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GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS Pablo Rodrigo Bes Gestão pública na educação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:  Identificar os princípios da gestão pública na educação.  Relacionar as políticas públicas na educação com a gestão pública na educação escolar.  Definir práticas democráticas e participativas na gestão escolar. Objetivos de aprendizagem É por meio das políticas públicas que são distribuídos os bens e serviços que atendem às demandas sociais. Assim, torna-se necessário discutir a gestão pública educacional, uma vez que, para o seu cumprimento, o gestor precisa garantir princípios que se constituíram historicamente. Neste capítulo, você vai conhecer os princípios da gestão pública educacional e os seus fundamentos. Além disso, terá a oportunidade de conhecer algumas políticas públicas educacionais e a sua relação com a gestão escolar. Por fim, vai conhecer a política voltada para a gestão democrática nas escolas. Fundamentos e princípios Ao começarmos a estudar a gestão pública e o seu foco na educação, precisamos nos reportar aos primórdios históricos que fi zeram com que o termo “gestão” viesse a substituir o termo “administração” na execução das ações pertinentes à esfera pública e privada. O termo administração é mais antigo e remete a um processo rígido, estabelecido, segundo a sua própria defi nição, para uma condição em que há alguém que é superior, que “manda”, que administra alguém ou um grupo de pessoas, que são subalternos a esse administrador. Esse profi ssional é o grande responsável por planejar as ações, organizar os processos, dirigir o grupo subordinado e controlar o seu desempenho. Esse modelo surgiu no final do século XIX, acompanhando as transfor- mações econômicas e sociais, e se origina nos estudos de alguns intelectuais relacionados ao ambiente empresarial, visando produzir pesquisas e teorias com o objetivo de otimizar os processos produtivos em desenvolvimento na época. Entre esses intelectuais, podemos citar o casal norte-americano Gilbreth, fundador da Gilbreth Inc., em 1911, que produziu pesquisas de otimização industrial e estudos sobre a fadiga dos trabalhadores no início do século XX. Temos ainda Taylor (1856–1915), engenheiro norte-americano reconhecido como o fundador da ciência da administração e responsável pelos estudos de tempos, movimentos e organização racional do trabalho, assim como Henry Ford (1863–1947), que delineia novos contornos para os processos industriais da época. Diante desse cenário, cabe relatar: Os princípios estabelecidos pela administração no início do século XX, pre- viam uma administração rígida, onde o chefe ou o proprietário, no caso de pequena empresa, eram os donos absolutos das decisões, a autoridade vinha de cima para baixo e as suas atividades principais eram mandar fazer as tarefas e controlá-las com muito rigor. O objetivo principal da organização era produzir mais e com maior eficiência para que o lucro fosse maior (KWA- SNICKA, 1979, p.18). Os princípios da administração foram úteis e perseguiram o propósito de consolidar o crescimento e a expansão do capitalismo industrial, que deu lastro ao desenvolvimento econômico das nações de modo geral. Tais princípios se deslocaram para a administração pública, uma vez que eram entendidos como excelentes para o aumento da eficiência das operações e para o alcance dos resultados desejados em todas as áreas. Foi assim que surgiu no Brasil a administração educacional, voltada para a condução desse setor importante a ser administrado pelo Estado em busca do bem-estar da coletividade. No entanto, para que a economia continuasse prosperando, com o passar das décadas, esse modelo não cumpria mais as suas finalidades. A sociedade se reconfigurou, exigindo atitudes mais dinâmicas, flexíveis e adaptáveis às mudanças que surgiram — sobretudo após os anos de 1980 — e se intensifi- caram, como o advento da globalização, o impulso das comunicações digitais e as modificações nas relações de trabalho e emprego e na própria maneira de Gestão pública na educação2 conduzir as ações estatais. Era necessário agora alguém que pudesse inovar, que fosse empreendedor de si mesmo, que soubesse conduzir pessoas e processos de forma flexível para o alcance dos resultados organizacionais. Dentro do contexto dessas mudanças que ocorreram no cenário mundial, surgiu o termo gestão, que hoje é amplamente utilizado no campo da