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<p>ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL E</p><p>POLÍTICA URBANA</p><p>AULA 2</p><p>Prof. Hélio Rubens Godoy Lechinewski</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Nesta etapa, a abordagem recai sobre os Poderes Municipais e a</p><p>Administração Pública, sendo abordada a organização e o funcionamento dos</p><p>poderes municipais, buscando compreender sua importância na gestão das</p><p>cidades. O foco inicial são os poderes municipais, como eles são estruturados,</p><p>suas atribuições e competências e as relações entre eles. As funções dos</p><p>prefeitos, vereadores e servidores municipais são destacadas, com uma ênfase</p><p>particular na importância de um sistema de pesos e contrapesos para o bom</p><p>funcionamento do poder municipal.</p><p>Também é abordado o processo legislativo do município, particularmente</p><p>a elaboração e aprovação das leis municipais, desde a iniciativa das leis até sua</p><p>promulgação ou sanção. Na continuação, é contemplada a estrutura</p><p>administrativa municipal e a organização dos órgãos e entidades que compõem</p><p>a gestão pública do município, com um destaque para as circunstâncias que</p><p>podem caracterizar ações de improbidade administrativa. Sobre esse último item</p><p>ainda, serão apresentados o seu conceito e as suas características, as</p><p>consequências legais da prática de improbidade administrativa, e a importância</p><p>da ética na administração pública municipal.</p><p>Ao final do conteúdo desta etapa, é tratado sobre o poder de polícia no</p><p>âmbito municipal, como a fiscalização de obras e atividades comerciais, a</p><p>regulamentação do uso do solo e a proteção do meio ambiente. Que esta etapa</p><p>seja bastante enriquecedora e que ela contribua para a ampliação de seus</p><p>conhecimentos sobre o tema, tenha um excelente estudo!</p><p>TEMA 1 – OS PODERES MUNICIPAIS1</p><p>A divisão de poderes do Estado é um dos princípios fundamentais da</p><p>democracia e do Estado de Direito, essa concepção foi desenvolvida ainda no</p><p>século XVIII por Montesquieu em seu livro O Espírito das Leis, no qual o autor</p><p>defende a separação dos poderes em três esferas: Executivo, Legislativo e</p><p>Judiciário. Essa teoria foi adotada por muitos países ao redor do mundo,</p><p>incluindo o Brasil. A Constituição Federal de 1988 prevê a separação dos</p><p>1 O texto desta etapa tem como referência a obra “Organização Municipal e Política Urbana” do</p><p>Professor Jorge Bernardi, especificamente o capítulo 02, que trata dos poderes municipais e o</p><p>capítulo 04 que aborda a estrutura administrativa municipal e o poder de polícia.</p><p>3</p><p>poderes no país e estabelece as competências de cada um deles. O poder</p><p>Executivo é responsável pela condução da administração pública,</p><p>implementação de políticas públicas e execução das leis, o poder Legislativo é</p><p>composto pelo Congresso Nacional, formado pela Câmara dos Deputados e pelo</p><p>Senado Federal, que tem a responsabilidade de criar as leis e fiscalizar o</p><p>Executivo, e o poder Judiciário é responsável pela interpretação e aplicação das</p><p>leis e pela garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos.</p><p>No entanto, quando falamos em divisão de poderes no âmbito municipal,</p><p>a separação é um pouco diferente, nos municípios brasileiros a divisão de</p><p>poderes é composta apenas pelo Executivo e pelo Legislativo, e as funções do</p><p>Judiciário sendo desempenhadas por órgãos da esfera estadual. O Poder</p><p>Executivo municipal é basicamente composto pelo prefeito, vice-prefeito,</p><p>secretários e demais servidores das secretarias, e eventuais órgãos vinculados</p><p>à administração pública do município.</p><p>O prefeito é a figura central na composição do Poder Executivo, sendo</p><p>eleito para ser o representante legal do município e exercendo o papel de chefe</p><p>da administração local. É responsável por conduzir a política administrativa do</p><p>município, tomando decisões estratégicas e gerenciando a equipe de servidores</p><p>públicos. Os secretários municipais são responsáveis pelas diversas áreas da</p><p>administração pública, como saúde, educação, transporte, infraestrutura, entre</p><p>outras. São nomeados pelo prefeito e têm a função de gerenciar as políticas</p><p>públicas em suas respectivas áreas, bem como coordenar as equipes de</p><p>servidores públicos responsáveis pela execução dessas políticas.