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<p>DIREITO CIVIL II</p><p>DIREITO DAS</p><p>OBRIGAÇÕES</p><p>Melissa de</p><p>Freitas Duarte</p><p>Revisão técnica:</p><p>Gustavo da Silva Santanna</p><p>Bacharel em Direito</p><p>Especialista em Direito Ambiental Nacional</p><p>e Internacional e em Direito Público</p><p>Mestre em Direito</p><p>Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito</p><p>Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin — CRB 10/2147</p><p>D597 Direito civil II: direito das obrigações [recurso eletrônico ] /</p><p>Marcelo Neves Schneider... [et al.]; [revisão técnica:</p><p>Gustavo da Silva Santanna]. – Porto Alegre: SAGAH,</p><p>2018.</p><p>ISBN 978-85-9502-538-7</p><p>1. Direito civil. 2. Obrigações (Direito). I. Schneider,</p><p>Marcelo Neves.</p><p>CDU 347.4</p><p>1_Iniciais.indd 2 23/08/2018 11:40:18</p><p>Do pagamento: quem</p><p>deve pagar e a quem</p><p>se deve pagar</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:</p><p> Definir quem deve efetuar o pagamento.</p><p> Explicar a quem se deve efetuar o pagamento.</p><p> Analisar as consequências jurídicas do pagamento efetuado à pessoa</p><p>indevida.</p><p>Introdução</p><p>O pagamento é um ato jurídico que representa a execução exata e vo-</p><p>luntária feita pelo devedor da prestação devida, na maneira, no tempo</p><p>e no lugar estabelecidos no título.</p><p>Neste capítulo, você vai ler sobre os agentes envolvidos: solvens, que</p><p>se refere a quem se paga, e o accipiens, que se refere a quem recebe,</p><p>bem como sobre as regras, o lugar do pagamento e os dispositivos legais</p><p>aplicados à matéria. Você vai ler também sobre as consequências do pa-</p><p>gamento feito de forma indevida e as suas espécies, bem como sobre as</p><p>posições da doutrina pátria, que reconhece o pagamento objetivamente</p><p>indevido, ou indebito ex re, que se refere a erro quanto à existência ou</p><p>extensão da obrigação, e o pagamento subjetivamente indevido, ou</p><p>indebito ex persona, que diz respeito àquele efetuado por quem não é</p><p>devedor ou feito a alguém que não é credor.</p><p>Quem deve efetuar o pagamento</p><p>No pagamento, temos a principal forma de extinção das obrigações. É co-</p><p>mum e ocorre com frequência, considerando que toda obrigação nasce para</p><p>ser satisfeita. A maioria das obrigações é paga ou cumprida, de maneira que</p><p>o devedor fi ca liberado. Apenas uma minoria não é satisfeita, hipótese em</p><p>que o devedor pode ser judicialmente acionado pelo credor. Existem formas</p><p>especiais de pagamento, como:</p><p> sub-rogação;</p><p> imputação do pagamento;</p><p> consignação;</p><p> novação;</p><p> dação em pagamento;</p><p> remissão;</p><p> compensação;</p><p> confusão.</p><p>De modo geral, para o credor, pouco ou nada importa quem está pagando.</p><p>Assim, o solvens é o pagador, seja ele o devedor ou não, e o accipiens é quem</p><p>recebe o pagamento, seja ele o credor ou não.</p><p>O pagamento é um ato jurídico unilateral e formal, que representa a execução exata</p><p>e voluntária por parte do devedor da prestação devida, no modo, tempo e lugar</p><p>estipulados no título constitutivo. A prova do pagamento é a quitação, podendo ser</p><p>um escrito no qual o credor reconhece ter recebido o que era devido, liberando o</p><p>devedor do que foi pago.</p><p>Os requisitos subjetivos e objetivos do pagamento são:</p><p> quem paga — o devedor;</p><p> representante do devedor (tutor, curador ou mandatário) ou terceiro —</p><p>nesse caso, considera-se que o pagamento foi realizado pelo devedor;</p><p> a quem se paga, que é a quem se deve;</p><p> o que, em que e quando se paga.