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<p>1</p><p>INTERCOM - 2000 - GT de Semiótica</p><p>Título: “O que é Semiótica Peirceana?”</p><p>Autor: Profª Ana Maria Guimarães Jorge (Profª. e Pesquisadora da Universidade de Taubaté</p><p>(UNITAU); Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia</p><p>Universidade Católica de São Paulo; Doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP; Integrante do</p><p>Grupo de Leituras Avançadas em Semiótica Peirceana, do Centro de Estudos Peirceanos, da PUC-SP)</p><p>O QUE É SEMIÓTICA1 PEIRCEANA?</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>“A semiótica peirceana é, antes de tudo, uma teoria sígnica do conhecimento,</p><p>que desenha, num diagrama lógico, a planta de uma nova fundação para se</p><p>repensar as eternas e imemoriais interrogações acerca da realidade e da</p><p>verdade” (SANTAELLA 1995: 118).</p><p>Como objetivo deste artigo, será delineada uma introdução acerca do papel da Semiótica</p><p>peirceana, bem assim de suas origens naturais, no universo dos sentimentos, das ações e dos</p><p>raciocínios. Para tanto, serão expostas algumas vertentes da obra de Charles Sanders Peirce</p><p>(1839-1914), partindo de definições menos conhecidas até chegar àquelas mais difundidas, como</p><p>as de ícone, de índice e de símbolo.</p><p>Cabe também ressaltar que, de acordo com o que esta presente oportunidade permite,</p><p>somente alguns aspectos da Semiótica peirceana podem ser aqui esboçados, pelo fato de que tanto</p><p>a amplitude quanto a complexidade dessa ciência2 haveriam de requerer um curso “strictu sensu”</p><p>para que toda a sua trama relacional fosse evidenciada. Do mesmo modo, não há, neste momento,</p><p>1 Do grego semeion, que significa “signo”, e sêma, traduzido por “sinal”, ou também “signo”.</p><p>A sigla NEM, o capítulo, o parágrafo e a data fazem referência à obra citada em seguida:</p><p>PEIRCE, Charles S (1976). The New Elements of Mathematics by Charles S. Peirce. Carolyn Eisele (ed.).</p><p>Berlin: Mouton.</p><p>A sigla CP, o volume, o parágrafo e a data fazem referência à obra citada em seguida:</p><p>PEIRCE, C. S (1931-1958). Collected Papers of Charles S. Peirce. C. Hartshorne, P. Weiss (eds.), v. 1-6, W.</p><p>Burks (ed.), v. 7-8. Cambridge: Harvard University Press.</p><p>As demais obras de comentaristas serão assim expostas: sobrenome do autor, data e página.</p><p>2 Santaella (1999: 304) vai esclarecer esse pressuposto teórico, sustentado pelo autor, nesta passagem: “... 3. A</p><p>Semiótica é o substrato indispensável “para uma análise profunda da natureza e gênese do método científico</p><p>(modos científicos do pensamento), acoplada a uma tentativa de levar os resultados dessa análise até todos os</p><p>cantos da diligência humana” (KETNER 1983: 63). 4. “Combinando uma teoria unificada da inferência com uma</p><p>teoria sígnica do conhecimento, Peirce foi capaz de montar uma teoria geral da cognição, e de localizá-la dentro</p><p>de uma teoria geral da explicação científica” (Esposito 1983: 12)””.</p><p>2</p><p>intenção de restringir a Semiótica a análises críticas de conteúdos da comunicação, e sim de</p><p>aclarar aspectos de sua trama teórica.</p><p>Por conseguinte, os conceitos aqui enunciados, tais como os de signo, de objeto, de</p><p>interpretante (que não é o mesmo que intérprete, como se costuma entender), sofrerão um recorte</p><p>teórico com fins analítico-descritivos para que suas estruturas sejam evidenciadas, entretanto eles</p><p>originariamente estão imersos num processo semiósico infinito. O mesmo pode ser dito da</p><p>focalização parcial do conceito de ícone, não sendo possível falar dos graus de iconicidade.</p><p>Historicamente há uma distinção entre uma semiótica avant a lettre, compreendendo todas</p><p>as investigações sobre a natureza dos signos, da significação e da comunicação na história das</p><p>ciências (NÖTH 1995: 20), e uma semiótica propriamente dita, sendo que a primeira é definida</p><p>como uma daquelas doutrinas dos signos que foram brotando ao longo dos séculos nas obras</p><p>filosóficas, mesmo sem ter recebido o nome de semiótica. A segunda tem seu surgimento no</p><p>campo da medicina, referindo-se às teorias dos signos que, a partir de John Locke3 (1632-1704),</p><p>em 1690, foram denominadas Semeiotiké, com variações silábicas.</p><p>No século XIX surgem os conceitos semióticos de Charles Sanders Peirce, que é</p><p>atualmente considerado “o mais importante dos fundadores da moderna semiótica geral” (NÖTH</p><p>1995: 9-10).</p><p>Peirce era físico e químico de formação e de profissão. Os estudos realizados pelo autor</p><p>em Lógica, em Matemática e em Filosofia se iniciaram na juventude e perduraram por toda a sua</p><p>vida. Sua dedicação resulta na estatura de um pensamento teórico e formal que, segundo Max</p><p>Fisch, só encontra precedente na obra de Aristóteles4, vindo a ser reconhecido, em 1877, como</p><p>um dos lógicos que, após o estagirita, maior contribuição somou àquela ciência (cf FISCH 1986:</p><p>33). A formação intelectual de Peirce foi dada a conhecer ao longo de sua obra e isso é o que se</p><p>pode evidenciar através do conteúdo de texto datado de 1897, em que o autor retoma antigos</p><p>questionamentos:</p><p>3 John Locke postula o termo Semiotiké na sua “doutrina dos signos”, sendo que, posteriormente, Johann Heinrich</p><p>Lambert (1728-1777), em 1764, foi um dos primeiros filósofos a escrever um tratado específico intitulado</p><p>“Semiotik” (NÖTH 1995: 20).