</p><p>Quanto ao Poder Legislativo, no âmbito dos municípios, ele tem como</p><p>função principal representar os interesses da população local e exercer o papel</p><p>de fiscalizador do Poder Executivo municipal. É composto por uma Câmara</p><p>Municipal2, formada por vereadores eleitos por meio do voto popular, eles</p><p>possuem a prerrogativa de elaborar, discutir e votar as leis que serão aplicadas</p><p>no âmbito do município. Além disso, cabe à Câmara dos Vereadores fiscalizar a</p><p>atuação do Poder Executivo, garantindo a boa aplicação dos recursos públicos</p><p>e a execução adequada das políticas públicas, e julgar as contas do gabinete do</p><p>prefeito e dos demais órgãos do Poder Executivo.</p><p>2 De acordo com o inciso IV do artigo 29 da Constituição Federal de 1988, o número mínimo de</p><p>vereadores é de nove para municípios com até quinze mil habitantes, e no máximo 55, para</p><p>municípios com mais de oito milhões de habitantes.</p><p>4</p><p>Essa divisão de poderes pode trazer alguns desafios para o</p><p>funcionamento do município, especialmente quando se trata de fiscalização e</p><p>controle das ações do Executivo. É muito importante que exista uma harmonia</p><p>entre os poderes municipais, ela é primordial para garantir o bom funcionamento</p><p>da administração pública. De acordo com o art. 2º da Constituição Federal, os</p><p>poderes devem ser independentes uns dos outros e harmônicos entre si. Isso</p><p>significa que cada um dos poderes deve atuar dentro de suas competências,</p><p>sem interferir nas atribuições dos outros poderes, mas também deve haver uma</p><p>relação de cooperação e diálogo entre eles.</p><p>Essa harmonia entre os poderes pode ser alcançada por meio de um</p><p>sistema de pesos e contrapesos, em que cada poder exerce um papel de</p><p>equilíbrio em relação ao outro. O Legislativo pode, por exemplo, fiscalizar as</p><p>ações do Executivo e aprovar ou rejeitar suas propostas, enquanto o Executivo</p><p>pode vetar ou sancionar as leis aprovadas pelo Legislativo. No entanto, essa</p><p>harmonia entre os poderes pode ser desafiada em situações de disputa política,</p><p>ou quando há uma predominância de um Poder sobre o outro. É nesses casos</p><p>que o papel do Judiciário se torna fundamental, ele pode ser chamado a exercer</p><p>um papel moderador nas relações entre os poderes Executivo e Legislativo,</p><p>garantindo o respeito à Constituição e às leis, evitando que um poder se</p><p>sobreponha ao outro.</p><p>TEMA 2 – O PROCESSO LEGISLATIVO DO MUNICÍPIO</p><p>O processo legislativo municipal é o rito que direciona o procedimento</p><p>para a apresentação das iniciativas de proposição das leis municipais, ele pode</p><p>ser encaminhado pelos vereadores, pelo Prefeito, pelas Comissões da Câmara</p><p>e até mesmo pela Iniciativa Popular. A prerrogativa principal de apresentar</p><p>projetos de lei, resoluções e requerimentos para apreciação da Câmara</p><p>Municipal é dos próprios vereadores. O Prefeito também pode apresentar</p><p>projetos de lei que deverão ser submetidos ao crivo dos vereadores para</p><p>aprovação ou rejeição. As Comissões da Câmara, por sua vez, têm o papel de</p><p>estudar e emitir parecer sobre as proposições legislativas que são apresentadas</p><p>pelos vereadores ou pelo Poder Executivo.</p><p>Outro ponto importante a ser destacado é a possibilidade de apresentação</p><p>de projetos de lei por iniciativa popular. Conforme previsto na Constituição</p><p>Federal de 1988 (Inciso XIII, Art. 29), para que uma lei municipal seja proposta</p><p>5</p><p>por iniciativa popular, é necessário que haja a adesão de 5% dos eleitores do</p><p>município ao projeto de lei apresentado. É relevante que todo o processo</p><p>legislativo municipal seja pautado pelo respeito aos princípios constitucionais,</p><p>bem como pelos princípios da transparência, da publicidade e da participação</p><p>popular.</p><p>O trâmite legislativo nas câmaras municipais tem como procedimento</p><p>inicial a apresentação</p><p>da iniciativa de proposta de lei, que como visto acima,</p><p>pode ser feita por diferentes atores. Na sequência, a mesa executiva da câmara</p><p>é responsável por dar início à tramitação da proposição de lei, encaminhando-a</p><p>às comissões da câmara às quais ela possui vinculação temática. Essas</p><p>comissões são compostas pelos próprios vereadores, que realizam análises e</p><p>discussões sobre a proposta, podendo solicitar a inclusão de emendas, ajustes</p><p>ou outras alterações.