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<p>Imprimir</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Estudante, boas-vindas à nossa aula sobre uma das temáticas mais instigantes sobre o futuro do nosso</p><p>planeta: o Antropoceno.</p><p>Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.</p><p>Aula 1</p><p>ANTROPOCENO E AS CRISES</p><p>CONTEMPORÂNEAS</p><p>Estudante, boas-vindas à nossa aula sobre uma das temáticas mais instigantes sobre o futuro do nosso</p><p>planeta: o Antropoceno.</p><p>35 minutos</p><p>ANTROPOCENO E AS CRISES SOCIAL E</p><p>AMBIENTAL</p><p> Aula 1 - Antropoceno e as crises contemporâneas</p><p> Aula 2 - Mudanças climáticas</p><p> Aula 3 - Desigualdades socioambientais</p><p> Aula 4 - Movimentos de defesa do meio ambiente</p><p> Referências</p><p>152 minutos</p><p>Antropoceno signi�ca um novo período, em que a humanidade se transformou em uma força geológica capaz</p><p>de alterar as condições de sustentação da vida. Nas últimas décadas, a economia e o comércio mundial,</p><p>baseados em uma sociedade de consumo, tiveram um forte crescimento, com melhorias das condições de</p><p>vida de milhões de pessoas pelo mundo. Mas isso teve um preço: o aumento da poluição, a perda da</p><p>biodiversidade e o aquecimento global.</p><p>E você pode se perguntar: como isso afetará a minha vida? As crises do Antropoceno alterarão e desa�arão as</p><p>nossas compreensões sobre economia e natureza.</p><p>Portanto, você, como futuro pro�ssional, nesta aula, começará a compreender e a se preparar para os</p><p>desa�os desse novo tempo sobre as nossas atividades econômicas e sociais.</p><p>Vamos juntos no estudo dessa instigante temática!</p><p>DO HOLOCENO AO ANTROPOCENO</p><p>O Holoceno é o período geológico que começou há 11.700 anos e se caracterizou pela estabilidade do clima.</p><p>Esse fato permitiu gradualmente a evolução das atividades humanas por meio do cultivo de plantas, isto é,</p><p>pelo desenvolvimento da agricultura e pela domesticação de animais. Soma-se a isso as migrações humanas,</p><p>a constituição de sociedades complexas e a criação dos aglomerados urbanos, como vilarejos, vilas e cidades</p><p>(VEIGA, 2019; COSTA, 2022). O Holoceno se constituiu no período de desenvolvimento do homem e de seus</p><p>atributos na Terra.</p><p>Para um número signi�cativo de cientistas, esse período se esgotou e estamos vivendo o início de um novo</p><p>período geológico: o Antropoceno. A palavra “Antropoceno” foi cunhada pelo biólogo Eugene F. Stoermer, em</p><p>1980, e signi�ca antropo (homem) + ceno (novo) (VEIGA, 2019). Já a hipótese de um novo tempo</p><p>geológico foi levantada originalmente pelo cientista Paul Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química, em</p><p>1995, e Eugene F. Stoermer, durante uma reunião do Programa Internacional de Geosfera-Biosfera (IGBP) em</p><p>Cuernavaca, México, no mês de fevereiro do ano de 2000. Para eles, o uso do termo Antropoceno é o mais</p><p>adequado para “[...] enfatizar o papel central da humanidade na geologia e na ecologia” (CRUTZEN;</p><p>STOERMER, 2000, p. 17).</p><p>O que identi�ca o Antropoceno são as profundas transformações das atividades humanas sobre os processos</p><p>de regulação biofísicos do planeta, isto é, o homem passou a ser uma força geológica capaz de modi�car as</p><p>condições estruturantes do sistema terrestre. Portanto, Antropoceno signi�ca a época da dominação humana</p><p>sobre o planeta (ALVES, 2020).</p><p>Não há consenso sobre o início do Antropoceno, mas os especialistas escolheram uma data simbólica como</p><p>marco temporal: o ano de 1784, data do aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt. Esse é o</p><p>período que marca o uso intensivo de combustíveis fósseis, no caso, o carvão, e o início da Revolução</p><p>Industrial e do sistema de produção capitalista. Desse período em diante, que podemos chamar de</p><p>modernidade, temos um conjunto de elementos decisivos para de�nir a intervenção das forças humanas</p><p>sobre o planeta.</p><p>Um exemplo imediato é a questão demográ�ca: em 1800, a população mundial era de 1 bilhão de pessoas;</p><p>hoje, somos 7,5 bilhões, e as estimativas falam em 10 bilhões no ano de 2050. Esse aumento populacional</p><p>esteve ligado à urbanização, que se intensi�cou nos últimos 200 anos, ou seja, o mundo se tornou urbano,</p><p>com mais de 50% da população mundial vivendo em cidades. No Brasil, por exemplo, esses índices são</p><p>superiores a 80% da população (IPEA, 2006). Esses processos foram lastreados pelo uso intensivo de</p><p>combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – e pela de�nição de uma sociedade de consumo nos países</p><p>centrais. Com esse cenário, temos os fatores de pressão para a extração de recursos naturais, como a</p><p>ascensão de uma agricultura industrial, o desmatamento de �orestas tropicais e a perda de biodiversidade.</p><p>Da mesma forma, entre os problemas ocasionados, estão a poluição em todos os sistemas planetários – ar,</p><p>oceanos, solo etc. – e a con�guração de sociedades com desigualdades socioeconômicas em nível global.</p><p>Outros dados e variáveis poderiam ser agregados, mas os enumerados demonstram os impactos das</p><p>atividades humanas sobre os processos de sustentação dos alicerces planetários.</p><p>Figura 1 | Crescimento da economia da população e da renda per capita mundial: 1768-2018</p><p>Fonte: Angus Maddison, Historical Statistics of the World Economy e FMI apud A dinâmica... (2019, [s. p.]).</p><p>A expressão Antropoceno é objeto de questionamentos. O geógrafo norte-americano Jason Moore prefere o</p><p>vocábulo Capitoloceno, porque, segundo ele, não é possível atribuir à espécie humana a condição de força</p><p>geológica, mas, sim, ao sistema capitalista que, por seu caráter expansionista, é o causador da mudança de</p><p>era geológica (MOORE, 2016). Outros usam o termo Ocidentaloceno, porque a responsabilidade pelos</p><p>desdobramentos atuais é dos países ricos do norte global, e esses não podem ser atribuídos às nações mais</p><p>pobres (UNESCO, 2018; COSTA, 2022); ou ainda Tecnoceno, porque as mudanças em curso e suas</p><p>consequências foram a partir do desenvolvimento tecnológico e tem o poder de alcançar todas as condições</p><p>de vida para as gerações futuras (COSTA, 2021).</p><p>Apesar dos questionamentos, a expressão Antropoceno se popularizou e tornou-se não só a designação de</p><p>um novo tempo geológico mas também uma metáfora dos novos tempos em curso. Em uma ou em outra</p><p>perspectiva, o Antropoceno traz a discussão sobre os limites de um planeta �nito, tanto de espaço quanto de</p><p>recursos naturais. Além disso, se sistemas econômicos e sociais continuarem na mesma sistemática,</p><p>passaremos de um cenário de crise para uma provável e desa�adora emergência ecológica, afetando a vida</p><p>como um todo.</p><p>A GRANDE ACELERAÇÃO</p><p>Da Revolução Industrial até o �nal da primeira metade do século XX, temos o primeiro estágio do</p><p>Antropoceno, que é de�nido como era industrial. A partir de 1950, no século passado, temos um novo e</p><p>perigoso estágio com a intensi�cação dos efeitos antropogênicos sobre o Sistema Terra, que os cientistas têm</p><p>denominado como a “Grande Aceleração”.</p><p>Com o �m da Segunda Guerra Mundial, uma época de signi�cativa expansão das atividades econômicas em</p><p>uma sociedade de consumo e baseada em combustíveis fósseis foi responsável por recordes sucessivos na</p><p>emissão de gases antropogênicos. Para exempli�car, nos últimos 50 anos, a economia mundial multiplicou</p><p>por quase quatro vezes, enquanto o comércio global aumentou em dez vezes (IPBES, 2019). Para contemplar</p><p>as demandas desse crescimento econômico, nós, seres humanos, passamos a exercer uma pressão excessiva</p><p>sobre os ciclos de regulação do planeta com o aumento da poluição, desmatamentos, perda de</p><p>biodiversidade, acidi�cação de oceanos, entre outros fatores.</p><p>Alguns estudos cientí�cos nos ajudam a compreender os desa�os impostos pela Grande Aceleração das</p><p>últimas décadas. O relatório A Avaliação Global da Natureza, lançado em 2019 pela Plataforma</p><p>Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), é a mais</p><p>extensa análise sobre a perda da biodiversidade no planeta e a�rma que “[...] o ritmo das mudanças globais</p><p>na natureza nos últimos 50 (cinquenta) anos não tem precedentes na história da humanidade” (IPBES, 2019, p.</p><p>12). Elencamos outros dados sensíveis desse documento (IPBES, 2019):</p><p>• 75% da superfície da Terra sofreu alterações</p><p>a</p><p>proposição da competente ação penal de responsabilização.</p><p>Além desse contexto de atuação em face das instituições públicas e setor empresarial, é importante destacar</p><p>que muitas ONGs são criadas para projetos na escala da proximidade, ou seja, nos lugares em que vivem</p><p>comunidades e pessoas que são bene�ciadas ou atendidas pelas suas iniciativas e estratégias de melhoria das</p><p>condições de vida e de preservação e conservação dos recursos naturais. Outras ONGs atuam na produção de</p><p>dados, estudos e pesquisas que subsidiarão um conjunto de proposições públicas e privadas em suas áreas</p><p>institucionais, muitas vezes realizados em parceria com instituições de ensino. Da mesma forma, algumas</p><p>ONGs estabelecem projetos de educação ambiental, para a formação de uma consciência pública sobre a</p><p>importância da proteção ambiental, estimulando a participação comunitária e dos setores organizados da</p><p>sociedade civil.</p><p>VÍDEO RESUMO</p><p>No vídeo, faremos uma abordagem da gênese histórica das principais interpretações do movimento</p><p>ambientalista para, em seguida, discorrer sobre as principais organizações não governamentais de proteção</p><p>ambiental no âmbito internacional e nacional. Por �m, a compreensão da importância das ONGs no desenho</p><p>institucional brasileiro e os efeitos de sua atuação na agenda ambiental.</p><p> Saiba mais</p><p>As organizações da sociedade civil desempenham um papel fundamental na agenda de nossas</p><p>sociedades, com projetos e iniciativas com impacto social, em benefício de grupos, comunidades e</p><p>cidades. Seja conhecendo, se bene�ciando ou mesmo atuando pro�ssionalmente em uma delas, as</p><p>organizações da sociedade civil estão na linha de frente dos desa�os do nosso tempo. Portanto, como</p><p>pro�ssional, é importante conhecer os trabalhos dessas entidades. Como sugestão, conheça o trabalho</p><p>do Observatório do Terceiro Setor, uma agência brasileira de conteúdo multimídia com foco nas</p><p>temáticas sociais e nos direitos humanos.</p><p>Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.</p><p>https://observatorio3setor.org.br/</p><p>Aula 1</p><p>A DINÂMICA demográ�ca importa no crescimento econômico e na degradação ambiental. Instituto</p><p>Humanitas Unisinos, 4 maio 2019. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/588841-a-</p><p>dinamica-demogra�ca-importa-no-crescimento-economico-e-na-degradacao-ambiental. Acesso em: 13 out.</p><p>2022.</p><p>ALVES, J. E. D. Antropoceno: a Era do colapso ambiental. CEE-FIOCRUZ, 2020. Disponível em:</p><p>https://cee.�ocruz.br/?q=node/1106. Acesso em: 27 ago. 2022.</p><p>CORREIO DA UNESCO. Um glossário para o antropoceno. UNESCO, 2018. Disponível em:</p><p>https://pt.unesco.org/courier/2018- 2/um-glossario-o-antropoceno . Acesso em: 7 jun. 2019.</p><p>COSTA, A. Antropoceno: desmandamentos gravados em rocha. In: DANOWSKI, D.; CASTRO, E. V. de;</p><p>SALDANHA, R. (Org.). Os Mil Nomes de Gaia: do Antropoceno à Idade da Terra. Rio de Janeiro, RJ: Machado,</p><p>2022, p. 106-186.</p><p>COSTA, F. Tecnoceno: algoritmos, biohackers y nuevas formas de vida. Buenos Aires: Taurus, 2021.</p><p>CRUTZEN, P.; STOERMER, E. The “Anthropocene”. Global Change Newsletter, v. 41, p. 17-18, 2000.</p><p>GLOBAL FOOTPRINT NETWORK. 2022. Disponível em: https://data.footprintnetwork.org/#/. Acesso em: 13 ago.</p><p>2022.