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<p>ATINGIR O ESTADO DE BUDA</p><p>NESTA EXISTÊNCIA</p><p>DAISAKU IKEDA</p><p>Editora Brasil Seikyo</p><p>São Paulo – Agosto de 2021</p><p>Copyright © S oka Gakkai</p><p>Título original: Issho Jobutsu Sho Kogi</p><p>Departamento de Livros</p><p>Editora Brasil Seikyo</p><p>Foto da capa: Getty Images</p><p>1a edição</p><p>Todos os direitos desta edição reservados à</p><p>Editora Brasil S eikyo Ltda.</p><p>Rua Tamandaré, 1.040, Liberdade, São Paulo, SP</p><p>CEP 01525-000 – Tel. (11) 3349-1900</p><p>www.brasilseikyo.com.br</p><p>publicacao@brseikyo.com.br</p><p>SUMÁRIO</p><p>Escrito de Nichiren Daishonin</p><p>Atingir o Estado de Buda nesta Existência</p><p>Parte 1</p><p>O atingir do estado de buda nesta existência</p><p>Parte 2</p><p>O significado da recitação do daimoku</p><p>Parte 3</p><p>A Lei Mística existe dentro do coração</p><p>Parte 4</p><p>Mudança em nossa atitude básica</p><p>Parte 5</p><p>Recitar daimoku com vigor e coragem</p><p>Parte 6</p><p>Natureza mística da vida</p><p>Parte 7</p><p>Fé para atingir o estado de buda nesta existência</p><p>Glossário</p><p>Abreviaturas utilizadas nesta obra:</p><p>CEND Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. I (São Paulo:</p><p>Editora Brasil Seikyo, 2014); v. II (2017).</p><p>LSOC The Lotus Sutra and Its Opening and Closing Sutras</p><p>[O Sutra do Lótus e seus Sutras de Abertura e Conclusão],</p><p>tradução de Burton Watson (Tóquio: Soka Gakkai, 2009).</p><p>OTT The Record of the Orally Transmitted Teachings [Registro</p><p>dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente], tradução</p><p>de Burton Watson (Tóquio: Soka Gakkai, 2004).</p><p>ESCRITO DE NICHIREN DAISHONIN</p><p>ATINGIR O ESTADO DE BUDA NESTA</p><p>EXISTÊNCIA</p><p>(CEND, v. I, p. 3-5)</p><p>Se deseja libertar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte – suportados desde o tempo</p><p>sem início – e atingir infalivelmente a iluminação suprema nesta existência, deve despertar para a</p><p>verdade mística inerente nos seres vivos. Essa verdade é Myoho-renge-kyo. A recitação do Myoho-</p><p>renge-kyo lhe possibilitará compreender a verdade mística inata em cada vida.</p><p>O Sutra do Lótus é o rei dos sutras – verdadeiro e correto tanto nas palavras como nos</p><p>princípios. Suas palavras são a realidade fundamental e essa realidade é a Lei Mística (myoho). É</p><p>chamada de Lei Mística porque revela o princípio da relação mútua e inclusiva de um único</p><p>momento da vida e todos os fenômenos. Eis por que este sutra constitui a sabedoria de todos os</p><p>budas.</p><p>A vida em cada momento abarca o corpo, a mente, o sujeito e o meio ambiente dos seres</p><p>sensíveis nos dez mundos. Também abrange os seres insensíveis nos três mil mundos, incluindo as</p><p>plantas, o céu, a terra e até as minúsculas partículas de pó. A vida em cada momento permeia todos</p><p>os fenômenos e é revelada neles. Despertar para este princípio corresponde à relação mútua e</p><p>inclusiva de um único momento da vida e todos os fenômenos. Contudo, mesmo que recite e acredite</p><p>no Myoho-renge-kyo, se pensa que a Lei existe fora de seu coração, o senhor não está abraçando a</p><p>Lei Mística, mas um ensinamento inferior. “Ensinamento inferior” refere-se a outros preceitos além</p><p>deste sutra [Sutra do Lótus], que são meios e provisórios. Nenhum desses meios ou ensinamentos</p><p>provisórios conduz diretamente à iluminação e, sem um caminho direto à iluminação, o senhor não</p><p>conseguirá atingir o estado de buda, mesmo que pratique existência após existência por incontáveis</p><p>kalpa. Dessa forma, atingir o estado de buda nesta existência seria impossível. Assim, quando o</p><p>senhor recita myoho e pronuncia renge,[1] deve ter a profunda fé de que o Myoho-renge-kyo é sua</p><p>própria vida.</p><p>Jamais pense que os oitenta mil ensinamentos sagrados expostos pelo buda Shakyamuni durante</p><p>toda a existência dele ou que os budas e bodisatvas das dez direções e das três existências se</p><p>encontram em algum lugar fora do senhor. A prática dos ensinamentos budistas não o libertará do</p><p>sofrimento de nascimento e morte se não compreender a verdadeira natureza da vida. Se buscar a</p><p>iluminação fora de si, então, mesmo que realize dez mil práticas e dez mil boas ações, tudo será em</p><p>vão. Isso se compara ao caso de um homem pobre que passa dia e noite contando a riqueza do</p><p>vizinho, mas não consegue obter sequer uma ínfima quantia em benefício próprio. É por essa razão</p><p>que a escola Tiantai afirma: “Se não despertar para a própria natureza, não conseguirá erradicar os</p><p>graves crimes de sua vida”.[2] Esta passagem significa que, se as pessoas não despertarem para a</p><p>natureza da própria vida, a prática será algo austero, angustiante e sem fim. Portanto, esse tipo de</p><p>pessoa, mesmo que estude o budismo, é considerada não budista. Em Grande Concentração e</p><p>Discernimento, Tiantai declara que, embora essas pessoas estudem o budismo, suas concepções</p><p>não diferem daquelas não budistas.</p><p>Se o senhor invocar o nome do Buda,[3] recitar o sutra ou simplesmente oferecer flores e</p><p>incenso, todos esses atos virtuosos trarão benefícios e fincarão raízes do bem em sua vida. Deve se</p><p>empenhar na fé com essa convicção. No Sutra Vimalakirti consta que, ao buscarmos a condição de</p><p>absoluta liberdade dos budas na mente dos mortais comuns, descobrimos que eles são entidades da</p><p>iluminação e que os sofrimentos de nascimento e morte são nirvana. Consta também que, se a</p><p>mente das pessoas é impura, sua terra é igualmente impura. Mas, se sua mente é pura, assim é sua</p><p>terra. Portanto, não há duas terras – pura e impura. A diferença reside apenas no bem e no mal da</p><p>própria mente.</p><p>Isso se aplica tanto aos budas como aos mortais comuns. Quando uma pessoa é dominada pela</p><p>ilusão, é chamada de mortal comum; mas, quando iluminada, é chamada de buda. Tal situação se</p><p>assemelha a um espelho embaçado que brilhará como uma joia quando for polido. A mente que se</p><p>encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho embaçado; mas, ao ser</p><p>polida, tornar-se-á como um espelho límpido, que refletirá a natureza essencial dos fenômenos e da</p><p>realidade. Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia e noite. Como deve poli-lo? Não há outra</p><p>forma senão recitar o Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>Qual é, então, o significado de myo? Myo é simplesmente a misteriosa natureza de nossa vida a</p><p>cada momento, que a mente não consegue compreender e que não pode ser expressa em palavras.</p><p>Se observarmos nossa mente em qualquer momento, perceberemos que ela não apresenta cor nem</p><p>forma para comprovar sua existência. No entanto, não podemos dizer que ela não existe pelo fato de</p><p>incessantes pensamentos nos ocorrerem. Desse modo, a mente não pode ser considerada como algo</p><p>existente nem inexistente. A vida é, de fato, uma realidade impalpável que transcende tanto as</p><p>palavras como os conceitos de existência e não existência. Não é existência nem não existência;</p><p>porém, mostra características de ambas. É a entidade mística do caminho do meio, ou seja, a</p><p>realidade fundamental. Myo é o nome dado à natureza mística da vida, e ho, às suas manifestações.</p><p>Renge, que significa flor de lótus, simboliza as maravilhas da Lei. Se compreendermos que nossa</p><p>vida neste momento é myo, então compreenderemos também que, em outros momentos, ela é a Lei</p><p>Mística.[4] Essa percepção é a natureza mística de kyo, ou sutra. O Sutra do Lótus é o rei dos</p><p>sutras, o caminho direto para a iluminação, pois explica que a entidade de nossa vida – que</p><p>manifesta tanto o bem como o mal em cada momento – é, na verdade, a entidade da Lei Mística.</p><p>Se o senhor recitar Myoho-renge-kyo com profunda fé neste princípio, infalivelmente atingirá o</p><p>estado de buda nesta existência. Eis o motivo de o sutra declarar: “Após eu ter entrado em extinção,</p><p>deve abraçar e manter este sutra. Essa pessoa segura e infalivelmente atingirá o caminho do buda”.</p><p>[5] Não tenha a mínima dúvida disso.</p><p>Respeitosamente.</p><p>Mantenha a fé e atinja o estado de buda nesta existência. Nam-myoho-renge-kyo, Nam-myoho-</p><p>renge-kyo.</p><p>Nichiren</p><p>CENÁRIO HISTÓRICO</p><p>Esta carta foi escrita para Toki Jonin no sétimo ano de Kencho (1255),</p><p>dois anos após Nichiren Daishonin ter declarado seu ensinamento do Nam-</p><p>myoho-renge-kyo.</p><p>Nessa época, Daishonin estava com 34 anos e vivia em Kamakura, onde</p><p>se localizava a sede do governo militar.</p><p>Toki Jonin era um fiel</p><p>precisamos travar uma</p><p>luta interior. Se nos permitirmos ser derrotados pelos três obstáculos e</p><p>pelas quatro maldades, não poderemos atingir a iluminação. Por isso,</p><p>combater nossa escuridão ou ignorância interior é uma parte inevitável do</p><p>processo para nos tornar budas. Em outras palavras, o fator determinante</p><p>para atingirmos o estado de buda é combatermos continuamente nossa</p><p>ignorância inata. Isso é algo do qual jamais devemos nos esquecer.</p><p>Quando nos engajamos nessa luta, podemos revelar a sabedoria do</p><p>buda inata em nossa vida e, dessa forma, enfrentar e vencer nossa</p><p>ignorância. Mas, se não empreendermos essa luta, a ignorância ou a</p><p>escuridão acabará encobrindo e ocultando nossa natureza de buda. A</p><p>ignorância aprofunda e agrava as cinco tendências à ilusão próprias do</p><p>ser humano: avareza, ira, estupidez, arrogância e dúvida. Isso ocorre</p><p>quando as pessoas sucumbem à crença de que a Lei está fora de si</p><p>próprias.</p><p>Fé para atingir o estado de buda nesta existência</p><p>Naturalmente, o Gohonzon[39] é tão grandioso que seu poder é</p><p>incalculável. Nos Escritos em Seis Volumes, de Nichikan Shonin, consta</p><p>a seguinte frase: “Mesmo uma pessoa que não tenha manifestado fé</p><p>verdadeira, receberá imensos benefícios por meio de sua relação com o</p><p>objeto correto de devoção”.</p><p>A Soka Gakkai, herdeira da verdadeira linhagem da fé, dedica-se a</p><p>propagar amplamente o poder infinito e ilimitado do Gohonzon a</p><p>incontáveis pessoas. A fé praticada na Soka Gakkai implica numa luta</p><p>ativa para manifestar a Lei Mística na própria vida. Ela produz também</p><p>comprovações claras e concretas de benefícios. Quando avançamos junto</p><p>com a Soka Gakkai, naturalmente, incorporamos a prática correta da fé</p><p>ensinada por Nichiren Daishonin.</p><p>Dessa forma, aqueles que recitam sinceramente o Nam-myoho-renge-</p><p>kyo ao Gohonzon e participam nas atividades da Soka Gakkai não</p><p>falharão em se tornar budas. O propósito da fé é possibilitar-nos</p><p>manifestar livremente nosso pleno potencial e resplandecer de forma</p><p>autêntica. Por isso, é importante sempre nos desafiarmos e avançarmos,</p><p>imbuídos do espírito: “Vou me empenhar na prática diária!”,</p><p>“Aprofundarei minha fé”, “Farei o máximo como um membro da Soka</p><p>Gakkai!”. Esse é o caminho infalível para atingir o estado de buda nesta</p><p>existência.</p><p>Com essa compreensão, apliquemos rigorosamente em nossa prática</p><p>cotidiana a admoestação de Nichiren Daishonin: “Se pensa que a Lei</p><p>existe fora de seu coração, o senhor não está abraçando a Lei Mística,</p><p>mas um ensinamento inferior”. Buscar a Lei Mística em algum lugar fora</p><p>ou separado de nós equivale a fugir da responsabilidade que temos pela</p><p>nossa própria vida.</p><p>Praticar o Budismo Nichiren significa não nos deixar arrastar por esse</p><p>tipo de ideia ou pensamento, mas construir uma identidade sólida e</p><p>resoluta, elevada como o Monte Fuji. Porém, se negligenciarmos esses</p><p>esforços e dedicarmos nossas energias a outras coisas, antes de nos</p><p>darmos conta, acabaremos adotando crenças que nos farão buscar a Lei</p><p>fora de nós.</p><p>Por exemplo, se recitamos daimoku, mas sempre culpamos outras</p><p>pessoas ou as circunstâncias, estamos evitando o desafio de enfrentar</p><p>nossa própria ignorância ou escuridão. Desse modo, estamos buscando a</p><p>iluminação fora de nós mesmos. Ao mudarmos a nós próprios num nível</p><p>fundamental, começamos a melhorar nossa situação. A oração é a força</p><p>motriz dessa mudança.</p><p>É também importante não cairmos na armadilha de desenvolver uma</p><p>“fé dependente”, depositando a esperança de que nossas orações serão</p><p>respondidas graças a poderes divinos ou transcendentais de deuses e</p><p>budas. Esse é um exemplo típico de uma pessoa que vê a Lei fora de si</p><p>mesma. Esse tipo de fé, cuja essência é o escapismo, era mantida pelos</p><p>seguidores dos budas provisórios dos ensinamentos anteriores ao Sutra</p><p>do Lótus.</p><p>Mesmo que estejam sofrendo, pessoas com esse tipo de fé dependente,</p><p>evitam examinar seus problemas. Elas não têm coragem para desafiar nem</p><p>empreender esforços para mudar a situação. No entanto, sem luta não</p><p>podemos acionar as engrenagens de nossa revolução humana. Nesse caso,</p><p>para ser franco, a fé está simplesmente servindo como escudo para as</p><p>pessoas se esconderem e não enfrentarem a realidade.</p><p>Fazendo uma analogia com um alpinista, se ficarmos apenas dando</p><p>voltas ao redor da base da montanha e nunca tentarmos escalá-la, jamais</p><p>poderemos chegar ao topo, não importa quanto tempo passe. Se evitarmos</p><p>desafiar nossos próprios problemas e tendências, jamais conseguiremos</p><p>nos fortalecer e desenvolver e não atingiremos o estado de buda nesta</p><p>existência.</p><p>Também é importante o esforço consciente para nos livrar da dúvida e</p><p>descrença em geral, e das queixas e lamentações. A crença errônea de</p><p>que o Myoho-renge-kyo existe fora de nós deriva da incapacidade de</p><p>reconhecer que todas as pessoas, nós e as demais, também possuímos a</p><p>natureza de buda. E essa incredulidade, por sua vez, origina-se da</p><p>ignorância ou escuridão fundamental.</p><p>Em termos de postura na fé, essa tendência ao ceticismo de considerar</p><p>a natureza de buda como “um ideal muito bonito, mas que não muda a</p><p>realidade” se manifestará como uma oração fraca, vaga e sem convicção.</p><p>Se nossa fé for desprovida de ânimo ou entusiasmo, não seremos capazes</p><p>de mudar nossa atitude ou transformar fundamentalmente nossa vida.</p><p>Nichiren Daishonin afirma no escrito em pauta: “Deve ter a profunda</p><p>fé”. Com base nessas palavras, se desejamos atingir o estado de buda</p><p>nesta existência, precisamos dar continuidade aos nossos esforços,</p><p>aprofundar nossa fé e intensificar nossas orações. À medida que nossa fé</p><p>se aprofunda, ela se manifestará como uma oração mais convicta e</p><p>concreta.</p><p>Como o objetivo de nossa prática é atingir o estado de buda nesta</p><p>existência, é essencial que tenhamos uma atitude mental ou o pensamento</p><p>firmemente concentrado quando recitamos o Nam-myoho-renge-kyo. Para</p><p>explicar a importância disso, seria como tentar disparar uma flecha: sem</p><p>um alvo claro, não teremos força para retesar o arco com energia ou</p><p>determinação. Do mesmo modo, nossas orações somente podem ser</p><p>concretizadas quando convertemos desejos vagos e difusos em</p><p>determinações concretas e recitamos daimoku com a convicção de que,</p><p>sem falta, atingiremos aquilo que almejamos.</p><p>As queixas e lamentações são as principais portas pelas quais a</p><p>dúvida e a descrença se infiltram. Porém, muitas vezes, mesmo sabendo</p><p>que é errado, as pessoas agem dessa forma. Quando queixas e</p><p>lamentações se tornam um hábito, funcionam como um freio que impede</p><p>as pessoas de crescer e avançar. Quando isso ocorre, é como se</p><p>bloqueassem seu potencial; caindo no caminho da busca pela Lei fora de</p><p>si mesmas. Apesar de ser um grande desafio parar com as queixas e as</p><p>lamentações, a Lei Mística possibilita às pessoas manifestarem a</p><p>sabedoria para controlar essas tendências e usá-las como um trampolim</p><p>para o seu crescimento e desenvolvimento. Por essa razão, todos devem</p><p>ser rigorosos consigo mesmos e evitar falar mal dos companheiros de fé.</p><p>Quando alguém calunia e nutre ressentimento ou inveja de outra pessoa,</p><p>na realidade, está ignorando ou negando sua própria natureza de buda.</p><p>Não ser capaz de acreditar na natureza de buda dos demais, assim como</p><p>não acreditar na natureza de buda de si mesmo, leva a pessoa a se desviar</p><p>do curso e a buscar a Lei externamente. Nossa natureza de buda é o que,</p><p>em essência, nos leva a buscar a nossa felicidade e a dos outros. Não</p><p>acreditar na natureza de buda é negar o espírito do Sutra do Lótus, que</p><p>ensina que todas as pessoas possuem o potencial para atingir o estado de</p><p>buda. Por essa razão, Nichiren Daishonin adverte rigorosamente que se</p><p>contrariarmos o espírito do Sutra do Lótus, não somente não atingiremos</p><p>o estado de buda nesta existência como também acabaremos agindo</p><p>contra a Lei.</p><p>Além disso, se não praticarmos juntos, unidos com base no princípio</p><p>de “diferentes em corpo, unos em mente”, o grande desejo do kosen-rufu</p><p>não poderá ser cumprido.</p><p>Confirmemos, portanto, uma vez mais que, recitar o Nam-myoho-</p><p>renge-kyo pela nossa felicidade e a de outros é o verdadeiro meio para</p><p>atingir o estado</p><p>de buda nesta existência. Cada pessoa possui o potencial</p><p>para se tornar um buda.</p><p>O espírito dos três primeiros presidentes da Soka Gakkai</p><p>A religião que revela a existência da Lei em todas as pessoas é um</p><p>ensinamento que valoriza a vida de cada indivíduo, que incentiva a</p><p>revolução humana e procura conduzir todos à felicidade absoluta. O</p><p>surgimento de sucessivas pessoas que abraçam a fé segue o princípio dos</p><p>bodisatvas que emergem da terra para propagar a Lei, a fórmula imutável</p><p>para atingir o kosen-rufu.</p><p>Esse é o caminho da Soka Gakkai que os três primeiros presidentes,</p><p>Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e eu, temos seguido fielmente. Por</p><p>essa razão, a Soka Gakkai atingiu um desenvolvimento monumental e o</p><p>kosen-rufu se expandiu para o mundo inteiro.</p><p>Em contraste, os ensinamentos budistas que consideram a Lei como</p><p>algo externo à vida tendem a ser autoritários, formais, repressores e</p><p>indiferentes ao sofrimento humano. Enfatizam excessivamente os rituais</p><p>ou cerimônias e a autoridade clerical, enquanto seus seguidores buscam</p><p>amenizar a angústia colocando-se na dependência do clero ou de</p><p>cerimônias. Por outro lado, cientes de que a morte e o que está além dela</p><p>são as maiores preocupações dos seres humanos, as escolas budistas</p><p>japonesas aproveitaram-se disso para dedicar-se exclusivamente à</p><p>realização de cerimônias fúnebres. Por essa razão, a sociedade chama</p><p>essas escolas de “budismo de funeral”. Essas doutrinas não oferecem aos</p><p>praticantes uma filosofia que os fortaleça e os possibilite viver uma</p><p>existência melhor.</p><p>O fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, dizia que o</p><p>Budismo Nichiren é um ensinamento para transformar a própria vida.</p><p>Acreditar que a Lei Mística existe dentro de nós é ter a convicção de que,</p><p>infalivelmente, seremos felizes e atingiremos o estado de buda nesta</p><p>existência. Fé também significa dedicar-se ativamente pelo kosen-rufu,</p><p>ou seja, propagar o Budismo Nichiren com a convicção de que essa</p><p>iniciativa traduz-se na maior felicidade para si e para os entes queridos.</p><p>Essa fé genuína palpita na Soka Gakkai. Esse espírito grandioso da Soka</p><p>Gakkai e a relação de unicidade de mestre e discípulo dos três primeiros</p><p>presidentes são os fatores que permitem empreender, de maneira</p><p>brilhante, o mais difícil dos desafios: fazer com que as pessoas se</p><p>conscientizem da Lei que existe em seu interior.</p><p>O presidente Josei Toda costumava dizer: “Devemos ter a</p><p>determinação de que eu sou Myoho-renge-kyo!” A Lei Mística é o</p><p>“remédio altamente eficaz”[40] que alivia os sofrimentos de todas as</p><p>pessoas. É também a grande arca de tesouros que proporciona boa sorte e</p><p>felicidade a todos. O mais importante é viver com base na Lei Mística e</p><p>em harmonia com ela, de forma que ela permeie nossa vida e a fortaleça.</p><p>Nossa realidade diária pode parecer uma sucessão de problemas.</p><p>Mas, com a firme crença de que nossa vida é Myoho-renge-kyo, devemos</p><p>enfrentar cada desafio com a coragem e convicção de que podemos</p><p>superar as dificuldades e nos tornar felizes, infalivelmente. Quando</p><p>mantemos uma profunda fé, com base na consciência de que “Eu sou</p><p>Myoho-renge-kyo”, podemos enfrentar todos os problemas com coragem.</p><p>A vitória na vida depende de sermos ou não capazes de manifestar essa</p><p>coragem. Não é uma atitude tímida, mas sim o desafio corajoso que irá</p><p>conduzir à vitória. É disso que necessitamos!</p><p>Sejam quais forem os obstáculos que enfrentemos no transcorrer de</p><p>nossa prática, não podemos retroceder um único passo. Não vamos</p><p>permitir que os problemas nos atemorize. O poder da Lei Mística pode</p><p>vencer tudo. É importante possuir essa firme convicção.</p><p>A pessoa que teme as dificuldades e se lamenta das circunstâncias,</p><p>vive com base na crença de que a Lei está fora dela. Essa pessoa,</p><p>consequentemente, não tem confiança na própria capacidade para</p><p>resolver seus problemas e sempre procura alguém na esperança de que a</p><p>salve, ou para culpar pelos próprios sofrimentos. Por fim, ela acaba se</p><p>entregando à resignação e ao desespero.</p><p>Quando as dificuldades nos cercam, por mais severas que sejam,</p><p>devemos reconhecer nelas a ação de nossas funções negativas e maléficas</p><p>e combatê-las sem recuar. Essa é a forma de viver daqueles que recitam</p><p>Nam-myoho-renge-kyo e dedicam sua existência à Lei Mística. Nichiren</p><p>Daishonin declara: “Os discípulos de Nichiren nada poderão realizar se</p><p>forem covardes”.[41] Com base nessas palavras, deixemos de lado a</p><p>covardia e façamos da coragem nosso principal atributo.</p><p>As pessoas de fé corajosa podem dissipar as nuvens escuras do medo,</p><p>da ignorância e da ilusão e fazer com que o sol da Lei Mística brilhe e</p><p>suas flores desabrochem com todo esplendor.</p><p>O presidente Josei Toda orientou o seguinte aos membros da Divisão</p><p>Feminina de Jovens nos primórdios de nosso movimento:</p><p>Vocês devem se orgulhar por possuírem a mesma condição de vida do Buda dos Últimos</p><p>Dias. Vençam na vida, imbuídas com um nobre espírito. Jamais devem, absolutamente, depreciar</p><p>a si mesmas.</p><p>O Budismo Nichiren parte da compreensão de que a suprema</p><p>condição do estado de buda existe na vida de cada um de nós. É um</p><p>ensinamento que nos possibilita realizar a transformação mais profunda –</p><p>uma mudança em nossa atitude básica.