</p><p>Após essa etapa, a proposição é levada ao plenário, onde todos os</p><p>vereadores discutem e votam a sua aprovação. Após essa etapa, é necessário</p><p>que o Presidente da Câmara encaminhe a proposição para a sanção do Prefeito.</p><p>Ele também pode vetar total ou parcialmente a proposição aprovada na Câmara,</p><p>essa medida pode ser tomada pelo Prefeito por motivos de inconstitucionalidade</p><p>ou de interesse público. Quando isso acontece, a Lei é devolvida à Câmara para</p><p>análise e votação.</p><p>A Câmara Municipal, por sua vez, pode derrubar o veto do Prefeito por</p><p>maioria absoluta de votos dos vereadores, isso significa que, para que o veto</p><p>seja derrubado, é necessário que pelo menos 50% mais um dos vereadores</p><p>votem a favor da derrubada. A derrubada do veto, apesar de extrema, é uma</p><p>medida que reflete a independência do Poder Legislativo em relação ao Poder</p><p>Executivo, uma vez que a Câmara tem a prerrogativa de analisar e decidir sobre</p><p>as leis aprovadas pelos vereadores, e não servir somente de instância de</p><p>referendo das propostas da Prefeitura.</p><p>É importante ressaltar que o processo legislativo segue um regimento</p><p>interno, que determina as regras e os prazos para cada etapa, além de exigir</p><p>quórum e maioria específicos para a aprovação das leis propostas. O quórum é</p><p>o número mínimo de membros presentes que são necessários para que uma</p><p>votação seja válida, ele pode variar de acordo com o tipo de votação que está</p><p>sendo realizada. Existem três tipos de votação: maioria simples ou relativa,</p><p>maioria absoluta e maiorias qualificadas.</p><p>6</p><p>A aprovação por maioria simples ou relativa exige apenas que a maioria</p><p>dos membros presentes vote a favor da proposta, isso significa que, se houver</p><p>30 membros presentes, a proposta é aprovada pela maioria formada, mesmo</p><p>que essa seja menor que metade dos presentes (15). Por outro lado, a</p><p>aprovação por maioria absoluta requer que mais da metade dos membros</p><p>presentes votem a favor da proposta, portanto, havendo 30 presentes, serão</p><p>necessários pelo menos 16 votos a favor para aprovar a proposta. Quanto às</p><p>maiorias qualificadas, elas representam conjuntos diferenciados de maioria, que</p><p>podem ser de 2/3, 3/5, entre outros. Essas maiorias precisam ser estabelecidas</p><p>na Lei Orgânica Municipal e são exigidas para determinadas situações</p><p>específicas, como alteração na própria Lei Orgânica ou no Regimento Interno da</p><p>Câmara.</p><p>TEMA 3 – ESTRUTURA ADMINISTRATIVA MUNICIPAL</p><p>A estrutura administrativa municipal é um dos elementos fundamentais</p><p>para o funcionamento das cidades. Ela é composta pelos poderes executivo e</p><p>legislativo, que possuem estruturas organizacionais próprias para exercer suas</p><p>funções. A administração pública do município é caracterizada pela prestação</p><p>de serviços públicos e pela implementação das políticas públicas definidas pelo</p><p>Poder Legislativo. É importante ressaltar que a administração pública deve ser</p><p>pautada por princípios que a regem, que são fundamentais para garantir sua</p><p>efetividade e eficiência.</p><p>Um dos princípios que regem a administração pública é a legalidade. Esse</p><p>preceito determina que os atos da administração pública não sejam ilegais ou</p><p>arbitrários, ou seja, todas as ações do poder público devem estar em</p><p>conformidade com a legislação vigente. Outro princípio fundamental é a</p><p>impessoalidade, que determina que a administração pública deve tratar todos os</p><p>cidadãos de forma igualitária, sem discriminação ou privilégios, pautando suas</p><p>ações de forma imparcial e objetiva.</p><p>A moralidade é outro princípio que regula a administração pública. Essa</p><p>diretriz apregoa que os atos dos atores estatais sejam realizados de forma ética</p><p>e honesta, buscando sempre o interesse público e evitando comportamentos</p><p>imorais ou ilegais, isso inclui ações de combate à corrupção e a promoção da</p><p>transparência nas atividades governamentais. Atrelada a esse princípio, temos</p><p>também a publicidade dos atos da administração pública, que exige que todas</p><p>7</p><p>as informações referentes à administração pública sejam públicas e acessíveis</p><p>à população.