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<p>EDUCAÇÃO INCLUSIVA</p><p>Gestão, Dimensões e Aplicabilidade Técnico-operativa (SES03)</p><p>Acadêmicos:</p><p>Tutor Externo:</p><p>Resumo</p><p>O papel da entrevista como parte integrante do conjunto de ferramentas no processo de trabalho do assistente social é enfatizado neste artigo, que oferece sugestões práticas para sua condução. Essas sugestões são embasadas não apenas na dimensão técnico-operativa, mas também nas dimensões teórico-metodológica e ético-política.</p><p>Além disso, o artigo visa compartilhar o conhecimento adquirido na prática profissional, onde a entrevista é um dos principais instrumentos utilizados diariamente. Reconhecendo que todo trabalho é influenciado pela história e pela sociedade e pode refletir as contradições da realidade, espera-se que este artigo estimule discussões enriquecedoras para todos os envolvidos.</p><p>É importante destacar que não se pretende propor um modelo único e inflexível para o desenvolvimento da entrevista no Serviço Social, pois cada interação com o usuário é única e tem suas próprias características.</p><p>Palavra-chave: Interlocução, Técnica de entrevista, Serviço Social</p><p>1. Introdução</p><p>A atenção dada às entrevistas tem sido menor em comparação com aquelas voltadas para as dimensões teórico-metodológica e ético-política. Muitas vezes, o conhecimento sobre esse tema é transmitido de forma oral ou consultando outras áreas do conhecimento. Portanto, é crucial enfatizar a importância da entrevista como uma ferramenta fundamental que, quando combinada de maneira dinâmica com outras técnicas, faz parte do conjunto de instrumentos que facilitam a operacionalização nos processos de trabalho do assistente social.</p><p>A questão do uso de instrumentos nos leva a considerar as ideias de Leontiev (1978), que analisa o trabalho como um processo que conecta o ser humano à natureza e proporciona compreensão sobre ela. Nesse contexto, o trabalho abrange não apenas a fabricação e o uso de ferramentas, mas também a atividade coletiva que distingue o ser humano dos demais seres e delineia sua interação com o ambiente natural. Conforme Leontiev (1978, p. 262) afirma, "O trabalho é, desde seu início, um processo mediado simultaneamente pelo instrumento (em um sentido amplo) e pela sociedade". A utilização de instrumentos está intimamente ligada à consciência do propósito da ação laboral, tornando-se um artefato social resultado da prática e experiência coletiva no trabalho.</p><p>Assim, o conhecimento humano, mesmo o mais básico (que se manifesta diretamente em ações laborais concretas com o auxílio de um instrumento), não se limita à experiência individual de um único indivíduo, mas principalmente se desenvolve com base na aquisição da experiência oriunda da prática social.</p><p>[...] é possível, por via das mediações, que é a via do pensamento. O seu princípio geral é que submetemos as coisas à prova de outras coisas e, tomando consciência das relações e interações que se estabelecem entre elas, julgando a partir das modificações que aí percebemos, as propriedades que nós não somos diretamente acessíveis</p><p>(LEONTIEV, 1978, p. 84).</p><p>Nesse percurso, a entrevista emerge como um dos recursos que possibilitam aos assistentes sociais compreender as dinâmicas e interações entre a realidade e os indivíduos ou grupos, sejam eles singularidades ou coletivos. Medina (2004) retrata a entrevista como um momento emblemático, único e significativo, no qual ocorre um encontro democrático e enriquecedor de ideias, trajetórias e singularidades.</p><p>Quando vivenciada de maneira autêntica, e não apenas cumprida, ela pode se converter em um momento profundo de análises, reflexões e compartilhamento de experiências de vida, dos quais tanto o entrevistado quanto o entrevistador emergirão transformados pela interação, pelas conversas e diálogos.</p><p>Nessa perspectiva, a entrevista tem o potencial de gerar confrontos de saberes e informações que, posteriormente, serão organizados de modo coerente e compreensível, influenciando de maneira mais ou menos significativa a esfera pública e contribuindo para a construção das sociedades e a definição de seus rumos.</p><p>Destaca-se a importância da entrevista e de sua condução por meio de premissas, habilidades e de um arcabouço teórico que contribuem para a qualidade de seu desenvolvimento. Essa exposição ressalta a relevância da entrevista, que pode ser considerada uma prática profissional com metas a serem alcançadas, conectando uma ou mais pessoas em uma relação profissional por meio de suas narrativas.