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<p>HISTÓRIA DO DIREITO ANA PINHEIRO ALUNO(A): COMUNICAÇÃO GOIÂNIA COPIAS IMPRESSOES ENCADERNAÇÕES FORMATAÇÃO 2020/01 WHATSAPP: 996642703</p><p>PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO BACHARELADO EM DIREITO PLANO DE ENSINO Disciplina: História do Direito Turma: C05 Professora: ANA PINHEIRO Código Crédito Período HGS1280 Co-requisito 4 Pré-requisito 1° EMENTA Introdução histórica ao direito; o direito dos povos sem escrita; o direito na Antiguidade Oriental; o direito dos povos do Oriente Médio; o direito grego; o direito romano na Antiguidade; o direito Idade Média (direito dos bárbaros, direito canônico, direito medieval feudal; o renascimento do na direito romano); formação do direito ocidental moderno e a codificação do direito europeu; o direito luso-brasileiro no período colonial; constituição e codificação no Brasil do século XIX e a constituição cidadã. Estudo de caso de forma interdisciplinar com as disciplinas do mesmo período da matriz curricular. OBJETIVOS Objetivo Geral Oferecer aos estudantes de graduação noções básicas de História do Direito. Objetivos Específicos 1. Mostrar ao graduando os componentes históricos da tradição civilista no Ocidente e no Brasil; 2. Enfatizar, em especial, a influência longa e duradoura dos Direitos Romano, Canônico e Lusitano para a formação do Direito brasileiro: 3. Ressaltar a importância do estudo da História do Direito na formação do jurista e do pesquisador na área do direito, motivando os alunos para seu 4. Propiciar a interpretação crítica sobre os conteúdos ministrados: 5. Incentivar a pesquisa e a elaboração de monografias nessa área do Direito; 6. Reconhecer a importância da pesquisa interdisciplinar nas ciências jurídicas. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE I Noções introdutórias sobre o Direito do Povos Sem Escrita e da Antiguidade Oriental Introdução histórica ao Direito; Direito dos Povos sem escrita; O Direito na Antiguidade UNIDADE II Direito na Antiguidade Ocidental: Direito Grego e Romano O Direito Grego; Direito Romano Pré-Clássico. A Lei das Doze Direito Romano no Período Clássico. Os "Jurisconsultos" romanos e a "Jurisprudência" (Ciência do Direito). O "Jus Praetorium" (Direito</p><p>PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO BACHARELADO EM DIREITO Direito Romano Pós-Clássico. Direito o "Corpus Juris Civilis". UNIDADE III Direito Medieval Direito Romano na Idade Média: o Direito Romano Vulgar. Aplicação do Princípio da Personalidade do Direito; Caráter Consuetudinário; a Pluralidade; a Concretização e a Dispersão; Os costumes bárbaros e as "Leges Barbarorum"; Direito canônico; Direito Feudal; O renascimento do Direito Romano no século XII; O "Jus Commune" e fenômeno da "Recepção"; Formação da "Common Law". UNIDADE IV Formação do Direito Ocidental Moderno e Contemporâneo Escola Humanista do Direito; O Iluminismo e o Direito: a Escola do Direito Natural ou Jusnaturalismo Moderno; movimento de codificação europeu; A Escola Francesa de Exegese; A Escola Histórica UNIDADE V Direito Luso-Brasileiro O Direito Luso-Brasileiro no período colonial; Constituição e codificação no Brasil do século XIX; O Direito Brasileiro no século ATIVIDADE EXTERNA DA DISCIPLINA (AED) As Atividades Externas à Disciplina (AED), instituída pela Resolução 004/2011, devem desenvolver-se de modo sistematizado para promover melhor compreensão da disciplina pelos discentes, compor carga horária e aprofundar os estudos por meio da pesquisa com rigor científico. I. Descrição da Atividade Para cumprirmos os propósitos da AED, nesse semestre a disciplina atuará juntamente com a iniciativa Politéia e com o GEPHID (Grupo de Estudos e Pesquisas em História do Direito) para desenvolver uma atividade, de fato, interdisciplinar. A iniciativa Politéia nasceu sob a égide interdisciplinar dos cursos de História (Ivan Vieira Neto, Cleiton Ricardo das Neves, área de História do Direito e GEPHID), Direito (Neire Mendonça e Nuria Micheline M. Cabral) e Relações Internacionais (Danillo Alarcon e Aline Borghi), e tem como premissa promover temáticas que atendam às três áreas em uma perspectiva dialógica e crítica com outras áreas do conhecimento. Para utilizaremos de diversas linguagens, tais como o teatro, a poesia, a música, filmes, livros, performances culturais, dentre outras. A proposta que atenderá essa perspectiva, contudo, encontra-se em desenvolvimento. Informações pertinentes serão divulgadas no decorrer das aulas. II. Objetivo Geral da atividade Proporcionar ao estudante um debate crítico e reflexivo, sob uma ótica interdisciplinar, com foco no seu desenvolvimento e amadurecimento intelectual, ao considerar o desenvolvimento</p><p>PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO BACHARELADO EM DIREITO teórico do sistema jurídico e sua relação com a efetivação do princípio da dignidade humana, o papel do Estado na efetivação dos direitos através das políticas públicas, contradições históricas, avanços e limites dos Direitos Humanos. III. Objetivos Específicos da atividade Analisar e debater um tema, mediante uma visão crítica que possibilite o raciocínio argumentativo e integrativo em uma visão interdisciplinar necessária à compreensão da História do Direito; Oportunizar ao acadêmico relacionar a importância do conhecimento das origens, desenvolvimentos e tensões históricas inerentes ao Direito com a praticidade e realidade jurídicas e sociais contemporâneas; Propiciar discente o conhecimento da diversidade de pensamentos/escolas que contribuem para a riqueza do debate jurídico; Desenvolver a criticidade acadêmica sobre os conteúdos do desenvolvimento histórico do Direito presente na peça. Para os que tiverem interesse em verticalizar os estudos, poderão efetivá- los através da participação no GEPHID (Grupo de Estudos e Pesquisas em História do Direito) IV. Forma de Registro As atividades serão mensuradas através do registro de presença, com registro eletrônico no início e fim da atividade. Importante enfatizar que além das presenças de AED, haverá certificado de participação de 4 horas emitido pela Iniciativa Politéia conjuntamente com a coordenação do V. Critério de Avaliação: a pontuação será atribuída em frequência, sendo 08 frequências no total para os presentes. VI. Data, local e horário da apresentação debate sobre a peça teatral e tema: 22 de maio de 2020, sexta-feira. sessão: 8h-12h. sessão: 14h-18h. OBS.: O cronograma de AED é previsto e, assim, poderá sofrer alterações. Se ocorrerem, as mesmas serão comunicadas previamente. CRONOGRAMA PROGRAMADO MÊS DATAS 05 Recepção dos Calouros Teatro PUC Goiás 08 Apresentação da disciplina. Introdução histórica ao direito. 12 Apresentação do plano de ensino. Discussão acerca da metodologia de trabalho e critérios de avaliação. 15 Introdução: os objetivos e métodos da história do direito 19 Direito do Povos Ágrafos. As primeiras leis escritas e o Código de Hamurabi. Texto base: CASTRO (2011)</p><p>PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO BACHARELADO EM DIREITO 29 O Direito Hebraico. Texto base CASTRO (2011) 04 O Direito em Atenas. Texto MACIEL (2011) Principais institutos gregos e influências ao direito grego nas atuais práticas 07 jurídicas (continuação). 11 Exercícios de fechamento do conteúdo da N1 14 N1 - prova mista- questões objetivas e discursivas (individual) Direito Romano Pré-Clássico: a Lei das XII Tábuas. Texto base: MACIEL 18 (2011) O Direito Romano no período Clássico: os "jurisconsultos" romanos e a 21 "jurisprudentia" (Ciência do Direito). O "Jus Praetorium" (Direito Pretoriano). Direito Romano Pós-Clássico. Direito o "Corpus Juris Civilis" 25 28 Invasões bárbaras e o direito romano pós-clássico. Direito Romano na Idade Média: o Direito Romano Vulgar aplicação do Princípio da Personalidade do Direito, o caráter consuetudinário. a pluralidade. 01 Texto base: LOPES (2012) Direito canônico medieval: origem, desenvolvimento e principais documentos 04 jurídicos produzidos. Texto base: DEMO (2010) 08 N1 prova mista- questões objetivas e discursivas (individual) 15 Entrega, correção e fechamento da N1 Direito Feudal e Formação da "Common Law". Texto base MACIEL (2011) & 18 DEMO (2010) 22 Jornada da Cidadania O renascimento do Direito Romano no século XII. O "Jus Commune" e o 29 fenômeno da "Recepção". Texto base: GLISSEN (2011) & LOPES (2012) O Iluminismo e o Direito: a Escola do Direito Natural ou Jusnaturalismo 06 Moderno. Texto base: CAENEGEM (2000) O movimento de codificação a Escola Francesa de Exegese e a Escola 09 Histórica Alemã. Texto base: DEMO (2010)</p><p>( ( ( PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO BACHARELADO EM DIREITO 13 Atividade de fechamento do conteúdo da N2 16 N2 prova mista- questões objetivas e discursivas (individual) 20 A Escola humanista do direito romano. Texto base: CAENEGEM (2000) 23 O Direito Luso-Brasileiro no período colonial. O liberalismo e o pensamento jurídico brasileiro no século XIX. Texto base WOLKMER (2008) Constituição de 1824; Codificação no Brasil do século XIX; O Direito brasileiro 27 na Primeira República; Instabilidade constitucional e direitos sociais na Era Vargas (1930-1964) 30 Constituição de 1824; Codificação no Brasil do século XIX; O Direito brasileiro na Primeira República; O Direito brasileiro na "era Vargas" e a Tentativa de democratização: 03 Constituição de 1946; O Direito brasileiro no período da Ditadura militar; Instabilidade constitucional e direitos sociais na Era Vargas (1930-1964) A Ditadura e as Violações de Direitos Humanos 06 10 Atividade de fechamento do conteúdo da N2 17 N2 - prova mista- questões objetivas e discursivas (individual) Devolução das avaliações corrigidas. Comentários. Socialização de N2 e 20 fechamento 24 Atendimento aos alunos(as) com pendências 27 Entrega de pautas à secretaria. cronograma poderá sofrer alterações conforme o desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem e das demandas institucionais voltadas ao MATERIAL DE APOIO: BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2001. BENTHAM, Jeremy. Panóptico. Tradução Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. CAENEGEM, Raoul Charles. Uma introdução histórica ao direito privado. São Paulo: Martins Fontes, 2000.</p><p>PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO BACHARELADO EM DIREITO DAVIS, Natalie Zemon. Histórias de perdão e seus narradores na França do século XVI. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo: Cia das Letras, 2001. DAVIS, Natalie Zemon. retorno de Martin Guerre. Tradução de Denise Bottman. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. DEMO, Wilson. Manual de História do Direito. Florianópolis: Conceito Editorial, 2010. GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Cia das Letras, 1987. HOBBES, Thomas. O São Paulo: Martin Claret, 2004. (Série Ouro) LEAL, José Carlos. A maldição da mulher: de Eva aos dias de hoje. São Paulo: DPL editora, 2004. LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo civil e outros escritos: ensaio sobre a origem, os limites e os fins verdadeiros do governo Tradução de Magda Lopes e Marisa Lobo Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. LOMBROSO, Cesare. homem delinquente. São Paulo: 2013. MAQUIAVEL, Nicolau. O São Paulo: L&PM editores, 2011. MARCHI, Carlos. Fera de Macabu. Rio de Janeiro: Record, 1998. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Abril Cultural, 1978. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Brasiliense, 2007. TELES, Maria Amélia de Almeida. que são direitos humanos das mulheres. São Paulo: Brasiliense, 2007. VOLTAIRE. Tratado sobre tolerância. São Paulo, folha de São Paulo, 2015. METODOLOGIA Com o objetivo de estimular, ao máximo, a participação e apreensão do estudante acerca dos conteúdos ministrados, a metodologia se dará por meio de: a) Aulas teórico-expositivas e dialogadas; b) Leitura, análise e interpretação da bibliografia proposta; c) Pesquisa e levantamento bibliográfico complementar; d) Avaliações individuais e em grupo; e) Exercícios de fixação; f) Indicação de leituras e filmes. AVALIAÇÃO</p><p>( PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADES PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO BACHARELADO EM DIREITO A avaliação dar-se-á de forma processual e respeitará as disposições legais e institucionais. considerando os seguintes aspectos: Avaliações N1: Trabalho realizado em sala (PBL,TBL, ESTUDO DE CASO) - Valor = 2,0 Prova escrita, sem consulta, com questões objetivas e discursivas e N1 Valor = 8,0. Total da N1 = Avaliações N2: AI Avaliação Interdisciplinar. Valor: 1,0 ponto. Trabalho realizado em sala ESTUDO DE CASO) - Valor = 2,0 Prova escrita, cumulativa, sem consulta, com questões objetivas e subjetivas - Valor = O (a) aluno(a) precisará alcançar média igual ou superior a 6,0 (seis), além de frequentar 75% das aulas, para obter aprovação na disciplina. OBS.: o estudante que precisar se ausentar de alguma avaliação previamente agendada deverá apresentar-se o quanto antes com uma justificativa comprovada a fim de agendar e realizar a avaliação/atividade substitutiva; preferencialmente, no encontro seguinte com a disciplina, de acordo com o cronograma de aulas. BIBLIOGRAFIA BÁSICA: CASTRO, Flávia Lages. História do direito geral e do Brasil. 10. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2013. LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2012. Antônio Carlos (Org.). Fundamentos de história do direito. 7. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2014. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. História do direito brasileiro: leituras da ordem jurídica 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013. GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. 6 ed. Lisboa: Fundação Calouste 2011. HORTA, José Luiz Borges. História do estado de direito. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2011. MACIEL, José Fábio Rodrigues. História do direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Walter Vieira do. Lições de história do direito. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004.</p><p>CASTRO, Flávia Lages. História do Direito Geral e do Brasil. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, CAPÍTULO I DIREITO DOS POVOS SEM ESCRITA Embora algumas vezes as pessoas confundam Direito e Lei escri- ta, se partirmos do pressuposto de que um conjunto de regras ou nor- mas que regulamentam uma sociedade pode ser chamado (ainda que humildemente) de todas as comunidades humanas que existem ou existiram no mundo indiferentemente de quaisquer características que tenham produziram ou produzem seu Só podemos estudar História e, portanto, História do Direito a par- tir do advento da escrita (que varia no tempo de povo para antes disso chamamos de A Pré-história do direito é um longo caminho de evolução jurídica que povos percorreram e, apesar de podermos supor que foi uma es. trada bastante rica, temos a dificuldade, pela falta da escrita, de ter acesso a ela. Esta riqueza pode ser comprovada pelo fato de as sociedades ao se utilizarem pela primeira vez da escrita (e do direito escrito) já terem instituições que dependem muito de conceitos jurídicos, como casa- mento, poder paternal ou maternal, propriedade, contratos (ainda que verbais), hierarquia no poder público etc. As origens do Direito situam-se na formação das sociedades e isto remonta a épocas muito anteriores à escrita e que se mostra mais interessante neste estudo especificamente é que, dependendo do povo de que tratamos, esta "época" ainda é hoje. Povos sem escrita ou ágrafos (a= negação + grafos= escrita) não um tempo determinado. Podem ser os homens da caverna de 3.000 a.C. ou os índios brasileiros até a chegada de Cabral, ou até mesmo as tribos da floresta Amazônica que ainda hoje não entraram em contato com homem branco. Diante desta multiplicidade de povos e tempos podemos somente comentar algumas características gerais destes grupos. Em geral, não grande desenvolvimento tecnológico e somente uma minoria tes tem agricultura. em sua maior parte, e mo tais seminômades ou Os povos ágrafos que possuem 1</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e agricultura são sedentários e todos eles, sem exceção, baseiam seu dia 2. Fontes dos Direitos dos Povos Ágrafos a dia em uma religiosidade profunda. Pela quantidade destes direitos e a diversidade destes buscamos Entendemos como "fontes de direito" tudo aquilo que é utilizado então, como introdução ao estudo de História do Direito, apontar ca- como base ou "inspiração" para a feitura de regras ou códigos. racterísticas e fontes do direito comuns que auxiliam na compreensão Os povos ágrafos basicamente utilizam os Costumes como fonte de um todo tão distinto. da suas normas, ou seja, o que é tradicional no viver e conviver de sua comunidade torna-se regra a ser Entretanto, costume não é a única fonte do direito destes povos. 1. Características Gerais dos Direitos dos Povos Nos grupos sociais onde se pode distinguir pessoas que detêm algum tipo de poder estes impõem regras de comportamento dando ordens que acabam tendo caráter geral e permanente. São Abstratos: como são direitos não escritos, a possibilidade precedente também é utilizado como fonte. As pessoas que de abstração fica limitada. As regras devem ser decoradas e julgam (chefes ou anciãos) tendem a, voluntária ou passadas de pessoa para pessoa da mais clara possível. aplicar soluções já utilizadas anteriormente. Numerosos: cada comunidade tem seu próprio costume e vive isolada no espaço e, muitas vezes, Os raros con- 3. Transmissão das Regras tatos entre grupos vizinhos (que porventura vivem no mesmo tempo e dividem mesmo espaço) têm como objetivo a guerra. Muitos grupos utilizam procedimento de, em intervalos regu- lares de tempo, terem suas regras enunciadas a todos pelo chefe (ou São Relativamente Diversificados: Esta distância (no tempo e no chefes) ou anciãos. Outras formas são os Provérbios e Adágios que de- espaço) faz com que cada comunidade produza mais sempenham papel decisivo na tarefa de fazer conhecer as normas da melhanças do que semelhanças em seus direitos. São Impregnados de Religiosidade: como a maior parte dos fenômenos são explicados, por estes povos, através da a regra jurídica não foge a este contexto. Na maior parte das vezes a distinção entre regra religiosa e regra jurídica torna-se impossível. São Direitos em Nascimento: a diferença entre o que é jurídico e o que não é muito Esta distinção só se torna possível quando direito passa do comportamento inconsciente (deri- vado de puro reflexo) ao comportamento consciente, fruto de 12 costume, em ou grau, é fonte de todo Uma por mais 11 Neste ponto seguiremos de perto os apontamentos de J. Introdução que seja não pode descartar sua tradição sua moral como ao direito. 