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LIVRO 2 BNCC, OS DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO E OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS LIVRO 2 Sumário 1. DOCUMENTO NORMATIVO QUE DIALOGA COM AS INFÂNCIAS 1.1 O DESENVOLVIMENTO DOS DIREITOS DE APRENDIZAGEM DOS BEBÊS E DAS CRIANÇAS 1.2 OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS 2. EXPERIÊNCIAS DE APRENDIZAGEM 3. O PLANEJAMENTO COM INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA PARA PROMOVER EXPERIÊNCIAS PARA BEBÊS E CRIANÇAS 3.1 INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA E A RELAÇÃO COM A ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS E TEMPOS. REFERÊNCIAS Todos juntos somos fortes Somos flecha e somos arco Todos nós no mesmo barco Não há nada pra temer Ao meu lado há um amigo Que é preciso proteger Todos juntos somos fortes Não há nada pra temer E no mundo dizem que são tantos Saltimbancos como somos nós. Chico Buarque Neste livro, trataremos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e da sua importância para as práticas pedagógicas na Educação Infantil. Entenderemos como os direitos de aprendizagem e os campos de experiência respeitam os direitos da infância brasileira e oferecem, como direito, uma Educação Infantil de qualidade, inclusiva e democrática. Desse modo, ao final deste livro, espera-se que o professor compreenda o seu papel nas ações contínuas de refletir, ampliar e transformar as concepções que fundamentam a sua prática pedagógica junto aos bebês e às crianças, reconhecendo as especificidades da infância e da Educação Infantil. 1. DOCUMENTO NORMATIVO QUE DIALOGA COM AS INFÂNCIAS Como vimos, a concepção que temos de criança, hoje, nos permite vê-la como um indivíduo que tem necessidades, como um sujeito histórico e de direitos. De criança como ativa no processo educacional, dando visibilidade às expectativas dela em relação à escola, aos conhecimentos e saberes que já possui, estimulando o respeito à sociedade, à cultura, à diversidade. Temos como função contribuir para acolher e assegurar o direito dos bebês e das crianças no processo de aprendizagem na educação infantil, assegurando a integralidade de um ser que procura dar sentido às coisas do mundo para constituir-se. Para falarmos sobre documento orientador de currículos, foi necessário compreender a concepção de crianças atual que está envolvida no processo, com o intuito de garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento para todas as crianças. Esta formação tem o intuito de apoiar os educadores em suas inquietações profissionais para que busquem respostas para as vivências diárias, nas especificidades das demandas de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, nas relações com seus pares. O importante é apoiar as crianças, desde bebês, em todas as suas experiências cotidianas na Educação Infantil na construção de uma relação positiva com a instituição educacional, no fortalecimento de sua autoestima, no interesse e curiosidade pelo conhecimento do mundo, na familiaridade com diferentes linguagens, na aceitação e acolhimento das diferenças entre as pessoas. Para isso, é necessário pensar em um currículo sustentado nas relações, nas interações e em práticas educativas intencionalmente voltadas para as experiências concretas da vida cotidiana, para a aprendizagem da cultura, pelo convívio no espaço da vida coletiva e para a produção de narrativas, individuais e coletivas, através de diferentes linguagens (MEC, 2009). Como vimos no módulo anterior, no cotidiano dos bebês e das crianças na instituição de Educação Infantil, as interações e a brincadeira devem ser concebidas como os eixos estruturantes nas práticas pedagógicas que promovem os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança: conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se (BRASIL, 2017). Isso é um compromisso, firmado nacionalmente com as crianças da Educação Infantil, que precisa ser garantido, por se tratar de direitos, pelos professores na organização do planejamento pedagógico, perpassando todas as ações pedagógicas, de modo a promover o bem-estar, a aprendizagem e o desenvolvimento integral de bebês e crianças. IMPORTANTE DIALOGANDO COM A BNCC Os direitos expressos na BNCC (BRASIL, 2017) devem ser o objeto de reflexão de todos os que fazem o cotidiano da Educação Infantil. Isto é, além dos professores, gestores, pessoal de apoio, porteiros, assistentes e outros profissionais devem buscar a efetivação dos seis direitos de aprendizagens e desenvolvimentos de bebês e crianças. PARA SABER MAIS A Educação Infantil deve garantir a todas as crianças seis grandes direitos de aprendizagem propostos pela BNCC: • Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. • Brincar de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), de forma a ampliar e diversificar suas possibilidades de acesso a produções culturais. A participação e as transformações introduzidas pelas crianças nas brincadeiras devem ser valorizadas, tendo em vista o estímulo ao desenvolvimento de seus conhecimentos, sua imaginação, criatividade, experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. • Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. • Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. • Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. PARA