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<p>155</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>7 A CONTEMPORANEIDADE</p><p>As mudanças ocorridas no mundo e no Brasil na segunda metade do século XX foram marcantes</p><p>para a produção cultural da época. Os fatos políticos que alterariam o panorama sociopolítico da</p><p>contemporaneidade acabaram por provocar uma interação entre as nações.</p><p>A humanidade viveu na segunda metade do século XX a perda das liberdades individuais em função</p><p>dos regimes ditatoriais e dos governos militares, os quais foram marcados pela rigorosa censura às</p><p>manifestações artísticas e culturais.</p><p>Em resposta à repressão, alguns movimentos populares aconteceram em diversos lugares do</p><p>mundo, como a Revolução Cubana, em 1959; a greve geral de Maio de 1968, em Paris, que mobilizou</p><p>aproximadamente dez milhões de trabalhadores; ou ainda a conhecida Primavera de Praga, que foi</p><p>liderada por intelectuais do Partido Comunista tcheco e violentamente reprimida.</p><p>A partir dessas manifestações que tiveram eco no mundo todo, as pessoas começaram a questionar</p><p>as ideias fundamentalistas dos governos ditatoriais.</p><p>No Brasil, acontecimentos de igual importância no âmbito da política tiveram repercussão</p><p>importante, foram eles:</p><p>• Fim do governo de Juscelino Kubitschek, em 1960, e a eleição de Jânio Quadros e sua prematura</p><p>renúncia em 1961.</p><p>• O golpe militar de 1964 e, posteriormente, os 20 anos de governo militar.</p><p>• O movimento Diretas Já, em 1984.</p><p>• As eleições pelo voto popular em 1989 do presidente Fernando Collor de Melo e seu impeachment,</p><p>em 1992.</p><p>• A vitória do primeiro presidente proveniente da classe operária, Luís Inácio Lula da Silva, em 2003.</p><p>Essa agitação no âmbito político foi acompanhada por diversos movimentos artísticos esporádicos</p><p>que, a exemplo do que aconteceu em Praga, foram repreendidos e proibidos pelo golpe militar de 1964</p><p>e pelo Ato Institucional número 5, o AI‑5, que coloco fim às manifestações culturais que não passassem</p><p>pelo crivo da censura federal. Assim, durante mais de 20 anos, o Brasil conheceu a total perda de liberdade.</p><p>Esses movimentos políticos vão refletir, mais tarde, na literatura dita contemporânea, constituindo</p><p>um período de intensa produção literária.</p><p>Unidade III</p><p>156</p><p>Unidade III</p><p>Na produção em prosa, observa‑se uma mistura de gêneros, característica que já se notava em</p><p>Guimarães Rosa e em Clarice Lispector. Além disso, é possível detectar uma narrativa mais direta</p><p>“intencionalmente brutalista”, como diria Alfredo Bosi (1980), de um realismo cru, que reflete</p><p>significativamente a dureza vivida nas últimas décadas do século XX.</p><p>Essa produção se caracterizou pela busca de uma literatura autêntica que refletia questões sociais</p><p>e aprofundos traços psicológicos, associando ficção e memória e trazendo à tona a história do Brasil.</p><p>Notadamente concentrada nos grandes centros urbanos, essa literatura evidenciou o isolamento e a</p><p>vulnerabilidade do homem moderno, que não encontrava suas raízes, diluídas por completo no meio</p><p>urbano. Assim, a cidade passou a ser o habitat da literatura brasileira a partir dos anos 1960 do século XX.</p><p>Lygia Fagundes Telles (1923)</p><p>Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo e iniciou sua carreira em 1938, publicando o livro de</p><p>contos Porão e sobrado.</p><p>Sua obra é um registro das experiências humanas, especialmente das experiências psicológicas.</p><p>A solidão permeia a maioria de suas personagens e serve de mote para que ela nos apresente o</p><p>conflito entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo, entre o real e o ideal, que atinge o leitor por</p><p>meio da análise que a autora faz dos sentimentos e das percepções de suas personagens.</p><p>Lygia também faz uso dos monólogos interiores (ou do fluxo de consciência) como um meio de</p><p>conhecimento das personagens. O desenrolar das tramas é bem estruturado e detalhadamente calculado,</p><p>de modo a permitir que cada gesto transmita marcas de uma personalidade ou de uma dada situação.</p><p>O cenário passa, então, a ser secundário no enredo, pois o foco de atenção está no posicionamento</p><p>interior assumido por cada personagem diante dos fatos.</p><p>Esse direcionamento já pode ser percebido em Ciranda de pedra (1954), primeiro romance da autora.</p><p>A personagem principal, Virgínia, é uma garota solitária, filha de pais separados. Após a separação dos</p><p>pais, vai morar com sua mãe, que logo adoece. Virgínia passa, então, a morar com o pai e as duas irmãs,</p><p>num ambiente movimentado e hostil. O título do livro faz referência a uma roda de anões de pedra que</p><p>ornamenta o jardim da casa, remetendo‑nos à ciranda da qual Virgínia nunca poderá participar. Dessa</p><p>forma, podemos vislumbrar que a ciranda de pedra é uma representação simbólica do mundo interior da</p><p>personagem, encerrando, em si mesma, o núcleo do tema, que é o sentimento de rejeição.</p><p>O tema da rejeição também aparece no segundo romance da autora, Verão no aquário (1963), em</p><p>que a família aparece novamente como o centro das tensões.</p><p>Outra característica presente em suas obras é o fato de o foco da análise psicológica profunda</p><p>estar sempre voltado para as personagens femininas. As personagens masculinas da literatura de Lygia</p><p>Fagundes Telles são, em sua maioria, uma espécie de representantes de funções sociais, de poder, riqueza</p><p>ou status, não possuindo contornos marcantes e atuando mais como uma espécie de símbolo.</p><p>157</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>O livro de contos Antes do baile verde, o qual reúne histórias sobre a relação homem/mulher,</p><p>exploradas de acordo com o realismo fantástico, foi publicado em 1970 e lhe rendeu seu maior sucesso</p><p>de vendas. A partir desse livro, é possível observar outra constante em Lygia Fagundes Telles: a existência</p><p>de uma ambiguidade em suas personagens, que as faz oscilar entre o bem e o mal, sem se definirem por</p><p>nenhum dos lados.</p><p>Seus textos adotam uma perspectiva antirrealista, explorando os desvios da alma humana. Sua prosa</p><p>busca falar do indivíduo dentro de seio familiar, cujo espaço se aproxima da clausura. Seus personagens</p><p>estão comumente envolvidos em culpa ou ressentimento e resvalam para uma espécie de devaneio</p><p>ou alucinação, que muitas vezes se aproxima do realismo fantástico, como podemos observar no</p><p>personagem do conto a seguir, que adota a perspectiva de um cachorro.