2. ed. Lisboa: p. 31ss. base de suas</p><p>via Lages. História do Direito ed. Rio de Janeiro: CAPÍTULO II 2011. AS PRIMEIRAS LEIS ESCRITAS E CÓDIGO DE HAMMURABI 1. Crescente Fértil e as Primeiras Leis Escritas Há um lugar no mundo onde quase tudo que consideramos "civi- lizado" nasceu: Crescente Fértil, onde hoje está Iraque, uma parte do e parte de seus vizinhos. Este lugar tem este nome por causa da fertilidade que os rios Tigre e Eufrates dão a uma região que é se- melhante a uma lua crescente de cabeça para Nesta região homem primeiro dividiu as horas, os minutos e os segundos em sessenta, fez tijolos e erigiu grandes construções com criou (para a felicidade dos olhos e da alma) a jardinagem, inven- tou Estado e Governo, fez as primeiras escolas, inventou a cerveja. Mas, a mais grandiosa invenção dessa gente da Mesopotâmia foi passar para uma superfície símbolos que expressavam a isso chamamos de escrita. 13 tipo de escrita que inventaram foi a cunei- forme.14 se pode estranhar, portanto, que tenham sido estas pessoas as primeiras a terem leis escritas. Tem-se notícia de um chefe da cidade de Lagas de nome Urukagina, no terceiro milênio antes de Cristo, ser apresentado pelos textos de época como um grande legislador e reformador. Bouzon informa, contudo, que as inscrições de Urukagina não transmitem leis ou normas legais, mas medidas sociais adotadas para coibir abusos e corrigir injustiças corpo de leis mais antigo que se conhece é o de Ur-Nammu da terceira dinastia de Ur. 2111-2094 a.C.) do qual chegou até 13 (= entre rios) foi o nome dado pelos gregos à região entre os rios Tigre e 14 "Cuneiforme: sistema de escrita, sem dúvida o mais antigo o cuneiforme (do cuneus, "cunha" e forma, foi inventado pelos sumerianos seguramente des. de termo cuneiforme caracteriza o aspecto anguloso dos simbolos, im- pressos em argila úmida ou, raramente, em pedra (...)." AZEVEDO, A. C. do A. Dicionário de nomes, termos conceitos Pio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 15 BOUZON. E. Código de Hammurabi. 6. ed. Vozes, 1998, 22. 11 3</p><p>Flávia Lages de Castro Histéria do Direito Geral e Brasil nós somente dois fragmentos de um tablete de Em 1948 outras leis foram identificadas também na mesma região; são as leis de na transcrição dos códigos legais e dos julga- Eshunna. mentos que tinham formado No final de 1901 e início de 1902 d.C. uma expedição arqueológica direito privado sumeriano reconhecia alguma independência em francesa encontrou uma estela (ou pedra) de diorito negro de m de relação ao divórcio era realizado através de decisão judicial altura contendo um conjunto de leis com 282 artigos, postos de e poderia favorecer a qualquer dos repúdio da mulher neira organizada, ao qual chamamos hoje de Código de Hammurabi pcr acarretava uma indenização pecuniária e somente era permitido pelos ter sido feita a mando do Rei Hammurabi. que reinou na Babilônia entre motivos indicados pela adultério era um delito, porém sem 1792 e 1750 se havia o perdão do marido. filho que renegasse seu pai poderia ou ter a mão cortada ou ser vendido como A esposa era responsável pelas dívidas do marido. 2. Algumas Considerações Sobre as Leis Anteriores a As leis penais dos sumerianos muitas vezes substituíam Hammurabi cípio da Pena de Talião (que será explicado a seguir) por multas ou por indenizações Antes de tratarmos especificamente do Código de Hammurabi é interessante que nos ainda que nas ca- racterísticas gerais das leis escritas anteriores a 3. A Babilônia de Hammurabi Tanto Ur-Nammu quanto Eshunna foram reis de Cidades Estado no Crescente Fértil e dão nome às primeiras leis escritas que conhe- Embora a Babilônia mais famosa seja a do rei cemos; a influência que Ur-Nammu (rei sumeriano) sobre as (séc. V a.C.) por causa da participação deste na História dos Hebreus leis de Eshunna são tão grandes quanto a que estas duas legislações contada na Bíblia, a História da Babilônia remonta o segundo milênio provocaram no Código de Hammurabi. A questão da justiça, era da era quando um grupo nômade (arcadiano) fixou-se em já para os desta forma explica uma localidade chamada Babila ou Bab Ilim (Babilônia ou Babel porta de deus), às margens do rio Eufrates. "A lei e a justiça eram conceitos fundamentais da xeque deste grupo arcadiano, Sumuabum co- antiga Suméria, que impregnavam a vida social meçou a expansão territorial da babilônia, mas foi seu sucessor, Sumu- econômica sumeriana tanto na teoria como na (1880-1845 a.C.), que, com vitórias sucessivas sobre os vizinhos, prática. No decurso do século passado XIX consolidou a independência da cidade. os arqueólogos à luz do dia, mi- Os reis posteriores incorporaram a cultura suméria e somaram-na lhares de tabuinhas de argila representando toda à cultura arcádica; entretanto, em termos de expansão territorial espécie de documentos de ordem jurídica: con- somente em 1792 a.C. com a ascensão ao poder de Hammurabi a Babi- atos, notas re- cresceu em poder. Este rei, com imensa habilidade em política de cibos, acórdãos dos tribunais. Entre os alianças, mais que dobrou território que seu pai havia deixado. o estudante mais adiantado consagrava uma rei Hammurabi construiu um grande império que abrangia os grande parte de seu tempo ao estudo das leis e territórios dominados anteriormente pela dinastia de Agadé do mar exercitava-se regularmente na prática de uma Imferior e do Elam até a Síria e litoral do Ele assumiu terminologia altamente especializada, bem como os títulos de rei de rei de Acad, rei das Quatro rei do 16 A pedra (ou Estela) pode ser vista hoje em dia no Museu do em 17 KRAMER apud GIORDANI, M. História da 11. ed. Vozes, p. 138. 12 13</p><p>STRO, Flávia Lages. História do Direito al e do Brasil, ed. Rio de Janeiro: CAPÍTULO II Júris, 2011. AS PRIMEIRAS LEIS ESCRITAS E CÓDIGO DE HAMMURABI 1. Crescente Fértil e as Primeiras Leis Escritas Há um lugar no mundo onde quase tudo que consideramos "civi- lizado" Crescente Fértil, onde hoje está Iraque, uma parte do e parte de seus vizinhos. Este lugar tem este nome por causa da fertilidade que os rios Tigre e Eufrates dão a uma região que é se- melhante a uma lua crescente de cabeça para Nesta região homem primeiro dividiu as horas, os minutos e os segundos em sessenta, fez tijolos e erigiu grandes construções com criou (para a felicidade dos olhos e da alma) a jardinagem, inven- tou Estado e Governo, fez as primeiras escolas, inventou a cerveja Mas, a mais grandiosa invenção dessa gente da Mesopotâmia foi passar para uma superfície símbolos que expressavam idéias: a isso cnamamos de escrita tipo de escrita que inventaram foi a cunei- forme.14 se pode estranhar, portanto, que tenham sido estas pessoas as primeiras a terem leis escritas. Tem-se notícia de um chefe da cidade de Lagas de nome Urukagina, no terceiro milênio antes de Cristo, ser apresentado pelos textos de época como um grande legislador e reformador. Bouzon informa, contudo, que as inscrições de Urukagina não transmitem leis normas legais mas medidas sociais adotadas para coibir abusos e corrigir injustiças corpo de leis mais antigo que se conhece é de Ur-Nammu (fundader da terceira dinastia de Ur. 2111-2094 a.C.) do qual chegou até 13 (= entre foi nome dado pelcs gregos à região entre os rios Tigre e 14 "Cuneiforme: sistema de sem dúvida mais antigo (do latim "cunha" e forma. forma), foi inventado pelos sumerianos seguramente des. de milênio. o termo cuneiforme caracteriza o aspecto anguloso dos im- pressos em argila úmida ou, raramente, em pedra (...)." AZEVEDO, A. C. do A. Dicionário de termos e conceitos históricos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, p. E. Código de 6. ed. Vozes, 1998, p. 22. 11 3</p><p>Flávia Lages de Castro Histéria do Direito Geral e Brasil nós somente dois fragmentos de um tablete de Em 1948 outras leis foram identificadas também na mesma região; são as leis de na transcrição dos códigos legais e dos julga- Eshunna. mentos que tinham formado No final de 1901 e início de 1902 d.C. uma expedição arqueológica direito privado sumeriano reconhecia alguma independência em francesa encontrou uma estela (ou pedra) de diorito negro de 2,25 m de relação ao mando. divórcio era realizado através de decisão judicial altura contendo um conjunto de leis com 282 artigos, postos de ma- e poderia favorecer a qualquer dos repúdio da mulher neira organizada, ao qual chamamos hoje de Código de Hammurabi per acarretava uma indenização pecuniária e somente era permitido pelos ter sido feita a mando do Rei Hammurabi, que reinou na Babilônia entre motivos indicados pela adultério era um delito, porém sem 1792 e 1750 a.C.16 se havia o perdão do marido. filho que renegasse seu pai poderia ou ter a mão cortada ou ser vendido como A esposa era responsável pelas dívidas do 2. Algumas Considerações Sobre as Leis Anteriores a As leis penais dos sumerianos muitas vezes substituíam Prin- Hammurabi cípio da Pena de Talião (que será explicado a seguir) por multas ou por indenizações legais. Antes de tratarmos especificamente do Código de Hammurabi interessante que nos detenhamos, ainda que rapidamente, nas ca- racterísticas gerais das leis escritas anteriores a Hammurabi. 3. A Babilônia de Hammurabi Tanto Ur-Nammu quanto Eshunna foram reis de Cidades Estado no Crescente Fértil e dão nome às primeiras leis escritas que conhe- Embora a Babilônia mais famosa seja a do rei cemos; a influência que Ur-Nammu (rei sumeriano) exerceu sobre as (séc. V a.C.) por causa da participação deste na História dos Hebreus leis de Eshunna são tão grandes quanto a que estas duas legislações contada na Bíblia, a História da Babilônia remonta o segundo milênio provocaram no Código de Hammurabi. A questão da justiça, era da era quando grupo nômade (arcadiano) fixou-se em já para os sumerianos, desta forma explica Kramer uma localidade chamada Babila ou Bab Ilim (Babilônia ou Babel porta de deus), às margens do rio Eufrates. "A lei e a justiça eram conceitos fundamentais da xeque deste grupo arcadiano, Sumuabum a.C.), antiga Suméria, que impregnavam a vida social 9 meçou a expansão territorial da babilônia, mas foi seu sucessor. Sumu- econômica sumeriana tanto na teoria como na la'el (1880-1845 a.C.), que, com vitórias sucessivas sobre os vizinhos, prática. No decurso do século passado XIX consolidou a independência da cidade. d.C.], os arqueólogos revelaram, à luz do dia, mi- Os reis posteriores incorporaram a cultura suméria e somaram-na lhares de tabuinhas de argila representando toda à cultura arcádica; entretanto, em termos de expansão territorial espécie de documentos de ordem jurídica: con- somente em 1792 a.C. com a ascensão ao poder de Hammurabi a Babi- tratos; atos, testamentos, notas re- cresceu em poder. Este rei, com imensa habilidade em política de cibos, acórdãos dos Entre os alianças, mais que dobrou território que seu pai havia deixado. o estudante mais adiantado consagrava uma rei Hammurabi construiu um grande império que abrangia os grande parte de seu tempo ao estudo das leis e territórios dominados anteriormente pela dinastia de Agadé do mar exercitava-se regularmente na prática de uma Imferior e do Elam até a Síria e litoral do Ele assumiu terminologia altamente especializada, bem como os títulos de rei de Sumer, rei de Acad, rei das Quatro rei do 16 A pedra (ou Estela) pode ser vista hoje em dia no Museu do Louvre, em 17 KRAMER apud M. C. História da antiguidade 11. ed. Vozes, 2001, p. 138. 12 13</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil Universo e, mais interessante: "Pai de Amurru" (Amurru significa Ocidente). midade de organização e regulamentou cuidado- Hammurabi não foi apenas um grande conquistador e um ex- samente o processamento das ações, compreen- celente estrategista; foi, antes de mais nada, um exímio administrador. dendo nessa regulamentação a propositura, Conforme afirma Emanuel Bouzon: recebimento ou não pelo juiz, a instrução com- pletada pelo depoimento de testemunhas e diligências 'in loco' e, finalmente, a sentença. Foi "Seus trabalhos de regulagem do curso do estabelecida então unia organização judiciária Eufrates e a construção e conservação de canais que incluía até ministério público e um direito para a irrigação e para navegação incrementaram enormemente a produção e o comércio. Em sua política Hammurabi preocupou- Após a morte de Hammurabi a dinastia manteve-se por aproxi- se, sempre, em reconstruir as cidades vencidas e madamente 150 anos, mas em 1594 os Hititas invadiram e incendiaram em reedificar e ornamentar ricamente os templos a Babilônia, abandonando-a em seguida. A queda da dinastia de dos deuses locais (...)."18 Hammurabi fez ascender os Cassitas que iniciaram um novo período da História da Em seu território existiam vários povos diferentes, de culturas diversas. Para exercer seu poder eram necessários me- canismos de unificação em meio a tanta heterogeneidade. Hammurabi 4. Sociedade e Economia da Babilônia Hammurabiana utilizou-se de três elementos para empreender esta unificação: a lin- gua, a religião e direito. A Sociedade da Babilônia da época de Hammurabi é dividida, acádio tornou-se língua oficial, o panteão de deuses conforme indica o próprio código, em três camadas sociais: Código de Hammurabi foi feito utilizando-se de toda a legislação pre- cedente. Este teve uma penetração e uma utilização surpreendente e Os "awilum" homem livre, com todos os direitos de cidadão. sem paralelos na história: anos depois de sua redação era aplicado Este é maior grupo da sociedade hammurabiana e compreen- ainda na Babilônia e em Nínive, por exemplo. dia tanto ricos quanto pobres desde que fossem livres. Hammurabi não apenas ordenou a feitura do Código. Para uma melhor utilização do Direito como ferramenta de controle ele Os "muskênum": são uma camada que ainda suscita muita reorganizou a Justiça (em moldes muito próximos aos que hoje utili- dúvida por parte dos estudiosos. Parecem ter sido uma camada zamos): intermediária entre os awilum e os escravos, formada por fun- cionários públicos, com direitos e específicos. "O poder judiciário, na Caldéia anterior ao reina- do de Hammurabi, era exercido nos templos pelos Os escravos: eram a minoria da população, geralmente prisio- sacerdotes em nome dos deuses. Na Babilônia, neiros de desde o início da I dinastia, começaram a ser or- ganizados, à imitação do que já existia em Sumer, A economia era basicamente agrícola e a maior parte das terras tribunais civis dependentes diretamente do so- era de propriedade do Palácio, ou seja, do governo. Mas havia comércio berano. Hammurabi conferiu à justiça real supre- macia sobre a justiça sacerdotal; deu-lhe unifor- e este era bastante forte, principalmente o externo conforme mostra 19 M. C. História da Antiguidade... Op. cit., p. 155. 18 E. Op. cit., p. 20. 20 Código de Hammurabi dá o nome de wardum para escravos e amtum para escravas 14</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil próprio Código que afirma existirem inclusive banqueiros que finan- to, do qual outra pessoa pode dispor livremente ciavam as expedições. exercendo direitos de propriedade. A escravidão pequeno comércio varejista estava nas mãos de mulheres, as conheceu extraordinária difusão no mundo anti- "taberneiras" que vendiam não somente bebidas, mas também go, originando-se, de modo geral, da guerra ce- gêneros de primeira necessidade. veículo de pagamento, que hoje leiro inesgotável das dívidas e da heredita- denominamos moeda, era a cevada ou a prata. Assim nos indica riedade (...)."22 Código de Hammurabi: filósofo grego Aristóteles explica a escravidão desta forma: "Se uma taberneira não aceitou cevada como preço da cerveja, (mas) aceitou prata em peso grande ou diminuiu o equivalente de cerveja em "A produção precisa de instrumentos dos quais relação ao curso da cevada, (isso) uns são inanimados e outros, animados. Todos os contra a taberneira e a na água."21 trabalhadores são instrumentos animados sários, porque os instrumentos inanimados não se movem espontaneamente (as lançadeiras não 4.1. Questões Acerca dos Escravos tecem panos por si próprias). escravo, instru- mento vivo como todo trabalhador, constitui À medida que utilizaremos amplamente, principalmente na An- ademais propriedade A noção de pro- tiguidade, a noção de escravidão, faz-se necessário empenhar-nos em priedade implica a de sujeição a alguém fora dela entender que significa a Instituição Escravidão. Isto faremos levando (...)."23 em conta a Escravidão como um todo, não somente na que é o tema deste Capítulo. Definir escravidão não é somente considerar que todo aquele que trabalha sem nada receber é escravo: muitos de nós seriamos, até mes- 5. Alguns Pontos do Código de Hammurabi mo honrados voluntários que existiram e existem no mundo, colo- cados nesta posição, que não é verdadeira no caso a) A Pena de Talião Escravo é propriedade, bem alienável, ou seja, algo que pode ser comprado, vendido, alugado, dado, Escravo é, portanto, Princípio da Pena ou Lei de Talião é um dos mais utilizados por coisa. todos os povos antigos. É apontado por alguns como sendo a primeira Na Antiguidade não era condição imperiosa ser de outra para forma que as sociedades encontraram para estabelecer as penas para tornar-se escravo. De fato, a escravidão originava-se de guerras quan- seus delitos. do indivíduo era, após a derrota de seu grupo, pego pelos vencedo- Este princípio, que é exemplificado na Bíblia com a frase "olho por res de dívidas quando indivíduo penhorava próprio corpo ou de olho, dente por não é uma lei, mas uma idéia que indica que a um membro da família, como garantia de pagamento e não fazia ou pena para delito é equivalente ao dano causado neste. Assim sendo, por nascimento. ninguém sofre "pena de talião", mas, baseado neste princípio, sofre Assim define Dicionário de Nomes, Termos e Conceitos Históricos: como pena o mesmo sofrimento que impôs ao cometer crime. "Instituição secular caracterizada pela de indivíduo juridicamente considerado um obje- 22 AZEVEDO, Antonio Carlos do Dicionário de nomes, termos e conceitos Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 157. 23 ARISTÓTELES apud Jacob. o escravismo São Paulo: Ática, 1988, 21 § 108. p. 46. 16 17</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil Código de Hammurabi utiliza muito este princípio no tocante a "Se se apresentou com um testemunho (falso em danos físicos, chegando a aplicá-lo radicalmente mesmo quando, para causa) de cevada ou prata: ele carregará a pena conseguir a equivalência, penaliza outras pessoas que não o culpado. desse processo." 