Buscar

A ESTRUTURA NEURÓTICA

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Clique para editar o estilo do título mestre
Clique para editar o estilo do subtítulo mestre
*
*
*
A ESTRUTURA NEURÓTICA
 
*
*
*
Contexto Evolutivo da concepção da Neurose
O termo neurose foi inventado por William Cullen, durante a segunda metade do século XVIII, e atesta a renovação do olhar clínico que começara com a observação direta de cadáveres. A partir deste olhar, surgiu a idéia de criar uma palavra genérica para designar o conjunto de problemas que não demonstravam nenhuma relação com qualquer disfunção orgânica, apesar dos sintomas apresentados.
Assim nasceu a definição moderna da neurose, que permitiu a construção de uma nosografia pela negativa, incluindo em seu campo o domínio das doenças para as quais a medicina anatomopatológica não encontrava nenhuma explicação orgânica.
*
*
*
Contexto Evolutivo da concepção da Neurose
Philippe Pinel logo retomou o termo e, um século depois, Charcot o popularizou, fazendo da histeria uma doença funcional, logo uma neurose, enquanto seu aluno, Pierre Janet orientou-se para a idéia de uma pura causalidade psíquica.
Para Janet e seus seguidores, a neurose tornou-se uma doença da personalidade, caracterizada por conflitos psíquicos que perturbavam as condutas sociais. Este pensamento marcou todos os clínicos franceses do entre guerras.
Janet distinguiu dois tipos de neuroses: a histeria, na qual aparecia uma redução do campo da consciência e a psicastenia, onde se manifestava um rebaixamento da função de adaptação à realidade.
*
*
*
Contexto Evolutivo da concepção da Neurose
Freud começa a conceber a neurose através de sua teoria da sedução na qual as pacientes histéricas, em geral as mulheres, teriam sofrido abusos sexuais reais na infância, por parte de adultos: pais, tios, babás, etc.
Após ter abandonado a teoria da sedução, em 1897,
 a neurose tornou-se, para ele, uma doença ligada a um conflito psíquico inconsciente, de origem infantil e dotado de uma causa sexual. Resulta de um mecanismo de defesa contra a angústia e de uma formação de compromisso entre essa defesa e a possível realização de um desejo inconsciente.
A partir de 1894, Freud adotou o termo psiconeurose, que depois abandonaria, para ampliar a definição de neurose.
*
*
*
Contexto Evolutivo da concepção da Neurose
Após seu encontro com Charcot, Freud também começou a definir a histeria como uma neurose, porém numa perspectiva inteiramente diferente da de Janet.
Ele desvinculou definitivamente a histeria da presunção de sua origem uterina, associando-lhe a uma etiologia sexual e a um enraizamento no inconsciente. A partir daí, e após a publicação dos Estudos sobre a Histeria, em 1895 , a histeria, no sentido freudiano, tornou-se o protótipo para o discurso psicanalítico, da neurose como tal.
A neurose passou, então, a ser definida como uma doença nervosa na qual um trauma intervinha.
*
*
*
Contexto Evolutivo da concepção da Neurose
A neurose decorria de duas atitudes psíquicas provenientes da clivagem do sujeito.
Na neurose, há um conflito entre o eu e o id e a coexistência de uma atitude que representa a exigência pulsional com outra, que leva em conta a realidade, contrariando a tendência da pulsão. Já na psicose, há uma perturbação entre o eu e o mundo externo, que se traduz na produção de uma realidade delirante e alucinatória (a loucura).
Freud completa sua concepção estrutural ao introduzir um terceiro elemento: a perversão. Ele caracterizou a perversão como uma expressão bruta e não recalcada da sexualidade infantil ( perversa polimorfa), pela utilização do mecanismo de defesa, a renegação ou o desmentido da castração, com a fixação na sexualidade infantil.
*
*
*
Contexto Evolutivo da concepção da Neurose
Depois de estabelecer a etiologia sexual das neuroses, Freud tentou distingui-las, de acordo com seus aspectos clínicos e seus mecanismos específicos. De um lado, situa a neurastenia e a neurose de angústia, cujos sintomas se originam diretamente da excitação sexual, sem a intervenção de um mecanismo psíquico.
 A neurastenia estaria ligada a um modo de satisfação sexual inadequado, como a masturbação ou o coito interrompido, e a neurose de angústia, à ausência de satisfação, e conseqüentemente, uma excitabilidade nervosa. 
Essas neuroses foram denominadas de neuroses atuais e, segundo ele, não seriam da alçada do tratamento psicanalítico. Tratavam-se de neuroses em que o conflito provinha da atualidade do sujeito e não de sua história infantil e nas quais o sintoma não se manifestaria de maneira simbolizada.
*
*
*
O QUE É NEUROSE ?
Neurose é um modo de defesa contra a castração pela fixação em um argumento edipiano. A neurose é uma maneira imprópria que o sujeito emprega para se opor a um gozo inconsciente e perigoso. Através do recalque separa a idéia do afeto, dando diferentes destinos ao afeto, de acordo com a forma neurótica prevalente.
Na neurose, os sintomas são a expressão simbólica que tem raízes na história infantil do sujeito e constitui uma solução de compromisso entre o desejo e a defesa.
 
A extensão do termo neurose tem variado bastante. Atualmente, tende a ser reservado para as formas clínicas: neurose obsessiva, histeria e a histeria de angústia. Essas três neuroses podem se definir segundo o modo particular que o eu tem de se defender, três maneiras inadequadas de lutar contra o gozo intolerável e, por conseguinte, três modos diferentes de viver a própria neurose.
 