</p><p>4 De uma forma geral, os temas centrais da obra do filósofo grego Aristóteles (384-322 a. C.) são a teoria da</p><p>abstração e do silogismo, os conceitos de ato e de potência, bem como os de forma e de matéria e os de substância</p><p>e de acidente, sendo que todas essas doutrinas embasam a criação da lógica formal e da ética (FERREIRA 1986:</p><p>164). Se considerarmos a Semiótica como uma ciência, no sentido moderno do termo, ela despontou no séc. XIX,</p><p>3</p><p>“... minha filosofia pode ser descrita como a tentativa de um físico de conjeturar sobre a</p><p>constituição do universo do modo como os métodos científicos podem permitir, com a ajuda</p><p>que vem sendo feita pelos filósofos que o precederam. Sustentarei minhas proposições nos</p><p>argumentos dos quais puder dispor. Não se deve pensar em prova demonstrativa, as</p><p>demonstrações dos metafísicos são meras aparências. O melhor que pode ser feito é</p><p>produzir uma hipótese não destituída de toda similitude, na linha geral do desenvolver-se</p><p>das idéias científicas, capaz de ser verificada ou refutada por futuros observadores” (CP</p><p>1.7 1897)5.</p><p>Em contrapartida, com intuito de obter subsídios para a compreensão dos métodos e dos</p><p>raciocínios empregados por uma inteligência científica, o autor dedica-se ao estudo de diversas</p><p>ciências, tal como a História e a Lógica da Ciência, bem como ao exercício da própria Matemática</p><p>- à medida que se contrapõe à idéia de reduzir os fundamentos dessa ciência aos da Lógica -, num</p><p>esforço de leitura desses universos, sob o viés de um pensamento habituado à reflexão filosófica.</p><p>Peirce sustenta que a Lógica, ou Semiótica, é essencialmente uma Ciência Normativa6,</p><p>apresentando o dualismo capaz de relacionar os fenômenos ao ser humano, de acordo com um</p><p>fim. No entanto, é a terceira ciência normativa cujo fim é o pensamento, sendo sua finalidade</p><p>última o estudo da formação de hábitos e de pensamentos afinados com o ideal lógico, regido pela</p><p>ética, e ambos os dois direcionados pelo ideal estético. Segundo as palavras de Lúcia Santaella</p><p>(1997: 105), “a tarefa da lógica, portanto, é cultivar a razão, levando-a o mais proximamente</p><p>na obra do cientista, lógico e filósofo C. S. Peirce, e no séc. XX, com o “Curso de Lingüística Geral”, do lingüista</p><p>genebrino Ferdinand de Saussure.</p><p>5 “... my philosophy may be described as the attempt of a physicist to make such conjecture as to the constitution of</p><p>the universe as the methods of science may permit, with the aid of all that has been done by previous</p><p>philosophers. I shall support my propositions by such arguments as I can. Demonstrative proof is not to be</p><p>thought of. The demonstrations</p><p>of the metaphysicians are all moonshine. The best that can be done is to supply a</p><p>hypothesis, not devoid of all likelihood, in the general line of growth of scientific ideas, and capable of being</p><p>verified or refuted by future observers” (CP 1.7 1897).</p><p>6 Na obra peirceana, as Ciências Normativas são em geral consideradas como ciências das leis de conformidade das</p><p>coisas com seus fins, dividindo-se em três: Estética, concebida num sentido muito mais vasto do que de uma</p><p>teoria do Belo, visando descobrir o que deve ser o ideal supremo da vida humana; Ética, investiga os fenômenos</p><p>cujos fins residem na ação, e o fim último é a justiça; o objeto da Lógica, como Semiótica, é o de representar</p><p>aquilo que a razão evidencia como seu Bem, tentando alcançá-lo como ao seu fim último (cf SILVEIRA 1997: 88-</p><p>89). Portanto, a Lógica é a terceira Ciência Normativa e intenta compreender como se dá a relação dos fenômenos</p><p>com o pensamento humano, objetivando o estudo da formação de hábitos e de pensamentos, coerente com o ideal</p><p>lógico, regido pela Ética, que responde ao ideal estético (summum bonum) (KENT 1987: 174).</p><p>4</p><p>possível para a razoabilidade, razão criativa, summum bonum da estética a ser atingido pelo</p><p>empenho ético”.</p><p>DESENVOLVIMENTO</p><p>Primeira pergunta: O que a Lógica tem que ver com a Semiótica?</p><p>Conforme diz Peirce, num sentido mais estreito, a ciência Lógica pretende refletir sobre as</p><p>condições necessárias para se chegar a conclusões verdadeiras, “seu desejo é o de compreender a</p><p>natureza do processo pelo qual se alcança o resultado” (CP 4.533 1905, apud PEIRCE 1996:</p><p>175); e a Lógica, enquanto Semiótica, requer considerar as condições da experiência de toda</p><p>inteligência em contínuo pensar. Peirce atribui à Semiótica um caráter essencialmente filosófico,</p><p>característica que a aproxima mais da Ética, do que da Matemática7, em termos do</p><p>desenvolvimento de sua formalização; entretanto, o objeto da Lógica, como Semiótica, é o de</p><p>representar aquilo que a razão evidencia como seu Bem, tentando alcançá-lo como ao seu fim</p><p>último (cf SILVEIRA 1997: 88-89).