28 "Se um awilum destruiu o olho de um outro c) Roubo e Receptação destruirão seu olho."24 Código Hammurabiano penaliza tanto o que roubou ou furtou "Se um edificou uma casa para um quanto que recebeu a mercadoria mas não reforçou seu trabalho, e a casa, que construiu, e causou a morte do dono da "Se um awilum cometeu um assalto e foi preso: casa, esse construtor será morto."25 esse será morto."29 "Se causou a morte do filho do dono da casa, "Se um roubou um bem de propriedade matarão filho desse construtor."26 de um deus ou do palácio: esse awilum será morto; e aquele que recebeu de sua mão objeto Princípio da Pena de Talião não contava quando os danos físicos roubado será morto."30 eram aplicados a escravos à medida que estes podem ser definidos como bens alienáveis; o dano contra um bem deve ter d) Estupro material. estupro sem pena alguma para a vítima era previsto neste b) Falso Testemunho código somente para "virgens casadas" (como na legislação mosaica), ou seja, mulheres que, embora tenham contrato de casamento fir- falso testemunho é tratado com severidade pelos povos antigos mado, ainda não coabitavam com os maridos. porque provas materiais eram mais difíceis; assim sendo, contavam na maior parte dos somente com testemunhas. "Se um amarrou a esposa de um (outro) Código separa uma causa de morte de uma causa que envolve awilum, que (ainda) não conheceu um homem e pagamento, nesta última o ônus do falso testemunho é o pagamento da mora na casa de seu pai, dormiu em seu e pena do processo. Em outros casos a sanção para falso testemunho é a surpreenderam, esse awilum será morto, mas a Pena de mulher será e) Família "Se um awilum apresentou-se em um processo com testemunho falso e não pode comprovar o que disse: se esse processo é um processo capi- sistema familiar da Babilônia Hammurabiana era patriarcal e o tal, esse awilum será morto."27 casamento, monogâmico, embora fosse admitido concubinato. Esta aparente discrepância era resolvida pelo fato de uma concubina jamais 24 § 196. 28 § 04. 25 § 229. 29 26 § 30 27 03. 31 § 130. 18</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil ter "status" ou os mesmos direitos de esposa. casamento legítimo daquele que os têm em sujeição, no quarto ano era somente válido se houvesse contrato: será concedida sua libertação." 35 "Se um awilum tomou uma esposa e não redigiu Uma escrava, tomada como concubina por seu senhor ou dada por seu contrato, essa mulher não é esposa."32 sua senhora ao marido, tinha uma situação bastante interessante se desse a este filhos que ele reconhecesse. Ela não mais poderia ser Havia também a possibilidade de casamentos entre as camadas vendida conforme atesta artigo 146 do referido Código. sociais e código não somente admitia isto como regulamentava a herança dos filhos nascidos deste tipo de casamento: g) Divórcio "Se um escravo do palácio ou um escravo de um marido podia repudiar a mulher nos casos de recusa ou muskênum tomou por esposa a filha de um negligência em "seus deveres de esposa e dona-de-casa". e ela lhe gerou filhos, dono do escravo Qualquer dos dois cônjuges podia repudiar o outro por má con- não poderá reivindicar para a escravidão os filhos duta, mas neste caso a mulher para repudiar homem deveria ter uma da filha de um awilum."33 conduta ilibada. casamento era no que chamamos hoje "regime de comunhão de "Se uma mulher tomou aversão a seu esposo e disse-lhe: 'Tu não terás relações seu caso será examinado em seu Se ela se "Se, depois que a mulher entrou na casa de um guarda e não tem falta e seu marido é um saidor recaiu sobre eles uma dívida, ambos e a despreza muito, essa mulher não tem culpa, deverão pagar ao mercador."34 ela tomará seu dote e irá para casa de seu f) Escravos h) Adultério Havia duas maneiras básicas de tornar-se não somente na Babilônia, mas também na Antiguidade como um todo. Somente a mulher cometia crime de adultério, homem era, no prisioneiro de guerra ou por não conseguir pagar dívidas e assim ter máximo, cúmplice. Desta forma, se um homem com uma mulher que entregar-se a si mesmo, a esposa ou aos filhos, mas Hammurabi casada, ela seria acusada de adultério e ele de cúmplice de adultério e (assim como os Hebreus posteriormente) vai limitar o tempo se a mulher fosse solteira, não comprometida, não havia crime nem escravidão por dívida. cumplicidade, mesmo porque este é um povo que admite concubinato. Quando pegos, os adúlteros pagavam com a vida, entretanto o "Se uma dívida pesa sobre um e ele Código prevê o perdão do marido: vendeu sua esposa, seu filho ou sua filha ou os entregou em serviço pela dívida, durante três "Se a esposa de um awilum for surpreendida anos trabalharão na casa de seu comprador ou dermindo com um outro homem, eles os amarrarão e os n'água. Se o esposo 32 § 128. 33 § 175. 35 117. 34 § 152. 36 § 142. 21</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil deixar viver sua esposa, o rei também deixará mas herdeiro, filho da primeira esposa, viver seu escolherá entre as partes e tomará para i) Adoção Estavam excluídas da herança as filhas já casadas, pois estas já haviam recebido dote. As filhas solteiras, quando casassem, recebe- Esta sociedade foi bastante humana no tocante à veja: riam seu dote das mãos dos Mas os filhos, mesmo reconhecidos, ou frutos de Se uma criança fosse adotada logo após seu nascimento, não podiam ser deserdados, mas para isto deveria haver um exame por poderia mais ser parte dos Se a criança fosse adotada para aprender um ofício e o ensi- namento estivesse sendo feito, ela não poderia ser "Se um awilum resolveu deserdar seu filho e Caso este ensino não estivesse sendo feito, o adotado deveria disse aos juízes: 'Eu quero deserdar meu os voltar à casa patema. juízes examinarão a questão. Se filho não come- Se a criança, ao ser adotada, já tivesse mais idade e reclamasse teu falta suficientemente grave para excluí-lo da por seus pais, tinha que ser devolvida. herança, pai não poderá deserdar seu filho. Em outros casos, se o adotado renegasse sua adoção, seria k) Processo severamente punido. Se o casal, após adotar, tivesse filhos e desejasse romper con- trato de adoção, adotado teria direito a uma parte do patri- As leis babilônicas desta época permitem e prevêem a mistura do mônio deles a título de sagrado e do profano no julgamento, embora a justiça leiga tenha tido maior importância que a sacerdotal à época de Um juiz j) Herança podia ser um leigo, um sacerdote e até forças da natureza como neste caso onde quem "julga" é rio: No caso da divisão da herança, a sociedade hammurabiana não previa a primogenitura, ou seja, os bens não ficavam somente com o "Se um awilum lançou contra um (outro) awilum filho mais velho, entretanto este poderia, na hora da partilha, ser (uma acusação de) feitiçaria, mas não pôde comprovar: aquele contra quem foi lançada (a primeiro a escolher sua parte. A tendência era sempre dividir em acusação de) feitiçaria irá ao rio e mergulhará no partes iguais indiferentemente de quem era a mãe da criança, bastava rio. Se rio purificar aquele awilum e ele ile- reconhecimento do aquele que lançou sobre ele (a acusação de) feitiçaria será morto e que mergulhou no rio "Se a primeira esposa de um awilum gerou tomará para si a.casa de seu acusador."42 filhos e a sua escrava lhe gerou filhos, (se) pai, durante a sua vida, disse aos filhos que a escrava juiz leigo não poderia, contudo, alterar seu julgamento após 'Vós sois meus filhos' e CS contou com encerramento do processo: os filhos da primeira esposa, depois que o pai morrer, os filhos da primeira esposa e os filhos da escrava dividirão em partes iguais os bens da casa 39 § 170. 40 §§ 183 e 37 § 129. 41 § 38 §§ 185ss. 42 § 02. 23 9</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil "Se um juiz fez um julgamento, tomou uma de- "Se um pedreiro contruiu uma casa para um cisão, fez exarar um documento selado e depois awilum e não executou trabalho adequada- alterou seu julgamento: comprovarão contra mente e o muro ameaça cair, esse pedreiro deverá esse juiz a alteração do julgamento que fez; ele reforçar o muro às pagará, então, doze vezes a quantia reclamada nesse processo e, na assembléia, fá-lo-ão levan- "Se barqueiro calafetou um barco para um awilum e não seu trabalho com cui- tar-se do seu trono de juiz. Ele não a dado e naquele mesmo ano esse barco adernou sentar-se com os juízes em um ou sofreu avaria, o barqueiro desmontará esse barco, com seus próprios recursos, e 1) Trabalho entregará barco reforçado ao proprietário do barco."48 Código de Hammurabi aborda leis sobre trabalho. Ele, por exemplo, prevê e pune erro médico:44 "Se um médico fez em um uma operação com um escapelo de bronze e causou a morte do awilum ou abriu nakkaptum de um com um escapelo de bronze e destruiu o olho do awilum, eles a sua mão."45 Ao mesmo tempo este Código é primeiro que conhecemos indicar não somente pagamento que um médico deve ter, mas tam- bém o pagamento de inúmeros profissionais como lavradores, pastores alfaiates, carpinteiros etc.46 m) "Defesa do Consumidor" Na Babilônia de Hammurabi havia leis que protegiam os do mau prestador de serviços, pelo menos em alguns casos (pode-se atestar esta idéia já no parágrafo 108 que trata da taberneira citado anteriormente): 43 § 05. 44 Se o erro médico foi cometido em um escravo ressarcimento é material. 45 § 218. 46 Embora muitas partes destes parágrafos tenham sido apagadas pelo tempo, podemos conferir esta lista de "honorários" e pagamentos nos parágrafos 215 a 217, 257, 261, 271, 47 233. 273 e 274. 48 §</p><p>CASTRO, Flávia Lages. História do Direito Geral e do ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2011. CAPÍTULO III DIREITO HEBRAICO 1. Introdução Os Hebreus são um povo de origem semita que vivia na Meso- potâmia (entre rios Tigre e Eufrates no Crescente Fértil) no final do segundo milênio a.C. Por esta época iniciaram um deslocamento que terminou por volta do século XVIII a.C. na região da Palestina. A Palestina pode ser dividida em várias regiões: uma de planície costeira ao longo do Mediterrâneo, uma de picos elevados no centro, e outra, o curioso vale do Jordão, que fica quase totalmente abaixo do nível do mar. A terra dos Hebreus portanto, mar Mediterrâneo de um lado, deserto de outro e, mais importante, a qualidade de ter sido local de passagem entre a África e a Ásia, isto é, o Egito e a Mesopo- tâmia. Os como a maioria dos povos da região, eram agri- cultores - pastores. Viviam do pastoreio de ovelhas e, principalmente, cabras, do plantio de uvas, trigo, e outros produtos. Mas havia neste povo um diferencial que na Antiguidada era único: eram Monoteístas (mono = um, théos = deus). Esta característica marca toda a história desse povo, bem como toda e qualquer produção cultural que tenham realizado. A História destas pessoas pode ser acompanhada pela Bíblia, mais especificamente pelo Antigo Testamento, que reúne a Torá (ou a Lei), os Profetas e os Escritos. Novo Testamento inclui a história (e os ensinamentos) de parte dos Hebreus que acreditaram que Jesus é Messias que Antigo previa. Eles acreditavam em um só Deus, que por vontade própria havia se revelado a um Patriarca, e, a partir deste momento, um relacionamento entre Ele e os que chamava de "Povo Escolhido". Este era seu diferencial, os únicos da face da terra com um Deus, iniciando a história do monoteísmo que hoje é dominante no 49 Gen. 1ss.</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil Este relacionamento é de tal modo intrincado que não se pode Os estrangeiros, não gozavam do mesmo direito dos he- compreender este povo, sem vislumbrar a interferência de Deus em suas Para eles, Deus escolhia os líderes, Deus escolhia o lugar breus. Dois tipos de estrangeiros eram distintos: os que tinham alguma onde ficariam, Deus dava fartura ou não, Deus, dependendo de seu ligação com alguma tribo de Israel e, portanto, desfrutavam de alguns e os que não tinham quaisquer ligações não tendo direito dava a vitória ou a derrota na guerra. algum. Não é de estranhar, portanto, que para povo a lei tenha sido Após os quarenta anos no deserto, depois de se libertarem da inspirada por Deus e contra ela seria o equivalente a in contra Deus. escravidão no Egito, ao chegarem à Terra Prometida, os Israelitas pas- Então, leigo e o divino interagem de tal modo que pecado e crime se saram de somente pastores (como eram antes, pelo seu nomadismo) a confundem, direito é imutável, somente Deus pode Os agricultores-pastores Entretanto, se por séculos estas atividades agro- rabinos (chefes religiosos) podem até interpretá-lo para adaptá-lo à pastoris foram cerne da economia desta sociedade, a indústria tam- evolução social, entretanto nunca podem bém conheceu um certo desenvolvimento, principalmente aquela que utilizava cobre como matéria-prima. comércio atingiu seu auge no período de Salomão e 2. A Sociedade e a Vida Econômica sempre foi presente na vida deste povo, visto que a região que habitam é uma verdadeira encruzilhada nas rotas da Mesopotâmia, Egito, Mar Os hebreus, a princípio, se dividiam em tribos de acordo com os Vermelho e do deserto. de filhos de Jacó (12); estas tribos se subdividiam em famílias e toda a organização política e social girava em torno deste status quo. Das doze tribos, onze cuidavam, basicamente, da agricultura e do 3. A Lei Mosaica pastoreio, a décima segunda não tinha terras, era a tribo dos levitas que tinham funções sacerdotais (ou melhor dizendo, de auxiliares dos sacerdotes que descendiam de Por volta de 1800 a.C. fortes secas obrigaram os Hebreus a Havia também outras duas camadas sociais: a dos escravos e a da Palestina em direção ao Egito. Nesta época um povo, chamado Hicsos, tentava conquistar as planícies do não se sabe se os He- dos estrangeiros. Os primeiros podiam ser distintos entre os escravos hebreus (provavelmente tomados como escravos pelo não-pagamento breus enfrentaram ou se aliaram aos hicsos; entretanto, que de uma dívida) e estrangeiros. Ambos tantos direitos que mui- em 1580 a.C., depois da expulsão destes, os Hebreus passaram a ser tos autores confessam hesitar em chamá-los de escravos, pois, embora perseguidos no Egito, passando a pagar pesados impostos e chegando até mesmo à tenham as principais características, eram cercados de muitas con- siderações, inclusive direitos. Moisés lideraria este povo, aproximadamente em 1250 a.C., de vol- ta a Palestina, em um episódio chamado êxodo, ou fuga. Conta a Bíblia que Moisés teria sido criado por uma princesa egípcia que o havia "A ambos assistiam certos direitos assegurados encontrado em uma cesta boiando no rio e que, após chegar à idade quer pela própria legislação mosaica quer pelo adulta, teria tomado consciência de suas raízes hebraicas e, depois de costume. Assim, por exemplo, entre os direitos do escravo estrangeiro salvaguardados pela um exílio, teria voltado ao Egito para liderar a libertação dos Hebreus. tradição judaica, enumerar: casar-se Antes de chegarem à Palestina, segundo a Bíblia, os Hebreus com uma escrava, possuir bens, converter-se ao teriam passado quarenta anos no deserto e aí teriam forjado, sob a receber liberdade, em determinadas liderança de Moisés, toda a base de sua civilização, inclusive suas circunstâncias."50 51 A Bíblia conta a da ida para Egito a partir da história de José que teria sido 50 M. C. História da 11. ed. Vozes, 2001, p. 233. vendido pelos seus irmãos como escravo indo parar no Egito e chegando a alto fun- cionário do faraó (cf. Gen. Capítulos de 37 a 50).</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil Acreditam alguns que a Torá (que contém a lei dos Hebreus) foi criada pelo próprio Moisés e, embora este dado esteja um tanto desa- da divindade; entretanto, qualquer que fosse a característica primor- creditado hoje em dia, continuamos denominando a legislação de dial de um povo, se fosse desdenhada, desuniria a sociedade trans- mesmo porque, provavelmente, foi após a saída do Egito formando-a em alvo fácil para problemas ou externos. que este povo começou a estruturan as bases de seu direito. A base moral da Legislação Mosaica pode ser encontrada nos Dez Mandamentos, que teriam sido escritos "pessoalmente" por Deus no 4. A Formação do Direito Hebraico da Legislação Mosaica Monte Sinai, como forma de Aliança entre Ele e o Povo Escolhido. aos dias de hoje A Torá, também chamada Pentateuco, é formada pelos cinco primeiros livros da Bíblia: o o êxodo, o Números Em toda a Torá encontramos leis; entretanto, há no A tradição indica Moisés como autor do Pentateuco, portanto último livro uma reunião maior de leis, repetindo inclusive alguns autor do Deuteronômio, das chamadas Leis Mosaicas. Esta obra deverá preceitos vistos nos outros livros, mesmo porque é esta a intenção do ter então a idade de seu criador e deve ser datada no século XIII a.C. Deuteronômio, que significa "segunda Mas os anos de 586 a.C. e os seguintes foram primordiais também para a formação de uma legislação "extra "[a se reflete poderosamente na lei Em 586 a.C., após um cerco que durou mais de um ano, rei da mosaica, cuja virtude principal reside no fato de bilônia, reino dos hebreus e estes foram ter transformado num verdadeiro código as levados em número pequeno, mas significativo, visto que repre- normas não escritas da primitiva sociedade de sentavam a elite social e religiosa da nação para a Babilônia, como Este cativeiro foi ponto de partida para a formação de um direito A maioria dos autores afirma não ser a lei de Moisés uma legis- hebraico novo, oral, visto que ao entrarem em contato com diversas lação que distinga entre direito sacro e profano, apontado-a como um culturas diferentes e fortes (notadamente persas, gregos e romanos) os direito religioso. Isto é fato; entretanto, apenas definir este direito des- hebreus sentiram a necessidade de afirmar sua cultura, ao mesmo ta forma simplifica uma visão que pode ser ampliada e pode auxiliar-nos tempo que procuraram adaptá-la dentro dos parâmetros das influên- na compreensão desta sociedade e sua relação com a lei e a Se analisarmos povo hebreu, poderemos constatar, como já cias que estavam recebendo. Este processo, iniciado na Babilônia, somente iria terminar 900 anos mais tarde. mado anteriormente, que é um povo que traz em tudo fator religioso e isto se dá, principalmente, porque sua e a essência desta, o "A lei oral (Torah Cheb'al Pé) atuava ao lado da monoteísmo, foi durante muitos séculos exclusividade do povo israe- lita. Desta forma, ao se tentar definir os hebreus, passaremos, obrigato- escrita, isto é, mosaica (Tora Esta continuou a ser considerada, séculos afora, a lei riamente e pela questão religiosa. suprema, Prevalecia sem- Assim a religião não é somente uma das características dos israe- pre (mesmo depois da codificação da lei oral) em litas, mas pode ser indicada como "a" característica, aquela que dá ali- qualquer conflito que se verificasse entre as cerce e é o ponto de convergência de toda uma sociedade. Tanto foi as- A lei oral, formada pelo Sofrim An- sim que, praticamente, todas as vezes que este povo descuidou-se da chei Haknesset Hagdolah (os homens da Grande religião, problemas sociais e políticos aconteceram. Eles; obviamente, e Tanaim (sábios), teve sempre um explicavam tais "coincidências" como uma vingança ou desaprovação caráter 52 V. Op. cit., p. 173. 