educação. A administração pública brasileira passou por três fases distintas durante o seu desenvolvimento histórico, conforme é mostrado na Figura 1. Figura 1. Fases da administração pública no Brasil. Fonte: Adaptada de Rek (2014). A administração pública patrimonialista se estende desde o período colonial até a década de 1930, sendo caracterizada por uma confusão entre o público e o privado e pelo sentimento dos governantes de que o Estado era patrimônio seu, fazendo com que os servidores públicos fossem nomeados pelos governantes, favorecendo o nepotismo e práticas corruptas. A administração pública burocrática, por sua vez, surgiu a partir de 1936, na qual, visando atender às proposições do capitalismo, foi necessária a cisão entre o Estado, o mercado e a sociedade. O Estado encarregou-se de atender os direitos sociais da população e combater o nepotismo e a corrupção, valendo-se para isso da regulamentação e criação de formulários, normas e regras a serem seguidas, dentro da lógica de que a burocracia traria impesso- alidade e corrigiria tais problemas do modelo patrimonialista. O resultado, porém, foi uma disfunção da burocracia, tornando o modelo pesado, lento, engessado e ineficiente. 3Gestão pública na educação A administração pública gerencial surgiu após a Constituição Federal de 1988, visando atender aos seus princípios constitucionais e buscando a flexibilidade nos processos e o controle das atividades públicas administrativas e operacionais, dando margem ao surgimento da gestão pública. Em todas as áreas da gestão pública, inclusive na educação, são persegui- dos sempre os objetivos relacionados ao bem público, ou seja, ao benefício da população e da coletividade. Para atingir com eficiência tais objetivos, a gestão pública se vale, como fundamento, de quatro processos fundamentais: 1. planejamento; 2. organização; 3. direção; 4. controle. Dentro desses processos fundamentais, serão construídas políticas públicas que deverão nortear os trabalhos dos gestores públicos, visando a sua maior eficiência e o alcance dos objetivos propostos para a sociedade. Você aprenderá sobre essas políticas públicas voltadas para a área educacional relacionando-as com as práticas dos gestores educacionais no próximo tópico. Na Constituição Federal de 1988, o art. 37 afirma que “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line). Estes ficaram conhecidos como os princípios da ad- ministração pública e aplicam-se diretamente ao campo da educação. Para facilitar o entendimento, podemos associar esses princípios com a sigla LIMPE. Dessa forma, cada um deles traz ao gestor público norteadores importantes para a sua prática. Acompanhe no Quadro 1 o significado de cada um deles. Gestão pública na educação4 Fonte: Adaptado de Prestes (2014). Princípio Significado Legalidade É o princípio básico de todo o direito público. A legalidade é esteio do Estado Democrático de Direito e está correla- cionada à tipicidade e às normas de direito. Toda atividade administrativa deve estar dotada de legalidade. A doutrina costuma usar a seguinte fraseologia: “Enquanto na ativi- dade particular tudo o que não está proibido é permitido, na administração pública é o inverso, ela só pode fazer o que a lei permite, destemodo, tudo o que não está permi- tido é proibido”. Impessoalidade O princípio da impessoalidade ou princípio da finalidade impõe ao administrador público que apenas pratique o ato para a finalidade legal, de forma impessoal. Os atos da administração devem ser sempre imputados ao ente ou órgão em nome do qual se realiza e destinado diretamente à coletividade, sem privilégio e perseguições. Moralidade Moral é um conceito subjetivo que se alterna de sociedade em sociedade, de época em época. Tem relação estreita com a ética, é um padrão correto, considerado mediana- mente por um grupo social. A moral administrativa significa o dever do administrador de não apenas cumprir a lei formalmente, mas também substancialmente, procurando sempre o melhor resultado para a administração. Publicidade Esse princípio se destina, por um lado, à produção dos efeitos externos dos atos administrativos, tem caráter informativo e educativo. Por outro lado, também se justifica por permitir a qualquer pessoa que tenha conhecimento controle e fiscalização dos atos administrativos. Eficiência Eficiência é a obtenção do melhor resultado com o uso racional dos meios. Foi acrescentado aos anteriores pela Emenda Constitucional nº. 19, de 1998, conhecida