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<p>LEITURA E COMPREENSÃO DE</p><p>TEXTOS NÃO LITERÁRIOS</p><p>AULA 1</p><p>Profª Thaisa Machado</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Olá, acadêmicos!</p><p>Para iniciarmos nossos estudos sobre a interpretação e a compreensão</p><p>de textos não ficcionais, precisamos antes entender um pouco sobre a prática</p><p>da leitura. Para realizá-la, alguns estudiosos consideram cinco processos a</p><p>serem seguidos pelo leitor para que o texto alcance sua completude.</p><p>Conheceremos cada um deles no primeiro tema desta aula.</p><p>No segundo tema, nossa discussão será sobre as diferenças da</p><p>comunicação oral e da escrita, comprovando a universalidade e a resistência por</p><p>meio do tempo do texto. Na sequência, faremos um levantamento sobre tipos</p><p>diferentes de leitura. Sabe-se que cada leitor é único, o que garante múltiplas</p><p>leituras, além disso, para cada gênero textual haverá um interesse diferente e,</p><p>sendo assim, uma leitura diferente. Há leituras menos compromissadas, mais</p><p>apressadas, há leituras mais sérias, há leitores que vão e voltam no texto em</p><p>busca de uma interpretação completa.</p><p>Entre os tipos de leitura, temos a leitura semiótica, na qual as imagens e</p><p>os signos são relevantes, são alvo da interpretação. Esse é o assunto do quarto</p><p>tema. Para esse tipo de leitura, é necessária atenção para o não verbal. Há</p><p>muitos gêneros textuais que apresentam a linguagem mista, verbal e não verbal,</p><p>e para compreendê-los a semiótica é uma ótima aliada.</p><p>Finalmente, no último tema, abordaremos a postura do leitor em relação</p><p>às escolhas e aos posicionamentos do autor. Veremos que o leitor pode</p><p>discordar do autor e, ainda assim, realizar uma leitura válida do texto.</p><p>Para que você acompanhe bem nossa aula, segue a divisão dos</p><p>conteúdos selecionados:</p><p>• Tema 1 – Uma atividade multifacetada.</p><p>• Tema 2 – Um diferente tipo de comunicação.</p><p>• Tema 3 – Tipos de leitura.</p><p>• Tema 4 – A semiótica.</p><p>• Tema 5 – A postura do leitor.</p><p>• Na Prática.</p><p>• Finalizando.</p><p>• Referências.</p><p>TEMA 1 – UMA ATIVIDADE MULTIFACETADA</p><p>Considerando a leitura como um exercício complexo e plural, vamos nos</p><p>basear nos estudos de Vincent Jouve (2002) para apresentar cinco dimensões</p><p>em que se realizam o processo da leitura. São eles o processo neurofisiológico,</p><p>o cognitivo, o afetivo, o argumentativo e o simbólico.</p><p>Iniciemos pelo processo fisiológico. A leitura é uma linguagem feita para</p><p>os olhos, sendo assim, é impossível sem um funcionamento do aparelho visual</p><p>e de algumas funções cerebrais. Ler é uma atividade de percepção e de</p><p>memorização dos signos, porém, atenção: não se decora um signo após o outro,</p><p>mas por “pacotes”. Durante a leitura é comum saltar algumas palavras, trocar</p><p>alguns signos e dar pausas, o olhar não é uniforme, tampouco contínuo. Durante</p><p>essas pausas o leitor conseguiria gravar até sete signos e realizar antecipações</p><p>devido ao olhar periférico.</p><p>Os períodos mais curtos e as palavras mais simples são os mais fáceis</p><p>de serem armazenados em nosso “espaço de memória”. Quando os autores não</p><p>seguem esses princípios, a probabilidade de deslizes semânticos aumenta. “Tal</p><p>fenômeno, que, claro, não é raro no campo literário […], mostra que o ato de ler</p><p>é, já em si próprio, fortemente subjetivo” (Jouve, 2002, p. 18).</p><p>Sendo a leitura um ato concreto, em seu aspecto físico, sua atividade é</p><p>de antecipação, estruturação e interpretação.