</p><p>Então, segundo essa definição, a Lógica é a ciência das condições necessárias para se</p><p>atingir a verdade, em sentido restrito; e num sentido mais amplo, é a ciência das leis necessárias do</p><p>pensamento, denominada Semiótica Geral, que trata não só da verdade, mas das condições gerais</p><p>dos signos como signos. Além dessas duas conceituações dadas, ela lida também com as</p><p>condições necessárias para a transmissão de significado de uma mente a outra e de um estado</p><p>mental para o outro (ver SANTAELLA 1997: 104).</p><p>Panorama Ilustrativo e Parcial da Evolução Cronológica do Conceito de Semiótica:</p><p>SEMIÓTICA GERAL 139-199 Conceito</p><p>Médico grego Galenum de</p><p>Pergamun</p><p>Primeiro estudo diagnóstico dos signos</p><p>das doenças.</p><p>Refere-se à diagnóstica como sendo “a</p><p>parte semiótica” (semeiotikón méros)</p><p>da medicina.</p><p>Séc. XVIII Conceito</p><p>Emprego do termo</p><p>sem(e)iologia como</p><p>alternativa ao de semiótica.</p><p>Foram incluídos três ramos de</p><p>investigação: a anamnéstica, estudo da</p><p>história médica do paciente; a</p><p>O termo adquire sentidos mais amplos</p><p>no contexto de uma semeiótica moralis.</p><p>7 As relações estabelecidas entre a Ética e os outros domínios da Filosofia, não estritamente relativos às questões</p><p>lógicas, possibilitam estudos direcionados à socialização do pensamento científico e filosófico, hipótese essa</p><p>desenvolvida por Peirce (SILVEIRA 1997: 88).</p><p>5</p><p>diagnóstica, estudo dos sintomas atuais</p><p>das doenças; a prognóstica, trata das</p><p>predições e das projeções do</p><p>desenvolvimento futuro das doenças.</p><p>Séc. XVII Conceito</p><p>John Wilkins (1614-1672) Um dos pioneiros do desenvolvimento</p><p>das idéias de criptografia, de</p><p>estenografia e de língua universal.</p><p>No livro “Mercury: or the Secret and</p><p>Swift Messenger”, de 1641, o termo</p><p>semaeologia é utilizado para designar</p><p>uma linguagem secreta por senhas ou</p><p>gestos.</p><p>1625 Conceito</p><p>Tratado “Scipio Claramonti”,</p><p>seguido por Christian Wolff</p><p>(1679-1754), semioticista,</p><p>discípulo de Leibniz (1646-</p><p>1717)..</p><p>Definição de signo com está</p><p>fundamentado na tradição dos</p><p>escoláticos (ver Abbagnano 1982: 344-</p><p>345).</p><p>Postulação de uma disciplina que</p><p>investigaria “o conhecimento dos</p><p>homens”.</p><p>Séc. XVII e XVIII Conceito</p><p>Semântica e Semasiologia,</p><p>que hoje se referem ao estudo</p><p>das significações, na</p><p>lingüística.</p><p>John Spencer - “A Discourse</p><p>Concerning Prodigies”, 1665: sentidos</p><p>semióticos mais gerais.</p><p>Refere-se à “Semantick Philosophy”</p><p>como sendo o estudo das previsões do</p><p>futuro por senhas.</p><p>Séc. XVII e XVIII Conceito</p><p>Sematologia e Semalogia George Dalgarno, na obra “Ars</p><p>Signorum”, de 1661.</p><p>Benjamin Humphrey Smart, em 1831.</p><p>Karl Bühler, o semioticista que</p><p>influenciou a obra de Roman Jakobson,</p><p>em 1834.</p><p>Refere-se à teoria geral dos signos, ou</p><p>no sentido adotado por Dalgarno: a</p><p>doutrina dos signos artificiais.</p><p>Semiologia Filosófo alemão, Johannes Schulteus,</p><p>na obra Semeiologia Metaphysiké, em</p><p>1659.</p><p>Trata de uma doutrina geral do signo e</p><p>do significado.</p><p>Séc. XIX Conceito</p><p>Semiotics, na forma plural</p><p>em inglês, ou Semeiotic.</p><p>Charles Sanders Peirce (1839-1914) usa</p><p>o termo Semeiotic, ou mesmo</p><p>semeiotic, semiotic, ou semeotic.</p><p>Lógica ou Semiótica: doutrina dos</p><p>signos cujo fim é o de representar</p><p>alguma coisa.</p><p>6</p><p>Charles Morris (1901-1979) usa a</p><p>forma singular semiotic.</p><p>Na mesma época de Saussure, o</p><p>cientista (matemático, biólogo,</p><p>astrônomo, químico, filósofo, lógico...)</p><p>Charles Sanders Peirce desenvolve uma</p><p>teoria geral dos signos, a Semiótica</p><p>(Semeiotic) cuja função é a de trabalhar</p><p>com os signos verbais (lingüísticos) e</p><p>não-verbais (imagens, sentimentos...).</p><p>Peirce afirma que a primeira instância</p><p>de um trabalho filosófico é a</p><p>Fenomenologia, à medida que a pessoa</p><p>deve observar os fenômenos e analisá-</p><p>los, com isso gerando teorias ou</p><p>impressões sobre o fato observado.</p><p>Obs: A Associação Internacional de Semiótica, em 1969, por iniciativa de Roman Jakobson, adota a semiótica</p><p>como termo geral do território de investigações nas tradições da semiologia e da semiótica geral.</p><p>Pela sua amplitude característica enquanto ciência, a Semiótica possui ainda outras</p><p>definições, entretanto é somente possível pensá-la em toda a sua acepção se houver como</p><p>pressupostos os universos teóricos da Fenomenologia, com as categorias de Primeiridade, de</p><p>Segundidade e de Terceiridade; os da Teoria da Percepção, com os componentes: percipuum,</p><p>percepto e julgamento de percepção; e os da Metafísica, com os elementos da Possibilidade, da</p><p>Presentidade, ou Factualidade, e da Necessidade.