como a Reforma Administrativa. Quadro 1. Princípios constitucionais da administração pública 5Gestão pública na educação Além desses princípios que se encontram explícitos no texto constitucional, existem outros dois que são considerados supraprincípios e que norteiam a construção dos princípios analisados na tabela. São eles o princípio da supremacia do interesse público e o princípio da indisponibilidade do interesse público. Dessa forma, fica reforçada a ideia de que a gestão pública deve sempre estar pautada pelo atendimento da finalidade coletiva e da busca pelo bem-estar da população, em detrimento de questões individuais. Sempre que o gestor público se afastar da busca pelos interesses públicos e do cum- primento das disposições legais, poderá ser responsabilizado funcionalmente, sendo inclusive afastado de suas funções. Embora as instituições educacionais tenham se apropriado dos princípios da adminis- tração que se originaram nas organizações industriais, a sua finalidade é completamente diferente, sendo a escola considerada uma organização única e particular. Dentro das escolas públicas, os gestores são os responsáveis por atingir os resultados esperados junto aos estudantes. Os principais gestores educacionais são o diretor, o vice-diretor, o coordenador pedagógico, o supervisor educacional e o orientador educacional. Políticas públicas educacionais e a gestão da escola Para realizar as suas atividades como gestor escolar, o diretor e a sua equipe gestora devem pôr em prática os fundamentos do planejamento, da organização, da direção e do controle de todos os processos que se desenvolvem no interior da escola, sempre respeitando os princípios constitucionais da gestão pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência. Para que isso possa ocorrer, faz-se necessário que a gestão das instituições de ensino cumpra com a execução das políticas públicas educacionais, uma vez que elas constituem políticas de Estado e visam determinar, nortear e conduzir as práticas educacionais realizadas nas escolas. Dessa forma, as políticas públicas educacionais se relacionam diretamente com a gestão da escola, fornecendo os preceitos legais e as normas a serem postas em prática na gestão das instituições de ensino. Para que possamos analisar as políticas públicas educacionais vigentes na atualidade e a sua Gestão pública na educação6 relação com a gestão escolar, vamos acompanhar algumas que se relacionam com as atividades de planejamento, organização, direção e controle a serem desenvolvidos nas instituições de ensino. O planejamento dentro de uma escola vai além de uma simples função gerencial, pois também tem caráter pedagógico. É utilizado tanto para prever ações administrativas que se fazem necessárias quanto a preparação das aulas e o cumprimento das políticas públicas curriculares que a escola deve pôr em prática durante o ano letivo. Aliás, cabe ao gestor escolar seguir as determinações exigidas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ou LDB (BRASIL, 1996), no Plano Nacional de Educação (2014–2024) e nas respectivas legislações curriculares atuais, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e os Parâ- metros Curriculares Nacionais existentes para as modalidades de ensino que se encontrem sob a sua gestão. Como você pode perceber, o princípio da legalidade exige que o gestor educacional venha a conhecer amplamente as políticas públicas educacionais que serão postas em prática no interior da sua escola. A LDB atual, de 1996, cita, no art. 12, as incumbências inerentes aos estabelecimentos de ensino: Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I — elaborar e executar sua proposta pedagógica; II — administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III — assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV — velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V — prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI — articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII — informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimen- to dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica (BRASIL, 1996, documento on-line). Perceba que é o gestor escolar o grande responsável para que essas incum- bências sejam cumpridas no interior da escola. Isso exige ações de planejamento, organização dos afazeres e atividades a serem realizadas, condução destas junto à equipe que compõe a escola e junto à comunidade escolar como um todo e, ainda, utilização