PENSAR Na busca de auxiliar na consolidação dos direitos de aprendizagem das crianças, estabelecidos na BNCC e de direcionar o olhar dos profissionais da educação infantil com o intuito de revisá-lo, atualizá-lo e, sobretudo, torná-lo vivo no dia a dia da instituição, apresentamos algumas perguntas para possibilitar a reflexão para garantia dos direitos das crianças: 1. DIREITO DE CONVIVER - Como organizar os grupos de modo a permitir a convivência entre as crianças de diferentes agrupamentos? - Com que frequência as crianças de diferentes grupos etários se relacionam? - Como tem sido o convívio das crianças com as diferentes linguagens, cultura local, natureza, transformações, materiais, tecnologias, práticas sociais e de higiene? - A convivência ocorre de forma democrática, sem imposições ou restrições? 2. DIREITO DE BRINCAR - As crianças têm oportunidades diversificadas para escolher suas atividades, assim como com quem desejam brincar? - As brincadeiras propostas consideram o repertório que as crianças apresentam, com o intuito de ampliar esse repertório? - Como os espaços têm sido utilizados paraas brincadeiras? - Nas brincadeiras, estão previstos o uso de materiais diversificados? - Com que frequência as crianças têm oportunidades de criar suas próprias brincadeiras? 3. DIREITO DE PARTICIPAR - Como estão organizadas as situações de escuta às crianças? Quais ações de incentivo à participação têm sido planejadas? - Como estão sendo organizados os modos para que as crianças opinem sobre a gestão dos espaços e das propostas a serem vivenciadas? - Os combinados possuem opções reais? São exequíveis? - As crianças escolhem as documentações que desejam compartilhar com os familiares? - Todos os educadores apoiam e valorizam a participação das crianças nas diferentes atividades do cotidiano? 4. DIREITO DE EXPLORAR - As organizações dos diferentes espaços da instituição permitem a exploração pelas crianças? - Quais oportunidades de exploração têm sido organizadas? Os interesses das crianças são considerados? - Quais tipos de literatura têm sido oportunizados para exploração? A cultura local tem sido considerada? - Todos os educadores incentivam e buscam enriquecer a exploração pelas crianças? Quais materiais têm sido disponibilizados? 5. DIREITO DE EXPRESSAR - De que formas as opiniões e crenças das crianças têm sido consideradas? - As formas de expressão contemplam as diferentes linguagens? - Necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses e questionamentos têm sido acolhidos e ampliados? - Todos os educadores incentivam e buscam enriquecer a expressão e a produção das crianças? 6. DIREITO DE CONHECER-SE - Como o acolhimento às diferenças existentes na comunidade tem sido efetivado por todos os educadores? - Todos os grupos étnicos estão representados nos livros, nas paredes, em todas as organizações? - Os gostos e as preferências têm sido observados de quais formas? - Em quais oportunidades as crianças veem a si mesmas e aos colegas dos diferentes grupos em ação? Portanto, como os direitos estão sendo concretizados na Escola de Educação Infantil? Que tal organizar momentos de diálogo e reflexão com todos os profissionais sobre as questões apontadas no referido documento? 1.1 O DESENVOLVIMENTO DOS DIREITOS DE APRENDIZAGEM DOS BEBÊS E DAS CRIANÇAS É preciso que haja clareza sobre a importância de garantir os seis direitos aos bebês e às crianças. Pois é na primeira infância que ocorrem mudanças que tornam essa etapa muito importante para o desenvolvimento de todo ser humano. Apresentamos, anteriormente, alguns questionamentos importantes que podem ser refletidos para transformar. A seguir, apresentaremos algumas propostas, pensadas pelo instituto Avisa Lá, para possibilitar a garantia dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos bebês e das crianças da Educação Infantil. PARA SABER MAIS Entenda melhor como efetivar cada um dos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, seguindo orientações da especialista Maria Virgínia Gastaldi, do Instituto Avisa Lá: 1. Conviver O que diz a BNCC: "Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas". (BNCC, p. 38) Como garantir esse direito: Situações em que os pequenos possam brincar e interagir com os colegas são fundamentais, mas não apenas elas. Jogos, por exemplo, são importantes para que as crianças convivam em uma situação em que precisam respeitar regras. Permitir que as crianças participem da organização da convivência do grupo, então, envolvê-las nas tarefas que viabilizam o cotidiano, como organizar o ambiente das refeições ou acomodar os brinquedos."Quando falamos em conviver, estamos falando numa educação que pensa no outro", explica Maria Virgínia. 