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<p>FUNDAÇÃO DE ENSINO ‘EURÍPIDES SOARES DA ROCHA</p><p>CENTRO UNIVERSITÁRIO EURÍPIDES DE MARÍLIA – UNIVEM</p><p>CURSO DE DIREITO</p><p>YURI PUTTINI BORGUETTE</p><p>TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA E AS TENTATIVAS DE ERRADICAÇÃO</p><p>MARÍLIA</p><p>2017</p><p>YURI PUTTINI BORGUETTE</p><p>TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA E AS TENTATIVAS DE ERRADICAÇÃO</p><p>Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito do Curso da Fundação de Ensino “Eurípides Soares da Rocha”, mantenedora do Centro Universitário Eurípides de Marília – UNIVEM.</p><p>Orientador Prof. Ms. OTÁVIO AUGUSTO CUSTÓDIO DE LIMA e Prof. Ms. JOSÉ RIBEIRO LEIRE.</p><p>MARÍLIA</p><p>2017</p><p>Borguette, Yuri Puttini</p><p>Trabalho Escravo no Brasil: uma investigação sobre a escravidão contemporânea e as tentativas de erradicação. / Yuri Puttini Borguette; orientador: Otávio Augusto Custódio de Lima, Marília, SP: [s. n.], 2017.</p><p>45 f.</p><p>Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação de Direito, Fundação de Ensino “Eurípides Soares da Rocha”, mantenedora do Centro Universitário Eurípides de Marília – UNIVEM, Marília, 2017.</p><p>1. Evolução Histórica do Brasil. 2. Processo de Colonização. 3. Escravidão Antepassada.</p><p>CDD: 341.6</p><p>“Vou-me embora dessa terra...</p><p>- Olodumaré...</p><p>Para outra terra eu vou...</p><p>- Olodumaré...</p><p>Sei que aqui eu sou querido...</p><p>- Olodumaré...</p><p>Mas não sei se lá eu sou...</p><p>- Olodumaré...</p><p>O que eu tenho pra levar...</p><p>- Olodumaré...</p><p>É a saudade desse chão...</p><p>- Olodumaré...</p><p>Minha força, meu batuque...</p><p>- Olodumaré...</p><p>Heranças da minha nação...</p><p>Ainda me lembro</p><p>do terror, da agonia,</p><p>como um louco eu corria</p><p>para puder escapar.</p><p>E num porão</p><p>de um navio, dia e noite,</p><p>fome e sede e o açoite</p><p>conheci, posso contar.</p><p>Que o destino</p><p>quase sempre foi a morte,</p><p>muitos só tiveram a sorte</p><p>de a mortalha ser o mar.</p><p>Na nova terra</p><p>novos povos, novas línguas,</p><p>Pelourinho,dor, à mingua</p><p>nunca mais pude voltar.</p><p>E mesmo escravo</p><p>nas caldeiras das usinas,</p><p>nas senzalas e nas minas</p><p>nova raça fiz brotar.</p><p>Hoje, essa terra</p><p>tem meu cheiro, minha cor,</p><p>o meu sangue, meu tambor,</p><p>minha saga para lembrar.”. –</p><p>“Olodumaré” dos compositores Antônio Nóbrega e Wilson Freire.</p><p>BORGUETTE, Yuri Puttini. Trabalho Escravo no Brasil: uma investigação sobre a escravidão contemporânea e as tentativas de erradicação. 45 f. Trabalho de curso. (Bacharelado em Direito) – Centro Universitário Eurípedes de Marília, Fundação de Ensino “Eurípedes Soares da Rocha”, Marília, 2017.</p><p>RESUMO</p><p>O objeto de estudo do presente trabalho investiga a escravidão contemporânea, haja vista que a questão da escravidão faz parte de nossas raízes e é um assunto que ainda gera muita polêmica. Em razão disso, o estudo aborda a evolução histórica do Brasil, discorrendo, ainda, sobre o processo de colonização de nosso país, a influência na base social brasileira e sua importância significativa para o entendimento da escravidão contemporânea. Por fim, após toda pesquisa realizada, chegamos à conclusão de que tanto o Brasil, como em outros países capitalistas, o trabalho escravo contemporâneo exclui o trabalhador e enriquece o patrão, haja vista que as famílias aristocráticas continuam sendo as mesmas e continuam dominando a maior quantidade de terras, sendo privilegiadas por politicas que visem o mercado externo. Enquanto muitos trabalhadores, na busca de uma melhor condição de vida, são aliciados e seduzidos por falsas ofertas de empregos. Comment by DESKTOP: Mínimo de 150 palavras (tem 146)</p><p>Palavras-chave: Trabalha Escravo. Evolução Histórica do Brasil. Processo de Colonização. Escravidão Contemporânea.</p><p>LISTA DE ABREVIATURAS</p><p>SUMÁRIO</p><p>INTRODUÇÃO 05</p><p>CAPÍTULO 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO BRASIL ESCRAVOCRATA .....08</p><p>1 1 Breve análise da escravidão no Brasil.............. .....08</p><p>1.2 Formação da escravidão no Brasil ... .....09</p><p>1.3 Nova política indigenista........... .....11</p><p>1.4 A conversão dos índios a fé cristã ... .....12</p><p>1.5 A chamada “Guerra Justa” .... .....13</p><p>1.6 As guerras intertribais e a “compra à corda”. .....14</p><p>1.7 Substituição da escravidão indígena pela africana . .....15</p><p>1.8 Os cinco piores castigos dados aos escravos no passado . .....16</p><p>CAPÍTULO 2 - O EMPENHO PARA ABOLIR A ESCRAVIDÃO E O TRÁFICO NEGREIRO 18</p><p>2.1 A dedicação da Inglaterra em por fim ao tráfico negreiro (1815)................... .....18</p><p>2.2. Independência do Brasil (1822).............. .....18</p><p>2.3 A efetiva repressão brasileira contra o “tráfico de almas” (1850)..... ......20</p><p>2.4 A “Lei do Ventre Livre” ou “Lei do Rio Branco” (1871) ..... .....21</p><p>2.5 A “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva-Cotegipe” (1885)............. .....21</p><p>2.6 A abolição da escravatura – Lei Áurea (1888)............ .....22</p><p>CAPÍTULO 3 - ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA 24</p><p>3.1 Breve contexto de trabalho escravo contemporâneo.................. ......24</p><p>3.1.1 Trabalho forçado................ .....25</p><p>3.1.2 Jornada exaustiva . .....25</p><p>3.1.3 Servidão por dívida. .....26</p><p>3.1.4 Condições degradantes. .....28</p><p>3.2 Comparação entre a escravidão antiga e contemporânea. .....28</p><p>3.3 Dignidade da pessoa humana. .....26</p><p>3.4 Quem são os trabalhadores escravizados no Brasil atualmente.................. ......31</p><p>3.4.1 Quem escraviza no Brasil atualmente.................. ......32</p><p>3.5 A atuação do Estado brasileiro no combate ao trabalho escravo.................. ......32</p><p>3.5.1 Comissão Pastoral da Terra (CPT).................. ......33</p><p>3.5.2 Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (CDVDH).......... ......33</p><p>3.5.3 Ministério Público do Trabalho (MPT).................. ......34</p><p>3.5.4 Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).................. ......34</p><p>3.5.5 Polícia Federal (PF).................. ......34</p><p>3.6 Grupo Especial de Fiscalização Móvel.................. ......34</p><p>3.7 O ciclo do trabalho escravo.................. ......35</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS 37</p><p>REFERÊNCIAS 40</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Inicialmente, impende trazer à baila a expressão trabalho escravo que já traz a nossa mente recordações do nosso passado enquanto país, haja vista que desde o período colonial os trabalhadores da época já viviam em condições desumanas com a finalidade precípua de suprir os anseios de seus senhores.</p><p>Isto posto, esclarecemos que a escravidão sempre foi aceita com naturalidade, tanto é que os escravos eram tidos como objetos, caçados e trocados por mercadorias, com a finalidade de aumentar a fortuna e o conforto de seus “donos”. Eram eles que cuidavam do rebanho, do campo, promoviam o alimento de seus senhores, poupando-os dos serviços mais pesados e chatos.</p><p>Embora o “regime de escravidão fosse desumano, significava a base das lavouras de açúcar, fumo, cacau, café” (JULIERME, p. 58).</p><p>Nesse sentido, o presente trabalho aborda a história do Brasil, buscando demonstrar como se deu o início da escravidão em nosso país, e, sobretudo, investigar a escravidão contemporânea e apontar seus aspectos mais relevantes e atuais.</p><p>Para isso, é necessário dissertar sobre a colonização do Brasil, o tráfico negreiro, a abolição, o trabalho escravo contemporâneo, os conceitos atuais, o direito à liberdade e a dignidade da pessoa humana, aspectos legais e de modo geral em quais condições ocorre à escravidão atual.</p><p>Em face aos temas a serem tratados, pode-se dizer que a finalidade maior é demonstrar que embora tenha sido abolida a escravatura, através da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel em 1888, infelizmente ainda existe resquícios dessa degradante situação em algumas regiões do país, bem como em outros lugares do mundo.</p><p>Desta forma, trataremos, ainda, dos principais problemas sociais, políticos e econômicos que propiciam a ocorrência dessa forma desumana de exploração da força de trabalho, traçando um paralelo comparativo entre a escravidão colonial e a escravidão contemporânea, apontando, além disso, o ciclo do trabalho escravo.</p><p>Desta feita, consigna-se que posterior a toda pesquisa</p><p>ações civis públicas e coletivas, para que o fazendeiro pague a indenização.</p><p>3.5.4 Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)</p><p>Este órgão recebe as denúncias feitas pessoalmente em todos os estados por intermédio das superintendências, gerências e agências regionais do Trabalho e Emprego (MPT, s.p.). São responsáveis por coordenar a fiscalização, averiguar as condições trabalhista nas propriedades denunciadas e aplicam multa em caso de irregularidades.</p><p>3.5.5 Polícia Federal (PF)</p><p>Recebe as denúncias e as encaminha ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). São responsáveis pela segurança da equipe; apreendem armas e efetuam prisões quando há flagrante de crimes. Ademais, investigam os crimes, tais como o aliciamento, redução de trabalhadores em situações análogas à de escravo, tortura e agressão. E, ainda, abrem inquéritos que embasarão a ação criminal na Justiça.</p><p>3.6 Grupo especial de fiscalização móvel</p><p>Esse grupo foi criado em 1995 no intuito de fiscalizar as denúncias de trabalho escravo (GRUPO ESPECIAL DE FISCALIZAÇÃO MÓVEL, s.p.). As equipes desse grupo são formadas por Auditores do Ministério do Trabalho e Emprego, Procuradores do Ministério Público do Trabalho, policiais federais ou rodoviários federais.</p><p>Após o recebimento da denúncia, o Ministério do Trabalho e Emprego providencia o envio do Grupo Móvel de Fiscalização. Neste ínterim, a equipe de fiscalização analisa a situação dos trabalhadores e registra as violações em autos de infração. Desta forma, de acordo com as situações encontradas, o Grupo Móvel classifica se é ou não um caso de trabalho escravo. Nesse sentido, há a aplicação de multas para cada irregularidade trabalhista encontrada.</p><p>Nessa toada, os fiscais só vão embora depós que o empregador pagar os trabalhadores liquidando a dívida trabalhista, sendo, inclusive, que as dívidas ilegais dos trabalhadores são canceladas. Outrossim, o empregador deve garantir o retorno desses empregados para suas casas, pagando-lhes as passagens, por exemplo. E, ainda, o trabalhador faz jus ao seguro desemprego por 03 (três) meses. Por fim, os trabalhadores são retirados da propriedade que foram encontrados e retornam à sua terra natal.