</p><p>Englobando todos os princípios que norteiam a administração pública, se</p><p>tem a eficiência, que estabelece que o Poder Público deve buscar a maneira</p><p>mais efetiva de alcançar seus objetivos e metas, utilizando os recursos</p><p>disponíveis de forma racional e eficaz. Dessa forma, a administração pública</p><p>deve buscar sempre a otimização dos recursos e a melhoria contínua dos</p><p>serviços prestados à população.</p><p>Tendo em vista esses princípios, para atingir os seus objetivos, o Poder</p><p>Municipal possui na sua estrutura os órgãos da administração pública direta, que</p><p>consistem em instâncias integradas à estrutura administrativa do executivo e</p><p>legislativo, como o gabinete do Prefeito, os setores da Câmara de Vereadores,</p><p>as secretarias e os departamentos municipais, entre outros. Os órgãos da</p><p>administração pública direta podem ser classificados em dois tipos: os</p><p>monocráticos e os colegiados. Os órgãos monocráticos são aqueles vinculados</p><p>a apenas uma pessoa, como o gabinete do prefeito, as Secretarias ou a chefia</p><p>de setores da Câmara de Vereadores, que possuem uma finalidade mais</p><p>gerencial; já os órgãos colegiados são compostos por várias pessoas, são</p><p>instâncias como os conselhos, comitês, comissões e fóruns, que geralmente</p><p>possuem uma natureza plural e multidisciplinar, e possuem uma finalidade mais</p><p>assessora ou deliberativa.</p><p>Outro importante componente da organização municipal são as</p><p>organizações da administração pública indireta, compostas por entidades com</p><p>personalidade jurídica própria, vinculadas ao poder público. Esses órgãos</p><p>possuem autonomia administrativa e financeira, prestando serviços públicos à</p><p>população em áreas específicas. Dentre os principais exemplos da</p><p>administração pública indireta estão as Autarquias, que exercem um serviço</p><p>autônomo ao qual são delegadas atividades derivadas da administração direta.</p><p>Essas entidades têm uma estrutura própria, com pessoal e patrimônio próprios,</p><p>e estão voltadas para a execução de serviços públicos específicos, tais como</p><p>coleta de lixo, abastecimento de água, educação e pesquisa, organização do</p><p>transporte público, entre outros.</p><p>No rol de entidades da administração indireta figuram também as</p><p>Empresas Públicas, elas são dotadas de personalidade jurídica de direito</p><p>privado, e geralmente exploram alguma atividade econômica. De forma</p><p>8</p><p>semelhante, há as Empresas Públicas de Economia Mista, entidades dotadas de</p><p>personalidade jurídica de direito privado, com controle majoritário do poder</p><p>público. Essas empresas têm uma estrutura mista, envolvendo o capital público</p><p>e o privado. Essas organizações empresariais ligadas ao poder público têm</p><p>como objetivo atuar em áreas estratégicas, com maior autonomia e agilidade em</p><p>relação à administração pública direta. No âmbito municipal, não são muito</p><p>comuns, sendo mais frequentes na organização administrativas dos Estados e</p><p>da União. No conjunto de organizações da administração pública indireta,</p><p>existem ainda as Fundações, entidades com personalidade jurídica de direito</p><p>público ou privado, sem fins lucrativos. Elas têm como objetivo desenvolver</p><p>atividades culturais, científicas e educacionais em áreas específicas, sendo</p><p>controladas integralmente pelo poder público, sob a tutela do órgão ao qual se</p><p>vincula.</p><p>As autarquias, empresas públicas e fundações são exemplos de uma</p><p>administração pública tradicional, que se baseiam em um modelo</p><p>hierárquico</p><p>mais verticalizado, com uma estrutura burocrática mais rígida e com um foco</p><p>maior na legalidade. Nessas organizações, as decisões são centralizadas e as</p><p>ações são pautadas pelos procedimentos e normas estabelecidos, sem muita</p><p>flexibilidade para adaptações. Por outro lado, no final do século XX passa a</p><p>existir um movimento voltado para uma reforma administrativa do Estado,</p><p>propondo uma a nova gestão pública, baseada em princípios como eficiência,</p><p>efetividade e inovação, buscando aprimorar a gestão pública e torná-la mais ágil</p><p>e eficiente. Nesse modelo, a administração pública se organiza de forma mais</p><p>descentralizada, dando maior autonomia aos gestores e funcionários, além de</p><p>buscar uma maior aproximação com o cidadão.