</p><p>É importante que se aponte que todas as teorias da percepção já conhecidas, tanto em</p><p>filosofia quanto na psicologia, são estabelecidas sobre idéias binárias, ou melhor, sobre “o binômio</p><p>de (1) sujeito que percebe e (2) um objeto percebido” (SANTAELLA e NÖTH 1999: 74).</p><p>Segundo se pode definir, a semiótica peirceana, “concebida como lógica num sentido</p><p>amplo, é o estudo da natureza e da função dos signos, o que são e como operam os signos e,</p><p>através deles, como opera o próprio pensamento” (SANTAELLA e NÖTH 1999: 74). Assim,</p><p>essa ciência somente poderia estar estruturada sobre uma lógica ternária, sendo que o mesmo se</p><p>dá com a teoria da percepção peirceana, também construída dentro desse modelo triádico, o que</p><p>permite esclarecer o papel desempenhado pela percepção nos processos cognitivos.</p><p>7</p><p>Quadro Peirceano de Classificação das Ciências: 1. Matemática</p><p>2 Filosofia</p><p>2.1 Fenomenologia</p><p>2.2 Ciências Normativas</p><p>2.2.1 Estética</p><p>2.2.2 Ética</p><p>2.2.3 Lógica ou Semiótica</p><p>2.2.3.1 Gramática Especulativa</p><p>2.2.3.2 Lógica Crítica</p><p>2.2.3.3 Retórica Especulativa ou Metodêutica</p><p>2.3 Metafísica</p><p>3. Ciências Especiais</p><p>A Semiótica nasce no interior da Fenomenologia, cuja estrutura fundamenta toda a ciência</p><p>Semiótica, ampliando a noção peirceana de signo, que está embasada nas três categorias básicas:</p><p>Primeiridade, Segundidade e Terceiridade. Peirce afirma que a Lógica é que irá lançar seus elementos</p><p>na</p><p>Fenomenologia, sendo que a Fenomenologia prescinde de uma lógica que valide seus argumentos, portanto</p><p>está mais afeita à Matemática cujo caráter é puramente hipotético (CP 5.40 1903). A Fenomenologia não</p><p>tem o compromisso de afirmar nada verdadeiro, portanto não depende da Lógica. Não faz afirmações</p><p>categóricas, mas o inventário do que aparece.</p><p>A Metafísica é entendida como terceira grande divisão da Filosofia, pois estuda os fenômenos no</p><p>âmago da Terceiridade, bem como faz mediação entre as duas primeiras divisões, a saber: a</p><p>Fenomenologia, em sua Primeiridade, que escrutiniza os elementos fenomênicos indecomponíveis e gerais,</p><p>possibilitando a construção de conceitos; as Ciências Normativas, em sua Segundidade, que investigam a</p><p>respeito de como deve reagir a mente aos impactos dos fenômenos frente ao ideal supremo da Estética</p><p>(summum bonum). Por sua vez, a Metafísica indaga sobre os traços gerais do que seja real. Peirce concebe,</p><p>destarte, uma Metafísica de cunho científico que seja fundamentada na experiência, cujos frutos teóricos</p><p>serão questionados e balizados por um posterior acordo advindo de uma comunidade científica.</p><p>Primeiridade</p><p>Segundidade na FENOMENOLOGIA</p><p>Terceiridade</p><p>“Fique entendido, então, que o que temos a fazer, como estudantes de fenomenologia, é simplesmente abrir</p><p>nossos olhos mentais e olhar bem para o fenômeno e dizer quais são as características que nele nunca estão</p><p>ausentes, seja aquele fenômeno algo que a experiência externa força sobre nossa atenção, ou seja, o mais</p><p>indômito dos sonhos ou mesmo a mais abstrata e geral das conclusões da ciência” (CP 5.41 1903).</p><p>8</p><p>“A terceira faculdade de que necessitamos é o poder generalizador do matemático, que produz a fórmula</p><p>abstrata que compreende a essência mesma da característica sob exame, depurada de todas as misturas e</p><p>dos acessórios estranhos e irrelevantes” (CP 5.42 1903)8.</p><p>na METAFÍSICA</p><p>Primeiridade: o possível é geral e não marcado pela existência; é uma potencialidade.</p><p>Segundidade: é a categoria do descontínuo, da existência.</p><p>Terceiridade: há regularidade e permanência, os objetos existentes permanecem objeto.</p><p>- Esquema Peirceano Triádico de qualquer Percepção:</p><p>1 2</p><p>Percipuum Percepto</p><p>3Julg. Perceptivo</p><p>1. percepto: refere-se àquilo comumente chamado de estímulo, o que se apresenta para ser percebido -</p><p>insiste sobre nossos sentidos e nada professa.</p><p>2. percipuum: refere-se ao modo como o percepto é filtrado pelos sentidos, adquirindo características</p><p>próprias ao sistema sensório do receptor - tudo o que nos atinge é imediatamente interpretado no</p><p>julgamento perceptivo como percipuum (CP 7. 643). O percepto é traduzido na forma e de acordo com</p><p>o limite imposto pelos órgãos sensores. Não é deliberado e não pode ser autocontrolado.</p><p>3. Julgamento de Percepção: refere-se ao modo como o percipuum é imediatamente colhido e absorvido</p><p>nos esquemas mentais interpretativos de que o receptor está dotado.