</p><p>Destaque</p><p>Crachá nos dentes</p><p>Começo por me identificar, eu sou um cachorro. Que não vai responder a nenhuma</p><p>pergunta, mesmo porque não sei as respostas, sou um cachorro e basta. Tantas raças vieram</p><p>desaguar em mim como os afluentes de pequenos rios se perdendo e se encontrando</p><p>no tempo e no acaso, mas qual dessas raças acabou por vigorar na soma, isto eu não</p><p>sei dizer. Melhor assim. Fico na superfície sem indagar da raiz, agora não. Aqui onde</p><p>estou posso passar quase despercebido em meio de outros que também levam os crachás</p><p>dependurados no pescoço como os rótulos das garrafas de uísque. Que ninguém lê com</p><p>atenção, estão todos muito ocupados para se interessar de verdade por um próximo que</p><p>é único e múltiplo apesar da identidade. Às vezes, fico raivoso, meu pêlo se eriça e cerro</p><p>os maxilares rolando e ganindo, quero fugir, morder. Mas as fases de cachorro louco</p><p>passam logo. Então, componho o peito, conforme ouvi o treinador dizer, não sei em que</p><p>consiste isso de compor o peito, não sei, mas é o que faço quando desconfio que não</p><p>estou agradando: componho o peito e volto à normalidade de um cachorro manso. Doce.</p><p>O dono do circo, um hábil treinador de roupa vermelha com botões dourados, acabou por</p><p>me ensinar muitas coisas, tais como falar no telefone, fazer piruetas e dançar. Quando</p><p>resisto, ele vem queimar as minhas patas dianteiras com a ponta de um cigarro aceso,</p><p>percebe de longe que estou vacilando na posição vertical e vem correndo e chiiii... –</p><p>queima as patas transgressoras até fazer aqueles furos. Então me levanto depressa e saio</p><p>dançando com meu saiote de tule azul. Mas fui humano quando me apaixonei e virei um</p><p>mutante que durou enquanto durou a paixão. Abrasadora. E breve. Escondi os pequenos</p><p>objectos reveladores e que não eram muitos, a coleira, o osso e o</p><p>saiote das noites de</p><p>gala. Olhei de frente para o sol. Devo lembrar que eu varava feito uma seta salivando</p><p>de medo os grandes arcos de fogo e eis que o medo desapareceu completamente</p><p>quando me descobri em liberdade, todo o fogo vinha apenas aqui de dentro do meu</p><p>coração… fiquei flamejante. Penso agora que flamejei demais e o meu amor que parecia</p><p>feliz acabou se assustando, era um amor frágil, assustadiço. Tentei disfarçar tamanha</p><p>intensidade, o medo de ter medo. Vem comigo! Eu queria gritar e apenas sussurrava.</p><p>158</p><p>Unidade III</p><p>Passei a falar baixinho, escolhendo as palavras, os gestos e ainda assim o amor começou</p><p>a se afastar. Delicadamente, é certo, mas foi se afastando enquanto crescia o meu desejo</p><p>numa verdadeira descida aos infernos. É que estou amando por toda uma vida! eu podia</p><p>ter dito. Mas me segurei, ah, o cuidado com que montava nesse corpo que se fechava,</p><p>ficou uma concha. Não me abandone! Cheguei a implorar aos gritos no nosso último</p><p>encontro. Desatei a escrever‑lhe cartas tão ardentes, bilhetes, repeti o mesmo texto em</p><p>vários telegramas: Imenso Inextinguível Amor Ponto De Exclamação. Era noite quando</p><p>fiquei só. Tranquei‑me no quarto e olhei a lua cheia com sua face de pedra esclerosada.</p><p>As estrelas. Abracei com tanta força a mim mesmo e comecei a procurar, onde? Fui até</p><p>à larga cama branca, ali nos juntamos tantas vezes, tanto fervor e agora aquele frio,</p><p>fucei o travesseiro, as cobertas, onde? Onde. A busca desesperada continuou no sonho,</p><p>sonhei que escavava a terra. Acordei exausto e enlameado, aos uivos. Nem precisei ir ao</p><p>espelho para saber que tinha virado de novo um cachorro. Amanhecia. Tomei o crachá</p><p>nos dentes e voltei ao circo. O treinador me examinou atentamente e fez uma observação</p><p>bem‑humorada, que eu estava ficando velho. De resto, tudo correu sem novidade, como</p><p>se não tivesse havido nenhuma interrupção. Dei valor aos meus dedos só depois que os</p><p>perdi, podiam me servir agora para catar pulgas. Ou para coçar lá dentro do ouvido ou</p><p>limpar o ranho do focinho quando estou resfriado. Com aqueles dedos toquei flauta, mas</p><p>não me masturbei, nunca me masturbei enquanto fui um ser humano, não é estranho</p><p>isso? Há ainda outras estranhezas, não importa. Aprendi também a rezar. Gosto muito</p><p>de ouvir música e de ficar olhando as nuvens. Mas sou um cachorro e quando alguém</p><p>duvida, mostro as palmas das minhas patas queimadas.</p><p>Fonte: Telles (2009).</p><p>O personagem se assume cachorro desde a primeira linha, talvez tentando se adaptar ao mundo</p><p>cão, aproximado ao circo. Vemos aqui o fantástico e/ou surrealista, perspectiva adotada pelo narrador</p><p>em primeira pessoa para falar de suas próprias emoções, um homem/cachorro que se sente diluído na</p><p>massa esmagadora da sociedade.</p><p>Onde estou posso passar quase despercebido em meio de outros que também</p><p>levam os crachás dependurados no pescoço como os rótulos das garrafas de</p><p>uísque (TELLES, 2009).</p><p>Entretanto, a partir do momento que se apaixona ele se torna uma pessoa, como se a única coisa</p><p>capaz de fazer com que se sentisse humano fosse o amor. O cotidiano, o diário, a vida comum animaliza</p><p>o homem, que só redime sua humanidade através do amor.</p><p>Rubem Fonseca (1925)</p><p>Rubem Fonseca figura entre os mais ilustres escritores da ficção brasileira contemporânea. Inaugurou</p><p>uma nova corrente na literatura contemporânea que, em 1975, ficou conhecida como brutalista,</p><p>característica que lhe foi atribuída por Alfredo Bosi.</p><p>159</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>Seus contos e romances refletem um estilo sucinto e direto em que são apresentados</p><p>personagens‑narradores. Suas histórias seguem uma estrutura similar a de uma narrativa policial com</p><p>elementos de oralidade, o que demonstra que sua maior influência vem dos EUA, do thriller ou romance</p><p>negro (noir) reconhecido, aqui, como romance policial, mas visceralmente submergido nas questões</p><p>urbanas, na deterioração da civilização moderna. Os crimes funcionam apenas como um disfarce para</p><p>as críticas a uma sociedade que se apresenta como opressora do indivíduo.</p><p>Seu eixo central privilegia a cena, a ação em vez da reflexão e o impacto em vez do detalhe.</p><p>Em Bufo & Spallanzani (1985), Rubem Fonseca vai além das características de romance policial,</p><p>intensificando o caráter metaficcional de sua narrativa utilizando estratégias como a de um</p><p>narrador‑escritor em crise, que dialoga com a literatura clássica e chega, por fim, a uma discussão de</p><p>questões relacionadas com autoria, o mercado, entre outras.