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ETHEL BRAGA DALTROZO _753479_assignsubmission_file_TCC - ETHEL BRAGA DALTROZO - 41618157

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE 
 
 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
 
 
 
 
ETHEL BRAGA DALTROZO 
 
 
 
 
 
A HOLDING FAMILIAR COMO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO 
SUCESSÓRIO E BLINDAGEM PATRIMONIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2021 
 
ETHEL BRAGA DALTROZO 
 
 
 
 
 
A HOLDING FAMILIAR COMO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO 
SUCESSÓRIO E BLINDAGEM PATRIMONIAL 
 
 
 
 
Trabalho de Graduação Interdisciplinar 
apresentado como requisito para obtenção do 
título de Bacharel no Curso de Direito da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Orientador: Fábio Souza Trubilhano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2021 
 
ETHEL BRAGA DALTROZO 
 
 
 
 
 
A HOLDING FAMILIAR COMO INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO 
SUCESSÓRIO E BLINDAGEM PATRIMONIAL 
 
 
 
 
Trabalho de Graduação Interdisciplinar 
apresentado como requisito para obtenção do 
título de Bacharel no Curso de Direito da 
Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Orientador: Fábio Souza Trubilhano. 
 
 
Aprovada em: 
BANCA EXAMINADORA 
 
Examinador(a): 
 
Examinador(a): 
 
Examinador(a): 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha família. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço, em primeiro lugar, aos meus amados pais, Evandro Basso Daltrozo e 
Maribel Braga, que me apoiaram durante toda a minha jornada acadêmica, confiando nas 
minhas escolhas e capacidade, e sendo fonte inesgotável de carinho e compreensão. Tudo que 
eu sei, eles me ensinaram. 
Agradeço aos meus irmãos Lucas, Henry, Bernardo e Benício, que são para mim 
leveza em meio ao caos. 
Aos meus avós Wilson Daltrozo e Domitila Daltrozo, que sempre me incentivaram à 
leitura e aos estudos e me ensinaram que honestidade e dedicação rendem bons frutos. 
Ao meu namorado Leonardo Quaini, que até nos dias mais difíceis conseguiu me fazer 
sorrir, me incentivou, esteve ao meu lado nas mais longas tardes de estudos e me ajudou na 
escolha do tema deste trabalho. 
Aos grandes amigos que encontrei na Universidade (ou por causa dela) e que levarei 
comigo para além dos belos muros de tijolinhos vermelhos: Daniel Binenbojm, Flavia Vazzolla, 
Marina Costa e Tatiana Sakr. Eles fazem parte das melhores lembranças dos últimos cinco anos 
da minha vida e sou imensamente grata por tê-los. 
Ao professor Fábio Trubilhano, por ter me aceitado como sua orientanda e por toda 
confiança depositada em mim durante todo o projeto. 
E finalmente, a todos os familiares, amigos, professores e colegas que me 
acompanharam durante toda a graduação, o meu muito obrigada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A sorte não existe. Aquilo a que chamas 
sorte é o cuidado com os pormenores.” 
(Winston Churchill)
 
RESUMO 
 
As empresas familiares são muito importantes para a economia global. Frequentemente, os 
principais administradores dessas sociedades e os detentores do patrimônio são também os 
chefes de família, de modo que os elementos principais de funcionamento da empresa – poder 
decisório e patrimônio, – pertencem a uma única pessoa. Torna-se, destarte, inevitável pensar 
em quais seriam os efeitos da morte desse indivíduo para o universo empresarial, tendo em vista 
os desdobramentos causados por um inventário judicial envolvendo quotas da empresa, por 
exemplo. Nesse contexto, a chamada holding familiar pode ser proveitosa: com ela, é possível 
controlar o patrimônio, que ficará centralizado na figura da holding, sendo que, quando o 
patriarca doa suas quotas ou ações aos herdeiros, há adiantamento de legítima. Em outras 
palavras, isso significa que a divisão de bens ocorrerá em vida, e sem o elemento de urgência 
que vem à tona após a morte do ente querido que é chave da empresa familiar. Por outro lado, 
quando da constituição da holding e durante sua administração, é necessário cautela em relação 
a certas movimentações, que podem ser consideradas fraude contra credores ou fraude à 
execução. 
 
Palavras-chave: Holding familiar. Planejamento sucessório. Blindagem patrimonial. 
 
 
ABSTRACT 
 
Family businesses are very important to the global economy. Frequently, the main managers of 
these companies are the owners of the assets and are also the heads of the family, so that the 
main elements of the company's functioning - decision-making power and the assets - belong 
to one single person. Therefore, it is inevitable to think about what the effects of this 
individual’s death to the business would be, based on the consequences caused by a judicial 
inventory involving company quotas, for example. In this context, the so-called family holding 
company can be beneficial: using it, it is possible to control the patrimony, which will be 
centralized in the figure of the holding company, and when the patriarch donates his quotas or 
shares to the heirs, there is a advancement of the legitime. In other words, it means that the 
division of assets will take place in life, without the urgency that comes the death of the loved 
one who is also the key to the family business. On the other hand, when constituting the holding 
company and during its administration, caution is required around certain transactions, which 
can be considered fraudulent conveyance. 
 
Key words: Family holding. Sucession planning. Entity shielding. 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10 
1 HOLDING: CONCEITO E BASE LEGAL .......................................................................... 12 
2 CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................ 14 
2.1 HOLDING PURA ........................................................................................................... 14 
2.2 HOLDING MISTA ......................................................................................................... 15 
3 A HOLDING FAMILIAR ..................................................................................................... 17 
3.1 NATUREZA JURÍDICA E CONSTITUIÇÃO DA HOLDING .................................... 18 
3.1.1 Subscrição e integralização do capital social .............................................................. 19 
4 TIPOS DE SOCIEDADE ...................................................................................................... 21 
4.1 SOCIEDADE LIMITADA ............................................................................................. 21 
4.2 SOCIEDADE ANÔNIMA ............................................................................................. 23 
5 SUCESSÃO FAMILIAR E HOLDING ................................................................................ 26 
5.1 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO ............................................................................... 26 
5.1.1 Herança e testamento ................................................................................................... 27 
5.1.2 Doação e antecipação de legítima ............................................................................... 28 
5.1.3 Reserva de usufruto ..................................................................................................... 29 
5.1.4 Cláusulas restritivas das doações ................................................................................. 30 
6 BLINDAGEM PATRIMONIAL: COMO OCORRE ........................................................... 35 
7 HIPÓTESES DE DESCONSIDERAÇÃO DA HOLDING .................................................. 38 
8 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 43 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................vez que os bens pessoais estão protegidos de eventual insucesso da atividade econômica 
(TARBINE, 2020). 
Essa barreira, não obstante, não é impenetrável, como sugere a ideia de “blindagem”. 
Pelo contrário: é permeável (TARBINE, 2020) visto que, em algumas hipóteses, o mecanismo 
da holding pode ser desconsiderado, como já foi brevemente mencionado anteriormente e será 
desenvolvido no capítulo seguinte. 
Além disso, Castro (2016) anota que se na constituição da holding houver finalidade 
de não pagar credores ou de ocultar patrimônio, isso caracterizará fraude e pode constituir 
crime, de acordo com as ações empregadas. 
Em síntese, é necessário ter cuidado quanto ao viés utilizando pelo interlocutor ao 
inferir que a constituição de uma holding implica em “blindagem patrimonial”. Isto pois 
fundamentalmente, a holding é meio lícito e eficiente diante de sucessão familiar ou 
empresarial, mas que pode ser adulterado e utilizado por pessoas dotadas de má fé (ou mesmo 
de meros desavisados) para a prática de ilícitos. 
 
 
 38 
7 HIPÓTESES DE DESCONSIDERAÇÃO DA HOLDING 
 
Conforme tratado ao longo do presente trabalho, entende-se que a mera constituição 
de holding não constitui “blindagem patrimonial”, visto que esse mecanismo pode ser 
desconsiderado em alguns casos. 
O artigo 1.024 do Código Civil determina que os bens dos sócios não podem ser 
executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais (BRASIL, 
2002), ou seja, os bens dos sócios estão protegidos até que a sociedade não tenha mais condições 
de cumprir com obrigações (BRANDARIZ, 2018). 
Logo, torna-se inevitável trazer à tona o artigo 50 do Código retro mencionado, que 
dispõe sobre o chamado “abuso de personalidade jurídica”: 
 
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de 
finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do 
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que 
os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens 
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou 
indiretamente pelo abuso. 
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa 
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer 
natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os 
patrimônios, caracterizada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador 
ou vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de 
valor proporcionalmente insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº 
13.874, de 2019) 
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das 
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 
13.874, de 2019) 
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata 
o caput deste artigo não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa 
jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) 
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade 
original da atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 
13.874, de 2019) 
 
É justamente esse artigo que autoriza o instituto da chamada desconsideração da 
personalidade jurídica. Importante apontar que aqui estamos nos baseando na chamada teoria 
maior (subjetiva) da desconsideração da personalidade jurídica, baseada na Lei da Liberdade 
Econômica (Lei 13.874/2019)9. 
 
9 “O direito brasileiro adota a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica para alguns micro 
ordenamentos, como a Lei de Proteção ao Meio Ambiente (Lei 9.605/98), Lei Antitruste (Lei 12.529/11), o Código 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13874.htm#art7
 39 
Dito isso, a desconsideração da personalidade jurídica trata-se de ato jurídico que 
decorre de decisão judicial e que tem como objetivo atingir bens dos sócios em decorrência de 
obrigações obtidas pela sociedade (BARTOLOMEO, 2020). Em outras palavras: desconsidera-
se a personalidade jurídica da sociedade para que o patrimônio dos sócios ajude a quitar dívidas 
adquiridas pela empresa, por exemplo. A empresa não deixa de existir, apenas não é 
considerada para fins de responsabilização (BARTOLOMEO, 2020). 
Antes da Lei da Liberdade Econômica, o artigo 50 não contava com os parágrafos 
conforme posto acima, mas apenas com o caput, que traz os requisitos para o abuso de 
personalidade jurídica e que autorizaria a desconsideração desta: desvio de finalidade ou 
confusão patrimonial. 
No entanto, sem os parágrafos, não restava claro o que poderia ser considerado como 
abuso, desvio de finalidade e/ou confusão patrimonial para fins de desconsideração da 
personalidade jurídica. A insegurança jurídica causada por tantas decisões divergentes entre si 
ocasionava também certo receio aos investimentos de empreendedores e, consequentemente, 
estímulos à economia de modo geral (BARTOLOMEO, 2020). 
Por conseguinte, o §1º define o desvio de finalidade como sendo utilização da pessoa 
jurídica objetivando lesar credores e praticar atos ilícitos de qualquer natureza. A confusão 
patrimonial, definida através do §2º, é entendida como a ausência de separação de fato entre 
patrimônios, que pode se caracterizar quando a sociedade cumpre obrigações do sócio ou 
quando o sócio cumpre obrigações da sociedade; quando se transfere maquinários e 
funcionários, por exemplo, sem contraprestação; e quando existem outros atos de 
descumprimento da autonomia patrimonial. 
Os parágrafos §4º e §5º também são interessantes. O primeiro dispõe que a mera 
existência de grupo econômico não é, por si só, elemento para desconsideração da 
personalidade jurídica. Isto é, é preciso que haja desvio de finalidade ou confusão patrimonial. 
O segundo, por sua vez, fala sobre a expansão e a alteração da atividade econômica da empresa, 
o que também não dá autorização para desconsideração. 
No mesmo sentido, a Lei 13.467/2017, que alterou a Consolidação das Leis do 
Trabalho, inclusive, em seu artigo 2º, §3º, positivou que a mera identidade de sócios não 
caracteriza grupo econômico, e que para caracterizá-lo, é necessário a demonstração do 
interesse integrado, a efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele 
integrantes. 
 
