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<p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e privado. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do Os violadores serão processados. os DIREITOS HUMANOS E o EXERCÍCIO DA CIDADANIA EM MEIOS DIGITAIS Celina Beatriz Sumário: 1 Obrigações das empresas em respeitar os direitos humanos; 2 Ameaças concretas aos direitos humanos na rede; 2.1 Liberdade de expressão; 2.2 Remoção de conteúdo; 2.3 Redes sociais; 2.4 Exposição em redes sociais: outras ameaças à liberdade de expressão; Privacidade; 3 Ausência da lei sobre proteção de dados pessoais; 4 Liberdade de expressão privacidade; 5 Con- clusão; Referências. Quando se fala em direitos humanos no Brasil, o que nos vem à mente são ques- tões como tortura, condições precárias de encarceramento e alto índice de violência po- licial. Infelizmente, o país ainda figura no topo da lista dos mais violentos do mundo. Segundo dados da ONU, Brasil é o país em taxas de homicídios só em 2012 foram mais de 50.000 índice de assassinatos para cada 100 mil habi- tantes é de 25,2, número quatro vezes maior do que a média mundial de 6,2. Quando se trata de condições precárias de encarceramento e violência policial, o país também se destaca negativamente. As péssimas condições prisionais são objetos de casos que estão sendo analisados na Corte Interamericana de Direitos e elevado índice de 1 Global study on homicide 2013. Disponível em: <http://www.unodc.org/documents/gsh/ em: maio 2014. 2 Por exemplo: Caso Urso Branco em Rondônia, Anibal Bruno em Recife, UNIS no Espírito</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do Os violadores serão processados. Os direitos humanos e o exercício da em meios digitais 67 violência policial faz com que o Brasil tenha uma das forças policiais mais letais do mundo. Por exemplo, em 2008, só no Rio de Janeiro foram registrados 1.137 homicídios cometidos pela polícia, enquanto que em países como África de Sul e Estados Unidos, que são conhecidos também por serem violentos, foram 468 e 371 assassinatos come- tidos pela polícia, No entanto, essa realidade alarmante que deve ser combatida não pode nos fazer esquecer que os direitos humanos não se restringem ao direito de não ser privado da vida arbitrariamente ou de não ser submetido a tortura e maus tratos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos tratados ratificados e incorporados pelo Brasil elencam uma série de outros direitos, e neste texto, iremos nos deter em dois direitos que são os mais sujeitos a violações nos meios digitais: os direitos à privacidade e à liberdade de expressão. Em um mundo onde as pessoas estão cada vez mais conectadas à rede mundial de computadores, onde passam grande parte do dia, a proteção à liberdade de ex- pressão e à privacidade devem passar a ter atenção proporcional à importância que o mundo digital passou a ter na vida das pessoas. Pesquisa sobre os hábitos de consumo de mídia dos brasileiros publicada em 2014 demonstrou que a população passa mais tempo por dia na internet em média 3 horas e 39 minutos do que em qualquer outro meio de Mas será que os brasileiros se preocupam ou sabem os riscos aos quais seus direitos estão expostos? mundo cada vez mais interligado pela internet, onde o fluxo de informação nunca foi tão grande, apresenta desafios no campo dos direitos. As relações de poder, atualmente, passam cada vez mais pelo conhecimento e controle do fluxo de dados pes- soais.5 A preocupação com respeito a esses direitos deveria crescer no mesmo ritmo com o qual os brasileiros estão se conectando à internet. O caso Snowden, no qual um ex-técnico da Agência Nacional de Segurança Americana, NSA, vazou documentos reve- lando detalhes de programas de espionagem do governo americano, mostrou ao mundo a fragilidade da segurança de nossas informações pessoais e a importância de limitar a atuação estatal e proteger a privacidade e a liberdade de expressão dos indivíduos. Nesse sentido, a discussão sobre a proteção dos direitos humanos no Brasil deve ser ampliada para incluir os direitos à privacidade e à liberdade de expressão. Um pas- importante, com objetivo de dar mais subsídios para essa discussão, foi a recente aprovação do Marco Civil da Internet, que inclui dispositivos que defendem a liberdade de expressão dos usuários da internet, conforme será mencionado ao longo do texto. 3 Human Rights Watch. Força letal: violência policial e segurança pública no Rio de Janeiro e em São Pau- lo. Disponível em: Acesso em: 1 maio 2014. 