</p><p>3.7 O ciclo do trabalho escravo Comment by DESKTOP: Mesma coisa.. tópico sem citação.</p><p>O que acontece quando o trabalhador libertado retorna para sua casa? De forma genérica, eles e suas famílias sem ter acesso a direitos, tais como trabalho digno, educação, saúde, moradia, dentre outros. Desta forma, permanecem na mesma situação de vulnerabilidade socioeconômica que os tornaram alvos fáceis de exploração. Comment by DESKTOP: Refazer .. plágio.. tópico sem cit.</p><p>Sem haja alternativa de sustento, esses trabalhadores são praticamente obrigados a se sujeitarem a qualquer tipo de serviço em sua região ou até mesmo em outros estados, podendo, inclusive, serem aliciados e escravizados mais uma vez. Em razão disso, a libertação não significa necessariamente a solução final do problema. Ela pode por fim a um caso de exploração, mas não erradicará de vez o ciclo vicioso de exploração. Pensando nisso, como eliminar esse ciclo de trabalho escravo? Como esse trabalhador, pode alcançar uma vida digna?</p><p>Em resposta, entendemos que as ações de repressão não são suficientes para romper esse ciclo, é necessário compreender que essa violação de direitos humanos somente poderá ser erradicada se for combinada com: Prevenção, através de uma boa educação, informação e formação dos trabalhadores, reforma agrária e cooperativismo; Assistência ao trabalhador libertado, por intermédio de alojamento às vitimas, programas de assistência social, mobilização e resistência e, ainda, por repressão ao crime, por meio de condenações criminais, confisco das propriedades e uma fiscalização mais rígida.</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>No decorrer do presente trabalho ficou evidenciado que as práticas de exploração do trabalho humano, iniciadas desde a colonização do Brasil pelos portugueses, ainda ocorrem com muita frequência em tempos atuais em país. No mundo atual, os menos favorecidos, são submetidos à exploração do trabalho sob condições degradantes, tendo por causa, inegavelmente, a pobreza, localizada em determinadas regiões do mesmo país ou de um país para outro. Além da falta de escolaridade e de informação suficiente. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>No Brasil, a triste realidade de escravidão dos trabalhadores está mais ligada à área rural, notadamente nos lugares de difícil acesso, contudo, também existe nas áreas de centros urbanos. Com efeito, fizemos um paralelo comparativo entre a escravidão antiga e a contemporânea, deixando claro, a nossa preocupação que vai além do trabalho escravo propriamente dito, abrangendo situações de cunho social e econômico referentes ao trabalhador explorado.</p><p>Sabe-se, portanto, que a erradicação do trabalho escravo depende de um esforço integrado que envolva a repressão a quem se vale dessa prática e a melhoria das condições sociais das populações atingidas pelo aliciamento.</p><p>O combate ao trabalho escravo será mais efetivo se houver a conjunção de inúmeras iniciativas e a otimização de esforços de todos os atores envolvidos. Além do aperfeiçoamento legislativo proposto, o cumprimento das normas existentes, o fortalecimento das ações de fiscalização móvel e a sensibilização da Justiça Federal são imprescindíveis.</p><p>Assim, entendemos ser necessária uma discussão política acerca do tema estudado. De modo a ser fundamental compreender que essa violação de direitos humanos somente poderá ser erradicada se for combatida a partir de três frentes de ação, quais sejam, a Prevenção, através de uma boa educação, informação e formação dos trabalhadores, reforma agrária e cooperativismo; Assistência ao trabalhador libertado, por intermédio de alojamento às vitimas, programas de assistência social, mobilização e resistência e, ainda, por repressão ao crime, por meio de condenações criminais, confisco das propriedades e uma fiscalização mais rígida. Do contrário, o ciclo do trabalho escravo continuará existindo.</p><p>Desta feita, é sabido que não se erradica trabalho escravo somente com sentenças judiciais. São necessárias inúmeras providências para tal pretensão, onde se acham inseridas as intervenções judiciais. Tais providências estão compiladas no "Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo", que reserva papéis para diversos órgãos governamentais e organismos não-governamentais, abrangendo ações gerais, melhorias nas estruturas administrativas do grupo de fiscalização móvel do Ministério do Trabalho e Emprego, da ação policial (notadamente Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal), dos Ministérios Públicos Federal e do Trabalho, assim como ações específicas de promoção da cidadania e combate à impunidade e de conscientização, capacitação e sensibilização para extinção do trabalho escravo, prevendo-se, ainda, alterações legislativas, para implementação a curto e médio prazo, conforme a natureza da medida. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>Noutro giro, conforme demonstrado, todas as práticas de exploração do trabalho humano são totalmente inaceitáveis, seja por Tratados Internacionais, pela Carta Maior e pelas leis esparsas. Nesse viés, ainda falta alguma legislação mais rígida na esperança de abolir por completo a escravatura que ainda ocorre no Brasil, ainda que de forma camuflada.</p><p>Dito isto, uma medida interessante nessa seara seria maiores discussões do tema nos cursos de graduação em Direito, no sentido de levar ao conhecimento dos futuros juristas a existência, a gravidade, as consequências e premente necessidade de combate e erradicação do trabalho escravo.</p><p>De mais a mais, temos outra proposta a ser pensada, de inegável interesse comum é a criação de uma política agrária, que vise à promoção desses indivíduos submetidos a situações de trabalho escravo à condição de seres humanos dignos e dotados de um trabalho digno.</p><p>Vale dizer, ainda, que as famílias aristocráticas continuam sendo as mesmas e a cada ano, passam a dominar maior quantidade de terras</p><p>e, ainda, a serem mais privilegiados por políticas que visam o mercado externo. Razão pela qual, busca-se uma legislação mais severa a fim de proteger os trabalhadores em situação de hipossuficiência socioeconômica.</p><p>Neste ínterim, importante mencionar que o trabalho escravo tratado durante o presente trabalho de conclusão de curso não se refere àquela ideia que temos da escravidão antiga, e sim do “trabalho escravo contemporâneo” gerado por um sistema capitalista que exclui o trabalhador, e enriquece o patrão.</p><p>Diante de todo o exposto, restou comprovado que a escravidão contemporânea é um problema mundial, o qual até mesmo os países mais desenvolvidos são afetados pelo tráfico de pessoas que são levados pela oferta de emprego e por promessas travestidas e, que acabam vivendo muitas vezes na clandestinidade, no trabalho informal e ilegal.</p><p>Por fim, não podemos deixar de citar membros do MPT, órgãos e entidades como: CPT, CDVDH, MTE, Policia Federal, Grupo Especial de Fiscalização Móvel entre outros, que não medem esforços para a erradicação do trabalho escravo no Brasil, mas que merecerem maiores poderes coercitivos a fim de erradicar o problema ora abordado.</p><p>Todavia, o que se espera é maior vontade política por parte dos governantes, no sentido de pressionar os fazendeiros, empresários a de maneira alguma proliferarem, estimularem ou aceitarem essa moléstia e essa degradação da dignidade humana que vai de embate com a Carta Magna e demais normas vigentes. Assim, nossos votos são de persistência e esperança, de tal forma que a questão dos direitos fundamentais seja sempre levantada e posta em prática e não somente colocadas no papel como meras teorias.</p><p>Portanto, quando todas as barreiras aqui apresentadas forem enfrentadas pelo Poder Público, imbuídas de vontade política, aí sim estaremos diante do primeiro passo rumo à erradicação do trabalho escravo no Brasil, bem como ao avanço da defesa dos direitos humanos e da dignidade humana.</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ABN. Provisão sobre a liberdade e cativeiro do gentio do Maranhão. 17 de outubro de 1653. vol. 66, 1948.</p><p>AMANTINO, Márcia. A escravidão indígena e suas variações – Minas Gerais – séculos XVIII e XIX. Associação Nacional de História – ANPUH. 2007. Disponível em: http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S24.0109.pdf Acesso em 29/09/2017.</p><p>BETHELL, Leslie. 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Disponível em: Acesso em 16/09/2017.</p><p>______. Lei nº 3.353, de 13 de Maio de 1888. LEI ÁUREA. Planalto. Disponível em: Acesso em 16/09/2017.</p><p>BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Trabalho com redução à condição análoga à de escravo: análise a partir do tratamento decente e de seu fundamento, a dignidade da pessoa humana. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coord.). Trabalho escravo contemporâneo: o desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006.</p><p>CARVALHO, Leonardo. Primeiros contatos entre indígenas e europeus. Disponível em: Acesso em 28/09/2017.</p><p>CENTRO DE DEFESA DA VIDA E DOS DIREITOS HUMANOS DE AÇAILÂNDIA - MA (CDVDH). Disponível em: Acesso em 30/09/2017.</p><p>COMISSÃO PASTORAL DA TERRA (CPT). Disponível em: Acesso em 30/09/2017.</p><p>CONRAD, Robert Edgar, Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850 – 1888. 2 ed. Tradução de Fernando de Castro Ferro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.</p><p>CORRÊIA, Bentes Lélio. 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Disponível em: Acesso em 29/09/2017.</p><p>restou evidenciada que a escravidão atual se caracteriza por um conjunto de novos fatores, como a carência de informações dos direitos, falsas promessas feitas pelo aliciador como: bons salários; boa estrutura de trabalho e alojamento; ausência de emprego e condições de manutenção própria e da família na região de origem, etc. Comment by DESKTOP: Refazer .. plágio</p><p>Nesse sentido, a pesquisa em questão se deu através do método de pesquisa dialéico por meio de documentais, bibliográficos, incluindo livros, revistas, artigos científicos, monografias, decisões judiciais, bem como, e principalmente, a legislação pertinente ao tema, a fim de concretizar o trabalho apresentado, e nortear o resultado da pesquisa. De tal sorte que serão estudados os eventos sociais atuais, sendo certo que, como operadores do direito em nenhum momento iremos nos afastar de nossas questões ideológicas, sempre opinando e justificando nossas posições.