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<p>57</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Unidade II</p><p>5 PÁGINA E GRID</p><p>5.1 Página: conceituação</p><p>Os blocos de texto são aplicados num suporte, que pode ser físico ou digital. Esse espaço tem sua</p><p>proporção, e os elementos aplicados nele precisam estar dispostos de modo a facilitar a leitura e dar</p><p>sentido a ela. A maneira como os elementos são organizados é sempre intencional. Analisa-se a melhor</p><p>forma de dar voz ao texto, de produzir ênfase e de valorizar títulos e imagens de apoio.</p><p>5.1.1 Leitura da página</p><p>Os nossos olhos passeiam pela página, na maioria das vezes, do mesmo modo: fazendo uma linha</p><p>diagonal do canto superior esquerdo ao canto inferior direito, estando a força maior na parte superior.</p><p>Figura 55 – Zonas de visualização de leitura: 1) zona primária; 2) zona secundária;</p><p>3 e 4) zonas mortas; 5) centro geométrico; 6) centro óptico</p><p>58</p><p>Unidade II</p><p>A zona primária deve ter um elemento forte, um ponto inicial que atraia o olhar do leitor.</p><p>Naturalmente, o olhar corre para o ponto 2, mas devemos preencher as zonas mortas 3 e 4 com</p><p>elementos para que o olhar passeie por toda a página de forma racional, sem se descolar brutalmente,</p><p>indo direto para o ponto 2.</p><p>Outro aspecto a salientar tem a ver com os centros da página. O mais atraente é o óptico, um</p><p>pouco acima do centro geométrico da página. Para acharmos o centro geométrico, traçamos duas linhas</p><p>diagonais entre os ângulos opostos da página; no seu encontro fica o centro geométrico.</p><p>A ênfase que criamos nas páginas, por meio de cor, peso, tamanho das fontes e imagens atrativas,</p><p>pode afetar o modo de ver. Devemos trabalhar de maneira intencional, usando os princípios da Gestalt,</p><p>uma parte da psicologia que estuda como percebemos visualmente a forma. Um dos seus princípios</p><p>diz que nossos olhos agrupam elementos de tamanho, cor e forma semelhantes. No livro Sintaxe da</p><p>linguagem visual, Dondis (2003, p. 44) explica a lei do agrupamento:</p><p>A força de atração nas relações visuais constitui outro princípio de Gestalt</p><p>de grande valor compositivo: a lei do agrupamento. Ela tem dois níveis de</p><p>significação para a linguagem visual. É uma condição visual que cria uma</p><p>circunstância de concessões mútuas nas relações que envolvem interação.</p><p>Os dois níveis que Dondis menciona são a aproximação e a semelhança. Elementos aplicados</p><p>próximos criam tensão entre si e tendem a ser vistos como um grupo. Elementos similares, por forma</p><p>e/ou por cor, também têm uma atração maior. Conhecer como percebemos as mensagens visuais</p><p>favorece a organização dos elementos de acordo com o conteúdo textual. Trabalhar a lei do</p><p>agrupamento da Gestalt dentro de uma página ajuda o olho do leitor a se deslocar pelos pontos que</p><p>consideramos mais importantes e cruciais para o entendimento do conteúdo.</p><p>Saiba mais</p><p>O livro Sintaxe da linguagem visual, de Donis Dondis, apresenta a base</p><p>do design gráfico. Recomendamos que o leia.</p><p>DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. Tradução: Jefferson Luiz</p><p>Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2003.</p><p>59</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Figura 56 – Fluxo de leitura</p><p>Na figura anterior, vemos um layout de página dupla. Observe o movimento dos seus olhos.</p><p>Normalmente, eles vão transitar entre os pontos 1, 2, 3, 4 e 5. O detalhe da tarja preta com o crédito</p><p>da imagem nos atrai. É o ponto de partida. A foto tem um sentido diagonal, que funciona como setas</p><p>e direciona para a página da direita. O título ampliado tem a ênfase necessária para fazer o olhar</p><p>subir. Devido à cor, somos atraídos posteriormente para o ponto 4, que poderia ser um elemento da</p><p>organização do projeto gráfico, como uma seção ou um fólio (termos que serão explicados adiante). O texto</p><p>corrido, o último ponto a ser observado, é leve, pois foi trabalhado em duas colunas proporcionais e</p><p>com boa entrelinha, e está num ponto onde terminaria a linha do olhar.</p><p>60</p><p>Unidade II</p><p>Figura 57 – Fluxo de leitura: movimento A (imagem inferior esquerda)</p><p>e movimento B (imagem inferior direita)</p><p>Nesse exemplo, o olhar fica mais confuso, e pode haver movimentos diferentes, como o A ou B.</p><p>No movimento A, o ponto de partida está vazio. Por isso, somos atraídos para a página da direita</p><p>(pontos 1 e 2), devido ao título ampliado e à imagem. Depois, o nosso olhar muda de direção e corre</p><p>para a imagem da esquerda (ponto 3). Por fim, a direção muda de novo, e a leitura do texto começa no</p><p>ponto 4. É provável que o olhar tenha ficado em dúvida quanto a se o texto se iniciava na página da</p><p>esquerda ou na página da direita.</p><p>No movimento B, o ponto de partida é o mesmo, porém, devido aos pesos, não somos atraídos pela</p><p>imagem da página da esquerda, e o olhar fica apenas na página da direita, ignorando o início do texto.</p><p>Percebemos nesse exemplo como é possível manipular o olhar e dar a direção e o fluxo de leitura que</p><p>desejamos, destacando os pontos de interesse e fazendo o olhar percorrer toda a página.</p><p>61</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Observação</p><p>No digital, a direção do olhar é feita em F: os olhos partem do canto</p><p>superior esquerdo, passam pelo topo em linha horizontal e descem para</p><p>a coluna da esquerda em busca de interesses, que direcionarão linhas</p><p>horizontais para a direita.</p><p>5.1.2 Anatomia da página</p><p>O estudo da página deve ser feito segundo o suporte e o formato. Antes de considerarmos</p><p>elementos como margens e colunas, precisamos entender que um projeto gráfico editorial deve levar</p><p>em conta o formato da página e a maneira como ela vai ser manipulada pelo leitor. Por exemplo,</p><p>vamos trabalhar com jornal impresso, jornal digital, revista impressa, livro e fôlder. Todos eles têm</p><p>formato e modo de leitura distintos. Como padronizar as margens e as colunas?</p><p>Elas deverão ser proporcionais. Quando falamos de proporção, recorremos à matemática e aplicamos</p><p>as proporções áureas, os centros ópticos etc. Usar as medidas áureas nas margens da diagramação só</p><p>funcionaria para blocos de texto corrido padrão, com pesos iguais e sem imagens.</p><p>Para começar um projeto gráfico editorial, o primeiro ponto a definir é a mancha gráfica, a área</p><p>delimitada para aplicarmos os elementos visuais: títulos, textos, imagens etc. O que sobra é a margem.</p><p>Então, em vez de pensarmos no espaço vazio, nas margens, pensamos no que será aplicado, pois existem</p><p>projetos com muito texto e, consequentemente, muito peso visual, que precisarão de mais espaços</p><p>vazios – leia-se: margens – para haver equilíbrio. Por outro lado, existem projetos que são trabalhados</p><p>com mais imagens e podem usar menos espaços vazios.</p><p>São as margens que determinam a mancha gráfica. Elas têm como função principal proteger o</p><p>conteúdo, servindo de moldura. Quanto maiores forem, maior será o valor da mancha gráfica. Podemos</p><p>compará-las a caixinhas de joias: são muito maiores do que o produto, mas o valorizam. Outra função</p><p>delas é amarrar as páginas espelhadas, criando uma relação entre a página da esquerda e a página</p><p>da direita.</p><p>Na maioria das publicações, formatamos as margens com as páginas abertas, pois é assim que elas</p><p>serão manipuladas. É pensando nas mãos que seguram a publicação que criamos as margens externas.</p><p>Quanto mais pesado for o livro, quanto mais páginas ele tiver, mais espaço de margem externa deverá</p><p>ter para que se possa segurá-lo com firmeza, sem deixá-lo cair. As margens internas são aplicadas</p><p>de acordo com a espessura do livro (ou revista), para que, quando aberto, não perca a legibilidade</p><p>interna. As margens superiores determinam o ponto de partida: quanto mais espaço tiverem, maior</p><p>será a sensação de leveza na página. As margens inferiores precisam estar relacionadas com as demais;</p><p>podem repetir a medida das margens internas ou ter a metade do tamanho da superior ou da externa.</p><p>62</p><p>Unidade II</p><p>Quando abrimos um programa de editoração, ele mostra a margem padrão de 1/2 polegada, medida</p><p>de segurança para que nenhum texto seja cortado ao ser impresso e encadernado.</p><p>Se quiser aplicar uma margem tradicional ao seu projeto gráfico, trace uma linha diagonal do canto</p><p>superior interno ao canto inferior externo, e crie linhas horizontais e verticais que cruzem a diagonal.</p><p>Dessa maneira, a sua mancha gráfica terá a mesma proporção do formato do papel, independentemente</p><p>do tamanho da margem, como mostra a figura a seguir.</p><p>Figura 58 – Exemplo de margem baseada no formato da página</p><p>Observação</p><p>Ainda pensando na manipulação dos editoriais, as áreas externas têm</p><p>mais interesse do que as internas. Aplique as partes mais importantes do</p><p>seu texto nessas áreas.</p><p>As margens podem receber informações secundárias, como fólios e notas de rodapé, ou criar espaço</p><p>nas laterais externas para possíveis anotações manuais nos livros, recurso usado em livros didáticos.</p><p>5.1.3 Diagramação: texto e imagem</p><p>Diagramar é o ato de organizar e distribuir os elementos numa página. Esses elementos podem ser</p><p>textos, imagens, legendas, títulos, boxes, tabelas etc. Mas diagramar não é apenas encaixar pecinhas; é</p><p>saber contar uma história, direcionar o olhar.</p><p>63</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Dimensionar e espacejar tipos, assim como compor e tocar música ou</p><p>pintar uma tela, tem muito a ver com intervalos e diferenças. A medida</p><p>que a textura é construída, relações precisas e discrepâncias mínimas ficam</p><p>perceptíveis. Estabelecer as dimensões gerais de uma página é em grande</p><p>parte uma questão de somas e limites (BRINGHURST, 2005, p. 161).</p><p>Conforme explica Bringhurst, diagramar é uma questão de equilibrar os espaços vazios e criar</p><p>relações entre os elementos da página. Essas relações podem ser entre tamanhos, cores e pesos de texto</p><p>intencionalmente usados para contar a história. Por exemplo, numa matéria de revista, é preciso pensar</p><p>nas relações presentes nas duas primeiras páginas espelhadas, que abrem a matéria, e dispor os itens de</p><p>forma que deem ao leitor vontade de ler as páginas seguintes. Na parte final, deve haver um sinal que</p><p>indique o término da matéria.</p><p>Aplicamos elementos de direção como:</p><p>• linhas diagonais (da esquerda para a direita, de cima para baixo);</p><p>• linhas horizontais;</p><p>• fotos com o olhar ou a posição da cabeça para a direita;</p><p>• objetos que apontam para a direita.</p><p>Em jornal ou em meios digitais, “forçamos” o olhar para baixo.</p><p>Veja o exemplo a seguir, de uma matéria da Cosmos Magazine. A imagem de abertura está virada</p><p>para a esquerda e não produz integração entre as páginas.</p><p>Figura 59 – Matéria da Cosmos Magazine</p><p>Fonte: Cosmos Magazine (2020, p. 34-35).</p><p>64</p><p>Unidade II</p><p>Se pegamos a mesma imagem e a editamos no Photoshop, espelhando-a, virando a cientista para</p><p>o lado direito, percebemos que a dupla de páginas fica mais integrada. Isso mostra o quanto imagens,</p><p>ilustrações e formas direcionam o olhar.</p><p>Figura 60 – Matéria da Cosmos Magazine editada</p><p>Adaptada de: Cosmos Magazine (2020, p. 34-35).</p><p>Agrupar é uma maneira de criar conexões entre elementos como imagem e texto, e imagem e</p><p>legenda. Alinhamos o texto a uma das bordas da imagem. Agrupar elementos também serve para</p><p>separá-los de outras informações.</p><p>Figura 61 – Agrupamento</p><p>5.1.4 Hierarquia</p><p>Qual é a ordem de importância de um texto ou matéria? Usamos título, subtítulo, texto corrido,</p><p>destaques, boxes, imagens e legendas. Hierarquia é organizar os elementos numa página de acordo</p><p>com a importância deles. Este livro-texto, por exemplo, foi organizado em três unidades diferentes, com</p><p>títulos e subtítulos dentro de cada uma delas. É uma forma hierárquica de organização. Pode parecer</p><p>óbvio pensar em hierarquia de textos, mas e quanto a imagens? Se colocarmos imagens de tamanho</p><p>parecido numa página, elas disputarão entre si e talvez tirem a atenção de outros pontos importantes.