de mecanismos que permitam os mais diversos controles sobre o trabalho desenvolvido na escola. Além dessas incumbências originais, foram acrescidas à LDB de 1996, por leis complementares, outras determinações: 7Gestão pública na educação VII — informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº. 12.013, de 2009) VIII — notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei; (Incluído pela Lei nº. 10.287, de 2001) VIII — notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei; (Redação dada pela Lei nº. 13.803, de 2019) IX — promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; (Incluído pela Lei nº. 13.663, de 2018) X — estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. (Incluído pela Lei nº. 13.663, de 2018.) (BRASIL, 1996, documento on-line). Planejar pode ser considerado como a principal função da gestão pública. Isso fica evidenciado na Lei Complementar nº. 101, de 4 de maio de 2000, que estabelece normas para a gestão fiscal das finanças públicas e afirma que “A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas [...]” (BRASIL, 2000, documento on-line). Assim, cabe esclarecer que o gestor escolar é o agente fiscal responsável pelo planejamento e pela devida utilização dos recursos financeiros que chegam até a escola pelos inúmeros programase políticas públicas de financiamento da educação escolar, como os recursos relativos ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), bem como os demais programas administrados pelo Fundo Nacional de Desenvolvi- mento da Educação (FNDE), como o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE), Caminho da Escola, entre outros. A equipe gestora da escola — composta normalmente pelos cargos identificados como diretor, vice-diretor, supervisor/coordenador pedagógico e orientador educacional — deve procurar inteirar-se das políticas públicas pertinentes a suas áreas de atuação. Somente assim será possível cumprir o princípio da eficiência em suas ações, e a escola poderá atingir os seus objetivos educacionais, fornecendo uma aprendizagem de qualidade e significativa aos seus alunos. Gestão pública na educação8 Hengemuhle (2004, p. 193) acrescenta que “[...] da mesma forma, também o setor de documentação escolar (secretaria) precisa estar em consonância com o planejamento, em especial, com o regimento escolar, que regulamenta, entre outras coisas, a vida institucional dos alunos”. Em outras palavras, a Secretaria também se constitui como importante instrumento de apoio para que os gestores consigam pôr em prática no interior da escola as inúmeras políticas públicas educacionais ao seu encargo. Ao comentar sobre as inúmeras atribuições do dirigente educacional em busca de uma instituição escolar eficiente e que promova qualidade de ensino, Colombo (2004, p. 33) afirma que “[...] cabe também ao gestor educacional determinar, de acordo com as competências das áreas e as respectivas equipes, os limites de responsabilidades e autoridades, incentivando a cooperação entre os seus membros e prevenindo possíveis conflitos interpessoais”. Para que possa determinar, dirigir e controlar as competências inerentes à sua equipe, o gestor deve conhecer muito bem as políticas públicas educacionais que cercam as áreas de atuação de cada um. Por exemplo, como um diretor de escola da educação básica poderá verificar se o planejamento pedagógico das aulas está sendo realizado de acordo, se desconhece o que determina a Base Nacional Comum Curricular vigente? Ou ainda, como vai reportar-se ao Conselho Tutelar, quando necessário, se os mecanismos de controle de frequência utilizados em sala de aula não estiverem sendo aplicados correta- mente pelos docentes, se estes por quaisquer motivos não estejam registrando as frequências em seus diários de classe? O conhecimento da legislação educacional e o cumprimento do princípio da impessoalidade também auxiliam o gestor educacional na prevenção e gestão dos conflitos interpessoais que eventualmente ocorrem entre os membros da equipe da escola. Uma vez que as normas e regras sejam seguidas de forma transparente e sem favorecimentos pessoais, existindo ainda um canal de comunicação aberto junto aos gestores, pode-se minimizar muito os possíveis problemas de relacionamento interpessoal. Cabe salientar ainda que o diretor deverá promover a gestão democrática na sua instituição pública de ensino, visando atender preceitos constitucio- nais e da LDB atual. Para isso, precisa abrir espaços de participação para a comunidade escolar como um todo, o que também requer esforço gerencial e demanda planejamento. 