</p><p>Nichiren Daishonin diz:</p><p>Se o senhor invocar o nome do Buda, recitar o sutra ou simplesmente oferecer flores e</p><p>incenso, todos esses atos virtuosos trarão benefícios e fincarão raízes do bem em sua vida.</p><p>Deve se empenhar na fé com essa convicção.</p><p>Todos os nossos esforços na fé – incluindo nossa prática do gongyo a</p><p>cada manhã e noite e todas as nossas atividades da Soka Gakkai – são</p><p>ações virtuosas que “implantarão benefícios e raízes de benevolência”</p><p>em nossa vida. Aqueles que avançam com essa profunda consciência são</p><p>verdadeiros vencedores que trilham o caminho direto para atingirem o</p><p>estado de buda nesta existência.</p><p>Construamos uma vida magnífica e de triunfo, mantendo sempre em</p><p>mente a grande filosofia contida nas palavras de Nichiren Daishonin: “O</p><p>que importa é o coração”.</p><p>PARTE 5</p><p>RECITAR DAIMOKU</p><p>COM VIGOR E CORAGEM</p><p>No Sutra Vimalakirti consta que, ao buscarmos a condição de absoluta liberdade dos budas</p><p>na mente dos mortais comuns, descobrimos que eles são entidades da iluminação e que os</p><p>sofrimentos de nascimento e morte são nirvana. Consta também que, se a mente das pessoas é</p><p>impura, sua terra é igualmente impura. Mas, se sua mente é pura, assim é sua terra. Portanto,</p><p>não há duas terras – pura e impura. A diferença reside apenas no bem e no mal da própria</p><p>mente.</p><p>Isso se aplica tanto aos budas como aos mortais comuns. Quando uma pessoa é dominada</p><p>pela ilusão, é chamada de mortal comum; mas, quando iluminada, é chamada de buda. Tal</p><p>situação se assemelha a um espelho embaçado que brilhará como uma joia quando for polido. A</p><p>mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho</p><p>embaçado; mas, ao ser polida, tornar-se-á como um espelho límpido, que refletirá a natureza</p><p>essencial dos fenômenos e da realidade. Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia e noite.</p><p>Como deve poli-lo? Não há outra forma senão recitar o Nam-myoho-renge-kyo.[42]</p><p>Aqueles em cujo coração resplandece o compromisso com a verdade</p><p>e a justiça jamais perdem a esperança, mesmo em meio às piores</p><p>dificuldades ou adversidades. São como um brilhante farol que ilumina a</p><p>escuridão do sofrimento e transmite luzes de esperança e de coragem para</p><p>dissipar a intranquilidade alojada nos corações aflitos.</p><p>Quando nós próprios mudamos, o mundo também se transforma. A</p><p>chave de todas as mudanças está em nossa transformação interior – em</p><p>nosso coração e em nossa mente. Isso é o que chamamos “revolução</p><p>humana”. Todos nós temos o poder de mudar. Quando entendemos esse</p><p>ponto, podemos manifestar esse poder em qualquer lugar, momento e</p><p>situação.</p><p>O Budismo Nichiren, fundamentado nos princípios transformadores do</p><p>Sutra do Lótus, tornou esse grande caminho para a mudança interior</p><p>acessível a todas as pessoas por meio da recitação do Nam-myoho-renge-</p><p>kyo como prática central.</p><p>Nesta parte, vamos analisar a passagem em que Nichiren</p><p>Daishonin</p><p>define o enfoque e a atitude básica com que devemos nos dedicar à</p><p>recitação do daimoku.</p><p>Mudar a nós próprios</p><p>para mudar nossa terra</p><p>Conforme já expus em detalhes, a totalidade do budismo existe dentro</p><p>de nós. A chave para atingir o estado de buda – a transformação</p><p>fundamental de nossa condição de vida – também se encontra na mudança</p><p>em nosso coração e em nossa mente.</p><p>Para transmitir esse ponto, Nichiren Daishonin cita o Sutra Vimalakirti</p><p>e o sintetiza da seguinte forma:</p><p>Ao buscarmos a condição de absoluta liberdade dos budas na mente dos mortais comuns,</p><p>descobrimos que eles são entidades da iluminação e que os sofrimentos de nascimento e morte</p><p>são nirvana.</p><p>A frase “mortais comuns (...) são entidades da iluminação” significa</p><p>que a sabedoria para atingir o estado de buda manifesta-se na vida das</p><p>pessoas comuns, repleta de desejos mundanos. De maneira semelhante, a</p><p>declaração “os sofrimentos de nascimento e morte são nirvana” significa</p><p>que a condição de verdadeira paz e tranquilidade [nirvana], própria do</p><p>estado de buda, manifesta-se na vida das pessoas comuns atormentadas</p><p>pelos sofrimentos do nascimento e da morte. Nesses trechos, Daishonin</p><p>explica que os budas e as pessoas comuns não estão separados. A única</p><p>diferença entre eles se encontra na “mente dos mortais comuns”.</p><p>Nichiren Daishonin também cita uma passagem do Sutra Vimalakirti</p><p>que explica a diferença entre uma terra pura e outra impura. Ele a resume</p><p>da seguinte forma: “Se a mente das pessoas é impura, sua terra é</p><p>igualmente impura. Mas, se sua mente é pura, assim é sua terra”.</p><p>Ele esclarece que não existem duas terras separadas; a única distinção</p><p>entre os lugares puros e impuros está no “bem e no mal da própria</p><p>mente”. Nesse sentido, a terra pura não existe em algum lugar fora ou</p><p>separado, mas no mundo real, e é construída a partir da mudança das</p><p>pessoas que nela vivem. Esta é a visão prática e dinâmica da purificação</p><p>da terra para transformá-la em “terra iluminada do Buda” exposta no</p><p>Sutra do Lótus.</p><p>A passagem do Sutra Vimalakirti citada por Nichiren Daishonin</p><p>pertence ao 5o capítulo “Indagações sobre a Doença”. Esse capítulo</p><p>descreve o diálogo entre Vimalakirti, um seguidor leigo budista de</p><p>qualidades notáveis, que praticava o caminho do bodisatva e se</p><p>encontrava doente, e Manjushri, um dos principais discípulos de</p><p>Shakyamuni, que tinha ido visitá-lo. Quando perguntado sobre a causa de</p><p>sua doença, Vimalakirti responde: “Porque todos os seres adoecem, eu</p><p>adoeço”. Esta é uma passagem muito conhecida que revela de forma</p><p>concisa o espírito fundamental do bodisatva de compartilhar o sofrimento</p><p>dos demais como se fosse o dele próprio.</p><p>Vimalakirti diz ainda que os bodisatvas escolhem nascer junto às</p><p>pessoas atormentadas pela ilusão, bem como compartilhar seus</p><p>sofrimentos de nascimento e morte para instruí-las e conduzi-las à</p><p>iluminação. Por outro lado, os bodisatvas nunca se deixam influenciar ou</p><p>se abater pelos sofrimentos por terem estabelecido um puro estado de</p><p>iluminação interior.</p><p>Dessa forma, as passagens do Sutra Vimalakirti esclarecem o</p><p>significado do estado de buda e da terra pura do ponto de vista daquele</p><p>que pratica o caminho do bodisatva e se dedica em meio à realidade da</p><p>vida diária. Por essa razão, Nichiren Daishonin conclui: “Quando uma</p><p>pessoa é dominada pela ilusão, é chamada de mortal comum; mas, quando</p><p>iluminada, é chamada de buda”. Em outras palavras, a diferença entre as</p><p>pessoas comuns e os budas nada mais é que a diferença entre a ilusão e a</p><p>iluminação na mente das pessoas comuns. Como então converter essa</p><p>ilusão em iluminação?</p><p>Na passagem anterior, Nichiren Daishonin explica que, quando o</p><p>coração das pessoas muda, a terra ou o ambiente externo também se</p><p>transforma. O que ocorre no aspecto mais profundo é a mudança da ilusão</p><p>para a iluminação.</p><p>Conforme já expus anteriormente, o que possibilita essa</p><p>transformação é o daimoku e, no nível espiritual, é a fé. De forma mais</p><p>simples, mediante a fé podemos superar a ignorância ou escuridão que</p><p>constitui a raiz da ilusão e manifestar o estado de buda do qual sempre</p><p>fomos dotados.</p><p>Nichiren Daishonin vale-se de uma metáfora para descrever esse</p><p>potencial para a mudança. Ele diz: “Tal situação se assemelha a um</p><p>espelho embaçado que brilhará como uma joia quando for polido”. Desse</p><p>modo, ele ensina que a recitação do daimoku é o meio para vencer nossa</p><p>escuridão interior e para “polir” nossa vida.</p><p>Todos os seres vivos são entidades da Lei Mística por possuírem-na</p><p>inerentemente. Nosso estado de buda intrínseco nos permite extrair o</p><p>poder da Lei Mística que existe em nós, de forma livre e irrestrita,</p><p>sempre que precisarmos. Nichiren Daishonin compara esse estado de</p><p>vida supremo com um espelho límpido que reluz como uma joia. Contudo,</p><p>mesmo sendo uma entidade da Lei Mística, não podemos evidenciar o</p><p>poder da Lei se nossa vida estiver encoberta pela ignorância. Nesse</p><p>estado de escuridão e impureza, somos como um “espelho embaçado” que</p><p>não reflete nada. A recitação do daimoku é a prática para polir o espelho</p><p>embaçado de nossa vida.</p><p>O primeiro caminho para polir nossa vida:</p><p>desafio corajoso</p><p>Daishonin diz sobre a prática do daimoku para polir a vida:</p><p>A mente que se encontra encoberta pela ilusão da escuridão inata da vida é como um</p><p>espelho embaçado; mas, ao ser polida, tornar-se-á como um espelho límpido, que refletirá a</p><p>natureza essencial dos fenômenos e da realidade. Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia</p><p>e noite. Como deve poli-lo? Não há outra forma senão recitar o Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>A metáfora do espelho é, de fato, inspiradora. O espelho, que tem a</p><p>propriedade de refletir imagens, corresponde à nossa vida dotada da</p><p>verdade mística. Mas, se o espelho não for limpo e polido, naturalmente</p><p>ficará embaçado.</p><p>Na época de Nichiren Daishonin, os espelhos eram feitos de bronze,</p><p>um material muito fácil de manchar e perder o brilho. Quando um espelho</p><p>fica sujo, não pode cumprir sua função original. Por isso, ele precisa ser</p><p>polido regularmente. Do mesmo modo, se nos descuidarmos ou agirmos</p><p>com negligência, nossa vida será encoberta pela ignorância. É isso o que</p><p>Nichiren Daishonin quis dizer com a analogia do espelho.</p><p>A ação de polir é indispensável para restaurar a propriedade</p><p>intrínseca do espelho. Mas não basta poli-lo uma única vez. Devemos</p><p>fazê-lo regularmente, se quisermos conservar sua propriedade refletora.</p><p>Como essa metáfora mostra, a recitação do daimoku é uma prática para</p><p>extrair o brilho de nossa vida, remover o “pó da ignorância” e</p><p>intensificar a luz de nossa natureza iluminada da Lei.</p><p>Essa prática de polir nossa vida possui dois aspectos. Um é fazer</p><p>surgir profunda fé, como exorta Nichiren Daishonin. Em outras palavras,</p><p>é munirmo-nos do espírito de lutar contra nossa escuridão interior. O</p><p>outro aspecto é persistir em nossos esforços, como adverte Nichiren</p><p>Daishonin quando diz: “Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia e</p><p>noite”. Esses dois pontos têm correlação com dois aspectos da recitação</p><p>do daimoku identificados por Nichikan Shonin, com base na seguinte</p><p>frase do capítulo “Meios Apropriados” (2o) do Sutra do Lótus:</p><p>“Empenhado com coragem e vigor ”.[43]</p><p>Nichikan Shonin, conhecido como o grande restaurador do Budismo</p><p>Nichiren, explica que a frase “com coragem e vigor” significa manifestar</p><p>corajosamente o poder da fé recitando o daimoku, enquanto “empenhar-</p><p>se” quer dizer dedicar-se sincera e continuamente à prática do daimoku.</p><p>Com relação à recitação do daimoku, o primeiro ponto fundamental é</p><p>ter espírito de desafio e agir com coragem. Isso significa manifestar</p><p>profunda fé em nossa vida, acreditando firmemente que podemos</p><p>evidenciar a verdade mística que existe em nós e atingir, sem falta, a</p><p>iluminação nesta existência. Significa também enfrentar com coragem os</p><p>três obstáculos e as quatro maldades que tentam nos impedir de recitar o</p><p>daimoku. Precisamos nos desafiar, ter um espírito destemido, incansável</p><p>e inabalável para enfrentarmos os obstáculos e superá-los sempre que se</p><p>levantarem contra nós. É justamente por meio desse desafio</p><p>que</p><p>vencemos a ignorância e polimos nossa vida.</p><p>O segundo caminho para polir nossa vida:</p><p>perseverança e continuidade</p><p>A perseverança também é vital. Para atingir o estado de buda nesta</p><p>existência, é preciso persistência. Nichiren Daishonin diz: “Aceitar é</p><p>fácil; manter é difícil. Porém, para se atingir o estado de buda é</p><p>necessário manter a fé”.[44]</p><p>Neste escrito em pauta, percebemos a grande importância da</p><p>continuidade a partir da ênfase que Nichiren Daishonin atribui a praticar</p><p>“dia e noite” e “diligentemente”. Manter uma prática incessante de</p><p>recitação de daimoku é um requisito fundamental para atingir o estado de</p><p>buda.</p><p>Nichiren Daishonin declara:</p><p>Sofra o que tiver de sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o</p><p>sofrimento quanto a alegria como fatos da vida e continue recitando Nam-myoho-renge-kyo,</p><p>independentemente do que aconteça. Que outro significado isso poderia ter senão a alegria</p><p>ilimitada da Lei?[45]</p><p>Devemos continuar recitando daimoku tanto nos momentos de</p><p>sofrimento como nos de alegria. A ênfase, nesta frase, está na palavra</p><p>“continue” e a chave está em recitarmos daimoku nos momentos de</p><p>“alegria e sofrimento”.</p><p>Quando enfrentamos uma situação difícil ou de sofrimento, é</p><p>importante não retrocedermos. “Sofra o que tiver de sofrer”, diz Nichiren</p><p>Daishonin. Isso não quer dizer resignação ou escapismo. Ao contrário,</p><p>significa encarar resolutamente a realidade e desafiá-la corajosamente</p><p>com base no daimoku. Nichiren Daishonin explica que essa é a atitude</p><p>correta que os praticantes da Lei Mística devem ter. A fé no Budismo</p><p>Nichiren está sempre enfocada na transformação da realidade.</p><p>É claro que um estado de vida assim não se adquire da noite para o</p><p>dia. Mas se nos empenharmos com afinco em polir nossa vida dia a dia,</p><p>mês a mês, ano a ano, é certo que o atingiremos, conforme asseguram as</p><p>palavras do Sutra: “Essa concentração de joias insuperáveis chegou até</p><p>nós sem que a tivéssemos buscado”.[46]</p><p>Em seguida, a frase “Desfrute o que existe para ser desfrutado”</p><p>significa que, quando estamos alegres, devemos nos lembrar de ter</p><p>gratidão e nos empenhar ainda mais na recitação do daimoku, aspirando</p><p>ao objetivo principal de atingir o estado de buda nesta existência.</p><p>Fortalecer nosso espírito de procura na fé é muito mais difícil nos</p><p>momentos bons do que nos maus. Isto porque é comum nos momentos de</p><p>tranquilidade as pessoas relaxarem e se acomodarem. Em vez de sermos</p><p>pessoas fortes na adversidade e vulneráveis nos momentos de</p><p>tranquilidade, devemos edificar uma fé invencível que nos possibilite</p><p>considerar “tanto o sofrimento quanto a alegria como fatos da vida”.</p><p>Essa fé sólida é formada por meio da atuação como membros da Soka</p><p>Gakkai em tornar realidade o nobre objetivo do kosen-rufu e da nossa</p><p>própria iluminação nesta existência. Acima de tudo, a recitação do Nam-</p><p>myoho-renge-kyo – processo pelo qual polimos diligentemente nosso</p><p>espelho dia e noite – fortalece nossa vida da mesma forma que uma</p><p>magnífica espada é forjada e temperada. A chave, nos momentos de</p><p>sofrimento, está na recitação do daimoku com espírito de desafio e, nos</p><p>momentos de alegria, em recitar daimoku com espírito de gratidão.</p><p>“Continuar” é um outro modo de dizer “não retroceder”. Nos escritos</p><p>de Nichiren Daishonin, do início ao fim, notamos a ênfase que ele atribui</p><p>a jamais retroceder ou abandonar a fé. Para terem uma ideia, citarei</p><p>apenas alguns trechos:</p><p>Em outras palavras, aquele que abraça os oito volumes ou um único volume, capítulo ou</p><p>verso do Sutra do Lótus, ou que recita o daimoku, é o emissário d’Aquele que Assim Chega.</p><p>[47]</p><p>Fortaleçam sua fé dia após dia e mês após mês. Se enfraquecerem em sua determinação,</p><p>por pouco que seja, os demônios se aproveitarão.[48]</p><p>Mantenha a fé no Sutra do Lótus. Não conseguirá extrair fogo da pederneira se desistir no</p><p>meio da tentativa.[49]</p><p>Sem travarmos uma batalha para vencer a ignorância ou a escuridão,</p><p>não podemos manifestar a natureza essencial dos fenômenos ou a natureza</p><p>da Lei. Se não nos empenharmos continuamente na fé, não</p><p>estabeleceremos um estado de vida inabalável, inseparável do estado de</p><p>buda. Isto porque “se enfraquecerem em sua determinação, por pouco que</p><p>seja”, como declara Daishonin, seremos vulneráveis às influências</p><p>maléficas.</p><p>Além disso, quando nos empenhamos na fé, os três obstáculos e as</p><p>quatro maldades surgem infalivelmente. Somente vencendo cada um deles</p><p>podemos consolidar nosso estado de buda. Quando polimos nossa vida no</p><p>nível mais profundo por meio da recitação do daimoku, podemos elevá-</p><p>la, fortalecê-la espiritualmente e expandi-la ilimitadamente.</p><p>O Nam-myoho-renge-kyo é uma prática diligente</p><p>Nichiren Daishonin dedicou-se diligentemente para compartilhar com</p><p>seus seguidores e toda a humanidade a suprema condição de vida interior,</p><p>o estado de buda.</p><p>A recitação do Nam-myoho-renge-kyo é realmente uma prática</p><p>extraordinária por possibilitar a cada pessoa manifestar a mesma</p><p>condição de vida que o Buda e conduzir uma existência de profundo</p><p>significado. Isso está claro na famosa passagem do Registro dos</p><p>Ensinamentos Transmitidos Oralmente:</p><p>Se num único momento da vida exaurirmos as dores e provações de milhões de kalpa,</p><p>então, instante a instante, surgirão em nós os três corpos do buda de que somos eternamente</p><p>dotados. Nam-myoho-renge-kyo é apenas essa prática diligente.[50]</p><p>Eu era jovem quando o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei</p><p>Toda, explanou-me essa passagem. Desde então, eu a tenho como diretriz</p><p>pessoal e base de tudo o que empreendo.</p><p>O capítulo “Emergindo da Terra” (15o) do Sutra do Lótus, descreve o</p><p>surgimento de incontáveis bodisatvas que emergem das profundezas do</p><p>solo: os bodisatvas da terra. Esse capítulo esclarece que eles têm</p><p>habitado o espaço vazio situado sob o mundo saha e buscado o caminho</p><p>do buda constante e diligentemente. Essa citação de Registro dos</p><p>Ensinamentos Transmitidos Oralmente elucida a natureza desse esforço</p><p>incansável do ponto de vista do Budismo Nichiren. Sua essência é que,</p><p>aqueles que se dedicam continuamente à busca do caminho, manifestam</p><p>automaticamente o estado de buda eternamente dotado dos três corpos; em</p><p>outras palavras, evidenciam seu próprio estado de buda intrínseco.</p><p>Quando recitamos daimoku como se concentrássemos os árduos</p><p>esforços de incalculáveis éons num único momento, ou seja, exaurindo os</p><p>sofrimentos e as provações de milhões de kalpa, sentimos irromper em</p><p>nós, a cada instante, o estado de buda eternamente dotado dos três corpos.</p><p>O Nam-myoho-renge-kyo é uma prática diligente. Manifestar uma</p><p>profunda fé e continuar recitando daimoku requer esforço constante.</p><p>Persistir nessa prática com sinceridade fará com que, nesta existência,</p><p>manifestemos o estado de buda. Mediante esses esforços, nosso estado de</p><p>buda inerente – o buda eternamente dotado dos três corpos – evidencia-se</p><p>na forma de coragem, perseverança, alegria, sabedoria e benevolência</p><p>ilimitadas.</p><p>Orar para que surjam jovens de coragem e vigor</p><p>Esforço é algo que requer uma postura corajosa e vigorosa. Sem</p><p>coragem e sem energia, não há esforço. O primeiro presidente da Soka</p><p>Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, também viveu com coragem. Certa</p><p>ocasião, ele disse aos jovens: “Esforcem-se com energia e coragem!</p><p>Budismo significa ação, e praticá-lo requer esforços constantes. Mesmo</p><p>com minha idade avançada, é isso que continuo fazendo”.</p><p>O presidente Josei Toda também costumava dizer aos jovens:</p><p>Aqueles que anseiam pela felicidade da humanidade devem primeiro, buscar pessoalmente</p><p>a essência dessa nobre filosofia da revolução humana e empenhar-se com coragem e energia</p><p>para enfrentar e vencer todas as manifestações dos três poderosos inimigos e dos três</p><p>obstáculos e das quatro maldades.</p><p>O meu sentimento é exatamente o mesmo. Oro fervorosamente para</p><p>que, em todo o mundo, surjam discípulos valentes e vigorosos, jovens de</p><p>coragem e cheios de energia. Este é meu sincero desejo, minha oração</p><p>diária.</p><p>O empenho corajoso e vigoroso é uma importante característica da</p><p>relação de mestre e discípulo na Soka Gakkai.</p><p>O daimoku é</p><p>a força motriz para o progresso e a vitória. Todo desafio</p><p>deve começar com a oração. Ninguém se iguala às pessoas que recitam</p><p>daimoku constantemente.</p><p>Recitando diligentemente Nam-myoho-renge-kyo todas as manhãs e</p><p>noites, vamos polir nosso interior e estabelecer uma vida de sucessivas</p><p>vitórias.</p><p>PARTE 6</p><p>NATUREZA MÍSTICA DA VIDA</p><p>Qual é, então, o significado de myo? Myo é simplesmente a misteriosa natureza de nossa</p><p>vida a cada momento, que a mente não consegue compreender e que não pode ser expressa em</p><p>palavras. Se observarmos nossa mente em qualquer momento, perceberemos que ela não</p><p>apresenta cor nem forma para comprovar sua existência. No entanto, não podemos dizer que</p><p>ela não existe pelo fato de incessantes pensamentos nos ocorrerem. Desse modo, a mente não</p><p>pode ser considerada como algo existente nem inexistente. A vida é, de fato, uma realidade</p><p>impalpável que transcende tanto as palavras como os conceitos de existência e não existência.</p><p>Não é existência nem não existência; porém, mostra características de ambas. É a entidade</p><p>mística do caminho do meio, ou seja, a realidade fundamental. Myo é o nome dado à natureza</p><p>mística da vida, e ho, às suas manifestações. Renge, que significa flor de lótus, simboliza as</p><p>maravilhas da Lei. Se compreendermos que nossa vida neste momento é myo, então</p><p>compreenderemos também que, em outros momentos, ela é a Lei Mística. Essa percepção é a</p><p>natureza mística de kyo, ou sutra. O Sutra do Lótus é o rei dos sutras, o caminho direto para a</p><p>iluminação, pois explica que a entidade de nossa vida – que manifesta tanto o bem como o mal</p><p>em cada momento – é, na verdade, a entidade da Lei Mística.[51]</p><p>“O que importa é o coração” declara Nichiren Daishonin. Nossa</p><p>mente ou nosso coração é realmente prodigioso e inescrutável. Podemos</p><p>expandir e aprofundar o domínio de nosso espírito de forma ilimitada.