</p><p>INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Um Exame dos Padrões de Crescimento das Cidades</p><p>Brasileiras. Brasília, DF: IPEA, 2006. Disponível em:</p><p>http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1155.pdf . Acesso em: 1º ago. 2021.</p><p>MOORE, J. W. Anthropocene or Capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism. Los Angeles:</p><p>Kairos, 2016.</p><p>ODUM, E. P. Fundamentos de ecologia. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.</p><p>PAIS, A. Nove limites mantêm equilíbrio da Terra; veja 4 já ultrapassados. BBC, 2021. Disponível em:</p><p>https://www.bbc.com/portuguese/geral-59214427 . Acesso em: 28 ago. 2022</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>15 minutos</p><p>https://www.ihu.unisinos.br/categorias/588841-a-dinamica-demografica-importa-no-crescimento-economico-e-na-degradacao-ambiental</p><p>https://www.ihu.unisinos.br/categorias/588841-a-dinamica-demografica-importa-no-crescimento-economico-e-na-degradacao-ambiental</p><p>https://cee.fiocruz.br/?q=node/1106</p><p>https://pt.unesco.org/courier/2018-%202/um-glossario-o-antropoceno</p><p>https://data.footprintnetwork.org/#/</p><p>http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_1155.pdf</p><p>https://www.bbc.com/portuguese/geral-59214427</p><p>PLATAFORMA INTERGOVERNAMENTAL SOBRE BIODIVERSIDADE E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS. Comunicado à</p><p>mídia: Avaliação de uso sustentável do IPBES - 50.000 espécies selvagens atendem às necessidades de bilhões</p><p>em todo o mundo. IPBES, 8 jul. 2022. Disponível em:</p><p>https://ipbes.net/media_release/Sustainable_Use_Assessment_Published. Acesso em: 13 out. 2022.</p><p>PLATAFORMA INTERGOVERNAMENTAL SOBRE BIODIVERSIDADE E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS. Resumo para</p><p>formuladores de políticas do relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos da</p><p>Plataforma Intergovernamental de Políticas Cientí�cas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. IPBES,</p><p>2019. Disponível em: https://ipbes.net/assessment-reports/americas. Acesso em: 22 ago. 2022.</p><p>VEIGA, J. E. da. O Antropoceno e a Ciência do Sistema Terra. São Paulo, SP: Editora 34, 2019.</p><p>WWF. Relatório Planeta Vivo 2020. Reversão da curva de perda de biodiversidade. WWF, 2020. Disponível em:</p><p>https://f.hubspotusercontent20.net/hubfs/4783129/LPR/PDFs/Brazil%20FINAL%20summary.pdf. Acesso em:</p><p>21 ago. 2022.</p><p>WWF. Dia de Sobrecarga da Terra. WWF, 2022. Disponível em: https://www.wwf.org.br/overshootday/. Acesso</p><p>em: 25 ago. 2022.</p><p>Aula 2</p><p>BRASIL. Decreto nº 2.652, de 1º de julho de 1998. Promulga a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre</p><p>Mudança do Clima, assinada em Nova York, em 9 de maio de 1992. Brasília, DF: Presidência da República,</p><p>[2022]. Disponível em: https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?</p><p>tipo=DEC&numero=2652&ano=1998&ato=163ITTE50dNpWT810. Acesso em: 20 ago. 2022.</p><p>BRASIL. Decreto nº 9.073, de 5 de junho de 2017. Promulga o Acordo de Paris sob a Convenção-Quadro das</p><p>Nações Unidas sobre Mudança do Clima, celebrado em Paris, em 12 de dezembro de 2015, e �rmado em</p><p>Nova Iorque, em 22 de abril de 2016. Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9073.htm. Acesso em: 28 ago. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima –</p><p>PNMC e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm. Acesso em: 20 set. 2022.</p><p>BRASIL. Nota à Imprensa nº 157/2020. Apresentação da Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil</p><p>perante o Acordo de Paris. Brasília, DF: Ministério Das Relações Exteriores, [2022]. Disponível em:</p><p>https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2020/apresentacao-da-</p><p>contribuicao-nacionalmente-determinada-do-brasil-perante-o-acordo-de-paris. Acesso em: 25 ago. 2022.</p><p>BURSZTYN, M.; BURSZTYN, M. A. Fundamentos de Política e Gestão Ambiental: caminhos para a</p><p>sustentabilidade. Rio de Janeiro, RJ: Garamond, 2012.</p><p>https://ipbes.net/media_release/Sustainable_Use_Assessment_Published</p><p>https://ipbes.net/assessment-reports/americas</p><p>https://f.hubspotusercontent20.net/hubfs/4783129/LPR/PDFs/Brazil%20FINAL%20summary.pdf</p><p>https://www.wwf.org.br/overshootday/</p><p>https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=DEC&numero=2652&ano=1998&ato=163ITTE50dNpWT810</p><p>https://legislacao.presidencia.gov.br/atos/?tipo=DEC&numero=2652&ano=1998&ato=163ITTE50dNpWT810</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9073.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm</p><p>https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2020/apresentacao-da-contribuicao-nacionalmente-determinada-do-brasil-perante-o-acordo-de-paris</p><p>https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/2020/apresentacao-da-contribuicao-nacionalmente-determinada-do-brasil-perante-o-acordo-de-paris</p><p>INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Sixth Assessment Report: Headline Statements from the</p><p>Summary for Policymakers. IPCC, 2022. Disponível em:</p><p>https://report.ipcc.ch/ar6wg2/pdf/IPCC_AR6_WGII_HeadlineStatements.pdf. Acesso em: 20 ago. 2022.</p><p>MELO, F. Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo, SP: Método, 2017.</p><p>ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE METERIOLOGIA. 2020 was one of three warmest years on record. OMM, 2021.</p><p>Disponível em: https://public.wmo.int/en/media/press-release/2020-was-one-of-three-warmest-years-record.</p><p>Acesso em: 28 ago. 2022.</p><p>PFEIFFER, C. Mitigação das Mudanças Climáticas. ENDICI, [s. d.]. Disponível em:</p><p>https://www.labeurb.unicamp.br/endici/index.php?r=verbete/view&id=231. Acesso em: 21 ago. 2022.</p><p>PLATAFORMA INTERGOVERNAMENTAL SOBRE BIODIVERSIDADE E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS. Resumo para</p><p>formuladores de políticas do relatório de avaliação global sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos da</p><p>Plataforma Intergovernamental de Políticas Cientí�cas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. IPBES,</p><p>2019. Disponível em: https://ipbes.net/assessment-reports/americas. Acesso em: 22 ago. 2022.</p><p>Aula 3</p><p>ABRAMOVAY, R. Muito Além da Economia Verde. São Paulo, SP: Planeta Sustentável, 2012.</p><p>ACSELRAD, H.; MELLO, C. C. A.; BEZERRA, G. N. O que é Justiça Ambiental? Rio de Janeiro, RJ: Garamond,</p><p>2009.</p><p>BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:</p><p>Presidência da República, [2022]. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm . Acesso em: 1º ago. 2022.</p><p>BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 101 Distrito</p><p>Federal. Relatora: Min. Carmen Lúcia. Brasília, DF: STF, 2009. Disponível em:</p><p>https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=629955. Acesso em: 2 ago. 2022.</p><p>CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 1, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios</p><p>básicos e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Brasília, DF: CONAMA, [2022]. Disponível</p><p>em: http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=745. Acesso em: 30 ago.</p><p>2022.</p><p>CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 9, de 3 de dezembro de 1987. Dispõe sobre a</p><p>questão de Audiências Públicas no processo de licenciamento ambiental. Brasília, DF: CONAMA, [2022].</p><p>Disponível em: http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=60. Acesso</p><p>em: 30 ago. 2022.</p><p>https://report.ipcc.ch/ar6wg2/pdf/IPCC_AR6_WGII_HeadlineStatements.pdf</p><p>https://public.wmo.int/en/media/press-release/2020-was-one-of-three-warmest-years-record</p><p>https://www.labeurb.unicamp.br/endici/index.php?r=verbete/view&id=231</p><p>https://ipbes.net/assessment-reports/americas</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm</p><p>https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=629955</p><p>http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=745</p><p>http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=60</p><p>CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 494, de 11 de agosto de 2020. Estabelece, em</p><p>caráter excepcional e temporário, nos casos de licenciamento ambiental, a possibilidade de realização de</p><p>audiência pública de forma remota, por meio da Rede Mundial de Computadores, durante o período da</p><p>pandemia do Novo Coronavírus (COVID-19). Brasília, DF: CONAMA, [2022]. Disponível em:</p><p>http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=793. Acesso em: 30 ago.</p><p>2022.</p><p>CRUZ VERMELHA INTERNACIONAL. World Disaster Report 2018: leaving no one behind. Geneva: International</p><p>Federation of Red Cross and Red Crescent Societies, 2018. Disponível em:</p><p>https://www.ifrc.org/sites/default/�les/2021-09/B-WDR-2018-EN-LR.pdf . Acesso em: 20 set. 2022.</p><p>JACKSON, T. Prosperidade sem Crescimento: vida boa em um planeta �nito. São Paulo, SP: Abril, 2013.</p><p>MARGULIS, S. Mudança do Clima: tudo que você queria e não queria saber. Rio de Janeiro, RJ: Conrad</p><p>Adenaur, 2020.</p><p>MATTEI, U.; NADER, L. Pilhagem: quando o Estado de Direito é ilegal. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2013.</p><p>ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Relatório do Desenvolvimento Humano 2019. PNUD, 2019. Disponível</p><p>em: https://hdr.undp.org/system/�les/documents//hdr2019ptpdf.pdf. Acesso em: 22 ago. 2022.</p><p>ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e</p><p>Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina e no Caribe. ONU, 2018 Disponível em:</p><p>https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43611/S1800493_pt.pdf?sequence=1&isAllowed=y .</p><p>Acesso em: 30 ago. 2022.</p><p>ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.</p><p>Estud. av., v. 6, n. 15, ago. 1992. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40141992000200013. Acesso</p><p>em: 30 ago. 2022.</p><p>OST, F. A natureza à Margem da Lei: a Ecologia à prova do Direito. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.</p><p>OXFAM. Uma Economia para os 99%. Sumário Executivo. Londres: Oxfam, 2017ª. Disponível em:</p><p>https://oxfamilibrary.openrepository.com/bitstream/handle/10546/620170/bp-economy-for-99-percent-</p><p>161017-summ-pt.pdf?sequence=31&isAllowed=y. Acesso em: 30 jul. 2021.</p><p>OXFAM. A distância que nos une. São Paulo, SP: Oxfam Brasil, 2017b. Disponível em: https://www-</p><p>cdn.oxfam.org/s3fs-public/�le_attachments/relatorio_a_distancia_que_nos_une_170925.pdf. Acesso em: 30 jul.</p><p>2021.</p><p>OXFAM. Desigualdade Social: um panorama completo da realidade mundial. Oxfam Brasil, 2021. Disponível</p><p>em: https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama-completo-da-realidade-</p><p>mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade%20de%20vid</p><p>a. Acesso em: 20 jul. 2022.</p><p>http://conama.mma.gov.br/?option=com_sisconama&task=arquivo.download&id=793</p><p>https://www.ifrc.org/sites/default/files/2021-09/B-WDR-2018-EN-LR.pdf</p><p>https://hdr.undp.org/system/files/documents/hdr2019ptpdf.pdf</p><p>https://repositorio.cepal.org/bitstream/handle/11362/43611/S1800493_pt.pdf?sequence=1&isAllowed=y</p><p>https://doi.org/10.1590/S0103-40141992000200013</p><p>https://oxfamilibrary.openrepository.com/bitstream/handle/10546/620170/bp-economy-for-99-percent-161017-summ-pt.pdf?sequence=31&isAllowed=y</p><p>https://oxfamilibrary.openrepository.com/bitstream/handle/10546/620170/bp-economy-for-99-percent-161017-summ-pt.pdf?sequence=31&isAllowed=y</p><p>https://www-cdn.oxfam.org/s3fs-public/file_attachments/relatorio_a_distancia_que_nos_une_170925.pdf</p><p>https://www-cdn.oxfam.org/s3fs-public/file_attachments/relatorio_a_distancia_que_nos_une_170925.pdf</p><p>https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama-completo-da-realidade-mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade%20de%20vida</p><p>https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama-completo-da-realidade-mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade%20de%20vida</p><p>https://www.oxfam.org.br/blog/desigualdade-social-um-panorama-completo-da-realidade-mundial/#:~:text=A%20desigualdade%20social%20%C3%A9%20oriunda,para%20a%20qualidade%20de%20vida</p><p>Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.