</p><p>Não obstante, é importante esclarecer que é de suma importância levar esse trabalho ao conhecimento do maior número de pessoas, de modo a demonstrar a existência de formas atuais de escravidão. Por conseguinte, levantar os aspectos determinantes dessa relação de trabalho e principalmente debater formas de extinção do trabalho escravo que persiste nos dias atuais.</p><p>Todavia, antever os resultados que pretendemos alcançar é algo complicado, visto que o principal objetivo do trabalho seria contribuir para a erradicação dessa forma ilegal e desumana de exploração do trabalho humano. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>Noutro giro, embora o tema escolhido seja bastante amplo, foi selecionado propositalmente no sentido de deixar várias perguntas ao leitor. Pois, são muitos os assuntos relacionados, tais como: Reforma Agrária, Agricultura Familiar, Modo Capitalista de Produção, Políticas Públicas, Impunidade e Estrutura Legal. Comment by DESKTOP: refazer .. plágio</p><p>Desse modo, encontramos um tema que abarca várias situações e questões socioeconômicas diretamente relacionadas com as estruturas de poder atualmente vigentes em nossa sociedade.</p><p>Nesse diapasão, é importante observar que durante a história do Brasil tivemos sim um substancial avanço social e legislativo com a Abolição da Escravatura. Contudo, não podemos fechar os olhos e acreditar que todas as leis criadas com o intuito de erradicar a escravidão, são suficientes à solução do problema ora abordado. E ainda assim, perceber que o sistema capitalista em que vivemos, fomenta esse modo de exploração o qual abordaremos. De modo que a estrutura econômica na qual o poder está concentrado nas mãos de alguns privilegiados, faz com que o restante da população submeta sua mão de obra e seu trabalho a qualquer preço, principalmente agora, frente a este novo cenário econômico que o Brasil vem enfrentando.</p><p>Sobretudo, é importante salientar que desde já podemos afirmar que a escravidão contemporânea não é somente uma consequência da escravidão colonial, mas também, consequência de um modo de exploração capitalista que exclui quem tem a mão de obra como única fonte de renda e privilegia quem tem nas mãos o poder e a propriedade.</p><p>Com efeito, para melhor compreensão do presente trabalho, o primeiro capítulo discorrerá sobre a evolução histórica da escravidão no Brasil, dissertando desde o período colonial. O segundo capítulo, regerá sobre o empenho para abolição da escravidão e o tráfico negreiro, apontando, inclusive, as leis criadas ao longo do tempo no intuito de erradicar essa forma desumana que é o trabalho escravo. E, por fim, mas não menos importante, o terceiro capítulo tratará da escravidão contemporânea que é o objeto principal deste trabalho. Trazendo, ainda, os elementos para configuração do trabalho escravo ou em situação análoga, bem como uma comparação entre a escravidão antiga e a atual, além de trabalhar com o principio da dignidade da pessoa humana, quem são os trabalhadores escravizados e quem escraviza no Brasil atualmente e a atuação do Estado para combater esse tipo de trabalho.</p><p>CAPÍTULO 1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO BRASIL ESCRAVOCRATA</p><p>Com o início deste trabalho é essencial retornarmos ao começo da história do Brasil com a chegada dos portugueses em meados de 1500, traçando assim uma relação entre os acontecimentos históricos e atuais. A elaboração dessa pesquisa na história terá como finalidade demonstrar a origem deste problema, como se desenvolveu e como era mantido. Podendo assim no decorrer desses trabalho demonstrarmos o paralelo e suas consequências atuais ao trabalhador escravo.</p><p>1.1 Breve análise da Escravidão no Brasil</p><p>Desde o decorrer de nossa formação como país, a escravidão já fazia parte de nossas origens históricas, isto porque a propriedade de terras e a busca por riquezas da Colônia e Império teve relação direta com a supremacia sobre outros povos durante a nossa colonização. É inegável, portanto, a influência na base social brasileira e sua importância significativa para o entendimento da escravidão contemporânea.</p><p>Logo, vale dizer que as condições para a fundamentação da escravidão em relações de trabalho estão associadas às forças produtivas sociais e de produtividade de trabalho, assim “A escravidão instaurada numa comunidade será ou não predominante no conjunto do sistema econômico-social, marcando de maneiras diversas o modo de ordenação das relações entre os homens” (IANNI, 1962, p. 07).</p><p>Nesta toada, faz-se necessário mencionar que a escravidão era aceita com naturalidade pelos povos orientais ou ocidentais, mesmo entre os submetidos a ela. À vista disso, os escravos eram utilizados para cuidar dos rebanhos ou para trabalhar nos campos. Eram eles que aumentavam a fortuna e o conforto do captor. Promoviam-lhe o alimento e poupava-lhe das tarefas mais pesadas e maçantes. Além disso, produziam para outros e não para seu próprio sustento.</p><p>O povo era aprisionado e explorado para fins de transações comerciais, como foi o caso dos africanos na escravidão moderna, que perdurou legalmente no Brasil até 1888, quando através da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel, foi “oficialmente” abolida. Entretanto, o Brasil escravocrata não foi extinto por completo, restando até hoje resquícios, de modo que o Brasil continua associando o negro à escravidão e ao que é negativo.</p><p>Voltando-se naquela época, ser negro era sinônimo de escravo, de falta de inteligência, de sujo, ou seja, era ele inferiorizado, razão pela qual se buscava legitimar a dominação sobre as pessoas negras ou de peles mais escuras por meio da alienação quanto ao contexto socioeconômico que sustentava essa exploração fazendo-se “um paralelismo forçado entre o cultural e o biológico entre povos negros e brancos, tentou-se explicar as culturais e concluir-se por uma diminuição intelectual e moral dos primeiros” (MUNANGA, 1986, p. 5-6).</p><p>Percebe-se que os negros e, ainda, outras etnias eram escravizadas, como foi o caso dos índios que também eram chamados de negros, negros da terra, pois a denominação era devido à cor da pele, escura.</p><p>1.2 Formação da Escravidão no Brasil</p><p>Nesse mesmo período, os europeus traziam os escravos sentenciados, os quais vinham sequestrados e não por vontade própria, para cumprirem a pena através de trabalhos forçados e, para tanto, andavam com calcetas nos pés e correntes de ferro. Essa era a chamada escravidão tipo galés.</p><p>As galés estavam entre as principais embarcações de guerra europeias até o desenvolvimento da navegação. Elas possuíam velas que, apesar de serem malfeitas, auxiliavam em sua movimentação. Entretanto, para que pudessem navegar os mares, era necessário recorrer à força de cerca de mais de 200 (duzentos) homens, recrutados de diversas formas. Homens esses que podiam ser escravos condenados pela Justiça, os quais trocavam suas penas por trabalhos temporários nas galés, de forma coercitiva (quando sequestrados) ou voluntária, em busca de salário. Todavia, com o passar do tempo, esse recrutamento passou a priorizar os cativos e aqueles que cumpriam penas, pois não era necessário</p><p>pagar pelos seus serviços (FONSECA, s.p.).</p><p>Posteriormente, quando os primeiros portugueses chegaram ao continente americano, tomaram posse das terras e em seguida tiveram os primeiros contatos com os povoadores da região, os quais eram os diferentes povos indígenas, que aos olhos dos portugueses eram considerados todos iguais, chamados, inclusive, pelos portugueses de “selvagens” (CARVALHO, s.p.).</p><p>Nesse ínterim, o povo passou a ser dominado e, consequentemente, inferiorizado pela sua cultura, através da exploração de mão de obra escrava tanto dos negros que eram trazidos nas embarcações, como também dos ameríndios.</p><p>Nesta senda, com a grande possibilidade de exploração econômica que encontraram em nossas terras, fez-se necessária mão de obra para realização de tal objetivo. Para isso, nos primeiros contatos com os indígenas, passaram a manter uma relação através do escambo ou compra de cativos (MONTEIRO, 1994, p. 30).</p><p>A relação de escambo consistia na troca de mão de obra por objetos trazidos pelos europeus, tais como espelhos e bugigangas, para realização das atividades mercantis desejadas. Contudo, com o passar do tempo esses objetos deixaram de serem novidades e não mais despertavam curiosidade nos grupos indígenas que aqui viviam, tornando assim uma forma inadequada de troca. (MONTEIRO, 1994, p. 30).</p><p>Num segundo momento, buscando-se ainda recrutamento para mão-de-obra, a Legislação Colonial passou admitir algumas formas de escravização dos nativos, uma delas sendo a compra de cativos, prisioneiros derrotados em guerras indígenas.</p><p>Nessa ocasião, em razão do aumento da necessidade de mão de obra, os portugueses passaram a fomentar as guerras indígenas, com o intuito de produzir um número considerável de cativos que ao invés de serem sacrificados, eram negociados com os europeus como escravos (MONTEIRO, 1994, p. 31).</p><p>Todavia, nenhumas das estratégias mostraram-se eficientes, pois os captores e os indígenas passaram a apresentar resistência, culminando no fracasso do sistema de escambo e consequentemente da alternativa de suprir a necessidade colonial através da apropriação direta da mão de obra indígena prisioneira (MONTEIRO, 1994, p. 33).</p><p>Desta forma, tendo em vista que os produtos europeus já não influenciavam mais as sociedades nativas, na década de 1550 o jesuíta Pedro Correia se manifestou da seguinte forma:</p><p>Se os índios do Brasil são agora mais guerreiros e mais maldosos do que deviam ser, e porque nenhuma necessidade tem das coisas dos cristãos, e tem as casas cheias de ferramentas, porque os cristãos andam de lugar em lugar e de porto em porto enchendo-lhes de tudo que eles querem. E o índio que em outros tempos não era ninguém e que sempre morria de fome, por não possuir uma cunha para fazer uma roça, agora tem quantas ferramentas e roças que quiserem, comem e bebem de contínuo e andam sempre a beber vinhos pelas aldeias, ordenando guerras e fazendo muitos males, o que fazem todos os que são muito dados ao vinho por todas as partes do mundo (MONTEIRO, 1995, p. 26).</p><p>É notório que na procura por trabalhadores, os colonos tentaram nutrir-se através do escambo e da compra de cativos. Entretanto, nenhumas das opções se mostraram eficazes, uma vez que os índios não queriam contribuir com as expectativas portuguesas, como já mencionado alhures.