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<p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>1</p><p>Métodos em Psicologia do</p><p>Desenvolvimento</p><p>Aspectos globais</p><p>NATUREZA DO PROCESSO INVESTIGATIVO</p><p>Neste capítulo abordaremos de uma forma relativamente breve algumas das</p><p>metodologias mais utilizadas pelos psicólogos do desenvolvimento para fazer</p><p>investigação e assim obterem os dados necessários á construção do conhecimento</p><p>acerca do desenvolvimento psicológico humano.</p><p>Quando nos referimos à investigação em Psicologia estamos de uma forma geral a</p><p>referirmo-nos à investigação científica, contudo, a investigação científica não é</p><p>estruturalmente diferente de qualquer outro tipo de investigação em outras áreas</p><p>da actividade humana. Um investigador começa por recolher factos, depois</p><p>formular palpites ou hipóteses acerca do que se está a passar, depois analisar as</p><p>pistas e os indícios, o que pode levar à recolha de informações adicionais, até que</p><p>um dos seus palpites ou hipóteses se revela correcto, isto é encaixa em todas ou</p><p>na maioria dos dados recolhidos. Desvendar os mistérios do desenvolvimento</p><p>humano é, em muitos aspectos, uma tarefa semelhante. Os investigadores deverão</p><p>observar cuidadosamente os seus sujeitos, estudar a informação recolhida e</p><p>depois tirar conclusões acerca de como as pessoas se desenvolvem do ponto de</p><p>vista psicológico.</p><p>Assim, neste capítulo, começaremos por tentar compreender porque os psicólogos</p><p>do desenvolvimento consideram absolutamente essencial reunir todos esses dados</p><p>e depois abordaremos alguns dos métodos de investigação mais utilizados</p><p>procurando analisar as vantagens e desvantagens de de cada um deles.</p><p>O método científico</p><p>O método científico é um conjunto de regras básicas de como se deve proceder a</p><p>fim de produzir conhecimento dito científico, quer seja este um novo conhecimento</p><p>quer seja este fruto de uma integração, correcção (evolução) ou uma expansão da</p><p>área de abrangência de conhecimentos pré-existentes. Na maioria das disciplinas</p><p>científicas o método científico seque um processo mais ou menos estandardizado</p><p>que consiste em começar por recolher dados (evidências empíricas verificáveis)</p><p>baseadas na observação, depois construir hipóteses que vão depois ser testadas</p><p>utilizando métodos específicos para a realidade que se está a estudar. Podemos</p><p>observar este processo mais em detalhe na figura seguinte.</p><p>O estudo do desenvolvimento psicológico é naturalmente realizado num</p><p>enquadramento mais geral que é a investigação científica que assenta no método</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>2</p><p>científico, isto porque a Psicologia há muito é reconhecida como uma ciência com</p><p>os seus métodos e objectos de estudos definidos de forma rigorosa. O método</p><p>científico é, na verdade, mais uma atitude face ao conhecimento e às formas como</p><p>pode ser obtido, do que um conjunto de procedimentos ou receitas que deverão ser</p><p>seguidos da mesma forma em todas as circunstâncias. Essa atitude que</p><p>poderemos designar como científica assenta no facto de que, acima de tudo, os</p><p>investigadores têm de ser objectivos e fazer com que sejam as suas observações</p><p>(os seus dados) a decidir do mérito das suas ideias. Os métodos são assim vias</p><p>pelas quais se procura dar resposta às perguntas que se formulam. As perguntas</p><p>podem resultar da observação da realidade ou de teorias pré-existentes e que se</p><p>revelaram insuficientes ou inadequadas para explicar novas observações. Contudo,</p><p>os dados da observação não são estudados directamente mas servem para gerar</p><p>hipóteses de resposta e são essas hipóteses que decidem qual o método mais</p><p>adequado a ser adoptado para obter os dados que nos vão permitir confirmar ou</p><p>não as hipóteses anteriormente elaboradas.</p><p>Vamos então estudar mais em pormenor os métodos mais utilizados na</p><p>investigação em Psicologia do desenvolvimento.</p><p>A Observação</p><p>A observação é um método largamente utilizado nas ciências para a obtenção de</p><p>dados que serão posteriormente analisados por outros métodos. Defendida por</p><p>Galileu como um dos elementos que proporcionariam um conhecimento fidedigno</p><p>do mundo, posteriormente também passou a ser também utilizada pelas ciências</p><p>humanas e sociais e podemos mesmo dizer que a observação é a base de toda</p><p>investigação em Psicologia. Enquanto método de recolha de dados, a observação é</p><p>versátil, e pode ser utilizada isolada e independentemente ou ser conjugada com</p><p>outros métodos.