</p><p>Os principais expoentes da nova gestão pública são as agências</p><p>reguladoras, que são órgãos criados para regular e fiscalizar setores</p><p>estratégicos, como energia elétrica, telecomunicações, entre outros. Essas</p><p>agências têm autonomia para tomar decisões e são responsáveis por garantir</p><p>que as empresas do setor cumpram suas obrigações e prestem serviços de</p><p>qualidade. Neste âmbito administrativo, também adquirem maior evidência as</p><p>agências executivas, órgãos que possuem autonomia administrativa, financeira</p><p>e patrimonial, e são criadas para gerenciar projetos ou programas específicos do</p><p>governo, com maior flexibilidade e agilidade na tomada de decisões.</p><p>9</p><p>A nova administração pública passa a estabelecer mais parcerias com a</p><p>sociedade, por meio das organizações sociais (OS), as organizações da</p><p>sociedade civil de interesse público (OSCIPs) e as Organizações da Sociedade</p><p>Civil (OSC). Elas são entidades privadas sem fins lucrativos, que atuam em</p><p>parceria com o poder público na realização de projetos e programas de interesse</p><p>social. Elas possuem contrato de gestão com o poder público, que define as</p><p>metas e objetivos a serem alcançados, e recebem recursos públicos para a</p><p>realização dessas atividades.</p><p>TEMA 4 – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA</p><p>Na administração pública, um aspecto central e recorrente é o uso</p><p>adequado dos recursos estatais, considerando que eles precisam ir de encontro</p><p>com os anseios da população, e não podem ser tratados como bens privados.</p><p>Nesse contexto, ganha importância a temática da improbidade. Na raiz do</p><p>conceito, está o termo probo que significa pessoa íntegra, honesta; e a</p><p>improbidade, por sua vez, é a atividade da pessoa desonesta, contrária à</p><p>probidade. Quando aplicado à administração pública, o conceito se refere à</p><p>conduta desonesta dos servidores públicos, que deixam de zelar do patrimônio</p><p>público, negligenciando os recursos e até mesmo os desviando para benefício</p><p>próprio, utilizando indevidamente o poder que lhes foi.</p><p>No Brasil, a Lei n. 8.429 de 19923, conhecida como a Lei da Improbidade</p><p>Administrativa, estabelece as sanções para a prática desses atos, ela define três</p><p>categorias de atos de improbidade administrativa: enriquecimento ilícito, danos</p><p>ao erário e violação aos princípios da administração pública. Não são tipificadas</p><p>somente as ações, mas também são enquadradas as omissões dos servidores</p><p>públicos, eleitos ou de carreira, que que violem seus deveres, de acordo com o</p><p>que é apregoado pelos princípios da honestidade, imparcialidade e legalidade.</p><p>As sanções previstas na lei incluem perda da função pública, suspensão dos</p><p>direitos políticos, pagamento de multa civil e proibição de contratar com o poder</p><p>público. Além disso, a lei permite a aplicação de outras penalidades previstas em</p><p>legislação específica, como a cassação de mandato e a proibição de exercer</p><p>cargo público.</p><p>3 A referida Lei sofreu uma significativa alteração em 2021, por meio da Lei Nº 14.230, de 25 de</p><p>outubro, foram feitas muitas inclusões e alterações de texto, deste modo, é importante sempre</p><p>trabalhar com a versão mais recente, da publicação de Lei Nº 8.429 de 1992.</p><p>10</p><p>A administração pública é uma atividade essencial para o bom</p><p>funcionamento da sociedade, e a sua efetividade depende, em grande parte, da</p><p>honestidade e integridade dos seus gestores. Infelizmente, nem sempre é esse</p><p>o caso, e muitos prefeitos, vereadores e servidores são acusados de cometer</p><p>crimes no exercício de suas funções. Nesse contexto, é fundamental entender</p><p>as implicações legais dessas ações, em especial a prática de atos de</p><p>improbidade administrativa.</p><p>Os crimes cometidos por prefeitos e vereadores podem ser classificados</p><p>como crimes comuns e os crimes específicos de agentes públicos. Os primeiros</p><p>se referem aos delitos previstos no Código Penal Brasileiro, como corrupção</p><p>ativa e passiva, peculato, concussão, entre outros, já os segundos são aqueles</p><p>que apenas podem ser praticados por servidores públicos, como a prevaricação</p><p>e o excesso de poder. Além desses tipos de crimes, existem ainda as</p><p>contravenções penais, que são infrações de menor gravidade. No entanto,</p><p>mesmo essas ações podem configurar atos de improbidade administrativa, que</p><p>são punidos com sanções civis e administrativas, como a perda do cargo público</p><p>e a suspensão dos direitos políticos.