</p><p>65</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Para criar hierarquia entre imagens, é preciso definir a mais significativa, a que merece mais destaque.</p><p>As imagens secundárias não devem ser repetitivas, o que demonstra insegurança e indecisão. Um bom</p><p>exemplo disso é o que acontece no Instagram, quando alguém publica várias fotos de viagem, lado a</p><p>lado, no mesmo frame, isto é, no mesmo quadro. Olhamos para todas, mas não percebemos nenhuma,</p><p>ou notamos que existem fotos repetitivas. A forma mais adequada de mostrar as imagens seria eleger</p><p>as melhores e colocá-las no mesmo frame, porém com tamanhos e prioridades diferentes. Ou então pôr</p><p>uma foto em cada quadro, fazendo o leitor “passar” uma a uma, deslizando o dedo na tela.</p><p>Há três formas básicas de criar hierarquia visual: tamanho, posição e contraste cromático. O tamanho</p><p>é importante porque percebemos as coisas grandes antes das pequenas. Nas relações de tamanho, porém,</p><p>existe sempre uma comparação com outro elemento: a imagem está grande em relação a outra</p><p>imagem, a imagem está pequena em relação ao bloco de texto etc. Desse modo, o nosso olhar é atraído</p><p>primeiramente para o elemento aplicado em tamanho maior na página.</p><p>Quanto à posição, um elemento deslocado dos demais, que estão organizados, tende a desviar nosso</p><p>olhar para ele e, consequentemente, destacar-se dos outros. Em certo desenho animado, há uma cena</p><p>com vários personagens enfileirados e outro personagem que diz que quem quiser participar de algo</p><p>deve dar um passo à frente. Então todos, menos um, dão um passo para trás. Aquele que não se mexeu</p><p>ficou em posição de destaque, virou o ponto de atenção. É isso o que acontece na diagramação. Isolar,</p><p>deixando espaços vazios, emoldura imagens e textos, valorizando-os e atraindo o olhar para eles.</p><p>Figura 62 – Hierarquia de tamanho (imagem grande e pequena) e posicionamento (palavra aperibus)</p><p>66</p><p>Unidade II</p><p>O contraste de cores é outra forma de separar e sobressair. Ele pode ser criado por meio de cores com</p><p>diferentes valores. No contraste, a relação cromática será harmônica se houver cores semelhantes nos</p><p>elementos da página. Portanto, a hierarquia é criada mediante relações entre os elementos da página.</p><p>Numa composição, quando estamos diagramando as páginas de uma revista ou de um jornal, muitas</p><p>vezes a hierarquia não se divide apenas em grande e pequeno. É preciso criar uma escala de prioridades,</p><p>do mais importante ao menos importante, e diagramar segundo esse critério. É comum mergulharmos</p><p>na nossa criação e esquecermos a hierarquia. Compor não é um quebra-cabeças com peças do mesmo</p><p>tamanho e peso. Sempre teremos variações de tamanho, posicionamento e contraste, que trarão o</p><p>dinamismo necessário para a composição.</p><p>5.1.5 Capitular</p><p>Conforme vimos na história da tipografia, as capitulares existiam desde a época das iluminuras. Nas</p><p>primeiras impressões, elas eram feitas à mão para valorizá-las.</p><p>São úteis porque marcam o começo do texto. No entanto, aplicá-las em excesso – por exemplo, no</p><p>início de cada parágrafo – pode poluir a diagramação. Seu tamanho e sua forma de encaixe também</p><p>podem prejudicar o resultado. Uma boa fórmula é que tenha a altura de três a seis linhas. Menos de três</p><p>linhas é um destaque tímido; mais de seis linhas é um destaque exagerado.</p><p>Capitular destacada é uma letra ampliada e apoiada na primeira linha do parágrafo. Ela sobe e cria</p><p>um espaço vazio, que poderá ser compensado pelas margens superiores.</p><p>Capitular encaixada é uma letra ampliada e embutida no bloco de texto. Ela interfere na largura da</p><p>coluna. Portanto, a quantidade de linhas de ampliação deverá levar em conta esse detalhe.</p><p>Figura 63 – Exemplo de capitular destacada e encaixada</p><p>67</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Os programas de editoração criam capitulares facilmente, porém são necessários alguns ajustes e</p><p>cuidados para que a letra ampliada fique confortável no espaço. No exemplo a seguir, encaixamos o</p><p>bloco de texto nos espaços vazios da letra, em vez de criar um retângulo branco em volta dela. Não é</p><p>tão fácil fazer esse tipo de ajuste. O ideal é transformar a letra em vetor e usar um recurso do Adobe</p><p>InDesign que permite fazer o texto contornar o desenho.</p><p>Figura 64 – Capitular ajustada</p><p>5.1.6 Fólios</p><p>Antigamente, fólio dizia respeito a uma folha de pergaminho ou papiro. Hoje, quando nos referimos</p><p>aos fólios, estamos</p><p>falando dos números sequenciais aplicados às páginas de editoriais. Eles nos ajudam</p><p>a localizar informações ou indicar o local onde paramos na leitura.</p><p>Em livros, quando a mancha gráfica é uma massa única, eles ditam o ritmo da leitura: tranquilo, se</p><p>estiverem centralizados na página, e dinâmico, se estiverem nas extremidades.</p><p>Figura 65 – Fólios estáticos (à esquerda) e dinâmicos (à direita)</p><p>68</p><p>Unidade II</p><p>Aplicar os fólios nas margens superiores engana os leitores, pois estes costumam procurá-los primeiro</p><p>na parte de baixo da página, por hábito e pelo próprio movimento dos olhos.</p><p>Figura 66 – Fólios nas margens superiores</p><p>Não se deve aplicar os fólios nas margens internas, porque essa é uma zona de leitura morta e</p><p>de difícil localização. Se a ideia é ousar, aplique-os nas margens externas, centralizados na página</p><p>horizontalmente.</p><p>Figura 67 – Fólios nas margens externas (à esquerda) e internas (à direita)</p><p>5.2 Grid: vantagens e desvantagens</p><p>Num editorial, há um projeto com diferentes hierarquias. Organizar os elementos na página envolve</p><p>o planejamento do todo. Um dos recursos mais utilizados para isso é o grid ou grade. O espaço interno</p><p>das margens de páginas espelhadas é dividido em linhas verticais, colunas, que servirão como guia de</p><p>colocação do conteúdo – blocos de texto, boxes, imagens etc.