</p><p>Em toda percepção há três elementos: o percepto ou o objeto, verdadeira coisa em si mesma, que independe</p><p>daquilo que dele se possa pensar devido à sua existência e à sua insistência sobre os sentidos, embora nada</p><p>professe; o percipuum ou o modo como o percepto, captado pelos órgãos sensoriais, é imediatamente</p><p>8 Grifo nosso. “... Be it understood, then, that what we have to do, as students of phenomenology, is simply to open</p><p>our mental eyes and look well at the phenomenon and say what are the characteristics that are never wanting in it,</p><p>whether that phenomenon be something that outward experience forces upon our attention, or whether it be the</p><p>wildest of dreams, or whether it be the most abstract and general of the conclusions of science” (CP 5.41 1903).</p><p>“The third faculty we shall need is the generalizing power of the mathematician who produces the abstract formula</p><p>that comprehends the very essence of the feature under examination purified from all admixture of extraneous and</p><p>irrelevant accompaniments” (CP 5.42 1903).</p><p>9</p><p>interpretado no julgamento de percepção; e o julgamento de percepção, que corresponde a uma espécie de</p><p>proposição ao nos informar sobre aquilo que está sendo percebido (CP 7.642-643 1903).</p><p>Segundo Peirce, sua lista de categorias difere, por exemplo, da de Kant e de Hegel pelo</p><p>fato de ser mais ampla do que a deles, que se utilizaram de concepções já trabalhadas e</p><p>disponíveis, limitando-se à sua seleção; portanto, todo o empenho peirceano foi retornar à</p><p>experiência, enquanto qualquer coisa que se força sobre a mente, examinando-a para formar</p><p>conceituações claras de suas classes de elementos, extremamente distintas, sem confiar em</p><p>qualquer sistema filosófico previamente constituído (CP 1.300 1894). Sobre a experiência, Peirce</p><p>vai dizer:</p><p>“A experiência é a nossa única mestra. Longe de mim enunciar qualquer doutrina de uma</p><p>tabula rasa. [...] não existe, manifestamente, uma gota de princípio em todo o vasto</p><p>reservatório da teoria científica socialmente aceita que tenha emergido de qualquer outra</p><p>fonte que não o poder da mente humana de originar idéias verdadeiras. Entretanto, esse</p><p>poder, por tudo que ele tem efetuado, é tão débil que, uma vez que as idéias fluem de suas</p><p>nascentes na alma, as verdades são quase afogadas em um oceano de falsas noções; e o que</p><p>a experiência gradualmente faz é, e por uma espécie de fracionamento, precipitar e filtrar as</p><p>falsas idéias, eliminando-as e deixando a verdade jorrar em sua corrente vigorosa” (CP</p><p>5.50 1903)9.</p><p>Essa tendência rumo à construção de uma Lógica consistente dos métodos das ciências</p><p>conduz o autor à intensa reflexão que faz defluir de si um esquema triádico e categorial, inter-</p><p>relacionado, que irá permear toda a sua obra, em seus diversos níveis (1865-67). Tal relação</p><p>triádica logo pode ser notada na esfera dos primeiros fundamentos de uma hipótese sígnica do</p><p>conhecimento (1868), em que o caráter sígnico do pensamento - acrescido da visão pansemiótica</p><p>de universo como signo (NÖTH 1995: 63) - faz entrever a teoria de que todo signo e todo</p><p>9 “Experience is our only teacher. Far be it from me to enunciate any doctrine of a tabula rasa. [...] there manifestly</p><p>is not one drop of principle in the whole vast reservoir of established scientific theory that has sprung from any</p><p>other source than the power of the human mind to originate ideas that are true. But this power, for all it has</p><p>accomplished, is so feeble that as ideas flow from their springs in the soul, the truths are almost drowned in a</p><p>flood of false notions; and that which experience does is gradually, and by a sort of fractionation, to precipitate</p><p>and filter off the false ideas, eliminating them and letting the truth pour on in its mighty current” (CP 5.50 1903).</p><p>10</p><p>pensamento são dialógicos. O autor enfatiza que “o mundo inteiro está permeado de signos” (CP</p><p>5.448) e que “o fato de que toda idéia é um signo junto ao fato de que a vida é uma série de</p><p>idéias prova que o homem é um signo” (CP 5.314 1868). Nesta passagem ele deixa claro o que</p><p>está acima enunciado:</p><p>“O homem denota qualquer objeto de sua atenção num dado momento. Conota o que</p><p>conhece ou sente sobre o objeto e é também a encarnação desta forma ou espécie inteligível;</p><p>o seu interpretante é a memória futura dessa cognição, o seu ‘eu’ futuro ou uma outra</p><p>pessoa à qual se dirige, ou uma frase que escreve, ou um filho que tem” (CP 7.591 1867)10.</p><p>Apesar de não haver espaço ou tempo para expor todas as divisões e subdivisões dessa</p><p>ciência, é importante dizer que a Semiótica se encontra dividida em Gramática Especulativa,</p><p>Lógica Crítica e Retórica Especulativa (CP 2.229 1897), sendo a primeira delas aquele ramo que</p><p>indaga sobre os caracteres sígnicos para que estes possam incorporar significado; a Lógica crítica,</p><p>ou ciência formal das condições de verdade das representações, trata da correspondência dos</p><p>signos com seus objetos; e a Retórica Pura, ou Metodêutica, trabalha</p><p>com os tipos gerais de</p><p>processos dinâmicos do signo, ou melhor, é o estudo das condições necessárias à transmissão de</p><p>significação por signos de uma mente a outra, ou de um estado mental a outro (CP 2.107 1902;</p><p>2.229 1897; 8.342 1904/1908 ).