</p><p>O público brasileiro tomou maior contato com Rubem Fonseca quando o romance A grande arte foi</p><p>filmado por Walter Salles Jr., com o roteiro do próprio Rubem e de Mattew Chapman. O romance conta</p><p>a história de um fotógrafo norte‑americano, no filme interpretado por Peter Coyote, que, ao realizar um</p><p>ensaio fotográfico no Rio de Janeiro, conhece uma prostituta. Esta é assassinada e ele resolve investigar</p><p>o caso por conta própria.</p><p>Rubem Fonseca tem prazer em deixar as coisas para o leitor completar. O autor supõe um interlocutor</p><p>inteligente e atento e tem como matéria‑prima os dois extremos da nação: os que vivem à margem e os</p><p>que constituem o núcleo privilegiado.</p><p>Seus textos constroem um amoralismo perverso, deixando muito tênue a diferença entre o mocinho</p><p>e o bandido e fazendo com que ambos os tipos transitem pelos dois papéis.</p><p>Sua temática é a violência, cuja leitura gera por vezes, uma brutalidade tão dura que chega a ser</p><p>insuportável. Suas personagens são dominadas por uma atmosfera de violência latente. O autor revela</p><p>uma violência que se pulveriza em nossa sociedade nos dias de hoje, devido ao aumento das contradições</p><p>sociais, sobretudo nos grandes centros urbanos do Brasil, a partir da década de 1970.</p><p>Veja agora um trecho do trabalho que Fernanda Cardoso1 desenvolve sobre o trabalho de Rubem</p><p>Fonseca com a linguagem.</p><p>Outra forma de violência que está presente nas obras de Rubem Fonseca é</p><p>a violência do autor contra o leitor. Mediante a análise das relações entre</p><p>violência e linguagem, podemos sentir a hostilidade no contato com o leitor.</p><p>Esta hostilidade se traduz pela violência discursiva, por meio de expedientes</p><p>formais (estilo seco e entrecortado, frases curtas) e dos recursos de conteúdo,</p><p>1 O trabalho de Fernanda Cardoso, originalmente apresentado na UNICAMP, está disponível em: https://cutt.ly/V5rm6wU.</p><p>Acesso em: 5 ago. 2011.</p><p>160</p><p>Unidade III</p><p>nas situações‑limite em que envolve as personagens. Supondo que a</p><p>linguagem em geral tenha escondido o que justamente importa revelar,</p><p>Rubem Fonseca propõe o inverso: da “matéria bruta” concernente à realidade</p><p>para a sua representação na narrativa, uma série de desmistificações se faz</p><p>necessárias e, na base delas, está, sobretudo, a desmistificação da linguagem.</p><p>A linguagem violenta tem uma função definida frente ao seu leitor: a de</p><p>presentificar a violência de modo a que ele não tenha mais condições</p><p>de questioná‑la.</p><p>Entretanto, somos acostumados a abrandar, através de mecanismos vários</p><p>(como o silêncio, por exemplo), o efeito do que tem que ser dito pelo modo de</p><p>o dizer, ficamos surpresos diante de uma linguagem tão avessa a atenuações.</p><p>A linguagem do autor é marcada por uma dureza na sintaxe que reflete a rispidez das tensões</p><p>sociais, como se pode ver no conto Feliz ano novo, que faz parte do livro de mesmo nome.</p><p>Dalton Trevisan (1925)</p><p>Nascido no dia 14 de junho de 1925 em Curitiba, Trevisan se formou em direito e, ainda estudante,</p><p>divulgava seus contos em edições modestas, assumindo uma postura avessa à mídia. Foi editor da revista</p><p>Joaquim que publicava críticas literárias de escritores como Antônio Cândido, Otto Maria Carpeaux,</p><p>Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade.</p><p>Considerado um dos mestres do conto da literatura brasileira contemporânea, o autor busca uma</p><p>escrita sintética que culmina numa larga produção de microcontos, cuja temática gira em torno de</p><p>personagens frustrados inseridos no cotidiano das metrópoles.</p><p>Veja, a seguir, um microconto do autor, que simula um bilhete,</p><p>mas que implica numa história na</p><p>qual se sabe pouco dos personagens, mas sabe‑se o necessário: “João, tua mulher é amante do doutor</p><p>Pedro e não é de hoje. – Um amigo” (TREVISAN, 2002).</p><p>Sua escrita prioriza a forma reduzida na tentativa de captar o fragmento, o instantâneo de uma</p><p>sociedade doente e depravada inserida em uma realidade estilhaçada que reflete a alienação do sujeito</p><p>moderno e de seus impulsos maníacos.</p><p>Em Dalton Trevisan, a repetição é a forma essencial do mundo. O que parece</p><p>um defeito é na verdade o traço fundamental da literatura de Dalton, o seu</p><p>peso e a sua metafísica (TEZZA, 2002).</p><p>161</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>Hilda Hilst (1930 – 2004)</p><p>Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930.</p><p>Estudou no colégio interno Santa Marcelina, na cidade de São Paulo, em 1937. No ano de 1945,</p><p>matriculou‑se no curso clássico da Escola Mackenzie.</p><p>Em 1948, iniciou seus estudos de direito na Faculdade do Largo do São Francisco. A partir de então,</p><p>levaria uma vida boêmia que se prolongaria até 1963. Hilda comportava‑se de maneira que escandalizava</p><p>a alta sociedade paulista. Em 1949, foi escolhida entre outros alunos para saudar a escritora Lygia</p><p>Fagundes Telles, por ocasião do lançamento de seu livro de contos O cacto vermelho.</p><p>Desde 1950, Hilda escreveu inúmeros livros de poemas pelos quais recebeu alguns prêmios. Em 1970,</p><p>a autora lançou sua primeira obra em prosa, Fluxo‑Floema, passou a fazer parte do Programa do Artista</p><p>Residente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 1982 e, em seguida, lançou A obscena</p><p>senhora D. Em 1934, os Poemas malditos, gozosos e devotos são publicados e O caderno rosa de Lori</p><p>Lamby consagra a fase iniciada com A obscena senhora D. Em 1990, a escritora anunciou o lançamento</p><p>de Adeus à literatura séria, obra que provoca “espanto e indignação” em seus amigos e na crítica. Em</p><p>seguida, veio o lançamento de Contos d’escárnio/textos grotescos e alcoólicos e, em 1991, a publicação</p><p>de Cartas de um sedutor.</p><p>Hilda Hilst passou então a colaborar com crônicas semanais para o Correio Popular, jornal diário</p><p>de Campinas (SP), trabalho este que se estenderia até 1995. No ano seguinte, publicou Rútilo nada, livro que</p><p>também continha A obscena senhora D e Qadós. O livro recebeu o prêmio Jabuti na categoria Contos.</p><p>O caderno rosa de Lori Lamby, por sua vez, foi levado ao palco sob a direção de Bete Coelho e teve</p><p>como papel principal a atriz Iara Jamra.</p><p>Em 2003, foi agraciada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), na área de literatura,</p><p>com o Grande Prêmio da Crítica pela reedição de suas Obras completas. Hilda Hilst faleceu no dia 4 de</p><p>fevereiro de 2004, na cidade de Campinas (SP).</p><p>Saiba mais</p><p>Acesse o site oficial da escritora para saber um pouco mais sobre sua</p><p>obra, disponível em:</p><p>Disponível em: http://www.hildahilst.com.br/. Acesso em: 19 abr. 2023.</p><p>Na prosa, parte que nos interessa aqui, a autora opera uma renovação no repertório ficcional,</p><p>fundindo diferentes gêneros de forma paradoxal: une o grotesco ao “sublime, o escatológico ao</p><p>espiritual, o gozo ao martírio”, como bem observa Manuel da Costa Pinto (2005).</p><p>162</p><p>Unidade III</p><p>É possível notar em sua literatura pontos de contato com Clarice Lispector, pois suas personagens</p><p>também são mergulhadas na sua própria interioridade, como se observa em A Obscena senhora D, que,</p><p>depois da morte do amante, passa a viver no vão da escada, isolando‑se num mundo de lamentos e epifanias.</p><p>Sua prosa especula a perda amorosa e a derrelição, isto é, o sentimento do abandono de Deus, por</p><p>isso, mistura violência e ternura e, não raro percebemos a presença do nonsense e do humor negro.</p><p>A obra de Hilda Hilst funciona como uma ponte entre a última fase do modernismo e a literatura</p><p>contemporânea, pois junta o intimismo e a busca da identidade da terceira fase à subjetividade</p><p>desacorçoada, característica da literatura contemporânea.</p><p>Destaque</p><p>Teologia natural</p><p>A cara do futuro ele não via. A vida, arremedo de nada. Então ficou pensando</p><p>em ocos de cara, cegueira, mão corroída e pés, tudo seria comido pelo sal, brancura</p><p>esticada da maldita, salgadura danada, infernosa salina, pensou óculos luvas galochas,</p><p>ficou pensando vender o que, Tiô inteiro afundado numa cintilância, carne de sol era</p><p>ele, seco salgado espichado, e a cara‑carne do futuro onde é que estava? Sonhava‑se</p><p>adoçado, corpo de melaço, melhorança se conseguisse comprar os apetrechos, vende</p><p>uma coisa, Tiô. Que coisa? Na cidade tem gente que compra até bosta embrulhada, se</p><p>levasse concha, ostra, ah, mas o pé não aguentava o dia inteiro na salina e ainda de noite</p><p>à beira d’água salgada, no crespo da pedra, nas facas onde moravam as ostras. Entrou em</p><p>casa. Secura, vaziez, num canto ela espiava e roia uns duros no molhado da boca, não era</p><p>uma rata não, era tudo o que Tiô possuia, espiando agora os singulares atos do filho, Tiô</p><p>encharcando uns trapos, enchendo as mãos de cinza, se eu te esfrego direito tu branqueia</p><p>um pouco e fica linda, te vendo lá, e um dia te compro de novo, macieza na língua foi</p><p>falando espaçado, sem ganchos, te vendo, agora as costas, vira, agora limpa tu mesma</p><p>a barriga, eu me viro e tu esfrega os teus meios, enquanto limpas teu fundo pego um</p><p>punhado de amoras, agora chega, espalhamos com cuidado essa massa vermelha na tua</p><p>cara, na bochecha, no beiço, te estica mais pra esconder a corcova, óculos luvas galochas</p><p>é tudo o que eu preciso, se compram tudo devem comprar a ti lá na cidade, depois te</p><p>busco, e espanadas, cuidados, sopros no franzido da cara, nos cabelos, volteando a velha,</p><p>examinando‑a como faria exímio conhecedor de mães, sonhado comprador, Tiô amarrou</p><p>às costas numas cordas velhas, tudo o que possuía, muda, pequena, delicada, um tico de</p><p>mãe, e sorria muito enquanto caminhava.</p><p>Fonte: Hilst (2003).</p><p>O conto mostra o narrador em terceira pessoa que, em meio às falas do personagem, mistura‑se a</p><p>consciência deste.</p><p>163</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>As falas tanto do personagem, Tiô, quanto do narrador constroem uma consciência fragmentada</p><p>que se assemelha a recortes da realidade. O personagem parece falar e rivalizar consigo mesmo.</p><p>A temática do conto é áspera de uma realidade doída e incômoda. Nosso personagem, num</p><p>desespero de causa que só a sua inconsciência pode explicar, tem a ideia de vender a própria mãe</p><p>porque precisa de dinheiro. “Tiô. Que coisa? Na cidade tem gente que compra até bosta embrulhada”</p><p>(HILST, 2003).</p><p>A violência certamente está na aproximação da mãe com a palavra “bosta”, com uma mercadoria ou</p><p>com qualquer coisa que se possa vender na feira. Entretanto, a ternura aparece quando o personagem</p><p>insiste em repetir que um dia vai buscar a mãe de volta. A dureza da cena entra em paradoxo frente ao</p><p>cuidado com que o personagem carrega a mãe nas costas para vendê‑la na feira.</p><p>Tiô amarrou às costas numas cordas velhas, tudo o que possuía, muda,</p><p>pequena, delicada, um tico de mãe, e sorria muito enquanto caminhava</p><p>(HILST, 2003).</p><p>A consciência entrecortada por imagens e por pensamentos revelam um personagem do qual</p><p>podemos duvidar da sanidade mental. Sua loucura coaduna com uma realidade fragmentada, múltipla</p><p>e ao mesmo tempo difícil, o retrato dos anos finais do século XX.</p><p>8 O QUE É PÓS‑MODERNO E PÓS‑HUMANO</p><p>Pós‑modernismo é a denominação dada às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades</p><p>avançadas desde 1950 até os dias de hoje, quando, por convenção, se encerrou o Modernismo. Tem</p><p>como algumas características a invasão da tecnologia, a revolução da comunicação e a informática.</p><p>O homem pós‑moderno vive num mundo que se encerra em signos e, portanto, prefere a imagem ao</p><p>objeto, o simulacro ao real. É o hiper‑realista, expressão da perplexidade contemporânea.</p><p>O hiper‑realista é a mentira da verdade, que se traduz em uma espécie de potencialização de</p><p>sentimentos, impressões e percepções. É a notícia como espetáculo e manipulação de seu conteúdo.</p><p>O indivíduo pós‑moderno é um</p><p>sujeito fragmentado porque o Pós‑modernismo leva às últimas</p><p>consequências as pequenas liberdades individuais, uma forma de compensação dos grandes</p><p>períodos repressores.</p><p>O termo pós‑humano provoca ambiguidade e confusão no conceito que deseja exprimir, vem</p><p>ganhando espaço no meio intelectual e acadêmico ao substituir o já tão desgastado termo pós‑moderno</p><p>e ao estar cada vez mais presente nos cadernos de cultura e nas discussões filosóficas e socioculturais</p><p>que se encontram em evidência.</p><p>Há uma dificuldade muito comum quando nos deparamos com algo cujo processo ainda segue em</p><p>curso e que não tem um resultado muito claro, o que permite especulações.</p><p>164</p><p>Unidade III</p><p>O pós‑humano faz referência a uma série de transformações de caráter generalizante e diz respeito</p><p>tanto à relação do homem com o mundo quanto à relação do homem com os dispositivos que</p><p>regulamentam suas culturas. Por outro lado, é fato que encobre uma sequência de visões muito diversas</p><p>e quase sempre antitéticas.