</p><p>O que distingue a simples observação quotidiana, daquela com uma finalidade</p><p>científica é que esta última está habitualmente enquadrada num projecto de</p><p>http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Metodo_cientifico.svg</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>3</p><p>investigação, possui um planeamento sistemático, método nos registros e</p><p>relaciona-se com proposições mais gerais, ou seja, não se apresenta como um</p><p>conjunto isolado de fenómenos, e sujeita-se às verificações e controles da</p><p>investigação (validade).</p><p>O uso da observação é especialmente indicado quando se procura identificar e</p><p>obter evidências e os indivíduos não possuem consciência dos factores que, de</p><p>alguma forma, orientam seu comportamento, sendo por isso que se trata de uma</p><p>metodologia especialmente útil em Psicologia do desenvolvimento pois os sujeitos</p><p>de estudo são muitas vezes crianças e bébés.</p><p>Antes de avançarmos na caracterização das várias formas em que observação</p><p>pode ser usada vejamos algumas vantagens e desvantagens associadas a esta</p><p>metodologia.</p><p>Vantagens: Desvantagens</p><p> Possibilita meios directos e</p><p>satisfatórios para se estudar uma</p><p>ampla variedade de</p><p>comportamentos.</p><p> O observado tende a criar</p><p>impressões favoráveis ou</p><p>desfavoráveis no observador;</p><p> Exige menos do observado do que</p><p>outras técnicas;</p><p> A presença do observador pode</p><p>alterar o comportamento/situação</p><p>observada;</p><p> Permite a recolha de dados sobre</p><p>um conjunto de comportamentos</p><p>típicos, e que dificilmente poderiam</p><p>ser estudados de outra forma;</p><p> Abrange somente os limites</p><p>temporais registados;</p><p> Permite a obtenção de dados que</p><p>poderiam não constar no roteiro de</p><p>outros métodos como a entrevista</p><p>ou o questionários;</p><p> Há grande risco de interferência de</p><p>factores imprevistos sobre o</p><p>observador;</p><p> Permite obter a informação no</p><p>momento e no espaço onde ocorre;</p><p> A duração dos acontecimentos varia,</p><p>e muitos factos podem ocorrer</p><p>simultaneamente, o que torna difícil</p><p>a recolha das informações;</p><p> Não depende do grau de instrução</p><p>do sujeito observado;</p><p> Exige muitas horas de análise e</p><p>transcrição das informações,</p><p>tornando-se onerosa;</p><p>Tabela 1 – Vantagens e desvantagens da observação.</p><p>Em Psicologia do desenvolvimento utilizam-se diversos tipos e modalidades de</p><p>observação que podem ser categorizadas de acordo com diversos critérios. A</p><p>tabela seguinte mostra uma forma possível de fazer essa categorização:</p><p>Quanto à estruturação</p><p>da observação</p><p>Quanto ao local da</p><p>observação</p><p>Quanto à acção do</p><p>observador no</p><p>processo</p><p>Quanto ao número de</p><p>observadores</p><p>Sistemática Vida real, campo ou</p><p>naturalista</p><p>Não participante Individual</p><p>Ocasional Laboratorial Participante Em equipe</p><p>Tabela 2 – Categorização das modalidades de observação.</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>4</p><p>OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA</p><p>A observação sistemática pode ser também chamada de estruturada, planeada ou</p><p>controlada. Aqui, o observador já sabe de antemão o que deseja observar, e deve</p><p>ser objetivo, procurando reconhecer e eliminar quaisquer erros que ocorram sobre</p><p>o que está sendo estudado.</p><p>São construídas categorias a priori para os comportamentos que serão observados,</p><p>e a definição dessas categorias leva à construção de grelhas de observação,</p><p>checklists ou outra forma objetiva de registo. Na imagem seguinte podemos</p><p>observar dois exemplos de checklists usadas na observação do comportamento</p><p>infantil.</p><p>Neste tipo de observação o observador limita-se</p><p>a preencher os instrumentos de</p><p>observação onde já estão definidos os comportamentos que vão ser observados e</p><p>registados.</p><p>OBSERVAÇÃO OCASIONAL</p><p>A observação ocasional, distingue-se da observação sistemática no sentido em que,</p><p>como o próprio nome indica, pode ser realizada sem qualquer tipo de planeamento</p><p>prévio. Pode acontecer na sequência de uma experiência casual, sem que se tenha</p><p>determinado de antemão quais são os aspectos relevantes a serem observados e</p><p>que meios utilizar para observá-los.</p><p>Apesar de, naturalmente, comportar o risco do envolvimento emocional do</p><p>observador podendo comprometer o rigor científico do trabalho, esta pode ser uma</p><p>metodologia a utilizar sempre que o investigador se depare com uma situação que</p><p>lhe pareça especialmente interessante e significativa.</p><p>OBSERVAÇÃO NATURALISTA</p><p>Um dos métodos de investigação mais utilizados em Psicologia do desenvolvimento</p><p>é a observação naturalista que consiste na observação e registo dos</p><p>comportamentos tal como ocorrem nos seus ambientes naturais. Os psicólogos</p><p>observam as pessoas nos ambientes que elas habitam quotidianamente, o que</p><p>Figura 2 – Exemplos de checklist usadas em observação do comportamento infantil.