</p><p>A grade enjaula, prende, mas no mundo impresso editorial pode libertar, pois nos dá muito mais</p><p>possibilidades de diagramação. Quanto mais grades, maior a flexibilidade de composição.</p><p>69</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>O grid surgiu com os editoriais, pela necessidade de dividir o texto em mais colunas dentro de uma</p><p>página. Em 1928, Jan Tschichold publicou na Alemanha um livro didático de editoração chamado Die</p><p>neue Typographie [A nova tipografia]. Ele se baseava nas ideias do futurismo, do construtivismo, da</p><p>Bauhaus e do movimento De Stijl.</p><p>Figura 68 – Imagens do livro Die neue Typographie, de Jan Tschichold</p><p>Fonte: Tschichold (1928, folha de rosto e p. 214-215).</p><p>Nesse livro, Tschichold defende o uso de layouts assimétricos, com títulos de comprimento variado</p><p>e espaços vazios para equilibrar os elementos da composição, pois o layout simétrico é rígido e estático.</p><p>Sua forma de pensar a composição é empregada até hoje nos projetos de design editorial. Na imagem</p><p>anterior, vemos um comparativo de formas de aplicação de imagens numa página. O autor diz que</p><p>centralizar as imagens na página e não encaixá-las no grid, além de deixar o layout cansativo, interfere</p><p>no comprimento da linha de texto e, por conseguinte, na leiturabilidade dele.</p><p>A assimetria não é obrigatoriamente algo bagunçado. Existe assimetria equilibrada, em harmonia</p><p>com o restante dos elementos da página. No livro Layout: o design da página impressa, Allen Hurlburt</p><p>(2002, p. 62) explica:</p><p>No estilo simétrico é fácil entender o equilíbrio formal de um layout – com</p><p>o centro da página servindo de fulcro e a área dividida uniformemente</p><p>dos dois lados, é relativamente simples criar. Já no design assimétrico as</p><p>múltiplas opções e tensões provocadas pela inexistência de um centro</p><p>definido requerem considerável habilidade.</p><p>O grid deve ser criado como suporte, não como norma definitiva. Isso não quer dizer que não</p><p>é necessário respeitar os espaços criados, mas sim que se deve pensar em soluções diversas para a</p><p>aplicação nos grids, variando o tamanho das imagens e trabalhando os espaços vazios.</p><p>70</p><p>Unidade II</p><p>Figura 69 – Exemplos feitos pela autora com base no livro</p><p>Novos fundamentos do design, de Ellen Lupton</p><p>Nesse exemplo, vemos um grid com nove módulos, três colunas e três linhas. Há muitas formas de</p><p>usá-lo. Não precisamos encaixar o conteúdo em módulos únicos, prendê-lo em grades amarradas.</p><p>A solução ideal é resistir a confinar o pensamento em formatos padronizados,</p><p>se você estiver preso a algum deles. Em vez disso, trate cada artigo como uma</p><p>unidade separada, distinta, de padrão variado, dentro do continuum que</p><p>abrange tudo. A publicação ficará coerente se você mantiver a consistência</p><p>tipográfica no que se refere a fontes, tamanhos e espaçamentos de linha</p><p>(WHITE, 2008, p. 43).</p><p>71</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>O apoio dos padrões de fonte, cor e tamanho servirá de base para a identidade do projeto editorial.</p><p>Composições assimétricas conferem movimento, em vez de engessar. Parecem caretas, duras, mas foram</p><p>feitas para proporcionar flexibilidade.</p><p>5.2.1 Funções do grid</p><p>O grid tem quatro funções importantes: praticidade, organização, unidade e ritmo. Consideremos</p><p>cada uma delas.</p><p>• Praticidade: em vez de ficar medindo e alinhando os elementos na página, simplesmente</p><p>encaixamos no grid, o que facilita e agiliza o trabalho.</p><p>• Organização: os encaixes, os posicionamentos, organizam as informações, e transmitem segurança</p><p>e credibilidade ao editorial, mostrando uma hierarquia dentro do conteúdo por meio de escalas,</p><p>valores e posições.</p><p>• Unidade: a repetição das grades ao longo das páginas de um projeto gráfico editorial confere</p><p>maior unidade ao projeto, tornando-o único.</p><p>• Ritmo: o grid, quando bem aplicado, impede a monotonia de uma coluna única, proporciona</p><p>flexibilidade e movimento ao projeto.</p><p>5.2.2 Elementos do grid</p><p>Os elementos do grid são:</p><p>• Margens: a moldura dos elementos aplicados, os espaços vazios entre as bordas e as áreas</p><p>da diagramação.</p><p>• Colunas: linhas verticais que delimitam o espaço ocupado pelo conteúdo.</p><p>• Calhas (gutters): os espaços entre as colunas.</p><p>• Guias horizontais: linhas que auxiliam o alinhamento na altura e estruturam o texto.</p><p>• Zonas espaciais: quando usamos mais de um módulo para aplicar os elementos de diagramação.</p><p>• Módulos: quando aplicamos as linhas horizontais equidistantes, criamos os módulos, que</p><p>auxiliam na aplicação de imagens e ilustrações.</p><p>• Marcadores: aplicados sobre as margens, são também chamados de rodapé ou cabeçalho.</p><p>Geralmente contêm informações, como o título do capítulo, do livro ou da seção.</p><p>72</p><p>Unidade II</p><p>Margens</p><p>Colunas</p><p>Calhas</p><p>Guias horizontais</p><p>Zonas espaciais</p><p>Módulos</p><p>Marcadores 5</p><p>Figura 70 – Elementos do grid</p><p>5.2.3 Tipos de grid</p><p>Quando aplicamos grids a um projeto editorial, nós o fazemos nas páginas espelhadas, isto é, com o</p><p>projeto aberto, pensando na página da esquerda e da direita. Podemos compor os elementos na página</p><p>de maneira simétrica ou assimétrica.</p><p>A diagramação simétrica acontece quando as páginas se fecham como uma imagem no espelho.</p><p>Portanto, a margem exterior da página da esquerda é igual à margem exterior da página da direita, e as</p><p>margens interiores são iguais nas duas páginas.</p><p>A diagramação assimétrica é menos usual. A margem exterior da página da esquerda é igual à margem</p><p>interna da página da direita. Aplica-se essa forma de diagramação quando o intuito é separar as duas</p><p>páginas, e não integrá-las, pois dá a sensação de que ambas não se relacionam entre si.</p><p>Veja o exemplo a seguir com as duas formas de diagramação.