</p><p>Os arts. 304 a 307 do Código Civil elencam aqueles que devem efetuar o</p><p>pagamento. No entanto, quando o agente não faz parte da relação obrigacional,</p><p>não sendo devedor principal ou codevedor, é chamado de terceiro. A lei ainda</p><p>Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar2</p><p>distingue o terceiro interessado e o não interessado. O terceiro interessado</p><p>está vinculado à obrigação, mesmo não sendo parte dela, e pode ter o seu</p><p>patrimônio afetado, como, por exemplo, o fiador. Ele é interessado, pois, caso</p><p>o devedor principal não cumpra a obrigação, ele terá de fazê-lo. Já o terceiro</p><p>não interessado se vincula por sua própria vontade à obrigação, pois não existe</p><p>nenhum fator além desse que o vincule.</p><p>Na hipótese de o pagamento não ser feito, o terceiro interessado irá suportar</p><p>os efeitos, considerando que o interesse é jurídico, podendo pagar ou quitar</p><p>uma obrigação que não é sua. Assim, o pagamento é considerado efetivo, com</p><p>a extinção da dívida e a liberação do devedor.</p><p>O art. 304 disciplina que o devedor e o terceiro interessado, que tem os</p><p>mesmos direitos, poderão obrigar o credor a receber a dívida, sem o con-</p><p>sentimento do devedor ou credor. Quando o terceiro interessado dispõe de</p><p>meios capazes de obrigar, como uma ação de consignação em pagamento, ou</p><p>de efetuar o pagamento, ele se sub-roga, ou seja, assume o lugar de devedor</p><p>para o credor: “Art. 304 Qualquer interessado na extinção da dívida pode</p><p>pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exonera-</p><p>ção do devedor” (BRASIL, 2002, documento on-line). Nessa hipótese, caso</p><p>ocorra a sub-rogação, o sub-rogante também possuirá todos os direitos que o</p><p>sub-rogado tinha. Já em relação ao terceiro não interessado, este não tem os</p><p>mesmos direitos, pois, caso queira pagar, ele não se sub-roga.</p><p>Quando se trata de uma obrigação personalíssima, o credor não está obrigado a aceitar</p><p>pagamento efetuado por terceiro, incumbindo apenas ao devedor o cumprimento</p><p>da prestação, porque se trata de condição e qualidade pessoal. Nos casos em que</p><p>é permitido por lei o ingresso de um intercessor, o devedor deve estar ciente do</p><p>ressarcimento feito para o terceiro, somente nas hipóteses em que o devedor não</p><p>possui mais meios de cumprir com a sua obrigação.</p><p>O art. 305 do Código Civil estabelece que o pagamento realizado pelo</p><p>terceiro não interessado pode se operar de duas formas. A primeira é quando</p><p>o recibo fica em nome do terceiro. Assim, se o devedor paga a uma pessoa</p><p>que não é credor e não tem nem procuração ou recibo do pagamento, só terá</p><p>validade se o credor ratificar depois.</p><p>3Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar</p><p>Há ainda a figura do credor putativo, que ocorre quando se faz o pagamento</p><p>para uma pessoa acreditando que se está pagando corretamente, mas o credor</p><p>verdadeiro colabora para ocorrer o equívoco. Portanto, o pagamento feito de</p><p>boa-fé ao credor putativo é considerado válido, mesmo que provado depois</p><p>que não era credor.</p><p>O art. 307 do Código Civil trata do pagamento que resulta em alienação,</p><p>ou seja, obrigação de dar. Além disso, esse pagamento não terá eficácia se</p><p>efetuado por quem não era dono da coisa. No entanto, se a coisa é fungível e</p><p>o credor a receber e a consumir, vendendo ou agindo de boa-fé, o pagamento</p><p>é eficaz e não é possível reclamar nada do credor, incumbindo ao terceiro,</p><p>que era proprietário verdadeiro, pleitear as reparações cabíveis do devedor</p><p>que fez a entrega daquilo que não era seu.</p><p>Na hipótese prevista no art. 312 do Código Civil, em que o pagamento é</p><p>efetuado ao verdadeiro credor, esse pagamento não tem validade alguma, con-</p><p>siderando que o credor está impedido legalmente de receber. A penhora tira o</p><p>crédito do âmbito da disponibilidade do credor, por esse motivo, ele não pode</p><p>receber. Vale dizer também que não é válido o pagamento feito de forma ciente</p><p>ao credor incapaz de dar quitação, se o devedor não provar que em benefício</p><p>dele efetivamente reverteu.