</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>5</p><p>geralmente significa entrar nas suas casas, escolas ou parques públicos e registar</p><p>o que acontece.</p><p>A enorme evolução técnica registada nos equipamentos de gravação audio e vídeo</p><p>tem facilitado enormemente a observação naturalista porque permite que a</p><p>observação seja feita não de forma directa e imediata, o que se pode revelar muito</p><p>difícil em algumas circunstâncias, mas de forma mediatizada pelos dispositivos</p><p>técnicos de registo audio e vídeo. Quer dizer, os investigadores começam por gravar</p><p>o que acontece na globalidade, sendo a selecção dos comportamentos mais</p><p>significactivos feita a posteriori a partir da gravação o que permite uma análise</p><p>mais rigorosa e completa.</p><p>Raramente o observador tenta registar todo e qualquer evento que ocorre, apesar</p><p>de que normalmente, o investigador está testando uma hipótese específica sobre</p><p>uma determinada classe de comportamento, como a cooperação ou agressão e</p><p>são os incidentes que se qualificam como exemplos do comportamento que ele vai</p><p>ter em conta a partir da análise dos registos efectuados.</p><p>A observação naturalista tem um conjunto de vantagens que podemos enunciar:</p><p> Permite ao investigador obter uma amostra de comportamentos tal qual</p><p>acontecem no mundo real.</p><p> O ambiente e a situação não são determinados pelo psicólogo. Não há</p><p>manipulação de variáveis, embora se pretenda controlar as variáveis não</p><p>relevantes para o que se pretende estudar. Tudo isto contribui para a</p><p>naturalidade da observação.</p><p> É de grande utilidade no estudo dos comportamentos difíceis de observar</p><p>em condições laboratoriais.</p><p> Pode ser utilizada em situações nos quais o método experimental (ou</p><p>outro) não é apropriado.</p><p>A observação naturalista comporta naturalmente também algumas desvantagens e</p><p>limitações.</p><p> As observações naturalistas são de muito difícil replicação.</p><p> O controlo das variáveis estranhas é reduzido, pelo que não se podem</p><p>estabelecer relações causa-efeito: – as conclusões são suposições.</p><p> Quando há só um observador – o que geralmente acontece – é difícil</p><p>verificar a autenticidade e fidelidade dos factos.</p><p> Se os participantes têm consciência de que estão a ser observados, o seu</p><p>comportamento será menos natural; se não sabem que estão a ser</p><p>observados e o seu comportamento não é público, podem colocar-se</p><p>problemas éticos que invalidam a observação (violação da privacidade).</p><p>Podemos concluir portanto que os comportamentos observados em situações</p><p>naturalistas estão fortemente ligados aos ambientes em que ocorrem e por isso</p><p>esta metodologia de observação tem sido especialmente utilizada em áreas da</p><p>Psicologia onde se pretende estudar precisamente essa ligação, como é o caso da</p><p>Psicologia ecológica.</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>6</p><p>OBSERVAÇÃO LABORATORIAL</p><p>A observação laboratorial distingue-se não tanto pela forma como é efectuada,</p><p>mas sim pelo local onde é realizada. Os investigadores observam e registam</p><p>comportamentos que ocorrem não em contexto natural, mas em situações</p><p>laboratorialmente criadas pelo observador de modo a poder analisar de forma</p><p>rigorosa as consequências de determinadas situações.</p><p>A lógica subjacente a esta abordagem está relacionada com a necessidade de</p><p>colocar todos os sujeitos exactamente nas mesmas condições pois só assim nos</p><p>podemos assegurar que quaisquer diferenças de comportamento entre eles podem</p><p>ser atribuídos a factores ligados ao sujeito e não a factores ligados aos estímulos</p><p>do ambiente. Vejamos um exemplo. Um investigador pretende estudar a influência</p><p>da idade na resolução de um determinado problema prático e para isso coloca</p><p>perante esse problema uma criança de dois anos em sua própria casa, uma</p><p>criança de três anos na sua sala do infantário, e a uma criança de 4 anos no seu</p><p>gabinete. Verifica que só a criança de quatro anos consegue resolver o problema. A</p><p>conclusão óbvia e imediata é que estamos perante um problema que só é resolvido</p><p>por crianças de quatro anos. Será que nestas circunstâncias podemos chegar a</p><p>essa conclusão? Não, porque, de um ponto de vista científico, nunca se poderá</p><p>saber se, por exemplo, o facto de a criança de três anos ter falhado a resolução do</p><p>problema de deve ao facto de não ter ainda idade para isso, ou se o seu insucesso</p><p>se deveu á falta de concentração devida ao ruído e outros estímulos na sala.</p><p>A observação laboratorial pode assumir a forma de Observação directa, situação</p><p>em que o observador compartilha o espaço do observado e interage com ele</p><p>directamente colocando-lhe questões, brincando com ele, etc., ou assumir a forma</p><p>de observação indirecta quando o observador utiliza dispositivos de observação</p><p>(espelho de visão num só sentido, gravação audio e vídeo, etc.)