</p><p>73</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Figura 71 – Diagramação simétrica (acima) e assimétrica (abaixo)</p><p>O grid de colunas pode ter apenas uma coluna. O bloco de texto é aplicado numa coluna única,</p><p>como num livro comum ou numa carta. Já o grid de colunas múltiplas apresenta formas mais flexíveis</p><p>de aplicação de texto e imagem. O número de colunas deverá ser pensado de acordo com o projeto:</p><p>quanto mais colunas ele tiver, mais flexível será. No entanto, não ultrapasse o número de nove colunas;</p><p>fazer isso poderá causar confusão na hora da diagramação.</p><p>74</p><p>Unidade II</p><p>Figura 72 – Revista Superinteressante</p><p>Fonte: Superinteressante (2020, p. 64-65).</p><p>A revista Superinteressante usa uma diagramação de nove grids, mas o que se vê na prática são no</p><p>máximo quatro colunas de texto aplicadas.</p><p>Figura 73 – Exemplos de layout de duas colunas</p><p>Nesses exemplos há duas colunas. No exemplo A, as margens pequenas deixam a página pesada e</p><p>nada atraente. Para quebrar a monotonia, deve-se usar imagens ou textos destacados. No exemplo B,</p><p>as margens maiores</p><p>conferem mais dinamismo para a diagramação, pois dão a possibilidade de aplicar</p><p>textos ampliados deslocados para as margens. Note que o bloco de texto está com alinhamento</p><p>justificado, marcando melhor o desenho da coluna e deixando o layout mais sério. No exemplo C, as</p><p>margens externas são mais amplas, permitindo aplicar a legenda das fotos nelas.</p><p>75</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Figura 74 – Exemplos de layout de três colunas</p><p>Os grids de três colunas equidistantes são os mais comuns em revistas. O motivo principal dessa</p><p>escolha é a proporção, porque o tamanho da letra do texto corrido em relação à largura da coluna</p><p>torna a leiturabilidade mais fluida. O exemplo D se assemelha ao exemplo A da figura anterior. Para</p><p>não deixar a leitura cansativa, experimente acrescentar imagens que se encaixem em duas das colunas.</p><p>O exemplo E tem as mesmas margens e a mesma quantidade e medida das colunas do exemplo D, porém</p><p>é mais dinâmico porque o alinhamento do texto à esquerda, em vez de justificado, cria variações de</p><p>espaço à direita da coluna, propiciando um aspecto mais ativo e menos careta do que o do exemplo D.</p><p>Lembrete</p><p>Em editoriais com seções de entrevista, com perguntas e respostas,</p><p>usamos o grid de três ou quatro colunas, pois os parágrafos de pergunta</p><p>são mais curtos do que os de resposta. Dessa maneira, a última linha do</p><p>parágrafo de pergunta não fica tão curta.</p><p>Com quatro colunas, as diagramações se tornam mais interessantes. Só é preciso se atentar ao</p><p>tamanho do corpo do texto, para a fluidez da leitura. Observe estes exemplos:</p><p>Figura 75 – Exemplos de layout de quatro colunas</p><p>76</p><p>Unidade II</p><p>No exemplo F, a primeira coluna tem função de margem. Deixar uma coluna vazia pode criar</p><p>resultados interessantes, pois o espaço vazio conforta e direciona o olhar. No exemplo G, textos</p><p>ampliados foram encaixados em duas colunas, produzindo hierarquia e destaque.</p><p>Quando utilizamos cinco colunas de mesma largura numa página de formato de revista padrão, o</p><p>uso de uma única coluna ficará reservado para a aplicação de legendas ou detalhes secundários, visto</p><p>que a coluna é muito estreita, como podemos observar no exemplo a seguir, na página da esquerda.</p><p>Note, porém, que o design fica muito mais flexível e dinâmico. Na página da direita, as colunas de fora</p><p>são exclusivas para o recuo de títulos e a aplicação de imagens, o que deixa o projeto mais organizado.</p><p>Figura 76 – Exemplos de layout de cinco colunas</p><p>O grid modular trabalha também com divisões na horizontal. Em programas gráficos de editoração</p><p>como o InDesign, não há divisão automática na horizontal, como acontece com as colunas. Precisamos</p><p>puxar as guias horizontais das réguas de visualização. Aplicamos o grid modular quando necessitamos</p><p>pôr elementos comparativos numa página ou projeto – por exemplo, imagens ou tabelas.</p><p>77</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Figura 77 – Catálogos de produtos da LG Electronics (2007-2008)</p><p>Esses exemplos foram criados em módulos para que comportassem diversos produtos da LG, cada</p><p>um deles com uma necessidade diferente. Na página com os monitores, foram usados quatro e três</p><p>módulos. Na página com os celulares, foram aplicadas duas e três colunas. Esse procedimento faz com</p><p>que demore um pouco mais o ajuste dos grids, porque por trás do arquivo final há muitas linhas verticais</p><p>e horizontais, mas facilita muito a colocação dos produtos.</p><p>78</p><p>Unidade II</p><p>A disposição das linhas horizontais não deve ser aleatória. Antes, deve ser baseada nas entrelinhas</p><p>do texto corrido. Afinal, é ali que estão os espaços vazios ou respiros do texto; é nele que enxergamos</p><p>as linhas horizontais da composição.</p><p>É o chamado grid de linha de base. As linhas de base são similares às pautas do caderno. Quando</p><p>escrevemos à mão nele, apoiamos o texto nas linhas. A ideia para a diagramação digital é a mesma. Para</p><p>acionar essas linhas no InDesign, basta ir a Preferences > Grids, e inserir o mesmo número dos pontos da</p><p>entrelinha do corpo do texto corrido. Para encaixar todos os textos nas linhas de base, devemos calcular</p><p>a entrelinha dos títulos e subtítulos a partir do valor da entrelinha do texto corrido, usando números</p><p>múltiplos. Por exemplo, com números múltiplos de cinco, use entrelinha com valor 15, 20, 25, 30… Veja</p><p>o exemplo a seguir.</p><p>Figura 78 – Exemplo de layout com linhas de base</p><p>Os blocos de texto têm entrelinha de 15, o subtítulo de 20 e o título de 30, tudo se alinhando</p><p>automaticamente.</p><p>79</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Figura 79 – Exemplo de layout com linhas de base</p><p>Quando retiramos a visualização das guias, percebemos uma organização oculta, mas que está lá,</p><p>que não existiria se não houvesse essa preocupação. No exemplo a seguir, os elementos foram aplicados</p><p>sem o ajuste das linhas de base.</p><p>Figura 80 – Exemplo de layout sem ajuste das linhas de base</p><p>Algumas instruções sobre esse tema no InDesign:</p><p>• Para colocar as linhas de base: File > Preferences > Grids > Baseline Grid > Start: 0 > Relative</p><p>To: Top Margin > Increment Every: 15 pt > View Threshold: 50% > OK.</p><p>• Para visualizar as linhas no arquivo: Menu > View > Grids & Guides > Show Guides.</p><p>• Para ajustar os blocos de texto nas linhas: Menu > Object > Text Frame Options > Baseline</p><p>Options > First Baseline > Offset > Leading > OK.</p><p>80</p><p>Unidade II</p><p>O grid hierárquico costuma ser aplicado em sites e aplicativos, mas também pode aparecer em</p><p>material impresso. Nele as separações das zonas são feitas de acordo com o conteúdo. Organizam-se</p><p>as informações, e elas são aplicadas sempre no mesmo lugar. O texto pode correr para baixo ou para o</p><p>lado, segundo o seu volume ou o tamanho da tela. Criam-se linhas horizontais padrão com diferentes</p><p>hierarquias, e os textos e formatos se ajustam. Os alinhamentos mudam conforme o conteúdo, mas</p><p>mantêm-se proporcionalmente integrados. Veja o exemplo a seguir de um site com grid hierárquico: a</p><p>parte de cima é fixa, e as informações fluem para baixo.</p><p>Figura 81 – Exemplo de layout hierárquico: página inicial do site UOL</p><p>Lembrete</p><p>O grid e as linhas de base ficam ocultos no layout, porém transmitem</p><p>uma organização que é importante para compreender o conteúdo. Ter um</p><p>padrão de largura das colunas, percebido ao folhear o projeto editorial,</p><p>ajuda a reforçar a identidade dele.</p><p>6 TÉCNICAS DE DIAGRAMAÇÃO</p><p>Existem algumas técnicas que aplicamos às matérias para facilitar a diagramação. No entanto,</p><p>melhor do que decorar o nome das técnicas, é entender que o texto precisa fluir, ter sequência de leitura,</p><p>continuidade. Ele não pode ser quebrado por uma foto, uma ilustração ou um box. Necessita também de</p><p>direção, e a leitura do texto corrido não pode ser bloqueada. As técnicas mostradas a seguir desenham</p><p>letras, isto é, os blocos de texto corrido formam grandes letras.</p><p>Na técnica da letra L, o bloco de texto forma a letra L, que pode ser espelhada ou invertida, e o</p><p>espaço vazio é preenchido com imagem. Nos exemplos a seguir, pode-se perceber a continuidade do</p><p>texto e a quebra do peso com imagens.</p><p>81</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Figura 82 – Técnica da letra L</p><p>Na técnica da letra U, o texto também corre com fluidez, sem interferência da imagem. A letra pode</p><p>ser invertida, mas não pode formar a letra C, pois isso quebraria a leitura.</p><p>Figura 83 – Técnica da letra U</p><p>Outra letra bastante trabalhada nas diagramações é a letra T. Mesmo que ela seja invertida ou</p><p>rotacionada, a ligação da leitura se mantém. Usamos essa técnica quando queremos dar a sensação de</p><p>continuidade ou quando temos mais imagens para mostrar.</p><p>82</p><p>Unidade II</p><p>Figura 84 – Técnica da letra T</p><p>A letra H, maiúscula ou minúscula, também é usada nas técnicas de diagramação, mas não pode</p><p>ser rotacionada.</p><p>Figura 85 – Técnica da letra H</p><p>Quanto temos duas ou mais colunas, podemos desenhar uma diagramação mais simples usando a</p><p>letra I. Por ser comprida, traz elegância ao layout e dinamismo, dependendo da lateral em que o texto</p><p>foi aplicado.</p><p>83</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Figura 86 – Técnica da</p><p>letra I</p><p>Tome cuidado com a letra I. É o texto que deve criar a letra, não a imagem. Se você colocar uma</p><p>imagem inteira na coluna do meio, quebrará o fluxo de leitura do texto, exatamente o que queremos evitar.</p><p>Figura 87 – Cuidado para não quebrar o fluxo de leitura do texto</p><p>Como dito antes, muitas vezes imaginamos que diagramar é apenas encaixar elementos na página.</p><p>Um erro muito comum é encaixar elementos fazendo um ziguezague. A ideia é produzir equilíbrio, mas</p><p>na verdade isso deixa a leitura cansativa e quebra toda a técnica das letras na diagramação. No exemplo</p><p>a seguir, na lateral direita, vemos imagens aplicadas dessa forma. Note como o nosso olhar faz um vai</p><p>e vem cansativo.</p><p>84</p><p>Unidade II</p><p>Figura 88 – Revista Extreme Animals</p><p>Fonte: Extreme Animals (2019, p. 112-113).</p><p>Veja alguns exemplos da técnica de diagramação baseada em letras:</p><p>Figura 89 – Revista Your Dog</p><p>Fonte: Your Dog (2021, p. 44-45).</p><p>85</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Nesse exemplo, na página da direita, temos uma diagramação em L. Na página da esquerda, se</p><p>a foto da moça com o cachorro não fosse um pouco menor, haveria problema no fluxo do texto. No</p><p>entanto, da maneira como foi feito, não houve interferência.</p><p>Figura 90 – Revista Trip</p><p>Fonte: Trip (2020, p. 36-37).</p><p>Na diagramação da revista Trip, vemos claramente a técnica da letra U invertida, com as ilustrações</p><p>nas margens internas para melhor integrar as duas páginas.</p><p>Saiba mais</p><p>Para mais dicas de diagramação, leia:</p><p>WHITE, J. V. Edição e design: para designers, diretores de arte e</p><p>editores: o guia clássico para ganhar leitores. Tradução: Luis Reyes Gil. São</p><p>Paulo: JNS, 2008.</p><p>6.1 Fluxo de leitura e área de respiro</p><p>A sequência de leitura precisa seguir uma destas hierarquias:</p><p>• imagem > título > subtítulo > texto corrido</p><p>86</p><p>Unidade II</p><p>• título > subtítulo > imagem > texto corrido</p><p>• título > imagem > subtítulo > texto corrido</p><p>Portanto, a imagem pode quebrar a fluência antes que o texto corrido comece, mas o ideal é integrar,</p><p>em vez de quebrar, ou colocar a imagem antes da sequência hierárquica.</p><p>O modo tradicional de leitura é do canto superior esquerdo para o canto inferior direito, com o olhar</p><p>na diagonal descendente.</p><p>Vejamos alguns exemplos de como os espaços vazios influenciam e direcionam a leitura. Não existe</p><p>certo ou errado. Tudo dependerá da intenção da diagramação.