</p><p>No que diz respeito aos crimes específicos de agentes públicos, é possível</p><p>destacar dois tipos principais: os funcionais e os de abuso de autoridade e</p><p>responsabilidade. Os crimes funcionais são aqueles cometidos por servidores</p><p>públicos que violam deveres inerentes ao seu cargo, como o descumprimento</p><p>de normas legais e regulamentares; os de abusos de autoridade e</p><p>responsabilidade, por sua vez, se referem a ações que excedem os limites do</p><p>poder conferido ao agente público, como o uso do cargo que ocupa para intimidar</p><p>ou coagir outrem, e a utilização de informações sigilosas em benefício próprio.</p><p>Dentre os crimes de improbidade administrativa, o enriquecimento ilícito</p><p>é uma das formas mais graves de corrupção, sendo incluídos nessa gama,</p><p>aqueles que auferem vantagens patrimoniais indevidas em razão do exercício</p><p>de cargo, mandato, função, emprego ou atividade de agente público. Segundo o</p><p>artigo 9º da Lei 8.429, de 1992, há pelo menos 12 tipos de atos que podem ser</p><p>classificados como enriquecimento ilícito, que vão desde receber alguma</p><p>vantagem econômica em função de algo relacionado à prerrogativa de seu</p><p>cargo, até a obtenção de bem que seja desproporcional à sua evolução</p><p>patrimonial ou à sua renda.</p><p>11</p><p>Ainda de acordo com a Lei da Improbidade Administrativa, há outros dois</p><p>grandes grupos de crimes, os de prejuízo ao erário e os de atentado aos</p><p>princípios da administração pública. O primeiro consiste em qualquer ação ou</p><p>omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,</p><p>malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades públicas, no</p><p>segundo grupo os crimes são caracterizados por qualquer ação ou omissão que</p><p>viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às</p><p>instituições.</p><p>No caso da improbidade por prejuízo ao erário, a Lei prevê ao menos 22</p><p>tipificações de condutas, entre elas o uso indevido de recursos públicos, a</p><p>celebração de contratos lesivos, o superfaturamento de obras públicas, a</p><p>aquisição de bens ou serviços sem licitação, o pagamento indevido de salários</p><p>e benefícios, entre outras. Em todas essas situações, há um prejuízo direto aos</p><p>cofres públicos, prejudicando a prestação de serviços e a execução das políticas.</p><p>No caso de improbidade por atentado aos princípios da administração pública,</p><p>as condutas violam os deveres éticos e morais dos agentes públicos, como a</p><p>corrupção, o nepotismo, o tráfico de influência, o favorecimento pessoal ou de</p><p>grupos, o uso da máquina pública para fins eleitorais, entre outros. Essas</p><p>condutas são especialmente graves porque corroem os valores fundamentais da</p><p>administração pública, como a transparência, a eficiência, a impessoalidade e a</p><p>moralidade.</p><p>Uma das ferramentas mais eficazes para a apuração de crimes de</p><p>improbidade administrativa,</p><p>principalmente quando se trata de políticos</p><p>envolvidos em atos ilícitos, são as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).</p><p>Elas possuem poderes de investigação próprios, podendo realizar apurações,</p><p>convocar testemunhas e solicitar documentos, observando o estabelecido no</p><p>Código de Processo Penal. Uma vez concluídas as investigações, as</p><p>descobertas e conclusões das CPIs são encaminhadas ao Ministério Público,</p><p>que é a instância responsável por encaminhar eventuais processos, visando à</p><p>condenação dos responsáveis pelos crimes de improbidade administrativa.</p><p>É importante ressaltar que, caso os parlamentares a quem caberia</p><p>implantar uma CPI estejam eles próprios comprometidos com os crimes, o</p><p>Ministério Público ou os órgãos policiais podem abrir investigações sobre esses</p><p>políticos. Devido ao foro privilegiado de agentes públicos detentores de mandato</p><p>eletivo, geralmente essas investigações correm em segredo de justiça, e são</p><p>12</p><p>analisadas por instâncias superiores do Poder Judiciário. Dessa forma, é</p><p>possível garantir que os responsáveis pelos crimes de improbidade</p><p>administrativa sejam punidos de acordo com a lei, mesmo que estejam ocupando</p><p>cargos de grande poder e influência. Com o trabalho conjunto do Poder</p><p>Legislativo, do Ministério Público, do Poder Judiciário e das forças policiais, é</p><p>possível garantir a responsabilização dos agentes públicos que atuam de forma</p><p>ilegal ou inapropriada no âmbito da administração pública.