</p><p>Nota-se, portanto, através desse discurso que com o passar do tempo, os índios começaram a mudar de modo a contrariar os objetivos dos portugueses, já que a transformação da sociedade indígena não caminhava com o propósito almejado pelos portugueses. A insubmissão e rebeldia indígena estavam diretamente ligadas às provocações europeias, o que contribuiu para a alteração radical da política portuguesa para o Brasil, envolvendo a própria Coroa enquanto agente colonial.</p><p>1.3 Nova política indigenista</p><p>Frente a esse novo cenário, a realeza se viu obrigada a estabelecer bases de um governo colonial, como também pela primeira vez instaurar uma política indigenista, admitindo o fracasso das capitanias devido ao cativeiro ilegítimo e violento praticado pelos colonos. Os princípios fundamentais eram calcados num projeto que buscava conciliar interesse distinto e as contradições deles decorrentes. Nesse viés, para a Metrópole era necessário pensar num projeto em longo prazo capaz de garantir a preservação dos povos indígenas e, além disso, transformá-los em aliados.</p><p>Não obstante, o regulamento admitia de modo mais controlado a exploração da mesma população indígena a fim de que mantivessem a prosperidade da Colônia. Tanto é que, buscava-se garantir suprimentos alimentares, transmissão de conhecimentos geográficos e do uso de plantas aos índios para torná-los coligados aos portugueses (MONTEIRO, 1994, p. 36).</p><p>Com efeito, no intuito de transformar a colônia capaz de gerar riquezas e, consequentemente, impostos para a Coroa, o governo criou duas categorias de índios: os aliados conhecidos também como “tupis” e os inimigos, também chamados de “tapuias”.</p><p>No grupo dos aliados estavam aqueles que concordavam com as relações negociadas de aliança com os colonos, aceitando assim a imposição das novas relações sociais e formas de trabalho. Na classe dos inimigos, estavam, independentemente de serem “tapuias” ou não, aqueles que se recusavam ao contato ou rebelavam-se ante as novas imposições e ditames.</p><p>A partir de então foram determinadas regras de relacionamento entre moradores e grupos indígenas. Para os indígenas era uma questão de politica de Estado que separavam os índios em categorias, estabelecendo as regras de relacionamento entre eles.</p><p>Aos comprometidos na politica de longa duração da Coroa, era-lhes assegurado um conjunto de direitos, tais como: terras, liberdade, pagamento por serviços prestados, dentre outros. Ademais, eram estes administrados pelos jesuítas.</p><p>Já no grupo dos resistentes, estavam autorizados a serem guerreados, escravizados e administrados pelos particulares no intuito de formarem um exército de mão de obra para atender os interesses dos moradores. Com isso, gerou-se um estado permanente de guerra capaz de proporcionar guarnecimento de trabalhadores e de alavancar a expansão da área a ser colonizada.</p><p>Nesse diapasão a Coroa procurou estabelecer regras de convivência entre moradores e indígenas, a fim de evitar guerras que culminassem na morte e prejuízo a muitos cristãos. Todavia, caso não houvesse arrependimento deveria deliberar a guerra para por os rebeldes:</p><p>Em ordem destruindo-lhe suas aldeias e povoações e matando e cativando aquela parte deles que vos parecer que basta para o seu castigo e exemplo de todos e daí em diante, pedindo-vos paz lha concedereis dando-lhe perdão e isso será, porém com eles ficarem reconhecendo sujeição e vassalagem e com encargo de darem em cada um ano alguns mantimentos para a gente da povoação e ao tempo que vos pedirem paz trabalhareis por haver a vosso poder alguns dos principais que foram no dito levantamento e estes mandareis por justiça enforcar nas aldeias de onde eram principais (PARAISO, p. 15).</p><p>Nesse sentido, para incentivar o contato pacífico, era organizada uma feira semanal nas vilas e povoações para que os gentios pudessem ir e vender o que tinham e, caso quisessem, poderiam comprar o que os demais também vendiam. Outrossim, tinha-se, ainda, como objetivo obstar que os “cristãos” fossem às aldeias dos “gentios” a fim de negociar com estes, pois o comércio fora da feira só era permitido com a autorização explicita do capitão. Com isso, buscava-se limitar as possíveis insatisfações ou até mesmo as rebeliões dos indígenas.</p><p>1.4 A conversão dos índios a fé cristã</p><p>Noutro giro, a Coroa admitiu que um dos principais problemas eram os saltos às aldeias, aduzindo que a principal preocupação era tão somente a de converter os índios a fé cristã.</p><p>Logo, os jesuítas estavam no Brasil para servirem aos interesses da Coroa Portuguesa. Para tanto, edificaram uma capela rústica dentro da aldeia para que os padres convertessem o povo. O papel dos jesuítas pode ser bem demonstrado no trecho abaixo:</p><p>Apesar de sua</p><p>relativa autonomia, pois respondiam antes ao general da ordem em Roma do que ao rei de Portugal, e apesar do enorme poder econômico que acumulariam subsequentemente, nestes primeiros anos os jesuítas serviram aos interesses da Coroa como instrumentos da política de desenvolvimento da Colônia. Oferecendo um contraponto à dizimação deliberada praticada pela maioria dos colonos, os jesuítas buscaram controlar e preservar os índios através de um processo de transformação que visava regimentar o índio enquanto trabalhador produtivo. Com o estabelecimento de aldeamentos, os jesuítas acenavam com um método alternativo de conquista e assimilação dos povos nativos (MONTEIRO, 1994, p. 36).</p><p>Assim sendo, os índios que fossem convertidos deveriam ser retirados do convívio das aldeias e passassem a conviver nas povoações com os “cristãos”, pois dessa forma os indígenas seriam doutrinados e ensinados conforme a fé deles.</p><p>Ocorre que, a relação entre jesuítas e os colonos passaram a ser cada vez mais conflituosas na medida em que seus interesses se opunham. No entanto, nem todos jesuítas eram contra o cativeiro indígena, pois viam como única maneira de garantir o controle social e exploração econômica, tendo assim contribuição direta na formação da Lei de 20 de março de 1570 (MONTEIRO, 1994, p. 41).</p><p>Essa lei regulamentava, porém não proibiria o cativeiro indígena. Essa legislação permitia o cativeiro dos índios considerados pelos luso-brasileiros como bravos, hostis e inimigos que eram apanhados por intermédio das chamadas “guerras justas”.</p><p>1.5 A chamada “Guerra Justa”</p><p>A “guerra justa” ocorria quando os indígenas se recusavam a se converterem a fé-cristã que era imposta pelos colonizadores, ou quando impediam a divulgação dessa religião, quebrando acordos e agindo com hostilidade em relação aos portugueses (ABN, 1948, p. 19-21).</p><p>Importante dizer ainda que determinavam a justeza das guerras quando: a) houvesse oposição dos gentios à pregação do Evangelho, da sua recusa em defender a vida e os bens dos vassalos do rei, ou quando se aliavam aos inimigos da coroa; b) quando o gentio estivesse envolvido em práticas que lesassem o comércio dos vassalos do rei; c) quando fugissem às obrigações fiscais e recusa de serviços agrícolas ordenados pela coroa; d) quando houvesse prática de antropofagia (CRISTAN, 2013).</p><p>Contudo, constantemente os colonos ludibriavam as normas oficiais sobre a “liberdade dos nativos”, aduzindo que eram atacados ou ameaçados pelos indígenas só para que pudessem ter legitimidade para manter esses índios em cativeiro. Dito isso, vale ressaltar que, em regra, apenas o Rei poderia decretar uma “Guerra Justa” contra uma tribo, embora Governadores de Capitanias também o tivessem feito.</p><p>1.6 As guerras intertribais e a “compra à corda”</p><p>De mais a mais, outro modo de conseguir escravos indígenas era comprando os prisioneiros de conflitos entre as tribos nas guerras intertribais, na chamada “compra à corda”.</p><p>Essa modalidade de aquisição de escravos indígenas se dava através do resgate, que nada mais era que uma operação comercial realizada entre portugueses e índios considerados amigos. Os portugueses davam mercadorias europeias e recebiam em troca índios prisioneiros de tribos aliadas, que haviam sido capturados durante as guerras intertribais. Os resgates consistiam, portanto, em uma troca de objetos por índios (AMANTINO, 2007, p. 02).</p><p>Os “índios de corda”, assim denominados, eram índios prisioneiros de uma determinada tribo que estavam presos e amarrados e que, posteriormente seriam comidos ritualmente (AMANTINO, 2007, p. 02)</p><p>O resgate, portanto, era uma espécie de obra humanitária para salvar o índio destinado à morte. Como retribuição, o índio que fosse resgatado era obrigado a trabalhar, como escravo, para o seu "salvador". (AMANTINO, 2007, p. 4)</p><p>Interessante relatar que os portugueses classificavam a maioria das tribos como antropófagas, ainda que estas não praticassem o canibalismo, para que assim pudessem escravizar legalmente seus prisioneiros.</p><p>A título de curiosidade, a antropofagia é a ação de comer carne humana. Esta era praticada em rituais esotéricos como forma de quem come incorporar as qualidades do indivíduo que é comido, como a bravura e a coragem de um guerreiro derrotado. Comment by DESKTOP: TEM Q CITAR O AUTOR DESSE PARÁGRAFO. OU COLOCAR COM SUAS PALAVRAS</p><p>Noutro giro, levando em consideração que a mão de obra indígena era muito valorizada na povoação do território ou para ocupar fronteiras, era esta utilizada em larga escala em combates, para conter escravos africanos ou para auxiliar os capitães do mato na captura de escravos fugidos.</p><p>1.7 Substituição da escravidão Indígena pela Africana</p><p>Com o passar do tempo, a escravidão indígena foi substituída pela africana, haja vista que acreditavam que os índios não suportavam o trabalho forçado e acabavam morrendo.</p><p>Isso ocorria devido ao trabalho pesado ou até mesmo porque os indígenas acabavam sendo vítimas de epidemias contraídas do contato com o homem branco, tais como a gripe, sarampo, varíola, catapora e doenças virais contra as quais o sistema imunológico dos indígenas não apresentava qualquer resistência (SOUZA, s.p.).</p><p>Desta forma, por conta da diminuição significativa da população indígena devido às guerras tribais fomentadas pelos portugueses, as guerras justas que ofereciam brechas para abusos e, muito mais potentes do que as armas de fogo, as doenças contagiosas devastaram a população indígena gerando o declínio da escravidão ou trabalho indígena, de modo que isso contribuiu ainda mais com o aumentou da escravidão negro-africana.</p><p>Nesse período, Portugal ainda necessitava de mão de obra para suprir seus interesses de exploração econômica na América, foi a partir de então que, seguindo outros países europeus, se voltou para África como solução para suprir a falta de mão de obra.