de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), dentre outros. Nessa teoria, é preciso apenas efetuar prova de existência 
de determinados fatos e não de culpa do sócio na ocorrência dos mesmos” (BARTOLOMEO, 2020). 
 40 
Antes, não era incomum que a Justiça do Trabalho aceitasse a desconsideração da 
personalidade jurídica por unicidade de sócios (BRANDARIZ, 2018). 
O Código de Processo Civil de 2015, porsua vez, também prevê a forma pela qual o 
incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado, através dos artigos 133 
a 137. Quando couber intervir no processo, o incidente poderá ser instaurado a pedido da parte 
ou do Ministério Público, sendo cabível em todas as fases do processo de conhecimento, 
cumprimento de sentença e execução de título extrajudicial. Além disso, a desconsideração da 
personalidade jurídica pode ser requerida desde a petição inicial, devendo ser citado o sócio ou 
a própria pessoa jurídica, e nessa hipótese, não é necessário instaurar o incidente. Se o pedido 
for acolhido, a alienação ou oneração de bens havida em fraude à execução será ineficaz em 
relação ao requerente. 
Em resumo, no que diz respeito à holding familiar, se houver abuso da personalidade 
jurídica, é possível que herdeiros sócios da holding tenham que responder com seu patrimônio 
individual e bens pessoais pelas dívidas contraídas pela sociedade que não puder ser capaz de 
quitá-las. 
Além disso, é importante saber que a desconsideração da personalidade jurídica não 
incide, de maneira unificada, sobre todos que fazem parte do quadro societário. Vejamos como 
a situação é ilustrada por Parentoni: 
 
[...] razões de ordem material e processual exigem que somente seja aplicada contra o 
sócio que detinha o poder de controle societário e tenha se utilizado dele de maneira 
ilícita, desrespeitando a autonomia da atividade societária como centro de imputação, 
dotado de patrimônio próprio e inconfundível com o patrimônio e com a vontade 
particular dos sócios. Consequentemente, cabe ao sujeito que requereu a aplicação 
desta teoria indicar, no caso concreto, contra qual sócio ou grupo de sócios deseja que 
ela incida, descrevendo pormenorizadamente a conduta de cada um deles, sob pena 
de se configurar carência de ação por falta de interesse de agir. (PARENTONI, 2016) 
 
A desconsideração inversa da personalidade jurídica também é possível, conforme 
enunciado 283 da IV Jornada de Direito Civil, senão vejamos: 
 
É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada "inversa" para 
alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens 
pessoais, com prejuízo a terceiros. 
 
Embora não esteja positivada no ordenamento jurídico pátrio, essa modalidade de 
desconsideração da personalidade jurídica vem sendo utilizada no direito de família, como 
exemplifica Fátima Garcia: 
 
 41 
[...] quando o cônjuge transfere patrimônio comum para a pessoa jurídica fraudando 
a meação e por vezes nos casos de separação ou divórcio, pela compra bens com 
capital próprio em nome da empresa, configurando a confusão patrimonial. Nesses 
casos, pela desconsideração inversa, tais bens poderão ser alcançados. (GARCIA, 
2014) 
 
Ou seja: se um sócio utilizar a holding familiar como meio para prejudicar terceiros 
através de ocultação ou desvio de bens pessoais, é possível que a autonomia patrimonial da 
pessoa jurídica seja afastada para responsabilizar a sociedade por uma obrigação do sócio 
(STARLING, 2015). Os bens da holding responderão por atos praticados pelos sócios 
(STARLING, 2015). 
Nesse sentido, há decisão recente, datada de janeiro de 2021, da Vara do Trabalho do 
Arujá, no processo nº 001361-57.2014.5.02.052. Na decisão, foi deferida desconsideração 
inversa da personalidade jurídica para penhorar bens de uma holding familiar que funcionava 
para prática de ocultação de patrimônio: 
 
Dentre os elementos que comprovam a fraude, chama a atenção o fato de que o 
executado transferiu propriedades para a empresa em nome de familiar, mas manteve 
controle total sobre a pessoa jurídica e seus bens. Com isso, detinha controle da gestão 
patrimonial e a capacidade de vender ou onerar os bens. Segundo o magistrado, “trata-
se da pejotização do patrimônio do sócio devedor”. 
Além disso, as pesquisas realizadas pela vara mostraram que não há registro de 
transações imobiliárias e financeiras em relação aos imóveis, o que reforça a tese de 
transferências patrimoniais fraudulentas. 
Com a decisão, os imóveis identificados nas operações serão enviados a leilão após o 
trânsito em julgado do processo de execução. (TRT2, 2021). 
 
A holding familiar também poderá ser desconsiderada em casos de fraude à execução 
e fraude contra credores. A primeira ocorre quando já existe execução em curso contra o titular 
do patrimônio, sendo instituto de direito processual (artigo 792 do Código de Processo Civil). 
A segunda ocorre quando da constituição da holding, já existirem credores titulares do 
patrimônio, e trata-se de matéria de direito material (artigo 158 e seguintes do Código Civil). 
(TARBINE, 2020 e REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO GOMES, 2008). 
Na fraude contra credores, o devedor, ao se tornar insolvente ou na iminência de 
tornar-se, passa a dispor de seu patrimônio através de doações ou vendas, por exemplo, visando 
driblar o pagamento das obrigações assumidas, maliciosamente (ANDRADE, 2017). Assim, 
um patriarca que for sócio da uma holding familiar que, num primeiro momento, possuía 
objetivo de promover o planejamento sucessório, mas ao tornar-se insolvente, e com o animus 
de fraudar credores, doa suas quotas prematuramente a filhos ou cônjuge, por exemplo, pratica 
fraude contra credores. 
 42 
 
Em regra, deverá conter dois elementos, quais sejam: objetivo (eventus damni) que se 
refere a atuação em prejuízo aos credores, devendo o interessado comprovar o nexo 
causal entre o ato do devedor e o seu estado de insolvência e o elemento subjetivo 
(consilium fraudis) que define a manifesta intenção de prejudicar credores. 
(ANDRADE, 2017) 
 
A ação pauliana poderá ser ajuizada para anular o ato jurídico que colocou o devedor 
em insolvência de modo fraudulento. 
A fraude à execução, segundo a definição de Cândido Rangel Dinamarco (2019, p. 
389), “consiste na realização de um ato de disposição ou oneração de coisa ou direito depois de 
instaurado um processo cujo resultado poderá ser impossível sem lançar mão desse bem." A 
Súmula 375 do STJ ainda traz que: "o reconhecimento da fraude à execução depende do registro 
da penhora do bem alienado ou da prova da má-fé do terceiro adquirente" (STJ, 2009). Com 
isso, é possível interpretar, em conjunto com o inciso IV do artigo 792 do Código de Processo 
Civil, que para configurar fraude à execução, basta existir ação em curso contra devedor que 
seja capaz de reduzi-lo à insolvência (ROCHA; PINHEIRO, 2020). 
Para exemplificar dentro contexto do trabalho atual: pratica fraude à execução aquele 
patriarca que, mesmo sabendo que tramita contra si ação de execução, doa ou transfere suas 
quotas ou ações da holding familiar para familiares, como se estivesse praticando planejamento 
sucessório, mas em verdade, o faz para evitar que sejam penhoradas. Até mesmo a criação de 
uma holding e transferência de bens para ela durante tramitação de ação de execução pode ser 
tida como fraude à execução (UOL, 2017). 
Tendo em vista todas as considerações feitas até aqui, a holding familiar é uma 
sociedade, a partir do momento causar prejuízo a outrem (ARAÚJO, 2018), a ela podem ser 
aplicados os institutos aqui relatados, e os bens dos sócios ou mesmo da holding podem ser 
atingidos para satisfazer dívidas. 
Cumpre ressaltar que a holding pode não ser um bom negócio para todos e cada caso 
deverá ser analisado cautelosamente, incluindo condições empresariais e patrimoniais, e 
devendo ser apresentadas aos interessados as desvantagens e vantagens. Assim, os envolvidos 
poderão obter o melhor proveito possível dessa valiosa ferramenta. 
 