</p><p>TEMA 5 – PODER DE POLÍCIA</p><p>Uma das competências da gestão pública municipal é exercer o poder de</p><p>política administrativa, que consiste na fiscalização e regulação das atividades</p><p>realizadas pelos cidadãos no espaço urbano. Ele possui três atributos:</p><p>discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade. O primeiro deles trata</p><p>da possibilidade que a administração pública tem de escolher a melhor forma de</p><p>exercer seu poder de polícia, dentro dos limites legais. Em outras palavras, é a</p><p>liberdade de escolha da medida mais adequada para solucionar um problema.</p><p>Por exemplo, a prefeitura pode optar por multar um estabelecimento que esteja</p><p>em desacordo com as normas de segurança, ou pode decidir pela interdição do</p><p>local.</p><p>A autoexecutoriedade é a capacidade que a administração pública tem de</p><p>agir diretamente para garantir o cumprimento das normas, sem a necessidade</p><p>de uma ordem judicial prévia. Por exemplo, a prefeitura pode determinar a</p><p>demolição de uma construção irregular, sem precisar de uma autorização judicial</p><p>prévia. Por sua vez, a coercibilidade é a possibilidade de a administração pública</p><p>utilizar a força para fazer valer o seu poder de polícia, como ocorre nos casos</p><p>em que a prefeitura utiliza a força policial, para desocupar uma área invadida, ou</p><p>para fazer valer a interdição de um estabelecimento em situação irregular.</p><p>Existem diferentes tipos de Poder de Polícia da Administração pública municipal,</p><p>cada um voltado para um setor específico da sociedade:</p><p>• Polícia Sanitária: tem como objetivo garantir a saúde pública e evitar a</p><p>disseminação de doenças. É responsável pela fiscalização de</p><p>estabelecimentos que manipulam alimentos e medicamentos, pela análise</p><p>e controle da qualidade da água e pela vigilância epidemiológica.</p><p>13</p><p>• Polícia Edilícia: é responsável pela fiscalização de construções e obras,</p><p>tem como objetivo garantir que as edificações respeitem as normas</p><p>técnicas e legais, evitando riscos à segurança e à saúde dos ocupantes.</p><p>• Polícia de Meio Ambiente: visa proteger o meio ambiente e a qualidade</p><p>de vida da população, é responsável por fiscalizar atividades que possam</p><p>causar poluição, degradação ambiental ou afetar a fauna e a flora.</p><p>• Polícia de Costumes: tem como objetivo fiscalizar comportamentos e</p><p>atividades que possam ferir a moralidade pública e os bons costumes, se</p><p>responsabiliza pela fiscalização de casas noturnas, de eventos que</p><p>possam ferir a moral e a ética, entre outras atividades.</p><p>• Polícia de Trânsito: é responsável pela fiscalização do tráfego de veículos</p><p>e pedestres nas vias públicas, garantindo a segurança e a fluidez do</p><p>trânsito, atua na fiscalização de infrações de trânsito, na sinalização e</p><p>regulamentação de vias e no controle de acidentes.</p><p>• Polícia de Comércio: tem como objetivo fiscalizar e regular o comércio</p><p>local, garantindo a proteção do consumidor e a segurança dos produtos</p><p>comercializados, faz a fiscalização de estabelecimentos comerciais e a</p><p>regulação do comércio ambulante.</p><p>• Polícia de Atividades Urbanas: tem como objetivo fiscalizar e regular as</p><p>atividades urbanas, como a ocupação do espaço público, o uso do solo e</p><p>a gestão de resíduos sólidos. É responsável pela fiscalização de obras,</p><p>da gestão de espaços públicos, do saneamento básico, entre outras</p><p>atividades.</p><p>Cada tipo de Poder de Polícia tem sua competência específica, mas</p><p>ocorre dos agentes fiscais da prefeitura, exercerem duas ou mais funções, já que</p><p>a atuação conjunta em diferentes âmbitos da atividade urbana pode trazer um</p><p>resultado mais efetivo para a administração pública e para a sociedade como um</p><p>todo. É importante destacar que, embora a administração pública tenha esses</p><p>atributos, eles devem ser exercidos dentro dos limites legais da razoabilidade e</p><p>respeitando os direitos fundamentais dos cidadãos, permitindo a possibilidade</p><p>do contraditório. Qualquer abuso ou excesso no exercício do poder de polícia</p><p>pode ser passível de responsabilização da administração pública e dos agentes</p><p>públicos envolvidos.