</p><p>PICKETT, R.; WILKINSON, K. O Nível: porque uma sociedade mais igualitária é melhor para todos. Rio de</p><p>Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2015.</p><p>Aula 4</p><p>BRASIL. Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos</p><p>causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e</p><p>paisagístico e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm . Acesso em: 20 ago. 2022.</p><p>BRASIL. Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989. Cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente e dá outras</p><p>providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em:</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7797.htm#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20institu%C3%ADdo%20o%20</p><p>Fundo,de%20vida%20da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20brasileira</p><p>. Acesso em: 20 ago. 2022.</p><p>BRASIL. Cadastro Nacional de Entidades Ambientalista. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2019.</p><p>Disponível em: http://cnea.mma.gov.br/entidades-cadastradas. Acesso em: 10 ago. 2022.</p><p>GREENPEACE. Quem Somos. Disponível em: https://www.greenpeace.org/brasil/quem-somos/ Acesso em: 20</p><p>ago. 2022.</p><p>INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Relatório Anual de Atividades 2021. Disponível em:</p><p>https://www.socioambiental.org/sites/default/�les/2022-06/Relatorio-2021-F11.pdf. Acesso em: 11 ago. 2022.</p><p>MCCORMICK, J. Rumo ao Paraíso: a história do movimento ambientalista. Rio de Janeiro, RJ: Relume-Durnarã,</p><p>1992.</p><p>SOS MATA ATLANTICA. Relatório Anual 2021. Disponível em: https://cms.sosma.org.br/wp-</p><p>content/uploads/2022/07/Relatorio_21_julho.pdf. Acesso em: 20 ago. 2022.</p><p>UNIÃO INTERNACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E DOS RECURSOS NATURAIS. Relatório Anual</p><p>2019. Disponível em: https://portals.iucn.org/library/sites/library/�les/documents/2020-012-Pt.pdf. Acesso em:</p><p>22 ago. 2022.</p><p>WWF. Relatório de Parcerias Corporativas 2020. Disponível em: https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-</p><p>de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-</p><p>2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20d</p><p>o%20desperd%C3%ADcio . Acesso em: 10 ago. 2022.</p><p>https://storyset.com/</p><p>https://www.shutterstock.com/pt/</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7797.htm#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20institu%C3%ADdo%20o%20Fundo,de%20vida%20da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20brasileira</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7797.htm#:~:text=1%C2%BA%20Fica%20institu%C3%ADdo%20o%20Fundo,de%20vida%20da%20popula%C3%A7%C3%A3o%20brasileira</p><p>http://cnea.mma.gov.br/entidades-cadastradas</p><p>https://www.greenpeace.org/brasil/quem-somos/</p><p>https://www.socioambiental.org/sites/default/files/2022-06/Relatorio-2021-F11.pdf</p><p>https://cms.sosma.org.br/wp-content/uploads/2022/07/Relatorio_21_julho.pdf</p><p>https://cms.sosma.org.br/wp-content/uploads/2022/07/Relatorio_21_julho.pdf</p><p>https://portals.iucn.org/library/sites/library/files/documents/2020-012-Pt.pdf</p><p>https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20do%20desperd%C3%ADcio</p><p>https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20do%20desperd%C3%ADcio</p><p>https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20do%20desperd%C3%ADcio</p><p>https://www.wwf.org.br/?79328/Relatorio-de-Parcerias-Corporativas-do-Brasil-2020#:~:text=Nossa%20miss%C3%A3o%20%C3%A9%20conter%20a,da%20polui%C3%A7%C3%A3o%20e%20do%20desperd%C3%ADcio</p><p>consideráveis e já se perdeu mais de 85% de áreas de zonas</p><p>úmidas.</p><p>• 66% da superfície dos oceanos estão experimentando efeitos crescentes de deterioração.</p><p>• Em média, cerca de 25% das espécies em grupos de animais e plantas estão ameaçados, o que sugere que</p><p>cerca de um milhão de espécies já estão em perigo de extinção, muitas em apenas algumas décadas.</p><p>• Em 2016, 559 das 6.190 raças de mamíferos domesticados usados para alimentação e agricultura (mais de</p><p>9%) foram extintas e pelo menos 1.000 outras foram ameaçadas de extinção.</p><p>O relatório Planeta Vivo, do ano de 2020, elaborado pela entidade WWF, traz os mesmos dados sobre a perda</p><p>da biodiversidade. Os fatores responsáveis por essa perda são: o uso da terra, com a conversão de áreas</p><p>intocadas em setores agrícolas, e, no caso dos oceanos, o aumento excessivo da pesca. O ponto fundamental</p><p>do relatório é que “a perda de biodiversidade não é apenas um problema ambiental. Ela também afeta o</p><p>desenvolvimento, a economia, a segurança global, a ética e a moral” (WWF, 2020). Recentemente, um novo</p><p>relatório do IPBES (2022) alertou que cerca de um milhão de espécies da fauna e da �ora estão ameaçadas de</p><p>extinção.</p><p>Esse conjunto de dados traz uma constatação fundamental: a necessidade de estabelecer limites planetários,</p><p>em uma perspectiva que permita conjugar as atividades socioeconômicas de nossas sociedades com a</p><p>capacidade de suporte do planeta. Para tanto, será necessário compreender quais são os limites planetários.</p><p>Um importante estudo liderado pela equipe do cientista sueco Johan Rockström, do Centro de Resiliência de</p><p>Estocolmo, caracterizou os nove processos que regulam a estabilidade e a resiliência do planeta,</p><p>estabelecendo os limites para o que é denominado “espaço operacional seguro para a humanidade”, isto é,</p><p>em que é possível a manutenção das atividades sem colocar em risco a vida terrestre (VEIGA, 2019; COSTA,</p><p>2022).</p><p>Os nove processos que precisam ser regulados para a garantia da estabilidade planetária são (VEIGA, 2019;</p><p>COSTA, 2022):</p><p>1. Mudanças climáticas.</p><p>2. Perda da integridade da biosfera (perda da biodiversidade).</p><p>3. Dispersão de químicos e novas substâncias.</p><p>4. Acidi�cação do oceano.</p><p>5. Uso da água doce.</p><p>6. Mudanças do uso da terra.</p><p>7. Fluxos biogeoquímicos (alterações nos ciclos do nitrogênio e do fósforo).</p><p>8. Carga de aerossóis de origem antropogênica presentes na atmosfera.</p><p>9. Introdução de novas entidades (microplásticos, poluentes orgânicos, nanomateriais etc.).</p><p>Esses processos que estabelecem os limites planetários podem ser sintetizados na �gura a seguir.</p><p>Figura 2 | Os nove limites planetários</p><p>Fonte: Pais (2021, [s. p.]).</p><p>Na �gura, podemos visualizar que a parte em verde são as chamadas zonas seguras, em que temos o “espaço</p><p>operacional seguro”; em laranja, as “zonas de risco crescente”, com alto potencial de efeitos prejudiciais; em</p><p>vermelho, as “zonas de risco alto”, em que os limites foram ultrapassados e estamos sujeitos às</p><p>consequências imprevisíveis. Percebemos que a humanidade já ultrapassou quatro dos limites estabelecidos:</p><p>mudanças climáticas, integridade da biosfera (perda de biodiversidade), �uxos bioquímicos de nitrogênio e</p><p>fósforo e, mais recentemente, as mudanças no uso da terra (solo). Esses são desa�os que estão postos no</p><p>tabuleiro global, a demandar a atuação de todas as instituições internacionais e nacionais.</p><p>Nota-se, assim, que a observância dos limites planetários é uma das exigências para que as crises provocadas</p><p>pela Grande Aceleração não conduzam o Sistema Terra a uma situação de irreversibilidade.</p><p>A ERA DA RESPONSABILIDADE</p><p>Para o enfrentamento das questões que se apresentam no Antropoceno, será imprescindível repensar os</p><p>meios de produção e os padrões de consumo em sociedade, que afetam decisivamente os processos</p><p>ambientais e, por consequência, as dinâmicas de regulação do Sistema Terra. Se, em sentido amplo, é</p><p>essencial uma conjugação de políticas e estratégias por diversos atores globais – instituições governamentais,</p><p>setores empresariais e organismos multilaterais –, na escala da proximidade (quotidiano) é preciso destacar o</p><p>exercício de uma ética da responsabilidade, por meio da conscientização ecológica para a compreensão da</p><p>�nitude dos recursos naturais e o repensar das relações de consumo. Não há dúvidas que dispomos de</p><p>tecnologias cada vez mais avançadas e que podem ser muito importantes no contexto das crises. No entanto,</p><p>as tecnologias, sem a mudança de consciência pública e individual e sem a percepção do próprio ser humano</p><p>de que ele e a natureza constituem um todo, podem não ser su�cientes para lidar com a questão demográ�ca</p><p>e o aumento da poluição (ODUM, 2001).</p><p>Um dos intentos que contribui no processo de tomada de consciência é um indicador criado que nos permite</p><p>conhecer os impactos das nossas atividades sobre o planeta. Trata-se do conceito de “pegada ecológica” –</p><p>elaborado pela entidade Global Footprint Network –, que é uma unidade métrica que estabelece uma equação</p><p>entre a demanda de recursos utilizados por pessoas, empresas e governos e a capacidade de regeneração</p><p>biológica do planeta. A pegada ecológica mede o quanto de área de terra e água são requeridos para o</p><p>consumo e para a absorção dos resíduos sólidos gerados (WWF, 2020). A pegada ecológica é representada em</p><p>hectares – unidade que é equivalente a 10.000 metros quadrados – e, no caso de pessoas, mensura-se</p><p>quantos hectares são demandados para con�gurar a pegada ecológica individual.</p><p>Para �car mais claro, a pegada ecológica de uma pessoa que vive no Brasil é de 2,6 hectares, o que signi�ca</p><p>que essa é a área necessária para atender ao consumo de cada brasileiro (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK,</p><p>2022). No caso de um cidadão dos Estados Unidos, a pegada ecológica é de 8,1 hectares; de um alemão, é de</p><p>4,7 hectares; de um inglês, de 4,2 hectares; de um chinês, de 3,6 hectares; e assim as pegadas são calculadas</p><p>para os habitantes de mais de 200 países. A título de curiosidade, as maiores pegadas ecológicas são do Catar</p><p>(14,3 hectares) e de Luxemburgo (13 hectares) (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2022). Já as menores pegadas</p><p>ecológicas estão em nações, como o Iêmen (0,5 hectares), Timor-Leste (0,6 hectares) e Haiti (0,6 hectares)</p><p>(GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2022).</p><p>Muitos países estão em situação de dé�cit ecológico, isto é, usam mais recursos naturais – pegada ecológica –</p><p>que seus ecossistemas podem regenerar – biocapacidade –, como é o caso dos Estados Unidos, da China, da</p><p>Índia, de Israel, do Japão e da União Europeia. Com o aumento desse dé�cit em nível global, temos o que é</p><p>chamado de “capacidade de carga” do planeta, que é a sobrecarga no consumo de seus recursos. Desde a</p><p>década de 1970, a capacidade de carga do planeta tem sido ultrapassada com sérios riscos para a dinâmica</p><p>ambiental. Uma das representações usadas para demonstrar o limite da capacidade de carga do planeta é</p><p>determinar o dia em que ele ocorre em cada ano. No ano de 2022, ela foi atingida no dia 28 de julho (WWF,</p><p>2022), a partir de então estamos em dé�cit. Em uma analogia, entramos no “vermelho”, consumindo mais do</p><p>que o planeta pode suportar. Por esse parâmetro, para atender aos níveis de utilização dos recursos</p><p>ambientais atuais, é demandado o equivalente a 1,75 planeta (WWF, 2022). Essa capacidade de carga pode ser</p><p>medida em termos de países, já que cada um deles possui a sua pegada nacional. No caso do Brasil, a</p><p>capacidade de carga foi atingida em 12 de agosto de 2022 (WWF, 2022). Isso se dá, em boa medida, pelo</p><p>aumento do desmatamento na Floresta Amazônica e das queimadas nesse e em outros biomas brasileiros,</p><p>como o Cerrado e o Pantanal.