</p><p>O coração pode experimentar uma alegria infinita, uma sensação de</p><p>liberdade absoluta, como um voo pelo imenso céu azul. Ele pode</p><p>envolver com calor e benevolência todos os que sofrem, como a luz</p><p>brilhante do sol, que a tudo ilumina. O coração pode, muitas vezes,</p><p>estremecer de ira justificada e vencer o mal como um leão justiceiro. De</p><p>fato, nossa mente ou coração muda a cada instante, como a paisagem vista</p><p>quando estamos em movimento ou como cenas de uma peça teatral. No</p><p>entanto, nada é mais surpreendente que sua capacidade de manifestar o</p><p>estado de buda. Mesmo as pessoas oprimidas pelo sofrimento e a ilusão</p><p>podem fazer surgir das profundezas da vida o estado de buda e</p><p>experimentar a unicidade com o Universo. Esse comovente drama de</p><p>transformação é o maior prodígio do ser humano.</p><p>O budismo afirma que todas as pessoas possuem a suprema nobreza e</p><p>o potencial para essa grande e profunda mudança. No escrito em pauta,</p><p>Nichiren Daishonin conclui que, quando aprimoramos nossa vida</p><p>recitando o Myoho-renge-kyo, podemos evidenciar o estado de buda por</p><p>mais envolvidos que estejamos pelas ilusões, e poderemos converter a</p><p>terra mais impura numaterra pura.</p><p>Myoho-renge-kyo é o nome da “verdade mística inerente nos seres</p><p>vivos”. Consequentemente, com a recitação do Nam-myoho-renge-kyo,</p><p>podemos revelar nosso estado de buda, ou seja, polir o “espelho</p><p>embaçado” de uma “mente que se encontra encoberta pela ilusão da</p><p>escuridão inata da vida” e transformá-lo num “espelho límpido, que</p><p>refletirá a natureza essencial dos fenômenos e da realidade”. Em outras</p><p>palavras, manifestando a verdade mística que reside em nós, podemos</p><p>ativar nosso infinito potencial interior. O estado de buda é uma condição</p><p>de vida idêntica ao Myoho-renge-kyo, a verdade mística primordial. Esse</p><p>estado de vida supremo também é chamado de Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>A passagem que analisarei desta vez explica a relação entre Myoho-</p><p>renge-kyo e a mente ou o coração dos seres vivos, em termos dos</p><p>elementos myo, ho, renge e kyo. Esta explicação pode servir para</p><p>descrever de que maneira nossa vida se funde com o Myoho-renge-kyo e</p><p>manifesta o estado de buda. Consideremos, então, o profundo significado</p><p>desta passagem.</p><p>A mente é a entidade mística</p><p>do caminho do meio</p><p>Logo no início, Nichiren Daishonin diz que myo, de Myoho-rengekyo,</p><p>significa a natureza mística de nossa vida a cada instante. Para descrever</p><p>essa natureza prodigiosa e insondável, ele utiliza os conceitos de</p><p>“existência” e “não existência”.</p><p>Nossa mente se encontra num fluxo constante; muda como a maré, num</p><p>vaivém de incontáveis pensamentos e emoções. Nichiren Daishonin diz:</p><p>Se observarmos nossa mente em qualquer momento, perceberemos que ela não apresenta</p><p>cor nem forma para comprovar sua existência. No entanto, não podemos dizer que ela não</p><p>existe pelo fato de incessantes pensamentos nos ocorrerem. Desse modo, a mente não pode ser</p><p>considerada como algo existente nem inexistente. A vida é, de fato, uma realidade impalpável</p><p>que transcende tanto as palavras como os conceitos de existência e não existência. Não é</p><p>existência nem não existência; porém, mostra características de ambas.</p><p>Nichiren Daishonin descreve a forma mística que a mente adota</p><p>chamando-a de “entidade mística do caminho do meio, ou seja, a</p><p>realidade fundamental”. O caminho do meio não se refere simplesmente a</p><p>um ponto médio entre dois extremos, mas a uma perspectiva mais elevada</p><p>que não se deixa oscilar, por abarcar ambos. Shakyamuni estabeleceu uma</p><p>sólida filosofia e uma prática transcendente às duas posturas extremas</p><p>dominantes em sua época: o hedonismo[52] e o ascetismo[53]. Ele as</p><p>chamou de “caminho do meio”.</p><p>No escrito que ora estudamos, Nichiren Daishonin diz que a verdade</p><p>suprema, que transcende os dois extremos da existência e não existência</p><p>e, ao mesmo tempo, manifesta ambos, é o caminho do meio e, como</p><p>constitui o epítome da verdade, também a chama de “realidade</p><p>fundamental”.</p><p>Transcender a existência e a não existência também pode significar</p><p>transcender os fenômenos transitórios que se alternam sem cessar entre</p><p>existência e não existência. Além disso, o fato de exibir as características</p><p>de ambas e, ao mesmo tempo, transcendê-las, não diz respeito a um ser</p><p>absoluto ou transcendental, separado dos fenômenos transitórios, mas</p><p>indica a verdade eterna que incorpora os fenômenos impermanentes.</p><p>Embora neste escrito Nichiren Daishonin explique a natureza mística</p><p>de nossa vida ou mente em termos de conceitos de existência e não</p><p>existência, o que ele diz nesses trechos é similar ao conceito da não</p><p>substancialidade, postulado por Nagarjuna, e aos conceitos da unificação</p><p>das três verdades e da contemplação tríplice numa única mente, expostos</p><p>por Tiantai. Em essência, a “entidade mística do caminho do meio, ou</p><p>seja, a realidade fundamental” mencionada por Nichiren Daishonin,</p><p>refere-se à nossa vida ou mente, que é una com a realidade fundamental –</p><p>um conceito que pode ser expresso de diversas formas: não</p><p>substancialidade, unificação das três verdades ou contemplação tríplice</p><p>numa única mente.</p><p>Renge refere-se ao princípio da</p><p>“simultaneidade de causa e efeito”</p><p>Nichiren Daishonin declara a seguir que ho, “Lei” ou “fenômeno”, é o</p><p>nome dado às manifestações da natureza mística de nossa vida ou mente –</p><p>um termo que também é expresso como “mente prodigiosa” ou “mente de</p><p>myo”. A “mente de myo” é a própria Lei Mística. O termo “Lei Mística”</p><p>não pode ser aplicado a palavras e teorias abstratas, mesmo que se trate</p><p>de conceitos como a não substancialidade ou a unificação das três</p><p>verdades. A Lei Mística somente pode ser propagada como guia ou</p><p>bússola e como ensinamento ou Lei (ho) para as pessoas seguirem quando</p><p>expressa na mais elevada sabedoria humana fundamentada no caminho do</p><p>meio.</p><p>Nichiren Daishonin ainda afirma: “Renge, que significa flor de lótus,</p><p>simboliza as maravilhas da Lei”. A Lei Mística é invisível aos olhos</p><p>humanos. Por isso, o Buda vale-se de uma metáfora para ajudar as</p><p>pessoas a compreender a natureza prodigiosa e mística da Lei. Esse é o</p><p>significado de renge, “flor de lótus”.</p><p>Por que ele emprega a flor de lótus como analogia? Normalmente, as</p><p>plantas dão primeiro flores e depois, os frutos. Essa</p><p>relação costuma ser</p><p>usada para ilustrar a causalidade linear ou sequencial, em que as flores</p><p>representam a causa, e os frutos, o efeito. No budismo, essa relação é</p><p>chamada de não simultaneidade de causa e efeito. Em contraste, no caso</p><p>da flor de lótus, suas pétalas e seu receptáculo [que contém o fruto] se</p><p>abrem ao mesmo tempo. Em outras palavras, o fruto é produzido no</p><p>mesmo instante em que a flor desabrocha. Por essa razão, o lótus</p><p>simboliza o princípio da “simultaneidade de causa e efeito”.</p><p>Os ensinamentos provisórios, anteriores ao Sutra do Lótus, não</p><p>expunham que a causa para atingir o estado de buda é inerente à vida de</p><p>todas as pessoas. Em vez disso, ensinavam que somente se podia atingir o</p><p>estado de vida de um buda depois de incontáveis éons de dedicação à</p><p>prática budista. Neste caso, a causa e o efeito não são simultâneos.</p><p>Porém, os ensinamentos do Sutra do Lótus esclarecem que todas as</p><p>pessoas são dotadas do estado de buda e podem revelá-lo</p><p>instantaneamente. Em outras palavras, a mente de uma pessoa comum,</p><p>sujeita a ilusões enganosas, pode se transformar num instante na mente de</p><p>myo [a iluminação suprema] de um buda. A flor de lótus simboliza essa</p><p>simultaneidade de causa e efeito.</p><p>Manter a mente de myo é o kyo místico</p><p>Nichiren Daishonin explica que kyo, de Myoho-renge-kyo, significa</p><p>“sutra” e refere-se à compreensão da natureza mística da vida. Ele</p><p>afirma: “Se compreendermos que nossa vida neste momento é myo, então</p><p>compreenderemos também que, em outros momentos, ela é a Lei Mística”.</p><p>Kyo é escrito com um ideograma chinês que representa os fios</p><p>verticais de um tear ou de um tecido; também é empregado para descrever</p><p>a passagem do tempo. É nesse sentido que Nichiren Daishonin fala de</p><p>nossa vida ou mente “neste momento” e de nossa vida ou mente “em</p><p>outros momentos”. Nossa vida ou mente está sempre mudando, mas</p><p>quando vencemos nossa escuridão ou ignorância fundamental com a</p><p>recitação de daimoku com firme fé, a verdade mística inata se manifesta</p><p>em nós, e a vida de Myoho-renge [literalmente, o lótus da Lei Mística]</p><p>floresce em nosso coração.</p><p>Dia após dia, por meio da prática da recitação do daimoku, podemos</p><p>acumular as causas e os efeitos para atingir o estado de buda, que nos</p><p>permite transformar a mente encoberta pela escuridão inata na mente que</p><p>reflete a natureza essencial dos fenômenos e o verdadeiro aspecto da</p><p>realidade. As virtudes dessas causas e desses efeitos tornam-se, ao longo</p><p>do tempo, a medula e o esqueleto de nosso ser, e nossa vida e</p><p>personalidade são adornadas com as flores de inúmeros benefícios. Este</p><p>é o kyo místico no que se refere à nossa vida individual.</p><p>Podemos também considerar o kyo místico como a propagação da Lei</p><p>Mística de nós para outras pessoas. Se considerarmos que nossa vida</p><p>“neste momento” é a mente ou a vida do Buda, e que nossa vida “em</p><p>outros momentos” é a mente de todos os seres vivos, então kyo se refere</p><p>aos ensinamentos do Buda, que expõem aspectos de sua iluminação no</p><p>tocante à natureza mística da vida, ou seja, à mente de myo. O rei dos</p><p>sutras, que esclarece diretamente o coração ou mente de myo, é o Sutra do</p><p>Lótus, cuja essência é Myoho-renge-kyo. Nesse sentido, poderíamos dizer</p><p>que o kyo místico corresponde ao desenvolvimento do kosen-rufu,</p><p>sustentado pela atuação abnegada das pessoas que propagam a Lei</p><p>Mística e recitam Nam-myoho-renge-kyo por sua felicidade e a de seus</p><p>semelhantes e que ensinam os outros a fazerem o mesmo.</p><p>Como já vimos, Myoho-renge-kyo é a Lei inerente à nossa vida. A</p><p>transformação contínua de nosso coração e de nossa mente, que se produz</p><p>com a recitação do daimoku, resulta não só na mudança interior profunda</p><p>como também na transformação de todo o nosso modo de vida,</p><p>colocando-nos na rota para atingirmos o estado de buda nesta existência,</p><p>e gera um grande movimento em direção ao kosen-rufu, ou seja, a</p><p>transformação de toda a humanidade. A força dinâmica da mudança, em</p><p>todos os níveis, é Myoho-renge-kyo.</p><p>Sejamos o mestre de nossa mente</p><p>Como Myoho-renge-kyo é a Lei inerente à nossa vida, há outro tópico</p><p>que devo mencionar: a relação entre a mente repleta de ilusão, encoberta</p><p>pela escuridão inata, e a mente de myo, iluminada pela natureza essencial</p><p>dos fenômenos e o verdadeiro aspecto da realidade.</p><p>Se seguirmos a mente repleta de ilusão das pessoas comuns, que tende</p><p>a ser fraca e facilmente influenciada, nosso potencial interior pode</p><p>definhar em pouco tempo ou, pior, nossa vida pode sucumbir aos</p><p>impulsos negativos e destrutivos. Este é um problema que provém da</p><p>sutileza da mente. Pelo fato de a mente ou o coração ser a chave para</p><p>atingir o estado de buda nesta existência, não devemos ser derrotados por</p><p>nossa fraqueza intrínseca. Esse é o propósito da prática budista. A mente</p><p>das pessoas comuns, sujeita à ilusão, oscila a todo o momento. Por isso,</p><p>não devemos deixar que essa mente instável seja nosso guia ou mestre.</p><p>Nichiren Daishonin ressalta esse ponto nesta famosa passagem:</p><p>“Devemos ser mestres de nossa mente em vez de permitir que ela nos</p><p>domine”.[54] Trata-se de uma citação do Sutra dos Seis Paramita, cujo</p><p>texto original diz:</p><p>Nossa mente pode, subitamente, escapar de nosso controle. Por isso, devemos domá-la</p><p>como se fosse um elefante selvagem, e não permitir que ela se torne nosso mestre. Em vez</p><p>disso, nós é quem devemos ser seu mestre.</p><p>O Sutra do Nirvana contém um trecho similar: “Oro para que venha a</p><p>se tornar mestre de sua mente, em vez de permitir que ela o domine”.</p><p>Nichiren Daishonin cita essa advertência muitas vezes e a apresenta como</p><p>diretriz para todos os seus seguidores.</p><p>Para nos tornar mestre de nossa mente, precisamos ter uma excelente</p><p>bússola na vida e um brilhante farol na fé. Não podemos nos permitir</p><p>governar pela natureza inconstante, fraca e mutável da mente sujeita a</p><p>ilusões de uma pessoa comum. Para sermos mestres de nossa mente,</p><p>devemos conduzi-la na direção correta. Dessa forma, o verdadeiro mestre</p><p>da mente é a Lei e os ensinamentos do Buda. Shakyamuni proferiu o</p><p>juramento de que o mestre de sua mente seria a Lei para a qual havia se</p><p>iluminado; seu orgulho era viver fiel a esse juramento. Esse modo de vida</p><p>corresponde ao trecho “procurar refúgio na Lei”, proferida por</p><p>Shakyamuni como instrução final aos seus discípulos antes de morrer.</p><p>Os sacerdotes das várias escolas budistas, da época de Daishonin,</p><p>esqueceram-se desse espírito de Shakyamuni. Seguindo o próprio</p><p>pensamento ou as ideias arbitrárias, perderam de vista os ensinamentos</p><p>do Buda, mancharam o Sutra do Lótus e sucumbiram à arrogância. Em</p><p>contraste, Nichiren Daishonin ensinou que o verdadeiro mestre da mente é</p><p>Myoho-renge-kyo – o coração do Sutra do Lótus e a Lei fundamental de</p><p>todos os budas –, e estabeleceu a prática concreta da recitação do Nam-</p><p>myoho-renge-kyo para dominar a mente. Ele também enfatizava com</p><p>frequência a seus discípulos a postura primordial na fé, o espírito de</p><p>procura, a cada instante, do verdadeiro mestre da mente: a Lei Mística.</p><p>Por exemplo, quando um dos irmãos Ikegami foi deserdado pelo pai</p><p>por causa da fé, Nichiren Daishonin encorajou a ambos dizendo-lhes que</p><p>esse, precisamente, era o momento para se unir e superar a situação com</p><p>base na fé. Ele lhes oferece a seguinte orientação:</p><p>Um trecho do Sutra dos Seis Paramita nos ensina que devemos ser mestres de nossa</p><p>mente em vez de permitir que ela nos domine.</p><p>Não importando que problema ocorra, considere-o simplesmente como um sonho, e</p><p>concentre-se no Sutra do Lótus.[55]</p><p>Por mais difíceis que sejam as circunstâncias que tenhamos de</p><p>enfrentar, poderemos infalivelmente transformá-las se não vacilarmos na</p><p>fé. A fé é uma batalha contra nossa própria fraqueza. Nichiren Daishonin</p><p>nos ensina que, para triunfar nessa batalha, devemos nos basear com toda</p><p>a sinceridade no Sutra do Lótus – a Lei Mística –, sem nos deixar</p><p>influenciar pela fraqueza interior.</p><p>O caminho de mestre e discípulo</p><p>fundamentado na Lei</p><p>O triunfo que os irmãos Ikegami conquistaram nos exorta a</p><p>aprendermos o espírito da unicidade de mestre e discípulo. Estes dois</p><p>seguidores conseguiram superar</p><p>a difícil provação, ou seja, enxergar a</p><p>manipulação de Ryokan, do templo Gokuraku-ji, por trás dos atos do pai</p><p>e, no fim, conquistaram a vitória mais surpreendente – fazer com que o</p><p>pai abraçasse a fé – precisamente porque seguiram à risca a orientação</p><p>dada por Nichiren Daishonin.</p><p>Deixarmo-nos dominar por nossa mente é viver de maneira</p><p>egocêntrica. Em última análise, arrastados a todo momento por nossos</p><p>pensamentos mutáveis, sucumbimos ao egoísmo e mergulhamos na</p><p>ignorância e escuridão mais profundas. Do contrário, ser mestre de nossa</p><p>mente é viver com base na Lei.</p><p>Mestre, no budismo, é aquele que conduz as pessoas à Lei e as põe em</p><p>contato com ela; que lhes ensina que a Lei na qual devem confiar existe</p><p>dentro da própria vida. Os discípulos, por sua vez, buscam o mestre que</p><p>incorpora essa Lei nas próprias ações e vive em unicidade com ela. Os</p><p>discípulos se empenham na prática budista tendo o mestre como exemplo.</p><p>Seu modo de vida lhes permite ser mestre da própria mente.</p><p>Para atingir o estado de buda nesta existência, é imprescindível ter um</p><p>mestre que incorpore a Lei e viva totalmente de acordo com ela, e que</p><p>ensine às pessoas o imenso potencial que elas possuem.</p><p>Eu tive um mestre que praticou em exata conformidade com o que o</p><p>Buda ensinou: o segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, que</p><p>dedicou sua existência à ampla propagação do Budismo Nichiren na era</p><p>moderna. Ele fez de mim o que sou. O presidente Josei Toda sempre está</p><p>ao meu lado, como mestre espiritual. Ainda hoje, dia a dia e minuto a</p><p>minuto, converso com meu mestre em meu coração. Este é o espírito de</p><p>unicidade de mestre e discípulo. Os que têm o mestre como bússola e se</p><p>empenham em conformidade com o que ele ensina são pessoas que vivem</p><p>com base na Lei. Tanto o Budismo Nichiren como o Sutra do Lótus</p><p>fundamentam-se na unicidade de mestre e discípulo.</p><p>Na última parte deste escrito, para destacar a importância da relação</p><p>de mestre e discípulo para atingir o estado de buda nesta existência,</p><p>Nichiren Daishonin cita uma passagem do capítulo “Os Poderes</p><p>Sobrenaturais d’Aquele que assim Chega” (21o) do Sutra do Lótus.</p><p>Deixarei para a próxima parte a análise detalhada do significado dessa</p><p>passagem. Por ora, gostaria de ressaltar que o caminho para atingir o</p><p>estado de buda nesta existência se encontra na prática dos bodisatvas da</p><p>terra que recitam Nam-myoho-renge-kyo – a Lei inerente à vida – para</p><p>sua felicidade e a de seus familiares, e ensinam outros a realizar a mesma</p><p>prática.</p><p>Antes de tudo, o grande caminho que nos conduz ao estado de buda</p><p>nesta existência encontra-se na prática da fé embasada no espírito de</p><p>unicidade de mestre e discípulo, na unicidade de nosso coração e o nobre</p><p>coração do Buda, sem deixarmo-nos influenciar pela escuridão inerente</p><p>nem pelos três venenos da avareza, ira e estupidez. A fé embasada no</p><p>espírito de mestre e discípulo é a chave para abrir a arca do tesouro que</p><p>existe em nossa vida, imensurável como o Universo. Em síntese, o</p><p>empenho corajoso na recitação do daimoku e nas ações pelo kosen-rufu é</p><p>o caminho direto para atingir a iluminação nesta existência.</p><p>PARTE 7</p><p>FÉ PARA ATINGIR O ESTADO DE BUDA</p><p>NESTA EXISTÊNCIA</p><p>Se o senhor recitar Myoho-renge-kyo com profunda fé neste princípio, infalivelmente</p><p>atingirá o estado de buda nesta existência. Eis o motivo de o sutra declarar: “Após eu ter entrado</p><p>em extinção, deve abraçar e manter este sutra. Essa pessoa segura e infalivelmente atingirá o</p><p>caminho do buda”. Não tenha a mínima dúvida disso.</p><p>Respeitosamente.</p><p>Mantenha a fé e atinja o estado de buda nesta existência. Nam-myoho-renge-kyo, Nam-</p><p>myoho-renge-kyo.</p><p>Nichiren[56]</p><p>Os pássaros sabem distinguir o caminho no ar; os peixes conseguem</p><p>reconhecer o rumo que devem seguir nas águas. Do mesmo modo, há um</p><p>caminho que conduz os seres humanos para a felicidade. As pessoas</p><p>comuns não enxergam esse caminho, mas os olhos de buda o veem tão</p><p>claro quanto o dia.</p><p>Nichiren Daishonin revelou essa trilha indestrutível para a felicidade</p><p>de todos os seres humanos – o grande caminho para atingir o estado de</p><p>buda nesta existência, que não é outro senão a recitação do daimoku.</p><p>Assim como as trilhas dos pássaros e dos peixes, a recitação do</p><p>Nam-myoho-renge-kyo é o caminho mais natural para os seres humanos</p><p>atingirem a iluminação. Isto porque a prática do daimoku constitui o</p><p>meio para revelar “a verdade mística inerente nos seres vivos”. Nichiren</p><p>Daishonin ressalta o modo natural como o daimoku age para nos</p><p>possibilitar manifestar essa verdade mística inata. Como exemplo, cito</p><p>as seguintes frases:</p><p>As práticas de Shakyamuni e as virtudes que ele consequentemente adquiriu estão todas</p><p>contidas nos cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo. Se acreditarmos nesses cinco</p><p>ideogramas, naturalmente receberemos os mesmos benefícios obtidos por ele.[57]</p><p>Os cinco ideogramas do Myoho-renge-kyo não representam o texto do sutra, nem</p><p>indicam o seu significado. São nada menos que o propósito do sutra inteiro. Assim, embora os</p><p>iniciantes na prática budista não compreendam seu significado, ao recitarem esses cinco</p><p>ideogramas, eles naturalmente sintonizarão com a intenção do sutra.[58]</p><p>Eu e meus discípulos, ainda que ocorram vários obstáculos, desde que não se crie a</p><p>dúvida no coração, atingiremos naturalmente o estado de buda.[59]</p><p>Como Myoho-renge-kyo é a Lei inerente à vida, para a qual o Buda</p><p>se iluminou, recitar o daimoku constitui a prática infalível para</p><p>atingirmos a iluminação. Por isso, Nichiren Daishonin afirma:</p><p>“Infalivelmente atingirá o estado de buda nesta existência”.</p><p>Porém, embora brademos que a recitação da Lei Mística é o caminho</p><p>mais natural, não significa que não precisamos fazer nenhum esforço</p><p>pessoal. Como acontece com qualquer caminho, para que as pessoas</p><p>possam usá-lo é necessário, antes, abrir uma passagem, remover</p><p>obstruções e assentar uma trilha livre e transitável. Da mesma forma, o</p><p>caminho da recitação do daimoku requer empenho para manter a</p><p>convicção de que o Myoho-renge-kyo existe em nosso interior e para</p><p>vencer a escuridão fundamental inerente em nós.</p><p>Quando adquirimos fé nos cinco caracteres do Myoho-renge-kyo,</p><p>podemos transformar positivamente os ciclos do negativismo, da ilusão</p><p>e do sofrimento que repetimos ao longo da vida em decorrência de nossa</p><p>escuridão e ignorância inatas, e gravar nas profundezas de nosso ser a</p><p>causa para manifestar o estado de buda nesta existência.</p><p>Neste caso, a fé é a causa, e a manifestação do estado de buda, o</p><p>efeito. Portanto, gravar a causa para a iluminação significa vencer a</p><p>escuridão inata, a origem dos males e sofrimentos, por meio da fé e</p><p>estabelecer em nossa vida o ritmo vibrante e ativo do Myoho-renge-kyo,</p><p>a verdade mística inerente. O estado de buda é uma condição em perfeita</p><p>sintonia com esse ritmo do Myoho-renge-kyo.</p><p>Por meio da recitação do daimoku, a causa para atingir o estado de</p><p>buda, conseguimos suplantar o negativismo que existe em nossa vida.</p><p>Quando desenvolvemos uma fé realmente forte, inabalável ante qualquer</p><p>ataque da escuridão fundamental ou das funções da maldade, a causa</p><p>para atingir o estado de buda se estabelece firmemente no âmago de</p><p>nosso ser.