</p><p>Muitas das classificações peirceanas estão organizadas em níveis distintos, a saber: de três,</p><p>dez, vinte e oito e sessenta e seis classes de signos (ou sistemas de relações). Elas são elaboradas a</p><p>partir de 1867 (CP 1.545-567 1867 a 1893), indo até 1908 (CP 8.363). Peirce formula tríades que</p><p>se referem, por exemplo, ao signo em si, à relação do signo com o objeto dinâmico e à relação do</p><p>signo com o interpretante. Santaella vai dizer quanto à característica da tipologia peirceana dos</p><p>signos:</p><p>“... é preciso sublinhar que a tipologia peirceana dos signos não é uma classificação</p><p>aristotélica, no sentido de que cada signo pertence a uma só classe dessa tipologia. O que</p><p>10 “A man denotes whatever is the object of his attention at the moment; he connotes whatever he knows or feels of</p><p>this object, and is the incarnation of this form or intelligible species; his interpretant is the future memory of this</p><p>11</p><p>Peirce descreve não são classes aristotélicas de signos, mas aspectos de signos. Por isso,</p><p>um mesmo signo pode ser considerado sob vários aspectos e submetido a diversas</p><p>classificações” (ver em NÖTH 1995: 11).</p><p>Segunda Pergunta: Como definir o conceito de signo e o de semiose? Qual a relação entre eles?</p><p>SIGNO</p><p>De acordo com os princípios peirceanos, estão inclusos na conceituação de signo qualquer</p><p>grito gutural, pintura, diagrama, memória, imaginação, conceito, palavra, que esteja no universo</p><p>físico ou na dimensão do pensamento, corporificando idéia de qualquer tipo, permitindo-se</p><p>acompanhar de propósitos e de sentimentos, essa relacionada a algo existente, ou a eventos</p><p>futuros.</p><p>Em sua mais ampla acepção, por conseguinte, signo é “qualquer coisa que, sendo</p><p>determinada por um objeto, determina por sua parte uma interpretação desta determinação pelo</p><p>mesmo objeto” (CP 4.531 1906), ou segundo outra definição:</p><p>“um signo intenta representar, ao menos em parte um objeto que é, então, num certo</p><p>sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo que o signo represente o objeto</p><p>falsamente. Entretanto, dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente</p><p>de tal modo que, de certa maneira, determine, naquela mente, algo que é mediatamente</p><p>próprio ao objeto. Essa determinação da qual a causa imediata ou determinante é o signo e</p><p>da qual a causa mediada é o objeto pode ser chamada de interpretante”(CP 6.347 1908)11.</p><p>1</p><p>SIGNO (representa o objeto de forma imediata)</p><p>cognition, his future self, or another person he addresses, or a sentence he writes, or a child he gets” (CP 7.591</p><p>1867).</p><p>11 “a sign endeavours to represent, in part at least, an Object, which is therefore in a sense the cause, or</p><p>determinant, of the sign even if the sign represents its object falsely. But to say that it represents its Object implies</p><p>that it affects a mind, and so affects it as, in some respect, to determine in that mind something that is mediately</p><p>12</p><p>2 3</p><p>OBJETO INTERPRETANTE</p><p>(determina o signo de forma mediada) (é a determinação na mente de algo que é</p><p>mediatamente próprio ao objeto)</p><p>• Ícone, índice, símbolo como três modos de funcionamento do signo, divisão fundada nas distinções</p><p>tripartites da sua fenomenologia ou das três categorias, que constam do ensaio de 1867, “Por uma Nova</p><p>Lista de Categorias”.</p><p>• Ícone: tem dentro de si um caráter significativo, independentemente da existência ou não de seu objeto.</p><p>Índice: signo cuja virtude é a mera existência presente conectada com uma outra cuja função é chamar a</p><p>atenção do intérprete para essa conexão.</p><p>Símbolo: signo cuja virtude é a generalidade da lei, regra, hábito ou convenção que lhe é comum.</p><p>Peirce afirma que “podemos tomar signo num sentido tão largo a ponto de seu</p><p>interpretante não ser um pensamento, mas uma ação ou experiência, ou podemos mesmo alargar</p><p>tanto o significado de signo a ponto de seu interpretante ser uma mera qualidade de sentimento”</p><p>(CP 8.332 1904).</p><p>Como afirma Peirce, há uma tríade extremamente importante que se refere aos três tipos</p><p>de signos indispensáveis ao raciocínio, é o que pode ser esclarecido nesta passagem: “Realmente,</p><p>uma representação necessariamente envolve uma tríade genuína. Pois envolve um signo, [...],</p><p>mediando entre um objeto e um pensamento interpretador” (CP 1.480 1896).