 43 
8 CONCLUSÃO 
 
Diante do exposto ao longo do presente trabalho, é possível verificar que a sucessão 
patrimonial é um tema que pode ser tido como intrínseco à vida humana: todos terão que lidar 
com ela em algum momento, seja para lidar com o falecimento de um entequerido, seja para 
planejar o futuro que deseja para seu próprio patrimônio. 
Dito isso, existem diferentes recursos que podem ser utilizados para facilitar esse 
momento tão delicado na vida de uma família e sua empresa, e dentre eles, está a constituição 
da holding familiar, que foi aqui analisada. 
Com a constituição da empresa holding, geralmente na forma de sociedade limitada 
ou anônima, o capital é subscrito e integralizado pelos sócios, normalmente, os patriarcas. O 
patrimônio integralizado se traduz em quotas ou ações. Na sequência, pode ser feita a doação 
dessas quotas ou ações diretamente aos herdeiros, executando o adiantamento de legítima. O 
doador não pode se tornar insubsistente em razão da doação e, por isso, frequentemente a 
doação estará gravada com reserva de usufruto, o que mantém ao doador o recebimento de 
dividendos, por exemplo. 
Não obstante que a doação seja gravada com cláusula de usufruto, é possível gravá-la 
com outras cláusulas restritivas, que também ajudarão a manter os bens junto ao patrimônio 
familiar, com mais proteção contra divórcios e ataques de terceiros, por exemplo. 
Ademais, a grande vantagem é que a divisão dos bens entre os familiares ocorre desde 
então e é conduzida pelo próprio empresário/patriarca de maneira ordenada e sem a urgência 
que ocorre após o evento morte para que a empresa volte a funcionar normalmente. Além disso, 
já é possível introduzir a próxima geração aos negócios da família, verificando as qualidades 
ou defeitos de cada herdeiro dentro da gestão da empresa, o que possibilita certo remanejamento 
caso sejam detectados problemas prévios. 
No entanto, apesar de fornecer uma camada de proteção ao patrimônio familiar, isso 
não significa que haverá, automaticamente, “blindagem patrimonial”. É necessário cuidado 
com o uso do termo, que muitas vezes está associado ao uso de meios ilícitos para ocultação de 
bens, resultando em fraude contra credores e/ou fraude à execução. 
Por essa razão, é importante que a família que deseja constituir holding familiar como 
meio de planejamento sucessório esteja assessorada por um bom profissional, que avaliará 
tecnicamente e de modo individualizado cada nuance dos negócios da família, para que os 
objetivos sejam atingidos e com o melhor aproveitamento. 
 44 
Por fim, não é possível afirmar que a constituição da holding é garantia absoluta de 
sucesso e fim dos conflitos familiares durante a administração da sociedade, tendo em vista as 
incertezas do futuro. Ainda assim, a holding é sem dúvidas um excelente instrumento para 
facilitar a sucessão de bens, otimizar a administração dos negócios e guardar o legado de um 
patriarca a seus herdeiros. 
 45 
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 10 
INTRODUÇÃO 
 
As empresas familiares ocupam um lugar importante no cenário econômico global, na 
atualidade. Segundo dados de uma pesquisa feita pelo Sebrae, em abril de 2017, 80% das 
empresas existentes no mundo são familiares. Outro dado importante é o que indica que 70% 
dos empreendimentos familiares existentes no mundo não resistem à morte de seu fundador. 
Com isso, é possível perceber que o fundador e todo o trabalho feito por ele possuem 
fundamental importância no sucesso dessas empresas. Não raramente, essa figura está atrelada 
ao patriarca ou matriarca, que figuram como responsáveis pela administração da empresa 
familiar e todas as grandes decisões que a cercam, além de serem os detentores do patrimônio 
que será deixado para as próximas gerações. 
Isto é: em apenas uma (ou até duas) pessoas, centralizam-se elementos essenciais para 
funcionamento e êxito da empresa: poder de decisão e patrimônio. Questiona-se: com a morte 
dessa(s) figura(s), o que pode acontecer? O que está em jogo? 
A nossa cultura trata a morte com tanto receio que pouco se fala dentro do núcleo 
familiar sobre qual poderia ser o melhor e menos traumático mecanismo de sucessão. O assunto 
é frequentemente deixado nas mãos do tempo e, após o evento morte, é que se reflete que rito 
de sucessão patrimonial poderia ter sido usado em favor da família. 
Nesse momento de crise, os grupos familiares podem ser impactados de muitas 
maneiras: há alta incidência tributária na sucessão familiar, conflitos familiares podem ser 
desencadeados durante o processo de sucessão, há demora do Judiciário – em se tratando de 
inventário judicial –, tudo isso enquanto lidam com o luto da perda de um ente querido. 
Diante disso, podemos jogar luz sobre alternativas mais atuais para construir uma 
proteção mais robusta em torno de patrimônios, estruturas financeiras e relacionamentos 
afetivos, que, acentuados pelo atual panorama global, estão suscetíveis às fragilidades e 
possíveis eventos de força maior. 
Nesse sentido, cada dia mais, as holdings podem ganhar mais espaço dentro das 
relações de direito privado brasileiro. Introduzido pela Lei 6.404/76, Lei das Sociedades 
Anônimas, os conceitos em torno dessas empresas e suas classificações são diversos. 
A holding, de modo resumido, é uma empresa criada com finalidade de deter 
participações societárias de outras empresas, como quotistas ou acionistas, sendo que o 
patrimônio total ou parcial dessas é formado pelas participações societárias. Com elas, é 
possível centralizar decisões de um grupo empresarial, e nesse ponto, a holding familiar, que é 
foco do presente trabalho, demonstra-se muito interessante. 
 11 
Com a holding familiar, é possível controlar o patrimônio das pessoas físicas de uma 
mesma família, que passam a deter participações societárias da holding: o patrimônio do grupo 
familiar pode ser integralizado em totalidade no capital social da empresa, respeitados os limites 
da lei, que serão a seguir tratados. 
Em relação à questão sucessória, a holding pode ser muito eficiente para organizar 
com antecedência a distribuição do patrimônio das pessoas físicas e da empresa familiar e sua 
administração. Isto pois os patriarcas podem se utilizar de cláusulas restritivas como 
incomunicabilidade, impenhorabilidade, inalienabilidade e reversibilidade, por exemplo, para 
evitar a dilapidação do patrimônio por parte dos herdeiros e manter esse patrimônio dentro do 
núcleo familiar. Outra vantagem é a de ser possível afastar atritos familiares, o que muitas vezes 
um testamento não consegue alcançar. 
Desenvolverei, portanto, o pensamento em torno dessa figura tão plural e atual. A 
pergunta que procuro responder ao final do presente trabalho é: quão efetivo é o instrumento 
da holding, tanto para fins de evitar disputas patrimoniais que podem surgir com a morte dos 
patriarcas/matriarcas de uma família, atuando como um facilitador da sucessão de bens, quanto 
como constituinte da chamada “blindagem patrimonial”. 
 12 
1 HOLDING: CONCEITO E BASE LEGAL 
 
A palavra “holding”, proveniente do verbo “to hold” na língua inglesa, de acordo com 
a tradução livre do Cambridge Dictionary, significa segurar, prender, conter, manter. No 
contexto aqui abordado, “holding” também pode se traduzir, em verdade, como uma sociedade 
que tem por objeto participar de outras sociedades, de modo a participar do capital de outras 
sociedades em um nível que seja possível controlá-las (TEIXEIRA, 2007). 
Para Mamede e Mamede (2020), a constituição de uma holding pode ser feita dentro 
de contextos variados e para atender diferentes objetivos. 
A visão de uma holding é voltada para si mesma. A produtividade das empresas 
controladas ou coligadas à holding são mais importantes do que o produto oferecido por elas, e 
é o elo entre o empresário e família e o seu grupo patrimonial (LODI; LODI, 2012). 
Para Mamede e Mamede, o termo holding company é utilizado para nomear pessoas 
jurídicas que são titulares de bens e direitos, podendo incluir ou não “bens imóveis, bens 
móveis, participações societárias, propriedade industrial (patente, marca etc.), investimentos 
financeiros etc.” (2020, p. 13). 
Tal conceituação da matéria também já foi apresentada por autores estrangeiros, a 
exemplo de Walter E. Lagerquist (1991), que define a holding da seguinte forma: 
 
Companhia holding é qualquer empresa que mantém ações de outras companhias em 
quantidade suficiente para controlá-las e emitir certificados próprios. Em sua forma 
mais pura, a companhia holding não opera partes de sua propriedade, mas direta ou 
indiretamente controla as políticas operativas e habitualmente patrocina todo o 
financiamento. (WALTER; LAGERQUIST, 1991 apud LODI; LODI, 2012, p. 4) 
 
Outro conceito interessante é do também estrangeiro Oscar Hardy, que define a 
companhia holding como “uma sociedade juridicamente independente que tem por finalidade 
a adquirir e manter ações de outras sociedades, juridicamente independentes, com o objetivo de 
controlá-las, sem com isso praticar atividade comercial ou industrial (OSCAR HARDY, apud 
LODI e LODI, 2012, p. 4) 
Conforme será aprofundado no próximo capítulo, para Lodi e Lody (2012) os 
conceitos retro mencionados, de Walter E. Lagerquist e de Oscar Hardy, são “importados” e 
traduzem o que podemos chamar de holding pura, funcionando apenas para manter ações de 
outras companhias. No Brasil, a holding mista é mais utilizada, em razão de questões tanto 
fiscais quanto administrativas, prestando serviços civis ou comerciais (LODI; LODI, 2012). 
 13 
Além das questões conceituais, demonstra-se necessário apontar preliminarmente o 
respaldo encontrado pelas holdings no ordenamento jurídico interno, introduzido através da Lei 
6.404/76, Lei das S/A, artigo 2º, §3º, senão vejamos: 
 
Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário 
à lei, à ordem pública e aos bons costumes. 
§ 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não 
prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, 
ou para beneficiar-se de incentivos fiscais. 
 
Ainda que a segunda parte do parágrafo faculte a participação como meio de realização 
do objeto social, a expressão da atividade de participação em outras sociedades seria prudente, 
de modo a afastar um possível desvio de objeto (CARVALHOSA, 2009). 
Neste sentido, o artigo 243, §1º e §2º da mesma Lei, também dispõe sobre holdings, 
ao mencionar sociedades coligadas, controladas e controladoras: 
 
Art. 243. O relatório anual da administração deve relacionar os investimentos da 
companhia em sociedades coligadas e controladas e mencionar as modificações 
ocorridas durante o exercício. 
§1º São coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influência significativa. 
§ 2º Considera-se controlada a sociedade naqual a controladora, diretamente ou 
através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo 
permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria 
dos administradores. 
 
Os dispositivos de lei mencionados, apesar de estarem na Lei das Sociedades 
Anônimas, não significam, no entanto, que esse deverá ser a forma societária da holding. As 
sociedades limitadas que adotarem a Lei das S/A como regência supletiva de sua legislação 
básica poderão constituir holding sob essa forma societária (LOPES, 2012 apud LOBATO, 
2014). 
Após breve avaliação das variações conceituais, verifica-se então que os principais 
elementos que constituem uma holding somam-se em: personalidade jurídica própria, 
participação societária em outras sociedades e titularidade de bens e direitos. Destarte, adiante 
analisaremos a classificação e os tipos de holding. 
 