</p><p>De tudo que foi estudado, faz-se necessário compreender que a era do Antropoceno é uma realidade e que</p><p>devemos estar preparados para o enfrentamento de seus efeitos em nossas atividades econômicas e</p><p>cotidianas. Ainda que a atuação no nível individual ou de pequenos grupos seja restrita, isso não é um</p><p>obstáculo para que possamos compreender o</p><p>imperativo do exercício da ética da reponsabilidade em todos</p><p>os campos da atividade humana, tanto pro�ssional quanto cidadã, porque não há dissociação entre eles.</p><p>A�nal, o que está em risco é a construção da sociedade e dos predicados da vida. Esse é o desa�o do nosso</p><p>tempo.</p><p>VÍDEO RESUMO</p><p>No vídeo, conheceremos e re�etiremos sobre as dinâmicas do Antropoceno, o novo período geológico no</p><p>planeta. Além de uma abordagem dos principais fenômenos do Antropoceno, a videoaula discutirá as</p><p>implicações dele em nossas atividades econômicas e sociais. Por �m, discutiremos a responsabilidade de</p><p>governos e da sociedade civil no momento que vivemos. Vamos juntos? Estou te aguardando!</p><p> Saiba mais</p><p>Como estudamos nesta aula, uma das principais métricas para conhecer e compreender o impacto das</p><p>nossas atividades no planeta é a pegada ecológica. Mas será que você sabe qual é a sua pegada? Para</p><p>conhecê-la, acesse o site Pegada Ecológica e faça o teste usando a calculadora da contabilidade</p><p>ambiental que re�ete as nossas condutas sobre o planeta. Além de interessante, o resultado nos ajudará</p><p>a compreender a nossa responsabilidade no Antropoceno.</p><p>Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Estudante, é uma alegria tê-lo conosco em uma nova aula sobre um tema fundamental para a sua formação</p><p>pro�ssional: as mudanças climáticas.</p><p>Aula 2</p><p>MUDANÇAS CLIMÁTICAS</p><p>Sabemos, hoje, que a mudança do clima é uma realidade com impactos diretos nas relações econômicas</p><p>e sociais.</p><p>33 minutos</p><p>http://www.pegadaecologica.org.br/</p><p>Sabemos, hoje, que a mudança do clima é uma realidade com impactos diretos nas relações econômicas e</p><p>sociais. Se, por um lado, existe o desa�o de lidar com os efeitos negativos da mudança do clima, de outro, está</p><p>em curso a con�guração de uma economia, de baixo carbono, adaptada aos novos tempos.</p><p>Portanto, é importante para você, como pro�ssional, conhecer a dinâmica da mudança do clima, os</p><p>instrumentos institucionais e re�etir sobre a aplicação das estratégias para a adaptação e mitigação dos</p><p>efeitos adversos sobre as nossas sociedades.</p><p>Vamos juntos no estudo dessa instigante temática!</p><p>MUDANÇA DO CLIMA, GASES DE EFEITO ESTUFA E AQUECIMENTO GLOBAL</p><p>A mudança do clima é o maior desa�o do mundo contemporâneo. Nenhuma política ou perspectiva de</p><p>desenvolvimento social e econômico prescinde dessa temática, e sua compreensão é fundamental para o</p><p>futuro de nossas sociedades.</p><p>Há um conjunto de conceitos ligados às questões climáticas, como mudança do clima, aquecimento global,</p><p>gases de efeito estufa e outros. Conhecê-los permitirá o entendimento do contexto e dos desa�os que as</p><p>alterações climáticas impõem nos sistemas naturais e humanos.</p><p>Considera-se mudança do clima as transformações nos padrões de temperatura e clima ao longo do tempo.</p><p>Embora possa ser de origem natural, o fator decisivo para a mudança do clima é atribuído, direta ou</p><p>indiretamente, às atividades humanas, já que elas induzem a alteração de composição da atmosfera. O</p><p>principal elemento humano que desencadeou a mudança do clima é o uso dos combustíveis fósseis –</p><p>petróleo, carvão, gás – desde o início da modernidade, com o advento da Revolução Industrial. Nesse</p><p>contexto, temos a emissão dos gases de efeito estufa (GEE), que são aqueles “[...] constituintes gasosos,</p><p>naturais ou antrópicos, que, na atmosfera, absorvem e reemitem radiação infravermelha” (BRASIL, 2009, [s.</p><p>p.]). São exemplos desses GEE o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso, que são utilizados ou</p><p>resultantes de atividades da indústria, transporte, agricultura, pecuária etc. Além disso, o desmatamento de</p><p>�orestas tropicais, a substituição no uso do solo e outras atividades contribuem para a emissão desses gases.</p><p>Os principais emissores de dióxido de carbono são: a China, os Estados Unidos e a União Europeia.</p><p>A emissão de gases de efeito estufa é diretamente responsável pelo aumento da temperatura planetária.</p><p>Desde 1880, quando se iniciaram as medições globais, até o ano de 2020, a temperatura da Terra aumentou</p><p>mais de 1,2 °C acima do nível pré-industrial (1850-1900), e a última década foi a mais quente da história</p><p>(OMM, 2022). Temos, aqui, o que é chamado de aquecimento global. Esse aumento da temperatura global</p><p>afeta diretamente os sistemas de sustentação da vida no planeta, que são interconectados às mais variadas</p><p>atividades humanas.</p><p>Nesse sentido, há estudos sobre os impactos do aquecimento global sobre o Ártico, a Antártica e o permafrost</p><p>(material orgânico congelado); com o derretimento das geleiras e calotas polares, há o aumento no nível do</p><p>mar (IPBES, 2019). Ademais, nota-se o aumento dos extremos climáticos e meteorológicos, com oscilações</p><p>signi�cativas de calor e frio em todo o planeta. Chuvas, enchentes, tempestades, ciclones e secas são cada vez</p><p>mais comuns e intensos, prejudicando as atividades agropecuárias, em especial, a segurança alimentar das</p><p>populações mundiais. Os ecossistemas, por sua vez, são afetados pelo aquecimento global com a perda da</p><p>biodiversidade, com ameaças e a extinção de componentes da �ora e da fauna. Nos oceanos, os recifes de</p><p>corais são atingidos com a acidi�cação.</p><p>Todos os elementos delineados possuem impacto imediato para os seres humanos com efeitos na saúde, na</p><p>disseminação de vetores de transmissão de doenças, e, em última análise, na própria existência da vida como</p><p>conhecemos. Para exempli�car, a pandemia da Covid-19 e outras questões epidemiológicas estão associadas</p><p>às consequências da perda da biodiversidade causada pelos desmatamentos e pelas queimadas das �orestas</p><p>tropicais em todo o mundo.</p><p>Por esse conjunto, nota-se que será necessário um compromisso global para enfrentar os efeitos negativos da</p><p>mudança do clima.</p><p>O REGIME JURÍDICO CLIMÁTICO</p><p>Há um conjunto de negociações e proposições em nível global – envolvendo países, entidades internacionais,</p><p>cientistas e sociedade civil – para o enfrentamento da mudança do clima. A Organização das Nações Unidas</p><p>(ONU) tem um papel central nesse processo. Ela é uma das responsáveis pela criação do Painel</p><p>Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) em 1988. Formado por cientistas de</p><p>todo o mundo, o IPCC é a principal autoridade mundial sobre o aquecimento global e produz periodicamente</p><p>relatórios cientí�cos sobre a mudança do clima, com a formulação de estratégicas de enfrentamento e</p><p>respostas aos impactos. Até o ano de 2022, o IPCC tinha produzido seis relatórios de avaliação e estratégias de</p><p>enfrentamento à mudança do clima.</p><p>No que se refere à arquitetura normativa internacional, o principal documento sobre a mudança climática é a</p><p>Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês), adotada em Nova</p><p>Iorque em 9 de maio de 1992 e aberta para assinatura em junho de 1992, durante a Rio-92, com entrada em</p><p>vigor em 21 de março de 1994.</p><p>A Convenção-Quadro tem como principal objetivo a “[...] estabilização das concentrações de gases de efeito</p><p>estufa na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático”</p><p>(BRASIL, 1998, [s. p.]). Ela pretende evitar os chamados efeitos negativos da mudança do clima, que são:</p><p>[...] as mudanças no meio ambiente físico ou biota resultantes da mudança do clima que</p><p>tenham efeitos deletérios signi�cativos sobre a composição, resiliência ou produtividade</p><p>de ecossistemas naturais e administrados, sobre o funcionamento de sistemas</p><p>socioeconômicos ou sobre a saúde e o bem-estar humanos.</p><p>— (BRASIL, 1998, [s. p.])</p><p>Portanto, a Convenção-Quadro tem como foco o compromisso dos países no processo de estabilização da</p><p>emissão de gases de efeito estufa, no sistema climático, decorrentes de atividades antrópicas, para que não se</p><p>potencializem os efeitos do aquecimento global (BRASIL, 1998).</p><p>Com a adoção da Convenção-Quadro e como forma de manter a discussão sobre o clima, as partes (países) se</p><p>reúnem periodicamente para discutir as questões climáticas. Essas reuniões são chamadas de COP</p><p>(Conferência das Partes), órgão supremo da Convenção-Quadro. A primeira COP ocorreu no ano de 1995, em</p><p>Berlim, na Alemanha (MELO, 2017).</p><p>Uma das principais deliberações desse órgão ocorreu durante a COP 3, em 1997, com a aprovação do</p><p>Protocolo de Kyoto, como componente da Convenção-Quadro, que estabeleceu metas de redução de</p><p>emissões para os países desenvolvidos. Após oito anos de negociações, o Protocolo entrou em vigor em 16 de</p><p>fevereiro de 2005, com a rati�cação por, no mínimo, 55% do total de países-membros da Convenção-Quadro</p><p>sobre Mudança do Clima. Esses deveriam ser responsáveis por, pelo menos, 55% do total das emissões de</p><p>gases de efeito estufa, tendo como referência o ano de 1990 (MELO, 2017). Mesmo com o Protocolo de Kyoto,</p><p>as emissões de gases de efeito estufa não cessaram, ao contrário, registraram sensível aumento, e um dos</p><p>fatores foi a crise econômica de 2008.</p><p>Para substituir o Protocolo de Kyoto, durante a 21ª Conferência das Partes (COP 21), realizada em Paris, na</p><p>França, no mês de dezembro de 2015, celebrou-se um novo acordo para enfrentar as ameaças da mudança</p><p>climática, denominado Acordo de Paris. Esse contou com a assinatura dos representantes de 196 países da</p><p>Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima.</p><p>O Acordo de Paris visa reforçar a resposta mundial à ameaça da mudança climática no contexto do</p><p>desenvolvimento sustentável e erradicar a pobreza. São três os objetivos do Acordo de Paris (BRASIL, 2017):</p><p>1. Manter o aumento da temperatura média global bem abaixo dos 2 °C acima dos níveis pré-industriais e</p><p>buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais,</p><p>reconhecendo que isso reduziria signi�cativamente os riscos e impactos das mudanças climáticas.</p><p>2. Aumentar a capacidade de adaptação aos impactos adversos das mudanças climáticas e fomentar a</p><p>resiliência ao clima e o desenvolvimento de baixas emissões de gases de efeito estufa, de uma forma que não</p><p>ameace a produção de alimentos.</p><p>Promover �uxos �nanceiros consistentes com um caminho de baixas emissões de gases de efeito estufa e de</p><p>desenvolvimento resiliente ao clima.</p><p>O Acordo de Paris procura respeitar os diferentes estágios de desenvolvimento de cada país e, para tanto, “[...]</p><p>será implementado para re�etir a igualdade e o princípio das responsabilidades comuns, porém</p><p>diferenciadas, e respectivas capacidades, à luz das diferentes circunstâncias nacionais” (BRASIL, 2017, [s. p.]).</p><p>Em 22 de abril de 2016, o Acordo de Paris foi aberto para o período o�cial de assinaturas na Sede das Nações</p><p>Unidas em Nova Iorque, com extensão até 21 de abril de 2017. Contudo, menos de um ano antes de sua</p><p>celebração na COP 21, já contava com a assinatura de quase 100 países e, em especial, dos Estados Unidos e</p><p>da China – dois dos maiores emissores de gases de efeito estufa. Esses dois países rati�caram o Acordo em</p><p>setembro de 2016, assim, no dia 4 de novembro de 2016, o Acordo de Paris entrou em vigor o�cialmente</p><p>(MELO, 2017).</p><p>O Brasil, por sua vez, aprovou o texto do Acordo de Paris sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre</p><p>Mudança do Clima, em agosto de 2016, por meio do Decreto Legislativo nº 140/2016, com rati�cação pelo</p><p>Presidente da República em 12 de setembro de 2016 (MELO, 2017).</p><p>Após a entrada em vigor, realizou-se em Marrakesh, Marrocos, no mês de novembro de 2016, a 22ª</p><p>Conferência das Partes (COP 22), em que as discussões se centraram no estabelecimento de um plano para</p><p>implementar e monitorar o Acordo de Paris até dezembro de 2018. A 24ª Conferência das Partes (COP 24),</p><p>ocorrida em Katowice, Polônia, em dezembro de 2018, adotou um manual de instruções (livro de regras) para</p><p>os países implementarem os seus esforços nacionais no Acordo de Paris, chamado de “Contribuição</p><p>Nacionalmente Determinada” (NDC), que é a contribuição voluntária de cada país para a redução de suas</p><p>emissões de gases de efeito estufa.</p><p>LIDANDO COM AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS</p><p>Para o enfrentamento do cenário da mudança do clima, faz-se necessário um conjunto de compromissos e</p><p>obrigações por todos os atores do tabuleiro global, governos, setor empresarial e sociedade civil.</p><p>De imediato, é preciso reconhecer que vivemos em um cenário de vulnerabilidades, conceito que está</p><p>associado ao grau de suscetibilidade de uma sociedade, de acordo com suas capacidades para enfrentar os</p><p>efeitos adversos da mudança do clima (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). Isso signi�ca que todos seremos</p><p>impactados pela mudança do clima. Reconhecer as vulnerabilidades é identi�car os possíveis impactos</p><p>negativos da mudança do clima sobre as atividades econômicas, a segurança alimentar e a vida das pessoas</p><p>em um país ou região. Há países mais e outros menos vulneráveis. No nosso caso, o Brasil, com um território</p><p>de dimensão continental, as vulnerabilidades são distintas, a depender da região. Vamos exempli�car:</p><p>fenômenos meteorológicos extremos, como secas e enchentes, podem ter efeitos distintos na região Sul ou</p><p>no Nordeste brasileiro. Por isso, conhecer as nossas vulnerabilidades enseja a adoção de medidas para conter</p><p>os efeitos adversos da mudança climática e, com isso, fortalecer os mecanismos para a resiliência. Logo, é</p><p>preciso estarmos preparados para o enfrentamento e a minimização dos efeitos da mudança do clima sobre</p><p>regiões, cidades e lugares.</p><p>Nesse sentido, duas estratégias são fundamentais: a mitigação e a adaptação aos efeitos adversos da</p><p>mudança do clima. Ambas devem ser conjugadas, sendo que a mitigação se preocupa com a redução das</p><p>causas, e a adaptação assenta-se em lidar com as consequências da mudança do clima (PFEIFFER, [s. d.]).</p><p>Em um primeiro momento, o objetivo assenta-se na mitigação por meio da imediata redução das emissões de</p><p>gases de efeito estufa. Esse compromisso foi assumido em documentos o�ciais no âmbito internacional e</p><p>nacional.</p><p>Em nível internacional, ao rati�car o Acordo de Paris, cada país assumiu o que é denominado de Contribuição</p><p>Nacionalmente Determinada (NDC), que é o compromisso internacional na redução das emissões de gases de</p><p>efeito estufa. A NDC brasileira, revista no ano de 2020, tem os seguintes compromissos: reduzir as emissões</p><p>líquidas totais de gases de efeito estufa em 37% em 2025 e assumir compromisso de reduzir em 43% as</p><p>emissões brasileiras até 2030 (BRASIL, 2020). A NDC brasileira enuncia, ademais, “[...] o objetivo indicativo de</p><p>atingirmos a neutralidade climática – ou seja, emissões líquidas nulas – em 2060” (BRASIL, 2020, [s. p.]). Nota-</p><p>se que os compromissos do governo brasileiro podem ser revistos no curso do cumprimento das metas. Esses</p><p>são de responsabilidade conjunta do poder público, do setor privado e da sociedade civil para o cumprimento</p><p>das metas para a redução das emissões de gases de efeito estufa.</p><p>O compromisso internacional assumido pelo Brasil no Acordo de Paris dialoga diretamente com a Política</p><p>Nacional de Mudanças do Clima (PNMC), aprovada pela Lei Federal nº 12.187/2009, que estabelece, entre</p><p>outros pontos, que “[...] todos têm o dever de atuar, em benefício das presentes e futuras gerações, para a</p><p>redução dos impactos decorrentes das interferências antrópicas sobre o sistema climático” (BRASL, 2009, [s.</p><p>p.]). Ademais, na execução de políticas públicas relativas à mudança do clima, a PNMC estimula o apoio e a</p><p>participação “[...] dos governos federal, estadual, distrital e municipal, assim como do setor produtivo, do meio</p><p>acadêmico e da sociedade civil organizada” (BRASL, 2009, [s. p.]). No que se refere à mitigação, a PNMC visa à</p><p>redução das emissões antrópicas de gases de efeito estufa em relação às suas diferentes fontes e prescreve</p><p>que as ações de mitigação devem estar em consonância com o desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2009).</p><p>Em termos práticos, podemos conferir alguns exemplos de medidas de mitigação que auxiliam na redução</p><p>das emissões de gases de efeito estufa: (i) melhoria da e�ciência energética e uso de energias renováveis, em</p><p>substituição imediata no uso dos combustíveis fósseis;</p><p>(ii) promover a agricultura e a pecuária ecológicas; (iii)</p><p>reduzir o consumo e a adoção da gestão de resíduos sólidos (reciclagem, reaproveitamento etc.); (iv) adotar a</p><p>gestão e�ciente dos recursos hídricos; (v) adotar sistema de mobilidade urbana com transportes coletivos e</p><p>e�ciência energética; (vi) adotar processos assentados na ecoe�ciência, ou seja, no fornecimento de produtos</p><p>equivalentes à capacidade de sustentação do planeta.</p><p>Além da mitigação das emissões de gases de efeito estufa, há a necessidade da adaptação, que consiste em</p><p>iniciativas e medidas para reduzir os impactos adversos da mudança climática. As medidas de adaptação são</p><p>necessárias porque as mudanças já estão em curso. Nesse ponto, é importante a adaptação das economias</p><p>nacionais, isto é, ter “[...] iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos</p><p>frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima” (BRASIL, 2009, [s. p.]). É por meio das iniciativas de</p><p>adaptação que se tem a proteção de vidas em face dos efeitos adversos. Entre os exemplos de medidas de</p><p>adaptação, temos: (i) re�orestamento de �orestas e recuperação de ecossistemas afetados; (ii) desenvolver o</p><p>cultivo de plantas e culturas mais adaptáveis à mudança do clima; (iii) adotar sistemas de prevenção,</p><p>monitoramento e preparação em caso de catástrofes naturais e eventos climáticos; (iv) garantir</p><p>infraestruturas e políticas públicas urbanas para enfrentar as dinâmicas do clima sobre as cidades.</p><p>Em qualquer perspectiva, é preciso atentar que, tanto em nível global quanto local, o que está subjacente a</p><p>esses compromissos é reduzir a emissão de carbono o mais próximo de zero. Uma economia de baixo</p><p>carbono permitirá o que o IPCC chama de desenvolvimento resiliente: “[...] viabilizado quando os governos, a</p><p>sociedade civil e o setor privado fazem escolhas de desenvolvimento inclusivas que priorizam a redução de</p><p>riscos, a equidade e a justiça [...] (IPCC, 2022, [s. p.]).</p><p>De modo mais imediato, no contexto corporativo e individual, será preciso a tomada de consciência sobre a</p><p>nossa atuação no mundo no contexto atual. Para tanto, um elemento que pode auxiliar é o uso de métricas</p><p>que nos ajudam a compreender o papel de cada um de nós, pessoas físicas e jurídicas, no contexto climático.</p><p>Uma delas é a chamada pegada de carbono, ou seja, o cálculo dos impactos das atividades humanas sobre o</p><p>ambiente. A pegada de carbono é, hoje, um indicador que contribui no cálculo dos impactos de pessoas,</p><p>empresas e países nas emissões dos gases de efeito estufa. Por esse cálculo podemos conhecer e identi�car</p><p>quanto cada ação ou como o nosso modo de vida impacta na emissão de gases de efeito estufa. Por evidente,</p><p>reduzir a pegada de carbono é uma medida essencial para todos – governos, setor corporativo e sociedade</p><p>civil.</p><p>Em qualquer das perspectivas enumeradas, de governos a cada um de nós, será preciso não só a tomada de</p><p>consciência mas também o compromisso político e ético com as estratégias para a redução das</p><p>vulnerabilidades no contexto climático.</p><p>VÍDEO RESUMO</p><p>No vídeo, conheceremos e compreenderemos os principais conceitos e o regime jurídico internacional e</p><p>nacional sobre a mudança do clima. Trata-se de um dos temas centrais para as empresas, que terão que se</p><p>adaptar aos efeitos da mudança do clima. Da mesma forma, governos e sociedade civil deverão adotar</p><p>estratégias no novo contexto climático. Essas são discussões da videoaula!</p><p> Saiba mais</p><p>Com a mudança do clima, um dos desa�os imediatos para as nossas atividades econômicas e sociais será</p><p>se adaptar a uma nova economia, de baixo carbono, ou seja, de redução das emissões de gases</p><p>antropogênicos. Nesse sentido, será que você sabe qual a sua pegada de carbono? Ou de sua empresa?</p><p>Para auxiliar a compreender essa dinâmica, temos duas calculadoras disponíveis na internet: Iniciativa</p><p>Verde – Calculadora de CO e Moss – Calcule as suas emissões. Ao �nal, você saberá sua pegada de</p><p>carbono referente ao Brasil e ao mundo.</p><p>Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.</p><p>2</p><p>Aula 3</p><p>https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora</p><p>https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora</p><p>https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora</p><p>https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora</p><p>https://calculator.moss.earth/</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Estudante, nesta aula, estudaremos a questão da desigualdade em nossas sociedades, em especial, a</p><p>ambiental.</p><p>Hoje, organismos, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, manifestam preocupação com o</p><p>avanço da desigualdade em nível global. Isso porque ela tem impactos imediatos na competitividade</p><p>econômica e na estabilidade social.</p><p>Além disso, a desigualdade tem uma dimensão ambiental, que revela as disparidades de consumo entre</p><p>países ricos e pobres e demonstra que os efeitos negativos da poluição e dos danos ambientais afetam mais</p><p>desfavoravelmente os grupos e as populações vulneráveis. Por isso, o estudo da desigualdade ambiental</p><p>implica conhecer e reconhecer os padrões de Justiça Ambiental, ou seja, o contexto, as pessoas e as dinâmicas</p><p>de decisão sobre os projetos e as iniciativas que impactam o ambiente.</p><p>Venha conosco conhecer os principais fundamentos dessa discussão e se preparar para o exercício ético e</p><p>responsável de suas atividades pro�ssionais em respeito aos processos democráticos de proteção ao meio</p><p>ambiente.</p><p>O CONTEXTO DAS DESIGUALDADES</p><p>Nos últimos anos, a desigualdade tornou-se uma temática prioritária em qualquer discussão de instituições</p><p>governamentais em nível global ou nacional. Isso porque estamos acompanhando a escalada da desigualdade</p><p>em todo o planeta e, como tal, reduzi-la é um pressuposto fundamental para mitigar os impactos deletérios</p><p>que ela causa em nossas sociedades. Esse é um objetivo compartilhado por governos e por organismos</p><p>multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Mas, como compreender a</p><p>desigualdade e as suas variações?</p><p>Com efeito, a desigualdade se estabelece a partir dos processos estruturais em sociedade, em que ela “[...]