2. Brincar O que diz a BNCC: "Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais". (BNCC, p. 38) Como garantir esse direito: As brincadeiras são essenciais e devem estar presentes intensamente na rotina da criança. Tratam-se de iniciativas infantis que o adulto deve acolher e enriquecer; no entanto, elas devem ser planejadas e variadas. Para isso, a partir da observação dos pequenos brincando, o professor pode disponibilizar materiais que auxiliem o desenvolvimento da brincadeira ou que conduzam a outras experiências. Ele também pode promover conversas posteriores para discutir o que observou. “Se o professor organiza boas propostas, por exemplo, bons títulos de literatura, conversas, e faz uma sequência rica, as chances de essas temáticas migrarem para as brincadeiras são grandes”, comenta Maria Virgínia. 3. Participar O que diz a BNCC: "Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando". (BNCC, p. 38) Como garantir esse direito: Um exemplo clássico dado por Maria Virgínia Gastaldi foi a construção de casinhas de brinquedo. "O professor planeja como vai fazer, separa os materiais e pede ajuda de familiares para montá-la. Quando a leva pronta à escola, fica surpreso, porque as crianças não se interessam ou estragam o brinquedo", diz. Aqui, o importante é envolver as crianças em todas as etapas, permitindo que elas ajudem a decidir como será a estrutura, quais materiais serão usados, qual será a cor etc. Então, que o professor observe o que ele já faz por elas e pode ser feito com elas. Permitir que elas participem das decisões que dizem respeito a elas mesmas e que organizam o cotidiano coletivo é fundamental. 4. Explorar O que diz a BNCC: “Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia”. (BNCC, p. 38) Como garantir esse direito: Aqui, é fundamental permitir que as crianças explorem sozinhas diferentes materiais fornecidos pelo professor. "Não é por meio de 'aulinhas', em que o professor senta na frente da sala e diz 'isso é madeira, isso é isopor'", destaca a especialista. Além da exploração de elementos concretos, é importante explorar os elementos simbólicos, permitindo que as crianças explorem músicas e histórias, por exemplo. Criar momentos de reflexão e, a partir da observação e escuta, que o professor perceba o que é pertinente e necessário para os pequenos. 5. Expressar O que diz a BNCC: "Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens". (BNCC, p. 38) Como garantir esse direito: Rodas de conversa são imprescindíveis para que as crianças tenham seu direito garantido. É importante que essas situações sejam frequentes para que o professor apresente materiais variados para que a criança explore e se expresse a partir de diferentes linguagens. “Expressar é posterior ao explorar, só se pode expressar quando conhece”, afirma a especialista. Promover ambientes interessantes de expressão com diferentes pessoas e situações ajuda a garantir este direito. Outro recurso essencial é a criação de momentos de fala, nos quais ambas as partes escuteme se expressem. Além disso, criar conselhos e assembleias em que os pequenos votem e argumentem sobre decisões que afetam o coletivo também ajuda nessa tarefa. 6. Conhecer-se O que diz a BNCC: "Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário". (BNCC, p. 38) Como garantir esse direito: Boa parte das atividades ajuda a garantir esse direito, mas há estratégias para pensar especificamente sobre ele. Neste momento, é importante que o professor ajude a que eles se percebam, aprendam do que gostam, para isso o professor pode, a partir da observação, criar situações simples, mas que os auxiliem a descobrir a si próprios e aos outros. Com os bebês, Virgínia cita, como exemplo, situações em que eles podem ficar em frente a espelhos e se observar. Os momentos de banho, alimentação e troca de fraldas também são ricos para essa aprendizagem: ao se sentir cuidado e ao aprender a cuidar de si, a criança desperta a consciência sobre seu corpo. "Quando anunciamos para um bebê onde vamos tocá-lo e o que faremos com ele, criamos a primeira oportunidade para que se reconheça como pessoa e não como objeto", destaca a especialista. Fontes: Fernanda Pinho, mestre em Educação e coordenadora de projetos do Instituto Natura e Maria Virgínia Gastaldi, mestre em Educação - Psicologia da Educação na PUC-SP e coordenadora de projetos e formadora do Instituto Avisa Lá. PARA SABER MAIS Cuidar e educar uma criança não é um conhecimento que surge automaticamente, ele é adquirido por meio da experiência, com erros e acertos e muitos estudos. O importante é ter consciência da importância das suas funções e refletir sobre elas, podendo valorizá-las, corrigi-las ou substituí-las, se for o caso, por atitudes norteadas por tolerância, amor e acolhimento, que são elementos básicos para sustentar a construção da subjetividade do indivíduo. Esse é o objetivo do livreto que está neste link: https://drive.google.com/file/d/15Lop9aLHiUSQJ8Din5ngVZAKieQ_29FF/view?usp=s haring Temos disponibilizado também o Caderno de Educação Infantil, elaborado numa parceria entre a Fundação Volkswagen e a Revista Nova Escola. Esse material foi produzido por especialistas e reúne uma ampla abordagem das temáticas que devem ser trabalhadas em sala de referência. Link: https://drive.google.com/file/d/1KLhFNhmfDgA0i3c9eNkCpQvlJAnAUHfw/view?usp= sharing SISTEMATIZANDO O SABER É na primeira infância que são fundamentadas as bases físicas, cognitivas e socioemocionais dos bebês e das crianças, com impactos para toda a vida. É um momento de enorme relevância para a formação humana. Por isso, cada vez mais, há atenção aos direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim, por se tratar de direito, é inegociável não possibilitar práticas pedagógicas que viabilizem a garantia dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento para bebês e crianças na Educação Infantil. 