4 Secretaria de Comunicação Social da Presidencia da Pesquisa Brasileira de Mídia 2014: hábitos do consumo de midia pela população brasileira. Disponível em: <http://observatoriodaimprensa.com.br/ DONEDA, Danilo. A proteção da privacidade e de dados pessoais no Brasil. Observatório Itaú Cultural, São Paulo: Itaú, n° 16, 2014, p. 148.</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e privado. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão processados. 68 Marco Civil da Internet Leite e Lemos As pessoas estão sujeitas a excessos cometidos pelo Estado, como ocorreu, por exemplo, com a ativista ucraniana Oksana Romaniuk, que foi vítima de um "cibe- rataque". Seu computador foi invadido, seus e-mails, fotos, textos, músicas foram vasculhados e depois expostos publicamente em um site chamado Uma outra grande ameaça vem de empresas. As empresas de internet e de telecomu- nicações, por exemplo, exercem crescente influência sobre a vida política e privada de pessoas em todo o mundo. Essas empresas, através de aparelhos móveis e redes, possi- bilitam que pessoas se conectem de forma sem precedentes. No entanto, suas práticas de negócios e suas relações com governo podem resultar em graves violações do direito dos cidadãos à liberdade de expressão, de reunião e privacidade. É importante lembrar que a obrigação de respeitar os direitos humanos não é apenas dos Estados, mas das empresas também. 1 OBRIGAÇÕES DAS EMPRESAS EM RESPEITAR os DIREITOS HUMANOS As empresas compartilham com os Estados a responsabilidade de respeitar os direitos humanos, de acordo com os Princípios Orientadores da ONU sobre Empresas e Direitos Humanos, desenvolvidos pelo representante especial das Nações Unidas para Direitos Humanos e Empresas em Esses princípios foram formulados na base de três pilares: proteção, respeito e reparação. Aos Estados cabe proteger os di- reitos humanos e as empresas têm o dever de respeitar esses direitos, devendo haver maior acesso à reparação das vítimas de violações ocasionadas por empresas. Portanto, as empresas de internet e telecomunicações têm o dever de respeitar esses direitos. Por isso, é necessário transparência e responsabilidade na forma com que essas empresas respondem a pedidos de censura, vigilância e monitoramento fei- tos pelo governo, como coletam e protegem as informações pessoais de usuários e com quem essa informação é compartilhada e em quais circunstâncias. No Brasil, pouco ainda se fala sobre a responsabilidade dessas empresas em respeitar os direitos humanos dos usuários na rede. Está em curso uma pesquisa cujo objetivo é justamente avaliar o grau de comprometimento de empresas de internet e telecomunicações com o direito à liberdade de expressão e à privacidade dos usuá- rios. A pesquisa, intitulada Ranking digital rights ou Classificando direitos digitais, LEMOS, Privacidade de ativistas na internet está em xeque. Folha de S. Paulo, 10 março 2014. Disponível em: Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.busi- Mais informações sobre a pesquisa disponíveis em: <http://rankingdigitalrights.org/> Há equipes de pesquisadores em todo o mundo, incluindo Europa, Estados Unidos, e no Brasil a pesquisa está sendo</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e privado. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização editor. Os violadores serão Os direitos humanos e exercício da em meios digitais 69 é organizada por Rebecca que reúne pesquisadores do mundo todo. propósito é criar uma metodologia que permita no futuro ranquear empresas de tec- nologia e telecomunicação com base no respeito ao direito à liberdade de expressão e privacidade. Parte dos dados e informações utilizados neste texto foram coletados dos resultados preliminares dessa pesquisa. 2 AMEAÇAS CONCRETAS AOS DIREITOS HUMANOS NA REDE Os dois principais direitos dos usuários de internet que são violados por Estados e empresas são os direitos à liberdade de expressão e à privacidade. Decisões de remoção de conteúdo, bloqueio de contas em redes sociais e armazenamento indevido de dados pessoais são algumas das ameaças concretas sofridas por usuários todos os dias. Deta- lharemos alguns casos que ilustram essas condutas praticadas no contexto brasileiro. 