</p><p>8.1 Literatura latino‑americana e a literatura contemporânea no Brasil</p><p>A história da literatura latino‑americana tem seu marco no século XVI, mais precisamente durante a</p><p>época dos conquistadores, e pode ser dividida em quatro períodos:</p><p>• Período colonial: visto como uma espécie de apêndice das produções literárias estrangeiras.</p><p>• Segundo período: surge a partir dos movimentos de independência do início do século XIX,</p><p>traduzido por uma temática bem específica: a patriótica.</p><p>• Terceiro período: reflete a consolidação nacional e experimenta seu apogeu.</p><p>• Quarto período: é a maturidade, chegando mesmo a se destacar e ganhar espaço dentro da</p><p>literatura universal.</p><p>Com a revolução mexicana, iniciada em 1910, vemos um retorno dos escritores latino‑americanos</p><p>a suas diferentes características e a seus próprios problemas sociais. A partir dessa data e numa</p><p>proporção cada vez maior, os escritores latino‑americanos começaram a inserir temas universais em</p><p>sua produção literária, produzindo, no decorrer dos anos, uma literatura que foi capaz de despertar a</p><p>admiração internacional.</p><p>A literatura produzida na América de colonização espanhola exerce hoje influência direta na nova</p><p>geração de escritores da literatura contemporânea. Veremos a seguir alguns dos mais importantes</p><p>escritores da literatura latino‑americana no cenário literário mundial.</p><p>Julio Cortázar (1914‑1984)</p><p>O argentino Julio Cortázar foi um dos escritores que, por seu talento, originalidade e por seu</p><p>antirromance experimental Rayuela (1963), obteve imediato reconhecimento internacional, sendo</p><p>considerado um dos grandes nomes da literatura contemporânea.</p><p>Aos 37 anos, discordando da ditadura imposta na Argentina, Julio Cortázar seguia para a França,</p><p>passando a ser, então, um escritor portenho nacionalizado francês.</p><p>Seu estilo alia o atrevimento literário e a aventura estética ao compromisso político em defesa dos</p><p>povos do terceiro mundo, tendo por intuito subverter não apenas a linguagem, mas sim a nossa visão de</p><p>mundo, propondo‑nos novos e inusitados universos, bem diferentes daqueles que a nossa visão comum</p><p>habituou‑se a enxergar.</p><p>165</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>Apesar de Cortázar ter feito parte do boom da literatura hispano‑americana contemporânea, ele</p><p>não foi o primeiro a se lançar no universo literário. O pioneiro dessa façanha foi o escritor responsável</p><p>pela revolução do conto na América hispânica ao explorar mundos históricos, incluindo os que fazem</p><p>referências a mitos: Jorge Luis Borges, o escritor que foi imortalizado em O nome da rosa, de Umberto</p><p>Eco, ao ser transformado de uma forma fabulosa em personagem.</p><p>Jorge Luis Borges (1899‑1986)</p><p>Natural da Argentina, Jorge Luis Borges Acevedo foi escritor notável e leitor insaciável. A vastidão</p><p>da sua obra reflete suas inumeráveis e inesperadas fontes de leitura. Uma de suas principais</p><p>características é a habilidade de manipular o ceticismo, considerada uma das ferramentas que mais o</p><p>auxiliam a criar suas ficções.</p><p>Borges escreveu sobre temas portenhos locais e ensaios sobre o encadeamento temporal dos</p><p>fatos. Por trás da máscara da prosa ficcional, ele alojava os problemas filosóficos que perturbam a</p><p>existência humana.</p><p>Seus textos expressam a existência de um diálogo íntimo com pensadores e autores de todas as</p><p>línguas e de todas as épocas. Borges também descreveu um mundo de sonhos, enlaçando diferentes</p><p>aspectos de tempo e de espaço preferindo trabalhar com a noção de tempo circular a trabalhar com a</p><p>noção de tempo linear.</p><p>Borges morreu como um dos monstros sagrados da literatura universal. Deixou‑nos um legado de</p><p>obras em língua espanhola incomparável, que se destaca por sua inventividade e por suas poderosas</p><p>metáforas, capazes de atingir a transcendência filosófica.</p><p>Gabriel García Márquez (1928)</p><p>Natural da Colômbia, Gabriel García Márquez iniciou sua carreira como jornalista e, desde então,</p><p>estabeleceu‑se como romancista e contista. Márquez possui um estilo próprio que o identifica: o</p><p>“realismo mágico”, no qual a realidade se combina com a fantasia. Em 1982, recebeu o Prêmio Nobel de</p><p>Literatura e se tornou internacionalmente conhecido com o seu romance Cem anos de solidão (1967).</p><p>Nele, por meio de uma mágica e atemporal unidade, Gabriel García Márquez conseguiu transcender</p><p>os limites do espaço físico em que se desenvolve a trama narrativa. É a obra que sintetiza a vertente</p><p>do realismo mágico e essa mescla de planos da realidade e da imaginação marcará escritores de vários</p><p>países, entre eles, Borges e Cortázar.</p><p>Cem anos de solidão é um relato da fundação da aldeia Macondo. A partir da saga dos Aurelianos e</p><p>José Arcádios, vemos surgir um cenário que desfila fantasias, arbitrariedades, guerras e tragédias. Além</p><p>disso, esse romance fala de amor, de poder, de morte e da interminável marcha do ser humano rumo à</p><p>mais completa solidão.</p><p>Como vemos, apenas as obras desses três escritores foram suficientes para fazer com que o romance</p><p>latino‑americano escrito em espanhol alcançasse não só sua maioridade, mas também o prestígio de</p><p>um público internacional que, a cada dia, torna‑se mais numeroso.</p><p>166</p><p>Unidade III</p><p>8.1.1 Tendências da prosa contemporânea</p><p>A prosa contemporânea, por sua vez, surge dando destaque a outros gêneros literários, como a prosa</p><p>autobiográfica, a crônica e o conto. Além disso, traz uma novidade: o conto e a crônica passam a ser</p><p>vistos como os modelos de uma literatura moderna, pois a modernidade dá dinamicidade aos textos</p><p>assim, a adoção desses gêneros como símbolos da atualidade não ocorre por acaso.</p><p>O conto reflete a síntese e a rapidez que a modernidade inspira, tornando a leitura mais ágil, embora</p><p>mais complexa. A crônica, por sua vez, conquista seu espaço nos principais veículos de comunicação,</p><p>como as revistas e os jornais, veiculando a fluência e atropelamento das ideias no mundo contemporâneo</p><p>registrando irreverência e ironia.</p><p>A prosa contemporânea produz um ser humano cada vez mais solitário e marginalizado, fruto de</p><p>uma sociedade vitimada por um mundo violento na qual o indivíduo progressivamente vai se fechando</p><p>e confronta‑se com o outro e consigo mesmo.</p><p>A prosa é trabalhada com concisão e fragmentada de modo que rompe com a linearidade por</p><p>analogia de ritmo à vida moderna, evidenciando a rapidez e o absurdo da modernidade.