 
 14 
2 CLASSIFICAÇÃO 
 
A classificação das holdings, assim como sua conceituação, é extremamente variada 
em nomenclaturas. Importante frisar que, no presente trabalho, abordaremos especialmente a 
holding pura e a holding mista, para então, finalmente, adentrarmos no que tange a holding 
familiar. 
A título exemplificativo, Edna Pires Lodi e João Bosco Lodi (2012) enumeram no 
plano estrutural vinte e dois tipos de holding. Ainda, apenas para fins de que reste demonstrada 
a mencionada variedade de classificações, vejamos quais as classificações de holdings para 
Mamede e Mamede (2020), que não possui lista tão extensa quanto Lodi e Lodi (2012): 
 
Holding pura: sociedade constituída com o objetivo exclusivo de ser titular de quotas 
ou ações de outra ou outras sociedades. É também chamada de sociedade de 
participação. 
Holding de controle: sociedade de participação constituída para deter o controle 
societário de outra ou de outras sociedades. 
Holding de participação: sociedade de participação constituída para deter 
participações societárias, sem ter o objetivo de controlar outras sociedades. 
Holding de administração: sociedade de participação constituída para centralizar a 
administração de outras sociedades, definindo planos, orientações, metas etc. 
Holding mista: sociedade cujo objeto social é a realização de determinada atividade 
produtiva, mas que detém participação societária relevante em outra ou outras 
sociedades. 
Holding patrimonial: sociedade constituída para ser a proprietária de determinado 
patrimônio. É também chamada de sociedade patrimonial. 
Holding imobiliária: tipo específico de sociedade patrimonial, constituída com o 
objetivo de ser proprietária de imóveis, inclusive para fins de locação. (MAMEDE; 
MAMEDE, 2020, p. 16) 
 
Todas essas espécies de holdings são, na verdade, meras definições para fins didáticos 
(SILVA; ROSSI, 2017): são caracterizadas por sua finalidade e esmiúçam a matéria para que 
se torne mais compreensível, não desdobram quaisquer efeitos jurídicos. 
Neste mesmo sentido, Djalma de Pinho Rebouças de Oliveira (2014) pontua que, mais 
importante que a classificação da holding em si, é a filosofia de administração que uma holding 
pode oferecer, visando otimizar resultados. 
 
2.1 HOLDING PURA 
 
Segundo Fabio Silva e Alexandre Rossi (2017), a holding pura essencialmente tem o 
objetivo social e exclusivo de participar no capital social de outra sociedade, significando que 
se trata de uma empresa cuja atividade única é de manter quotas ou ações de outras. Neste 
 15 
sentido, em função de seu objetivo, essa espécie é conhecida como “sociedade de participação” 
(ROCHA JÚNIOR; et al., 2014, apud SILVA; ROSSI, 2017). 
Nessa esfera das holdings puras, também se fala em uma distinção entre a holding de 
participação e a holding de controle: enquanto a holding de participação teria o objetivo de 
titularizar as quotas ou ações de outras sociedades, conforme mencionado acima, as holdings 
de controle titularizariam tais quotas ou ações em quantidade suficiente para exercer controle 
societário (MAMEDE; MAMEDE, 2020). 
Edna Pires Lodi e João Bosco Lodi (2012), ao classificar holdings através de seus 
mapas societários, aponta a holding pura como para casos especiais, como em sucessão 
conflitiva e ausência dos sócios, por exemplo. Ainda, aponta que não é recomendada para 
questões fiscais, e que a holding de controle puro pode ser “sócia do sócio, pessoa física, 
formando o par necessário para a constituição de qualquer outra empresa”. Finaliza apontando 
o que aparenta ser pacífico entre os autores mencionados, no que diz respeito às holdings puras: 
“só participa, não administra, não controla nem gerencia.” (LODI; LODI, 2012, p. 52) 
 
2.2 HOLDING MISTA 
 
No aspecto mais exemplificativo, Oliveira (2014, p. 19) descreve a holding mista como 
aquela que “desenvolve atividades operacionais (industrial ou comercial) e também realiza 
serviços, principalmente para as afiliadas, tais como serviços de planejamento estratégico, 
marketing, informática, recursos humanos, relações públicas, assistência jurídica, organização 
e métodos.” 
Definida por Lodi e Lodi (2020) como mais usual, que conta mais recursos para 
planejamento fiscal, mais indicada para avaliação de novos empreendimentos, mais dinâmica e 
maleável administrativamente, a holding mista é trazida por Mamede e Mamede (2020) como 
uma oposição à holding pura. Isso porque, segundo ele, trata-se de uma sociedade que não se 
dedica exclusivamente à titularidade de participação, mas que, paralelamente, se dedica a 
atividades empresariais em sentido estrito, como à prestação de serviços e circulação de bens, 
por exemplo. O artigo 2º, §3º da Lei 6.404/76 prevê exatamente esta modalidade de holding, 
quando versa que “a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para 
beneficiar-se de incentivos fiscais”. Isto é, uma sociedade que possui objeto social de produção 
ou comercialização de um produto etc., pode titularizar quotas ou ações de outras sociedades 
sem que seja necessário que essa informação conste no seu objeto social (MAMEDE; 
MAMEDE, 2020). 
 16 
Embora o artigo retro mencionado não expresse a respeito, ainda é possível que seja 
constituída uma sociedade que tenha por objetivo ser titular de patrimônio, como bens imóveis 
ou móveis, patentes, marcas, aplicações financeiras e até mesmo as próprias quotas e ações de 
outras sociedades etc. (MAMEDE; MAMEDE, 2020). A esse tipo de sociedade se daria o nome 
de holding patrimonial ou sociedade patrimonial, segundo Mamede e Mamede (2020). Nesta 
mesma contextualização específica, pode se falar na holding familiar, que abordaremos no 
capítulo seguinte. 
 
 
 
 17 
3 A HOLDING FAMILIAR 
 
Antes de adentramos especificamente nas holdings familiares, é importante 
visualizarmos um breve panorama das chamadas empresas familiares. Uma pesquisa feita pelo 
Sebrae em abril de 2017 sobre essas empresas, reuniu as seguintes evidências empíricas: 
 
• 95% das 300 maiores empresas são controladas por famílias (GARCIA, 2001); 
• 80% das empresas existentes no mundo são familiares (GERSICK; et al., 1997); 
• Mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA é gerado por empresas 
familiares e 1/3 das cias mais bem-sucedidas naquele país é de origem familiar 
(Santos, 1997); 
• 70% dos empreendimentos familiares existentes no mundo não resistem à morte do 
fundador (SOARES; MACHADO; MAROCCO, 1997); 
• De cada 10 empresas brasileiras, nove eram familiares e que seu controle estava com 
uma ou mais famílias (BERNHOEFT, 1989); 
• Nos EUA, 75% de empresas são familiares e empregam cerca de 55% da força total 
de trabalho; (SEBRAE, 2017) 
 
Além disso, um relatório especial também do Sebrae sobre o mesmo tema, datado de 
setembro de 2015, também reuniu algumas informações sobre o universo dos pequenos 
negócios formais no Brasil. Na pesquisa, participaram 6.013 empresas (MEI, ME e EPP). As 
entrevistasocorreram entre 3 e 31 de agosto de 2015, e restou demonstrado que: 
 
• 57% das Micro e Pequenas Empresas no Brasil possuem parentes entre seus sócios 
e/ou empregados/colaboradores (com ou sem carteira assinada); 
• 71% das Empresas de Pequeno porte (EPP), 68% das Microempresas (ME) e 38% 
dos Microempreendedores Individuais (MEI) são “empresas familiares”. Deve-se 
observar que a maioria dos MEI são indivíduos que tocam seu próprio negócio, sem 
sócios e sem empregados, razão pela qual são poucos os que são classificados como 
“empresa familiar”, segundo a definição utilizada neste trabalho; 
• Por setores de atividade, 61% das empresas da indústria, 59% das empresas do 
comércio, 56% das empresas do setor de serviços e 41% das empresas da construção 
são “empresas familiares”. A baixa proporção de empresas familiares nestes dois 
últimos setores também parece estar associada ao fato de serem setores com alta 
proporção de MEI. (SEBRAE, 2015) 
 
Com essa perspectiva, é possível perceber que as empresas familiares ocupam uma 
parcela importante no cenário atual e a experiência familiar é fator de sucesso para a 
sobrevivência das empresas, porém, a sucessão pode ameaçar a continuidade dos negócios se 
não houver planejamento (LOBATO, 2014). Assim, a partir disso, analisaremos a holding 
familiar. 
A holding familiar, a qual daremos atenção especial no presente trabalho, para 
Mamede e Mamede (2020), não é um tipo específico de holding, mas uma contextualização 
específica, podendo ser uma holding pura ou mista, de administração, organização ou 
 18 
patrimonial. Fato é que sua principal marca é o fato de se enquadrar no âmbito de uma família, 
servindo ao planejamento de organização patrimonial, administração de bens, otimização fiscal, 
sucessão hereditária etc. (MAMEDE; MAMEDE, 2020). Isto é, ela pode ser criada para manter 
as atividades e quotas ou ações de outras empresas da família, de modo que a gestão dos 
negócios passa a se concentrar em uma única estrutura societária e, a partir disso, é possível 
adotar o tão falado planejamento sucessório e tributário, melhorando a gestão do patrimônio e 
finanças familiares (SILVA; ROSSI, 2017). 
Por fim, também é comum que a constituição se dê para desenvolver compra, venda e 
aluguel dos imóveis que compõem o patrimônio familiar (SILVA; ROSSI, 2017). 
 
3.1 NATUREZA JURÍDICA E CONSTITUIÇÃO DA HOLDING 
 
A natureza jurídica da holding empresarial estará de acordo com os moldes do artigo 
982 do Código Civil, ou seja, será simples ou empresária1. A escolha levará em consideração a 
estratégia a ser seguida pela sociedade (MAMEDE; MAMEDE, 2020). Vejamos a forma pela 
qual o dispositivo da lei as distingue: 
 
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem 
por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); 
e, simples, as demais. 
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a 
sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. 
 
Vejamos, então, o que isso significa na prática. 
As sociedades empresárias devem efetuar o registro de seus atos constitutivos, seja o 
contrato ou estatuto social, perante a Junta Comercial do Estado pertinente. Pautadas pelo 
Código Civil, as sociedades empresárias podem adotar os seguintes tipos societários 
(MAMEDE; MAMEDE, 2020): 
 
I. sociedade em nome coletivo; 
II. sociedade em comandita simples; 
III. sociedade limitada; 
IV. sociedade anônima; e 
 
1 Em contraponto, Comparato e Salomão (2008) consideram que, no Brasil, a holding sempre será sociedade 
empresária, nos termos do artigo 966 do Código Civil. Para eles, “parece possível dizer que, na gestão de 
participações, a holding organiza-se para a prestação de um serviço. Há, assim, uma empresarialidade autônoma 
da holding.” 
 19 
V. sociedade em comandita por ações. 
 
Enquanto isso, as sociedades simples devem efetuar o registro de seus atos 
constitutivos, isto é, o contrato ou estatuto social, perante os Cartórios de Registro de Pessoas 
Jurídicas, com exceção da sociedade cooperativa, que efetua o registro perante a Junta 
Comercial2. Eis os tipos societários relativos às sociedades simples (MAMEDE; MAMEDE, 
2020): 
 
I. sociedade simples em sentido estrito; 
II. sociedade em nome coletivo; 
III. sociedade em comandita simples; 
IV. sociedade limitada; e 
V. sociedade cooperativa. 
 