</p><p>Calcula-se que o Brasil recebeu em torno de quatro milhões de escravos de toda a África. Sendo que um dos registros mais antigos da chegada dos escravos é de 1533, época esta em que a exploração de pau-brasil ainda era feita pelos índios, mas foi com o ciclo da cana-de-açúcar que a mão-de-obra escrava se fortaleceu no Brasil.</p><p>Os negros, tirados de suas terras, eram trazidos acorrentados em navios através das galés, de acordo com o já mencionado outrora. Nesse percurso, presume-se que 40% do total desses homens morriam no caminho. Em face disso, bem descreve Bueno (2004): Comment by DESKTOP: NÃO CONSTA NAS REF.</p><p>Terá sido o pior lugar do mundo, o ventre da besta e o bojo da fera, embora para aqueles que eram responsáveis por ele, e não estavam lá, fosse o mais lucrativo dos depósitos e o mais vendável dos estoques. (...) O bojo dos navios da danação e da morte era o ventre da besta mercantilista: uma máquina de moer carne humana, funcionando incessantemente para alimentar as plantações e os engenhos, as minas e as mesas, a casa, e a cama dos senhores – e, mais do que tudo os cofres dos traficantes de homens (BUENO, 2004, p. 112).</p><p>Ao chegarem ao Brasil, os escravos eram subjugados a precárias condições de vida. Os senhores de engenho delegavam aos feitores e capitães-do-mato a fiscalização dos negros, intimidados por açoitamentos e outros castigos. Como a condição de escravo era definida pela cor da pele, era muito difícil a fuga e a integração social dos fugitivos.</p><p>1.8 Os cinco piores castigos dados aos escravos no passado</p><p>Esses indivíduos normalmente de etnia negra eram escravizados, humilhados, torturados e explorados pelos homens brancos que se consideravam superiores em razão da sua tonalidade de pele e por suas posses. Como já relatado, os negros eram vendidos e barganhados nos mercados públicos como se fossem meras mercadorias, objetos de compra e venda.</p><p>Após serem adquiridos por algum senhor de engenho, os sujeitos eram escravizados e passavam a trabalhar exaustivamente debaixo do chicote e das humilhações. Além disso, dormiam amontoados em senzalas e só ganhavam o “essencial” para comer para não deixar o corpo desnutrir e/ou enfraquecer. Os</p><p>capatazes e feitores da fazenda eram aqueles que exerciam o papel de vigiar e punir. Qualquer erro, por mais ínfimo que fosse, era duramente castigado publicamente para que “servisse como exemplo” (HISTÓRIAVIVA, 2015).</p><p>Dentre os principais e piores castigos estavam: A máscara, a qual, comumente era utilizada como meio punitivo aos escravos que furtavam algum alimento para comer ou até mesmo quando eram flagrados comendo terra, o que era feito com muita frequência pelos escravos para suprir a fome.</p><p>Essa máscara era objeto de ferro que era colocado à cabeça e ao pescoço do indivíduo punido, e só poderia ser retirado pelo feitor ou o senhor da fazenda. Esse artefato tampava a boca do escravo, sendo que só era possível comer quando lhe era permitido. Em regra, este escravo ficava dias sem se alimentar como forma de castigo e justamente para isso era obrigado a ficar com a máscara.</p><p>Outra modalidade de castigo, talvez o mais conhecido, era o tronco. O sujeito tinha a roupa arrancada e era preso por algemas e correntes em um tronco reto de pouco mais de 2 metros de altura. Nessa ocasião, o escravo castigado tinha suas costas e pernas dilaceradas pelas chibatadas. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>O cepo, por sua vez, equivalia-se num grosso tronco de madeira que o escravo carregava à cabeça preso por uma longa corrente a uma argola que trazia no tornozelo. Todavia, ele também podia ser usado para prender os tornozelos dele, deixando-o preso por dias, sem, inclusive, se alimentar. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>Já o vira-mundo era um ferro que se abria em duas partes e se fechava por intermédio de um parafuso. Nele, havia buracos grandes e pequenos para os pés e para as mãos que eram presos inversamente, isto é: mão direita com pé esquerdo, mão esquerda com pé direito. Ressalta-se que o escravo era “esquecido” naquela posição dolorosa por dias inteiros.</p><p>Outro exemplo de castigo era a gargantilha, que era um tipo de coleira de ferro que era preso à cabeça e ao pescoço do escravo, e servia para demonstrar publicamente que aquele vassalo havia cometido algum ato de rebeldia ou infração contra seu senhor.</p><p>20</p><p>CAPÍTULO 2 - O EMPENHO PARA ABOLIR A ESCRAVIDÃO E O TRÁFICO NEGREIRO</p><p>2.1 A dedicação da Inglaterra em por fim ao tráfico negreiro (1815)</p><p>A partir de 1815, durante o Congresso de Viena, a Inglaterra decidiu se empenhar para por fim ao tráfico negreiro. À vista disso, colocou a questão do tráfico de escravos como ponto de suma importância das discussões, além disso, apresentou às nações europeias participantes que o tráfico de escravos confrontava os princípios da humanidade, de modo que conseguiu a promessa de seu engajamento na proibição e repressão do aludido tráfico.</p><p>Destaca-se que a Rússia, Áustria e Prússia estavam propicias a colaborar, haja vista que não tinham interesses coloniais. Já Portugal, Espanha e França estavam menos propensos a aceitar o tratado. Entretanto, Portugal estava ligado politicamente à Inglaterra e por isso acabou obedecendo à proibição. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>Em face disso, a “Declaração das Oito Potências” (Inglaterra, França, Espanha, Suécia, Áustria, Prússia, Rússia e Portugal) foi assinada, estabelecendo, ainda, que a abolição do tráfico deveria se dar o mais rápido possível (CÂMARA DOS DEPUTADOS, s.p.).</p><p>Contudo, é de suma importância mencionar que para Portugal, o tratado impedia o tráfico ao norte do Equador. Nesse sentido, as regiões sob o domínio português ao sul da linha do Equador se mantiveram de modo a suprirem os mercados de escravos negros.</p><p>2.2 Independência do Brasil (1822)</p><p>Por conseguinte, com a independência do Brasil, em 07 de setembro de 1822, o movimento passou a ganhar força no país. Desta feita, até 1825, a Inglaterra teve ligação direta com a independência e com as garantias do fim do tráfico. O movimento ganhou ainda mais força através do tratado de 13 de novembro de 1826 que englobava as medidas dos tratados britânicos firmados com Portugal e antevia o fim do tráfico para três anos após sua ratificação, que em verdade aconteceu em 13 de março de 1827. Comment by DESKTOP: citar</p><p>Desta feita, a iminente proibição fez o preço de o escravo africano aumentar de forma exorbital. Razão pela qual, nos anos que precederam a proibição, numerosos navios desembarcaram milhares de africanos receando as atitudes que seriam tomadas pelo governo imperial e pelos britânicos quando a proibição fosse oficialmente legalizada.</p><p>Ocorre que, durante as viagens e também depois dos desembarques, muitos morriam. Em função disso, algumas restrições foram impostas ao transporte de africanos desse comércio:</p><p>As quarentenas e inspeções médicas, as normas sobre o volume das cargas de escravos, sobre o ferrete, alimentação, água e cuidados médicos a bordo dos navios, e nos depósitos de escravos da praia, haviam cessado de existir uma vez que o tráfico tornou-se ilegal (CONRAD, 1978, p. 136).</p><p>Todavia, os fazendeiros pouco se importavam com a questão da natalidade, haja vista que para eles era mais fácil adquirir um escravo novo do que criar crianças dando a elas condições de se desenvolverem. Para os fazendeiros, “o escravo trabalhando um ano, além de plantar e colher para o sustento dava produto líquido que cobria, pelo menos, o seu valor, do segundo ano em diante tudo era lucro” (CONRAD, 1978, p. 136.) Argumentava-se, portanto, que a dependência do tráfico negreiro com o fito de abastecer a mão de obra era justificativa mais do que suficiente para resistir às medidas de proibição.</p><p>Nesse sentido, o tráfico era considerado a única maneira de suprir a demanda por trabalhadores devido à expansão da economia brasileira. Assim, nos primeiros anos da Regência contaram com forte repressão ao comércio ilegal, contudo, após os primeiros anos ele rapidamente se reorganizou. Com isso, em 1833 o tráfico voltou a crescer e ganhou a estabilidade perdida durante o período liberal que perdurou até 1837. Frente a isso, a lei se tornou letra morta e o Brasil permitiu o comércio ilegal se reerguer até que o volume fosse aumentado.</p><p>Nesta senda, de acordo com Bethell (1976):</p><p>Apenas durante um curto período, no começo de 1835, houve uma reação discernível contra o tráfico negreiro. Foi logo após uma importante insurreição de escravos na Bahia [Revolta dos Malês] que, combinada com ameaças de outras revoltas, serviu pra recordar aos brasileiros brancos os perigos inerentes à importação anual de milhares de escravos da África (BETHELL, 1976, p.85-86).</p><p>Posterior a esse evento, não houve mais nenhuma preocupação evidente do governo brasileiro em fazer valer a lei antitráfico. Com isso a sociedade brasileira passou a ser vista de forma bastante pessimistas devido a forte presença de africanos no país, que culminou nas diferenças culturais e comportamentais entre brancos negros, definindo, inclusive, o grau de civilidade de cada um.</p><p>Para a massa que era a favor do trafico e da escravidão, consideravam que o africano estava sendo em verdade resgatado de um mundo miserável, os quais seriam inseridos num contexto cristão onde teriam a chance da salvação. Por fim, por volta dos anos de 1848/1849 a pressão inglesa aumentou tentando por um ponto final definitivo ao tráfico de escravos para o Brasil.</p><p>2.3 A efetiva repressão brasileira contra o “tráfico de almas” (1850)</p><p>Em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz repreendeu oficialmente o tráfico negreiro e foi a partir daí, que a postura do governo brasileiro mudou. De modo que os traficantes sofreram com investidas do governo britânico e também das autoridades brasileiras. Neste novo cenário, o Ministério das Relações Exteriores britânico, o Foreign Office, decidiu aplicar em 1850 medidas mais duras no combate ao tráfico brasileiro. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>Em virtude disso, quando o ministro do exterior brasileiro soube das atitudes prestes a serem tomadas reconheceu o grande mal da robusta importação e o perigo que um grande contingente de escravos representava à população e à ordem social.</p><p>Não obstante, a marinha inglesa iniciou medidas menos diplomáticas</p><p>e mais ativas para exonerar de vez o comércio ilegal e acabar com os desembarques clandestinos. De tal sorte que, ordenou aos navios ingleses que entrassem nos portos brasileiros e expulsassem todos os navios que lá encontrassem aparelhados para o tráfico negreiro (BETHELL, 1976, p. 311).