</p><p>O processo cognitivo trata da compreensão do leitor após sua percepção</p><p>e o deciframento dos signos, um grande esforço de abstração por parte do leitor.</p><p>O nível de compreensão depende da ação em curso, o leitor pode concentrar-se</p><p>no encadeamento dos fatos para chegar logo ao final da narrativa, ou ater-se em</p><p>determinados trechos quando a leitura for mais complexa. A primeira maneira é</p><p>a progressão e a segunda, compreensão. Sobre esse assunto, Vincent Jouve</p><p>nos diz que:</p><p>Entre “progressão” e “compreensão” existem, claro, regimes</p><p>intermediários: as duas variáveis podem se combinar em proporções</p><p>muito diversas. Em todos os casos, contudo, a leitura solicita uma</p><p>competência. O texto coloca em jogo um saber mínimo que o leitor</p><p>deve possuir se quiser prosseguir a leitura. (Jouve, 2002, p. 19)</p><p>Ao tratarmos das emoções suscitadas pelo texto, nos referimos ao</p><p>processo afetivo. A recepção do texto recorre às capacidades reflexivas e à sua</p><p>afetividade. O princípio da identificação está relacionado com as emoções que o</p><p>pablo</p><p>Máquina de escrever</p><p>Letramento e alfabetização: as muitas facetas</p><p>texto desperta no leitor. O autor muito talentoso coloca o leitor diante de suas</p><p>diretivas emocionais, na mesma medida, a obra fica mais convincente, ficando</p><p>difícil não se emocionar com as personagens que provocam nossa piedade,</p><p>nosso riso, admiração ou simpatia.</p><p>O papel das emoções no ato da leitura é fácil de se entender: prender-</p><p>se a uma personagem é interessar-se pelo que lhe acontece, isto é,</p><p>pela narrativa que a coloca em cena. Se uma ligação afetiva nos liga a</p><p>Lucien de Rubempré é porque, no decorrer da leitura de As ilusões</p><p>perdidas, interessamo-nos pelas razões – psicológicas e sociais – que</p><p>causaram sua destruição. Se se percorre com prazer o mundo de Em</p><p>busca do tempo perdido, aceitando ao mesmo tempo a visão da vida e</p><p>da arte que se reflete nele, é porque as personagens de Proust são</p><p>alternadamente sedutoras, antipáticas ou divertidas. (Jouve, 2002, p.</p><p>20)</p><p>A vontade criadora provém do processo argumentativo. O autor dos textos</p><p>de ficção tem a vontade de agir sobre o destinatário, de mudar algo nele. A</p><p>intenção de persuadir está presente em toda a narrativa, que é justamente a</p><p>essência do processo argumentativo. Cabe ao leitor assumir ou não os</p><p>argumentos desenvolvidos. O último processo, o simbólico, diz que toda leitura,</p><p>ou melhor, todo sentido que se retira dela se relaciona com o contexto cultural</p><p>no qual se insere o leitor, ou seja, seu meio e sua época. “A leitura afirma sua</p><p>dimensão simbólica agindo nos modelos do imaginário coletivo, quer os recuse</p><p>quer os aceite” (Jouve, 2002, p. 22).</p><p>TEMA 2 – UM DIFERENTE TIPO DE COMUNICAÇÃO</p><p>Quando colocamos a leitura em comparação com a comunicação oral,</p><p>ressalta-se o estatuto da comunicação diferida, a grande particularidade da</p><p>leitura. Na comunicação oral, emissor e receptor estão no mesmo espaço, eles</p><p>coabitam, já no processo da leitura, leitor e autor, geralmente, estão afastados</p><p>no tempo e no espaço, não há, portanto, espaço comum de referência entre eles.