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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS GUSTAVO AUGUSTO SEABRA SAMPAIO MERCADO DE TRABALHO Uma análise sob a perspectiva ortodoxa de Gregory Mankiw Belo Horizonte 2024 GUSTAVO AUGUSTO SEABRA SAMPAIO MERCADO DE TRABALHO Uma análise sob a perspectiva ortodoxa de Gregory Mankiw Relatório final, apresentado a Universidade Federal de Minas Gerais, como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Relações Econômicas Internacionais. Belo Horizonte, 14 de agosto de 2024. ________________________________________ Prof. (Clara Zanon Brenck) UFMG ________________________________________ Prof. (Clara Zanon Brenck) UFMG ________________________________________ Prof. (Clara Zenon Brenck) UFMG Sumário RESUMO 4 INTRODUÇÃO 4 Pessoas enfrentam tradeoffs e o custo de uma coisa é o que você abre mão para obtê-la 5 Pessoas racionais pensam a margem e as pessoas reagem a incentivos 5 O comércio pode beneficiar a todos e mercados são uma boa maneira de organizar a atividade econômica 5 O governo pode melhorar o resultado dos mercados 6 Exemplo pragmático da atuação estatal na resolução de falhas de mercados 7 O padrão de vida de um país depende da sua produtividade 7 Os preços aumentam quando o governo imprime muito dinheiro e a sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre desemprego e inflação 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 9 RESUMO O presente ensaio tem como objetivo analisar o mercado de trabalho sob a perspectiva Mainstream, em especial, dando ênfase ao pensamento do economista norte americano Gregory Mankiw em seu livro Introdução a Economia (1997). Nessa lógica, é imperativo destacar os princípios básicos do ideário Ortodoxo, os quais orientam as dinâmicas que serão discutidas, bem como fazer um paralelo dessas definições ao atual contexto político, social e financeiro ao qual o Brasil e outros países se encontram na contemporaneidade. Outrossim, é lícito fomentar uma discussão aprofundada acerca das realidades socioeconômicas as quais este modelo científico pode ser aplicado, promovendo, assim, uma análise apurada acerca da aplicabilidade desses conceitos frente a outros modelos econômicos. Em última instância, é imprescindível avaliar suas limitações diante da complexa rede de transações comerciais que caracterizam a Economia: o estudo de como a sociedade administra seus recursos escassos (MANKIW, 1997). Palavras-chave: Economia, ortodoxia, mercado, trabalho, Mankiw. INTRODUÇÃO A princípio, é fundamental dar uma ênfase aos 10 Princípios da Economia, discutidos por Gregory Mankiw, os quais são relevantes para a definição ortodoxa do mercado de trabalho. Segundo o autor supracitado, as dinâmicas econômicas devem ser avaliadas segundo as seguintes proposições: 1. As pessoas enfrentam tradeoffs; 2. O custo de uma coisa é o que você abre mão para obtê-la; 3. Pessoas racionais pensam na margem; 4. As pessoas reagem a incentivos; 5. O comércio pode beneficiar a todos; 6. Mercados são uma boa maneira de organizar a atividade econômica; 7. O governo pode melhorar o resultado dos mercados; 8. O padrão de vida de um país depende de sua produtividade; 9. Os preços aumentam quando o governo imprime muito dinheiro; 10. A sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre desemprego e inflação. Ademais, é válido ressaltar que o pensamento do autor se enquadra proeminentemente na denominada macroeconomia, devido ao emprego de conceitos abrangentes (como desemprego natural) e de variáveis agregadas (tal qual inflação e crescimento econômico), os quais visam apurar questões globais e políticas econômicas que afetam a economia como um todo. No entanto, é relevante mencionar que há também uma forte presença de análises microfundamentadas, em especial, pelo uso de conceitos tradicionais desse escopo: como as curvas de oferta e demanda, bem como a determinação de salários e produtividades marginais. Portanto, à luz dessas ideias, é possível chegar a conclusões pertinentes ao objeto de estudo. Pessoas enfrentam tradeoffs e o custo de uma coisa é o que você abre mão para obtê-la Para avaliar a decisão dos atores econômicos por ofertar trabalho, é necessário entender o tradeoff existente