2.1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO A proteção à liberdade de expressão está prevista na Constituição brasileira no artigo 5, IV: "É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato." Está incluída no rol de direitos fundamentais previstos pelo artigo e, justamente por existir com outros direitos, não é absoluta. Há algumas limitações à liberdade de expressão previstas em lei, como a proibição de discursos e Os chamados crimes contra a honra (injúria, calúnia e também são po- tencialmente limitadores da liberdade de expressão. artigo V também garante direito de resposta além de indenização por dano material, moral ou à imagem. Ou- tras limitações à liberdade de expressão incluem a criminalização da pedofilia infantil por meios e manifestações de pensamento em período eleitoral, incluindo comentários "na internet para ofender a honra ou denegrir a imagem de candidato, partido ou coligação". Outra restrição à liberdade de expressão tem sido a proibição desenvolvida em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio: <www.itsrio.org> As primeira classifações devem ocorrer em 2015. Rebecca MacKinnon é autora do livro The consent of the que discute como a tecnologia deve ser estruturada e governada para fortalecer os direitos e liberdades dos usuários de internet ao redor do mun- do. Rebecca The consent of the networked: the worldwide struggle for internet freedom. Estados Unidos: Basic Books, 2012. to Ver Lei n° Artigos 138, 139 e 140 do Código Penal brasileiro. 12 Lei n° 8.069/90, art. 241-A: "Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou 13 Lei n° art. 57, H. § "Constitui crime a contratação direta ou indireta de grupo de pessoas com a finalidade específica de emitir mensagens ou comentários na internet para ofender a honra ou denegrir a imagem de candidato, partido ou punível com detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização de editor. Os violadores serão processados. 70 Marco Civil da Internet Leite e Lemos de publicação de biografias não autorizadas, de acordo com o artigo 20 do Código Civil No plano internacional, a liberdade de expressão está prevista no artigo 19 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e no artigo 13 da Convenção America- na de Direitos Humanos, os dois tratados assinados e ratificados pelo 2.2 REMOÇÃO DE CONTEÚDO De acordo com dados do relatório de transparência publicados pelo o Brasil é o país que mais apresentou pedidos de remoção de conteúdo na rede. De julho a dezembro de 2012, a empresa recebeu 697 pedidos de remoção de conteúdo encaminhados pelo Brasil, sendo que a maioria 640 foi feita por ordens judiciais e 57 pedidos foram encaminhados pelo Ministério Público ou pela polícia. Desses casos, a maioria dos pedidos era referente a casos de difamação (42%) e legislação eleitoral (22%). fato de o Brasil ser país com o maior número de pedidos de remoção de conteúdo revela uma realidade preocupante para a liberdade de expressão. Conforme mencionado acima, esse direito não é absoluto mas tampouco pode ser restringido de qualquer maneira. Deve sempre haver uma avaliação imparcial e feita pelo Judiciário, respeitado o devido processo legal antes que um conteúdo seja retirado da rede. Até a aprovação do Marco Civil, não havia no país uma diretriz de como isso deveria ser feito, mas com a aprovação dessa lei, de forma geral, os provedores de conteúdo só serão responsabilizadas se não retirarem conteúdo após serem notificadas por uma ordem judicial Por conta da ausência de norma em relação à remoção de de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)". (Incluído pela Lei 12.891, de 2013). 14 Lei n° 10.406/2002, art. 20: "Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à ma- nutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da in- denização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes." 15 Decreto n° 592, dando efeito ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Politicos. em: <http:// e Decreto n° 678/1992, dando efeito à Convenção Americana de Direitos Humanos no Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci- Esses tratados foram internalizados e produzem efeito no país desde 1992. 16 Relatório de Transparência do Google, 2012. Disponível em: <http://www.google.com/transparencyreport/ removals/government/BR/?p=2012-12>. 