</p><p>Caso o devedor pague ao credor, apesar de intimação da penhora feita</p><p>sobre o crédito ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não</p><p>valerá contra estes, que ainda podem forçar o devedor a pagar novamente,</p><p>ressalvado, nesse caso, o direito de regresso contra o credor.</p><p>A natureza jurídica do pagamento é bastante controvertida. O pagamento</p><p>pode ser definido tanto como um ato jurídico, sem conteúdo negocial, como um</p><p>negócio jurídico unilateral ou bilateral, portanto, é necessário verificar o caso</p><p>concreto para que se tenha a essência de sua natureza jurídica. Existe também</p><p>uma corrente de doutrinadores que defende que o pagamento tem natureza con-</p><p>tratual por se tratar de um negócio jurídico que envolve acordos</p><p>entre as partes.</p><p>São regras do pagamento:</p><p> a satisfação voluntária da prestação, dar uma coisa, fazer um serviço</p><p>ou abster-se de uma conduta, considerando que o pagamento é exato;</p><p> o credor não pode ser obrigado a receber prestação diversa, mesmo que</p><p>mais valiosa (art. 313 do Código Civil);</p><p> o credor pode receber prestação diferente, mas não pode ser forçado a</p><p>isso (art. 356 do Código Civil);</p><p> o credor não pode ser obrigado a receber parceladamente dívida que</p><p>deve ser paga de forma integral (art. 314 do Código Civil).</p><p>Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar4</p><p>Há duas exceções: a do art. 962 do Código Civil, que trata sobre o concurso</p><p>de credores, e a do art. 1.997 do Código Civil, que trata do pagamento feito</p><p>pelos herdeiros de dívida do morto.</p><p>Sobre o lugar do pagamento, o art. 327 do Código Civil traz o seguinte:</p><p>Art. 327 Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes</p><p>convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza</p><p>da obrigação ou das circunstâncias.</p><p>Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher</p><p>entre eles (BRASIL, 2002, documento on-line).</p><p>O lugar do pagamento se refere, assim, ao lugar em que deve ser realizada,</p><p>pelo devedor, a atividade ligada ao adimplemento (pagamento). Isso porque nem</p><p>sempre o lugar das consequências da prestação é o mesmo do adimplemento,</p><p>como, por exemplo, quando uma venda pode ter como prestação a remessa</p><p>da coisa vendida ao adquirente.</p><p>Na hipótese de o credor ser incapaz, este pode receber o que é devido e usar em seu</p><p>próprio benefício, ou seja, mesmo que o devedor saiba que seu credor é incapaz, o</p><p>pagamento é considerado válido quando este beneficia o incapaz.</p><p>A quem se deve efetuar o pagamento</p><p>O pagamento não necessariamente deve ser feito ao credor que criou a</p><p>relação obrigacional, mas ao credor atual. Quando realizado o pagamento,</p><p>poderá o credor aceitar a coisa ou não, devendo obedecer ao acordado,</p><p>assim, se o credor receber o objeto da prestação, a obrigação é considerada</p><p>extinta. Isso corrobora o ditado popular, que afi rma que “quem paga mal</p><p>paga duas vezes”.</p><p>Normalmente se efetua o pagamento ao credor, mas, na hipótese de existir</p><p>mais de um ou vários credores solidários, é possível pagar a qualquer um. Caso</p><p>os credores não sejam solidários e a obrigação seja divisível, como dinheiro,</p><p>paga-se a cada qual sua parte. Se a obrigação não for solidária, mas indivisível,</p><p>paga-se a todos ou a um só, mediante caução.</p><p>5Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar</p><p>O pagamento também pode ser feito ao representante do credor, cabendo ao</p><p>devedor verificar se, de fato, é o representante. Na hipótese de representação</p><p>legal, o devedor deve se certificar de que é oriunda de lei, como o tutor, ou</p><p>de nomeação judicial, como o curador.</p><p>No caso de se tratar de uma representação convencional, derivada de</p><p>manifestação de vontade, é obrigatória a procuração, que é o instrumento da</p><p>representação, com poderes específicos expressos para receber o pagamento</p><p>como se fosse feito diretamente ao credor. No caso de ser irregular a repre-</p><p>sentação, mas se a prestação reverter ao credor, o pagamento é considerado</p><p>correto, liberando o devedor.