</p><p>Quanto ao poder de política da administração pública local, um importante</p><p>fator a se considerar é a constituição de guardas pelos municípios. Sua formação</p><p>14</p><p>é amparada pela Constituição Federal de 1988, que em seu Artigo 144,</p><p>parágrafo 6º, estabelece a possibilidade de os municípios constituírem suas</p><p>guardas municipais, a fim de protegerem seus bens, serviços e instalações,</p><p>conforme dispuser a lei. Essa possibilidade foi regulamentada pela Lei n. 13.022,</p><p>de 2014, também conhecida como a lei do Estatuto das Guardas Municipais, que</p><p>estabelece as diretrizes básicas e gerais para a criação e organização das</p><p>guardas municipais em todo o país.</p><p>Entre as principais diretrizes estabelecidas pela Lei do Estatuto das</p><p>Guardas, estão a proteção dos direitos humanos fundamentais, a utilização de</p><p>armas de fogo somente em casos excepcionais, o respeito à dignidade da</p><p>pessoa humana e aos direitos fundamentais, e a integração com os demais</p><p>órgãos de segurança pública. Além disso, a Lei do Estatuto das Guardas</p><p>Municipais também prevê que as guardas municipais devem desenvolver ações</p><p>preventivas, integradas com a comunidade e com os demais órgãos de</p><p>segurança pública, com o objetivo de garantir a ordem pública e a proteção da</p><p>vida, do patrimônio e do meio ambiente.</p><p>NA PRÁTICA</p><p>A administração pública municipal é responsável por gerir os serviços</p><p>públicos e atender às necessidades da população, nesse sentido, o Prefeito é o</p><p>gestor máximo da cidade e deve atuar de acordo com os princípios da</p><p>administração pública, que são a legalidade, impessoalidade, moralidade,</p><p>publicidade e eficiência. Além disso, o Prefeito deve observar a transparência</p><p>em sua atuação, prestando contas à sociedade sobre suas decisões e ações, e</p><p>respeitar o orçamento aprovado pela Câmara Municipal, aplicando os recursos</p><p>de forma responsável e eficiente. As responsabilidades diretas e indiretas do</p><p>Prefeito podem ser delegadas a outras pessoas ou instâncias, como assessores,</p><p>secretários e demais servidores. No entanto, o Prefeito é o responsável último</p><p>por todas as decisões e ações tomadas em sua gestão, devendo responder por</p><p>eventuais irregularidades ou falhas.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Nesta etapa, foram abordados diversos temas essenciais para a</p><p>compreensão do funcionamento da administração pública municipal.</p><p>15</p><p>Inicialmente foi feita uma análise dos poderes municipais, destacando a sua</p><p>divisão entre o Executivo e o Legislativo, e suas respectivas funções e</p><p>responsabilidades. Em seguida, foi contemplado o processo legislativo do</p><p>município, que envolve a elaboração, discussão e aprovação de leis, bem como,</p><p>a importância de envolver a sociedade no processo deliberativo. Posteriormente,</p><p>a estrutura administrativa municipal foi considerada, destacando a importância</p><p>da organização e divisão de competências entre as secretarias e demais órgãos</p><p>responsáveis por cada área da administração pública direta e indireta. Também</p><p>foi discutida a improbidade administrativa, que consiste em ações ou omissões</p><p>que violem os princípios da administração pública, como a honestidade e a</p><p>legalidade, podendo resultar em prejuízos ao erário e responsabilização dos</p><p>agentes públicos envolvidos. Ao final, o poder de polícia foi contemplado, sendo</p><p>possível verificar que ele é uma das principais atribuições da administração</p><p>pública municipal, e que se desdobra em diversas áreas, como a sanitária,</p><p>ambiental, de trânsito e de comércio. A compreensão desses temas é</p><p>fundamental para que a administração pública municipal possa atuar de forma</p><p>eficiente e eficaz, cumprindo sua missão de promover o bem-estar da sociedade</p><p>e o desenvolvimento do município.</p><p>16</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>BERNARDI, J. Organização Municipal e a Política Urbana. Curitiba:</p><p>InterSaberes, 2012.</p><p>CORBARI, C. C.; MACEDO, J. J. Controle Interno e Externo na</p><p>Administração Pública. Curitiba: InterSaberes, 2012.</p>