte: o Conselho do Fundeb não é uma nova instância de controle, mas sim de representação social, não devendo, portanto, ser confundido com o controle interno (executado pelo próprio Poder Executivo), nem com o controle exter- no, a cargo do Tribunal de Contas, na qualidade de órgão auxiliar do Poder Legislativo, a quem compete a apreciação das contas do Poder Executivo (BRASIL, [2019x], documento on-line). O CAE é um conselho deliberativo e autônomo que possui como principal função o acompanhamento e o assessoramento da prefeitura na política de alimentação escolar do sistema de ensino municipal. Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (BRASIL, [2019b], documento on-line), Os CAEs têm como principal função zelar pela concretização da alimentação escolar de qualidade, por meio da fiscalização dos recursos públicos repas- sados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que complementa o recurso dos Estados, Distrito Federal e Municípios, para a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar — PNAE. Como você pode perceber, a ação dos conselhos é muito variada e se destina também a fiscalizar para que as políticas públicas educacionais sejam realizadas de forma ética, com bom uso dos recursos públicos. O Conselho Escolar, muito atuante no interior das escolas públicas, é um colegiado formado por todos os segmentos da comunidade escolar (pais, alunos, professores, direção e funcionários). Ele também possui funções consultivas, deliberativas, normativas e fiscais no âmbito desses estabelecimentos. Segundo o MEC (BRASIL, [2019], documento on-line), os Conselhos Escolares têm como incumbência “[...] zelar pela manutenção da escola e monitorar as ações dos dirigentes escolares a fim de assegurar a qualidade do ensino. Eles têm Anualmente, cabe ao Conselho Municipal de Educação realizar visitas aleatórias e sistemáticas às escolas, verificando se continuam atendendo às exigências das normas formuladas. Essa é uma das atribuições das quais se encarregam os Conselhos Municipais de Educação. Ela tem grande importância para que os municípios cumpram a prioridade de atendimento na educação infantil com padrões de qualidade que garantam uma aprendizagem significativa aos estudantes. 13Gestão nos e dos sistemas educacionais funções deliberativas, consultivas e mobilizadoras, fundamentais para a gestão democrática das escolas públicas”. Um exemplo de atuação do Conselho Escolar é na fiscalização dos recursos que chegam à escola, bem como na discussão do projeto político-pedagógico entre os gestores e professores. O Conselho Tutelar, ao zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e adolescentes, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), possui função de apoio e complementação nas ações educacionais, visando a promover a frequência e assegurar o direito à educação das crianças e jovens de cada município. Como exemplo dessa ação, você pode considerar a obrigatoriedade atribuída aos gestores escolares, prevista na LDBN, de comu- nicar ao referido conselho sempre que os estudantes apresentarem número de faltas acima do percentual de 30% garantido em lei. A ideia é que o Conselho realize ações em favor da criança. Todo aluno precisa cumprir no mínimo 75% de frequência ao longo dos 200 dias letivos do ano. Portanto, não pode faltar à escola mais do que 50 dias. Cabe ao gestor da escola comunicar ao Conselho Tutelar toda vez que um aluno atingir os 30% desse mínimo, ou seja, 15 dias, conforme prevê a Lei nº. 13.803, de 10 de janeiro de 2019, que alterou o art. 12 da LDBN. Esse aviso serve justamente para que o Conselho Tutelar possa agir em prol da criança, procurando garantir que não seja retida no ano escolar por infrequência. Quando se fala nos Conselhos Municipais de Educação, também entra em cena a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME), entidade representativa que foi criada em 1992 e que está organizada em todos os estados do Brasil. Essa entidade tem como finalidade “[...] incentivar e orientar a criação e o funcionamento destes colegiados e pauta a sua atuação nos princípios da universalização do direito à educação, da gestão democrática da política educacional e da inclusão social” (UNCME, [2019], documento on-line). A UNCME defende a ideia de que os conselhos devem ser órgãos de Estado e se dedica a ações de assessoramento, formação e troca de experiências entre os presidentes dos conselhos e os conselheiros. Gestão nos e dos sistemas educacionais14 Para ver como os Conselhos Estaduais de Educação estão implicados no gerenciamento das políticas públicas educacionais, acesse o site do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, disponível no link a seguir. https://qrgo.page.link/pA3EW Como você viu ao longo deste capítulo, os processos de gerenciamento existentes nos sistemas de ensino brasileiros (municipais, estaduais, distrital e federal) exigem comprometimento e preparo técnico e profissional de seus dirigentes. Só assim a gestão desses sistemas vai ocorrer de forma eficiente e, por meio da formulação, da implementação e do monitoramento das políticas públicas educacionais, garantir a todo cidadão brasileiro o direito a uma educação de qualidade e significativa. AZEVEDO, N. P. A UNDIME e os desafios da educação municipal. Estudos Avançados, v. 15, n. 42, p. 141-152, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar ttext&pid=S0103-40142001000200004. 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