</p><p>Apesar disso, o governo brasileiro ainda fugia de aceitar qualquer medida que parecesse render-se à pressão britânica e em razão disso continuava discutindo um projeto de lei nacional contra o tráfico, com medo de pôr em risco sua soberania nacional.</p><p>Todavia, as autoridades brasileiras entenderam por bem que:</p><p>O governo brasileiro podia cumprir as suas obrigações por tratado e apressar os seus planos para suprimi-lo o mais depressa possível e só então poderiam entrar em negociações com a Grã Bretanha numa posição de força relativa e exigir que os direitos do Brasil fossem respeitados (BETHELL, 1976, p.315).</p><p>Por fim, decorridos vários outros acontecimento, o Conselho de Estado decidiu pôr fim ao tráfico e em 12 de julho de 1850. Eusébio de Queirós reuniu então a Câmara em sessão secreta para discutir os planos para uma lei antitráfico apresentado pela primeira vez em 1848 e aprovada em 17 de julho pela Câmara dos Deputados e pelo Senado em 13 de agosto e tornando-se lei em 04 de setembro de 1850 (Lei nº 581 ou Lei Eusébio de Queirós). Comment by DESKTOP: COLOCAR A FONTE</p><p>Consequentemente, após a entrada dessa lei, o tráfico negreiro brasileiro estava reduzido em comparação ao que fora nas décadas anteriores.</p><p>2.4 A “Lei do Ventre Livre” ou “Lei do Rio Branco” (1871)</p><p>Posteriormente, em 28 de setembro de 1871, foi promulgada a “Lei do Ventre Livre” também conhecida como “Lei do Rio Branco” (Lei 2.040 de 28 de setembro de 1871), que tornava livres os filhos de escravos nascidos a partir daquela data (BRASIL, 1871). Essa lei representou mais um passo na escalada ruma à libertação de todos os negros utilizados como mão-de-obra escrava no país.</p><p>Tendo em vista que seus pais continuariam escravos, a lei oferecia aos ingênuos, filhos de escravos, duas opções: a) poderiam ficar com seus senhores até atingir a maioridade, que era de 21 anos à época, ou b) serem entregues ao governo para arriscar a sorte na vida. Comment by DESKTOP: CITAR O AUTOR</p><p>Ocorre que, quase todos os ingênuos ficavam com seus senhores, os quais dispensavam apenas doentes, cegos e deficientes físicos. A criança vivia, para tanto, sob os cuidados do senhor, mas na verdade prestava serviços como de escravos. Como os senhores já não tinham mais a obrigação de sustentar os filhos de escravos consideravam todo o tempo até a maioridade como geradores de encargos desnecessários. Ao atingirem a maioridade, o indivíduo estava totalmente atrelado às dívidas adquiridas com os senhores por terem investido em seus cuidados. Para liquidar essas dívidas, os libertos tinham que prestar serviços gratuitos para quitar as contas, o que, em síntese, voltava a ser uma situação de escravidão. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>É sabido, entretanto, que a “Lei do Ventre Livre” permitia a liberdade para os filhos de escravos, mas vários artifícios na lei permitiam que os senhores não perdessem seus trabalhadores. Por outro lado, aumentou o índice de mortalidade infantil por conta do descaso com os recém-nascidos por parte dos senhores. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>Por derradeiro, salienta-se que a “Lei do ventre Livre” serviu também para dar uma resposta, embora fraca, aos interesses do movimento abolicionista.</p><p>2.5 A “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva-Cotegipe” (1885)</p><p>Em 1885, foi assinada a “Lei do Sexagenário” também conhecida como “Lei Saraiva-Cotegipe” (Lei 3.270 de 28 de setembro de 1885), a qual foi promulgada em 28 de setembro de 1885 (BRASIL, 1885).</p><p>Essa lei concedia a liberdade aos escravos com mais de 60 anos (desde que seus proprietários fossem indenizados). Todavia, a lei beneficiou poucos escravos, vez que eram raros os que atingiam esta idade, devido à vida sofrida que levavam. Os que chegavam aos 60 anos de idade já não tinham mais condições de trabalho. Comment by DESKTOP: PLÁGIO</p><p>Desta feita, era uma lei que acabava por beneficiar mais os proprietários, haja vista que podiam libertar os escravos pouco produtivos. Além disso, a lei apresentava um artigo que determinava que o escravo, ao atingir os 60 anos, deveria trabalhar por mais 3 anos, de forma gratuita, para seu proprietário.</p><p>A Lei dos Sexagenários foi, portanto, uma forma pouco efetiva em conter o movimento abolicionista mais radical e de retardar uma solução definitiva. Entretanto, a opinião pública reivindicava uma resolução imediata e promoviam campanhas em forma de eventos como quermesses, peças de teatro e festas para arrecadar fundos para compra de alforrias.</p><p>Os sujeitos escravizados fugiam das fazendas com apoio de vários setores da população que passaram a esconder homens e mulheres em fuga, em sua defesa. Nesta senda, com o país em chamas, clamando por uma medida mais eficaz, na última década do Império, restava apenas à proclamação da Lei Áurea, que fora aprovada às pressas, para resolver definitivamente a questão do trabalho escravo no Brasil.</p><p>2.6 A abolição da escravatura – Lei Áurea (1888)</p><p>Como sabemos, na última década do período imperial brasileiro o contexto era de instabilidade e tensão social, de modo que a questão da escravidão era um ponto importante a ser resolvido e vinha, desde meados do século XIX, causando preocupação e a promoção de leis que tentavam adiar uma solução definitiva, como a Lei Eusébio de Queirós, a Lei do Ventre Livre e principalmente a Lei dos Sexagenários.</p><p>Nesse sentido, a história da escravidão no Brasil teve fim no dia 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea (Lei 3.353) (BRASIL, 1888) pela Princesa Isabel. Neste cenário muitas eram as rebeliões e manifestações em favor da abolição dos escravizados no Brasil. O medo era constante, em especial por parte dos homens e mulheres escravizados que temiam a reescravização e a violência. Em contrapartida os senhores exigiam uma maior jornada de trabalho e aumentavam os castigos físicos, culminando em fugas, revoltas e protestos e, em alguns casos mais extremos, até mesmo no assassinato de senhores e feitores.</p><p>Em face disso, a escravidão perdia legitimidade enquanto os escravizados se preparavam cada vez mais. Ainda que a polícia do Estado atuasse ao lado dos senhores feudais a indisciplina era geral e agentes abolicionistas solidarizavam-se e auxiliavam nas fugas. Comment by DESKTOP: PLÁGIO</p><p>Com efeito, a Lei Áurea marcou o fim da escravidão, entretanto, fora apresentado pelo Estado monárquico como um presente e não como uma conquista após longas lutas travadas. Frente a essa nova realidade, os proprietários rurais romperam com o Estado, visto que suas fortunas se centralizavam na posse de escravos, e assim acabaram por aderirem à causa republicana. Comment by DESKTOP: PLÁGIO</p><p>Por derradeiro, mas não menos importante, salienta-se que o Brasil foi o último país do mundo a abolir, em tese, a escravidão.</p><p>45</p><p>CAPÍTULO 3 – ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA</p><p>Nesse capítulo temos como objetivo conceituar o trabalho escravo contemporâneo para isso utilizaremos o conceito de trabalho forçado da Organização Internacional do Trabalho (OIT), uma agência das Nações Unidas que tem por missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade. E utilizaremos também o artigo 149 do Código Penal Brasileiro. Comment by DESKTOP: PLÁGIO</p><p>3.1 Breve contexto de trabalho escravo contemporâneo</p><p>Embora a Lei Áurea tenha abolido o direito de propriedade sobre outra pessoa, isto é, a escravidão, e passados 129 (cento e vinte e nove) anos desde a assinatura dessa lei, os fatos atuais continuam revelando outra realidade.</p><p>Em função disso, fez-se necessário a implantação de uma nova lei com o fito de criminalizar o explorador de trabalho escravo. Vejamos o disposto no artigo 149 do Código Penal. In verbis:</p><p>Artigo 149. Reduzir</p><p>alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalhando, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:</p><p>Pena- reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.</p><p>§ 1º. Nas mesmas penas incorre quem:</p><p>I- cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;</p><p>II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.</p><p>§ 2º. A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:</p><p>I – contra a criança ou adolescente;</p><p>II – por motivo de preconceito de raça, cor etnia, religião ou origem (BRASIL, 1940).</p><p>Desta forma, nota-se que o trabalho escravo não é caracterizado por meras infrações trabalhistas, vez que violações de direitos trabalhistas, isoladamente, não bastam para configurar o trabalho escravo. Em verdade, ele é um crime contra a dignidade humana, haja vista que a pessoa tem sua dignidade ferida (alojamento precário, falta de saneamento básico e higiene, falta de assistência médica, jornada exaustiva, dentre outras) e sua liberdade restringida (retenção de salário, isolamento geográfico, retenção de documento, divida ilegal, maus tratos e ameaças, entre outros).</p><p>Portanto, a constatação de qualquer um dos quatro elementos vistos a seguir é suficiente para configurar a exploração de trabalho escravo ou em situação análoga.</p><p>3.1.1 Trabalho Forçado</p><p>Ocorre quando o indivíduo é obrigado a se submeter a condições de trabalho em que é explorado, sem haja alternativa de deixar o local seja em decorrência de dívidas, seja por ameaça e violências física ou psicológica (OIT, s.p.).</p><p>Ademais, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho), o trabalho será forçado, inclusive, quando se tratar de tráfico de pessoas e outras formas de escravidão moderna.</p><p>Além disso, esse fenômeno global e dinâmico, está presente em todas as regiões do mundo e em todos os tipos de economia, até mesmo em países desenvolvidos e em cadeias produtivas de grandes e modernas empresas atuantes no mercado internacional.</p><p>Para a OIT, para erradicar o problema exige não só o comprometimento das autoridades dos governos, como, ainda, um engajamento multifacetado de trabalhadores, empregadores, organismos internacionais e sociedade civil (OIT, s.p.).</p><p>3.1.2 Jornada Exaustiva</p><p>Decorre de expediente desgastante que vai além de horas extras e coloca em risco a integridade física do trabalhador, vez que o intervalo entre as jornadas é insuficiente para a reposição de energia. Há casos em que o descanso semanal não é respeitado. Logo, o trabalhador também fica impedido de manter vida social e familiar.