</p><p>SEMIOSE</p><p>Segundo o autor, Kant foi o primeiro filósofo a observar, na lógica analítica, a existência</p><p>de distinções tricotômicas (CP 1.369 1885). Peirce afirma que a existência de três classes de</p><p>signos se justifica pela conexão tripla de signo, de coisa significada e de cognição produzida na</p><p>mente, é o que sustenta o autor quanto ao conceito de semiose:</p><p>due to the Object. That determination of which the immediate cause, or determinant, is the Sign, and of which the</p><p>mediate cause is the Object may be termed the Interpretant” (CP 6.347 1908).</p><p>13</p><p>“...por semiose eu quero dizer, ao contrário, uma ação, ou uma influência, a qual é, ou</p><p>envolve, uma cooperação entre três sujeitos, tal como um signo, seu objeto, e seu</p><p>interpretante, essa influência tri-relativa não é de qualquer forma reduzível em ações entre</p><p>pares. Semeiosis, no período grego ou romano, à época de Cícero já, se bem que me</p><p>recordo, significava a ação de praticamente qualquer espécie de signos; e a minha definição</p><p>confere a tudo o que assim se comportar a denominação de “signo”” (CP 5.484 1907)12.</p><p>Para que seja compreendida a definição conceitual do termo objeto, utilizado por Peirce</p><p>como fundamento principal e inicial do processo de semiose - cuja existência real enquanto</p><p>fenômeno poderia ser melhor entendida ao se lançar o olhar para a inter-relação entre as acepções</p><p>metafísicas de possibilidade, de presentidade, e de necessidade -, sua definição pode ser vista sob</p><p>três escalas de um mesmo processo:</p><p>- o objeto é aquilo sobre o qual um esforço é desempenhado, estando, portanto, acoplado a algo</p><p>numa relação;</p><p>- a existência do objeto provoca a reação de uma mente, à medida em que tal criação se torna</p><p>aquilo para o qual a cognição se dirige;</p><p>- à medida que o objeto se encontra acoplado a algo numa relação, ele é representado como</p><p>estando assim acoplado (CP 2.230-311; ver SANTAELLA 1995: 45-82).</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>A correlação do signo, do objeto, e do interpretante corresponde àquela da representação,</p><p>da alteridade, e da idéia, o que equivale dizer, segundo a concepção peirceana, que tais elementos</p><p>são efetivamente correlatos de unidade; por exemplo, imanência e alteridade; idéia e factualidade;</p><p>sujeito e objeto, compartilhando com a lei, com o hábito geral de conduta, e com a concepção de</p><p>semiose (SILVEIRA 1989: 74-75).</p><p>Peirce contesta as noções logocêntricas acerca da concepção de consciência, definindo-a</p><p>como lugar de passagem de um signo a outro, à medida que o processo de mediação entre um</p><p>12 “But by "semiosis" I mean, on the contrary, an action, or influence, which is, or involves, a coöperation of three</p><p>subjects, such as a sign, its object, and its interpretant, this tri-relative influence not being in any way resolvable</p><p>into actions between pairs”. {Sémeiösis} in Greek of the Roman period, as early as Cicero's time, if I remember</p><p>rightly, meant the action of almost any kind of sign; and my definition confers on anything that so acts the title of</p><p>a "sign.")(CP 5.484 1907).</p><p>14</p><p>signo e outro é feito pelo próprio homem.</p><p>Com isso, reitera que a consciência está no homem, mas</p><p>não é o homem em sua totalidade (CP 7.580 1866). Ele irá enfatizar que considera o conceito de</p><p>pensamento como tradução, ou seja, uma cadeia de signos que se mostra numa semiose, ao passo</p><p>que a ação do signo é a ação de ser interpretado em um outro signo e isso é semiose. A semiose é</p><p>o processo no qual o signo tem um efeito cognitivo sobre o intérprete (CP 5.484 1907). Ainda,</p><p>“...assim como dizemos que um corpo está em movimento, e não que o movimento está em um</p><p>corpo devemos dizer que estamos em pensamento e não que os pensamentos estão em nós” (CP</p><p>5.289 1868; apud PEIRCE 1996: 272).</p><p>De acordo com o autor, a Lógica é a ciência das condições necessárias para alcançar a</p><p>verdade, numa acepção mais delimitada; assim como, é a ciência das leis necessárias do</p><p>pensamento - ou Semiótica Geral -, pelo fato de trabalhar com as condições gerais dos signos, eles</p><p>mesmos. Nesse contexto, sua extensão teórica possibilita desenvolver estudos sobre as condições</p><p>indispensáveis para a transmissão de significado entre diferentes estados mentais (CP 1.444 1896)</p><p>e de uma mente a outra. Nas palavras do autor, a Semiótica12 é uma ciência formal e quase</p><p>necessária dirigida ao estudo ‘abstrato’ “de todos os possíveis tipos de signos, seus modos de</p><p>significação, de denotação e de informação, e o todo de seus comportamentos e propriedades, à</p><p>medida que não são acidentais” (apud SANTAELLA 1997: 104).</p><p>Peirce define a Lógica, em sentido geral, como uma denominação da Semiótica (NEM IV:</p><p>20), dando ênfase ao seu estado de uma quase necessária ou formal doutrina dos signos. Ao</p><p>afirmar que se trata de uma doutrina “quase necessária” ou formal, pretende significar que a</p><p>observação de caracteres dos signos, por processos de abstração, tem a possibilidade de levar a</p><p>enunciados eminentemente falíveis, conquanto não absolutamente necessários, em relação ao que</p><p>devem ser os caracteres de todos os signos empregados por uma inteligência “científica”, aquela</p><p>capaz de aprender com base na experiência (CP 2. 