entre lazer e trabalho. Nesse sentido, os ortodoxos sempre buscam explicar o comportamento dos atores por meio dos custos de oportunidade de cada decisão; o custo de se trabalhar é não ter lazer, enquanto o custo do ócio é não ser remunerado. Desse modo, uma pessoa pode preferir prezar pelo seu ócio ou por ofertar mão de obra, comportamento que varia conforme as condições sociais, a remuneração, fatores subjetivos e mesmo às estruturas do mercado que definem os custos de oportunidade e levam à decisão final. No exemplo de uma pessoa aposentada, trabalhar não traz tantos benefícios quanto descansar, afinal a mesma já possui uma renda fixa, além de estar em um estágio da vida ao qual, por não deter mais tanta disposição, inclina-se ao lazer. Por conseguinte, como há um custo maior associada ao trabalho, essa pessoa, racionalmente, seria levada a não ofertar mão de obra. Pessoas racionais pensam a margem e as pessoas reagem a incentivos No mercado de trabalho, empregadores e trabalhadores tomam decisões com base na avaliação de custos e benefícios marginais. Trabalhadores consideram se vale a pena trabalhar mais horas, mudar de emprego ou adquirir novas habilidades, comparando o salário adicional com o custo de tempo. Da mesma forma, empregadores decidem quantos trabalhadores contratar ou quantas horas extras oferecer, pesando o custo do trabalho adicional contra os benefícios. Essa abordagem, central na análise microeconômica de Mankiw, destaca a lógica de otimização marginal guiada por incentivos. Tal afirmação é consonante ao ideário do pensador, o qual afirma que: "As pessoas respondem a incentivos. Se o salário para um determinado tipo de trabalho aumenta, as pessoas estão mais dispostas a trabalhar nesse tipo de emprego, aumentando a oferta de trabalho. Da mesma forma, um aumento nos salários pode levar os empregadores a contratar menos trabalhadores, reduzindo a demanda por trabalho.” (MANKIW, Gregory. 1997). O comércio pode beneficiar a todos e mercados são uma boa maneira de organizar a atividade econômica O entendimento de que o comércio pode ser benéfico a todos, no contexto laboral, pode ser simplificado pelo fato de ambos os atores do mercado de fatores de produção (ofertantes e demandantes) serem auto interessados nesse processo produtivo, obtendo remuneração e lucro respectivamente. Nesse cenário, torna-se mais produtivo, portanto, dispender uma análise mais criteriosa do próximo princípio: mercados são uma boa maneira de organizar a atividade econômica. Sob tal ótica, tal fato é defendido em função da “Mão Invisível”, afinal, assim como afirma Adam Smith: "Não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo próprio interesse. Não é por sua humanidade, mas por seu amor-próprio, que eles se guiam. E ao tratar de seu próprio interesse, eles são conduzidos por uma mão invisível a promover um fim que não fazia parte de sua intenção.” (SMITH, Adam. 1776). E é justamente por isso que Gregory Mankiw enfatiza que: "Em um mercado livre, os preços se ajustam para equilibrar a oferta e a demanda. Esses preços guiam as decisões dos indivíduos, que acabam por maximizar o bem-estar da sociedade como um todo, mesmo que não tenham essa intenção.” (MANKIW, Gregory. 1997). Destarte, assim como qualquer mercado, o de mão de obra, também é eficiente na medida em que, em linhas gerais, é conduzido de forma autônoma - orientando-se via preços, interesses racionais e decisões marginais. Enquanto a demanda por mão de obra é derivada da demanda populacional por um bem, de maneira similar, a oferta de trabalho também é guiada pelos salários e benefícios oferecidos em diferentes empregos. Como efeito, possibilita-se o cálculo racional que define quanto de lazerabrir mão em prol do trabalho, cálculo esse que é espontâneo nas relações comerciais, o que caracteriza a “mão invisível” do mercado. Além disso, é imperativo salientar que esse ideário se restringe a uma dinâmica econômica perfeitamente competitiva, ou seja, em que há atores suficientes de modo que estes sejam apenas tomadores de preços. A análise de estruturas diferentes dessas (como os monopólios e oligopsônios serão discutidas separadamente). Por fim, é importante esclarecer que essa maximização do bem-estar social