</p><p>A fé, portanto, é absolutamente essencial. Por isso, Nichiren</p><p>Daishonin ressalta: “Se o senhor recitar Myoho-renge-kyo com profunda</p><p>fé neste princípio, infalivelmente atingirá o estado de buda nesta</p><p>existência”.</p><p>Ao longo do escrito em pauta, Nichiren Daishonin frisa a importância</p><p>da fé. Por exemplo, ele diz: “Deve ter a profunda fé”, e “Manifeste</p><p>profunda fé”. Ele nos ensina que aprofundar a fé ou a convicção é o</p><p>magnificente caminho para atingir a iluminação.</p><p>A chave para nossa iluminação como pessoas comuns depende da</p><p>profundidade de nossa crença nessa verdade – ou seja, ao manifestarmos</p><p>a Lei Mística inerente em nossa vida, podemos seguramente atingir o</p><p>estado de buda.</p><p>Somente os bodisatvas da terra</p><p>são capazes de recitar o daimoku</p><p>O tipo de fé necessário para atingir o estado de buda nesta existência</p><p>poderia, portanto, ser descrito como uma fé que se aprofunda cada vez</p><p>mais. Essa convicção é, realmente,</p><p>o que caracteriza os bodisatvas da</p><p>terra. Nichiren Daishonin diz: “Esses bodisatvas são os únicos que</p><p>foram plenamente forjados em sua determinação”.[60] Em outras palavras,</p><p>tinham uma fé firme e absoluta.</p><p>No final do escrito em pauta, Nichiren Daishonin cita um trecho do</p><p>capítulo “Os Poderes Sobrenaturais d’Aquele que Assim Chega” (21o)</p><p>do Sutra do Lótus: “Depois de eu ter entrado em extinção, devem aceitar</p><p>e manter este sutra. Quem o fizer atingirá, com toda a certeza, o caminho</p><p>do buda”.[61] Nichiren Daishonin cita esta passagem como prova</p><p>documental da iluminação atingida por ele mediante a recitação do</p><p>daimoku do Sutra do Lótus, Myoho-renge-kyo. Podemos interpretar esse</p><p>trecho do seguinte modo: a firme e absoluta fé mantida pelos bodisatvas</p><p>da terra é, precisamente, a fé requerida para se atingir o estado de buda</p><p>nesta existência.</p><p>No capítulo “Os Poderes Sobrenaturais d’Aquele que Assim Chega”,</p><p>Shakyamuni transfere a essência do Sutra do Lótus ao bodisatva Práticas</p><p>Superiores e aos demais bodisatvas da terra. Então, ele explica,</p><p>sucintamente, como esses bodisatvas deverão se empenhar na</p><p>propagação após sua morte. Como conclusão, Nichiren Daishonin cita a</p><p>frase do 21o capítulo que ressalta os “benefícios da propagação” no final</p><p>de Atingir o Estado de Buda nesta Existência.</p><p>“Deve abraçar e manter este sutra” significa aceitar e manter o</p><p>daimoku do Sutra do Lótus, Myoho-renge-kyo, a essência do</p><p>ensinamento transmitido pelo Buda ao bodisatva Práticas Superiores.</p><p>Em O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos, Daishonin diz:</p><p>“Se não fossem bodisatvas da terra, não seriam capazes de recitar</p><p>daimoku”.[62] Então, o que torna a recitação do daimoku tão difícil? Se</p><p>analisarmos profundamente, é porque romper a escuridão fundamental e</p><p>triunfar sobre as funções maléficas requer que recitemos o Nam-myoho-</p><p>renge-kyo com uma fé firme e absoluta.</p><p>Recitar daimoku e ensinar os outros</p><p>a fazer o mesmo</p><p>O verdadeiro significado do daimoku recitado pelos bodisatvas da</p><p>terra se encontra não só na realização da prática pessoal, mas em ensinar</p><p>outros a fazer o mesmo. Ou seja, no empenho na prática para si</p><p>[individual] e na prática para os outros [altruística].</p><p>Em seu tratado O Recebimento das Três Grandes Leis Secretas,</p><p>Nichiren Daishonin observa que, nos Médios Dias da Lei,[63] Tiantai e</p><p>seu mestre Nanyue recitaram o daimoku do Sutra do Lótus. No entanto,</p><p>eles realizaram essa prática individualmente, não tinham o propósito de</p><p>ensiná-la para os outros. Em contraste, Nichiren Daishonin revela que</p><p>não só recitou o daimoku para si próprio como também ensinou essa</p><p>prática aos outros.</p><p>O daimoku dos Médios Dias foi apenas uma forma simbólica para</p><p>perceber a verdade mística; não foi empregado para conduzir as pessoas</p><p>à iluminação. Em contrapartida, o daimoku de Nichiren Daishonin</p><p>compreende as práticas para si e para os outros – porque tem o poder</p><p>real de dissipar a escuridão fundamental e possibilitar a cada pessoa</p><p>revelar seu estado de buda inato.</p><p>Em O Objeto de Devoção para observar a Mente, Nichiren</p><p>Daishonin se refere à recitação do daimoku que ele estabeleceu como “a</p><p>prática verdadeira dos cinco ideogramas do Nam-myoho-renge-kyo”.[64]</p><p>“Prática verdadeira”, neste caso, significa recitar daimoku de fé e de</p><p>prática e estabelecer a causa do estado de buda como uma realidade em</p><p>nossa vida.</p><p>A prática verdadeira do daimoku dos bodisatvas da terra nos</p><p>Últimos Dias da Lei corresponde a recitar daimoku pela iluminação das</p><p>pessoas, uma prática orientada para a felicidade de si próprio e dos</p><p>demais.</p><p>Nichiren Daishonin diz em O Verdadeiro Aspecto de Todos os</p><p>Fenômenos: “No início, somente Nichiren recitou o Nam-myoho-renge-</p><p>kyo, mas depois, duas, três, cem pessoas o seguiram, recitando e</p><p>ensinando aos outros”.[65] A essência do daimoku reside, portanto, em</p><p>recitá-lo e ensiná-lo aos outros.</p><p>O daimoku que os bodisatvas da terra recitam é caracterizado por</p><p>uma fé profunda e forte para superar a escuridão e as funções maléficas,</p><p>e por uma prática destinada a si e aos outros. É, fundamentalmente, uma</p><p>“fé dedicada ao kosen-rufu”.</p><p>Pouco depois de Nichiren Daishonin declarar publicamente seu</p><p>ensinamento, disposto a enfrentar todos os obstáculos, ele compôs este</p><p>escrito, no qual esclarece o princípio para atingir o estado de buda nesta</p><p>existência. Jamais devemos nos esquecer de que a vida de Nichiren</p><p>Daishonin, uma batalha histórica para propagar os cinco caracteres do</p><p>Myoho-renge-kyo, foi uma sucessão de grandes dificuldades e</p><p>perseguições. Se perdermos de vista esse enfoque, de como Nichiren</p><p>Daishonin propagou a Lei Mística, todo estudo sobre a consecução do</p><p>estado de buda nesta existência não passará de mera intelectualidade</p><p>vazia.</p><p>Devemos refletir profundamente sobre as palavras de Nichiren</p><p>Daishonin: “Desde que nasci até hoje, não conheci um único momento de</p><p>tranquilidade; meu único pensamento tem sido propagar o daimoku do</p><p>Sutra do Lótus”.[66]</p><p>A fé da Soka Gakkai</p><p>está diretamente ligada a Nichiren Daishonin</p><p>Na época atual, quem perseverou na luta para propagar o daimoku de</p><p>Nam-myoho-renge-kyo, com fé diretamente ligada a Nichiren Daishonin,</p><p>foram os três primeiros presidentes da Soka Gakkai, unidos pelo laço</p><p>inseparável de mestre e discípulo. Somente eles lutaram sem poupar a</p><p>própria vida contra grandes perseguições e adversidades, como as que o</p><p>Sutra do Lótus descreve: ódio e inveja, calúnias e insultos, os seis atos</p><p>difíceis e os nove atos fáceis e os três poderosos inimigos.[67] O</p><p>verdadeiro sangue vital ou herança de Nichiren Daishonin flui na vida</p><p>dos mestres e discípulos unidos em prol do kosen-rufu.</p><p>Hoje, o som do daimoku dos verdadeiros bodisatvas da terra ressoa</p><p>pelo mundo inteiro. Sem uma fé voltada para o kosen-rufu e o daimoku</p><p>praticado e propagado pela Soka Gakkai, capaz de vencer os obstáculos,</p><p>o Budismo Nichiren, o caminho para atingir o estado de buda, não</p><p>existiria.</p><p>Quando se mantém uma fé “com espírito de luta” para enfrentar e</p><p>vencer os três obstáculos e as quatro maldades, o estado de buda se</p><p>revela. Não há iluminação sem a luta contra os três poderosos inimigos.</p><p>Os que se dedicam incessantemente pelo kosen-rufu são budas genuínos.</p><p>O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, foi quem nos</p><p>ensinou, de modo concreto, a essência desse grandioso estado de buda.</p><p>A vida de Josei Toda não foi fácil ou tranquila, ao contrário, foi agitada</p><p>e cheia de reveses.</p><p>A busca de uma vida de paz e tranquilidade, livre de problemas, vai</p><p>contra os princípios básicos do budismo. Afinal, a vida de Shakyamuni e</p><p>de Nichiren Daishonin se caracterizaram pela luta árdua e constante,</p><p>muito longe de uma existência contemplativa e sem problemas.</p><p>Pode-se dizer que o verdadeiro espírito budista reside em</p><p>estabelecer um estado de vida elevado e inabalável, que não hesita ante</p><p>o obstáculo mais atroz. Atingir verdadeiramente o estado de buda nesta</p><p>existência significa estabelecer uma fé poderosa e invulnerável a todas</p><p>as funções destrutivas. Foi isso que ensinaram os budas Shakyamuni e</p><p>Nichiren Daishonin com o próprio exemplo.</p><p>Da perspectiva budista, o presidente Josei Toda dedicou sua vida</p><p>para demonstrar o estado de buda atingido por uma pessoa empenhada</p><p>em seguir o mais elevado caminho do ser humano. Como seu discípulo</p><p>verdadeiro e direto, proclamo orgulhosamente a grande vitória da</p><p>revolução humana de meu mestre.</p><p>Cumprir nossa missão</p><p>com transbordante energia vital</p><p>O que é, exatamente, atingir o estado de buda? Ao responder essa</p><p>pergunta, o presidente Josei Toda sempre dizia que era consolidar a</p><p>felicidade eterna. “Atingir o estado de buda”, ele declarava:</p><p>Significa estabelecer um estado de vida que nos possibilite renascer sempre com</p><p>abundante energia vital, cumprir nossa missão de forma plenamente satisfatória, atingir nossas</p><p>metas e acumular uma boa sorte que não pode ser destruída.</p><p>São palavras de grande profundidade filosófica que descrevem de</p><p>maneira essencial a consecução do estado de buda de forma simples e</p><p>direta.</p><p>O presidente Josei Toda disse ainda: “Como é bom poder desfrutar</p><p>dez, cem, mil,</p><p>milhões de existências assim!”</p><p>Ainda posso ouvir a voz de meu mestre, cheia de convicção</p><p>indomável, como o poderoso rugido do rei leão.</p><p>As pessoas que se dedicam à Lei Mística, por sucessivas existências,</p><p>transbordam de energia vital, cumprem a missão do kosen-rufu que</p><p>somente elas são capazes de realizar e desfrutam uma boa sorte imensa e</p><p>indestrutível. Elas podem experimentar livremente esse modo de vida</p><p>em cada uma de suas existências.</p><p>Podemos dizer que atingir o estado de buda nos possibilita ingressar</p><p>nesse caminho eterno. Inúmeros membros da Soka Gakkai têm</p><p>comprovado isso concretamente. Enquanto a prova real da Lei Mística</p><p>continuar florescendo esplendidamente na vida de cada pessoa, a fé da</p><p>Soka Gakkai resplandecerá para sempre. O presidente Josei Toda</p><p>declarou que a vida de cada membro da Soka Gakkai ficaria registrada</p><p>nos sutras do futuro como o “Buda Soka Gakkai”.</p><p>Naturalmente, o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte</p><p>são partes da realidade deste mundo. Nosso corpo físico está sujeito às</p><p>mudanças próprias de todo ciclo de formação, continuação, declínio e</p><p>desintegração como qualquer outro fenômeno do Universo. É natural que</p><p>o corpo enfraqueça com o passar do tempo. Se os praticantes do</p><p>Budismo Nichiren fossem sempre jovens e nunca envelhecessem, iriam</p><p>contra as leis da natureza. No entanto, quando aprimoramos e polimos</p><p>nossa vida por meio da fé, nossa essência interior jamais definha.</p><p>Espero que todos os nossos veteranos e pioneiros que vêm se</p><p>dedicando ao kosen-rufu sinceramente ao longo de décadas, adornem</p><p>com júbilo e vitória o último capítulo de sua vida. Por favor, continuem</p><p>se empenhando com renovada disposição e espírito de desafio. Ao</p><p>lermos os escritos de Nichiren Daishonin, não temos dúvida de que as</p><p>pessoas que forjam esse espírito de luta nesta existência, atingem um</p><p>elevado estado de vida que lhes possibilitam avançar livre e</p><p>alegremente por toda a eterna jornada da vida.</p><p>O presidente Josei Toda costumava comentar, num certo tom de</p><p>brincadeira, ao descrever esse estado livre e irrestrito que abarca o</p><p>Universo inteiro e atravessa a eternidade: “Nós morremos e depois</p><p>renascemos. Eu, particularmente, quero renascer como uma mulher de</p><p>beleza estonteante!” Ele ainda dizia que seria uma beldade famosa no</p><p>mundo inteiro e que as pessoas ao seu redor se acotovelariam para tirar</p><p>fotos e perdir-lhe autógrafos. “Obviamente”, ele complementava,</p><p>“jamais darei meu autógrafo para pessoas maldosas ou repulsivas”.</p><p>Josei Toda faleceu aos 58 anos. Não era, de modo algum, um homem</p><p>idoso. Porém, os dois anos que havia passado na prisão, em defesa de</p><p>suas crenças religiosas durante a Segunda Guerra Mundial, além do</p><p>ritmo frenético de suas atividades nos anos seguintes para reconstruir a</p><p>Soka Gakkai e cumprir com seus deveres como presidente, debilitaram</p><p>seriamente a sua saúde.</p><p>Quando, certa vez, um líder da Soka Gakkai perguntou-lhe por que</p><p>ele estava doente, Josei Toda respondeu: “Minha doença quer dizer que</p><p>amenizei grande parte do efeito do meu mau carma. Em vez de a Soka</p><p>Gakkai ser destruída, eu contraí essa doença”.</p><p>Numa outra ocasião, ele disse a uma pessoa: “[Quando eu morrer],</p><p>acredito que regressarei ao lado de Nichiren Daishonin e permanecerei</p><p>ali uma semana ou dez dias. Levando em conta que, no Universo, há</p><p>incontáveis planetas como a Terra, se Daishonin me pedir para ir a</p><p>algum deles com a missão de lutar pelo kosen-rufu, partirei</p><p>imediatamente para cumprir suas instruções”. Esta era sua elevada</p><p>condição de vida. O presidente Josei Toda estava disposto a ir a</p><p>qualquer lugar para realizar o desejo e o decreto do Buda.</p><p>Josei Toda desejava compartilhar esse imenso estado de vida com o</p><p>máximo de pessoas possível. Para transmitir uma pequena parte da</p><p>iluminação que havia atingido, ele costumava nos ensinar que a condição</p><p>de vida iluminada do Buda se referia à felicidade absoluta. “A</p><p>felicidade absoluta é experimentada no cotidiano, a cada instante de</p><p>nossa vida. É uma sensação de incontida alegria”, dizia.</p><p>Assim sendo, quando nos dedicamos ao kosen-rufu até o fim,</p><p>podemos desfrutar esse elevado estado durante os últimos dias de nossa</p><p>vida. O presidente Josei Toda nos ensinou que isso era prova de termos</p><p>atingido o estado de buda nesta existência, de termos ingressado no</p><p>caminho da felicidade eterna.</p><p>Inspirado no aspecto majestoso e intrépido do Monte Fuji, o</p><p>presidente Josei Toda liderou o movimento pelo kosen-rufu até o último</p><p>momento de sua vida. Acredito firmemente que sua nobre vida é, para</p><p>todos nós, um exemplo de alguém que atingiu o estado de buda nesta</p><p>existência.</p><p>O daimoku recitado como rugido do leão</p><p>por mestre e discípulo</p><p>Sem desafio ou sem luta, não podemos atingir o estado de buda. É</p><p>por meio dessa atitude que a causa para a iluminação se estabelece em</p><p>nossa vida como um pilar sólido e resplandecente. O “espírito de luta”</p><p>também pode manifestar-se por outras expressões equivalentes, como o</p><p>“espírito da verdadeira causa”, a “postura de começar a partir de hoje”,</p><p>a “determinação de jamais retroceder na fé” e “fortalecer e firmar ainda</p><p>mais a fé a cada dia”.</p><p>Dessa maneira, o daimoku recitado com essa atitude é o motor para</p><p>um avanço infinito. Para aqueles que recitam daimoku como o rugido de</p><p>um rei leão, nem o mau carma nem as dificuldades extremas são</p><p>impedimentos. O Nam-myoho-renge-kyo tem o poder de converter a</p><p>adversidade numa plataforma de crescimento, de transformar o carma em</p><p>missão e o sofrimento numa fonte de criatividade. A própria vida de</p><p>Nichiren Daishonin palpita no Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>O daimoku recitado pelos membros da SGI, que se dedicam pelo</p><p>kosen-rufu com o grande desejo de tornar realidade a felicidade dos</p><p>seres humanos, é o mesmo daimoku recitado pelos presidentes</p><p>Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda. Se nos esquecermos do “daimoku</p><p>de luta” desses valentes reis leões, nossa oração se desviará daquele</p><p>feito por nossos mestres. Neste caso, nosso daimoku não produzirá o</p><p>som do “rugido do leão”, criado quando mestre e discípulo o recitam</p><p>juntos. Portanto, não será o daimoku de Nichiren Daishonin. Em vez</p><p>disso, ficará reduzido à prática de um ensinamento inferior, sem relação</p><p>com o espírito de Shakyamuni.</p><p>Podemos concluir que Nichiren Daishonin cita a passagem do</p><p>capítulo “Os Poderes Sobrenaturais d’Aquele que Assim Chega” na</p><p>última parte deste escrito para ensinar o solene espírito de mestre e</p><p>discípulo. De fato, essa interpretação concorda com o espírito de nos</p><p>basearmos sempre no Gosho, o coração da Soka Gakkai, uma</p><p>organização diretamente ligada a Daishonin.</p><p>Daishonin encerra Atingir o Estado de Buda nesta Existência com a</p><p>seguinte advertência: “Não tenha a mínima dúvida. (...) Mantenha sua fé</p><p>e atinja a iluminação nesta vida”. A fé é absolutamente essencial.</p><p>No início deste escrito, Nichiren Daishonin nos exorta a nos</p><p>libertarmos dos sofrimentos do nascimento e da morte que temos</p><p>suportado desde o tempo sem início e a atingirmos infalivelmente a</p><p>iluminação nesta existência. O propósito de nossa existência atual é</p><p>romper as correntes do sofrimento que temos suportado desde o passado</p><p>sem início e estabelecer o estado de buda eterno. Nosso desafio sincero</p><p>para não termos nenhum arrependimento nesta existência é o que nos</p><p>possibilita conquistar um estado de vida vitorioso e livre de remorsos</p><p>por toda a eternidade.</p><p>Conheço o prodígio</p><p>Da felicidade suprema</p><p>E a brilhante vitória</p><p>De uma vida grandiosa.</p><p>Compus este poema no início deste ano [2006] com o desejo de que</p><p>todos os membros da SGI desfrutem uma existência plena. Que cada um</p><p>percorra triunfantemente o caminho para atingir o estado de buda nesta</p><p>existência, desfrutando a “felicidade suprema” e a “brilhante vitória de</p><p>uma vida grandiosa”.</p><p>Vamos triunfar resolutamente na luta para manifestar o estado de buda</p><p>nesta existência, que concentra a eternidade no momento presente, e</p><p>prossigamos alegremente a jornada do kosen-rufu por toda a eternidade.</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>asura (sânscr.; jap. ashura) Na mitologia hindu, é um tipo de demônio</p><p>hostil e beligerante por natureza, que luta</p><p>constantemente com a divindade</p><p>Shakra ou Indra. O mundo dos asura constitui um dos seis caminhos da</p><p>existência, os seis mais baixos dos dez mundos.</p><p>Brahma (sânscr. Brahmā; jap. Bonten) Divindade que, segundo a crença,</p><p>habita o primeiro dos quatro céus de meditação no mundo da forma,</p><p>localizado acima do Monte Sumeru, e governa o mundo saha. Na mitologia</p><p>hindu, era considerado a personificação do princípio universal fundamental</p><p>ou da origem de todas as coisas. No budismo, ele e Shakra [jap. Taishaku]</p><p>foram adotados como as duas principais divindades protetoras.</p><p>contemplação tríplice (jap. isshin-sangan) Também “contemplação</p><p>tríplice numa única mente”. Método de meditação formulado por Tiantai,</p><p>cujo objetivo é perceber, numa única mente, a unificação das três verdades</p><p>– não substancialidade, existência temporária e caminho do meio. Mediante</p><p>esta meditação, as pessoas podem se libertar das três categorias de ilusão e</p><p>obter os três tipos de sabedoria (a sabedoria dos dois veículos, a</p><p>sabedoria dos bodisatvas e a sabedoria de buda).</p><p>Devadatta (sânscr.; jap. Daibadatta) Primo de Shakyamuni que, a</p><p>princípio, foi discípulo do Buda mas, depois, tornou-se inimigo deste.</p><p>Movido pela arrogância, Devadatta tentou matar Shakyamuni para tomar-</p><p>lhe o lugar. Provocou a desunião na Ordem budista e cometeu vários</p><p>atentados contra a vida do Buda. Conta-se que ele caiu vivo no inferno. No</p><p>entanto, o capítulo “Devadatta” (12o) do Sutra do Lótus prediz sua</p><p>iluminação futura. Nesse capítulo consta que tanto as mulheres como os</p><p>homens maus são capazes de atingir o estado de buda, algo geralmente</p><p>negado nos ensinamentos provisórios. Expõe também o princípio de atingir</p><p>a iluminação no presente, sem ter de passar por incontáveis existências.</p><p>filha do rei dragão (jap. ryūnyo) Também chamada “menina-dragão”.</p><p>Filha de Sagara, um dos oito grandes reis dragões que, segundo a crença,</p><p>habitavam um palácio no fundo do mar. De acordo com o capítulo</p><p>“Devadatta” do Sutra do Lótus, a menina-dragão manifestou o desejo de</p><p>atingir a iluminação após ouvir o bodisatva Manjushri pregar esse sutra no</p><p>palácio do rei dragão. Mais tarde, quando ela se apresentou diante da</p><p>assembleia do Sutra do Lótus, o bodisatva Sabedoria Acumulada e</p><p>Shariputra afirmaram que as mulheres eram incapazes de atingir a</p><p>iluminação. Nesse mesmo instante, a menina manifestou o estado de buda</p><p>sem abandonar sua forma de réptil.</p><p>Gosho (jap.) Denominação do conjunto dos escritos de Nichiren</p><p>Daishonin, compilados por seu sucessor, Nikko. O termo em japonês sho</p><p>significa “escrito” e go é um prefixo honorífico.</p><p>Irmãos Ikegami Discípulos de Nichiren Daishonin. O irmão mais velho,</p><p>Munenaka, foi deserdado duas vezes pelo pai, que era seguidor de Ryokan</p><p>– um grande inimigo de Daishonin. O pai também tentou convencer</p><p>Munenaga, o filho mais novo, dizendo-lhe que se abandonasse a fé poderia</p><p>ocupar o lugar do irmão e ser o próximo chefe da família. Apesar dessa</p><p>grande adversidade, os irmãos perseveraram na fé. O pai anulou a</p><p>deserdação de Munenaka e, no final, converteu-se ao Budismo Nichiren.</p><p>Josei Toda (1900–1958): Converteu-se ao Budismo Nichiren em 1920 e</p><p>auxiliou Tsunesaburo Makiguchi a fundar a Soka Kyoiku Gakkai. Foi preso</p><p>com Makiguchi pelo regime militar durante a Segunda Guerra Mundial. Em</p><p>1945, reconstruiu a organização e a renomeou Soka Gakkai. Em 1951,</p><p>tornou-se seu segundo presidente.</p><p>Mahayana (jap. Daijō-bukkyō) Ensinamento do grande veículo, que</p><p>anuncia a possibilidade de iluminação para todos e objetiva salvar todos</p><p>os seres vivos. Expõe a prática de bodisatva como o meio para a</p><p>iluminação tanto da própria pessoa como das demais. Em contraste, o</p><p>ensinamento do Hinayana objetiva somente a salvação pessoal ou o nível</p><p>de arhat.</p><p>Manjushri (sânscr. Manjushrī; jap. Monjushiri-bosatsu ou Monju-bosatsu)</p><p>Líder dos bodisatvas do ensinamento teórico; representa as virtudes da</p><p>sabedoria e da iluminação. Manjushri e o bodisatva Mérito Universal são</p><p>descritos nos sutras como os dois assistentes do buda Shakyamuni.