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ACESSE AQUI ESTE MATERIAL DIGITAL! ANDRÉIA ZANLUCA GISELE DE CÁSSIA GALVÃO RUARO JULIANA MARIA LAZZARINI VERA LÚCIA HOFFMANN PIERITZ ORGANIZADOR FRANCISLAINE CAETANO GARDIANO BODELON INSTRUMENTOS E PROCESSO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL Coordenador(a) de Conteúdo Joelma Crista Sandri Bonetti Projeto Gráfico e Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Alexandre Donzelli Design Educacional Lúcio Carlos Ferrarese Revisão Textual Salen Nascimento Silva Ilustração André Azevedo Fotos Shutterstock e Envato Impresso por: Bibliotecária: Leila Regina do Nascimento - CRB- 9/1722. Ficha catalográfica elaborada de acordo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Núcleo de Educação a Distância. ZANLUCA, Andréia; RUARO, Gisele de Cássia Galvão; LAZZARINI, Juliana Maria; PIERITZ, Vera Lúcia Hoffmann; Instrumentos e Processo de Trabalho do Serviço Social/ Andréia Zanluca; Gisele de Cássia Galvão Ruaro; Juliana Maria Lazzarini; Vera Lúcia Hoffmann Pieritz; organizador: Francislaine Caetano Gardiano Bodelon. - Florianópolis, SC: Arqué, 2024. 171 p. ISBN papel 978-65-6137-685-3 ISBN digital 978-65-6137-683-9 1. Processo 2. Trabalho 3. Social 4. EaD. I. Título. CDD - 361.3 EXPEDIENTE FICHA CATALOGRÁFICA N964 03506897 https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/20897 RECURSOS DE IMERSÃO Utilizado para temas, assuntos ou con- ceitos avançados, levando ao aprofun- damento do que está sendo trabalhado naquele momento do texto. APROFUNDANDO Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Aqui você terá indicações de filmes que se conectam com o tema do conteúdo. INDICAÇÃO DE FILME Uma dose extra de conhecimento é sempre bem-vinda. Aqui você terá indicações de livros que agregarão muito na sua vida profissional. INDICAÇÃO DE LIVRO Utilizado para desmistificar pontos que possam gerar confusão sobre o tema. Após o texto trazer a explicação, essa interlocução pode trazer pontos adicionais que contribuam para que o estudante não fique com dúvidas sobre o tema. ZOOM NO CONHECIMENTO Este item corresponde a uma proposta de reflexão que pode ser apresentada por meio de uma frase, um trecho breve ou uma pergunta. PENSANDO JUNTOS Utilizado para aprofundar o conhecimento em conteúdos relevantes utilizando uma lingua- gem audiovisual. EM FOCO Utilizado para agregar um con- teúdo externo. EU INDICO Professores especialistas e con- vidados, ampliando as discus- sões sobre os temas por meio de fantásticos podcasts. PLAY NO CONHECIMENTO PRODUTOS AUDIOVISUAIS Os elementos abaixo possuem recursos audiovisuais. Recursos de mídia dispo- níveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. 4 115U N I D A D E 3 O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL 116 O ESTUDO SOCIOECONÔMICO 136 CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL 154 7U N I D A D E 1 O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL E A LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) 8 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 28 A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO 44 61U N I D A D E 2 RACIONALIDADE INSTRUMENTAL E TÉCNICA 62 DESAFIOS DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS 80 A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 96 5 SUMÁRIO UNIDADE 1 MINHAS METAS O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL E A LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) Compreender algumas estratégias e instrumentos técnicos operativos que o assistente social utiliza cotidianamente em sua atuação. Conhecer as leis e diretrizes do foco de atuação do assistente social. Identificar possibilidades de práticas operativas da profissão. Refletir sobre a atuação do assistente social. Identificar a diversidade dos espaços de atuação do assistente social. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 1 8 INICIE SUA JORNADA Olá, estudante! Neste tema de aprendizagem, nosso objetivo é conhecer mais sobre a atuação do assistente social. Por isso, é importante resgatarmos a história da profissão para compreendermos como foram se desenhando e se construindo as formas de atuação nesse campo profissional, evidenciando os avanços obtidos, bem como alguns resquícios das primeiras intervenções, ou as chamadas ações sociais, no âmbito da caridade e filantropia, que estão na gênese da profissão. Mas por que retornar ao contexto histórico da origem da profissão? Por que através da compreensão do passado, podemos analisar o presente e nos apropriar da história para vislumbrar as evoluções pelas quais o serviço social passou, no contexto prático, profissional, acadêmico e teórico. Cabe salientar que, hoje, muitas vezes, é necessário reafirmar o caráter da profissão na prática profissional, que mesmo por anos estando ligada às ações de caridade, passa a assumir, a partir de sua inserção na divisão social e técnica do trabalho, sua atuação na esfera do direito, desvinculando-se do favor e da benevolência, não mais tentando amenizar as situações de vulnerabilidade social, mas considerando as expressões da questão social, no sentido de transformar a realidade, bem como voltar o olhar para um contexto que permite compreender a importância do acesso às políticas públicas e da viabilização dos direitos que devem ser garantidos pelo Estado. Entenderemos, assim, o que faz o assistente social e como o serviço social pode atuar nas diversas esferas: públicas, privadas e mistas, bem como quais legislações respaldam o fazer profissional e determinam as atribuições do assistente social. Dessa forma, se você, estudante, busca se aprofundar no percurso histórico profissional e nos principais conceitos que balizam a profissão, mergulhe fundo nos estudos e aproveite para se preparar para a atuação profissional, unindo sem- pre teoria e prática. Bons estudos! UNIASSELVI 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 DESENVOLVA SEU POTENCIAL SERVIÇO SOCIAL: DA CARIDADE À VIABILIZAÇÃO DE DIREITOS O serviço social enquanto profissão tem sua trajetória voltada para ações de ca- ridade e filantropia, com perspectiva assistencialista de favor e troca. Em meados da década de 1930, surge o processo de urbanização e industrialização, ficando o Estado com o papel regulador das questões sociais. Preparamos um podcast para contar a você um dos grandes avanços obtidos na profissão do assistente social com a promulgação da LOAS (Lei Orgânica da Assis- tência Social). Nesse podcast, falamos sobre a garantia de renda através do Bene- fício de Prestação Continuada, uma conquista das pessoas idosas e das pessoas com deficiência! PLAY NO CONHECIMENTO VAMOS RECORDAR? Este vídeo comemorativo resume os 80 anos de história do serviço social no Brasil. Foi produzido pela Editora Cortez e traz grandes nomes de teóricos da profissão. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qExDNXsdy2A. Para complementar os estudos, leia o artigo: “80 anos do serviço social no Brasil: marcos históricos balizados nos códigos de ética da profissão”, dos autores Edistia Maria Abath Pereira de Oliveira e Helena Lúcia Augusto Chaves, que contam a história da profissão caminhando pela construção dos Códigos de Ética Profissionais. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sssoc/ aGhVdbyXB4rmF4qgcbQzhKxF/?format=pdf 1 1 https://www.youtube.com/watch?v=qExDNXsdy2A https://www.scielo.br/j/sssoc/a/GhVdbyXB4rmF4qgcbQzhKxF/?format=pdf https://www.scielo.br/j/sssoc/a/GhVdbyXB4rmF4qgcbQzhKxF/?format=pdf O Estado, porém, atuava com ações emergenciais que atendiam a populaçãoTécnico-Operativa no Trabalho do Assistente So- cial: ensaios críticos Organizada pelas professoras Adriana Ramos e Francine Hel- freich Coutinho dos Santos, a obra é uma coletânea de textos de diversos autores, que apontam reflexões necessárias para o aprofundamento da dimensão técnico-operativa. O livro traz uma análise contemporânea sobre essa dimensão técnico- -operativa, após a intenção de ruptura com o conservadorismo, e lhe ajudará na apropriação dos conceitos e pensar a prática profissional, vinculada ao contexto teórico. INDICAÇÃO DE LIVRO VOCÊ SABE RESPONDER? O que permeia a atuação profissional do assistente social? Ou qual é a real intenção de sua ação profissional? Os profissionais do serviço social, através da prática profissional, combatem todas as formas de violação de direitos, discriminação e subalternidade. Além disso, buscam uma sociedade justa que consolide os direitos sociais (LOPES, 2007). 5 1 O serviço social tem por finalidade primária orientar as obras sociais e des- nudar à sociedade os seus problemas, interessando-a neles, a fim de que, com maiores recursos, possamos enfrentá-los. Visa também despertar a consciên- cia de classe dos trabalhadores, a consciência de classe dos trabalhadores sociais, estabelecer contato entre eles, a fim de formar e criar um bloco cuja ação se caracterize pela unidade, pela visão. Ainda na atuação profissional do assistente social, pode-se diferenciar intencionalidade de resultado, mas não se pode separá-los (BAPTISTA, 2009). Nesse sentido: “ Uma das questões fulcrais nas práticas do serviço social é a inten- cionalidade do ato. Isto é, a consciência refletida da nossa ação que deve antecipar sempre, em reflexão, ainda mais quando implica a aplicação, sem mediação, de técnicas ou perspectivas teórico-empí- ricas, cujo modelo ou modelos estão desenhados apenas ‘no papel’, ou na ilusória perspectiva salvífica que sempre podem encerrar (SILVA, 2008, p. 1). Podemos expor, assim, que a intencionalidade do agir profissional do assistente social se processa no ato, na ação interventiva da prática profissional. Netto (2001, p. 116) complementa, afirmando que: “a moldura da intervenção é, basicamente, ético-moral, em duas direções: na do ator da intervenção (que deve restaurar a ordem perdida) e na do processo sobre que age (que deve ser recolocado numa ordem melhor)”. Sendo assim, “[...] a intervenção tem por objetivo um padrão de integração que joga com a efetiva dinâmica vigente e se propõe explorar as O que tem por trás da prática profissional, como tal? E qual a consciência ético- -moral que norteia o projeto ético-político da ação profissional no serviço social? Segundo Netto (2001, p. 116), “no plano da intencionalidade do serviço social, o seu projeto de intervenção, que é medularmente reformista, mostra-se abertamente condicionado pela perspectiva em que se põe o desenvolvimento capitalista”. PENSANDO JUNTOS UNIASSELVI 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 alternativas nelas contidas – a ordem capitalista é tomada como invulnerável, sem o apelo a parâmetros pretéritos” (NETTO, 2001, p. 116). Todo esse processo de trabalho é norteado sempre pela sua instrumentalidade teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política. A instrumentalidade é a capacidade profissional que se adquire conforme se concretizam os objetivos da ação profissional (GUERRA, 2000). A autora, ainda, salienta que é possível dizer que a instrumentalidade do serviço social “[...] possi- bilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissio- nais”, uma vez que é por meio da instrumentalidade “[...] que os assistentes sociais modificam, transformam aquelas condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano” (GUERRA, 2000, p. 2). Portanto, o serviço social é “concebido e edificado historicamente, no palco de contradições sociais; o serviço social hoje é demarcado por essa intencionalidade profissional clara, amadurecida pelas lutas e conquistas no campo dos direitos, tantas vezes reconhecidos, mas nem sempre constituídos” (LOPES, 2007, on-line). É através de uma intencionalidade profissional qualificada, desprovida de preconceitos, baseada nos princípios éticos fundamentais e em favor da justiça social que se baliza a sociabilidade defendida no exercício profissional. Isso incumbe alguns desafios (LOPES, 2007): FORTALECIMENTO Fortalecer o trabalho profissional e as entidades organizativas, ocupando esses espa- ços e se apropriando das discussões que permeiam o exercício profissional. QUALIDADE Prezar pela qualidade da formação profissional e da educação continuada, de modo que possamos compreender que o trabalho profissional nos exige atualização cons- tante para ofertar qualidade nos serviços prestados. 5 4 NOVOS DESAFIOS Quando começamos este tema de aprendizagem, falamos sobre algumas categorias que circundam o exercício profissional. Adentramos, especialmente, aos conceitos da consciência, em suas variadas designações, principalmente na língua portuguesa, bem como buscamos compreender os conceitos relativos à intencionalidade. Avançando os estudos, compreendemos que a consciência remete às nossas ações e à nossa análise das ações do outro, em que temos ciência daquilo que está sendo feito e escolhemos por aquilo. Isso porque a consciência tem ligações éticas e morais, que nos permitirão discernir entre o bom e o mau, o certo e o errado. No aspecto da intencionalidade, a consciência se transparece, pois a intenção está diretamente ligada à causa expressa a um objeto. Ou seja, nos traz a reflexão do porquê e para quê algo é realizado daquela forma, bem como o que se pretende atingir – quais resultados. Essas categorias nos levam à instrumentalidade da profissão, em que nossa capacidade, adquirida através da prática profissional, permite-nos concretizar os objetivos das ações que propomos. EMPENHO O empenho se dá pela propriedade que o assistente social deve ter para falar sobre a profissão. Isso se atrela à conquista do respeito profissional e se soma à luta pelas adequadas condições de trabalho. Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO UNIASSELVI 5 5 1. “O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida depende, antes de tudo, da natureza dos meios de vida já encontrados e que têm de reproduzir. Não se deve considerar tal modo de produção de um único ponto de vista, a saber: a reprodução da existência física dos indivíduos. Trata-se, muito mais, de uma determinada forma de atividade dos indiví- duos, determinada forma de manifestar sua vida, determinado modo de vida dos mesmos.” MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Trad. José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Hucitec, 1993. p. 27. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - I. Através do trabalho, ocorre uma dupla transformação: a da natureza, pela ação humana, e a do próprio homem. PORQUE II - Ele é o único ser da natureza que é capaz de imaginar o resultado de uma ação, e essa capacidade leva-o a decidir por alternativas, de modo a proporcionar a concretização da sua intenção. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. 2. “Ao mesmo tempo, para além das dimensões objetivas que conferem materialidade ao fazer profissional, é preciso considerar também, e de forma nem sempre convergente, omodo pelo qual o profissional incorpora na sua consciência o significado do seu trabalho, as representações que faz da profissão, a intencionalidade de suas ações, as justificativas que elabora para legitimar sua atividade – que orientam a direção social do exercício profissional.” RAICHELIS, R. Intervenção profissional do assistente social e as condições de trabalho no SUAS. Serviço Social & Sociedade, n. 104, 2010, p. 752. Com base no enunciado, assinale a alternativa correta que corresponde as justificativas primordiais para legitimar a atividade profissional do trabalho do assistente social: AUTOATIVIDADE 5 1 a) Justifica-se a atividade profissional através da apresentação do número do CRESS du- rante o atendimento. b) O assistente social foi legitimado através do processo de redemocratização do país. c) A direção social do trabalho profissional só é observada na política de assistência social, portanto, é nessa política que os profissionais se legitimam. d) O trabalho do assistente social justifica-se no emprego dos termos técnicos durante atendimento social. e) Ter clareza do fazer e do porquê fazer, ter planejamento, intencionalidade, fazer uso de instrumentalidade e ampliar o olhar ao sujeito coletivo. 3. “Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se diferenciar dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida, passo este que é condicionado por sua organização corporal. Produzindo seus meios de vida, os homens produzem, indiretamente, sua própria vida material.” MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Trad. José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Hucitec, 1993. p. 27. Com base no excerto, assinale a alternativa correta, que representa uma categoria central na vida do homem e compõe essa distinção entre ser humano e outros seres na natureza: a) Mediação. b) Exploração. c) Expropriação. d) Subjetividade. e) Trabalho. AUTOATIVIDADE 5 1 REFERÊNCIAS BAPTISTA, M. V. A questão social como um desafio histórico do serviço social. São Paulo: Veras Editora, 2009. CORRÊA, A. K. Fenomenologia: uma alternativa para pesquisa em enfermagem. Revista Latino- -Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n. 1, p. 83-88, jan. 1997. Disponível em: https:// www.scielo.br/j/rlae/a/y6x4qK4wvjdQFCh9fy8hKfx/?lang=pt. Acesso em: 11 dez. 2023. FONTES, C. Conceitos. Navegando na Filosofia, Lisboa, [2010]. Disponível em: http://www.filorbis. pt/filosofia/CONCEITos.htm. Acesso em: 11 dez. 2023. GUERRA, Y. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. UEL – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, [2000]. Disponível em: https://www.uel.br/cesa/sersocial/pages/arqui- vos/GUERRA%20Yolanda.%20A%20instrumentalidade%20no%20trabalho%20do%20assisten- te%20social.pdf. Acesso em: 11 dez. 2023. LOPES, M. Assistente social: 50 anos de regulamentação profissional no Brasil. Fome Zero, Brasí- lia, 15 maio 2007. Disponível em: http://www.fomezero.gov.br/artigo/assistente-social-50-anos- -de-regulamentacao-profissional-no-brasil-marcialopes. Acesso em: 11 mar. 2010. MATTOS, M. S. S. K. de; SILVA, G. P. da; GAMA, R. F. da. O problema da consciência: por onde co- meçar o estudo?. Revista Brasileira de Educação Médica, Brasília, v. 43, n. 1, p. 175–180, jan./mar. 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/FtHDcZpysc4F6yXKnmKRqMj/#. Acesso em: 11 dez. 2023. NETTO, J. P. Capitalismo monopolista e serviço social. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. OLIVEIRA, Anderson Rodrigo de. A consciência moral. Webartigos, [s. l.], 19 fev. 2009. Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/a-consciencia-moral/14626. Acesso em: 11 dez. 2023. SANDOVAL, R. Investigação sobre a consciência. Nota Positiva.com, [s. l.], 19 jul. 2009. Disponível em: http://www.notapositiva.com/br/trbestsup/filosofia/filosmente/investigacao_sobre_cons- ciencia.htm#vermais. Acesso em: 4 mar. 2010. SCHAEFER, S. Intencionalidade e consciência na concepção filosófica em Sartre. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 16, p. 65-92, 2006. SCHOPENHAUER, A. O livre arbítrio. São Paulo: Brasileira, 1982. SIEWERT, C. Consciência e intencionalidade. Lisboa: Piaget, 2006. SILVA, L. M. R. da. Notas de reconstrução da história do serviço social na Região Sul I. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 95, 2008. VIVIANI, A. E. A. A intencionalidade em Husserl e em Merleau-Ponty. ECA – Escola de Comuni- cação e Artes, São Paulo, [2010]. Disponível em: http://www.eca.usp.br/nucleos/filocom/existo- com/artigo3a.html. Acesso em: 2 mar. 2010. 5 8 1. Opção A. A alternativa a) é a correta, pois é através do trabalho que o homem se cria, se recria e produz os meios de subsistência, bem como é através da consciência de sua ação e sua criatividade que ele tem prévia ideação do que pretende fazer através da sua atividade. 2 Opção E. A alternativa correta é a letra e), pois o profissional precisa se apropriar dos funda- mentos históricos, teóricos e metodológicos do fazer profissional para saber o porquê realiza determinadas ações profissionais. O planejamento permite definir estratégias, propor possi- bilidades e vislumbrar os resultados esperados e as metas a serem atingidas. É importante que o profissional olhe sempre para o sujeito incluso em um contexto e não individualizado e culpabilizado pelas questões sociais que circundam sua vida cotidiana. Esses compromissos assumidos legitimam o fazer profissional. Está errada a alternativa a), pois a conclusão do curso de Serviço Social e o registro no CRESS ativo é o que torna o profissional intitulado de assistente social. Não é necessário apresentar o número durante um atendimento, existe a identificação profissional, que pode ser apresentada caso o usuário ou outrem solicite; não é apenas o número que legitima a profissão. Está errada a alternativa b), pois o assistente social se legitima no compromisso com a população usuária, não necessariamente nesse período específico, mas no cotidiano, através da intencionalidade de suas ações voltadas ao compromisso com a classe trabalhadora. Está errada a alternativa c), pois a direção social do fazer profissional pode ser visualizada em qualquer espaço sócio-ocupacional em que se atue; não é algo exclusivo da política de assistência social. Está errada a alternativa d), pois os termos técnicos devem estar presentes nos registros e documentos profissionais e, durante o atendimento, a linguagem deve ser de fácil compreensão e acesso para quem está recebendo a orientação. 3. Opção E. A alternativa correta é a letra e), pois a categoria trabalho assume centralidade na vida do homem, uma vez que, na sociedade capitalista, é pelo trabalho que se mantém a subsistência, e através do trabalho há a interação do homem com outros homens. Está errada a alternativa a), pois a mediação é uma categoria importante para o trabalho do assistente social, sendo inscrita no âmbito da dialética e da compreensão do ser social. Está errada a alternativa b), pois a exploração é uma forma de extrapolar e tirar proveito do outro, uma característica do modo de produção capitalista. Está errada a alternativa c), pois a expropriação é ligada ao ato de tirar alguém de sua propriedade, não sendo relacionada como categoria central na vida do homem. Está errada a alternativa d), pois a subjetividade, em conjunto com a objetividade, permeia a vida do homem e o constitui sua totalidade. GABARITO 5 9 UNIDADE 2 MINHAS METAS RACIONALIDADE INSTRUMENTAL E TÉCNICA Compreender como se processa a competência relacional do assistente social no seu cotidiano profissional. Aprender que o assistente social deve ter uma gama de habilidades e competências profissionais para, assim, desenvolver sua prática profissional com objetividade, eficácia e eficiência. Compreender que a competência relacional é o eixo gerador de todo o processo de trabalho do assistente social. Compreender as diversas concepções históricas da racionalizaçãoda prática da assistência social, ou seja, as diversas concepções referentes à prática profissional do assistente social. Descobrir como se processa a racionalidade instrumental. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 4 1 1 INICIE SUA JORNADA Olá, estudante! Seja bem-vindo a este tema de aprendizagem que lhe levará para uma viagem na construção da ciência e do conhecimento científico, elementos importan- tes para que você compreenda a racionalidade e a racionalidade instrumental. Já parou para refletir que nossa simples atividade de pensar pode estar imersa nas nossas razões e nossas construção de homem e de mundo? E que isso, por sua vez, influencia nossas condutas e práticas do fazer profissional, bem como circunscrevem nossa vida cotidiana? É importante conceituarmos essas questões e seus estudos originários para apreender de fato do que estamos falando. Para isso, sabendo que nosso fazer profissional deve ser sempre fundamentado, também conheceremos e diferen- ciaremos o conhecimento científico do não científico. Nesse aspecto, porém, entenderemos porque o serviço social se consolida e se apresenta enquanto ciência social aplicada e no espaço que as demais ciências ocupam no mundo acadêmico e prático. Desejamos que você embarque nesta viagem ávido por conhecimento cien- tífico e histórico! Bons estudos! Estudante, para aprofundar seu conhecimento na temática deste tema de apren- dizagem, ouça o podcast Latour e a Construção da Ciência, e conheça as etapas de construção da ciência defendidas pelo antropólogo francês. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO VAMOS RECORDAR? Nesta palestra, ministrada no Congresso Catarinense de Assistentes Sociais, em 2016, a renomada professora Yolanda Guerra falou sobre a importância da reflexão e compreensão da vida cotidiana na totalidade, bem como sobre a interpretação da condição de vida, considerando passado, presente e futuro. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 DESENVOLVA SEU POTENCIAL RACIONALIDADE INSTRUMENTAL E TÉCNICA Para começo de conversa, você já parou para pensar no raciocínio e em re- flexões empregadas no agir profissional? E o quanto nossa mente automatiza os processos, inclusive esse processo de trabalho, que envolve o refletir antes de intervir – exercício que, com o acúmulo de experiência e prática, passa a ser realizado cotidianamente? Inicialmente, é importante compreendermos os con- ceitos. Segundo o Dicio – Dicionário Online de Português (2023), alguns dos significados para a palavra racionalidade são: Substantivo feminino Particularidade ou característica do que é racional; qualidade da- quilo que se baseia na razão. Que se encontra em conformidade com a razão; compreensível logicamente. Capacidade de raciocinar ou de praticar a própria razão. Tendência para entender (compreender) os fatos e/ou ideias tendo em conta a razão. Etimologia (origem da palavra racionalidade). Do latim: rationa- bilitas.atis. Substantivo feminino Característica ou particularidade do que é racionável; passível de ser racionado. Etimologia (origem da palavra racionalidade). Racionável - vel + bil(i) + dade. (RACIONALIDADE, 2023, on-line). 1 4 O significado de racionalidade é associado à nossa capacidade de discernir pro- priedades, estabelecer relações e construir argumentos para apresentar e defender nossas crenças, exibindo uma dupla e mutuamente relacionada dimensão. De um lado, é o exercício de uma faculdade cognitiva – chamemo-la, razão. De outro, é o resultado da ação da razão, que se torna a propriedade que perpassa os produtos dessa faculdade (REGNER, [2010], on-line). Agora que já compreendemos o significado atribuído à palavra racionalidade, iden- tificaremos o conceito de racionalidade instrumental para nossas reflexões neste tema. VOCÊ SABE RESPONDER? O que é racionalidade instrumental? De acordo com Souza (2009, on-line), a racionalidade instrumental é a faculdade subjetiva do pensar que é a razão, ou seja, a faculdade que julga, discerne, com- para, relaciona, calcula, ordena e coordena os meios com os fins. Essa faculdade se tornou, em sua evolução, um instrumento formal. A partir disso, do que se trata, então, a razão? Alguns autores trazem que a razão se tornou a própria racionalidade. A razão, contudo: [...] está presente no aparelho produtivo, no aparelho tecnológico e científico, nas instituições políticas, no hospital, na escola, no trânsito e na mídia. Em todos os empreendimentos humanos, há a relação calculada entre meios e fins. A opera- ção, a coordenação, a ordem, o sistema, o cálculo e a busca da unidade definem a racionalidade em sua eficácia (SOUZA, 2009, on-line). PENSANDO JUNTOS UNIASSELVI 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 Weber foi o responsável por observar enfaticamente, através de seus estudos, o que estava acontecendo no Ocidente, que eram alguns fenômenos culturais diferenciados do Oriente. Conforme ele considerou, tais fenômenos culturais estavam repletos de: “ [...] desenvolvimento universal em seu valor e significado. Por exem- plo, a ideia de um Estado racionalmente organizado como uma en- tidade política, com uma Constituição racionalmente redigida, um direito racionalmente ordenado, uma administração orientada por regras racionais e com funcionários especializados somente existiu no Ocidente. Da mesma forma, a apropriação capitalista racional- mente efetuada e calculada em termos de capital. Tudo sendo feito em termos de balanço, em que a ação individual das partes, baseada no cálculo, só existiu no Ocidente (SOUZA, 2009, on-line). Por sua vez, o filósofo postula que é racional aquilo que se baseia no cálculo e na adequação de meios e fins, o que pode evitar ou minimizar os efeitos colaterais inde- sejados. O conceito de racionalização, segundo Weber (1993), surgiu das concepções científicas ocidentais referentes à uma racionalização técnico-científica dos fatos. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo A obra de Max Weber fala sobre a racionalização, identificada pelo autor enquanto característica fundamental da sociedade ocidental. O sociólogo alemão faz uma discussão profunda, abordando conceitos que consigam retratar o que ele chama de ética protestante, e busca chegar à compreensão da rela- ção que se estabelece com o capitalismo, a qual circunda até as questões que envolvem a religiosidade do período. INDICAÇÃO DE LIVRO 1 1 Pensando nas questões que levantam para nós a existên- cia da ciência racional, refletiremos sobre o que é ciên- cia, ou conhecimento científico, e o que não é. Para isso, é importante diferenciarmos o que faz o conhecimento ser definido como científico ou não. O conhecimento científico, ou a ciência, diferencia-se de outros por ser sus- tentado numa lógica racional que permite a verificação dos fatos e dos fenômenos da realidade de forma sistemática e generalizada. Portanto, o que diferencia o conhecimento científico do não científico é o método (MATTEDI, 2006). Além disso, a ciência não produz verdade, pois está em constante transforma- ção, e a pesquisa, por causa disso, é dinâ- mica. E toda atividade científica é uma atividade social. Sobre isso, vale lembrar que a ciência constitui uma forma es- pecífica de produção do conhecimen- to, que opera através da aplicação do método científico. Como demonstra a Figura 1, o conhecimento é dividido em científico e não científico, e, no conheci- mento científico, temos duas correntes científicas: a ciência aplicada e a ciência básica. A ciência se diferencia em fun- ção de sua finalidade. O desenvolvimento de uma ciência racional fundamentada em princípios racionais e no método científico é um produto do Ocidente. São descobertas da cultura oci- dental: a astronomia fundamentada matematicamente; a geometria demonstra- da através da prova racional; as ciências naturais fundamentadasna observação e no método experimental; a medicina desenvolvida empiricamente com funda- mentos biológicos e bioquímicos. Esse processo de racionalização das ciências atingiu todas as esferas da vida social e tornou o “mundo desencantado”. Tudo o que existe poderia ser explicado pelo conhecimento racional. O mundo deixou de ser misterioso (SOUZA, 2009, on-line). APROFUNDANDO E toda atividade científica é uma atividade social UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 Figura 1 – Conhecimento científico e não científico / Fonte: adaptada de Mattedi (2006). Conhecimento Científico e Não-científico Ciência Aplicada Formais ·Matemática ·Lógica ·Medicina ·Odontologia ·Administração ·Ed. Física ·SERVIÇO SOCIAL Factuais Naturais Sociais ·Física ·Química ·Biologia ·Psicologia ·Sociologia ·Economia Religioso Artístico Ideológico Pseudo Ciência ·Bíblia ·Alcorão ·Música ·Literatura ·Neoliberalismo ·Socialismo ·Astrologia ·Búzios Ciência Básica CIENTÍFICO NÃO-CIENTÍFICO C O N H E C I M E N T O Descrição da Imagem: o fluxograma, intitulado “Conhecimento científico e não científico”, reforça que ambos possuem suas significações e importância, sendo, antes de tudo, tipos de conhecimento. O conhecimento cien- tífico é tido por meio das ciências aplicadas, como medicina, odontologia, administração, educação física, serviço social, entre outras. E, também, pelas ciências básicas, que se subdividem em: formais, quais sejam, matemática e lógica; e factuais, que, por sua vez, subdividem-se em: factuais naturais, como física, química e biologia; e factuais sociais, como psicologia, sociologia e economia. Já o conhecimento não científico pode ser dividido em: religioso, a exemplo da Bíblia e do Alcorão; artístico, como a música e a literatura; ideológico, como o neoliberalismo e o socialismo; e pseudociência, como a astrologia e os búzios. Fim da descrição. O espaço acadêmico é formado pela universidade tradicional e pela universidade moderna. Na universidade tradicional, não havia pesquisa científica, a ciência estava fora da universidade. Já na universidade moderna, a pesquisa científica é implantada por Alexander von Humboldt. As ciências sociais nasceram depois das ciências naturais e humanas, portanto, as ciências sociais sofrem influência dessas duas áreas do conhecimento científico, de acordo com os modelos dife- rentes de compreensão e explicação de cada área (MATTEDI, 2006). 1 8 Qual é a abordagem tradicional do conhecimento? Como estabelecer uma de- marcação entre conhecimento científico e não científico? Mattedi (2006) expõe que existem algumas tradições que tratam da questão do conhecimento científico e não científico. A primeira delas foi o positivismo, que teve quatro fases: Qual a diferença entre uma ciência básica e uma aplicada? A CIÊNCIA BÁSICA procura conhecer. Podemos caracterizá-la como a parte da pesquisa científica, que se propõe a enriquecer o conhecimento humano sobre o assunto em questão. Ela não tem por objetivo modificar a sociedade. A CIÊNCIA APLICADA, por sua vez, procura ajudar o homem a agir bem. Ela objetiva a aplicação da pesquisa científica, visando resolver um problema de utilidade prática do homem. ZOOM NO CONHECIMENTO PRIMEIRA FASE Trata-se do protopositivismo, cuja origem do conhecimento é o intelecto e não a experiência. SEGUNDA FASE O positivismo clássico foi um período em que as ideias foram agrupadas e condensa- das na obra de Auguste Comte, que foi o fundador do positivismo e da sociologia. TERCEIRA FASE O positivismo crítico foi um período de revisão e radicalização. QUARTA FASE A partir do positivismo lógico, ou verificacionismo, os positivistas passaram a defender que o fundamental é a noção de verificação, ou seja, da realização de um teste meto- dológico. UNIASSELVI 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 Ciência é diferente da não ciência, pois foram constituídas sobre lógicas dife- rentes. E a cientificidade (o conhecimento científico), segundo os positivistas, é única e verdadeira, uma vez que: possui objetividade; é metódica, porque todo experimento pode ser replicado, controlado e reproduzido; é vista como conhe- cimento preciso, porque quanto mais clara e metódica, mais facilitada será a crítica do conhecimento; é vista como conhecimento mais perfeito, porque é a melhor invenção do homem; é um conhecimento progressivo e cumulativo, porque sempre aumentamos o conhecimento; é um conhecimento imparcial e desinteressado, porque os cientistas são desinteressados e imparciais, já que almejam o incremento contínuo do conhecimento humano (MATTEDI, 2006). A segunda tradição diz respeito ao racionalismo crítico e à falsificação. De acordo com Mattedi (2006), a base dessa concepção advém de Karl Popper, que, primeira- mente, critica o método indutivo, que parte de um fato ou ideias específicas para o geral. O senso comum da sociedade civil é indutivo, portanto, a maioria da ciência que é produzida advém do método indutivo. Popper (2003), no entanto, sugere que a ciência deve se fundamentar no método dedutivo, ou seja, deve partir dos aspectos gerais para chegar aos específicos. De acordo com Mattedi (2006), existem algumas etapas do modelo hipoté- tico-dedutivo. Para Popper (2003), o método científico parte de um problema (P1), ao qual se oferece uma hipótese (H) explicativa, que é testada (T), originan- do o surgimento de um novo problema (P2). Sobre isso, vale lembrar que, para Popper (2003), é através da falsificação (que deve haver comparação, ensaio e erro) que a ciência se diferencia da não ciência. Ou seja, uma teoria só pode ser científica se for constatada com fatos. 1 1 Vejamos, agora, o que Hahn, Neurath e Carnap (1986) falam sobre o positi- vismo lógico e o princípio da verificação, e o que Popper (2003) expõe sobre o racionalismo crítico e o princípio da refutação. Pois bem, com relação ao posi- tivismo lógico e ao princípio da verificação, podemos expor que Hahn, Neurath e Carnap (1986) – no que se refere à concepção científica sob a visão adotada pelos frequentadores do Círculo de Viena – tiveram como propósito buscar uma explicação referente à concepção científica do mundo, bem como procuraram convencer o leitor de que essa seria a forma correta de ver o mundo, a partir de uma perspectiva empirista, lógica e verificável. Hahn, Neurath e Carnap (1986) determinam que a moderna concepção cien- tífica do mundo deve ser desenvolvida através do desenvolvimento do método da construção de hipóteses e, posteriormente, do desenvolvimento do método axiomático e da análise lógica, o que permitiu dar à construção dos conceitos, clareza e rigor sempre maiores. Finalmente, buscamos a aceitação da sua teoria pela sociedade quando afirmamos que a concepção científica do mundo está próxima à vida contemporânea. VOCÊ SABE RESPONDER? Do que se trata o racionalismo crítico e o princípio da refutação? No que tange ao racionalismo crítico e ao princípio da refutação, Karl Popper, em sua obra Conjecturas e Refutações (2003), aborda o critério de demarcação científica, que é igual à cientificidade, para, assim, propor um critério de demarcação. Para isso, ele afirma que o seu critério da constatação é o critério da falsificação. Popper (2003) explica seu raciocínio através de dez operações. A primeira delas diz respeito à formulação do problema; a segunda, aos exemplos do cri- tério da falsificação; a terceira, aos critérios de falsificação; a quarta, à crítica ao princípio de verificação positivista; a quinta, às objeções à teoria de Popper; a sexta, ao comportamento dogmático; a sétima, à distinção entre o pensamento UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 crítico e dogmático; a oitava, à questão da lógica da ciência; a nona, à origem do problema lógico da indução; e a décima, à compreensão de como saltamos de uma afirmativa derivada da observação para uma teoria. Abordagem alternativa do conhecimento Agora, para pensar a abordagem alternativa do conhecimento, ressaltamosuma visão abrangente referente a outras formas alternativas de conceber a cientifi- cidade do trabalho acadêmico. Para isso, subdividimos a tarefa em duas etapas. Primeiramente, abordaremos as revoluções científicas, de Thomas Kuhn. Na se- quência, mostraremos as controvérsias científicas sob o enfoque de Bruno Latour. THOMAS KUHN Thomas foi um físico norte-americano que se dedicou aos estudos da filosofia da ciência, estabelecendo teorias que desconstruíram o paradigma objetivista da ciência. Nasceu em 1922, em Ohio (Estados Unidos), e faleceu em 1996. (FRAZÃO, 2016, on-line). CONTRIBUIÇÃO Em sua obra As Estruturas das Revoluções Científicas, Kunh (2003) aborda as dificuldades que geram o conceito de PARADIGMA e sua aplicação (denota a questão da cientificidade), bem como pretende dar respostas às principais objeções levantadas pela noção de paradigma. Para isso, traz como problemática “as críticas ao livro”, no qual as estruturas das revoluções científicas se devem a dificuldades de interpretação do próprio conceito de paradigma. 1 1 BRUNO LATOUR Bruno nasceu em 1947, na França, e faleceu recentemente em 2022. Além de sociólogo, pela Universidade Dijon, e doutor em teologia, também tinha o título de antropólogo. Realizou vários estudos sobre antropologia simétrica da modernidade, bem como sobre os modos de ação dos seres humanos no mundo (BAILÃO; MARINI, 2023, on-line). CONTRIBUIÇÃO Em Ciência em Ação, Latour (2001) trata do tema da “ciência em construção”, que pode ser definida como pesquisa científica, com o objetivo de realizar uma crítica da visão tradicional das operações de descrição da ciência (o caso da epistemologia). Ao determinar a problemática, afirma que a construção da ciência se processa ao estudar os fatos científicos em construção (ou as controvérsias). Assim como explica que o destino das máquinas é fato científico, que está nas mãos de seus usuários. Finalizando nossas reflexões sobre o que é conhecimento científico e não cientí- fico, com relação à abordagem tradicional do conhecimento através do positivis- mo lógico (e o princípio da verificação) e o racionalismo crítico (e o princípio de refutação), podemos dizer que ambas as abordagens do conhecimento têm em comum a ideia de que o desempate de um argumento só se dá através da reali- dade dos fatos. E que a realidade é independente das concepções do analista, do pesquisador, pois a realidade é neutra, independentemente do que achamos dela. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 4 A solução encontrada pelo positivismo lógico foi introduzir o princípio da verificação, pois o científico pode ser verificado, e, no racionalismo crítico, esse princípio foi substituído pelo princípio da falsifica- ção, no qual o fato científico pode ser refutado. Quanto a outras formas alternativas de con- ceber a cientificidade do trabalho acadêmico, temos as revoluções científicas de Thomas Kuhn. Para o autor, o que determina a realidade é o mapa mental que temos (nossos paradigmas), ou seja, a ciência é a possibilidade de for- mular questões e dar respostas a elas, além desse desenvolvimento ser uma questão histórica e social. Acerca das considerações sobre as controvérsias científicas, Bruno Latour se baseia em três princípios para a construção da ciência. O primeiro deles se refere ao agnosticismo em relação às ciências sociais, não só da natureza como também da sociedade. Outro princípio trata da simetria generalizada, que afirma que não de- vemos partir de qualquer noção do que é natureza e social. Devemos, sim, partir da elaboração. Para finalizar, Latour cita que o terceiro princípio para a construção da ciência é a livre associação. Portanto, pode-se dizer que um conhecimento é científico, ou não, através do modelo de interpretação que empregarmos. Com relação à racionalidade instrumental, vemos que apesar de a racio- nalização ter começado com as ciências, foi somente com os protestantes que ela adquiriu valor e significado. Foi devido à ética protestante que a racionalidade se tornou universal, impulsionando o capitalismo. Com os protestantes, o capitalis- mo ganhou consistência, assumiu formas e direções. Pois a realidade é neutra, independentemente do que achamos dela Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. EM FOCO 1 4 NOVOS DESAFIOS Chegamos ao fim deste tema de aprendizagem, em que conhecemos os con- ceitos de racionalidade, bem como de conhecimento científico e não científico. Conhecemos, também, as novas abordagens alternativas do pensar na ciência e outras questões relevantes para apropriação histórica de como as ciências foram se construindo, inclusive o lugar do serviço social nas ciências sociais aplicadas. É importante considerar a racionalidade instrumental do serviço social. No entanto, também é necessário saber que de nada adianta uma racionalidade ins- trumental que planeje os dados, os números e os índices do trabalho, se o profis- sional não se apropriar do que de fato é seu objeto: a questão social. A questão social, por sua vez, é entendida como as múltiplas expressões da desigualdade, da violência, do pauperismo na sociedade, diferentemente da noção de que, talvez, a racionalidade, de forma isolada, faça com que o fazer profissio- nal se baseie apenas no que está posto, e isso deve ser evitado. Visto que apenas através da apropriação das dimensões técnica-operativa, teórico-metodológica e ético-política é que iremos, de fato, executar um trabalho racional. Assim como não podemos deixar de considerar o contexto e a subjetividade envolvidos. O desafio é utilizar da ciência, da racionalidade, das dimensões que cons- troem a profissão, sem perder de vista o principal objetivo do trabalho profissio- nal e os pilares necessários para uma prática coerente com os princípios éticos fundamentais e com o direcionamento político preciso. UNIASSELVI 1 5 1. Regner ([2010]), ao estudar a racionalidade em seus vários aspectos, trata de vários filóso- fos e concepções que culminam na compreensão da racionalidade da ação e também do conhecimento, no sentido científico e retórico. REGNER, A. C. K. P. Retórica e racionalidade científica: quando história e filosofia da ciência se encontram. Triplov, [s. l.], [2010]. Disponível em: http://www.triplov.com/mesa_redonda/ anna_carolina/retorica.html. Acesso em: 12 dez. 2023. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - Não há, contudo, como realizar essa escolha sem reexaminar as bases em que a visão tradicional se assenta – nossa primeira questão passa a depender da segunda, pedindo o exame dessas bases, PORQUE II - convém saber distinguir, a respeito de cada paixão, qual a disposição de ânimo que lhe corresponde, contra e a favor de quem deve ser excitada e em que ocasiões assim se manifesta. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. 2 “De um lado, é o exercício de uma faculdade cognitiva – chamemo-la ‘razão’. De outro, é o resultado da ação da ‘razão’ e torna-se a propriedade que perpassa os produtos dessa ‘fa- culdade’. Entre os produtos dessa atividade, encontra-se a geração dos próprios princípios e critérios que a regulam, bem como regulam a produção e a avaliação de conhecimento confiável e objetivamente válido (seja enquanto solidamente fundado, seja enquanto crí- tico-falível).” REGNER, A. C. K. P. Retórica e racionalidade científica: quando história e filosofia da ciência se encontram. Triplov, [s. l.], [2010]. Disponível em: http://www.triplov.com/mesa_redonda/anna_carolina/retorica.html.Acesso em: 12 dez. 2023. AUTOATIVIDADE 1 1 Assinale a alternativa correta, que corresponda ao que a autora se refere no excerto: a) Princípio da refutação. b) Método hipotético-dedutivo. c) Positivismo lógico. d) Positivismo crítico. e) Racionalidade da ciência. 3. “Nascido em Montpellier, na França, no ano de 1798, foi um filósofo francês que ficou co- nhecido por ter sido o primeiro a sintetizar a necessidade de uma ciência da sociedade, a sociologia, e também responsável por criar a doutrina do positivismo.” PORFÍRIO, F. Sociologia. Brasil Escola, [s. l.], c2023. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/so- ciologia. Acesso em: 12 dez. 2023. Com base no enunciado, assinale a alternativa correta quanto ao filósofo referenciado: a) Karl Marx. b) Max Weber. c) Arthur Schopenhauer. d) Friedrich Hegel. e) Auguste Comte. AUTOATIVIDADE 1 1 REFERÊNCIAS BAILÃO, A. S.; MARINI, M. Bruno Latour. Enciclopédia de Antropologia, São Paulo, 1 jul. 2023. Disponível em: https://ea.fflch.usp.br/autor/bruno-latour. Acesso em: 12 dez. 2023. FRAZÃO, D. Thomas Kuhn. Ebiografia, [s. l.], 21 jul. 2016. Disponível em: https://www.ebiografia. com/thomas_kuhn/. Acesso em: 12 dez. 2023. HAHN, H.; NEURATH, O.; CARNAP, R. A concepção científica do mundo: o círculo de Viena. Ca- dernos de História e Filosofia da Ciência, Campinas, v. 10, p. 5-20, 1986. KUHN, T. As estruturas das revoluções científicas. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003. LATOUR, B. A ciência em ação. São Paulo: Editora Unesp, 2001. MATTEDI, M. A. Introdução à problemática do conhecimento: visões e divisões. Blumenau: FURB – Fundação Universidade Regional de Blumenau: PPGDR – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, 2006. (Pesquisa Aplicada ao Desenvolvimento Regional I, apos- tila da disciplina). POPPER, K. R. Conjecturas e refutações. Coimbra: Almedina, 2003. RACIONALIDADE. In: DICIO: Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, c2023. Disponível em: https://www.dicio.com.br/racionalidade/. Acesso em: 12 dez. 2023. REGNER, A. C. K. P. Retórica e racionalidade científica: quando história e filosofia da ciência se encontram. Triplov, [s. l.], [2010]. Disponível em: http://www.triplov.com/mesa_redonda/anna_ carolina/retorica.html. Acesso em: 12 dez. 2023. SOUZA, M. A. de. O que é a racionalidade instrumental? Filosofonet, [s. l.], 16 abr. 2009. Disponí- vel em: http://filosofonet.wordpress.com/2009/04/16/627/. Acesso em: 28 fev. 2010. WEBER, M. Conferência sobre o socialismo. In: FRIDMAN, L. C. (org.). Socialismo, Émile Dur- kheim, Max Weber. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993. p. 87-128. 1 8 1. Opção B. Ambas as asserções são verdadeiras, mas a primeira está se referindo à racio- nalidade da ação, e a segunda é uma referência à retórica de Platão, não sendo, portanto, justificativas uma da outra. 2 Opção E. A alternativa correta é a letra E), uma vez que, tradicionalmente, o significado de “racionalidade” é associado à nossa capacidade de discernir propriedades, estabelecer relações e construir argumentos para apresentar e defender nossas crenças, exibindo uma dupla e mutuamente relacionada dimensão. Está errada a alternativa a), pois princípio da refutação considera que uma teoria só pode ser considerada científica quando é falseável, ou seja, quando é possível prová-la falsa. Está errada a alternativa b), no método hipotético- -dedutivo, devemos partir dos aspectos gerais para chegarmos aos específicos. Está errada a alternativa c), pois o positivismo lógico dos pensadores do Círculo de Viena postulava que, para uma teoria ser considerada “ciência”, ela deveria ser unificada em linguagem e fatos que a fundamentassem. As proposições científicas, assim, são apenas aquelas que se referem à experiência e podem ser verificadas. Está errada a alternativa d), pois a terceira fase do positivismo, ou o positivismo crítico, foi um período de revisão e radicalização. 3. Opção E. August Comte, considerado o Pai da Sociologia, foi o fundador do positivismo. Está errada a alternativa a), pois Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo, ativista político e um dos fundadores do socialismo científico. Sua obra influenciou a sociologia, a economia, a história e até a pedagogia. Está errada a alternativa b), pois Max Weber (1864–1920) foi um dos precursores da sociologia econômica. Seus estudos recaíram sobre questões teórico- -metodológicas acerca da origem da civilização ocidental e seu lugar na história universal. Está errada a alternativa c), pois Arthur Schopenhauer (1788–1860) foi um filósofo alemão contemporâneo, que ficou conhecido pelo seu forte pessimismo filosófico. Está errada a alternativa d), pois Friedrich Hegel (1770–1831) foi um filósofo germânico, cuja obra Fenome- nologia do Espírito é tida como um marco na filosofia mundial e alemã. GABARITO 1 9 MINHAS METAS DESAFIOS DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS Aprender sobre o processo de produção e reprodução social. Conhecer o lugar do serviço social no processo de produção e reprodução social. Entender o envolvimento entre capital e relações sociais. Compreender o capital como determinante da relação social de produção. Reconhecer a importância do serviço social, por conta das novas demandas sociais. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 5 8 1 INICIE SUA JORNADA Neste tema de aprendizagem, compreenderemos o processo de produção e repro- dução social. Você já parou para pensar que a trajetória do serviço social no Brasil já é um fator conhecido por nós? Pois bem, desde o início do Curso de Serviço Social, estudamos que a profissão nasce dentro das normas da Igreja Católica e, dessa maneira, cresce subordinada às obrigações do Estado. A partir das décadas de 1970 e 1980, a categoria profissional começa a refletir sobre as suas práticas, procurando referências para embasar sua intervenção e aprofundando-se em correntes teóricas e filosóficas para compor uma cientifi- cidade própria do serviço social. As primeiras reflexões necessárias ao profissional eram as questões que envol- vem o trabalho, não só como forma de sustento da família, mas também como a alienação do trabalhador diante do valor de seu trabalho e o valor da mercadoria. Muitos trabalhadores pensam que essa alienação não existe, porém, quando pas- samos a refletir sobre tais problemas, vemos que se trata de uma etapa para a repro- dução do capital, pois quanto menos o trabalhador pensa ou sabe, menos ele exige. Nesse contexto, passamos de forma breve sobre alguns pontos necessários para começar o processo de reflexão, pois repensar o capital, o trabalho, a mer- cadoria, a alienação do trabalhador não é uma tarefa fácil. Desejamos bons estudos a você. Aproveite o conteúdo para se aprofundar na temática! Preparamos um podcast para lhe contar a respeito de umas das resoluções do Con- selho Federal de Serviço Social, que dispõe sobre a emissão de pareceres, laudos, opiniões técnicas, com objetivo de contribuir para a compreensão do fazer profissional. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO UNIASSELVI 8 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 DESENVOLVA SEU POTENCIAL VAMOS RECORDAR? No ano de 2017, o 4º Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais debateu, com Ricardo Antunes e Elaine Behring, a crise capitalista e a reprodução do trabalho na atualidade. Acesse o vídeo e confira! O PROCESSO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL VOCÊ SABE RESPONDER? O que é o capital? É a relação social determinante que dá a dinâmica e a inteligibilidade de todo o processo da vida social (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009). Na sociedade capi- talista, é o capital que determina a relação social de produção, pois corresponde a todo processo histórico de um determinado lugar. Segundo Marx (2013), a diferença entre dinheiro e capital está na forma como circulam na sociedade. Isso porque a sociedade pode se organizar de duas maneiras: circulando as mercadorias, convertendo-as em dinheiro e reconvertendo-odinhei- 8 1 ro em mercadoria; ou convertendo o dinheiro em mercadoria, transformando-a em dinheiro para comprar e vender. Dessa forma, o dinheiro torna-se capital. Os meios de produção são construídos e produzidos por meio do capital, que é identificado pela forma material. Dessa maneira, os meios de produção e de vida, expressos no dinheiro, mostram e mascaram as divergências entre as diferentes classes sociais. “ A parte do capital, portanto, que se converte em meios de produção, isto é, em matéria-prima, matérias auxiliares e meios de trabalho, não altera sua grandeza de valor no processo de produção. Eu a chamo, por isso, parte constante do capital, ou mais concisamente: capital constante. A parte do capital convertida em força de trabalho, em contraposição, muda seu valor no processo de produção. Ela re- produz seu próprio equivalente e, além disso, produz um excedente, uma mais-valia que ela mesma pode variar, ser maior ou menor. Essa parte do capital transforma-se continuamente de grandeza constante em grandeza variável. Eu a chamo, por isso, parte variá- vel do capital, ou mais concisamente: capital variável. As mesmas partes componentes do capital, que do ponto de vista do processo de trabalho se distinguem como fatores objetivos e subjetivos, como meios de produção e força de trabalho, se distinguem, do ponto de vista do processo de valorização, como capital constante e capital variável (MARX, 1996, p. 325). MEIOS DE PRODUÇÃO Segundo Cohen (2010, p. 64): “ As forças produtivas são as edificações e os meios utilizados no pro- cesso de produção: meios de produção, de um lado, e força de traba- lho, de outro. Os meios de produção são recursos produtivos físicos: ferramentas, maquinaria, matéria-prima, espaço físico etc. A força de trabalho inclui não apenas a força física dos produtores, mas também suas habilidades e seu conhecimento técnico (que eles ne- UNIASSELVI 8 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 cessariamente não dominam), aplicados quando trabalham. Marx diz – e estou de acordo com ele – que essa dimensão subjetiva das forças produtivas é mais importante do que a dimensão objetiva ou dos meios de produção; e, no interior da dimensão mais importante, a parte mais apta ao desenvolvimento é o conhecimento. CLASSES SOCIAIS São formas de organização da sociedade em que se divide a população em classes, considerando principalmente as questões de rentabilidade de um determinado grupo. As mercadorias têm incutidos os valores da quantidade de tempo humano que levou para serem construídas. Assim, toda mercadoria tem seu valor atribuído a um valor de uso, um valor de troca e um valor social, porém, essa relação social está mascarada atrás dos outros dois valores. Podemos, então, falar da mais-valia, que é o valor excedente que a mercadoria recebe ao final da produção, isto é, a quantia a mais, que é agregada ao produto. Assim, o valor de troca tem um valor muito maior que o de uso, ou na sua grande maioria, o valor de uso nem existe (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009). 