somente pode ser alcançada até se chegar em um quadro denominado: “Ótimo de Pareto”, ao qual é impossível melhorar a vida de alguém sem piorar a de outra pessoa, alcançando, portanto, o limite de satisfação dentro daquele corpo-social. O governo pode melhorar o resultado dos mercados Se há uma “Mão Invisível”, a qual coordena as relações comerciais, em quais cenários faz-se necessária a atuação governamental? Para se responder isso, é necessário visualizar um outro lado da realidade econômica: as competições imperfeitas, marcadas por falhas de mercado e por indivíduos capazes de influenciar preços. Essas falhas devem ser analisadas em duas realidades: a existência de monopólios ou de monopsônios. Uma empresa monopolista produz menos de um bem do que uma empresa competitiva; reduzindo a quantidade colocada à venda, a empresa monopolista se move ao longo da curva de demanda por seu produto, elevando o preço e o lucro que obtém. De maneira similar, uma empresa que seja monopsonista em um mercado de trabalho contrata menos trabalhadores do que uma empresa competitiva; reduzindo o número de empregos disponíveis, ela se move ao longo da curva de oferta de trabalho, reduzindo o salário que paga e elevando seus lucros. Com isso, tanto os monopolistas quanto os monopsonistas reduzem a atividade econômica de um mercado, colocando-a abaixo do nível socialmente ótimo. Nos dois casos, a existência do poder de mercado distorce o resultado e causa peso morto. A obra em pauta não apresenta o modelo formal de monopsônio porque, no mundo real, os monopsônios são raros. Na maioria dos mercados de trabalho, os trabalhadores têm muitos empregadores possíveis e as empresas competem entre si para atrair trabalhadores. Neste caso, o modelo de oferta e demanda é o melhor modelo a ser utilizado. Entretanto, ainda que raros, há relatos recentes de monopsônios relevantes para elucidar os efeitos nocivos desse tipo de estrutura. Exemplo pragmático da atuação estatal na resolução de falhas de mercados JBS e Tyson Foods são duas das maiores empresas de processamento de alimentos do mundo, especializadas principalmente na produção e comercialização de carnes. Empresas como as citadas dominam o mercado e são os principais empregadores em muitas áreas rurais, onde poucas outras oportunidades de emprego estão disponíveis. No modelo de monopsônio, há um único comprador no mercado de trabalho. Essa estrutura de mercado permite que o empregador tenha poder de mercado sobre o salário que paga aos seus trabalhadores. A empresa monopsônica enfrenta uma curva de oferta de trabalho que não é perfeitamente elástica, o que significa que, para contratar mais trabalhadores, a empresa precisa oferecer salários mais altos. No entanto, ao fazer isso, o monopsônio também eleva os salários dos trabalhadores já empregados. No caso das empresas de processamento de carne, essas empresas são muitas vezes as únicas opções de emprego estável nas áreas onde operam. Isso permite que elas definam salários mais baixos do que em um mercado de trabalho competitivo. Justamente em função da acusação de práticas monopsonistas que, em 2021, JBS e Tyson fecharam um acordo judicial nos EUA, comprometendo-se a pagar US$ 55 milhões e US$ 72,25 milhões, respectivamente, após serem acusadas de pagar salários menores a funcionários de seus frigoríficos. O processo, que envolve outras empresas como Perdue, Seaboard Foods e Triumph Foods, está em um tribunal do Colorado. A decisão judicial destaca que as empresas eram acusadas de manter salários baixos e de compartilhar informações salariais confidenciais. Como parte do acordo, JBS e Tyson devem fornecer dados salariais. Desde o ano passado, Tyson e Perdue Farms estão sob investigação do Departamento de Trabalho dos EUA. O padrão de vida de um país depende da sua produtividade Segundo os economistas ortodoxos, o salário de um indivíduo é equivalente à sua produtividade (medida pelo valor do produto marginal), levando a conclusão de que trabalhadores mais produtivos recebem mais. Para comprovar isso, o livro Introdução à Economia traz a seguinte tabela retirada de dados do Economic Report of the President 2002: A partir da análise desses dados estatísticos, é intuitivo conceber a relação