</p><p>Nagarjuna (sânscr. Nāgārjuna; jap. Ryūju; s.d.) Estudioso do budismo</p><p>Mahayana que viveu no sul da Índia entre 150 e 250. Escreveu vários</p><p>tratados importantes sobre um grande número de sutras do Mahayana e</p><p>organizou a base teórica do pensamento do Mahayana, prestando dessa</p><p>forma inestimável contribuição para o desenvolvimento do budismo. Ficou</p><p>particularmente conhecido por ter sistematizado a doutrina da não</p><p>substancialidade. É autor das obras Tratado sobre o Caminho do Meio,</p><p>Tratado sobre Grande Perfeição da Sabedoria e Comentário sobre o</p><p>Sutra dos Dez Estágios.</p><p>Nanyue (chin.; jap. Nangaku; 515–577) Também conhecido como Huisi.</p><p>Foi o mestre de Tiantai. Nanyue entrou para o clero aos 15 anos de idade e</p><p>concentrou-se no estudo do Sutra do Lótus. Mais tarde, passou a receber</p><p>instrução de Huiwen, que lhe ensinou a meditação para observar a mente.</p><p>Com frequência, era perseguido por seus opositores, mas mesmo assim não</p><p>deixou de devotar-se à explanação do Sutra do Lótus e do Sutra da</p><p>Sabedoria. Devotou-se também à prática do Sutra do Lótus e à formação de</p><p>discípulos.</p><p>Nichikan Shonin (1665–1726) 26o sumo prelado. Em sua obra principal,</p><p>Escrito em Seis Volumes (jap. Rokkan Sho), Nichikan reconhece as</p><p>interpretações corretas dos ensinamentos de Nichiren Daishonin e as</p><p>distingue das incorretas. Esta obra contribuiu para a restauração e a</p><p>prosperidade do Budismo Nichiren.</p><p>Nichiren Daishonin (1222–1282) O Buda dos Últimos Dias da Lei. Nasceu</p><p>numa família humilde, de pescadores. Aos 12 anos, começou a estudar o</p><p>budismo e, aos 16, ordenou-se. Após engajar-se em anos de extenso estudo</p><p>e dominar a literatura budista, concluiu que o verdadeiro ensinamento do</p><p>budismo estava no Sutra do Lótus – a essência da iluminação do buda</p><p>Shakyamuni. Mudou seu nome para Nichiren (Lótus do Sol) e, em 1253,</p><p>estabeleceu seu ensinamento, recitando o Nam-myoho-renge-kyo pela</p><p>primeira vez. Em 1279, inscreveu o Gohonzon, o objeto de devoção em</p><p>prol da paz e da felicidade de toda a humanidade.</p><p>Práticas Superiores (sânscr. Vishishtachāritra; jap. Jōgyō-bosatsu) Um dos</p><p>quatro bodisatvas líderes dos bodisatvas da terra. O mais destacado ou o</p><p>líder desse grupo denominado “quatro bodisatvas”. No capítulo “Os</p><p>Poderes Sobrenaturais” do Sutra do Lótus, Shakyamuni transfere os</p><p>princípios essenciais do sutra para Práticas Superiores. Em vários de seus</p><p>escritos, Nichiren Daishonin refere-se aos próprios esforços de</p><p>propagação como a missão do bodisatva Práticas Superiores. Representa o</p><p>“verdadeiro eu”, uma das quatro virtudes da vida do Buda, que são:</p><p>verdadeiro eu, eternidade, pureza e felicidade.</p><p>Ryokan (jap. Ryōkan; 1217–1303) Também conhecido como Ninsho.</p><p>Sacerdote da escola Preceitos-Palavra Verdadeira contemporâneo de</p><p>Nichiren Daishonin. Recebeu os preceitos de Eizon, venerado como o</p><p>restaurador da escola Preceitos no Japão. Em 1261, Ryokan foi para</p><p>Kamakura, onde recebeu a função de prior do templo Kosen-ji, fundado por</p><p>um regente do clã Hojo. Mais tarde, tornou-se prior do Gokuraku-ji, templo</p><p>fundado por Hojo Shigetoki. Durante a seca de 1271, o governo ordenou a</p><p>Ryokan que orasse por chuva. Ao saber disso, Nichiren Daishonin desafiou</p><p>o sacerdote propondo-lhe tornar-se seu discípulo caso obtivesse êxito na</p><p>oração. Porém, se Ryokan falhasse, este deveria se tornar discípulo de</p><p>Daishonin. Ryokan aceitou o desafio, mas fracassou em fazer chover. Em</p><p>vez de cumprir o acordo, dedicou-se a conspirar contra Daishonin</p><p>propagando falsas acusações.</p><p>seis atos difíceis e nove atos fáceis (jap. rokunan-kui) Comparações</p><p>expostas no capítulo “Torre de Tesouro” do Sutra do Lótus para explicar</p><p>como é difícil abraçar e propagar esse sutra nos Últimos Dias da Lei. Os</p><p>seis atos difíceis são: 1) propagar amplamente o Sutra do Lótus; 2) copiá-</p><p>lo ou fazer com que alguém o copie; 3) recitá-lo mesmo durante um curto</p><p>tempo; 4) ensiná-lo mesmo que seja para uma única pessoa; 5) ouvi-lo ou</p><p>aceitá-lo e perguntar sobre seu significado; e 6) manter a fé nele. Os nove</p><p>atos fáceis incluem façanhas como ensinar sutras em</p><p>seguidor de Daishonin que vivia em Wakamiya, na</p><p>província de Shimosa. Ele recebeu aproximadamente trinta cartas de</p><p>Nichiren Daishonin, incluindo Carta de Sado, e um de seus principais</p><p>tratados, O Objeto de Devoção para Observar a Mente. Toki Jonin</p><p>trabalhava para o senhor feudal de Chiba, o comandante militar de Shimosa,</p><p>e tornou-se seguidor de Daishonin por volta de 1254.</p><p>De todas as cartas escritas a partir de meados de 1255, Atingir o Estado</p><p>de Buda nesta Existência é a que focaliza mais claramente os princípios do</p><p>Budismo Nichiren. Vários outros escritos desse período visam</p><p>principalmente a refutar as doutrinas errôneas de outras escolas e a analisar</p><p>questões teóricas. Esta breve carta não só examina cuidadosamente as</p><p>teorias que Tiantai formulou com base no Sutra do Lótus mas também revela</p><p>a prática específica para atingir o estado de buda – ou seja, a recitação do</p><p>Nam-myoho-renge-kyo – que a teoria de Tiantai não expõe.</p><p>Myoho-renge-kyo é o título do Sutra do Lótus. Para Daishonin,</p><p>entretanto, é muito mais que isso, é a essência desse sutra, a revelação da</p><p>Lei suprema. Nesta carta, está evidente a profundidade de seu pensamento e</p><p>a convicção de que o Nam-myoho-renge-kyo é o único ensinamento capaz de</p><p>conduzir as pessoas a atingirem o estado de buda nesta existência.</p><p>PARTE 1</p><p>O ATINGIR DO ESTADO DE BUDA</p><p>NESTA EXISTÊNCIA</p><p>Em que consiste uma vida de profundo significado? Qual é a</p><p>verdadeira felicidade? O Budismo Nichiren é um ensinamento de</p><p>esperança que nos possibilita estabelecer um estado de felicidade</p><p>indestrutível e insuperável e conduzir uma vida de supremo valor,</p><p>enquanto ajudamos e inspiramos outros a fazerem o mesmo.</p><p>Todos possuem o potencial para atingir o estado de buda[6] e podem</p><p>chegar a essa elevada condição exatamente como são. O importante é que</p><p>isso está assegurado no transcorrer desta existência. O Budismo Nichiren</p><p>mostra claramente o maravilhoso caminho para a iluminação.</p><p>Esse profundo ensinamento sobre a consecução do estado de buda</p><p>nesta existência foi um conceito revolucionário que mudou radicalmente o</p><p>pensamento budista dominante na época de Nichiren Daishonin. Além</p><p>disso, ainda hoje, em pleno século 21, continua a brilhar como um</p><p>princípio capaz de transformar e abrir um futuro brilhante para o mundo</p><p>moderno.</p><p>Portanto, é com grande expectativa que desejo estudar e explanar o</p><p>escrito de Daishonin intitulado Atingir o Estado de Buda nesta</p><p>Existência para empreender com otimismo uma nova jornada de</p><p>crescimento e desenvolvimento rumo ao 80o aniversário da Soka Gakkai</p><p>em 2010.[7]</p><p>O profundo significado da recitação do daimoku</p><p>Atingir o Estado de Buda nesta Existência é um importante escrito</p><p>que esclarece a base da teoria e da prática do Budismo Nichiren. Os</p><p>membros da Soka Gakkai Internacional (SGI) têm aprofundado a</p><p>compreensão dos ensinamentos budistas considerando esta obra como</p><p>diretriz da prática e do estudo.</p><p>Embora o texto original não tenha sido preservado, e tanto a data em</p><p>que foi escrito como o destinatário não estejam citados, a maioria das</p><p>fontes concorda com a possibilidade de ter sido escrito por volta de 1255</p><p>e endereçado a Toki Jonin. Acredita-se que tenha sido redigido pouco</p><p>depois de Nichiren Daishonin ter declarado a fundação de seu</p><p>ensinamento em 1253, em vista do conteúdo da carta que explica o</p><p>significado da recitação do daimoku[8] em termos teórico e prático.</p><p>A recitação do daimoku é a base de todos os ensinamentos expostos</p><p>por Nichiren Daishonin ao longo de sua vida. O Budismo Nichiren,</p><p>diferente das escolas budistas de sua época, não consistia na veneração a</p><p>uma divindade ou a um buda específico. Daishonin estabeleceu o meio</p><p>para todas as pessoas atingirem a iluminação – o ideal do Sutra do Lótus</p><p>– formulando a recitação do Nam-myoho-renge-kyo que permite ativar a</p><p>natureza de buda inerente em nossa vida e manifestá-la como condição</p><p>iluminada do Buda.</p><p>Há dois aspectos da recitação do daimoku: o daimoku de fé e o</p><p>daimoku de prática.[9] O primeiro se refere ao aspecto espiritual de nossa</p><p>prática. Consiste, essencialmente, da luta que travamos em nosso coração</p><p>contra a escuridão fundamental[10] ou ilusão intrínseca, ou seja, uma</p><p>batalha contra as forças negativas e destrutivas que há dentro de nós. Essa</p><p>batalha implica em romper a escuridão que envolve nossa natureza de</p><p>buda e fazer surgir, mediante a força da fé, o estado de buda. O daimoku</p><p>de prática, por sua vez, refere-se à recitação do Nam-myoho-renge-kyo e</p><p>à transmissão da Lei Mística[11] a outras pessoas. Essa prática implica em</p><p>empenhar esforços por meio da boca [palavras] e do corpo [ações] pela</p><p>felicidade de si e de outros como prova da nossa luta espiritual contra a</p><p>escuridão fundamental.</p><p>Quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo, estamos invocando o nome</p><p>da natureza de buda inerente em nossa própria vida e na dos outros como</p><p>também estamos provocando a sua manifestação.</p><p>Quando nossa fé vence a dúvida e a escuridão fundamental, o poder</p><p>de nossa natureza de buda inerente é ativado mediante a vibração sonora</p><p>de nosso daimoku e se manifesta espontaneamente em nossa vida.</p><p>O ponto-chave que distingue o Budismo Nichiren de outras escolas</p><p>budistas foi o estabelecimento desse meio concreto para atingir o estado</p><p>de buda. Desde que recitou pela primeira vez o Nam-myoho-renge-kyo</p><p>até o momento de sua morte, Nichiren Daishonin dedicou-se</p><p>incansavelmente em ensinar esse supremo caminho da iluminação a todas</p><p>as pessoas da nação japonesa.</p><p>No trecho inicial desse escrito, ele expressa de forma clara e</p><p>completa a filosofia básica da salvação que reside no coração de seu</p><p>ensinamento, cujo propósito é a felicidade de todos:</p><p>Se deseja libertar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte – suportados desde o</p><p>tempo sem início – e atingir infalivelmente a iluminação suprema nesta existência, deve</p><p>despertar para a verdade mística inerente nos seres vivos. Essa verdade é Myoho-renge-kyo. A</p><p>recitação do Myoho-renge-kyo lhe possibilitará compreender a verdade mística inata em cada</p><p>vida.</p><p>Analisarei o profundo significado dessa passagem mais</p><p>detalhadamente no decorrer desta explanação. Por ora, de maneira breve,</p><p>gostaria de dizer que, manifestando do nosso interior a verdade mística</p><p>inerente em todos os seres vivos, podemos nos libertar dos sofrimentos</p><p>incessantes do nascimento e da morte. O nome dessa verdade mística é</p><p>Myoho-renge-kyo, e a forma de manifestá-la é a recitação do Myoho-</p><p>renge-kyo.</p><p>O significado de nossa existência</p><p>como seres humanos</p><p>O conceito de “atingir o estado de buda nesta existência” refere-se a</p><p>uma pessoa comum que atinge a iluminação na presente existência. Por</p><p>extensão, isso significa que se atinge a iluminação como ser humano. Este</p><p>é o enfoque da iluminação revelada no capítulo “Devadatta” (12o) Sutra</p><p>do Lótus e ilustrada pelo exemplo da filha do rei dragão.</p><p>Essa ideia contrasta acentuadamente com os ensinamentos anteriores</p><p>ao Sutra do Lótus, segundo os quais uma pessoa somente podia atingir a</p><p>iluminação depois de ter praticado austeridades ao longo de incontáveis</p><p>existências. Como o estado de buda é inseparável da Lei Mística e é</p><p>repleto de sabedoria e benevolência infinitas, tende a ser visto como algo</p><p>completamente separado da vida das pessoas dominadas pela escuridão</p><p>fundamental. Acreditava-se que para atingir a iluminação era preciso</p><p>superar esse abismo insondavelmente profundo entre o Buda e as pessoas</p><p>comuns. Isso deu surgimento à ideia de que tinham de praticar</p><p>austeridades durante inumeráveis kalpa.[12] O Budismo Nichiren esclarece</p><p>que a presente existência é o momento para as pessoas atingirem o estado</p><p>de buda tal como se apresentam. Portanto, Nichiren Daishonin revela o</p><p>profundo ensinamento sobre a consecução do estado de buda nesta</p><p>existência.</p><p>Fazendo uma analogia com o cultivo de arroz, Daishonin cita em seu</p><p>escrito A Doutrina dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida:</p><p>Se devotos do Sutra do Lótus realizarem a prática conforme os ensinamentos do Buda,</p><p>todos eles, sem exceção, atingirão o estado de buda em sua presente existência. Fazendo uma</p><p>analogia,</p><p>quantidade infindável,</p><p>exceto o Sutra do Lótus; atravessar uma pradaria em chamas carregando um</p><p>fardo de feno nas costas sem se queimar, e lançar, com um pontapé, um</p><p>grande sistema de mundos para outro quadrante.</p><p>Shakyamuni (sânscr.; jap. Shakuson ou Shakamuni) Fundador do budismo.</p><p>As opiniões diferem com relação à data em que ele viveu. De acordo com</p><p>a tradição budista da China e do Japão, Shakyamuni viveu entre 1029 e 949</p><p>a.E.C. Porém, alguns estudos ocidentais alegam que ele tenha vivido cerca</p><p>de quinhentos anos depois. Filho do rei do clã Shakya, uma tribo cujos</p><p>domínios localizavam-se no sopé dos Himalaias, renunciou à posição de</p><p>príncipe e deixou o palácio em busca de respostas para as questões do</p><p>nascimento, do envelhecimento, da doença e da morte. Estudou diversas</p><p>filosofias influentes e dedicou-se à prática de austeridades, mas percebeu</p><p>que nenhum desses caminhos o conduziria ao despertar que buscava.</p><p>Acredita-se que, próximo à cidade de Gaya, Shakyamuni sentou-se sob uma</p><p>árvore bodhi, entrou em meditação e atingiu a iluminação. Com o propósito</p><p>de conduzir as outras pessoas à mesma condição iluminada, Shakyamuni</p><p>expôs, durante os cinquenta anos seguintes, um grande número de</p><p>ensinamentos que, mais tarde, foram compilados na forma de sutras</p><p>budistas.</p><p>Shakra (sânscr.; jap. Taishaku) Também conhecido como Indra e Shakra</p><p>Devanam Indra, ou somente Indra. Shakra e Brahma são as duas principais</p><p>divindades protetoras do budismo. Shakra habita o céu das trinta e três</p><p>divindades, localizado no pico do Monte Sumeru.</p><p>Soka Gakkai Literalmente, Sociedade de Criação de Valor. Organização</p><p>fundada em 1930, no Japão, por Tsunesaburo Makiguchi. A Soka Gakkai</p><p>promove atividades pela paz, cultura e educação, e tem como base os</p><p>ensinamentos humanísticos do Budismo de Nichiren Daishonin.</p><p>Soka Gakkai Internacional (SGI) Fundada em 1975, por Daisaku Ikeda, a</p><p>SGI possui mais de 12 milhões de membros em 192 países e territórios.</p><p>Como uma organização não governamental (ONG) filiada às Nações</p><p>Unidas, a SGI atua nas áreas da educação e da cultura com foco na paz.</p><p>Sutra do Lótus (sânscr. Saddharma-pundarīka-sūtra; chin. Fa hua jing;</p><p>jap. Hoke-kyō) Sutra do Mahayana que revela o verdadeiro aspecto de</p><p>todos os fenômenos e a verdadeira identidade de Shakyamuni como o buda</p><p>que atingiu a iluminação há kalpa de partículas de pó de incontáveis</p><p>grandes sistemas de mundos. Uma das escrituras budistas mais conhecidas,</p><p>esse sutra ensina que todas as pessoas podem atingir o estado de buda.</p><p>Existem três versões em chinês do texto em sânscrito. A tradução de</p><p>Kumarajiva, altamente respeitada no mundo inteiro, é intitulada Sutra do</p><p>Lótus da Lei Maravilhosa. Na China e no Japão, a denominação Sutra do</p><p>Lótus com frequência indica a tradução feita por Kumarajiva. Nichiren</p><p>Daishonin utiliza constantemente a expressão “Sutra do Lótus” em seus</p><p>escritos como sinônimo de Nam-myoho-renge-kyo, a Lei que ele definiu</p><p>como a essência do Sutra do Lótus.</p><p>Tiantai (chin.; jap. Tendai; 538–597) Também conhecido como Zhiyi,</p><p>Tiantai Zhizhe, grande mestre Tiantai e grande mestre Zhizhe. Fundador da</p><p>escola Tiantai na China. Após estudar no Monte Dasu sob a orientação de</p><p>Nanyue, Tiantai ganhou reputação pelas profundas explanações sobre o</p><p>Sutra do Lótus. Refutou as classificações das escrituras formuladas pelas</p><p>dez principais escolas budistas de sua época e classificou todos os sutras</p><p>de Shakyamuni em cinco períodos e oito ensinamentos, demonstrando a</p><p>supremacia do Sutra do Lótus. Suas principais obras – Profundo</p><p>Significado do Sutra do Lótus, Palavras e Frases do Sutra do Lótus e</p><p>Grande Concentração e Discernimento – foram registradas e compiladas</p><p>por seu discípulo imediato, Zhangan. Em Grande Concentração e</p><p>Discernimento, Tiantai apresenta o princípio dos três mil mundos num</p><p>único momento da vida e a prática de meditação para compreender esse</p><p>conceito.</p><p>Toki Jonin Um dos principais discípulos de Nichiren Daishonin que viveu</p><p>em Shimosa. Recebeu aproximadamente trinta cartas de Nichiren</p><p>Daishonin, entre elas, Carta de Sado, Atingir o Estado de Buda nesta</p><p>Existência e O Objeto de Devoção para Observar a Mente Estabelecido</p><p>no Quinto Período de Quinhentos Anos após a Morte d’Aquele que Assim</p><p>Chega.</p><p>três corpos (sânscr. trikāya; jap. san-jin) Três tipos de corpo que um buda</p><p>possui. Eles são: 1) corpo do Darma, que indica a verdade fundamental ou</p><p>Lei para a qual um buda se iluminou; 2) corpo da recompensa, que indica a</p><p>sabedoria de buda; e 3) corpo manifesto, que se refere às ações</p><p>compassivas de um buda para salvar as pessoas, como a forma física que</p><p>ele assume para esse propósito. Os três corpos eram geralmente vistos</p><p>como três tipos de budas distintos. Porém, no Sutra do Lótus, eles são</p><p>descritos como os três aspectos de um mesmo buda.</p><p>três mil mundos num único momento da vida (jap. ichinen sanzen)</p><p>Sistema filosófico estabelecido por Tiantai. A expressão “três mil mundos”</p><p>indica os aspectos e as fases variáveis que a vida assume a cada momento.</p><p>A cada instante, a vida manifesta um dos dez mundos. Cada um desses</p><p>mundos possui o potencial de todos os dez em si mesmo, totalizando cem</p><p>possíveis mundos. Cada um desses cem mundos possui os dez fatores e</p><p>opera em cada um dos três domínios da existência, totalizando três mil</p><p>mundos.</p><p>três verdades (jap. san-tai) A verdade da não substancialidade, a verdade</p><p>da existência temporária e a verdade do caminho do meio. Três aspectos da</p><p>verdade formuladas por Tiantai. A verdade da não substancialidade indica</p><p>que todos os fenômenos carecem de substância e se encontram num estado</p><p>que transcende os conceitos de existência e não existência. A verdade da</p><p>existência temporária significa que, apesar de carecerem de substância por</p><p>natureza, todas as coisas possuem uma realidade transitória que está em</p><p>constante fluxo ou mudança. A verdade do caminho do meio ensina que</p><p>todos os fenômenos são não substanciais e temporários; porém, em</p><p>essência, não são nem um nem outro.</p><p>Tsunesaburo Makiguchi (1871–1944): Converteu-se ao Budismo Nichiren</p><p>em 1928. Fundou a Soka Kyoiku Gakkai (atual Soka Gakkai) em 1930 e</p><p>tornou-se seu primeiro presidente.</p><p>unificação das três verdades (jap. en’yū-no-santai) Princípio exposto por</p><p>Tiantai com base no Sutra do Lótus que explica as três verdades – a não</p><p>substancialidade, a existência temporária e o caminho do meio – como um</p><p>todo, cada uma contendo todas as três. Este conceito ensina que a não</p><p>substancialidade, a existência temporária e o caminho do meio são fases</p><p>inseparáveis de todos os fenômenos.</p><p>verdadeiro aspecto de todos os fenômenos (jap. shohō-jissō) Verdade ou</p><p>realidade fundamental que permeia todos os fenômenos e é inseparável</p><p>deles. O capítulo “Meios Apropriados” (2o) do Sutra do Lótus define o</p><p>verdadeiro aspecto de todos os fenômenos como os dez fatores da vida.</p><p>Nichiren Daishonin define esse conceito como Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>Vimalakirti (sânscr. Vimalakīrti; jap. Yuimakitsu) Rico habitante de</p><p>Vaishali mencionado no Sutra Vimalakirti. Representa o modelo de</p><p>praticante leigo do Mahayana. Nesse sutra, Vimalakirti refuta, de forma</p><p>eloquente, os pontos de vista do Hinayana defendidos pelos discípulos de</p><p>Shakyamuni, com base na doutrina da não substancialidade exposta pelo</p><p>Mahayana.</p><p>Yama (sânscr.; jap. Emma) Comumente chamado de rei Yama. Senhor do</p><p>inferno que julgava os mortos pelas ações praticadas em vida e aplicava-</p><p>lhes a devida sentença. Na mitologia védica, Yama era considerado o</p><p>primeiro ser humano morto e descobridor do caminho para o céu, a morada</p><p>celestial dos mortos da qual ele se tornou rei. Depois, Yama passou a ser</p><p>considerado senhor do inferno e juiz dos mortos.</p><p>[1]</p><p>“Recitar myoho e pronunciar renge” significa recitar o daimoku da Lei Mística, ou o Nam-myoho-</p><p>renge-kyo.</p><p>[2]</p><p>Anotações sobre “Grande Concentração e Discernimento”.</p><p>[3]</p><p>Neste contexto, “nome do Buda” indica Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>[4]</p><p>Esta frase também pode ser interpretada da seguinte maneira: “Se compreendermos que a nossa vida</p><p>é myo, também compreenderemos que a vida dos outros é uma entidade</p><p>da Lei Mística”.</p><p>[5]</p><p>LSOC, cap. 21, p. 318.</p><p>[6]</p><p>A condição de ser buda. Também “iluminação”. Supremo estado de vida no budismo, caracterizado</p><p>pela sabedoria e compaixão ilimitadas.Nessa condição, a pessoa desperta para a verdade eterna e</p><p>fundamental que constitui a realidade de tudo. O estado de buda é considerado o objetivo da prática</p><p>budista e corresponde ao mais elevado dos dez mundos.</p><p>[7]</p><p>Texto original publicado em 2006.</p><p>[8]</p><p>Título de um sutra, em especial, título do Sutra do Lótus, ou Myoho-renge-kyo; recitação do Nam-</p><p>myoho-renge-kyo no Budismo Nichiren.</p><p>[9]</p><p>O daimoku do ensinamento essencial (Nam-myoho-renge-kyo) requer tanto a fé como a prática. Em</p><p>Carta para Horen, Nichiren Daishonin escreve: “Tentar praticar os ensinamentos do sutra sem fé,</p><p>seria como entrar numa montanha repleta de pedras preciosas sem ter as mãos [para pegar os</p><p>tesouros], ou como querer iniciar uma travessia de mil milhas sem os pés” (CEND, v. I, p. 534).</p><p>[10]</p><p>Também “ignorância fundamental”; é a ilusão inerente à vida mais profundamente arraigada, que dá</p><p>origem a todas as demais ilusões e desejos mundanos.