1.2 OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS Os campos de experiências acolhem as vivências da vida cotidiana da criança: a capacidade de construir teorias sobre as coisas, suas narrativas associadas à cultura à qual faz parte, as descobertas de novos conceitos, que só podem ser possíveis através das interações que estabelece com seus pares e professores. Assim, não podemos compreender os campos de experiências como disciplinas a serem ensinadas e isoladas da vida cotidiana. Logo, a organização das experiências de aprendizagem por campos de experiência prevê a articulação das experiências vivenciadas pelas crianças em torno dos princípios éticos, políticos e estéticos, das condições e dos objetivos propostos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, favorecendo a visibilidade das inter-relações possíveis dentro de cada campo específico. Para cada nível da Educação Infantil, há uma organização de experiências compatíveis com a faixa etária, dentro dos mesmos campos definidos para todos os níveis. Seguindo a organização proposta pela BNCC, toma-se para organização das experiências de aprendizagem os campos: a) O eu, o outro e o nós; b) Corpo, gestos e movimentos; c) Traços, sons, cores e formas; d) Escuta, fala, pensamento e imaginação; e) Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. PARA SABER MAIS Veja o vídeo sobre os campos de experiências na Educação Infantil: https://youtu.be/StcfRxcQaeg PARA SABER MAIS A) O EU, O OUTRO E O NÓS Neste campo de experiência, a ênfase está nas especificidades do sujeito da aprendizagem. Por meio das vivências que são propostas, a criança construirá a própria identidade, compreendendo a diversidade de formas culturais existentes nas sociedades humanas, reconhecendo a si e ao outro como sujeitos de direitos e seres sociais. É importante também que as crianças possam se familiarizar com diferentes manifestações culturais da cidade e com produções que fazem parte do patrimônio cultural da humanidade, como as brincadeiras. Desde cedo, é fundamental que elas possam desenvolver a dimensão ética e estética em relação à construção de valores, e compreendam a dimensão da afetividade e das emoções, buscando sempre uma convivência harmônica com as pessoas que as cercam. B) CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS A criança está descobrindo o próprio corpo e as possibilidades de movimentos. Este campo abrange experiências de aprendizagens voltadas para a construção da corporeidade, em que possa desenvolver progressivamente as possibilidades corporais e a capacidade de controle do corpo, no sentido de realizar deslocamentos mais ágeis e seguros, com ações mais precisas dentro do espaço que ocupa. A criança precisa construir a autonomia de movimentos necessários para que possa, gradativamente, cuidar de si mesma. Para tanto, deve-se proporcionar a ela vivências para que desenvolva as percepções visual, olfativa, gustativa, auditiva, tátil e cinestésica. O desenvolvimento da corporeidade e o contato com o mundo é essencial na construção de sentidos pelas crianças. Na instituição de educação infantil se faz necessário possibilitar-lhes oportunidades de, por meio da brincadeira e da interação, explorar movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo. Na proposta desta coleção, são muitas as atividades elencadas com essa finalidade. C) TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS A Educação Infantil tem o compromisso de possibilitar às crianças uma variedade de experiências significativas para que elas possam aprender a se expressar por meio de linguagens, entre elas as linguagens da arte. Nessa etapa, as crianças precisam se aproximar do grande acervo artístico construído na trajetória cultural da humanidade e na cultura específica para que, por meio das experiências, desenvolvam a capacidade de se expressar, de atribuir sentidos ao mundo, às sensações, aos pensamentos e transformar a realidade por meio de várias modalidades da linguagem visual, plástica e musical. É preciso construir repertórios visuais cada vez mais ricos a partir da exploração das diversas formas, texturas e cores, do acesso a obras artísticas produzidas ao longo da história da humanidade e aquelas produzidas na comunidade e na cidade, desenvolver a sensibilidade artística e a capacidade de apreciar a estética. Cabe à instituição incentivar e apoiar as produções artísticas das crianças e ensinar o respeito pela produção dos colegas. Em relação à linguagem musical, é preciso proporcionar momentos para que a criança possa apreciar diversos gêneros musicais, desenvolvendo a escuta atenta, por meio do sentido da audição, possibilitando a percepção,o conhecimento e a compreensão de todos os elementos expressivos, melódicos, rítmicos e harmônicos envolvidos na música. D) ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO É no período da Educação Infantil que muitas aquisições são feitas, como falar e