Outro ponto a se levar em consideração enquanto se define qual será a natureza jurídica 
de uma holding, para fins estratégicos, é relembrar que apenas as sociedades empresárias têm 
direito à recuperação, judicial ou extrajudicial, nos termos da Lei 11.101/05 e diante de uma 
quebra, as sociedades empresárias são submetidas à falência, também nos termos da Lei retro 
mencionada. Já as sociedades simples se submetem ao procedimento de insolvência, isto é, de 
acordo com o Código Civil e Código de Processo Civil (MAMEDE; MAMEDE, 2020). Por 
outro lado, para as holdings puras, esse ponto pode não ter tanta relevância, pois além das 
obrigações fiscais incidentes sobre sua receita, por não contraírem outras obrigações, não se 
tornam inadimplentes (MAMEDE; MAMEDE, 2020). 
 
3.1.1 Subscrição e integralização do capital social 
 
Para Mamede e Mamede (2020), a constituição de uma sociedade, seja ela simples ou 
empresária, como vimos no capítulo anterior, possui elementos essenciais na subscrição do 
capital social e na sua integralização. 
Cumpre esclarecer que o capital social é constituído pelo investimento feito pelos 
sócios na empresa para realizar o objeto social e, por esse motivo, há necessidade de definir no 
contrato ou estatuto social – levado a registro – qual será o valor efetivo, em moeda corrente 
 
2 Em virtude da Lei 5.764/71. 
 20 
(conforme exigido pela legislação), integralizando-o e conservando-o no patrimônio societário 
(MAMEDE; MAMEDE, 2020). No entanto, há também que se distribuir os ônus do 
investimento na sociedade, e daí surge o instituto da subscrição e, consequentemente, da 
integralização (MAMEDE; MAMEDE, 2020). 
Segundo Mamede e Mamede (2020), a constituição de uma sociedade implica 
destinação de valores para a formação do capital social. Todo sócio possui o dever de contribuir 
com a sociedade, começando pela integralização das quotas ou ações subscritas, sendo que: 
 
[...] se não for feita no ato da assinatura do contrato social, ou ato de fundação da 
companhia, deverá ser feita na forma (ou modo) e prazo estipulados pelo contrato ou 
estatuto social. Forma ou modo, pois o sócio pode ter se comprometido, por exemplo, 
a transferir à sociedade a propriedade de determinado imóvel como forma de 
integralização dos títulos societários que subscreveu, assumindo tal declaração, 
devida e regularmente assinada, a natureza de promessa, permitindo, inclusive, pedido 
judicial de outorga de escritura. (MAMEDE; MAMEDE, 2020, p. 116) 
 
Neste cenário, a subscrição aparece como sendo o ato de assumir títulos societários – 
quotas ou ações – que correspondem a parcelas do capital social da empresa. Os títulos 
subscritos devem ser integralizados, isto é, o valor correspondente às quotas ou ações subscritas 
deve ser transferido para a sociedade (MAMEDE; MAMEDE, 2020). 
A transferência dos valores correspondente às quotas ou ações subscritas pode ser 
através de qualquer “bem com expressão econômica”, ou seja, não apenas em dinheiro, mas 
desde que seja possível avaliar pecuniariamente aquele bem que será transferido para a 
sociedade (MAMEDE; MAMEDE, 2020). 
Nas holdings familiares, há, ainda segundo Mamede e Mamede (2020), a seguinte 
particularidade: apesar de não ser obrigatório, é comum que o capital seja totalmente subscrito 
e integralizado no ato da constituição da sociedade e por meio da transferência dos bens para a 
sociedade: “as participações societárias ou, eventualmente, outros bens, móveisou imóveis, 
materiais ou imateriais (propriedade intelectual, como marcas, patentes etc.)”. 
Por fim, importante destacar que a integralização não é ato privativo do sócio e que o 
investimento pode ser feito por outrem, em nome e a bem do sócio (MAMEDE; MAMEDE, 
2020). 
 
 
 
 21 
4 TIPOS DE SOCIEDADE 
 
Conforme já pontuado ao longo do presente trabalho, a holding não se configura como 
um tipo societário específico e, em verdade, a sua denominação é originada no objetivo a ser 
atingido com a constituição da empresa (SILVA; ROSSI, 2017). É fato que, segundo Tiago 
Loeblein (2017), a criação de uma holding culmina em uma separação patrimonial: os sócios 
ou acionistas passam a deter em patrimônio as quotas ou ações de emissão da holding, e os bens 
propriamente ditos, como móveis ou imóveis, quotas ou ações de sociedades controladas 
passam a ser de propriedade da holding. 
Apesar da diversidade de tipos societários possíveis, como exposto no capítulo 3.1, 
alguns autores apontam que nem todos eles seriam adequados para uma holding, tendo em vista 
suas particularidades. Segundo João Alberto Borges Teixeira (2007): 
 
O tipo societário deve ser definido tendo em vista os objetivos a serem alcançados 
com a constituição da holding. A forma social limitada é a mais adequada quando se 
pretende impedir que terceiros estranhos à família participem da sociedade, no caso 
de holding familiar. Na prática, dá-se preferência em constituir uma sociedade 
empresária, em virtude de maior simplicidade e menor custo do registro feito pela 
Junta Comercial. (TEIXEIRA, 2007) 
 
Neste capítulo, serão abordados dois tipos societários possíveis para uma holding, 
quais sejam, a sociedade limitada e a sociedade anônima. 
Frisa-se que não há um único modelo ideal e cada núcleo familiar deve analisar as 
opções e definir seu modelo de acordo com o que considerar mais vantajoso em seu caso 
concreto. 
 
4.1 SOCIEDADE LIMITADA 
 
A sociedade limitada é regida pelo Código Civil, Lei 10.406/2002, principalmente 
através dos artigos 1.052 a 1.087. A Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76) também pode 
ser aplicada, de forma complementar à sociedade limitada, desde que haja previsão contratual 
nesse sentido (conforme o artigo 1.053, parágrafo único) e que não contradiga o Código Civil 
(SILVA; ROSSI, 2007). 
Como abordado por Fabio Silva e Alexandre Rossi (2017), a limitação da 
responsabilidade de seus sócios é a principal característica da sociedade limitada e a razão pela 
qual é mais popularmente conhecida. De acordo com os autores, tal característica protege o 
 22 
patrimônio pessoal dos sócios ao passo que estimula a prática empresarial, já que toda atividade 
comercial traz ameaças de insucesso. 
Ainda, além de proteger negócios individuais, a responsabilização limitada protege a 
sociedade como um todo, pois empregos são mantidos, há oferta de produtos e arrecadação de 
tributos, por exemplo (SILVA; ROSSI, 2017). O professor Fábio Ulhôa Coelho (2016) sintetiza 
a questão da seguinte forma: 
 
A limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais pode parecer, à 
primeira vista, uma regra injusta, mas não é. Como o risco de insucesso é inerente a 
qualquer atividade empresarial, o direito deve estabelecer mecanismos de limitação 
de perdas, para estimular empreendedores e investidores à exploração empresarial dos 
negócios. Se o insucesso de certa empresa pudesse sacrificar a totalidade do 
patrimônio dos empreendedores e investidores (pondo em risco o seu conforto e de 
sua família, as reservas para futura educação dos filhos e sossego na velhice), é natural 
que eles se mostrariam mais reticentes em participar dela. O prejuízo seria de todos 
nós, já que os bens necessários ou úteis à vida dos homens e mulheres produzem-se 
em empresas. (COELHO, 2016, p. 105) 
 
As sociedades limitadas são formadas por duas ou mais pessoas e seus atos societários 
são registrados perante a Junta Comercial, conforme já mencionado. O capital social é dividido 
por quotas e a responsabilidade dos sócios fica limitada ao valor das quotas subscritas, nos 
termos do artigo 1.052 do Código Civil, senão vejamos: 
 
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor 
de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital 
social. 
 
No entanto, essa limitação não é absoluta e se for considerado que há abuso da 
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão patrimonial, nos 
termos do artigo 50 do Código Civil, pode haver a chamada desconsideração da personalidade 
jurídica. 
Mamede e Mamede (2020) dividem a questão da divisão do capital social em dois 
sistemas. No de quotas iguais, todo o capital social é dividido em quotas de mesmo valor, sendo 
que cada sócio possui o número de quotas correspondente à sua participação no capital social. 
Há também o sistema de uma quota para cada sócio, no valor total de sua participação no capital, 
no qual admite-se quotas desiguais. Os autores pontuam ainda que a quota é indivisível em 
relação à sociedade, a não ser que haja uma mudança na divisão do capital social, por meio de 
alteração, para concentrar ou dividir quotas. 
 23 
Ademais, na sociedade limitada há alguns atrativos, como facilidade de constituição e 
administração; é menos burocratizada, com custo de constituição e manutenção moderados, 
ainda mais quando comparados à sociedade anônima (SILVA; ROSSI, 2017). 
Para finalizar, Silva e Rossi (2017) listam de modo objetivo alguns dos principais 
atributos da sociedade de responsabilidade limitada, alguns pontos inclusive já tratados no 
presente trabalho: 
 
1. Conforme disposto no artigo 1.052 do Código Civil, a responsabilidade de cada 
sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela 
integralização do capital social. 
2. O capital social é dividido em quotas, que podem ser iguais ou desiguais, podendo 
um sócio ter uma ou várias quotas do capital. 
3. Todos os sócios respondem solidariamente pelo prazo de até 5 anos da data do 
registro da sociedade, pela exata estimação de bens conferidos ao capital social, nos 
termos do § 1o artigo 1.055 do Código Civil. 
4. É regida pelo Código Civil e, naquilo que não confrontar, pelas normas da 
sociedade simples ou sociedade anônima, desde que estabelecido em contrato social 
esta previsão. 
5. Pode ser instituído conselho fiscal com um número de no mínimo 3 membros, sendo 
eles sócios ou não, conforme estabelece o artigo 1.066 do Código Civil. 
6. Em sendo instituído o conselho fiscal, é assegurado aos sócios minoritários, 
representando 1/5 do capital social, o direito de eleger um de seus membros. 
7. Não é permitida a integralização do capital social com contribuição com prestação 
de serviços. 
8. Pode prever no contrato social restrições à entrada de pessoas estranhas na 
sociedade. 
9. Seus atos constitutivos são arquivados na Junta Comercial de sua sede. (SILVA; 
ROSSI, 2017, p. 35) 
 