8 4 Assim, para a pessoa sobreviver, é obrigada a vender sua força de trabalho, pois “o capital supõe o trabalho assalariado e este, o capital”, colocam Iamamoto e Car- valho (2009, p. 36). Dessa forma, apontam os autores, ela produz e reproduz o capital: “ [...] ao trabalhador, como propriedade alheia monopolizada por uma parte da sociedade – a classe capitalista – não lhe resta outra al- ternativa, senão vender parte de si mesmo em troca equivalente aos meios necessários para sua subsistência e de sua família, expressos através da forma do salário. A condição histórica para o surgimento do capital e o pressuposto essencial para a transformação do dinhei- ro em capital é a existência no mercado da força de trabalho como mercadoria (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 39). Desse modo, o trabalhador sai da atividade produtiva com o desgaste de sua força de trabalho, o valor de uso de sua força de trabalho. O contrário acontece com o capital que, ao sair do processo produtivo, transforma-se em capital real, tem um valor que se valo- riza a si mesmo. Nesse contexto, o trabalho vivo somente tem um valor mediante sua necessidade de absorção nos meios de produção, pois é o trabalho vivo que mantém e aumenta o valor de troca do trabalho acumulado (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009). VOCÊ SABE RESPONDER? Quem vende a força de trabalho? “O capital supõe o trabalho assalariado e este, o capital” Existem os termos trabalho vivo, trabalho morto e trabalho acumulado. A diferença entre eles é que o trabalho vivo é o trabalho executado pelo trabalhador, o trabalho morto é aquele executado pelas máquinas, e o trabalho acumulado é a mais-valia. APROFUNDANDO UNIASSELVI 8 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 Podemos dizer, então, que é o trabalhador que produz a riqueza, pois o resultado de sua jornada de trabalho são as mercadorias, que não revertem em riqueza para o trabalhador e, sim, vendidas no mercado, deixando ricos os proprietários. O trabalhador, no final de sua jornada, recebe o salário, que nada mais é do que o preço da força de trabalho, jamais podendo ser considerado que o salário é o preço do trabalho, pois este não é uma mercadoria. Os autores colocam que o salário esconde as desigualdades existentes entre o tempo usado para executar um serviço e o tempo pago pelo serviço executado, mostrando que o lucro está no trabalhador fazer a maior quantidade de serviço pelo menor preço, ou melhor, no menor tempo, pois é nesse momento que apare- ce o lucro do proprietário, o qual fica camuflado nessas relações de tempo e preço. O trabalho não tem um preço já que não é uma mercadoria. Para ser uma mercadoria, o trabalhador deveria mostrar o trabalho antes de vendê-lo, o que é impossível, pois assim que o trabalho é colocado em ação, ele deixa de pertencer ao trabalhador e passa a ser do proprietário (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009). O Caminho das Nuvens Inspirado em uma história real, o longa-metragem traz Wagner Moura no papel principal e nomes como Cláudia Abreu e Fá- bio Lago no elenco. O protagonista é Romão, um caminhoneiro nordestino que está desempregado e tenta sustentar sua famí- lia, formada pela esposa e cinco filhos. O filme conta a história da família em uma viagem de 3.200 km, saindo de Santa Rita (PB) com destino ao Rio de Janeiro (RJ) de bicicleta. Eles estão em busca de uma oportunidade de trabalho para Romão, que sonha com uma remuneração específica de R$ 1.000 mensais para oferecer uma vida digna aos filhos. INDICAÇÃO DE FILME 8 1 O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL VOCÊ SABE RESPONDER? O que faz o serviço social na reprodução das relações sociais? Na reprodução das relações sociais, está a reprodução da totalidade do processo social, momento em que o profissional de serviço social configura seu tipo de especialização, sua prática no conhecimento do trabalho coletivo no contexto da divisão social do trabalho. A reprodução é mais que a questão econômica: é toda uma reprodução cultural, política, religiosa, educacional. Podemos dizer, então, que o trabalhador saudável e forte cria e recria a riqueza por meio do seu trabalho, porém, quando já não produz o excedente, devem ser verificadas as condições mínimas para ele retornar à produção anterior. O serviço social nasce e cresce dentro de uma trajetória histórica para aten- der às demandas do capital ou do trabalho (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009). Para tanto, o profissional dessa área tem uma atuação mediadora e interventiva. Com o desenvolvimento industrial, o serviço social cada vez mais se desenvolvia enquanto profissão por causa das novas classes sociais emergentes. Assim, segun- do Iamamoto e Carvalho (2009), as questões sociais se tornam a justificativa de trabalho para o profissional de serviço social. A questão social é a expressão do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconheci- mentocomo classe por parte da empresa e do Estado (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009). APROFUNDANDO UNIASSELVI 8 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 Cabe, aqui, relembrar que as questões sociais aparecem quando o trabalho escravo se extingue e se inicia o trabalho denominado livre, momento que permitiu o apareci- mento de demandas até então inexistentes. A relação trabalho x capital ficava cada vez mais longe da compreensão e, assim, aparecem os movimentos que procuram refletir sobre toda a complexidade das questões que estavam por trás da aparência. “ Aqueles movimentos refletem e são elementos dinâmicos das pro- fundas transformações que alteram o perfil da sociedade a partir da progressiva consolidação de um polo industrial, englobando-se no conjunto de problemas que se colocam para a sociedade naquela altura, exigindo profundas modificações na composição de forças dentro do Estado e no relacionamento deste com as classes sociais (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009, p. 126). Diante da complexidade das reflexões e da falta de bibliografias que respaldassem a prática, os profissionais de serviço social se dividiram em dois grupos distintos: os conservadores e os progressistas, conforme Silva e Battini (2008). O resultado dessa divisão foram vários enfrentamentos de profissionais que defendiam um lado ou outro, sem conseguir mediar os próprios conflitos, porém, desses enfrentamentos surgiram outras reflexões, que lançaram um novo olhar sobre a sociedade e seus conflitos. Somente a partir da década de 1930, depois da Segunda Guerra Mundial, o Estado incorporou muito timidamente sua responsabilidade diante das questões sociais, na tentativa de garantir um mínimo à sociedade, assim como a igreja, a partir de então, passa somente a cuidar dos males da alma. Esse direito deverá, independentemente da ação do Estado, integrar os indivíduos dentro de uma ordem comunitária em que capital e trabalho, consumidor e fornecedor, terão sua atividade pautada por meio do lucro e salário justos, a fim de atender às necessidades materiais e espirituais da sociedade. A economia, o livre jogo do mercado, deve se submeter ao direito para a preservação do bem comum (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009). 8 8 O direito do trabalhador foi, na época, o mínimo a ser garantido para continuar a ter a mão de obra numa reprodução de capital, assim, o Estado intervém con- tra a escravidão, ou melhor, a forma escrava com que alguns trabalhadores são tratados para o mercado continuar no seu processo de lucros. Esse período (Era Vargas) também foi mar- cado pela ideia de que a população devia ser submissa ao Estado. A noção fetichizada dos direitos, cerne da política de massas do varguismo e da ideologia da outorga, tem por efeito obscurecer para a classe operária, impe- di-la de perceber a outra face da legislação social, o fato de que representa um elo a mais na cadeia que acorrenta o trabalho ao capital, legitimando sua dominação (IAMAMOTO; CARVALHO, 2009). O que se tem inicialmente é uma tentativa de amenizar as mazelas sociais, pois o trabalho era voltado por outro aspecto assistencial, como a mediação das expressões da Questão Social e do papel de intervenção do Estado. De certa forma, o trabalho do assistente social nessa época, alimentava o sistema capitalista, uma vez que era a gênese da profissão e estava voltada à execução da caridade e do bem comum. “ O serviço social é situado como profissão nos limites do modo de produ- ção capitalista, cujas determinações de exploração, acumulação ampliada e propriedade privada são reproduzidas também pela contribuição dos assistentes sociais através de seu trabalho profissional, já que inseridos nos valores e dinâmica burgueses (REDON; CAMPOS, 2020, p. 398). O direito do trabalhador foi, na época, o mínimo a ser garantido UNIASSELVI 8 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 5 Hoje podemos descrever o serviço social como uma profissão liberal, que tem suas legislações específicas e sua autonomia teórico-metodológica, técnico-operativa, ético-política. Tais dimensões, por sua vez, são indissociáveis, compõem e condu- zem o exercício profissional. Além disso, o assistente social pode desenvolver seu trabalho em várias áreas e vários espaços sócio-ocupacionais (IAMAMOTO, 2006). Por ser assalariado, o trabalhador entra na engrenagem do sistema capitalista, no qual vende sua força de trabalho e, assim, se reproduz socialmente. Na opor- tunidade de compreender a inserção do serviço social na divisão sociotécnica do trabalho, observa-se a ocorrência no estágio monopolista do modo de produção capitalista, como reforça Iamamoto (2006, p. 21-22): O serviço social reproduz-se como uma especialização do trabalho por ser socialmente necessário: o agente profissional produz serviços que têm um valor de uso, porque atendem as necessidades sociais. Por outro lado, os assistentes sociais também participam, enquanto trabalhadores assalariados, do processo de produção e/ou de redistribuição da riqueza social. Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO NOVOS DESAFIOS No início deste tema de aprendizagem, falamos sobre o processo de produção e reprodução social, e pudemos conhecer o que é, de fato, o capital, e sua ligação com a relação social e o processo histórico. Ao longo do estudo, foi necessário compreender conceitos sobre os meios de produção, processos de trabalho, organização da sociedade em classes sociais, venda e compra de mercadorias, e transformação do dinheiro em capital. Conseguinte, aprendemos sobre o trabalho enquanto venda da mão de obra, bem como sobre as questões que envolvem o trabalho assalariado e a produção e reprodução da sociedade capitalista. 9 1 Como pudemos ver, neste tema, o trabalhador exerce sua atividade e, cada vez mais, a riqueza fica restrita ao seu desfrute. O profissional do serviço social desempenha um papel importante nesse cenário social, principalmente, o assistente social, que por ser um trabalhador assalariado, também vende sua força de trabalho. O desafio primordial da área, no entanto, talvez seja vincular-se aos preceitos da profissão, que nos direcionam ao posicionamento a favor da classe trabalhadora, por mais que, muitas vezes, tal posição nos conduza a “remar contra a maré”, uma vez que devemos, antes de tudo, nos assumir enquanto classe trabalhadora e cientes de que os direitos angariados nesse movimento nos dizem respeito, mas assumem compromisso com os sujeitos de direitos, bem como abrangem uma coletividade. UNIASSELVI 9 1 1. Conforme Iamamoto e Carvalho (2009, p. 83-84): “A questão social não é senão as expres- sões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção”. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. de. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez, 2009. Com base no trecho, assinale a alternativa que corresponda corretamente ao tipo de ação voltada à atuação do assistente social antes da profissão adentrar a esfera da garantia de direitos: a) Atuação no âmbito da educação. b) Atuação na política de saúde. c) Atuação no setor público. d) Atuação nos movimentos sociais. e) Atuação voltada para caridade e benevolência. 2. “Foi um filósofo e revolucionário socialista alemão. Criou as bases da doutrina comunista, na qual criticou o capitalismo. Em 1841, obteve o título de doutor em Filosofia com a tese Diferenças entre os Sistemas Filosóficos de Demócrito e de Epicuro” (FRAZÃO, 2023, on-line) FRAZÃO, D. Karl Marx: filósofo e revolucionário alemão. Ebiografia, [s. l.], 2 mar. 2023. Disponívelem: https://www.ebiografia.com/karl_marx/. Acesso em: 5 mar. 2024. Com base no enunciado, assinale a alternativa correta quanto ao filósofo referenciado: a) August Comte. b) Max Weber. c) Arthur Schopenhauer. d) Friedrich Hegel. e) Karl Marx. AUTOATIVIDADE 9 1 3. Os objetivos da profissão são construídos enquanto finalidades da ação profissional, que partem do projeto ético-político do serviço social e que permitem viabilizar direitos sociais da classe trabalhadora. Com base nessas informações, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - Tais objetivos são mediados pelas próprias condições e relações de trabalho das quais fazem parte a profissão, que torna possível e obstaculiza a materialização de tal projeto no cotidiano dos sujeitos sociais. PORQUE II - Além das contradições expressas na luta de classes, os assistentes sociais enfrentam o sucateamento das políticas sociais quanto aos recursos materiais e humanos para a sua execução. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. AUTOATIVIDADE 9 1 REFERÊNCIAS COHEN, G. A. Forças produtivas e relações de produção. Crítica Marxista, Campinas, n. 31, p. 63-82, 2010. Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/ dossie46merged_document_238.pdf. Acesso em: 5 mar. 2024. FRAZÃO, D. Karl Marx: filósofo e revolucionário alemão. Ebiografia, [s. l.], 2 mar. 2023. Disponível em: https://www.ebiografia.com/karl_marx/. Acesso em: 5 mar. 2024. IAMAMOTO, M. V. As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no serviço social con- temporâneo. In: MOTA, A. E. et al. (org.). Serviço social e saúde. São Paulo: Cortez; Brasília: Minis- tério da Saúde, 2006. p.161-196. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. de. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez, 2009. MARX, K. O capital: crítica da economia política: livro 1. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Economistas). REDON, S. A.; CAMPOS, E. C. S. de. O serviço social e a reprodução das relações sociais. Praia Vermelha, Rio de Janeiro, v. 30, n. 2, p. 391-408, 2020. SILVA, L. M. R. da.; BATTINI, O. Notas para a reconstrução da história do serviço social na Região Sul I. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, v. 1, n. 95, p. 109-138, 2008. 9 4 1. Opção E. Isso, porque antes do serviço social ter seu arcabouço teórico específico e apro- fundamento teórico metodológico, as ações sociais tinham caráter de caridade. A alternativa A está incorreta, pois, no âmbito da educação, é recente a inserção de assistentes sociais nessa política pública por meio da legislação, que instituiu a contratação de assistentes sociais e psicólogos na educação. A alternativa B está incorreta, pois uma das primeiras políticas em que houve atuação desse profissional foi na saúde, principalmente nas Santas Casas. A alternativa C está incorreta, pois o setor público foi um dos pioneiros no emprego de assistentes sociais, com intuito do profissional mediar as mazelas sociais. A alternativa D está incorreta, pois os assistentes sociais são responsáveis pela mobilização da sociedade e integração aos movimentos sociais como prerrogativas da profissão. 2 Opção E. Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo, ativista político alemão, um dos fundadores do socialismo científico e da sociologia. A obra de Marx influenciou a sociologia, a economia, a história e até a pedagogia. A alternativa A está incorreta, pois August Comte, considerado o Pai da Sociologia, foi o fundador do positivismo. A alternativa B está incorreta, pois Max Weber (1864–1920) foi um dos precursores da sociologia econômica. Seus estudos recaíram sobre questões teórico-metodológicas acerca da origem da civilização ocidental e seu lugar na história universal. A alternativa C está incorreta, pois Arthur Schopenhauer foi um filósofo alemão contemporâneo que ficou conhecido pelo seu forte pessimismo filosófico. A alter- nativa D está errada, pois Friedrich Hegel (1770–1831) foi o filósofo alemão, um dos criadores de sistemas filosóficos do final do século XVIII e início do século XIX, que representou a culminância do “idealismo alemão”. 3. Opção A. As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. Os objeti- vos da profissão são construídos enquanto finalidades da ação profissional, que partem do projeto ético-político do serviço social e que permitem viabilizar direitos sociais da classe trabalhadora. No entanto, tais objetivos são mediados pelas próprias condições e relações de trabalho das quais fazem parte a profissão, que torna possível e obstaculiza a materia- lização de tal projeto no cotidiano dos sujeitos sociais. Isso porque, além das contradições expressas na luta de classes, os assistentes sociais enfrentam o sucateamento das políticas sociais quanto aos recursos materiais e humanos para a sua execução. GABARITO 9 5 MINHAS METAS A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL Perceber a diferença da teoria versus a prática profissional do assistente social. Entender a importância da vinculação entre teoria e prática. Aprender sobre os métodos e metodologias aplicados na práxis profissional do serviço social. Compreender a aplicabilidade dos métodos e metodologias. Identificar a aplicabilidade dos instrumentos e técnicas no exercício profissional do assis- tente social. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 6 9 1 INICIE SUA JORNADA Neste tema de aprendizagem, trataremos das refle- xões que permeiam o exercício profissional no que diz respeito à relação entre teoria e prática. Você já parou para pensar como será quando es- tiver no exercício de sua profissão? Ou ainda, já ten- tou vincular os estudos ao acúmulo teórico obtido até aqui para empregá-los em seu contexto profissional? Pois é, neste ponto, é importante compreender- mos o que se trata a teoria de que estamos falando e, também, conceituarmos a nossa prática, de modo a entender que são indissociáveis no exercício pro- fissional. Precisamos ter como compromisso a ma- nutenção do vínculo desses valores para garantir a qualidade das nossas ações. É importante conhecer o método e a metodo- logia para emprego tanto nos trabalhos científicos quanto na intervenção profissional, pois, como am- bos exigem planejamento e comprometimento, cabe a nós nos apropriarmos desses conceitos para melhor fazer uso, tanto durante a graduação como após a sua conclusão, na prática profissional, sempre com o compromisso de nos embasarmos de maneira teóri- ca, ética, política e metodológica. Espero que aproveite o conteúdo! Bons estudos! Ouça o podcast, que foi preparado para lhe ajudar a compreender a diferença entre instrumentos e instrumentalidade profissional do assistente social. Não deixe de ou- vir! Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO UNIASSELVI 9 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 DESENVOLVA SEU POTENCIAL TEORIA VERSUS PRÁTICA Iniciaremos a discussão referente à teoria versus a prática com uma reflexão sobre a seguinte história: “ Certo dia, um discípulo perguntou ao mestre: — Quanto tempo vou levar para me tornar um sábio? O mestre respondeu: — Cerca de dez anos. Inconformado, o discípulo insistiu: — Mas eu vou estudar todos os dias e gastar cada minuto de meu tempo lendo e pesquisando pergaminhos e escrituras. O mestre disse: — Bem, nesse caso, você vai levar uns vinte anos (BARROS, 2009, on-line). Essa história, segundo Barros (2009), nos chama a atenção para a importância de colocarmos os conhecimentos em prática. Para odiscípulo, tudo era uma questão de se aprofundar na teoria, de acumular informações, de mergulhar nos livros e nos estudos. Nem uma única vez, ele mencionou a prática, o desejo de colocar em ação tudo o que se dispunha a aprender. VAMOS RECORDAR? O artigo “Dilemas entre teoria e prática a partir da formação profissional e das condições objetivas do trabalho cotidiano”, de Élidi Cristina Tinti, lhe ajudará a recordar alguns conceitos da formação profissional e compreender os dilemas e desafios que envolvem o fazer profissional a partir da dicotomia entre teoria e prática, contribuindo para a compreensão de que, no âmbito da atuação do assistente social, teoria e prática são indissociáveis. Disponível em: https://books.scielo.org/id/qzyh6/pdf/tinti-9788579836558-05.pdf. 9 8 https://books.scielo.org/id/qzyh6/pdf/tinti-9788579836558-05.pdf De nada adianta transformar-se em uma enciclo- pédia ambulante e não ser capaz de concretizar uma única ideia, de usar seu conhecimento para modificar, para melhorar a realidade à sua volta (BARROS, 2009). Lembre-se: “[...] não existe empreendedor teórico. Quem sabe, faz. E quem não sabe, aprende fazendo” (BARROS, 2009, on-line). Em outras palavras, não existe assistente social, psicólogo, pedagogo, engenheiro, administrador só com as bases teóricas, uma vez que é no dia a dia que o profissional se constitui como tal, é no fazer técnico-ope- rativo e ético-político da profissão, em conjunto com seu cabedal teórico-metodo- lógico, que o indivíduo se especializa e se torna qualificado. A tradição acadêmica é sustentada por um rígido conjunto de valores teóricos predefinidos. Esses valores não são explicitamente divulgados aos recém-chegados, mas são apreendidos por meio da sua experiência ao longo dos anos, de tal modo que é vulgar dizer que a práxis não se explica, vive-se. Quem sabe, faz. E quem não sabe, aprende fazendo VOCÊ SABE RESPONDER? Mas será que essa teoria se torna uma prática? A sociedade atual vive uma grave crise de valores. Por um lado, não existem atual- mente critérios seguros para distinguir o justo do injusto, o bem do mal, o belo do feio. Por outro lado, também não existem valores fortes, tudo depende das circunstâncias e dos interesses em jogo. Enfim, é tudo relativo, todos os meios justificam os fins. É necessário refletir criticamente sobre de qual práxis estamos falando e qual posicionamento adotaremos, considerando a crise de valores e as mudanças que essa prática ocasionam na sociedade. Por sua vez, a práxis não fica imune a essa crise de valores, uma vez que, como considerada por alguns, trata-se de um refle- xo da sociedade. A práxis perpetua valores, tais como a solidariedade, amizade, união, respeito pela hierarquia e pela tradição, mas, acima de tudo, valores que são fruto da vivência do dia a dia. UNIASSELVI 9 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 Nestes últimos anos, contudo, tais valores sofreram um profundo e acentuado desgaste, fruto do individualismo excessivo e egoísta de certos praxistas, mas também da sua desmedida sede de poder e de protagonismo. Não vou, aqui, ge- neralizar, e tomar o todo pelas partes, não me parece sensato ou mesmo correto, embora seja fácil fazê-lo, porque a “parte” não é assim tão pequena e porque o “todo” também não é assim tão grande. A realidade é que muitos são os acadê- micos que utilizam a práxis apenas como veículo de afirmação social. Cada vez mais, a solidariedade é vista apenas como uma utopia em práxis, em- bora muitos tentem negar essa perspectiva. Acadêmicos optam, progressivamente, por uma posição egoísta em práxis, em que o “eu” predomina sobre o “nós”, e este último somente é usado segundo os interesses que se colocam por cima da mesa (ou até mesmo por baixo). Assim como também não podemos dizer que exista união, se o “nós” é negligenciado, deixando simplesmente de existir como tal, uma vez que ninguém se preocupa com ele. Também não podemos falar em respeito no sentido amplo da palavra, pois muitos acadê- micos apenas se lembram de o pedir e esquecem-se de dá-lo. Não existe verdadeira amizade, mas apenas uma afeição aparente, que se edi- fica para reforçar relações de poder e de força. Nada é es- pontâneo ou verdadeiramen- te sentido, tudo é cuidadosa- mente planeado para que o “eu” e a vontade do “eu” não seja contrariada. A finalidade de um gesto sobrepõe-se ao puro e simples ato de agir. 1 1 1 A práxis, contrariamente àquilo que alguns afirmam, não é feita apenas pela elite dos mais fortes, mas também dos mais falsos, dos mais prepotentes, dos mais egoístas, dos mais arrogantes. A práxis, engana-se quem pensa o contrário, vive da sua teoria, mas ensina a sua prática, que em nada reflete os valores inerentes às tradições acadêmicas. Teoria e prática são dois conceitos que devem ser dependentes um do outro, mas que, com o passar do tempo, infelizmente, cada vez mais se afastam. Muitos preferem responsabilizar a sociedade e a crise de valores em que ela está mergulhada, mas a verdadeira culpa é das pessoas que a fazem e que, inertes, preferem seguir a maré de cabeça baixa, pois não têm força suficiente para lutar contra ela de cabeça levantada, ou porque, talvez, como própria experiência, são imediatamente esmagados. VOCÊ SABE RESPONDER? O que podemos entender como teoria? Segundo Ferreira (2008, p. 771), entende-se por teoria: 1. Conhecimento especulativo, meramente racional. 2. Conjunto de princípios fundamentais de uma arte ou de uma ciência. 3. Doutrina ou sistema fundado nesses princípios. 4. Hipótese, suposição. Em outras palavras, podemos compreender, aqui, a teoria como sendo um con- junto de princípios que fundamentam o agir profissional do assistente social. Nes- se sentido, Kant (2008) diz que se chama teoria um conjunto de regras práticas que são pensadas como princípios numa certa universalidade, e aí se abstraem de um grande número de condições, as quais, no entanto, têm necessariamente influência sobre a sua aplicação. Segundo Pereira (2010), de uma forma geral e UNIASSELVI 1 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 abrangente, a teoria pode ser compreendida sob a perspectiva da etimologia da palavra nos dicionários. Para o pensamento clássico, entretanto, teorizar signi- fica quase que somente abstrair, sendo que para compreender teoria, é preciso considerar a lógica e a metafísica. A ciência moderna (e seu método) pode ser compreendida em quatro etapas: obser- vação, hipótese, experimentação e lei; faz, também, uma distinção entre indução (visão do particular para o geral) e dedução (do geral para o particular), análise (decomposi- ção de um todo em suas partes) e síntese (reconstituição do todo decomposto). Na essência, segundo Pereira (2009), para entender o que é teoria em um plano mais amplo, é necessário compreender várias questões afins (experiência, natureza, objeto, visão total da realidade, presença do homem etc.) que nem a ciência clássica e nem a ciência moderna são totalmente capazes de abordar. A primeira exagerou o lado da teoria da realidade como abstração, esquecendo-se da síntese (que liga pensamento e realidade), e a segunda se prendeu demais à experimentação do objeto concreto. A autora discorre, ainda, sobre a teoria nas ciências empírico-formais (física, química, biologia), formais (matemática) e humanas, e enfatiza que, para falar em teoria, é necessário focalizar aquele sig- nificado cultural básico da ação. Essa relação implica dependência da teoria com referência à prática, dependência de fundamentação. “ Sob a ênfase dicotômica dissociativa, a teoria e a prática são consideradas polos isolados e, até mesmo, opostos, valorizando os teóricos como aque- les que pensam, elaboram, planejam e refletem, e os práticos, como os que executam, os que agem. Por sua vez, uma visão dicotômica associativa considera a teoria e a prática como polos separados, mas justapostos, sendo que o primado é a teoria. A prática torna-se aplicação da teoria (PINTO, 1995,somente em situações momentâneas e de necessidades sociais básicas. Ficaram responsáveis por atuar junto às demandas sociais entidades caritativas, que de- senvolviam o trabalho voluntariamente para a população menos favorecida. O desenvolvimento da sociedade e a ampliação do conhecimento no âmbito profissional contribuíram para a abertura das primeiras escolas de serviço social e para a profissionalização do serviço social de fato – não podemos nos esquecer de que a primeira escola de serviço social é datada de 1936, em São Paulo. Com a profissionalização do trabalho e a inserção da profissão na divisão social e técnica do trabalho, sendo por sua vez executada pelo trabalhador assa- lariado que vende essa força de trabalho no âmbito do desenrolar da manuten- ção da sociedade capitalista, o serviço social se tornou uma profissão de caráter sociopolítico, crítico e interventivo, que atua nos segmentos da esfera pública, privada e terceiro setor, nas mais variadas áreas de atuação (criança e adoles- cente, idoso, saúde, educação, habitação, assistência social, forense), bem como tem sua prática profissional pautada pelos princípios e direitos firmados pela Constituição Federal de 1988. Os estudos mostram que as primeiras ações sociais foram realizadas sob orga- nização da Igreja Católica, ligadas às questões de caridade, benevolência e com intuito exclusivo de “fazer o bem ao próximo”. O Estado, até então, mostrava-se omisso em relação às questões de cunho social. APROFUNDANDO É importante perceber que o plural modifica o significado: serviço social é o curso de nível superior e serviços sociais são os serviços disponíveis à população com a finalidade de garantir o acesso aos direitos fundamentais. ZOOM NO CONHECIMENTO UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Segundo o Código de Ética do Assistente Social (CFESS, 1993), constituem como funções do assistente social: O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional O livro de Marilda Vilela Iamamoto, publicado pela Editora Cor- tez, é fundamental na apreensão do trabalho profissional do as- sistente social. Após várias reedições, o trabalho da autora con- tinua atual, intrigante, crítico e propositivo. Trata-se de uma obra para ser lida durante o caminho acadêmico e no fazer profissio- nal. Traz muitos desafios, mas também proposições, bem como aborda a questão da criatividade necessária ao profissional de serviço social, que atua no âmbito de transformar a realidade. INDICAÇÃO DE LIVRO PLANEJAR O planejamento é o processo inicial e importante em todo trabalho profissional. É através do planejamento que se tem uma ideia prévia da metodologia e resultados esperados, entre outras características essenciais, para um trabalho firmado no compromisso e na qualidade. GERENCIAR O gerenciamento está ligado a especificidades que podem ser direcionadas a setores e políticas públicas. 1 1 ADMINISTRAR O assistente social tem total capacidade de administrar em matéria de serviço social, exercendo função de gestão, seja de um projeto ou mesmo de uma política pública e social. EXECUTAR Executar nada mais é que a prática profissional do assistente social, seja no cotidiano técnico nas políticas públicas ou por meio das outras atividades de gestão e pesquisa, que podem ser exercidas. ASSESSORAR POLÍTICAS, PROGRAMAS E SERVIÇOS SOCIAIS Em matéria de serviço social, a assessoria é uma importante atividade, uma vez que o profissional tem propriedade, conhecimento técnico e científico para propor e compartilhar. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 INTERVIR NAS RELAÇÕES NO COTIDIANO DA VIDA SOCIAL As relações sociais e o serviço social estão intrinsecamente ligadas. É através da intervenção na realidade social que o assistente social pode transformá-la. PAUTAR-SE NA AÇÃO DE CUNHO SOCIOEDUCATIVO E DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS O assistente social possui a apreensão de uma prática pedagógica em suas ações, pois orienta e direciona os usuários na estratégia de transformar a realidade social. VOCÊ SABE RESPONDER? Qual seria o objeto de trabalho do assistente social? O profissional pode atuar em diversos espaços, mas qual seria seu principal objeto de trabalho? 