</p><p>condiciona, limita ou prejudica o status e a classe social de uma pessoa ou um grupo e, consequentemente,</p><p>interfere em requisitos primários para a qualidade de vida” (OXFAM, 2021, [s. p.]). A desigualdade é</p><p>multidimensional, mas vamos nos concentrar em duas delas: a econômica e a social. A desigualdade</p><p>DESIGUALDADES SOCIOAMBIENTAIS</p><p>Hoje, organismos, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, manifestam preocupação</p><p>com o avanço da desigualdade em nível global.</p><p>32 minutos</p><p>econômica se dá por meio da concentração de renda em um número reduzido de pessoas em uma sociedade,</p><p>ou seja, a maior parte da riqueza produzida e acumulada encontra-se nas mãos de poucos. A desigualdade</p><p>social, por sua vez, está diretamente ligada à estrati�cação de pessoas em uma sociedade por critérios, como</p><p>gênero, raça, origem social, entre outras variantes, identi�cando-se, geralmente, com os grupos mais</p><p>vulneráveis de uma sociedade. Tanto a desigualdade econômica quanto a social caminham associadas. Esse é</p><p>caso do Brasil, com suas desigualdades múltiplas, colocando o país como um dos mais desiguais do mundo e</p><p>o 84º no índice de desenvolvimento humano global entre 189 países (ONU, 2020).</p><p>Apesar da relevância e do compromisso dos atores com a redução da desigualdade, os estudos e as</p><p>estatísticas sinalizam em sentido contrário, tanto na concentração de renda quanto no aumento da pobreza.</p><p>Segundo o relatório da OXFAM, a questão da concentração de renda é um problema mundial. A plutocracia, o</p><p>segmento que inclui o 1% mais rico, detém a riqueza dos outros 99% da população mundial; apenas oito</p><p>bilionários possuem a riqueza da metade mais pobre do planeta (OXFAM, 2017a). Mesmo com a pandemia da</p><p>Covid-19, a desigualdade não deixou de aumentar. Um nível alto de desigualdade reduz a competitividade e</p><p>afeta a economia de um país, por gerar uma estagnação na dinâmica social. Os resultados desses dados são</p><p>preocupantes, porque a desigualdade</p><p>“[...] aumenta a criminalidade e a insegurança e gera mais pessoas</p><p>vivendo com medo do que com esperança” (OXFAM BRASIL, 2017a, [s. p.]).</p><p>Com os níveis de concentração de renda, temos o efeito imediato do aumento da pobreza, agora agravada</p><p>pelas implicações da Covid-19 em nível global. No caso do Brasil, em especial, após ter saído do Mapa da</p><p>Fome em 2014, os índices de pobreza cresceram nos últimos anos (OXFAM, 2017b). Trata-se do retorno de</p><p>uma questão estrutural da sociedade brasileira aos debates políticos e econômicos. E não podemos nos</p><p>esquecer de que o compromisso de não retroceder no combate à fome não é somente político, mas um</p><p>objetivo expresso no art. 3º, III, da Constituição Federal de 1988, de “[...] erradicar a pobreza e a</p><p>marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (BRASIL, 1988, [s. p.]).</p><p>É por meio do combate e da superação dos altos índices de desigualdade, em qualquer de seus enfoques, que</p><p>podemos traçar um compromisso efetivo para a construção de uma sociedade igualitária e democrática,</p><p>requisito fundamental para o enfrentamento das crises contemporâneas.</p><p>AS DESIGUALDADES E OS EFEITOS SOBRE A PROTEÇÃO AMBIENTAL</p><p>De imediato, uma pergunta fundamental: qual a relação entre a desigualdade – econômica e social – com as</p><p>questões ambientais? A resposta é: são faces de um mesmo problema. Isso porque, como alertou o �lósofo</p><p>francês François Ost (1997, p. 390), “a injustiça das relações sociais gera a injustiça das relações com a</p><p>natureza”. Nessa perspectiva, a desigualdade econômica e a social resultam na desigualdade ambiental que,</p><p>por sua vez, pode se manifestar em duas dimensões: no acesso e no uso privilegiado dos recursos naturais, a</p><p>partir de um padrão de consumo privilegiado para poucos; na ausência de participação e proteção ambiental</p><p>para os grupos mais vulneráveis, que sofrem com a distribuição desigual dos efeitos deletérios no meio em</p><p>que vivem e estão inseridos.</p><p>Em primeiro lugar, a compreensão sobre os processos de apropriação dos recursos naturais, notadamente</p><p>nas disparidades de consumo entre ricos e pobres – interpretados nos contrastes entre países e classes</p><p>sociais. Ricardo Abramovay (2012) confere um dado signi�cativo em um mundo com mais de 7 bilhões de</p><p>pessoas: metade das emissões globais de gases de efeito estufa provém dos 500 milhões de habitantes mais</p><p>ricos do planeta. Percebe-se que as populações dos países do norte global, ricos, possuem padrões de</p><p>consumo insustentáveis e, como tal, é fato de que estão pressionando os limites de sustentação planetária,</p><p>não os pobres do mundo (MATTEI; NADER, 2013). Esses dados mostram que, se de um lado os países ricos</p><p>conseguiram atingir os benefícios do crescimento econômico, de outro lado, a maioria dos países em</p><p>desenvolvimento não conseguiu os padrões mínimos de uma existência digna. E isso é uma questão</p><p>particularmente sensível, porque reciprocamente será necessário frear a “pegada ecológica” nos países</p><p>centrais, do norte global, e ao mesmo tempo possibilitar condições de vida com dignidade para pessoas de</p><p>outras regiões do planeta. Dito de forma direta: não é possível enfrentar os desa�os impostos pela dinâmica</p><p>da mudança do clima e os riscos sobre a disponibilidade dos recursos naturais sem questionar a pressão que</p><p>o atual modelo de produção, comercialização e consumo impõe em nossas sociedades. Do contrário, serão</p><p>mantidas as disparidades no acesso e uso dos recursos naturais e, por evidente, a desigualdade econômica e</p><p>social em nível global. E para esse cenário, temos o alerta do economista Tim Jackson (2013, p. 17) de que “[...]</p><p>a prosperidade para poucos, baseada na destruição ecológica e na persistente injustiça social, não é um pilar</p><p>para uma sociedade civilizada”. O que se tem nessa perspectiva são sociedades disfuncionais, em que os</p><p>con�itos e confrontos serão cada vez mais intensos, retroalimentando a insustentabilidade ambiental.</p><p>Uma outra dimensão da desigualdade ambiental é que as políticas e os problemas ecológicos não são</p><p>democráticos. Os projetos e as iniciativas dos processos produtivos são decididos e alocados em países e/ou</p><p>em territórios de grupos vulneráveis que, além de não participarem dos efeitos positivos desses</p><p>investimentos, estão mais sujeitos aos efeitos nocivos da poluição e dos danos ambientais. Como exemplo,</p><p>temos a situação dos povos originários e tradicionais, que são expulsos ou têm os seus territórios diretamente</p><p>afetados pela implementação de grandes projetos de infraestrutura – barragens, mineração etc. –, sem terem</p><p>benefícios diretos e arcando com o passivo dessas iniciativas. Esses projetos, na maioria das vezes apoiados</p><p>pelo Poder Público, são geradores de externalidades negativas, tanto nos efeitos sobre os grupos afetados</p><p>quanto no meio ambiente comum, ou seja, prejudicam outras atividades econômicas existentes. No mesmo</p><p>sentido, nas cidades, essas populações vivem em áreas frágeis ambientalmente (morros, encostas, beiras de</p><p>rios etc.) ou próximas de lixões e terrenos poluídos e sofrem as mazelas da segregação socioespacial, isto é, a</p><p>ausência de políticas públicas que conjuguem uma existência digna.</p><p>É preciso pontuar que o problema de alocação dos passivos ambientais ultrapassa, por vezes, os limites</p><p>territoriais de um país. Esse é o caso das tentativas dos países ricos de exportarem lixo para os países em</p><p>desenvolvimento. No que se refere ao Brasil, a União Europeia tentou exportar pneus usados, cujos rejeitos</p><p>�cariam em nosso país. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal, que, no julgamento da Arguição de</p><p>Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 101, em 2009, proibiu essa espécie de importação,</p><p>assentando que ela afrontaria os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente</p><p>equilibrado (BRASIL, 2009).</p><p>Além das dimensões principais, há uma nova faceta da desigualdade ambiental, que se constitui pela</p><p>intensi�cação dos efeitos adversos do clima, em que milhões de pessoas deverão deixar seus lares e países e</p><p>se mudarem para outros lugares, con�gurando o que tem sido denominado de deslocados ambientais ou,</p><p>como tem sido utilizado por alguns, de refugiados ambientais. O relatório World Disaster Report, do ano de</p><p>2018, elaborado pela Cruz Vermelha Internacional (2018), consignou que, entre os anos de 2006-2016, mais de</p><p>771 mil mortes foram atribuídas a desastres, com quase dois bilhões de pessoas afetadas por eventos dessa</p><p>natureza, das quais cerca de 95% delas em ocorrências por questões climáticas. Ainda que as questões sobre</p><p>clima sejam produzidas pelos setores mais ricos da sociedade, os seus efeitos são sentidos, sobretudo, pelos</p><p>povos mais vulneráveis no mundo. A�nal, como expõe Sergio Margulis (2020, p. 120), são as pessoas de baixa</p><p>renda as mais afetadas pela mudança do clima, porque “[...] tendem a viver e trabalhar em locais mais</p><p>expostos a riscos climáticos, sem infraestrutura que os reduzam, em casas e bairros que enfrentam os</p><p>maiores problemas quando impactados [...]”.</p><p>Por essa conjugação de variantes da desigualdade ambiental, é possível constatar a imbricada e</p><p>correspondente relação entre desigualdade e o futuro da vida no planeta. A�nal, a persistência da</p><p>desigualdade ambiental é um fator desagregador de toda a construção moderna de Estado e sociedade. Lutar</p><p>por uma maior igualdade, ao reverso, pode nos ajudar a um compromisso comum dos problemas que</p><p>ameaçam a todos nós (PICKETT; WILKINSON, 2015).</p><p>A JUSTIÇA AMBIENTAL</p><p>Diante do contexto da desigualdade ambiental, uma das principais proposições para o enfrentamento em</p><p>sentido crítico é o movimento de Justiça Ambiental. Trata-se de um movimento que surgiu originalmente nos</p><p>Estados Unidos na década de 1980 e procura demonstrar que os efeitos prejudiciais recaem, sobretudo, em</p><p>grupos mais vulneráveis da sociedade, em demonstração do racismo ambiental naquele país. As pautas e os</p><p>princípios norteadores do movimento de Justiça Ambiental daquele país se espalharam pelo mundo e</p><p>chegaram</p><p>ao Brasil no �nal da década de 1990, conjugando as especi�cidades das lutas e pautas ambientais</p><p>em nosso país.</p><p>Segundo Acselrad, Mello e Bezerra (2009), o movimento de Justiça Ambiental articula suas proposições em</p><p>duas dimensões de atuação: (i) a discussão sobre os processos decisórios de participação na formulação das</p><p>políticas ambientais, em especial por parte das populações afetadas; (ii) os efeitos sobre a distribuição dos</p><p>benefícios e encargos das intervenções sobre o ambiente.</p><p>Em primeiro lugar, os processos decisórios são invariavelmente estabelecidos numa relação de verticalização</p><p>imposta por empresas e governos, de cima para baixo, sem os protocolos de consulta, ou quando ocorrem</p><p>são realizados com mecanismos de pressão sobre as comunidades e os grupos do entorno, impedindo a livre</p><p>manifestação pelo peso de retaliações econômicas, sociais, físicas e políticas no âmbito local. Isso é</p><p>particularmente sensível pela conjugação de fatores ou justi�cativas de que a falta de empregos e</p><p>investimentos em um local justi�caria a aceitação de projetos e empreendimentos que causam danos</p><p>ambientais e sanitários, prejudicando a qualidade de vida das populações para um objetivo imediato que, na</p><p>maioria das vezes, tem uma proposição exclusivamente econômica, ou seja, o lucro imediato para as</p><p>empresas.