aprender a se comunicar. Essas importantes aquisições são apropriadas pelas crianças no trabalho com a linguagem oral e a aproximação à linguagem escrita. É fundamental desenvolver nelas a capacidade de compreender o sentido dos diversos textos orais a que têm acesso, para que possam produzir sentidos por meio da linguagem oral, em diferentes contextos de enunciação. É na Educação Infantil que as crianças podem se apropriar gradativamente dos diversos usos da linguagem oral e dos gêneros discursivos adequados aos diferentes contextos sociais, construindo narrativas orais, desenvolvendo a consciência fonológica, ampliando o vocabulário, possibilitando uma compreensão cada vez maior de si e do mundo em que vivem. Ainda nesse campo de experiência, as crianças precisam se apropriar gradativamente e progressivamente dos usos e das funções sociais da linguagem escrita, conhecendo e reconhecendo os diversos suportes e gêneros textuais da linguagem escrita. É nesse campo que elas ampliam o repertório cultural literário, desenvolvendo a sensibilidade, a criticidade, a criatividade, o gosto e o prazer pela leitura. Por isso se ressalta a importância do trabalho com a literatura infantil para que as crianças ampliem os conhecimentos estéticos e poéticos, possam desenvolver a imaginação e ainda ampliar o repertório de palavras e expressões. Nesta coleção, são promovidas diversas oportunidades para que, gradativamente, as crianças construam hipóteses sobre a escrita e apropriem-se do processo de construção do sistema alfabético de escrita. E) ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES As crianças são curiosas e buscam a compreensão do ambiente em que vivem. Nas práticas cotidianas, elas aprendem a observar, a medir, a quantificar, a contar, até mesmo antes de frequentar a instituição de educação infantil. As experiências relacionadas aos saberes e aos conhecimentos sobre noções de espaço-tempo, números-quantidades e medidas são as aprendizagens do conhecimento matemático que vão ocorrendo no processo do desenvolvimento das crianças. Na Educação Infantil, as crianças têm oportunidade de se apropriar dos diferentes usos e funções sociais do número, construindo conceito de número, das medidas e noções espaço-temporais por meio de jogos, brinquedos ou brincadeiras. Elas também têm oportunidade de aprender a representar as quantidades de formas convencionais e não convencionais, por meio de registros para representar os conhecimentos matemáticos e saber utilizá-los no cotidiano. PARA SABER MAIS A publicação, a seguir, discute, expõe, problematiza e sugere maneiras de organizar as atividades pedagógicas nas unidades de Educação Infantil — creches, centros de Educação Infantil e pré-escolas —, considerando o conceito de campo de experiências proposto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). https://drive.google.com/file/d/18eUIpvtDzyFvRxbqRc0xN0ACWsnyPSPw/view?us p=sharing 2. EXPERIÊNCIAS DE APRENDIZAGEM Os campos de experiências são uma escolha para a organização das experiências já expressas nas DCNEI (BRASIL, 2009), no artigo 9º, que promovem os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Essa disposição modifica a maneira de planejar, contribui para a percepção da criança como um ser integral e permite a flexibilidade necessária para a valorização das culturas infantis, assim como acolhe “os mundos cotidianos de experiências” de meninas e meninos. (ZUCCOLI, 2015). PARA SABER MAIS Afinal, o que os bebês fazem no berçário? | Paulo Sérgio Fochi https://youtu.be/e_ASRByoukk?list=PLXB_NWuSyXYjXdStLs8Lrxvz_uvASw2DF Nessa disposição de campos de experiências, a intencionalidade pedagógica atribui sentidos a essa organização, distanciando-se de uma visão que prioriza os conhecimentos prontos, possibilitando práticas abertas às iniciativas das crianças. Além disso, podem subsidiar as práticas das crianças isoladamente ou reunindo os objetivos de um ou mais campos e envolvem todos os momentos da jornada (diária e semanal) das crianças na Educação Infantil, incluindo o acolhimento inicial, o momento das refeições, a participação no planejamento das atividades, as festividades e os encontros com as famílias, as atividades de expressão, investigação e brincadeiras (OLIVEIRA, 2018). Enfatizamos que o trabalho pedagógico organizado por campos de experiências convoca o professor a considerar em seu planejamento espaços de fala e de escuta, em que as crianças possam se expressar por meio dos seus afetos, desejos, curiosidades e saberes. Os campos de experiências contextualizam os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento por grupo etário (bebês, crianças bem pequenas, crianças pequenas), os quais constituem-se a partir das ações, habilidades e conhecimentos experimentados pelas crianças nas vivências realizadas nas creches e pré-escolas (BRASIL, 2017). Esses objetivos ajudam a organizar aprendizagens essenciais que bebês e crianças podem experimentar aos seus modos, sempre subsidiadas pelos https://youtu.be/e_ASRByoukk?list=PLXB_NWuSyXYjXdStLs8Lrxvz_uvASw2DF eixos estruturantes das interações e da brincadeira. IMPORTANTE Lembramos que os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento expressos na BNCC (BRASIL, 