53 Op. cit., p. 174. 30 13</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil A primeira codificação do direito foi chamada de Michná poderão corromper-se. A Legislação Mosaica explica esta aversão ao (repetição) e foi feita pelo último dos Tanaim em 192 d.C. Esta codifica- suborno mostrando a lógica incompatibilidade entre que é justo e a ção se divide em seis partes, nas quais a primeira, a terceira e a quarta corrupção. constituem, segundo comparar hoje, corpo de Direito Civil. A primeira trata de leis rurais e propriedade imobiliária, a terceira "Estabelecerás juízes e escribas em cada uma ocupa-se do direito matrimonial e do divórcio, a quarta trata de das cidades que teu Deus vai dar para as obrigações civis, usura, danos à propriedade, sucessão, organização tuas Eles julgarão o povo com sentenças dos tribunais, processo etc. justas. Não perverterás não farás Para guardar a fidelidade à Legislação Mosaica no uso da codifica- acepção de pessoas no julgamento e nem aceita- ção os séculos seguintes produziram discussões, interpretações rás suborno, pois suborno cega os olhos dos e aprofundamentos do texto da que deram origem às Guemaras sábios e falseia a causa dos justos."55 que juntamente com a Michná e a própria Torá contituem Talmud (que significa estudo), que é verdadeiro corpo da Legislação b) Processo Hebraica. Entretanto, com a elaboração do Talmud, não se encerrou a história A questão da justiça, ou melhor, de não cometer injustiças, é muito do direito judaico; ela continuou durante todos os séculos subse- cara aos Hebreus, mesmo porque ter "sangue de um justo nas mãos" apesar de os judeus estarem dispersos pelo mundo. Hoje, após é um pecado para eles. Neste sentido, este povo se difere estabelecimento do Estado de Israel, o Parlamento Israelita, chamado um pouco de outros, já que, praticamente, não admite julgamento sem Knesset, é poder legislativo na concepção moderna do investigação ou julgamento por forças naturais ou deuses. No exemplo a seguir parte-se da possibilidade do cometimento de um crime considerado extremamente grave, o de uma cidade adorar a 5. Algumas Leis do Deuteronômio outros deuses e é prevista uma punição pesada, mas não sem antes ficar provado através de acurada investigação. a) Justiça "Caso ouças dizer que, numa das cidades que A Legislação é bastante rigorosa na questão da justiça, teu Deus te dará para aí morar, homens prevendo, inclusive, a obrigatoriedade da imparcialidade no julga- vagabundos, procedentes do teu meio, seduziram mento: os habitantes de tua cidade, dizendo: 'Vamos servir a outros deuses', que não de- verás investigar, fazendo uma pesquisa e inter- "Ao mesmo tempo, ordenei a vossos rogando Caso seja se reis vossos irmãos para fazerdes justiça entre um homem e seu irmão, ou o estrangeiro que mora fato for constatado, se esta abominação foi pra- ticada em teu meio, deverás então passar a de com ele. Não façais acepção de pessoa no julga- espada os habitantes daquela cidade."56 mento: ouvireis de igual modo pequeno e o grande c) Pena de Talião Para a operacionalização da justiça fica estabelecido que cada É a Bíblia que primeiro descreve o Princípio da Pena de Talião cidade terá, obrigatoriamente, que contar com juízes e que estes não (embora o uso fosse mais antigo): 55 16, 54 Deuteronômio 1, São Paulo: Paulinas, 1985. (grifo nosso) 56 Deut. (grifo nosso) Conferir Deut. 17, 2-5.</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil "Que teu olho não tenha piedade. Vida por vida, "Quando lahweh teu Deus houver eliminado as olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé nações (...), e as conquistares e estiveres moran- por do em suas cidades e casas, separarás três cida- des no meio da terra cuja posse Iahweh teu Deus Entretanto, embora este utilizado entre os He- te Estabelecerás caminho, medirás as breus, era de maneira mais entre outros povos porque distâncias e dividirás em três partes o território outros princípios limitavam sua aplicação, como veremos a seguir. (...); isto para que nela se refugie o homicida."59 d) Individualidade das Penas A utilidade destas cidades pode ser melhor compreendida em conjunto com próximo ponto. "Os pais não serão mortos no lugar dos filhos, nem os filhos em lugar dos Cada um será g) Homicídio Involuntário e Homicídio executado por seu próprio crime."58 Esta legislação como de resto todas as outras, homicídio Este princípio que individualiza as penas minimiza a ação do e, na Antiguidade, o Princípio da Pena de Talião era utilizado como Princípio da Pena de Talião entre os Hebreus, fazendo com que aplica- base na penalização deste delito. Entretanto, os Hebreus não permitem ções da Pena de Talião como no caso visto no capítulo anterior em a penalização do que cometeu homicídio "sem querer". Não se deve Hammurabi que o filho do construtor morre por causa da casa que o utilizar o termo "culposo" para um povo que não concebia negligência, pai fez, e que ao cain matou filho do dono da casa não seja inperícia ou imprudência como causas de ou danos. Depois dos Hebreus (e um pouco os romanos), praticamente só no século XVIII d.C. vamos encontrar de novo a aplicação de tão valoroso "Este é o caso do homicida que poderá se refugiar e lógico princípio. lá para se manter vivo: aquele que matar seu pró- ximo involuntariamente, sem tê-lo odiado antes e) Lapidação (por exemplo: alguém vai com seu próximo cortar lenha; impelindo com força o machado para cortar Lapidação é o nome que se dá a pena mais comum do Antigo a árvore, o ferro escapa do cabo, atinge compa- E a morte por apedrejamento. Para israelitas morreriam nheiro e mata): ele poderá então se nu- desta forma os idólatras (Deut. 17, 5-7), os feiticeiros (Lev. 20, 27), os ma daquelas cidades, ficando com a vida salva; filhos rebeldes (Deut. 21, 18-21) e as adúlteras para que o vingador do sangue, enfurecido, não persiga homicida e alcance, porque o caminho f) Cidades de Refúgio é longo - tirando-lhe a vida sem motivo sufi- ciente, pois antes não era inimigo do outro."60 A preocupação desta legislação com a justiça chega ao ponto de prever e obrigar estabelecimento de cidades de refúgio (ou asilo), "Contudo, se alguém é de seu próximo e onde pessoas com problemas poderiam se refugiar para que fosse feita lhe arma uma cilada, levantando-se e ferindo-o a justiça com calma e não no calor de fortes mortalmente, e a seguir se refugia numa daque- las cidades, os anciãos da sua cidade 57 Deut. 59 Deut. 19, 1-3. 58 Deut. 25, 16. 60 Deut. 19, 15</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil pessoas para tirá-lo a entregá-lo ao vingador de j) Adultério sangue, para que seja morto."61 Embora nesta sociedade como na de Hammurabi o peso maior do h) Testemunhas crime de adultério esteja sobre a mulher casada, há um certo puritanis- mo neste povo que leva o peso do crime também para o homem. A prova testemunhal era primordial na Antiguidade e os Hebreus têm preceito legal que até hoje pode ser inclusive em nossa "Se um homem for pego em flagrante deitado com legislação: uma mulher casada, ambos serão mortos, o ho- mem que se deitou com a mulher e a mulher."65 "Uma única testemunha não é suficiente contra alguém, em qualquer caso de ou de k) Divórcio pecado que haja cometido. A causa será esta- belecida pelo depoimento pessoal de duas ou três Todos os povos da Antiguidade Este só CO- meçou a ser a partir do cristianismo. Na Legislação entretanto, somente os homens podem divorciar-se, às mulheres não Com tamanha importância dada à prova as penas cabe a Mesmo assim teria que haver algo "vergonhoso" (o para falso testemunho pesadas geralmente, sendo que, na Legis- que pode ser interpretado de várias maneiras) na esposa para que lação Mosaica, a pena para falso testemunho é equivalente à pena que esposo pudesse repudiá-la. o acusado teria se fosse condenado (Princípio da Pena de "Quando um homem tiver tomado uma mulher e "Quando uma falsa testemunha se levantar consumado matrimônio, mas este logo depois tra alguém (...) as duas partes em litígio se apre- não encontra mais graça a seus porque viu sentarão diante de diante dos sacerdo- nela algo de ele lhe escreverá tes e dos juízes que estiverem em função na- então uma ata de divórcio e a entregará, dei- queles dias. Os juízes investigarão cuidado- xando-a sair de sua casa em liberdade."6 samente. Se a testemunha for uma testemunha falsa, e tiver caluniado seu irmão, então vós a 1) Concubinato tratareis conforme ela própria maquinava tratar seu próximo."63 No deuteronômio o concubinato é considerado como algo normal i) Matrimônio (somente o Levítico 18, 18ss ordenava que as duas esposa e con- cubina não fossem É interessante notar que não há em hebraico uma palavra que seja sinônimo de matrimônio; no Antigo Testamento falta o conceito que "Se alguém tiver duas mulheres (...), e ambas lhe hoje temos. Este não era de direito religioso ou civil, mas era um tiverem dado filhos (...)." assunto puramente particular entre duas 61 Deut 19. 12. 62 Deut. 15. 65 Deut. 22. 63 Deut. Note-se que a questão da investigação reforcada. 66 Deut. 24. 1. 64 A Van Den. Dicionário da Bíblia. Petrópolis: p. 67 Deut. 22 15s. 37</p><p>Flávia Lages de Castro História do Direito Geral e Brasil m) Estupro: virilidade e o direito de primogenitura lhe per- estupro sem pena para a vítima é previsto nesta legislação, em- tence."69 bora somente em um caso específico: o de a mulher ter sido violentada em um lugar onde poderia ter gritado sem que ninguém a ouvisse. o) Defloração "Se houver uma prometida a um caso aplica-se à mulher virgem não comprometida. homem, e um homem a encontra na cidade e se deita com ela, trarei ambos à porta da cidade e os "Se um homem encontra uma jovem virgem que apedrejareis até que morram: a jovem por não ter não está prometida, e a agarra e se deita com ela gritado por socorro na cidade e homem por ter e é pego em flagrante, o homem que se deitou abusado da mulher de seu próximo. (...) Contudo, com ela dará ao pai da jovem ciclos de se o homem encontrou a jovem prometida no prata [570 gr. de prata aproximadamentel e ela campo, violentou-a e deitou-se com ela, morrerá ficará sendo sua uma vez que abusou somente homem que se deitou com ela; nada dela. Ele não poderá mandá-la embora durante farás à porque ela não tem pecado que toda a sua mereça a (...) Ele a encontrous no campo, e a jovem prometida pode ter gritado, sem que p) Escravos houvesse quem a salvasse."68 Em Israel, os prisioneiros de guerra não israelitas eram vendidos n) Herança e Primogenitura como escravos (Deut. 21, 10) ou podiam ser comprados em Gaza ou Aço; tráfico de escravos estava, nas mãos dos primogênito era beneficiado em detrimento dos outros filhos Fenícios. Era proibida a compra de escravos israelitas por israelitas, (homens, já que mulheres tinham direito apenas ao dote). Este bene- embora um israelita pudesse vender a si mesmo (provavelmente para fício era garantido mesmo que o primogênito tivesse como mãe uma pagamento de dívida) como escravo. A lei indicava que esta escravidão das mulheres do pai que este "não gostasse". não poderia ser eterna: "Se alguém tiver duas mulheres, amando uma e "Quando um dos teus hebreu ou não gostando da outra, e ambas lhe tiverem dado for vendido a ti, ele te servirá por seis anos. No filhos, se o primogênito for da mulher da qual ele sétimo ano tu deixarás in em liberdade, não não gosta, este homem. quando for repartir a despeças de mãos vazias: carrega-lhe ombro herança entre seus não poderá tratar o com presentes do produto do teu rebanho, da tua filho da mulher que ele ama como se fosse mais eira e do teu lagar."71 velho, em detrimento do filho da mulher que ele não gosta, mas que é o verdadeiro Esta indicação de que escravo receber algo ao deixar a Reconhecerá como primogênito o filho da mulher casa do senhor pode parecer, para alguns, como uma forma de pa- da qual ele não gosta, dando-lhe porção dupla de gamento, pelos seis anos de serviços prestados, mas não o Escravo tudo quanto possuir, pois ele é a primícia da sua é 68 Deut. 22, Não era previsto nenhum tipo de coação física ou moral para justificar 69 Deut. fato moça estuprada na cidade não ter 70 Deut. 22. 71 Deut. 15. 12-14 38 17</p><p>História do Direito Geral e Brasil Flávia Lages de Castro estabelecer sobre ti um rei que tenha sido es- Este estabelecimento de uma ajuda para o recém ex-escravo colhido por teu Deus; é um dos teus parece ser uma forma de possibilitar que a lei seja de fato cumprida, irmãos que estabelecerás como rei sobre ti. Não visto que, sem isso, o escravo, sem ter para onde in e como sobreviver, poderás nomear um estrangeiro que não seja teu deixaria se escravizar pelo resto da vida. Aliás, esta é uma opção do escravo: De os reis de Israel costumavam, segundo a tradição bíblica, "Mas se ele diz: não quero deixar-te, se ser escolhidos por Profetas a mando, segundo a crença israelita, de ele te ama e à tua casa, e está bem Deus. Assim foi com primeiro rei, Saul, consagrado pelo profeta tomarás então uma sovela e furarás a orelha Samuel, segundo lhe ordenara Deus, assim foi com Davi que, embora contra a porta, e ele ficará sendo teu servo para nem parente de Saul fosse, foi escolhido; mesmo no caso de Salomão, sempre. mesmo farás com tua serva."72 este não era primogênito de Davi e foi rei sucedendo pai.75 Caridade s) Fraude Comercial e Juros Entre os hebreus a caridade é prevista em lei, mesmo porque A Legislação hebraica proíbe a utilização de pesos e medidas trata-se de um povo que se pauta e tem sua identificação enquanto diversos, bem como empréstimo a juros entre israelitas. sociedade na questão religiosa. "Não terás na bolsa dois tipos de peso: um "Quando houver um pobre em teu meio, que seja pesado e outro leve. Não terás em tua casa dois um só dos teus irmãos numa de tuas cidades tipos de medida: uma grande e outra pequena."76 (...) não endurecerás teu coração, nem fecharás a mão para com este teu irmão pobre; pelo contrá- "Não emprestes a teu irmão com juros, quer se rio: abre-lhe a mão, emprestando que falta, trate de empréstimo de dinheiro, quer de víveres na medida da sua necessidade."73 ou de qualquer outra coisa sobre a qual é tume exigir um juro. Poderás fazer um emprésti- r) Governo mo com juros ao estrangeiro; contudo, empres- tarás sem juros ao teu irmão (...)."77 Geralmente, quando se trata de uma revelada, ou seja, quando a própria divindade se mostra para os fiéis por livre vontade, a t) Fauna e Flora interferência da divindade no dia-a-dia do povo é muito grande. Neste caso, dos Hebreus, quem institui o governo é Deus; por- Há uma preocupação que poderíamos chamar de um tanto pre- tanto, o rei não pode sentir-se muito acima dos demais mortais. servacionista em algumas leis do deuteronômio: "Quando tiveres entrado na terra que teu "Quando tiveres que sitian uma cidade durante Deus dará, tomado posse dela e nela habitares, muito tempo antes de atacá-la e tomá-la, não de- e disseres: estabelecer sobre mim um rei, como todas as nações que me rodeiam', deverás 74 Deut. 14-15. 75 Cf. II Samuel e I e II Reis. 76 Deut. 25, 13-14. 72 Deut. 16-17. 77 Deut. 20-21. 73 Deut. 15, 41</p><p>Flávia Lages de Castro ves suas a golpes de machado; ali- mentar-te-ás sem cortá-las (...)."78 pelo caminho encontras um ninho de pás- saros - numa árvore ou no chão - com filhotes ou ovos e a mãe sobre os filhotes ou sobre os ovos, não tomarás a mãe que está sobre os filhotes; deves primeiro deixar a mãe partir em liberdade, depois os filhotes, para que tudo corra bem a tie prolongues os teus dias."79 78 Deut. 20, 19. 79 Deut. 22, 19</p><p>MACIEL, José Fábio Rodrigues. AGUIAR, História do Direito. ed. São Paulo: Para os pensadores gregos, 2 fonte do direito é o nomos, que se traduz Saraiva, geralmente por lei. É o nomos o meio de limitar poder das autoridades, já que a liberdade política consiste em não ter que obedecer senão à lei. Como os gregos fizeram poucas leis no sentido moderno do termo, visto que nomos significa tanto lei como costume. É na filosofia que a principal contribuição dos gregos para a cultura ocidental, principalmente com Sócrates, Platão e 6.1.-Grécia (Atenas) Os gregos, em especial os atenienses, consideravam a participação na Os gregos não foram grandes juristas na acepção do termo, já que não se vida pública um dos maiores bens a serem almejados pelo homem. Na empenharam em construir uma ciência do direito, nem mesmo sistematizar época clássica da democracia ateniense (aproximadamente 580 a 338 a.C.), as suas instituições de direito privado. Em compensação, além de melhorarem os cidadãos deliberavam no seio de suas assembléias, sem intermediação as tradições dos direitos cuneiformes e transmiti-las aos romanos, entendiam de representantes. Cabe ressaltar que essa cidadania nada tem da soberania que o direito devia fazer parte da educação de todo Com isso, como popular concebida hoje, pois eram considerados cidadãos apenas os nascidos todos deviam conhecer seus direitos e suas obrigações, não houve espaço em Atenas, do sexo masculino e maiores de vinte anos. Ficavam totalmente para a profissionalização do direito, já que todos deviam estar aptos para alijados do processo decisório as mulheres, os metecos (estrangeiros) e a enfrentar os grande massa escrava. Aristóteles, por exemplo, favorável à escravidão, direito das cidades gregas, mais especificamente de Atenas, que será o justificava que na sociedade são necessários também os trabalhos materiais, objeto deste estudo, não parece ter sido formulado nem sob a forma de textos que exigem indivíduos específicos, ficando assim afastada destes a possibi- legislativos, nem sob a de comentários de juristas. direito era lidade de providenciar a cultura da alma, que requeria tempo e liberdade, da noção de justiça que estava difusa na consciência coletiva. bem como determinadas qualidades espirituais. Para os atenienses, exer- cício da política exigia dedicação quase exclusiva: era um direito de poucos, possibilitado pelo trabalho do 6.1.1. Breve história Os atenienses acreditavam que um homem que não se interessasse pela Localizada na Europa oriental, com solo montanhoso e pouco fértil, a deveria ser considerado não um cidadão pacato, mas um cidadão Grécia é banhada pelos mares Jônio, Egeu e A primeira civi- inútil. Com disponível, os cidadãos se voltavam por inteiro à coisa lização que se sobressai historicamente nessa região é a micênica, formada pública, discutindo os temas relevantes na Ágora, uma espécie de praça em pelos povos que participaram da primeira que são os aqueus, se- juntavam para o exercício do poder político. Deliberando com ardor guidos pelos jônios e eólios. Essa primeira onda migratória deu-se por volta acerca das questões de Estado, as assembléias tinham mesmo papel do do início do segundo milênio antes de nossa era, com a língua dos aqueus, parlamento nos tempos modernos, com a diferença de caracterizarem-se indo-européia, tornando-se veículo da futura civilização micênica, que como uma democracia direta. Observe-se que não há participação popular tinha uma forma de escrita denominada Linear B. Essa civilização estendeu- na tomada de se até Creta, chegando ao fim com a invasão dos dórios, por volta de 1200 Durante a democracia ateniense os cidadãos governavam diretamente, a.C. Após a destruição da civilização micênica, os gregos ignoraram a arte no seio de sua assembléia. Era ela que tomava todas as decisões importantes, da escrita durante séculos. mesmo no domínio Comparada às democracias modernas, a Cons- A tradição grega data a adoção do alfabeto fonético a partir da primeira tituição de Atenas era pouco democrática, já que os escravos não olimpíada, em 776 a.C. Depois de a escrita Linear B ter desaparecido após a nenhum direito, nem político, nem civil, com os metecos tendo muito menos direitos que os invasão dos dórios, adotaram uma versão do alfabeto utilizado pelos fenícios. Sua grande contribuição foi a criação das vogais. Sobre esse tema consultar livro sobre Filosofia e ética da Coleção. 