</p><p>Nota-se, portanto, que a jornada exaustiva deteriora as condições de trabalho, além de repercutir negativamente na vida pessoal e particular do trabalhador, privando-o do convívio familiar e social, como dito acima, bem como do lazer, indispensáveis para a qualidade de vida do indivíduo que, inclusive, são direitos e garantias asseguradas pela Constituição Federal da Republica Federativa do Brasil em seu artigo 5º (BRASIL, 1988).</p><p>3.1.3 Servidão por dívida</p><p>Essa modalidade continua sendo uma das formas mais comuns de escravidão contemporânea em todos os locais do mundo, embora seja proibida pelo direito internacional e pela jurisdição nacional.</p><p>Isso acontece quando há fabricação de dívidas ilegais referentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel e ferramentas de trabalho, dentre outros. Esses itens são cobrados de forma abusiva e descontados do salário do trabalhador, que permanece cerceado por uma dívida fraudulenta. Comment by DESKTOP: PLÁGIO</p><p>Na grande maioria das vezes, a pobreza, a falta de alternativas econômicas, o analfabetismo e a discriminação que as pessoas pertencentes a grupos minoritários sofrem fazem com que elas não vejam outra alternativa a não ser solicitar um empréstimo ou adiantamento de empregadores ou recrutadores, com o fito de satisfazer as suas necessidades básicas para sobrevivência. Em contrapartida, essas pessoas oferecem o próprio trabalho ou até mesmo o trabalho familiar. Comment by DESKTOP: PLÁGIO</p><p>Com isso, essas pessoas acabam trabalhando sem receber salário ou, em algumas vezes, recebem rendimentos inferiores ao mínimo adequado, a fim de pagar as dívidas contraídas ou adiantamentos recebidos.</p><p>Muitos fatores contribuem para esse tipo de trabalho escravo, sendo que alguns deles estão diretamente relacionados à desigualdade estrutural e sistêmica, a pobreza, a discriminação e a migração laboral precária. A falta de acesso à justiça, a falta de aplicação da lei e governança, assim como a corrupção são fatores que impedem a liberação do trabalho forçado e a reabilitação de famílias e indivíduos presos neste ciclo de pobreza.</p><p>Seguindo esse assunto, é válido trazer o depoimento de Maria Branca, mãe de um trabalhador escravizado:</p><p>Quem quer sair, quer achar oportunidade. Aí sai, de qualquer forma sai, ou que o pai queira ou que a mãe não queira. A necessidade dele que está obrigando ele sair. A gente tudo pobre, não tem como sobreviver, nem dar ao filho, não é? A gente embora fique morrendo com a perda do filho... Porque nós sabemos que os outros estão lá, estão adoecendo de malária, estão comendo comidas irregulares, ficam sem almoçar. Mas isso tudo é por causa da situação, porque, se o pai tivesse condição de sustentar o filho mesmo casado com a sua família ao lado, não deixaria que o filho fosse pra lugar nenhum. Outra, eu mesma, não me sinto bem. Mas o que eu posso fazer? O nosso país não oferece oportunidade para que nós vivamos aqui (FIGUEIRA, 2004, p. 114).</p><p>É notório que mesmo diante da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que prevê que todos têm direito a moradia, alimentação, emprego, liberdade de ir e vir, enfim, de viver com dignidade, a população mais carente se vê obrigada a abrir mão de seu direito, ou seja, de sua humanidade em troca da sobrevivência indigna. E consequentemente, os grandes proprietários rurais que desejam obter mão-de-obra barata, se aproveitam dessa situação, já que nesses casos o preço é quase que insignificante para eles. Nesse sentido explica Sakamoto (2008):</p><p>A utilização de mão-de-obra não especializada na condição de escravidão é adotada por empresas e fazendas para diminuir custos na produção, garantindo assim competitividade nos mercados interno e externo, sem que seja necessária a redução nos lucros dos proprietários ou acionistas. E, em um cenário de alta competitividade, é mais fácil cortar nessa rubrica do que na dos insumos agrícolas (SAKAMOTO, 2008, p. 62).</p><p>Para angariar trabalhadores, os fazendeiros contratam aliciadores, conhecidos como “gatos”, que seduzem os trabalhadores com falsas promessas de melhores condições de vida, de trabalho e altos salários, conforme citação abaixo:</p><p>Com efeito, ter uma conversa bonita é uma das características de um “gato”. É com sua conversa que ele seduz o peão para o trabalho escravo, ao criar uma imagem atraente do trabalho para sua vítima, ao qual fica, senão, totalmente iludida com a ideia de ganhar dinheiro fácil em pouco tempo, pelo menos bastante interessada diante das possibilidades apresentadas e, assim, despreocupado com o que poderá lhe acontecer (SILVA, 2008, p. 208).</p><p>Posteriormente, outros agentes facilitadores se juntam ao “gato”, cooperando para a exploração desses trabalhadores:</p><p>Associam-se ao tomador dos serviços e ao gato, na exploração do trabalho escravo, diversos agentes facilitadores, que também retiram sua parcela de lucro da privação da liberdade e aviltamento da dignidade alheia, tais como os proprietários e gerentes das hospedarias e pousadas onde são abrigados os trabalhadores até que se complete o número necessário à formação da turma e seu deslocamento ao destino final, e os transportadores que conduzem os trabalhadores ao local da prestação</p><p>de serviços, não raro amontoados em veículos sem a mínima condição de segurança, repartindo espaço com as ferramentas de trabalho (CORRÊIA, 1999, p. 77-78).</p><p>Por derradeiro, quando o “gato” consegue um número considerável de trabalhadores, eles são levados para locais geograficamente isolados, haja vista que a distância geográfica prepara a distância social de forma quase que absoluta, separa o escravo do senhor, e também impede as tentativas de fugas (FIGUEIRA, 2004, p. 134).</p><p>3.1.4 Condições degradantes</p><p>É um conjunto de elementos irregulares que descrevem a precariedade do trabalho e das condições de vida sob a qual o trabalhador é sujeitado, atentando contra a sua dignidade. Pode-se dizer, portanto, que:</p><p>O trabalho em condições degradantes é aquele em que há a falta de garantias mínimas de saúde e segurança, além da ausência de condições mínimas de trabalho, de moradia, higiene, respeito e alimentação, tudo devendo ser garantido (...) em conjunto; ou seja, em contrário, a falta de um desses elementos impõe o reconhecimento do trabalho em condições degradantes (BRITO FILHO, 2006. p. 132.).</p><p>Desta feita, às condições degradantes de trabalho, estarão caracterizadas quando o meio ambiente de trabalho for absolutamente insalubre, quando não forem tomadas as devidas precauções quanto à salubridade física e psíquica do trabalhador. Comment by DESKTOP: PLÁGIO</p><p>Portanto, haverá condições degradantes de trabalho quando houver desrespeito aos direitos indisponíveis dos trabalhadores. Mas não é qualquer desrespeito, devemos considerar que serão configuradas as condições degradantes quando houver desrespeito grave a ponto de ferir a dignidade do trabalhador, sendo que, neste caso, suas necessidades mais básicas são desconsideradas, fazendo com que o tratamento a ele dispensado se assemelhe com o tratamento dado a uma coisa.</p><p>3.2 Comparação entre a escravidão antiga e contemporânea</p><p>Inicialmente, importa esclarecer que na escravidão antiga, praticada, inclusive, no Brasil colonial como já exposto anteriormente, o ser humano podia ser dono de outro ser humano, isto é, o ser humano era tratado como coisa, sendo este objeto de propriedade de seus senhores.</p><p>Já na escravidão contemporânea, o ser humano também é tratado como coisa, não necessariamente por ter sua liberdade privada, mas, principalmente por ter sua dignidade ignorada. E como se sabe, a dignidade humana é intrínseca e distintiva de cada ser humano, a qual deve ser respeitada tanto pela própria comunidade como também pelo Estado.</p><p>Nesse viés, quando a dignidade da pessoa humana é lesionada, este sofre uma degradação, ou seja, um rebaixamento do seu grau de humano. Isto posto, nota-se que na escravidão contemporânea, o ser humano também é tratado como coisa e aí está a semelhança entre a escravidão antiga e a contemporânea.</p><p>Em tempos passados, o escravo era coisa com alto valor, pois era comprado a preços elevados e a riqueza de uma pessoa podia ser mensurada pela quantidade de escravos que possuía razão pela qual, consistiam sinais de elevado status social de seus proprietários.</p><p>No caso da escravidão contemporânea, não a compra de escravos, o que há são os gastos com o transporte, por exemplo, que posteriormente serão cobrados do trabalhador de modo a mantê-lo preso aquela situação de escravidão.</p><p>Em suma, na escravidão contemporânea, o empregador, legalmente responsável pela segurança do trabalhador, ofende a dignidade da pessoa humana e em consequência trata esse indivíduo como coisa quando despreza as necessidades mais básicas dos trabalhadores, tais como a de ter um alojamento adequado, um banheiro para que tenha sua privacidade respeitada, de ter água potável para beber e preparar a alimentação, de possuir direitos básicos de higiene pessoal e, de ter sua integridade protegida por equipamentos de proteção individual a fim de lhe evitar qualquer tipo de acidente em decorrência do trabalho, de ter garantida a devida assistência médica, entre muitas outras condições mínimas. Nesta seara, Leonardo (2008) Sakamoto, salienta o tratamento de coisa sem valor dado ao trabalhador. Vejamos:</p><p>Os relatórios das ações fiscais demonstram que quem escraviza no Brasil não são proprietários desinformados, escondidos em fazendas atrasadas. Pelo contrário, são latifundiários, muitos utilizando alta tecnologia. O gado recebe tratamento de primeira: rações balanceadas, vacinação com controle computadorizado, controle de natalidade com inseminação artificial, enquanto os trabalhadores vivem em piores condições do que a dos animais (SAKAMOTO, 2008, p. 62).</p><p>É perceptível, assim, que o escravo moderno, tem como principal ponto de similitude com o escravo antigo o seu rebaixamento da condição de ser humano, de modo a causar-lhe um grave desrespeito às condições mínimas exigidas pela legislação de proteção ao trabalhador, o que representa ofensa ao principio da dignidade.</p><p>O artigo 149 do Código Penal veio para proteger não apenas a liberdade de ir e vir, como também a dignidade do trabalhador (BRASIL, 1940). Essa previsão legal é favorável por que, através disso, procura-se evitar a super-exploração dos trabalhadores, protegendo de maneira mais eficaz os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal.</p><p>Todavia, não podemos ser ingênuos em acreditar que isso é o bastante para por fim a escravidão que perdura nos tempos atuais, até mesmo porque falta fiscalização adequada para erradicar de vez essa situação humilhante e degradante do ser humano.</p><p>3.3 Dignidade da pessoa humana</p><p>Tendo em vista que muito se falou em dignidade da pessoa humana no presente trabalho, abordaremos agora um pouco sobre esse principio que está definido no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal/1988. Nesse sentido, impende consignar que a dignidade da pessoa humana é a característica que diferencia o homem das coisas e que impede que o ser humano seja coisificado, ou seja, tratado como coisa, como objeto, como mercadoria.</p><p>Para tanto, a dignidade da pessoa humana é definida como:</p><p>Uma definição de dignidade é descrita por Ingo Wolfgang Sarlet: a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, nesse sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições mínimas para uma vida saudável além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos (SARLET,1998, p. 1216).</p><p>Nesse sentido, tem-se que o mundo das relações do trabalho, seja pela hipossuficiência de uma das partes, seja pela necessidade que essa mesma parte hipossuficiente tem do trabalho para a melhoria de sua condição social, é um importante campo de aplicação da dignidade da pessoa humana. Portanto, a proteção da dignidade da pessoa humana exige que se evite qualquer tipo de super-exploração do trabalhador por parte do empregador.</p><p>Com efeito, o Direito do Trabalho adveio exatamente para proteger a dignidade da pessoa humana do trabalhador e como fonte de melhoramento da condição humana. E, além disso, como já bem dizia Benjamin Franklin (1706 – 1790), “o trabalho dignifica o homem”. Pois é, o trabalho regulado e digno que integra o homem na sociedade e coopera para a plena realização da personalidade do ser humano, vez que o trabalho digno nos torna feliz, contemplado, com maior qualidade de vida e longevidade. Enquanto que o trabalho estressante, ou contra nossa vontade, gera doenças orgânicas, psicológicas, além de uma tristeza profunda, que pode até mesmo encurtar a nossa vida. Comment by DESKTOP: FONTE</p><p>Desta feita, a dignidade da pessoa humana deve ser alicerce para toda e qualquer relação regida pelas leis brasileiras, posto que é um dos princípios regidos pela República Federativa do Brasil. Desta forma, nas relações de trabalho, a dignidade do trabalhador será garantida na medida em que forem respeitados</p><p>os direitos mínimos previstos na legislação trabalhista. Esses direitos por mais ínfimos que sejam, envolvem não só as prestações pecuniárias devidas aos trabalhadores, mas também a proteção de sua integridade física e privacidade através do efetivo fornecimento de equipamentos de proteção, locais para descanso, água potável, banheiros, entre outras condições previstas nas Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança do Trabalhador, expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego.</p><p>3.4 Quem são os trabalhadores escravizados no Brasil atualmente Comment by DESKTOP: O tópico inteiro sem citação ? e de onde vc tirou isso? Refaça pq vai dar rolo.</p><p>Em tempos atuais a forma de adquirir mão-de-obra escrava, é por intermédio do “gato”, um meio onde o patrão faz falsas promessas de salário e do modo de vida que os trabalhadores terão. Chegam sempre de maneira agradável para parecerem ser de confiança, entretanto, por de trás disso colocam os empregados em difíceis situações para que não haja possibilidades de se desvincularem. Via de regra, pegam pessoas de regiões distantes do local em que irão trabalhar para dificultar o retorno destes.</p><p>De forma geral, esses trabalhadores escravos são migrantes que deixaram suas casas em busca de melhores condições de vida e de sustento para as suas famílias, atraídos pelas falsas promessas. Todavia, em algumas situações, migram forçadamente por vários outros fatores, tais como a falta de opção econômica, guerras e até mesmo perseguições políticas.</p><p>No Brasil, os trabalhadores originam-se de diversos estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, contudo, também podem ser migrantes internacionais de países como a Bolívia, Paraguai, Peru, África, Haiti e outros. Essas pessoas podem se destinar à região de expansão agrícola ou aos centros urbanos à procura de oportunidades de trabalho e melhoria de vida. Comment by DESKTOP: PLÁGIO</p><p>Tipicamente, o trabalho escravo é empregado em atividades econômicas na zona rural, como a pecuária, a produção de carvão e os cultivos de cana-de-açúcar, soja e algodão. Contudo, nos últimos anos, essa situação também passou a ser verificada em centros urbanos, principalmente na construção civil e na confecção têxtil.</p><p>No Brasil, a maioria das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural são homens, haja vista que as atividades para as quais esse tipo de mão-de-obra é utilizado exigem força física, por isso os aliciadores buscam principalmente homens, que de preferência sejam jovens por estarem no auge do vigor físico, capazes de executar tarefas pesadas e extenuantes.</p><p>Vemos que, boa parte desses trabalhadores começaram a trabalhar antes dos 16 anos e, alguns, antes dos 11 anos, em geral para ajudar os pais nas fazendas. Outrossim, é de suma importância mencionar que grande parte são analfabetos ou não concluíram o quinto ano do Ensino Fundamental.</p><p>Ademais, algumas mulheres também são aliciadas para exploração de sua mão-de-obra, todavia, na maioria das vezes trabalhavam como cozinheiras ou são esposas de trabalhadores, muitas acompanhadas de crianças, que já ajudam nas tarefas domésticas.</p><p>3.4.1 Quem escraviza no Brasil atualmente</p><p>Em grande parte das vezes, são pecuaristas, agricultores, fazendeiros, “[...] em geral de criação de gado ou de lavoura” (FIGUEIRA, 2004, p. 235), para as quais “contratam”, em sua maioria, para a derrubada de matas, ou manutenção de pastos para a pecuária.</p><p>Como dito acima, uma das principais atividades que utilizam o trabalho escravo ou em condição análoga é a da derrubada de matas para abertura de pastagens, com o objetivo de implantação da pecuária, que é o setor que tem o maior percentual de mão-de-obra escrava, pois aproximadamente 80% dos casos de trabalho escravo se concentram na pecuária. Vejamos:</p><p>O gado é um dos principais causadores dessa perda da vegetação original. Fazendas de soja e algodão também desmatam, mas o padrão ocorre mais frequentemente é a compra de pastagens já existentes e sua transformação em lavouras. Isso transfere a pecuária a responsabilidade pela derrubada de árvores, apesar de sojicultores e cotonicultores lucrarem com essa cadeia de transferência de terras. A necessidade de ampliação da área cultivada de soja para atender a demanda internacional vem criando uma espécie de corrida fundiária, que leva os produtores de gado a desmatarem outras áreas, empurrando a fronteira agrícola, para alguns anos depois venderem as lavouras (SAKAMOTO, 2008, p. 63).</p><p>Além disso, segundo a OIT (s.p.), a maior parte dos empregadores são homens acima de 45 (quarenta e cinco) anos, mais especificadamente com idade média de 47,1 anos. Vale dizer ainda, que predomina homens brancos como empregadores.</p><p>3.5 A atuação do Estado brasileiro no combate ao trabalho escravo</p><p>A grande concentração de terras na mão de poucos em detrimento da maioria, a pobreza e as constantes violações dos Direitos Humanos beneficiam o aumento das relações de trabalho alicerçadas na exploração da dignidade humana.</p><p>Nesse viés, uma das grandes dificuldades encontradas para erradicação da escravidão contemporânea é a efetivação de repressão penal. Até o ano de 2010, somente dois casos tiveram condenação. O primeiro condenado criminalmente foi Antônio Barbosa de Melo, em 1999, proprietário das fazendas Araguai e Alvorada, em Água azul do Norte, sul do Pará, entretanto, conseguiu reverter sua pena em pagamento de cestas básicas. E Gilberto Andrade que em 2008 foi condenado a 14 anos de reclusão pelos crimes de: trabalho escravo, ocultação de cadáver e aliciamento de trabalhadores (REPÓRTER BRASIL, 2010, [n.p.]). Comment by DESKTOP: Nã consta nas ref</p><p>De mais a mais, nunca é demais dizer alguns passos que talvez sejam fundamentais para que trabalhadores em situações análogas de escravidão sejam libertados, tais como, a fuga, que embora seja perigoso, na maioria das vezes, é a única solução para escapar da violência e alcançar seus direitos.</p><p>Outro passo é a realização da denúncia, pois é a principal ferramenta para orientar as ações de fiscalização ou descobrir situações de trabalho escravo. Nessa etapa, é importante manter a identidade do denunciante em sigilo a fim de garantia sua segurança.</p><p>É de suma importância, que a denúncia contenha o máximo de informações possíveis, tais como: nome do empregador, local do trabalho, a quantidade de trabalhadores que estão nesse local, às atividades exercidas e como se deu a “contratação”.</p><p>Essas denúncias são realizadas nos órgãos responsáveis pela fiscalização, quais sejam, Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho, além de sindicatos e outras organizações da sociedade civil, como a Comissão Pastoral da Terra e o Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia. Comment by DESKTOP: plágio</p><p>3.5.1 Comissão Pastoral da Terra (CPT)</p><p>É uma entidade ligada a Igreja Católica que colhe a denúncia de trabalhadores e as encaminha ao MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), além de dar assistência a trabalhadores libertados (COMISSÃO PASTORAL DA TERRA, s.p.).</p><p>Corrobora também, sistematizando e divulgando uma base estatística anual referente à ocorrência de trabalho escravo.</p><p>3.5.2 Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia - MA (CDVDH)</p><p>Acolhe trabalhadores escravizados em fazendas e carvoarias no Maranhão, oferecendo, ainda, assistência jurídica, além de encaminhar a denúncia ao MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) (GRUPO ESPECIAL DE FISCALIZAÇÃO MÓVEL).</p><p>3.5.3 Ministério Público do Trabalho (MPT)</p><p>Ele recebe as denúncias de violações trabalhistas feitas pessoalmente, por telefone, carta ou internet. O MPT pode encaminhar a denúncia ao MTE ou realizar uma ação de fiscalização na propriedade (MPT, s.p.).</p><p>Importa salientar que, o Ministério Público do Trabalho reforçam as atuações dos auditores fiscais, com medidas judiciais urgentes, como o bloqueio de bens dos acusados caso não queiram pagar os direitos trabalhistas dos respectivos trabalhadores. Além disso, recolhem dados recolhem dados e informações para ingressarem na Justiça do Trabalho com</p>