</p><p>Atenção que a noção de laboratório em Psicologia pode ser significativamente diferente da noção</p><p>estereotipada que temos de laboratório nas ciências naturais ou físico-químicas, que normalmente</p><p>sugere um local asséptico, cheio de aparelhagem estranha, de provetas, tubos e retortas, com cientistas</p><p>invariavelmente de bata branca observando culturas ao microscópio. Na verdade, em Psicologia</p><p>podemos considerar como laboratorial qualquer situação em que o investigador tem a possibilidade de</p><p>controlar aquilo que acontece em termos de estímulos exteriores.</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>7</p><p>Figura 4- Espelho de visão num só sentido.</p><p>A observação laboratorial tem como vantagem principal o facto de permitir um</p><p>melhor controlo das variáveis parasitas ou estranhas do que no caso da</p><p>observação naturalista, mas tem também algumas desvantagens ou limitações que</p><p>incluem:</p><p> Artificialidade da situação laboratorial.</p><p> Interferências subjectivas (expectativas do observador e do observado).</p><p>Assim, o investigador deve criar condições de não interferência nos</p><p>comportamentos observados, de forma a poder assegurar-se da fiabilidade das</p><p>suas observações.</p><p>OBSERVAÇÃO NÃO PARTICIPANTE.</p><p>A observação não participante é uma modalidade de observação em que o</p><p>observador não interfere no campo observado, isto é, nas actividades que observa.</p><p>É muito frequente o psicólogo observar sem ser visto (observação oculta). É o caso</p><p>de quem utiliza um espelho de visão num só sentido (figura anterior) para, por</p><p>exemplo, observar actividades de crianças num infantário. O psicólogo estuda</p><p>assim as actividades das crianças sem que elas disso se apercebam. A observação</p><p>não participante pode ser utilizada tanto em contextos de observação naturalista</p><p>como de observação laboratorial. Como já vimos, hoje em dia, a observação</p><p>não</p><p>participante pode ser realizada utilizando uma câmara de vídeo, escondida ou não.</p><p>OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE.</p><p>A observação participante: é um modo de observação em que o observador se</p><p>integra nas actividades dos sujeitos cujo comportamento observa, interferindo</p><p>assim no campo observado. Mas esta participação não deve prejudicar a</p><p>observação. Por isso, apesar do observador estar presente e se envolver nas</p><p>actividades dos sujeitos observados, estes não devem saber que estão a ser</p><p>objecto de estudo.</p><p>Também neste caso, há observação natural quando, em contexto ecológico, os</p><p>sujeitos observados são objecto de estudo sem saberem disso e não influenciados</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>8</p><p>pelos objectivos do observador, mas a observação participante também pode ser</p><p>utilizada em contexto laboratorial.</p><p>A entrevista</p><p>A entrevista psicológica é um processo bidirecional de interação, entre duas ou</p><p>mais pessoas com o propósito previamente fixado no qual uma delas, o</p><p>entrevistador, procura saber o que acontece com a outra, o entrevistado,</p><p>procurando agir conforme esse objectivo de conhecimento do outro. Trata-se assim</p><p>de uma forma de diálogo assimétrico em que uma das partes busca obter dados e</p><p>a outra se apresenta como fonte de informação.</p><p>Existem naturalmente tantos tipos de entrevistas como os objectivos que levam à</p><p>sua realização. Podemos assim falar de entrevistas diagnósticas,</p><p>psicoterapêuticas, de encaminhamento, de selecção profissional e de investigação</p><p>psicológica. É este último tipo de entrevista que nos interessa especialmente aqui.</p><p>A entrevista de investigação tem como objectivo recolher dados acerca dos sujeitos</p><p>entrevistados que permitam a fundamentação de teorias psicológicas.</p><p>Habitualmente em investigação são utilizados três tipos de entrevistas,</p><p>categorizadas a partir da forma como decorre a entrevista e como são</p><p>seleccionadas as perguntas colocadas ao entrevistado:</p><p> Entrevistas estruturada</p><p> Entrevista semi-estruturada e</p><p> Entrevista aberta.</p><p>Vejamos mais em pormenor cada um destes tipos.</p><p>ENTREVISTA ESTRUTURADA</p><p>Uma entrevista estruturada (também conhecida como uma entrevista fechada) é</p><p>um método habitualmente empregue em investigação quantitativa. Na sua forma</p><p>mais extrema este tipo de entrevista não se distingue de um questionário aplicado</p><p>presencialmente. Assim, neste tipo de entrevista existe um guião com perguntas</p><p>pré-definidas que são colocadas a todos os sujeitos segundo a mesma ordem.</p><p>O objectivo desta abordagem é garantir que as respostas possam ser agregadas de</p><p>forma confiável e que as comparações possam também ser feitas com confiança</p><p>entre subgrupos da amostra de sujeitos, ou entre os períodos de pesquisa</p><p>diferentes.