4.2 SOCIEDADE ANÔNIMA 
 
Disciplinada pela Lei 6.404/76, a sociedade anônima tem seu estatuto social levado a 
registro perante a Junta Comercial do Estado competente, qual seja, onde se localizar a sede da 
empresa. Nos termos do artigo 1º do dispositivo legal retro mencionado, o capital social da 
sociedade anônima, também chamada de companhia, é dividido em ações e a responsabilidade 
dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas. 
De acordo com o artigo 107 da Lei 6.404/76, a subscrição de ações obriga o sócio a 
realizar, nas condições previstas no estatuto ou boletim de subscrição, a prestação 
correspondente às ações subscritas ou adquiridas, assim como ocorre na sociedade limitada. No 
caso de mora do acionista, a companhia pode escolher entre: a) promover processo de execução 
para cobrar do acionista e daquelesque forem solidariamente responsáveis as importâncias 
devidas – caso em que o boletim de subscrição e o aviso de chamada são títulos extrajudiciais, 
 24 
nos termos do Código de Processo Civil; ou b) mandar vender as ações em bolsa de valores, 
por conta e risco do acionista. 
O estatuto social não revela o nome dos sócios da empresa3, mas deve definir com 
precisão o objeto da companhia, que pode ser qualquer empresa de fim lucrativo, e inclusive 
“ser uma holding” (MAMEDE; MAMEDE, 2020). Além disso, os nomes dos respectivos 
titulares de cada ação devem constar no Livro de Registro de Ações Nominativas (MAMEDE; 
MAMEDE, 2020). 
No caso de uma companhia aberta, a negociação das ações e outros títulos da sociedade 
anônima ocorrem mediante oferta pública através do mercado de valores mobiliários, de 
responsabilidade da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No entanto, esse tipo de 
companhia não se demonstra muito compatível com a ideia de uma holding familiar, que tem 
fim de conservar o patrimônio familiar e evitar a entrada de terceiros (LOEBLEIN, 2017). 
Já na companhia fechada, esses títulos não vão à oferta pública (MAMEDE; 
MAMEDE, 2020). Os acionistas serão aqueles que decidiram juntos constituir uma sociedade 
e há restrições na entrada de investidores externos a esse grupo (OLIVEIRA, 2016). 
Esse tipo societário pode se adequar para constituição de uma holding familiar, 
portanto, por haver limitação de responsabilidade e ser possível prever no estatuto restrições à 
circulação das ações (SILVA; ROSSI, 2017). 
Por outro lado, há também algumas desvantagens, como custo de manutenção, já que 
a Lei 6.404/76 exige que sejam publicados diversos atos sociais, o que pode se demonstrar 
bastante oneroso (LOEBLEIN, 2017). Outro ponto que pode ser considerado indesejado pelos 
sócios é a necessidade de, anualmente, haver publicação do balanço patrimonial e das demais 
operações financeiras ao conhecimento público, nos termos do artigo 176 da referida Lei 
(LOEBLEIN, 2017). 
Por fim, como listado por Silva e Rossi (2017) no caso das sociedades limitadas, 
somam-se como as principais características das sociedades anônimas: 
 
1. A responsabilidade do acionista é limitada ao preço das ações adquiridas ou 
subscritas, uma vez integralizada, o acionista não terá, regra geral, outras 
responsabilidades, sendo atingido somente o patrimônio da companhia; 
 
3 “Ao contrário do contrato social, o estatuto social não traz o nome dos sócios da empresa, mas apenas registra 
aqueles que estavam presentes à sua fundação, dispensando alterações quando haja cessão de ações e, com ela, da 
condição de sócio; essa transferência será feita em livro próprio. Mas o estatuto deve definir, de modo preciso e 
completo, o objeto da companhia, que pode ser qualquer empresa de fim lucrativo, desde que não seja contrária à 
lei, à ordem pública e aos bons costumes. Esse objeto pode ser, inclusive, participar de outras sociedades: ser uma 
holding. Também sociedades que tenham outros objetos sociais podem ter participações em outras sociedades, 
ainda que isso não esteja previsto no seu ato constitutivo” (MAMEDE; MAMEDE, 2020, p. 33). 
 25 
2. Por ser uma sociedade de capitais, prepondera a relevância do capital somado em 
detrimento das características pessoais dos acionistas, embora nas sociedades de 
capital fechado haja entendimentos no sentido de existir o intuitu personae; 
3. O capital é dividido em partes iguais, de valor nominal, em regra; 4. Pode ser 
companhia aberta ou fechada, conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam 
ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários; 
5. No caso de sociedade anônima “fechada”, desde que não impeça a negociação, 
poderá o Estatuto trazer restrições à sua circulação; 
6. É formada por no mínimo dois sócios que são denominados acionistas; 
7. Possui necessariamente três órgãos – Assembleia Geral, Diretoria e Conselho 
Fiscal, sendo os dois primeiros de funcionamento permanente e o último de acordo 
com o ‘disposto no estatuto; 
8. As sociedades anônimas de capital aberto terão, obrigatoriamente, um Conselho de 
Administração. No caso das de capital fechado, esse órgão é facultativo; 
9. Exige-se ampla publicidade de seus atos. (SILVA; ROSSI, 2017, p. 44) 
 
Uma vez pontuados os dois principais tipos possíveis de sociedade para a empresa 
holding, podemos então afunilar para o objeto do presente trabalho: sucessão familiar e holding. 
 
 26 
5 SUCESSÃO FAMILIAR E HOLDING 
 
Para Mamede e Mamede (2020), a proliferação do mercado de falsos especialistas que 
oferecem soluções empresariais milagrosas, enfraqueceu o pensamento sobre a utilidade do 
planejamento sucessório para o sucesso grupos empresariais familiares. Segundo eles, esses 
falsos especialistas vendem a blindagem patrimonial como promessa de redução de encargos 
fiscais e proteção de bens contra credores, mas que muitas vezes envolvem práticas que, para o 
ordenamento jurídico pátrio, são crime. 
Uma análise técnica, por outro lado, pode ser muito proveitosa, pois assim, é possível 
compreender a organização, estrutura, funcionamento da empresa familiar, além de ser possível 
mapear a preparação adequada para ingresso de novas gerações dentro da organização 
(MAMEDE; MAMEDE, 2020). 
 
5.1 PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 
 
Dentre as vantagens da constituição da holding familiar, o planejamento sucessório 
certamente merece destaque. A utilização dos mecanismos legais adequados pode promover 
uma sucessão adequada e sem os entraves de um procedimento de inventário, por exemplo, que 
pode se estender por anos a fio, além de oferecer proteção ao patrimônio familiar, que pode 
sofrer com efeitos de conflitos familiares, divórcios e ataques de terceiros. 
Nas palavras de Mamede e Mamede (2020), após o evento traumático da morte de um 
ente querido, a transferência de bens para os herdeiros é feita sem qualquer espécie de 
planejamento e normalmente com muita urgência, o que pode acarretar certa desordem e 
consequências caras para a empresa familiar. 
Como apontado pelos autores, a constituição da holding significa, então, uma sucessão 
conduzida pelo próprio empresário ou empresária, na figura de chefe e orientador da família, 
de modo que a nova geração é inserida à administração dos negócios enquanto a geração 
anterior ainda está viva, sendo possível detectar até mesmo quais as capacidades ou 
incapacidades gerenciais dos futuros membros da estrutura. 
Destarte, o presente capítulo destacará alguns meios que, no âmbito da holding 
familiar, podem ser utilizados para efetivar desejados resultados. 
 
 
 27 
5.1.1 Herança e testamento 
 
Nos termos do artigo 1.784 do Código Civil, aberta a sucessão, desde logo a herança 
transmite-se aos herdeiros legítimos e testamentários. Os herdeiros necessários são os 
descendentes, ascendentes e cônjuges, e a metade dos bens da herança pertencem a eles, de 
pleno direito, o que constitui a legítima (arts. 1.845 e 1.846 do Código Civil). Já os herdeiros 
testamentários, são aqueles feitos herdeiros a partir de testamento, ato personalíssimo deixado 
por pessoa capaz (art. 1.857 do Código Civil). Importante saber que a legítima dos herdeiros 
necessários não pode ser incluída em testamento, de acordo com o artigo 1.857, §1º do Código 
Civil. 
Dá-se a sucessão legítima quando o falecido não deixou testamento ou quando houve 
problemas com esse, transmitindo-se a herança proporcionalmente aos herdeiros legítimos, nos 
termos do Código Civil. Aqui, se entre os bens houver uma ou mais empresas, haverá desafios 
quanto à administração dessas durante o processo de inventário, pois os atos de gestão estarão 
afeitos a ele, além de eventuais disputas entre herdeiros quanto aos seus quinhões (MAMEDE; 
MAMEDE, 2020). Mamede e Mamede (2020) observam ainda que, com a divisão dos bens, há 
também divisão societária ne empresa: 
 
Se a famíliadetinha 60% das quotas ou ações, quatro herdeiros irão deter, cada um, 
15%, o que pode levar a um enfraquecimento do poder de controle. Há, ademais, o 
risco de que os herdeiros se engalfinhem numa disputa pela administração societária. 
(MAMEDE; MAMEDE, 2020, p. 94) 
 
A sucessão testamentária, por sua vez, ocorre quando há testamento válido, feito por 
pessoa capaz, que dispõe da totalidade ou parte de seus bens para depois de sua morte, 
respeitando os limites impostos pelo Código Civil, por exemplo: segundo o artigo 1.789, se 
houver herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança. 
Para Mamede e Mamede (2020), o testamento foi frequentemente utilizado para evitar 
conflitos entre herdeiros, tendo em vista que, após a morte do testador, é possível discutir apenas 
nulidades e anulabilidades do ato, mas não o mérito em si. Ainda segundo os autores, o 
testamento não resolve o problema de empresas familiares, pois não permite definir uma 
distribuição de funções no âmbito das unidades produtivas: se a distribuição deixou 
participações na sociedade a um ou mais herdeiros, é possível que a sucessão seja seguida pelo 
início de uma disputa por poder pelos negócios, que pode, consequentemente, ser seguida por 
 28 
fragmentação de quotas ou ações, o que culminaria em perda de controle da família sobre o 
negócio. 
 
5.1.2 Doação e antecipação de legítima 
 
O Código Civil, através de seu artigo 538, dispõe que se considera doação o contrato 
em que uma pessoa, por liberalidade, transfere bens ou vantagens de seu patrimônio para o de 
outra. Para Silva e Rossi (2017), então, quando há contraprestação em favor do doador, não há 
doação, pois a não contraprestação é característica da doação. Além disso, ela precisa ser 
realizada por mera liberalidade, de modo que se houver constrangimento do doador para 
realização do ato, então a doação é nula. 
O artigo 548, ainda, estabelece que é nula a doação de todos os bens sem reserva de 
parte ou renda suficiente para subsistência do doador. Destarte, se protege o doador da 
insubsistência e evita que a insolvência afete terceiros de boa-fé, como no caso daquele devedor 
que se livra de seus bens para evitar expropriação em função de contração de dívida4. 
Ainda, se houver herdeiros necessários, o doador não pode dispor da parte legítima de 
seus bens, assim como acontece na sucessão testamentária, conforme mencionado no 
subcapítulo anterior, e é nula caso ocorra (art. 549 do Código Civil). 
Dito isso, uma vez constituída a holding familiar – tendo como sócios os patriarcas e 
seus herdeiros – e com a subscrição e integralização do capital social da holding pelos 
patriarcas, o patrimônio desses deixa de pertencer às pessoas físicas e passa a constituir 
patrimônio da pessoa jurídica da empresa recém-criada. Nessa esfera, é possível exercer a 
antecipação de legítima, disposto através do artigo 544 do Código Civil, senão vejamos: 
 
Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa 
adiantamento do que lhes cabe por herança. 
 