</p><p>Outra situação em que o pagamento pode ser feito a um terceiro — que</p><p>não é o efetivo credor, nem seu representante, nem administrador de seus</p><p>negócios — é no caso de um credo putativo ou aparente. Porém, para ser</p><p>eficaz a quitação, o devedor realmente deve acreditar nessa aparência e ainda</p><p>o verdadeiro credor deve contribuir para essa aparência. O devedor, de boa-fé,</p><p>acredita na aparência. O verdadeiro credor contribui para a aparência quando,</p><p>por exemplo, o cessionário não notifica o devedor da cessão de crédito, criando</p><p>a aparência de que o cedente ainda é o credor.</p><p>Quando o pagamento é bem feito a um credor putativo e libera o devedor da obrigação,</p><p>o verdadeiro credor tem o direito de regresso ao aparente.</p><p>Com relação ao requisito objetivo do pagamento (o que se paga), o objeto</p><p>do pagamento é a prestação. Qualquer que seja a sua espécie, o pagamento só</p><p>é considerado bom se o devedor pagar exatamente o que é devido, a menos</p><p>que o credor aceite, pois este não é obrigado a receber nem mais, nem menos,</p><p>nem coisa diversa. Como disposto no Código Civil: “Art. 313 O credor não</p><p>é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais</p><p>valiosa” (BRASIL, 2002, documento on-line).</p><p>A hipótese de o credor aceitar receber prestação diferente da avençada,</p><p>mesmo que mais valiosa, caracteriza-se como um acordo, chamado de dação</p><p>em pagamento, que representa um pagamento diferente.</p><p>O pagamento só é considerado bem feito quando todas as prestações</p><p>forem adimplidas. Se a prestação é complexa, sendo várias ou composta de</p><p>Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar6</p><p>prestação principal e acessórias, o devedor só é liberado do vínculo quando</p><p>todas forem quitadas.</p><p>O Código Civil é específico quando trata dos credores originários, que</p><p>também podem receber o pagamento, sub-rogando a todos os direitos, de:</p><p> herdeiro, na proporção de sua quota;</p><p> cessionário;</p><p> legatário;</p><p> pai;</p><p> curador.</p><p>O Código Civil também refere três tipos de representantes do credor:</p><p> convencional;</p><p> legal;</p><p> judicial.</p><p>Judith Martins Costa (2005, p. 173) ensina que:</p><p>[...] a regra determina o pagamento ao credor da prestação ou a quem represente.</p><p>Importa, pois, desde já, recortar o conceito de credor, cuja persona — isto</p><p>é, cuja “identidade pessoal” ou “singularidade” — tem no adimplemento da</p><p>relação obrigacional extremada importância: é que enquanto a prestação</p><p>pode ser, em princípio (salvo as personalíssimas), adimplida por terceiro,</p><p>o pagamento, em regra, só é liberatório quando feito ao próprio accipiens.</p><p>A prova do pagamento se dá mediante recibo da quitação. Os requisitos</p><p>da quitação estão previstos no art. 320 do Código Civil, mas, na prática, a</p><p>quitação é informal ou verbal e se origina dos costumes. Caso o credor não</p><p>queira efetivar a quitação, o devedor poderá não efetuar o pagamento, conforme</p><p>art. 319 do Código Civil. Assim, o devedor pode consignar em pagamento, ou</p><p>seja, depositar o pagamento em juízo. Nesse caso, se o credor não quiser dar</p><p>a quitação, esta é feita pelo juiz.</p><p>A palavra quitação vem do latim quietare e significa aquietar, acalmar, tranquilizar. É</p><p>o documento escrito em que o credor reconhece o recebimento do pagamento e</p><p>libera o devedor da obrigação.</p><p>7Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar</p><p>Quem deve provar que houve pagamento — ou seja, o ônus da prova,</p><p>se a obrigação é positiva, de dar e de fazer — é o devedor. No entanto, se a</p><p>obrigação é negativa, o ônus da prova é do credor, cabendo a este provar que</p><p>o devedor descumpriu o dever de abstenção, porque não é razoável exigir que</p><p>o devedor prove fato negativo ou, ainda, que se omitiu. É mais prático e fácil</p><p>exigir do credor provar que o devedor deixou de se omitir, fazendo o que não</p><p>devia, descumprindo, portanto, a obrigação negativa.