</p><p>A compreensão na comunicação oral é infinitamente mais fácil que no texto</p><p>escrito. O leitor precisa se apoiar nas relações internas do texto para recriar o</p><p>contexto necessário para compreender a obra; é como se o próprio texto criasse</p><p>seu sistema de referência, o que não é algo negativo. Segundo Wolfgang Iser:</p><p>O discurso ficcional está privado da situação referencial, cuja</p><p>determinação rigorosa assegura ao ato linguístico sua plena</p><p>realização. Essa falta evidente não implica qualquer fracasso do</p><p>discurso de ficção, mas pode servir de ponto de partida para entender</p><p>melhor a particularidade do discurso da ficção. (Iser, 1999, p. 117)</p><p>Esse caráter diferido é que garante a riqueza do texto. O livro se abre para</p><p>uma multiplicidade de interpretações, já que é recebido fora de seu contexto de</p><p>criação. Ao ler, cada leitor traz consigo sua cultura, seus conhecimentos de</p><p>mundo, suas experiências de seu tempo e de seu meio.</p><p>Uma característica do discurso oral é a fugacidade, enquanto que o texto</p><p>escapa disso pela fixação, dissociação, pela abertura e pela universalidade.</p><p>Essas são as potencialidades do texto. Jouve nos explica:</p><p>• fixação, que o faz escapar do desaparecimento;</p><p>• dissociação, que o faz escapar da intenção mental do autor;</p><p>• abertura sobre um mundo, que o arranca dos limites da situação do</p><p>diálogo;</p><p>• universalidade de uma audiência ilimitada.</p><p>Ao ser pronunciada, a palavra morre, enquanto</p><p>que a palavra escrita</p><p>resiste ao tempo, ou seja, nos dias atuais ainda é possível “escutar” o que</p><p>disseram autores de séculos passados, como Homero, autor de clássicos como</p><p>Ilíada e Odisseia.</p><p>Diferentemente da comunicação oral, o texto permite ao leitor a ampliação</p><p>de seu horizonte a um universo novo.</p><p>[…] substituindo a audiência necessariamente limitada de uma</p><p>comunicação oral por um número de leitores virtualmente infinito, o</p><p>texto adquire uma dimensão universal. O livro por excelência, a Bíblia,</p><p>conhece assim leitores que pertencem a todas as épocas, a todos os</p><p>continentes e a todas as classes sociais. A descontextualização da</p><p>mensagem escrita é de fato, como se vê, a condição plural do texto.</p><p>(Jouve, 2002, p. 25)</p><p>Pensando nessa pluralidade de leituras, como saberemos se todas elas</p><p>são válidas? Será que toda interpretação é legítima? Não, autorizar várias</p><p>leituras é diferente de validá-las.</p><p>Há três critérios de validação, “a grade de interpretação deve ser</p><p>generalizável ao conjunto da obra, deve respeitar a lógica simbólica […], e ir</p><p>sempre no mesmo sentido” (Jouve, 2002, p. 26).</p><p>Não esqueçamos que todo texto é programado para sua recepção, sendo</p><p>assim, o leitor não pode fazer o que bem quiser. O leitor deve reconhecer as</p><p>diretrizes do autor, caso contrário, se arriscará a cometer desvios absurdos.</p><p>Quando se lê um texto de forma equivocada, por exemplo, uma obra reformista</p><p>como se fosse uma obra revolucionária, costuma-se dizer que o leitor “utilizou”</p><p>o texto e não o interpretou, ou seja, não aceitou o tipo de leitura que ele</p><p>programa.</p><p>TEMA 3 – TIPOS DE LEITURA</p><p>A concepção de leitura mudou ao longo do tempo e as considerações</p><p>sobre o ato de ler também. Um autor, na elaboração de seu texto, tem uma</p><p>intencionalidade, e de certa forma tem domínio daquilo que escreve. No entanto,</p><p>quando essa obra ou texto são lidos, tem-se o que se chama de recepção.</p><p>Dentre tantos favores, essa recepção envolve atribuições de sentidos pelos</p><p>leitores, depende do momento e do lugar em que se lê, da experiência de mundo</p><p>do leitor, de intertextualidades, de inferências, de níveis, de faixa etária,</p><p>maturidade, por que e para que está lendo etc.</p><p>Por isso, já afirmamos que a leitura pressupõe um leitor ativo. Todo esse</p><p>processo contribui para a construção de uma autonomia do pensamento. As</p><p>inferências, as interpretações, as conclusões tiradas pelos leitores podem ter</p><p>convergência e divergência, e isso muda a concepção do que está posto. A</p><p>multiplicidade da leitura está exatamente nessas associações individuais,</p><p>pessoais, simples e reflexiva que trazem ao texto novos olhares, e,</p><p>consequentemente, novos sentidos e interpretações também novas.