</p><p>2. Fundamentação Teórica</p><p>Desde os primórdios da profissão, a entrevista tem sido uma ferramenta vital para o trabalho do assistente social, abrangendo as demandas e responsabilidades que foram assumidas desde o início. Mary Richmond, em seu livro "Diagnóstico Social" de 1950, destacou que a entrevista possibilitava ao assistente social realizar o diagnóstico social, sendo então referida como "conversa inicial" naquele período.</p><p>“Tendo como motivo e objetivo a reintegração social dos indivíduos”</p><p>(RICHMOND, 1950, p. 8)</p><p>A autora via esse encontro como um desafio, pois era nele que se estabelecia a base do "entendimento mútuo" e se identificavam os elementos que orientariam o trabalho até a avaliação final, denominada por ela como "juízo final". Ela recomendava que, na primeira entrevista, os objetivos do cliente fossem priorizados, enfatizando a necessidade de a assistente social ser "sensível", "tolerante" e ouvir cuidadosamente as necessidades do indivíduo.</p><p>Outra contribuição significativa para o Serviço Social foi o livro de Anette Garret (1988) sobre entrevistas, que foi traduzido por assistentes sociais na década de 1940. A autora definia a entrevista como uma "conversa profissional" devido à sua natureza como um intercâmbio comunicativo entre duas pessoas.</p><p>“...obter o conhecimento do problema por ser resolvido e uma compreensão suficiente da pessoa em dificuldade e da situação, de forma que o problema possa ser solucionado eficientemente. ”</p><p>(Anette Garret, 1988 p.51)</p><p>O autor Alfred Benjamin (2008) aborda em sua obra ainda alguns pontos a serem observados ao longo do desenvolvimento da entrevista. Um ponto importante refere-se à demonstração de respeito pelo entrevistado e por seu universo, implicando um interesse sincero por ambos. Esse interesse se dá a partir da atenção que lhe damos ao longo da entrevista e pelo cuidado de não pressionar o paciente para que responda algo.</p><p>“…a entrevista é um diálogo sério que tem propósito entre duas ou mais pessoas. ”</p><p>(Alfred Benjamin 1984 p.26)</p><p>A aceitação do entrevistado conforme Benjamin (2008) envolve tratá-lo como igual, considerando seus pensamentos e sentimentos com respeito, mas não implica concordar, pensar ou sentir como ele. Pelo contrário, é permitir que o entrevistado tenha suas próprias ideias e valores, enquanto o entrevistador procura compreender sua forma de vida por meio da escuta sensível.</p><p>Essa forma de escuta reconhece a aceitação incondicional do outro, com suas características tanto positivas quanto negativas, sua complexidade e também sua simplicidade. A escuta sensível busca a compreensão através da empatia, ou seja, a capacidade de se colocar no lugar do outro para compreender sua situação, aproximando-se assim dele. Isso significa entender suas percepções e sentimentos, reconhecer seus medos e fragilidades, suas habilidades e limitações, o que leva à aceitação incondicional do outro como consequência desse processo.</p><p>Segundo Lewgoy (2007, p. 236) a entrevista é um dos instrumentos que possibilita a tomada de consciência pelos assistentes sociais das relações e interações que se estabelecem entre a realidade e os sujeitos, sendo eles individuais ou coletivos. A autora destaca ainda que a importância da entrevista e de sua condução é balizada por pressupostos,</p><p>habilidades e por um marco teórico para a qualificação do seu desenvolvimento. Assim, considera uma atividade profissional com objetivos a serem alcançados, acontecendo entre duas pessoas ou mais que estabelecem 30 uma relação profissional, através das suas histórias (LEWGOY, 2007). Ao longo de seu artigo a autora pontua outras concepções de entrevista abordadas por outros autores;</p><p>Kisnermam (1978) introduziu um conceito de entrevista, considerando-a um meio de trabalho que permite estabelecer uma relação profissional, um vínculo intersubjetivo e interpessoal entre duas ou mais pessoas, estabelecendo como diferencial, em seu uso, a maneira e a intenção de quem a pratica. Para Benjamin (1984), a entrevista é um diálogo sério que tem propósito entre duas ou mais pessoas. Carvalho (1991) inspirou-se na fenomenologia existencial francesa de Merleau-Ponty quando escreveu sobre a entrevista em Serviço Social. (LEWGOY, 2007, p. 236)</p><p>3. Matérias e Métodos</p><p>A entrevista, assim como outros instrumentos, passa por um processo que podemos dividir em etapas, sendo o planejamento a primeira delas. Planejar implica organizar, dar clareza e precisão à ação, transformar a realidade conforme uma direção escolhida, agir de forma