</p><p>Consequências jurídicas do pagamento</p><p>efetuado a pessoa indevida</p><p>No pagamento indevido, todo aquele que receber o que não lhe é devido está</p><p>obrigado a restituir. Essa obrigação cabe a quem recebe dívida condicional</p><p>antes de cumprida a condição. Aquele que indevidamente recebeu um imóvel</p><p>e o tiver alienado em boa-fé, por título oneroso, responde tão somente pela</p><p>quantia que recebeu, mas, se agiu de má-fé, responde por perdas e danos,</p><p>além do valor do imóvel.</p><p>No entanto, se o imóvel foi alienado por título gratuito, ou ainda, alienado</p><p>por título oneroso, o terceiro adquirente agiu de má-fé, assim, cabe ao que</p><p>pagou por erro o direito de reivindicação.</p><p>No que se refere à isenção, está isento de restituir o pagamento indevido</p><p>aquele que, recebendo-o como parte de dívida verdadeira, inutilizou o título,</p><p>deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das garantias que asseguravam seu</p><p>direito; mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva</p><p>contra o verdadeiro</p><p>devedor e seu fiador.</p><p>De acordo com art. 876 do Código Civil: “Art. 876 Todo aquele que re-</p><p>cebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir” (BRASIL, 2002,</p><p>documento on-line).</p><p>O pagamento indevido acontece quando o agente recebe o que não lhe era devido,</p><p>quer por inexistência de relação ou por inexigibilidade. Aquele que recebeu de boa-fé</p><p>faz jus, como o possuidor de boa-fé, aos frutos da coisa, às benfeitorias necessárias</p><p>e úteis e à retenção.</p><p>Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar8</p><p>O ônus de provar é de quem paga indevidamente, ou seja, para aquele que</p><p>alega o pagamento indevido, é fundamental provar o erro, porque aquele que</p><p>deliberadamente efetua um pagamento indevido apenas pratica uma liberali-</p><p>dade, não caracterizando, assim, o enriquecimento sem causa. O pagamento</p><p>indevido feito pelo devedor caracteriza enriquecimento sem causa de quem</p><p>recebeu esse pagamento indevido.</p><p>O pagamento indevido cria para o accipiens um enriquecimento sem causa,</p><p>gerando para o solvens uma ação de repetição para reaver o pagamento indevido.</p><p>Para caracterizar o pagamento indevido, é necessária a presença de alguns pres-</p><p>supostos específicos. Primeiro, é preciso existir um pagamento. E, na sequência,</p><p>deve ser provada a inexistência de causa jurídica que justifique o pagamento. Por</p><p>fim, o lesado deve demonstrar que cometeu um erro ao realizar o pagamento.</p><p>Uma vez reunidos os três pressupostos, resta caracterizado o pagamento indevido.</p><p>Na doutrina pátria, existem duas espécies de pagamento indevido:</p><p> Pagamento objetivamente indevido ou indebito ex re — quando existe</p><p>erro quanto à existência ou extensão da obrigação.</p><p> Pagamento subjetivamente indevido ou indebito ex persona — quando</p><p>é efetuado por alguém que não é devedor ou feito a alguém que não é o</p><p>credor. Quem mal pagou acaba pagando novamente, mas isso não afasta</p><p>o direito de o pagador reaver a prestação adimplida indevidamente.</p><p>Opera-se o pagamento indevido objetivo ou indebito ex persona quando o erro</p><p>se refere à existência e extensão da obrigação, ou seja, quando o solvens paga:</p><p> dívida inexistente;</p><p> indébito absoluto, mas que imagina existir;</p><p> débito que já existiu, mas já estava extinto;</p><p> dívida pendente de uma condição suspensiva;</p><p> mais do que deve ou se equivoca quanto ao objeto da obrigação e entrega</p><p>ao accipiens uma coisa distinta no lugar de outra.