58 59 21</p><p>Assim como os poemas de Homero, os gregos tinham costume de ampla reforma institucional, social e econômica, que também influenciaram aprender de cor (recitando em forma poética) alguns textos jurídicos. As o desenvolvimento dos atenienses. leis de Sólon, por exemplo, eram ensinadas como poemas, de modo que praticamente todos os cidadãos atenienses conheciam sua tradição incentivou a cultura da oliveira e da vinha, a exportação do jurídica comum. Como os cidadãos sabiam ler, a literatura jurídica era uma azeite e atraiu estrangeiros com a promessa de concessão de cida- das fontes de instrução e prazer. As leis deviam fazer parte da educação, portanto direito devia ser aprendido vivenciando-o. disso Social: obrigou os pais a ensinarem um ofício aos filhos, caso contrário, é que os discursos eram essencialmente persuasivos, porque os julgadores estes ficariam desobrigados de ampará-los na eram leigos. Até hoje, argumentar diante de um é diferente de argumen- Institucional: a criação do Tribunal da Heliaia, ao qual qualquer pessoa tar perante um juiz togado. Permanece a disputa entre "discurso belo" e podia apelar das decisões dos tribunais, assegurava a idéia de que a lei se "discurso como fazer justiça buscando a verdade e não a emoção encontrava acima do magistrado que tinha a cargo a sua aplicação. Julgava provocada por um discurso belo? todas as causas, tanto públicas como privadas, à exceção dos crimes de Os gregos foram os grandes pensadores políticos e filosóficos da Antigüi- sangue. Os membros da Heliaia, denominados heliastas, eram sorteados dade, instaurando os regimes políticos que são até hoje utilizados pelas civi- anualmente dentre os cidadãos atenienses. lizações ocidentais. A Grécia clássica conheceu várias formas de organização Jurídica: instaurou a igualdade civil, suprimiu a propriedade coletiva dos e institucionalização, havendo profundas diferenças entre as suas principais a servidão por dívidas, limitou o poder paternal, estabeleceu cidades, como Atenas, Esparta, Tebas, Alexandria etc. nosso interesse é o testamento, a adoção etc. na tradição ateniense, já que é ela a mais brilhante e sobre ela voltarão os filósofos e juristas ocidentais. Esparta deixa traços históricos, mas não se Aristóteles, na sua obra A Constituição de Atenas, IX, 1, diz o seguinte: converte em modelo ideal que inspire o ocidente, embora compartilhe com "Ao que parece estas três constituem as medidas mais populares do Atenas um elemento fundamental de nossa tradição jurídica: a laicização do regime de Sólon: primeiro, e a mais importante, a proibição de se dar direito e a idéia de que as leis podem ser revogadas pelos mesmos homens incidindo sobre as pessoas; em seguida, a possibilidade, a quem que a fizeram. se dispusesse, de reclamar reparação pelos injustiçados; e terceiro, o direito de apelo aos tribunais, disposição esta referida como a que mais fortaleceu a multidão, pois quando povo se assenhoreia dos votos, assenhoreia-se 6.1.2. Características do direito do governo". A mais antiga legislação conhecida de Atenas que possui alguma repre- Sólon instaura uma democracia moderada que fará a grandeza de Ate- sentatividade são as leis de Drácon, de 621 a.C., que fim à solidariedade nas, onde, por meio de assembléias, a Justiça estava nas mãos dos cidadãos, familiar e tornam obrigatório o recurso aos tribunais para conflito entre os e não de profissionais especializados. Com isso, os gregos promoveram A superação da solidariedade familiar tem por objetivo transformar a debate e a reflexão scbre justo e a justiça, do debate sobre as cidade no centro da vida social e política, indicando que o fundamento da normas. vida social não se restringe às farrílias. Com isso, busca-se criar uma amizade um espírito aos outros de fora da Dentro de uma sociedade democrática como era a ateniense, a retórica era parte para convencer os outros acerca daquilo que o cidadão Reconhecido pela sua severidade (até hoje falamos em leis draconianas), pensava e defendia. Seu sentido original significava orador, que se referia à o primeiro Código de Leis de Atenas introduziu importante princípio no arte de dizer, da Tinha como objetivo original persuadir com a direito penal: distinção entre os diversos tipos de homicídio, diferenciando força dos É por essa característica que a lei ateniense era essen- entre homicídio voluntário, homicídio involuntário e o homicídio em legí- cialmente Não havia advogados, juízes, promotores públicos, apenas dois tima defesa. litigantes dirigindo-se a centenas de jurados. Posteriormente, entre 594 e 593 a.C., sob a influência egípcia, Sólon criou A atividade advocatícia era vista com maus olhos, como se fosse uma novo Código de Leis, alterando o criado por Drácon. Além disso, cumplicidade para o ideal era que todo cidadão se sentisse in- 60 61</p><p>dignado com qualquer ilícito, mesmo sem ser a vítima. Para conhecermos advogado semelhante contemporâneo será preciso esperar direito Arbitragem pública: utilizada nos estágios preliminares do processo de alguns tipos de ações árbitro era designado pelo magistrado e canônico do século XIII. Mas como toda roseira tem seus espinhos, existiam tinha como principal característica a emissão de um julgamento, com pos- pessoas que, veladamente, redigiam discursos para as partes que atuavam sibilidade de apelação. Esses árbitros eram escolhidos por sorteio e tinham no processo. Eram os denominados logógrafos. de te: mais de 60 anos. Em determinada época, visando coibir a corrupção e outras chagas Destaca-se também a clara distinção que havia entre ação pública e ação ficou estabelecido que, para aqueles que denunciassem alguma irregularida- privada. de, parte do valor da condenação do réu seria a eles encaminhada. Houve Ação pública: podia ser iniciada por qualquer cidadão que se consideras- verdadeira febre de denúncias, muitas sem fundamentos. Os que denun- se lesado pelo Estado. Ex.: contra oficial por aceitar suborno, por impiedade, ciavam falsamente alguém para obter vantagens ficaram conhecidos como contra o que propôs um decreto ilegal. sicofantas. Para desestimular a denúncia foi estabelecida a seguinte Ação privada: debate judiciário entre dois ou mais litigantes, reivindi- regra: se no curso do processo o denunciante não obtivesse pelo menos 1/5 cando um direito ou contestando uma ação, e somente, as partes envolvidas dos votos do tribunal, estava sujeito a uma multa. podiam dar início à ação. Ex.: assassinato, injúria, propriedade, violência sexual, roubo. 6.1.3. Principais institutos direito processual grego possuía os seguintes aspectos característicos: Direito privado: deixou poucos traços no nosso direito moderno, e estes a) direito popular de acusação e de julgamento; por intermédio dos romanos. Os gregos pouco souberám exprimir as regras b) publicidade de todos os atos de processo, inclusive julgamento; jurídicas em fórmulas Mesmo assim, parte da terminologia juri- c) prisão preventiva; dica moderna provém da língua grega: quirografário, anticrese, enfiteuse, d) liberdade provisória sob caução, salvo nos crimes de conspiração contra hipoteca etc. a pátria e a ordem política; direito privado grego mais bem conhecido é o de Atenas. Na época e) procedimento oficial nos crimes políticos e restrição do direito popular clássica esse direito era muito individualista, permitindo ao cidadão dispor de acusação em certos crimes que mais lesavam o interesse do indivíduo do da sua pessoa e de seus bens. Encontram-se mesmo regras jurídicas mais que da sociedade. favoráveis à liberdade individual que no direito romano clássico. As penas eram em geral castigos, multas, feridas mutilações, morte e Direito o que impressiona no direito grego era a clara distinção exílio. sistema penal era fundado na acusação popular, quando se trata- entre lei substantiva e lei processual, muito próxima do nosso direito material va de crimes publicos. Qualquer cidadão tinha a faculdade de sustentar a e processual atual. acusação, apresentando suas provas e formulando suas alegações perante Substantiva: era o próprio fim que a administração da justiça buscava; Tribunal competente. determinava a conduta e as relações com respeito aos assuntos litigados. JURISDIÇÕES CRIMINAIS DOS ATENIENSES Processual: tratava dos meios e dos instrumentos pelos quais os fins deviam ser atingidos, regulando a conduta e as relações dos tribunais e dos a) Assembléia do Povo Composta pelos Senadores e Magistrados populares, que litigantes com respeito à contenda em si. discutiam apenas crimes políticos mais graves. mais antigo e célebre tribunal, inicialmente julgava todos Exemplo de quão evoluído era o direito processual grego é encontrado b) os crimes e posteriormente julgava os crimes apenados no estudo dos árbitros públicos e privados: com Arbitragem privada: maneira simples e rápida de se resolver um litígio, c) Tribunal dos Efetas Composto por 51 juízes escolhidos pelo Senado que julgavam realizada fora do tribunal. Os árbitros não emitiam julgamento, mas procura- aqueles que cometiam não premeditado. vam obter acordo ou conciliação entre as partes. Tem como correspondente d) Tribunal da que se reunia na praça pública da cidade e tinha a nossa atual mediação. jurisdição comum, julgando os recursos a ela apresentados. 62 63 23</p><p>Provas: foram além das tradicionais e irracionais ordálias utilizadas por outros povos. Em Atenas as testemunhas ou partes podiam por escrito ou pessoalmente. Já os juízes, visto que leigos e membros de uma assembléia, podiam testemunhar, quando tivessem conhecimento dos fatos. assombro fica por conta dos depoimentos dos escravos, que eram precedidos de tortura. Acreditava-se que sem a tortura os escravos naturalmente mentiriam, ou para proteger ou para vingar-se do seu senhor. Seguem os tipos de provas admitidos pelo direito de Atenas: a) provas naturais: evidências empíricas, como contratos, juramentos, existência da lei etc. b) provas artificiais: são fornecidas pela invenção e descoberta, procedem do raciocínio. A é a responsável por fornecer essas provas. Os gregos antigos não só tiveram um direito evoluído, como influen- ciaram direito romano e alguns dos nossos modernos conceitos e práticas jurídicas; como: júri popular; a figura do advogado, originária do logógrafo; diferenciação de homicídio voluntário, involuntário e legítima defesa; mediação e arbitragem; - gradação das penas de acordo com a gravidade dos delitos; retórica e eloquência forense; o poder paternal é limitado e pela maioridade o filho escapa à autori- dade do pai; transferência da propriedade apenas por contrato, sendo organizado sistema de publicidade, que traz proteção aos terceiros interessados. o direito a um julgamento por um júri formado de cidadãos comuns; no lugar de especialistas, é parte fundamental da democracia. Foi uma in- venção de Atenas.</p><p>No Ocidente, a ciência jurídica romana conheceu um renascimento a partir do século XII, quando passou a ser estudada nas universidades européias. Foi essa redescoberta, aliada ao fato de a escrita ter desaparecido durante a Idade Média, que fez o direito romano influenciar em grande escala o direito europeu continental, advindo daí o fato de o nosso atual direito ser considerado dentro do espectro dos direitos romanistas. 6.2.1. Breve história A cidade de Roma, como reza a lenda fundada em 753 a.C., não era serião pequeno centro rural no século VIII a.C. Menos de dez séculos depois passa a ser o centro de vasto império que se estende da Inglaterra, da Gália e da Ibéria à África e ao Oriente Próximo até os confins do Império Persa. Segundo aponta Moreira Alves, a lenda de Rômulo e Remo, na qual aquele MACIEL, José Fábio Rodrigues. AGUIAR, assassina este, sendo posteriormente o fundador da cidade, é fruto da sim- Renan. História do ed. São Paulo: bologia da representação de dois grupos etruscos rivais que disputavam o Saraiva, 2011. Segundo várias teses foi esse povo, que já dominava várias partes da Europa, que fundou Roma, após derrotar a liga dos povos locais. Império Romano e suas etapas históricas estavam ligados ao modo de produção escravagista. motor do desenvolvimento estava nas grandes propriedades apropriadas pela aristocracia patrícia que, controlan- do os meios de produção, as terras e as ferramentas necessárias ao trabalho agrícola, dominavam as classes pobres e livres dos plebeus. Já os escravos eram classificados como res (coisa), eram uma espécie de propriedade ins- trumental animada. crescimento da cidade não se baseava em uma economia tipicamente urbana, mas sim em uma economia essencialmente agrícola, com larga uti- lização do trabalho escravo, fato que permitia aos proprietários viverem na cidade, com riquezas vindas do solo. Dividiremos essa longa história romana em três períodos politica- 6.2. Roma mente diferentes, cujo intuito é facilitar o entendimento de como se deu A evolução do direito romano é mais tardia que a do direito egípcio e a do desenvolvimento da cidade, para posteriormente adentrarmos o estudo direito grego. Nos séculos VIe enquanto Egito e a Grécia já adotavam específico de como funciona direito nos principais períodos históricos um direito individualista, Roma permanecia ainda no estádio romanos. A evolução social, tanto em épocas remotas como agora, tem A história do direito romano é uma história de 22 séculos, que vai do século imediata repercussão nos institutos jurídicos e funcionamento de suas VII a.C. a V d.C., com a queda do Império Romano do Ocidente, prolongada respectivas instituições. até ao século XV com o Império Romano do Oriente, também conhecido como Império 39 José Carlos Moreira Alves, Direito romano, 64 65</p><p>a) Realeza (até 509 a.C.) no recrutamento de tropas, nas relações externas, no controle dos magistrados Na época de sua criação, Roma e seus arredores eram habitados basica- e na ratificação das decisões das assembléias. mente por uma população com idioma comum, o latim. Eram pastores com Era enorme a concentração de terras nas mãos dos patrícios, ora reduzindo meios muito limitados, que pouco cultivavant solo. Essa população normal- campesinato livre à escravidão por débitos, ora se apropriando das terras mente habitava em vici (aldeias), muitas vezes nas alturas que circundavam de uso comum. A concentração da terra, associada às inúmeras guerras de planalto em que se encontrava a cidade, em lugares de refúgio, com território conquista, fez com que os assidui, pequenos proprietários, fossem cada vez circundante, para se protegerem do ataque de outros povos. mais reduzidos à condição de proletarii cidadãos sem propriedade que se Essas aldeias, localizadas nas colinas arborizadas que formavam o local aglomeravam nas cidades, tendo como função filiar-se aos exércitos romanos da antiga Roma, eram ocupadas por grandes famílias patriarcais agrupadas e gerar prole para o Estado. em Os chefes de família, denominados patres, advindo daí a alcunha As guerras de conquista eram um dos motores da economia romana. de patrícios para os romanos, reuniam-se e formavam que mais tarde iria seu objetivo, além dos saques praticados, era aprisionamento dos vencidos, ser chamado de Senado romano. fornecendo terras e escravos para os latifúndios patrícios, que retribuíam rex (chefe comum, rei) era geralmente um estrangeiro imposto para liberando pequenos proprietários para fazerem parte do exército. Esses comandar Roma, sendo na sua grande maioria de origem etrusca. A Etrúria pequenos proprietários eram cada vez mais substituídos pelos escravos. A era, nessa época, a potência política e econômica mais importante do território imediata foi aumento da população urbana, exigindo maior que hoje vem a ser a Itália. Com o enfraquecimento do domínio etrusco o po- nível de produção, obtida mediante a conquista de novas terras. der do rei também diminui, abrindo caminho para o período historicamente conhecido como Quando terminavam suas missões, os soldados eram dispensados sem nenhuma indenização, o que gerou uma série de revoltas. Foram os generais b) República (509 a 27 a.C.) que passaram a ser protetores desses soldados, e com isso ganhavam Esse novo regime, capitaneado pelo Senado romano, é caracterizado pela cada vez mais força. Este foi um dos motivos para a queda da República e a pluralidade das assembléias e magistraturas, anuais e colegiais. Vale dizer que ascensão dos generais. Somente com advento do Império esses problemas magistrado romano era um órgão da cidade, um titular do poder, ou seja, foram solucionados, com a distribuição de lotes de terras aos soldados, não era um juiz como hoje entendemos, mas sim detentor de importantes gratificação etc. cargos públicos, como era o caso do pretor e do cônsul. c) Havia distinção de tratamento entre os fundadores de Roma, denomina- dos patrícios, e outros habitantes da cidade, composta também pela plebe e Divide-se em dois períodos distintos, analisados a seguir. pelos peregrinos (estrangeiros). Essa distinção valia inclusive para questões Alto Império (27 a.C. a 284): surgiu com a crise política provocada jurídicas, havendo normas distintas para cada classe social. Os concilia plebis, pelas dificuldades sociais, pelas vastas conquistas e pela má administração por exemplo, assembléias próprias da plebe, que não contavam com a parti- do progresso econômico. Dentro dessa crise, o poder concentrava-se cada cipação de patrícios, elegiam os tribunos da plebe e votavam os plebiscitos, vez mais nas mãos dos generais. Um deles, Octavio, conseguiu centralizar leis reservadas à plebe. Para entrar em vigor, essas leis deveriam passar pelo todos os poderes em suas mãos e acabou por receber, do Senado, título crivo do Senado, órgão composto exclusivamente pelos patrícios. Somente a de Augusto, sendo proclamado imperator (general vitorioso). Foi a época de partir de 287 a.C., com a lei denominada Lex os plebiscitos foram esplendor da civilização assimilados às leges e passaram a ser aplicados também aos patrícios. c2) Baixo Império: surgiu com o governo de Diocleciano, em 284, marcando Só os cives, os cidadãos romanos, gozavam do direito dos romanos, do o início da decadência do povo romano, e foi até término do império de ius civile. Os estrangeiros, os peregrini, estavam submetidos apenas ao ius Justiniano I. gentium, o direito comum a todos os homens. Um dos governos mais marcantes dessa época foi o de Constantino, comando de Roma estava totalmente nas mãos dos patrícios, já que período em que a religião foi reconhecida oficialmente, com a publica- Senado tinha por incumbência intervir na autorização das despesas públicas, ção do Edito de Milão, em 313. Constantino também foi responsável pela 66 67</p><p>fundação de uma nova capital Constantinopla, antiga Bizâncio que se tornou a sede do Império Romano do Oriente. Este, ao contrário do Império 6.2.3.1. Antiga do Ocidente, que sucumbiu às invasões bárbaras em 476, manteve-se até Nesse Roma foi dominada pela organização clânica das gran- século Justiniano, que governou entre 527 e 565, foi o último imperador des famílias, as gentes, sendo a autoridade do chefe de família praticamente desse período. ilimitada. A terra, embora fosse objeto de apropriação pelos patrícios, ainda era Com esse quadro agrário e conservador, a evolução do di- reito assentou-se no crescente papel dos que viviam à margem da 6.2.2. Períodos do direito organização das gentes. Foram os conflitos sociais entre a plebe e os patrícios A divisão dos períodos romanos com a finalidade de estudar o direito que permitiram certa igualdade política, religiosa e social. difere da divisão histórica anteriormente apresentada. Os períodos jurídicos Como no início de toda civilização, regras morais, jurídicas e religiosas podem ser assim apresentados: ainda não estavam totalmente diferenciadas. Nessa época, apenas os sacer- a) Época Antiga ou Arcaica (até meados do século II a.C.): vai desde a fun- dotes (pontífices) conheciam as formas rituais e as interpretavam. Guardaram dação de Roma até meados do século II a.C., tendo como principais caracte- esse segredo até aproximadamente 250 a.C., quando a sociedade passou a exigir maior nas decisões jurídicas. É que o direito romano era rísticas um direito de tipo primitivo, direito de uma sociedade rural extremamente ritualístico caso não se falassem as palavras certas na hora baseada sobre a solidariedade clânica e caracterizado pelo seu formalismo e certa o contrato ou processo não tinham validade. nosso casamento atual pela sua rigidez, período em que centro do saber jurídico estava nas mãos demonstra um pouco desse ritual. dos Nesse o Estado tinha funções limitadas a questões essenciais para sua sobrevivência: guerra, punição dos delitos mais graves e Foi com o advento da República e a ascensão do Senado que a lei começou a observância das regras religiosas. Os cidadãos romanos eram considerados a entrar em concorrência com o costume como fonte do direito. termo lex mais como membros de uma comunidade familiar do que como indivíduos, passou a ser empregado num sentido bastante próximo da noção atual de momento em que a defesa privada tinha larga utilização, já que a segurança lei, ou seja, ato emanado das autoridades públicas que formulavam regras dos cidadãos dependia mais do grupo a que pertenciam do que do Estado. obrigatórias. Feita por solicitação do magistrado (autoridade), era uma ordem geral do povo ou da plebe, sendo que apenas os magistrados supe- b) Época Clássica: (cerca de 150 a.C. a 284): caracteriza-se por ser o direito riores cônsules, pretores, tribunos, ditadores tinham a iniciativa delas. de uma sociedade evoluída, individualista, fixado por juristas numa ciência Propunham um texto que tinha de ser votado pelas que podiam jurídica coerente e racional. É o tempo do processo formular, em que a produ- apenas aceitar ou rejeitar o projeto. Posteriormente tinha de ser ratificado ção do direito está nas mãos dos pretores, ao lado de importantes juristas. pelo Senado para entrar em vigor. c) Época do Baixo direito dominado pelo absolutismo imperial, com grande atividade legislativa dos imperadores e expansão do Cristianismo. Imperador e seus juristas ganham destaque nesse cenário, sendo partícipes Plebiscito na queda do Império Romano do Ocidente, que se dará em 476, com o ápice As determinações eram diferentes para cada parcela da sociedade. Para das invasões bárbaras. a plebe havia o plebiscito, ou seja, atos legislativos obrigando os plebeus Nos itens a seguir abordaremos mais detalhadamente cada um desses e aprovados pela Insatisfeitos com o fato de as normas os períodos. discriminarem cada vez mais, eles acabaram se opondo a essa dominação. Obtiveram como resultado a Lex Hortênsia, de 287 a.C., que determinava que as normas aprovadas em plebiscitos assimiladas às leges e passassem 6.2.3. Características do direito a obrigar todos os Cada um dos períodos romano apresenta uma série de peculia- ridades, motivo pelo qual achamos conveniente abordá-los separadamente, para melhor situá-los dentro da historicidade do maior Império que a Terra Lei das XII Tábuas já conheceu. Os magistrados patrícios julgavam segundo tradições que apenas eles 68 69</p><p>conheciam e aplicavam, desagradando os outros segmentos sociais. policial direito arcaico era cheio de fórmulas que precisavam ser pronunciadas no Em Roma, durante a época antiga, a jurisdição criminal pertencia ao rei. lugar certo pelas pessoas certas, e os únicos que conheciam as fórmulas Posteriormente as funções de processar e julgar foram delegadas. Como o eram os Por esse motivo surgiu uma das grandes reivindicações processo não tinha formalidades, pode-se considerar que o sistema jurídico dos plebeus, que se queixavam do arbítrio desses magistrados e ignoravam romano era a cognitio, baseada na inquisitio. Como Rogério Lauria os costumes em vigor na cidade e as suas interpretações pelos pontífices. Tucci, uma das raízes mais distantes do inquérito policial é encontrada em Reivindicavam a redução a escrito dos costumes romanos. Dessa forma Roma, local em que acusador recebia do magistrado direito para proceder surge a Lei das XII Tábuas, de 450 a.C., inspirada em parte nas leis de Sólon, a Por meio delas, podia ir aos coletar dados, de Atenas. Embora ultrapassada por outras fontes do direito, foi o principal fazer buscas e apreensões, ouvir testemunhas etc. Havia, porém, a possibi- fundamento do ius civile, ficando em vigor durante mais de mil anos, até a lidade do contraditório, cabendo as diligências também ao acusado. Existia época de Justiniano. ainda a apuração do Estado, denominada inquisition generalis, considerada a A redação da Lei tendeu a resolver parte dos conflitos entre plebeus e origem mais remota da polícia judiciária. Os agentes da polícia imperial pro- patrícios, mas não solucionou todas as pendências, já que a interpretação cediam a investigação e transmitiam aos órgãos jurisdicionais os resultados continuou secreta, confiada aos sacerdotes-funcionários autori- do inquérito por eles realizado. zados a usar as fórmulas legais e a interpretá-las. Tinham eles o monopólio da interpretação. texto original da Lei, gravado em doze foi colocado no fórum Pater familias romano, mas destruído quando Roma foi saqueada pelos gauleses em 390 Embasada em uma sociedade patriarcal, Roma solidificou sua vida social a.C. Seguem alguns temas que foram abordados pela Lei das XII e jurídica na valorização do chefe da família. Tinha então o pater familias total a solidariedade familiar é abolida, mas a autoridade do chefe é mantida; poder sobre sua prole e os agregados, exercendo em determinadas épocas a igualdade jurídica é reconhecida teoricamente; poder de vida e morte sobre eles. Os filhos não saíam do pátrio poder a não ser por emancipação. Além disso, os recém-nascidos só eram recebidos na são proibidas as guerras privadas; sociedade em virtude de uma decisão do chefe de família: aborto, enjei- é instituído um processo penal; tamento das crianças de nascimento livre e infanticídio do filho de uma es- a terra, mesmo a das gentes, tornou-se alienável; crava eram práticas usuais e perfeitamente legais. Não havia na Roma antiga é reconhecido direito de testar; sentimento de culpa da sociedade Como exemplo citamos vários direitos de vizinhança, como cortar o galho das árvores se a som- abandono de crianças, que podia ocorrer pelos mais variados motivos, como bra invadisse a propriedade vizinha, colher os das árvores vizinhas má formação, miséria, políticas familiares de sucessão etc. que ao seu quintal etc. 6.2.3.2. Época Clássica (século a.C. até 0 final do século III) civile" direito privado romano agora possui caráter essencialmente laico e que caracteriza o direito romano arcaico é que ele só se aplicava aos individualista, com distanciamento entre o direito privado e direito público. romanos, cidadãos, sendo por isso denominado ius civile, ou seja, direito civil, Se de um lado, do ponto de vista político, diminuía sem cessar a liberdade direito dos cidadãos. Logicamente tinha papel destacado neste direito tudo dos cidadãos, no direito privado ela só aumentava, cada vez com mais au- aquilo que ajudasse a preservar a cidade tradicional, como patrimônio da tonomia para contratar. família, a propriedade da terra e dos escravos. Dessa forma, sucessão, pro- priedade e casamento ficavam reservados para os romanos, fazendo parte 40 Rogério Lauria Tucci, Jurisdição, ação e processo penal: subsídios para a teoria geral do direito do ius civile. processual CEJUP, 1984. 70 71</p><p>0 costume 0 processo formular Os textos do direito romano da época clássica são muito numerosos. Os Caracteriza-se por divisão em duas fases: romanos foram os primeiros a sentir a necessidade de reduzir a escrito as regras jurídicas, que eram constantemente comentadas. Acabaram por ser os primel- a) in iure: ocorria perante o magistrado (autoridade pública), ros a consagrar obras importantes ao estudo do direito. Com isso, o costume que tinha por tarefa organizar a controvérsia, transformando conflito real superado não só pela legislação, mas também por duas outras fontes num conflito judicial. tipicamente romanas, o edito do pretor e os escritos dos jurisconsultos. b) in após estar configurado um conflito judicial, a controvérsia desenvolvia-se perante um juiz ou árbitro. A legislação As fórmulas - remédios utilizados para defesa de interesses e situações Com a decadência das assembléias, o Senado passou a ser titular do não previstas no direito antigo foram criadas pelos editos dos pretores. poder de legislar. A propositura de uma lei, no entanto, mantinha-se privativa Importante anotar que nem pretor nem juiz são juristas. Os juristas (jurispe- do Imperador. Desde 13 d.C. o Imperador podia legislar diretamente por ritos, jurisconsultos, jurisprudentes) colaboravam de várias maneiras com o edito. Paulatinamente o Imperador passou a ser único legislador, sendo juiz e o pretor, mas não faziam parte do aparelho judicial. que nem todas as constituições imperiais tinham a mesma autoridade. Como Para dar início à demanda judicial era necessário que o autor levasse o aponta John Gilissen distinguiam-se quatro réu ao magistrado, com a primeira fase do processo iniciando-se com a co- municação da pretensão ao adversário, perante o pretor. interessado devia CONSTITUIÇÕES IMPERIAIS fazer com que seu adversário comparecesse perante magistrado para que pública e formalmente, formulasse sua pretensão. Como a tarefa de levar a) os editos Disposições de ordem aplicáveis a todo o império, com algumas exceções. adversário ao magistrado era exclusivamente privada, percebe-se que os Julgamentos feitos pelo Imperador ou pelo seu conselho poderosos dificilmente seriam punidos por alguma arbitrariedade praticada, b) os decretos nos assuntos judiciários. Tornavam-se precedentes aos limitando-se consideravelmente, com isso, acesso à justiça. Com tempo ps juízes inferiores deviam em razão da foram sendo estabelecidas punições, favoráveis ao autor, para desestimular autoridade de que em juízo. Respostas dadas pelo Imperador ou pelo seu conselho a um serviço de juiz ou árbitro era um encargo próprio dos cidadãos, ao c) os rescritos um magistrado ou mesmo um particular que tinha pedido uma consulta sobre um ponto do qual muitos procuravam escapar, mas que se considerava em geral um ônus compatível com a honra e o respeito devidos aos cidadãos superiores. d) as Dirigidas pelo Imperador aos governadores de sobretudo em matérias administrativas e Processo formular a evolução do direito romano A jurisprudência direito romano que nos foi ofertado, sobretudo pelo trabalho de Entendida na época como o conhecimento das regras jurídicas e sua Justiniano, principal responsável pela sua preservação, e que é reinserido aplicação na prática forense. É o que atualmente chamamos de doutrina. no direito ocidental a partir do século XII, após séculos de obscuridade, ba- Era composta pelas obras dos jurisconsultos, homens muito experientes na principalmente no direito desenvolvido na Época Clássica. E, nesse prática do direito, quer enquanto davam consultas jurídicas, quer enquanto período, o grande diferencial em relação à época anterior foi surgimento redigiam atos e orientavam as partes nos processos. Eram eles que resolviam do Processo as lacunas existentes no direito romano. A partir do século II a.C., e durante todo período clássico, assistimos a uma evolução e renovação constante do direito Grande parte das John Gilissen, histórica ao direito, p. inovações e aperfeiçoamentos do direito, nessa época, foi fruto da atividade 72 73</p><p>dos pretores que, em princípio, não podiam modificar as regras antigas, É a partir do processo formular que se dá a flexibilização do direito civil especialmente o previsto na Lei das XII Tábuas, mas que, de fato, intro- romano. As fórmulas resumem em termos os detalhes da lide. duziram inúmeras modificações com o intuito de aperfeiçoar direito processo formular tem a de acompanhar a evolução social. às questões sociais de sua época. pretor cuidava da primeira fase do processo entre particulares, verificando as alegações das partes e fixando Exemplo de fórmula, extraída da obra Manual de direito romano, V. 1, de Alexandre Correia e Gaetano os limites do caso, para posteriormente remetê-lo a um juiz. Era esse juiz que verificava a procedência das alegações diante das provas apresenta- 1. Nomeação do juiz: "Tício seja juiz". das e tomava, com base nelas, a sua decisão. Havia para os casos 2. Demonstração: "Desde que Aulo Agério vendeu um cavalo a Numério entre cidadãos romanos era pretor urbano e havia também, a partir Negídio". de 242 a.C., pretor para os casos em que figuravam estrangeiros. Era o 3. Pretensão: "Provar que Numério Negídio deve dar a Aulo Agério dez chamado pretor peregrino. mil sestércios". pretor, como magistrado, tinha amplo poder de mando, denominado imperium. Utilizou dele, de forma mais ampla, a partir da Lex Aebutia, no 4. Condenação: "O juiz condenará Numério Negídio a pagar a Aulo século II a.C., que, modificando processo, permitiu que atuasse mais Agério dez mil sestércios; se não provar, absolverá Numério Negídio". arbítrio. A partir dessa lei, pretor, ao fixar os limites da demanda, podia dar instruções ao juiz sobre como ele deveria apreciar as questões de direito. 6.2.3.3. do Baixo Império (direito pós-clássico) Fazia isto por escrito, pela fórmula. Podia deixar de admitir ações perante ele propostas ou, também, admitir novas ações até então desconhecidas no direito Tem início com e desenvolve-se até império de Justianiano I. antigo romano. Essas reformas completavam, supriam e corrigiam as regras Foi um período de decadência política e intelectual, de regressão econômi- antigas, adaptando-as às novas realidades sociais. As fórmulas eram utiliza- ca, sofrendo também grande influência do Cristianismo, que transformará das na primeira fase do processo, denominada in que ocorria perante numerosos princípios do direito privado romano. pretor. Sua função era organizar a controvérsia, transformando conflito real Destaque especial para a mudança do perfil do processo paralelamente num conflito judicial. A segunda fase, a in iudicium, era o momento em que a às mudanças sociais e políticas. A divisão de tarefas entre pretor e juiz de- controvérsia desenvolvia-se perante um juiz ou árbitro (cidadão particular), saparece, e o resultado é: com base nas fórmulas apresentadas na in As fórmulas que pretor ia a) valorização dos juristas; seguir eram publicadas por meio de editos, veiculados antes de sua posse. Como cargo de pretor tinha mandato de um ano, os editos se sucediam, b) centralização dos poderes de julgamento em um único órgão; normalmente aproveitando-se dos anteriormente publicados, mas sempre c) novidade do recurso ou apelação, já que, quando a função de julgar com uma nota de originalidade, buscando adaptar direito civil às mudanças estava repartida entre dois órgãos de natureza diversa (pretor/juiz), um não nas condições de vida da cidade. poderia rever a decisão do outro. Quando julgamento se concentrava num A fórmula foi uma criação espetacular. Era uma espécie de decreto preto- mandatário do imperador, este podia rever e corrigir que havia sido feito riano, em forma de carta dirigida ao juiz, resumindo a causa, estabelecendo os pelo seu agente. Nesse contexto o julgamento do Imperador funcionava como limites subjetivos e objetivos da lide processual, indicando as provas a serem um Decreto (decretum) para caso concreto. produzidas. Ao gerar uma decisão revestida da coisa julgada material, sem grande mérito do direito pós-clássico foi de ter conservado, por decisão de mérito, funcionava como um relatório definitivo. Quem julgava intermédio do trabalho dos compiladores, a mando principalmente de Te- a causa era juiz ou árbitro, resolvendo-se a fórmula. Com processo odosiano II e Justiniano I, as obras dos jurisconsultos romanos do período formular, pretor passa a se impor para resolver com os casos áureo de seu direito concretos, antes submetidos ao rigorismo das formalidades. É um processo mais rápido, menos formalista e escrito. 