racional e intencional, explicitar os fundamentos e executar um conjunto coerente de ações. Nesse contexto, é crucial que o assistente social se prepare para conduzir a entrevista, considerando que sua atuação esteja fundamentada nos pilares teórico, técnico e ético-político. O planejamento funciona como uma mediação teórico-metodológica, exigindo que o entrevistador compreenda a política social relacionada ao contexto de trabalho da instituição, seguindo a especificidade para a qual deve responder. Por exemplo, se estiver ligada à área da saúde, é necessário compreender as políticas de saúde direcionadas a grupos específicos da população (como crianças, adolescentes, idosos, e questões de gênero), bem como conhecer o contexto e as diretrizes da instituição.</p><p>O segundo passo envolve estabelecer a finalidade da entrevista, seus objetivos e o método de coleta de dados. A terceira etapa é a definição do horário e do espaço físico para a realização da entrevista, garantindo um ambiente que facilite a comunicação, o relacionamento e o respeito ao usuário. A fase seguinte consiste na execução da entrevista em si, que abrange diferentes momentos como o estágio inicial de interação social, a coleta de dados ou focalização, a definição do contrato, a síntese e a avaliação.</p><p>Durante a coleta de dados, o entrevistador precisa ter habilidades para identificar e selecionar as necessidades e demandas apresentadas pelos entrevistados.</p><p>As informações obtidas servirão de base para avaliar prioridades e definir as questões que serão abordadas e aprofundadas ao longo da entrevista, alinhadas aos objetivos estabelecidos previamente. Durante o processo, o assistente social deve compreender tanto a comunicação verbal quanto a não verbal, buscando entender a realidade apresentada pelos entrevistados através de seus sentimentos, desejos e necessidades sociais.</p><p>Um bom entrevistador é aquele que ouve mais do que fala, demonstrando habilidades de escuta, questionamento e observação do que não é explicitamente dito, mas que se manifesta no sujeito com quem trabalha. A observação pode ajudar na interpretação de mensagens, gestos, silêncios e pausas. Os questionamentos devem ser relevantes, específicos e claros. Essas habilidades estão alinhadas com um dos princípios do Código de Ética Profissional, que enfatiza a não-discriminação em relação a classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, idade e condição física.</p><p>A reflexão sobre as técnicas de entrevista está focada na produção de serviços, embasada em autores como Richmond (1950), Anette Garret (1988), Alfred Benjamin (1984) e Lewgoy (2007).</p><p>4. Resultados e Discursão</p><p>O entrevistador deve ser habilidoso em abrir caminhos para que o entrevistado possa, por meio da comunicação oral, examinar, revelar e expressar conteúdos de natureza cognitiva ou emocional significativos.</p><p>Ao interpretar o que foi comunicado pelo entrevistado, o assistente social busca demonstrar empatia pelos sentimentos envolvidos. O silêncio, por vezes, transmite mais do que palavras, sendo uma forma não verbal de comunicação que pode desconcertar o entrevistador inexperiente.</p><p>Não há uma abordagem única, uma vez que as necessidades e os momentos variam para cada indivíduo. No entanto, é essencial que o assistente social seja sensível ao silêncio e ao seu significado, avaliando o estado emocional do usuário naquela situação específica. Esclarecer o que está acontecendo em tempo real pode suavizar a interação, criando mais oportunidades para o diálogo.</p><p>Em determinadas situações, a sensibilidade exige o silêncio, como quando o assistente social compartilha com o usuário uma notícia de perda familiar, momento em que um gesto de abraço silencioso pode expressar muito.</p><p>Por isso, é crucial que o término da entrevista não se desvie para conversas sociais sem relação com o tema discutido.</p><p>5. Conclusão</p><p>A entrevista entre o assistente social e um ou mais usuários é um diálogo único que visa intervir na realidade social, alinhando-se com as competências profissionais. Nesse contexto, a linguagem desempenha um papel crucial, permitindo que os participantes compartilhem e revelem suas histórias, compreendam experiências e significados, buscando um saber em constante construção.</p><p>Da mesma forma, a ética, a teoria, a metodologia e a técnica operativa do assistente social são fundamentais para ancorar a entrevista, proporcionando espaços de conhecimento, crescimento e liberdade para alcançar os direitos sociais.</p>

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