</p><p>[11]</p><p>Verdade fundamental da vida e do Universo, a Lei do Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>[12]Período de tempo extremamente longo. A extensão do kalpa varia de acordo com os sutras e</p><p>tratados. Os kalpa são classificados em duas categorias: mensuráveis e imensuráveis. Por sua vez, há</p><p>três tipos de kalpa mensurável: menor, médio e maior. Segundo uma fonte, um kalpa menor dura cerca</p><p>de dezesseis milhões de anos. De acordo com a cosmologia budista, os mundos passam por quatro fases</p><p>que se repetem: formação, continuação, declínio e desintegração. Cada uma dessas quatro fases dura</p><p>vinte kalpa menores, que corresponde a um kalpa médio. Por fim, um ciclo completo forma um kalpa</p><p>maior.</p><p>[13]</p><p>CEND, v. II, p. 497.</p><p>[14]</p><p>CEND, v. I, p. 403.</p><p>[15]</p><p>É o apego errôneo à ideia de que a vida começa com o nascimento e termina com a morte. De</p><p>acordo com essa visão, há somente a vida presente, e a morte representa o cessar completo da</p><p>existência física e espiritual.</p><p>[16]</p><p>É uma ideia equivocada por defender que o que existe no presente é permanente e imutável. Essa</p><p>visão rejeita a causalidade. Com base nessa doutrina, praticar o bem ou perpetrar o mal não produz</p><p>nenhuma mudança nas condições do indivíduo.</p><p>[17]</p><p>CEND, v. I, p. 3.</p><p>[18]</p><p>CEND, v. I, p. 440-441.</p><p>[19]</p><p>Cf. CEND, v. I, p. 389.</p><p>[20]</p><p>CEND, v. II, p. 150.</p><p>[21]</p><p>Refere-se ao processo de propagação do Budismo Nichiren para assegurar a paz perene e a</p><p>felicidade da humanidade. Kosen significa ensinar a filosofia budista às pessoas, e rufu é tornar o</p><p>Budismo Nichiren bem conhecido e praticado na sociedade.</p><p>[22]</p><p>CEND, v. II, p. 494.</p><p>[23]</p><p>Comentários de Nichikan Shonin, p. 548.</p><p>[24]</p><p>CEND, v. I, p. 3.</p><p>[25]</p><p>CEND, v. II, p. 267.</p><p>[26]</p><p>A causa e o efeito para atingir a iluminação existe na vida de todas as pessoas em cada momento. A</p><p>fé e a prática embasadas na Lei Mística são a causa que nos permite atingir instantaneamente a</p><p>iluminação e manifestar as virtudes da natureza de buda inerente em nossa vida.</p><p>[27]</p><p>CEND, v. I, p. 383.</p><p>[28]</p><p>CEND, v. I, p. 713.</p><p>[29]Este mundo, o mundo dos seres humanos, marcado por sofrimentos. Na versão chinesa das</p><p>escrituras budistas, a palavra saha é traduzida como “resistência”. O termo “mundo saha” sugere que</p><p>as pessoas que vivem neste mundo devem resistir a todos os tipos de sofrimento. Também é referido</p><p>como “terra impura”, em contraste com “terra pura”. O mundo saha é a terra na qual Shakyamuni faz</p><p>seu advento e suporta inúmeras adversidades para instruir os seres vivos. Algumas escrituras budistas,</p><p>incluindo o Sutra do Lótus, ensinam que o mundo saha pode ser transformado na Terra da Luz</p><p>Eternamente Tranquila, ou que o mundo saha é a própria Terra da Luz Eternamente Tranquila.</p><p>[30]</p><p>Dez mundos distintos ou categorias de seres descritos nos sutras budistas. Do mais baixo ao mais</p><p>elevado, eles são: (1) mundo do inferno; (2) mundo dos espíritos famintos; (3) mundo dos animais; (4)</p><p>mundo dos asura; (5) mundo dos seres humanos; (6) mundo dos seres celestiais; (7) mundo dos</p><p>ouvintes da voz; (8) mundo dos que despertaram para a causa; (9) mundo dos bodisatvas; e (10) mundo</p><p>dos budas. Originalmente, os dez mundos eram vistos como locais fisicamente distintos, cada um deles</p><p>habitado pelos respectivos seres. Entretanto, o Sutra do Lótus ensina que cada um dos dez mundos</p><p>contém inerentemente todos os dez. Com base nessa perspectiva, o conceito de dez mundos pode ser</p><p>interpretado como estados de vida potenciais existentes em cada ser, ou seja, dez condições ou estados</p><p>de vida que toda pessoa pode manifestar ou experimentar a qualquer momento. Assim, os dez mundos</p><p>correspondem, respectivamente, aos estados de: (1) inferno; (2) fome; (3) animalidade; (4) ira; (5)</p><p>tranquilidade ou humanidade; (6) alegria; (7) erudição; (8) autorrealização; (9) bodisatva; e (10) buda.</p><p>[31]</p><p>CEND, v. II, p. 150.</p><p>[32]</p><p>CEND, v. II, p. 150.</p><p>[33]</p><p>CEND, v. II, p. 150.</p><p>[34]</p><p>CEND, v. II, p. 150.</p><p>[35]</p><p>Joia que, segundo a crença, tem o poder de satisfazer todos os desejos, e que simboliza a</p><p>grandiosidade e a virtude do Buda e dos sutras.</p><p>[36]</p><p>Referência aos inumeráveis bodisatvas descritos no capítulo “Emergindo da Terra” (15</p><p>o</p><p>) do Sutra do</p><p>Lótus, aos quais Shakyamuni confia a tarefa de propagar a Lei após a morte dele. Em vários de seus</p><p>escritos, Nichiren Daishonin identifica a si próprio como bodisatva Práticas Superiores, o líder dos</p><p>bodisatvas da terra.</p><p>[37]</p><p>CEND, v. II, p. 470.</p><p>[38]</p><p>CEND, v. I, p.3-4.</p><p>[39]</p><p>Objeto de devoção do Budismo Nichiren e incorporação da Lei Mística que permeia todos os</p><p>fenômenos. O Gohonzon tem a forma de um mandala inscrito em papel ou em madeira, com</p><p>ideogramas que representam a Lei Mística e também os dez mundos, incluindo o estado de buda. O</p><p>Budismo Nichiren ensina que todas as pessoas possuem a natureza de buda e podem manifestá-la por</p><p>meio da fé no Gohonzon.</p><p>[40]</p><p>LSOC, cap. 16, p. 269.</p><p>[41]</p><p>CEND, v. I, p. 503.</p><p>[42]</p><p>CEND, v. I, p. 4.</p><p>[43]</p><p>LSOC, cap. 2, p. 56.</p><p>[44]</p><p>CEND, v. I, p. 492.</p><p>[45]</p><p>CEND, v. I, p. 713.</p><p>[46]</p><p>LSOC, cap. 4, p. 124.</p><p>[47]</p><p>CEND, v. II, p. 207.</p><p>[48]</p><p>CEND, v. II, p. 263.</p><p>[49]</p><p>CEND, v. I, p. 336.</p><p>[50]</p><p>OTT, p. 214.</p><p>[51]</p><p>CEND, v. I, p. 4.</p><p>[52]</p><p>Doutrina que considera que o prazer individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da</p><p>vida moral.</p><p>[53]</p><p>Doutrina que considera a ascese como prática essencial da vida moral. Ascese é o conjunto de</p><p>exercícios [oração, meditação, etc.] que visam ao aperfeiçoamento espiritual e levam à efetiva</p><p>realização da virtude, à plenitude da vida moral.</p><p>[54]</p><p>CEND, v. I, p. 525.</p><p>[55]</p><p>CEND, v. I, p. 525.</p><p>[56]</p><p>CEND, v. I, p. 4-5.</p><p>[57]</p><p>CEND, v. I, p. 383.</p><p>[58]</p><p>CEND, v. II, p. 47-48.</p><p>[59]</p><p>CEND, v. I, p. 296.</p><p>[60]</p><p>CEND, v. II, p. 218.</p><p>[61]</p><p>LSOC, cap. 21, p. 318.</p><p>[62]</p><p>CEND, v. I, p. 404.</p><p>[63]</p><p>Período de mil anos posterior aos Primeiros Dias da Lei, quando o ensinamento budista torna-se</p><p>cada vez mais rígido e formal.</p><p>[64]</p><p>CEND, v. I, p. 393.</p><p>[65]</p><p>CEND, v. I, p. 404.</p><p>[66]</p><p>CEND, v. II, p. 231.</p><p>[67]</p><p>Também “três tipos de inimigos”. Três categorias de pessoas que perseguem aqueles que propagam</p><p>o Sutra do Lótus após a morte do Buda, conforme descrito no capítulo “Encorajamento à Devoção”</p><p>(13</p><p>o</p><p>) desse sutra. Eles são: 1) leigos arrogantes que, por ignorarem o budismo, fazem acusações contra</p><p>os devotos do Sutra do Lótus e os atacam com espadas e bastões; 2) sacerdotes arrogantes e</p><p>presunçosos que caluniam os devotos; e 3) sacerdotes respeitados como sábios pela sociedade em geral</p><p>que, temendo perder fama e lucro, induzem as autoridades seculares a perseguirem os praticantes do</p><p>Sutra do Lótus.</p><p>ESCRITO DE NICHIREN DAISHONIN</p><p>PARTE 1: O atingir do estado de buda</p><p>PARTE 2: O significado da recitação do daimoku</p><p>PARTE 3: A Lei Mística existe dentro do coração</p><p>PARTE 4: Mudança em nossa atitude básica</p><p>PARTE 5: Recitar daimoku com vigor e coragem</p><p>PARTE 6: Natureza mística da vida</p><p>PARTE 7: Fé para atingir o estado de buda</p><p>GLOSSÁRIO</p><p>se alguém cultivar os campos na primavera e no verão, cedo ou tarde, com certeza</p><p>terá uma colheita dentro daquele ano.</p><p>Devotos do Sutra do Lótus incidem nas três categorias – superior, mediana e inferior –</p><p>dependendo de suas capacidades; no entanto, todos invariavelmente atingem a iluminação dentro</p><p>de uma única existência.[13]</p><p>Nichiren Daishonin observa que alguns grãos amadurecem cedo e</p><p>outros mais tarde, porém, todos acabam germinando e, no decorrer de um</p><p>ano, estão prontos para a colheita. Explica que os praticantes do Sutra do</p><p>Lótus, da mesma maneira, atingirão o estado de buda, sem falta, no</p><p>decorrer desta existência.</p><p>Nichiren Daishonin atribui grande importância à presente existência</p><p>dos seres humanos. É obvio que os seres humanos não são os únicos</p><p>dotados do estado de buda ou do potencial para atingi-lo, mantendo as</p><p>características atuais. O motivo pelo qual Nichiren Daishonin ressalta a</p><p>consecução do estado de buda nesta vida é que seu foco, sempre, em</p><p>quaisquer circunstâncias, está na felicidade dos seres humanos.</p><p>O coração humano é sensível, multifacetado e rico; possui a</p><p>capacidade de realizar façanhas incríveis. Mas, por essa mesma razão,</p><p>frequentemente experimenta grandes sofrimentos e tormentos. Pode</p><p>também ver-se preso em uma interminável espiral negativa e decadente.</p><p>Nossa vida transmigrará para sempre nos caminhos do mal ou</p><p>conseguiremos movê-la para a órbita do bem?</p><p>Como mostram muitos de seus escritos, Nichiren Daishonin</p><p>repetidamente enfatiza a importância da mente e do coração. Nesse</p><p>domínio interior da vida reside o potencial para a mudança drástica do</p><p>mal para o bem ou do bem para o mal. Por essa razão, o ensinamento de</p><p>Nichiren Daishonin sobre a iluminação pode ser visto como um processo</p><p>que começa com a mudança interior. Em outras palavras, empregando o</p><p>recurso interior da fé podemos vencer as funções negativas que habitam</p><p>em nós – funções governadas pela escuridão fundamental que se aninham</p><p>no coração humano – e manifestar as funções positivas da vida,</p><p>inseparáveis do nosso estado de buda.</p><p>A presente existência em que nascemos como seres humanos</p><p>representa uma oportunidade inestimável para assegurar que nossa vida</p><p>deixe de transmigrar nos maus caminhos e siga pelo caminho do bem.</p><p>Ênfase na mudança interior</p><p>Em Atingir o Estado de Buda nesta Existência, Nichiren Daishonin</p><p>explica que não podemos atingir a iluminação sem uma profunda</p><p>transformação na própria vida; ou seja, sem mudarmos nosso coração e</p><p>nossa mente.</p><p>No início desse escrito, ele afirma que a verdade mística da qual</p><p>todos os seres vivos estão dotados revela a “relação mútua e inclusiva de</p><p>um único momento da vida e todos os fenômenos”. Isso significa que</p><p>nossa vida ou nossa mente, a cada instante, abarca todos os fenômenos e</p><p>os permeiam. Isso pode ser descrito como um estado de vida inseparável</p><p>do Universo.</p><p>Nichiren Daishonin também adverte que se buscarmos a Lei Mística</p><p>fora de nós mesmos, por mais daimoku que recitemos, não poderemos</p><p>atingir a iluminação. Ao contrário, ele adverte que nossa prática budista</p><p>só se converterá em algo “austero, angustiante e sem fim”. Diz, também,</p><p>claramente: “Mesmo que recite e acredite no Myoho-renge-kyo, se pensa</p><p>que a Lei existe fora de seu coração, o senhor não está abraçando a Lei</p><p>Mística, mas um ensinamento inferior”.</p><p>Nichiren Daishonin explica que reunir uma forte fé é a chave para</p><p>recitar daimoku, e declara que quando assim fazemos, podemos polir</p><p>nossa vida e atingir a iluminação. Ele diz: “Assim, quando o senhor recita</p><p>myoho e pronuncia renge, deve ter a profunda fé de que o Myoho-renge-</p><p>kyo é sua própria vida” e “Manifeste profunda fé polindo seu espelho dia</p><p>e noite. Como deve poli-lo? Não há outra forma senão recitar o Nam-</p><p>myoho-renge-kyo”.</p><p>Nichiren Daishonin cita também sobre a “entidade mística do caminho</p><p>do meio, ou seja, a realidade fundamental” que, em outras palavras,</p><p>refere-se à natureza mística e insondável da vida, de nossa mente e de</p><p>nosso coração, que se manifesta como o estado de buda. Com base nisso,</p><p>ele afirma que, quando recitamos daimoku com profunda fé, podemos</p><p>atingir o estado de buda nesta existência. Isto está claro na seguinte frase:</p><p>O Sutra do Lótus é o rei dos sutras, o caminho direto para a iluminação, pois explica que a</p><p>entidade de nossa vida – que manifesta tanto o bem como o mal em cada momento – é, na</p><p>verdade, a entidade da Lei Mística.</p><p>Se o senhor recitar Myoho-renge-kyo com profunda fé neste princípio, infalivelmente</p><p>atingirá o estado de buda nesta existência.</p><p>Um ensinamento de autêntico humanismo</p><p>A seguir, analisarei a importância do ensinamento de Nichiren</p><p>Daishonin sobre a consecução do estado de buda nesta existência com</p><p>base em três pontos.</p><p>Primeiro, gostaria de destacar que, quando Daishonin abriu o caminho</p><p>para que todas as pessoas atingissem a iluminação nesta existência com a</p><p>recitação do daimoku, estabeleceu pela primeira vez um ensinamento de</p><p>autêntico humanismo. Pode-se dizer que abrir o caminho para a</p><p>iluminação de todas as pessoas é um requisito de qualquer religião que se</p><p>considere verdadeiramente humanística. Este, acredito, é o significado</p><p>filosófico e religioso do conceito “atingir o estado de buda”.</p><p>Nichiren Daishonin possuía uma profunda compreensão do potencial</p><p>humano, sabia que as pessoas podiam se libertar de um ciclo de</p><p>transmigração negativa e entrar numa órbita positiva, mediante uma</p><p>profunda mudança interior. Estabeleceu também um meio prático para que</p><p>os seres humanos pudessem atingir isso. Por essa razão, não há outro</p><p>ensinamento que mereça ser qualificado como “humanístico” além do</p><p>Budismo Nichiren. Em O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos,</p><p>Nichiren Daishonin afirma:</p><p>Embora se pense que o buda Shakyamuni possua as três virtudes de soberano, mestre e</p><p>pais em benefício de todos nós, seres vivos, isso não é verdade. Ao contrário, são as pessoas</p><p>comuns que o dotam das três virtudes.[14]</p><p>Esta passagem descreve uma mudança de uma religião autoritária para</p><p>uma religião humanística, centrada nas pessoas. O Budismo Nichiren, que</p><p>estabeleceu o meio concreto para atingir a iluminação nesta existência,</p><p>possibilitou essa mudança.</p><p>Quando o primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo</p><p>Makiguchi, formulou sua teoria do valor, não incluiu a “santidade” ou o</p><p>“sagrado”, que muitos outros pensadores que o antecederam haviam</p><p>considerado como valor religioso. Para Tsunesaburo Makiguchi, o</p><p>“grande bem” era o valor máximo que toda religião devia se empenhar</p><p>para atingir. A expressão “grande bem” refere-se ao valor supremo que</p><p>os seres humanos e a sociedade são capazes de atingir. Na teoria do valor</p><p>de Tsunesaburo Makiguchi, considera-se como verdadeira religião aquela</p><p>que serve ao bem-estar dos seres humanos. Quando Nichiren Daishonin</p><p>revelou o caminho para atingir o estado de buda nesta existência,</p><p>estabeleceu uma religião que contribui para a felicidade do ser humano</p><p>da maneira mais grandiosa possível.</p><p>O significado de atingir o estado de buda</p><p>nesta existência com relação ao indivíduo</p><p>Segundo, ao revelar o caminho para atingir o estado de buda nesta</p><p>existência, Nichiren Daishonin nos possibilitou viver embasados no</p><p>poder infinito da Lei Mística, ou seja, edificarmos uma vida sólida e</p><p>segura, que nos proporciona coragem e convicção para sermos indivíduos</p><p>autônomos. Este é o significado de atingir o estado de buda nesta</p><p>existência no que se refere à vida individual.</p><p>No Budismo Nichiren, atingir o estado de buda não é embarcar numa</p><p>jornada inconcebivelmente longa para tornar-se um buda, um ser divino</p><p>que irradia luz. É realizar uma transformação profunda em nosso próprio</p><p>ser. Essa proposta revolucionária sobre a iluminação modificou por</p><p>completo o modo como a prática budista era tradicionalmente vista. Em</p><p>outras palavras, não é uma questão de praticar para escalar o ponto mais</p><p>alto da iluminação em algum momento do futuro distante. Este escrito</p><p>trata de uma luta interior constante, que se realiza a cada momento, entre</p><p>duas tendências opostas: revelar nossa natureza de buda inerente, ou</p><p>deixar</p><p>que a escuridão fundamental nos governe. Esse empenho</p><p>incessante pelo aprimoramento de nossa vida constitui a essência, o</p><p>coração da prática budista.</p><p>Somente podemos triunfar na vida e revelar nosso pleno potencial</p><p>quando vencemos nossa escuridão interior e nossa própria negatividade.</p><p>Só assim podemos desfrutar uma satisfação genuína e profunda na vida.</p><p>Nesse sentido, quero frisar que a prática exposta no Budismo Nichiren</p><p>para atingir o estado de buda nesta existência é o único meio para vencer</p><p>a escuridão e a ilusão, que são a origem do mal do ser humano, e de</p><p>cultivar a verdadeira independência, construir uma identidade sólida e</p><p>adquirir um estado de vida de felicidade e paz de espírito. Portanto,</p><p>atingir o estado de buda nesta existência é o propósito principal que todo</p><p>ser humano deve ter na vida.</p><p>O significado de atingir o estado de buda</p><p>nesta existência no que se refere ao coletivo</p><p>Terceiro, digo que o princípio de atingir o estado de buda nesta</p><p>existência é extremamente importante por conceder esperança à</p><p>humanidade e abrir o caminho para transformar o destino de todas as</p><p>pessoas. Nesse ponto reside o significado coletivo ou universal desse</p><p>princípio.</p><p>Muitos intelectuais e pensadores admitem que a civilização moderna</p><p>perdeu de vista o ser humano e estancou em muitas frentes. Não há como</p><p>negar que a maioria das pessoas dá pouca atenção ao domínio espiritual e</p><p>vive obcecada pelo conforto material e pelo prazer proporcionado por</p><p>elementos externos, por coisas que estão fora delas.</p><p>Não podemos resolver os inúmeros problemas que o mundo enfrenta</p><p>hoje, incluindo a obsessão pelo crescimento econômico, a política</p><p>desprovida de humanismo, os conflitos internacionais, a guerra, a</p><p>crescente desigualdade entre ricos e pobres e a discriminação atroz, sem</p><p>vencer as ilusões humanas fundamentais, como a avareza, a ira e a</p><p>estupidez.</p><p>Uma conclusão a que cheguei dialogando com grandes pensadores é</p><p>que a única solução concreta reside na mudança interior do ser humano,</p><p>na revolução humana. Digo ainda que sem estabelecer uma visão correta</p><p>da vida e da morte, é impossível vencer a escuridão e a ilusão aninhadas</p><p>no nível mais profundo da vida humana. É impossível atingir uma</p><p>felicidade verdadeira e duradoura sem uma visão da vida e da morte</p><p>como a que sintetiza o caminho do meio, que rechaça os extremos das</p><p>doutrinas da aniquilação[15] e da eternidade[16]. Os seres humanos somente</p><p>poderão mudar quando vencerem sua escuridão interior e resgatarem a</p><p>dignidade eterna que possuem na própria vida. Se os indivíduos</p><p>cultivarem esse nobre espírito, do qual todos são dotados originalmente,</p><p>produzirão uma mudança direta no destino da humanidade. Com essa</p><p>convicção, nós, da SGI, viemos nos dedicando durante décadas para criar</p><p>uma rede do bem que envolva o mundo inteiro.</p><p>No decorrer destas explanações, gostaria de comentar as expectativas</p><p>e esperanças cada vez maiores que nosso movimento está despertando em</p><p>pessoas de todos os setores.</p><p>No final desse escrito, Nichiren Daishonin diz: “Não tenha a mínima</p><p>dúvida”. Ele nos exorta a termos absoluta convicção de que atingiremos o</p><p>estado de buda nesta existência. Suas palavras também contêm uma</p><p>advertência: se não mantivermos uma firme fé, será fácil perdermos de</p><p>vista o objetivo fundamental da iluminação e cairmos nas profundezas da</p><p>escuridão e ilusão.</p><p>Todas as pessoas, no âmago de sua vida, anseiam atingir a iluminação.</p><p>Porém, não há ensinamento mais difícil de crer ou de compreender que a</p><p>doutrina da consecução infalível do estado de buda nesta existência. Nós,</p><p>da SGI, assumimos o compromisso de pôr em prática esse profundo</p><p>ensinamento e de compartilhá-lo amplamente com outras pessoas, tanto</p><p>do Japão como do mundo inteiro.</p><p>Na sociedade atual, nós, como valentes bodisatvas da terra, estamos</p><p>dando provas reais do potencial humano para transformar o destino.</p><p>Orgulhosos de nossa nobre missão, continuemos compartilhando</p><p>alegremente o Budismo Nichiren – o ensinamento sobre a consecução do</p><p>estado de buda nesta existência – ao mesmo tempo em que vivemos da</p><p>maneira mais significativa e satisfatória possível.</p><p>PARTE 2</p><p>O SIGNIFICADO DA RECITAÇÃO</p><p>DO DAIMOKU</p><p>Se deseja libertar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte – suportados desde o</p><p>tempo sem início – e atingir infalivelmente a iluminação suprema nesta existência, deve</p><p>despertar para a verdade mística inerente nos seres vivos. Essa verdade é Myoho-renge-kyo. A</p><p>recitação do Myoho-renge-kyo lhe possibilitará compreender a verdade mística inata em cada</p><p>vida.</p><p>O Sutra do Lótus é o rei dos sutras – verdadeiro e correto tanto nas palavras como nos</p><p>princípios. Suas palavras são a realidade fundamental e essa realidade é a Lei Mística (myoho).</p><p>É chamada de Lei Mística porque revela o princípio da relação mútua e inclusiva de um único</p><p>momento da vida e todos os fenômenos. Eis por que este sutra constitui a sabedoria de todos os</p><p>budas.</p><p>A vida em cada momento abarca o corpo, a mente, o sujeito e o meio ambiente dos seres</p><p>sensíveis nos dez mundos. Também abrange os seres insensíveis nos três mil mundos, incluindo</p><p>as plantas, o céu, a terra e até as minúsculas partículas de pó. A vida em cada momento</p><p>permeia todos os fenômenos e é revelada neles. Despertar para este princípio corresponde à</p><p>relação mútua e inclusiva de um único momento da vida e todos os fenômenos.[17]</p><p>A recitação do Nam-myoho-renge-kyo proporciona imensurável</p><p>benefício por nos possibilitar extrair da própria vida o poder infinito da</p><p>Lei Mística, a Lei fundamental do Universo.</p><p>Nichiren Daishonin levantou-se para concretizar a felicidade de toda</p><p>a humanidade por meio do poder benéfico e ilimitado do Nam-myoho-</p><p>renge-kyo. A base doutrinal dessa luta se expressa de maneira concisa e</p><p>simples no trecho inicial de Atingir o Estado de Buda nesta Existência:</p><p>Se deseja libertar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte – suportados desde o</p><p>tempo sem início – e atingir infalivelmente a iluminação suprema nesta existência, deve</p><p>despertar para a verdade mística inerente nos seres vivos. Essa verdade é Myoho-renge-kyo. A</p><p>recitação do Myoho-renge-kyo lhe possibilitará compreender a verdade mística inata em cada</p><p>vida.