Isto é: quando o patriarca ou a matriarca, após subscrever e integralizar patrimônio na 
pessoa jurídica da holding, realiza a doação de suas quotas aos seus filhos, configura-se o 
adiantamento da legítima, pois os herdeiros estarão recebendo desde logo o que lhe caberia por 
recebimento de herança, sempre respeitando o direito de cada um quanto à legítima (SILVA; 
 
4 “Nesse exemplo, o ato, ainda que não oneroso e feito por mera liberalidade, o que lhe confere aparente legalidade, 
é na verdade nulo.” (SILVA; ROSSI, 2017, p. 104) 
 29 
ROSSI, 2017). A divisão de bens entre os familiares não precisa ocorrer apenas após o evento 
morte. 
É importante também ressaltar que, exceto se os doadores forem casados no regime de 
separação absoluta, haverá necessidade de outorga do cônjuge para que a doação seja válida, 
principalmente no que diz respeito aos bens imóveis, nos termos do artigo 1.647 do Código 
Civil. 
 
5.1.3 Reserva de usufruto 
 
Conforme tratado no subcapítulo anterior, o artigo 548 do Código Civil estabelece que 
é nula a doação de todos os bens sem reserva de parte ou renda suficiente para subsistência do 
doador, assim protegendo o doador de insubsistência e os terceiros de boa-fé, em caso de 
insolvência (nos termos do artigo 158 do Código Civil). 
Portanto, em se tratando de intenção de doação da totalidade do patrimônio, é 
necessário que o doador reserve o usufruto de bens que o mantenham subsistente, para viabilizar 
a doação. 
O usufruto tem fulcro no artigo 1.390 do Código Civil, senão vejamos: 
 
Art. 1.390. O usufruto pode recair em um ou mais bens, móveis ou imóveis, em um 
patrimônio inteiro, ou parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os frutos e 
utilidades. 
 
Como versado pelos autores Mamede e Mamede (2020), quando esse instituto é 
aplicado para quotas ou ações, haverá então, de um lado, a figura do nu-titular: aquele que é 
titular dos títulos societários, mas apenas de seu direito patrimonial; já do outro lado, haverá o 
usufrutuário: a ele corresponde o direito de exercer as faculdades sociais provenientes da posse 
das quotas, como exercício de votos5 e recebimento de dividendos, com fulcro no artigo 1.394 
do Código Civil, que assim estabelece: 
 
Art. 1.394. O usufrutuário tem direito à posse, uso, administração e percepção dos 
frutos. 
 
 
5 Anote-se, nas palavras de Silva e Rossi: “Destaca-se, no entanto, que, em se tratando de sociedade anônima, ao 
fazer a doação das ações com reserva de usufruto, o doador deve registrar a manutenção do direito de voto, sob 
pena de ser exigido acordo prévio entre o proprietário e o usufrutuário, conforme determina o artigo 114 da Lei n. 
6.404/76.” (2017, p. 112) 
 30 
No âmbito da holding, isso significa que o(s) genitor(es) na condição de usufrutuário 
mantém o poder de exercer os direitos relativos às quotas e, consequentemente, a administração, 
controle das sociedades operacionais e demais investimentos da família (MAMEDE; 
MAMEDE, 2020). 
Os herdeiros possuem apenas a nua-propriedade das quotas, e os efeitos da doação 
serão percebidos apenas após a extinção do usufruto, cujas hipóteses estão dispostas no artigo 
1.410 do Código Civil, sendo que pode ocorrer: 
 
Art. 1.410 [...]6 
I - pela renúncia ou morte do usufrutuário; 
II - pelo termo de sua duração; 
III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, 
se ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer; 
IV - pela cessação do motivo de que se origina; 
V - pela destruição da coisa, guardadas as disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, 
e 1.409; 
VI - pela consolidação; 
VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, 
não lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos 
de crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único 
do art. 1.395; 
VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e 
1.399). 
 
Na hipótese de doação de quotas com reserva de usufruto vitalício como instrumento 
para planejamento sucessório, entende-se que seria necessária a morte do usufrutuário para que 
fosse cumprido o objetivo da doação como uma facilitadora da sucessão. 
Por fim, conforme lembrado por Mamede e Mamede (2020), nos termos do artigo 979 
do Código Civil, os pactos, declarações antenupciais do empresário, títulos de doação, herança 
ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade, deverão ser 
registrados não apenas no Registro Civil, mas também no Registro Público de Empresas 
Mercantis, para que se tornem eficazes perante terceiros. 
 
5.1.4 Cláusulas restritivas das doações 
 
A doação de quotas com reserva de usufruto dentro da pessoa jurídica da holding,relatada no subcapítulo interior, no entanto, não é a única medida que pode ser tomada pelo 
patriarca ou matriarca para proteger o patrimônio familiar. Importante também apontar desde 
 
6 “Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no Cartório de Registro de Imóveis”. 
 31 
já, que as cláusulas aqui tratadas podem ser aplicadas não apenas para a doação de quotas, mas 
também para outros bens. 
Conforme lecionado por Silva e Rossi (2017), as cláusulas que serão aqui tratadas são 
empregadas, em especial, para proteger o patrimônio da interferência de terceiros que não 
tenham vínculos de sangue e para que o desejo dos doadores perdure ao longo do tempo. São 
elas (além da reserva de usufruto, tratada anteriormente): incomunicabilidade, inalienabilidade, 
impenhorabilidade e reversibilidade. 
Todas essas podem ser impostas via disposição testamentária, em contrato de mútuo e 
recíproco acordo intervivos (doação) e decorrente de lei (FIORANELLI, 2009). 
A cláusula de incomunicabilidade significa, nas palavras de Fioranelli, que: 
 
 [...] os bens assim gravados não se comunicam ao cônjuge do herdeiro ou donatário, 
qualquer que seja o regime de bens adotado nas núpcias. Por morte ou desfazimento 
da sociedade, qualquer que seja a causa, os mesmos bens não entrarão em inventário 
para “extremação”. (2009, p. 43) 
 
Ainda, Gonçalves (2020) leciona no mesmo sentido e traz um exemplo: 
 
A cláusula de incomunicabilidade constitui uma eficiente proteção ao herdeiro, sem 
que, por outro lado, colida com qualquer interesse geral. O exemplo mais comum é o 
do pai cuja filha se casa pelo regime da comunhão de bens. Para evitar que, com a 
separação, os bens por ela trazidos sejam divididos com o marido não confiável, ou 
que com a morte deste os mesmos bens sejam partilhados com os seus próprios 
herdeiros, o genitor impõe a incomunicabilidade da legítima, impedindo o 
estabelecimento da comunhão (CC, art. 1.668, I). (2020, p. 220) 
 
Para Silva e Rossi (2017), não se trata de pressupor má fé de terceiros, mas de prevenir 
intempéries que podem aparecer no decorrer do tempo, como um divórcio litigioso; a cláusula 
de incomunicabilidade consegue evitar discussões acerca dos bens doados aos herdeiros e por 
ela gravados. Ela também se comunica com a cláusula de impenhorabilidade, que será tratada 
mais à frente. 
O Código Civil dispõe que, no regime de comunhão parcial de bens, participação final 
nos aquestos e separação total de bens, de todo modo, os bens recebidos por doação ou herança 
não se comunicam com o cônjuge. Já no regime de comunhão universal de bens, é importante 
que os doadores gravem a doação com a cláusula de incomunicabilidade; caso contrário, o 
cônjuge do donatário terá direito a esses bens. 
Por outro lado, não é possível gravar com tal cláusula os frutos provenientes dos bens 
recebidos em doação na constância do casamento. Nos termos do artigo 1.669, a 
 32 
incomunicabilidade dos bens não se estende aos frutos, quando se percebam ou vençam durante 
o casamento. Vejamos o exemplo dado por Silva e Rossi: 
 
Portanto, um imóvel doado ao herdeiro com cláusula de incomunicabilidade, mesmo 
que ele seja casado em regime de comunhão total, não comunica ao cônjuge. Contudo, 
os frutos percebidos em razão do aluguel do imóvel se comunicam. De forma 
semelhante, no caso de doação de quotas do capital social, esses títulos não se 
comunicam ao cônjuge, porém os frutos sim, incluindo aí distribuição de lucros. 
Significa dizer que os bens não integram o patrimônio comum do casal, mas enquanto 
durar o casamento os frutos são usufruídos por ambos. (2017, p. 116) 
 
A cláusula de inalienabilidade, por sua vez, prevista no artigo 1.911 do Código Civil, 
prevê que, quando imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e 
incomunicabilidade. Isso significaria, em outras palavras, que enquanto ainda houver a restrição 
colocada pelo doador, o bem doado não poderá ser alienado pelo donatário, o que, mais uma 
vez, implica em proteção ao patrimônio da interferência de terceiros: os herdeiros que 
receberem quotas em doação ficam incapacitados de alienar seus títulos (SILVA; ROSSI, 
2017). 
O parágrafo único do mesmo artigo ainda dispõe que, no caso de desapropriação de 
bens clausulados, ou de sua alienação, por conveniência econômica do donatário ou herdeiro, 
mediante autorização judicial, o produto da venda irá se converter em outros bens, e sobre eles, 
incidirão as restrições que estavam apostas aos primeiros. Trata-se de uma exceção à restrição 
de alienação dos bens gravados pela cláusula. Silva e Rossi (2017) lecionam no sentido de que 
a jurisprudência entende que esse parágrafo, no entanto, não pode ser um obstáculo para o 
beneficiário da doação usufruir do que recebeu, flexibilizando a restrição causada pela cláusula. 
 Nesse mesmo sentido, Gonçalves (2020) anota que a duração da cláusula de 
inalienabilidade não será mais longa do que a vida do herdeiro, isto é: uma vez que morrer o 
herdeiro detentor do bem gravado por essa cláusula, extingue-se ela também, pois a restrição 
não pode ultrapassar gerações. O Superior Tribunal de Justiça em consonância já decidiu, 
inclusive, sobre a cláusula de impenhorabilidade, que será tratada a seguir: 
 
A cláusula de inalienabilidade e impenhorabilidade, disposta no testamento em favor 
da herdeira necessária, desaparece com o seu falecimento. A cláusula pode apenas 
atingir os bens integrantes da legítima enquanto estiver vivo o herdeiro, passando 
livres e desembaraçados aos herdeiros deste. Com a morte do herdeiro necessário 
(CC/1916, art. 1.721; CC/2002, arts. 1.846 e 1.829), que recebeu bens clausulados em 
testamento, os bens passam aos herdeiros deste, livres e desembaraçados (CC/1916, 
art. 1.723; CC/2002, art. 1.848).7 
 
7 STJ, REsp 80.480-SP, 4a T., rel. Min. Rosado de Aguiar, DJU, 24/06/1996. 
 33 
 
A cláusula de impenhorabilidade, por sua vez, implica em proteção dos bens contra 
possíveis penhoras ou outras constrições judiciais ocasionadas por dívidas, ou mesmo de que 
os próprios donatários ofereçam esses bens à penhora. 
Importante ainda destacar que, quando houver cláusula de inalienabilidade, já é 
possível entender, nos termos do artigo 1.911 do Código Civil, que o bem é também 
impenhorável, visto que se o bem pudesse ser penhorado, ele poderia ser expropriado do 
donatário, o que afetaria a eficácia da cláusula de inalienabilidade por si só (SILVA; ROSSI, 
2017). 
O objetivo de gravar a doação dos bens com a cláusula da impenhorabilidade, vez 
outra, é de fazer com que as quotas permaneçam na holding familiar e dificultar a entrada de 
terceiros por direitos adquiridos em razão de dívidas (SILVA; ROSSI, 2017). 
Deve-se observar, ainda, que no tocante à bens imóveis, a jurisprudência já estabeleceu 
que as dívidas decorrentes da propriedade do bem, como IPTU ou condomínio, afastam o efeito 
da cláusula de impenhorabilidade (SILVA; ROSSI, 2017). Em outras palavras, isso significa 
que mesmo o imóvel tendo sido objeto de doação e gravado com cláusula de impenhorabilidade, 
se o imóvel tiver dívidas propter rem, é possível que este seja penhorado. 
Por fim, existe a cláusula que garante que o bem doado retorne ao doador no caso de 
morte prematura do donatário: a cláusula de reversibilidade, prevista no artigo 547 do Código 
Civil. Ocorre que, naturalmente, no caso de falecimento do donatário, os bens por ele detidos 
se tornarão objetos de inventário e podem ser destinados aos netos dos doadores ou cônjuge do 
falecido, por exemplo. A adoção da cláusula, portanto, possibilita que o bem então retorne ao 
doador, que poderá mais uma vez decidir por si só qual será o destino daquele bem para fins de 
planejamento sucessório (SILVA; ROSSI, 2017). 
A aplicação das cláusulas restritivas, todavia, não é ilimitada. O artigo 1.848 do 
Código Civil limita a validade de algumasdelas, senão vejamos: 
 
Art. 1.848. Salvo se houver justa causa, declarada no testamento, não pode o testador 
estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de incomunicabilidade, 
sobre os bens da legítima. 
 
Para os autores Silva e Rossi (2017), a discussão acerca do artigo trata-se 
principalmente pelo fato de não mencionar a doação e não expor o que deverá ser considerado 
justa causa. Em relação à falta de menção da doação, entende-se de maneira geral (mas não 
unânime) que, por analogia, a doação com característica de antecipação de legítima também 
 34 
exigiria justa causa. Caso contrário, os patriarcas poderiam simplesmente fazer antecipação da 
legítima através de doação para driblar a necessidade de justa causa, já que via testamento, essa 
é exigida. Os autores ainda trazem que, no que diz respeito à abrangência do termo “justa 
causa”, a doutrina não é pacificada, mas a jurisprudência8 assim a definiu recentemente: 
 
[...] o árduo trabalho desenvolvido durante toda a sua vida profissional que 
possibilitou a aquisição de seus bens. Deseja proteger seu tronco familiar vez que seu 
filho e netos poderão ser induzidos a relações ou negócios que dilapidem o patrimônio 
tão arduamente construído. (SILVA; ROSSI, 2017, p. 123) 
 
Em conclusão, tendo em vista as vastas peculiaridades e nuances do tema, o 
planejamento sucessório poderá ser impulsionado rumo ao sucesso quando tratado por bons 
profissionais, com conhecimento das previsões legais, doutrinas e jurisprudência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 TJSP, Agravo de Instrumento n. 0140249-21.2011.8.26.0000. 
 35 
6 BLINDAGEM PATRIMONIAL: COMO OCORRE 
 
Não é raro, ao realizar uma breve pesquisa na internet, nos depararmos com diversos 
escritórios de advocacias e escritórios contábeis oferecendo serviços para alcançar a chamada 
blindagem patrimonial. Alguns até mesmo nos levam a acreditar que, através dela, o patrimônio 
do sócio “blindado” ficará imune a cobranças a que normalmente todos estão sujeitos 
(GELEILATE, 2017). 
Para Mamede e Mamede (2015), a blindagem patrimonial é um ato ilícito que envolve 
a prática de atos ilegais em mais de um âmbito jurídico, isto é, ilícitos civis, tributários, penais 
etc., sendo que tanto os clientes que adquirem esse serviço quanto os responsáveis por fazê-lo 
podem ser responsabilizados. A intenção é de tornar o patrimônio inatingível, ocultar os bens 
de possíveis obrigações trabalhistas, fiscais, ambientais, societárias e até mesmo da partilha em 
casos de divórcio (CASTRO, 2016). 
Mamede e Mamede (2015) trazem ainda alguns exemplos de meios que são utilizados 
por essas pessoas para alcançar a tal blindagem patrimonial, e que inclusive, foram alvo de 
análise do presente trabalho. O primeiro exemplo é o de doação de bens para filhos, netos, 
irmãos e outros familiares. Na presente hipótese, no entanto, o animus não é de planejamento 
sucessório, mas sim do que chamamos de fraude contra credores ou fraude à execução, previstos 
nos artigos 158 a 165 do Código Civil e artigo 792 do Código de Processo Civil, 
respectivamente. A realização da doação é baseada na ideia de que se os bens que não estiverem 
em nome do devedor, então ficarão protegidos de pedidos de penhora, por exemplo. 
Bruno Oliveira Castro (2016) também traz outro exemplo mirabolante que pode ser 
utilizado como estratégia pelos “blindadores”: 
 
Para cometer este tipo de fraude, utilizam-se dos mais diversos procedimentos, como 
“criar um crédito” em favor de uma pessoa de confiança e ser executado judicialmente 
para ofertar determinado bem como pagamento, com a intenção de proteger este ativo, 
além de outras práticas que podem acontecer inclusive na Justiça do Trabalho através 
de eventual lide simulada para criar um crédito que em tese não existe como forma de 
retirar algum ativo e assim “blindá-lo”. (CASTRO, 2016) 
 
Outro mecanismo usualmente utilizado no Brasil é o uso de laranjas, que são pessoas 
que figuram falsamente como sócios ou administradores de empresas sem de fato possuir tais 
condições. Em algumas vezes, essas pessoas estão cientes da operação e até mesmo são 
remuneradas para tal. Existem também situações nas quais familiares ou amigos aceitam 
participar da operação com fins de ajudar o devedor (MAMEDE; MAMEDE, 2015). 
 36 
É possível que os laranjas sejam utilizados para constituir as chamadas empresas-
espelho. Trata-se de uma sociedade constituída em nome de terceiros – no exemplo presente, o 
laranja – com a finalidade de receber bens do ativo e até a atividade negocial da sociedade, 
enfraquecendo o patrimônio do devedor que perde bens e clientela. Mamede e Mamede 
descrevem como isso aconteceria na prática: 
 
Instrumental e ferramentaria são simplesmente desviados, ao passo que maquinários 
pesados são trocados: máquinas novas e em perfeito funcionamento são substituídas 
por maquinário obsoleto e, eventualmente, por sucata visando a, no inventário e no 
balanço seguinte, lançar e registrar a perda patrimonial pretensamente decorrente da 
deterioração do bem. (2015, p. 49) 
 
Nesse mesmo sentido, a fraude pode chegar a ponto tal de forjar a falência da sociedade 
devedora, causada por uma crise financeira fictícia resultante da atividade exercida pela 
sociedade-espelho. Assim, permite-se aos sócios deixar de efetuar recolhimento de impostos, 
pagamento de contribuições sociais de empregados e outros prestadores de serviço e, por fim, 
de inadimplir com fornecedores (MAMEDE; MAMEDE, 2015). 
Uma forma tida por Mamede e Mamede (2015) como “tosca” é o divórcio. Sem se 
separar de fato e com o objetivo de transferir a melhor parte patrimônio comum do casal para 
o cônjuge não devedor, o casal dissolve a sociedade conjugal. No Recurso Especial 151.305/SP 
pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça identificou-se até mesmo partilha desigual, 
deixando quase a totalidade dos bens com a ex-mulher: 
 
[...] decretada a liquidação extrajudicial da empresa, sete meses após os réus 
requereram a separação consensual na Comarca de Belo Horizonte. Quase um ano 
depois, foi homologada a partilha dos bens do casal, os quais – os de maior valor e na 
quase totalidade – foram atribuídos à ex-mulher. O julgado recorrido concluiu que tal 
ato teve como finalidade a de desfalcar o patrimônio do varão e de, por via de 
consequência, retirá-lo dos efeitos da liquidação e, posteriormente, da falência”. [...] 
“tratando-se de marido e mulher, na forma como retratados os fatos pelas instâncias 
ordinárias, a fraude encontra-se in re ipsa”. (MAMEDE; MAMEDE, 2015, p. 47) 
 
Ainda segundo Mamede e Mamede (2015), as operações de blindagem patrimonial 
também podem ser das mais sofisticadas, como a constituição de offshore companies. Uma 
offshore é uma empresa situada no exterior e que está sujeita ao regime legal e tributário do 
país na qual está localizada, e frequentemente, está localizada nos chamados “paraísos fiscais”, 
que possuem redução ou isenção de impostos (como as Ilhas Cayman e Luxemburgo). Há uma 
ilusão de que por se tratar de empresa estrangeira, as operações seriam, portanto, menos 
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“rastreáveis”, ainda que possam implicar no crime de evasão de divisas (MAMEDE; 
MAMEDE, 2015). 
O mecanismo da holding, por sua vez, genericamente falando, tem previsão legal na 
Lei das S/A, nos termos do artigo 2º, §3º, conforme exposto no início do presente trabalho. Sua 
criação possui, essencialmente, caráter preventivo, visando melhorar organização, facilitar 
processos importantes e até reduzir custos para quotistas ou acionistas (GRUPO FATOS, 2017). 
Constituída a holding, uma vez que a atividade gera lucro, a formação de patrimônio 
passa a ser em nome da holding. Ela, sim, titulariza patrimônio, e não mais a pessoa física. É 
possível considerar que, ao pertencer à holding, existe uma “barreira” quanto ao patrimônio,

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