intrínseca entre salário e produtividade nesse recorte temporal. No entanto, a partir das grandes crises econômicas do século XX e XXI (a crise de 29 e de 2008), o pensamento ortodoxo como um todo foi alvo de intensas críticas frente a percepção de que, nem sempre, o mundo é orientado pela oferta. Afinal, mesmo com uma alta produção, uma demanda equiparável não havia sido gerada. Justamente em função disso, modelos keynesianos retornaram com grande força nos discursos de grandes economistas, denotando a complexidade do quadro econômico. Nessa mesma lógica, um dos fatores que mais produziram questionamentos ao pensamento Mainstream foi o descolamento dessa relação entre produtividade e remuneração que, cada vez mais, perderam sua paridade. Essa desconexão é um tema central em muitas análises sobre a desigualdade de renda e o poder de barganha dos trabalhadores, especialmente nas economias desenvolvidas, haja vista que a "boca" que se alargou entre o crescimento da produtividade e o dos salários, indica que, apesar dos trabalhadores estarem se tornando mais produtivos, os ganhos não estão sendo refletidos em seus salários. Em função disso, Lawrence Mishel, economista do Economic Policy Institute (EPI), conclui que: "Desde os anos 1970, a produtividade dos trabalhadores americanos continuou a crescer de forma constante, mas os salários médios reais (ajustados pela inflação) estagnaram. Isso significa que os trabalhadores estão gerando mais riqueza, mas não estão sendo pagos de forma proporcional a essa contribuição." (ECONOMIC POLICY INSTITUTE. 2002). Os preços aumentam quando o governo imprime muito dinheiro e a sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre desemprego e inflação O impacto da emissão de moeda no mercado de trabalho é significativo, uma vez que a injeção excessiva de dinheiro na economia tende a provocar um aumento nos preços. Este fenômeno, conforme destacado por Mankiw, resulta em inflação, que, por sua vez, diminui o poder aquisitivo dos salários, afetando diretamente o custo de vida dos trabalhadores. À medida que os preços sobem, é comum que os empregados busquem reajustes salariais para mitigar os efeitos da inflação, o que pode desencadear uma dinâmica de aumento contínuo de preços e salários, onde os ganhos salariais não conseguem acompanhar a elevação dos preços, resultando em uma perda do poder de compra real. Por outro lado, a relação entre desemprego e inflação é complexa e pode ser compreendida através do conceito de tradeoff de curto prazo, conforme descrito na Curva de Phillips. Ao implementar políticas monetárias expansionistas para reduzir o desemprego, como a ampliação da oferta de moeda, pode-se observar uma diminuição inicial nas taxas de desemprego. Contudo, essa estratégia frequentemente resulta em um aumento da inflação. Em um contexto de inflação elevada, os bancos centrais podem ser forçados a elevar as taxas de juros para conter a inflação, o que pode, paradoxalmente, elevar o desemprego, evidenciando o desafio que a política monetária enfrenta ao tentar equilibrar o controle da inflação e a manutenção do emprego. Em última análise, a emissão excessiva de moeda pelo governo eleva os preços e provoca inflação, o que afeta o mercado de trabalho ao pressionar os trabalhadoresa buscar aumentos salariais. Isso pode gerar um ciclo vicioso, onde os salários não acompanham a inflação, reduzindo o poder de compra. A relação entre desemprego e inflação, como mostrado na Curva de Phillips, sugere que políticas para diminuir o desemprego podem aumentar a inflação, levando os bancos centrais a tomar medidas que podem elevar o desemprego, complicando a situação do mercado de trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ECONOMIC POLICY INSTITUTE. Economic report of the president 2002. Washington, D.C.: Economic Policy Institute, 2002. JBS e Tyson Foods fecham acordo judicial de US$ 127,25 milhões em ação nos EUA. Mercado e Consumo, 13 mar. 2024. Disponível em: . Acesso em: 14 ago. 2024. MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia. São Paulo: Thomson Learning, 1997. SMITH, Adam. A riqueza das nações. Tradução de Luiz João Baraúna. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1996. image1.jpeg image2.png