1 4 Para propiciar essa reflexão, vamos adentrar à temática da questão social QUESTÃO SOCIAL “ A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no coti- diano da vida social, da contradição entre o proletariado e a bur- guesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão (IAMAMOTO; CARVALHO, 1983, p. 77). A questão social é um conjunto de problemáticas vivenciadas pela classe tra- balhadora, pouco assistida pelas políticas públicas e menos favorecida, seja em âmbito político, social ou econômico. A questão social é também o objeto da prática profissional do assistente social. Na trajetória histórica, a questão social se delineia tomando outras faces, denominadas expressões da questão social. Podemos considerar expressões da questão social as necessidades coti- dianas apresentadas na sociedade. Como exemplo, citamos: DESEMPREGO Trata-se de uma relevante expressão da questão social, que altera a dinâmica de organização em sociedade e pode colocar os indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica. DIFICULDADE DE ACESSO Configura-se na dificuldade da população em acessar direitos básicos e políticas pú- blicas, como saúde, educação, habitação, entre outras. DESIGUALDADES SOCIAIS A falta de equidade e igualdade produzidas – principalmente na sociedade capitalista – provocam o aumento das desigualdades, que refletem na organização social e familiar, bem como nas oportunidades que cada um possui. UNIASSELVI 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 A questão social também é compreendida e pensada enquanto uma categoria que expressa as divergências do modo capitalista de produção, ou seja, os tra- balhadores constroem a riqueza com sua mão de obra e os capitalistas tomam posse dessa riqueza, apoderando-se do capital. Em outras palavras, a apropriação da riqueza que se constrói é cada vez mais restrita aos trabalhadores que produzem, e o capital se acumula nas mãos de quem detém os meios de produção. É um modo de produção que aumenta a desigualdade. OUTRAS EXPRESSÕES Cotidianamente, outras expressões podem ser observadas, desde as formas de violência a públicos específicos, como crianças, pessoas com deficiência, pessoas idosas e mulheres, até a falta saneamento básico ou recursos que promovam saúde, segurança, educação etc. Capitalismo: uma história de amor Neste documentário, Michael Moore apresenta uma análise de como o capitalismo corrompeu os ideais de liberdade previs- tos na Constituição dos Estados Unidos, visando gerar lucros cada vez maiores para um grupo seleto da sociedade, enquan- to a maioria das pessoas, cada vez mais, perde direitos. O filme permite uma compreensão do modo de produção ca- pitalista, retratando o colapso causado pelo sistema nos Esta- dos Unidos, bem como aborda, de maneira lúdica e crítica, o que se trata esse modo de produção cruel e perverso. INDICAÇÃO DE FILME 1 1 Mesmo com os avanços que a profissão adquiriu ao longo de seu processo histórico, os desafios de superação dos resquícios ligados à caridade ainda estão presentes no cotidiano profissional e na forma como a sociedade enxerga o assistente social. O senso comum é fio condutor para reflexões que levam a se pensar que o pro- fissional é um “faz-tudo”, ou que desenvolve apenas ações voltadas ao bem comum. Contudo, para esclarecer esses pontos, é importante de antemão compreender alguns conceitos e saber diferenciá-los, uma vez que, durante a prática profissio- nal, é papel do assistente social se apropriar de seu trabalho,p. 135). 1 1 1 Destarte, prática e teoria não podem ser separadas, pois pode-se incorrer no vício idealista (priorizando a teoria e dissociando-a da prática) ou no do praticismo (acen- tuando ou separando a prática em detrimento da teoria), o que levaria a um vício ainda maior: o do senso comum, que tende a menosprezar a teoria e a simplificar a realidade, ou seja, ele, assim como os aspectos ideológicos, interfere no ato teórico. Leia o artigo “A dimensão técnico-operativa do serviço social em foco: sistema- tização de um processo investigativo”, de Regina Célia Tamaso Mioto e Telma Cristiane Sasso de Lima, é imprescindível para compreender as dimensões que englobam o exercício profissional, pois explica a importância de teoria e práxis ca- minharem conjuntamente, uma vez que a dimensão técnico-operativa se articula às dimensões teórico-metodológica e ético-política. Vale a leitura como forma de aprofundar o conteúdo que estamos estudando neste tema de aprendizagem. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/ view/5673. EU INDICO O que é realmente a prática? Segundo Ferreira (2008, p. 647), entende-se por prática: 1. Ato ou efeito de praticar. 2. Uso, exercício. 3. Rotina, hábito. 4. Saber provindo da experiência. 5. Aplicação da teoria. 6. Discurso rápido; conferência. [...]. De acordo com Kant (2008), denomina-se prática não toda a operação, mas apenas a efetivação de um fim, conseguida como adesão a certos princípios de conduta representados na sua generalidade. Nesse sentido, podemos dizer que a prática profissional do assistente social se processa no decorrer do seu exercício profissional, ou seja, na aplicação direta do seu instrumental teórico-metodoló- gico, ético-político e técnico-operativo. Podemos dizer, assim, que a teoria versus UNIASSELVI 1 1 1 https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/5673 https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/5673 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 prática nada mais é do que a construção de estratégias técnico-operativas para o exercício da profissão, ou seja, preencher o campo das mediações entre a base teórica já acumulada e a operatividade do trabalho profissional do assistente social (IAMAMOTO, 2008). Na Prática, a Teoria é Outra? De autoria de Cláudia Mônica dos Santos, Na Prática, a Teoria é Outra? nos convida a compreender que no âmbito da práti- ca profissional do assistente social, teoria e prática não se dis- sociam. Segundo a obra, também é importante perceber que caso haja essa dissociação, é hora de recapitular e reorganizar o trabalho de forma que o agir esteja vinculado ao conheci- mento teórico, sendo possível que a prática seja capaz de ma- terializar a teoria. INDICAÇÃO DE LIVRO MÉTODO E METODOLOGIA Segundo o Minidicionário Aurélio (2008, p. 552), método e metodologia podem ser assim definidos: Método: 1. Caminho pelo qual se atinge um objetivo. [...] 3. Processo ou técnica de ensino; modo de ensinar. 4. Modo de proceder; maneira de agir; meio. [...] 6. Tratado elementar. 7. Prudência, circunspecção; modo judicioso de proceder; ordem. 1 1 4 Metodologia: 1. A arte de dirigir o espírito na investigação da verdade. [...] 4. Estudo dos métodos e, especialmente, dos métodos das ciências. [...] Podemos, assim, dizer que a metodologia pode ser entendida como o estudo do método a ser aplicado em uma determinada realidade social, ou seja, a metodo- logia nada mais é do que as etapas e estratégias para a realização de um procedi- mento, seja ele acadêmico ou profissional. A diferença entre método e metodologia está na especificidade das técnicas, sendo que a metodologia é a forma de se realizar, de aplicar o método, que, por sua vez, é o tipo de procedimento adotado em um processo de pesquisa, trabalho ou outros. ZOOM NO CONHECIMENTO Qual a importância da metodologia? De acordo com Becker, Kestring e Silva (1999), a metodologia é o estudo de métodos de como fazer e relatar os feitos em ciência. A explicação de sua importância já vem embutida na explicação do que ela é. No caso da metodologia do trabalho científico, ao fazer uma pesquisa, seja um artigo para um jornal, um paper para um periódico, uma monografia para um curso ou uma disser- tação de mestrado, e se pretenda realizar uma comunicação científica, assim como no caso da metodologia de interven- ção profissional, o que menos se espera é que o conteúdo tenha vindo de uma inspiração poética ou de digressões e opiniões sobre o que foi pesquisado e/ou experimentado. O que se espera numa metodologia, seja ela de trabalho científico ou de intervenção profissional, é que ela apresente: UNIASSELVI 1 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 ■ planejamento anterior; ■ começo; ■ meio; ■ fim. Em outras palavras, espera-se que ela exponha métodos de construção, os quais sejam coerentes, conhecidos e explicitados. Vejamos o que significa cada um deles: 1. PLANEJAMENTO ANTERIOR Espera-se desse tipo de trabalho que, antes de ele ser escrito, ou colocado em prática, tenha sido planejado, tanto o modo como será escrito, quanto o que ele irá dizer, ou seja, tanto sua forma quanto seu conteúdo. Pode ser que tanto um quanto outro mudem ao longo do caminho, mas supõe-se que ninguém parta do zero num caso como esse. Pressupõe-se que: a) um assunto ou um problema social tenha sido escolhido, assim como seu enfoque e a profundidade com a qual será abordado; b) pesquisas sobre a realidade social ou para um levantamento bibliográfico tenham sido feitas. 2 COMEÇO Espera-se que, de posse do material pesquisado, uma introdução possa ser escrita, com suas subpartes: a) Apresentação do tema e justificativa de sua escolha – aqui, o tema ou a realidade social é apresentada, de maneira clara, por meio de sua história, que con- temple o recorte dado ao tema pelo autor; b) Questões específicas – aqui, você deve perguntar o que sua pesquisa responderá. São perguntas que deverão cercar sua prin- cipal questão; c) Abordagem geral do problema – as questões específicas nos levam a pensar num panorama geral da realidade social do trabalho científico. Na realidade, embora nunca devamos perder a abordagem geral de vista, o trabalho se desenvolve através do estudo e análise das questões específicas; d) Hipóteses ou pressupostos – a espinha dorsal de seu trabalho, o que seu trabalho quer aclarar ou até que ponto você poderá mediar a transformação daquela determinada realidade social; e) Variáveis e/ ou fatores qualitativos de análise (trabalho experimental); f) Objetivos da pesquisa; g) Definição de termos; h) Metodologia da pesquisa ou do estudo – tipo de pesquisa; área de abrangência; população e amostra; passos da pesquisa; instrumentos da coleta de dados; tratamento de dados (trabalho experimental); pesquisa teórica. 1 1 1 Podemos compreender que a metodologia, com seus métodos de intervenção e proceder, possibilitará ao assistente social um norte profissional para sua atuação junto à população usuária das políticas públicas e sociais. Ademais, cada metodologia deve levar em consideração a questão social a ser trabalhada e sua realidade cotidiana. Assim como, cada instituição, seja pública ou privada, deve desenvolver metodologias específicas, conforme sua cultura organizacional. 3. MEIO Trata-se do desenvolvimento, que deve conter uma revisão de literatura ou plano teórico; bem como a apresentação e análise de dados. 4. FIM É o espaço para a apresentação das conclusões e sugestões. Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO NOVOS DESAFIOS Chegamos ao final deste tema de aprendizagem, em que pudemos aprender so- bre teoria versus prática. Compreendemos, aqui, no entanto, que, no âmbito do trabalho profissional do assistente social, tais conceitos não devem se contrapor, mas sim vincularem-se e assumiremuma postura indissociável. UNIASSELVI 1 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 6 Por conseguinte, teoria e prática devem caminhar juntas. O profissional deve aguçar sua percepção do contexto e observar que, se estiver distante – na prática profissional – daquilo que aprendeu na teoria, terá dificuldades em sua atuação prática, embasada nos princípios do serviço social, que tenha de fato efetivo com- promisso com a população. Além disso, é importante saber que é por meio da apreensão teórica e me- todológica que se executa um trabalho profissional com qualidade, e que possa também ser indissociável das demais dimensões que compõem o fazer do assis- tente social, quais sejam: teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política. Dessa forma, pudemos compreender que o fazer profissional é permeado por muitos desafios macroestruturais, assim como, certamente, aprendemos que uma prática unida à teoria possibilita a superação desses desafios por meio de funda- mentos e respaldo legal da atuação do assistente social no cotidiano de trabalho. Espero que tenha gostado do conteúdo! 1 1 8 1. Os projetos profissionais são construídos por um sujeito coletivo – a categoria profissional – e contêm uma dimensão, que se expressa tanto em sentido amplo (quando esses projetos se relacionam com os projetos societários) quanto em sentido restrito (quando se refere às perspectivas particulares da profissão), constituindo-se, ainda, em estruturas dinâmicas, pois respondem “às mudanças no sistema de necessidades sociais sobre o qual a profissão opera. [...] Frente a isso, os projetos profissionais igualmente se renovam, se modificam” (NETTO, 2005, p. 275). NETTO, J. P. La construcción del proyecto ético-político del servicio social frente a la crisis contemporá- nea. In: BORGIANNI, E.; GUERRA, Y.; MONTAÑO, C. (org.). Servicio social critico: hacia la construcción del nuovo proyeto ético-político profesional. São Paulo: Cortez, 2005. p. 250-271. Assinale a alternativa correta que corresponda à dimensão que se reporta ao excerto: a) Dimensão ética. b) Dimensão teórico-metodológica. c) Dimensão técnica-operativa. d) Dimensão pedagógica. e) Dimensão política. 2. Conforme Santos (2013, p. 4): “A profissão, de acordo com o projeto ético-político hege- mônico, assume o compromisso com a defesa intransigente dos direitos humanos, com a ampliação da cidadania, com a qualidade dos serviços prestados, com a luta em favor da equidade e da justiça social. Compromissos esses que devem ser perseguidos nas ativi- dades desenvolvidas pelos assistentes sociais. Para isso, os profissionais devem privilegiar a utilização de instrumentos de caráter democrático, coletivo, menos burocrático, sempre alinhados com a realidade em que intervêm”. SANTOS, C. M. dos. A dimensão técnico-operativa e os instrumentos e técnicas no serviço social. Revista Conexão Geraes, Belo Horizonte, v. 1, n. 3, p. 25-30, 2013. Com base no enunciado, assinale a alternativa correta no que corresponde ao que são os compromissos citados: a) Fundamentos históricos do serviço social. b) Lei de Regulamentação da Profissão. c) Diretrizes da LOAS. d) Diretrizes Curriculares da ABEPSS. e) Princípios fundamentais. AUTOATIVIDADE 1 1 9 3. Conforme Assis e Rosado (2012, p. 204): “Pensar a articulação entre teoria e prática no Ser- viço Social permite-nos elucidar que a concepção teórico-metodológica exerce influência tanto na definição da finalidade a ser alcançada quanto nos meios a serem utilizados para atingir determinados fins”. ASSIS, R. L. M. de; ROSADO, I. V. M. A unidade teoria-prática e o papel da supervisão de estágio nessa construção. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 203-211, 2012. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - A vinculação orgânica entre as três dimensões indica que o momento da prática não ocorre desvinculado dos aspectos teórico-metodológicos e ético-políticos. PORQUE II - Os recursos técnico-operativos adotados na intervenção profissional não estão disso- ciados das demais dimensões. Assinale a alternativa correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. AUTOATIVIDADE 1 1 1 REFERÊNCIAS ASSIS, R. L. M. de; ROSADO, I. V. M. A unidade teoria-prática e o papel da supervisão de estágio nessa construção. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 15, n. 2, p. 203-211, 2012. BARROS, E. do R. Teoria versus prática. Blog Eric do Rêgo Barros, [s. l.], 1 jun. 2009. Disponível em: http://ericdoregobarros.blogspot.com/2009/06/teoria-versus-pratica.html. Acesso em: 7 mar. 2024. BECKER, L. da S.; KESTRING, S.; SILVA, M. D. da. Elaboração e apresentação de trabalhos de pesquisa. Blumenau: Acadêmica, 1999. FERREIRA, A. B. de H. Minidicionário Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 7. ed. revis. con- forme acordo ortográfico. Curitiba: Positivo, 2008. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2008. KANT, I. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa: Edições 70, 2008. NETTO, J. P. La construcción del proyecto ético-político del servicio social frente a la crisis con- temporánea. In: BORGIANNI, E.; GUERRA, Y.; MONTAÑO, C. (org.). Servicio social critico: hacia la construcción del nuovo proyeto ético-político profesional. São Paulo: Cortez, 2005. p. 250-271. (Colección Biblioteca Latinoamericana de Servicio Social). PEREIRA, V. V. Mediações... para quê? (Re)Pensando o Serviço Social, [s. l.], 22 jun. 2009. Dispo- nível em: http://repensandooservicosocial.blogspot.com/. Acesso em: 7 mar. 2024. PINTO, L. M. S. de M. Na prática a teoria é outra: será mesmo? Motrivivência, Florianópolis, n. 8, p. 134-138, 1995. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/ view/22604. Acesso em: 7 mar. 2024. SANTOS, C. M. dos. A dimensão técnico-operativa e os instrumentos e técnicas no serviço social. Revista Conexão Geraes, Belo Horizonte, v. 1, n. 3, p. 25-30, 2013. 1 1 1 1. Opção E. No fragmento, o correto é a dimensão política, a qual, por sua vez, tem o papel de compreender as questões em forma macro para melhor apreender o contexto em que se inserem os indivíduos que estão submersos nas expressões da Questão Social. A alternativa A está incorreta, pois a dimensão ética está vinculada aos princípios fundamentais e pre- ceitos éticos que envolvem o trabalho do assistente social. A alternativa B, pois a dimensão teórico-metodológica envolve todo arcabouço teórico e procedimental adquirido e soma- do aos estudos e experiência no cotidiano da profissão. A alternativa C, pois a dimensão técnico-operativa é diretamente ligada à prática profissional. A alternativa D está incorreta, pois a dimensão pedagógica está presente em toda orientação prestada pelo profissional, uma vez que incumbe aos usuários a reflexão, criticidade e possibilidade de transformação. 2 Opção E. Princípios fundamentais são dispostos no código de ética profissional do assistente social. Ao todo, são 11 princípios, entre os principais citados no excerto do enunciado da questão. A alternativa A, pois os fundamentos históricos do serviço social correspondem a história da profissão. A alternativa B está incorreta, pois a lei de regulamentação normaliza a profissão em todo território nacional, expressando a necessidade de curso superior e ins- crição no conselho regional. A alternativa C está incorreta, pois a LOAS é a Lei Orgânica da Assistência Social e suas diretrizes são: descentralização político-administrativo, participação da população na formulação e no controle das ações em todos os níveis, responsabilizan- do o Estado na condução da política de assistência social em cada esferado governo. A alternativa D está incorreta, pois a ABEPSS é a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, e as diretrizes curriculares são o que compõem as grades dos cursos de serviço social pelo país. 3. Opção A. As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. As dimen- sões são indissociáveis e isso justifica a vinculação orgânica entre as três dimensões, bem como indica que o momento da prática não ocorre desvinculado dos aspectos teórico-me- todológicos e ético-políticos, pois os recursos técnico-operativos adotados na intervenção profissional não estão dissociados das demais dimensões. GABARITO 1 1 1 MINHAS ANOTAÇÕES 1 1 1 UNIDADE 3 MINHAS METAS O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL Conhecer os principais instrumentos de trabalho do assistente social. Compreender a aplicabilidade dos instrumentais de trabalho do assistente social. Aprender o que é instrumentalidade. Saber as formas de aplicação dos instrumentos. Entender o emprego da instrumentalidade no cotidiano profissional. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 7 1 1 1 INICIE SUA JORNADA Você sabia que até o século XX, o serviço social trazia um discurso muito ligado a práticas caritativas e de ajuda mútua, porém, no período contemporâneo, o serviço social passa a discutir acerca da profissão e seu processo de trabalho, levando em consideração o conceito baseado no pressuposto marxista. Conforme Guerra (2000), no processo de trabalho do assistente social, há a passagem do momento de pré-ideação – projeto – para a chamada ação pro- priamente dita, que requer a instrumentalidade. Historicamente, o profissional de serviço social passou por divisões e dife- renças entre o saber e o fazer profissional, fazendo com que os assistentes sociais tivessem práticas distintas. Na formação profissional, contudo, existem várias formas de conhecimento, e, com o acúmulo de experiências adquiridas ao longo da atuação, a prática profissional vai se aperfeiçoando e ampliando os olhares das diferentes formas de atuação, conforme veremos a seguir. Neste podcast, conversamos sobre a Visita Domiciliar, bem como sobre algumas ações importantes, que devem ser levadas em conta antes do uso desse instrumen- to, como forma de garantir compromisso e qualidade ao atendimento da população usuária. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO VAMOS RECORDAR? Para ter em mente os conceitos necessários deste tema, recomendo a leitura do trabalho de Ricardo Guimarães Amorim, intitulado O Serviço Social e os Seus Instrumentos e Técnicas: uma análise da percepção da abordagem com grupo no meio profissional do assistente social. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/4906/1/2013_RicardoGui- mar%C3%A3esAmorim.pdf. UNIASSELVI 1 1 1 https://bdm.unb.br/bitstream/10483/4906/1/2013_RicardoGuimar%C3%A3esAmorim.pdf https://bdm.unb.br/bitstream/10483/4906/1/2013_RicardoGuimar%C3%A3esAmorim.pdf TEMA DE APRENDIZAGEM 7 DESENVOLVA SEU POTENCIAL A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL A aplicabilidade dos instrumentos e técnicas da prática cotidiana do assistente social responde às necessidades desse profissional, levando em consideração os diferentes contextos e realidades sociais. Segundo Sousa (2008, p. 131): “o instrumental é o resultado da capacidade cria- tiva e da compreensão da realidade social para que alguma intervenção possa ser realizada com o mínimo de eficácia, responsabilidade e competência profissional. O profissional, entretanto, durante sua atuação e na aplicabilidade dos ins- trumentos, independentemente de quais sejam, deve repensar sua prática, aper- feiçoá-la e refletir constantemente. O principal objetivo deste tópico é apresentar de forma sucinta as técnicas e os principais instrumentos da ação profissional utilizados pelo assistente social no cotidiano de sua prática. O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres Técnicos O livro traz a reflexão sobre os instrumentos de registro do as- sistente social, relacionando-os especificamente aos espaços sócio-ocupacionais da Previdência, Judiciário e Penitenciária. Contudo, é possível aproveitar a literatura para pensar sobre os demais espaços sócio-ocupacionais. INDICAÇÃO DE LIVRO A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS DE TRABALHO DIRETOS OU “FACE A FACE” Neste item, apresentaremos, em forma esquemática, como o assistente social aplica no seu dia a dia profissional o instrumental técnico-operativo, em seja, como são desenvolvidos e aplicados os instrumentos diretamente com a população usuária das políticas públicas e sociais, além dos planos, programas e projetos sociais. 1 1 8 Segundo Sousa (2008, p. 124), a instrumentalidade do serviço social deve seguir algumas orientações: “ Expressar os objetivos que se quer alcançar não significa que eles necessariamente serão alcançados. Nunca podemos perder de vista que qualquer ação humana está condicionada ao momento históri- co em que ela é desenvolvida. A realidade social é complexa, hetero- gênea e os impactos de qualquer intervenção dependem de fatores que são externos a quem quer que seja – inclusive ao serviço social. Como analisa Iamamoto (2008), reconhecer as possibilidades e limitações históri- cas, dadas pela própria realidade social, é fundamental para que o serviço social não adote, por um lado, uma postura fatalista (ou seja, acreditar que a realidade já está dada e não pode ser mudada), ou, por outro lado, uma postura messiânica (achar que o serviço social é o “messias”, e que a profissão vai transformar todas as relações sociais). É importante ter essa compreensão para localizarmos o lugar ocupado pelos instrumentos de trabalho utilizados pelo assistente social em sua prática. Se são os objetivos profissionais (construídos a partir de uma reflexão teórica, ética e política e um método de investigação), que definem os instrumentos e técnicas de intervenção (as metodologias de ação), conclui-se que essas metodologias não estão prontas e acabadas. Elas são necessárias em qualquer processo racional de intervenção, mas elas são construídas a partir das finalidades estabelecidas no planejamento da ação realizado pelo assistente social. Primeiro, ele define “para que fazer”, para depois definir “como fazer”. Mais uma vez, podemos, aqui, identificar a estreita relação entre as competências teórico-metodoló- gica, ético-política e técnico-operativa. Em outras palavras, os instrumentos e técnicas de intervenção não podem ser mais importantes que os objetivos da ação profissional. APROFUNDANDO Se partirmos do pressuposto de que cabe ao profissional apenas ter habilidade técnica de manusear um instrumento de trabalho, o assistente social perderá a dimensão do porquê ele está utilizando determinado instrumento. UNIASSELVI 1 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 Sua prática se torna mecânica, repetitiva, bu- rocrática. Mais do que meramente aplicar técnicas “prontas” – como se fossem “receitas de bolo” –, o diferencial de um profissional é saber adaptar um determinado instrumento às necessidades que precisa responder no seu cotidiano. Como a realidade é dinâmica, faz-se necessário compreender quais mudanças são essas para que o instrumental utilizado seja o mais eficaz possível, e, de fato, possa produzir as mudanças desejadas pelo assistente social – ou chegar o mais próximo possível. Ora, isso pressupõe que, mais do que copiar e seguir manuais de instruções, o que se coloca para o assistente social hoje é sua capacidade criativa, o que inclui o potencial de usar instrumentos consagrados da profissão, mas também de criar outros tantos que possam produzir mudanças na realidade social, tanto em curto quanto em médio e longo prazos. Isso é primordial para que possamos desempenhar com competência as atribuições que foram definidas para o assistente social na Lei de Regulamentação Profissional.Vejamos: se o serviço social, em sua trajetória histórica, não tivesse criado novos instrumentos e novas técnicas de intervenção, teria conseguido sair da condição de mero executor das políticas sociais e hoje desempenhar funções de elaboração, planejamento e gerência dessas medidas? Certamente não. As- sim, refletir sobre a instrumentalidade do serviço social é pensar para além da “especificidade” da profissão: é ponderar que são infinitas as possibilidades de intervenção profissional, e que isso requer, nas palavras de Iamamoto (2008), “tomar um banho de realidade”. Sobre a interação face a face, podemos expor que este instrumento: “ [...] permite que a enunciação de um discurso se expresse não só pela palavra, mas também pelo olhar, pela linguagem gestual, pela entonação, que vão contextualizar e, possivelmente, identificar sub- jetividades de uma forma mais evidenciada. Sob esse enfoque, po- de-se dizer que o discurso direto expressa uma interação dinâmica (MAGALHÃES, 2003, p. 29). A realidade é dinâmica, faz- se necessário compreender quais mudanças 1 1 1 Observação A técnica de observação faz com que o profissional analise o comportamento e os posicionamentos apresentados pelo usuário. A observação participante coloca o investigador – profissional – pertencente ao grupo, organização ou comunidade para que registre comportamentos, interações e acontecimentos. Nessa forma de estudo, o investigador passa despercebido. Nessa direção, segundo Sousa (2008, p. 126): “ [...] na medida em que o assistente social realiza intervenções, ele par- ticipa diretamente do processo de conhecimento acerca da realidade que está sendo investigada. Por isso, não se trata de uma observação fria, ou como querem alguns, “neutra”, em que o profissional pensa estar em uma posição de não envolvimento com a situação. Por isso, trata-se de uma observação participante – o profissional, além de observar, inte- rage com o outro, e participa ativa- mente do processo de observação. UNIASSELVI 1 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 Para melhor compreender a observação participante, vejamos sua aplicabilidade: O QUÊ? Aplicar o instrumento de observação. Ter clareza dos objetivos do que será analisado. Além disso, saber que observar é muito mais que somente olhar. QUEM? O profissional assistente social. ONDE? O instrumento pode ser aplicado individualmente, em grupo, organização e comunidade. QUANDO? Pode ser utilizada em conjunto com outras técnicas de aplicabilidade do serviço social. POR QUÊ? Para conhecer com profundidade as relações e comportamentos dos usuários observados. COMO? Estabelecendo uma relação social com o usuário que possui expectativa e necessida- des quanto às intervenções. O profissional é observador e, ao mesmo tempo, observado. 1 1 1 Entrevista individual e grupal A entrevista é uma forma de relação entre o assistente social e o usuário, ou seja, é o momento que o profissional tem para estabele- cer confiança com o atendido, para que este consiga realizar relatos e repassar informações importantes para o profissional, que está no papel de entrevistador. “ A entrevista nada mais é do que um diálogo, um pro- cesso de comunicação direta entre o assistente social e um usuário (entrevista individual), ou mais de um (entrevista grupal). Contudo, o que diferencia a en- trevista de um diálogo comum é o fato de existir um entrevistador e um entrevistado, isto é, o assistente social ocupa um papel diferente – e, sob determinado ponto de vista, desigual – do papel do usuário (SOU- SA, 2008, p. 126). Esse recurso busca compreender, identificar ou constatar uma deter- minada situação, em que o assistente social emite sua opinião pro- fissional e seu parecer. Assim, tal instrumento não se trata de uma conversa, mas, sim, uma ação teórico-metodológica que exige do profissional muito conhecimento. A entrevista é uma forma de relação entre o assistente social e o usuário UNIASSELVI 1 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 Dinâmica de grupo A dinâmica de grupo é uma técnica que pode ser aplicada de diversas formas, como atividade lúdica, por exemplo, por meio de jogos ou si- mulação de alguma vivência apre- sentada pelo grupo. O profissional de serviço social, nessa técnica, tem a responsabilida- de de mediar e controlar o processo, além de provocar reflexões do grupo acerca de uma determinada temática e ter clareza dos objetivos da utili- zação dessa técnica. Para Sousa (2008), a dinâmica de grupo pode ser utilizada pelo assistente social em diferentes mo- mentos: para levantar um debate sobre determinado tema com um número maior de usuários, bem como atender um número de pes- soas, que estejam vivenciando situa- ções parecidas. Recomendo a leitura do artigo “A entrevista nos processos de trabalho do assis- tente social”, como forma de aprofundamento no assunto. As autoras explicam bri- lhantemente, inclusive, evidenciando formas de realizar a entrevista. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/ download/2315/3245. EU INDICO 1 1 4 https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/download/2315/3245 https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/download/2315/3245 Reunião A reunião é um instrumento coletivo, apresentando uma característica diferen- ciada da dinâmica de grupo, e tem como objetivo principal a tomada de decisão so- bre determinado assunto ou temática que envolva todos os participantes. O espaço de tomada de decisões é es- sencialmente político, pois diferentes inte- resses estão em confronto (SOUSA, 2008). É importante que, no instrumento reunião, seja apontado um líder ou coordenador, com o intuito de atingir o objetivo propos- to. Esse coordenador, porém, tem que ter uma posição democrática, em que todos os presentes tenham um posicionamento. São espaços de discussão coletiva, em que muitas vezes uma decisão é tomada pelos atores para atingir determinado objetivo, prezando pelo coletivo demo- crático. As reuniões podem ser realizadas por um grupo de usuários, comunidade ou profissional que tem a necessidade de estabelecer alguma decisão. A aplicabilidade da dinâmica de grupo se dá por meio de grupos que apresen- tam vivências semelhantes, usando tal espaço de forma descontraída, mas com objetivo, também possibilita trabalhar algumas demandas no coletivo, pois pode provocar reflexão grupal. APROFUNDANDO O espaço de tomada de decisões é essencialmente político UNIASSELVI 1 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 Visita domiciliar A visita domiciliar é muito utilizada pelo assistente social, por compreender que ela retrata a realidade vivenciada pelo usuário, enquanto o profissional realiza o atendimento residencial. Com a aplicação desse instrumento, é entender situa- ções que dificilmente seriam identificadas no atendimento institucional, o que possibilita a realização de encaminhamentos para sanar a dificuldade observada. Podemos citar como exemplo as condições de saneamento básico, habitação, higiene e cuidados pessoais. O profissional fica capacitado para realizar um estudo social da família, especificando situações verificadas no momento da visita técnica. Nessa direção, “ [...] é de suma importância que o profissional que realiza a visita tenha competência teórica para saber identificar que as condições de moradia não estão descoladas das condições de vida de uma comunidade onde a casa se localiza, e que, por sua vez, não estão separadas do contexto social e histórico (SOUSA, 2008, p. 128). Esse instrumento pode ser usado em conjunto com outras categorias profissio- nais, como psicólogos, pedagogos ou enfermeiros. Deve ser aplicado na residência do usuário. Tem por objetivo conhecer a realidade vivenciada pelo usuário para que sejam observados fatos e situações impossíveis de serem identificadas em atendimento em outros espaços. O profissional se desloca até a residência do usuário e, posteriormente, redigeo relatório de visita técnica. 1 1 1 Visita institucional A visita institucional é muito parecida com a domiciliar. A diferença é que ela é aplicada em organizações, entidades, fundações e empresas privadas e públicas. Segundo Sousa (2008), são três as motivações que levam o assistente social a utilizar tal instrumento como atuação prática: ■ Quando o assistente social está trabalhando em uma determinada si- tuação singular e resolve visitar uma instituição com a qual o usuário mantém alguma espécie de vínculo. ■ Quando o assistente social quer conhecer um determinado trabalho de- senvolvido por uma instituição. ■ Quando o assistente social precisa realizar uma avaliação da cobertura e da qualidade dos serviços prestados por uma instituição. O profissional, quando realiza essa técnica, tem como objetivo principal conhecer e avaliar a qualidade e existência de políticas sociais, públicas ou privadas. Tal instrumento pode ser aplicado em conjunto com outros, por exemplo, reuniões, entrevistas e observações. Técnica de encaminhamento Esse instrumento exige que o profissional de serviço social tenha conhecimento das políticas públicas existentes no município de atuação, bem como a rede de serviços disponíveis para poder realizar tal ação. A técnica de encaminhamento é considerada uma ponte de ligação de todas as ações realizadas pelo profissional. Tal método não se caracteriza como uma ação principal; é sempre realizado em conjunto com outros instrumentos de competência do assistente social. Em todos os campos de atuação profissional, o profissional verifica a neces- sidade de acesso a políticas sociais para garantir acesso a bens e serviços da rede pública por meio de orientação e encaminhamento para as políticas públicas como forma de complemento de outras ações do problema identificado. UNIASSELVI 1 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 Perícia social A perícia é um instrumento utilizado por outros profissionais, como o contador, que realiza a perícia contábil. Já a perícia social é uma análise completa e detalha- da de determinada intervenção realizada pelo profissional de serviço social, que tem o intuito de realizar um parecer da problemática que está acompanhando. A perícia social tem como principal finalidade propor soluções das interven- ções e situações apresentadas ao profissional. Esse instrumento é muito utilizado no Judiciário, em que a Justiça fará a intervenção em caso de violação de direitos, identificada pelo assistente social. A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS DE TRABALHO INDIRETOS OU “POR ESCRITO” Tais instrumentos têm uma definição de comunicação ativa, ou seja, podemos considerá-los como formas de registro ou documentos por escrito do trabalho realizado pelo assistente social. Essas técnicas aplicadas pelo profissional permi- tem que outros técnicos ou agentes tenham acesso à intervenção realizada pelo assistente social. Para Sousa (2008, p. 129): “ [...] a utilização dos instrumentos de trabalho por escrito também possui uma fundamental importância: é aqui que se torna possível ao assistente social sistematizar a prática. Todo o processo de regis- tro e avaliação de qualquer ação é um conhecimento prático que se produz, e que não se perde, garantindo visibilidade e importância à atividade desenvolvida. Neste item, abordaremos, em forma esquemática, como o assistente social aplica no seu dia a dia profissional o instrumental técnico-operativo, isto é, como são desenvolvidos e aplicados os instrumentos indiretos do seu agir profissional, sendo os principais: 1 1 8 ATAS DE REUNIÃO Atas nada mais são do que registros de tudo o que foi deliberado, comentado ou apre- sentado em uma reunião. Tais documentos por escrito são de extrema importância para deixar arquivo às tomadas de decisões e até mesmo para servir como comprovação de que a reunião ocorreu. O profissional de serviço social deve utilizar esse instrumento, pois ele dará subsídios para discussões ou definições para aplicabilidade de interven- ções identificadas e relatadas nas reuniões. O assistente social deve ter como prática o registro ou atas dos atendimentos realizados, sejam eles individuais ou coletivos. DIÁRIO DE CAMPO Esse instrumental é conhecido como uma ação pedagógica, em que é possível fazer uma avaliação do acadêmico, em que pode ser verificada a forma de descrever, rela- tar, refletir, sugerir e fundamentar as ações descritas, além de poder relacionar a teoria com a prática. É considerado fonte de informação e registro, que pode contribuir para a construção de projetos de pesquisas, artigos, relatórios e até mesmo do trabalho de graduação (TG), apresentado no término do curso. O diário de campo são anotações realizadas pelo profissional de acordo com ações realizadas na sua atuação prática; nada mais é do que um relato das atividades que o profissional ou acadêmico desen- volveu, porém com fundamentação teórica e análise crítica. RELATÓRIO SOCIAL Esse instrumental é utilizado pelo profissional para registrar informações, sejam elas para o próprio assistente social ou para outros profissionais, como é o caso de instituições que desenvolvem trabalho com equipes multiprofissionais, em que todos terão acesso às informações ou histórico da intervenção realizada com determinada família ou usuário. PARECER SOCIAL O parecer social retrata não somente a descrição, como é o caso dos relatórios, mas, sim, uma profunda análise da situação apresentada para o profissional. Nesse instrumento, deve constar a opinião técnica ou diagnóstico do assistente social, considerando a avaliação de outros instrumentos já aplicados, como observação, visita domiciliar e/ou atendimentos sociais realizados para conhecer a situação apresentada pelo usuário. Sen- do assim, trata-se da conclusão de um trabalho realizado pelo assistente social, que pode compor um conjunto com outros instrumentos usados durante o processo de intervenção de determinada situação. UNIASSELVI 1 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 7 NOVOS DESAFIOS Chegamos ao fim de mais um tema de aprendizagem! Quando iniciamos este conteúdo, falamos sobre a aplicabilidade das técnicas e instrumentos de inter- venção mais utilizados no contexto do trabalho profissional. Conhecer tais recursos nos permite uma melhor apropriação da prática pro- fissional, o que contribuirá para sua futura atuação como assistente social. É importante evidenciar a diferença, que se deve ter conhecimento, de que: quando falamos de instrumentos, nos referimos às ferramentas que usamos no cotidiano profissional para intervir, seja entrevista, visita domiciliar, visita institu- cional, atendimento individual ou em grupo; e quando falamos de instrumentali- dade, nos referimos à nossa capacidade de pensar estratégias e criar instrumentos que dialoguem com a realidade para trabalhar nela. O maior desafio, já dito várias vezes por Iamamoto (2008), é a nossa capaci- dade criativa. O assistente social não deve ser somente um executor e preenche- dor de papéis, ele deve prezar por ser um profissional criativo, principalmente, quando pensamos na realidade dinâmica como ela é e exige de nós proposições que se aproximem dos cotidianos em que atuamos. Espero que tenha gostado do conteúdo. Bons estudos! Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO 1 1 1 1. O CFESS (2012) salienta que ação profissional deve ser conduzida vinculando as dimensões que compõe a profissão, tanto em espaço público quanto privado. CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Subsídios para a atuação de assistentes sociais na política de educação. Brasília, DF: CFESS, 2012. v. 3. (Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais). Assinale a alternativa correta que corresponda às dimensões da profissão que não podem ser desvinculadas no exercício profissional: a) Dimensão social e macrossocietária.b) Dimensão teórico-política e ética-metodológica. c) Dimensão de mediação de conflitos e direcionamento social. d) Dimensão pedagógica e orientações. e) Dimensão teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política. 2. Segundo Guerra (2000, p. 2): “Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que demandam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os instru- mentos existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos para o alcance dos objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas ações, na medida em que os profissionais utilizam, criam, adéquam às condições existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das intencionalidades [...]”. GUERRA, Y. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. Brasília, DF: UnB – Universidade de Brasília, 2000. (Cadernos do Programa de Capacitação Continuada para Assistentes Sociais, Módulo 4). Com base no enunciado, assinale a alternativa correta no que se refere ao que a questão da objetivação das intencionalidades pode conduzir: a) Ações de instrumentais para o trabalho. b) Ações de mediação de conflitos. c) Ações sociais de caridade e benevolência. d) As ações de cerceamento dos direitos sociais. e) As ações de instrumentalidade. AUTOATIVIDADE 1 1 1 3. Amorim (2013, p. 24) nos traz que “uma discussão acerca dos instrumentos e das técnicas do serviço social abrange também a compreensão da categoria instrumentalidade”. AMORIM, R. G. O serviço social e os seus instrumentos e técnicas: uma análise da percepção da abor- dagem com grupo no meio profissional do assistente social. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília, Brasília, 2013. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - A instrumentalidade no serviço social é elemento constitutivo para as transformações alcançadas durante a intervenção profissional. PORQUE II - A instrumentalidade também é campo de mediação da cultura profissional. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. AUTOATIVIDADE 1 1 1 REFERÊNCIAS AMORIM, R. G. O serviço social e os seus instrumentos e técnicas: uma análise da percepção da abordagem com grupo no meio profissional do assistente social. 2013. Trabalho de Conclu- são de Curso (Graduação em Serviço Social) – Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília, Brasília, 2013. CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Subsídios para a atuação de assistentes sociais na política de educação. Brasília, DF: CFESS, 2012. v. 3. (Série Trabalho e Projeto Profis- sional nas Políticas Sociais). GUERRA, Y. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. Brasília, DF: UnB – Univer- sidade de Brasília, 2000. (Cadernos do Programa de Capacitação Continuada para Assistentes Sociais, Módulo 4). IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2008. MAGALHÃES, S. M. Avaliação e linguagem: relatórios, laudos e pareceres. São Paulo: Veras; Lisboa: CPIHTS, 2003. SOUSA, C. T. de. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional. Emancipação, Ponta Grossa, v. 8, n. 1, p. 119-132, 2008. 1 1 1 1. Opção E. Conforme as Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, a intervenção do assistente social deve ser composta de três dimensões: teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa. A alternativa A está incorreta, pois a sociedade e seus desafios, em âmbito macro, são parte do trabalho profissional, mas não são consideradas dimensões. A alternativa B está incorreta, pois, na questão, há uma inversão da junção das dimensões, sem concordar com as três dimensões que compõem o fazer profissional. A alternativa C está incorreta, pois a mediação é uma categoria utilizada pelo serviço social nas práticas de intervenção, não se trata, portanto, de dimensão, e por sua vez, o direcionamento ocorre durante os atendimentos e o auxílio ao usuário para refletir sobre o contexto social. A alternativa D está incorreta, pois apesar de estar presente no trabalho do assistente social, a dimensão pedagógica ou a pedagogia do serviço social consiste nas orientações de cunho socioeducativo que convidam os usuários a vislumbrarem as situações de forma a buscarem mudanças. 2 Opção E. Ações de instrumentalidade. Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adé- quam às condições existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. A alternativa A está incorreta, pois instrumentais são os instrumentos do cotidiano profissional, como entrevista, visita etc. A alternativa B está incorreta, pois a mediação de conflitos é uma categoria que pode contribuir na intervenção profissional. A alternativa C está incorreta, pois as ações sociais de caridade foram desenvolvidas no período da década de 1930, quando o serviço social era executado pela Igreja Católica. A alternativa D está incorreta, pois as ações de cerceamento de direitos nunca devem ser a prática de assistentes sociais, uma vez que esse profissional deve viabilizar a ampliação do acesso aos direitos, nunca negá-lo ou dificultá-lo. 3. Opção B. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. A instrumentalidade no serviço social é elemento constitutivo para as transformações alcan- çadas durante a intervenção profissional. Contudo, a instrumentalidade também é campo de mediação da cultura profissional. GABARITO 1 1 4 MINHAS ANOTAÇÕES 1 1 5 MINHAS METAS O ESTUDO SOCIOECONÔMICO Compreender o estudo socioeconômico como um instrumento de pesquisa e trabalho. Entender o estudo socioeconômico como parte constituinte da prática interventiva do assistente social. Conhecer os passos para realização do estudo socioeconômico. Perceber que a pesquisa socioeconômica tem como objetivo conhecer a realidade social e econômica do entrevistado. Apreender que o estudo socioeconômico possibilita a compreensão das dificuldades e necessidades do indivíduo e sua família. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 8 1 1 1 INICIE SUA JORNADA Neste tema de aprendizagem, iremos nos aprofundar no estudo socioeconômico sob a perspectiva do serviço social. É importante perceber que sempre nos vincula- mos ao contexto social e histórico para compreender as transformações na profissão. No início dessa atividade, tais estudos buscavam elencar quem eram os in- divíduos que teriam acesso a certos benefícios e os que não correspondiam aos requisitos. Com a evolução teórica e metodológica, nota-se que essa apropriação se amplia no sentido de perceber a realidade como locus do trabalho profissional e de aprofundar os conhecimentos nela, uma vez que, o estudo socioeconômico, ou estudo social, pode contribuir para o acesso e até mesmo a proposição de novas políticas públicas e de direitos. O estudo social não se trata apenas de um instrumento ou atribuição do assistente social para verificação de renda. Para além dessa questão, essa análise contribui para a apreensão do contexto social, histórico, real, em diálogo com as questões micro e macrossocietárias. Está preparado para saber mais sobre? Bons estudos e boa leitura! Preparamos um podcast sobre como o estudo social pode servir como ferramenta de trabalho para a atuação profissional e para viabilizar direitos sociais. Não deixe de ouvir! Recursos de mídia disponíveis no conteúdodigital do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO VAMOS RECORDAR? Diálogos: vulnerabilidade social é o vídeo em que a professora Inez Montagner, da Faculdade de Saúde Coletiva da UnB (Universidade de Brasília), conversa sobre o conceito de “vulnerabilidade social”. A entrevista auxilia na compreensão estrutu- ral, de forma macro, das situações em que vivenciamos no cotidiano profissional, principalmente quando o assistente social for solicitado a fazer o estudo social de determinada situação. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zybhJABxqCk. UNIASSELVI 1 1 1 https://www.youtube.com/watch?v=zybhJABxqCk TEMA DE APRENDIZAGEM 8 DESENVOLVA SEU POTENCIAL Quando nos reportamos à história do serviço social, visualizamos que, no pe- ríodo de consolidação da profissão, os estudos socioeconômicos se constituíram em grande parte no desenvolvimento técnico. Também é notório que houve in- fluência do serviço social americano, que tinha o objetivo de estudo de caso. “Esse ‘método’ previa que, quando um ‘cliente’ pedia auxílio, era necessária a realização do estudo social de caso, numa primeira etapa, posteriormente, o diagnóstico, e por último, o tratamento (MIOTO, 2009, p. 3). Ampliando e aprimorando as técnicas e instrumentos de intervenção na rea- lidade, os assistentes sociais com objetivo de compreender a realidade e os modos de vida se utilizam de entrevista, observação, visita domiciliar, vários instrumen- tos que irão compor um estudo social. Quando o serviço social adentrou a lógica das bases da teoria social de Marx, a qual, por sua vez, colaborou na evolução teórica e metodológica da profissão, os estudos sociais ganharam nova configu- ração, que, segundo Mioto (2009), está pautada em dois pontos fundamentais: 1 1 8 1º PONTO: INTERPRETAÇÃO DAS DEMANDAS Aquelas necessidades trazidas por sujeitos singulares não são mais compreendidas como problemas indivi- duais. Ao contrário, tais demandas são interpretadas como expressões de necessidades humanas básicas não satisfeitas, decorrentes da desigualdade social própria da organização capitalista. Assim, o assistente social tem como objeto de sua ação as expressões da questão social, e essa premissa não admite que se vincule a satisfação das necessidades sociais à competência ou incompetên- cia individual dos sujeitos (MIOTO, 2009). 1º PONTO: REDIMENSIONAMENTO DA PERSPECTIVA CRÍTICO-DIALÉTICA Exige da ação profissional no que diz respeito ao seu al- cance e direcionalidade. Ao postular que as soluções dos problemas dos sujeitos singulares só se efetivam, de fato, com a transformação das bases de produção e reprodução das relações sociais – superação do modo de produção ca- pitalista –, exige-se que a ação profissional seja pensada na sua teleologia. Para além de sua eficiência operativa ou de sua instrumentalidade, incorpora a elas o compromisso ético com a transformação social (MIOTO, 2009). UNIASSELVI 1 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 Fávero (2014) se refere ao estudo socioeconômico como estudo social, por com- preender a sua análise de todos os aspectos que envolvem a realidade social. Também é importante considerar que a requisição do estudo socioeconômico está, geralmente, atrelada à concessão de benefícios e/ou inclusão de usuários aos serviços e programas ofertados pelas instituições privadas e públicas, sendo estas últimas as que mais empregam assistentes sociais. Desde a gênese do serviço social, o profissional trabalha na mediação entre a instituição e a população pleiteante dos serviços ofertados, sendo auferido ao assistente social a seleção dos elegíveis, dentro da capacidade institucional (sem- pre escassa) de atendimento, exigindo do usuário o cumprimento de critérios e condicionalidades, submetendo-o a um cenário de seletividade (PITARELLO, 2013 apud GOIN; MIRANDA, 2022; FÁVERO; FRANCO; OLIVEIRA, 2020). VOCÊ SABE RESPONDER? O estudo socioeconômico é um instrumento ou competência do assistente social? Goin e Miranda (2022) trazem que, conforme as legislações que respaldam a profissão, tomando por base, a Lei de Regulamentação da Profissão de Assis- tente Social, o estudo socioeconômico é atribuição privativa do assistente social e não um instrumento profissional. A lei é clara quanto a essa prática em seu artigo 4º, inciso XI: “realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades” (BRASIL, 1993). O estudo socioeconômico tem como objetivo apresentar as características sociais e econômicas de uma determinada população que será analisada. Esse método de pesquisa é geralmente realizado por meio de entrevistas estruturadas, nas quais o formulário aplicado aponta variáveis conjunturais, que contribuem para a identificação da realidade em estudo. A pesquisa pode ser quantitativa ou qualitativa, sendo a qualitativa a mais utilizada pelo serviço social. 1 4 1 A pesquisa qualitativa tem como preocupação um nível de realidade que não pode ser quantificado – a compreensão e a explicação da dinâmica das relações sociais, as quais, por sua vez, são depositárias de crenças, valores, atitudes e há- bitos, correspondendo a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos. Enfatiza-se a vivência, a experiência, a cotidianidade, bem como a compreensão das estruturas e instituições como resultados da ação humana objetivada, o que faz das práticas sociais, da linguagem e outros aspectos da vida social, aspectos inseparáveis um do outro (CASSAB, 2007). A pesquisa pode ser aplicada com todos os envolvidos, atingindo 100% da amostra, ou realizada com uma amostragem do número de entrevistados, utili- zando o mesmo critério para toda a amostragem. Como exemplo, podemos citar as pesquisas socioeconômicas familiares, nas quais se aplica um questionário para apenas um representante da família, porém, ao coletar os dados e fazer a análise, o perfil de todos os integrantes é considerado. VOCÊ SABE RESPONDER? O que é uma pesquisa qualitativa? UNIASSELVI 1 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 O estudo socioeconômico é um instrumento de pesquisa também utilizado pelo assistente social na sua prática interventiva. Esse estudo tem como objeti- vo conhecer o perfil socioeconômico de famílias e/ou indivíduos, facilitando o atendimento realizado pelo profissional, bem como traçar o perfil de usuários atendidos, podendo ser comparados dados de outras pesquisas realizadas com o mesmo público, com o mesmo foco de análise. Sendo assim, tem por finalidade o conhecimento crítico de uma determinada situação, por exemplo, problemas relacionados com habitação e saneamento básico. O estudo socioeconômico segue alguns passos que podem ser comparados com as etapas de alguns tipos de pesquisas, como veremos a seguir: ESCOLHA DO PÚBLICO ENTREVISTADO Dar-se-á mediante o objetivo do estudo, podendo ser realizado por amostragem. COLETA DE DADOS Pode ser realizada mediante questionários ou entrevistas aplicadas ao público selecio- nado. Em pesquisas do serviço social, geralmente, o profissional vai a campo realizar a coleta dos dados, ou procede conforme estabelecido no objetivo do estudo. TABULAÇÃO DOS DADOS COLETADOS Após a coleta, as informações devem ser tabuladas e disponibilizadas em um banco de dados, que facilitará a visualização e armazenagem das informações. ANÁLISE Deve seguir o estabelecido nos objetivos do estudo. Para sua realização, devem ser aproveitados todos os dados coletados, bem como devem ser organizadas em gráfi- cos ou tabelas comparativas todas as informações levantadas. 1 4 1 Os dados da pesquisa socioeconômica permitem que o profissional, além de conhecer a realidade social e econômica do entrevistado, compreenda as necessidades do indivíduo e sua família, bem como as dificuldades de acesso às políticas públicas. Na análise, pode-se sugerir ampliação ou imple- mentação de novos serviçosque contribuirão para o acesso aos direitos dos usuários atendidos pelos pro- fissionais de serviço social. Caso sejam insuficientes os dados coletados e forne- cidos pelo entrevistado, o assistente social pode aplicar outros instrumentos profissionais de sua competência para atingir os objetivos propostos, como a visita domi- ciliar, com a finalidade de acompanhar a realidade do usuário na entrevista já iniciada. Contudo, apesar dos passos e da proximidade com a pesquisa, o estudo social segundo Fávero (2014, p. 7-8): “ [...] não se indica modelo para a realiza- ção do estudo social, mas, com base nos estudos e pesquisas realizadas, conside- ra-se importante apontar alguns indica- tivos que podem ser explorados, levando em conta as particularidades de cada si- tuação (ou ‘caso’) atendida pelo assistente social nos diversos espaços da prática profissional e a necessária articulação com o campo dos direitos. A autora salienta ainda que: “ [...] destacam-se como importantes na realização do estudo social e no encami- nhamento do trabalho social dele decor- rente: indicadores quantitativos e qualita- UNIASSELVI 1 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 tivos sobre famílias – incluindo processo de socialização e relações de gênero; trabalho – acesso ou não e condições pessoais e sociais para isso; políticas sociais e território – garantias legais relativas à prote- ção social, programas institucionais e sua distribuição no território, considerando particularidades sociais, econômicas e culturais dos indivíduos e grupos que nele habitam, bem como hábitos, costumes e valores relacionados à sua história social (FÁVERO, 2014, p. 7-8). Em outras palavras, a maior parte dos instrumen- tos de trabalho do assistente social não existe re- ceita de bolo. Como o chão de trabalho do pro- fissional é a realidade, é necessário se apropriar dela para criar ou adaptar o que melhor pode ser usado para o estabelecimento do vínculo e conexão para o desenvolvimento do trabalho social. Sendo assim, as estratégias de um estudo realizado em uma metrópole podem ser diferentes das que devem ser adotadas em uma cidade de pequeno porte. Talvez as formas de estudo que fazemos hoje podem não con- templar o futuro, uma vez que a realidade é dinâmica e se modifica o tempo todo. Eis aí um grande desafio. É necessário compreender que é a partir do estudo que se estabelece o dire- cionamento do trabalho social. O estudo social também abarca o desenvolvi- mento de um parecer social, ou ainda quando realizado no âmbito sociojurídico, exige um laudo social. A realidade é dinâmica e se modifica o tempo todo 1 4 4 Você sabe a diferença entre parecer social e laudo social? Segundo o Conselho Federal de Serviço Social: O parecer social diz respeito a esclarecimentos e análises, com base em conhecimentos específicos do Serviço Social, a uma questão ou a questões relacionadas a decisões a serem tomadas. Trata‐se de exposição e manifesta- ção sucinta, enfocando‐se objetivamente a questão ou situação social anali- sada e os objetivos do trabalho solicitada e apresentado; a análise da situação, referenciadas em fundamentos teóricos, éticos e técnicos, inerentes ao Servi- ço Social – portanto, com base em estudo rigoroso e fundamentado – e uma finalização, de caráter conclusivo ou indicativo” (CFESS, 2003, p. 61). Já o laudo social: [...] é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de ‘prova’, com a finalidade de dar suporte à decisão judicial, a partir de uma determinada área do conhecimento, no caso, o serviço social. Ele, na maioria das vezes, contri- bui para a formação de um juízo por parte do magistrado, isto é, para que ele tenha elementos que possibilitem o exercício da faculdade de julgar, a qual se traduz em ‘avaliar, escolher, decidir’” (CFESS, 2003, p. 45). ZOOM NO CONHECIMENTO Perícia em Serviço Social O livro Perícia em Serviço Social, das autoras Abigail Franco, Eu- nice Fávero e Rita de Cássia Oliveira, é uma obra extremamente importante para o arcabouço teórico do estudante e do profis- sional de serviço social, pois, para além do olhar ao campo so- ciojurídico, a judicialização das questões sociais e das políticas públicas, bem como os espaços de atuação dos assistentes sociais, como peritos, assistentes técnicos e trabalhadores do judiciário, propiciam a vivência cotidiana e o desenvolvimento dos estudos sociais. INDICAÇÃO DE LIVRO UNIASSELVI 1 4 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 Apesar de não existir receita e modelo fixo de estudo social, algumas informa- ções são essenciais, e a organização estrutural do estudo pode contribuir para a melhor apresentação da situação que está em análise. Para ilustrar, dividiremos em quatro partes o estudo social. Na primeira parte de um estudo social, deve constar a identificação do indiví- duo ou da família, se possível, com informações pessoais completas, como nome, data de nascimento, documentos (RG/CPF), escolaridade, naturalidade, entre ou- tras, que possibilitarão ao profissional adentrar o seu contexto social e histórico. A segunda parte do estudo deve conter a composição familiar, respeitando também a necessidade de os dados estarem completos, os quais possibilitarão ao profissional conhecer a formação da família – quando for o caso – e os integran- tes em suas singularidades. A terceira parte deve brevemente tratar a respeito do contexto vivenciado e expor a demanda, que culminou na realização do estudo. Por fim, a quarta parte deve subsidiar os encaminhamentos necessários e propostas feitas para o indivíduo ou a família. Esta última parte, comumente, pode apresentar um laudo ou parecer social sobre determinada situação, o que no âmbito sociojurídico culminaria na tomada de decisão do juízo. Chamamos de estudo socioeconômico, pois a renda é um dado importante a ser considerado, contudo, não deve ser o único quesito avaliado. Vamos pensar para além das questões de renda? PENSANDO JUNTOS 1 4 1 É importante trazer para a reflexão a necessidade desatrelar do foco a vulnerabili- dade somente pela renda, a fragilidade social se estende às diversas expressões da questão social. Sabe-se que a ausência de renda pode ser a geradora de conflitos e, até mais grave, de casos de violência acentuada em detrimento da falta de acesso às necessidades básicas, contudo, o olhar do profissional deve estar ampliado além das questões de renda, mas também para as questões de apoio, auxílio, vínculo, acesso, entre outras, que compõem o contexto social do indivíduo ou família. Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO NOVOS DESAFIOS Agora que você sabe o que são estudos sociais e qual sua relação com o trabalho do assistente social, é importante compreender que alguns desafios estarão pre- sentes no seu cotidiano profissional. Primeiramente, é interessante pensarmos que muitos profissionais de diversas políticas públicas visualizam o trabalho do assistente social, como uma espécie de seletividade. Mas em que sentido? Como se o nosso atendimento, acompanhamento ou mesmo nossa relação com os usuá- rios – para conhecer sua realidade – fosse determinada pela seleção de quem pode ou não pode acessar um serviço, pela questão única da renda. Nesse aspecto, entretanto, é preciso reafirmar nosso compromisso, enquan- to profissionais, de exercer um serviço social comprometido com a população usuária. Esse empenho deve se dar principalmente na defesa do que realmente fazemos em nosso cotidiano de trabalho, uma vez que precisamos defender que nossa prática profissional não se vincula a nenhum tipo de negação de direitos, mas ao acesso e ampliação dos direitos pela classe trabalhadora. Nesse percurso, enfrentaremos muitos embates, principalmente com leigos, por conta de nosso trabalho. Precisamos, no entanto, nos manter firmes e resistir, bem como conti- nuar estudandopara termos propriedade na defesa de nossas ações. UNIASSELVI 1 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 8 Você encontrará muitos desafios pelo ca- minho. Espero que todos eles – por mais difíceis que sejam – lhe façam perceber que são as adversidades que nos movem e nos ajudam a nos tornarmos profissionais íntegros, éticos e comprometidos. Bons estudos! 1 4 8 1. “A realidade apreendida por meio do estudo socioeconômico, realizado de forma profunda e especializada, e alinhado aos interesses dos/as usuários, pode balizar a percepção sobre a garantia de direitos preconizados constitucionalmente”. MIRANDA, A. M. O estudo socioeconômico nas políticas de assistência estudantil dos institutos fede- rais da região Centro-Oeste: configurações, contradições e perspectivas. 2021. Dissertação (Mestrado em Política Social) – Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2021. p. 134. Diante do exposto, assinale a alternativa que corresponde corretamente aos direitos sociais estabelecidos na Constituição Federal de 1988: a) Acesso à política de assistência social como direito universal. b) Acesso à saúde e educação como principais direitos de cidadania. c) Políticas públicas e mais acesso ao que é público e para todos. d) Cuidado em saúde na perspectiva do cuidado desde o nascimento até o envelhecimento. e) Acesso à educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. 2. Hamilton (1976) considerava que, no estudo social de caso, dois grupos de informações eram importantes, pois a assistência ao cliente tinha como premissa a busca de recursos, tanto na personalidade como no seu ambiente, para corrigir a situação. HAMILTON, G. Teoria e prática do serviço social de caso. 3. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1976. Com base no enunciado, assinale a alternativa que corresponda corretamente aos dois grupos de informações importantes no estudo social de caso: a) Aquelas que compreendam o contexto social e aquelas que selecionem os beneficiários. b) Aquelas no campo da psicologia e aquelas no campo da sociologia. c) Aquelas de assistência ao cliente e aquelas de ajuste da ordem social. d) Aquelas objetivas e subjetivas. e) Aquelas inerentes ao indivíduo (aparência física, capacidade mental, habilitações espe- cíficas) e aquelas próprias do ambiente (tipo de casa, tipo de emprego do presente e do passado, “companheiros dos quais gostava”). AUTOATIVIDADE 1 4 9 3. “As entrevistas supõem habilidade e técnica do assistente social para que viabilizem o ato de conhecer. Para tanto, podem ser utilizadas entrevistas estruturadas, não estruturadas e semiestruturadas”. MIOTO, R. C. Estudos socioeconômicos. In: CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL; ABEPSS – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília, DF: CFESS: ABEPSS, 2009. p. 14. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - As estruturas são conduzidas com formulários que visam à obtenção de determinadas informações. PORQUE II - Na maioria das vezes, são preenchidos de acordo com padrões já definidos no âmbito de programas ou de serviços. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. AUTOATIVIDADE 1 5 1 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8662.htm. Acesso em: 12 mar. 2024. CASSAB, L. A. Tessitura investigativa: a pesquisa científica no campo humano-social. Katály- sis, Florianópolis, v. 10, n. esp., p. 55–63, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rk/a/gv- qbKgscL4rvCXwHM8x5Hrj/. Acesso em: 12 mar. 2024. CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. O estudo social em perícias, laudos e pa- receres técnicos: contribuição ao debate no judiciário, na penitenciária e na previdência social. São Paulo: Cortez, 2003. FÁVERO, E. T. O estudo social: fundamentos e particularidades de sua construção na área judi- ciária. In: CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (org.). O estudo social em perí- cias, laudos e pareceres técnicos: contribuição ao debate no judiciário, no penitenciário e na previdência social. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2014. p. 9-51. FÁVERO, E. T.; FRANCO, A. P.; OLIVEIRA, R. de C. Processos de trabalho e documentos em servi- ço social: reflexões e indicativos relativos à construção, ao registro e à manifestação da opinião técnica. In: CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (org.). Atribuições privativas do/a assistente social em questão. Brasília, DF: CFESS, 2020. v. 2. p. 43-80. GOIN, M.; MIRANDA, A. de M. Atribuições privativas, estudo socioeconômico e serviço social: o trabalho profissional na assistência estudantil. Katálysis, Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 415–424, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rk/a/wGY3qxCbhNp4Gp9L47BhVnf/. Acesso em: 12 mar. 2024. HAMILTON, G. Teoria e prática do serviço social de caso. 3. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1976. MIOTO, R. C. Estudos socioeconômicos. In: CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL; ABEPSS – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL. Serviço so- cial: direitos sociais e competências profissionais. Brasília, DF: CFESS: ABEPSS, 2009. p. 481-498. MIRANDA, A. M. O estudo socioeconômico nas políticas de assistência estudantil dos institu- tos federais da região Centro-Oeste: configurações, contradições e perspectivas. 2021. Disser- tação (Mestrado em Política Social) – Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2021. 1 5 1 REFERÊNCIAS 1. Opção E. Conforme o artigo 6º da Constituição Federal de 1988, são direitos sociais: educação, saúde, trabalho, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados. A alternativa A está incorreta, pois, conforme a CF, a assistência social deve ser prestada a quem dela necessitar. A alternativa B está incorreta, pois não somente saúde e educação, mas vários outros direitos sociais estão dispostos na Constituinte. A alternativa C está incorreta, pois o serviço social defende a ampliação das políticas públicas e consequentemente do seu acesso. A alternativa D está incorreta, pois, embora a política de saúde tenha estratégias que preveem o cuidado em toda fase da vida, essa especificidade não está inclusa nos direitos sociais. 2 Opção E. A alternativa A está incorreta, pois o serviço social contemporâneo se utiliza da compreensão do contexto social não somente na seleção de benefícios, mas também na apreensão da realidade social. A alternativa B está incorreta, pois, antes de literatura própria, o serviço social se aproximou da psicologia e da sociologia, mas a alternativa não diz res- peito aos dois grupos de informações. A alternativa C está incorreta, pois as práticas sociais já foram visualizadas como ajuste da ordem, em que a não compreensão do contexto fazia com que se considerasse que indivíduo que estava desajustado. A alternativa D está incor- reta, pois, na contemporaneidade, são consideradas as questões objetivas e subjetivas que envolvem a realidade. 3. Opção A. As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. As entre- vistas estruturadas são conduzidas com formulários que visam à obtenção de determinadas informações, pois, na maioria das vezes, são preenchidos de acordo com padrões já definidos no âmbito de programas ou de serviços. 1 5 1MINHAS ANOTAÇÕES 1 5 1 MINHAS METAS T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 9 CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL Conhecer as características da mediação. Perceber a mediação como uma metodologia de resolução de conflitos aplicável aos mais diferentes campos de atuação. Compreender que o ponto-chave na negociação ou mediação de conflitos está nas concessões. Entender que os assistentes sociais utilizam a mediação como estratégia de enfrenta- mento dos conflitos sociais. Aprender sobre o processo social utilizado na resolução de conflitos. 1 5 4 INICIE SUA JORNADA Neste tema de aprendizagem, conheceremos uma es- tratégia de intervenção que pode agregar ao ambiente profissional do assistente social: a mediação. A categoria mediação, empregada no cotidiano de atuação do profissional de serviço social, possibilita uma maior aproximação às famílias ou indivíduos que são atendidos, uma vez que compreende o entendimen- to dos conflitos sociais. Essa técnica também pode ser utilizada na compreen- são e análise das políticas públicas e sociais, pois garante às partes que sejam escutadas e trabalhadas dentro de sua totalidade, na perspectiva de se estabelecer um consenso ou acordo que possa romper o ciclo de conflitos sociais. A categoria mediação é compreendida, aqui, como uma ferramenta para que o assistente social possa enfrentar as situações de conflitos cotidianas, que permeiam o seu tra- balho, refletindo com olhar ampliado sobre o contexto, to- talidade, boa convivência e reforço dos vínculos, tanto com os profissionais quanto com os indivíduos envolvidos. Observamos, também, que essa forma de apropria- ção pelo assistente social da categoria mediação trans- forma-o em um facilitador da conversa, uma vez que a maior parte dos conflitos se dá pela falta do diálogo e ocorrem nas relações sociais intrincadas pela comuni- cação ou falta dela. Boa leitura e bons estudos! Não deixe de ouvir o podcast que preparamos para que você conheça didatica- mente a categoria mediação e sua empregabilidade no exercício profissional do assistente social. Bons estudos! Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digi- tal do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO UNIASSELVI 1 5 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 DESENVOLVA SEU POTENCIAL A CATEGORIA MEDIAÇÃO COMO INSTRUMENTO NA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO COTIDIANO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL A discussão da categoria mediação, de acordo com Stanck (2003, p. 25), é, sem dúvida, “uma das discussões mais complexas já trazidas para o interior do ser- viço social, e tem merecido constantes reflexões entre os principais teóricos da área, relacionada à tradição marxista e lukacsiana”. Segundo a autora, a categoria mediação é idealizada: “ [...] como categoria metodológica que, ao mesmo tempo em que possibilita a apreensão do movimento da realidade concreta, pos- sibilita transformá-la, evidenciando os processos internos, ou seja, as relações existentes na dinâmica da história, marcada pelo con- traditório (STANCK, 2003, p. 25). Para Battaglia (2001, on-line), “a mediação é uma metodologia de resolução de confli- tos aplicável aos mais diferentes campos de atuação”. Portanto, os profissionais do ser- viço social também a utilizam como estratégia de enfrentamento de conflitos sociais. VAMOS RECORDAR? Nesta palestra, promovida pela Defensoria Pública de Minas Gerais, transmitida em setembro de 2023, os profissionais realizam a discussão: Construindo pontes: o poder da conciliação, mediação e justiça restaurativa. Vamos aproveitar para recor- dar alguns conceitos e entender o funcionamento dessas diferentes estratégias de atuação, que podem ser aproveitadas para além do espaço sociojurídico no cotidiano profissional do assistente social. 1 5 1 Antes de tudo, no entanto, precisamos compreender que, segundo Stanck (2003, p. 25, grifo nosso), a mediação “passa a ter um sentido historicamente concreto a partir das concepções trazidas por Marx na teoria social”. Nessa teoria marxista, a mediação é entendida como uma categoria ontológica e reflexiva. De acordo com Pontes, (2000, p. 41), a técnica: “ [...] é ontológica, porque está presente em qualquer realidade inde- pendentemente do sujeito; é reflexiva, porque a razão, para ultra- passar o plano da imediaticidade (aparência) em busca da essência, necessita construir intelectualmente mediações para reconstruir o próprio movimento do objeto. Para Stanck (2003), a mediação só existe dentro dos complexos contraditórios da totalidade. VOCÊ SABE RESPONDER? O que é mediação? Ultrapassar o plano da imediaticidade (aparência) em busca da essência A mediação nada mais é do que uma negociação assistida, mas essa assistência tem de seguir um procedimento, uso de técnicas de resolução de conflitos que procurem alcançar um acordo embasado nos interesses reais dos indivíduos envolvidos, uma vez que eles mantêm seu poder de decisão, pois são eles – e não o mediador – que devem chegar à solução do problema (MICHELON, 2001, p. 4). UNIASSELVI 1 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 Do que se trata essa negociação assistida? Será que os assistentes sociais estão realmente preparados para realizar uma boa negociação? Ou uma boa mediação? Nesse sentido, o processo de negociação se encontra presente em prati- camente todas as relações entre pessoas e entidades ou entre pessoas e pessoas, abrangendo as mais diversas situações da vida e do cotidiano social e organiza- cional, principalmente na mediação de conflitos, tais como citamos a seguir: • entre pais e filhos; • entre esposa e marido; • entre irmãos; • entre famílias ou grupos familiares; • entre colegas, pares, amigos, companheiros; • entre patrões e empregados; • entre setores de uma sociedade; • entre quem produz e quem consome; • entre quem tem e quem não tem etc. Como o nosso foco são as mediações de conflitos, principalmente os sociais, salientamos que o sucesso de qualquer profissional, seja assistente social ou não, está totalmente dependente da sua habilidade em nego- ciar, principalmente de ne- gociar bem para o alcance dos resultados esperados. O ambiente dos conflitos so- ciais é uma grande mesa de negociação e relaciona- mento, na qual os profissio- nais do serviço social estão em constante negociação. Eles negociam com os usuá- rios de uma determinada po- lítica pública ou social, seus superiores institucionais e colegas de trabalho. 1 5 8 Precisamos estar cientes de que o êxito do assistente social em negociar está intimamente ligado aos resultados de suas vivências profissionais e pessoais, determinando se ele prosperará ou se terá frustrações nessas áreas de sua vida. É importante que estejamos preparados para negociar de forma profissional – desde questões mais simples até as mais complexas e vultosas –para, assim, podermos contribuir para o processo de mediação dos conflitos sociais. Outra coisa fundamental para o assistente social é o constante aperfeiçoamento para que ele seja um profissional cada vez mais qualificado em sua práxis profissional. Mediação e Serviço Social Reinaldo Pontes é um autor de referência, em matéria de me- diação, no âmbito profissional do serviço social. Na obra, ele traz, na perspectiva da ontologia do ser social, algumas refle- xões sobre a utilização da categoria pelos assistentes sociais. INDICAÇÃO DE LIVRO Os assistentes sociais também devem se aperfeiçoar constante em negociação e mediação, mesmo aqueles com larga experiência na práxis profissional, pois as realidades sociais e seus conflitos estão em constantes transformações. Nas pequenas ou grandes negociações, o que faz a diferença é a atitude. Você pode agir cegamente, ou se preparar, negociando de maneira metódica e plane- jada, sempre objetivando os melhores resultados para a mediação em que está trabalhando. A questão que se coloca é como podemos negociar com a máxima efetividade, de modo a trazer resultados positivos para os conflitossaber reafirmá-lo e ter coerência em suas ações, de acordo com aquilo que foi estudado. Um dos mais renomados teóricos do serviço social, José Paulo Netto, expressa e contextualiza os fundamentos históricos, teóricos e metodológicos da profissão, em uma palestra brilhantemente expositiva, que adentra os períodos históricos para desenhar o conceito do objeto de trabalho do assistente social. EU INDICO UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 AS DIVERSAS INTERPRETAÇÕES DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL Confunde-se muito os termos: serviço social, serviços sociais, assistente social, assistência social e assistencialismo, conforme veremos, a seguir, no demonstra- tivo do Quadro 1. Serviço social É uma profissão reconhecida de nível superior. Assistente social Profissional com formação em curso superior, devidamente habilitado e registrado no Conselho Regional de Serviço Social. Serviços sociais São serviços disponibilizados à população, com a finalidade de garantir os direitos mínimos de acesso à saúde, educação, habitação, saneamento básico, entre outros. Assistencialismo É a prática oposta da política de assistência social. Ações as- sistencialistas são caracterizadas como doações, caridade ou ajuda. Também configura assistencialismo a troca de favores, como a entrega de cestas básicas em campanhas eleitorais, visando ao voto. Assistência social Política pública de DIREITO de todo o cidadão e de dever do Estado. Quadro 1 – Conceitos básicos / Fonte: as autoras. É muito comum que ainda relacionem a prática do assistente social com o as- sistencialismo, contudo, a apreensão teórica contribui para esclarecermos essa questão, uma vez que o trabalho do assistente social reside no âmbito da esfera da viabilização dos direitos, e o assistencialismo, Segundo Sposati et al. (1985, p. 7): “é o acesso a um bem através de uma benesse, de uma doação, isto é, supõe sempre um doador e um receptor. Este é transformado em um dependente, um apadrinhado, um devedor [...]”. 1 8 De acordo, ainda, com o quadro apresentado acima, podemos citar como exemplo uma expressão errada – muito comum – e utilizada por leigos: o assistente social é formado em assistência social. VOCÊ SABE RESPONDER? O que é assistência social? A partir dessa pergunta, é importante que você, estudante e futuro assistente social, tome nota de alguns pontos fundamentais. Quando se formar no curso de graduação em Serviço Social, você receberá o título de Bacharel em Ser- viço Social. Para se tornar assistente social, o profissional graduado em Serviço Social deve contar com registro ativo no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) de cada estado/região, conforme a lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, que regulamenta a profissão. Art. 2º Somente poderão exercer a profissão de Assistente Social: I - os possuidores de diploma em curso de graduação em Serviço Social, oficialmente reconhecido, expedido por estabelecimento de ensino superior existente no País, devidamente registrado no órgão competente; II - os possuidores de diploma de curso superior em Serviço So- cial, em nível de graduação ou equivalente, expedido por estabele- cimento de ensino sediado em países estrangeiros, conveniado ou não com o governo brasileiro, desde que devidamente revalidado e registrado em órgão competente no Brasil; III - os agentes sociais, qualquer que seja sua denominação com funções nos vários órgãos públicos, segundo o disposto no art. 14 e seu parágrafo único da Lei nº 1.889, de 13 de junho de 1953. Parágrafo único. O exercício da profissão de Assistente Social requer prévio registro nos Conselhos Regionais que tenham jurisdição so- bre a área de atuação do interessado nos termos desta lei (BRASIL, 1993a, on-line). UNIASSELVI 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 No decorrer da sua atuação como profissional, você certamente se deparará com falas como a do exemplo citado. Por esse motivo, temos que ter muita clareza em relação ao significado da terminologia ligada à profissão para, assim, podermos fazer a defesa da interpretação correta. Também devemos abolir a ideia de que o assistente social é um profissional que atua somente com a preocupação de ajudar as pessoas nas situações mais vulneráveis, ou ainda que só atua junto à população menos favorecida. Enfim, o assistente social é formado e é profissional de serviço social; atua não só no campo da assistência social, mas também em outras políticas públi- cas como saúde, educação, saúde mental, organizações da sociedade civil, entre outras, prestando serviços sociais e desenvolvendo ações que designam o com- bate ao assistencialismo através do fortalecimento e viabilização do acesso aos direitos sociais para todo cidadão. Se você não soube responder à pergunta, mencionada anteriormente, que pro- piciou essa nossa reflexão, vamos respondê-la juntos? Toda vez que no futuro alguém perguntar se você é formado em assistência social, seja um profissional que orienta e informa corretamente e responda: 1 1 Assistência Social é política pública de direito, está na nossa Constituição Federal de 1988 e é prestada a quem necessitar, principalmente às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Trata-se de um dos espaços sócio-ocupacionais em que posso atuar profissionalmente, mas minha formação é em serviço social, que é o curso de graduação que realizei para que pudesse me inscrever no CRESS e ser assistente social. A LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: ELEMENTOS PARA REFLEXÃO Essa lei também contribuiu para que se organizasse as práticas de assistência social no país, ordenando a assistência social disposta na Constituição Federal de 1988, e designando-a como política pública de direito. O marco importante em termos legais se deu com a Constituição Federal de 1988, quando a assistência social ganhou o estatuto de política social, com- pondo o tripé da seguridade social com a política de saúde e a previdência social. Entretanto, as mudanças legais não se objetivam imediatamente, pois encontram estruturas e culturas moldadas pela forma de atuação fragmentada, pela resistência, explícita ou implícita, dos “feudos” de poder dos políticos e dos agentes sociais públicos ou privados e pelo despreparo dos funcionários. A partir da Constituição ocorreram outras regulamentações como a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mais recentemente, a aprovação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e da Norma Operacional Básica da Assistência Social (NOB) conferem um novo status e um desafio maior à política pública de assistência social. Assistente social, assistência social e LOAS: qual a relação entre esse trinômio? Para melhor compreender a prática do assistente social dentro da Política de As- sistência Social, é importante conhecer a Lei Orgânica da Assistência Social, uma vez que ela contribui para diferenciar ainda mais a atuação profissional em outros espaços. PENSANDO JUNTOS UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 1 Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiên- cia e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. VI - a redução da vulnerabilidade socioeconômica de famílias em situação de pobreza ou de extrema pobreza (BRASIL, 1988, on-line). A Lei Orgânica da Assistência Social busca definir novas colocações e diretrizes no que diz respeito aos direitos sociais, propiciando e incentivandosociais. As negociações acontecem no momento em que as partes envolvidas estejam dis- postas a realizar uma troca; ela acontece o tempo todo em torno desse princípio, de acordo com a regra de que é preciso dar antes de receber. O ponto-chave está nas con- cessões e na premissa de que ambas as partes devem obter vantagens para se ter uma boa negociação. Mas o ponto de conexão na mediação, segundo Battaglia (2001, on-line): UNIASSELVI 1 5 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 “ [...] ocorre na maneira de considerar as ideias das partes envolvidas. Na verdade, as soluções são criadas e encontradas pelas partes e não pelo mediador. O mediador tem somente o papel de facilitador das relações e da profusão de ideias criativas e exequíveis. Podemos dizer, dessa maneira, que a mediação é um processo extrajudicial de resolução de confli- tos, no qual um terceiro, imparcial, dá assistência às pessoas em conflito, com a finalidade de que possam manter uma comunicação produtiva à procura de um acordo possível para elas. Segundo Michelon (2001), trata-se de um processo – porque tem um desen- volvimento lógico e organizado; é extrajudicial – porque está fora do Judiciário, isto é, as partes é que escolhem o mediador; mas, frise-se, não colide, nem com- pete com o processo judicial. É mais um meio de resolução de conflitos mediado por um terceiro imparcial – aquele que, de maneira neutra, auxilia as partes em conflito a buscar uma solução que seja do interesse de ambas. A mediação é um processo extrajudicial de resolução de conflitos O mediador deve levar as partes a se ex- pressarem de forma clara, a explicitar o conflito. O mediador abre o canal de co- municação entre as pessoas envolvidas. Em muitos casos, tem-se observa- do que aquilo que ocasionou o conflito é a impossibilidade de conversar ou a errônea interpretação do que foi dito, por isso, a tarefa primeira do mediador é fazer com que as partes restabeleçam a comunicação. É necessário, outrossim, que o mediador faça com que as partes entendam que uma deve escutar a outra. O objetivo da mediação é as partes chegarem a um acordo, que seja produ- tivo para as partes, isto é, que suas neces- O mediador que ali se encontra é um facilitador do processo 1 1 1 sidades e interesses fiquem satisfeitos. Essas considerações devem ser levadas à mesa de negociação na primeira reunião, quando será dito, inclusive, que o acordo dependerá essencialmente das partes, uma vez que o mediador que ali se encontra é um facilitador do processo; ele não está ali para dar soluções prontas, mas para auxiliá-las na busca do resultado mais produtivo para ambas. VOCÊ SABE RESPONDER? Quando o serviço social utiliza pela primeira vez a categoria mediação? Segundo Stanck (2003, p. 26): “ [...] o serviço social passa a utilizar-se da categoria mediação a partir do movimento de reconceituação, mais especificamente a partir da dé- cada de 1980, momento em que houve um aprofundamento teórico- -metodológico da profissão, com base no método dialético marxista. Desse modo, a mediação: “ [...] é introduzida inicialmente no discurso dos assistentes sociais pela via da análise política, da sua articulação no bojo das políticas sociais e de sua inserção socioprofissional. [...]. Enquanto categoria teórica, [...] a categoria de mediação constitui-se num divisor de águas no plano metodológico; [...] na concepção dialética, é a existência da categoria de mediação em face da totalidade concreta que permite apreender o envolver dos fenômenos do real, o que no quadro categorial das outras formulações é uma grande limitação (PONTES, 2008, p. 95, grifo nosso). VOCÊ SABE RESPONDER? Quais as características da mediação? UNIASSELVI 1 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 Stanck (2003, p. 26) expõe que a mediação é um “componente estrutural do ser so- cial”. Intrínseca aos complexos contraditórios, o profissional de serviço social passou a utilizá-la para explicar, entender e intervir em uma determinada realidade, a fim de transformá-la. A mediação, como técnica, segundo Battaglia (2001, on-line), “ [...] vem suprir um espaço anteriormente ocupado pelas pessoas mais velhas da comunidade ou da família. Com as transformações na modernidade das organizações sociais, esse espaço se tornou vazio. Além desse fato, algumas transformações também ocor- reram tanto em relação à causa dos conflitos, como em relação às habilidades necessárias para solucioná-lo. Martinelli (1993, p. 136) expõe que: “ [...] as mediações são categorias instrumentais pelas quais se proces- sa a operacionalização da ação profissional. Expressam-se pelo con- junto de instrumentos, recursos, técnicas e estratégias pelas quais a ação profissional ganha operacionalidade e concretude. São ins- tâncias de passagem da teoria para a prática, são vias de penetração nas tramas constitutivas do real. Nesse sentido, a própria prática do profissional é uma mediação, pois coloca em movimento toda uma cadeia de vínculos na relação totalidade/particularidade, tendo em vista a superação da realidade social concreta. A mediação é voluntária, segundo Michelon (2001, p. 5), compreende que: [...] os litigantes não são obrigados a negociar, a mediar ou a fazer acordo, in- fluenciados por alguma parte interna ou externa. As partes aderem livremente ao processo e dele podem, também, livremente sair. Não há nenhuma norma legal que obrigue qualquer das partes a aderir a um processo de mediação. Nem o mediador tem autoridade para impor uma solução às partes. APROFUNDANDO 1 1 1 Em relação à causa dos conflitos, segundo Battaglia (2001, on-line), pode-se “constatar que inicialmente eles se davam pela impossibili- dade de consenso, enquanto atualmente ocorrem pela dificuldade de se lidar com a diferença”. Quanto às habilidades do mediador, elas: “ “[...] se deslocam do antigo lugar de terceiro de bom senso que aconselha as partes ou valida uma ou outra, para a de facilitador que cria condições para o diá- logo sempre que as partes envolvidas não consigam concretizá-lo sozinhas; [...] tornando-se um recurso confidencial, importante para a resolução de conflitos nas situações que envolvam diferentes interesses, as- sim como a necessidade de negociá-los. Embora, em alguns países, ocorra uma intimação judicial às partes para que recorram à mediação, utilizo-a em minha prática como um processo necessariamente volun- tário, no qual a responsabilidade pela construção das decisões cabe às partes envolvidas. É exatamente neste ponto que a mediação se diferencia da resolução judi- cial, onde a decisão é transferida a um terceiro, o juiz (BATTAGLIA, 2001, on-line). A autora ainda estabelece que esse recurso pode trazer benefícios, bem como algumas habilidades a serem desenvolvidas por distintos profissionais e a questão da aplicabilidade, como veremos: UNIASSELVI 1 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 BENEFÍCIOS Rapidez e efetividade de resultados. - Redução de desgaste emocional e de custo financeiro. - Garantia de privacidade e sigilo. - Alternativa à arbitragem e processo judicial. - Redução de duração e reincidência dos litígios. - Facilitação da comunicação e promoção de ambientes cooperativos. - Transformação e melhoria das relações. - Prevenção e aprendizagem de novas maneiras de resolução de conflitos. - Promoção de um ambiente propício à colaboração. - Possibilidade de que as relações continuadas perdurem de forma positiva. - Incorporação de novas maneiras de resolução de conflitos, em que ambos cons- troem suas próprias soluções e passam a funcionar com mais essa alternativa em suas vidas próprias por meio de uma meta-aprendizagem. - Promover a reflexão e a reformulação de sua maneira de atuar nas resoluções de conflito. Tornam-se mais claramente delimitados os limites e as possibilidades na relação entre mediador e mediado. - Possibilitar maior autonomia, expressão pessoal e corresponsabilidade das partes na construção de suas alternativas e decisões passa a ser, cada vezmais, seu foco de ação. HABILIDADES - Podem ser treinadas e utilizadas por qualquer pessoa que participe de contexto de conflito. - Há maior facilidade para terapeutas da abordagem centrada na pessoa e facilitado- res de grupos. - É possível manejar o processo de mediação transformativa, quer seja nos âmbitos sociais, políticos, transculturais, educacionais, empresariais ou jurídicos. APLICABILIDADE - Abrange todo e qualquer contexto de convivência capaz de produzir conflitos, podendo beneficiar impasses políticos e étnicos (nacionais e internacionais), questões trabalhistas e comerciais (locais ou de mercados comuns), empresas, escolas, famílias, comunidades e instituições. 1 1 4 Para Michelon (2001, p. 5), o mediador tem o propósito de: “ [...] auxiliar na resolução do problema [...], mas são as partes que devem encontrar a solução ou as soluções desse problema. Quando chegarem a um acordo que seja possível, será lavrado um termo de acordo. Se não chegarem a um acordo, estão livres para procurar outros meios de resolução de disputa que considerem apropriados. Segundo Pontes (2008, p. 184-185): “ O profissional de serviço social atua com e nas mediações. [...] O assistente social não é uma das mediações ou um mediador no fa- zer do serviço social, como querem alguns autores, mas sim é um articulador e potencializador de mediações. Numa palavra, ele atua nos sistemas de mediações que possam inferir as refrações da ‘questão social’ constitutivas de demandas sociais à profissão. O tra- balho, com as mediações e nas mediações, conduz à compreensão de que este movimento de dessingularização, universalizador, deve caminhar no sentido da particularização daquelas situações proble- máticas. Essa particularização garante a dimensão insuprimível da singularidade e a necessária visão de totalidade social (universali- dade), possibilitando ao agente garantir, em tese, tanto as respostas tecnicamente necessárias no plano do imediato (garantindo acesso aos serviços sociais) quanto desdobramentos mais mediatos no pla- no da conscientização mútua (profissional e usuário-cidadão) e da organização dos segmentos excluídos. Portanto, conforme Stanck (2003, p. 28), “ [...] a compreensão da categoria mediação é imprescindível para a intervenção do profissional de serviço social e é a partir dela que o assistente social deve efetivar sua prática. Porém, o direcio- namento das ações de cada profissional dependerá da sua leitura da realidade e do seu projeto ético-político e das correlações de força UNIASSELVI 1 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 9 socioinstitucionais. Sendo assim, sua intervenção poderá se dar no sentido da preservação do sistema vigente, que é excludente, injusto, desigual, ou na busca de alternativas para a criação de uma rede de inclusão social, em que efetivamente possa haver justiça social. NOVOS DESAFIOS Chegamos ao final deste tema de aprendizagem. Quando começamos a estudá-lo, nosso objetivo era compreender os conceitos atribuídos à mediação, à negociação. Após definirmos esses conceitos, foi imprescindível trazer a discussão para o am- Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO biente profissional, no qual poderemos pôr em prática a aprendizagem aqui obtida. Realizar a mediação é um tamanho desafio a ser enfrentado principalmente pelo profissional do serviço social, que precisar atender a situações complexas e delicadas, para as quais deve-se ter cuidado e cautela, pois as orientações e dire- cionamentos devem culminar na superação ou ruptura do conflito, bem como em formas para prevenir sua ocorrência. Ao tratar da vida de outrem, contudo, faz-se necessário aguçar a percepção dos sentimentos dos usuários para não agravar as situações já vivenciadas. No entanto, obtida a prática na realização de tal categoria, seu uso como ferramenta profissional e de trabalho das relações sociais se torna imprevisível, haja vista os benefícios propiciados pela categoria mediação já mencionados. A partir dos conhecimentos aqui aprendidos, aprofunde-se nos estudos da temática e das técnicas disponíveis para garantir seu aperfeiçoamento profissio- nal. Bons estudos! 1 1 1 1. “O debate acerca da categoria de mediação no serviço social coincide com a necessidade de avançar a análise [...] para que se qualificasse, no sentido de iluminar as novas questões e demandas emergentes no seio da profissão, desafiando os intelectuais da profissão a tal esforço”. PONTES, R. N. A categoria de mediação em face do processo de intervenção do serviço social. Rio de Janeiro: Unirio – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, [20--?]. p. 4. Disponível em: https:// www.unirio.br/unirio/cchs/ess/Members/rafaela.ribeiro/instrumentos-e-tecnicas-de-intervencao/ pontes-r-mediacao-e-servico-social. Acesso em: 13 mar. 2024. A partir do texto-base, assinale a alternativa que corresponda corretamente à análise ne- cessária para avançar no debate acerta da categoria mediação: a) Análise social. b) Análise de caso, grupo e comunidade. c) Análise literária. d) Análise de conjuntura. e) Análise teórico-metodológica. 2. “A mediação no campo sociojurídico é um processo que visa aprofundar a questão social de modo que esta não se mantenha mascarada, para que o contexto social e econômico vivenciado pelas famílias possam ser esclarecidas, garantindo assim a defesa e efetivação de direitos”. MEDEIROS, J. O papel do assistente social na mediação de conflitos. Blog GeSUAS, Viçosa, 31 out. 2018. Disponível em: https://blog.gesuas.com.br/assistente-social-mediacao/. Acesso em: 13 mar. 2024. Com base no enunciado, assinale a alternativa que corresponda corretamente às principais estratégias utilizadas para assegurar a intervenção profissional por meio da mediação: a) Entrevista. b) Mediação apenas favorece o fortalecimento de vínculos familiares. c) Orientações e direcionamentos. d) Isolamento social. e) Escuta ativa, empatia e clareza. AUTOATIVIDADE 1 1 1 3. “O Sistema Único de Saúde (SUS), fruto da resistência ao regime totalitário brasileiro, sus- tenta princípios que preconizam gestões democráticas e participativas com produção de ‘subjetividades ativas, críticas e solidárias’. Por outro lado, o SUS sofre as influências dos modelos econômicos hegemônicos subordinados, modelo neoliberal predominante do setor privado, que, incorporado à gestão de saúde pública, imprime subjetivações individua- lizantes, fragmentadas e competitivas, antagônicas ao cunho universal e solidário do SUS”. PARISI, L.; SILVA, J. M. da. Mediação de conflitos no SUS como ação política transformadora. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 42, n. esp. 4, p. 30-42, 2018. p. 32. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - A mediação de conflitos no trabalho em saúde, ao propor a compreensão, a aceitação da diversidade e o diálogo, adquire um sentido de transformação das subjetividades e de resistência às proposições de exclusão e de utilitarismo. PORQUE II - A mediação abre caminho para auxiliar o trabalhador a compreender as origens de seu sofrimento de modo a construir processos de enfrentamento. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. AUTOATIVIDADE 1 1 8 REFERÊNCIAS BATTAGLIA, M. do C. L. Mediação: metodologia de facilitação de resolução de conflitos. Encon- tro ACP, São Paulo, 2001. Disponível em: https://encontroacp.com.br/textos/mediacao-meto- dologia-de-facilitacao-de-resolucao-de-conflitos/.Acesso em: 13 mar. 2024. MARTINELLI, M. L. Notas sobre mediações: alguns elementos para sistematização da reflexão sobre o tema. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, v. 14, n. 43, p. 136-141, 1993. MEDEIROS, J. O papel do assistente social na mediação de conflitos. Blog GeSUAS, Viçosa, 31 out. 2018. Disponível em: https://blog.gesuas.com.br/assistente-social-mediacao/. Acesso em: 13 mar. 2024. MICHELON, M. H. D. Mediação e arbitragem: aspectos fundamentais. Porto Alegre: PUC – Pon- tifícia Universidade Católica, 2001. PARISI, L.; SILVA, J. M. da. Mediação de conflitos no SUS como ação política transformadora. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 42, n. esp. 4, p. 30-42, 2018. PONTES, R. N. A categoria de mediação em face do processo de intervenção do serviço social. Rio de Janeiro: Unirio – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, [20--?]. Dis- ponível em: https://www.unirio.br/unirio/cchs/ess/Members/rafaela.ribeiro/instrumentos-e- -tecnicas-de-intervencao/pontes-r-mediacao-e-servico-social. Acesso em: 13 mar. 2024. PONTES, R. N. Mediação e serviço social. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2008. STANCK, M. A. Projeto de mediação familiar no judiciário catarinense: iniciando um debate. 2003. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – Departamento de Ser- viço Social, Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2003. 1 1 9 1. Opção E. A necessidade de avançar na perspectiva da análise teórico-metodológica ocorre, porque justamente a categoria mediação detém as apropriações da ontologia do ser social de Marx. Como sabemos, a teoria de Marx foi responsável pela virada de chave no âmbito da teoria do serviço social e dos pressupostos que a profissão carrega até os dias atuais. A alternativa A está incorreta, pois a análise social culmina na realização da percepção e reflexão do cotidiano societário, e pode ser realizada em qualquer fase do acompanhamento social ou desenvolvimento de política pública. A alternativa B está incorreta, pois, nos primórdios da profissão, fundamentado na doutrina americana, havia o desenvolvimento de um serviço social que adotava os procedimentos de análise de caso, grupo e comunidade. A alternativa C está incorreta, pois a análise literária é o procedimento que pode ser realizado em qualquer obra da literatura, semelhante a um fichamento de obra. A alternativa D está incorreta, pois a análise de conjuntura é uma leitura crítica, histórica, política e interpretativa da realidade social. 2 Opção E. A escuta ativa – técnica que gera confiança, segurança e proximidade – exige atenção de modo a criar um elo entre o indivíduo e o profissional; a empatia envolve afeto e a capacidade de compreender o sentimento ou reação de outra pessoa ao se colocar no lugar da outra; a clareza é a capacidade de se comunicar de forma simples e sucinta, sem induzir ideias ambíguas e que facilite a comunicação. Perguntas bem elaboradas ajudam no esclarecimento dos fatos. A alternativa A está incorreta, pois a entrevista é um instrumento de trabalho do assistente social, que não se refere à mediação. A alternativa B está incorreta, pois o fortalecimento de vínculos é um dos objetivos da mediação, não é o único resultado. A alternativa C está incorreta, pois as orientações e direcionamentos são parte do trabalho do assistente social, contudo, a mediação parte mais da escuta. A alternativa D está incorreta, pois isolamento social é uma forma de violência trabalhada na Proteção Social Especial, no âmbito da Política de Assistência Social. 3. Opção B. As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. A mediação de conflitos no trabalho em saúde, ao propor a compreensão, a aceitação da diversidade e o diálogo, adquire um sentido de transformação das subjetividades e de re- sistência às proposições de exclusão e de utilitarismo. A mediação também abre caminho para auxiliar o trabalhador a compreender as origens de seu sofrimento de modo a construir processos de enfrentamento. GABARITO 1 1 1 MINHAS ANOTAÇÕES 1 1 1 unidade 1 O PROCESSO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL E A LOAS (LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL) A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO unidade 2 RACIONALIDADE INSTRUMENTAL E TÉCNICA DESAFIOS DA PROFISSÃO NA APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS A APLICABILIDADE DOS INSTRUMENTOS E TÉCNICAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL unidade 3 O MANEJO DO INSTRUMENTAL TÉCNICO-OPERATIVO DO ASSISTENTE SOCIAL O ESTUDO SOCIOECONÔMICO CARACTERÍSTICAS INSTRUMENTAIS DA AÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL _GoBack https://www.youtube.com/watch?v=qExDNXsdy2A _47pjcw96nvl7 _GoBack _dx9uuvmc1sds _nnub3dbph56d _GoBack _GoBack _acu723zavicz Forms - Uniasselvi:que todas Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. EM FOCO as estruturas de gestão e serviços sejam praticadas de forma mais participativa, democrática e descentralizada. NOVOS DESAFIOS Chegamos ao fim deste tema de aprendizagem, mas ainda temos muito caminho pela frente para apreensão da prática profissional através da compreensão dos instrumentos e processos de trabalho do assistente social. Aqui, apresentamos brevemente a gênese da profissão e a importância de se conhecê-la para a com- 1 1 preensão de alguns desafios que ainda estão presentes e são parte constituinte da história do serviço social no Brasil. A todo momento, refletimos sobre os principais aspectos que englobam a profissão, principalmente no que se refere ao objeto de trabalho do assistente social, sendo: as expressões da questão social, que embora os espaços de tra- balho e a atuação nas mais diversas políticas públicas sejam possíveis, a questão social se expressa dentre variantes ligadas à desigualdade, falta de recursos, falta de acesso às próprias políticas, dentre outras. Apresentamos, ainda, os diferentes conceitos que podem gerar confusão nas pessoas leigas e até mesmo nos futuros profissionais, ressaltando que é necessário a apropriação e apreensão do conhecimento profissional para realizar a defesa e reafirmação do serviço social, em que o estudante deve conseguir se posicionar e responder a respeito da diferença entre assistência social, assistencialismo, serviço social e assistente social. Por fim, como a história da profissão tem seu desenrolar vinculado à constru- ção também da política de assistência social, conhecemos a LOAS, que organizou o que o marco histórico da Constituinte de 1988 propôs referente a essa política pública de direito. Espero que tenha gostado do conteúdo, e desejo que você aprofunde os estudos através das indicações trazidas! UNIASSELVI 1 1 1. Quanto à questão social, Iamamoto e Carvalho (2001, p. 77) trazem que: “A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado”. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. de. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma inter- pretação histórico-metodológica. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 77. Sabendo que a questão social não é única, mas sim formada por um conjunto de expressões que aparecem no desenrolar da sociedade capitalista e recaem como objeto de trabalho do assistente social, assinale a alternativa correta quanto às principais expressões da questão social: a) A questão social é entendida somente como uma categoria que perpassa o trabalho do assistente social. b) O desemprego é a principal expressão da questão social, e somente por ele já se pode realizar uma interpretação da realidade social. c) A falta de acesso ao SUS é uma expressão da questão social, que deve ser unicamente considerada em um atendimento social. d) A sociedade capitalista pode diminuir as expressões da questão social com o aumento da desigualdade. e) Desemprego; dificuldade de acesso a direitos básicos como saúde, educação e habita- ção; desigualdades sociais; saneamento básico, entre outras expressões que podemos observar cotidianamente. 2. Conforme Lanardoni et. al. (2006, on-line): “A Constituição Federal é um marco fundamental desse processo, porque reconhece a assistência social como política social, que, junto com as políticas de saúde e de previdência social, compõem o sistema”. Fonte: Lonardoni, E. et. al. O processo de afirmação da assistência social como política social. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 8, n. 2, [on-line], jan./jun. 2006. Disponível em: https://www.uel.br/revistas/ ssrevista/c-v8n2_sonia.htm. Acesso em: 4 dez. 2023. Com base no enunciado, assinale a alternativa correta que corresponde à composição do sistema ao qual as autoras estão se referindo: a) Sistema Único de Saúde. b) Sistema Único de Assistência Social. c) Sistema de Informação para a Infância e Adolescência. d) Sistema de Organização da Assistência Social. e) Sistema de Seguridade Social Brasileiro. AUTOATIVIDADE 1 4 3. “O ano de 2009 foi de grande alegria. Uma das maiores comemorações ocorreu pelo fato da libertação do CNAS em ser o operador de interesses privados e individuais de organi- zações sociais em obter mérito para isenção de taxas e impostos governamentais. Após 16 anos da promulgação da LOAS, e cinco anos da PNAS-04, o CNAS se efetivou como Conselho de política pública”. Fonte: SPOSATI, A. Os 20 anos de LOAS: a ruptura com o modelo assistencialista. In: CRUS, J. F. da. et al. (org.). 20 anos da Lei Orgânica de Assistência Social: coletânea de artigos. Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2013. p. 24. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) é imprescindível para a execução transparente, participativa e democrática da Política Nacional de Assistência Social. PORQUE II - Os conselhos são espaços deliberativos, que contribuem para verificar, em períodos de tempo determinados, a efetividade das políticas públicas, os avanços, e os pontos que precisam de melhorias. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. AUTOATIVIDADE 1 5 REFERÊNCIAS BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasí- lia, DF: Presidência da República, [2022]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 4 dez. 2023. BRASIL. Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993a. Disponível em: https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8662.htm. Acesso em: 4 dez. 2023. BRASIL. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993b. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742compilado.htm. Acesso em: 4 dez. 2023. CFESS – CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética do Assistente Social. 10. ed. rev. atual. Brasília, DF: CFESS, [2012]. Disponível em: https://www.cfess.org.br/arquivos/ CEP_CFESS-SITE.pdf. Acesso em: 4 dez. 2023. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. de. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez, 1983. SPOSATI, A. O. et. al. Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão de análise. São Paulo: Cortez, 1985. 1 1 1. Opção E. Está correta a alternativa e), uma vez que, entre as inúmeras expressões, essas são estabelecidas como as principais, sendo elas reflexo das necessidades cotidianas. Está incorreta a alternativa a), pois a questão social é uma categoria também, mas não somente, já que é composta por um conjunto de fatores que influenciam a atuação profissional. Está incorreta a alternativa b), uma vez que a interpretação da realidade social vai muito além de observar somente a questão do desemprego, engloba uma série de situações e fatores, que permitem analisar a conjuntura, e não só o imediato. Está incorreta a alternativa c), pois a falta de acesso a qualquer política pública é uma expressão da questão social, mas não deve ser analisada de forma isolada. Está incorreta a alternativa d), pois a sociedade capitalista produza desigualdade; por sua vez, não há como diminuir as expressões da questão social com seu aumento, pelo contrário, a tendência do modo de produção capitalista é que a riqueza socialmente produzida seja cada vez mais restrita do que distribuída. 2 Opção E. As autoras se referem ao Sistema de Seguridade Social Brasileiro como o marco fundado pela Constituição Federal de 1988, uma vez que reconheceu a assistência social enquanto política pública de direito e política social que compõe o tripé da seguridade social ao lado da saúde e da previdência social. Está incorreta a alternativa a), pois o SUS foi criado posteriormente para organizar a saúde pela Lei Orgânica da Saúde em 1990. Está incorreta a alternativa b), pois o SUAS foi criado posteriormente para unificar as ações da assistência social em todo território nacional, sendo assim, em 2004, temos a Política Nacional de Assis- tência Social e em 2005, o SUAS. Está incorreta a alternativa c), pois o Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (SIPIA) é muito utilizado nos dias atuais pelo Conselho Tutelar como forma de registro dos assuntos que se referem à garantia de direitos de crianças e adolescentes. Está incorreta a alternativa d), pois não existe outro sistema de organização da assistência social além do SUAS. 3. Opção A. Os Conselhos de Direito são instituições fundamentais na execução das políticas públicas e no avanço delas, uma vez que são espaços deliberativos que contribuem para a evolução e o pensar das políticas. GABARITO 1 1 MINHAS METAS A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Conhecer a Política Pública de Assistência Social Brasileira. Compreender como a assistência social está organizada. Compreender como o Sistema Único de Assistência Social foi estabelecido. dentificar os níveis de proteção social. Saber diferenciar proteção social básica de proteção social especial. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 2 1 8 INICIE SUA JORNADA Olá, estudante! Seja bem-vindo a este tema de aprendizagem. Trataremos sobre a Política de Assistência Social no Brasil. Você já parou para pensar no quanto essa política está vinculada à própria construção da profissão do assistente so- cial? Uma rápida pesquisa na internet, também, pode lhe ajudar a compreender o quanto o Estado é o setor que mais emprega assistentes sociais por meio dos concursos públicos. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) publicou, em 2022, um e-book sobre o Perfil dos Assistentes Sociais no Brasil, o qual demonstra o notório dado de que mais de 40% dos assistentes sociais são empregados pelo setor público. A Política de Assistência Social é umas das políticas públicas em que mais vemos a atuação dos assistentes sociais. Isso, porque, em sua maior parte, suas demandas estão vinculadas à compreensão do cotidiano em sociedade pelas situações de vulnerabili- dade social, que estão permeadas pelas expressões da questão social. É importante que você resgate alguns conceitos e os compreenda para melhor adentrar a este conteúdo. Uma dica é retomar os estudos sobre o modo de pro- dução capitalista e sobre a questão social. Isso, porque para compreensão de todo contexto de construção constitucional e das próprias políticas públicas, é importante de antemão estar atento às formas de organização da sociedade e a forma que o trabalho assume na vida cotidiana. Essa reflexão nos faz ativar a percepção de análise de contexto e conjuntura, que mais tarde contribuirão para seu olhar profissional, de forma a apreender a realidade, sem deixar de considerar como ela é constituída e como vários fatores podem interferir nesse fenômeno. Espero que aproveite o conteúdo! Bons estudos! Preparamos um podcast para contar a você detalhes sobre o conteúdo do e-book Perfil de Assistentes Sociais no Brasil: formação, condições de trabalho e exercício profissional, publicado em 2022, para ajudar-lhe a compreender as principais ca- racterísticas profissionais presentes atualmente. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO UNIASSELVI 1 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 DESENVOLVA SEU POTENCIAL Sendo organizada num modelo sistêmico, a assistência social aponta a ruptura do assistencialismo e das ações fragmentadas, e se afirma enquanto política pú- blica, que é dever do Estado e direito de todos os cidadãos, bem como dispõe a participação da sociedade civil por meio do controle social. O artigo 1º da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) reforça: “ [...] a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Po- lítica de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993, on-line). A LOAS assume um patamar de tamanha importância, pois através dela a as- sistência social se torna uma política social pública, desenvolvendo ações com visibilidade nos direitos, universalização do acesso a serviços, programas e proje- tos, também responsabilizando o Estado como órgão gestor e financiador. Nessa direção, a política de assistência social passa a fazer parte da configuração de um tripé conjunto com outras políticas: saúde e previdência social. VAMOS RECORDAR? Recomendo a leitura do artigo “Política de Assistência Social e Processo de Estratégia de Hegemonia no Brasil”, que discute as questões que perpassam a inclusão da Política de Assistência Social na Constituinte de 1988, e traz uma reflexão sobre a trajetória dessa política vinculada às questões da hegemonia no Brasil. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. 1 1 A LOAS completa 30 anos em 7 de dezembro de 2023. De 1993 para cá, muitas al- terações ocorreram nessa lei; todas no intuito de aperfeiçoar as ações da assistên- cia social, bem como adaptar a iniciativa à realidade e aos novos termos técnicos. Um exemplo disso é que a maior parte das alterações da LOAS foi incluída pela lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011, que expressou modificações nos objetivos, na gestão e nas questões de financiamento da Política de Assistência Social. APROFUNDANDO A Menina LOAS: um processo de construção da assistência social Aldaíza Sposati, renomada autora do serviço social, conta em A Menina LOAS: um processo de construção da assistência so- cial, o marco de dez anos da lei orgânica que colocou a assis- tência social no patamar de política social. Brilhantemente, a autora faz uma analogia da lei com uma criança, comentando os direitos e promoção da cidadania e trazendo a trajetória his- tórica da assistência social no Brasil. INDICAÇÃO DE FILME Com a tentativa de unificar a assistência social em todo o território nacional e garanti-la como política pública, surge o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), conforme veremos a seguir. SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS) O SUAS foi criado em 2005, com o objetivo de unificar a gestão da política, es- tabelecendo níveis diferenciados para os municípios, financiamento e ações de assistência social. “ O SUAS é modelo de gestão descentralizado e participativo, consti- tui-se na regularização e organização em todo território nacional das ações socioassistenciais. Os serviços, programas, projetos e benefí- UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 cios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que desempenham, pelo número de pes- soas que deles necessitam e pela sua complexidade, pressupõe, ainda, gestão compartilhada, cofinanciamento da política pelas três esferas de governo e definição clara das competências técnico-políticas da União, Estados e Distrito Federal e Municípios, com a participação e mobilização da sociedade civil, e estes têm o papel efetivo na sua implantação e implementação (BRASIL, 2004, on-line). OSUAS é a organização de uma rede de serviços, ações e benefícios pautadas na matricialidade sociofamiliar, com perspectiva na emancipação dos sujeitos sociais. Tem proposta de dois diferentes níveis de complexidade para as ações da assistência social, que passa a ser dividida em: proteção social básica e proteção social especial, como veremos a seguir. A matricialidade sociofamiliar se refere à centralidade da família como núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da política de assistência social. A família, segundo a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), é o conjunto de pessoas unidas por laços consanguíneos, afetivos e/ou de solidariedade, cuja sobrevivência e reprodução social pressupõem obrigações recíprocas e o compartilhamento de renda e/ou dependência econômica (BRA- SIL, 2009, p. 12). APROFUNDANDO 1 1 Proteção social básica A proteção social básica tem como objetivos prevenir as situações que apresentam risco através do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, além do forta- lecimento da convivência e vínculos familiares e comunitários de forma saudável. É destinada à população em situação de vulnerabilidade social e econômica decorrente da privação de renda, precário acesso aos serviços públicos (habitação, saúde, educação), além da fragilização de vínculos afetivos relacionais e de per- tencimento social por discriminação etária, de gênero, étnica e também por al- guma classificação de deficiência. Os serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica devem ter articulação com políticas públicas existentes no município, cuja responsabi- lização de execução é das três esferas do governo (União, Estado e Município), além de obrigatoriamente ter articulação com o SUAS. Os principais serviços de proteção social básica são: Serviço de Proteção e Atenção Integral às Famílias (PAIF), Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) e Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas Idosas e com Deficiência. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 O PAIF e o SCFV são serviços ofertados no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que realiza o trabalho social com as famílias, com o intuito de prevenir situações de agravamento das vulnerabilidades sociais e de fortalecer os vínculos familiares e comunitários. “ O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é uma unida- de pública estatal descentralizada da política de assistência social, responsável pela organização e oferta de serviços da proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios e DF. Dada sua capi- laridade nos territórios, caracteriza-se como a principal porta de entrada do SUAS, ou seja, é uma unidade que possibilita o acesso de um grande número de famílias à rede de proteção social de as- sistência social (BRASIL, 2009, p. 9). O CRAS desempenha um papel fundamental no âmbito da Política de Assis- tência Social, na esfera da proteção social básica, pois através de sua apropriação territorial exerce o papel de mapear e intervir nas situações de vulnerabilidade social e relacional, antes que elas se agravem. Prevenir situações de agravamento das vulnerabilidades sociais 1 4 Proteção social especial A Política Nacional de Assistência Social define a proteção social especial como uma modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de aban- dono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psi- coativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras. A seguir, compreenderemos melhor do que se trata cada uma das situações que podem levar a família ou o indivíduo ao atendimento na proteção social especial. VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR Essa violência ocorre dentro do ambiente familiar e pode ser de cunho físico, psicoló- gico ou sexual. ABANDONO Responsáveis deixam a pessoa à própria sorte, sozinha. NEGLIGÊNCIA Omissão injustificada e deliberada em provocar as necessidades físicas e emocionais, que apresente risco ao desenvolvimento da pessoa que depende disso. SITUAÇÃO DE RUA Pessoas em situação de rua são aquelas que não possuem residência, vivem nas ruas ou migram para albergues. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA Medida aplicada pela autoridade judicial com base no Estatuto da Criança e do Adolescente, devido ao acometimento pelo sujeito de um ato infracional. Segundo o ECA, em seu artigo 112, essas medidas podem ser: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade e internação em estabelecimento educacional. UNIASSELVI 1 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 Proteção social especial de média complexidade A proteção social especial é dividida em duas modalidades: proteção social especial de média complexidade e proteção social especial de alta complexidade. Os serviços de proteção social especial de média complexidade têm atendimento direcionado a famílias e pessoas que se encontram com seus direitos violados, porém, com vínculos familiares e comunitários sem rompimento. Por esse mo- tivo, requerem ampla estruturação técnico-operacional, com equipes multipro- fissionais com atenção especializada e individualizada direcionada ao usuário. Também necessitam de acompanhamento sistemático, com avaliação e mo- nitoramento periódico. TRABALHO INFANTIL Conforme o ECA, trata-se do desempenho de qualquer atividade laboral por menores de 16 anos. AFASTAMENTO DO CONVÍVIO FAMILIAR E COMUNITÁRIO Situação em que o indivíduo, por motivo de violação de direito ou violência, é retirado do convívio familiar. ISOLAMENTO SOCIAL Comumente ocorre com pessoas idosas e pessoas com deficiência e se trata de viola- ção de direitos, uma vez que ocorre por suas condições. VOCÊ SABE RESPONDER? Quais os serviços previstos na proteção social especial de média complexidade? 1 1 Os serviços previstos na Política Nacional de Assistência Social, nesse nível de atendimento, são: ■ Orientação e apoio sociofamiliar. ■ Plantão social. ■ Abordagem de rua. ■ Cuidado no domicílio. ■ Habilitação e reabilitação na comunidade das pessoas com deficiência. ■ Medidas socioeducativas em meio aberto (PSC – Prestação de Serviços à Comunidade e LA – Liberdade Assistida). O principal órgão que oferta os serviços de proteção social especial de média complexidade é o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Trata-se da “unidade pública e estatal de abrangência municipal ou regional”, que: “Oferta, obrigatoriamente, o Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI)” (BRASIL, 2011, p. 20). Tanto no CRAS quanto no CREAS, existem dois conceitos relacionados à conduta com as famílias e/ou os indivíduos: atendimento e acompanhamento. O atendi- mento pode ser pontual e para sanar dúvidas ou realizar orientações pertinentes. Já o acompanhamento é planejado e realizado por um período maior de tempo, em que se estabelece metas e possibilidades de transformação na realidade dos sujeitos atendidos. ZOOM NO CONHECIMENTO Proteção social especial de alta complexidade Os serviços de proteção social especial de alta complexidade são direcionados a usuários em situação emergencial e de risco, necessitando de proteção in- tegral. Esses usuários se encontram sem referência ou em situação de ameaça, necessitando de intervenção imediata, sendo retirados do núcleo familiar ou comunitário, que é seu espaço de convivência. UNIASSELVI 1 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 2 De acordo com a Política Nacional de Assistência Social, os serviços ofereci- dos na proteção social especial de alta complexidade são: ■ Atendimento integral institucional. ■ Casa lar. ■ República. ■ Casa de passagem. ■ Albergue. ■ Família substituta. ■Família acolhedora. ■ Medidas socioeducativas restritivas e privativas de liberdade (semiliber- dade, internação provisória e sentenciada). ■ Trabalho protegido. A proteção especial de média complexidade também tem seus princípios pauta- dos na convivência familiar e comunitária de forma saudável. Mas, difere da prote- ção social básica por se tratar de um atendimento dirigido às situações de violação de direitos. ZOOM NO CONHECIMENTO NOVOS DESAFIOS Chegamos ao fim deste tema de aprendizagem. Aqui, foi possível aprofundar o conhecimento na Política de Assistência Social, que está ligada à profissão do assistente social desde os primórdios da construção histórica do serviço social. Acesse o material e fique por dentro deste tema importante, que contribuirá para o seu desenvolvimento. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. EM FOCO 1 8 Como se trata de uma política pública e social, cuja maior parte é constituída por serviços públicos, o Estado é o que mais emprega no setor. A assistência social tem como seus pilares duas grandes legislações: a Cons- tituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Assistência Social de 1993. Ambas transformaram as ações, saindo do viés de ajuda para a esfera da garantia de direitos, sendo o assistente social o viabilizador desses direitos e o Estado, a ins- tituição garantidora. Posterior à LOAS, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e o Sis- tema Único de Assistência Social (SUAS) vão desenhando ainda mais as ações e serviços da assistência social e padronizando a gestão em todo território nacional. A assistência social deve promover proteção social, e, portanto, a proteção social foi dividida em níveis que possibilitam a organização do trabalho profissional. Nesses níveis, temos a proteção social básica e a proteção social especial de média e alta complexidade. Os serviços são executados principalmente pelos órgãos CRAS e CREAS, que realizam, dentro de suas especificidades, o trabalho social com as famílias, levando em consideração o contexto social, econômico e histórico, bem como os territórios e a realidade individual e coletiva. É importante não perder de vista que todo trabalho profissional deve estar vinculado à apreensão da realidade a ser trabalhada, e todo o arcabouço teórico do curso de graduação deve ser vislumbrado no contexto da prática para com- preender porque ocorrem as expressões da questão social e, consequentemente, a entrada das famílias na Política de Assistência Social. Espero que tenha gostado do conteúdo, e desejo que se aprofunde nos estudos através das indicações apresentadas! UNIASSELVI 1 9 1. Conforme a LOAS: “[...] a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”. BRASIL. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acesso em: 7 dez. 2023. Com base no enunciado, assinale a alternativa correta que corresponde à composição do Sistema de Seguridade Social brasileiro: a) Previdência Social, Saúde Mental e Assistencialismo. b) SUS, SUAS e BPC. c) Assistência Social, CRAS e CREAS. d) Saúde, Educação e Tecnologia. e) Saúde, Previdência Social e Assistência Social. 2. A Política Nacional de Assistência Social constrói que o SUAS, “[...] cujo modelo de gestão é descentralizado e participativo, constitui-se na regularização e organização em todo território nacional das ações socioassistenciais”. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social (PNAS)/2004: norma operacional básica (NOB/SUAS). Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2005. p. 39. Com base nas informações apresentadas, avalie as asserções, a seguir, e a relação proposta entre elas: I - Os serviços, programas, projetos e benefícios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização. PORQUE II - passam a ser definidos pelas funções que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e pela sua complexidade. A respeito dessas asserções, assinale a opção correta: AUTOATIVIDADE 4 1 a) As asserções I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa correta da I. b) As asserções I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa correta da I. c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa. d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira. e) As asserções I e II são falsas. 3. Jaccoud, Bichir e Mesquita (2007, p. 41) expressam que: “A consolidação de uma política nacional sob primazia do poder público, por meio da construção de capacidades estatais e arranjos institucionais, se aprofundou após 2003, com a chegada ao governo de uma coligação de centro-esquerda identificada com as garantias constitucionais no âmbito dos direitos sociais”. JACCOUD, L.; BICHIR, R.; MESQUITA, A. O SUAS na proteção social brasileira: transformações recentes e perspectivas. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, v. 36, n. 2, p. 37–53, jul./out. 2017. p. 41. Após 2003, quais foram os principais instrumentos legais no âmbito da Política de Assistência Social no Brasil que reverberaram em sua organização e unificação no território nacional? Assinale a alternativa correta: a) Lei Orgânica da Saúde (1990) e Lei Orgânica da Assistência Social (1993). b) Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e Estatuto do Idoso (2003). c) Código de Ética do Assistente Social (2004) e Lei da Regulamentação da Assistência Social (2003). d) Norma de Recursos Humanos do SUAS (2003) e Lei Orgânica de Assistência Social (2004). e) Política Nacional de Assistência Social (2004) e Sistema Único de Assistência Social (2005). AUTOATIVIDADE 4 1 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Ado- lescente e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 8 dez. 2023. BRASIL. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1993. Disponível em: ht- tps://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acesso em: 8 dez. 2023. BRASIL. Lei Nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social. Brasília, DF: Presidência da República, 2011. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12435.htm. Acesso em: 8 dez. 2023. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de As- sistência Social. Política Nacional de Assistência Social (PNAS)/2004: norma operacional bá- sica (NOB/SUAS). Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2005. E-book. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assis- tência Social. Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, DF: 2011. E-book. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Sistema Único de Assistência Social. Proteção Social Básica. Orientações Técnicas: Centro de Referência de Assistência So- cial (CRAS). Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2009. E-book. CFESS - CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Perfil de Assistentes Sociais no Brasil: formação, condições de trabalhoe exercício profissional. Brasília, DF: CFESS, 2022. E-book. 4 1 1. Opção E. A alternativa e) está correta, pois a seguridade social brasileira é composta pela saúde, sendo essa política pública universal e gratuita; pela previdência social, sendo essa política pública contributiva que visa segurar trabalhadores no impedimento do exercício laborativo por ordem de saúde ou outros; e a assistência social é política pública e social não contributiva prestada a quem necessitar. A alternativa a) está errada, pois a previdência social compõe o sistema de seguridade social brasileiro, mas não em conjunto com a saúde mental, que é uma área da saúde com políticas próprias, nem ao lado do assistencialismo, que é uma prática voltada às ações de caridade e benevolência. A alternativa b) está errada, pois o SUS é o Sistema Único de Saúde; o SUAS é o Sistema Único de Assistência Social e o BPC é o Benefício de Prestação Continuada, que integra a política de assistência social, mas nenhum deles compõe o tripé da seguridade social definida na Constituição de 1988. A alternativa c) está errada, pois a assistência social compõe a seguridade social, mas não em conjunto com o CRAS e o CREAS; ambos são centros de referência da assistência so- cial, órgãos públicos que executam os serviços de proteção social básica e proteção social especial respectivamente. A alternativa d) está errada, pois a saúde compõe o sistema de seguridade social, mas não acompanhada da educação, que é uma política pública também expressa na Constituição de 1988, como direito de todos e dever do estado e orientada pelos preceitos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (LDB/1996). A tecnologia, hoje, possui ações e ministério em Brasília, está empregada na maior parte das políticas públicas, mas não é componente da seguridade social. 2 Opção A. A alternativa correta é a letra a), conforme está expresso na Política Nacional de Assistência Social sobre a concepção do SUAS e sua organização enquanto rede que orienta e unifica a assistência social em todo território nacional. 3. Opção E. A alternativa correta é a letra e), pois o ano de 2003 já sinalizava as discussões da necessidade uma política nacional que contemplasse a assistência social e firmasse com- promissos a serem seguidos, a PNAS foi disposta no ano de 2004 e, posteriormente, em 2005, o SUAS sinalizou a organização e unificação da assistência social em todo território nacional. A alternativa a) está errada, pois ambas as leis orgânicas são importantes para a assistência social na garantia de direitos, contudo, foram dispostas antes de 2003, não contemplando o que se pede no enunciado. A alternativa b) está errada, pois ambas as leis são importantes para a assistência social na garantia de direitos, contudo, não contemplam o que se pede no enunciado, por serem específicas de segmentos populacionais e não culminarem na organização e unificação da política de assistência social. A alternativa c) está errada, pois o Código de Ética do Assistente Social foi datado do ano de 1993 e não existe lei intitulada de regulamentação da assistência social, o que existe é a Lei de Regu- lamentação da Profissão do Assistente Social, que é a lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993. A alternativa d) está errada, pois a NOB RH SUAS corresponde à resolução nº 269, de 13 de dezembro de 2006, e a LOAS é de 1993. GABARITO 4 1 MINHAS METAS A AÇÃO PROFISSIONAL E O PROCESSO INTERVENTIVO DO ASSISTENTE SOCIAL NO COTIDIANO Reconhecer os diferentes aspectos ideológicos que permeiam a aplicabilidade dos ins- trumentos, técnicas e ações profissionais do assistente social. Compreender os conceitos de consciência. Conhecer o conceito de intencionalidade. Identificar a intencionalidade da ação profissional do assistente social em seu cotidiano. Compreender a competência relacional do assistente social. T E M A D E A P R E N D I Z A G E M 3 4 4 INICIE SUA JORNADA Olá, estudante! Seja bem-vindo a este tema de aprendizagem, que traz reflexões sobre algumas categorias que compõem a prática profissional do assistente so- cial. Já parou para pensar que toda ação profissional é permeada por uma in- tencionalidade? Ou, ainda, que todo processo de trabalho do assistente social é permeado por intenção e consciência? Para entender o processo de trabalho do assistente social, antes é necessário compreender os tipos de consciência e a sua relação com a prática profissional. Isso, porque, neste tema, entraremos numa discussão mais ideológica da atua- ção profissional do assistente social, trabalhando e desmistificando a questão da intencionalidade e consciência, que permeiam o processo de trabalho do serviço social. Para isso, adentraremos aos conceitos que contribuirão para a compreensão de todo processo desde as categorias presentes. Refletiremos sobre o que é consciência, consciência moral, a possibilidade de podermos controlar a consciência, transitando, também, pelos aspectos da consciência humana e da consciência moral crítica. Entenderemos, ainda, o que é intencionalidade, conhecendo seu significado e também sua relação com a percepção da realidade. Além disso, trataremos as- pectos da prática profissional vinculada a esses conceitos para que, também, possamos compreender a competência relacional do assistente social. Boa leitura e bons estudos! Preparamos um podcast para que você possa refletir sobre a importância de se definir um planejamento e objetivos para uma atuação profissional com compro- misso e qualidade para a população usuária. Recursos de mídia disponíveis no conteúdo digital do ambiente virtual de aprendizagem. PLAY NO CONHECIMENTO UNIASSELVI 4 5 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 DESENVOLVA SEU POTENCIAL Já parou para pensar que em todas as nossas ações existem processos de pen- samentos, consciência e intenções? São processos ligados a nossa mente e que nos constituem enquanto seres pensantes e diferenciados dos demais seres na natureza. Dessa forma, antes de entendermos o significado da intencionalidade da prática profissional do assistente social, devemos compreender o que significa a CONSCIÊNCIA enquanto categoria teórica. Posteriormente, trabalharemos as questões relativas à intencionalidade das ações profissionais do assistente social. VAMOS RECORDAR? Vamos relembrar os conceitos e suas origens? Segundo a fenomenologia, os conceitos de intencionalidade e consciência foram apropriados em determinada parte da história do serviço social, mas advém da psicologia. No vídeo sugerido, compreenderemos os conceitos em sua gênese, conhecendo Husserl, considerado o Pai da Fenomenologia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0mZgdEBwCa8. 4 1 https://www.youtube.com/watch?v=0mZgdEBwCa8 A CATEGORIA “CONSCIÊNCIA” VOCÊ SABE RESPONDER? O que é a consciência? Segundo Fontes ([2010], on-line), a consciência diz respeito “[...] à percepção imediata pelo sujei- to daquilo que se passa nele mesmo ou fora dele”. Mattos, Silva e Gama (2019) nos apontam que a consciência possui vários significados atribuídos. Hoje, os estudos atrelados a essa temática circundam a área das neurociências. Existe o significado relacio- nado à origem da palavra e atribui a semântica no inglês, que vem de conscience, que, por sua vez, deriva do latim, cum (com) e scio (eu sei/ eu conheço). Os au- tores, ainda, trazem que, no português, há uma gama de significados e todos com designações diferentes. Há o exemplo de quando se diz que a pessoa está consciente e significa que ela está acordada e vígil. A medicina avalia o nível de consciência em alguns casos, e, ainda, o sentido de consciência pode estar ligado à questão de que o sujeito possui ciência de suas atitudes e escolhe por elas. Possui ciência de suas atitudes e escolhe por elas Mas, como nasce a consciência? De acordo com Sandoval (2009, on-line), “os ani- mais tidos como irracionais não possuem consciência do mundo, pois reagem se- gundo os motivos específicos que fazem comque seus instintos se mobilizem. Portanto, a consciência é pertinente ao homem e serve a suas necessidades”. Ainda, segundo o autor, nos primeiros homines sapientes, “a consciência era rudi- mentar e servia a percepções e necessidades elementares, sofisticando-se a partir da evolução”. Nesse sentido, “isso significa que as causas que levam à mobilização se sofisticaram de uma forma que esses motivos passam, então, a agir por meio da inteligência, na medida em que também se sofisticam as necessidades a fim de mobilização”. PENSANDO JUNTOS UNIASSELVI 4 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 Schopenhauer (1982, p. 195-196) complementa, expondo que: “ A terceira fórmula da causalidade motora é peculiar ao reino ani- mal, constituindo a sua característica: trata-se da motivação, isto é, a causalidade, agindo por meio da inteligência. Intervém ela na escala natural dos seres, no ponto em que a criatura, tendo necessidades mais complicadas, e consequentemente muito variáveis, não conse- gue mais satisfazê-las unicamente sob o impulso dos excitantes que ela deveria sempre esperar de fora; é preciso, então, que esteja apta para escolher, colher e também pesquisar os meios para satisfazer essas necessidades surgidas (SCHOPENHAUER, 1982, p. 195-196). Entretanto, a consciência se forma por intermédio da vivência humana em sociedade e suas neces- sidades subjetivas, na sua relação com os demais integrantes dessa mesma sociedade e na satisfação direta e indireta de seus desejos e anseios. Em âmbito geral, CONSCIÊNCIA significa o pensar com, compreender com. Dentro da teoria moral, consciência é uma fun- ção que permite ao ser humano distinguir entre o que é BOM e o que é MAU. Nesse sentido, a consciência é, a todo momento, provocada por interações maio- res que ela. A partir das ciências naturais, da neurociência, entre outras, fala-se de uma consciência a nível cerebral. Desse modo, as patologias cerebrais influenciam nas interações que a consciência realiza: seja consigo mesmo, com a sociedade, com a igreja etc. Para os neurocientistas, a consciência depende, então, do estado do cérebro, o que nos leva a questionar o que é a consciência de Deus, de pecado, de transcendência etc. (OLIVEIRA, 2009). A compreensão das coisas e dos fatos depende do cérebro de cada um, ou seja, da visão de mundo e da subjetividade de cada ser humano sobre a Terra, mas sempre baseada nas concepções éticas e morais constituídas pela sociedade em que vive. A consciência se forma por intermédio da vivência humana em sociedade 4 8 Ao tratarmos da questão da consciência crítica de cada ser humano, devemos considerar primeiramente a visão de mundo que temos, ou seja, relativizar nosso conhecimento e percepção sobre as coisas que acontecem no dia a dia, em nossa sociedade e no mundo para, assim, poder realizar uma análise crítica dos fatos sob a luz da consciência moral e ética daquela região ou sociedade. Dessa for- ma, ao falarmos da consciência moral dos seres humanos, como um todo, nos referimos a como esses homens, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, entre outros, agem em seu convívio em sociedade. Uma consciência crítica desalienadora constrói, analisa, critica a realidade. Através da análise, ela critica e denuncia, construindo uma nova realidade. A modernidade se identifica com o surgimento da consciência, haja vista o tempo do iluminismo, do renascimento, e suas críticas da realidade. A consciência nasce num mundo de criatividade, saindo do repetitivo, dos modismos, do corriqueiro. Ao cair nos modismos, não se notam parâmetros de limites. Tudo se transforma com rapidez e velocidade assustadoras. A consciência moral não aceita o lega- lismo, segundo os valores de hoje. A consciência tem outros valores para bem, justiça, verdade, responsabilidade etc.; “[...] a consciência crítica é a capacidade de apreciar as atitudes não só do outro, mas as próprias” (OLIVEIRA, 2009, on-line). VOCÊ SABE RESPONDER? Nesse sentido, como podemos controlar a consciência humana? Ou como podemos falar de uma consciência moral crítica? UNIASSELVI 4 9 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 A INTENCIONALIDADE ENQUANTO CATEGORIA TEÓRICA A intencionalidade, segundo Fontes ([2010], on-line) diz respeito à “característica definidora da consciência, enquanto necessariamente voltada para um objeto”. O termo “intencional” está diretamente conectado à causa real do fato ou do objeto, na sua intenção sobre o fato ou realidade, ou seja, no seu propósito de ação sobre o objeto. A intencionalidade no sentido filosófico “é o aspecto de estados mentais ou de eventos que consistem no seu ser de ou sobre as coisas (como se refere às ques- tões: ‘Quais são as coisas que você está pensando?’ e ‘O que você está pensando?’)” (SIEWERT, 2006, p. 6). “Intencionalidade é a sobriedade ou direcionamento da mente (ou estados de espírito) para coisas, objetos, estados de coisas, aconteci- mentos” (SIEWERT, 2006, p. 6). Essa concepção de direcionamento da intencionalidade se refere diretamente ao estado de espírito e visão que temos de uma determinada situação social, ou seja, é como vemos aquela realidade sobre a coisa ou objeto, os seus acontecimentos. Edmund Husserl, filósofo alemão e fundador da fenomenologia – um método para a descrição e análise da consciência –, diferencia a intencionalidade em dois mo- mentos: no ato noético, no qual percepcionamos o fenômeno e o dotamos de sentido, e no fenômeno noema, no qual, depois do ato noético, o preenchemos de significação. Em termos empíricos, a noese é o ato individual com o fim de conhe- cer determinada coisa; em termos transcendentais, a noese é o ato que possibilita a apreensão das significações pelo sujeito constituinte (VIVIANI, [2010], on-line). ZOOM NO CONHECIMENTO FENÔMENO NOEMA O fenômeno noema é identificado e se refere, no campo de análise da feno- menologia, ao que é visto, muito referenciado como noesis-noema, cuja junção diz respeito à ação intencional da consciência em relação à consciência objeto (CORRÊA, 1997). 5 1 ATO NOÉTICO O ato noético trata da consciência de um sujeito que quando focaliza algo lhe atribui significado, conhecido como experiência significativa, podendo gerar in- clusive nova atribuição de significado (CORRÊA, 1997). Dessa forma, apropriamo-nos da ideia de que a consciência é intencional. Sempre te- mos consciência de alguma coisa. Husserl diz que toda consciência é consciência de alguma coisa. A consciência é consciência de visar aquilo que não é. A consciência é intencionalidade, isto é, ela existe sobre o modo de não ser. Ao ver ou perceber a mesa, eu não sou a mesa. A consciência sempre se constitui por meio dessa nega- tiva essencial, uma vez que ela presentifica um objeto ausente. A consciência não tem conteúdos. Dela, não se pode simplesmente dizer que é. Ela não é um objeto nem uma coisa. A consciência tem uma dimensão de irrealidade e, pois, de liberdade. Ela não está presa às coisas. Ela se destaca das coisas, delas se evade. Está subtraída dos determinismos espaço-temporais. O não real, o irreal, é, para ela, um possível. Ela é livre. A descrição da consciência, pode-se dizer, é uma descrição – e descoberta – da liberdade. Não podemos dissolver as coisas na consciência. A consciência não é uma coisa. Ela não é as coisas das quais tem consciência. Se vejo uma árvore, a árvore é exterior. Ela não é eu. A consciência não é uma substância. É, antes de tudo, um processo. O fato de a consciência ter a necessidade de existir como consciência UNIASSELVI 5 1 TEMA DE APRENDIZAGEM 3 de outra coisa que não ela mesma é chamado, por Husserl, de intencionalidade (SCHAEFER, 2006). A INTENCIONALIDADE NO SERVIÇO SOCIAL Após estas breves considerações sobre o significado da categoria “intencionali- dade”, precisamos compreender como se processa a intencionalidade da prática profissional do assistente social, ou seja, a consciência profissional no processo de trabalho do serviço social. A Dimensão