</p><p>Caracteriza-se o indébito subjetivo ou indebito ex persona quando a dívida</p><p>existe realmente, e o equívoco se refere a quem paga, que não é a pessoa</p><p>obrigada, ou a quem recebe, que na realidade não é o verdadeiro credor.</p><p>De acordo com Código Civil: “Art. 876 Todo aquele que recebeu o que lhe</p><p>não era devido fica obrigado a restituir, obrigação que incumbe àquele que</p><p>recebe dívida condicional antes de cumprida a condição” (BRASIL, 2002,</p><p>documento on-line).</p><p>9Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar</p><p>De acordo com o art. 786, o legislador não somente proíbe o pagamento</p><p>indevido, como também garante expressamente o direito subjetivo ao ressarci-</p><p>mento daquele que pagou o que não devia. Esse direito de cobrança garantido</p><p>àquele que pagou de forma equivocada é chamado de repetição do indébito.</p><p>Resumindo, quem pagou a quem não devia receber tem o direito à repetição</p><p>do indébito, ou seja, a pleitear de volta o pagamento feito de forma indevida.</p><p>Art. 940 Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem</p><p>ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obri-</p><p>gado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado</p><p>e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição</p><p>(BRASIL, 2002, documento on-line).</p><p>Na esfera do Direito Tributário, citamos, como exemplo, o sujeito passivo,</p><p>ou contribuinte, que paga um tributo indevido. Nesse caso, ocorre o enrique-</p><p>cimento sem causa da Fazenda, o que impõe ao Estado o dever de ressarcir</p><p>aquele que teve seu patrimônio invadido ilegalmente pelo Fisco. Isso origina</p><p>do direito de repetição do indébito tributário, capitulado no art. 165 do Código</p><p>Tributário Nacional: “Art. 165 O sujeito passivo tem direito, independentemente</p><p>de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a</p><p>modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do art. 162, nos</p><p>seguintes casos: [...]” (BRASIL, 1966, documento on-line).</p><p>No recebimento indevido de imóvel, Orlando Gomes (1997) elenca hipó-</p><p>teses de alienação de imóvel recebido indevidamente em pagamento, que são:</p><p> o accipiens aliena o imóvel de boa-fé, por título oneroso;</p><p> aliena o imóvel de boa-fé, por título gratuito;</p><p> aliena o imóvel de má-fé, por título oneroso;</p><p> a má-fé é do terceiro adquirente;</p><p> de má-fé agem o alienante e o adquirente, seja em negócio a título</p><p>oneroso, seja a título.</p><p>Segundo disposições do Código Civil, arts. 879, estas, segundo</p><p>Orlando Gomes (1997), são as principais consequências originadas pelo pa-</p><p>gamento indevido: na primeira hipótese, o accipiens fica obrigado a entregar</p><p>ao solvens o preço que recebeu do adquirente. Caso a alienação tenha se dado</p><p>a título gratuito, o accipiens fica obrigado a assistir na ação reivindicatória</p><p>aquele que entregou por erro de pagamento. Se alienou de má-fé a título one-</p><p>roso, além de restituir o valor, responde por perdas e danos. Quando houve</p><p>Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar10</p><p>má-fé por parte do terceiro adquirente e do alienante, o lesado tem direito</p><p>de reivindicação, sendo que, nessa hipótese, entendemos ser cabível também</p><p>uma indenização por perdas e danos.</p><p>Como visto, em todas essas hipóteses, devem ser verificados:</p><p> o enriquecimento de alguém;</p><p> o empobrecimento de alguém;</p><p> a relação de causa e efeito entre o enriquecimento e o empobrecimento;</p><p> a inexistência de uma causa que justifique tal fato.</p><p>A legislação garante ao consumidor lesado pelo credor o direito à repetição</p><p>do indébito, disposto no parágrafo único do art. 42 do Código de Defesa do</p><p>Consumidor (CDC), ou seja, sempre que houver o pagamento indevido de</p><p>valores e não for o caso de engano justificável, o consumidor tem direito à</p><p>restituição do valor em dobro.</p><p>Art. 42 Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto</p><p>a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.