17 Lei n° art. 19: "Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o pro- vedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. § A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente,</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão processados. Os direitos humanos e o exercício da cidadania em meios digitais 71 conteúdo e à responsabilidade dos provedores de internet, imperava a insegurança jurídica que acabava favorecendo a censura privada preventiva feita por empresas que, para evitar problemas, retiravam do ar conteúdos postados por terceiros após recebe- rem simples notificações de outros usuários. Agora, com as regras do Marco Civil, a expectativa é que a liberdade de expressão do usuário seja fortalecida com a segurança de que apenas conteúdos comprovadamente ofensivos e criminosos sejam removidos do ar. Mas não basta colocar essa responsabilidade nas mãos do Judiciário, sem que os magistrados estejam preparados para lidar com casos de manifestação de pensamento na internet. As redes sociais, sites, blogs criaram um espaço onde os cidadãos podem manifes- tar suas opiniões, promover debates, enfim, participar mais ativamente da vida em suas cidades. Esse espaço permite que os cidadãos expressem seu apoio e descontentamentos com políticos, e nem toda manifestação em tom de crítica em relação a algum político deveria ser motivo suficiente para que conteúdo fosse removido do ar. Por exemplo, em março de 2012, a justiça do Pará ordenou que a jornalista Maria Franssinete de Souza Florenzano retirasse do an todos os comentários publicados por ela com críticas a um vereador da sua cidade. A jornalista teria apenas citado uma suposta declaração do ve- reador que teria dito "não se importar com os operários de um edifício que desabou na cidade em 2011". parlamentar alegou que, para que ele pudesse continuar a trabalhar, a jornalista deveria extinguir seu blog e perfis no Twitter e Além de terem seus conteúdos retirados do ar, os usuários também correm risco de serem proibidos de se manifestar em redes sociais, como ocorreu no caso de Ricardo Fraga. Ele criou um movimento chamado "O outro lado do muro interven- ção coletiva", que tinha por objetivo provocar reflexões sobre a cidade de São Paulo. Ele colocou uma escada ao lado de um muro, convidou aqueles que passavam por ali a ver a obra que estava sendo feita do outro lado do muro e pedia para que as pessoas escrevessem suas opiniões. Nesse processo, descobriram-se possíveis irregularidades na obra e foram realizadas manifestações no local contra ela. Diante disso, a empresa responsável pelo empreendimento ajuizou uma ação contra Ricardo Fraga, idealiza- dor do movimento, para que ele fosse impedido de protestar tanto presencialmente quanto A justiça de São Paulo concedeu uma liminar proibindo qualquer que permita a localização inequívoca do material." Exceções a essa regra: em casos envolvendo pornografia de vingança, basta provedor ser notificado pela vítima (art. 21 Marco direito do autor não se aplica às regras do Marco Civil (art. 31 Marco Civil); e no caso de direito eleitoral também se aplica legislação específica (art. 57-F Lei n° 9.504/97) 18 Artigo 19. Ameaças na rede: relatório de violações contra blogueiros, donos ou editores de site e rios na internet em 2012. 2012, p. 37. Disponível em: Acesso em: 3 maio 2014. 10 Caso Ricardo Fraga Mofarrej Empreendimentos Imobiliários: Ricardo foi proibido de protestar pre- sencialmente e pela internet. Disponível em: <http://artigo19.org/centro/casos/detail/11> Acesso em: 3 maio 2014.</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz <heinzce@gmail.com> A impressão é apenas para uso pessoal e privado. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão processados. 72 Marco Civil da Internet Leite e Lemos manifestação no entorno da obra e também na internet, tendo sido ele proibido de postar qualquer conteúdo relacionado ao movimento outro lado do 2.3 REDES SOCIAIS As redes sociais ganharam cada vez mais importância como espaço de manifes- tação do pensamento. Até 2012, o Orkut, do Google, era a rede social com o maior nú- mero de usuários no Atualmente o Facebook atingiu número de 36,1 milhões de usuários, superando os 34,4 milhões de usuários do Com maior número de usuários, aumentam os casos envolvendo os pedidos de remoção de conteúdo nessas empresas. Facebook, em seu relatório de 2013 sobre pedidos de informação feito por países, indica que restringiu conteúdo em resposta a casos relacionados à difa- mação e outros pedidos em casos de matéria civil, no entanto não revelou número de remoções que foram Além daquelas feitas em resposta às ordens judiciais, há também aquelas que são realizadas pelo próprio Facebook em cumprimento ao seu termo de uso. De acordo com os "padrões da comunidade no Facebook", os se- guintes conteúdos poderão ser removidos: se incitarem à violência ou apresentarem ameaça direta à segurança pública, encorajarem a autoflagelação, bullying ou assédio, promoverem algum tipo de discurso de ódio e que pessoas sejam atacadas com base em sua raça, etnia, nacionalidade, religião, gênero, orientação