2017) são organizados para serem vivenciados pelos bebês (0 - 1 anos e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses - 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos - 5 anos e 11 meses). Dessa forma, esses e outros objetivos devem ser oportunizados em várias situações no período das faixas etárias definidas pela BNCC. Por exemplo, os objetivos escolhidos para as crianças pequenas devem ser vivenciados durante toda a pré-escola, nas turmas de crianças de Infantil IV e V, sendo ampliados e diversificados de acordo com as demandas da sua turma. Esses objetivos não são metas a serem alcançadas, mas, sim, possibilidades na organização da ação docente e abrangem processos de construção de conhecimentos mediante práticas sociais vividas por bebês e crianças nos contextos de Educação Infantil. A cena apresentada abaixo, de uma turma de crianças de 1 ano e 7 meses e 3 anos e 11 meses no tanque de areia da escola, expressa esse movimento de integração entre direitos, campos de experiências e objetivos de aprendizagens. A professora Jussara Moinhos, da EMI Maria Simonetti Thomé, de São Caetano do Sul, em São Paulo, usa materiais não estruturados, como tampinhas de garrafa, para desenvolver essa experiência com as crianças. No vídeo, a especialista Paula Zurawski, formadora de docentes e professora do Instituto Vera Cruz, aprofunda as explicações e traça relações com os conceitos da Base. PARA SABER MAIS Assista ao vídeo https://youtu.be/M4-Xcl479Y4 que mostra como trabalhar os campos de experiência. Essa cena nos remete a uma concepção de criança como um indivíduo competente e construtor de cultura na interação com o meio e com os pares e evidencia, ainda, a existência de uma docente co-construtora de possibilidades, o que requer uma intencionalidade pedagógica coerente com essa imagem potente da infância, para a garantia de pluralidade de situações, de modo a promover o desenvolvimento pleno das crianças. 3. O PLANEJAMENTO COM INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA PARA PROMOVER EXPERIÊNCIAS PARA BEBÊS E CRIANÇAS A intencionalidade pedagógica se apresenta na organização e proposição de experiências que oportunizam aos bebêse às crianças conhecerem a si e ao outro, relacionarem-se com a natureza, com a cultura e com a produção científica, por meio de práticas sociais diversas, de brincadeiras, experimentações com materiais variados, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas (BRASIL, 2017). PARA PENSAR Na construção do planejamento das vivências, em que medida sua intencionalidade pedagógica vem considerando o modo como as crianças conhecem a si e interagem com os outros, com o patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico? (BRASIL, 2009). SISTEMATIZANDO O SABER Acolher interesses, saberes, curiosidades e intenções das crianças é o elemento basilar da intencionalidade pedagógica do docente na educação infantil, pressupondo uma perspectiva em que a criança é o centro do planejamento curricular (BRASIL, 2009). O planejamento pedagógico precisa ser vivo, dialogar com as necessidades e os interesses dos sujeitos envolvidos e manter uma relação entre os diferentes momentos. Para dar conta da complexidade e das especificidades dessa ação, o(a) professor(a) precisa considerar que o planejamento: - norteia o fazer cotidiano e está aberto ao inusitado; - possibilita experimentar novas ideias a partir da observação e da escuta dos interesses dos bebês e das crianças; - suscita refletir sobre a prática docente; e, - permite revisitar, redimensionar e/ou continuar o desenvolvimento de ações educativas que sejam significativas, prazerosas e desafiadoras para bebês e crianças. Com isso, além de enriquecer as práticas desenvolvidas para e com as crianças no cotidiano da instituição educativa, considerar os referidos aspectos no planejamento pedagógico, potencializa o saber e o fazer pedagógico do professor. PARA PENSAR Como a observação do cotidiano junto aos bebês e às crianças pode dar sustentação ao seu planejamento pedagógico e, consequentemente, à sua prática docente? Quais elementos observados no cotidiano podem ser considerados na busca por articular as necessidades de cada criança, os campos de experiências, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento e a experiência promovida? Em consonância com as orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009), entende-se que os sujeitos da Educação Infantil não são alunos, mas crianças. Segundo Fochi (2015, p. 40), A escolha de qual palavra dá o nome também revela o modo como nos relacionaremos e atribuiremos o papel desses sujeitos nos cenários em que a vida transcorre. [...] Ademais, situar a ideia de criança, e não mais de aluno em contextos de vida coletiva, provoca reivindicações relativas: (i) ao respeito à individualidade e contra os movimentos de homogeneização; (ii) à possibilidade da construção de um espaço, no qual adultos e crianças o habitem, de modo que as culturas adultas e infantis convirjam, deixando de lado o caráter dominante do adulto sobre a criança; e também (iii) à dimensão humana que reside sobre a ideia de que a criança que chega ao mundo – conforme destaca Malaguzzi (1995), desde a sua chegada na cena