</p><p>Zilberman (1989) comenta sobre o estudo que mudou a concepção de</p><p>que a obra literária era fechada e imutável quanto a interpretações, ou seja,</p><p>considerava-se o texto como unidade autossuficiente e autônoma, não levando</p><p>em consideração o papel do leitor e da história do processo interpretativo. A</p><p>autora ainda relata do estudo de Hans Robert Jauss (1983), crítico literário que,</p><p>em 1967, propôs estudos que fomentassem a discussão sobre a estética da</p><p>recepção, defendendo a relevância do leitor no processo literário, uma vez que</p><p>esta está ligada à experiência histórica, e assim como a história é mutável essa</p><p>percepção também é passível naturalmente de mudanças.</p><p>Em seu livro O texto poético na mudança de horizonte da leitura, ele</p><p>postula:</p><p>[…] o texto poético se torna compreensível na sua função estética</p><p>apenas no momento em que as estruturas poéticas, reconhecidas</p><p>como características no objeto estético acabado são retransportadas,</p><p>a partir da objetivação da descrição, para o processo da experiência</p><p>com o texto, a qual permite ao leitor participar da gênese do objeto</p><p>estético. (Jauss, 1983, p. 307)</p><p>Nesse viés, o autor refere-se à expectativa formada pelo leitor conforme</p><p>tem contato com os textos e os ressignifica pelo contexto em que está inserido</p><p>e o período histórico em que se encontra. Dessa forma, o leitor faz comparações</p><p>com outras obras já lidas e conhecidas, e por isso faz juízos de valor àquilo que</p><p>leu. Para Jauss (1983) isso é chamado de concretização da obra na relação com</p><p>o leitor.</p><p>Ainda sobre essa complementaridade, o autor declara que essas infinitas</p><p>interpretações e expectativas de horizontes impedem que o leitor seja passivo.</p><p>Ou seja, diante de uma obra, o leitor faz questionamentos, conclusões e</p><p>transforma o significado original do autor. Ele transforma o objeto recebido.</p><p>Para Umberto Eco (1983), que também contribui sobre a recepção de</p><p>textos, a obra é um espaço cheio de espaços vazios e estes só serão</p><p>preenchidos pelo leitor. Aliás, para ele, a função do texto só será contemplada a</p><p>partir da interação entre texto e leitor. Segundo ele, “um texto quer que alguém</p><p>o ajude a funcionar” (Eco, 1983, p. 155). Isso acontece quando o texto traz ao</p><p>leitor subsídios na decodificação não apenas da mensagem verbal, mas também</p><p>uma “competência diversificada”.</p><p>TEMA 4 – A SEMIÓTICA</p><p>Seguindo nas trilhas dos diferentes tipos válidos de leitura, chegamos à</p><p>leitura semiótica do texto. Quando pensamos em textos não ficcionais, a</p><p>importância desse exercício fica em evidência, já que se sabe que</p><p>encontraremos tipos e gêneros com linguagem verbal e não verbal.</p><p>A semiótica é a reformulação das unidades simbólicas do texto, é a ciência</p><p>geral dos signos, cujo objetivo é o proceso de significação que forma a</p><p>linguagem; em outras palavras, a semiótica se aplica à leitura da imagem, do</p><p>não verbal. Por exemplo, uma dança, um quadro, as imagens de um texto. Além</p><p>disso, tem a função de ensinar a relacionar o mundo verbal com o mundo icônico.