sexual, deficiência ou doença; conteúdos gráficos que sejam violadores dos direitos humanos, contenham nudez e pornografia, violem os direitos autorais; transações que envolvam produtos regulamentados e que atentem contra a segurança e privacidade dos Facebook ainda esclarece que os "conteúdos não são removidos com base no número de denúncias recebidas", e que cada caso é revisado manualmente e não há sistemas automatizados que removam discursos 20 Processo n° 1008543-15.2013.8.26.0100, Vara Civel, Tribunal de Justiça de São Trecho da de- cisão: "A Não mais faça qualquer postagem ao que por ele é operado na rede mundial de computadores e nada mais crie, neste mesmo meio quanto ao relacionado ou o que a isto for similar, com o mes- mo objetivo ao denominado". outro lado do muro intervenção coletiva. Disponível em: <file:///Users/ Acesso em: 3 maio 2014. Pesquisa realizada pela ComScore, disponível em: <https://www.comscore.com/Insights/Press_Releases/ em: 3 maio 2014. 22 Relatório de Transparência do Facebook sobre pedidos encaminhados pelos governos: "We restricted con- tent in Brazil in response to requests related to defamation and orders in civil cases. We have not reported defamation or civil claims in this report. We may include these sorts of requests in future reports." vel em: em: 3 maio 2014. 23 Padrões da Comunidade do Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/communitystandar- Acesso em: 3 maio 2014. 24 "Não removemos conteúdos com base no número de denúncias recebidas: temos uma infraestrutura robusta de denúncia que inclui links para reportar páginas que estão no Facebook e também um time de revisores altamente treinado para avaliar esses casos. Quando um conteúdo é denunciado, ele só é removido se violar nossos Termos de Uso. É importante esclarecer que não retiramos conteúdos com base no número de pessoas que reportaram algo.</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e privado. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão processados. Os direitos humanos e exercício da cidadania em meios digitais 73 No entanto, há casos em que conteúdos foram removidos pelo Facebook su- postamente por violarem os termos de uso e geraram muita discussão, como foi o episódio envolvendo a remoção de fotos publicadas por participantes da "Marcha das Vadias" que mostravam mulheres com seios descobertos. Essa Marcha foi organizada em diversas cidades do Brasil em apoio ao protesto realizado em janeiro de 2011 no As mulheres que participam dessas manifestações normalmente usam rou- pas consideradas provocantes como lingeries, salto altos ou aparecem com os seios nus com o objetivo de repudiar a violência machista. Algumas publicaram fotos no Face- book que foram removidas por atentarem contra os termos de uso da empresa, o que gerou discussão nas redes sociais por conta da falta de clareza entre o que constitui um protesto ou manifestação política e 2.4 EXPOSIÇÃO EM REDES SOCIAIS: OUTRAS AMEAÇAS À LIBERDADE DE EXPRESSÃO As redes sociais desempenham cada vez mais um papel central na vida polí- tica dos Por meio delas, diversos protestos foram organizados e pessoas foram às ruas cobrar mudanças de seus Ao mesmo tempo em que essa mobilização foi possibilitada, ela também gera uma exposição muito grande para blogueiros, jornalistas e ativistas. De acordo com o relatório anual Em quase todos os casos, revisamos manualmente todas as e não temos sistemas automatizados que removem discursos políticos: para proteger milhões de pessoas que se conectam e compartilham informações diariamente no Facebook, a esmagadora maioria do conteúdo é revisada Utilizamos sistemas automatizados apenas para um número muito limitado de casos, como, por exemplo, spam. Nestas situações, a automação é usada com mais frequência para que possamos priorizar os casos que precisam de revisão manual, mas isto não substitui a revisão Disponível em: <https://www. facebook.com/FacebookBrasil/posts/649154085112359> Acesso em: 6 maio 2014. 25 protesto "Slutwalk" ou "Marcha das Vadias" em Toronto em janeiro de 2011, uma época em que ocorreram diversos casos de abusos contra mulheres na Universidade de Toronto. Esse protesto foi organizado em resposta à declaração de um policial que teria dito para as mulheres evitarem se vestir como vadias (sluts em para não serem vítimas de abuso sexual. Mais informações disponíveis em: <http:// www.slutwalktoronto.com/> Acesso em: 6 abr. 2014. 26 Ver comentários de usuários da rede social em: Acesso em: 6 abr. 2014. 