humana, é desejosa de se comunicar e de se relacionar e está engajada para experimentar o seu entorno. Diante dessa afirmativa, acreditando no potencial das crianças, as experiências de aprendizagem necessitam que instiguem a autonomia, a criatividade, a formação de um sujeito ativo, produtor de cultura. No decorrer do ano letivo, cada criança vai avançar no processo de comunicação, de autonomia e nas possibilidades de experienciar em um contexto de vida coletiva. Há séculos crianças esperam ter credibilidade. Credibilidade nos seus talentos, nas suas sensibilidades, nas suas inteligências criativas, no desejo de entender o mundo. É necessário que se entenda que isso que elas querem é demonstrar aquilo que sabem fazer. A paixão pelo conhecimento é intrínseca a elas (MALAGUZZI, 1992, p. 19 apud FARIA, 2007, p. 278). O planejamento pedagógico é alicerçado nas questões geradas a partir da observação da escuta das crianças em todas as situações no cotidiano da instituição de Educação Infantil. É também por meio da observação de bebês e crianças, nas suas diversas formas de se expressar, que os professores selecionam e organizam as experiências e objetivos da aprendizagem e desenvolvimento que impulsionam o potencial desses sujeitos. Relembramos a cena do tanque de areia, em que as ações de registrar, interagir, observar e refletir são percebidas à medida que a professora vai ressignificando a participação ou não das crianças nas situações que ela propõe ao longo da própria interação dela com o grupo. Isso ajuda a entender que o movimento dessas ações não acontece de forma linear, mas sim de forma concomitante. Considerar estes e outros aspectos no planejamento na educação infantil ajuda a romper com propostas de ensino e aprendizagem baseadas: no espontaneísmo (em que o professor deixa as crianças sem nenhuma mediação); no autoritarismo (em que o adulto é quem define todas as ações, sem a escuta das crianças e famílias) e na transmissão de conteúdo (em que o foco da escola é apenas transmitir conteúdos para as crianças). O próprio ato de escolher a forma de planejar é um ato político, ético, estético, que expressa as compreensões do(a) docente em relação à autonomia, ao respeito à diversidade e a globalidade dos modos como bebês e crianças aprendem e se desenvolvem. Nenhum planejamento traz em si próprio neutralidade, toda escolha na forma (como) e no conteúdo (o quê) ao planejar traz em si uma imagem de criança, de aprendizagem, de educação, de professor e de ser humano (OSTETTO, 2012). PARA REFLETIR No seu planejamento, professor(a), você tem realizado essas relações? 3.1 INTENCIONALIDADE PEDAGÓGICA E A RELAÇÃO COM A ORGANIZAÇÃO DE ESPAÇOS E TEMPOS. A intencionalidade com a qual o professor planeja todos os ambientes de aprendizagem, além de considerar materiais, espaços, tempos e interações, deve atentar para a ampliação das experiências dos bebês e das crianças, para as suas competências, garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, bem como ter clareza quanto aos objetivos de aprendizagem para cada etapa da Educação Infantil, descritos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 3.2 PENSANDO EM ESPAÇOS E MATERIAIS Considerando que todos os espaços e materiais dentro da instituição de educação infantil devem ser intencionalmente planejados, é inconcebível priorizar um espaço em detrimento de outros, portanto a sala é uma referência, mas não um espaço único para possibilitar as interações de aprendizagem. Como bem nos alerta Horn (2004), pontuando que não existem espaços mais nobres. Zingoni (2018) esclarece que: Quando o projeto do espaço é capaz de acolher as diversidades, não depende de esquemas rígidos em relação à faixa etária, mas oferece um grande leque de oportunidades difusas em que cada individualidade encontra espaço, reconhecimento e possibilidades abertas de ação e de relação. O ambiente é percebido como elemento de interação e é decisivo para a qualidade das relações, de todas as relações, entre crianças, entre crianças e adultos e entre adultos, compreendidas como entre educadores e pais (p. 56). Para planejar os materiais, os espaços e os tempos que irão compor os ambientes da instituição da educação infantil, é preciso compreender as relações que esses ambientes são capazes de produzir e como essas relações subsidiarão as aprendizagens dos bebês e crianças que estão nesses ambientes. O espaço precisa ser pensado para promover os encontros entre grupos de crianças, entre elas e os adultos, para que tenham diversas oportunidades de compartilhar com o grupo ou a sua individualidade respeitada. IMPORTANTE A estruturação dos ambientes de vivências e aprendizagens para todosos bebês e crianças deve estar apoiada na proposta pedagógica da instituição de Educação Infantil. Os ambientes devem ser organizados e reorganizados de forma a seguir a dinâmica do vivido pelas crianças da instituição de Educação Infantil, tendo como aspecto fundante a proposta pedagógica institucional que, por meio do trabalho docente, viabiliza aprendizagens em que as crianças, no cotidiano da unidade escolar, vão exercendo autonomia, construindo “sentidos atribuídos ao mundo e a si mesmas por meio das múltiplas linguagens” (BRASIL, 2018, p. 5). Portanto, diante das especificidades de limitação de materiais e espaços de algumas instituições de Educação Infantil, é importante que, em todas as instituições, o debate, as reflexões e as possibilidades sejam articulados durante a construção da proposta pedagógica da instituição que sedia creche e pré-escola. Durante a construção desse importante documento para a aprendizagem e desenvolvimento das crianças, é necessário pensar os ambientes de aprendizagem alinhados ao planejamento de forma a contemplar os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, Campos de Experiências e Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento, contemplados com o que traz a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018). Para o planejamento desses ambientes questionamentos na observância desses elementos devem ser constantes. PARA PENSAR Quando um ambiente de aprendizagem é planejado, tem sido observado o potencial deste para contemplar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças? Numa perspectiva de que as experiências acontecem de modo integrado, em diferentes campos de experiências, nesses ambientes, têm sido oferecidas possibilidades de as crianças se inserirem nas práticas sociais e culturais, assim como usufruírem e produzirem linguagens simbólicas? Considerando que os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dependem das experiências das crianças, estes têm sido refletidos como inspirações às intencionalidades no que se refere ao planejamento dos ambientes de aprendizagem? Compreende-se, então, que o ambiente não é meramente físico, ele reflete as concepções de criança, de infância, de educação infantil e como os profissionais que atuam nele entendem como se dá a aprendizagem nessa etapa da educação. Assim, entende-se que o espaço na educação infantil está para além da estrutura física. Essa compreensão nos leva a um conceito mais amplo de ambiente. Segundo Forneiro (1998, p. 232-233), “espaço” se restringe “[...] ao espaço físico, ou seja, aos locais para a atividade caracterizados pelos objetos, pelos materiais didáticos, pelo mobiliário e pela decoração”. IMPORTANTE No que se refere ao termo ambiente, é o “[...] conjunto do espaço físico e as relações que se estabelecem no mesmo (afetos, as relações interpessoais entre as crianças, entre crianças e adultos, entre crianças e sociedade em seu conjunto)”. Partindo dessas concepções e corroborando com Barbosa (2009, p. 91), pode-se afirmar que “a intencionalidade pedagógica transforma espaços físicos em ambientes”. SISTEMATIZANDO O SABER É de suma importância o olhar atento do educador para os diversos espaços da instituição (salas de convivência, pátio, banheiros, refeitório, parque e outros). A observação o ajudará a pensar os espaços de modo a atender às necessidades e interesses dos bebês e das crianças que neles se encontram, bem como pensar nas possíveis interações que neles podem ocorrer. Toda a observação alinhada com a garantia dos - direitos de aprendizagem, - campos de experiências e - objetivos de aprendizagem, precisa levar em conta materiais e espaços para o desenvolvimento e aprendizagens de bebês e crianças. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Laurinda Ramalho de (org). O relacionamento interpessoal na coordenação pedagógica. In: ALMEIDA, L. R.; PLACCO, V. M. N. de S.; (org.). ANGELO, Adilson de. O espaço-tempo da fala na Educação Infantil: a roda de conversa como dispositivo pedagógico. In: KRAMES, Sonia (Org.) Educação Infantil: enfoques e diálogos. Campinas: Papirus, 2011. BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. Organização do espaço e do tempo na escola infantil. In: CRAIDY, C.; KAERCHER, G. E. Educação Infantil. Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. ______. 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Governador do Estado do Espírito Santo José Renato Casagrande Secretário de Estado da Educação Vitor Amorim de Angelo Subsecretário de Estado de Planejamento e Avaliação Marcelo Lema Del Rio Martins Subsecretária de Estado da Educação Básica e Profissional Andréa Guzzo Pereira Subsecretária de Estado de Articulação Educacional Darcila Aparecida da Silva Castro Subsecretário de Administraçãoe Finanças Josivaldo Barreto de Andrade Subsecretário de Estado de Suporte à Educação Andre Melotti Rocha Centro de Formação dos Profissionais da Educação (Cefope) Bianca Silva Santana (Gerente – CEFOPE/Gepro) Karoliny Mendes da Costa (Gerente – CEFOPE/Geped) Gerente do Regime de Colaboração com os Municípios (Gerco) Saulo Andreon Assessora Especial do Regime de Colaboração com os Municípios Rosa Maria Ambrozio Técnica Responsável da Subgerência de Fortalecimento da Aprendizagem Sueli Calente Docente Conteudista da Formação Vanessa Lima Martins Coordenação da Formação Cefope/Geped Pollyanna Massucatti Rodrigues Passabão Jorge Luiz Mies Revisão de Texto Cefope Carolina Laura de Almeida Equipe de Tecnologia Cefope Almir Carletti Neto (Assessor de Tecnologia) Felipe Becalli Trindade (Estagiário) Gustavo Pereira da Silva Nascimento (Assessor de Tecnologia) Leonardo Cruz de Andrade (Técnico Pedagógico) Concepção gráfica do Ambiente Virtual de Aprendizagem Ana Beatriz Lima da Silva