</p><p>Terry Eagleton (2006) apresenta um exemplo bem simples, em seu livro</p><p>Teoria da literatura – exemplo simples, mas muito eficaz para nosso</p><p>entendimento da semiótica. Ele sugere uma história em que uma criança sai pela</p><p>floresta depois de brigar com seu pai. Durante sua caminhada, ela cai dentro de</p><p>um poço fundo. O pai, em busca do filho, chega até o poço e só consegue vê-lo</p><p>porque o sol está a pino e ilumina o fundo do poço com seus raios. Sob o viés</p><p>da semiótica, diríamos que:</p><p>A primeira unidade de significação, “menino briga com o pai”, poderia</p><p>ser reescrita como “o inferior rebela-se contra o superior”. A caminhada</p><p>do menino pela floresta é um movimento ao longo de um eixo</p><p>horizontal, em contraste com o eixo vertical “inferior/superior”, e</p><p>poderia ser classificada como “intermediária”. A queda no poço, um</p><p>lugar abaixo do solo, significa novamente “inferior”, e o zênite do sol,</p><p>“superior”. Iluminado o poço, o sol, em certo sentido, “desceu ao</p><p>inferior”, com isso invertendo a primeira unidade significativa da</p><p>narrativa, onde o “inferior” voltou-se contra o “superior”. A reconciliação</p><p>entre pai e filho restabelece um equilíbrio entre “inferior” e “superior”, e</p><p>a caminhada de volta para a casa, significando o “intermédio”, marca a</p><p>obtenção de um estado intermediário adequado. Exultando em triunfo,</p><p>o estruturalista redispõe suas regras e se prepara para a nova história.</p><p>(Eagleton, 2006, p. 144)</p><p>Assim como as imagens são objeto de estudo da semiótica, os</p><p>sentimentos também o são. Jacques Fontanille, professor de linguística na</p><p>Universidade de Limoges, na França, defende que podemos estudar os</p><p>sentimentos e os afetos das personagens de uma maneira semiótica, como</p><p>qualquer outro elementos do discurso sem excluir uma análise psicológica,</p><p>psicanalítica e histórica, possibilitando, dessa forma, a interdisciplinaridade.</p><p>Para Fontanille, é preciso considerar os dispositivos modais, e uma</p><p>organização modal está formada por duas modalidades, gradientes orientados e</p><p>associados, o que quer dizer que o estado afetivo é provocado pela tensão que</p><p>o texto induz. O imaginário é codificado, o ciúme terá seu código, a avareza</p><p>outro, a ambição</p><p>outro ainda, e assim por diante.</p><p>TEMA 5 – A POSTURA DO LEITOR</p><p>Como vimos no decorrer desta aula, nem todas as leituras são válidas,</p><p>então, consideremos neste tema apenas as legítimas. Sabemos que os textos</p><p>são programados para sua recepção, ou seja, o autor prevê como o leitor</p><p>realizará a leitura da obra, porém, isso não significa que o leitor deva sempre</p><p>concordar o autor. O leitor é livre para discordar e confrontrar os argumentos</p><p>encontrados no texto, da ideologia etc., e, ainda assim, sua leitura será legítima.</p><p>Ao ler um texto, independentemente de seu tipo ou gênero, existe uma</p><p>voz que está presente nos escritos. O autor fala por meio das palavras</p><p>apresentadas. Ao posicionar-se diante do texto, o leitor precisa certificar-se que</p><p>o entendeu. Caso o considere ininteligível, deverá conseguir justificar sua</p><p>colocação. Se o problema é da obra e não do leitor, é necessário indicar as</p><p>causas desse problema, como, por exemplo, uma estrutura mal ordenada, partes</p><p>que não se encaixam como deveriam, argumentos sem importância ou o</p><p>equívoco do autor ao empregar certas palavras, o que gerará possíveis</p><p>confusões.</p><p>No entanto, se o texto foi entendido e, ainda assim, o leitor discordar do</p><p>autor, o leitor precisa questionar e contra-argumentar ao que lhe é apresentado.</p><p>Dessa forma, compreender o livro é estabelecer um acordo entre autor e</p><p>leitor. Todavia, a leitura crítica exige que o leitor forme suas próprias e novas</p><p>ideias.