27 Por exemplo, em 2008 uma página em uma rede social na Colômbia contra as reuniu, um mês depois, dez milhões de pessoas nas Em 2010, na onde teve inicio a "Primavera árabe", as redes sociais ajudaram a driblar a censura oficial e a falta de liberdade de Em 2011, o movimento "Occupy Wall Street", iniciado nos EUA, foi articulado pela Uma cronologia de protestos que foram organi- zados por redes sociais ao redor do mundo está disponível em "V de Viral: protestos organizados pelas re- des sociais já derrubam ditadores", 23 de junho de 2013. Disponível em: Acesso em: 7 abr. 2014. 28 Entende-se por comunicadores: "qualquer pessoa ou grupo que é regularmente ou profissionalmente en- volvido na coleta e divulgação de informações ao público, por qualquer meio de comunicação, seja comercial ou não comercial. Estão, portanto, incluídos repórteres, blogueiros, radialistas, comunicadores populares</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e privado. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão processados. 74 Marco Civil da Internet Leite e Lemos da organização não governamental Artigo 19, entidade que se dedica ao tema da liber- dade de expressão, em 2013 foram registrados 69 casos graves de violação, incluindo homicídios, ameaças de morte, dentre os quais 45 eram com relação ao exercício da liberdade de Desses 45 casos relacionados ao exercício da liberdade de expressão, 29 aconteceram contra comunicadores (jornalistas, radialistas, blogueiros, comunicadores comunitários e outros profissionais de comunicação) e 16 contra de- fensores de direitos Desses 29, oito casos foram especificamente contra blogueiros ou outros que usavam redes sociais, como foi caso do Carlos Latuff, que em junho de 2013 recebeu ameaças de morte em Porto Alegre após ter publicado na sua página pessoal no Facebook um comentário sobre contradições de um crime envolvendo Interessante observar que, assim como os políticos são os que mais solicitam remoção de conteúdo, eles ocupam, junto com outros agentes estatais, topo da lista de mandantes dos crimes cometidos contra comunicadores. De acordo com relatório já citado da Artigo 19, 77% dos mandantes em casos de violação à li- berdade de expressão são policiais, políticos ou agentes relatório conclui fazendo algumas recomendações ao Estado brasileiro para enfrentar essas violações contra a liberdade de expressão. Entre elas estão: estudos constantes que visem iden- tificar as causas e os focos das violações cometidas contra comunicadores e defensores de direitos humanos; a inclusão dessas pessoas em programas de proteção de defenso- res de direitos humanos; e a criação de um observatório público de crimes contra essas vítimas, divulgando status de apuração e punição de cada crime e dados estatísticos e informações relevantes sobre Espera-se que, havendo maior conhecimento sobre as violações à liberdade de expressão, os seus perpetradores sejam punidos e responsabilizados, contribuindo para que a internet seja um espaço mais seguro para a manifestação do livre-pensamento. PRIVACIDADE Junto com a liberdade de expressão, o direito à privacidade dos usuários de inter- net também vem sendo objeto de violações por Estados e empresas. Assim como a li- berdade de expressão, o direito à privacidade também goza de proteção constitucional. e profissionais de mídia, entre outros". Artigo 19. Relatório Anual 2013, Violações à liberdade de expres- são, p. 6. Disponível 29 Artigo 19. Relatório Anual 2013: Violações à liberdade de expressão. Disponível em: <http://arti- 30 Idem, p. 11. 31 Idem, p. 19. 32 Idem, p. 14. 33 Para uma lista completa das ver Artigo 19. Relatório Anual 2013: Violações à liberdade de expressão, p. 68. Disponível em:</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão processados. Os direitos humanos e o exercício da cidadania em meios digitais 75 artigo 5, inciso X, preceitua que a vida honra e imagem das pessoas são invioláveis, assim como é inviolável sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo por ordem judicial nos casos estabelecidos em lei, como previsto pelo inciso XII. A mesma lei também deter- mina que o uso e a coleta de dados pessoais dos usuários dependerão de sua anuên- cia expressa e específica e que a prestadora de serviço só poderá divulgar a terceiros informações agregadas sobre o uso de seus serviços, desde que elas não permitam a identificação ou a violação da intimidade dos Embora existam essas disposições gerais sobre a privacidade das comunicações, no Brasil ainda não há uma lei específica sobre a proteção de dados pessoais. A falta de uma regulação específica