</p><p>ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA</p><p>A entrevista semi-estruturada é um método de investigação utilizado nas ciências</p><p>sociais. Enquanto uma entrevista estruturada tem um conjunto de questões</p><p>pré-definidas, a entrevista semi-estruturada é mais flexível, permitindo que novas</p><p>questões possam ser colocadas durante a entrevista a partir do que diz o</p><p>entrevistado. Em vez de perguntas pré-definidas o entrevistador na entrevista semi-</p><p>estruturada tem geralmente tem um conjunto de temas a serem abordados.</p><p>Os temas ou tópicos específicos que o entrevistador quer abordar durante uma</p><p>entrevista semi-estruturada são geralmente pensados com bastante antecedência</p><p>(especialmente no que respeita a entrevistas para projectos de investigação).</p><p>Apesar de não haver perguntas pré-definidas, é geralmente benéfico para os</p><p>entrevistadores terem um guião de entrevista, preparado contendo os temas a</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>9</p><p>serem abordados. O entrevistador tem assim liberdade para decidir as questões</p><p>específicas de acordo com o tipo de entrevistado.</p><p>A existência de um guião destina-se a assegurar que os mesmos temas são</p><p>abordados com cada entrevistado.</p><p>ENTREVISTA NÃO ESTRUTURADA</p><p>Este tipo de entrevista é também muitas vezes designado como entrevista aberta.</p><p>Aqui, existe naturalmente um objectivo geral definido para a entrevista mas não</p><p>existem nem questões nem temas pré-definidos que tenham que ser abordados</p><p>numa entrevista em particular. O entrevistador vai colocando as questões que lhe</p><p>parecem mais pertinentes para cada sujeito, tendo em conta o assunto ou área</p><p>sobre o qual pretende obter informação. A regra aqui é que o entrevistador se vá</p><p>adaptando na medida do possível às características e prioridades do entrevistado.</p><p>O entrevistador coloca-se numa atitude de “ir com a corrente”, procurando sempre</p><p>adaptar-se à inteligência, compreensão ou preferências do entrevistado.</p><p>Vejamos agora algumas das vantagens e desvantagens da entrevista enquanto</p><p>método de investigação em Psicologia do Desenvolvimento. Assim, como vantagens</p><p>temos:</p><p> Permite a recolha de informação rica e com um bom grau de</p><p>profundidade, especialmente na entrevista não-estruturada em que o</p><p>investigador pode ir decidindo as questões a colocar dependendo da</p><p>informação que pretende obter;</p><p> Permite recolher os testemunhos, interpretações dos entrevistados,</p><p>respeitando os seus quadros de referência, a linguagem e as categorias</p><p>mentais (forma de classificação);</p><p> Permite ao investigador adaptar a sua linguagem aos conceitos e a</p><p>linguagem do entrevistado;</p><p> Permite ir redefinindo os aspectos que se pretendem investigar;</p><p> São flexíveis pois permitem verificar se ambos os intervenientes</p><p>compreendem o significado das palavras e explicar.</p><p>Vejamos agora as desvantagens.</p><p> Falta de motivação ou motivação excessiva por parte do entrevistado</p><p>que pode levar a problemas de fiabilidade das respostas (memorização,</p><p>fake-good);</p><p> Possibilidade de respostas falsas, quer conscientes quer inconscientes,</p><p>ou por o entrevistado não ter compreendido a pergunta;</p><p> Depende sempre da capacidade ou incapacidade que as pessoas têm</p><p>para verbalizar as suas próprias ideias;</p><p> O investigador pode, sem se dar conta disso, influenciar o entrevistado</p><p>dando-lhe a entender as respostas que pretende;</p><p> Consome muito tempo e é um método relativamente difícil de se</p><p>trabalhar;</p><p>Naturalmente estas vantagens e desvantagens variam de acordo com o tipo de</p><p>entrevista que se está a utilizar.</p><p>Estudos de caso</p><p>O estudo de caso é um método de investigação particularística em Psicologia do</p><p>desenvolvimento que procura descobrir o que há de mais essencial e característico</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>10</p><p>num caso, isto é, uma situação específica e concreta para seguidamente procurar</p><p>retirar conclusões que lhe permitam fundamentar hipóteses ou teorias. Definidas</p><p>as coisas desta forma é torna-se agora necessário definir o que se pode entender</p><p>por caso neste contexto. Assim, um caso é sempre uma entidade bem definida</p><p>podendo no concreto ser coisas tão diversas como um programa de intervenção,</p><p>uma instituição, uma sala de aula, um sistema educativo, uma pessoa, uma</p><p>entidade social, etc.. Aquilo que caracteriza um estudo de caso é ser uma</p><p>abordagem em que é privilegiada a profundidade em detrimento da generalidade.