</p><p>Esses processos decisórios estão em uma dinâmica dissonante aos mais elementares princípios estruturantes</p><p>do Direito Ambiental. Isso porque os documentos internacionais de proteção ao meio ambiente destacam a</p><p>necessidade de participação comunitária na formulação e execução de políticas ambientais. A Declaração do</p><p>Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, consigna, em seu art. 10, que “[...] o melhor</p><p>modo de tratar as questões ambientais é com a participação de todos os cidadãos interessados [...]” (ONU,</p><p>1992, [s. p.]). E continua deixando claro que o acesso adequado à informação sobre o meio ambiente “[...]</p><p>inclui a informação sobre os materiais e as atividades que oferecem perigo a suas comunidades, assim como a</p><p>oportunidade de participar dos processos de adoção de decisões” (ONU, 1992, [s. p.]). No mesmo sentido,</p><p>fundamentado no Princípio 10 ora delineado, recentemente foi aprovado no âmbito das Nações Unidas o</p><p>Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais</p><p>na América Latina e no Caribe, conhecido como Acordo de Escazú (ONU, 2018), que garante os “direitos de</p><p>acesso”, compreendendo o direito à informação, à participação pública nos processos de tomada de decisões</p><p>em questões ambientais e o direito de acesso à justiça. A legislação brasileira, no mesmo sentido, estabelece a</p><p>participação em vários diplomas legais, prevendo a audiência pública no licenciamento ambiental de</p><p>atividades efetiva ou potencialmente causadoras de signi�cativa degradação ambiental (CONAMA, 1986; 1987;</p><p>2020). Por esses elementos, evidencia-se que as políticas públicas que afetam pessoas, populações, cidades e</p><p>regiões devem ser fruto de uma construção dialógica entre os atores envolvidos, e não a sobreposição de uma</p><p>única interpretação.</p><p>Como decorrência dos obstáculos dos direitos de acesso aos processos decisórios, temos a segunda</p><p>dimensão da Justiça Ambiental, acerca da distribuição dos encargos das intervenções sobre o meio ambiente,</p><p>que recairão justamente nas populações, nos grupos e nas pessoas mais vulneráveis em sociedades desiguais</p><p>– como é o caso do Brasil. Portanto, são esses grupos que, ora são privados do acesso aos recursos naturais</p><p>para viverem, ora “são expulsos de seus locais de moradia para a instalação de grandes projetos hidroviários,</p><p>agropecuários ou de exploração madeireira ou mineral” (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009, p. 42). Esse é o</p><p>caso, por exemplo, dos projetos de desenvolvimento que são impostos e implicam a expulsão de grupos e</p><p>populações. Dois são os exemplos. O primeiro são expulsões ligadas ao mercado global de terras, com</p><p>aquisição de grandes áreas produtivas por corporações para a produção de biocombustíveis ou para o</p><p>extrativismo, forçando milhares de agricultores a venderem ou deixarem suas terras, inclusive, por</p><p>contaminações, porque o nosso país é o campeão mundial no uso de agrotóxicos. O segundo exemplo são os</p><p>projetos de infraestrutura, como o caso da Usina de Belo Monte, no Pará, em que milhares de pessoas foram</p><p>expulsas de suas casas com o alagamento de amplas faixas de terras, com a perda dos laços sociais e de</p><p>pertencimento ancestrais, além dos impactos ambientais, em que o mais evidente foi a perda da</p><p>biodiversidade da região. Na mesma perspectiva, pessoas e grupos são atingidos pela implantação de</p><p>projetos de hidrelétricas, um dos pontos mais críticos na agenda ambiental brasileira, com movimentos em</p><p>todo o país em questionamento ao modelo de implementação dessas iniciativas.</p><p>Nessa conjugação, nota-se que o movimento de Justiça Ambiental é fundamentalmente uma rede que</p><p>estabelece um contraponto e uma resistência aos mecanismos de imposição e verticalização dos processos</p><p>decisórios que saem prontos de gabinetes governamentais, sem interface ou diálogo com a realidade dos</p><p>territórios e lugares. O que está em pautas nessas reivindicações é, sobretudo, o compromisso com a</p><p>participação comunitária em uma sociedade democrática e dialógica, princípio e condição fundamental para</p><p>um combate efetivo ao crescimento da desigualdade ambiental e suas consequências.</p><p>VÍDEO RESUMO</p><p>O vídeo discute e re�ete sobre um tema que está na pauta dos governos e atores econômicos: a</p><p>desigualdade. Em conjunto com os aspectos econômico e social, a desigualdade tem uma dimensão</p><p>ambiental. É esse o foco dessa videoaula, para que você conheça e re�ita sobre as facetas da desigualdade</p><p>ambiental e as proposições para uma Justiça Ambiental.</p><p>Vamos juntos? Estou te aguardando!</p><p> Saiba mais</p><p>De forma recorrente, relatórios são editados para a divulgação de estudos e pesquisas sobre as</p><p>dimensões e implicações da desigualdade nos âmbitos global e brasileiro. Eles têm sido utilizados para</p><p>sensibilizar e contribuir na formulação de políticas públicas de combate à desigualdade. Um dos mais</p><p>importantes estudos foi editado pelas Nações Unidas em 2019 e trouxe um panorama global da</p><p>desigualdade econômica, social, racial e ambiental no século XXI. Você pode baixá-lo diretamente no site</p><p>da UNDP.</p><p>Outro relatório, também das Nações Unidas, editado em 2021, trouxe os dados da desigualdade na</p><p>Amárica Latina. Acesse-o também no site da UNDP.</p><p>Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.</p><p>https://www.undp.org/pt/brazil/publications/relat%C3%B3rio-do-desenvolvimento-humano-2019</p><p>https://www.undp.org/pt/brazil/publications/relat%C3%B3rio-do-desenvolvimento-humano-2019</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Estudante, nesta aula, estudaremos a importância dos movimentos sociais na promoção e proteção ao meio</p><p>ambiente. A�nal, muitas das pautas e discussões que temos sobre as questões ecológicas foram suscitadas</p><p>pelos movimentos sociais ao longo das últimas décadas, como é o caso do desmatamento das �orestas</p><p>tropicais, do aquecimento global, da perda da biodiversidade, da proteção aos animais, entre outras.</p><p>Além de conhecer a con�guração das principais entidades ambientais em nível nacional e internacional, o</p><p>conteúdo da aula destacará a importância das organizações não governamentais, conhecidas pela sigla ONG,</p><p>para a agenda ambiental. E nisso, você conhecerá as formas e o meio de atuação que, em breve, poderão</p><p>estar no âmbito de suas atividades pro�ssionais.</p><p>GÊNESE DO AMBIENTALISMO</p><p>O movimento ambiental tem origem na segunda metade do século XIX, com os grupos protecionistas criados</p><p>na Europa, que estavam preocupados com os efeitos das transformações advindas da Revolução Industrial,</p><p>como a perda de áreas selvagens e a poluição em cidades que se tornaram insalubres. Nessa perspectiva, a</p><p>primeira sociedade ambientalista privada foi criada na Inglaterra em 1863, chamada de Commons, Foot-paths</p><p>and</p><p>Open Spaces Preservation Society (MCCORMICK, 1992).</p><p>Já nos Estados Unidos, os primeiros grupos ambientalistas são da virada dos séculos XIX e XX, estabelecidos a</p><p>partir de duas compreensões sobre as relações do homem com a natureza: os preservacionistas, que</p><p>defendiam a manutenção de áreas virgens, intocadas, sem a interferências de atividades humanas; e os</p><p>conservacionistas, centrados na racionalização e compatibilização do uso dos recursos naturais com a</p><p>proteção ao ambiente (MCCORMICK, 1992). Essas leituras são re�exos das discussões da época, assentadas</p><p>ora na proteção da vida selvagem, ora nos efeitos da industrialização e da urbanização. Apesar de históricas,</p><p>essas duas visões, com variações e adequações – e, por vezes, em associação –, ainda são presentes na</p><p>compreensão contemporânea da proteção ao meio ambiente.</p><p>Aula 4</p><p>MOVIMENTOS DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE</p><p>O conteúdo da aula destacará a importância das organizações não governamentais, conhecidas pela</p><p>sigla ONG, para a agenda ambiental.</p><p>37 minutos</p><p>No �nal da década de 1950 e início da década de 1960, começa a surgir uma nova articulação de grupos e</p><p>entidades de proteção ao meio ambiente, in�uenciados pelos riscos da corrida nuclear, da explosão</p><p>demográ�ca, do aumento da degradação ambiental; fatores esses que foram exteriorizados por meio de</p><p>denúncias formuladas através da publicação de livros e artigos acadêmicos. Um caso emblemático é a obra</p><p>Primavera Silenciosa, de autoria da bióloga Rachel Carson, em 1962, que demonstrou os efeitos nocivos da</p><p>contaminação por pesticidas na agricultura e as consequências para o equilíbrio ecológico. Essa publicação</p><p>teve enorme repercussão nos meios acadêmicos e políticos, in�uenciando decisivamente o movimento</p><p>ambientalista e abrindo as discussões que levaram o governo norte-americano a criar a sua agência de</p><p>proteção ao meio ambiente nos anos de 1970.</p><p>A década de 1960 foi um período de efervescência em nível global, com a emergência de novos movimentos</p><p>sociais, pautados em reivindicações por direitos, inclusão, participação política e proteção ao ambiente, todos</p><p>em a�rmação de valores coletivos. Como exemplos, as exigências pelo exercício de direitos civis pela</p><p>população afro-americana nos Estados Unidos, liberados por Martin Luther King, e os protestos de “maio de</p><p>1968”, que eclodiu com as demandas culturais dos estudantes franceses em face das estruturas vigentes na</p><p>sociedade da época. Nesse período, o movimento ambientalista começa a se organizar não somente em</p><p>concepções preservacionistas e conservacionistas, mas assume a perspectiva crítica, na proposição de uma</p><p>ecologia política, conjugando aspectos materiais, como as implicações da poluição e da explosão demográ�ca</p><p>sobre a natureza, com aqueles enfoques de orientação ética, preocupados com a sobrevivência da vida</p><p>humana e não humana no planeta para as presentes e futuras gerações.</p><p>As décadas de 1970 e 1980 trouxeram uma nova con�guração na estrutura do movimento ambientalista. Se,</p><p>em um primeiro momento, os movimentos ambientalistas eram oriundos de pautas convergentes de</p><p>determinados setores da sociedade, o avanço das questões ecológicas no tabuleiro político e econômico da</p><p>governança global impuseram uma nova estruturação, em que começam a se organizar em nível institucional,</p><p>por meio de pessoas jurídicas de caráter não governamental, ora em organizações de âmbito internacional,</p><p>que traziam em seu bojo a premissa que os problemas ecológicos não eram somente locais, mas conjugavam</p><p>aspectos transfronteiriços e globais; ora como entidades nacionais, orientadas por pautas regionais e locais,</p><p>focadas nos projetos de desenvolvimento sustentável de acordo com a realidade em cada país. Em qualquer</p><p>dessas perspectivas, teríamos doravante a expansão de organizações de caráter não governamental,</p><p>estimuladas pelas Nações Unidas.</p><p>No início do século XXI, surgiram novas formas de atuação em face dos problemas ambientais por meio de</p><p>ativismos impulsionados pelos avanços das novas tecnologias de informação e comunicação, especialmente</p><p>a internet e suas redes sociais. Uma das formas é o ciberativismo, em que comunidades virtuais de pessoas</p><p>com propósitos e pautas convergentes estimulam determinadas práticas. Um exemplo é o evento anual</p><p>chamado “Hora do Planeta”, organizado pela organização WWF, a qual é responsável por conjugar centenas</p><p>de cidades e quase 1 bilhão de pessoas em defesa das pautas patrocinadas pelo movimento, como a</p><p>emergência climática e a perda da biodiversidade.