para a proteção dos dados dos usuários deixa-os vulneráveis a práticas do Estado e de empresas que violem seu direito à privacidade. Por exemplo, no Brasil, a Agência Nacional de Serviços de Telecomunicação (ANATEL) aprovou uma resolução (596/2012) que sugere que a agência passe a ter acesso direto aos da- dos dos usuários do serviço de telefonia. Em tese, propósito dessa medida seria obter as informações referentes ao uso dos consumidores, incluindo o número de telefone que foi discado, a duração da chamada e o valor cobrado para fiscalizar e avaliar a qua- lidade do serviço ofertado pelas operadoras, mas, na falta de uma legislação que deixe claro quais as medidas que assegurariam a proteção desses dados, as informações dos usuários ficam vulneráveis. 3 AUSÊNCIA DE LEI SOBRE PROTEÇÃO DE DADOS PESSOAIS Como já dissemos, no Brasil ainda não há uma lei que trate da proteção des- ses dados pessoais. Essa lacuna legislativa não foi preenchida pelo Marco Civil, que, embora incorpore dispositivos relacionados à privacidade, nunca pretendeu exaurir tema que deve ser tratado por legislação específica. Atualmente, essa matéria está sen- do tratada por um anteprojeto de lei que começou a ser elaborado em 2010. Diferen- temente do Brasil, esse assunto já vem sendo tratado por leis em outros países desde a década de 1960, e várias normativas passaram a conter uma espécie de princípios gerais que constituem um núcleo comum das leis sobre proteção de dados. Segundo exposto por Danilo Doneda, esses princípios podem ser resumidos da seguinte manei- ra: princípio da transparência (o tratamento de dados pessoais não pode ser realizado sem conhecimento do titular do dados) princípio da qualidade (os dados devem ser fiéis à realidade, atualizados e completos); princípio da finalidade (os dados pessoais devem obedecer à finalidade comunicada ao interessado antes da coleta); princípio do livre acesso (o indivíduo deve ter livre acesso às suas informações coletadas em um 34 Essa mesma proteção é dada pelo artigo 21 do Código Civil, que preceitua que a vida privada da pessoa é inviolável. Lei n° 9.472/1997, artigo 72, parágrafos e 2.</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz <heinzce@gmail.com> A impressão é apenas para uso pessoal e privado. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão processados. 76 Marco Civil da Internet Leite e Lemos banco de dados); e princípio da segurança física e lógica (os dados devem ser protegi- dos por meios técnicos e A elaboração de regras para o tratamento de dados pessoais implicará em uma limitação das utilizações desses dados por Estado e empresas, medida necessária para a proteção do indivíduo, mas desafio será compatibilizar esse tipo de regra com o exercício da liberdade de expressão. 4 LIBERDADE DE EXPRESSÃO PRIVACIDADE Conforme apresentado, a fragilidade dos direitos à liberdade de expressão e privacidade frente à atuação de Estado e empresas é claro. Mas, além disso, há tam- bém uma tensão entre a liberdade de expressão e o respeito à privacidade em si. Pois, por vezes, quando se exerce a liberdade de expressão de um lado, corre-se risco de ferir a privacidade do indivíduo que está no outro lado. Dave Heller alerta para fato de que algumas leis de privacidade e proteção de dados estão sendo utilizadas para desencorajar a liberdade de expressão no mundo e o trabalho daqueles que procuram Ele relata casos concretos nos quais, de um lado, se exerce a liberdade de expressão e o direito de informar atingindo direito à privacidade do outro, como foi caso do livro A noiva do Primeiro Ministro, escrito por Susan Ruusunen, no qual ela relata sua relação com o então Primeiro-Ministro da Finlândia. Ela foi processada por contar muitos detalhes do relacionamento e esse caso foi levado à Corte Europeia de Direitos que julgou que o direito à privacidade do Primeiro-Ministro de- veria ser respeitado em oposição ao direito de livre-expressão da sua ex-companheira. Atualmente também tem-se invocado direito ao esquecimento, tendo o Tribunal de Justiça da União Europeia se manifestado recentemente afirmando que "qualquer pessoa tem o direito a ser esquecida" na internet, obrigando sites de busca a excluir determinados deixando a discussão sobre esse assunto ainda mais com- plexa. Portanto, o desafio que se coloca é: como garantir a liberdade de expressão e ao mesmo tempo resguardar e proteger a privacidade do cidadão? São ponderações que deverão ser feitas no caso concreto mas tendo como base uma legislação que proteja tanto a privacidade dos indivíduos quanto a liberdade de expressão e o direito à informação. Para mais detalhes sobre esse tópico, ver: DONEDA, Danilo. A proteção da privacidade e de dados pesso- ais no Brasil. Observatório Itaú Cultural, São Paulo: Itaú, n° 16, p. 146. 