</p><p>Procura-se assim conhecer em profundidade os “como” e os “porquê” do objecto</p><p>de estudo, fazendo acima de tudo justiça à sua unidade e identidade próprias. Este</p><p>respeito pela natureza particular do objecto de estudo leva a que o estudo de caso</p><p>seja habitualmente utilizado no quadro da investigação qualitativa.</p><p>Dada a complexidade inerentes aos casos estudados esta metodologia é, ela</p><p>própria, também muito complexa, utilizando uma grande variedade de</p><p>instrumentos e estratégias (questionários, observação, entrevistas, pesquisa</p><p>documental, etc..) e implicando igualmente a recolha de diversos tipos de dados</p><p>(históricos, familiar, estatuto sócio-económico, dados escolares, resultados de</p><p>testes psicológicos, acontecimentos de vida, etc..). Os estudos de caso</p><p>habitualmente</p><p>têm essencialmente um profundo alcance analítico e um forte</p><p>cunho descritivo. Obviamente, sendo o estudo de caso uma metodologia científica</p><p>e sendo o conhecimento científico sempre referente ao geral e não ao particular,</p><p>este tipo de metodologia opta por estudar um caso particular quando se tem razões</p><p>para pensar que o caso estudado é de alguma forma representativo de uma classe</p><p>mais geral. É como se se estivesse à procura de algo universal no particular.</p><p>Contudo, dadas as suas óbvias limitações o estudo de caso é muitas vezes</p><p>utilizado mais no sentido de identificar padrões do que para testar hipóteses. A</p><p>identificação de padrões ou regularidades pode efectivamente servir para gerar</p><p>novas questões e novas hipótes para futura investigação. O estudo pode assim ser</p><p>realizado a partir de duas perspectivas diferentes:</p><p> Uma perspectiva interpretativa em que se procura compreender a natureza</p><p>do caso em análise, essencialmente a partir do ponto de vista do elemento</p><p>ou elementos que o constituem;</p><p> Uma perspectiva pragmática cuja intenção fundamentalé proporcionar uma</p><p>perspectiva global, completa e coerente, do objecto de estudo do ponto de</p><p>vista do investigador.</p><p>O estudo de caso tem, como todos os outros, vantagens e limitações. Como</p><p>vantagens podemos considerar:</p><p> Fornecem informação detalhada e aprofundada, relatando em pormenor a</p><p>situação o que possibilita uma mior compreensão da realidade;</p><p> Permite focar pontos únicos que se perderiam numa investigação mais</p><p>generalista e superficial e que se podem revelar essenciais para a</p><p>compreensão do caso estudado;</p><p> O conhecimento adquirido pode ser aplicado a outros casos similares,</p><p>podendo servir de suporte á interpretação dos mesmos;</p><p> No que respeita às limitações podemos considerar:</p><p> Dificuldades de generalização dos dados;</p><p> Pouca objectividade havendo a possibilidade de atitudes tendenciosas por</p><p>parte do investigador;</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>11</p><p> Normalmente prolonga-se no tempo o que nem sempre é exequível por</p><p>razões práticas e financeiras.</p><p>Método clínico</p><p>O método clínico é, tal como o estudo de caso, uma método de investigação</p><p>paticularística pois assenta essencialmente na relação entre o investigador e o</p><p>sujeito, podendo ser definido como uma espécie de junção da entrevista com o</p><p>estudo de caso. Inclui o estudo de caso porque cada sujeito é abordado</p><p>individualmente de acordo com as suas características e isso é feito normalmente</p><p>através de entrevistas individuais.</p><p>É um método que conjunto de técnicas e de estratégias que, numa dupla vertente</p><p>terapêutica e de investigação, visam compreender de forma global, qualitativa e</p><p>aprofundada de casos individuais (um individuo ou um pequeno conjunto de</p><p>indivíduos).</p><p>A atenção do método incide na história pessoal do sujeito. A compreensão de cada</p><p>comportamento parte da ideia de que este é o resultado de uma evolução, de um</p><p>processo. Por isso compreender um determinado comportamento de forma global e</p><p>aprofundada exige que se dê atenção ao resultado final (ao comportamento actual)</p><p>e também à sua génese e ao modo como se desenvolveu. O método clínico pode</p><p>ser utilizado tanto na vertente terapêutica como na vertente de investigação, sendo</p><p>esta que nos interessa aqui particularmente.</p><p>Utilizado na vertente de investigação o método clínico é uma forma de obtermos e</p><p>de aprofundarmos conhecimentos sobre diversos fenómenos psicológicos.</p><p>Podemos através da sua utilização encontrar respostas para questões como “De</p><p>que modo se desenvolve a inteligência humana?”, “Qual o papel da</p><p>hereditariedade e do meio no nosso comportamento, na nossa personalidade e no</p><p>desenvolvimento intelectual?”, “O que é a memória?”. Como se vê, o método clínico</p><p>não é simplesmente utilizado para tratar pessoas com problemas psicológicos, mas</p><p>também para conhecer fenómenos psicológicos. Por isso nem só os psicólogos</p><p>clínicos o utilizam. Piaget, psicólogo do desenvolvimento, utilizou-o para</p><p>compreender a evolução da inteligência.