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UNIDADE 3 TÓPICO 2 149 H I S T Ó R I A D O B R A S I L C O L O N I A L da esquadra. O navio Príncipe Real, que conduziu D. João, aportou em Salvador, mas outros rumaram para o Rio de Janeiro. Foi no dia 22 de janeiro de 1808, após 54 dias em alto mar, que o Príncipe Real chegou ao Brasil. Thomas O’Neil (2007, p. 69) publicou uma carta que fala do transporte da Corte através do oceano Atlântico: Tivemos sorte de estar na companhia de Sua Alteza Real, que parou aqui (São Salvador) por falta de provisões. Minha pena é inadequada para des- crever a situação angustiosa das pobres mulheres que superlotaram a nau: estando desprovidas do que lhes seria necessário, iquei espantado de ver como superaram as diiculdades. Hoje de manhã morreu o duque de Caraval, literalmente sucumbiu de tristeza. Soube que ele era um dos principais idalgos de Portugal e homem de caráter exemplar. Acho realmente que ele passava fome na viagem, e espero que o príncipe desembarque todos aqui, para evitar cenas de infortúnio. Após um mês em Salvador, D. João chegou no Rio de Janeiro. O Pão de Açúcar daria as boas-vindas a essa tripulação e a seu comandante (sir Sidney Smith, que era conhecido como “Leão do Mar”) acostumado a tantas guerras e batalhas. Por outro lado, os ares dos trópicos, encantados com o clima, as árvores, as frutas e as gentes do local (SCHWARCZ, 2007, p. 43). 5 a CHEGada O príncipe regente D. João VI, sua mãe e rainha D. Maria, e a família real desembarcaram no Rio de Janeiro no dia 8 de março de 1808. A chegada da corte real causou grande mobilização na cidade. Houve uma verdadeira festa popular. As ruas estavam atapetadas de areia da praia e ervas aromáticas, colchas de Goa tremulavam nas varandas e os sinos repicavam. [...] À medida que a Corte descia dos navios, era recebida com uma chuva de lores e plantas odoríferas. Na frente da igreja do Rosário, sacerdotes paramentados com pluviais de seda incensavam os viajantes recém-chegados, enquanto o ar era sacudido por fanfarras, foguetes e o matraquear da artilharia (DEL PRIORE, 2001, p. 187). Este ato público simbólico representou o início dos novos tempos para a capital do Império, mas também para o Brasil. Até mesmo o calendário foi modiicado, dia 13 de maio, aniversário do príncipe, passou a ser celebrado com festas. Para que a nobreza pudesse ser instalada, foram desocupadas casas e mansões de pessoas importantes da colônia, este ato icou conhecido como “aposentadorias”. As melhores casas foram escolhidas para abrigar a comitiva real. As letras P e R (Príncipe Regente) eram pintadas nas portas das casas escolhidas. A Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, passou a ser a residência da família real. A mansão da Quinta foi cedida pelo comerciante português Elias Antônio Lopes. UNIDADE 3TÓPICO 2150 H I S T Ó R I A D O B R A S I L C O L O N I A L 6 a aBErtUra dos Portos Antes mesmo de Dom João chegar ao Rio de Janeiro, ele havia decretado a abertura dos portos do Brasil às chamadas “nações amigas”, em especial à Inglaterra. A Carta Régia, que documenta a abertura, é de 28 de janeiro de 1808, foi redigida por José da Silva Lisboa, um leitor apaixonado do economista liberal Adam Smith. Este documento contrariava o Pacto Colonial (o monopólio comercial que Portugal detinha para fazer comércio com o Brasil). Segundo Boris Fausto (2007, p. 122): A abertura dos portos foi um ato historicamente previsível, mas ao mesmo tem- po impulsionado pelas circunstâncias do momento. Portugal estava ocupado por tropas francesas, e o comércio não podia ser feito através dele. Para a Coroa era preferível legalizar o extenso contrabando existente entre a Colônia e a Inglaterra e receber os tributos devidos. A Inglaterra foi a principal bene- iciária da medida. O Rio de Janeiro se tornou porto de entrada dos produtos manufaturados ingleses [...]. Com a abertura houve modiicação dos valores das tarifas alfandegárias. Os gêneros denominados molhados (azeite, vinho e aguardente) passaram a custar o dobro do preço para serem comercializados no Brasil. As outras mercadorias, os gêneros secos, pagariam uma taxa de 24% ad valorem (sobre seu valor). Por sua vez, os estrangeiros podiam levar para fora do Brasil produtos coloniais, exceto o pau-brasil. Porém, a Inglaterra passou a pagar taxas diferenciadas, 16% ad valorem sobre os gêneros secos e 30% menos dos impostos estabelecidos para os molhados. Estas medidas diminuíram o contrabando e acabaram enchendo o mercado brasileiro de produtos ingleses. O mercado icou inteiramente abarrotado; tão grande e inesperado foi o luxo de manufaturas inglesas no Rio, logo em seguida à chegada do príncipe regente, que os aluguéis das casas para armazená-las elevaram-se vertiginosamente. A baía estava coalhada de navios e, em breve, a alfândega transbordou com o volume das mercadorias. Montes de ferramentas e de pregos, peixe salgado, montanhas de queijo, chapéus, caixas de vidro, cerâmica, cordoalha, cervejas engarrafadas em barris, tintas, gomas, resinas, alcatrão etc., achavam-se ex- postos não somente ao sol e à chuva, mas à depredação geral (MAWE apud SODRÉ, 1969, p. 141). O comércio internacional se intensiicou ainda mais com o Tratado de 1810 entre Portugal e Inglaterra. Este tratado foi “o preço pago por Portugal à Inglaterra pelo auxílio que Foi este cenário que marcou os primeiros momentos da chegada da família real no Rio de Janeiro. Mas as mudanças estavam apenas começando. UNIDADE 3 TÓPICO 2 151 H I S T Ó R I A D O B R A S I L C O L O N I A L dela recebera na Europa” (HOLANDA et al., 2003, p. 93). Entenda-se que o “auxílio” foi a escolta da marinha inglesa, que acompanhou a Corte na travessia oceânica. A Inglaterra obteve concessão especial, e a partir daquela data passou a pagar apenas 15% ad valorem. Os tratados comerciais anteriores foram abolidos. Até mesmo as mercadorias portuguesas tinham taxas mais elevadas, 16% sobre o valor da mercadoria. “Tal concessão teve resultados vários: impediu o desenvolvimento da indústria no Brasil, pois seus produtos não podiam concorrer com as mercadorias inglesas vendidas a preços muito baixos” (HOLANDA et al., 2003, p. 96). Alguns dos principais artigos do Tratado de 1810, denominados Aliança e Amizade e Comércio e Navegação, foram os seguintes (ALENCAR, 1985, p. 83-84): • Os dois reinos se apoiariam mutuamente, sendo que de imediato a Inglaterra apoiaria a invasão da Guiana Francesa, consequência da declaração de guerra lançada por Dom João, assim que chegou ao Brasil. • A Coroa britânica ratiicava seu apoio integral aos Braganças. • A Inglaterra teria renovados seus direitos sobre a ilha da Madeira e ganharia um porto neutro na ilha de Santa Catarina. • A Inglaterra teria o direito de cortar madeiras, como o jacarandá e o vinhático, construir navios e manter permanentemente uma esquadra de guerra no litoral brasileiro. • Os súditos ingleses aqui residentes teriam garantida sua liberdade religiosa, com a não instalação da Inquisição, e seriam julgados em qualquer caso pelos Juízes Conservadores (nomeados pela Inglaterra), “reconhecida a superioridade da jurisprudência britânica”. • O governo português comprometia-se a abolir gradualmente o trabalho escravo. De imediato, o tráico icava limitado às colônias portuguesas na África. • A Inglaterra obtinha o direito de reexportação de gêneros tropicais. Além do já citado acordo alfandegário (taxas a 15% ad valorem), estes foram os pontos acordados entre Portugal e Inglaterra, que perduraram por 14 anos. Porém, a elite luso-brasileira não aceitou os termos deste contrato. Acusando o governo de traição, agiam na verdade com o objetivo de defender suas propriedades; em especial seus escravos. E, como não podia ser diferente, a Igreja Católica também se manifestou contra a Aliança. a) expulsar os contrabandistas de pau-brasile combater os holandeses instalados em Pernambuco. b) garantir as terras brasileiras para Portugal, nos termos do Tratado de Tordesilhas, e expulsar os invasores estrangeiros. c) instalar núcleos de colonização estável, baseados na pequena propriedade familiar, e escravizar os indígenas. d) estabelecer contatos com as civilizações indígenas locais e combater os invasores franceses na Bahia. e) nenhuma das opções está correta. 