</p><p>8.1.2 A nova geração de escritores</p><p>A internet trouxe mudanças marcantes à literatura brasileira. Depois de quase uma década, surgiu</p><p>um novo tipo de autor, que transpõe a tela do computador.</p><p>Esse processo fez com que a distância entre o escritor e o leitor diminuísse, pois, se antes o escritor</p><p>tinha que se dirigir às editoras ou sair em busca de alguém que pudesse ajudá‑lo a colocar seu talento</p><p>em evidência, agora ele mesmo pode fazer com que seu texto chegue até seu leitor.</p><p>Daniel Galera (1979)</p><p>Daniel Galera, escritor e tradutor literário brasileiro, foi um dos precursores do uso da Internet em</p><p>prol da literatura, editando e publicando textos em portais e fanzines eletrônicos entre os</p><p>anos de 1997</p><p>e 2001. Seu ingresso na internet deu‑se como editor do site Proa da Palavra (1997‑2000).</p><p>O autor foi colunista de uma das revistas eletrônicas mais famosas do Brasil, o Cardos Online</p><p>(1998‑2001), fundando posteriormente em Porto Alegre, em parceria com Daniel Pellizzari e Guilherme</p><p>Pilla, uma editora que virou referência em matéria de autores estreantes: a Livros do Mal (2001‑2004).</p><p>167</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>Saiba mais</p><p>Assista ao filme indicado a seguir, que foi baseado em uma das obras</p><p>de Daniel Galera:</p><p>CÃO sem dono. Direção: Beto Brant, Renato Ciasca. São Paulo: [s. n.],</p><p>2007. 82 min.</p><p>Galera publicou, até o momento, quatro livros, além de já ter participado de algumas antologias</p><p>de contos.</p><p>Vale destacar ainda que seu último livro, Mãos de cavalo (2006), ganhou em 2008 o Prêmio Machado</p><p>de Assis de Romance, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional.</p><p>Clarah Averbuck (1979)</p><p>Registrada com o nome de Clara Averbuck Gomes, a autora incluiu o “h” em seu primeiro nome</p><p>quando cursava o primeiro ano do segundo grau, em função de uma brincadeira entre colegas, passando</p><p>então a ser conhecida como Clarah Averbuck.</p><p>Clarah começou sua trajetória literária na internet e, em junho de 1998, escreveu pela primeira vez</p><p>para a Não‑til, revista digital da Casa de Cinema de Porto Alegre. Um ano depois, tornou‑se uma das</p><p>colunistas do Cardos Online, no qual atuou em 2001, revelando, entre outros, os escritores Daniel Galera</p><p>e Daniel Pellizari.</p><p>Em julho de 2001, mudou‑se para São Paulo e começou a escrever sua primeira novela, Máquina</p><p>de pinball, que seria publicada no ano seguinte. Em setembro do mesmo ano, criou o blog “brazileira!</p><p>preta”, com mais de 1.800 acessos diários. Em maio de 2006, retomando mais uma vez sua trajetória,</p><p>voltou a manter um blog, desta vez como o nome Adiós Lounge. Desde então, publicou mais dois livros:</p><p>Das coisas esquecidas atrás da estante (2003) e Vida de gato (2004).</p><p>Seus escritos atingem tal popularidade que chama a atenção de importantes diretores do teatro e do</p><p>cinema e, assim, Máquina de pinball ganhou uma adaptação para o teatro tendo por roteiristas Antônio</p><p>Abujamra e Alan Castelo, realizada em 2003. Além desse, outros dois livros seus inspiraram o diretor</p><p>cinematográfico Murilo Salles, que, com a ajuda da autora e das roteiristas Elena Soárez e Melanie</p><p>Dimantas, produziu o filme Nome próprio (2006), que tem Leandra Leal no papel principal.</p><p>Atualmente, Clarah está trabalhando em três livros, Toureando o Diabo (romance), Eu quero ser</p><p>eu (novela infanto‑juvenil) e Cidade grande no escuro (crônicas), e lançou recentemente o livro‑LP de</p><p>tiragem limitada Nossa Senhora da Pequena Morte. O livro é composto pela reprodução de páginas</p><p>escritas à mão ou datilografadas, organizadas dentro das clássicas capas dos velhos long‑plays (LPs),</p><p>com direito a vinis de rock, blues, jazz, clássicos e até raríssimos vinis mexicanos.</p><p>168</p><p>Unidade III</p><p>Podemos conferir o estilo da autora no conto Psycho, no qual ela cria uma personagem que adota uma</p><p>postura desolada diante do seu micro universo e assume uma postura de embriaguez constante. “Eu era</p><p>uma escritora bêbada, perdida em uma cidade enorme e sem nenhum lugar decente” (AVERBUCK, 2003).</p><p>Seus personagens assumem essa mesma postura diante da vida, mostrando‑se vazios e conturbados</p><p>diante de um futuro que os assusta.</p><p>Lourenço Mutarelli (1964)</p><p>Lourenço Mutarelli nasceu em São Paulo e é, além de escritor, ator, dramaturgo e autor de histórias</p><p>em quadrinhos. Dá início a sua produção literária com histórias em quadrinhos em um fanzine que ele</p><p>mesmo produzia e distribuía. Também já recebeu diversos prêmios e é aclamado por sua participação</p><p>no cinema e no teatro.</p><p>Mutarelli criou um grande número de heróis com características atípicas das encontradas nas histórias</p><p>em quadrinhos. Trata‑se de personagens que nos remetem à nossa própria vida, pois parecem viver em</p><p>uma dimensão muito próxima à nossa, envoltos por uma depressão urbana quando são capturados</p><p>pela narrativa para viverem momentos que serão cruciais de suas vidas, o que pode ser conferido no</p><p>personagem sem nome de O cheiro do ralo, romance que ganhou adaptação para o cinema pelas mãos</p><p>engenhosas de Heitor Dhalia.</p><p>Com uma série de histórias, notamos que o desenhista e romancista conquista o espaço da tristeza,</p><p>da solidão e da ilusão por onde caminham seus “escolhidos”, de tal forma que os heróis criados pelo</p><p>artista são uma espécie de sinônimo da dor existencial e da reflexão acerca da miséria humana.</p><p>Fui até o balcão, dei a bala para a moça, como é mesmo seu nome, perguntei.</p><p>Jamais seria capaz de pronunciá‑lo. Ela não sorriu. Ela guardou a bala no</p><p>bolso. Eu queria pedir para que ela virasse mais uma vez.</p><p>Voltei ao trabalho. Eu queria querer parar de fumar (MUTARELLI, 1999).</p><p>No romance O cheiro do ralo, o personagem é obcecado pelas nádegas da garçonete da lanchonete</p><p>que frequenta. Dono de uma loja de peças usadas, exercita seu sadismo na relação com o outro. Com o</p><p>intuito de “obter” as nádegas como mais um objeto que possui, tenta comprá‑las.</p><p>Lourenço mostra uma linguagem que nasceu dos quadrinhos, pois suas palavras e imagens caminham</p><p>lado a lado e, juntas, constroem uma narrativa envolvente, quase uma armadilha.</p><p>8.1.3 Tendências contemporâneas do teatro brasileiro</p><p>O teatro brasileiro, que estava perdendo terreno para o rádio e o cinema, também teve de passar</p><p>por uma revolução a partir da década de 1940. As peças teatrais de Oswald de Andrade, como O rei</p><p>da vela e A morta, não conseguiram ser encenadas após serem escritas e caíram no esquecimento</p><p>até a década de 1960. Considerando‑se a possibilidade de esse fato ter ocorrido em função do perfil</p><p>169</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>dessas peças – vistas como revolucionárias demais para sua época –, podemos convencionar que a</p><p>estreia da peça Vestido de Noiva (1943), de Nelson Rodrigues, foi o marco da modernidade do teatro</p><p>brasileiro, uma vez que promoveu uma verdadeira renovação no que se refere à ação, às personagens,</p><p>ao espaço e ao tempo.