</p><p>Esse trecho condensa os profundos princípios do budismo e a</p><p>revolução religiosa iniciada pelo buda Shakyamuni e completada por</p><p>Nichiren Daishonin para que todas as pessoas atinjam a iluminação. Cada</p><p>palavra e frase são permeadas pela sublime sabedoria do budismo.</p><p>“Libertar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte – suportados</p><p>desde o tempo sem início” refere-se às questões fundamentais da</p><p>existência humana e ao propósito original da religião. “Atingir</p><p>infalivelmente a suprema iluminação” constitui a profunda resposta do</p><p>budismo a essas questões. “Despertar para a verdade mística inerente nos</p><p>seres vivos” é essa resposta em sua expressão mais profunda e precisa</p><p>com base nos ensinamentos do Sutra do Lótus. E “A recitação do Myoho-</p><p>renge-kyo” refere-se à prática estabelecida por Nichiren Daishonin para</p><p>possibilitar todas as pessoas a pôr em ação a sabedoria budista. A</p><p>realização dessa prática é fruto da grande benevolência que aspira à</p><p>felicidade de todas as pessoas, e indica a natureza verdadeiramente</p><p>revolucionária do Budismo Nichiren.</p><p>Nesse escrito, em sua totalidade, observa-se claramente que a</p><p>recitação do daimoku é a prática budista suprema e correta. De fato, a</p><p>breve passagem inicial expressa de maneira concisa as profundas ideias</p><p>filosóficas do budismo, expostas ao longo de mais de dois milênios, e</p><p>também a benevolência e a sabedoria de conduzir a humanidade à</p><p>iluminação, próprias do Budismo Nichiren.</p><p>Nesta parte, quero confirmar que a recitação do daimoku constitui a</p><p>mais correta forma da prática budista, e que seu estabelecimento marca o</p><p>início de um autêntico “budismo do povo” que possibilita a todas as</p><p>pessoas a atingirem o mesmo estado de vida iluminado do Buda.</p><p>Libertar-se dos sofrimentos e atingir a felicidade eterna</p><p>Comecemos analisando o profundo significado da primeira frase, “Se</p><p>deseja libertar-se dos sofrimentos do nascimento e</p><p>da morte – suportados</p><p>desde o tempo sem início”. Essa menção apoia-se na premissa de que a</p><p>transmigração, conceito segundo o qual todos os seres passam por um</p><p>ciclo incessante de nascimento e morte, perdura do infinito passado ao</p><p>eterno futuro. O budismo sustenta que esse ciclo interminável, em última</p><p>instância, origina-se dos desejos mundanos, e que o ciclo negativo de</p><p>desejos mundanos, carma e sofrimento faz parte da transmigração. Nesse</p><p>sentido, os “sofrimentos do nascimento e da morte – suportados desde o</p><p>tempo sem início” também representam uma sucessão interminável de</p><p>ilusões e sofrimentos.</p><p>Pelo fato de a ideia dessa transmigração sem fim ser intolerável, as</p><p>pessoas naturalmente querem acabar com esse doloroso ciclo de</p><p>nascimento e morte e libertar-se das correntes da ilusão e do sofrimento.</p><p>No budismo, há dois enfoques fundamentais que explicam como</p><p>transcender esse ciclo de sofrimento. Uma ideia postula que as pessoas</p><p>podem libertar-se erradicando os desejos mundanos que conduzem à</p><p>transmigração pelo domínio do carma. A outra é o enfoque do Mahayana,</p><p>segundo o qual a essência da vida que experimenta a transmigração não é</p><p>um fenômeno transitório e impermanente.</p><p>Os ensinamentos Mahayana, por exemplo, expõem o conceito de</p><p>transcender o ciclo de nascimento e morte de acordo com o juramento dos</p><p>bodisatvas de guiar as pessoas à iluminação. Também postulam que o</p><p>nascimento e a morte em si são um ciclo que se origina da vida ilimitada</p><p>e fundamental do Universo e que a ela retorna. Este último conceito pode</p><p>ser melhor compreendido pela analogia com o oceano e as ondas: o</p><p>nascimento é como uma onda que se forma no oceano – a vida universal –</p><p>enquanto a morte é o retorno dessa onda à massa oceânica. Obter tal</p><p>compreensão da essência de nossa vida, que repete o ciclo de nascimento</p><p>e morte, é atingir a “suprema iluminação”, o elevado despertar do Buda.</p><p>A verdade mística abarca tudo</p><p>A frase “despertar para a verdade mística inerente nos seres vivos”</p><p>significa “atingir a suprema iluminação”. A sabedoria que permite</p><p>compreender essa verdade universal e inerente constitui a iluminação</p><p>suprema do Buda.</p><p>Há um ponto que distingue totalmente o budismo do pensamento e da</p><p>religião predominantes até então: o budismo revelou na própria vida do</p><p>indivíduo a “Lei” ou o poder interior ilimitado para solucionar todos os</p><p>sofrimentos no nível fundamental. O Buda é aquele que, com base nessa</p><p>Lei, obteve a suprema sabedoria para acabar com o sofrimento e edificar</p><p>a felicidade inabalável.</p><p>O budismo é um ensinamento de humanismo insuperável que acredita</p><p>no potencial ilimitado do ser humano. Por isso é chamado de “caminho</p><p>interior”.</p><p>“Despertar para a verdade mística inerente nos seres vivos” é “atingir</p><p>a suprema iluminação”, e é o único meio para uma pessoa se libertar “dos</p><p>sofrimentos do nascimento e da morte que tem suportado desde o tempo</p><p>sem início”. Esse foi o ponto de partida de Shakyamuni e a conclusão do</p><p>pensamento budista. O escrito que proclama essa filosofia do “caminho</p><p>interior” é o Sutra do Lótus, que ensina que todas as pessoas podem</p><p>atingir a iluminação. Pode-se dizer que o Sutra do Lótus incorpora o</p><p>princípio supremo do respeito à dignidade da vida e do ser humano.</p><p>Nesse escrito, Daishonin afirma que “a verdade mística inerente nos</p><p>seres vivos” é a “relação mútua e inclusiva de um único momento da vida</p><p>e todos os fenômenos”. Este último refere-se à relação insondável que</p><p>existe entre nós – nossa mente ou cada momento de nossa vida – e o</p><p>Universo; significa que todos os fenômenos estão contidos em nossa vida,</p><p>e que esta, por sua vez, permeia todos os fenômenos. Sem dúvida, o</p><p>significado deste princípio corresponde ao que Nichikan Shonin</p><p>expressou como “princípio da inerência e permeabilidade”, ao descrever</p><p>a doutrina dos três mil mundos num único momento da vida.</p><p>A vida cósmica abarca e permeia tudo; por essa razão, é também</p><p>inerente em todas as coisas. A inseparabilidade da vida do Universo e</p><p>nossa vida individual é a essência da “relação mútua e inclusiva de um</p><p>único momento da vida e todos os fenômenos”. Tomar consciência dessa</p><p>verdade mística é atingir a “suprema iluminação” do Buda.</p><p>Dar nome à verdade mística</p><p>A questão é como possibilitar às pessoas perceberem essa “verdade</p><p>mística inerente nos seres vivos”. Não podemos falar de um budismo</p><p>universal enquanto apenas um número limitado de pessoas pode seguir o</p><p>caminho estabelecido para chegar à verdade mística. Antes de Nichiren</p><p>Daishonin, o grande mestre Tiantai, da China, tentou estabelecer o meio</p><p>para perceber essa verdade mística com a contemplação e a meditação</p><p>enfocadas na Lei. Mas esse meio não era apropriado para as pessoas dos</p><p>Últimos Dias da Lei.</p><p>O primeiro passo dado por Nichiren Daishonin para abrir o grande</p><p>caminho da iluminação universal foi dar um nome à verdade mística. Ela</p><p>não tinha nome, mas, por ter despertado para essa verdade, Daishonin foi</p><p>capaz de dar-lhe o nome mais apropriado. Sobre esta questão, ele afirma</p><p>em A Entidade da Lei Mística:</p><p>Esse comentário indica que o princípio supremo [a Lei Mística], originalmente, não tinha</p><p>um nome. Quando o venerável observava o princípio e atribuía nome a tudo, percebeu a</p><p>existência dessa Lei única e maravilhosa [myoho] que possuía simultaneamente a causa e o</p><p>efeito [renge]; então, denominou-a Myoho-renge. Essa Lei única, Myoho-renge, abarca em si</p><p>todos os fenômenos que compreendem os dez mundos e os três mil mundos, sem carecer de</p><p>nenhum deles. Qualquer um que praticar essa Lei obterá, simultaneamente, tanto a causa quanto</p><p>o efeito do estado de buda.[18]</p><p>O ato de dar um nome é um processo criativo. Quando se cria um</p><p>nome compreendendo perfeitamente a essência daquilo que está se</p><p>denominando, obtém-se um extraordinário resultado. A perfeita</p><p>denominação permite que as pessoas em geral compartilhem os valores</p><p>daquilo que recebeu um nome.</p><p>No escrito que ora estudamos, conforme indicado pela passagem, “a</p><p>verdade mística inerente nos seres vivos é Myoho-renge-kyo”, Nichiren</p><p>Daishonin afirma claramente que essa verdade mística que constitui a Lei</p><p>fundamental do Universo não é outra senão Myoho-renge-kyo.</p><p>O termo Myoho-renge-kyo já existia antes como título do Sutra do</p><p>Lótus. Mas Daishonin foi o primeiro a identificar Myoho-renge-kyo como</p><p>nome do princípio do “verdadeiro aspecto de todos os fenômenos” que,</p><p>conforme ensina o Sutra do Lótus, é a profunda sabedoria de todos os</p><p>budas. Além disso, embora o capítulo “A Extensão da Vida d’Aquele que</p><p>Assim Chega” (16o) do Sutra do Lótus exponha a vida do Buda eterno do</p><p>ponto de vista de Shakyamuni, foi Nichiren Daishonin quem declarou pela</p><p>primeira vez que a essência do capítulo “A Extensão da Vida” é o</p><p>Myoho-renge-kyo.[19]</p><p>O Buda eterno, desde que atingiu a iluminação no remoto passado,</p><p>veio surgindo sob várias formas para salvar todos os seres vivos</p><p>repetindo o ciclo de nascimento e morte. O capítulo “A Extensão da</p><p>Vida” esclarece que os seres vivos e também a vida e a morte são</p><p>manifestações da grande vida eterna do Universo. Pelo fato de Daishonin</p><p>afirmar que a essência desse capítulo é Myoho-renge-kyo, podemos</p><p>inferir que Myoho-renge-kyo é o nome dessa grande vida eterna e</p><p>universal.</p><p>Os seres vivos dos nove mundos – sujeitos a experimentar</p><p>repetidamente o ciclo de nascimento e morte – também seguem o ritmo de</p><p>vida e morte que os faz surgir e retornar novamente a essa grande vida</p><p>universal de Myoho-renge-kyo. São abarcados pelo Myoho-renge-kyo e,</p><p>ao mesmo tempo, possuem a Lei dentro deles. Por isso, Myoho-renge-kyo</p><p>é o nome da “verdade mística inerente nos seres vivos”. Foi Nichiren</p><p>Daishonin quem declarou pela primeira vez que Myoho-renge-kyo era o</p><p>daimoku que todas as pessoas deveriam recitar e propagar nos Últimos</p><p>Dias da Lei.</p><p>A recitação do daimoku</p><p>para perceber a verdade mística</p><p>O passo seguinte de Nichiren Daishonin para abrir esse grande</p><p>caminho foi estabelecer a prática chamada “recitação do daimoku”. Ele</p><p>agregou a palavra “nam” [variação fonética de namu] à verdade</p><p>universal de Myoho-renge-kyo e estabeleceu a prática</p><p>que consiste em</p><p>recitar ou entoar essa verdade. Nam significa “dedicar a vida a”. Recitar</p><p>Nam-myoho-renge-kyo de forma audível expressa a determinação e o</p><p>juramento de dedicar nossa vida à verdade de Myoho-renge-kyo em</p><p>pensamentos [mente], palavras [boca] e ações [corpo].</p><p>Ao mesmo tempo, a prática do daimoku permite a cada pessoa</p><p>edificar um modo de vida fundamentado na verdade universal de Myoho-</p><p>renge-kyo. O ponto-chave na recitação de daimoku no Budismo Nichiren</p><p>não está em simplesmente entoar o nome de uma “verdade externa”. A</p><p>recitação do daimoku é uma prática para revelar a “verdade interior” que</p><p>permeia tanto o Universo como nosso próprio ser, e viver de acordo com</p><p>essa verdade. Essa prática pode ser descrita como um processo de</p><p>construir uma identidade capaz de ativar e empregar como recurso a</p><p>“verdade mística inerente nos seres vivos”.</p><p>Embora o Sutra do Lótus expusesse que as pessoas deviam abrir os</p><p>olhos para a verdade mística, a essência de que essa verdade existia</p><p>dentro delas foi se perdendo ao longo da história do budismo. Nesse</p><p>contexto, Tiantai estabeleceu uma prática meditativa, fundamentada nos</p><p>princípios dos “três mil mundos num único momento da vida” e da</p><p>“relação mútua e inclusiva de um único momento da vida e todos os</p><p>fenômenos”. Dessa forma, ele procurou possibilitar às pessoas</p><p>manifestarem o estado de buda em sua vida. O método da meditação</p><p>exposto por Tiantai para “observar a mente” poderia ser visto como uma</p><p>prática apropriada que restaurou o caminho correto do Sutra do Lótus.</p><p>Por outro lado, para possibilitar que todas as pessoas percebessem e</p><p>compreendessem a “verdade mística inerente nos seres vivos”, Nichiren</p><p>Daishonin deu-lhe o nome de Myoho-renge-kyo e estabeleceu a prática da</p><p>recitação desse nome; ou seja, a prática do daimoku. Com isso, ele</p><p>revelou o caminho para que todos se dedicassem à verdade mística e</p><p>vivessem com base nela.</p><p>Desse modo, Nichiren Daishonin estabeleceu o meio pelo qual todos</p><p>poderiam despertar para o fato de que a verdade da vida e do Universo</p><p>existia em cada ser humano, e manifestá-la ativamente. Essa verdade</p><p>também é a sabedoria iluminada de todos os budas, totalmente revelada</p><p>no Sutra do Lótus, o ensinamento mais elevado do budismo. Quando nos</p><p>baseamos nela, podemos construir uma vida de supremo valor. O</p><p>Budismo Nichiren revelou esse mundo da fé de forma que qualquer</p><p>pessoa, em qualquer lugar, época ou circunstância, tenha acesso a ele.</p><p>Não seria exagero dizer que a recitação do daimoku, no Budismo</p><p>Nichiren, deu origem ao “budismo do povo”. Ela constitui a suprema</p><p>prática budista que possibilita a cada pessoa transformar sua vida no</p><p>nível fundamental.</p><p>Em outras palavras, recitar daimoku também é manifestar nosso</p><p>estado de buda inato. É o caminho direto para evidenciar essa condição</p><p>incomparável de vida. Nichiren Daishonin afirma:</p><p>Por essa razão, quando recitamos uma vez Myoho-renge-kyo, com esse único som,</p><p>convocamos e manifestamos a natureza de buda de todos os budas, de todos os fenômenos, de</p><p>todos os bodisatvas, de todos os ouvintes da voz, de todas as divindades como Brahma, Shakra e</p><p>o rei Yama, as divindades do Sol e da Lua, e das miríades de estrelas; das divindades celestiais e</p><p>terrenas; e assim sucessivamente até a dos seres que habitam o mundo de inferno, dos espíritos</p><p>famintos, dos animais, dos asura, dos seres humanos e seres celestiais, e de todos os demais</p><p>seres vivos. Esse benefício é imensurável e ilimitado”.[20]</p><p>A sabedoria e a benevolência do Buda que emergem com a prática do</p><p>daimoku, enriquecem e enchem de felicidade tanto a nossa vida como a</p><p>de outras pessoas. Quanto mais pessoas recitarem daimoku pela</p><p>felicidade de si e dos outros, maior será a possibilidade de criar a</p><p>solidariedade de indivíduos envoltos com a benevolência do estado de</p><p>buda para mudar até mesmo o destino da humanidade.</p><p>Saudemos o alvorecer do “Budismo do Sol”</p><p>Outro ponto que devemos ter em mente sobre o verdadeiro significado</p><p>do Nam-myoho-renge-kyo é que também designa a vida do Buda dos</p><p>Últimos Dias da Lei, isto é, de Nichiren Daishonin.</p><p>O nome Nam-myoho-renge-kyo e a vida do buda original estão</p><p>conectados de maneira indivisível. Poderíamos dizer que a verdade</p><p>fundamental de Myoho-renge-kyo que permeia a vida e o Universo</p><p>somente pôde ser identificada e estabelecida pela primeira vez quando</p><p>Nichiren Daishonin a praticou e a manifestou na própria conduta. Ele deu</p><p>expressão concreta à Lei que, até então, as pessoas não foram capazes de</p><p>perceber.</p><p>A vida de Nichiren Daishonin como Buda dos Últimos Dias da Lei foi</p><p>totalmente dedicada à luta contra o mal e a ignorância. A batalha para</p><p>libertar as pessoas da desventura e infelicidade neste mundo, do carma</p><p>negativo, dos sofrimentos implícitos no nascimento, envelhecimento,</p><p>doença e morte, em última instância, implicam numa luta contra a</p><p>escuridão fundamental e a ignorância que dão origem ao mal e ao</p><p>sofrimento.</p><p>Nichiren Daishonin diz que o Nam-myoho-renge-kyo, que ele recita</p><p>pela felicidade de si e de seus semelhantes enfocado na realização do</p><p>kosen-rufu,[21] “[dissipa] as nuvens da ignorância”,[22] e tem o poder</p><p>inegável de dissipar a escuridão. Quando recitamos Nam-myoho-renge-</p><p>kyo, o sol do estado de buda desponta em nosso coração, dispersando a</p><p>ignorância e a ilusão que até esse momento encobriam o sol como um</p><p>pesado manto de nuvens. Quando o sol do estado de buda resplandece em</p><p>nosso interior, dissipa-se a penumbra da ignorância.</p><p>O Budismo Nichiren não é um ensinamento que permite somente a seu</p><p>fundador brilhar como o sol, mas uma filosofia que possibilita a cada</p><p>indivíduo fazer com que seu próprio sol desponte, tal como Nichiren</p><p>Daishonin fez. Somos realmente afortunados por podermos irradiar a</p><p>mesma condição de vida iluminada do Buda.</p><p>A esse respeito, Nichikan Shonin escreveu:</p><p>Quando uma pessoa abraça este Gohonzon com fé e recita Nam-myoho-renge-kyo, sua</p><p>própria vida se transforma imediatamente no objeto de devoção dos três mil mundos num único</p><p>momento da vida. Torna-se a vida de Nichiren Daishonin.[23]</p><p>A prática da recitação do daimoku é, de fato, o caminho supremo para</p><p>atingir o estado de buda e possibilitar a cada pessoa ser um sol</p><p>esplêndido, por direito próprio.</p><p>O poeta russo Alexander Pushkin (1799–1837) escreveu:</p><p>Na presença do alvorecer cada vez mais brilhante</p><p>Estremecerá e se apagará cada falsidade,</p><p>Rendida ante a chama perene da razão.</p><p>Celebremos a aurora, e que a sombra pereça!</p><p>O Budismo Nichiren é o “Budismo do Sol”, que revela o caminho da</p><p>suprema vitória da vida para toda a humanidade. Bradando altivamente</p><p>“Celebremos a aurora!”, avancemos dinamicamente na luta para dissipar</p><p>a escuridão que envolve o coração das pessoas.</p><p>PARTE 3</p><p>A LEI MÍSTICA EXISTE DENTRO</p><p>DO CORAÇÃO</p><p>Mesmo que recite e acredite no Myoho-renge-kyo, se pensa que a Lei existe fora de seu</p><p>coração, o senhor não está abraçando a Lei Mística, mas um ensinamento inferior.</p><p>“Ensinamento inferior” refere-se a outros preceitos além deste sutra [Sutra do Lótus], que são</p><p>meios e provisórios. Nenhum desses meios ou ensinamentos provisórios conduz diretamente à</p><p>iluminação e, sem um caminho direto à iluminação, o senhor não conseguirá atingir o estado de</p><p>buda, mesmo que pratique existência após existência por incontáveis kalpa. Dessa forma,</p><p>atingir o estado de buda nesta existência seria impossível. Assim, quando o senhor recita myoho</p><p>e pronuncia renge, deve ter a profunda fé de que o Myoho-renge-kyo é sua própria vida.[24]</p><p>Recitar Nam-myoho-renge-kyo é integrar a nossa vida com a Lei</p><p>Mística. É a prática budista que funde nossa vida com essa Lei. É também</p><p>uma batalha para vencermos a escuridão inata que tenta nos impedir de</p><p>fazermos essa fusão. Quando vencemos a escuridão da ilusão e da</p><p>ignorância por meio da fé e nos tornamos inseparáveis da Lei Mística, o</p><p>infinito poder dessa grande Lei manifesta-se em nossa vida. Este é o</p><p>imensurável benefício da recitação do Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>A recitação do daimoku, com o espírito de procura pela fé, é a</p><p>essência da prática estabelecida e propagada por Nichiren</p><p>Daishonin. Ele</p><p>afirma: “O que importa é o coração”.[25] Portanto, no que diz respeito à</p><p>prática do daimoku, o fundamental é desenvolver uma fé corajosa para</p><p>vencer a ilusão e não se deixar abater pelos três obstáculos e pelas quatro</p><p>maldades. Façam com que a causa e o efeito de atingir o estado de buda</p><p>sejam o núcleo ou a essência da própria vida.</p><p>Myoho-renge-kyo é o nome da verdade mística suprema, e Nam-</p><p>myoho-renge-kyo é o nome do estado de vida dos budas que incorporam e</p><p>revelam essa verdade. Assim sendo, quando recitamos Nam-myoho-</p><p>renge-kyo com espírito de procura pela fé, o infinito benefício da Lei</p><p>Mística manifesta-se em nossa vida. Eis o significado de fazer surgir ou</p><p>manifestar o estado de buda.</p><p>Isso corresponde à causa e efeito num único momento da vida[26] ou</p><p>princípio da “simultaneidade de causa e efeito”, segundo o qual a fé é a</p><p>causa, e a manifestação do estado de buda, o efeito. Quando</p><p>perseveramos na prática de Nam-myoho-renge-kyo, tanto nos momentos</p><p>de sofrimento como nos de alegria, quando nos dedicamos pela felicidade</p><p>pessoal e dos demais, podemos fazer com que a causa e o efeito de atingir</p><p>o estado de buda – dois aspectos que estão compreendidos na prática da</p><p>recitação do daimoku – tornem-se o núcleo ou a essência de nossa vida.</p><p>Quando recitamos daimoku, emerge de nosso interior o intrépido estado</p><p>de buda. A isso se refere “atingir o estado de buda nesta existência”.</p><p>Em seu tratado O Objeto de Devoção para Observar a Mente,</p><p>Nichiren Daishonin declara: “O buda Shakyamuni, que atingiu a</p><p>iluminação perfeita, é nossa carne e nosso sangue. Suas práticas e</p><p>virtudes resultantes são nossos ossos e nossa medula”.[27] Ele explica que</p><p>o ato de acreditar no Myoho-renge-kyo é, propriamente, atingir o estado</p><p>de buda. A recitação do Nam-myoho-renge-kyo cria a causa e o efeito</p><p>num único momento da vida, ou seja, a fé [causa] que conduz à</p><p>manifestação do estado de buda [efeito].</p><p>Desse ponto de vista, nossa voz que recita daimoku é a “voz da fé</p><p>inabalável e de espírito de procura” que dissipa a escuridão interior da</p><p>ignorância e da ilusão e vence os obstáculos e as funções maléficas. É</p><p>também o corajoso “rugido de leão” que advém do estado de buda</p><p>revelado como resultado de nosso daimoku.</p><p>A recitação de Nam-myoho-renge-kyo não é somente a “voz da fé”</p><p>das pessoas comuns; é também a “voz do estado de buda”. Por essa razão,</p><p>devemos sempre recitar um daimoku ressonante, com um ritmo vibrante e</p><p>vigoroso, semelhante ao galopar de um corcel.</p><p>Pode-se dizer também que a recitação do daimoku é uma ação por</p><p>meio da qual afirmamos que somos, na forma inata, entidades de Myoho-</p><p>renge-kyo. Essa prática representa uma batalha para retornar à nossa</p><p>identidade verdadeira ou original e tomar contato com a força vital inata</p><p>que possuímos desde o tempo sem início.</p><p>Nichiren Daishonin diz: “Não há felicidade maior para os seres</p><p>humanos do que recitar Nam-myoho-renge-kyo”.