</p><p>Um importante ativismo, recente, que conjuga a atuação virtual e real, é o movimento de jovens suecos</p><p>iniciado pela jovem Greta Thunberg, que em maio de 2018 iniciou um protesto escolar às sextas-feiras em</p><p>frente ao Parlamento sueco, cobrando medidas contra a mudança climática. A princípio, sozinha, e depois</p><p>com a companhia de milhares de jovens que deixavam de participar das aulas para protestarem, Greta</p><p>inspirou um movimento que se espalhou pelo mundo com o nome de “sextas-feiras pelo clima”. O movimento</p><p>continua e é considerado um dos principais ativismos ambientais na contemporaneidade.</p><p>OS MOVIMENTOS AMBIENTAIS E AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS</p><p>A compreensão dos movimentos ambientalistas, como conhecemos atualmente, está diretamente ligada à</p><p>conversão de um número signi�cativo deles em pessoas jurídicas denominadas “organizações não</p><p>governamentais” – referenciadas pela sigla ONG –, com atuação destacada a partir da década de 1970. O</p><p>conceito de ONG é para aquelas pessoas que não se enquadram como governamentais ou empresariais de</p><p>�ns lucrativos; portanto, em sentido amplo, estão incluídos conceitualmente os sindicatos, as organizações</p><p>pro�ssionais e as entidades com pautas especí�cas, como de consumidores, de questões identitárias e outras</p><p>de promoção social. Entretanto, o conceito de ONGs na área ambiental é mais restrito, de�nidas como</p><p>pessoas privadas, não governamentais, sem �ns lucrativos, com propósitos de intervenção acerca de questões</p><p>globais às locais em prol das iniciativas de proteção e promoção do meio ambiente. Outras expressões são</p><p>utilizadas como equivalentes para caracterizar as ONGs ambientalistas, como “entidade do terceiro setor”, por</p><p>não fazer parte do governo (primeiro setor) ou do segundo setor (empresas privadas), ou ainda “organizações</p><p>da sociedade civil”.</p><p>As ONGs ambientalistas tiveram um forte estímulo e articulação a partir da Conferência das Nações Unidas</p><p>sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, no ano de 1972. Diante das dinâmicas dos problemas</p><p>ecológicos, que são transfronteiriços, algumas das principais entidades ambientalistas estão organizadas em</p><p>nível internacional. Destacaremos algumas das principais organizações globais de proteção ambiental.</p><p>A primeira delas é o WWF, que é o Fundo Mundial para a Natureza, uma organização não governamental</p><p>criada em 1961, na cidade de Gland, Suíça. Com mais de cinco milhões de associados em todo o mundo, o</p><p>WWF tem “[...] como missão global conter a degradação do meio ambiente e construir um futuro no qual as</p><p>pessoas vivam em harmonia com a natureza” (WWF, 2020, [s. p.]). Tem linha centrada em projetos que atuam</p><p>na conservação da biodiversidade mundial, na garantia da sustentabilidade de recursos naturais renováveis e</p><p>na redução da poluição e do desperdício. O WWF se estabelece de forma transnacional por meio de uma rede</p><p>de entidades associadas e tem como símbolo um urso panda, uma vez que surgiu de uma ação para a</p><p>arrecadação de fundos para a proteção dessa espécie. O WWF-Brasil foi criado em 1996 e atua por meio de</p><p>projetos no contexto econômico e social brasileiro, em especial, nos biomas brasileiros, como a Amazônia, o</p><p>Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal, e nos ecossistemas marinhos. Suas iniciativas “[...] buscam proteger e</p><p>restaurar a biodiversidade, fortalecer a agricultura familiar e a produção local, além de gerar estudos sobre o</p><p>impacto do desmatamento e das queimadas” (WWF, 2020, [s. p.]).</p><p>A segunda organização</p><p>é o Greenpeace, criado em Vancouver, Canadá, em 1971. Trata-se de uma das mais</p><p>combativas organizações ambientalistas, que tem atuação por meio do ativismo ambiental e de mecanismos</p><p>de pressão sobre governos e empresas. O Greenpeace é mantido exclusivamente por seus associados,</p><p>recusando �nanciamento público ou empresarial. Entre as suas principais missões e valores, estão: (i)</p><p>proteger os ecossistemas e a biodiversidade em todas as suas formas; (ii) promover a paz, o desarmamento</p><p>global e a não violência; (iii) enfrentar as mudanças climáticas: (iv) promover soluções sustentáveis junto à</p><p>sociedade (GREENPEACE, 2022). O Greenpeace possui escritório no Brasil desde 1992 e desenvolve ações</p><p>ativistas em defesa da Amazônia e contra o desmatamento; na luta contra os agrotóxicos; no combate aos</p><p>efeitos danosos da mineração; entre outras.</p><p>A terceira organização internacional é a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos</p><p>Recursos Naturais – conhecida pela sigla em inglês IUCN –, criada na França, em 1948, com linha de</p><p>in�uência acadêmica e na busca de soluções ecológicas. Trata-se da maior rede de sociedades ambientais em</p><p>nível global, conjugando mais de 1.400 membros, entre órgãos governamentais e da sociedade civil (IUCN,</p><p>2019). A IUCN é reciprocamente um espaço de debates e de iniciativas para os projetos de conservação</p><p>ambiental em todo o planeta, conjugando a atuação de especialistas e populações locais em busca do</p><p>equilíbrio ecológico.</p><p>Além dessas estruturas ambientalistas internacionais, há aquelas de origem nacional, com atuação especí�ca</p><p>em áreas, regiões e povos na conjuntura brasileira. Relacionaremos três organizações do nosso país: S.O.S</p><p>Mata Atlântica, criada para a conservação do bioma de mesmo nome; Instituto Socioambiental (ISA), com</p><p>propósito de proteção aos povos originários; Instituto “O Direito por um Planeta Verde” (IDPV), de natureza</p><p>acadêmica, destinado às temáticas jurídicas ambientais.</p><p>A Fundação S.O.S Mata Atlântica é uma ONG brasileira criada em 1986 e que atua no fomento de políticas</p><p>públicas para a proteção e conservação da Mata Atlântica, um dos principais biomas brasileiros. Sua atuação</p><p>se dá por meio de estudos e monitoramento das intervenções antrópicas sobre o bioma, conscientização</p><p>pública e aprimoramento da legislação ambiental (SOS MATA ATLANTICA, 2021). Já o Instituto</p><p>Socioambiental (ISA) é uma organização criada em 1994 e que atua na defesa da diversidade socioambiental</p><p>brasileira, em especial, por projetos e iniciativas em conjunto com comunidades indígenas, quilombolas e</p><p>extrativistas, de modo a preservar e fortalecer a cultura e os saberes tradicionais (ISA, 2021). Em associação</p><p>com o acompanhamento de políticas públicas que in�uenciam direta e indiretamente os direitos das</p><p>populações originárias e tradicionais, o ISA desenvolve projetos de economia e soluções sustentáveis para</p><p>esses povos da sociodiversidade brasileira (ISA, 2021). Por �m, o Instituto “O Direito Por um Planeta Verde”</p><p>(IDPV), pessoa jurídica sem �ns lucrativos criada em 2005, reúne os principais especialistas na área do Direito</p><p>Ambiental no Brasil. O IDPV, uma das entidades �liadas à IUCN, é o responsável pela edição anual do</p><p>Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, fórum de discussões com pesquisas e debates acadêmicos sobre</p><p>os principais desa�os e proposições sobre as demandas ecológicas em nível internacional e nacional.</p><p>A ATUAÇÃO DAS ONGS E A AGENDA AMBIENTAL</p><p>As organizações não governamentais (ONGs) possuem um papel fundamental nas instâncias deliberativas em</p><p>nível internacional e nacional, em contribuição direta acerca da sensibilização sobre os problemas estruturais</p><p>e no processo de formulação das políticas e estratégias de promoção e proteção ao meio ambiente. A</p><p>arquitetura internacional de discussão sobre as temáticas ambientais estimula a participação comunitária e a</p><p>atuação através dessas entidades, inclusive, em seus fóruns de discussões. Para exempli�car, a Declaração do</p><p>Rio de Janeiro, elaborada em 1992 durante a Cúpula da Terra, destaca que “[...] o melhor modo de tratar as</p><p>questões ambientais é com a participação de todos os cidadãos interessados, em vários níveis” (ONU, 1992, [s.</p><p>p.]). E um dos níveis de participação é, sem dúvida, por meio das organizações ambientalistas.</p><p>No Brasil, a importância das ONGs ambientalistas está presente no seu reconhecimento pelo Poder Público.</p><p>No âmbito federal, temos o Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas, com 673 delas inscritas e</p><p>distribuídas em todas as regiões do país (BRASIL, 2019). Cadastros similares estão organizados no âmbito dos</p><p>estados brasileiros. O papel desses cadastros é atestar a regularidade jurídica dessas pessoas jurídicas para os</p><p>�ns de participação nas estruturas governamentais dos entes federativos, como veremos.</p><p>Nesse sentido, é preciso destacar a função dessas entidades no desenho institucional brasileiro. Uma das</p><p>principais formas de participação e atuação na formulação de políticas públicas ambientais ocorre por meio</p><p>dos conselhos de meio ambiente. Eles são integrados pelos representantes do Poder Público, do setor</p><p>empresarial e das organizações ambientalistas. Esses conselhos de meio ambiente são obrigatórios em todos</p><p>os níveis federativos para aqueles que pretendem efetuar o licenciamento ambiental de atividades efetivas ou</p><p>potencialmente poluidoras, ou seja, se um estado ou um município decidir por licenciar atividades, além de</p><p>órgão ambiental capacitado, ele deverá possuir conselho de meio ambiente com caráter deliberativo.</p><p>O mais relevante desses órgãos no país é o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), vinculado ao</p><p>Ministério do Meio Ambiente, que conjuga integrantes eleitos entre as ONGs ambientalistas brasileiras</p><p>inscritas no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas. A estrutura jurídica brasileira prevê também a</p><p>existência de conselhos com participação comunitária e/ou de pessoas jurídicas ambientalistas em casos de</p><p>unidades de conservação e nos órgãos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos no Brasil, como os</p><p>comitês de bacia hidrográ�ca, os conselhos estaduais e o nacional de recursos hídricos.</p><p>Outra forma de participação das ONGs ambientalistas em conjunto com o Poder Público é por meio de</p><p>parcerias em projetos e programas para o desenvolvimento sustentável. Um dos exemplos de �nanciamento</p><p>é através dos fundos de meio ambiente, com recursos �nanceiros destinados para projetos de soluções</p><p>sustentáveis e para setores especí�cos, como biomas, populações tradicionais, combate à poluição, entre</p><p>outros. O Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pelo governo brasileiro por meio da Lei nº 7.797, em</p><p>1989, é o mais antigo da América Latina e tem apoiado uma série de iniciativas nessa perspectiva (BRASIL,</p><p>1989). Há, ainda, fundos ambientais no âmbito de estados e municípios, assim como aqueles para áreas como</p><p>a proteção da biodiversidade e das �orestas públicas brasileiras.</p><p>Em geral, as entidades ambientalistas exercem mecanismos permanentes de acompanhamento e �scalização</p><p>sobre as intervenções e pressões que empresas e governos exercem sobre o meio ambiente. Duas formas</p><p>podem ser destacadas: a atuação administrativa e a judicial. Na primeira delas, a administrativa, as ONGs</p><p>costumam acionar e cobrar a �scalização dos órgãos governamentais de proteção ao meio ambiente – como o</p><p>IBAMA, na esfera federal – em caso de infrações ambientais praticadas por empresas privadas e pelo próprio</p><p>Poder Público. A segunda forma é a intervenção na esfera judicial, em que as pessoas jurídicas ambientalistas</p><p>criadas há mais de um ano e com �nalidades institucionais ambientais possuem legitimidade processual para</p><p>ajuizar ação civil pública para a defesa do meio ambiente, inclusive em casos de ocorrência de danos</p><p>ambientais, conforme dispõe a Lei Federal nº 7.347/1985 (BRASIL, 1985). Por �m, podem acionar Ministério</p><p>Público em caso de crimes ambientais cometidos por pessoas físicas ou jurídicas, para que ele faça</p>