9Gestão pública na educação Você sabia que pode participar das decisões relativas ao sistema municipal de educação do município onde reside por meio das vagas para representantes e suplentes dos pais de alunos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio no Conselho Municipal de Educação? Fica o desafio: vá até a Secretaria Municipal de Educação e procure se informar sobre o Conselho Municipal de Educação da sua cidade. Descubra quem são esses pais representantes e quando ocorrerão as plenárias para a escolha de novos membros. Essa é uma excelente maneira de participar da gestão educacional do sistema de ensino do seu município. Gestão escolar: práticas democráticas e participativas Desde a Constituição Federal de 1988 e, principalmente, após a LDB de 1996, a gestão democrática se constitui como o modelo de gestão que deve ser utili- zado nas escolas que compõem o sistema educacional brasileiro. A LDB atual explicita, no art. 3°, que “[...] o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...] VIII – gestão democrática do ensino público, na forma da Lei e da legislação dos sistemas de ensino” (BRASIL, 1996, documento on-line). Refl etindo a esse respeito, Libâneo (2004, p. 217) constata: Muitos dirigentes escolares foram alvos de críticas por práticas excessivamente burocráticas, conservadoras, autoritárias, centralizadoras. Embora aqui e ali continuem existindo profissionais com esse perfil, hoje estão disseminadas práticas de gestão participativa, liderança participativa, atitudes flexíveis e compromisso com as necessárias mudanças na educação. A gestão democrática se alia com as mudanças no mundo contemporâneo e exige que haja espaços que oportunizem a participação da comunidade escolar no interior da escola. A comunidade escolar, por sua vez, envolve os alunos e os seus responsáveis, os docentes, os gestores escolares, os demais funcionários que compõem a escola, as pessoas e organizações que residem ou atuam no entorno da escola. Cabe salientar que o Plano Nacional de Educação (2014–2024) traz o seguinte em sua meta 19: “[...] assegurar condições, no prazo de 2 (dois) anos, para a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, Gestão pública na educação10 no âmbito das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto”. Os espaços de participação na gestão da escola que reforçam a ideia de uma gestão desenvolvida democraticamente costumam ser os seguintes:  construção do Projeto Político Pedagógico (PPP);  processo de escolha de gestores da escola;  Conselhos Escolares;  Associações de Pais e Mestres;  Grêmios Estudantis;  pais representantes no Conselho Municipal de Educação. Acesse o Plano Nacional de Educação no link a seguir. https://goo.gl/m7pEFR A construção do Projeto Político Pedagógico da instituição de ensino é uma excelente oportunidade de buscar o envolvimento e a participação da comunidade escolar, sobretudo dos docentes e responsáveis pelos alunos, uma vez que “[...] o projeto pedagógico ganhará em riqueza e diversidade pela consideração e pelo envolvimento da subjetividade dos profissionais no processo consciente de propiciar o melhor para todos” (CURY, 2007, documento on-line). Em essência, por meio do diálogo entre as partes envolvidas na busca pelos objetivos educacionais referentes ao desenvolvimento de um processo de ensino e aprendizagem proposto a todos, pode ser construído um documento que de fato tenha a identidade da instituição e represente verdadeiramente os anseios e as expectativas dessa comunidade escolar para a formação dos seus estudantes e para a sociedade futura. Cury (2007, documento on-line) reforça ainda que “[...] a gestão do projeto pedagógico é tarefa coletiva do corpo docente, liderado pelo gestor responsável, e se volta para a obtenção de um outro princípio constitucional da educação nacional que é a garantia do padrão de qualidade”. Assim, cabe ao gestor escolar, por meio das práticas democráticas, promover a participação de todos em busca do incremento na qualidade do ensino que é direito de todos. 