[28] Essa felicidade é a</p><p>“alegria ilimitada da Lei” que se refere à felicidade indestrutível e à paz</p><p>de espírito inerentes em nossa vida. Experimentar essa alegria significa</p><p>sentir e desfrutar ao máximo a infinita força vital inseparável da Lei</p><p>Mística. Daishonin declara que a única forma de experimentarmos essa</p><p>alegria da Lei Mística é por meio da recitação do Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>Considerando o profundo significado do daimoku, quando o</p><p>recitarmos, devemos sempre nos lembrar de que o Myoho-renge-kyo é</p><p>nossa própria vida. Se perdermos de vista esse ponto, por mais que</p><p>recitemos daimoku, estaremos nos desviando da prática ensinada por</p><p>Nichiren Daishonin.</p><p>A Lei Mística e os ensinamentos incompletos</p><p>Nichiren Daishonin adverte rigorosamente: “Mesmo que recite e</p><p>acredite no Myoho-renge-kyo, se pensa que a Lei existe fora de seu</p><p>coração, o senhor não está abraçando a Lei Mística, mas um ensinamento</p><p>inferior”.</p><p>“Inferior”, nessa frase, significa “incompleto”. A Lei Mística é a</p><p>verdade suprema, perfeita e completa; em contraste, um ensinamento</p><p>incompleto estabelece somente uma verdade parcial.</p><p>Esse trecho contém uma profunda filosofia, que sana as graves falhas</p><p>que muitas religiões tendem a cometer. Incorpora também a filosofia</p><p>fundamental sobre a fé para atingir a felicidade genuína.</p><p>A prática religiosa, de modo geral, é considerada uma atividade</p><p>universal para ligar o ser humano ao infinito, ao absoluto e ao divino.</p><p>Embora isso seja correto em certo sentido, muitas religiões postulam a</p><p>separação entre o secular e o divino, entre os seres humanos e a</p><p>divindade ou o Buda e procuram reduzir essa lacuna.</p><p>No entanto, Nichiren Daishonin considera esses tipos de ensinamento</p><p>como incompletos, citando como exemplos os ensinamentos provisórios,</p><p>ou anteriores ao Sutra do Lótus, expostos por Shakyamuni. Essas</p><p>doutrinas não estabelecem os princípios ou a prática que possibilita às</p><p>pessoas atingirem o estado de buda nesta existência. Em vez disso,</p><p>expõem que as pessoas devem realizar uma prática austera por</p><p>intermináveis kalpa para então atingirem a iluminação.</p><p>Nos ensinamentos anteriores ao Sutra do Lótus, existe um abismo</p><p>insondável entre os budas e as pessoas comuns. Somente um número</p><p>muito reduzido de discípulos excepcionais, que haviam praticado</p><p>austeridades por incontáveis kalpa, podiam chegar à meta da iluminação.</p><p>Além disso, de acordo com esses ensinamentos, era inconcebível que</p><p>alguém que tivesse conseguido atingir o estado de buda voltasse a ser um</p><p>mortal comum. Como regra, a dimensão na qual os budas habitam não é o</p><p>mundo saha[29] cheio de conflitos, onde as pessoas comuns vivem. Os</p><p>budas e as pessoas estão totalmente separados. Por isso, enquanto houver</p><p>separação entre o mundo do estado de buda e os nove mundos [o domínio</p><p>dos seres comuns], não haverá como as pessoas atingirem a iluminação.</p><p>Segundo essa visão de mundo, as pessoas comuns e os budas idealizados</p><p>representam polos opostos. As pessoas comuns não têm outra opção</p><p>senão aspirar à salvação por meio da ajuda ou intervenção desses budas.</p><p>Essa separação percebida entre os nove mundos e o mundo do estado</p><p>de buda foi eliminada pelo Sutra do Lótus, por meio da doutrina dos “três</p><p>mil mundos num único momento da vida”. Em outras palavras, refere-se</p><p>ao ensinamento de que “os nove mundos possuem o potencial para o</p><p>estado de buda” e o “estado de buda compreende os nove mundos”.</p><p>Nesse aspecto, observamos a grande importância do princípio da</p><p>possessão mútua dos dez mundos[30] contida no Sutra do Lótus.</p><p>Ao estabelecer a prática do Nam-myoho-renge-kyo, Daishonin</p><p>revelou o caminho para tornar realidade o princípio da possessão mútua</p><p>dos dez mundos, a chave para atingir o estado de buda nesta existência.</p><p>Isso constitui, na forma mais completa, o ensinamento do budismo que</p><p>busca a iluminação para todos os seres humanos.</p><p>Convocar e manifestar a natureza de buda</p><p>A Lei Mística é a Lei fundamental do Universo. Nesse sentido, possui</p><p>uma universalidade que transcende nosso próprio “eu” individual. No</p><p>entanto, conforme revela Nichiren Daishonin ao explicar a “verdade</p><p>mística inerente nos seres vivos”, a Lei Mística também existe</p><p>inerentemente em nossa vida porque é uma Lei universal que abrange e</p><p>permeia tudo no Universo.</p><p>No escrito Como Aqueles que Inicialmente Aspiram ao Caminho</p><p>Podem Atingir o Estado de Buda por meio do Sutra do Lótus, Daishonin</p><p>explica a essência de Myoho-renge-kyo:</p><p>Quanto ao significado de Myoho-renge-kyo, a natureza de buda inerente em nós, pessoas</p><p>comuns; a natureza de buda de Brahma, Shakra e das demais divindades; a natureza de buda de</p><p>Shariputra, Maudgalyayana e dos demais ouvintes da voz; a natureza de buda de Manjushri,</p><p>Maitreya e dos demais bodisatvas, e a Lei Mística, que é a iluminação dos budas das três</p><p>existências, são unas e inseparáveis. Esse princípio é chamado Myoho-renge-kyo.[31]</p><p>Nichiren Daishonin diz que Myoho-renge-kyo não é apenas nossa</p><p>própria natureza de buda, mas também a de todas as divindades</p><p>celestiais, ouvintes, bodisatvas e demais criaturas. Essa natureza de buda</p><p>é também idêntica à Lei Mística para a qual os budas das três existências</p><p>estão</p><p>iluminados.</p><p>Ele prossegue explicando que a recitação do daimoku é a prática por</p><p>meio da qual “convocamos e manifestamos” a natureza de buda inerente</p><p>na vida de todos os seres dos dez mundos:</p><p>Por essa razão, quando recitamos uma vez Myoho-renge-kyo, com esse único som,</p><p>convocamos e manifestamos a natureza de buda de todos os budas, de todos os fenômenos, de</p><p>todos os bodisatvas, de todos os ouvintes da voz, de todas as divindades como Brahma, Shakra e</p><p>o rei Yama, as divindades do Sol e da Lua, e das miríades de estrelas; das divindades celestiais e</p><p>terrenas; e assim sucessivamente até a dos seres que habitam o mundo de inferno, dos espíritos</p><p>famintos, dos animais, dos asura, dos seres humanos e seres celestiais, e de todos os demais</p><p>seres vivos. Esse benefício é imensurável e ilimitado.[32]</p><p>Ele também aborda o significado da recitação do daimoku:</p><p>Quando reverenciamos o Myoho-renge-kyo inerente em nossa própria vida como objeto de</p><p>devoção, ativamos nossa natureza de buda e a manifestamos por meio da recitação do Nam-</p><p>myoho-renge-kyo. Esse é o significado de “buda”.[33]</p><p>O trecho “convocamos e manifestamos” ressalta o profundo</p><p>significado da Lei Mística. Nichiren Daishonin usa uma excelente</p><p>metáfora para explicar o significado de convocar e manifestar a natureza</p><p>de buda inata:</p><p>Quando um pássaro engaiolado canta, os que estão voando livres pelo céu são atraídos</p><p>pelo chamado dele. Então, rodeado pelos demais, o pássaro engaiolado se esforça para se</p><p>libertar.[34]</p><p>O canto do pássaro engaiolado refere-se ao daimoku recitado pelas</p><p>pessoas comuns acorrentadas pela escuridão fundamental e pelos desejos</p><p>mundanos, que fez surgir a fé na Lei Mística. Em outras palavras, é o</p><p>daimoku recitado com a determinação de vencer todos os obstáculos e de</p><p>ser feliz por meio do poder da Lei Mística.</p><p>O poder do daimoku evoca a natureza de buda em todos os seres</p><p>vivos. Não somente a natureza de buda de Brahma, Shakra e de todos os</p><p>budas e bodisatvas se manifesta, como também aqueles que recitam Nam-</p><p>myoho-renge-kyo são capazes de romper as correntes da escuridão ou</p><p>ilusão fundamental para revelar sua própria natureza de buda. Em outras</p><p>palavras, o poder de nossa voz recitando Nam-myoho-renge-kyo é o que</p><p>liga a nossa vida à Lei Mística que permeia todos os fenômenos dos três</p><p>mil mundos.</p><p>Em seu escrito Carta para Niike, Nichiren Daishonin apresenta uma</p><p>explicação mais profunda sobre o significado da recitação do daimoku</p><p>por meio da famosa analogia da ave e o ovo. Ele diz que não há nada no</p><p>interior do ovo senão líquido, mas quando o ovo é aquecido pelo corpo</p><p>da mãe, desenvolve-se o bico, os olhos e as penas. Com o tempo, o</p><p>filhote rompe a casca e sai dela, e não tarda a voar pelo céu como sua</p><p>mãe. Nessa analogia, a substância que o ovo contém representa a natureza</p><p>de buda dos seres vivos, enquanto o pássaro-mãe representa o Buda que</p><p>conduz as pessoas à iluminação. A recitação do Nam-myoho-renge-kyo é,</p><p>ao mesmo tempo, a “voz da fé” das pessoas comuns e a função do estado</p><p>de buda.</p><p>A exortação mais importante que Nichiren Daishonin faz sobre a</p><p>consecução do estado de buda mediante a recitação do Nam-myoho-</p><p>renge-kyo é que não devemos ver a Lei como algo externo a nós. Se</p><p>pensarmos que a Lei existe externamente, então estaremos retrocedendo</p><p>aos ensinamentos anteriores ao Sutra do Lótus, que pregavam a separação</p><p>entre os budas e os seres humanos.</p><p>Perceber que nossa própria vida</p><p>é Nam-myoho-renge-kyo</p><p>A recitação do Nam-myoho-renge-kyo possui imenso poder benéfico.</p><p>O segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, descrevia o poder</p><p>ilimitado da Lei Mística da seguinte forma:</p><p>É como estar deitado em um vasto campo aberto a contemplar o céu com os braços e as</p><p>pernas estendidas. Tudo o que se deseja, aparece num instante. Por mais que você o use, há</p><p>sempre mais à sua disposição. Tente e verá que você pode atingir essa condição de vida.</p><p>De fato, o Nam-myoho-renge-kyo pode ser comparado com a “joia da</p><p>realização dos desejos”.[35] Como podemos desenvolver esse estado de</p><p>vida sem limites que nos possibilita extrair a força necessária nos</p><p>momentos críticos? O presidente Josei Toda costumava dizer: “Se</p><p>realmente desejam atingir uma condição de vida assim, lutem, dediquem-</p><p>se de corpo e alma em prol do Sutra do Lótus e do kosen-rufu!”</p><p>Essa frase descreve a disposição de nos dedicar eternamente junto</p><p>com os budas das três existências, com Brahma e Shakra, ou seja, em</p><p>qualquer lugar do Universo em que nos encontremos, para tornar</p><p>realidade um mundo de paz e felicidade dedicado à criação de valor,</p><p>ajudando as pessoas a superar os infortúnios e a transcender os</p><p>sofrimentos do nascimento, do envelhecimento, da doença e da morte.</p><p>Esse era o espírito vasto e irrestrito de meu mestre. Em quaisquer</p><p>circunstâncias de sua vida, o Sr. Toda continuou a buscar a Lei, que existe</p><p>em nós próprios e em mais nenhum outro lugar. Ele ressaltou também a</p><p>importância de vivermos fiéis a nós mesmos. Seu ponto de partida foi ter</p><p>compreendido profundamente na prisão que Buda é a própria vida e que</p><p>sua verdadeira identidade era a de um bodisatva da terra.[36] Ele sempre</p><p>falava da postura que devemos ter com relação à fé para percebermos a</p><p>Lei em nós mesmos: “Precisam ter a convicção de que o Nam-myoho-</p><p>renge-kyo é a sua própria vida!” ou “Propagar a Lei Mística nos Últimos</p><p>Dias da Lei significa acreditar firmemente que sua vida não está separada</p><p>do Nam-myoho-renge-kyo!”. Este é o espírito que Nichiren Daishonin nos</p><p>ensina com a seguinte frase: “Portanto, quando o senhor recita myoho e</p><p>pronuncia renge, deve ter a profunda fé de que o Myoho-renge-kyo é sua</p><p>própria vida”.</p><p>Uma religião universal para a felicidade</p><p>de toda a humanidade</p><p>Falando de forma geral, as religiões expõem uma entidade eterna e</p><p>infinita que transcende o ser humano e a transitoriedade do mundo,</p><p>empregando termos como “deus” ou “lei”. Essa entidade eterna e infinita</p><p>pode ser vista de maneiras muito distintas pelas religiões: pode inspirar</p><p>medo reverencial, adoração, um grande vazio associado ao nada ou uma</p><p>torrente de amor universal.</p><p>Nichiren Daishonin percebeu que o poder da Lei Mística, que abarca</p><p>e sustenta todas as coisas no Universo, existe dentro do ser humano, e</p><p>revelou o meio pelo qual cada pessoa pode manifestar realmente essa Lei</p><p>na vida.</p><p>Em meu segundo discurso proferido na Universidade de Harvard, em</p><p>setembro de 1993, destaquei três pontos por meio dos quais o budismo</p><p>Mahayana poderia contribuir para a civilização moderna: (1) promover a</p><p>construção da paz; (2) pavimentar o caminho para a restauração e o</p><p>rejuvenescimento da humanidade; e (3) oferecer uma base filosófica para</p><p>a coexistência simbiótica entre todas as coisas. Sobre o segundo ponto,</p><p>frisei o enfoque dado pelo Budismo Nichiren, que ensina a não depender</p><p>unilateralmente do poder do indivíduo nem do poder externo. Essa</p><p>perspectiva conquistou a adesão de muitos acadêmicos. De acordo com o</p><p>Budismo Nichiren, as pessoas somente podem ativar plenamente seu</p><p>poder interior quando, mediante o recurso da oração, fundem-se com o</p><p>poder externo da verdade eterna e imutável que transcende o “eu”</p><p>limitado e finito. Ao mesmo tempo, na realidade, esse poder externo e</p><p>universal nos é intrínseco. Nichiren Daishonin afirma:</p><p>As pessoas são, com certeza, providas de poder próprio e, no entanto, não são providas de</p><p>poder próprio. (...) As pessoas certamente têm o poder dos outros e, no entanto, não têm o</p><p>poder dos outros.[37]</p><p>Em minha opinião, o significado dessa frase é que podemos</p><p>manifestar o poder transcendental que possuímos dentro de nós quando</p><p>não dependemos exclusivamente de um poder externo nem de nosso</p><p>próprio poder. O que nos permite manifestar esse poder inato é a</p><p>recitação do Nam-myoho-renge-kyo.</p><p>Dessa forma, o Budismo Nichiren apresenta um novo e amplo</p><p>conceito de uma religião universal em prol da felicidade de toda a</p><p>humanidade – uma visão que transcende o enfoque dos ensinamentos que</p><p>separam o poder externo e o poder interno e dão mais ênfase a um ou a</p><p>outro.</p><p>PARTE 4</p><p>MUDANÇA EM NOSSA</p><p>ATITUDE BÁSICA</p><p>Jamais pense</p><p>que os oitenta mil ensinamentos sagrados expostos pelo buda Shakyamuni</p><p>durante toda a existência dele ou que os budas e bodisatvas das dez direções e das três</p><p>existências se encontram em algum lugar fora do senhor. A prática dos ensinamentos budistas</p><p>não o libertará do sofrimento de nascimento e morte se não compreender a verdadeira natureza</p><p>da vida. Se buscar a iluminação fora de si, então, mesmo que realize dez mil práticas e dez mil</p><p>boas ações, tudo será em vão. Isso se compara ao caso de um homem pobre que passa dia e</p><p>noite contando a riqueza do vizinho, mas não consegue obter sequer uma ínfima quantia em</p><p>benefício próprio. É por essa razão que a escola Tiantai afirma: “Se não despertar para a própria</p><p>natureza, não conseguirá erradicar os graves crimes de sua vida”. Esta passagem significa que,</p><p>se as pessoas não despertarem para a natureza da própria vida, a prática será algo austero,</p><p>angustiante e sem fim. Portanto, esse tipo de pessoa, mesmo que estude o budismo, é</p><p>considerada não budista. Em Grande Concentração e Discernimento, Tiantai declara que,</p><p>embora essas pessoas estudem o budismo, suas concepções não diferem daquelas não budistas.</p><p>Se o senhor invocar o nome do Buda, recitar o sutra ou simplesmente oferecer flores e</p><p>incenso, todos esses atos virtuosos trarão benefícios e fincarão raízes do bem em sua vida.</p><p>Deve se empenhar na fé com essa convicção.[38]</p><p>O ideograma myo de myoho, ou Lei Mística, possui três significados:</p><p>ser plenamente dotado, abrir e reviver. Esses três significados de myo</p><p>estão implícitos na recitação do daimoku. Em outras palavras, a recitação</p><p>do daimoku contém: (1) myo da plena dotação, ou seja, a Lei de Myoho-</p><p>renge-kyo que compreende todos os fenômenos; (2) myo da</p><p>transformação, que “abre” ou “revela” o estado de buda na vida dos seres</p><p>dos nove mundos (do mundo do inferno ao dos budas); e (3) myo do</p><p>grande benefício, pelo qual uma vida repleta de sofrimentos “revive ou</p><p>renasce” como uma vida de imensa tranquilidade e alegria.</p><p>Nossa vida é uma entidade da Lei Mística. Por isso, está plenamente</p><p>dotada de todos os fenômenos. Em nós existem a escuridão fundamental e</p><p>a natureza iluminada da Lei, os desejos mundanos e a iluminação, os nove</p><p>mundos e o estado de buda. Justamente por essa razão, podemos realizar</p><p>uma “revolução” interior mística e fundamental, ou seja, converter a</p><p>escuridão em luz, acender a chama da iluminação queimando a lenha dos</p><p>desejos mundanos e, dessa forma, manifestar o estado de buda em nossa</p><p>vida nos nove mundos.</p><p>A chave para realizar essa profunda mudança interior encontra-se em</p><p>nosso coração, em nossa atitude mental básica. Portanto, Nichiren</p><p>Daishonin adverte: “Se pensa que a Lei existe fora de seu coração, o</p><p>senhor não está abraçando a Lei Mística, mas um ensinamento inferior”.</p><p>Quando nos empenhamos com seriedade na recitação do daimoku tendo</p><p>como base essa advertência, sempre relembrando a importância</p><p>fundamental de mudar nossa própria atitude, os três significados de myo</p><p>se manifestam claramente em nossa vida.</p><p>Nem é preciso dizer que a Lei contida na prática propagada por</p><p>Nichiren Daishonin é, realmente, extraordinária. Porém, mesmo o poder</p><p>incrível dessa Lei não pode se manifestar totalmente numa vida encoberta</p><p>pela ignorância. A ignorância é a escuridão interior que nos impede de</p><p>acreditar na Lei Mística e de mantermos nosso foco em nossa própria</p><p>natureza de buda e na dos outros. A recitação do daimoku nos permite</p><p>romper essa escuridão e fazer manifestar nosso vibrante estado de buda.</p><p>A essência da recitação do daimoku encontra-se na luta interior para</p><p>vencer nossa ignorância.</p><p>Não ser influenciado</p><p>por concepções não budistas</p><p>No trecho que estamos estudando, Nichiren Daishonin adverte com</p><p>rigor:</p><p>Jamais pense que os oitenta mil ensinamentos sagrados expostos pelo buda Shakyamuni</p><p>durante toda a existência dele ou que os budas e bodisatvas das dez direções e das três</p><p>existências se encontram em algum lugar fora do senhor.</p><p>Acredito que o emprego da palavra “jamais” na frase possui um</p><p>grande significado.</p><p>Esse trecho declara que a totalidade do budismo está contida em</p><p>nossa própria vida. Nichiren Daishonin conclui que “os oitenta mil</p><p>ensinamentos sagrados” expostos pelo buda Shakyamuni e “os budas e</p><p>bodisatvas das dez direções e das três existências” são fenômenos</p><p>inerentes em nós.</p><p>Nichiren Daishonin prossegue dizendo que, enquanto buscarmos a</p><p>iluminação fora de nós, mesmo que realizemos “dez mil práticas e dez mil</p><p>boas ações”, ou seja, todas as práticas que Shakyamuni expôs em vida, e</p><p>mesmo que acreditemos na proteção dos budas e bodisatvas das três</p><p>existências, ou seja, as funções benevolentes do Universo, tudo será em</p><p>vão. Agir dessa forma é como calcular a riqueza do vizinho, acrescenta</p><p>Nichiren Daishonin, pois, particularmente, não resulta em nenhum</p><p>benefício.</p><p>Ele cita então a seguinte passagem de um comentário da escola</p><p>Tiantai: “Se não despertar para a própria natureza, não conseguirá</p><p>erradicar os graves crimes de sua vida”. Se não compreendermos esse</p><p>ponto, ele nos alerta, todas as práticas externas e boas ações que</p><p>realizarmos para atingirmos a iluminação, acabarão se tornando “algo</p><p>austero, angustiante e sem fim”.</p><p>Isso quer dizer que, se não percebermos a natureza de nossa vida, não</p><p>poderemos erradicar os graves crimes. “Graves crimes” este trecho</p><p>refere-se à ignorância, a origem de todo mal. O grave crime da calúnia</p><p>surge do ato de desvalorizar a Lei ou o ensinamento correto do budismo,</p><p>como resultado da escuridão ou ilusão inata.</p><p>Segundo Tiantai, somente é possível erradicar essa ignorância por</p><p>meio da prática da observação da própria mente, em outras palavras, da</p><p>sabedoria. No Budismo Nichiren, a escuridão fundamental é erradicada</p><p>pela espada cortante da fé e pela transformação da fé em sabedoria. Essa</p><p>é a essência da prática do daimoku.</p><p>Se buscarmos a iluminação fora de nós, não estaremos seguindo a</p><p>prática da “observação da própria mente” – o caminho que nos permite</p><p>vencer o mal fundamental da ignorância ou escuridão. Nesse caso, todos</p><p>os nossos esforços e boas ações para atingirmos a iluminação não terão</p><p>efeito por faltar o item principal; serão inúteis como calcular a imensa</p><p>riqueza do vizinho. Como nenhuma dessas ações nos levarão a erradicar a</p><p>ignorância, acabarão sendo “algo austero, angustiante e sem fim”.</p><p>Essa batalha contra a ignorância representa o coração do budismo.</p><p>Dizem que a iluminação de Shakyamuni consistiu em identificar a</p><p>escuridão ou a ignorância como a causa fundamental dos quatro</p><p>sofrimentos – derivados do nascimento, do envelhecimento, da doença e</p><p>da morte –, e em expor o caminho para transcender essa ignorância.</p><p>Portanto, enquanto buscarmos o caminho da iluminação fora de nós,</p><p>por mais que pratiquemos e por mais boas ações que realizemos, tudo</p><p>divergirá da verdadeira essência do budismo. Por isso, Nichiren</p><p>Daishonin afirma: “Esse tipo de pessoa, mesmo que estude o budismo, é</p><p>considerada não budista”.</p><p>Buscar a iluminação fora de nós é ser vencido por nossa ignorância</p><p>Um outro ponto importante para o qual Nichiren Daishonin nos chama</p><p>a atenção neste escrito é que nós também podemos cometer o erro de</p><p>seguir ideias não budistas ao pensarmos que a Lei se encontra fora de</p><p>nós. Por isso, devemos sempre ter em mente a admoestação: “Jamais</p><p>pense que os oitenta mil ensinamentos (...) se encontram em algum lugar</p><p>fora do senhor”.</p><p>A recitação do daimoku é a prática para revelar a “verdade mística</p><p>inerente nos seres vivos” e para atingir o estado de buda nesta existência.</p><p>É uma prática incomparavelmente prodigiosa por apresentar o meio pelo</p><p>qual todos os seres podem atingir a iluminação.</p><p>Contudo, se nos esquecermos da advertência de Nichiren Daishonin e</p><p>buscarmos a Lei fora de nós, perderemos de vista o caminho correto para</p><p>a iluminação universal e, na realidade, estaremos praticando um</p><p>ensinamento não budista. Por essa razão, Nichiren Daishonin é rigoroso</p><p>acerca desse ponto.</p><p>O propósito fundamental de nossa prática é perceber a verdadeira</p><p>natureza de nossa vida, de nossa mente. Para tanto,</p>