227 1897). A Semiótica peirceana tem</p><p>recebido, assim, redefinições de diversos estudiosos, dentre elas pode ser visto:</p><p>12 A Semiótica nasce no interior da Fenomenologia, cuja estrutura fundamenta toda a ciência Semiótica, ampliando</p><p>a noção peirceana de signo, que está embasada nas três categorias básicas: Primeiridade, Segundidade e</p><p>Terceiridade. Peirce afirma que a Lógica é que irá lançar seus elementos na Fenomenologia, sendo que a</p><p>Fenomenologia prescinde de uma lógica que valide seus argumentos, portanto está mais afeita à Matemática cujo</p><p>caráter é puramente hipotético (CP 5.40 1903) Assim, a Semiótica tem seus alicerces na Fenomenologia, que se</p><p>15</p><p>“A semiótica é a ciência geral dos signos. O seu objeto de investigação são os sistemas e</p><p>processos sígnicos na natureza e cultura. Trata-se, portanto, de um campo de estudo que</p><p>tem por objeto todos os tipos de signos, verbais, não-verbais e naturais, visando</p><p>compreender que natureza, propriedades e poderes de referência os signos têm, como eles se</p><p>estruturam em sistemas e processos, como funcionam, como são emitidos, produzidos,</p><p>utilizados, e que tipos de efeitos estão aptos a gerar nos receptores. Ora, antes de tudo, os</p><p>signos produzem mensagens, transmitem informações de um ponto a outro no espaço e no</p><p>tempo, sem o que os processos de cognição, de comunicação, de significação e de cultura</p><p>não seriam possíveis. Isso parece suficiente para nos dar uma idéia de abrangência do</p><p>campo da semiótica. No entanto, quando se leva o entendimento da expressão, sistemas de</p><p>signos tão longe quanto ela permite, o campo semiótico se alarga de uma forma tal que</p><p>chega a abraçar territórios à primeira vista insuspeitados” (NÖTH e SANTAELLA 1996:</p><p>77).</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</p><p>ABBAGNANO, Nicola (1982). Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou.</p><p>FERREIRA, A. B. H (1986). 2ª ed. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio</p><p>de Janeiro: Nova Fronteira.</p><p>FISCH, Max (1986). Peirce, Semeiotic, and Pragmatism. Essays by Max Fisch, Kenneth</p><p>Ketner e Christian J. W. Kloesel (eds.). Bloomington/Indianapolis: Indiana University</p><p>Press.</p><p>HEGENBERG, Leonidas (1995). Dicionário de Lógica. São Paulo: Editora Pedagógica e</p><p>Universitária (E.P.U.).</p><p>KENT, Berverly (1987). Charles S. Peirce: Logic and the Classification of the</p><p>Sciences. Montreal: McGill-Queen’s University Press.</p><p>expande no Pragmatismo, fundando a Metafísica. Foi concebida como uma doutrina formal de todos os tipos</p><p>possíveis de semioses (SANTAELLA 1992: 46).</p><p>16</p><p>LALANDE, André (1996). Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. São Paulo:</p><p>Martins Fontes.</p><p>NÖTH, Winfried (1995). Panorama da Semiótica - de Platão a Peirce. São Paulo:</p><p>Annablume.</p><p>PEIRCE, Charles S (1931-58). Collected Papers of Charles S. Peirce. C. Hartshorne, P.</p><p>Weiss (eds.), v. 1-6, e W. Burks (ed.), v. 7-8. Cambridge: Harvard University Press.</p><p>PEIRCE, Charles S (1976). The New Elements of Mathematics by Charles S. Peirce. Carolyn</p><p>Eisele (ed.). Berlin: Mouton.</p><p>PEIRCE, Charles S (1996) 2ª ed. Semiótica. São Paulo: Perspectiva.</p><p>SANTAELLA, Lúcia (1992). A Assinatura das Coisas - Peirce e a Literatura. Rio de</p><p>Janeiro: Imago.</p><p>SANTAELLA, Lúcia (1993a). A Percepção - Uma Teoria Semiótica. São Paulo:</p><p>Experimento.</p><p>SANTAELLA, Lúcia (1995). A Teoria Geral dos Signos - Semiose e Autogeração. São</p><p>Paulo: Ática.</p><p>SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried (1996). São Paulo:</p><p>SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried (1999). Semiótica. Série Bibliografia Comentada.</p><p>São Paulo: Experimento.</p><p>17</p><p>Artigos:</p><p>SANTAELLA, Maria Lúcia (1997). “Roteiro para a Leitura de Peirce”. v. 2. O Falar da</p><p>Linguagem, Série Linguagem. São Paulo: Lovise, pp. 93-114.</p><p>SANTAELLA, Maria Lúcia (1999). “A Semiótica Filosófica de C. S. Peirce”. nº 05.</p><p>Hypnoz. São Paulo: Educ, pp. 301-307.</p><p>SILVEIRA, Lauro Frederico B. da (1989). “Charles Sanders Peirce: Ciência Enquanto</p><p>Semiótica”. v. 12. Tras/Form/Ação. São Paulo: UNESP, pp. 71-84.</p><p>SILVEIRA, Lauro Frederico B. da (1991). “Na Origem está o Signo”. v. 14.</p><p>Tras/Form/Ação. São Paulo: UNESP, pp. 45-52.</p><p>SILVEIRA, Lauro Frederico B. da (1996). “A Iconicidade do Signo Lingüístico e</p><p>Algumas das suas Conseqüências”. v. 1. O Falar da Linguagem, Série Linguagem. São</p><p>Paulo: Lovise, pp. 35-52.</p><p>SILVEIRA, Lauro Frederico B. da (1997). “O Estatuto Semiótico das Construções</p><p>Diagramáticas”. Artigo inédito cedido pelo autor.</p><p>Outros Meios:</p><p>CD-ROM PAST MASTERS (1992). The Collected Papers of Charles Sanders Peirce.</p><p>Charlotterville: Intelex Corporation.</p>

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