</p><p>A B C</p><p>D E</p><p>Figura 91 – Direção de leitura</p><p>87</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>No exemplo A, temos um texto centralizado, o que torna a arte estática. Nos exemplos B e C, como o</p><p>texto está alinhado à borda direita, os espaços vazios direcionam a força do olhar para a direita. Observe</p><p>a pressão maior quando o texto está muito em cima ou muito em baixo (exemplos D e E).</p><p>No dia 20 de junho de 2021, quando o Brasil atingiu a triste marca de 500 mil mortes por covid-19,</p><p>o jornal Folha de S. Paulo publicou uma capa branca, apenas com uma chamada no quadrante inferior:</p><p>“Vamos morrer até quando? Se uma capa vazia causa incômodo, imagine a dor que causa o vazio nas</p><p>famílias dos 500 mil brasileiros que perderam a vida para a covid-19”. Analisando a arte, notamos o peso</p><p>do espaço em branco e a força que ele tem. A linha fina na vertical nos leva a baixar os olhos, produzindo</p><p>um olhar negativo, triste, totalmente de acordo com o propósito da capa.</p><p>Figura 92 – Primeira página do jornal Folha de S. Paulo, de 20 de junho de 2021</p><p>Fonte: Folha de S. Paulo (2021f, p. 1).</p><p>88</p><p>Unidade II</p><p>Nas diagramações a seguir, temos a mesma quantidade de texto e imagem na dupla de páginas.</p><p>Na primeira, o texto é cortado, quebrado pelas imagens, o que compromete a fluidez e confunde o</p><p>movimento do olhar.</p><p>Figura 93 – Direção do olhar na leitura</p><p>Na segunda solução, com uso das bordas laterais para aplicar as imagens e com recurso à técnica da</p><p>letra I, sentimos a diagramação mais organizada e fluida.</p><p>Figura 94 – Direção do olhar na leitura</p><p>A maioria dos exemplos mostrados até aqui tinha duplas de páginas, mas devemos criar layouts</p><p>pensando no todo, não apenas nas duplas de páginas. Se uma matéria tem a sequência de oito páginas,</p><p>devemos imaginar como queremos contar a história. Apresentaremos algumas maneiras para auxiliá-lo</p><p>na construção da ideia.</p><p>Pense a matéria como uma história em quadrinhos, uma sequência que tem começo, meio e fim.</p><p>A primeira dupla é o que chamamos de abertura de matéria. Ela é o convite para entrar. Nela estão</p><p>89</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>uma imagem chamativa ampliada, o título com o subtítulo e, às vezes, o lead ou primeiro parágrafo</p><p>do texto. Ela deve levar o nosso olhar para a direita, de modo que continuemos a leitura do texto. Para</p><p>isso, vale tudo. Títulos e textos alinhados à borda direita e imagens que funcionam como ponteiros são</p><p>algumas ideias.</p><p>Figura 95 – Aberturas da revista Superinteressante, com alinhamento do</p><p>texto à direita e ilustração apontando para a direita</p><p>Fonte: Superinteressante (2021b, p. 20-21 e 36-37).</p><p>Para dar a sequência às páginas, podemos variar o conteúdo da informação ou a aplicação das</p><p>imagens/ilustrações. É possível começar com pouco texto e no decorrer das páginas ir aumentando</p><p>o conteúdo, ou o contrário. Veja um excelente exemplo de fluxo de texto numa matéria na revista</p><p>Superinteressante. Como a ideia era representar o fim dos oceanos, as imagens foram diminuindo ao</p><p>longo da matéria.</p><p>90</p><p>Unidade II</p><p>Figura 96 – Diagramação da revista Superinteressante, com o conteúdo de texto se ampliando no</p><p>decorrer da matéria (parte 1)</p><p>Fonte: Superinteressante (2015, p. 60-63).</p><p>91</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Figura 97 – Diagramação da revista Superinteressante, com o conteúdo de texto se ampliando no</p><p>decorrer da matéria (parte 2)</p><p>Fonte: Superinteressante (2015, p. 64-67).</p><p>92</p><p>Unidade II</p><p>Outra maneira de controlar o fluxo é por meio das cores. Você pode aplicar uma cor pura e no decorrer</p><p>das páginas ir retirando-a, ou o contrário. Também é possível trabalhar com o todo e as partes, como se</p><p>estivesse detalhando o conteúdo e as imagens. No exemplo a seguir, na primeira dupla de páginas há</p><p>uma ilustração onde vemos o todo, um cenário que abarca as duas páginas. Na página da esquerda, a</p><p>ilustração do gelo ultrapassa as margens internas, dando a sensação de amplitude. O dinossauro à direita</p><p>está de costas, virado para a direita. A profundidade ganha destaque, transmitindo a ideia de coisas do</p><p>passado distante. Na dupla de páginas seguinte, temos as partes do todo, os diferentes tipos de animais</p><p>que existiam na Antártida na época. Eles estão num box, mas ganham força por estarem agrupados e</p><p>organizados. Outro detalhe a ser ressaltado é a diagramação em L, que pega as duas páginas.</p><p>Figura 98 – Diagramação da revista Superinteressante, feita por Carlos Eduardo Hara</p><p>Fonte: Superinteressante (2021b, p. 52-55).</p><p>93</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>Resumo</p><p>Nesta unidade, explicamos o fluxo de leitura e a relação dos elementos</p><p>gráficos textuais com seu espaço. Com base na teoria da Gestalt, Dondis nos</p><p>deu respaldo para entender a direção do olhar e a maneira como criamos</p><p>ênfase para fazer o olhar percorrer toda a página.</p><p>Abordamos a relação entre texto e imagem e as tensões e vínculos</p><p>que sua proximidade proporciona. Por meio da noção de hierarquia,</p><p>entendemos ser preciso organizar e priorizar certos elementos em</p><p>detrimento de outros, para não haver uma competição entre eles, e sim</p><p>um fluxo suave de leitura.</p><p>Assimilamos a importância dos fólios e das capitulares no início de uma</p><p>página. Com relação ao grid, compreendemos que ele existe para flexibilizar</p><p>e facilitar a diagramação, e não o contrário. Quanto mais colunas houver,</p><p>mais dinâmico será o layout.</p><p>Vimos as técnicas de diagramação e como os blocos de texto precisam</p><p>de continuidade entre eles, sem a interrupção de uma imagem. Aprendemos</p><p>como construir blocos de texto com o formato de determinadas letras, como</p><p>H, L e U.</p><p>Para finalizar, consideramos a maneira de criar um fluxo do conteúdo para</p><p>fazer</p><p>o leitor perceber a matéria toda, e não apenas as páginas espelhadas.</p><p>94</p><p>Unidade II</p><p>Exercícios</p><p>Questão 1. Considere o texto e a figura a seguir.