42 Manual de direito romano, 1, p. 80. 74 75</p><p>A contribuição de Justiniano para 0 nosso direito CORPUS JURIS CIVILIS Flavius Petrus Sabbatius Iustinianus, mais conhecido como a) Código (Codex) Recolha de leis imperiais, que visava substituir o Código nasceu em Taurésio, em 11 de maio de 483, e faleceu em Constantinopla, em 13 ou 14 de novembro de 565. Assumiu o trono do Império Romano Enorme compilação de extratos de mais de do Oriente em 1° de agosto de 527, ocupando-o até a sua morte. Apesar livros escritos por jurisconsultos da época clássica. de pertencer a família de origem humilde, foi nomeado cônsul por seu b) Digesto (Digesta ou Praticamente um terço do texto do Digesto é tirado das tio Justino I, que posteriormente o nomeou como seu sucessor após Pandectas) obras de Ulpiano, Gaio, Papiniano, Paulo e sua morte. Ambicioso e inteligente, fez com que o Império Bizantino Obra gigantesca, composta por 50 livros, contém brilhasse durante seu governo. Justiniano tinha por principal meta algumas imperfeições e repetições, fatos que não retiram o mérito da compilação. recuperar o esplendor de Roma, e batalhou em várias frentes c) as Instituições Manual elementar destinado ao do direito, de com esse intuito. (Institutiones) caráter Segue plano original do jurisconsulto objeto de desejo de Justiniano, o grande do Império Gaio. Compõe-se de quatro livros. Bizantino, também conhecido como Império Romano do Oriente, com d) as Novelas (Novellae Compêndio das constituições imperiais mais recentes do sede em Constantinopla, antiga Bizâncio e atual Istambul, era resgatar ou leis novas) próprio imperador Justiniano, promulgadas depois da a época clássica do direito romano, que começou por volta de 150 e publicação do seu Codex. São em número de 177. terminou em 284 d.C., com início do governo de Mesmo com a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, fruto do ápice 6.2.4. Principais institutos das invasões bárbaras, Império Bizantino resistiu bravamente, caindo Vamos nos principalmente ao direito privado romano, sendo esta a apenas no século XV, após ter contribuído bastante para o resgate do área que marcou significativamente a cultura jurídica Nessa parte passado de glórias dos romanos, especialmente na seara jurídica. E o do direito tanto os conceitos jurídicos como os métodos de argumentação principal responsável pela extraordinária compilação do que se produziu por nós utilizados têm origem nos romanos, cujos juristas, principalmente de melhor durante a Época Clássica romana foi o conservador os do Período Clássico, propiciaram criações geniais que foram muito além no. Para ele, que se produzia na sua época não tinha valor. Valorosos do tempo histórico de vida daquele povo, praticamente se perpetuando na eram os antepassados e a respectiva produção jurídica por eles levada história. Como sugestão de leitura sobre tema indicamos principalmente a cabo. Com isso, tentou o Imperador, e com sucesso, recuperar todos as obras do alemão Max Kaser, especialmente Direito privado romano, com traduções para português. os escritos jurídicos do período em que Roma alcançou o seu maior desenvolvimento 6.2.4.1. Direito de família Uma das principais "récolhas" oficiais, isto é, compilação de textos jurídicos antigos, foi feita no período denominado Pós-Clássico a mando Possuía uma organização bastante diferente da que conhecemos hoje. de Teodosiano II, ficando conhecida como Código Teodosiano. Destinava- Família significava o grupo de pessoas submetidas ao poder do pater fami- se a conter o texto integral de todas as constituições imperiais romanas, lias, mas possuía outros significados, como patrimônio familiar ou valor tendo sido publicado em 438. Dividia-se em 16 livros, reproduzindo cada constituição imperial com respectivo autor e sua data, seguida de uma interpretação em cada caso. No Oriente foi revogado pela codificação de a) Casamento Justiniano, o artífice e responsável, mesmo após a queda de pela Diferentemente do casamento instituído pelo Cristianismo, os romanos publicação do denominado Corpus Juris Civilis, principal compilação do tinham o seu matrimônio mais como relação social do que propriamente re- direito romano e composto de quatro partes distintas: lação jurídica. Era uma relação de convivência entre homem e mulher susten- 76 77 31</p><p>tada pela maritalis, com a consciência de que essa união representava matrimônio romano tinha alguns efeitos, como reconhecimento so- um casamento. Essa consciência traz em seu bojo que essa união deve ser cial da mulher casada, os filhos poderem continuar a família paterna como vitalícia, monogâmica, com comunhão de vida e destinada principalmente descendentes, o dever de fidelidade conjugal (apenas da mulher), além dos a gerar descendentes. efeitos patrimoniais. Dentro do estabelecido pelo ius civile, o casamento só é considerado quando os cônjuges são cidadãos romanos ou, pelo menos, o homem é cidadão romano. Somente os filhos desses matrimônios são portanto cida- b) Divórcio dãos romanos, submetidos ao pátrio poder e merecedores da legítima após fim do casamento acontecia em casos de perda da capacidade, a morte do pai. matrimonial (perda da liberdade, perda da cidadania) ou divórcio. Quanto A mulher, inserida dentro da família romana, também exercia seu papel a este último, existia na sociedade romana arcaica apenas sob a forma do na comunidade, mas estava juridicamente vinculada ao marido, que possuía repúdio da mulher pelo marido ou, na sua falta, pelo pater familias deste. poder marital, chamado de manus. Sendo poder doméstico romano, dentro Posteriormente podia acontecer por iniciativa de qualquer um dos cônjuges, de sua história, independentemente de qual fosse ele, pleno, o mesmo acon- não estando sujeito a fiscalização. divórcio da mulher sem culpa é conhe- tecia com poder marital. manus permitia castigo e a repulsa à mulher, cido apenas no século III a.C. (esterilidade), e que acontece por iniciativa indo até direito de vida e de morte. Este direito foi bastante limitado pelo da mulher é ainda mais recente. Censir durante a República, que em nome dos bons costumes não permitia Caso a mulher estivesse à manus, era necessário, além do di- ao pater familias a prática de certos abusos. Como desse poder, vórcio, a anulação desse poder marital. No casamento sine manu, repúdio da mesma forma que os filhos, a mulher não tinha capacidade patrimonial. unilateral podia ser feito tanto pelo marido como pela mulher, tendo virado que ganhava era revertido para o pater familias. febre, ocasionando inclusive uma crise de natalidade. A partir da Lei das XII Tábuas passou a ser previsto, como exceção, casa- No Período época dos imperadores cristãos, ocorreram mento sine manu. Até quase início de nossa era, casamento cum manu era as primeiras restrições da liberdade de divórcio, seja por comum acordo, quase-unânime, sendo rapidamente substituído pela nova modalidade. seja por repúdio unilateral. Essa influência do Cristianismo perpassa pela As regras que regiam matrimônio romano não eram reguladas juridi- idéia de indissolubilidade do casamento e tinha por base ensinamento de camente, mas sim inseridas e acompanhadas pela moral vigente. Esse fato São Marcos - "o homem não pode separar aquilo que Deus uniu" e de São inclusive fez com que o casamento romano sofresse substanciais transfor- Lucas "quem repudiar a sua mulher e desposar outra comete adultério". mações durante a fase de desvirtuamento moral, que abalou reino a partir Vale anotar que no direito romano dava-se o nome de concubinato à do final do século III. Nessa época, durante denominado Baixo Império, o união permanente de vida e de sexo entre homem e mulher, não reconhecida casamento passou a ser considerado um ato essencialmente privado e con- como matrimônio. tratual. Tratava-se de convenção puramente consensual, despida de qualquer formalismo, não sendo exigida a coabitação. Nada resta, nesse período, das antigas formas de casamento que faziam c) Bens matrimoniais cair a mulher sob a manus (poder) do seu marido (casamento cum manu). tipo No casamento cum manu, todos os bens da mulher, bem como os que o seu usual passa a ser casamento sine manu, ficando a mulher juridicamente no seu pater familias lhe tivesse dado, integravam-se definitivamente no patrimônio grupo familiar original. Distingue-se do concubinato pela vontade recíproca do marido. Vale transcrever a explicação de Max de fundar um lar, de procriar e de educar os filhos. A principal dificuldade na "a) Se a mulher era filiafamilias e, por isso, carente de CAPACIDADE PA- matéria residia na prova desta vontade. Como casamento não tinha aspecto assim continua quando passa a uxor in manu; muda titular jurídico a que estamos advém dessa época anunciar a união do poder, mas ela não adquire capacidade patrimonial. com pompa, além de praticar certos ritos, como entrega de anel, redação de documento etc., demonstrando publicamente a vontade de fundar um lar. 43 Direito privado romano, p. 177. 78 79</p><p>b) Se era sui PERDE a capacidade patrimonial e todo seu PASSA PARA DO MARIDO (ou para quem tem poder a) Posse sobre Os romanos faziam a distinção entre posse e propriedade. Esta estava Já no casamento sine manu os esposos viviam sob um regime de separação relacionada a quem a coisa pertencia, a quem exercia o poder jurídico abso- de bens, marcado pela presença do instituto do dote. Durante matrimônio o luto sobre a coisa; aquela estava ligada a quem tinha um poder de fato sobre marido era o proprietário dos bens dotais, mas por ocasião da dissolução do determinada coisa A posse era um fato e a propriedade, um direito, casamento, devia à mulher. Nessa espécie de união a mulher con- havendo a possibilidade de os dois itens recairem sobre a mesma pessoa. servava a propriedade e administração dos seus bens próprios, não Segundo direito civil clássico, a aquisição da posse precisa ter um Durante o período da República a mulher não era sujeito de direito. Sua fundamento jurídico que justifique a aquisição da propriedade é a denomi- relação não era com o.direito da cidade, mas com o pater A mulher nada Temos como exemplo a compra e venda, doação, dote, sempre conservou, na família, um lugar secundário, tendo de casar para ga- apreensão de uma coisa Esses títulos fazem com que a pessoa nhar notoriedade social, mas em nenhuma duas situações podia exercer não só seja dona da coisa, mas que também tenha vontade de tê-la para si. funções administrativas ou contraponto a essa situação era a Dessa forma fica patente que para a aquisição de alguma propriedade por é necessário que haja a civilis. possibilidade de possuir patrimônio. Os filhos menores não são sujeitos de direito, e os maiores, como não A posse estava protegida contra a privação arbitrária e a perturbação por existia emancipação pela idade, tinham suas aquisições integradas no pa- meio de um instituto denominado interdicta, que eram ações que possuíam um rito especial. Eram possuidores ad interdicta todos que tinham a coisa em trimônio familiar. Dentro da família romana clássica, de tipo patriarcal, os nome próprio e a vontade de a guardar para si, sem reconhecer esse direito filhos não emancipados eram denominados alieni a Como dito, o Cristianismo exerceu profunda influência sobre a evolução do poder paternal. Inicialmente tornou-se defensor dos fracos, principalmen- b) Propriedade te das crianças. A Igreja não faz distinção entre filhos e filhas, impondo os Era definida como poder absoluto e exclusivo sobre uma coisa corpórea, mesmos deveres e os mesmos direitos tanto à mãe como ao pai. uma relação direta e imediata entre o titular do direito e a coisa. É o direito mais amplo que alguém pode ter sobre alguma coisa, sendo contraposto 6.2.4.2. Direitos reais apenas pela posse como mero domínio de fato e os direitos reais limitados, como usufruto, penhor, servidão. direito de propriedade é um direito real, A designação "reais" deriva da palavra res, que tem como um dos signi- ou seja, uma relação entre uma pessoa e todas as outras relativamente a um ficados o termo Advém daí podermos falar tanto em direitos reais bem; sendo um direito real, é oponível erga omnes, i.e., contra todos. como em direitos das coisas. Chama-se coisa a tudo que tem qualquer exis- No início da civilização romana o pater familias, por intermédio do pátrio tência, a tudo o que existe na natureza, com o direito real estando relacionado poder, tinha projeção não só sobre todos os membros da família e seus res- com as coisas corporais, individuais e autônomas que podem ser objeto de pectivos escravos, mas era detentor de todos os bens patrimoniais desta. propriedade, inclusive os É que algumas coisas não podem ser conceito abstrato de propriedade que conhecemos hoje, distinto do pátrio objeto do direito privado, mais precisamente as divini (propriedade poder, surge apenas a partir da segunda metade da República. É a partir desse dos deuses), as res communes omnium (ar, água etc.) e as res publicae (coisas momento que há diferenciação entre o dominium e a proprietas. em propriedade do Estado). A propriedade quiritária, que contemplava o direito de utilizar como Há já nessa época a das coisas em res mancipi (precisam de sole- quiser, de desfrutar e receber os seus frutos, de dispor livremente, era reco- nidade para a sua e res nec mancipi, móveis e imóveis, tangíveis inhecida apenas aos cidadãos Não se tratava de poder ilimitado, e intangíveis, consumíveis e não-consumíveis, divisíveis e sendo restringido quer no interesse dos vizinhos quer no interesse público. principal e acessórios e, por fim, os domínio não podia ser utilizado indeterminadamente, devendo respeitar interesse social e os bons costumes. Dentro do âmbito público havia a limi- 80 81 33</p><p>tação e prestações de trabalho que visavam conservação das vias públicas, descendentes (a representação é admitida); aquedutos etc. Prevalecia bem público em detrimento do ascendentes; c) Direitos reais limitados irmãos ou irmãs São incluídos neste item: outros colaterais, do lado materno e do paterno. 1) a servidão: alguma coisa, geralmente um prédio ou terreno em que Em cada classe, os herdeiros são chamados à sucessão pela proximidade proprietário ou o detentor da posse tem de tolerar determinada intromissão do grau: um parente de um grau mais próximo exclui um parente de grau ou se abster de certa atuação própria. Exemplo é a servidão de passagem, em mais afastado. Na falta dos colaterais, o cônjuge pode receber a sucessão. Por proprietário de um terreno tem de tolerar a passagem do proprietário fim, o Fisco tem direitos sucessórios sobre os bens vacantes. de terreno contíguo que não tenha acesso próprio à estrada. As servidões extinguiam-se por meio da denominada in cessio, quando 6.2.4.4. Obrigações o titular renunciava ao seu direito frente ao onerado. 2) o usufruto: quando alguém detém o direito de usar determinada coisa direito das obrigações é o domínio no qual a influência do direito ro- e receber os seus frutos, independentemente de quem seja o proprietário. É mano sobre os direitos romanistas atuais foi mais direta e profunda. Prova direito personalíssimo, limitado à própria pessoa do usufrutuário, não sendo disso é que na codificação de Justiniano a maior parte dos textos refere-se às transmissível de maneira alguina. obrigações. Vale ressaltar que o direito atual das obrigações nasceu de uma 3) a enfiteuse: tem o mesmo aspecto desse instituto inserido no nosso atual fusão de grande parte do direito romano com certas regras canônicas e com Código Civil, ou seja, é uma propriedade pública que é dada para uso pri- numerosos costumes medievais, como será visto nos capítulos seguintes. vado mediante o pagamento de uma renda. Podia ser por prazo determinado A obrigação (obligatio) é uma relação jurídica entre duas ou mais pes- ou indeterminado, sendo vedada a aquisição por usucapião. soas, pela qual uma delas, credor, tem o direito de exigir certo fato de 4) havia também as relações pignoratícias, mais especificamente a fidúcia outro, denominado devedor. São então este e credor as partes essenciais e penhor (pignus). na obrigação, sem os quais não é possível falar deste instituto. Notem que é possível ter mais de uma pessoa em cada um dos pólos da relação e, quando isso ocorre, o crédito e/ou débito são partilhados entre os envolvidos. Nesse 6.2.4.3. Sucessão caso há duas possibilidades para o débito ou crédito ser delimitada a parte São as regras atinentes à transmissão do patrimônio, conjunto dos direi- exata que cabe a cada um, sendo essas obrigações chamadas de parciais; ou os tos transmissíveis por herança, de uma pessoa morta a uma ou mais pessoas casos em que a prestação é encarada como indivisível, em que cada credor ou vivas, seus herdeiros. Fazem parte do patrimônio as propriedades do de cujus, cada devedor pode exigir ou deve a prestação toda. É chamada de obrigação grande parte de seus créditos, seus outros direitos reais hereditários etc. solidária e o pagamento por um dos co-devedores, ou recebimento por um dos co-credores, extingue a obrigação para todos. Havia duas formas de sucessão: objeto das obrigações é a prestação, livremente convencionada entre 1) sucessão testamentária: dava-se de acordo com a vontade da pessoa fale- cida. Era por essência revogável, ao contrário da doação. Dentro da história as partes, sendo seus limites estabelecidos negativamente. Portanto, os ro- do direito percebemos que sempre existiu nas sociedades que possuem manos estabeleciam que a prestação não podia ser juridicamente impossível, direito individualista. imoral, ilícita ou totalmente indeterminada. Caso houvesse desobediência a essas determinações, a prestação podia ser considerada nula (impossibilium 2) sucessão ab intestato: quando a lei e o costume supriam a vontade do nulla est). de cujus. A obrigação cria um direito de crédito, sendo que este direito não é A grande reforma do direito de sucessão ab intestato data das Novelas 118 e 125 de Justiniano. Essas duas novelas ordenam os herdeiros legítimos oponível erga omnes, não existindo senão entre as partes. A em quatro classes, nesta ordem: normal de uma obrigação é o seu cumprimento pelo devedor, que a extingue por meio do pagamento, solução ou liquidação. Caso o devedor não cumprisse 82 83</p><p>a obrigação, tornava-se inadimplente, permitindo ao credor, por culpa do inadimplemento, que constrangesse a cumprir o pactuado, por meio de uma DE LEITURA ação. juiz estabelecia um valor em dinheiro para a solução da prestação, ALVES, José Carlos Moreira. Direito 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, e para obter o pagamento cabiam todos os meios de execução previstos no 2002. 