</p><p>Entretanto, engana-se quem acredita que quando há acordo entre dois</p><p>indivíduos não há espaço para discórdia. Pensemos: o autor, ao escrever, está</p><p>emitindo julgamentos sobre o mundo em que vivemos. Ele transmite</p><p>conhecimentos teóricos sobre como as coisas existem e se comportam ou</p><p>conhecimentos práticos sobre como as coisas devem ser feitas. Evidentemente,</p><p>ele pode estar certo ou errado. Ele só terá razão se tiver mencionado fatos</p><p>verdadeiros e que podem ser provados. Caso contrário, estará equivocado.</p><p>Discórdias sobre questões factuais ou políticas são somente reais quando</p><p>há um entendimento comum a respeito daquilo que está sendo dito. A mesma</p><p>coisa acontece na literatura. Estar de acordo sobre o uso das palavras é uma</p><p>condição indispensável que se concorde ou discorde dos fatos. Dessa forma, é</p><p>com base no consentimento entre leitor e o autor e não a despeito dele que,</p><p>mediante uma interpretação consistente, torna-se possível que o leitor forme sua</p><p>própria opinião, defendendo ou atacando a posição que tiver tomado.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>1. Apresente a leitura semiótica de um texto cuja linguagem seja mista. Pode</p><p>ser uma tira ou uma charge.</p><p>2. Com base em nossos estudos, monte um quadro comparativo entre</p><p>linguagem oral e o texto, apontando suas características principais,</p><p>positivas ou negativas.</p><p>3. Apresente um exemplo em que o leitor pode discordar do autor e explique</p><p>os possíveis motivos. Pode ser uma experiência pessoal.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Em nossa aula, conversamos sobre a prática leitora. Vimos que alguns</p><p>autores apontam cinco dimensões para a prática da leitura. Essas dimensões</p><p>são na verdade processos, sendo eles o processo neurofisiológico, o cognitivo,</p><p>o afetivo, o argumentativo e o simbólico.</p><p>No segundo tema, vimos as diferenças da comunicação oral e da escrita,</p><p>a fugacidade da palavra falada e a permanência da escrita. Discutimos sobre o</p><p>que difere a leitura da fala.</p><p>Os tipos de leitura foi o assunto do terceiro capítulo. Apontamos para</p><p>leituras menos interessadas e para as mais interessadas, e as consequências</p><p>de ambas. Concluímos que o leitor é o responsável pela ressignificação e</p><p>completude do texto.</p><p>A leitura dos signos, da parte iconográfica, fez parte de nossas reflexões</p><p>no tema da semiótica. Pudemos perceber a importância desse tipo de</p><p>interpretação para os diferentes tipos e gêneros textuais.</p><p>No último tema, discutimos sobre a postura do leitor diante do texto, ou</p><p>seja, das escolhas e dos posicionamentos do autor. Constatamos que o leitor</p><p>pode concordar ou entrar em discordância com o autor e, ainda assim, realizar</p><p>uma leitura válida do texto. É preciso que o leitor sabia contra-argumentar para</p><p>validar seu posicionamento sobre um texto passível de compreensão. Caso o</p><p>leitor defina o texto como inteligível, é necessário apontar seus problemas.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ECO, U. Leitura do texto literário. Lector in fabula: a cooperação interpretativa</p><p>nos textos literários. Trad. Mário Brito. Lisboa: Editorial Proença, 1983.</p><p>EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins</p><p>Fontes, 2006.</p><p>ISER, W. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Ed. 34,</p><p>1999.</p><p>JAUSS, H. R. O texto poético na mudança de horizonte da leitura. Rio de</p><p>Janeiro: F. Alves, 1983.</p><p>JOUVE, V. A leitura. São Paulo: Ed. Unesp, 2002.</p><p>ZILBERMAN, R. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo:</p><p>Ática, 1989.</p>

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