11Gestão pública na educação Com relação à meta 19 do Plano Nacional de Educação 2014–2024, que envolve a gestão democrática, o Relatório 1º Ciclo de Monitoramento das Metas do PNE: Biênio 2014–2016, apresenta, sobre a participação da comunidade escolar na escrita do Projeto Político Pedagógico, que 42%dos Projetos foram elaborados a partir da criação de um modelo próprio e com o envolvimento da equipe escolar. Ademais, 39,5% valeram-se de modelos prontos e fizeram adaptações e discussões com a equipe escolar. Isso evidencia, nesse quesito, a busca pelo envolvimento nessa esfera democrática no interior das escolas e das redes de ensino (BRASIL, 2016). A forma como os diretores das instituições de ensino são levados a assumi- rem os seus cargos é um importante indicador dos processos democráticos nos quais a escola se encontra inserida. Ainda segundo o Relatório de Monitora- mento, os diretores que foram escolhidos somente por indicação constituíram 59% nas redes municipais, 32% nas redes federais e 22,9% nas redes estaduais. Já o processo de escolha por eleição apresentou o índice de 48,6% na rede federal, 26,3% na rede estadual e 17,8% na rede municipal. Há ainda outros processos mistos envolvendo processo seletivo e indicação ou eleição, mas são minoritários. Cabe ressaltar aqui o grande número de diretores de escolas que são indicados nos municípios, o que fere determinações constitucionais e mesmo da própria LDB vigente (BRASIL, 2016). Os Conselhos Escolares também representam um espaço muito impor- tante para que a democracia participativa se evidencie no interior das escolas públicas, uma vez que o Conselho: [...] tem papel decisivo na democratização da educação e da escola. Ele é um importante espaço no processo de democratização, na medida em que reúne diretores, professores, funcionários, estudantes, pais e outros representantes da comunidade para discutir, definir e acompanhar o desenvolvimento do projeto político pedagógico da escola, que deve ser visto, debatido e analisado dentro do contexto nacional e internacional em que vivemos (BRASIL, 2004, p. 22). Em resumo, por meio do Conselho Escolar, a comunidade escolar pode vir a ter voz ativa dentro do processo de gestão da escola, acompanhando as ações que foram planejadas e propostas no Projeto Político Pedagógico. Com relação à existência do Conselho Escolar nas escolas, o mesmo Relatório de Monitoramento indica que ele não existia, em 2013, em 38,4% das escolas federais, 13,3 % das municipais e 5,8 % das estaduais, nos dados apurados pela Prova Brasil/Aneb (BRASIL, 2016). Gestão pública na educação12 Podemos citar, ainda, como espaços abertos à participação da comunidade escolar, as Associações de Pais e Mestres, que se constituem como pessoa jurídica e que, dessa forma, podem participar ativamente da condução de inú- meras atividades de cunho social que dão suporte às atividades administrativas e pedagógicas da escola, quando necessário. Uma escola que apresenta um bom nível de interesse e participação da comunidade escolar na sua gestão acaba tendo todos os espaços democráticos ocupados pelos seus membros, enriquecendo e contribuindo significativamente com a sua gestão. Cabe também aos gestores estimularem a organização dos alunos e a composição dos Grêmios Estudantis, que representam espaços muito ricos de desenvolvimento da cidadania por meio da participação nas decisões e da busca por conquistas e desejos do seu público representado. Os Grêmios são excelentes locais para o desenvolvimento de lideranças e potencialidades por meio do protagonismo dos estudantes. Como você pode perceber, a gestão escolar deve pautar-se nos princípios da gestão pública, enfatizando o princípio da legalidade, pois cabe ao gestor cumprir com o que está previsto em lei. Como a gestão democrática é uma determinação constitucional e da LDB vigente, deveria possibilitar o envol- vimento e diálogo entre todos aqueles que participam direta e indiretamente da comunidade escolar. Para que isso possa ocorrer, devem existir canais abertos de comunicação e espaços em que as ideias possam ser compartilhadas e nos quais as mais diversas leituras de mundo possam interagir em busca de consenso e dos objetivos maiores de uma educação de qualidade como um direito de todos. Para aprofundar os seus conhecimentos sobre a eleição de diretores das escolas públicas, assista ao vídeo “Olho na escola: a eleição do diretor da escola pública”, do Canal Futura, disponível no link a seguir: https://goo.gl/XW7FV9 13Gestão pública na educação BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituição.htm. Acesso em: 27 fev. 2019. BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Re- latório do 1º Ciclo de monitoramento das metas do PNE: biênio 2014-2016. Brasília, DF: Inep, 2016. 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