</p><p>Zonas de visualização da página</p><p>Qualquer impresso gráfico pode ser dividido por setores/zonas de visualização ou pontos de atenção</p><p>da página. A escolha da disposição dos elementos gráficos sobre a página deve valorizá-los aos olhos do</p><p>leitor. O desenho a seguir é um retângulo áureo perfeito, que com as devidas ampliações poderia ser o</p><p>formato de um cartaz, de um fôlder ou de um jornal, por exemplo.</p><p>Figura 99</p><p>Adaptada de: https://bit.ly/32Irzs8. Acesso em: 24 jan. 2022.</p><p>Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas.</p><p>I – No que diz respeito às zonas de visualização da página, o ponto 3 corresponde à zona nobre, para</p><p>onde olhamos em primeiro lugar numa página impressa, e o ponto 4 se refere à zona morta terminal,</p><p>setor onde normalmente procuramos novos elementos de interesse na página.</p><p>II – A zona denominada primária deve receber um elemento forte, que atraia o olhar e a atenção do</p><p>leitor. As zonas mortas não devem ser preenchidas com elementos atrativos, uma vez que esses setores</p><p>não têm relevância na leitura diagonal da página.</p><p>III – Os pontos 1 e 2 correspondem às zonas primária e terminal diagonal, respectivamente. O ponto 5</p><p>e o ponto 6 representam o centro óptico e o centro geométrico, nessa ordem.</p><p>95</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>É correto o que se afirma em:</p><p>A) I, apenas.</p><p>B) III, apenas.</p><p>C) I e II, apenas.</p><p>D) II e III, apenas.</p><p>E) I, II e III.</p><p>Resposta correta: alternativa B.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: os pontos 3 e 4 das zonas de visualização da página referem-se às zonas mortas da</p><p>página. O ponto 3 diz respeito ao setor que precisa ser valorizado para equilibrar melhor os elementos e</p><p>que pode receber imagens ou textos em destaque. O ponto 4 é chamado de zona morta terminal e deve</p><p>receber elementos para que o olhar termine o passeio pela página.</p><p>II – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a zona denominada primária é o ponto inicial, que deve atrair o olhar do leitor. Portanto,</p><p>deve receber um elemento de destaque. As zonas mortas (3 e 4) precisam receber elementos que as</p><p>valorizem, de modo que os olhos do leitor passeiem por toda a página sem um deslocamento brusco</p><p>para o ponto 2.</p><p>III – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: de acordo com a divisão das zonas de visualização, os pontos 1 e 2 correspondem às</p><p>zonas nobres, ou seja, zona primária – para onde olhamos em primeiro lugar numa página impressa –</p><p>e zona terminal diagonal – onde finalizamos a visualização da página. O ponto 5 representa o centro</p><p>óptico, ponto em que paramos e em que prendemos a atenção. O ponto 6 corresponde ao</p><p>centro geométrico, ponto central que focalizamos após a rápida visualização da página.</p><p>Questão 2. Leia o texto a seguir.</p><p>A importância da diagramação</p><p>A diagramação é a técnica utilizada principalmente por designers e outros profissionais de</p><p>criação que consiste em distribuir os elementos em um espaço de uma arte. Esse processo é realizado</p><p>de acordo com a hierarquia de informações que é estabelecida pelos editores e diretores de arte.</p><p>96</p><p>Unidade II</p><p>O principal objetivo da diagramação é distribuir harmonicamente todos os elementos presentes,</p><p>como títulos, imagens e textos. Por isso, essa técnica é extremamente importante para que o design</p><p>criado tenha equilíbrio e seja bem interpretado pelo público que irá consumi-lo. A diagramação</p><p>não é utilizada somente por estética visual. Ela também pode estar ligada à parte funcional da peça</p><p>gráfica. Por exemplo, um fôlder informativo que não conta com uma boa diagramação é difícil de ser</p><p>interpretado e, consequentemente, não cumpre seu objetivo: transmitir uma informação.</p><p>Adaptado de: https://bit.ly/3sqNBs2. Acesso em: 24 jan. 2022.</p><p>Com base no exposto e nos seus conhecimentos sobre o tema, avalie as figuras e as afirmativas a seguir.</p><p>A</p><p>C</p><p>B</p><p>D</p><p>Figura 100</p><p>Adaptada de: https://bit.ly/3AKOWxA. Acesso em: 24 jan. 2022.</p><p>I – A figura 100A representa a técnica de diagramação conhecida como I. Essa diagramação confere</p><p>elegância e dinamismo ao layout, dá mais espaço para as imagens e não quebra o fluxo de leitura.</p><p>II – A figura 100B caracteriza a técnica de diagramação denominada T. Essa técnica também pode ser</p><p>aplicada invertida ou rotacionada, e sua característica é a continuidade da leitura.</p><p>97</p><p>EDITORAÇÃO E JORNALISMO IMPRESSO</p><p>III – A figura 100C reproduz a técnica de diagramação chamada U. Essa técnica permite a fluidez do</p><p>texto sem a interferência da imagem. No exemplo, a letra U está invertida, mas pode ser utilizada na</p><p>posição convencional.</p><p>IV – A figura 100D identifica a técnica de diagramação em M. Essa técnica confere ao texto e às</p><p>imagens um padrão estético homogêneo, que auxilia o fluxo e a direção da leitura.</p><p>É correto o que se afirma apenas em:</p><p>A) I e II.</p><p>B) II e III.</p><p>C) III e IV.</p><p>D) I, II e IV.</p><p>E) II, III e IV.</p><p>Resposta correta: alternativa B.</p><p>Análise das afirmativas</p><p>I – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a diagramação em I confere dinamismo e elegância ao layout, no entanto deve-se</p><p>evitar a colocação da imagem na coluna do meio, como na figura 100A, uma vez que isso quebra o fluxo</p><p>de leitura do texto.</p><p>II – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: a diagramação em T é utilizada quando há um número maior de imagens. Sua disposição</p><p>ainda permite a ligação da leitura e dá a sensação de continuidade.</p><p>III – Afirmativa correta.</p><p>Justificativa: a diagramação em U confere fluidez ao texto, mesmo na sua composição com imagem.</p><p>O texto pode ser disposto na forma de um U comum ou invertido, mas a posição formando a letra C</p><p>deve ser evitada, pois pode afetar o fluxo do texto.</p><p>IV – Afirmativa incorreta.</p><p>Justificativa: a figura 100D representa uma diagramação em I, em que a disposição do texto e das</p><p>figuras não facilita a leitura, uma vez que a fluidez é quebrada pelas imagens, a exemplo da figura 100A.</p>