37 Dave. A expansão e o abuso do direito à privacidade ameaçam a liberdade de expressão. Obser vatório Itaú Cultural, São Paulo: Itaú, n° 16, p. 153. EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Ruusunen Finland (Application n° 73579/10). Disponível em: Acesso em: 12 abr. 2014. GONZÁLEZ, Mario Costeja. Google Agencia Española de Protección de Datos (AEPD), 13 maio 2014. Dis- ponível em: Acesso em: 14 jun. 2014.</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão apenas para uso pessoal e privado. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão processados. Os direitos humanos e exercício da cidadania em meios digitais 77 5 CONCLUSÃO De acordo com exposto, Brasil precisa incluir na pauta dos direitos humanos a proteção da liberdade de expressão e o direito à privacidade, principalmente frente à atuação do Estado e das empresas que também têm dever de respeitar esses direitos. Espera-se que iniciativas como a pesquisa Ranking Digital Rights contribuam para que haja maior conscientização por parte dos usuários sobre os riscos aos quais eles estão expostos quando se comunicam, seja pela internet ou telefone, e promovam práticas mais respeitosas por parte dessas empresas de comunicação. Também é necessário que haja um debate amplo sobre uma lei de proteção de dados com canais para que a sociedade possa se manifestar e contribuir com sugestões, tal como foi feito com projeto do Marco Civil. As redes sociais desempenham um papel muito importante no exercício da li- berdade de expressão dos indivíduos, que precisa ser fomentado limitando os casos de pedido de remoção e fortalecendo a segurança de seus usuários. Esses espaços serão cada vez mais importantes para o exercício da cidadania e é por isso que embates en- volvendo exercício da liberdade de expressão, de um lado, e o respeito à privacidade, do outro, devem ser cuidadosamente resolvidos para que a prevalência de um direito não anule o outro. REFERÊNCIAS ARTIGO 19. Relatório Anual 2013. Violações à liberdade de expressão. Disponível em: <http://arti- DONEDA, A proteção da privacidade e de dados pessoais no Brasil Observatório Itaú Cultural, São Paulo: Itaú, n° 16. 2014. EUROPEAN COURT OF HUMAN RIGHTS. Ruusunen V. Finland. (Application n° 73579/10). Disponível em: Acesso em: 12 abr. 2014. Facebook. Relatório de transparência sobre pedidos encaminhados pelos governos. Disponível em: 3 maio 2014. GONZÁLEZ, Mario Costeja. Google V. Agencia Española de Protección de Datos (AEPD), 13 maio 2014. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/arquivos/2014/5/art20140514-04. pdf>. Acesso em: 14 jun. 2014. Google. Relatório de Transparência, 2012. Disponível em: <http://www.google.com/ transparencyreport/removals/government/BR/?p=2012-12 HELLER, Dave. A expansão e o abuso do direito à privacidade ameaçam a liberdade de expres- são. Observatório Itaú Cultural, São Paulo: Itaú, n° 16. 2014.</p><p>IMPRESSO POR: John Heinz A impressão é apenas para uso pessoal e Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida sem prévia autorização do editor. Os violadores serão 78 Marco Civil da Internet Leite e Lemos HUMAN RIGHTS WATCH. Força letal: violência policial e segurança pública no Rio de Janeiro e em São Paulo. Disponível em: <http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/brazil1209p- tweb.pdf>. Acesso em: maio 2014. LEMOS, Disponível em: MACKINNON, Rebecca. The consent of the networked: the worldwide struggle for internet free- dom. Estados Unidos: Basic Books, 2012. ONU. Princípios Orientadores sobre Empresase Direitos Humanos. Disponívelem <http://www. GuidingPrinciples>. Pesquisa Ranking Digital Rights. Disponível em: <http://rankingdigitalrights.org/> Secretaria de Comunicação Social da Presidencia da República. Pesquisa Brasileira de Mídia 2014: hábitos do consumo de midia pela população brasileira. Disponível em: <http://observa- UNODC. Global study on homicide 2013. Disponível em: <http://www.unodc.org/documents/ Acesso em: 1 maio 2014. Legislação Decreto n° 592, de 6 de julho de 1992. Decreto n° 678, de 6 de novembro de 1992. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Lei n° 12.965, de 23 de abril de 2014. Lei n° 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Lei n° 9.504, de 30 de setembro de 1997. Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002.</p>