85 - (ENEM) Os tropeiros foram figuras decisivas na formação de vilarejos e cidades do Brasil colonial. A palavra tropeiro vem de "tropa" que, no passado, se referia ao conjunto de homens que transportava gado e mercadoria. Por volta do século XVIII, muita coisa era levada de um lugar a outro no lombo de mulas. O tropeirismo acabou associado à atividade mineradora, cujo auge foi a exploração de ouro em Minas Gerais e, mais tarde, em Goiás. A extração de pedras preciosas também atraiu grandes contingentes populacionais para as novas áreas e, por isso, era cada vez mais necessário dispor de alimentos e produtos básicos. A alimentação dos tropeiros era constituída por toucinho, feijão preto, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá e coité (um molho de vinagre com fruto cáustico espremido). Nos pousos, os tropeiros comiam feijão quase sem molho com pedaços de carne de sol e toucinho, que era servido com farofa e couve picada. O feijão tropeiro é um dos pratos típicos da cozinha mineira e recebe esse nome porque era preparado pelos cozinheiros das tropas que conduziam o gado. Disponível em http://www.tribunadoplanalto.com.br. Acesso em: 27 nov. 2008. A criação do feijão tropeiro na culinária brasileira está relacionada à a) atividade comercial exercida pelos homens que trabalhavam nas minas. b) atividade culinária exercida pelos moradores cozinheiros que viviam nas regiões das minas. c) atividade mercantil exercida pelos homens que transportavam gado e mercadoria. http://www.tribunadoplanalto.com.br/ d) atividade agropecuária exercida pelos tropeiros que necessitavam dispor de alimentos. e) atividade mineradora exercida pelos tropeiros no auge da exploração do ouro. 86 - (FM Petrópolis RJ) Entre o final do século XVI e o início do XVIII, o território que deu origem à cidade de São Paulo se tornou núcleo de um fenômeno novo. Local de partida de inúmeras expedições que adentravam o interior do território da América Portuguesa, dali os bandeirantes rumavam para oeste. Seu objetivo principal, durante a maior parte daquele período, foi o apresamento de índios para escravização. Uma das consequências mais importantes do bandeirantismo para a História do futuro Estado brasileiro foi a a) predominância de mão de obra indígena na lavoura de cana. b) descoberta de diamantes na fronteira sul da América Portuguesa. c) expansão da ocupação do território para além da linha de Tordesilhas. d) atração de grande quantidade de órgãos burocráticos para São Vicente. e) dinamização da economia na região que viria a ser a locomotiva do país. 87 - (IFRS) A produção do açúcar no Brasil colonial foi financiada durante décadas pelos bancos holandeses, pois o empreendimento do engenho demandava um grande investimento que, no século XVI, os cofres portugueses ainda não dispunham. Contudo, no século XVII essa relação comercial entre Portugal e Holanda foi encerrada, fato que resultou em consequências bastante significativas para o Brasil, pois, em 1630, a famosa empresa comercial holandesa “Companhia das Índias Ocidentais” organizou a invasão à Capitania de Pernambuco no nordeste brasileiro. Essa crise política entre Portugal e Holanda resultou de um evento muito importante ocorrido na Europa entre os séculos XVI e XVII. Falamos aqui a) da União Ibérica. b) das Guerras Napoleônicas. c) dos Atos de Navegação instituídos por Oliver Cromwell. d) da Guerra entre Espanha e Inglaterra. e) da Guerra dos Cem Anos. 88 - (Mackenzie SP) “Meu avô foi buscar prata, mas a prata virou índios. Meu avô foi buscar índio, mas o índio virou ouro. Meu avô foi buscar ouro, mas o ouro virou terra. Meu avô foi buscar terras e a terra virou fronteira. Meu avô, ainda intrigado, foi modelar a fronteira: E o Brasil tomou a forma de harpa. (Martim Cererê - Cassiano Ricardo)