</p><p>Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à</p><p>repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso,</p><p>acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano</p><p>justificável (BRASIL, 1990, documento on-line).</p><p>O Código Civil indica os casos em que o pagamento indevido não confere</p><p>direito à restituição, conforme previsto no art. 880:</p><p>Art. 880 Fica isento de restituir pagamento indevido aquele que, recebendo-o</p><p>por conta de dívida verdadeira, inutilizou o título, deixou prescrever a ação</p><p>ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito; mas o que pagou</p><p>dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador (BRASIL,</p><p>2002, documento on-line).</p><p>A primeira exceção a essa regra geral prevista no art. 876 do Código Civil</p><p>se opera quando o accipiens inutilizou o título da dívida, deixou prescrever a</p><p>ação ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito. A rigor, recebeu</p><p>o indevido, porque quem pagou nada lhe devia, mas, ao ser inutilizado o título,</p><p>foi inutilizada junto a prova do seu direito. Nesse caso, o accipiens seria preju-</p><p>dicado se tivesse que restituir ao solvens aquilo que este lhe pagou por descuido.</p><p>Em respeito ao princípio da equidade, a legislação garante ao que pagou</p><p>o direito de ação regressiva contra o verdadeiro devedor ou contra seu fiador,</p><p>11Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar</p><p>assim como acontece quando o accipiens demonstra que a dívida estava</p><p>prescrita ou que as garantias desta já estavam extintas.</p><p>A segunda exceção se opera quando o pagamento se destina a quitar obri-</p><p>gação natural, ou seja, aquela sem sanção, em</p><p>que o credor não pode executar</p><p>o devedor, estando disciplinada nos arts. 882 e 883 do Código Civil:</p><p>Art. 882 Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou</p><p>cumprir obrigação natural.</p><p>Art. 883 Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter</p><p>fim ilícito, imoral, ou proibido por lei (BRASIL, 2002, documento on-line).</p><p>BRASIL. Lei nº. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Código Tributário Nacional. Diário Oficial</p><p>[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 31 out. 1966. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2018.</p><p>BRASIL. Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consu-</p><p>midor e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,</p><p>DF, 12 set. 1990. Disponível em: .</p><p>Acesso em: 20 ago. 2018.</p><p>BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial [da] República</p><p>Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2018.</p><p>COSTA, J. M. Comentários ao novo Código Civil: do Direito das Obrigações, do adim-</p><p>plemento e da extinção das obrigações. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. v. 5, t. 1.</p><p>GOMES, O. Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 1997.</p><p>Leituras recomendadas</p><p>AZEVEDO, A. V. Teoria geral das obrigações: responsabilidade civil — curso de Direito</p><p>Civil. São Paulo: Atlas, 2004.</p><p>GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva,</p><p>2017. v. 2.</p><p>LÔBO, P. L. Direito Civil: obrigações. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.</p><p>RIZZARDO, A. Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2015.</p><p>TARTUCE, F. Manual de Direito Civil. 6. ed. São Paulo: Método, 2016.</p><p>Do pagamento: quem deve pagar e a quem se deve pagar12</p><p>http://planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm</p><p>http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm</p><p>http://www.planalto.gov/</p><p>Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para</p><p>esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual</p><p>da Instituição, você encontra a obra na íntegra.</p>

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