</p><p>Como já dissemos a compreensão de um comportamento exige da parte de quem</p><p>usa o método clínico uma relação pessoal (intersubjectividade), alguma capacidade</p><p>de intuição (a percepção de algo que não é acessível à simples razão) e de</p><p>compreender os outros (o seu ponto de vista e os significados que atribui às</p><p>situações).</p><p>O método clínico é normalmente utilizado a partir de um conjunto de técnicas que</p><p>se indicam em seguida:</p><p>OBSERVAÇÃO CLÍNICA</p><p> Entrevista clínica – trata-se de uma conversa que, mais ou menos</p><p>estruturada, é orientada pelo psicólogo, baseado numa atitude</p><p>compreensiva (procurar compreender o interlocutor) e também</p><p>interventiva (procurar ajudar o entrevistado a compreender-se). Pode ser</p><p>também não-directiva.</p><p> Anamnese – registo de dados biográficos. Trata-se de recolha e</p><p>organização de dados e informações que permitem reconstituir a história</p><p>pessoal de um indivíduo.</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>12</p><p> Técnicas psicométricas – designam testes que avaliam comportamentos</p><p>e atitudes. Há testes de inteligência, de personalidade e de aptidão.</p><p>Permitem a recolha eficaz e rigorosa de informação sobre o sujeito que</p><p>os realiza comparando os seus resultados com os de outros indivíduos.</p><p>Os testes devem apresentar as seguintes características:</p><p>o Padronização (condições iguais para todos);</p><p>o Validade (clareza na definição do que se quer avaliar);</p><p>o Fidelidade (resultados semelhantes em circunstâncias idênticas);</p><p>o Sensibilidade (permitir diferenciar os indivíduos).</p><p>Uma das principais vantagens do método clínico é a riqueza e profundidade da</p><p>informação obtida e é essa riqueza que lhe confere capacidade psicoterapêutica.</p><p>O método clínico tem também algumas desvantagens, ou, melhor dizendo,</p><p>limitações entre as quais podemos destacar a dificuldade de comparar protocolos</p><p>de investigação de sujeitos que foram tratados de forma diferente e ainda a</p><p>dificuldade em controlar a forma como os pressupostos teóricos do investigador</p><p>podem influenciar as questões e interpretações propostas pelo investigador.</p><p>Verifca-se assim que aquela que é uma das maiores potencialidades do método</p><p>clínico, isto é, a intersubjectividade gerada a partir do jogo relacional entre o</p><p>psicólogo e o sujeito, pode, se não for bem gerida, tornar-se numa das suas</p><p>maiores desvantagens.</p><p>Método experimental</p><p>O método experimental é normalmente considerado como sendo o mais científico</p><p>de todos os métodos, o método “escolha” cuja utilização em Psicologia permitiu</p><p>que esta fosse reconhecida como ciência. Como vimos atrás quando abordámos a</p><p>questão da observação laboratorial, o principal problema com que nos deparamos</p><p>nas metodologias não-experimentais é a falta de controle sobre a situação. O</p><p>método experimental é um meio de tentar ultrapassar este problema. Contudo, por</p><p>questões ligadas ao próprio objecto de estudo o método experimental é muito mais</p><p>utilizado na Psicologia da aprendizagem em que o controle dos estímulos exteriores</p><p>é fundamental, do que em Psicologia do desenvolvimento em que o que está</p><p>fundamentalmente em causa são os processos internos ligados ao sujeito. A</p><p>realização de experiências procura estudar relações de causa e efeito e por isso</p><p>rigorosamente o método experimental é o único que pode fornecer dados que</p><p>fundamentam teorias psicológicas. Assim, convém explicitar o que é uma teoria.</p><p>Uma teoria pode ser definida como um "princípio geral proposto para explicar como</p><p>estão relacionados uma série de fatos separados." Por outras palavras, uma teoria</p><p>é uma "ideia sobre um relacionamento." Para testar se uma teoria está correcta ou</p><p>não, precisamos realizar uma experiência. Portanto, de forma muito resumida,</p><p>podemos definir o método experimental como aquele em que os dados são obtidos</p><p>a partir da realização de experiências. Posto isto torna-se importante agora definir</p><p>o</p><p>que é uma experiência em investigação psicológica.</p><p>Podemos definir experiência como sendo um procedimento rigorosamente</p><p>controlado em que um investigador manipula uma variável normalmente</p><p>designada por variável independente (VI) para estudar a influência da variação</p><p>dessa variável em uma ou várias outras variáveis a que chamamos variáveis</p><p>dependentes (VD). De uma forma geral em experiências psicológicas tentamos</p><p>Manipular significa fazer com que a variável assuma vários valores.