2 V. direito A constituição de São Paulo: Hucitec, 1995. Diferentemente da nossa realidade, em que o contrato é ato jurídico bi- lateral, e todo contrato gera obrigações, no direito romano arcaico simples CORREIA, Alexandre; SCIASCIA, Manual de direito 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1957. V. 1. acordo não gerava obrigação. Para haver a obligatio era necessário funda- mento jurídico, não bastando o acordo de vontades. Nessa época os romanos COULANGES, Numa Denis-Fustel A cidade antiga. São Paulo: Martin reconheciam apenas os contratos formais, denominados nexum e stipulatio, Claret, 2001. com várias formalidades para as suas concretizações, como presença de CRETELLA JR., José. Curso de direito 30. ed. Rio de Janeiro; Forense, testemunhas, atos simbólicos etc. Com o desenvolvimento do comércio foi 2007. necessário flexibilizar, instituindo-se novas formas de contrato, elaboradas DAVID, Os grandes sistemas do direito contemporâneo. Trad. A. pela jurisprudência republicana. Não só o nexum, forma mais rigorosa, caiu Carvalho. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. em desuso como os contratos ganharam cada vez mais aspecto verbal, realizando-se por meio do pronunciamento de certas palavras. GILISSEN, John. Introdução histórica ao 3. ed. Lisboa: Fundação Ca- louste Gulbenkian, 2001. É na época clássica que ganham força os contratos reais, como mútuo, depósito, penhor e o comodato. Eram empréstimos realizados sem as forma- António Manuel. Panorama histórico da jurídica européia. lidades do nexum, bastando a entrega da coisa ao devedor. Era a partir desta Lisboa: Europa-América, entrega que resultava direito de exigir do devedor a devolução. No mútuo KASER, Max. Direito privado Trad. Samuel Rodrigues e Fedinand entregava-se a posse e a propriedade. Já nos outros três tipos de contratos Hämmerle. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999. acima se entregava apenas a posse. KLABIN, Aracy Augusta Leme. História geral do direito. São Paulo: Revista Além dos contratos reais havia também os contratos inominados, em que dos Tribunais, 2004. ambas as partes se obrigavam a prestações equivalentes. São contratos bi- LOPES, José Reinaldo de Lima. direito na lições São laterais perfeitos, também denominados sinalagmáticos. Sua finalidade era Paulo: Max Limonad, 2000. que, quando uma parte cumpria a sua prestação, a outra ficava obrigada ao LOSANO, Mario G. I grandi sistemi giuridici. Roma: Giulio Einaudi Editore, adimplemento. A troca é um exemplo desse contrato. Outro tipo de contrato 1982. eram os consensuais, em que as partes se obrigavam a trocar determinado bem por dinheiro, como a compra e venda, a locação, a sociedade e MARKY, Thomas. Curso elementar de direito romano. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. Já a doação, até o direito justinianeu, não era considerada um contrato na acepção do termo. Antonio Carlos (org.). Fundamentos de história do 2. ed. Na época bizantina estabeleceu-se sistema quatripartido das fontes das Belo Horizonte: Del Rey, 2004. obrigações, que eram: os contratos, como venda, troca, locação, mandato, depósito, sociedade etc.; os delitos, que compreendiam todas as infrações penais; os quase-contratos, como pagamento do indevido e gestão de negócios; os quase-delitos, na figura da responsabilidade aquiliana, ou seja, res- ponsabilidade civil por culpa, objetiva ou subjetiva. 84 85 35</p><p>Comentários sobre a Lei das XII Eduardo Oliveira e-mail A Lei das Doze em latim Lex Duodecim Tabularum ou Duodecim uma importante peça do direito por sido o primeiro documento legal escrito do Direito Romano, base e origem de diversos sistemas ocidentais Entender a Lei das Doze significa adentrarmos na origem do direito monumento juridico da do qual o Direito Brasileiro sofreu grandes é imperioso estudo dessa codificação juridica para a compreensão das origens de o sistema brasileiro A Origen das Doze A das doze às dos frente ao dominio dos patricios no inicio da Republica da Roma Antiga. Em 494 a.C. os plebeus. em sinal de instalaram-se no Monte Sagrado. exigindo politicas. resultado disso a dos tribunos da representantes dos interesses dos plebeus perante as autoridades de Roma e do Senado. Nesse período quem editava as leis romanas eram os dois patrícios eleitos pela Assembléia Centurial pelo período de um para propor presidir o Senado e as Os Consules se baseavam em costumes e normas que não estavam por muttos cônsules se aproveltavam para exercer os poderes de forma Os poderes exercidos pelos eram considerados excessivos e passou-se a entender que devenam for posto que se encontravare em uma As leis, até então transmitidas por via oral e totalmente manipuladas pelos deveriam ser escritas e A primeira tentativa de limitar os poderes dos Cônsules parttu do tribuno Galo no ano de 462 a.C. que propôs a formação de um grupo de cinco mas recusado pressão do Senado dos Após alguns depois de longos os e patrícios um acordo para a limitação dos poderes dos formando um grupo de dez homens responsáveis pela elaboração das his romanas Naquele contato de Roma com a Grécia era constante 6 muitos se inspiraram nos direitos vigentes em 454 a.C. os estudiosos de Roma foram enviados à para estudar as leis do celebre legislador Em 451 a.C. foram eleitos dez legisladores legibus scribundis). conhecidos como decenviros, todos da dos Os decenviros eram os seguintes: Ápio Cláudio (o presidente do grupo por sua junto à plebe). Tito Séstio, Calo Auto Púbão Tito e Espúrio Os decenviros possulam poder quase sendo imunes a qualquer ato que comelessem e possulam imunidades e poderes de ordem civil e penal. As magistraturas dos e plebeus foram suspensas e o poder se concentrava no No primeiro ano, os decenviros cumpriram com toda dedicação as funções que thes foram delegadas e cuidaram da elaboração de dez Para a elaboração das normas os legisladores como base os entendimentos gerais dos juizes e costumes do povo de além dos estudos que fizeram nas leis da Após a elaboração de dez surgiu a necessidade de se criar mais duas no ano posterior. Após a conclusão dos legislativos povo se questionous acerca da necessidade de manutenção do decenvirato no poder, uma vez que já haviam 30/08/2012</p><p>EDUARDO FERREIRA Letras Comentános sobre a Lei das XII Página cumprido seu papel. o povo com a ajuda do Senado revoltou-se contra os deceaviros e do poder. Foram então eleitos cônsules e M. os quais teriam publicado a lei das doze tábuas em bronze e afixado em local público. A Lei das Doze Tábuas foi por todos os cidadãos romanos como afirma todos haviam as decorado por Em 390 a.C a didade de Roma incendiada pelos Gauleses, assim texto original da Lei das Doze Tábuas foi perdido. o que encontramos atualmente são meros fragmentos coletados de autores romanos que os transcreveu em seus Tábua De in jus vocando (do chamamento a A primeira Tábua estabelece de direito processual, descrevendo como deverá ser procedimento de chamamento a um de Demonstra que é dever do réu responder quando chamado em porém, se não o fazer cabe ao mesmo que seja usando suas próprias mãos ou a in lus vocat, antestamino. em capito. "Se alguém for convocado para comparecer ao deverá ir. Caso não comparecer o autor deverá apresentar a essa recusa do réu e logo em segulda deverá Se o réu tentar fugir ou pretender não comparecer ao autor poderá (lançar mão sobre citado). por ou doença o réu impossibilitado de andar, o autor deverá the a época um cavalo Se réu recusar cavalo autor deverá providenciar um mas sem a obrigação de ser coberto. A conciliação estava presente no direito romano desde esta observendo a dos acordos para resolver os A regra era a de que se as partes um acordo anundar a todos e o processo estaria encerrado. Caso não houvesse nenhum acordo, o pretor escutar as partes no ou no forum, antes do com ambas as partes Depots do melo dia se das estivesse presente pretor se em fuvor do presente (um similar 80 da Revella). Se ambos estiverem presentes, por do o termo final da audiência 6 do Tábus De (do A segunda tábua tem a pretensão de continuar os ditames da estipulando regras de direito processual Contudo, não se tão completa em decorrência das ao longo dos morbus sonticus aut status dies cum hoste quid horum unum eo dies diffensus esto. A primeira parte do texto está estudiosos dizem que determinava às partes o depósito de certa quantia, denominada Na segunda parte vemos que se o ou árbitro ou uma das partes se achar acometido de grave, o deverá ser Cui testimonium is diebus ob portum obvagulatum que precisar de alguma deverá is a sua porta e chamar em alta voz para comparecer 80 terceiro dia. Na segunda tábus também estão as regras acerca dos furtos e Estabelecem que a coisa nunca poderá ser adquirida por usucapião e ainda que se alguém intentar uma ação por furto não que seja condenado no dobro. Dizem alguns que nessa escrito a regra de que se alguém cometer furto à e for morto em que matou não será punido. Tábua De aere confesso rebusque jure judicatis (da execução em caso de confissão ou de condenação)</p><p>EDUARDO FERREIRA Letras Juridicas: Comentários sobre a Lei das XII Essa tábua é considerada pelos historiadores uma das mais completas e com maior da execução dos devedores que confessaram a Aeris rebusque XXX dies justi que confessar divida perante o ou for condenado, terá trinta dias para Esgotados os trinta dias e não tendo pago, deveria ser agarrado pelo autor e levado à presença do juiz Se não pagasse e ninguém se apresentasse como devedor era levado pelo seu credor e amarrado pelo pescoço e com cadeias com peso máximo de ou menos, se assim o quisesse o o devedor preso viveria as custas do nundinis partis secanto. Si plus minusve secuerunt, se fraude Esta é uma das regras mais marcantes das permitindo que se parta corpo do devedor em tantos pedaços quantos forem os seus credores. Depois do terceiro dia de será permitido dividir corpo do devedor em tantos pedaços quanto forem os credores, não importando cortar mais ou se os credores preferirem poderão vender devedor a um Adversus hostem aetema auctoritas esto. Determina que contra um direito de propriedade é para sempre. Tal norma é decorrência das guerras travadas contra outros povos. Se um inimigo tivesse o dominio de determinada terra essa ainda pertenceria a seu antigo que poderia la por meio da força. Tábus IV: Do jure patrio (do pátrio poder) Nessa tábua está registrado o pátrio poder. De modo direto vemos que o pai tinha, sobre a esposa e seus direito de vida, morte e de Porém o pátrio poder não era pois se pal vendesse o por mais de três vezes perdoda o direito paterno. Si pater fillum ter venum a patre esto. Cito necatus insignis ad deformitatem puer esto. "Se uma criança nascer com alguma deformidade deveria ser As crianças deformadas não eram capazas de serem soldados romanos mesmo agricultores portanto, um risco a Essa norma teve como base o direito dos espartanos na Gréda, tipicamente militar. Tábua V: De haereditatibus et tutelis (do direito hereditário da tutela) A quinta dita as acerca do direito hereditário e de Os Intitutos são muito similares aos que encontramos atualmente em nosso direito o pai de morrer não herdeiro seu, que agnado mais próximo seja Estabelece que se alguém morrer sem testamento, Indicando um herdeiro seu agnado mais próximo serla seu Interessante observar que as ativas e passivas (do de cujus) eram divididas entre os herdeiros, segundo quinhão de cada um Si adgnatum in eo pecuniaque potestas esto. Se alguém tomar-se ou pródigo e não tiver que a sua pessoa e seus bens sejam conflados à curateta dos agnados se não houver agnados, à dos gentis. Tábua VI: De domínio et possessione (da propriedade e da posse) Nessa Tábua estão as regras relacionadas à propriedade e a posse. A palavra de um homem era muito importante nos contratos, conforme a regra Cum nexum faciet mancipiumque, uti nuncupassit, ita jus esto. "Quando alguém faz um juramento, contrato ou venda, anunciando isso oralmente em público, deverá cumprir sua promessa". Encontramos nesse documento a regra de que se os frutos sobre o terreno vizinho, o proprietário da arvore terá direito de colher esses Tábua VII ou VIII: De jure aedium et agrorum (do direito dos edifícios terras)</p><p>EDUARDO FERREIRA Letras Comentários sobre a Lei das XII A sétima tábua parece ser uma continuação da anterior, tratando e das Alguns estudiosos entendem que essas regras a oitava tábua e não a sétima Viam muniunto ni sam qua volet iumento agito. Essa regra pressupõe que toda a propriedade deve uma estrada, porém se tal estrada for desmanchada poderá se trafegar por qualquer parte das terras de "Se alguém destruir algo de será obrigado pelo juiz a reconstruir ou restituir tal coisa". Trata-se de regra histórica para direito civil, em especial na parte da Tábua VIII ou VII: De (dos crimes) Considerada talvez a mais importante, trata dos crimes e no direito romano. o sistema penal da lei das doze tábuas era muito avançado para a época. A maioria das penas são espécies de compensações pecuniárias pelos danos causados. Por exemplo lemos a pena da feita a que é o de vinte e Porém se a for pública e difamatória será aplicada a pena capital (pena de "O ladrão confesso (preso em flagrante) sendo homem livre será vergastado por aquele a quem roubou; se é um escravo, será vergastado da Rocha mas será apenas vergastado 80 critério do magistrado condenado a reparar o dano". Vemos que a noção da reparação é algo observado pelos legisladores na elaboração das leis: "Pelo causado por um cavalo, deve-se reparar dano ou abandonar o ou ainda "Se o é causado por que seja reparado". Sofria a pena de morte que comelessem ajuntamento noturno de caráter e que prender alguém por palavras de encantamento ou the der Tábua direito publico A Nona Tábua algumas regras que tem Privilegia ne irroganto.Os privilégios não poderão ser ignorados nos cumprimentos das Tal regra era ditada à dasse dos patrícios que possulam muitos direitos frente plebeus. Conubia cum patribus Essa regra que não é permitido entre as 6 os Alguns estudiosos romanos entendem que essa regra fazia parte da Tébua XI e não da IX Interessante é a regra acerca da corrupção dos um juiz ou um árbitro indicado pelo magistrado receber dinheiro para julgar a favor de uma das partes em prejuizo de que seja Tábua X: De jure sacro (do direito sagrado) Uma das poucas diferenças da Lei das Doze Tábuas com relação ao direito grego da época está concentrada nessa A décima tábua traz regras com relação aos funerais e respeito aos mortos. Estabelecia a regra do Hominem mortuum in urbe ne neve morto será Incinerado ou quelmado dentro da Qui coronam parit pecuniave eius honoris virtutisve ergo arduitur ei... Quando um homem ganhar ou seu escravo para texto está incompleto e o seu entendimento foi prejudicado por isso Alguns estudiosos entendem que a tradução para esse caso seria a proibição do uso de coroas e turibulos nos funerais. Neve aurum addito. at cui auro dentes juncti Ast in cum illo se fraude Tal regra colocar ouro em uma pira de Mas, se os dentes do morto estivessem nele, ninguém seria punido por Tal regra servia para evitar saques ou furtos aos mortos.</p><p>EDUARDO FERREIRA - Letras : Comentários sobre a Lei das XII Tab Tábua XI: A primeira for perdida por completo em um maremolo ocorrido em Roma XII: De pignoris capio (da apreensão do penhor) Os escravos eram considerados como incapazes para os porque eram/considerados como objetos. a Lei escrevia a regra: Si servo furtum noxiamve noxit um escravo um roubo ou um outro delito serà movida contra o seu dono uma ação isto uma ação Si vindiciam si is for arbitros tris dato, eorum arbitrio fructus duptione damnum decidito. Se alguém simular posse provisória em seu magistrado deverá nomear três árbitros para a causa em face da condenará o simulador a restituir os frutos em duplo. Condusões A Lei das Doze é um documento que é marco do direito romano. Seu texto se encontra em pedaços e perdido ao longo dos sécutos que nos separam de nossos ancestrais romanos. do pouco que nos foi deixado podemos entender que os romanos iniciaram o seu vasto de leis e de normas com essa iniciativa de dez homens sábios. A Lei das Doze Tábuas era considerada sagrada e todos os a tinham decorado por inteiro. A sua era considerada por todos como algo para a vida de cidadão. Tito Livio refere-se à Lei das XII Tábuas como omnis publici privatique (fonte de todo direito público e privado). entender como sendo algo similar à Constituição da republica do Da mesma forma que os Romanos fizeram com a Lei das Doze devemos observar e respeitar a nossa Constituição de 1988 como um documento sagrado e deve ser aplicado por todos os assim o que tanto desejamos para nosso 5</p><p>62 JOSÉ REINALDO DE LIMA LOPES LOPES, José Reinaldo de Lima. Direito na História: lições introdutórias. ed. São Paulo: Atlas, 2012. A ALTA IDADE MÉDIA Nessa época cometeram-se muitos cri- mes... Cada um via a justiça à sua vontade pes- soal. (Gregório de Tours, 540-594, Historia Francorum) Remova-se a justiça e que coisa são os impérios bandos de criminosos em larga escala? que são bandos de criminosos senão pequenos impérios? Um bando é um grupo de homens sob um comandante, obrigados por um pacto de sociedade, pelo qual o fruto do saque é dividido de acordo com uma convenção. (...) Portanto, foi uma resposta sábia e verdadeira aquela dada por um pirata capturado a Alexan- dre, o o rei perguntou-lhe qual a sua intenção infestando o mar. A que o pirata res- pondeu com insolência desinibida: A mesma que a tua, infestando a terra! não tenho mais do que uma pequena nave, sou chamado pirata; como tens uma potente armada, és cha- mado imperador. (S. Agostinho, 354-430, A Cidade de Deus, Livro IV, 4) Um godo competente quer ser como um romano; somente um romano mediocre quer ser como um gode. (Teodorico, o Grande, 454(?)-526) Se leitor me permitir dar-lhe con- selho muito trivial, dir-lhe-ei que, perante essas tentações de evasão para uma Idade Média trans- figurada, se interrogue honestamente e veja se, por obra e graça de Merlin ou de Oberon, gosta- ria de ver-se transportado àquele tempo e de nele viver. Que pense que as pessoas da Idade Média e aqui, sem receio de erro, podemos dizer: 43</p>

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