</p><p>Já nas décadas de 1960 e 1970, vemos surgir um teatro mais político, expressando um forte</p><p>nacionalismo preocupado em revelar e denunciar a realidade agonizante vivida pelo país em função do</p><p>regime militar. Além disso, notamos que existiu uma tendência de se buscar uma ligação e até mesmo</p><p>uma participação na peça.</p><p>No entanto, como Macunaíma foi encenada em 1978 e, uma vez que a validade do Ato Institucional</p><p>nº 5 só seria rompida em 13 de dezembro de 1968, talvez o marco da contemporaneidade possa ser</p><p>definido nessa data. Além disso, foi nesse período que vimos nascer o domínio dos encenadores‑criadores</p><p>a partir de uma montagem de Antunes Filho para a adaptação cênica de Rapsódia, de Mario de Andrade,</p><p>ao mesmo tempo em que vimos um abrandamento da censura, que inspirou mudanças da linha da</p><p>dramaturgia que vinha sendo seguida desde o Golpe Militar de 1964. Entre os autores que fizeram parte</p><p>do panorama contemporâneo do teatro brasileiro, podemos citar: Jorge de Andrade (1922‑1983), Ariano</p><p>Suassuna (1927), Plínio Marcos (1935‑1999), Dias Gomes (1922‑1999), entre outros.</p><p>Ariano Suassuna foi escritor, dramaturgo, professor aposentado e um verdadeiro aliado da cultura</p><p>popular, pois foi apaixonado por todas as formas de arte genuinamente brasileiras. Como viveu as</p><p>influências do ambiente ideológico brasileiro do pós‑guerra, quando se reforçou a importância da</p><p>existência de uma supremacia da posição política nacionalista, considerou veementemente que era</p><p>necessário construir uma arte e uma literatura nacionais que, mesmo eruditas, fossem baseadas</p><p>em raízes populares. Apresentou como modelo exemplar para a construção dessa cultura erudita o</p><p>romanceiro popular nordestino, considerando que este fosse um espaço que preservava as aspirações</p><p>do povo brasileiro.</p><p>As seleções temáticas de Ariano Suassuna foram, em sua maioria, coletadas da tradição popular</p><p>transmitida por meio de folhetos e dos folguedos nordestinos.</p><p>O auto da compadecida (1955) é um</p><p>bom exemplo dessa coleta, uma vez que permitiu que identificássemos várias figuras do imaginário</p><p>nordestino, como o valentão covarde, a morte fingida, o animal que defeca ouro, o enterro, o testamento</p><p>do cachorro e as trocas.</p><p>O mesmo se dá com as figuras de João Grilo e Canção, dois “amarelos” ou “quengos” a incorporar</p><p>um sertanejo esperto e maltrapilho. São sabichões que nos remetem aos “pícaros”, personagens que</p><p>atuam em um tipo específico de romance de astúcias, bem conhecido e divulgado na literatura popular</p><p>europeia. Dada a sua condição, esses tipos permitem uma série de reflexões sobre as questões das</p><p>desigualdades sociais, uma vez que o uso da astúcia surge como um mecanismo que permite compensar</p><p>o poder dos patrões ou de seus senhores.</p><p>Embora Dias Gomes, ou Alfredo de Freitas Dias Gomes, tenha se revelado como dramaturgo no início</p><p>dos anos 1940, seu sucesso só será observado a partir dos anos 1960, depois que artistas e intelectuais</p><p>brasileiros aprenderam a compartilhar de uma maneira muito mais ampla e intensa os sentimentos de</p><p>170</p><p>Unidade III</p><p>transformação da realidade brasileira. Num sentido mais revolucionário, aprenderam a conscientizar o</p><p>povo da existência de uma força transformadora que se nutria da interação entre arte e política. Suas</p><p>peças, como, por exemplo, A invasão (1960), A revolução dos beatos (1961), O bem‑amado (1962),</p><p>O berço do herói (1963) e O santo inquérito (1966), acompanham esse processo de tal forma que</p><p>elas foram consideradas pelo dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho (Vianinha) e por Paulo Pontes, como</p><p>exemplos do esquema dramático realista adequado ao gosto popular.</p><p>Dias Gomes nos apresentou uma reconstrução do cotidiano brasileiro a partir de imagens que</p><p>traziam angulações imprevistas e inquietantes. Seu trabalho conseguiu desvendar as visões de mundo</p><p>e as expectativas coletivas de um modo afirmativo sem, com isso, ter que se desviar das temáticas</p><p>que compunham as feridas nacionais. O resultado é que suas obras parecem compor uma espécie de</p><p>sequência de janelas de onde se pode contemplar o Brasil. Para cumprir esse intento, valeu‑se, por vezes,</p><p>dos novos recursos estéticos oferecidos pelo realismo fantástico.</p><p>171</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>Resumo</p><p>Esta unidade apresentou a contemporaneidade da literatura brasileira.</p><p>É importante ressaltar que é um momento da história literária em que há</p><p>inúmeros autores e obras e seria infrutífero fazer um livro‑texto que só</p><p>destacasse esses nomes. Assim, em caráter didático e aprofundamento do</p><p>assunto, há destaque para apenas alguns escritores.</p><p>Em seguida, verificamos as múltiplas produções. Vimos que uma</p><p>escritora ou um escritor circula em mais de um gênero; apresenta‑nos</p><p>textos em formato de romance, novela, contos, crônicas, peças de teatro</p><p>(sem considerar os gêneros poéticos).</p><p>As temáticas também variam, desde dramas familiares e intrapessoais,</p><p>temas com teor religioso, em especial, da vertente católica, até textos</p><p>eróticos. A linguagem segue essa variação e nós encontramos textos com o</p><p>cuidado estético próprio da linguagem literária, rica em imagens visuais e</p><p>sonoras; texto sincrético com linguagem literária e a do cinema, da história</p><p>em quadrinho, entre outras; textos que exploram a linguagem popular ou</p><p>regional em busca da marca identitária de um grupo social.</p><p>Desde as últimas décadas do século passado, vivemos uma revolução da</p><p>comunicação e informação, que se encerra em signos emergentes. Algumas</p><p>características marcam essa revolução, tal como a preferência pela imagem</p><p>em detrimento ao objeto, ou seja, nós preferimos o simulacro ao real.</p><p>Na literatura, a tendência é produção de textos digitais e publicação em</p><p>formato e‑book.</p><p>Nesse contexto, expressões como hiper‑realista e pós‑humano são</p><p>associadas à literatura contemporânea devido a exemplos de obras que</p><p>seguem tematicamente essas questões.</p><p>172</p><p>Unidade III</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. O escritor Dalton Trevisan é conhecido pelo seu estilo conciso. Seu livro Ah, é? é composto</p><p>por minicontos. Leia um deles, reproduzido a seguir:</p><p>Rataplã é o gato siamês. Olho todo azul. Magro de tão libidinoso.  Pior que um piá de mão no bolso.</p><p>Vive no colo, se esfrega e ronrona.</p><p>— Você não acredita. Se eu ralho, sai lágrima azul daquele olho.</p><p>Hora de sua volta do colégio, ele trepa na cadeira e salta na janela.  Ali à espera, batendo o rabinho</p><p>na vidraça.</p><p>Doente incurável. O veterinário propõe sacrificá‑lo. A moça deita‑o no colo. Ela mesma enfia a</p><p>agulha na patinha. E ficam se olhando até o último suspiro nos seus braços. Nem quando o pai se foi</p><p>ela sentiu tanto.</p><p>Disponível em: https://cutt.ly/M5rQLR9. Acesso em: 1° abr. 2014.</p><p>Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas que seguem:</p><p>I – A concisão é conseguida com a economia de palavras e com a simplicidade estrutural dos períodos.</p><p>II – No conto, observam‑se o narrador em terceira pessoa e o uso de discurso direto.</p><p>III – O autor é um exemplo do realismo fantástico no Brasil, movimento literário que teve ampla</p><p>aceitação na América Latina.</p><p>Está correto o que se afirma apenas em:</p><p>A) I.</p><p>B) II.</p><p>C) III.</p><p>D) I e II.</p><p>E) II e III.</p><p>Resposta correta: alternativa D.</p><p>173</p><p>LITERATURA BRASILEIRA: PROSA</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: o autor constrói períodos curtos, a maioria com uma única oração. Além disso,</p><p>economiza no uso de adjetivos e advérbios, e mesmo de artigos e preposições.</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: o narrador não participa da história e há discurso direto, marcado pelo travessão.</p><p>III – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a obra do autor não se encaixa no realismo fantástico, caracterizado por acontecimentos</p><p>não plausíveis na nossa realidade. Trevisan narra histórias do nosso mundo urbano, como as</p><p>violências cotidianas.</p><p>Questão 2. Leia o trecho a seguir, extraído do conto Natal na barca, de Lygia Fagundes Telles:</p><p>Não quero nem devo lembrar aqui por que me encontrava naquela barca. Só sei que em redor tudo</p><p>era silêncio e treva. E que me sentia bem naquela solidão. Na embarcação desconfortável, tosca, apenas</p><p>quatro passageiros. Uma lanterna nos iluminava com sua luz vacilante: um velho, uma mulher com</p><p>uma criança e eu. O velho, um bêbado esfarrapado, deitara‑se de comprido no banco, dirigira palavras</p><p>amenas a um vizinho invisível e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços</p><p>a criança enrolada em panos. Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a</p><p>cabeça dava‑lhe o aspecto de uma figura antiga.</p><p>Pensei em falar‑lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até</p><p>aquele instante não me ocorrera dizer‑lhe qualquer palavra. Nem combinava mesmo com uma barca tão</p><p>despojada, tão sem artifícios, a ociosidade de um diálogo. Estávamos sós. E o melhor ainda era não fazer</p><p>nada, não dizer nada, apenas olhar o sulco negro que a embarcação ia fazendo no rio. Debrucei‑me na</p><p>grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num</p><p>antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo, estávamos vivos. E era Natal.</p><p>A caixa de fósforos escapou‑me das mãos e quase resvalou para o rio. Agachei‑me para apanhá‑la.</p><p>Sentindo então alguns respingos no rosto, inclinei‑me mais até mergulhar as pontas dos dedos na água.</p><p>— Tão gelada – estranhei, enxugando a mão.</p><p>— Mas de manhã é quente.</p><p>Disponível em: https://cutt.ly/N5rQ89L. Acesso em: 31 mar. 2014.</p><p>174</p><p>Unidade III</p><p>Com base na leitura e nos seus conhecimentos, analise as afirmativas que seguem:</p><p>I – Uma das características pós‑modernas presentes na narrativa de Lygia Fagundes Telles é o</p><p>vocabulário rebuscado, especialmente o uso de hipérbatos.</p><p>II – No conto o narrador é em primeira pessoa.</p><p>III – Lygia Fagundes Telles dedicou‑se exclusivamente à produção do gênero conto.</p><p>Está correto o que se afirma apenas em:</p><p>A) I.</p><p>B) II.</p><p>C) III.</p><p>D) I e II.</p><p>E) II e III.</p><p>Resposta</p><p>correta: alternativa B.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: o vocabulário não é rebuscado e não há a presença de hipérbatos (inversões).</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: há várias marcas da primeira pessoa no texto. O narrador participa do enredo.</p><p>III – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a produção da escritora inclui romances.</p><p>175</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>Audiovisuais</p><p>A HORA da estrela. Direção: Suzana Amaral. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1985. 96 min.</p><p>CÃO sem dono. Direção: Beto Brant, Renato Ciasca. São Paulo: [s. n.], 2007. 82 min.</p><p>CAPITÃES da areia. Direção: Cecília Amado. Rio de Janeiro: Telecine, 2011. 96 min.</p><p>CAPITU. Direção: Luiz Fernando Carvalho. Rio de Janeiro: Rede Globo, 2008. Minissérie. 150 min.</p><p>DONA Flor e seus dois maridos. Direção: Bruno Barreto. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1976. 120 min.</p><p>GRANDE sertão. Direção: Geraldo Santos Pereira, Renato Santos Pereira. [S. l.]: [s. n.], 1965. 92 min.</p><p>MACUNAÍMA. Direção: Joaquim Pedro de Andrade. [S. l.]: [s. n.], 1969. 108 min.</p><p>MEMÓRIAS do cárcere. Direção: Nelson Pereira dos Santos. [S. l.]: [s. n.], 1984. 185 min.</p><p>MEMÓRIAS póstumas de Brás Cubas. Direção: André Klotzel. [S. l.]: [s. n.], 2001. 101 min.</p><p>SÃO Bernardo. Direção: Leon Hirszman. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1971. 113 min.</p><p>TIETA do agreste. Direção: Cacá Diegue. Culver City: Columbia Pictures, 1996. 140 min.</p><p>VIDAS secas. Direção: Nelson Pereira dos Santos. Rio de Janeiro: Herbert Richers, 1963. 103 min.</p><p>Textuais</p><p>ABDALA JR., B.; CAMPEDELLI, S. Y. Tempos da literatura brasileira. São Paulo: Ática, 2004.</p><p>ABREU, J. C. Capítulos de história colonial. 5. ed. Brasília: Editora UnB, 1963.</p><p>ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Biografia: Graça Aranha. Academia Brasileira de Letras, Rio de</p><p>Janeiro, 9 jul. 2020. Disponível em: https://cutt.ly/J7DM6n5. Acesso em: 12 abr. 2023.</p><p>AGUIAR, L. A. Almanaque Machado de Assis: vida, obra, curiosidades e bruxarias literárias. Rio de</p><p>Janeiro: Record, 2008.</p><p>ALENCAR, J. Iracema: a lenda do Ceará. 6. ed. São Paulo: FTD, 1999a.</p><p>ALENCAR, J. O guarani. 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