</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>13</p><p>manter todos os aspectos da situação constante, excepto uma, a VI que é o que</p><p>estamos estudando. Isto é assim para nos podermos assegurar que os efeitos que</p><p>obtemos são unicamente devidos à variação da VI. Por exemplo, suponha que</p><p>queremos investigar qual de dois métodos é o mais eficaz para ensinar as crianças</p><p>a ler. O aspecto que podemos variar aqui é o método de ensino da leitura e por isso</p><p>é essa a nossa VI. A capacidade de leitura das crianças será, neste caso, a variável</p><p>dependente (VD), porque, o método de ensino (VI) pois supomos que a capacidade</p><p>de leitura das crianças depende do método de ensino utilizado.</p><p>Assim, generalizando, a variável que é manipulada pelo investigador é chamada</p><p>variável independente e a variável dependente é a mudança de comportamento</p><p>medido pelo investigador hipoteticamente resultande da variação da VI. Todas as</p><p>outras variáveis que podem afectar os resultados e dar-nos, portanto, um falso</p><p>conjunto de resultados são chamados de variáveis de parasitas (também referidos</p><p>como variáveis aleatórias). Exemplos de variáveis parasitas no exemplo acima</p><p>podem incluir por exemplo diferenças nas instruções dadas por um professor ou</p><p>nos materiais de estímulo que está sendo utilizado (um dos métodos pode ser</p><p>ensinado por um professor mais competente ou ter materiais pedagógicos mais</p><p>adequados e por isso as crianças aprendem melhor) ou também diferenças ao</p><p>nível das crianças, (o grupo de crianças a quem é ensinado um dos métodos pode</p><p>ser mais inteligente e por isso aprendem melhor).</p><p>Assim, manipular uma variável (VI) e medir a variação de outra (VD) conseguindo</p><p>nós controlar na medida do possível todas as outras fontes de variação,</p><p>permite-nos tirar conclusões com maior grau de certeza do que qualquer método</p><p>não experimental. Se a VI é a única coisa que é alterada, ela deve ser responsável</p><p>por qualquer alteração na VD. É por isto que a maior parte das experiências em</p><p>Psicologia são realizadas em ambientes controlados a que chamamos laboratórios,</p><p>para podermos controlar as fontes de variação.</p><p>Apresentado de forma muito resumida o método experimental, vejamos agora as</p><p>suas vantagens e limitações. No que respeita às vantagens podemos considerar:</p><p> A realização de experiências é o único meio pelo qual se podem</p><p>estabelecer relações de causa e efeito.</p><p> Permite um controle preciso das variáveis. A finalidade do controle como</p><p>vimos é permitir ao experimentador isolar uma variável chave que foi</p><p>selecionado (a VI), a fim de observar seu efeito sobre a alguma outra</p><p>variável (a VD); pretende-se que o controle nos permita concluir que é a</p><p>VI e nada mais, que está influenciando a VD.</p><p> As experiências podem ser replicadas. Se uma experiência é repetida,</p><p>com os mesmos resultados obtidos, mais certeza podemos ter que a</p><p>teoria que está sendo testada é válida.</p><p>No que respeita às limitações do método experimental, podemos considerar.</p><p> A artificialidade: Devido à necessidade de controlo uma experiência não</p><p>é algo habitual em situações da vida real. A maioria das experiências são</p><p>realizadas em laboratórios – ambientes estranhos e artificiais, em que</p><p>as pessoas são convidadas a realizar tarefas incomuns ou mesmo</p><p>bizarras. Esta artificialidade pode produzir uma distorção do</p><p>comportamento, tornando os resultados ecologicamente inválidos.</p><p>Métodos em Psicologia do desenvolvimento José Farinha</p><p>14</p><p> Devido à natureza da maior parte das experiências laboratoriais, os</p><p>comportamentos estudados são muito elementares e demasiado</p><p>limitados para serem significativos.</p><p> Não é possível controlar todas as variáveis , por isso existe sempre um</p><p>certo enviesamento que afecta os resultados obtidos através do método</p><p>experimental. Por exemplo, estima-se que 90% das experiências em</p><p>Psicologia realizadas nos EUA utilizam como sujeitos estudantes</p><p>universitários, pois estes estão à mão e são baratos.</p><p> Algumas experiências podem levantar questões éticas . Isto porque</p><p>muitas experiências em Psicologia implicam de alguma forma “enganar”</p><p>os sujeitos experimentais. Por exemplo as célebres experiências de</p><p>Milgram sobre a obediência foram muito criticadas por ser pedido aos</p><p>sujeitos que administrassem choques eléctricos a outros indivíduos.</p><p>Apesar de os choques não serem realmente administrados, os sujeitos</p><p>experimentais eram levados a crer o contrário. Muitas experiências em</p><p>Psicologia simplesmente não são realizadas por envolverem</p><p>insuperáveis questões éticas.</p><p>Faro, 26 de setembro de 2014</p><p>Pode até acontecer que haja variáveis a afectar os resultados da experiência, das quais o investigador</p><p>não tem conhecimento que existem.</p><p>É por esta razão que muita da investigação laboratorial em Psicologia é realizada utilizando animais.</p><p>Contudo, mesmo a utilização de animais tem sido recentemente posta em causa.</p>