*
*
*
O QUE É NEUROSE ?
 NEUROSE OBSESSIVA:
 É um modo de sofrer conscientemente no pensamento, isto é, deslocar o gozo inconsciente e intolerável para um sofrimento de pensar.
 FOBIA OU HISTERIA DE ANGÚSTIA
 Implica sofrer conscientemente com o mundo que o cerca, isto é, projetar para o mundo externo o gozo inconsciente e intolerável e cristalizá-lo num elemento do ambiente externo, então transformado num objeto fóbico.
 HISTERIA
 Implica sofrer conscientemente no corpo, ou seja, converter o gozo inconsciente e intolerável num sofrimento corporal.
*
*
*
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
A angústia de castração, para Lacan, indicaria que a operação normativa, que é a simbolização da castração, não teria sido completamente realizada. A simbolização se realiza através do Édipo.
 A castração, isto é, a perda do objeto perfeitamente satisfatório e adaptado, é simplesmente determinada pela linguagem, e o que permite simbolizá-la é o Édipo, ao atribuí-la a uma exigência do pai em relação a todos nós, (a função paterna simbólica). Sendo simbolizada a castração, habitualmente persiste uma fixação no pai, que é nosso modo comum de normalidade. É o que o termo sintoma significa na concepção lacaniana.
 
 Não sendo a neurose o sintoma, quais são os fatores que tornam o Édipo neurotizante?
*
*
*
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
Lacan afirma que o que é patogênico é a discordância entre aquilo que o sujeito percebe do pai real e a função paterna simbólica. O problema é que esse tipo de discordância é inevitável, sendo, pois perigoso atribuir a neurose ao que os pais fizeram, ou não, sofrer a criança.
 
 Charles Melman insiste na importância da historização na constituição da neurose. Sugere a existência de uma rejeição da situação comum: rejeição em aceitar a perda do objeto, que, portanto, se vê atribuída não a uma exigência do pai, mas a uma história considerada original e exclusiva, o que não corresponde necessariamente à realidade: falta de amor materno, impotência do pai real, trauma sexual, nascimento de um irmão ou de uma irmã, etc.
*
*
*
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
No lugar em que o mito edipiano, mito coletivo, abre uma promessa, o mito individual do neurótico pereniza um dano. Se existir a fixação ao pai, ela se deve à queixa que lhe é dirigida para que repare esse dano.
 Assim, não é apenas ao pai e à mãe que o neurótico permanece apegado; é, mais amplamente, a uma situação organizada por seu mito individual.
 
Essa situação é estruturada como um argumento que irá se repetir durante toda
a vida, impondo a ele suas estereotipias e seu fracasso, nas diversas circunstâncias que irão se apresentar. 
*
*
*
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
Estar preso a um argumento é característico da neurose. Na psicose, não existe drama edipiano que possa ser representado. Na fobia, que é um momento anterior à neurose, existe a repetição de um idêntico, que é o elemento da fobia, mas ele não se inscreve em um argumento. Quanto à perversão, ela se caracteriza por uma montagem imutável, que tem por finalidade dar acesso ao objeto, e que não atribui lugar nem a história, nem a personagens específicos.
 Assim, é possível concluir que o real instalado na infância irá servir de modelo para todas as situações futuras, apresentando-se à vida como um sonho submetido à lei do coração e ao desprezo pela realidade forçosamente diferente, sendo o conflito sempre o de antigamente.
*
*
*
A Perspectica Lacaniana da Neurose
O ponto fundamental, devido às suas conseqüências clínicas, é que o argumento termina em fracasso, pois a maneira pela qual o neurótico aborda a realidade mostra que ele reproduz, sem modificá-la, a situação do fracasso original. 
 Que significação atribuir a essa repetição do fracasso? Seria a de finalmente obter uma perfeita apreensão do objeto, ou, ao contrário, a de fazer com que sua perda seja definitiva? A posição neurótica oscila entre essas duas intenções opostas.
*
*
*
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
É na relação com o Outro que o neurótico adquire a sua estrutura, apesar da grande predominância da relação narcisista nas neuroses.
O Édipo propõe um pacto simbólico. Por meio da renúncia a um certo gozo, o sujeito pode ter acesso lícito ao gozo fálico. As condições do pacto são bem estabelecidas para o futuro neurótico, mas ele não irá renunciar completamente a este tipo de gozo e nem a se pretender não castrado. 
*
*
*
A Perspectiva Lacaniana das Neuroses
O neurótico desejaria ser à imagem desse Pai: sem falha, não castrado; é por isso que Lacan diz que o neurótico tem um eu forte, um eu que, com todas as suas forças, nega a castração que sofreu. 
Apesar da contradição com o termo eu fraco empregado por Freud, Lacan concorda com o que ele formula no final de sua obra, a respeito do rochedo da castração, que nada mais é do que a não admissão da castração. 
*
*
*
A Perspectiva Lacaniana da Neurose
Ao defender-se da castração, o neurótico continua temendo-a, enquanto uma ameaça imaginária, sem nunca saber bem ao que pode ser autorizado - quer se trate de sua palavra ou de seu gozo – mantém suas limitações.
A psicanálise, que não está a serviço da moral ordinária (de inspiração edipiana e preconizando a lei paterna), deve permitir que o sujeito se interrogue tanto sobre a escolha do gozo que fez, como a respeito da existência do Outro.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando