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<p>capa_introducao_a_pedagogia_curvas.pdf 1 03/07/12 14:25</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Palhoça</p><p>UnisulVirtual</p><p>2011</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Disciplina na modalidade a distância</p><p>Créditos</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância</p><p>Reitor</p><p>Ailton Nazareno Soares</p><p>Vice-Reitor</p><p>Sebastião Salésio Heerdt</p><p>Chefe de Gabinete da Reitoria</p><p>Willian Corrêa Máximo</p><p>Pró-Reitor de Ensino e</p><p>Pró-Reitor de Pesquisa,</p><p>Pós-Graduação e Inovação</p><p>Mauri Luiz Heerdt</p><p>Pró-Reitora de Administração</p><p>Acadêmica</p><p>Miriam de Fátima Bora Rosa</p><p>Pró-Reitor de Desenvolvimento</p><p>e Inovação Institucional</p><p>Valter Alves Schmitz Neto</p><p>Diretora do Campus</p><p>Universitário de Tubarão</p><p>Milene Pacheco Kindermann</p><p>Diretor do Campus Universitário</p><p>da Grande Florianópolis</p><p>Hércules Nunes de Araújo</p><p>Secretária-Geral de Ensino</p><p>Solange Antunes de Souza</p><p>Diretora do Campus</p><p>Universitário UnisulVirtual</p><p>Jucimara Roesler</p><p>Equipe UnisulVirtual</p><p>Diretor Adjunto</p><p>Moacir Heerdt</p><p>Secretaria Executiva e Cerimonial</p><p>Jackson Schuelter Wiggers (Coord.)</p><p>Marcelo Fraiberg Machado</p><p>Tenille Catarina</p><p>Assessoria de Assuntos</p><p>Internacionais</p><p>Murilo Matos Mendonça</p><p>Assessoria de Relação com Poder</p><p>Público e Forças Armadas</p><p>Adenir Siqueira Viana</p><p>Walter Félix Cardoso Junior</p><p>Assessoria DAD - Disciplinas a</p><p>Distância</p><p>Patrícia da Silva Meneghel (Coord.)</p><p>Carlos Alberto Areias</p><p>Cláudia Berh V. da Silva</p><p>Conceição Aparecida Kindermann</p><p>Luiz Fernando Meneghel</p><p>Renata Souza de A. Subtil</p><p>Assessoria de Inovação e</p><p>Qualidade de EAD</p><p>Denia Falcão de Bittencourt (Coord.)</p><p>Andrea Ouriques Balbinot</p><p>Carmen Maria Cipriani Pandini</p><p>Assessoria de Tecnologia</p><p>Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.)</p><p>Felipe Fernandes</p><p>Felipe Jacson de Freitas</p><p>Jefferson Amorin Oliveira</p><p>Phelipe Luiz Winter da Silva</p><p>Priscila da Silva</p><p>Rodrigo Battistotti Pimpão</p><p>Tamara Bruna Ferreira da Silva</p><p>Coordenação Cursos</p><p>Coordenadores de UNA</p><p>Diva Marília Flemming</p><p>Marciel Evangelista Catâneo</p><p>Roberto Iunskovski</p><p>Auxiliares de Coordenação</p><p>Ana Denise Goularte de Souza</p><p>Camile Martinelli Silveira</p><p>Fabiana Lange Patricio</p><p>Tânia Regina Goularte Waltemann</p><p>Coordenadores Graduação</p><p>Aloísio José Rodrigues</p><p>Ana Luísa Mülbert</p><p>Ana Paula R.Pacheco</p><p>Artur Beck Neto</p><p>Bernardino José da Silva</p><p>Charles Odair Cesconetto da Silva</p><p>Dilsa Mondardo</p><p>Diva Marília Flemming</p><p>Horácio Dutra Mello</p><p>Itamar Pedro Bevilaqua</p><p>Jairo Afonso Henkes</p><p>Janaína Baeta Neves</p><p>Jorge Alexandre Nogared Cardoso</p><p>José Carlos da Silva Junior</p><p>José Gabriel da Silva</p><p>José Humberto Dias de Toledo</p><p>Joseane Borges de Miranda</p><p>Luiz G. Buchmann Figueiredo</p><p>Marciel Evangelista Catâneo</p><p>Maria Cristina Schweitzer Veit</p><p>Maria da Graça Poyer</p><p>Mauro Faccioni Filho</p><p>Moacir Fogaça</p><p>Nélio Herzmann</p><p>Onei Tadeu Dutra</p><p>Patrícia Fontanella</p><p>Roberto Iunskovski</p><p>Rose Clér Estivalete Beche</p><p>Vice-Coordenadores Graduação</p><p>Adriana Santos Rammê</p><p>Bernardino José da Silva</p><p>Catia Melissa Silveira Rodrigues</p><p>Horácio Dutra Mello</p><p>Jardel Mendes Vieira</p><p>Joel Irineu Lohn</p><p>José Carlos Noronha de Oliveira</p><p>José Gabriel da Silva</p><p>José Humberto Dias de Toledo</p><p>Luciana Manfroi</p><p>Rogério Santos da Costa</p><p>Rosa Beatriz Madruga Pinheiro</p><p>Sergio Sell</p><p>Tatiana Lee Marques</p><p>Valnei Carlos Denardin</p><p>Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta)</p><p>Coordenadores Pós-Graduação</p><p>Aloísio José Rodrigues</p><p>Anelise Leal Vieira Cubas</p><p>Bernardino José da Silva</p><p>Carmen Maria Cipriani Pandini</p><p>Daniela Ernani Monteiro Will</p><p>Giovani de Paula</p><p>Karla Leonora Dayse Nunes</p><p>Letícia Cristina Bizarro Barbosa</p><p>Luiz Otávio Botelho Lento</p><p>Roberto Iunskovski</p><p>Rodrigo Nunes Lunardelli</p><p>Rogério Santos da Costa</p><p>Thiago Coelho Soares</p><p>Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher</p><p>Gerência Administração</p><p>Acadêmica</p><p>Angelita Marçal Flores (Gerente)</p><p>Fernanda Farias</p><p>Secretaria de Ensino a Distância</p><p>Samara Josten Flores (Secretária de Ensino)</p><p>Giane dos Passos (Secretária Acadêmica)</p><p>Adenir Soares Júnior</p><p>Alessandro Alves da Silva</p><p>Andréa Luci Mandira</p><p>Cristina Mara Schauffert</p><p>Djeime Sammer Bortolotti</p><p>Douglas Silveira</p><p>Evilym Melo Livramento</p><p>Fabiano Silva Michels</p><p>Fabricio Botelho Espíndola</p><p>Felipe Wronski Henrique</p><p>Gisele Terezinha Cardoso Ferreira</p><p>Indyanara Ramos</p><p>Janaina Conceição</p><p>Jorge Luiz Vilhar Malaquias</p><p>Juliana Broering Martins</p><p>Luana Borges da Silva</p><p>Luana Tarsila Hellmann</p><p>Luíza Koing  Zumblick</p><p>Maria José Rossetti</p><p>Marilene de Fátima Capeleto</p><p>Patricia A. Pereira de Carvalho</p><p>Paulo Lisboa Cordeiro</p><p>Paulo Mauricio Silveira Bubalo</p><p>Rosângela Mara Siegel</p><p>Simone Torres de Oliveira</p><p>Vanessa Pereira Santos Metzker</p><p>Vanilda Liordina Heerdt</p><p>Gestão Documental</p><p>Lamuniê Souza (Coord.)</p><p>Clair Maria Cardoso</p><p>Daniel Lucas de Medeiros</p><p>Jaliza Thizon de Bona</p><p>Guilherme Henrique Koerich</p><p>Josiane Leal</p><p>Marília Locks Fernandes</p><p>Gerência Administrativa e</p><p>Financeira</p><p>Renato André Luz (Gerente)</p><p>Ana Luise Wehrle</p><p>Anderson Zandré Prudêncio</p><p>Daniel Contessa Lisboa</p><p>Naiara Jeremias da Rocha</p><p>Rafael Bourdot Back</p><p>Thais Helena Bonetti</p><p>Valmir Venício Inácio</p><p>Gerência de Ensino, Pesquisa e</p><p>Extensão</p><p>Janaína Baeta Neves (Gerente)</p><p>Aracelli Araldi</p><p>Elaboração de Projeto</p><p>Carolina Hoeller da Silva Boing</p><p>Vanderlei Brasil</p><p>Francielle Arruda Rampelotte</p><p>Reconhecimento de Curso</p><p>Maria de Fátima Martins</p><p>Extensão</p><p>Maria Cristina Veit (Coord.)</p><p>Pesquisa</p><p>Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC)</p><p>Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)</p><p>Pós-Graduação</p><p>Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.)</p><p>Biblioteca</p><p>Salete Cecília e Souza (Coord.)</p><p>Paula Sanhudo da Silva</p><p>Marília Ignacio de Espíndola</p><p>Renan Felipe Cascaes</p><p>Gestão Docente e Discente</p><p>Enzo de Oliveira Moreira (Coord.)</p><p>Capacitação e Assessoria ao</p><p>Docente</p><p>Alessandra de Oliveira (Assessoria)</p><p>Adriana Silveira</p><p>Alexandre Wagner da Rocha</p><p>Elaine Cristiane Surian (Capacitação)</p><p>Elizete De Marco</p><p>Fabiana Pereira</p><p>Iris de Souza Barros</p><p>Juliana Cardoso Esmeraldino</p><p>Maria Lina Moratelli Prado</p><p>Simone Zigunovas</p><p>Tutoria e Suporte</p><p>Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação)</p><p>Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte-</p><p>Nordeste)</p><p>Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos)</p><p>Andreza Talles Cascais</p><p>Daniela Cassol Peres</p><p>Débora Cristina Silveira</p><p>Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste)</p><p>Francine Cardoso da Silva</p><p>Janaina Conceição (Núcleo Sul)</p><p>Joice de Castro Peres</p><p>Karla F. Wisniewski Desengrini</p><p>Kelin Buss</p><p>Liana Ferreira</p><p>Luiz Antônio Pires</p><p>Maria Aparecida Teixeira</p><p>Mayara de Oliveira Bastos</p><p>Michael Mattar</p><p>Patrícia de Souza Amorim</p><p>Poliana Simao</p><p>Schenon Souza Preto</p><p>Gerência de Desenho e</p><p>Desenvolvimento de Materiais</p><p>Didáticos</p><p>Márcia Loch (Gerente)</p><p>Desenho Educacional</p><p>Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD)</p><p>Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.)</p><p>Aline Cassol Daga</p><p>Aline Pimentel</p><p>Carmelita Schulze</p><p>Daniela Siqueira de Menezes</p><p>Delma Cristiane Morari</p><p>Eliete de Oliveira Costa</p><p>Eloísa Machado Seemann</p><p>Flavia Lumi Matuzawa</p><p>Geovania Japiassu Martins</p><p>Isabel Zoldan da Veiga Rambo</p><p>João Marcos de Souza Alves</p><p>Leandro Romanó Bamberg</p><p>Lygia Pereira</p><p>Lis Airê Fogolari</p><p>Luiz Henrique Milani Queriquelli</p><p>Marcelo Tavares de Souza Campos</p><p>Mariana Aparecida dos Santos</p><p>Marina Melhado Gomes da Silva</p><p>Marina Cabeda Egger Moellwald</p><p>Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo</p><p>Pâmella Rocha Flores da Silva</p><p>Rafael da Cunha Lara</p><p>Roberta de Fátima Martins</p><p>Roseli Aparecida Rocha Moterle</p><p>Sabrina Bleicher</p><p>Verônica Ribas Cúrcio</p><p>Acessibilidade</p><p>Vanessa de Andrade Manoel (Coord.)</p><p>Letícia Regiane Da Silva Tobal</p><p>Mariella Gloria Rodrigues</p><p>Vanesa Montagna</p><p>Avaliação da aprendizagem</p><p>Claudia Gabriela Dreher</p><p>Jaqueline Cardozo Polla</p><p>Nágila Cristina Hinckel</p><p>Sabrina Paula Soares Scaranto</p><p>Thayanny Aparecida B. da Conceição</p><p>Gerência de Logística</p><p>Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)</p><p>Logísitca de Materiais</p><p>Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.)</p><p>Abraao do Nascimento Germano</p><p>Bruna Maciel</p><p>Fernando Sardão da Silva</p><p>Fylippy Margino dos Santos</p><p>Guilherme Lentz</p><p>Marlon Eliseu Pereira</p><p>Pablo Varela da Silveira</p><p>Rubens Amorim</p><p>Yslann David Melo Cordeiro</p><p>Avaliações Presenciais</p><p>Graciele M. Lindenmayr (Coord.)</p><p>Ana Paula de Andrade</p><p>Angelica Cristina Gollo</p><p>Cristilaine Medeiros</p><p>Daiana Cristina Bortolotti</p><p>Delano Pinheiro Gomes</p><p>Edson Martins Rosa Junior</p><p>Fernando Steimbach</p><p>Fernando Oliveira Santos</p><p>Lisdeise Nunes Felipe</p><p>Marcelo Ramos</p><p>Marcio Ventura</p><p>Osni Jose Seidler Junior</p><p>Thais Bortolotti</p><p>Gerência de Marketing</p><p>Eliza</p><p>Tendência libertadora</p><p>Contrária ao autoritarismo</p><p>Resistência à ação dominadora</p><p>do Estado.</p><p>Educar com e para a</p><p>autonomia.</p><p>Baseada na experiência vivida.</p><p>Autossugestão pedagógica.</p><p>Crítico-social</p><p>dos conteúdos</p><p>Educação – mediadora entre o</p><p>indivíduo e a sociedade.</p><p>Aluno – determina e é</p><p>determinado pelo social,</p><p>político, econômico e</p><p>individual.</p><p>Educar para ação na</p><p>realidade.</p><p>Inserida na prática social concreta.</p><p>Apropriação dos conteúdos da</p><p>cultura dominante.</p><p>Objetivos definidos a partir do</p><p>contexto histórico-social dos alunos.</p><p>Quadro 2.2 - Tendências da Pedagogia Progressista</p><p>Fonte: LIBÂNEO (1986).</p><p>O conhecimento das ideologias políticas e das tendências</p><p>pedagógicas deve levar o educador a refletir sobre a sua prática.</p><p>Reforço: não raro pode acontecer, na prática do educador, um</p><p>desencontro entre o que teoricamente ele considera relevante e</p><p>o que realmente vai atingir com as suas ações. Se o objetivo é</p><p>educar para as transformações na sociedade, devemos primar pela</p><p>formação de indivíduos participativos, confiantes e atuantes. Se,</p><p>ao contrário, o objetivo é a manutenção da realidade, ensinamos</p><p>para a submissão, o individualismo e o conformismo. O objetivo</p><p>estabelecido, numa prática pedagógica coerente, encaminhará</p><p>para a adoção dos métodos, das técnicas e das atividades</p><p>funcionando como uma bússola para orientar a elaboração do</p><p>trabalho proposto.</p><p>Cabe aqui salientar que, quando trabalhamos a partir</p><p>da realidade social do educando, podemos levá-lo</p><p>a assumir um compromisso com o seu futuro e o da</p><p>sociedade.</p><p>52</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Se a proposta é formar homens livres e ativos, não podemos</p><p>conceber um trabalho educativo marcado pelo autoritarismo e a</p><p>subserviência. Não podemos desenvolver as aparências, devemos</p><p>possibilitar o conhecimento da essência dos fatos, buscando</p><p>uma educação conscientizadora que, segundo Freire (apud</p><p>DURAND, 1987, p. 90),</p><p>[...] tematiza a realidade onde o educando se insere, na</p><p>qual educador-educando se confunde ao educando-</p><p>educador, numa mesma busca de consciência e domínio</p><p>sobre situações existenciais concretas, propondo-se</p><p>questões a serem resolvidas no interesse da libertação do</p><p>indivíduo e do grupo, pela superação de toda forma de</p><p>dominação e opressão: uma educação libertadora, uma</p><p>educação para a liberdade.</p><p>Todo ato pedagógico deve encaminhar para a ação, pois a</p><p>aprendizagem supõe ação. Deve levar o educando a se debruçar</p><p>sobre os problemas da sociedade e a relacioná-los com os fatos</p><p>que os concebem oportunizando propostas de soluções. Numa</p><p>visão progressista, a educação não pode ser neutra – ou está a</p><p>favor da transformação ou da conservação da realidade. Por</p><p>isso, devemos ter sempre em mente:</p><p>- Que indivíduos estamos pretendendo formar?</p><p>- Para que sociedade?</p><p>- A partir de que valores?</p><p>Devemos concluir que educar, numa sociedade capitalista, é tarefa</p><p>de partido, pois os interesses antagônicos das classes estarão</p><p>na base de toda a atividade educativa. Desta feita, é essencial</p><p>que você e todo educador leve em conta os questionamentos</p><p>citados numa revitalização constante de sua prática, de forma a</p><p>torná-la uma aliada na formação de homens críticos, capazes de</p><p>lutar por uma sociedade menos discriminatória. Deve adotar,</p><p>conscientemente, uma filosofia e formular objetivos para dar</p><p>suporte a atividades que levem em consideração o conjunto das</p><p>relações da existência do educando, relações estas que mantém</p><p>com a sociedade onde vive e onde deverá agir, sociedade que</p><p>deverá ser sempre o alvo maior da prática docente. Essa prática</p><p>deve contribuir acima de tudo para a construção da cidadania.</p><p>“A triste verdade é que</p><p>os maiores males são</p><p>praticados por pessoas</p><p>que jamais se decidiram</p><p>pelo bem ou pelo mal”.</p><p>(Hannah Arendt)</p><p>53</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>“O homem tem três maneiras de agir com sabedoria.</p><p>A primeira é a meditação, a mais nobre. A segunda é a</p><p>imitação, a mais fácil. A terceira é a experiência, a mais</p><p>amarga.” (Confúcio)</p><p>Veja a ilustração a seguir e estabeleça uma reflexão com base no</p><p>que foi estudado nesta seção!</p><p>Figura 2.3: Charge Mafalda</p><p>Fonte: Quino. Toda a Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993.</p><p>Seção 4 – Educação e cidadania</p><p>Considerando os seus conhecimentos e as reflexões feitas até</p><p>aqui, podemos reforçar o entendimento de que a educação</p><p>permeia a vida dos indivíduos e grupos de diferentes maneiras,</p><p>produzem e reproduzem invenções culturais, códigos de conduta,</p><p>regras de trabalho, segredos da arte, da tecnologia e tudo o que é</p><p>necessário no mundo social.</p><p>Como poderíamos, então, definir o que é educação?</p><p>Se buscarmos ajuda de dicionários, nesta primeira citação do</p><p>Aurélio, encontraremos a definição de que educação é o “processo</p><p>de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do</p><p>ser humano; civilidade, polidez” (FERREIRA, 1993, p. 197).</p><p>54</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Em um outro, Dicionário Brasileiro Globo, a educação está</p><p>definida como “um conjunto de normas pedagógicas aplicadas ao</p><p>desenvolvimento geral do corpo e do espírito; polidez; cortesia;</p><p>instrução; disciplinamento” (Fernandes, 1999, s/p).</p><p>Na definição do Dicionário Dinâmico Ilustrado, o ato educativo</p><p>está relacionado ao estímulo, ao desenvolvimento e à orientação</p><p>das “aptidões do indivíduo, de acordo com os ideais de uma</p><p>sociedade determinada” (BARBOSA, 1978, p. 215).</p><p>Numa análise mais detalhada e comparativa das definições, você</p><p>pode observar que elas indicam determinados propósitos que em</p><p>parte convergem e por outro divergem. As definições convergem</p><p>no propósito de dirigir a educação para a evolução humana. A</p><p>primeira fala em processo, deixando a definição de educação</p><p>num plano amplo e dinâmico. A segunda definição, ao falar de</p><p>normas pedagógicas, leva a definição mais para o campo formal</p><p>da educação. As duas mantêm as questões pessoais de civilidade,</p><p>polidez e instrução e trazem o conceito de educação para o campo</p><p>do aprendizado de condutas e regras e de formação educacional</p><p>oficial. A terceira definição amplia o conceito relacionando a</p><p>formação do indivíduo às aspirações do meio onde vive.</p><p>Você sabe de onde vem a palavra educação?</p><p>Ela vem do latim “educere” que significa extrair, tirar de dentro,</p><p>desenvolver. Etimologicamente a palavra já denuncia que o</p><p>processo de educação tanto envolve aquele que se educa quanto o</p><p>que se coloca como educador.</p><p>Em outras palavras: a educação é um processo de vital</p><p>importância para formação do homem e nele deve haver o</p><p>envolvimento consciente de quem educa e o livre consentimento</p><p>de quem se coloca como educando. A educação é uma atividade</p><p>processual, que acompanha o homem por toda a vida e não</p><p>se reduz ao simples preparo profissional, mas liga-se ao seu</p><p>desenvolvimento como um todo. Ela é de vital importância para</p><p>o desenvolvimento humano e social e está sempre presente entre</p><p>pessoas e/ou grupos que se dispõem a ensinar e aprender.</p><p>55</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>A educação deve ser vista como instrumento de luta política. Deve</p><p>assumir a função de preparar e elevar os indivíduos ao nível de ampla</p><p>participação no processo decisório de novos rumos da sociedade.</p><p>A educação que faz sentido é a que se compromete com a</p><p>cidadania, orientando-se pelo fortalecimento da crença na</p><p>dignidade da pessoa humana, na igualdade de direitos, na</p><p>participação consciente e na corresponsabilidade pela vida social.</p><p>Como já disse Alain Tourraine (1998, p. 78):</p><p>Nada deve dispensar-nos de refletir sobre o tipo de</p><p>educação que pode ajudar a resolver os efeitos da</p><p>desmodernização em que estamos situados e reforçar as</p><p>oportunidades dos indivíduos de se tornarem os sujeitos</p><p>da própria existência.</p><p>Levar os indivíduos a tomarem consciência e se tornarem sujeitos</p><p>da própria existência é educar para a cidadania.</p><p>A cidadania diz respeito à vida em sociedade, seu conceito varia</p><p>no tempo e no espaço e por certo você irá resgatá-lo em outras</p><p>disciplinas com profundidade. Para os objetivos desta</p><p>nossa</p><p>seção, é importante que você tenha presente que o conceito atual</p><p>de cidadania não pode ser dissociado do reconhecimento dos</p><p>direitos humanos e do direito da participação efetiva em todos os</p><p>aspectos da vida social econômica e política da sociedade.</p><p>Portanto, não há como separar educação e cidadania.</p><p>Repetindo e concordando com Leonardo Boff, a educação como</p><p>exercício de cidadania precisa atingir três objetivos:</p><p>� A apropriação por cada cidadão e da comunidade</p><p>dos instrumentos adequados para pensar a sua prática</p><p>individual e social e para ganhar uma visão globalizante</p><p>da realidade que o possa orientar em sua vida;</p><p>56</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>� A apropriação por cada cidadão e da comunidade do</p><p>conhecimento científico, político e cultural acumulado</p><p>pela humanidade ao longo da história para garantir-lhe a</p><p>satisfação de suas necessidades e realizar suas aspirações;</p><p>� A apropriação por parte dos cidadãos e da comunidade</p><p>dos instrumentos de avaliação crítica do conhecimento</p><p>acumulado, reciclá-lo e acrescentar-lhe novos</p><p>conhecimentos através de todas as faculdades cognitivas</p><p>humanas que, além da razão, incluem a afetividade, a</p><p>intuição, a memória biológica e histórica contida no</p><p>próprio corpo e na psique, os sentidos espirituais como</p><p>o da unidade do todo, da beleza, da transcendência e do</p><p>amor.(BOFF, 2000)</p><p>Para encerrar o estudo desta unidade, observe a ilustração a seguir</p><p>e estabeleça uma relação com o que foi estudado nesta seção!</p><p>Figura 2.4: Charge Mafalda</p><p>Fonte: Quino. Toda a Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993.</p><p>Aqui você encerra os estudos desta Unidade. Siga em frente</p><p>realizando as atividades de autoavaliação. Bons estudos!</p><p>57</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>Síntese</p><p>Nesta Unidade, você estudou que a educação se fundamenta na</p><p>capacidade que o homem tem de se modificar e desenvolver;</p><p>que os fins da educação são sociais e que o seu fortalecimento</p><p>acompanhou o desenvolvimento da própria sociedade.</p><p>Procuramos definir educação como um processo que deve estar</p><p>articulado com a formação para a cidadania e mostra que, por</p><p>estar a sociedade dividida em interesses antagônicos, deve a</p><p>prática educativa conhecer e fundamentar-se em princípios</p><p>pedagógicos e político-ideológicos. Toda ação educativa é uma</p><p>ação política. Conscientes ou não, somos influenciados por</p><p>ideologias e precisamos estar atentos para identificar práticas</p><p>trabalhadas numa linha questionadora da realidade social</p><p>daqueles que educamos e que se pretenda sejam cidadãos ativos,</p><p>conscientes e felizes.</p><p>Atividades de autoavaliação</p><p>Efetue as atividades de autoavaliação e, a seguir, acompanhe as</p><p>respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu</p><p>estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer</p><p>as atividades propostas.</p><p>58</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>1. Revise as definições de educação trabalhadas no texto e identifique a</p><p>palavra que as une num mesmo sentido e que é ponto-chave para que</p><p>se continue investindo em processos educativos. Registre a palavra que</p><p>você identificou e, a partir dela, dê sua opinião sobre a educação estar</p><p>ou não atingindo o que pretende na sua comunidade.</p><p>2. Procure, num primeiro momento sem checar no texto, preencher as</p><p>palavras cruzadas a seguir:</p><p>9</p><p>3 11</p><p>7 12</p><p>4</p><p>6</p><p>5 E P 8 10 14</p><p>D E 13</p><p>2 U D 15</p><p>1 C A</p><p>A G</p><p>Ç O</p><p>Ã G</p><p>O I</p><p>A</p><p>59</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>Questões:</p><p>HORIZONTAL</p><p>1 - O que torna a educação possível e necessária?</p><p>VERTICAIS</p><p>2 - A educação deve proporcionar ao educando os meios que forem</p><p>necessários para entender o</p><p>3 - Ao educar o homem, pretende-se torná-lo eficiente para a realização</p><p>de que fins?</p><p>4 - Que exigência democrática indiscutível é colocada como objetivo de</p><p>formação da educação?</p><p>5 - A educação deve preocupar-se com o desenvolvimento do</p><p>pensamento __________________.</p><p>6 - A quem cabe transformar os objetivos educacionais em metas?</p><p>7 - Que palavra resumiria a atividade humana ao identificar-se que ela</p><p>sempre objetiva realizar algo?</p><p>8 - Que característica humana possibilita a sua transcendência?</p><p>9 - Intelectualmente a educação objetiva o desenvolvimento de que</p><p>qualidade humana?</p><p>10 - Para além do mundo da natureza o mundo do homem é o mundo da</p><p>____________________.</p><p>11 - Cabe à educação contribuir para a compreensão do momento</p><p>____________________ em que se vive.</p><p>12 - Os objetivos da educação, tendo em vista a sacralidade humana,</p><p>devem defender a sua _______________________.</p><p>13 - O modelo de sociedade atual, que é hedonista, substitui os</p><p>_________________ pessoais pelos imediatos que são tidos como</p><p>fonte de felicidade.</p><p>14 - Poder-se-ia afirmar que embora os fins da educação variem, o que</p><p>se quer essencialmente é subordinar o ____________________ aos</p><p>valores sociais.</p><p>15 - Deve ser preocupação de toda educação a formação de princípios de</p><p>conduta, ou seja, uma formação ____________________________.</p><p>60</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>3. Convivemos no nosso dia a dia com certos MITOS de que a sociedade</p><p>foi histórica e coletivamente se apropriando como REALIDADE sem a</p><p>devida comprovação. Analise os enunciados abaixo e identifique-os</p><p>como MITO ou REALIDADE:</p><p>a) Em um país grande como o Brasil, com tantas diferenças, não dá para</p><p>ter educação de boa qualidade para todos.</p><p>b) Fica difícil exigir melhor qualidade na escola pública porque ninguém</p><p>paga.</p><p>c) Criança pobre vai à escola somente para merendar.</p><p>d) Aluno só respeita professor durão e que reprova muito.</p><p>e) Criança com fome não aprende.</p><p>f) Não podemos fazer nada para melhorar a escola enquanto o professor</p><p>não tiver melhores salários.</p><p>g) Tem gente que não adianta, não tem jeito para o estudo.</p><p>h) No fundo, no fundo, aluno só vai à escola porque precisa do certificado.</p><p>i) Bom aluno é aquele que tira nota boa.</p><p>j) Criança pobre sai logo da escola para ajudar a família.</p><p>(Fonte: SERRÃO, Margarida. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo:</p><p>FTD, 1999.)</p><p>61</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>Saiba mais</p><p>Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade você poderá</p><p>pesquisar os seguintes livros:</p><p>AZEVEDO, Janete M. Lins de. A educação como política</p><p>pública. Campinas: Autores Associados, 1997. (Coleção</p><p>Polêmicas do Nosso Tempo).</p><p>BOFF, Leonardo. Depois de 500 Anos: que Brasil queremos?</p><p>Petrópolis: Vozes, 2000.</p><p>BRANDÃO, Carlos R. O Que é Educação. 33. ed. São Paulo:</p><p>Brasiliense, 1995 (Coleção Primeiros Passos: 203).</p><p>CHAUI, Marilena. O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense, 1980.</p><p>FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo:</p><p>Moraes, 1979.</p><p>SILVA, Jefferson I. da. Formação do educador e educação</p><p>política. São Paulo: Cortez, 1992.</p><p>3UNIDADE 3</p><p>Pedagogia e pedagogos: O</p><p>Encontro (ou não) da Educação</p><p>com a Escola</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>� Identificar conceitos e concepções de conhecimento e</p><p>educação escolar.</p><p>� Analisar a importância da intervenção pedagógica</p><p>para a construção do conhecimento.</p><p>Seções de estudo</p><p>Seção 1 Conhecimento e Educação</p><p>Seção 2 Educação escolar e prática pedagógica</p><p>64</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Para início de estudo</p><p>Estabelecemos até aqui a relação que existe entre educação,</p><p>sociedade e formação para a cidadania. Vimos que cidadania,</p><p>na nossa sociedade atual, implica possibilitar a cada cidadão</p><p>a apropriação do conhecimento científico, político e cultural</p><p>acumulado pela humanidade ao longo da história para garantir-</p><p>lhe a satisfação de suas necessidades e realizar suas aspirações</p><p>de forma crítica e participativa; que conhecimento se tornou</p><p>prioridade neste mundo globalizado e competitivo. Nesta terceira</p><p>unidade, refletiremos mais de perto a relação entre educação e</p><p>conhecimento, identificando conceitos e concepções.</p><p>Seção 1 – Conhecimento e Educação</p><p>A palavra conhecimento, tão usada atualmente, parece estar</p><p>assumindo o status de sujeito, de personificação. Ora, ter</p><p>conhecimento é uma qualidade humana. Portanto, o homem é o</p><p>sujeito capaz de conhecer, é ele que se apropria</p><p>do conhecimento.</p><p>Podemos entender o conhecimento como o descortinamento do</p><p>que ainda não processamos. Como nos coloca Rauen (2002),</p><p>conhecer é desvelar e “desvelar consiste em tirar o véu de nossa</p><p>ignorância, perante o objeto. Sujeito aqui é o indivíduo capaz de</p><p>conhecer. Objeto é tudo que pode ser conhecido”. Como o tudo que</p><p>podemos conhecer é ilimitado, o conhecimento acaba por acontecer</p><p>num processo continuo que acompanha o homem por toda a sua</p><p>existência. Talvez conhecimento, enquanto verbo conhecer, devesse</p><p>estar sempre conjugado no gerúndio – conhecendo.</p><p>Observe-se um bebê pequeno que se põe diante de um</p><p>espelho qualquer. Ele o vê, mas não o compreende, não</p><p>sabe o porquê de sua existência. Porém, eis que um dia</p><p>ele se observa pelo espelho e percebe que ele reflete a</p><p>sua imagem. Nesse instante ímpar, ele transformou a</p><p>realidade. De objeto sem significado, o espelho, pelo</p><p>menos em sua função básica, tornou-se conhecido.</p><p>(RAUEN, 2002, p. 21).</p><p>65</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 3</p><p>Rauen (2002) nos relata que da distinção entre sujeito e objeto</p><p>do conhecimento, distinguiram-se quatro ramos: arte, religião,</p><p>filosofia e ciência. O conhecimento artístico surgiu entre a</p><p>sensação e o sentimento; o religioso instalou-se entre a intuição</p><p>e o sentimento de crença; o filosófico constituiu-se na interface</p><p>intuição/razão; e o conhecimento científico instalou-se entre a</p><p>razão e a sensação.</p><p>O homem, na sua relação com a natureza, desde os tempos pré-</p><p>históricos foi estimulado e desafiado na sua curiosidade e, é claro,</p><p>também por necessidade, a buscar respostas e soluções. Todo</p><p>conhecimento advindo dessa busca, sem um estudo sistemático</p><p>da realidade, é considerado popular, ou senso comum.</p><p>Conhecimento de senso comum é o modo de pensar</p><p>da maioria das pessoas independentemente de uma</p><p>comprovação, de uma certificação de fato.</p><p>Podemos considerá-lo um conhecimento ligado à experiência,</p><p>à vivência prática. Você pode reconhecê-lo na concepção de</p><p>Ander-Egg (1979, p. 13 apud RAUEN, 2002, p. 23) a partir das</p><p>seguintes características:</p><p>Superficialidade – relatos “eu vi” ou “me disseram” são suficientes</p><p>como critério de verdade;</p><p>Sensitividade – decorrem de estados mentais do indivíduo;</p><p>Subjetividade - a verdade se explica a partir de uma experiência</p><p>individual;</p><p>Assistematicidade – não se preocupa com uma teoria</p><p>organizadora do conhecimento;</p><p>Acriticidade – não há preocupação com o exercício da crítica, ou</p><p>seja, com um exame minucioso da situação.</p><p>66</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>São fontes do conhecimento de senso comum ou popular a</p><p>intuição e a tradição (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 17 apud</p><p>RAUEN, 2002, p. 23). A intuição dispensa o uso da razão. Ela</p><p>é imediata e útil para o dia a dia, mas acaba por fundamentar</p><p>muitos preconceitos. É um conhecimento incompleto que</p><p>constrói obstáculos para o saber científico. Pela tradição o</p><p>conhecimento de senso comum é repassado de geração em</p><p>geração mesmo sendo incompleto e assistemático.</p><p>Uma vez reconhecida a pertinência de um saber,</p><p>mesmo que incompleto, organizam-se meios sociais de</p><p>manutenção e de difusão desse conhecimento, ou seja,</p><p>a tradição. Nessas instituições, surgem as autoridades</p><p>do conhecimento, encarregadas de sua transmissão.</p><p>Como nem todas as pessoas de uma comunidade podem</p><p>organizar saberes espontâneos úteis, contentam-se com</p><p>um conjunto de saberes prontos, determinados por</p><p>autoridades (sacerdotes, bruxos, xamãs, professores,</p><p>instrutores, etc.) dentro das instituições de tradição</p><p>(igrejas, escolas, institutos etc.). (LAVILLE e DIONNE,</p><p>1999, p. 17 apud RAUEN, 2002, p. 23)</p><p>Rauen reforça que “o uso sistemático da razão, como forma de</p><p>superação da mera intuição e do argumento da autoridade, passa</p><p>pelo conhecimento filosófico.” Foi a filosofia que desconfiou das</p><p>verdades mágicas, supersticiosas, tradicionais e construiu uma</p><p>forma especulativa de ver o mundo. “Especulação, de especulum</p><p>que significa espelho, é um saber elaborado, a partir do exercício</p><p>do pensamento, sem o uso de qualquer objeto que não o próprio</p><p>pensamento.” (RAUEN, 2002, p. 23).</p><p>E, partindo da desconfiança e da especulação, nasceu durante o</p><p>Renascimento e consolidou-se no século XVII uma nova forma</p><p>de pensar a realidade, que se preocupava com a observação,</p><p>experimentação e mensuração dos fatos para depois interpretá-los.</p><p>Nasceu o conhecimento científico.</p><p>67</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 3</p><p>A ciência, nos seus desígnios de desenvolvimento, valeu-se</p><p>(e vale-se) da pesquisa para atingir os seus intentos e dar</p><p>credibilidade aos seus postulados. A qualidade “credibilidade”</p><p>do conhecimento científico, respaldado na pesquisa, é a</p><p>que o difere do conhecimento de senso comum. É uma</p><p>atividade inerente à razão humana e apresentou, através dos</p><p>tempos, diversos papéis na vida dos povos. Contribuiu com a</p><p>Revolução Industrial, com a erradicação de doenças, continua</p><p>pesquisando novas curas e está inserida neste momento</p><p>histórico de revolução tecnológica.</p><p>A história viveu duas fases distintas, em termos do</p><p>desenvolvimento tecnológico: uma fase arcaica e uma</p><p>fase científica. Sabe-se que as origens da tecnologia</p><p>são muito remotas. O homem percebeu, desde muito</p><p>cedo, a necessidade de construir objetos tecnológicos</p><p>que ampliassem a sua relação com a natureza. Numa</p><p>primeira fase, dita arcaica, o ser humano construiu, a</p><p>partir do senso comum, inúmeros avanços tecnológicos.</p><p>O domínio do fogo, dos animais domesticáveis, a</p><p>elaboração de ferramentas, a produção de instrumentos</p><p>bélicos, entre outros. Após o surgimento da ciência, tal</p><p>como conhecemos, a fase arcaica foi substituída pela</p><p>fase científica. Nessa fase, por um lado, a tecnologia</p><p>passou a receber da ciência as informações essenciais</p><p>para o desenvolvimento de novas técnicas. Por outro</p><p>lado, os avanços tecnológicos passaram a ser coadjuvantes</p><p>essenciais para novas descobertas científicas. É</p><p>justamente esse processo de retroalimentação que explica,</p><p>de um lado, o desenvolvimento exponencial de ambas e,</p><p>de outro, nossa dificuldade em separá-las.” (RAUEN,</p><p>2002, p. 24)</p><p>O conhecimento científico é metodicamente</p><p>construído a partir de um planejamento,</p><p>fundamentado em conhecimentos anteriores e</p><p>orientado metodologicamente.</p><p>68</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Feitas essas considerações sobre os conhecimentos de senso</p><p>comum e científico, pela proposta do nosso tópico de</p><p>estudo, precisamos considerar a estreita relação que há entre</p><p>conhecimento e educação. Escolhemos o autor Pedro Demo</p><p>(2000) para fundamentar nosso estudo dessa relação. Para o</p><p>autor, numa ótica tradicional, a educação é entendida como</p><p>procedimento preferencial de aquisição do conhecimento e numa</p><p>ótica pós-moderna declara que existem autores que continuam</p><p>exacerbando a relação entre vida e conhecimento.</p><p>Quando se fala que a criança vai à escola para estudar,</p><p>entende-se por estudo o manejo do conhecimento bem</p><p>mais que da educação. O esforço mais notado é sempre</p><p>o do estudo, em particular em cursos que exigem muito</p><p>do aluno, deixando-se educação como decorrência</p><p>implícita. Para o senso comum, a relação entre educação</p><p>e conhecimento não é apenas estreita, ou mesmo</p><p>coincidente, mas sobretudo revela a subalternidade da</p><p>educação frente ao conhecimento. (DEMO, 2000, p. 9)</p><p>A relação educação e conhecimento é polêmica e alvo de muitas</p><p>discussões e opiniões. Pedro Demo analisa-a como: necessária,</p><p>insuficiente e controversa. Em síntese define:</p><p>a) A relação entre educação e conhecimento é necessária</p><p>porque a educação tem como meta primordial a</p><p>reconstrução do conhecimento;</p><p>b) A relação entre educação e conhecimento é insuficiente</p><p>porque o ser humano não se reduz à cognição; a formação</p><p>integral, individual e coletiva inclui também a emoção;</p><p>c) A relação entre educação e conhecimento é controversa</p><p>porque pode colocá-lo (conhecimento) unicamente a</p><p>serviço da ciência e ele está também a serviço do poder,</p><p>resultando em posturas de simples instrução.</p><p>Como reforça</p><p>Gadotti (2001), o conhecimento é o grande capital</p><p>da humanidade. Não é apenas o capital da empresa transnacional,</p><p>que precisa dele para a inovação tecnológica. Ele é básico para a</p><p>sobrevivência de todos.</p><p>69</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 3</p><p>Portanto, fica claro que, mesmo sendo uma relação complexa,</p><p>cabe ao trabalho de intervenção pedagógica desenvolvido na escola</p><p>oportunizar a construção do conhecimento por todos os alunos.</p><p>Embora estejamos vivendo numa sociedade “aprendente”, como</p><p>reforça Assmann (1998), o espaço da educação escolar é de vital</p><p>importância e está organizado para a propagação do conhecimento.</p><p>E, em se tratando da relação conhecimento e educação escolar,</p><p>um outro tipo de conhecimento precisa ser abordado: o</p><p>conhecimento escolar ou educacional.</p><p>Mas você deve estar se perguntando: “não são</p><p>científicos os conhecimentos que devem ser</p><p>ensinados?”.</p><p>Na verdade, embora científicos e mesmo não sendo</p><p>conhecimentos à parte, guardam em si peculiaridades. Por</p><p>exemplo, nem todos os conhecimentos acumulados pela</p><p>humanidade estão presentes, apenas parte deles. São veiculados</p><p>nas instituições educacionais saberes que por razões históricas</p><p>e sociais são aceitos e colocados como de interesse para</p><p>determinado tipo de sociedade. É necessário que o conhecimento</p><p>não se distancie da cultura social de referência dos alunos.</p><p>É preciso que se trabalhe a partir da realidade concreta e</p><p>vivenciada oportunizando vez e voz aos envolvidos no processo</p><p>de educação, principalmente àqueles que são minoria e aos que</p><p>estão marginalizados. Aos que se propõem educadores cabe o</p><p>compromisso de uma prática pedagógica:</p><p>� organizada teórica e tecnicamente;</p><p>� reflexiva - ciente da imparidade e confiante nas</p><p>possibilidades.</p><p>Você continuará essa reflexão sobre a prática pedagógica na</p><p>próxima seção, sugiro que você assista dois documentários</p><p>que poderão contribuir muito para a sua reflexão sobre o</p><p>desenvolvimento do conhecimento humano e da ciência: A</p><p>Terceira Onda e Um Buraco Branco no Tempo.</p><p>70</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Seção 2 – Educação escolar e prática pedagógica</p><p>Desde o início desta disciplina, estamos reforçando que o</p><p>fenômeno educativo é complexo, que a educação é essencial para</p><p>o desenvolvimento social e que está presente em tempos e espaços</p><p>diferentes e contínuos.</p><p>Ensinamos e aprendemos constantemente.</p><p>Mas quando juntamos as palavras “educação” e “prática</p><p>pedagógica”, colocamos a educação como objeto de reflexão.</p><p>Isso porque estamos nos referindo à educação como objeto de</p><p>trabalho de quem pratica a docência. E assim como a educação</p><p>é complexa, docência também não é tarefa simples. Ela envolve</p><p>conhecimentos científicos, humanos e políticos. Podemos até</p><p>mesmo reforçar que docência não é só tarefa, é compromisso,</p><p>pois exige planejamento diante dos desafios, inquietação diante</p><p>da certeza e, na aventura pelo universo da construção do</p><p>conhecimento, profissionalização. Assumir profissionalmente</p><p>a prática pedagógica exige muitos saberes necessários para</p><p>fundamentar o trabalho educacional que se pretenda desenvolver.</p><p>A educação trabalha com o conhecimento e com o processo de</p><p>apreensão deste pelos sujeitos.</p><p>A prática pedagógica está, portanto, dirigida às</p><p>pessoas, que podem ser diferentes no jeito de ser, mas</p><p>que possuem os mesmos direitos; que podem ocupar</p><p>diferentes papéis sociais, mas que podem e devem</p><p>encontrar na educação escolar uma colaboradora na</p><p>preparação para o exercício da cidadania consciente,</p><p>plena e feliz.</p><p>É preciso que a prática pedagógica seja teorizada para ser</p><p>compreendida e adequadamente desenvolvida. Teorizar é estudar</p><p>“teorias” da aprendizagem. O autor Zabala (1998) nos ajuda a</p><p>justificar e reforçar a importância de estudar teorias fundamentais</p><p>à prática pedagógica relembrando que em outras profissões os</p><p>problemas que surgem na prática não são resolvidos somente com</p><p>os conhecimentos da experiência. E exemplifica:</p><p>71</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 3</p><p>Por trás da decisão de um camponês sobre o tipo de</p><p>adubo que utilizará, de um engenheiro sobre o material</p><p>que empregará ou de um médico sobre o tratamento que</p><p>receitará, não existe apenas uma confirmação na prática,</p><p>nem se trata exclusivamente do resultado da experiência;</p><p>todos estes profissionais dispõem, ou podem dispor,</p><p>de argumentos que fundamentem suas decisões para</p><p>além da prática. Existem determinados conhecimentos</p><p>mais ou menos confiáveis, mais ou menos comparáveis</p><p>empiricamente, mais ou menos aceitos pela comunidade</p><p>profissional, que lhes permitem atuar com certa</p><p>segurança. (ZABALA, 1998, p. 21)</p><p>Na educação não é diferente, embora com certas características</p><p>específicas, pois não dispomos de marcos teóricos tão fiéis como</p><p>os de muitas outras profissões. O processo ensino-aprendizagem</p><p>é extremamente complexo, muito mais do que em muitas outras</p><p>profissões, o que nos desafia a buscar ajuda em teorias que nos</p><p>auxiliem a interpretá-lo.</p><p>Muitas vezes precisamos saber mais o “como acontece”</p><p>para aperfeiçoar o “como fazer”.</p><p>Claro está que uma única teoria não responde a todas as questões</p><p>do complexo processo ensino-aprendizagem, mas várias delas</p><p>procuram dar algumas respostas. Algumas trabalham a questão</p><p>da constituição do conhecimento, outras se dedicam aos estudos</p><p>dos sujeitos envolvidos no processo de interação, na mediação e</p><p>no uso de estruturas mentais, como a percepção e a memória.</p><p>Cabe aos envolvidos na prática pedagógica o papel de pesquisador</p><p>e conhecedor dos limites e alcances de cada teoria para refletir e</p><p>definir o seu trabalho, construindo conhecimentos teóricos que</p><p>lhe permitam uma visão não fragmentada do ato de educar.</p><p>Várias abordagens procuram explicar como ocorre o processo</p><p>ensino-aprendizagem. Não vamos abordar as contribuições de</p><p>todos os teóricos e suas teorias, pois esta disciplina é introdutória,</p><p>mas trataremos das três grandes concepções gerais sobre as</p><p>quais as diversas teorias se sustentam – inatista, ambientalista e</p><p>interacionista – pois são essenciais para que você construa o seu</p><p>conhecimento do conteúdo como um todo.</p><p>72</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Vamos citar num primeiro momento a abordagem chamada inatista.</p><p>Inspirada nas premissas da filosofia racionalista e idealista, essa</p><p>abordagem se baseia na crença de que as capacidades básicas do</p><p>ser humano já nascem com ele ou se encontram potencialmente</p><p>determinadas e aguardando o amadurecimento para se</p><p>manifestar. Enfatiza os fatores hereditários como definidores da</p><p>constituição do ser humano e do processo de conhecimento.</p><p>Essa abordagem pode comprometer o trabalho pedagógico</p><p>já que entende que a educação pouco ou quase nada altera as</p><p>determinações inatas do educando.</p><p>Lembra do velho ditado: “Pau que nasce torto morre</p><p>torto”?</p><p>Há uma concepção inatista por trás dessa afirmação. Esse</p><p>entendimento pode servir para justificar o fracasso do educando,</p><p>que deixa de ser responsabilidade da educação e do educador.</p><p>Também podemos perceber consequências da abordagem inatista</p><p>na forma de compreender o comportamento de crianças e jovens.</p><p>Reações de agressividade ou passividade, quando encaradas como</p><p>inatas, isentam o educador de qualquer forma de intervenção. Ou</p><p>seja, quando tiramos “o corpo fora” porque não adianta mesmo</p><p>investir nesta ou naquela pessoa, estamos sendo partidários da</p><p>concepção inatista.</p><p>Numa segunda concepção, a ambientalista, ou behaviorista,</p><p>as características individuais são determinadas por fatores</p><p>externos. É o ambiente onde o indivíduo vive que definirá as</p><p>suas características. Essa concepção privilegia a experiência como</p><p>fonte de conhecimento e de formação de hábitos.</p><p>Na pedagogia tradicional, encontramos pressupostos do</p><p>ambientalismo, na medida que supervaloriza o educador e toma o</p><p>educando como aquele que nada sabe. Entende aquele que educa</p><p>como o detentor do saber, o transmissor do conhecimento, o que</p><p>tem o direito de avaliar, julgar e exigir, cabendo ao aluno apenas</p><p>executar, pois a</p><p>interação é interpretada como falta de respeito e</p><p>indisciplina. O trabalho individual e a disciplina são valorizados</p><p>como garantia para a apreensão do conhecimento.</p><p>73</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 3</p><p>Para o ambientalismo o primordial é preparar o indivíduo para</p><p>assumir a posição que lhe cabe na sociedade. Neste paradigma</p><p>a aprendizagem é conteudista, as disciplinas são fragmentadas.</p><p>Esta abordagem também justifica práticas espontaneístas. O</p><p>professor, além de adotar uma postura de mero espectador,</p><p>ainda valoriza características individuais do aluno, resultantes</p><p>da educação recebida na família e do ambiente socioeconômico</p><p>em que vive. As dificuldades de aprendizagem são atribuídas</p><p>somente aos fatores sociais, tais como pobreza, desnutrição,</p><p>composição familiar, a crise econômica, a violência etc.,</p><p>colocando a solução do problema fora do alcance da escola.</p><p>Uma terceira concepção é a interacionista, que acredita na</p><p>relação estabelecida entre os seres humanos e o ambiente em que</p><p>vivem. Podemos identificar duas principais correntes teóricas</p><p>nesta concepção, que são assim conhecidas:</p><p>1. Teoria construtivista de Jean Piaget – defende que</p><p>as categorias mentais não são inatas, mas construídas</p><p>durante o desenvolvimento infantil na experiência</p><p>em interações com o meio ambiente. Nesse processo,</p><p>afetividade e inteligência são indissociáveis. A teoria</p><p>de Piaget não teve intenção pedagógica, mas oferece</p><p>princípios que orientam a prática pedagógica.</p><p>2. Teoria sociointeracionista de Vygotsky – defende</p><p>que nos desenvolvemos na interação com o outro.</p><p>O pensamento é construído gradativamente em um</p><p>ambiente histórico e, em essência, social.</p><p>Dentro da concepção interacionista também podemos relacionar</p><p>a Teoria Sociocultural, de Paulo Freire, que se preocupa com a</p><p>cultura popular e defende a real participação do povo enquanto</p><p>sujeito de um processo cultural. Percebe o homem como um ser de</p><p>práxis, ou seja, alguém que deve agir e refletir sobre o mundo com</p><p>o objetivo de transformá-lo. A educação se dá quando acontece a</p><p>passagem da consciência primitiva para a consciência crítica.</p><p>O processo ensino-aprendizagem deve se dar de forma</p><p>dialógica e problematizadora.</p><p>74</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Aqui você encerra os estudos desta Unidade, siga em frente</p><p>realizando as atividades de autoavaliação. Bons estudos!</p><p>Síntese</p><p>A proposta desta unidade foi mostrar que o educador, assim</p><p>como outros profissionais, deve fundamentar a sua prática</p><p>pedagógica em teorias que o auxiliem a compreender e a resolver</p><p>situações do processo ensino-aprendizagem. Identificamos que</p><p>três grandes concepções teóricas procuram explicar como ocorre</p><p>a aprendizagem. A primeira, inatista, crê que as capacidades</p><p>do ser humano já nascem com ele; a ambientalista defende</p><p>que o indivíduo é determinado por fatores externos; a terceira</p><p>concepção é a interacionista, que acredita na relação entre</p><p>os indivíduos e o ambiente. Duas correntes daí decorrem: o</p><p>construtivismo, segundo o qual o conhecimento é construído</p><p>na experiência em interação com o meio ambiente; e o</p><p>sociointeracionismo, que acredita que nos desenvolvemos na</p><p>interação com o outro. Também de concepção interacionista é a</p><p>teoria sociocultural de Paulo Freire, que acrescenta a necessidade</p><p>de valorizar a cultura popular e difundir uma educação</p><p>problematizadora que reflete e age sobre o mundo com o objetivo</p><p>de transformá-lo.</p><p>A educação, o ensinar e o aprender lidam com o conhecimento.</p><p>Nesta unidade, recordamos que há o conhecimento de senso</p><p>comum, que é o modo de pensar, por intuição e tradição, da</p><p>maioria das pessoas; e os conhecimentos científicos, que se</p><p>constroem metodicamente, com planejamento e fundamentos.</p><p>Nas propostas para a educação, reforça-se que esta deve</p><p>comprometer-se com a cidadania, o que exige a consciente</p><p>profissionalização de educadores.</p><p>75</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 3</p><p>Atividades de autoavaliação</p><p>Efetue as atividades de autoavaliação e, a seguir, acompanhe as</p><p>respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu</p><p>estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer</p><p>as atividades propostas.</p><p>Registre sua opinião:</p><p>1 - Por que o conhecimento é o grande capital da humanidade, como</p><p>afirma Gadotti?</p><p>2 - Por que é preciso que o educador trabalhe a partir da realidade</p><p>concreta dos educandos?</p><p>76</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Saiba mais</p><p>Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você</p><p>poderá pesquisar os seguintes livros:</p><p>ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: Rumo à sociedade</p><p>aprendente. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.</p><p>DEMO, Pedro. Educação e conhecimento: relação necessária,</p><p>insuficiente e controversa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.</p><p>GADOTTI, Moacir. Um legado de esperança. São Paulo:</p><p>Cortez, 2001.</p><p>GOMES, Carlos Minayo (org.). Trabalho e conhecimento:</p><p>dilemas na educação do trabalhador. São Paulo: Cortez/Autores</p><p>Associados, 1987.</p><p>OLIVEIRA, Betty. Socialização do saber escolar. São Paulo:</p><p>Cortez/Autores Associados, 1985.</p><p>RAUEN, Fábio José. Roteiros de Investigação cientifica.</p><p>Tubarão, SC: Editora Unisul, 2002</p><p>RIBEIRO, Maria Luisa Santos. Educação Escolar: que prática</p><p>é essa? Campinas, SP: Autores Associados, 2001. (Coleção</p><p>Polêmicas do Nosso Tempo).</p><p>4UNIDADE 4</p><p>Pedagogia e Pedagogos: A</p><p>Construção Histórica do Cenário</p><p>Brasileiro</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>� Estudar a trajetória histórica e a identidade da</p><p>Pedagogia no Brasil.</p><p>� Identificar correntes, tendências e principais</p><p>precursores do pensamento pedagógico brasileiro.</p><p>� Reconhecer Paulo Freire como um dos maiores</p><p>educadores do Brasil e do mundo.</p><p>Seções de estudo</p><p>Seção 1 Algumas noções introdutórias</p><p>Seção 2 História e identidade da Pedagogia no Brasil</p><p>Seção 3 Concepções e principais precursores do</p><p>pensamento pedagógico brasileiro</p><p>Seção 4 A Pedagogia de Paulo Freire</p><p>78</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Para início de estudo</p><p>Retomando alguns aspectos já considerados na primeira unidade,</p><p>reforçamos que no decorrer da história muitos pensadores</p><p>se dedicaram ao tema educação. Desde a Grécia Antiga,</p><p>Aristóteles já discutia sobre o papel do Estado na educação e</p><p>sobre a importância desta na vida pessoal e social. Afirmava</p><p>que a educação deveria ser única e igual para todos e que a</p><p>responsabilidade de educar é pública, não particular. A partir</p><p>do século XVIII, quando a pedagogia começou a questionar o</p><p>modo de pensar a criança, que até então era vista como adulto em</p><p>miniatura, os estudos da infância se ampliaram gradativamente.</p><p>Essas questões, você verá rapidamente, a seguir, na primeira</p><p>seção desta unidade.</p><p>Seção 1 – Algumas noções introdutórias</p><p>A partir do século XVIII, a pedagogia começa desenvolver</p><p>suas pesquisas através de nomes como Rousseau, Pestallozzi,</p><p>Froebel, Ferrer, Dewey, Dècroly, Makarenko, Ferrière, Cousinet,</p><p>Neill, Rogers, Vygotsky, Robin, Steiner, Montessori e Piaget,</p><p>que foram estudiosos e pesquisadores de áreas do saber como</p><p>a Psicologia, Biologia, Medicina, Filosofia, Antropologia que</p><p>muito contribuíram para que a pedagogia avançasse. Dentre esses</p><p>pensadores, podemos destacar: Rousseau, defensor do ensino de</p><p>coisas úteis, considerando aquilo que as crianças têm condições</p><p>de aprender; não foi um professor, e sim um filósofo preocupado</p><p>com a educação, da mesma forma que Ferrière.</p><p>79</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Já Cousinet foi professor e inspetor-formador; Steiner lidou com</p><p>a educação como um aspecto de sua teoria globalizante; Neill</p><p>criou sua própria escola; Froebel e Dewey tiveram proposições</p><p>importantes no campo da educação. Froebel é considerado o</p><p>criador dos jardins de infância, e Dewey foi um dos mentores</p><p>do movimento conhecido como Escola Nova; Pestallozzi</p><p>e Montessori foram médicos pesquisadores voltados para a</p><p>educação, Maria Montessori construiu uma metodologia de</p><p>organização do material de aprendizagem de acordo com as</p><p>dificuldades de cada criança, e Pestallozzi fundou escolas</p><p>e</p><p>laboratórios pedagógicos; Rogers foi professor e psicólogo clínico;</p><p>Makarenko foi professor e diretor de escolas para alunos com</p><p>desvios de conduta; Robin foi professor e diretor de um orfanato;</p><p>Cousinet e Ferrière lançaram movimentos em direção a uma</p><p>nova visão de educação e escola; Ferrer foi o criador da Escola</p><p>Moderna, um projeto prático de pedagogia libertária e também</p><p>deu passos importantes no movimento da Escola Nova; Piaget</p><p>pesquisou a gênese do conhecimento e lançou as bases da Teoria</p><p>Construtivista; Vygotsky, com os seus seguidores, construiu</p><p>as bases da Teoria Histórico Cultural; Freinet, cuja proposta</p><p>defendida era de respeito à maneira de pensar da criança e de</p><p>como ela construía seu conhecimento, propunha uma mudança</p><p>da escola, pois a considerava teórica e portanto desligada da vida.</p><p>Muitas foram as contribuições, alguns construíram</p><p>teorias propriamente ditas, outros aplicaram estudos e</p><p>observações diretamente no campo pedagógico, todos</p><p>foram estudiosos preocupados com a educação e o</p><p>desenvolvimento humano.</p><p>No Brasil, a construção da história da Pedagogia seguiu</p><p>ideias e ideais desses estudiosos, acrescentando nesse contexto</p><p>nossos próprios pensadores, ressaltando Paulo Freire que é</p><p>mundialmente conhecido. A partir da próxima seção, você</p><p>vai identificar e estudar os principais autores do pensamento</p><p>pedagógico brasileiro e suas contribuições. Antes de dar</p><p>continuidade a seus estudos, leia e reflita sobre as frases a seguir:</p><p>80</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Saiba mais</p><p>“A sala de aula deve ser prazerosa e bastante ativa, pois</p><p>o trabalho é o grande motor da pedagogia”. (Celèstin</p><p>Freinet)</p><p>“O que nos torna humanos é nossa capacidade de</p><p>imaginar”. (Lev Vygotsky)</p><p>“É de vital importância que a educação não se restrinja</p><p>ao ensino do conhecimento como algo acabado –</p><p>mas que o saber e habilidade do estudante possam</p><p>ser integrados à sua vida como cidadão, pessoa, ser</p><p>humano”. (John Dewey)</p><p>“Não podemos criar gênios, mas sim dar a cada pessoa</p><p>a oportunidade de desenvolver suas capacidades.</p><p>Assim conseguiremos seres independentes e</p><p>equilibrados”. (Maria Montessori)</p><p>Seção 2 – História e identidade da Pedagogia no Brasil</p><p>Os primórdios da educação brasileira, séculos XVI e XVII,</p><p>foram marcados pela atuação dos jesuítas. O ensino público</p><p>oficial foi implantado a partir de 1772. Sem linhas definidas, o</p><p>ensino apresentava-se desequilibrado, com falta de professores</p><p>preparados e com morosidade na tomada de medidas que</p><p>provocassem o aceleramento de mudanças em todo o caótico</p><p>quadro educacional. No século XVIII, apesar das grandes</p><p>mudanças mundiais ocorridas com a Revolução Industrial,</p><p>o quadro não se alterou. Somente a partir do século XIX, a</p><p>sociedade brasileira acentuou mudanças no contexto educação</p><p>e trabalho. A era das máquinas transformou todo contexto</p><p>econômico, político e social do País. Aconteceram grandes</p><p>revoluções, mas o contraste social, a divisão de classes, a riqueza</p><p>e a pobreza acentuaram-se vigorosamente. A educação foi</p><p>81</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>permeada por muitas expectativas, pois o trabalho passou a exigir</p><p>qualificação na mão de obra e o Estado cada vez mais intervinha</p><p>com o objetivo de fixar as escolas elementares leigas, gratuitas e</p><p>obrigatórias, o ensino superior destinado à elite e a escola técnica</p><p>voltada para a formação qualificada do trabalhador.</p><p>Figura 2.1: Tempos Modernos</p><p>Fonte: Lopes Júnior ([2003?]).</p><p>O grande discurso, posto nessa época, é o da formação</p><p>da consciência nacional e patriótica do cidadão.</p><p>Surgiram, com todo esse processo e com o avanço da tecnologia,</p><p>as propostas de reorganização da educação, as escolas</p><p>politécnicas, as ciências humanas, a Psicologia. As preocupações</p><p>maiores são atribuídas ao curso superior, ficando os demais níveis</p><p>da educação num abandono total, reforçando a elitização da</p><p>educação brasileira. Como consequência da reforma do ensino</p><p>e do Ato Adicional à Constituinte de 1834, foi designada a</p><p>descentralização do ensino, ficando a cargo do poder central a</p><p>regulamentação do ensino superior, e das províncias/Estados a</p><p>educação elementar e secundária.</p><p>82</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Essa reforma causou a divisão na educação e acentuou</p><p>as falhas do sistema vigente.</p><p>As normas do ensino superior sobrepunham-se como matrizes</p><p>para definir a escolha das disciplinas do ensino secundário, que</p><p>persistia numa situação lastimável, não possuindo nenhuma</p><p>fiscalização e transcorrendo em aulas avulsas sob a influência</p><p>ideológica da Igreja Católica. No período de 1860 a 1890 são</p><p>fundados consideráveis colégios particulares e, em algumas</p><p>regiões do País, escolas leigas, permanecendo a educação sem</p><p>a devida atenção e cuidados necessários. Entre 1835 e 1846,</p><p>foram fundadas as escolas normais, objetivando-se o preparo</p><p>qualificado do professor, mas, mesmo assim, a precariedade</p><p>imperava, inclusive no ensino chamado técnico. Em 1856, foram</p><p>fundadas as Escolas do Comércio, Agricultura, o Liceu de Artes</p><p>e Ofícios no Rio de Janeiro. No final do Império, a ideologia</p><p>católica passou a chocar-se com o pensamento positivista e com a</p><p>ideologia liberal leiga.</p><p>A educação enfrentava a luta pelas escolas públicas,</p><p>leigas e gratuitas, reforçadas pelo positivismo que</p><p>elevava o ensino da ciência em busca da superação do</p><p>ensino acadêmico humanista.</p><p>No século XX, a ciência e a tecnologia sofreram grandes</p><p>transformações. A sociedade brasileira processava a passagem</p><p>dos rumos industriais, inserindo-se, aos poucos, nos efeitos da</p><p>era cibernética, com grandes contrastes entre uma sociedade de</p><p>opulência e o horror da miséria, da fome, do desemprego e da</p><p>precariedade na educação.</p><p>Após a Segunda Guerra Mundial, com o fortalecimento do</p><p>capitalismo, o imperialismo imposto alterou-se diante da chegada</p><p>das multinacionais que se instalavam no país não desenvolvido</p><p>economicamente, a fim de explorar mão de obra barata,</p><p>agravando o subdesenvolvimento e colocando o Brasil no bloco</p><p>do dito “terceiro mundo”.</p><p>83</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Porém, a partir da década de 20 alguns planos de reformulação</p><p>no ensino começaram a criar expectativas frente ao aparecimento</p><p>de intelectuais e educadores brasileiros.</p><p>Em 1924 foi fundada a Associação Brasileira de Educação</p><p>– ABE. Aconteceram várias conferências sobre educação,</p><p>fortalecendo as ideias da Escola Nova que se aliavam aos ideais</p><p>de mudanças sociais por meio da educação escolar. Várias</p><p>propostas de reformas pedagógicas foram feitas embasadas nas</p><p>ideias de Lourenço Filho (1923), Anísio Teixeira (1925), entre</p><p>outros nomes importantes que estavam dispostos a extinguir o</p><p>quadro de atraso na educação brasileira. Contudo, continuava</p><p>a educação em situação frágil e precária, a preocupação maior</p><p>voltava-se para os aportes técnicos e somente a partir da década</p><p>de 30 aconteceram sensíveis mudanças. O número de escolas</p><p>aumentou nos grandes centros, acompanhando a evolução do</p><p>tecnicismo, abrangendo um contingente muito maior de alunos.</p><p>Foi criado, em 1930, o Ministério da Educação e Saúde,</p><p>órgão que se voltou para a reestruturação do ensino</p><p>superior, período em que também foram fundadas</p><p>algumas universidades.</p><p>Em 1932, o manifesto dos pioneiros da educação nova foi</p><p>publicado. Esse manifesto foi relevante para a Pedagogia por</p><p>representar a conscientização da deficiente educação nacional</p><p>frente às exigências do desenvolvimento e por teorizar a</p><p>responsabilidade do Estado frente à educação gratuita e</p><p>obrigatória, refutando a divisão apresentada no meio educacional,</p><p>ansiando a escola única.</p><p>Em meio as discussões levantadas pelos envolvidos no</p><p>movimento da Escola Nova, uma se fez presente e foi bastante</p><p>acentuada: a briga entre os defensores das escolas públicas e os</p><p>das escolas particulares. As escolas particulares eram conduzidas</p><p>por religiosos que afirmavam ter a escola pública apenas o papel</p><p>de instruir, enquanto as particulares se diziam realmente como</p><p>propagadoras da educação.</p><p>84</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Fernando de Azevedo como um dos grandes nomes desse</p><p>movimento se contrapunha à filosofia imposta pelos católicos</p><p>que não idealizavam a democratização do ensino, mas o</p><p>conservadorismo da classe elitista com o objetivo de bloquear a</p><p>participação do povo nas questões políticas do País.</p><p>As mudanças na educação começam a se intensificar e, em</p><p>1937, os primeiros professores brasileiros com licenciatura foram</p><p>diplomados, e o ensino secundário foi agraciado com novas</p><p>transformações que objetivavam a melhoria na qualidade do ensino.</p><p>A história da educação brasileira foi marcada por várias</p><p>e importantes reformas.</p><p>Destacamos aqui as contribuições de Francisco Campos, que</p><p>através de ações planejadas, enquanto Ministro da Educação,</p><p>buscou organizar o ensino, passando o nível secundário a ser</p><p>composto por dois ciclos: fundamental, com cinco anos de</p><p>duração, e complementar, com dois anos de duração, objetivando</p><p>a preparação do indivíduo para o ingresso no curso superior.</p><p>A reforma de Gustavo Capanema também buscou novas</p><p>diretrizes. Vários decretos foram assinados entre 1942 e 1946,</p><p>sendo novamente o ensino secundário estruturado com a</p><p>implantação do ginásio, com a duração de quatro anos, e do</p><p>colegial, com duração de três anos. Nessa reforma, a lei do</p><p>ensino secundário, em seu artigo 1º, expressava as finalidades</p><p>de formação integral do jovem, sua conscientização patriótica</p><p>e a sua preparação intelectual. A reforma de Capanema</p><p>promoveu também a regulamentação do curso de magistério,</p><p>amplamente procurado por moças da classe média que buscavam</p><p>a profissionalização.</p><p>A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB –</p><p>brasileira foi apresentada pelo Ministro Clemente Mariani em</p><p>1948, contando com a colaboração fundamental de Lourenço</p><p>Filho. Mas esta só foi promulgada em 1961, contendo várias</p><p>divergências frente à realidade educacional da época.</p><p>85</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Em 1961, quando foi publicada a LDB, Lei 4.024, a real</p><p>situação da educação no Brasil era de divisão social.</p><p>Vários movimentos em prol da educação popular</p><p>aconteceram do início até a metade da década de 60.</p><p>Em 1964, com o golpe militar e a influência direta dos EUA, a</p><p>educação brasileira tomou novos rumos com os acordos do MEC</p><p>com organismos internacionais, através dos quais o Brasil recebe</p><p>assistência técnica e financeira para uma reforma educacional. A</p><p>população direcionava-se cada vez mais para a escola buscando a</p><p>preparação qualificada para o mercado de trabalho.</p><p>A modernidade, os avanços na ciência e na</p><p>tecnologia espelhavam o novo mundo do</p><p>trabalho, acentuando a divisão entre aqueles que</p><p>comandavam e aqueles que operacionalizavam. As</p><p>escolas, já na metade do século XX, apresentavam</p><p>tendências especificamente tecnicistas.</p><p>No Brasil, essa tendência fixou-se no começo da ditadura militar,</p><p>burocratizando mais o ensino, aumentando a crise na educação</p><p>que apresentava altos índices de analfabetismo e discrepância de</p><p>valores na esfera social. A escola estaria, então, caracterizada pela</p><p>transmissão do saber, bitolada num processo que não promove</p><p>a produção do conhecimento, mas sim a tecnocracia garantida</p><p>pelos ideais positivistas, como justificação do poder.</p><p>A técnica, sendo vista como promotora do controle do homem</p><p>sobre as máquinas e a natureza, eleva o desejo da sociedade</p><p>elitizada a justificar a galopante sede de progresso e de domínio</p><p>sobre a ação humana. A proposta de formação técnica causou</p><p>grandes preocupações devido ao perigo do tecnicismo exagerado,</p><p>sem o entendimento e a clareza de que a técnica deve estar a</p><p>serviço do homem sem ser um modo de alienação.</p><p>As escolas eram controladas e a União Nacional dos Estudantes</p><p>promovia reuniões sigilosas em busca de meios que promovessem</p><p>a liberdade e a melhoria no ensino. Crescia o descontentamento,</p><p>principalmente quanto à falta de vagas no ensino superior. Tais</p><p>problemas provocaram mudanças na política educacional que,</p><p>Os acordos chamados</p><p>MEC USAID representam a</p><p>fusão das siglas Ministério</p><p>da Educação (MEC) do</p><p>Brasil e United States</p><p>Agency for International</p><p>Development (USAID) e</p><p>tinham como objetivo</p><p>introduzir no Brasil o</p><p>modelo de educação</p><p>dos Estados Unidos. Esse</p><p>modelo aconteceu com</p><p>a Lei 5692, de 1971, com</p><p>a reforma do ensino,</p><p>quando os cursos primário</p><p>e ginasial passaram juntos</p><p>a se chamar primeiro</p><p>grau, o curso científico</p><p>passou a ser segundo</p><p>grau com uma proposta</p><p>profissionalizante, e o</p><p>curso universitário passou</p><p>a se chamar terceiro grau.</p><p>86</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>através de uma nova reforma, lei 5.692/71, buscou o cerceamento</p><p>da continuidade dos estudos, alegando que o mercado precisava</p><p>de técnicos. O objetivo era formar mão de obra especializada</p><p>para atender a demanda do mercado de trabalho, integrando</p><p>educação e desenvolvimento, em que o compromisso não era o</p><p>desenvolvimento intelectual do jovem, mas a mão de obra barata,</p><p>firmando nossos laços de dependência aos países desenvolvidos e</p><p>a disseminação da ideologia empregada pela ditadura militar.</p><p>Ainda com base na Lei 5.692/71, buscava-se a reestruturação do</p><p>ensino aplicando-se a obrigatoriedade escolar em oito anos, sendo</p><p>excluídos os exames de admissão que selecionavam o ingresso</p><p>do aluno no curso ginasial. Essas mudanças não trouxeram os</p><p>resultados esperados para melhoria da educação e, com relação</p><p>à profissionalização, as escolas enfrentavam ainda problemas</p><p>estruturais, físicos e falta de profissionais qualificados.</p><p>A formação integral do indivíduo voltava-se para a</p><p>elite, mais uma vez privilegiada com a seletividade de</p><p>ingresso nos cursos superiores.</p><p>Os fracassos decorrentes dessa reforma ficaram visíveis por volta</p><p>de 1980. A política educacional enfrentou novas mudanças,</p><p>direcionando a formação geral, proposta da Lei 7.044/82,</p><p>desobrigando a qualificação profissional.</p><p>Com as alterações feitas por essa nova lei, o termo qualificação</p><p>foi alterado para preparação para o trabalho. Pelo artigo 4º da</p><p>5.692/71 e 7.044/82, preparação para o trabalho seria o elemento</p><p>de formação integral do aluno, devendo merecer atenção especial,</p><p>pois a formação de mão de obra somente não é mais suficiente</p><p>visto que, com todas as mudanças ocorridas no contexto social, o</p><p>perfil do jovem aluno também mudara e a escola, acompanhando</p><p>todo esse processo de transformações, precisava adequar-se ao</p><p>tipo de indivíduo que a sociedade buscava.</p><p>A qualificação técnica por si só não era mais suficiente,</p><p>era necessário o desenvolvimento intelectual global, a</p><p>formação de um ser pensante e ativo.</p><p>87</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>A sociedade globalizada exige cada vez mais que a escola</p><p>proporcione meios de levar o indivíduo ao desenvolvimento</p><p>da capacidade de criação, inovação, síntese, análise, percepção</p><p>e agilidade nas tomadas de decisões. São esses alguns dos</p><p>princípios que devem ser pedagogicamente trabalhados</p><p>e proporcionados pela escola, visto que cada vez mais se</p><p>valoriza competência associada ao conhecimento, e não mais a</p><p>exclusividade em certa habilidade.</p><p>Seção 3 – Concepções e principais precursores do</p><p>pensamento pedagógico brasileiro</p><p>Na seção anterior, procuramos sintonizar você com a construção</p><p>do cenário brasileiro desde a chegada dos jesuítas ao Brasil. Nesta</p><p>seção, vamos inserir neste contexto nomes, histórias de vida e ideias</p><p>defendidas pelos responsáveis pela construção do pensamento</p><p>pedagógico brasileiro. Em síntese, pode-se, numa sequência</p><p>cronológica, assim destacar o pensamento pedagógico brasileiro:</p><p>� a vertente religiosa da pedagogia tradicional (1549-1759);</p><p>� coexistência entre as vertentes religiosa e leiga da</p><p>pedagogia tradicional (1759-1932);</p><p>� a pedagogia nova (1947-1961);</p><p>� crise da pedagogia nova e articulação da pedagogia</p><p>tecnicista (1961-1969);</p><p>� predomínio da pedagogia tecnicista e desenvolvimento</p><p>da concepção crítico reprodutivista (1969-1980);</p><p>� emergência da pedagogia histórico-crítica</p><p>e propostas</p><p>alternativas (1980-1991).</p><p>Como já registramos, nos primórdios da educação brasileira está</p><p>o trabalho dos jesuítas que marcaram o pensamento pedagógico</p><p>difundindo a subserviência, a dependência e o paternalismo.</p><p>88</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>O início das mudanças do pensamento pedagógico brasileiro</p><p>ocorreu a partir do pensamento iluminista trazido da Europa por</p><p>intelectuais e estudantes que não tinham mais tantos laços com</p><p>a Igreja. O Iluminismo foi um movimento intelectual surgido</p><p>na segunda metade do século XVIII, o “século das luzes”, que</p><p>enfatizava a razão e a ciência, impulsionando o capitalismo</p><p>e os preceitos da sociedade moderna, sobretudo nos países</p><p>protestantes. O nome se aplica porque os filósofos acreditavam</p><p>estar iluminando as mentes das pessoas, que a razão seria a</p><p>explicação para todas as coisas no universo e se contrapunham</p><p>à fé. A inspiração foi principalmente trazida dos sistemas</p><p>educacionais da Inglaterra, da Alemanha e dos Estados Unidos.</p><p>No início do século XX, a educação teve grande interesse nos</p><p>movimentos anárquicos, os quais não queriam que ocorressem</p><p>mudanças profundas na mentalidade das pessoas e, assim, a</p><p>revolução social desejada jamais alcançaria o seu objetivo.</p><p>O pensamento pedagógico brasileiro definiu-se por duas</p><p>tendências gerais: a liberal e a progressista. Os educadores e os</p><p>teóricos da educação liberal defendem a liberdade de ensino, e os</p><p>da educação progressista defendem a formação de um cidadão</p><p>crítico e participante.</p><p>Vários educadores brasileiros, através de seus estudos e trabalhos,</p><p>permitiram a evolução do pensamento pedagógico brasileiro.</p><p>Destacam-se Fernando Azevedo, Florestan Fernandes, Anísio</p><p>Teixeira, Lourenço Filho, Darci Ribeiro, Demerval Saviani,</p><p>Rubem Alves e Paulo Freire.</p><p>Fernando Azevedo (1894-1974)</p><p>Foi integrante do movimento reformador da educação pública,</p><p>da década de 20, impulsionada pela Associação Brasileira</p><p>de Educação, fundada em 1924. Promoveu ampla reforma</p><p>educacional no Rio de Janeiro, capital da República, defendendo</p><p>o ensino a todas as crianças em idade escolar, a articulação entre</p><p>os níveis de ensino e a adaptação da escola ao meio urbano,</p><p>rural e marítimo. Fundou a Biblioteca Pedagógica Brasileira</p><p>e, em 1932, redigiu e lançou, junto com outros 25 educadores</p><p>89</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>e intelectuais, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.</p><p>Esse documento colocou a educação como o problema nacional</p><p>mais importante que os problemas econômicos, afirmando</p><p>sobre a impossibilidade de desenvolver as forças econômicas ou</p><p>de produção sem o preparo intensivo das forças culturais e o</p><p>desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa, que são os</p><p>fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade.</p><p>O Manifesto estabelecia a função essencialmente pública da</p><p>educação defendendo a garantia de acesso à educação aos cidadãos</p><p>em condições de inferioridade econômica e preconizava o ensino</p><p>laico, gratuito e obrigatório, sem a separação de alunos pelo sexo.</p><p>Defendia a autonomia da função educacional e, ao mesmo tempo,</p><p>proibia as influências religiosas, políticas e partidárias.</p><p>Outra grande aventura intelectual de Fernando de</p><p>Azevedo foi a participação na criação da USP, em 1934,</p><p>ao lado de Júlio de Mesquita Filho, Armando de Salles</p><p>de Oliveira.</p><p>Tornou-se um intelectual extremamente crítico quanto ao papel</p><p>da escola e ajudou a colocar a educação como prioridade na agenda</p><p>nacional. Foi o principal introdutor das concepções do sociólogo</p><p>francês Émile Durkheim (1858-1917) no Brasil. Em sua obra</p><p>Princípios de Sociologia, publicada em 1935, faz a primeira explanação</p><p>sistematizada e crítica das ideias sociológicas, discutindo, entre</p><p>outros, temas como a natureza dos fatos sociais, a constituição de</p><p>uma ciência particular do social, a luta pela autonomia da sociologia</p><p>como ciência e as grandes correntes do pensamento sociológico.</p><p>Autor de obra numerosa, Fernando de Azevedo escreveu, entre outros:</p><p>� Ensaios - Crítica para o jornal O Estado de São Paulo (1924-1926);</p><p>� Novos caminhos e novos fins - A nova política</p><p>da educação no Brasil (1935);</p><p>� Canaviais e engenhos na vida política do Brasil (1948);</p><p>� A educação e seus problemas (1952);</p><p>� As ciências no Brasil (1956);</p><p>� Princípios de sociologia (1958) e</p><p>� Sociologia educacional (1959).</p><p>90</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Florestan Fernandes (1920-1995)</p><p>Considerado um dos grandes pensadores brasileiros, defensor</p><p>da escola pública, Florestan Fernandes criou um novo estilo</p><p>de pensar sobre a realidade social. Paulista, de família muito</p><p>humilde, obteve a licenciatura em 1943. Foi assistente de</p><p>Fernando de Azevedo na cátedra de Sociologia II. Titulou-se</p><p>como mestre em 1947 e concluiu o doutorado em 1951.</p><p>Engajou-se nos estudos e na reflexão da sociedade,</p><p>fundamentado em Émile Durkheim e nos demais pensadores</p><p>da sociologia positivista, militou em prol das pessoas de</p><p>condições menos favorecidas. Fundou a Sociologia crítica no</p><p>Brasil e assumiu um novo estilo de pensar a realidade social.</p><p>Criticou a pedagogia tradicional e condenou os educadores que</p><p>se colocavam à distância do processo social, acreditava que estes</p><p>deveriam estar engajados na tarefa de transformação social.</p><p>Tornou-se defensor permanente da escola pública e colocou a</p><p>Educação como um dos temas centrais da sua vida. Afirmava que</p><p>não poderia existir Estado ou sociedade democrática sem uma</p><p>educação democrática via escola pública gratuita.</p><p>Nessa defesa, reuniram-se vários educadores em</p><p>São Paulo e realizaram a I Convenção Estadual</p><p>em Defesa da Escola Pública, de onde saiu uma</p><p>grande mobilização, dando origem à Campanha</p><p>em Defesa da Escola Pública. Essa campanha</p><p>conseguiu juntar diversos intelectuais além de</p><p>outros segmentos da sociedade.</p><p>No meio intelectual, uniu-se uma diferente corrente do</p><p>pensamento educacional: os liberais idealistas, os liberais</p><p>pragmáticos e os socialistas. Nesta esta última corrente</p><p>encontravam-se Florestan, Darcy Ribeiro e Fernando Henrique</p><p>Cardoso. Florestan possui uma produção intelectual impregnada</p><p>de reflexão e questionamento da realidade, que o levou a</p><p>enfrentamentos, sobretudo durante a ditadura, culminando com</p><p>o seu desligamento da Universidade e o exílio no Canadá. Ele</p><p>retornou ao Brasil após 1972.</p><p>91</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Florestan começou a escrever no final dos anos 40 e, ao longo de</p><p>sua vida, publicou mais de 50 livros e centenas de artigos. Suas</p><p>principais obras foram:</p><p>� Organização Social dos Tupinambá (1949);</p><p>� A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá</p><p>(1952); (Estas duas obras são indispensáveis para o</p><p>conhecimento das nossas sociedades indígenas)</p><p>� Mudanças Sociais no Brasil (1960); (Nesta obra Florestan</p><p>faz um panorama de seu trabalho e retrata o Brasil)</p><p>� Fundamentos Empíricos da Explicação Sociológicas (1959); (Esta é um</p><p>dos clássicos da sociologia de Florestan. Se esta obra tivesse sido</p><p>publicada nos Estados Unidos na mesma época, teria revolucionado</p><p>o ensino da Sociologia). Folclore e Mudança Social na Cidade de São</p><p>Paulo (1961); (Esta obra revela o Brasil do tradicionalismo popular</p><p>e se tornou um documento etnográfico sobre a cultura popular).</p><p>� A Integração do Negro na Sociedade de Classes (1964);</p><p>(Estudo das revelações raciais em nosso país).</p><p>� Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento (1968);</p><p>A Revolução Burguesa no Brasil (1975).</p><p>� Fonte: Quem... (2006)</p><p>Anísio Spínola Teixeira (1900-1971)</p><p>Foi advogado, intelectual, educador e escritor brasileiro. Tornou-</p><p>se um dos personagens centrais da educação no Brasil nas</p><p>décadas de 1920 e 1930. Participante do movimento da Escola</p><p>Nova, foi um dos mais destacados signatários do Manifesto da</p><p>Escola Nova. Reformou o sistema educacional da Bahia e do</p><p>Rio de Janeiro e fundou a Universidade do Distrito Federal, em</p><p>1935, depois transformada em Faculdade Nacional de Filosofia</p><p>da Universidade do Brasil. Trouxe para o Brasil as</p><p>novidades</p><p>do sistema educacional da Europa. Nos Estados Unidos, entra</p><p>em contato com as ideias do filósofo e pedagogo John Dewey,</p><p>que muito vão influenciar seu pensamento, sendo inclusive o</p><p>responsável pela edição, em português, de dois trabalhos de</p><p>Dewey pela primeira vez difundidos no Brasil.</p><p>92</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Na década de 1940 foi Conselheiro da Unesco (Organização</p><p>das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura);</p><p>em 1946, assumiu a Secretaria de Educação e Saúde da Bahia,</p><p>quando, dentre outras realizações, construiu no mais populoso e</p><p>pobre bairro da capital baiana o “Centro Educacional Carneiro</p><p>Ribeiro”, mais conhecido por Escola Parque, lugar para educação</p><p>em tempo integral e que serviria de modelo para os futuros</p><p>CIACs e CIEPs. Nos anos 50, dirigiu o Instituto Nacional de</p><p>Estudos Pedagógicos. Foi um dos idealizadores do projeto da</p><p>Universidade de Brasília (UnB), inaugurada em 1961, da qual</p><p>veio a ser reitor em 1963, para ser afastado após o golpe militar</p><p>de 1964. Em seus ideais prevalecia constantemente a preocupação</p><p>com uma educação livre de privilégios.</p><p>Saiba mais</p><p>“Sou contra a educação como processo exclusivo de</p><p>formação de uma elite, mantendo a grande maioria da</p><p>população em estado de analfabetismo e ignorância.</p><p>Revolta-me saber que dos cinco milhões que estão na escola,</p><p>apenas 450.000 conseguem chegar a 4 ª. série, todos os</p><p>demais ficando frustrados mentalmente e incapacitados para</p><p>se integrarem em uma civilização industrial e alcançarem</p><p>um padrão de vida de simples decência humana. Choca-me</p><p>ver o desbarato dos recursos públicos para educação,</p><p>dispensados em subvenções de toda natureza a atividades</p><p>educacionais, sem nexo nem ordem, puramente paternalistas</p><p>ou francamente eleitoreiras”. (Anísio Teixeira)</p><p>Dentre suas obras destacam-se:.</p><p>� Aspectos americanos de educação (1928);</p><p>� A educação e a crise brasileira (1956);</p><p>� Educação é um direito (1996);</p><p>� Educação e o mundo moderno (1977);</p><p>� Educação e universidade (1998);</p><p>� Educação no Brasil (1969);</p><p>� Educação não é privilégio (1994);</p><p>� Educação para a democracia: introdução à</p><p>administração educacional (1997) e</p><p>� Educação progressiva: uma introdução à filosofia da educação (1934).</p><p>� Ensino superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução</p><p>até 1969 (1989); Pequena introdução à filosofia da educação:</p><p>a escola progressiva ou a transformação da escola (1968).</p><p>93</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Manoel Bergström Lourenço Filho (1897-1970)</p><p>É uma das figuras eminentes da Escola Nova brasileira e foi</p><p>certamente um dos atores mais importantes do Manifesto dos</p><p>Pioneiros. Educador sedento do novo, sua preocupação voltava-</p><p>se para o fazer pedagógico. A complexidade das relações entre</p><p>a escola e a sociedade, que hoje é lugar comum, já era apontada</p><p>pelo autor, que definia a educação como eminentemente social.</p><p>Saiba mais</p><p>“O que a educação agora exige é que se compreenda</p><p>essa mudança das condições da existência. Nem todos</p><p>os valores se subverteram, mas a técnica de viver que</p><p>se apresenta às novas gerações é diversa da nossa, em</p><p>razão dos progressos da ciência, da economia industrial,</p><p>dos novos poderes que o homem conquistou sobre a</p><p>natureza, sobre a vida e a morte, sobre o pensamento”.</p><p>(Lourenço Filho)</p><p>Como figura pública, ocupou cargos na administração federal</p><p>– como diretor de gabinete de Francisco Campos (1931), como</p><p>diretor geral do Departamento Nacional de Educação (nomeado</p><p>por Gustavo Capanema, em 1937) e como diretor do Instituto</p><p>Nacional de Estudos Pedagógicos (1938-46) – mas foi, sobretudo,</p><p>um professor e um estudioso de assuntos didático-pedagógicos.</p><p>Tinha claro que a educação brasileira não atendia às necessidades</p><p>das classes populares, pelo contrário impedia a sua inserção no</p><p>esquema produtivo. No cenário intelectual nacional, relacionava-</p><p>se com Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Monteiro Lobato,</p><p>Alceu Amoroso Lima, Almeida Jr., Sampaio Dória, Celso Kelly.</p><p>As viagens pelo Brasil e exterior, além de sua sólida formação,</p><p>possibilitaram escrever em áreas como Geografia e História</p><p>do Brasil, Psicologia, Estatística, Sociologia e no campo da</p><p>Educação: educação pré-primária, alfabetização infantil e de</p><p>adultos, ensino secundário, ensino técnico rural, universidade,</p><p>didática, metodologia de ensino, administração escolar, avaliação</p><p>educacional, orientação educacional, formação de professores,</p><p>educação física e literatura infantojuvenil. Ele tem textos espalhados</p><p>por numerosos livros, revistas, jornais, cartilhas, conferências,</p><p>apresentações e prefácios. Há publicação de alguns de seus escritos</p><p>em inglês, francês e espanhol. Suas principais obras são:</p><p>94</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>� Educação comparada (1961);</p><p>� A Escola Nova (resposta ao inquérito de O</p><p>Estado de S. Paulo, em 1926) (1927);</p><p>� Estatística e educação (1940);</p><p>� Introdução ao estudo da Escola Nova (1978);</p><p>� Organização e administração escolar: um curso básico (1963);</p><p>� A pedagogia de Rui Barbosa/1849-1923 (1954);</p><p>� Psicologia da aprendizagem e instrução militar (1940);</p><p>� A psicologia a serviço da organização. Conferência</p><p>de Lourenço Filho de 3/8/1942 (1942);</p><p>� Tendências da educação brasileira (1940);</p><p>� Testes ABC para verificação da maturidade necessária à</p><p>aprendizagem da leitura e escrita. São Paulo: Melhoramentos,</p><p>1969. (inclui material para aplicação dos testes);</p><p>� Testes e medidas na educação (1970).</p><p>Além destas, o autor possui obras que foram por ele traduzidas para o</p><p>português e outras voltadas ao público infantil.</p><p>Darcy Ribeiro (1922-1997)</p><p>Foi um antropólogo, escritor e político brasileiro que se</p><p>notabilizou fundamentalmente por trabalhos desenvolvidos nas</p><p>áreas de Educação, Sociologia e Antropologia. Foi, ao lado de</p><p>Anísio Teixeira, responsável pela criação da Universidade de</p><p>Brasília, sendo o seu primeiro reitor, e também foi o idealizador</p><p>da Universidade Fluminense.</p><p>Foi ainda o idealizador da implantação dos Centros Integrados</p><p>de Ensino Público (CIEPs), um projeto pedagógico de assistência</p><p>em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e</p><p>culturais, viabilizando os projetos idealizados décadas antes por</p><p>Anísio Teixeira. Possui obras traduzidas para diversos idiomas</p><p>(o inglês, o alemão, o espanhol, o francês, o italiano, o hebraico,</p><p>o húngaro e o tcheco), figura dentre os maiores intelectuais</p><p>brasileiros de todos os tempos.</p><p>95</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Divididas tematicamente, o autor possui obras voltadas para: Etnologia,</p><p>Antropologia, Romance, Ensaio e Educação, conforme abaixo</p><p>elencadas.</p><p>� Plano orientador da Universidade de Brasília (1962);</p><p>� A Universidade necessária (1969);</p><p>� Propuestas - Acerca da la Renovación (1970);</p><p>� Université des Sciences Humaines d’Alger (1972);</p><p>� La Universidad peruana (1974);</p><p>� UnB - Invenção e descaminho (1978);</p><p>� Nossa escola é uma calamidade (1984);</p><p>� Universidade do terceiro milênio - Plano orientador da</p><p>Universidade Estadual do Norte Fluminense (1993).</p><p>Dermeval Saviani (1944)</p><p>Paulista, filho de trabalhadores e neto de imigrantes italianos,</p><p>estudou Filosofia na PUC/SP. Deixou o Banco Bandeirantes,</p><p>onde trabalhava, para lecionar Filosofia em escola pública. Em</p><p>1966, trabalhou em um órgão da Secretaria de Educação de São</p><p>Paulo. Em 1967, atuou como professor do Curso de Pedagogia da</p><p>PUC/SP e ajudou a criar os Cursos de Mestrado e Doutorado em</p><p>Filosofia da Educação nessa Instituição, em 1970, e o Mestrado</p><p>em Educação na Universidade Federal de São Carlos. Doutorou-</p><p>se em Filosofia da Educação na PUC/SP. Em 1978, retornou</p><p>como professor da PUC/SP e ajudou a criar o Doutorado em</p><p>Educação nesta Instituição. Ajudou a criar, em 1979, a ANDE –</p><p>Associação Nacional de Educação. Foi o fundador da ANPED</p><p>e do CEDES. Em 1986, concluiu a Livre-Docência na área</p><p>de Ciências Humanas: História da Educação na Faculdade de</p><p>Educação da UNICAMP. Em 1988, participou da elaboração</p><p>de um anteprojeto</p><p>da LDB - Lei de Diretrizes e Bases da</p><p>Educação. Em 1988, coordenou o programa de pós-graduação da</p><p>UNICAMP. Atualmente, é professor na UNICAMP e também</p><p>está envolvido com diversos projetos educacionais e de pesquisa.</p><p>96</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Defensor da escola pública preocupou-se com o alcance político</p><p>da ação pedagógica enquanto estratégia de construção da</p><p>contraideologia, sem, no entanto, confundir essa ação com uma</p><p>ação propriamente política. Sua produção escrita tem como</p><p>objetivo responder aos problemas da educação brasileira. São</p><p>temas sempre atuais e servem para os cursos de formação de</p><p>professores e pesquisadores.</p><p>Sua concepção de Pedagogia Histórico-Crítica foi,</p><p>segundo Libâneo (1991, p.31), construída “na linha das</p><p>sugestões das teorias marxistas que, não se satisfazendo</p><p>com as teorias crítico-reprodutivistas, postulam a</p><p>possibilidade de uma teoria crítica da educação</p><p>que capte criticamente a escola como instrumento</p><p>coadjuvante no projeto de transformação social”.</p><p>Para Saviani, a nomenclatura de Pedagogia Histórico-Crítica</p><p>pode ser considerada como sinônimo de Pedagogia Dialética,</p><p>pois busca um pensamento crítico dialético para a educação.</p><p>Saviani preconiza um método que segue diferentes momentos:</p><p>o primeiro, ponto de partida do ensino, é a prática social,</p><p>comum a professores e alunos, mesmo considerando que estes</p><p>partem de diferentes níveis de conhecimento e experiências;</p><p>o segundo momento é a problematização, cujo objetivo é</p><p>identificar as questões que precisam ser resolvidas dentro da</p><p>prática social e quais os conhecimentos necessários para resolver</p><p>estes problemas; o terceiro momento é a instrumentalização,</p><p>onde ocorre a apropriação dos instrumentos teóricos e práticos</p><p>necessários à solução dos problemas identificados e que depende</p><p>da transmissão dos conhecimentos do professor para que essa</p><p>apropriação aconteça já que esses instrumentos são produzidos</p><p>socialmente e preservados historicamente; o quarto momento é a</p><p>catarse, quando ocorre a efetiva incorporação dos instrumentos</p><p>culturais e a forma elaborada de entender a transformação social;</p><p>o quinto e ultimo momento é a prática social, ponto de chegada</p><p>em que os alunos atingem uma compreensão que supostamente já</p><p>tinha o professor.</p><p>97</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Veja a seguir um pouco sobre as concepções de Demerval</p><p>Saviani.</p><p>Saiba mais</p><p>“A educação coincide com a própria existência</p><p>humana [..]) as origens da educação se confundem</p><p>com as origens do próprio homem. À medida que</p><p>determinado ser natural se destaca da natureza e é</p><p>obrigado, para existir, a produzir sua própria vida, é</p><p>que ele se constitui propriamente enquanto homem</p><p>[..]) O ato de agir sobre a natureza, adaptando-a às</p><p>necessidades humanas, é o que conhecemos pelo</p><p>nome de trabalho. Por isto, podemos dizer que</p><p>o trabalho define a essência humana. Portanto,</p><p>o homem, para continuar existindo, precisa estar</p><p>continuamente produzindo sua própria existência</p><p>através do trabalho. Isto faz com que a vida do homem</p><p>seja determinada pelo modo como ele produz sua</p><p>existência”. (Dermeval Saviani)</p><p>Saviani procurou justificar a teoria da Pedagogia Histórico-</p><p>Crítica forçando a argumentação não para o lado da Pedagogia</p><p>Nova, como era comum nos meios educacionais, mas para o lado</p><p>da Pedagogia Tradicional. Valeu-se da “Teoria de Curvatura da</p><p>Vara” (enunciada por Lênin), citando que quando uma vara está</p><p>torta, não basta colocá-la na posição correta para endireitá-la, é</p><p>preciso curvá-la para o lado oposto. (1985, p. 41).</p><p>Para o autor, a Pedagogia Nova é extremista ao</p><p>criticar a Pedagogia Tradicional como cheia de vícios e</p><p>nenhuma virtude.</p><p>Por meio de três teses, procurou dar indicações para desvelar a</p><p>verdade historicamente contextualizada, demonstrando a falsidade</p><p>daquilo que é considerado verdadeiro e vice–versa, afirmando:</p><p>98</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>1. Tese filosófico-histórica: o caráter revolucionário</p><p>da Pedagogia Tradicional e o caráter reacionário da</p><p>Pedagogia Nova.</p><p>2. Tese uma tese pedagógico-metodológica: o</p><p>caráter científico do método Tradicional e o caráter</p><p>pseudocientífico dos métodos Novos.</p><p>3. Tese política: quanto menos se falou em democracia</p><p>no interior da escola, mais ela esteve articulada com a</p><p>construção de uma ordem democrática; e quanto mais se</p><p>falou em democracia no interior da escola, menos ela foi</p><p>democrática.</p><p>A proposta é encontrar o ponto correto da vara através da</p><p>Pedagogia Histórico-Crítica, não estando curva para o lado da</p><p>Pedagogia Nova e nem para o lado da Pedagogia Tradicional,</p><p>mas no ponto onde sejam favorecidas as transformações</p><p>sociais e, o que implica, necessariamente, posicionar-se</p><p>conceitualmente pelo que se entende que seja a educação e o</p><p>que significa educar pessoas.</p><p>Suas principais obras:</p><p>� Escola e Democracia (1985);</p><p>� Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações (1991);</p><p>� Educação Brasileira – Estrutura e Sistema;</p><p>� Educação – do senso comum consciência filosófica;</p><p>� Política e Educação no Brasil;</p><p>� Intelectual Educador Mestre (2003);</p><p>� Nova Lei da Educação, A LDB – Trajetórias, Limites;</p><p>� Da Nova LDB ao novo Plano Nacional de Educação;</p><p>� O Trabalho como Princípio Educativo Frente às Novas</p><p>Tecnologias. In: FERRETTI, Celso João et al. Novas Tecnologias,</p><p>Trabalho e Educação: um debate multidisciplinar (1994).</p><p>99</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Rubem Alves (1933)</p><p>Foi outro personagem que contribuiu para a formação do</p><p>pensamento pedagógico brasileiro. Psicanalista, educador,</p><p>teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando</p><p>temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série</p><p>de livros infantis. Muitos de seus livros foram publicados em</p><p>outros idiomas, como inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e</p><p>romeno. Com formação eclética, transita pelas áreas de Teologia,</p><p>Psicanálise, Sociologia, Filosofia e Educação. Após ter lecionado</p><p>em Universidades, hoje tem um restaurante (a culinária é uma de</p><p>suas paixões e tema de alguns de seus textos), vive em Campinas,</p><p>onde mantém um grupo que se encontra semanalmente para</p><p>leitura de poesias; o grupo chama-se Canoeiros.</p><p>Para ele, “ensinar” é um ato de alegria, um ofício que deve ser</p><p>exercido com paixão e arte. Ensinar é fazer aquele momento único</p><p>e especial, “ridendo dicere severum: rindo, dizer coisas sérias”.</p><p>Saiba mais</p><p>“O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro?</p><p>É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais</p><p>tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem</p><p>jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que</p><p>é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio</p><p>de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do</p><p>jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles</p><p>que o compõem”. (Rubem Alves)</p><p>Gadotti (1995) nos diz que para Rubem Alves o educador tem</p><p>duas funções básicas: – função crítica: os dogmas têm de ser</p><p>transformados em dúvidas, as respostas em questionamento, os</p><p>pontos de chegada em pontos de partida; – Função criativa: o</p><p>educador é um criador de utopias concretas, um indicador de</p><p>“horizontes utópicos”, novas formulações e novas sínteses.</p><p>Por último, citamos Paulo Freire, educador brasileiro reconhecido</p><p>internacionalmente, que revolucionou a alfabetização de jovens e</p><p>adultos e para o qual dedicaremos, no estudo desta Unidade, uma</p><p>seção exclusiva.</p><p>100</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Ressalte-se que o pensamento pedagógico brasileiro é muito rico,</p><p>que não está pronto e acabado, ao contrário, segue o movimento</p><p>sócio-histórico do aqui e agora no trabalho de tantos outros</p><p>educadores e pesquisadores comprometidos com a educação de</p><p>nossa gente. Entre eles, o próprio Moacir Gadotti, que muito</p><p>tem contribuído para a disseminação do pensamento pedagógico</p><p>crítico, que, como ele mesmo afirma, apesar de ter ganhado</p><p>espaço nos últimos anos, ainda encontra muita resistência na</p><p>prática pedagógica, pois nossas escolas ainda</p><p>B. Dallanhol Locks (Gerente)</p><p>Relacionamento com o Mercado</p><p>Alvaro José Souto</p><p>Relacionamento com Polos</p><p>Presenciais</p><p>Alex Fabiano Wehrle (Coord.)</p><p>Jeferson Pandolfo</p><p>Karine Augusta Zanoni</p><p>Marcia Luz de Oliveira</p><p>Mayara Pereira Rosa</p><p>Luciana Tomadão Borguetti</p><p>Assuntos Jurídicos</p><p>Bruno Lucion Roso</p><p>Sheila Cristina Martins</p><p>Marketing Estratégico</p><p>Rafael Bavaresco Bongiolo</p><p>Portal e Comunicação</p><p>Catia Melissa Silveira Rodrigues</p><p>Andreia Drewes</p><p>Luiz Felipe Buchmann Figueiredo</p><p>Rafael Pessi</p><p>Gerência de Produção</p><p>Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)</p><p>Francini Ferreira Dias</p><p>Design Visual</p><p>Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)</p><p>Alberto Regis Elias</p><p>Alex Sandro Xavier</p><p>Anne Cristyne Pereira</p><p>Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro</p><p>Daiana Ferreira Cassanego</p><p>Davi Pieper</p><p>Diogo Rafael da Silva</p><p>Edison Rodrigo Valim</p><p>Fernanda Fernandes</p><p>Frederico Trilha</p><p>Jordana Paula Schulka</p><p>Marcelo Neri da Silva</p><p>Nelson Rosa</p><p>Noemia Souza Mesquita</p><p>Oberdan Porto Leal Piantino</p><p>Multimídia</p><p>Sérgio Giron (Coord.)</p><p>Dandara Lemos Reynaldo</p><p>Cleber Magri</p><p>Fernando Gustav Soares Lima</p><p>Josué Lange</p><p>Conferência (e-OLA)</p><p>Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)</p><p>Bruno Augusto Zunino</p><p>Gabriel Barbosa</p><p>Produção Industrial</p><p>Marcelo Bittencourt (Coord.)</p><p>Gerência Serviço de Atenção</p><p>Integral ao Acadêmico</p><p>Maria Isabel Aragon (Gerente)</p><p>Ana Paula Batista Detóni</p><p>André Luiz Portes</p><p>Carolina Dias Damasceno</p><p>Cleide Inácio Goulart Seeman</p><p>Denise Fernandes</p><p>Francielle Fernandes</p><p>Holdrin Milet Brandão</p><p>Jenniffer Camargo</p><p>Jessica da Silva Bruchado</p><p>Jonatas Collaço de Souza</p><p>Juliana Cardoso da Silva</p><p>Juliana Elen Tizian</p><p>Kamilla Rosa</p><p>Mariana Souza</p><p>Marilene Fátima Capeleto</p><p>Maurício dos Santos Augusto</p><p>Maycon de Sousa Candido</p><p>Monique Napoli Ribeiro</p><p>Priscilla Geovana Pagani</p><p>Sabrina Mari Kawano Gonçalves</p><p>Scheila Cristina Martins</p><p>Taize Muller</p><p>Tatiane Crestani Trentin</p><p>Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual</p><p>Palhoça</p><p>UnisulVirtual</p><p>2011</p><p>Design instrucional</p><p>Viviani Poyer</p><p>1ª edição revista</p><p>Nádia Maria Soares Sandrini</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Livro didático</p><p>Edição – Livro Didático</p><p>Professor Conteudista</p><p>Nádia Maria Soares Sandrini</p><p>Design Instrucional</p><p>Viviani Poyer</p><p>Flavia Lumi Matuzawa (1ª. ed. rev.)</p><p>Projeto Gráfico e Capa</p><p>Equipe UnisulVirtual</p><p>Diagramação</p><p>Noemia Mesquita</p><p>Revisão</p><p>Letra de Forma</p><p>ISBN</p><p>978-85-7817-346-3</p><p>Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul</p><p>Copyright © UnisulVirtual 2011</p><p>Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.</p><p>370.1</p><p>S21 Sandrini, Nádia Maria Soares</p><p>Introdução à pedagogia: livro didático / Nádia Maria Soares Sandrini;</p><p>design instrucional Viviani Poyer, [Flavia Lumi Matuzawa]. – 1. ed. rev. –</p><p>Palhoça: UnisulVirtual, 2011.</p><p>165 p.: il.; 28 cm.</p><p>Inclui bibliografia.</p><p>ISBN 978-85-7817-346-3</p><p>1. Educação – Filosofia. 2. Educação – Estudo e ensino. 3. Educação –</p><p>História. I. Poyer, Viviani. II. Matuzawa, Flavia Lumi. III. Título.</p><p>Sumário</p><p>Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7</p><p>Palavras da professora... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9</p><p>Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11</p><p>UNIDADE 1 - Pedagogia e Pedagogos: O que nos Revela o Passado?. . . . 17</p><p>UNIDADE 2 - Pedagogia e Pedagogos: O Contexto Social como Cenário 37</p><p>UNIDADE 3 - Pedagogia e pedagogos: O Encontro (ou não)</p><p>da Educação com a Escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63</p><p>UNIDADE 4 - Pedagogia e Pedagogos: A Construção Histórica</p><p>do Cenário Brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77</p><p>UNIDADE 5 - Pedagogia e Pedagogos: O que nos Cobra o Presente? . . . 111</p><p>UNIDADE 6 - Pedagogia e Pedagogos: Desafios e Buscas . . . . . . . . . . . . . . 129</p><p>Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151</p><p>Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153</p><p>Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157</p><p>Respostas e comentários das atividades de autoavaliação . . . . . . . . . . . . . 159</p><p>Biblioteca Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165</p><p>7</p><p>Apresentação</p><p>Este livro didático corresponde à disciplina Introdução à</p><p>Pedagogia.</p><p>O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma,</p><p>abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma</p><p>linguagem que facilite seu estudo a distância.</p><p>Por falar em distância, isso não significa que você estará sozinho.</p><p>Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina também</p><p>será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da</p><p>UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade,</p><p>seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Espaço Virtual</p><p>de Aprendizagem - EVA. Nossa equipe terá o maior prazer em</p><p>atendê-lo, pois sua aprendizagem é nosso principal objetivo.</p><p>Bom estudo e sucesso!</p><p>Equipe UnisulVirtual.</p><p>Palavras da professora...</p><p>Caro estudante!</p><p>Este material foi elaborado para auxiliá-lo na compreensão</p><p>das questões históricas e epistemológicas, bem como de</p><p>especificidades e complexidades da pedagogia. A Pedagogia</p><p>está relacionada à educação, que é palavra de ordem no nosso</p><p>dia a dia. Ela está presente em tempos e espaços diferentes,</p><p>contínuos. Ensinamos e aprendemos constantemente. Quando,</p><p>entretanto, juntamos Educação e Pedagogia, desviamos do</p><p>óbvio e colocamos a educação como objeto de reflexão. Isso</p><p>porque educação é objeto de trabalho do pedagogo.</p><p>Pedagogia envolve conhecimentos científicos, humanos e</p><p>políticos. Ser pedagogo não significa assumir simplesmente</p><p>tarefas e sim compromissos. Ser pedagogo exige</p><p>conhecimento, planejamento, profissionalização. Assumir-se</p><p>profissionalmente como pedagogo exige saberes necessários</p><p>para fundamentar o trabalho educacional que se pretenda</p><p>desenvolver. A educação trabalha com o conhecimento e com</p><p>o processo de apreensão deste pelos sujeitos.</p><p>A prática do pedagogo está, portanto, dirigida às pessoas,</p><p>que podem ser diferentes no jeito de ser, mas que possuem</p><p>os mesmos direitos; que podem ocupar diferentes papéis</p><p>sociais, mas que podem e devem encontrar na educação uma</p><p>colaboradora para o preparo do exercício de uma cidadania</p><p>consciente, plena e feliz.</p><p>Enfim, a prática do pedagogo e, por conseguinte, o processo</p><p>educacional são tão complexos quanto as pessoas neles</p><p>envolvidas. Este material didático procurará contribuir para</p><p>que você sintonize com a Pedagogia e compreenda, a partir da</p><p>sua história e do seu contexto atual, as possibilidades futuras.</p><p>10</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Desejo uma boa leitura, que ela favoreça a sua reflexão e que lhe</p><p>seja de agradável leitura.</p><p>Bom estudo!</p><p>Professora Nádia Maria Soares Sandrini</p><p>Plano de estudo</p><p>O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da</p><p>disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o</p><p>contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.</p><p>O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva</p><p>em conta instrumentos que se articulam e se complementam,</p><p>portanto, a construção de competências se dá sobre a</p><p>articulação de metodologias e por meio das diversas formas de</p><p>ação/mediação.</p><p>São elementos desse processo:</p><p>� o livro didático;</p><p>� o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);</p><p>� as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de</p><p>autoavaliação);</p><p>� o Sistema Tutorial.</p><p>Ementa</p><p>Fundamentos epistemológicos da Pedagogia. Construção</p><p>histórica da Pedagogia. Infância e Pedagogia. A formação</p><p>do pedagogo: perfil e campo</p><p>têm raízes que as</p><p>prendem ao tradicionalismo.</p><p>Seção 4 – A Pedagogia de Paulo Freire</p><p>Paulo Reglus Neves Freire (1921- 1997) – Educador brasileiro</p><p>considerado um dos pensadores mais notáveis na história</p><p>da Pedagogia mundial, influenciou o movimento chamado</p><p>pedagogia crítica. Trabalhou na área da educação popular tanto</p><p>para a escolarização como para a formação da consciência. Seu</p><p>trabalho iniciou-se em Pernambuco nos anos 60, quando montou</p><p>um plano de alfabetização de adultos que acabou por tornar-se a</p><p>base do que se denominou Método Paulo Freire de alfabetização</p><p>popular, reconhecido internacionalmente.</p><p>A história registra um paradoxo. As qualidades do</p><p>método Paulo Freire que levaram os oligarcas do</p><p>nordeste brasileiro a considerá-lo subversivo e a impedir</p><p>sua utilização foram exatamente as mesmas que deram</p><p>motivo ao seu reconhecimento e à sua acolhida por</p><p>educadores humanistas e democratas de todo o mundo,</p><p>inclusive pela UNESCO. Dentro de sua lógica egoísta e</p><p>autoritária os oligarcas estavam certos, pois através desse</p><p>método é possível transformar em pouco tempo uma</p><p>sociedade desequilibrada e injusta: indivíduos dominados</p><p>e explorados passivos transformam-se em pessoas e</p><p>cidadãos ativos e assim se dissolve a possibilidade de</p><p>dominação. (DALLARI, 2006).</p><p>101</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>O educador Paulo Freire criticava o sistema tradicional de</p><p>alfabetização de adultos que utilizava a cartilha como principal</p><p>ferramenta didática para o ensino da leitura e da escrita pelo</p><p>método da repetição de palavras soltas e frases sem sentido Eva</p><p>viu a uva, O bebê baba, dentre muitas outras.</p><p>Saiba mais</p><p>“Não basta saber ler mecanicamente que Eva viu a uva.</p><p>É necessário compreender qual a posição que Eva ocupa</p><p>no seu contexto social, quem trabalha para produzir</p><p>uvas e quem lucra com esse trabalho. Os defensores</p><p>da neutralidade da alfabetização não mentem quando</p><p>dizem que a clarificação da realidade simultaneamente</p><p>com a educação é um ato político. Falseiam, porém,</p><p>quando negam o mesmo caráter político à ocultação que</p><p>fazem da realidade. (Paulo Freire)</p><p>O Método Paulo Freire propõe a alfabetização de adultos</p><p>desenvolvida pelo levantamento do vocabulário dos alunos. Em</p><p>conversas informais, ele observava os vocábulos e selecionava as</p><p>palavras geradoras que seriam utilizadas para a organização das</p><p>lições que seguiam três passos:</p><p>� A silabação: cada palavra geradora passa a ser estudada</p><p>através da divisão silábica, semelhantemente ao método</p><p>tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva</p><p>família silábica, com a mudança da vogal. (i.e., BA-BE-</p><p>BI-BO-BU)</p><p>� As palavras novas: o passo seguinte é a formação</p><p>de palavras novas. Usando as famílias silábicas agora</p><p>conhecidas, o grupo forma palavras novas.</p><p>� A conscientização: um ponto fundamental do</p><p>método é a discussão sobre os diversos temas surgidos</p><p>a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire,</p><p>alfabetizar não pode se restringir aos processos de</p><p>codificação e decodificação.</p><p>Dessa forma, o objetivo da alfabetização de</p><p>adultos é promover a conscientização acerca dos</p><p>problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o</p><p>conhecimento da realidade social.</p><p>102</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Paulo Freire, depois de 75 dias de prisão, foi exilado pelo</p><p>golpe militar de 1964, acusado de subversão, porque estava</p><p>conscientizando imensas massas populares que incomodavam</p><p>as elites conservadoras brasileiras. Passou alguns dias na</p><p>Bolívia e seguiu para o Chile, onde viveu de 64 a 69, e</p><p>participou de importantes reformas a convite do governo</p><p>chileno que precisava de técnicos formados para apoiar o</p><p>processo de mudança na educação de jovens e adultos. Neste</p><p>período, Paulo Freire consolidou a obra iniciada no Brasil, pois</p><p>lá, como reforça Gadotti, encontrou um espaço político, social</p><p>e educativo muito dinâmico, rico e desafiante, que lhe permitiu</p><p>reestudar seu método em outro contexto, avaliá-lo na prática e</p><p>sistematizá-lo teoricamente.</p><p>Apoiado pelos educadores de esquerda, era rechaçado pelos</p><p>democratas cristãos que consideraram seu livro Pedagogia do</p><p>Oprimido muito violento, o que contribuiu para que deixasse o</p><p>Chile. Passou quase um ano em Harvard e no início de 1970</p><p>foi para Genebra onde completou 16 anos de exílio. Na década</p><p>de 70, assessorou vários países da África, recém-libertada da</p><p>colonização europeia, auxiliando-os na implantação de seus</p><p>sistemas de educação e aproximou-se das obras de filósofos</p><p>marxistas, em especial Gramsci. Retornou aos Estados Unidos</p><p>com a bagagem trazida da África e discutiu o Terceiro Mundo</p><p>no Primeiro Mundo com Myles Horton.</p><p>O diálogo mantido com Myles Horton, em 1989, no livro</p><p>We Make the Road by Walking: Conversations on Education</p><p>and Social Change deve ser considerado exemplar. Esse</p><p>livro foi escrito com muita paixão, esperança e sabedoria.</p><p>Ambos foram educadores e ativistas políticos. Myles</p><p>Horton (1905-1990) foi o fundador do Highlander</p><p>Center, no sul dos Estados Unidos, um centro de estudos</p><p>que teve grande importância nas décadas de 50 e 60</p><p>na luta pelos direitos civis e na educação de jovens e</p><p>adultos trabalhadores nos Estados Unidos. A vida e a</p><p>obra de Horton é muito parecida com a de Paulo Freire.</p><p>Mesmo tendo percorrido caminhos diferentes, eles se</p><p>encontraram para discutir suas experiências e idéias,</p><p>encontrando muita semelhança de idéias e métodos de</p><p>trabalho. (GADOTTI, 1996).</p><p>103</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Depois de 16 anos de exílio, Paulo Freire visitou o Brasil em</p><p>1979 e voltou definitivamente em 1980.</p><p>O contato com a situação concreta da classe trabalhadora</p><p>brasileira e com o Partido dos Trabalhadores deu</p><p>um vigor novo ao seu pensamento. Podemos até</p><p>dividir o pensamento dele em duas fases distintas e</p><p>complementares: o Paulo Freire latino-americano das</p><p>décadas de 60-70, autor da Pedagogia do Oprimido e o</p><p>Paulo Freire cidadão do mundo, das décadas de 80-90,</p><p>dos livros dialogados, da sua experiência pelo mundo e de</p><p>sua atuação como administrador público em São Paulo.</p><p>(GADOTTI, 1996).</p><p>Ocupou a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo</p><p>durante a administração de Luísa Erundina (1988-1992).</p><p>A pedagogia de Paulo Freire, conhecida como Pedagogia da</p><p>Libertação, pretende a conscientização política das classes</p><p>oprimidas e está diretamente relacionada com a visão do terceiro</p><p>mundo. Deixou grandes contribuições para o campo da educação</p><p>popular, para a alfabetização e para a conscientização política de</p><p>operários, mas sua obra atinge toda a educação, sempre com o</p><p>conceito básico de que não existe uma educação neutra: segundo</p><p>a sua visão, toda a educação é, em si, política.</p><p>Defendeu sempre a pedagogia da pergunta e o uso de palavras</p><p>articuladoras do pensamento crítico. Em seu livro Pedagogia</p><p>do oprimido, traduzido para mais de dezoito idiomas, criticou</p><p>os fundamentos da pedagogia tradicional e de sua alternativa, a</p><p>“Escola Nova”, e apresentou um princípio político-pedagógico</p><p>novo considerado revolucionário, que rompe com as formas</p><p>de dominação e difunde os princípios e práticas da dignidade</p><p>humana, liberdade e justiça social. Defende o trabalho de ensinar</p><p>não como apenas estar na sala de aula, mas estar na história,</p><p>comprometido com as mudanças que possam ajudar a minimizar</p><p>os problemas na vida das pessoas.</p><p>Para Paulo Freire toda prática exige reflexão.</p><p>104</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Nas palavras de Moacir Gadotti, encontramos a síntese da obra</p><p>de Paulo Freire:</p><p>[...] a obra de Paulo Freire pode ser vista tomando-o seja</p><p>como cientista, seja como educador. Contudo, essas duas</p><p>dimensões supõem uma outra: Paulo Freire não as separa</p><p>da política. Paulo Freire deve ser considerado também</p><p>como político. Esta é a dimensão mais importante da</p><p>sua obra. Ele não pensa a realidade como um sociólogo</p><p>que procura apenas entendê-la. Ele busca, nas ciências</p><p>(sociais e naturais), elementos para, compreendendo mais</p><p>cientificamente a realidade e poder intervir de forma</p><p>mais eficaz nela. Por isso ele pensa a educação ao mesmo</p><p>tempo como ato político, como ato de conhecimento</p><p>e como ato criador. Todo o seu pensamento tem uma</p><p>relação direta com a realidade. Essa é sua marca. Ele</p><p>não se comprometeu com esquemas burocráticos, sejam</p><p>os esquemas do poder político, sejam os esquemas do</p><p>poder acadêmico. Comprometeu-se acima de tudo com</p><p>uma realidade a ser transformada. Paulo Freire propõe</p><p>uma nova concepção da relação pedagógica. Não se</p><p>trata de conceber a educação apenas como transmissão</p><p>de conteúdos por parte do educador. Pelo contrário,</p><p>trata-se de estabelecer um diálogo, isso significa que</p><p>aquele que se educa, isto é, está aprendendo também.</p><p>A pedagogia tradicional também afirmava isso, só</p><p>que em Paulo Freire o educador também aprende do</p><p>educando da mesma maneira que este aprende dele. Não</p><p>há ninguém que possa ser considerado definitivamente</p><p>educado ou definitivamente formado. Cada um, a seu</p><p>modo, junto com os outros, pode aprender e descobrir</p><p>novas dimensões e possibilidades da realidade na vida.</p><p>A educação torna-se um processo de formação mútua e</p><p>permanente. (GADOTTI, 1996).</p><p>Moacir Gadotti conviveu com Paulo Freire durante 23 anos e em</p><p>sua obra Um legado de esperança (2001, p. 92) apresenta algumas</p><p>das muitas lições que aprendeu com ele e que são importantes</p><p>para nós.</p><p>105</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Lições de Paulo Freire</p><p>� Aprende-se a vida toda – não há tempo próprio para aprender.</p><p>� Aprender não é acumular conhecimento – aprendemos história</p><p>não para acumular conhecimento, decorar datas, informações,</p><p>mas para saber como os homens fizeram a história para fazermos</p><p>história.</p><p>� O importante é aprender a pensar – pensar a realidade.</p><p>� É o sujeito que aprende – aprende por meio da sua experiência.</p><p>� Aprende-se o que é significativo – para o projeto de vida da pessoa.</p><p>� É preciso tempo para aprender – não dá para injetar dados e</p><p>informações, também é preciso disciplina e dedicação.</p><p>� “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao</p><p>aprender” (FREIRE, 1997, p. 25)</p><p>Veja a seguir, uma relação das principais obras de Paulo Freire.</p><p>� 1967: Educação como prática da liberdade. Introdução de Francisco</p><p>C. Weffort. Rio de Janeiro: Paz e Terra, (19. ed., 1989).</p><p>� 1970: Pedagogia do oprimido. Paz e Terra, 218 p., (23. ed., 1994, 184 p.).</p><p>� 1985: Por uma pedagogia da pergunta. Rio de Janeiro: Paz e Terra,</p><p>3. ed.</p><p>� 1992: Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do</p><p>oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (3. ed. 1994), 245 p.</p><p>� 1993: Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo:</p><p>Olho d’água. (6. ed. 1995), 127 p.</p><p>� 1994: Essa escola chamada vida. São Paulo: Ática, 1985; 8. ed.</p><p>� 1995: Pedagogia: diálogo e conflito. São Paulo: Cortez.</p><p>� 1996: Medo e ousadia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; 5. ed.</p><p>� 1997: Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra.</p><p>Aqui você encerra os estudos dessa Unidade. Siga em frente</p><p>realizando as atividades de autoavaliação. Bons estudos!</p><p>106</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Síntese</p><p>Nesta quarta unidade foi possível identificar tempos históricos,</p><p>educadores, obras e, sobretudo, pensamentos que contribuíram</p><p>para a construção da pedagogia brasileira.</p><p>Nova em comparação ao chamado primeiro mundo, a história do</p><p>pensamento pedagógico brasileiro foi e continua sendo escrita a</p><p>favor da formação crítica. Teoricamente já ultrapassamos entraves</p><p>tradicionalistas, mas, na prática, ainda temos caminhos a percorrer.</p><p>O que conta é que todas as contribuições devem ser avaliadas,</p><p>analisadas e aplicadas de acordo com o contexto e o momento</p><p>no dia a dia do fazer docente. Fica a certeza de que não é uma</p><p>unidade finita, pois a história continua sendo escrita.</p><p>107</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Atividades de autoavaliação</p><p>Efetue as atividades de autoavaliação e, a seguir, acompanhe as</p><p>respostas e os comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do</p><p>seu estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de</p><p>fazer as atividades propostas.</p><p>1 - Detenha-se um pouco mais sobre as lições de Paulo Freire e, a partir</p><p>delas, reavalie seus conceitos sobre o processo ensino-aprendizagem e</p><p>sobre a sua prática docente e registre:</p><p>a) O que já aprendi enquanto ensinava:</p><p>b) O que a experiência tem me ensinado:</p><p>c) Quanto dessas lições já fazem parte da minha prática docente:</p><p>108</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Saiba mais</p><p>Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade você poderá</p><p>pesquisar os seguintes livros:</p><p>BRANDÃO, Carlos Rodrigues (ed.). O que é método Paulo</p><p>Freire. São Paulo: Brasiliense, 1981.</p><p>CARVALHO, Maria Luiza R. D. Escola e Democracia. São</p><p>Paulo: EPU, 1979.</p><p>FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de</p><p>Janeiro: Paz e Terra, 1977.</p><p>FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários</p><p>à prática pedagógica. São Paulo: Paz e Terra, 1997 (Coleção</p><p>Leitura)</p><p>FRIGOTTO, Gaudêndio. A produtividade da escola</p><p>improdutiva. São Paulo: Cortez, 1986.</p><p>GADOTTI, Moacir. Educação e Poder: Introdução à</p><p>pedagogia do conflito. São Paulo: Cortez, 1981.</p><p>______. O pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo:</p><p>Cortez, 1987.</p><p>______.Um legado de esperança. São Paulo: Cortez, 2001.</p><p>109</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>LIBÂNEO, José Carlos. A Didática e as Tendências</p><p>Pedagógicas. In CONHOLATO, M. Conceição et al. (orgs).</p><p>A Didática e a Escola de 1° grau. São Paulo: Fundação para o</p><p>Desenvolvimento da Educação, 1991.</p><p>_____________ Democratização da escola pública: a</p><p>pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1986.</p><p>ROMANELLI, Otáiza. História da Educação no Brasil.</p><p>(1930-1973). Petrópolis: Vozes.</p><p>SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 8. ed. São Paulo:</p><p>Cortez/Autores Associados, 1985.</p><p>______. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações.</p><p>2. ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.</p><p>TORRES, Carlos Alberto. Educação e Democracia: a práxis de</p><p>Paulo Freire em São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002.</p><p>5UNIDADE 5</p><p>Pedagogia e Pedagogos: O que</p><p>nos Cobra o Presente?</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>� Analisar o atual cenário mundial e suas implicações na</p><p>prática pedagógica.</p><p>� Conhecer os pressupostos legais e sociais que</p><p>fundamentam a formação do pedagogo hoje.</p><p>Seções de estudo</p><p>Seção 1 Pedagogia e sociedade pedagógica</p><p>Seção 2 Aspectos legais e sociais da formação/atuação</p><p>dos pedagogos</p><p>112</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Para início de estudo</p><p>Conforme já abordado e como por certo já é do seu</p><p>conhecimento, o desenvolvimento da ciência tecnológica,</p><p>principalmente a partir do final do século XX, colocou-nos frente</p><p>a uma nova realidade mundial que, nos últimos anos, passou a</p><p>ser expressão corrente na literatura, na mídia, no cotidiano das</p><p>pessoas – a globalização.</p><p>O fenômeno, percebido a partir de várias situações, confunde-</p><p>se com o próprio desenvolvimento tecnológico, com as relações</p><p>financeiras e comerciais entre os países e o encurtamento das</p><p>distâncias alcançado pelo progresso das comunicações. Diante de</p><p>tal quadro, as ciências sociais foram desafiadas a pensar, estudar</p><p>e entender esta nova sociedade que, embora não esteja ainda</p><p>totalmente reconhecida e codificada, sobrepõe-se às sociedades</p><p>nacionais, regionais e locais que estão sendo recobertas,</p><p>assimiladas ou subsumidas.</p><p>Podemos definir a globalização como a intensificação das relações</p><p>sociais em escala mundial, onde localidades geograficamente</p><p>distantes ligam-se de tal maneira que acontecimentos de</p><p>uma sofrem influências dos exemplos da outra. O processo</p><p>de globalização será útil na medida em que contribuir para a</p><p>evolução do regime capitalista que vivenciamos ou correremos o</p><p>risco de vermos aumentadas as desigualdades sociais.</p><p>Nessas discussões de preocupação com o mundo globalizado</p><p>e com os avanços tecnológicos, deparamos com a necessidade</p><p>da educação incorporar-se a esse processo para acompanhar a</p><p>modernização. Nesta unidade,</p><p>vamos estudar as propostas que se</p><p>apresentam como alternativas viáveis.</p><p>113</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 5</p><p>Seção 1 – Pedagogia e sociedade pedagógica</p><p>A proposta de educação para o século XXI desencadeou-se a</p><p>partir de dois fatores de naturezas diversas: primeiro, o fator</p><p>econômico - que se apresenta e se define pela ruptura tecnológica</p><p>característica da chamada terceira revolução-industrial. Segundo,</p><p>a revolução da informática, que tem promovido mudanças</p><p>radicais na área do conhecimento. Se, nas décadas de 60 e</p><p>70, a educação investiu na formação de especialistas capazes</p><p>de dominar e utilizar a máquina, no final da década de 90 e</p><p>princípio do novo milênio, o desafio é outro. Somos desafiados,</p><p>diariamente, com as revoluções tecnológicas mundiais que vêm</p><p>interferindo na vida social e profissional de toda a humanidade.</p><p>O autor Hugo Assmann propõe o “reencantar da educação”</p><p>na direção da “sociedade aprendente”. Reforça que em poucas</p><p>décadas mergulhamos na sociedade da informação. As</p><p>tecnologias mudaram o dia a dia, trazendo benefícios e riscos.</p><p>Segundo ele, é revelador que vários documentos oficiais da União</p><p>Europeia venham colocando a urgência acrescida de políticas</p><p>públicas para enfrentar as novas tendências de exclusão: o</p><p>fenômeno da infoexclusão e inempregabilidade.</p><p>A economia expandiu-se, alicerçada no conhecimento,</p><p>comprometendo a própria sobrevivência, justificando a</p><p>exclusão do mundo do trabalho, do direito a uma vida</p><p>digna, aumentando a pobreza e a violência.</p><p>Os documentos oficiais da União Europeia, citados por Assmann,</p><p>tratam das mutações do mundo de hoje ressaltando três choques</p><p>básicos: o choque da sociedade da informação, o choque da</p><p>mundialização e o choque da civilização científica e técnica. A</p><p>esse fenômeno foram aferidos diversos nomes, tais como sociedade</p><p>do conhecimento e sociedade aprendente, sugerindo que todos</p><p>entrem num aprendizado coletivo e contínuo.</p><p>Aposta-se na equação educação/empregabilidade para suprimir</p><p>a exclusão. Conseguir emprego no mundo de hoje requer cada</p><p>vez mais e melhor educação. Buscar novas propostas pedagógicas</p><p>que favoreçam a aprendizagem das novas tecnologias é uma</p><p>necessidade, entretanto não representa condição única.</p><p>114</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Claro está que a equação educação/empregabilidade/superação da</p><p>exclusão, além de muito simplista, torna-se claramente ideológica</p><p>quando não vem acompanhada de propostas de implementação</p><p>de políticas públicas para garantir que a dinâmica do mercado</p><p>obedeça às prioridades sociais.</p><p>Para Assmann, de qualquer forma, precisamos investir</p><p>qualitativamente na educação para derrotar os três tipos de</p><p>analfabetismo que assombram a sociedade atual: o da lecto-</p><p>escritura (saber ler e escrever), o sociocultural (saber em que tipo</p><p>de sociedade se vive, por exemplo, saber o que são mecanismos de</p><p>mercado) e o tecnológico (saber interagir com máquinas complexas).</p><p>Reforça que toda escola incompetente em alguns</p><p>desses aspectos é socialmente retrógrada.</p><p>Observa-se, portanto, que o compromisso com o fator econômico</p><p>vem sendo o grande propulsor das mudanças. Tal fato remete-</p><p>nos à reflexão dos “novos mandamentos” (PETRELLA apud</p><p>ASSMANN, 1997) que anunciam a imposição progressiva, nos</p><p>últimos 20 anos, de novas tábuas da lei para toda a humanidade.</p><p>Essas novas tábuas, pela analogia do autor, substituem a</p><p>aliança entre Deus e o homem, pela aliança entre “o mercado</p><p>(e a tecnologia) e toda a humanidade”, exaltando a ideia de</p><p>competitividade. E, se no primeiro acordo, o homem possuía</p><p>a liberdade de pecar Deus, na sua misericórdia, perdoaria, no</p><p>mandamento atual a única liberdade que o mercado oferece ao</p><p>homem é a de submeter-se.</p><p>O autor prevê, para as novas tábuas, seis mandamentos</p><p>justapostos numa “lógica de guerra”; os três primeiros são</p><p>fundamentalmente necessários e os outros três são meios. Na</p><p>sequência sintetizamos essas ideias.</p><p>115</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 5</p><p>Os seis mandamentos entre o mercado e os homens</p><p>1º Não evitar o processo de mundialização das finanças, do</p><p>capital, dos mercados, das empresas e das suas estratégias.</p><p>2º Adequar-se às mudanças causadas pelas revoluções científicas</p><p>e tecnológicas no campo da energia, dos materiais, da</p><p>biotecnologia e, sobretudo, da informação e da comunicação.</p><p>3º Ser o melhor. Todo o indivíduo, grupo social ou comunidade</p><p>territorial deve ser o mais competitivo possível na</p><p>medida em que, se não for o melhor, será eliminado.</p><p>4º Liberalizar os mercados nacionais para a livre circulação</p><p>de mercadorias, capitais, pessoas e serviços.</p><p>5º Desregulamentar os mecanismos de direção e de orientação da</p><p>economia. Ao Estado cabe criar o ambiente adequado para que</p><p>as empresas fixem as regras necessárias à competitividade.</p><p>6º Privatizar partes inteiras da economia: transportes urbanos,</p><p>ferrovias, linhas aéreas, saúde, hospitais, instrução, bancos,</p><p>cultura, distribuição de água, energia elétrica etc.</p><p>Esses mandamentos refletem as reais propostas do capitalismo</p><p>mundialmente integrado, que, ao utilizar tecnologia avançada,</p><p>marginaliza e exclui muitos países, ocasionando altos níveis de</p><p>desemprego e as terríveis consequências que daí decorrem.</p><p>Se a sociedade atual é a sociedade do conhecimento e se a sua</p><p>matéria-prima, a informação, venceu as barreiras do tempo e</p><p>do espaço e está disponível em tempo real, essa mudança não</p><p>resultou numa distribuição equitativa do conhecimento. Esse</p><p>é um desafio para a educação, principalmente num país que se</p><p>submete à globalização econômica mesmo sob pena de elevar a</p><p>dívida social tida com grande parte de seu povo.</p><p>A oligarquia brasileira aceitou a introdução do Brasil</p><p>neste tipo de globalização na forma de sócio agregado</p><p>e subalterno. Tal decisão fez com que se criasse aqui</p><p>dentro zonas de Primeiro Mundo, com grande afluência</p><p>de bens e serviços, ao lado de uma miséria crescente</p><p>dos excluídos, uma Belíndia, uma Bélgica de opulência</p><p>dentro de uma Índia de miséria, na denunciadora</p><p>expressão de Darcy Ribeiro. (BOFF, 2000, p. 59)</p><p>116</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>A sociedade brasileira já foi escravocrata, além de ter uma larga</p><p>tradição de relações políticas paternalistas, com longos períodos</p><p>de governos não democráticos. Até hoje é uma sociedade</p><p>marcada por relações sociais hierarquizadas e por privilégios</p><p>que reproduzem um altíssimo nível de desigualdade, injustiça e</p><p>exclusão social. Na medida em que boa parte da população não</p><p>tem acesso a condições de vida digna, encontra-se excluída da</p><p>plena participação nas decisões que determinam os rumos da vida</p><p>social (suas regras, seus benefícios e suas prioridades).</p><p>Para Leonardo Boff (2000, p. 27), estamos no estágio mais crítico</p><p>de toda a nossa história, onde tudo parece estar em jogo, “ou</p><p>aproveitamos a oportunidade e garantimos nosso futuro autônomo</p><p>e relacionado com a totalidade do mundo, ou a desperdiçamos e</p><p>viveremos atrelados ao destino decidido por outros”.</p><p>Essas mudanças na sociedade precisam ser conscientemente</p><p>trabalhadas. A quantidade e a velocidade com que nos chega</p><p>a informação provocou uma fragmentação nos processos</p><p>formativos, e se espera e aposta que a educação contribua para</p><p>preservar a integridade pessoal e estimular a solidariedade.</p><p>Como chegar a esse modelo de educação?</p><p>Na busca de respostas, a Unesco propõe eixos estruturantes (ou</p><p>os quatro pilares) da educação para a sociedade contemporânea</p><p>delineados por Jacques Delors como resposta à situação atual.</p><p>Referenciamos esses eixos, em arranjo próprio, no quadro-resumo</p><p>que segue.</p><p>117</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 5</p><p>EIXOS PROPOSTAS</p><p>1 – APRENDER A CONHECER Ampla educação geral com possibilidades de aprofundamento em</p><p>determinada área do conhecimento.</p><p>Dominar, prioritariamente, os próprios instrumentos do</p><p>conhecimento: 1) como meio de compreender a complexidade do</p><p>mundo, para viver dignamente e para desenvolver possibilidades</p><p>pessoais e profissionais, para se comunicar; 2) como fim, pelo</p><p>prazer</p><p>de compreender, de conhecer e de descobrir.</p><p>2 – APRENDER A FAZER Privilegiar a aplicação da teoria na prática.</p><p>Enriquecer a vivência da ciência na tecnologia e destas no social.</p><p>3 – APRENDER A VIVER JUNTOS Desenvolver o conhecimento do outro e a percepção das</p><p>interdependências que permitam a realidade de projetos comuns</p><p>ou a gestão inteligente dos conflitos inevitáveis.</p><p>4 – APRENDER A SER Comprometer-se com o desenvolvimento total da pessoa.</p><p>Preparar o indivíduo para elaborar pensamentos autônomos e</p><p>críticos, para formular seus próprios juízos de valor que o levem</p><p>à decisão.</p><p>Desenvolver a liberdade de pensamento, discernimento,</p><p>sentimento e imaginação para desenvolver os seus talentos e</p><p>permanecer, na medida do possível, dono do seu próprio destino.</p><p>Quadro 5.1 - Eixos estruturadores da educação na sociedade contemporânea definidos pela Unesco</p><p>Fonte: Werthein (2000).</p><p>Segundo a Unesco, formação para a cidadania significa formar</p><p>para equidade, responsabilidade social, transmissão de valores,</p><p>formação democrática e preparo para a competitividade, como</p><p>aquisição das habilidades e destrezas necessárias para poder</p><p>desempenhar seu papel produtivamente no mundo moderno.</p><p>Além de apresentar os pilares propostos pela Unesco, reforçamos</p><p>as propostas atuais para a educação, apresentando, em síntese,</p><p>as idéias de Edgar Morin, que nos propõe “Os sete saberes</p><p>necessários à Educação do Futuro”.</p><p>118</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>O autor nos propõe saber:</p><p>1. As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão</p><p>– a educação visa transmitir conhecimentos, mas é</p><p>cega quanto ao que é o conhecimento humano, seus</p><p>dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao</p><p>erro e à ilusão. O conhecimento do conhecimento é</p><p>fundamental. É preciso conhecer as disposições tanto</p><p>psíquicas quanto culturais que conduzem ao erro e à ilusão.</p><p>2. Princípios do conhecimento pertinente – o</p><p>conhecimento precisa apreender os problemas globais</p><p>e fundamentais para neles inserir os conhecimentos</p><p>parciais e locais. Assim, é necessário ensinar</p><p>possibilitando as relações e as influências entre as partes</p><p>e o todo em um mundo complexo.</p><p>3. Ensinar a condição humana – a condição humana,</p><p>como ser complexo, deve ser o objeto essencial de todo</p><p>o ensino. Os conhecimentos dispersos entre as ciências</p><p>devem ser reunidos para possibilitar uma visão integrada</p><p>da condição humana.</p><p>4. Ensinar a Identidade Terrena – ensinar e mostrar como</p><p>todas as partes do mundo se tornaram solidárias sem</p><p>ocultar as opressões e dominações e que partilhamos um</p><p>destino comum.</p><p>5. Enfrentar as Incertezas – ensinar princípios estratégicos</p><p>que permitam esperar e enfrentar o inesperado.</p><p>6. Ensinar a compreensão – Estudar a incompreensão a</p><p>partir de suas raízes, sua modalidades e efeitos, como as</p><p>causas do racismo, da xenofobia, do desprezo. O ensino</p><p>da compreensão dará a base para a cultura da paz.</p><p>7. A Ética do Gênero Humano – O ensino da ética não</p><p>deve ser feito por intermédio de lições morais, e sim</p><p>abarcando o desenvolvimento conjunto das autonomias</p><p>individuais, das participações comunitárias e da</p><p>consciência de pertencer à espécie humana.</p><p>119</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 5</p><p>A educação que faz sentido é a que se compromete com a</p><p>cidadania, orientando-se pelo fortalecimento na crença da</p><p>dignidade da pessoa humana, igualdade de direitos, participação</p><p>consciente e corresponsabilidade pela vida social.</p><p>“Nada deve dispensar-nos de refletir sobre o tipo de</p><p>educação que pode ajudar a resolver os efeitos da</p><p>desmodernização em que estamos situados e reforçar</p><p>as oportunidades dos indivíduos de se tornarem os</p><p>sujeitos da própria existência.” (Alain Touraine)</p><p>Seção 2 – Aspectos legais e sociais da formação /</p><p>atuação dos pedagogos</p><p>Acredito que não é novidade para você dizer que o processo</p><p>ensino-aprendizagem é complexo, que traz em si obstáculos e</p><p>desafios que precisam ser vencidos. Já identificamos na figura</p><p>do educador o profissional que assume a condução do processo</p><p>ensino-aprendizagem em diversos e diferentes espaços.</p><p>Mas será que basta estar na condução do processo</p><p>para ser educador? Ou é educador somente aquele que</p><p>se prepara para superar obstáculos e vencer desafios</p><p>na busca do sucesso daquele a quem educa?</p><p>O que nós podemos considerar é que a profissionalização do</p><p>educador exige conhecimentos fundamentados. Quando falamos</p><p>em conhecimentos, não estamos somente nos referindo aos</p><p>conhecimentos da área que você e demais educadores pretendem</p><p>ensinar. Claro está que só conseguimos contribuir com a</p><p>aprendizagem quando temos domínio do conhecimento que</p><p>ensinamos. Esse conhecimento, que podemos chamar escolar ou</p><p>educacional, é de vital importância para que os educandos tenham</p><p>acesso aos conhecimentos acumulados no decorrer da história</p><p>(passado), permitindo-lhes uma leitura crítica do mundo em que</p><p>vivem (presente) e no qual podem e devem intervir (futuro).</p><p>120</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Vamos relacionar, iniciando nossa reflexão, os saberes que Paulo</p><p>Freire relacionou como necessários à prática educativa em seu</p><p>livro Pedagogia da Autonomia.</p><p>São estes os saberes:</p><p>Ensinar exige rigorosidade metódica.</p><p>Ensinar exige pesquisa.</p><p>Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos.</p><p>Ensinar exige criticidade.</p><p>Ensinar exige estética e ética.</p><p>Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo.</p><p>Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação.</p><p>Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática.</p><p>Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural.</p><p>Ensinar não é transmitir conhecimento.</p><p>Ensinar exige consciência do inacabamento.</p><p>Ensinar exige o reconhecimento de ser condicionado.</p><p>Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.</p><p>Ensinar exige bom senso.</p><p>Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores.</p><p>Ensinar exige apreensão da realidade.</p><p>Ensinar exige alegria e esperança.</p><p>Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível.</p><p>Ensinar exige curiosidade.</p><p>Ensinar é uma especificidade humana.</p><p>Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade.</p><p>Ensinar exige comprometimento.</p><p>Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.</p><p>Ensinar exige liberdade e autoridade.</p><p>Ensinar exige tomada consciente de decisões.</p><p>Ensinar exige saber escutar.</p><p>Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica.</p><p>Ensinar exige disponibilidade para o diálogo.</p><p>Ensinar exige querer bem aos educandos.</p><p>121</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 5</p><p>Não vamos discorrer sobre cada saber, mas analise-os e procure</p><p>perceber que estão voltados ora para o pessoal, ora para o político e</p><p>social e ora para o profissional. E assim é o trabalho do educador.</p><p>Portanto, para compreender a prática pedagógica,</p><p>precisamos analisá-la a partir de três dimensões:</p><p>humana, técnica e político-social.</p><p>Na dimensão humana, analisa-se a capacidade de relacionamento</p><p>interpessoal numa perspectiva subjetiva e afetiva. O educador deve</p><p>primar por atitudes de empatia, amizade, companheirismo e aceitação</p><p>das diferenças. A construção de um vínculo afetivo abre caminho</p><p>para o diálogo e para o exercício da autoridade sem autoritarismo.</p><p>Deve pautar-se, sobretudo, por princípios da ética da convivência:</p><p>dignidade humana, justiça, respeito mútuo, oportunidade de</p><p>participação, responsabilidade, diálogo e solidariedade.</p><p>Quanto à dimensão técnica, analisa-se a prática pedagógica</p><p>a partir dos conhecimentos didático-pedagógicos. É nessa</p><p>dimensão que se evidenciam as habilidades profissionais de</p><p>planejamento, definição de objetivos, seleção de conteúdos,</p><p>estratégias e metodologias de ensino, avaliação, etc. São os</p><p>conhecimentos profissionais propriamente ditos. Quando temos</p><p>conhecimentos a serem trabalhados com um determinado grupo</p><p>de educandos, não basta conhecer a fundo o que pretendemos</p><p>ensinar, é preciso saber como ensinar – escolher os melhores</p><p>caminhos; avaliar –, identificar se o caminho</p><p>seguido levou onde</p><p>tinha a pretensão de chegar e escolher outros, se for necessário.</p><p>Na dimensão político-social, o centro do processo é o</p><p>conhecimento da realidade social do educando. Você já refletiu</p><p>na Unidade II sobre as questões políticas que envolvem a prática</p><p>pedagógica e a necessidade de avaliarmos criticamente o nosso</p><p>trabalho. Se a sociedade em que vivemos está dividida em classes</p><p>sociais com e sem privilégios, nossa prática deve centrar-se</p><p>na pessoa do aluno, na sua realidade e na contribuição de seu</p><p>desenvolvimento social.</p><p>122</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>O grande desafio do educador é articular as três dimensões,</p><p>colocando-as como centro configurador de sua prática pedagógica.</p><p>As três dimensões contribuem, juntas, para que o educador</p><p>assuma e realize com êxito a sua função social. Cabe a ele estar</p><p>sempre sintonizado e ajudar na organização e realização dos</p><p>desejos e necessidades da comunidade com a qual trabalha.</p><p>O trabalho do educador deve, a partir de metodologias diversificadas,</p><p>desafiar para a reconstrução do conhecimento, o raciocínio, a</p><p>experimentação, a solução de problemas e o desenvolvimento afetivo</p><p>do aluno. Deve favorecer o aprender a aprender, envolvendo os</p><p>educandos e proporcionando-lhes o desenvolvimento:</p><p>� da inventividade;</p><p>� da sintonia com o meio social e as tecnologias;</p><p>� de habilidades pessoais e interpessoais.</p><p>Oportunizar apenas a informação acrescenta muito pouco</p><p>à preparação intelectual; o pensar competente, no entanto,</p><p>vai possibilitar a autonomia na busca e elaboração de</p><p>novos conhecimentos.</p><p>Neste processo, o educador passa a ser um mediador competente</p><p>entre o conhecimento e o educando, alguém que deve criar</p><p>situações para a aprendizagem, que provoque desafio intelectual.</p><p>Seu papel é o de interlocutor, que assinala, salienta,</p><p>coordena e orienta. Ser mediador implica também ter</p><p>se apropriado desse conhecimento.</p><p>Ainda nesse processo, o educando deve ser considerado um ser</p><p>ativo, capaz de construir os conhecimentos, criando e elaborando</p><p>hipóteses do meio em que vive e construindo seu modo de agir,</p><p>pensar e sentir, construindo, enfim, sua visão de mundo.</p><p>123</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 5</p><p>A ampliação e a construção de novos conhecimentos devem</p><p>acontecer sempre a partir dos conhecimentos trazidos pelos</p><p>educandos. Esses conhecimentos, já internalizados a partir</p><p>das relações que estabeleceram com o meio, devem servir</p><p>como ponto de partida para a apropriação do conhecimento</p><p>acumulado historicamente nas ciências e nas artes. A educação</p><p>deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa. Nesse</p><p>processo, cabe ao educador:</p><p>� ter clareza do seu papel dentro dessa nova concepção</p><p>de educação;</p><p>� assumir uma proposta de trabalho adequada,</p><p>procurando conciliá-la com as necessidades e os</p><p>interesses dos educandos;</p><p>� assumir-se como sujeito da história, aceitando e</p><p>respeitando aqueles que educa, trabalhando para</p><p>contribuir com o seu processo de mudança, sempre</p><p>acreditando na possibilidade de evolução do ser humano;</p><p>� contribuir para formar o cidadão.</p><p>Cidadania, entendida como inclusão social, permite a</p><p>todos e a qualquer um viver e conviver com dignidade,</p><p>preparado para questionar, propor, decidir e agir diante</p><p>dos seus problemas e dos problemas da comunidade</p><p>onde vive.</p><p>Não há como negar que, a sociedade brasileira está marcada por</p><p>relações sociais hierarquizadas e por privilégios que reproduzem</p><p>um altíssimo nível de desigualdade, injustiça e exclusão social.</p><p>Boa parte da população não tem acesso a condições de vida</p><p>digna, encontra-se excluída da plena participação nas decisões</p><p>que determinam os rumos da vida social (suas regras, seus</p><p>benefícios e suas prioridades). Quando nos colocamos a serviço</p><p>da educação, sobretudo se trabalharmos com uma parcela dessa</p><p>população excluída, nosso compromisso alça voo para além</p><p>do que ensinamos e nos tornamos uma promessa. Podemos e</p><p>devemos fazer a diferença. Se assim for, mesmo que para um ou</p><p>para poucos, terá valido a pena. Em meio à crise, espera-se que o</p><p>educador profissional responda ao desafio de forma competente.</p><p>124</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Lembre-se, o educador é sempre uma referência, como</p><p>profissional e como cidadão, para a sua comunidade.</p><p>Paulo Freire (1996) nos diz que: se não se pode esperar que os</p><p>professores sejam santos ou anjos, pode-se e deve-se deles exigir</p><p>responsabilidade, seriedade e retidão... Diz também que a sua</p><p>presença é de tal maneira exemplar que nenhum professor escapa</p><p>ao juízo que dele fazem os alunos.</p><p>É preciso velar, seja em que modalidade de educação for, para</p><p>que a nossa prática docente deixe a marca do respeito e da</p><p>compreensão à condição, à realidade e à vida de cada educando.</p><p>Edgar Morin (2001) afirma que a educação deve centrar-se na</p><p>condição humana, desenvolvendo, entre outros saberes, a ética da</p><p>solidariedade e da compreensão.</p><p>Reforça Morin que a compreensão mútua entre os seres</p><p>humanos, quer próximos quer estranhos, será, daqui para frente,</p><p>vital para que as relações humanas saiam de seu estado bárbaro</p><p>de incompreensão e egoísmo. Combater a incompreensão será o</p><p>caminho mais acertado para a constituição de uma das bases mais</p><p>seguras da educação para a paz e para a felicidade humana.</p><p>Educação que, repetindo e concordando com Leonardo Boff na</p><p>sua práxis, precisa atingir três objetivos:</p><p>� A apropriação por cada cidadão e da comunidade dos</p><p>instrumentos adequados para pensar a sua prática</p><p>individual e social e para ganhar uma visão globalizante</p><p>da realidade que o possa orientar em sua vida;</p><p>� A apropriação por cada cidadão e da comunidade do</p><p>conhecimento científico, político e cultural acumulado</p><p>pela humanidade ao longo da história para garantir-lhe a</p><p>satisfação de suas necessidades e realizar suas aspirações;</p><p>125</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 5</p><p>� A apropriação por parte dos cidadãos e da comunidade</p><p>dos instrumentos de avaliação crítica do conhecimento</p><p>acumulado, reciclá-lo e acrescentar-lhe novos</p><p>conhecimentos através de todas as faculdades cognitivas</p><p>humanas que, além da razão, incluem a afetividade, a</p><p>intuição, a memória biológica e histórica contida no</p><p>próprio corpo e na psiqué, os sentidos espirituais como</p><p>o da unidade do todo, da beleza, da transcendência e do</p><p>amor”. (BOFF, 2000, p. 82)</p><p>Aqui você encerra os estudos dessa Unidade. Siga em frente</p><p>realizando as atividades de autoavaliação. Bons estudos!</p><p>Síntese</p><p>Com o desenvolvimento da ciência, sobretudo tecnológica, uma</p><p>nova realidade mundial foi se estruturando – a globalização.</p><p>Na preocupação com o mundo globalizado, que contribuiu</p><p>para aumentar as desigualdades sociais, deparamo-nos com a</p><p>necessidade de repensar a educação. Surgiram várias propostas,</p><p>num movimento de educação para o século XXI e para o futuro,</p><p>apostando que a educação seria um fator de empregabilidade e</p><p>consequente supressão da exclusão.</p><p>Em nível mundial, a Unesco coloca que a educação deve se</p><p>reorganizar sobre quatro eixos (ou pilares): aprender a conhecer,</p><p>aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Nas</p><p>propostas para a educação do futuro fica evidente que esta deve</p><p>comprometer-se com a cidadania e, para tal, deve fortalecer</p><p>a crença na dignidade humana, na igualdade de direitos, na</p><p>consciência e responsabilidade pela vida social. Levar a efeito</p><p>tal educação exige a profissionalização de educadores no sentido</p><p>de entenderem as dimensões de sua prática pedagógica, que</p><p>envolve conhecimentos humanos, técnicos e políticos que, juntos,</p><p>contribuirão para que ele assuma e realize com êxito a sua função</p><p>social da forma competente que o mundo globalizado exige.</p><p>126</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Atividades de autoavaliação</p><p>Efetue as atividades de autoavaliação e, a seguir, acompanhe as</p><p>respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu</p><p>estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer</p><p>as atividades propostas.</p><p>1 - Analisando a sua</p><p>realidade local, registre a sua opinião sobre os tipos</p><p>de analfabetismo denunciados por Assmann.</p><p>2 - Reflita: como pode o pedagogo organizar o seu trabalho a partir dos</p><p>eixos propostos pela Unesco?</p><p>127</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 5</p><p>Saiba mais</p><p>Leia o texto a seguir e reflita!</p><p>O medo global</p><p>Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.</p><p>Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.</p><p>Quem não tem medo da fome, tem medo da comida.</p><p>Os motoristas têm medo de caminhar e os pedestres têm medo de ser</p><p>atropelados.</p><p>A democracia tem medo de lembrar e a linguagem tem medo de dizer.</p><p>Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de</p><p>armas, as têm medo da falta de guerra.</p><p>É o tempo do medo.</p><p>Medo da mulher da violência do homem e medo do homem da</p><p>mulher sem medo.</p><p>Medo dos ladrões, medo da polícia.</p><p>Medo da porta sem fechaduras, do tempo sem relógios, da criança</p><p>sem televisão, medo da noite sem comprimidos para dormir e medo</p><p>do dia sem comprimidos para despertar.</p><p>Medo da multidão, medo da solidão, medo do que foi e do que pode</p><p>ser, medo de morrer, medo de viver.</p><p>(GALEANO, 1999, p. 83)</p><p>Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você</p><p>poderá pesquisar os seguintes livros:</p><p>ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: Rumo à sociedade</p><p>aprendente. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.</p><p>ASSMANN, Selvino. O debate epistemológico atual. 1997.</p><p>(mimeo)</p><p>128</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>BOFF, Leonardo. Depois de 500 Anos: que Brasil queremos?</p><p>Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.</p><p>FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e</p><p>Terra, 1996.</p><p>GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao</p><p>avesso. 7. ed. Porto Alegre: L&PM, 1999.</p><p>LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora?:</p><p>novas exigências educacionais e profissão docente. 5. ed. São</p><p>Paulo: Cortez, 2001.</p><p>MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do</p><p>futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2001.</p><p>6UNIDADE 6</p><p>Pedagogia e Pedagogos:</p><p>Desafios e Buscas</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>� Identificar os espaços de atuação do pedagogo.</p><p>� Refletir sobre o compromisso social do pedagogo.</p><p>� Identificar a importância do aprender sempre.</p><p>Seções de estudo</p><p>Seção 1 Pedagogia como profissão</p><p>Seção 2 Espaços de atuação do pedagogo</p><p>Seção 3 Prática profissional e compromisso social</p><p>130</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Para início de estudo</p><p>Nas unidades anteriores, você estudou a constituição da</p><p>Pedagogia no decorrer da história, suas concepções, importância</p><p>e contribuições. Nesta última unidade, vamos nos deter ao estudo</p><p>da Pedagogia enquanto curso de formação profissional, bem</p><p>como aos desafios e espaço de atuação do pedagogo.</p><p>Para que possamos identificar a Pedagogia como profissão,</p><p>vamos, antes, conhecer um pouco da história e da identidade do</p><p>curso de Pedagogia no Brasil. Em seguida, vamos conhecer o</p><p>espaço de atuação que se apresenta atualmente para o pedagogo,</p><p>identificando seus compromissos e desafios, sobretudo no que</p><p>tange ao seu processo de educação continuada.</p><p>Seção 1 – Pedagogia como profissão</p><p>O Curso de Pedagogia estruturou-se no Brasil em 1939. Desde</p><p>o primeiro Decreto-lei que regulamentou seu funcionamento e</p><p>estrutura, estão presentes as dicotomias no campo da formação</p><p>do educador: professor versus especialista, bacharelado versus</p><p>licenciatura, generalista versus especialista, técnico em educação</p><p>versus professor.</p><p>Esse primeiro Decreto-lei manteve a formação do professor na</p><p>escola normal e a formação do professor secundário – 3 anos</p><p>de bacharelado mais um ano de Didáticas, no ensino superior.</p><p>Estabeleceu ainda que o bacharel em Pedagogia, formado após 3</p><p>anos de estudos, fosse reconhecido como “técnico em educação”,</p><p>embora sua função nunca tenha sido bem definida. O licenciado</p><p>dirigia-se para o magistério nas antigas Escolas Normais.</p><p>Licenciado era aquele</p><p>cuja licenciatura se</p><p>completava com um ano</p><p>após o bacharelado.</p><p>131</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>Os diferentes e consecutivos Pareceres, regulamentando a</p><p>estrutura curricular do curso, revelaram a continuidade da</p><p>indefinição em relação à especificidade dos estudos pedagógicos e</p><p>à identidade do profissional formado por tais cursos, o pedagogo.</p><p>É essa indefinição, gerada por certa confusão entre: a necessidade</p><p>de uma política científica e acadêmica para a área, entendida</p><p>como base da formação do pedagogo, e a política profissional,</p><p>o mercado de trabalho para sua atuação, que vem orientando,</p><p>através dos anos, os debates, as polêmicas e as discussões dos</p><p>educadores nos diferentes fóruns em nível nacional e em cada</p><p>instituição de ensino superior que tem sob sua responsabilidade a</p><p>formação do pedagogo.</p><p>A necessidade de adequar o sistema educacional ao modelo de</p><p>desenvolvimento econômico implementado a partir de 1964,</p><p>em especial nessa fase de expansão, gerou, a partir de 1968,</p><p>uma série de medidas práticas destinadas a tratar o problema da</p><p>educação de forma estratégica, evitando encará-la unicamente do</p><p>ponto de vista de suas manifestações mais imediatas, tais como</p><p>a solução dos problemas gerados pela aceleração do ritmo de</p><p>crescimento da demanda social pela educação.</p><p>A reforma do sistema educacional passava a ser</p><p>uma exigência, não apenas com o objetivo de</p><p>resolver os problemas mais prementes da área, mas,</p><p>principalmente, para adequar o sistema educacional ao</p><p>modelo de desenvolvimento econômico, encarando a</p><p>educação como área estratégica.</p><p>A Reforma Universitária, realizada pela ditadura militar e</p><p>implantada pela Lei 5.540/68, instituiu algumas alterações. A</p><p>mais importante foi o cancelamento do modelo que prevalecia</p><p>desde a década de 30 e que previa a participação da área da</p><p>educação, no âmbito da Faculdade de Filosofia, Ciências e</p><p>Letras, organizada com bacharelados acrescidos da formação</p><p>pedagógica (3 + 1) e do Curso de Pedagogia. Com a extinção</p><p>da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, a Faculdade</p><p>de Educação passou a ter a responsabilidade pela formação</p><p>pedagógica e pelo Curso de Pedagogia.</p><p>132</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Em seu Artigo 30, a lei estabelecia que a formação de professores</p><p>para o ensino de 2º grau e a preparação de especialistas para o</p><p>trabalho de planejamento, supervisão, administração inspeção</p><p>e orientação para as escolas e os sistemas escolares, far-se-ia</p><p>em nível superior. À Faculdade de Educação caberia o papel de</p><p>articuladora, com as demais faculdades e institutos, de modo a</p><p>superar a formação “3 + 1” e possibilitar a formação do bacharel e</p><p>do licenciado de estar permanentemente articulada a uma única</p><p>destinação: a formação para o magistério.</p><p>O campo da Pedagogia, como parte do campo educacional e</p><p>como curso responsável pelo conhecimento produzido na área</p><p>educacional, envolvendo o ensino e a escola, não ficou imune a</p><p>essas medidas.</p><p>Os efeitos das novas ideias se fariam sentir com a aprovação, em</p><p>1969, pelo Conselho Federal de Educação, do Parecer 252/69, de</p><p>autoria do Professor Valnir Chagas, que regulamentava, 30 anos</p><p>após sua primeira organização, ocorrida em 1939, o currículo</p><p>mínimo para o curso de Pedagogia, assim como as habilitações</p><p>Orientação Educacional, Administração, Supervisão e Inspeção</p><p>Escolar e Magistério das Disciplinas Pedagógicas do 2º Grau.</p><p>O parecer 252/69 abria, ainda, a perspectiva de criação de outras</p><p>habilitações que o Conselho Federal de Educação julgasse</p><p>necessárias ao desenvolvimento nacional.</p><p>As mudanças no campo da Pedagogia, atribuindo</p><p>ao curso a formação dos especialistas, tornando-o,</p><p>portanto, um curso profissionalizante, ocasionaram</p><p>uma fragmentação na formação do educador.</p><p>A predominância das habilitações que visavam à formação</p><p>dos especialistas para a escola de 1º e 2º graus, em detrimento</p><p>de outras habilitações e da formação do professor para o</p><p>trabalho docente nas séries iniciais e no 2º Grau – Magistério</p><p>– acompanhava o objetivo de introduzir, também na escola, as</p><p>diferentes funções pedagógicas.</p><p>133</p><p>Introdução</p><p>à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>A criação de novas funções na escola e novas habilitações no</p><p>Curso de Pedagogia trouxe, na década de 70, um crescimento</p><p>do número de cursos, principalmente em escolas privadas, hoje</p><p>responsáveis por, aproximadamente, 70% dos alunos matriculados</p><p>nesses cursos.</p><p>Em 1975 e 1976, o Conselho Federal de Educação propôs os</p><p>Pareceres 67/75 e 68/75 e 70/76 e 71/76, de autoria do Professor</p><p>Valnir Chagas, apontando como indicação para o curso de</p><p>Pedagogia a formação do professor especialista, incluindo aí</p><p>os egressos das Licenciaturas. Dois anos após a publicação dos</p><p>pareceres, o MEC, pressionado pelos debates que emergiam</p><p>em vários fóruns dos educadores, toma a decisão de sustar a</p><p>sua aplicação. O próprio MEC abre, posteriormente em nível</p><p>nacional, o debate sobre a reformulação do curso de Pedagogia,</p><p>organizando Encontros Regionais em vários Estados.</p><p>A retomada das discussões sobre a especificidade</p><p>e identidade da Pedagogia, em consequência do</p><p>conteúdo dos pareceres, traz a questão mais geral da</p><p>formação dos educadores das “áreas de conteúdo”,</p><p>as Licenciaturas, reavivando a polêmica sobre</p><p>especialistas versus generalistas, professor versus</p><p>especialistas, na formação do pedagogo.</p><p>Como resposta a essas tentativas oficiais de reformulação do</p><p>curso de Pedagogia e na tentativa de reverter a estratégia de</p><p>exclusão dos principais interessados das discussões em pauta,</p><p>os educadores organizam-se nacionalmente para fazer frente às</p><p>ameaças de extinção do curso de Pedagogia, reafirmando-o como</p><p>o espaço necessário para o estudo dos problemas educacionais</p><p>brasileiros e debatendo alternativas para torná-lo mais adequado</p><p>às necessidades da maioria da população, em sua luta pela</p><p>educação e pela escola pública.</p><p>134</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Um Encontro Nacional, após vários encontros regionais,</p><p>foi organizado pelo MEC em novembro de 1983, em Belo</p><p>Horizonte, com a intenção de dar continuidade ao processo de</p><p>reestruturação curricular, iniciado em 1978. Nesse Encontro, os</p><p>educadores tomaram para si a condução do processo de discussão</p><p>e formaram a Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos</p><p>de Formação dos Educadores – CONARCFE – que passou a</p><p>reunir-se com regularidade e a constituir-se em fonte importante</p><p>de geração de conhecimento sobre a formação do educador.</p><p>Em 1990, a CONARCFE transformou-se em ANFOPE –</p><p>Associação Nacional pela Formação do Profissional da Educação</p><p>– que, a cada 2 anos, em seus Encontros Nacionais, tem</p><p>estabelecido princípios para a estruturação/reestruturação dos</p><p>cursos de formação dos profissionais da educação.</p><p>As discussões sobre o Curso de Pedagogia têm se</p><p>situado no âmbito das discussões sobre a formação</p><p>do profissional da educação, dentro do movimento</p><p>dos educadores. Esse debate tem movimentado,</p><p>nos últimos 15 anos, o conjunto de educadores e de</p><p>instituições de ensino superior, para reivindicar as</p><p>reformulações necessárias na estrutura dos cursos de</p><p>formação de professores, em especial da Pedagogia.</p><p>Vários cursos têm orientado suas reformulações no sentido</p><p>de tomar a docência como base da formulação do pedagogo,</p><p>formando professores para as séries iniciais do ensino</p><p>fundamental, educação especial e educação infantil, além da</p><p>formação do professor para a habilitação Magistério de 2º Grau.</p><p>No que diz respeito às tradicionais habilitações, estas têm</p><p>sofrido transformações significativas, desde sua extinção até sua</p><p>colocação em nível de pós-graduação ou incorporação ao núcleo</p><p>comum do currículo.</p><p>135</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>Essas transformações, construídas na prática pelo movimento</p><p>dos educadores e pelas instituições de ensino superior, tentam</p><p>responder àquelas pelas quais passa a escola fundamental, criando</p><p>novas exigências no mercado de trabalho para esses especialistas.</p><p>Tentam, ainda, responder ao avanço da área na compreensão</p><p>que se faz necessária à superação da dicotomia professor versus</p><p>especialista na formação do profissional da educação.</p><p>Com a aprovação da nova LDB, ficaram revogadas as disposições</p><p>legais que regulamentavam o curso de Pedagogia, Resolução</p><p>CFE 02/96 e a Portaria MEC399/89, que regulamentava o</p><p>registro profissional. O artigo 64, da Lei 9.394/96, que estabelece</p><p>a formação dos “especialistas” em nível graduação no curso de</p><p>Pedagogia ou em pós-graduação, trouxe a necessidade de se</p><p>pensar na regulamentação dessa formação profissional.</p><p>Estudos e proposições foram e vêm sendo desenvolvidas,</p><p>principalmente pela ANFOPE. No entanto, somente no ano</p><p>de 2006 as diretrizes específicas para o curso de Pedagogia</p><p>foram aprovadas.</p><p>A proposta é a formação de um profissional pedagogo</p><p>generalista que atue com competência técnica na</p><p>gestão e no exercício da docência da educação infantil</p><p>e dos anos iniciais da educação fundamental, capaz de</p><p>lidar com toda a complexidade do processo educativo</p><p>na contemporaneidade.</p><p>136</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Seção 2 – Espaços de atuação do pedagogo</p><p>Ressaltamos, anteriormente, os diversos espaços da prática</p><p>educativa e identificamos a nossa sociedade como eminentemente</p><p>pedagógica. Procuramos também deixar claro que cabe à</p><p>Pedagogia integrar os enfoques das diversas ciências, focalizando</p><p>intencionalmente os problemas educativos. Reforçamos que toda</p><p>prática educativa implica a relação entre um educador, alguém</p><p>que se educa, o saber e o contexto em que ocorre</p><p>Poderíamos, então, chamar todo aquele que educa de</p><p>pedagogo?</p><p>Vamos resumir a resposta em Libâneo (1996, p. 117):</p><p>O Pedagogo é o profissional que atua em várias</p><p>instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente</p><p>ligadas à organização e aos processos de transmissão/</p><p>assimilação ativa de saberes e modos de ação, tendo em</p><p>vista objetivos de formação humana definidos em sua</p><p>contextualização histórica. [...] é um profissional que</p><p>lida com fatos, estruturas, contextos, situações referentes</p><p>à prática educativa em suas diferentes modalidades e</p><p>manifestações.</p><p>Com base no mesmo autor, podemos relacionar três tipos de</p><p>pedagogos:</p><p>� pedagogos lato sensu: incluem-se aqui os professores de</p><p>todos os níveis de ensino;</p><p>� pedagogos stricto sensu: aqueles que, sem restringir</p><p>sua atividade ao ensino, dedicam-se à pesquisa e</p><p>especializam-se em outras áreas como: documentação,</p><p>formação profissional, educação especial, gestão de</p><p>sistemas escolares e escolas, coordenação pedagógica,</p><p>animação sociocultural, formação continuada em</p><p>empresas, escolas e outras instituições.</p><p>137</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>� pedagogos ocasionais: que dedicam parte de seu tempo</p><p>em atividades conexas à assimilação e reconstrução de</p><p>uma diversidade de saberes.</p><p>Já está claro, e você deve ter percebido, que há diversas práticas</p><p>educativas na sociedade. Vale reforçar que, sempre que toda e</p><p>qualquer prática educativa for intencional, ali estará presente uma</p><p>ação pedagógica.</p><p>A ação pedagógica pode ocorrer tanto no ambiente</p><p>escolar quanto no extraescolar.</p><p>No dizer de Libâneo (1996), três tipos de atividades podem ser</p><p>percebidas no campo da ação pedagógica escolar. São elas:</p><p>� as atividades dos professores: docência em todos os</p><p>níveis de ensino público, privado ou fora da escola</p><p>convencional;</p><p>� atividades de especialistas: ação educativa nos níveis</p><p>centrais, intermediários e locais dos sistemas de ensino</p><p>(supervisores e administradores escolares, orientadores</p><p>educacionais, gestores, coordenadores etc.).</p><p>� atividades de especialistas paraescolares: ação educativa</p><p>em órgãos públicos, privados e públicos não estatais,</p><p>associações populares etc. (instrutores, psicopedagogos,</p><p>técnicos, animadores, consultores etc.).</p><p>No campo da ação pedagógica extraescolar podem ser</p><p>relacionados os profissionais que exercem sistematicamente</p><p>atividades pedagógicas e os que ocupam apenas parte de seu</p><p>tempo nessas atividades, quais sejam:</p><p>� formadores, animadores, instrutores, organizadores,</p><p>técnicos, consultores, orientadores, que desenvolvem</p><p>atividades pedagógicas</p><p>não escolares em órgãos públicos,</p><p>privados e públicos não estatais, ligados às empresas, à</p><p>cultura, aos serviços de saúde, alimentação, promoção</p><p>social etc;</p><p>138</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>� formadores ocasionais que ocupam parte de seu tempo</p><p>em atividades pedagógicas. Aqui se incluem profissionais</p><p>das mais diversas áreas que se dedicam a alguma</p><p>atividade pedagógica.</p><p>O campo da atividade pedagógica é muito extenso</p><p>e nele poderiam ser incluídos todos os agentes</p><p>pedagógicos que atuam no âmbito da vida privada e</p><p>social.</p><p>A identidade profissional do pedagogo se reconhece, portanto, na</p><p>identidade do campo de investigação e na sua atuação dentro da</p><p>variedade de atividades voltadas para o educacional e o educativo.</p><p>O educacional diz respeito a atividades do sistema e da política</p><p>educacionais, da estrutura e gestão da educação em suas várias</p><p>modalidades, das finalidades mais amplas da educação e de suas</p><p>relações com a totalidade da vida social. O educativo diz respeito</p><p>à atividade de educar propriamente dita, à relação educativa entre</p><p>os agentes, envolvendo objetivos e meios de educação e instrução</p><p>em várias modalidades e instâncias.</p><p>O campo de atuação profissional do pedagogo vem se definindo</p><p>em várias esferas:</p><p>1. Nas Escolas de Educação Básica. O curso de</p><p>Pedagogia, com todas as suas contradições, tem</p><p>preparado, em nível superior, esse profissional para atuar</p><p>nas séries iniciais, educação infantil e educação especial,</p><p>e ainda para desempenhar as tarefas de coordenação</p><p>pedagógica, supervisão e administração escolar.</p><p>2. Fora das escolas. Em projetos e instituições educativas</p><p>(ONGs, conselhos tutelares, postos de saúde, igrejas,</p><p>penitenciárias, hospitais) ou em ações coletivas e culturais</p><p>com jovens, meninos de rua, idosos, mulheres, negros etc.</p><p>3. Em empresas. Uma nova área de atuação para o</p><p>pedagogo é a Pedagogia nas empresas. Através de sua</p><p>formação acadêmica, ele tem condições de cooperar</p><p>nesse espaço procurando desenvolver a qualidade social e</p><p>humana das pessoas em serviço.</p><p>139</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>Além desses campos, há outros para a atuação do</p><p>pedagogo, como os da avaliação de sistemas, projetos</p><p>educacionais, comunicações de massa, informática,</p><p>entre outros.</p><p>A ênfase na formação do professor pesquisador e na introdução</p><p>da pesquisa e da investigação como componentes curriculares,</p><p>presentes em inúmeros cursos de Pedagogia das várias</p><p>universidades, oferece condições ainda para o aprofundamento</p><p>dos estudos ao nível de pós-graduação, contribuindo para a</p><p>geração e construção de conhecimento na área educacional.</p><p>Seção 3 – Prática profissional e compromisso social</p><p>Na última seção desta disciplina, vamos utilizar este espaço</p><p>mais como reflexão e autoavaliação do que propriamente para</p><p>reforçar conteúdos. Reforçar porque, no decorrer dos demais</p><p>conteúdos, muito já ficou registrado sobre o compromisso social</p><p>e profissional do educador e, consequentemente, do pedagogo –</p><p>profissional da educação por formação.</p><p>Vamos parar e refletir?</p><p>A seguir, apontamos um problema para os futuros e atuais</p><p>professores pensarem!</p><p>Você deverá ler os textos apresentados e ao final refletir sobre as</p><p>questões propostas. Os textos correspondem a três composições</p><p>apresentadas por alunos de uma terceira série (anos iniciais) no</p><p>início do ano letivo.</p><p>140</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Composições</p><p>-A nave espacial pousou num pasto da fazenda e os estraterreste</p><p>saíram para fora asustando tudo mundo porque a cabessa deles</p><p>era verde cum olho só no meiu da testa. Deuz meu, oque tá</p><p>acontessendo aqui? Os homes corrião, as mulher gritavão...</p><p>- Eu e o meu amigo fomu pescá e aí ele jogou a linha ela puxô e</p><p>pegô um grade pexi. Então ele disse: Hogi vai sê uma pescaria</p><p>daquelas mais comesou chovê a agua ficou suja aí o ansol enroscô e</p><p>eles foram imbora....</p><p>-Eles batero o pé da crasse e fora pegá toco de cigarro o ispetor viu</p><p>e avisô a diretora. Aí chegô dois polícia e levaro eles. A diretora disse</p><p>que eles ia ficá de castigo até o pai ir buscá... Discupa qui a gente</p><p>nunca mais fazemo isso.</p><p>– Agora leia o que foi colocado pelo centro de referência educacional aos</p><p>professores que trabalhariam com essas composições.</p><p>E aí? Qual a sua opinião professor?</p><p>Você acredita que essas crianças foram mal alfabetizadas?</p><p>Que deveriam ter sido reprovadas em séries anteriores?</p><p>Que o professor tem que corrigir esses erros mandando o aluno</p><p>copiar várias vezes as palavras que errou?</p><p>Chamar os pais e pedir que coloquem a criança em aulas de</p><p>reforço?</p><p>Ou:</p><p>Você acredita que há outras explicações para estes tipos de erros?</p><p>Como eles podem ser explicados?</p><p>Você percebe algum padrão nos erros cometidos?</p><p>O que você faria como professor destas crianças?</p><p>(Montalvao, 2008).</p><p>Agora, depois de você ter lido as composições utilizadas como</p><p>exemplos e as perguntas do centro de referência, reflita e</p><p>responda à pergunta a seguir:</p><p>141</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>E então, o que você faria?</p><p>Por certo, você deve ter respondido que há outras explicações</p><p>e que encontrá-las implica estar profissionalmente preparado e</p><p>comprometido. Mas pensemos nas tantas crianças reprovadas</p><p>que aparecem nas estatísticas brasileiras, que resistem a “aulas de</p><p>reforço”, muitas vezes responsáveis pelo reforço do sentimento</p><p>de não ser capaz, antes de se evadirem definitivamente da</p><p>escola. Crianças que acabam por se tornarem jovens e adultos</p><p>marginalizados, condenadas ao anonimato social.</p><p>O educador que busca compreender as causas e se empenha em</p><p>criar soluções está realmente exercendo a sua prática profissional.</p><p>A função do educador não termina quando o sinal anuncia o final</p><p>da aula. Para além, há o compromisso social de proporcionar</p><p>a cada e a toda criança, jovem ou adulto com o qual (e para o</p><p>qual) trabalha a oportunidade de apreender os conhecimentos</p><p>necessários ao seu sucesso pessoal e profissional. Sucesso que aqui</p><p>se entende como a capacidade de agir e interagir com autonomia</p><p>no meio social.</p><p>Embora sabendo que não nos compete entrar nas</p><p>questões pedagógicas de aquisição da linguagem que</p><p>o exemplo utilizado exige, lancei mão deste para poder</p><p>exemplificar a complexidade do trabalho do pedagogo</p><p>e o comprometimento social que dele decorre.</p><p>142</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Não podemos deixar as questões sem respostas, você deve estar</p><p>curioso. Leia as sugestões da professora Vera Lúcia Camara F.</p><p>Zacharias, analisando-as cuidadosamente:</p><p>O professor não pode simplesmente “corrigir” estes “erros” e menos</p><p>ainda avaliar seus alunos por eles. Tem, sim, que considerá-los e</p><p>buscar novas atividades para que a médio e longo prazo as crianças</p><p>elaborem as generalizações cabíveis.</p><p>A solução desses problemas necessita de uma familiaridade com a</p><p>escrita, que será conseguida com um trabalho contínuo ao longo de</p><p>todo o Ensino Fundamental. Nos relatos apresentados observamos</p><p>que há casos:</p><p>� de “erros” resultantes de uma grafia corresponder a</p><p>diferentes pronúncias, em situações ainda não dominadas</p><p>pelas crianças como: “ansol”, “asustando”, “comesou”;</p><p>� de “erros” decorrentes de duas diferentes grafias corresponderem</p><p>à mesma pronúncia: “cabessa”, “Deuz”, “acontessendo”;</p><p>� de “erros” que se explicam pelo fato de que a escrita</p><p>convencional representa de diferentes maneiras a</p><p>pronúncia de formas flexionais: “corrião”, “gritavão”.</p><p>Sugestões para facilitar esse processo:</p><p>� preparar as aulas cuidadosamente, procurando</p><p>nas atividades escritas antecipar-se aos alunos,</p><p>escrevendo as formas convencionais na lousa;</p><p>� procurar montar atividades em que apareçam as palavras</p><p>problemas, tais como leituras e reconstrução do texto dos alunos;</p><p>� sistematizar intensas exposições prévias dos alunos a situações</p><p>de linguagem e de vida em conversações, dramatizações,</p><p>relatos, reconstruções dos próprios textos, bem como</p><p>acesso a instrumentos como: jornais, revistas, livros etc;</p><p>� exercitar o domínio da norma culta da linguagem, sem</p><p>desvalorizar</p><p>a do aluno,  como uma nova forma  que a criança</p><p>pode dispor para certos fins, acostumando-as a compará-las:</p><p>como fala o pedreiro, a professora, e a utilizá-las em situações</p><p>diferentes( formais ou coloquiais ), ou ainda a encontrar</p><p>essas variantes em fala de personagens de textos etc;</p><p>� deixar as crianças bem à vontade para que elas não tenham</p><p>medo de perguntar como se escreve e saibam que as</p><p>grafias incorretas não derivam de insuficiências delas.</p><p>143</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>Seguindo com esta nossa seção-reflexão, sugerimos outra leitura:</p><p>Inquietações</p><p>(Mirian Celeste Martins)</p><p>Zona real ou zona proximal?</p><p>Desenho e escrita: pode ou não pode?</p><p>Olho e não vejo. Afinal, o rei está nu?</p><p>Ou finjo que vejo a roupa?</p><p>Fico quieta maquinando com meus botões?</p><p>Ou ouso superar o medo e discordar e perguntar?</p><p>Joguei fora o que era velho</p><p>Longe da moda pedagógica</p><p>E hoje dizem para rever posições...</p><p>Autoritária? Espontaneista? Democrática?</p><p>Me vejo rondando nas três concepções</p><p>De uma educação que</p><p>Ora, não tem segredos (Eu domino!).</p><p>ora, me assusta</p><p>no confronto do que ainda não sei</p><p>Abismo...</p><p>Abismo de tantos teóricos que ainda não li</p><p>(e nem sei se quero, ou terei tempo de ler).</p><p>Abismo de tantas práticas que já fiz</p><p>E continuo fazendo, repetindo-as ou transformando-as</p><p>Na dança das novas apostilas?</p><p>Afinal que educadora sou eu?</p><p>O que eu penso?</p><p>O que eu faço aqui?</p><p>Papel de técnica ou professora,</p><p>Exerço com autoridade? Ou fujo?</p><p>Tento encontrar soluções? Alternativas?</p><p>Ou jogo a culpa em outro?</p><p>144</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Compromisso ou obrigação?</p><p>Dou pouco porque recebo um salário ridículo?</p><p>Com que estou compromissada?</p><p>Com a Secretaria? Com a direção?</p><p>Com a criança? Ou comigo mesma?</p><p>Sei que preciso pensar,</p><p>ir mais fundo aprofundando ideias</p><p>resgatando a minha fala que eu deixei que roubassem</p><p>quando aceitei, quando engoli, quando ousei,</p><p>quando não perguntei: Por quê?</p><p>Será que também roubo a fala de meu aluno?</p><p>quando falo por ele,</p><p>quando não leio o seu gesto,</p><p>quando não dou espaço para sua fala, seu desenho, seu jogo...</p><p>quando não percebo o seu silêncio de medo,</p><p>quando demonstro que não entendo o seu desenho,</p><p>quando não escuto a sua pergunta: Por quê?</p><p>Por quê?</p><p>Você deve estar se perguntando “por que esta leitura?”</p><p>Porque acreditamos, sinceramente, que você deverá sempre duvidar!</p><p>Não é nas verdades prontas e acabadas que encontramos soluções,</p><p>aliás, será que neste mundo inquieto ainda existem verdades</p><p>prontas e acabadas? Na inquietude, encontramos as bases</p><p>da criatividade, e esta é, com certeza, uma grande aliada no</p><p>desempenho de trabalhos complexos. Se, como diz Paulo Freire,</p><p>“nós não somos educadores, estamos sendo” a busca incessante</p><p>faz parte do nosso vir a ser professor/pedagogo/educador.</p><p>Leia o trecho a seguir escrito por Paulo Freire e reflita</p><p>mais uma vez!</p><p>145</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>Ninguém nasce feito: é experimentando-nos no mundo que nós</p><p>nos fazemos</p><p>Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, na prática</p><p>social de que tomamos parte.</p><p>Não nasci professor ou marcado para sê-lo, embora minha infância e</p><p>adolescência tenham estado sempre cheias de sonhos em que rara</p><p>vez me vi encarnando figura que não fosse a de professor.</p><p>Brinquei tanto de professor na adolescência que, ao dar as primeiras</p><p>aulas no curso então chamado de admissão no Colégio Osvaldo</p><p>Cruz do Recife, nos anos 40, não me era fácil distinguir o professor</p><p>imaginário do professor do mundo real. E era feliz em ambos os</p><p>mundos. Feliz quando puramente sonhava dando aula e feliz</p><p>quando, de fato, ensinava.</p><p>Eu tinha, na verdade, desde menino, um certo gosto docente, que</p><p>jamais se desfez em mim. Um gosto de ensinar e de aprender que me</p><p>empurrava à prática de ensinar que, por sua vez, veio dando forma e</p><p>sentido àquele gosto. Umas dúvidas, umas inquietações, uma certeza</p><p>de que as coisas estão sempre se fazendo e se refazendo e, em lugar</p><p>de inseguro, me sentia firme na compreensão que, em mim, crescia</p><p>de que a gente não é, de que a gente está sendo.</p><p>Às vezes, ou quase sempre, lamentavelmente, quando pensamos</p><p>ou nos perguntamos sobre a nossa trajetória profissional, o centro</p><p>exclusivo das referências está nos cursos realizados, na formação</p><p>acadêmica e na experiência vivida na área da profissão. Fica de fora</p><p>como algo sem importância a nossa presença no mundo. É como</p><p>se atividade profissional dos homens e das mulheres não tivesse</p><p>nada que ver com suas experiências de menino, de jovem, com</p><p>seus desejos, com seus sonhos, com seu bem-querer ao mundo ou</p><p>com seu desamor à vida. Com sua alegria ou com seu mal-estar na</p><p>passagem dos dias e dos anos.</p><p>Na verdade, não me é possível separar o que há em mim de</p><p>profissional do que venho sendo como homem. Do que estive</p><p>sendo como menino do Recife, nascido na década de 20, em família</p><p>de classe média, acossada pela crise de 29. Menino cedo desafiado</p><p>pelas injustiças sociais como cedo tomando-se de raiva contra</p><p>preconceitos raciais e de classe a que juntaria mais tarde outra raiva,</p><p>a raiva dos preconceitos em torno do sexo e da mulher [...]</p><p>146</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Não nasci, porém, marcado para ser um professor assim. Vim me</p><p>tornando desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a</p><p>ação, na observação atenta a outras práticas ou à prática de outros</p><p>sujeitos, na leitura persistente, crítica, de textos teóricos, não importa</p><p>se com eles estava de acordo ou não. É impossível ensaiarmos estar</p><p>sendo deste modo sem uma abertura crítica aos diferentes e às</p><p>diferenças, com quem e com que é sempre provável aprender.</p><p>Uma das condições necessárias para que nos tornemos um</p><p>intelectual que não teme a mudança é a percepção e a aceitação</p><p>de que não há vida na imobilidade. De que não há progresso na</p><p>estagnação. De que, se sou, na verdade, social e politicamente</p><p>responsável, não posso me acomodar às estruturas injustas da</p><p>sociedade. Não posso traindo a vida bendizê-las.</p><p>Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos na prática</p><p>social de que tomamos parte.</p><p>(Paulo Freire, 1993)</p><p>Esperamos que esta unidade tenha servido para você desenvolver</p><p>reflexões acerca da prática pedagógica.</p><p>Aqui você encerra os estudos desta Unidade. Siga em frente</p><p>realizando as atividades de autoavaliação. Bons Estudos!</p><p>Síntese</p><p>Nesta última unidade, estudamos a Pedagogia enquanto curso</p><p>de formação profissional e procuramos delinear os desafios e</p><p>espaços de atuação do pedagogo. Identificamos a Pedagogia no</p><p>Brasil como curso de formação profissional do pedagogo que, a</p><p>cada momento histórico, seguiu linhas distintas. Aprendemos</p><p>que a formação do pedagogo implica conhecer ideias e métodos</p><p>pedagógicos que exigem conhecimentos teóricos que expliquem e</p><p>fundamentem a prática exercida.</p><p>147</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>Todas essas práticas devem levar o pedagogo a praticar educação</p><p>de forma questionadora e reflexiva, sem alienar-se da realidade</p><p>social daqueles a quem educa, levando-os a defender seus direitos e</p><p>contribuindo para que se tornem cidadãos ativos, conscientes e felizes.</p><p>O mundo globalizado contribuiu para aumentar as desigualdades,</p><p>mas a expectativa é de que, com um modelo de educação</p><p>adequado e voltado para as questões sociais, seja possível</p><p>contribuir para encontrar soluções.</p><p>Nas propostas para a educação do futuro, evidencia-se o</p><p>necessário compromisso com a cidadania, com o fortalecimento</p><p>da crença na dignidade humana, na igualdade de direitos, na</p><p>consciência e responsabilidade de todos e de cada um pelo</p><p>desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Para esta proposta</p><p>de educação, está aberto espaço para profissionais conscientes,</p><p>comprometidos e dispostos a aprender sempre.</p><p>Atividades de autoavaliação</p><p>Efetue as atividades de autoavaliação e, a seguir, acompanhe as</p><p>respostas e os comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do</p><p>seu estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de</p><p>fazer as atividades propostas.</p><p>1 - Analise o texto complementar exposto</p><p>anteriormente - Ninguém</p><p>nasce feito: é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos, de</p><p>Paulo Freire, e registre seus sentimentos em relação ao seu “vir a ser”</p><p>professor/pedagogo/educador.</p><p>148</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>2 - Assista ao filme: Música do Coração.</p><p>Ficha Técnica: Título Original:  Music of the Heart. Gênero:  Drama.</p><p>Tempo de Duração: 134 minutos. Ano de Lançamento (EUA): 1999.</p><p>Elenco: Meryl Streep (Roberta Guaspari), Aidan Quinn (Brian Sinclair),</p><p>Angela Bassett (Janet Williams), Cloris Leachman (Assunta Guaspari),</p><p>Gloria Estefan (Isabel Vasquez), Josh Pais (Dennis), Jay O. Sanders (Dan),</p><p>Kieran Culkin.</p><p>Sinopse: História verídica de uma violinista que nunca se</p><p>profissionalizou por ter se dedicado unicamente à família. Abandonada</p><p>pelo marido, ela decide seguir seu sonho e começa a dar aulas de</p><p>violino para crianças pobres. Assume o desafio e aprende a acreditar</p><p>em si mesma, a persistir, a conquistar as crianças, a provar-lhes que são</p><p>capazes de fazer qualquer coisa na vida.</p><p>a) No relacionamento professor/alunos, observe os aspectos a seguir:</p><p>exigência da disciplina/conquista do grupo;</p><p>respeito à individualidade de cada um;</p><p>relacionamento com os pais;</p><p>a diferença entre “ser boazinha/bonzinho” e ser sincera(o);</p><p>a importância de dar valor ao que é ensinado;</p><p>o papel do diretor;</p><p>reconhecimento/injustiça;</p><p>a força da comunidade;</p><p>acreditar na capacidade das crianças;</p><p>certeza de que reconhecimento não vem senão do esforço, da</p><p>dedicação e da crença no que podemos fazer.</p><p>b) Faça os registros dos pontos observados e de outros que lhe chamarem</p><p>a atenção.</p><p>149</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 6</p><p>Saiba mais</p><p>Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você</p><p>poderá pesquisar os seguintes livros:</p><p>GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-</p><p>aprender com sentido. Curitiba: Positivo, 2005.</p><p>______. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre:</p><p>Artmed, 2000.</p><p>LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São</p><p>Paulo: Cortez. 1998.</p><p>RANGEL. O que podemos aprender com os gansos. São</p><p>Paulo: Original, 2003.</p><p>RIOS, Terezinha A. Compreender e ensinar: por uma docência</p><p>da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2002.</p><p>SILVA, Carmem Silvia Bissoli da. Curso de pedagogia no</p><p>Brasil: história e identidade. Campinas, São Paulo; Autores</p><p>Associados, 2001. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo)</p><p>STRECK, Danilo R. Pedagogia no encontro dos tempos –</p><p>ensaios inspirados em Paulo Freire. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.</p><p>Para concluir o estudo</p><p>Chegamos ao final desta disciplina de introdução ao seu</p><p>curso de Pedagogia. Este estudo, por certo, não teve a</p><p>intenção e nem abrangeu todas as questões que envolvem</p><p>tão complexo tema. Procurei ajudá-lo(a) a refletir e,</p><p>como já coloquei anteriormente, que fique sempre o</p><p>beneficio da dúvida para instigá-lo a tantas buscas que</p><p>serão necessárias durante a realização do seu curso. Um</p><p>aprofundamento teórico poderá ser feito nas referências</p><p>bibliográficas sugeridas ou em tantas outras fontes.</p><p>Espero ter contribuído para introduzir você neste</p><p>universo que é a educação e neste desafio que é preparar-</p><p>se pedagogicamente para praticar a docência.</p><p>Espero que você tenha compreendido a complexidade do</p><p>fenômeno educativo e da profissionalização do trabalho</p><p>do pedagogo e que tenha identificado as diferentes</p><p>teorias pedagógicas que a orientam. Profissionalização</p><p>que você deve seguir e para a qual o curso de graduação</p><p>iniciado contribuirá apontando caminhos.</p><p>Refletindo, do mesmo modo que iniciamos, convido você</p><p>a concluir com a leitura do desafio da águia de Rangel:</p><p>Você sabe como um filhote de águia aprende a voar? A</p><p>águia faz seu ninho bem no alto de um pico rochoso.</p><p>Abaixo, somente o abismo e em volta o ar para sustentar</p><p>as asas dos filhotes. A águia-mãe empurra os filhotes</p><p>para a beira do ninho. Nesse momento seu coração</p><p>se acelera com emoções conflitantes, pois ao mesmo</p><p>tempo em que empurra sente a resistência dos filhotes</p><p>em não querer ir para o precipício. Para eles, a emoção</p><p>de voar começa com o medo de cair. Faz parte da</p><p>152</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>natureza da espécie. Apesar da dor, a águia sabe que aquele</p><p>é o momento. Sua missão deve se completar, mas resta ainda</p><p>a tarefa final: o empurrão. A águia se enche de coragem. Ela</p><p>sabe que enquanto seus filhotes não descobrirem suas asas, não</p><p>entenderão o propósito de sua vida. Enquanto não aprenderem a</p><p>voar, não compreenderão o privilégio que é nascer águia. Assim,</p><p>o empurrão é o maior presente que ela pode oferecer a eles. É</p><p>seu supremo ato de amor. Então, empurrando um a um, ela os</p><p>precipita para o abismo. E eles voam! Livres após descobrirem</p><p>suas asas. (RANGEL, 2003, p. 187)</p><p>Imagine-se um filhote de águia que precisa aprender a voar.</p><p>Pense o universo dos conhecimentos da Pedagogia como um</p><p>abismo a ser explorado. Tome os desafios de se tornar pedagogo</p><p>fazendo o papel de águia-mãe empurrando você para o abismo.</p><p>Tenha em mente: enfrentar desafios é acreditar que também</p><p>temos asas para voar.</p><p>Desejo um grande sucesso no seu voo!</p><p>Referências</p><p>ARIÈS Philippe. Tradução de Dora Flaksman. História social da</p><p>criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro : Zahar, 1981.</p><p>ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens.</p><p>Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.</p><p>ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: Rumo à sociedade</p><p>aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998.</p><p>ASSMANN, Selvino. O debate epistemológico atual, 1997.</p><p>(mimeo)</p><p>AZEVEDO, Janete M. Lins de. A educação como política pública.</p><p>Campinas, SP: Autores Associados, 1997. (Coleção Polêmicas do</p><p>Nosso Tempo).</p><p>BARROS, Roque Spencer Maciel de. In: GADOTTI, Moacir.</p><p>Perspectivas atuais da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas</p><p>Sul, 2000.</p><p>BOFF, Leonardo. Depois de 500 Anos: que Brasil queremos?</p><p>Petrópolis: Vozes, 2000.</p><p>BRANDÃO, Carlos R. O Que é Educação. 33. ed. São Paulo:</p><p>Brasiliense, 1995 (Coleção Primeiros Passos: 203).</p><p>BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Ed.). O que é método Paulo Freire.</p><p>São Paulo, Brasiliense, 1981.</p><p>CARVALHO, Maria Luiza R. D. Escola e democracia. São Paulo:</p><p>EPU, 1979.</p><p>CHAUI, Marilena. O que é ideologia? São Paulo: Brasiliense, 1980.</p><p>DALLARI, Dalmo de Abreu. Método Paulo Freire. 2006.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 10 ago.</p><p>2006.</p><p>DEMO, Pedro. Educação e conhecimento: relação necessária,</p><p>insuficiente e controversa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.</p><p>FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. Rio de</p><p>Janeiro: Paz e Terra, 1977.</p><p>______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à</p><p>prática pedagógica. São Paulo: Paz e Terra, 1997 (Coleção Leitura)</p><p>FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. São Paulo: Moraes, 1979.</p><p>FRIGOTTO, Gaudêndio. A produtividade da escola improdutiva. São</p><p>Paulo: Cortez, 1986.</p><p>GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar-e-aprender com</p><p>sentido. Curitiba, PR: Positivo, 2005.</p><p>______. Educação e Poder: Introdução à pedagogia do conflito. São</p><p>Paulo: Cortez, 1981.</p><p>______. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artmed, 2000.</p><p>______. O pensamento pedagógico brasileiro. São Paulo: Cortez, 1987.</p><p>______. Um legado de esperança. São Paulo: Cortez, 2001.</p><p>______. À altura do sonho. 1996. Disponível em: . Acesso em: 17 ago. 2011.</p><p>GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso.</p><p>Porto Alegre :LPM Editores, 1999.</p><p>GHIRALDELLI Júnior, Paulo. O que é Pedagogia? São Paulo: Brasiliense,</p><p>1996. (Coleção Primeiros Passos)</p><p>______. Paradigmas Filosóficos. Filosofia em cheque. 21 abr. 2009.</p><p>Disponível em: . Acesso em: 16 ago. 2011. il.</p><p>GOMES, Carlos Minayo (org.) Trabalho e conhecimento: dilemas na</p><p>educação do trabalhador. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1987.</p><p>LIBÂNEO, José Carlos. A Didática e as Tendências Pedagógicas. In:</p><p>CONHOLATO, M. Conceição et al. (org.). A Didática</p><p>profissional. A Pedagogia no</p><p>Brasil. Concepção de Pensamento Pedagógico Brasileiro nas</p><p>suas várias manifestações: Tradicional, Nova, Tecnicista e</p><p>Histórico-Crítica. Atuação profissional do professor dos anos</p><p>iniciais e educação infantil em diferentes contextos educativos.</p><p>12</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Objetivos</p><p>Geral:</p><p>Oportunizar ao ingressante o conhecimento das questões</p><p>epistemológicas e históricas da Pedagogia, a reflexão sobre o perfil</p><p>profissional e o espaço de trabalho do pedagogo e a inserção na</p><p>produção científica do pensamento pedagógico brasileiro.</p><p>Específicos:</p><p>� Descrever a trajetória história da Pedagogia.</p><p>� Identificar grandes correntes filosóficas.</p><p>� Aprender a relação entre prática pedagógica e formação</p><p>para cidadania.</p><p>� Analisar importância da intervenção pedagógica para a</p><p>construção do conhecimento.</p><p>� Estudar a trajetória histórica da Pedagogia no Brasil.</p><p>� Refletir sobre o compromisso social do pedagogo</p><p>Carga Horária</p><p>60 horas/aula – 4 créditos.</p><p>Conteúdo programático/objetivos</p><p>Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta</p><p>disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos</p><p>resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de</p><p>estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de</p><p>conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento</p><p>de habilidades e competências necessárias à sua formação.</p><p>13</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidades de estudo: 6</p><p>Unidade 1 – Pedagogia e Pedagogos: o Que nos Revela o Passado?</p><p>Nesta unidade, serão abordadas questões conceituais e raízes</p><p>da Pedagogia no mundo da Grécia Antiga. Dentro do contexto</p><p>histórico serão estudadas questões filosóficas que interferiram na</p><p>formação do pensamento pedagógico. Também serão avaliadas as</p><p>contribuições das demais ciências da educação que colaboraram</p><p>para o desenvolvimento da Pedagogia.</p><p>Unidade 2 – Pedagogia e Pedagogos: o Contexto Social como Cenário</p><p>Entender que a prática educativa está fundamentada em</p><p>princípios pedagógicos e político-ideológicos que interferem no</p><p>desenvolvimento humano e social.</p><p>Numa reflexão do contexto social, nesta unidade serão abordados</p><p>os fundamentos da Educação e da Pedagogia. Neste contexto,</p><p>refletiremos sobre as questões ideológicas que interferem nas</p><p>intencionalidades da prática pedagógica, que não são neutras, e</p><p>que corroboram com a proposta de educação e de formação da</p><p>cidadania, as quais pretendam ser alcançadas.</p><p>Unidade 3 – Pedagogia e Pedagogos: o Encontro (ou não) da Educação</p><p>com a Escola</p><p>A proposta desta unidade é fundamentar que prática pedagógica</p><p>está relacionada a teorias que auxiliam a compreender e a resolver</p><p>situações do processo ensino-aprendizagem. Identificaremos as</p><p>três grandes concepções teóricas que procuram explicar como</p><p>ocorre a aprendizagem: inatista, ambientalista e interacionista,</p><p>além de outras, decorrentes desta última. Refletiremos também</p><p>sobre as relações entre educação, o ensinar e o aprender, o</p><p>conhecimento e a formação para a cidadania.</p><p>14</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Unidade 4 – Pedagogia e Pedagogos: a Construção Histórica do</p><p>Cenário Brasileiro</p><p>Nesta unidade, o foco será o estudo da história e da identidade</p><p>da Pedagogia no Brasil. Além do estudo das concepções do</p><p>Pensamento Pedagógico Brasileiro, serão identificadas as</p><p>correntes e tendências da educação brasileira e os seus principais</p><p>precursores, adentrando em suas propostas e obras. Numa seção</p><p>especial, será estudada a pedagogia de Paulo Freire, grande</p><p>educador brasileiro reconhecido mundialmente.</p><p>Unidade 5 – Pedagogia e Pedagogos: O que nos Cobra o Presente?</p><p>A reflexão desta unidade abrangerá o desenvolvimento da ciência,</p><p>sobretudo tecnológica, e a realidade do mundo globalizado,</p><p>que contribuiu para aumentar as desigualdades sociais e vem</p><p>alertando para uma consequente necessidade de repensar a</p><p>educação. Ela apontará as propostas de educação para o século</p><p>XXI e para o futuro, citando os eixos da Unesco. Evidenciará,</p><p>ainda, nas propostas para a educação do futuro, a necessidade dos</p><p>pedagogos comprometerem-se profissionalmente com a formação</p><p>para a cidadania.</p><p>Unidade 6 – Pedagogia e Pedagogos: Desafios e Buscas</p><p>Nesta última unidade, estudaremos a Pedagogia enquanto</p><p>curso de formação profissional, bem como os desafios e espaços</p><p>de atuação do pedagogo. Para identificar a Pedagogia como</p><p>profissão, abordaremos um pouco da sua história e da identidade</p><p>do curso de Pedagogia no Brasil, e partir daí para identificar</p><p>os espaços de atuação do pedagogo procurando identificar seus</p><p>compromissos e desafios.</p><p>15</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Agenda de atividades/Cronograma</p><p>� Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar</p><p>periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus</p><p>estudos depende da priorização do tempo para a leitura,</p><p>da realização de análises e sínteses do conteúdo e da</p><p>interação com os seus colegas e professor.</p><p>� Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço</p><p>a seguir as datas com base no cronograma da disciplina</p><p>disponibilizado no EVA.</p><p>� Use o quadro para agendar e programar as atividades</p><p>relativas ao desenvolvimento da disciplina.</p><p>Atividades obrigatórias</p><p>Demais atividades (registro pessoal)</p><p>16</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>1UNIDADE 1</p><p>Pedagogia e Pedagogos: O que</p><p>nos Revela o Passado?</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>� Conceituar e descrever a trajetória histórica da</p><p>Pedagogia.</p><p>� Identificar as grandes correntes filosóficas, as</p><p>ciências da educação e os momentos históricos que</p><p>contribuíram para a formação da Pedagogia.</p><p>Seções de estudo</p><p>Seção 1 Conceituação e raízes da Pedagogia</p><p>Seção 2 Pedagogia e as grandes correntes filosóficas</p><p>Seção 3 Pedagogia e ciências da Educação</p><p>18</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Para início de estudo</p><p>Caminhar com você pelo universo da Pedagogia exige um</p><p>retorno ao passado para que, no encontro com fatos que</p><p>caracterizam épocas, compreendamos o presente, pois à medida</p><p>que os estudamos descortinamos as nossas raízes. O poeta Göthe</p><p>afirmava que somos filhos do tempo que nunca para e que por</p><p>isso precisamos, em qualquer período da história e sob um novo</p><p>ponto de vista, contemplar e julgar o passado. Portanto, vamos</p><p>viajar juntos para que você possa, a partir do seu ponto de vista,</p><p>rever a história da Pedagogia, construindo conceitos, definindo</p><p>trajetórias, contextos e personagens.</p><p>Seção 1 – Conceituação e raízes da Pedagogia</p><p>A Pedagogia, enquanto área de conhecimento, estuda a educação</p><p>em qualquer ambiente social em que ela ocorra. Ou seja, seu</p><p>objeto de estudo é a ação educativa, cabendo-lhe avançar na</p><p>sistematização, no aprofundamento de uma teoria da educação</p><p>mais abrangente.</p><p>Figura 1.1: Sócrates e Platão</p><p>Fonte: Ghiraldelli Júnior (2009)</p><p>19</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>O autor Luzuriaga (1889-1959) em sua obra História da educação</p><p>e da pedagogia, traduzida por Luiz Damasco Penna (1990), nos</p><p>coloca que “educação e pedagogia estão como prática para teoria,</p><p>realidade para ideal, experiência para pensamento, não como</p><p>entidades independentes, mas fundidas em unidade indivisível,</p><p>como verso e anverso da moeda”. Portanto, processo de educação</p><p>que ocorra sem pedagogia caracteriza-se como mera rotina, ação</p><p>sem reflexão.</p><p>O que você pode perceber é que não podemos falar de pedagogia</p><p>sem falar de educação. Também não dá para falar de educação</p><p>sem que se fale de sociedade, pois, como prática social, a</p><p>educação ocorre de forma abrangente, nos contextos culturais,</p><p>sociais, econômicos e políticos da sociedade como um todo.</p><p>E onde entra a Pedagogia?</p><p>Vejamos: a educação é um fato da vida social e individual</p><p>possível de ser descrito, compreendido, analisado em suas várias</p><p>dimensões, mediante métodos de investigação e de elaboração</p><p>sistemática de resultados, em função de um corpo de conceitos e</p><p>proposições. E quem vai teorizar e refletir sistematicamente esses</p><p>aspectos da educação e as suas relações com outros aspectos? Se</p><p>você</p><p>e a Escola de 1° grau.</p><p>São Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 1991.</p><p>______. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências</p><p>educacionais e profissão docente. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.</p><p>______. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo, SP: Cortez, 1998.</p><p>______. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social</p><p>dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1986.</p><p>LOPES Júnior, Oswaldo. Porque os Grandes filmes são Grandes. Ignes</p><p>Ferraz. [2003?]. Disponível em: . Acesso em: 17 ago. 2011. il.</p><p>MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São</p><p>Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO,2001.</p><p>OLIVEIRA, Betty. Socialização do saber escolar. São Paulo: Cortez/Autores</p><p>Associados. 1985.</p><p>155</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>PATERLINI, Roberto Ribeiro; FURUYA, Yolanda Kioko Saito. A escola de</p><p>Atenas. 12 mai. 2002. Disponível em: . Acesso em: 16 ago. 2011. il.</p><p>PERROUD, Pierre. Jean-Jacques Rousseau. [2001?]. Disponível em: . Acesso em: 16 ago. 2011. il.</p><p>QUEM foi Florestan Fernandes? Fórum de Entidades Nacionais de</p><p>Direitos Humanos. 11 abr. 2006. . Acesso em:</p><p>17 ago. 2011.</p><p>RANGEL, Alexandre. O que podemos aprender com os gansos. São</p><p>Paulo: Original, 2003.</p><p>RAUEN, Fábio José. Roteiros de Investigação cientifica. Tubarão, SC:</p><p>Editora Unisul, 2002.</p><p>RIBEIRO, Maria Luisa Santos. Educação Escolar: que prática é essa? Campinas,</p><p>SP: Autores Associados, 2001. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo).</p><p>RIOS, Terezinha Azeredo. Compreender e Ensinar: por uma docência da</p><p>melhor qualidade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002.</p><p>ROHMANN, Chris. O livro das idéias: pensadores, teorias e conceitos que</p><p>formam nossa visão de mundo. Rio de Janeiro: Campus, 2000.</p><p>ROMANELLI, Otáiza. História da Educação no Brasil: 1930-1973.</p><p>Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.</p><p>SÃO TOMÁS DE AQUINO. Odinei W. Draeger. [20--]. Disponível em:</p><p>. Acesso em: 16 ago. 2011. il.</p><p>SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 8a. ed. São Paulo: Cortez/</p><p>Autores Associados, 1985.</p><p>______. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. 2. ed. São</p><p>Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.</p><p>SERRÃO, Margarida. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: FTD, 1999.</p><p>SILVA, Benedicto. Dicionário de ciências sociais. Rio de Janeiro: FGV, 1986.</p><p>SILVA, Carmem Silvia Bissoli da. Curso de pedagogia no Brasil: história e</p><p>identidade. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. (Coleção Polêmicas</p><p>do Nosso Tempo) .</p><p>SILVA, Jefferson I. da. Formação do educador e educação política. São</p><p>Paulo: Cortez, 1992.</p><p>SROUR, R. H. Poder, Cultura e Ética nas organizações. Rio de Janeiro:</p><p>Campus, 1997.</p><p>STRECK, Danilo R. Pedagogia no encontro dos tempos – ensaios</p><p>inspirados em Paulo Freire. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.</p><p>156</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>______. Educação para um novo contrato social. Rio de Janeiro: Vozes,</p><p>2003.</p><p>TORRES, Carlos Alberto. Educação e Democracia: a práxis de Paulo Freire</p><p>em São Paulo. Cortez/Instituto Paulo Freire, 2002.</p><p>TOURAINE, Alain. Poderemos Viver Juntos?: iguais e diferentes.</p><p>Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.</p><p>WERNECK, Vera Eudge. A ideologia na educação. Rio de Janeiro: Vozes,</p><p>1982.</p><p>WERTHEIN, Jorge. Fundamentos para uma nova educação. Brasília:</p><p>Unesco, 2000.</p><p>Sobre a professora conteudista</p><p>Nádia Maria Soares Sandrini, professora da Unisul</p><p>desde 1993, é mestre em Educação, especialista em</p><p>Administração Escolar e graduada em Pedagogia com</p><p>habilitação em Administração Escolar. Ocupa, desde</p><p>2002, o cargo de coordenadora do curso presencial de</p><p>Pedagogia da Unisul. Foi secretária e administradora</p><p>do colégio Dehon – Unisul no período 1993 – 2001.</p><p>Foi professora, administradora, diretora e assistente de</p><p>coordenação local de educação na rede pública de ensino</p><p>do Estado de Santa Catarina por 20 anos.</p><p>Respostas e comentários das</p><p>atividades de autoavaliação</p><p>Unidade 1</p><p>1. A pedagogia só existe em função da educação e esta se</p><p>relaciona diretamente com a sociedade. Não há como pensar</p><p>a pedagogia fora da ação educativa, pois é sobre ela que a</p><p>mesma se detém pesquisando e avaliando a partir de teorias</p><p>construídas ao longo dos tempos.</p><p>2. Na Grécia antiga o termo Paidagogia era utilizado para</p><p>designar acompanhamento e vigilância e era chamado</p><p>paidagogo o condutor da criança ou escravo que guiava as</p><p>crianças à escola.</p><p>3. O que Sartre define nesta frase é que “existimos” primeiro e</p><p>criamos a nossa própria essência através das nossas escolhas,</p><p>ou seja, devemos ser livres e responsáveis pela construção da</p><p>nossa essência.</p><p>4. A afirmativa de que na “pedagogia moderna acontece a união</p><p>da educação e da vida, de modo que não seja necessário</p><p>um ideal, ou a definição de um ideal tal que a vida real não</p><p>seja necessária” nos revela que passa a ter importância a</p><p>realidade individual e social dos indivíduos, e não aquilo no</p><p>que poderiam se tornar em termos de homem ideal. Em suma,</p><p>o que conta é a formação social, a liberdade de expressão e</p><p>crítica, comprometimento e esforços pessoais e a formação de</p><p>homens livres.</p><p>5. Não seria correto afirmar que Durkheim, responsável pela</p><p>tradição francesa, tenha difundido a ideia de que não cabe</p><p>à educação a transmissão do patrimônio cultural de uma</p><p>geração para outra. Sua ideia era justamente o contrário, a</p><p>educação é um fato social e lhe cabe o papel de transmissão</p><p>do patrimônio cultural.</p><p>160</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Unidade 2</p><p>1. Se você identificou que a palavra DESENVOLVIMENTO está em todas</p><p>as definições e que processos educativos só fazem sentido quando se</p><p>pensa no desenvolvimento das pessoas, você está no caminho certo.</p><p>2. Resultado da palavra cruzada.</p><p>9</p><p>3 A 11</p><p>F 7 U H 12</p><p>I 4 F T I D</p><p>N C 6 I O S I</p><p>S I 5 P N E P 8 N 10 T G 14</p><p>- D C R A D E L O C O N 13 I</p><p>2 S A R O L U D I M U R I V N 15</p><p>1 M O D I F I C A B I L I D A D E</p><p>U C A T E S A G E A T C A L I T</p><p>N I N I S T Ç O R U O D O V I</p><p>D A I C S I Ã G D R E R I C</p><p>O I A O O C O I A A E D A</p><p>S R A A D S U</p><p>E E O</p><p>S</p><p>3. Mitos e desafios:</p><p>a. Em um país grande, com tantas diferenças, não dá para ter escolas de</p><p>boa qualidade para todos – MITO.</p><p>Realidade: Há países tão grandes e tão diversos como o Brasil em que</p><p>as escolas são de boa qualidade, onde já se universalizou a educação</p><p>para todos. Ex: EUA, Alemanha. A diversidade, desde que acolhida e</p><p>considerada, pode ser enriquecedora.</p><p>b. Fica difícil exigir melhor qualidade na escola pública porque ninguém</p><p>paga – MITO.</p><p>Realidade: A escola pública é paga – são nossos impostos. A exigência</p><p>e participação têm de ser grande e de todos – questão de cidadania.</p><p>Não é difícil exigir porque ninguém paga, mas, sim, porque a ideia de</p><p>“público” no Brasil não está ligada à ideia de comunitário, e não há</p><p>historicamente a ideia do cidadão.</p><p>161</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>c. Criança pobre vai à escola somente para merendar – MITO.</p><p>Realidade: Como se justifica a criança permanecer tantos anos como</p><p>repetente? As falas em entrevistas e documentos sobre o que a criança</p><p>e a família de classe popular esperam da escola desmentem esta</p><p>afirmação. Os meninos vão à escola para aprender, para ser alguém na</p><p>vida. Com a irregularidade da entrega da merenda, caso fosse essa a</p><p>única e/ou principal motivação, as crianças não iriam mais à escola.</p><p>d. Aluno só respeita professor durão e que reprova muito – MITO.</p><p>Realidade: Faz parte da ideologia autoritária identificar respeito com</p><p>autoritarismo, dureza. O aluno respeita o professor que se respeita</p><p>e respeita o aluno. Reconhecer os diferentes papéis e vivê-los com</p><p>autenticidade é extremamente importante. Se o professor e o aluno</p><p>exercem sua mútua competência de ensinar e de aprender, existe</p><p>respeito.</p><p>e. Menino com fome não aprende – MITO.</p><p>Realidade: Aprende sim, ele pode ter</p><p>seu nível de atenção diminuído,</p><p>mas sua capacidade de aprender não se modifica. Isso é usado como</p><p>justificativa para não ensinar.</p><p>f. Não podemos fazer nada para melhorar a escola enquanto o professor</p><p>não tiver melhores salários – MITO.</p><p>Realidade: A crise da escola é constituída por fatores intraescolares e</p><p>extraescolares. Não há dúvida de que professores mal-remunerados</p><p>e desprestigiados não rendem tudo que podem. Mas, por outro lado,</p><p>muito poderia estar acontecendo na escola: a relação na sala de aula</p><p>poderia ter outra qualidade, a frequência, cumprimento de horário</p><p>etc. O compromisso com o aluno e a responsabilidade de ensinar bem</p><p>não podem variar de acordo com o salário. Aumentos significativos de</p><p>salários não garantem, sozinhos, a melhoria do ensino. Ou se é ou não</p><p>se é educador.</p><p>g. Tem gente que não adianta, não tem jeito para o estudo – MITO.</p><p>Realidade: Conforme recentes pesquisas sobre o cérebro, todos têm</p><p>aptidão para aprender. Esta é uma característica da espécie humana.</p><p>Uns podem gostar mais outros menos de atividades intelectuais, mas</p><p>aprender todos podem. Não é questão do jeito de quem aprende, mas</p><p>do jeito como se provoca essa aprendizagem.</p><p>h. No fundo, no fundo, aluno só vai à escola porque precisa do certificado</p><p>– MITO.</p><p>Realidade: O aluno vai à escola para aprender. É lógico que essa</p><p>aprendizagem deve facilitar a vida do indivíduo e possibilitar a sua</p><p>sobrevivência, o seu sucesso. O certificado é como um atestado, uma</p><p>garantia dada ao aluno e à sociedade. No caso da nossa, ele serve</p><p>também para demarcar níveis e consolidar diferenças sociais.</p><p>162</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Quando a escola não é boa, almeja-se pelo menos o certificado. Este</p><p>mito é, portanto, decorrência de uma situação de falta de qualidade.</p><p>i. Bom aluno é aquele que tira nota boa – MITO.</p><p>Realidade: Bom aluno é o que aprende, é o que lê, é o que questiona,</p><p>é o que se percebe sujeito da história. A nota boa nem sempre traduz</p><p>esse comportamento. Em geral, crianças e adolescentes questionadores</p><p>são rotulados de problemáticos.</p><p>j. Menino pobre sai logo da escola para ajudar a família – MITO.</p><p>Realidade: As pesquisas mostram que as taxas de permanência na</p><p>escola são muitíssimo mais altas que as de evasão. Estudo feito por</p><p>Darcy Ribeiro mostra que as crianças de classe popular levam em média</p><p>seis anos na escola (repetindo o ano) antes de sair. (Fonte: SERRÃO,</p><p>Margarida. Aprendendo a ser e a conviver. São Paulo: FTD, 1999.)</p><p>Reflita sobre as realidades colocadas. Você já ouviu alguns dos mitos</p><p>relacionados sendo defendidos como realidade? Quantos outros talvez?</p><p>Lembre-se: ideologicamente muitos mitos são criados para justificar e</p><p>reforçar as desigualdades sociais. Como educadores precisamos analisar</p><p>criticamente e romper com mitos, estereótipos e preconceitos.</p><p>Unidade 3</p><p>Comentários: Tenho certeza de que a sua reflexão abordou o</p><p>conhecimento, grande capital da humanidade, como sendo básico</p><p>para a sobrevivência de todos. Aqui a referência é o autor Moacir</p><p>Gadotti, mas este conceito abrange muitos outros autores e a própria</p><p>observação da atual realidade tecnológica. Conhecer, viver e sobreviver</p><p>se tornaram sinônimos. O trabalho do educador deve considerar estas</p><p>questões, não cabe mais “passar conteúdos” mas ajudar a conhecer e</p><p>a refletir sobre como utilizar esses conhecimentos, partindo sempre</p><p>da realidade dos educandos. É preciso que o educando, a partir da sua</p><p>vivência, da sua realidade local, possa entender causas e consequências</p><p>do mundo globalizado.</p><p>163</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 4</p><p>Comentários: Se você respondeu que já aprendeu muito enquanto</p><p>ensinava, se registrou muito do que a experiência já lhe ensinou e</p><p>que muitas das lições de Paulo Freire, que auxiliaram a sua reflexão,</p><p>já fazem parte da sua prática, sua caminhada rumo ao pedagogo</p><p>profissionalmente comprometido com a realidade social já iniciou.</p><p>Se você ainda não atuou como docente e por isso não realizou a</p><p>atividade, releia o texto assim mesmo pois ele será de grande valia</p><p>na sua caminhada. É impossível ler Paulo Freire sem repensar valores,</p><p>conceitos e prática. Socialize seus escritos com os colegas, troque ideias,</p><p>amplie suas leituras.</p><p>Unidade 5</p><p>A preocupação com os tipos de analfabetismo citados por Assmann</p><p>deve provocar a nossa indignação e nos auxiliar a refletir sobre o nosso</p><p>meio social. Pense em sua comunidade, quanto pode verificar de</p><p>verdade no que leu e como pode contribuir para melhorar? Lembre-se</p><p>a solução para os problemas atuais é de todos nós! E os eixos propostos</p><p>pela Unesco, que não são milagrosos, mas resumem as necessidades</p><p>emergentes para a formação do cidadão sem os analfabetismos citados</p><p>precisam chegar ao dia a dia da prática docente, e para isso é necessário</p><p>comprometimento e profissionalização.</p><p>Unidade 6</p><p>Espero que a leitura do texto “Ninguém nasce feito: é experimentando-</p><p>nos no mundo que nós nos fazemos” de Paulo Freire e a apreciação do</p><p>filme Musica do coração tenha sido proveitosa e importante para a sua</p><p>reflexão. Que o seu “vir a ser” professor/pedagogo/educador percorra</p><p>um caminho de respeito, justiça, crença, dedicação e reconhecimento.</p><p>Biblioteca Virtual</p><p>Veja a seguir os serviços oferecidos pela Biblioteca Virtual aos</p><p>alunos a distância:</p><p>� Pesquisa a publicações on-line</p><p>� Acesso a bases de dados assinadas</p><p>� Acesso a bases de dados gratuitas selecionadas</p><p>� Acesso a jornais e revistas on-line</p><p>� Empréstimo de livros</p><p>� Escaneamento de parte de obra*</p><p>Acesse a página da Biblioteca Virtual da Unisul, disponível no EVA,</p><p>e explore seus recursos digitais.</p><p>Qualquer dúvida escreva para: bv@unisul.br</p><p>* Se você optar por escaneamento de parte do livro, será lhe enviado o</p><p>sumário da obra para que você possa escolher quais capítulos deseja solicitar</p><p>a reprodução. Lembrando que para não ferir a Lei dos direitos autorais (Lei</p><p>9610/98) pode-se reproduzir até 10% do total de páginas do livro.</p><p>http://www.unisul.br/textocompleto</p><p>http://www.unisul.br/textocompleto</p><p>http://www. unisul.br/bdassinadas</p><p>http://www.unisul.br/bdgratuitas</p><p>http://www.unisul.br/bdgratuitas</p><p>http://www. unisul.br/periodicos</p><p>http://www. unisul.br/periodicos</p><p>http://www. unisul.br/emprestimos</p><p>http://www. unisul.br/emprestimos</p><p>mailto:bv%40unisul.br?subject=</p><p>capa_introducao_a_pedagogia_curvas.pdf 1 03/07/12 14:25</p><p>Apresentação</p><p>Palavras da professora...</p><p>Plano de estudo</p><p>Pedagogia e Pedagogos: O que nos Revela o Passado?</p><p>Pedagogia e Pedagogos: O Contexto Social como Cenário</p><p>Pedagogia e pedagogos: O Encontro (ou não) da Educação com a Escola</p><p>Pedagogia e Pedagogos: A Construção Histórica do Cenário Brasileiro</p><p>Pedagogia e Pedagogos: O que nos Cobra o Presente?</p><p>Pedagogia e Pedagogos: Desafios e Buscas</p><p>Para concluir o estudo</p><p>Referências</p><p>Sobre a professora conteudista</p><p>Respostas e comentários das</p><p>atividades de autoavaliação</p><p>Biblioteca Virtual</p><p>pensou a Pedagogia, está acompanhando e compreendendo</p><p>esta nossa primeira seção.</p><p>Por definição, como bem reforça Libâneo (1996), a</p><p>pedagogia é uma ciência, inserida no conjunto das</p><p>ciências da educação, com a responsabilidade de</p><p>investigar os problemas educativos, para viabilizar</p><p>um tratamento global e intencional. E é através de</p><p>conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-</p><p>profissionais que a pedagogia busca a explicitação</p><p>de objetivos e formas de intervenção metodológica</p><p>na atividade educativa responsável pelo processo de</p><p>transmissão e apropriação de saberes e modos de agir.</p><p>20</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Na busca pelas raízes da Pedagogia, convém lembrar que a</p><p>educação como prática social esteve sempre em processo de</p><p>contínuas mudanças e construiu sua história paralelamente aos</p><p>modelos de sociedade, através dos diversos povos e épocas. Assim</p><p>como a educação tem sua história, a pedagogia também a tem.</p><p>Você deve estar se perguntando: mas são duas</p><p>histórias? Como? Se Pedagogia e Educação não se</p><p>separam a história de ambas não seguiu o mesmo</p><p>percurso?</p><p>Observe que, sem considerar uma total independência, visto</p><p>que os caminhos se encontram a partir de determinado tempo</p><p>histórico, estudar a história da educação implica retomar a</p><p>própria história do homem e da sociedade, adentrando em épocas</p><p>em que as ideias pedagógicas não eram cogitadas ou sobre as</p><p>quais não se tem notícia.</p><p>Partindo do princípio de que a pedagogia encontra aporte em</p><p>ideias e ideais educacionais, teorias e teóricos da educação, sua</p><p>história, comparando-se à história da educação, é relativamente</p><p>recente, pois somente teve início com a reflexão filosófica, ou</p><p>seja, com o pensamento helênico de Sócrates (470-399 a.C.) e</p><p>Platão (428-348 a.C.), filósofos gregos, sendo o primeiro mentor</p><p>do segundo que foi responsável pela difusão de suas ideias.</p><p>Platão fundou a Academia, chamada mais tarde de Escola de</p><p>Atenas, que floresceu durante mais de 900 anos e é considerada</p><p>a primeira universidade. Não é proposta desta disciplina adentrar</p><p>as ideias filosóficas de Sócrates e Platão, por certo você as</p><p>retomará no decorrer de seu curso.</p><p>21</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>Figura: A Escola de Atenas</p><p>Fonte: Paterline e Furuya (2002).</p><p>O que nos cabe reforçar é que, a iniciar pelo próprio termo</p><p>pedagogia, vamos encontrar suas raízes na Idade Antiga, mais</p><p>precisamente na Grécia.</p><p>Etimologicamente, a palavra pedagogia deriva de</p><p>dois termos da Grécia antiga: “paidagogia” – que</p><p>significava acompanhamento e vigilância do jovem</p><p>– e “paidagogo” – condutor da criança ou escravo</p><p>que guiava a criança para o local da relação ensino-</p><p>aprendizagem.</p><p>Este, além de um instrutor, era um condutor responsável pela</p><p>melhoria da conduta geral da criança nos aspectos moral e</p><p>intelectual que a levava a lugares específicos (didascaleia – escola</p><p>de primeiras letras) para o ensino de idiomas, de gramática e</p><p>cálculo e para o Ginásio (Gymnásion) para a educação corporal.</p><p>As raízes da Pedagogia estão, portanto, plantadas na</p><p>Antiguidade e o seu desenvolvimento seguiu pela reflexão de</p><p>correntes diversas do pensamento filosófico que você vai estudar</p><p>na próxima seção.</p><p>22</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Para relembrar!</p><p>Os 5 grandes períodos históricos</p><p>Período histórico Intervalo de tempo</p><p>Pré-História até 4.000 a.C.</p><p>Antiguidade, ou Idade Antiga 4.000 a.C. até 476</p><p>Idade Média 476 até 1453</p><p>Idade Moderna 1453 até 1789</p><p>Idade Contemporânea 1789 até os dias atuais</p><p>Fonte: LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 18. ed. São Paulo: Nacional,</p><p>1990.</p><p>É importante você ter presente que essa divisão da história em</p><p>períodos é bastante tradicional, porém ela ainda é adotada com o</p><p>objetivo de facilitar o estudo da história humana.</p><p>Para ressaltar!</p><p>As obras fundamentais da Pedagogia</p><p>Título Autor</p><p>Educação do orador Quintiliano</p><p>Tratado do ensino Vives</p><p>Didática Magna Comenius</p><p>Emilio Rousseau</p><p>Como Gertrudes instrui a seus filhos Pestalozzi</p><p>Pedagogia Geral Herbart</p><p>A educação do homem Froebel</p><p>Democracia e educação Dewey</p><p>Fonte: LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia. 18. ed. São Paulo: Nacional, 1990.</p><p>23</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>Seção 2 – Pedagogia e as grandes correntes filosóficas</p><p>A seção que você está iniciando, numa continuidade da anterior,</p><p>mantém a inserção no passado da Pedagogia, nas evidências de</p><p>sua construção. Se na seção anterior observamos que a educação</p><p>está necessariamente relacionada à sociedade e que esta diz</p><p>respeito ao homem, na história vamos encontrar pensamentos</p><p>divergentes sobre como deve ser esse homem e essa educação. E</p><p>foi assim que a Pedagogia seguiu duas tendências fundamentais,</p><p>cada qual correspondendo a uma grande corrente do pensamento</p><p>filosófico: pedagogia da essência e pedagogia da existência, cada</p><p>uma das quais concebia um tipo de homem.</p><p>Vamos analisar cada uma dessas correntes?</p><p>1 – Pedagogia da essência – baseada na essência do homem,</p><p>inspirada na filosofia racionalista de Platão, defende a concepção</p><p>do homem ideal. Determinava que o papel da educação era</p><p>conduzir o homem à descoberta da prática verdadeira e ideal. A</p><p>educação verdadeira auxiliaria as forças do outro mundo que o</p><p>homem tem em si.</p><p>O Cristianismo manteve, transformou e desenvolveu</p><p>a concepção platônica defendendo que a educação</p><p>deveria ligar o homem à sua verdadeira pátria, a pátria</p><p>celeste, destruindo tudo o que o prende a existência</p><p>terrestre.</p><p>São Tomás de Aquino conservou a tese principal da pedagogia</p><p>da essência opondo-se aos aspectos excessivos de interpretação</p><p>ascética. Negando as ideias inatas como reserva sempre disponível</p><p>do espírito do conhecimento, considerou que o ensino era uma</p><p>atividade em virtude da qual os dons potenciais se tornam</p><p>realidade. Definiu essas atividades como regras estabelecidas nas</p><p>Santas Escrituras, no apelo de Cristo para o ensino de todos os</p><p>povos. Formar a natureza corrompida do homem significa seguir</p><p>os ideais, autoritários e dogmáticos, do bem e da verdade, estando</p><p>seu êxito ligado à graça da Previdência.</p><p>24</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Figura 1.3: São Tomás de Aquino</p><p>Fonte: São Tomás... ([20--]).</p><p>A época do Renascimento, apesar do desenvolvimento da pedagogia</p><p>da essência, viu nascer concepções de educação absolutamente</p><p>opostas, que questionavam a autoridade da Igreja e o seu direito de</p><p>ditar normas para direcionar a atividade humana. Pôs em questão,</p><p>também, o próprio princípio da autoridade ao qual o homem devia</p><p>submeter-se. A força desses questionamentos levou ao dilema:</p><p>O homem deve ir buscar em si próprio o sentido da sua</p><p>fé e as normas da sua vida?</p><p>Foi claramente formulada durante o Renascimento a ideia de que</p><p>o homem é homem porque pode ser tudo e que a individualidade</p><p>é uma forma preciosa de realização da essência humana. Foi um</p><p>período de grandes transformações sociais, de revoltas em nome da</p><p>vida e de novos conceitos do homem. Estabeleceu-se uma grande</p><p>controvérsia: qual deve ser o alcance da renovação da educação?</p><p>Limitar-se a métodos para inculcar conteúdos impostos ou incluir a</p><p>crítica? Conceber a educação como instrumento para dar vida a algo</p><p>de ideal ou como função da vida? Surge, então, uma nova corrente,</p><p>contrapondo-se à pedagogia da essência, a pedagogia da existência,</p><p>levando a efeito discussões que prosseguiram por todo século XVII.</p><p>25</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>2 – Pedagogia da existência – pedagogia baseada na existência</p><p>do homem, toma o homem como ele é e não como deveria ser.</p><p>Surgiu durante o Renascimento a partir dos</p><p>pensamentos de revolta contra a pedagogia da</p><p>essência e desenvolveu-se no século XVII.</p><p>Vários filósofos acompanharam a linha de pensamento da</p><p>pedagogia da existência, direcionando seus estudos para</p><p>diferentes pontos de vista. Numa evolução lenta, acompanharam</p><p>as mudanças da sociedade, defenderam valores e correntes de</p><p>pensamentos peculiares aos interesses de cada época, chegando</p><p>a uma concepção moderna,</p><p>na qual, apesar das divergências,</p><p>efetuava-se uma conexão entre as duas pedagogias, preconizando</p><p>uma educação voltada para o futuro.</p><p>Nessa pedagogia moderna acontece a união da</p><p>educação e da vida, de modo que não seja necessário</p><p>um ideal ou a definição de um ideal tal que a vida real</p><p>não seja necessária.</p><p>Define como fundamental a formação social, a liberdade de</p><p>expressão e crítica, comprometimento e esforços pessoais. Determina</p><p>como competência da pedagogia contemporânea a realização de um</p><p>programa capaz de tornar os homens mais livres e melhores.</p><p>Ilustração</p><p>A consciência humana (o para si) é inquieta, ativa e aberta à experiência,</p><p>mas sem conteúdo inerente; procuramos e nos esforçamos, em busca</p><p>de “projetos” que tanto nos ocupam quanto nos definem. O mundo das</p><p>coisas (o em si), ao contrário, pode ser inerte e contingente, mas também</p><p>é autosuficiente e completo, cada objeto contendo sua própria essência.</p><p>Nossas interações com o mundo exterior – possuir, usar, consumir ou</p><p>controlá-lo – e nossas relações semelhantes com outras pessoas são</p><p>tentativas de captar o “em si”, descobrir uma essência e se completar.</p><p>Contudo, o em si pode tornar-se uma influência excessiva; alguém</p><p>absorto no mundo, evitando responsabilidade pessoal e opções ativas, é</p><p>como um objeto, inconsciente e impotente, vivendo na má fé.</p><p>SARTRE</p><p>(Fonte: Rohmann, 2000)</p><p>26</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Seção 3 – Pedagogia e ciências da educação</p><p>Você acompanhou no resgate das raízes da Pedagogia que ela se</p><p>define a partir da ação educativa; que Educação e Pedagogia são</p><p>inseparáveis; que a educação é um fato da vida social e individual</p><p>possível de ser investigado e avaliado; e que a pedagogia é</p><p>a ciência responsável por essa investigação. Percebeu que a</p><p>pedagogia se orienta por ideias e ideais educacionais, teorias e</p><p>teóricos da educação desde a época de Sócrates e Platão e que,</p><p>historicamente, seguiu duas tendências fundamentais, cada qual</p><p>correspondendo a uma grande corrente do pensamento filosófico.</p><p>A pedagogia da essência, que defende o homem</p><p>ideal, e a pedagogia da existência, que toma o</p><p>homem como ele é, e não como deveria ser.</p><p>Nesta terceira seção, vamos acrescentar a este estudo de introdução</p><p>à pedagogia relatos da história sobre as ciências da educação</p><p>que contribuíram para formação do pensamento pedagógico na</p><p>modernidade através de nomes, ideias, ideais e fatos históricos.</p><p>Alerto novamente que cabe a esta disciplina sintonizar você com os</p><p>fundamentos da Pedagogia. Ela é introdutória, portanto não serão</p><p>aprofundados conceitos sobre as ciências e os pensadores, o que</p><p>ocorrerá no tempo certo com tantas outras disciplinas do seu curso.</p><p>Vamos à análise das tradições da Pedagogia nos</p><p>tempos modernos?</p><p>A Pedagogia nos tempos modernos é analisada sob três</p><p>importantes tradições: a francesa, a alemã e a americana. Cada</p><p>tradição traz no trabalho de seus pensadores os fundamentos da</p><p>pedagogia alicerçados em diferentes ciências da educação.</p><p>Numa primeira tradição, a história nos revela a tradição</p><p>francesa, representada por Émile Durkheim, defensor de que as</p><p>teorias da educação deveriam seguir principalmente a Sociologia,</p><p>pois a ela caberia propor os fins. Para Durkheim, a educação</p><p>é um fato social com o objetivo de transmissão do patrimônio</p><p>cultural de uma geração para outra. A Pedagogia para ele assume</p><p>um caráter utópico de contestação da educação em vigor.</p><p>27</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>A tradição alemã aparece em segundo, representada pela figura de</p><p>Herbart, teórico que não separa ciência e Pedagogia, considerado</p><p>como formulador da ideia de Pedagogia como ciência da educação</p><p>e que defendia que os seus fundamentos estão na Psicologia.</p><p>Na figura de Dewey, vamos encontrar como terceira a tradição</p><p>americana. Dewey não separa pedagogia de filosofia e defendia</p><p>que Pedagogia, Filosofia e Filosofia da Educação se tornam em</p><p>alguma medida sinônimos.</p><p>Nos tempos contemporâneos, muitos teóricos</p><p>continuam utilizando o termo Pedagogia como utopia</p><p>educacional, como ciência da educação e como</p><p>filosofia da educação.</p><p>Os teóricos da Pedagogia nos tempos modernos estruturaram</p><p>suas teorias a partir dos modos de pensar a criança e da</p><p>preocupação com a sua educação.</p><p>Antes do século XVI a criança para a sociedade não existia, era</p><p>tratada com indiferença, era considerada um adulto em miniatura,</p><p>homúnculo, seu mundo era o dos adultos. A infância era considerada</p><p>uma fase sem importância e a sobrevivência das crianças era tão</p><p>problemática que o sentimento de aceitação de sua morte era comum.</p><p>Áriès em seu livro A História Social da Criança e da</p><p>Família, nos deixa muito claro, que “o sentimento</p><p>instalado de que se faziam varias crianças para</p><p>conservar apenas algumas era e durante muito</p><p>tempo permaneceu muito forte.” As pessoas não se</p><p>apegavam muito a algo que eventualmente perderiam,</p><p>o sentimento era de apego ou paparico semelhante ao</p><p>que hoje se teria a um animalzinho doméstico, reforça.</p><p>Do século XVI em diante, pelo menos entre os homens de</p><p>letras (estudiosos), as crianças tornaram-se objetos de discursos</p><p>rudimentares. Defendendo um comportamento mais racional</p><p>em relação a elas, destaca-se Montaigne que era contra a</p><p>paparicação, reconhecia a criança como ser diferente do adulto e</p><p>defendia a necessidade de uma disciplina racional para formar o</p><p>adulto responsável.</p><p>28</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>A partir daí, surge a escola para cuidar dessa função disciplinar</p><p>e instrutiva, de certa forma parecida com a que se tem hoje:</p><p>um local com divisões internas para estudo e lazer, dividida em</p><p>séries, considerando idade e dificuldade do conteúdo do ensino.</p><p>A teoria do “humúnculo” – criança é apenas um homem pequeno</p><p>- começa a perder espaço e cresce a ideia da singularidade da vida</p><p>mental e afetiva da criança, disseminando-se a noção de infância.</p><p>No século XVIII, a ideia de criança já está mais bem estabelecida</p><p>e disseminam-se estudos de melhor estruturação da noção de</p><p>infância, destacando-se o trabalho de Rousseau. Para ele, na</p><p>infância estamos de posse do melhor de nós de modo que cultivar</p><p>a infância poderia trazer melhores frutos.</p><p>Em sua obra Emílio ou da Educação (1762), defendia</p><p>que era preciso cultivar a criatividade não atrelada ao</p><p>convencional ou social.</p><p>Nesse século, a ciência entrava para o cenário da vida cotidiana,</p><p>assuntos científicos eram discutidos nas reuniões sociais; os nomes</p><p>dos cientistas eram conhecidos e citados com admiração. As ciências</p><p>que estudam o homem passaram a empregar os métodos utilizados</p><p>pelas ciências da natureza: observação dos fatos e comprovação</p><p>experimental, procurando sistematizar todos os conhecimentos.</p><p>Os dois momentos: século XVI com Montaigne e século XVIII</p><p>com Rousseau lançaram as bases para a construção da ideia de</p><p>infância e fortaleceram-na como etapa que necessita de uma</p><p>educação sem desastres. A partir daí a escola foi reorganizada</p><p>para ser o mundo da criança, e a sociedade passou a ser educada</p><p>para mandar as crianças para a escola.</p><p>Figura 1.4: Jean-Jacques Rousseau</p><p>Fonte: Perroud ([2001?]).</p><p>29</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>No início do século XX, a Pedagogia se redefine diante das</p><p>tendências do pensamento pedagógico de unir ensino e trabalho.</p><p>Assim refletem:</p><p>� Durkheim – a educação escolar, potencializando a</p><p>diversificação profissional, colabora com a harmonia</p><p>e a conservação da vida social. Colaboração mútua</p><p>entre trabalho e escola contribui para a manutenção</p><p>da vida social.</p><p>� Dewey – dissemina a noção de “ocupações ativas”,</p><p>privilegiando o interesse do educando, entendendo-as</p><p>como experimento científico.</p><p>Dewey entende que o trabalho se introduz na própria</p><p>alma da vida escolar e da Pedagogia, revigorando a</p><p>educação.</p><p>Nesse contexto, a noção de infância é alterada, ela se transforma</p><p>em conceito científico. Sua identidade como ser infantil passa a</p><p>ser definida científica e tecnicamente: seus gostos, seus interesses,</p><p>formas de pensamento, emoções</p><p>etc. são criteriosamente estudados</p><p>principalmente pela Psicologia e pela Sociologia fornecendo</p><p>subsídios para a Pedagogia. O trabalho, em suas conotações</p><p>amplas, passa a ser considerado elemento inerente à vida infantil. A</p><p>Pedagogia se apresenta como pedagogia do trabalho.</p><p>Nessa época, despontam as contribuições de Piaget que defende os</p><p>princípios da escola ativa – Pedagogia Nova – preconizando que</p><p>a escola deve levar a criança a não somente escutar, mas a fazer e</p><p>a falar, provocando mudanças na didática até então empregada no</p><p>desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.</p><p>30</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>O termo Didática teve origem:</p><p>� na Grécia antiga: didascaleia – escola; didasco –</p><p>ensinar; didáxis – lição.</p><p>� período moderno - Comenius:</p><p>» escreveu a Didactica Magna (1630);</p><p>» defendeu a ideia de que é possível ensinar tudo a todos;</p><p>» colocou a didática como uma arte, que oscila</p><p>entre disposição do professor e um conjunto de</p><p>regras e técnicas.</p><p>A Pedagogia diz respeito, em geral, à teoria da</p><p>educação, enquanto a didática diz respeito aos</p><p>procedimentos que visam fazer a educação acontecer</p><p>segundo os princípios extraídos da teoria.</p><p>A didática do século XX encontra aporte nas teorias de Herbart</p><p>e Dewey. De forma comparativa, você pode observá-las na</p><p>sequência mostradas em cinco passos.</p><p>A aula seguindo a didática de Herbart deve ser assim organizada:</p><p>1. preparação: recorda assunto da aula anterior;</p><p>2. apresentação: nova lição;</p><p>3. associação: analisando problemas resolvidos, propõe</p><p>resolução de novos problemas;</p><p>4. generalização: mostrar aplicação das diversas regras</p><p>recém-aprendidas;</p><p>5. aplicação: trabalho com resolução de problemas</p><p>semelhantes aos da aula dada, incluindo aqui o objetivo</p><p>de verificar aprendizagem.</p><p>31</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>A didática herbatiana centra-se no professor, que domina o</p><p>saber e deve transmiti-lo, privilegia o resultado da aprendizagem</p><p>enquanto apreensão de conhecimentos e é considerada tradicional.</p><p>Na didática de Dewey, o processo de aprendizagem deve ser</p><p>assim organizado:</p><p>1. atividade: professor propõe trabalhos de diversas ordens;</p><p>2. problema: as curiosidades e questões são recolhidas pelo</p><p>professor, que as coloca na forma de problemas teóricos;</p><p>3. coleta de dados: para resolver tais problemas alunos e</p><p>professor devem recorrer à pesquisa;</p><p>4. hipótese: alunos e professor podem conjecturar soluções</p><p>para o problema;</p><p>5. experimentação: quando for o caso, experimentar</p><p>as hipóteses selecionadas.</p><p>A didática deweyana centra-se no aluno. Os alunos devem participar</p><p>ativamente da formulação e solução dos problemas. O próprio</p><p>processo faz parte do que deve ser assimilado pelo aluno, o que se</p><p>envolve na proposta de Pedagogia Nova – aprender a aprender.</p><p>Aqui você encerra os estudos desta Unidade. Siga em frente</p><p>realizando as atividades de autoavaliação. Bons estudos!</p><p>32</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Síntese</p><p>No resgate de significados e raízes da Pedagogia, você observou</p><p>que não é possível definir Pedagogia sem relacioná-la com a</p><p>educação, pois sua construção histórica se dá a partir da ação</p><p>educativa. São inseparáveis, embora a Pedagogia esteja voltada</p><p>para a reflexão e a educação para a ação. Também observou</p><p>que a educação é um fato da vida social e individual possível de</p><p>ser investigado e avaliado a partir de conceitos e proposições e</p><p>que a Pedagogia é a ciência responsável por essa investigação,</p><p>orientando-se por ideias e ideais educacionais, teorias e teóricos</p><p>que iniciaram com a reflexão filosófica de Sócrates e Platão.</p><p>Historicamente, a Pedagogia seguiu duas tendências fundamentais,</p><p>cada qual correspondendo a uma grande corrente do pensamento</p><p>filosófico, quais sejam: pedagogia da essência e pedagogia da</p><p>existência. A primeira, baseada na essência do homem, defende a</p><p>concepção do homem ideal e determina que o papel da educação</p><p>é conduzir o homem à descoberta da prática verdadeira e ideal. A</p><p>segunda, baseada na existência do homem, toma o homem como</p><p>ele é e não como deveria ser. Surgiu contra a pedagogia da essência</p><p>e desenvolveu-se na defesa de valores e correntes de pensamentos</p><p>peculiares aos interesses de cada época, chegando a uma concepção</p><p>moderna unindo a educação com a vida.</p><p>Na última seção, você pôde observar que a Pedagogia na</p><p>modernidade é analisada sob três importantes tradições: a</p><p>francesa, a alemã e a americana. Émile Durkheim, da primeira</p><p>tradição, liga as teorias da educação com a Sociologia; Herbart,</p><p>da tradição alemã, defende a ligação da educação com a</p><p>Psicologia e Dewey, da tradição americana, não separa Pedagogia</p><p>de Filosofia. Todos os estudos da Pedagogia nos tempos</p><p>modernos foram estruturados a partir do gradativo crescimento</p><p>do modo de conceituar e de pensar sobre a criança, que, ao longo</p><p>dos tempos, passou da indiferença para o estabelecimento de</p><p>conceitos estruturados de infância e desenvolvimento infantil.</p><p>Junto com estes, a escola e a Pedagogia se estruturaram para uma</p><p>educação voltada para a realidade infantil.</p><p>33</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>Atividades de autoavaliação</p><p>Efetue as atividades de autoavaliação e, a seguir, acompanhe as</p><p>respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu</p><p>estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer</p><p>as atividades propostas.</p><p>1 - Você observou na primeira seção que para definir Pedagogia foi</p><p>preciso antes associá-la a educação e sociedade. Identifique por que e</p><p>faça uma síntese desta relação.</p><p>2 - Entendendo que a etimologia é uma parte da gramática que trata</p><p>da origem e da formação das palavras, afirma-se que etimologicamente</p><p>a palavra pedagogia originou-se das palavras paidagogia e paidagogo,</p><p>que na Grécia antiga significavam respectivamente:</p><p>a. ( ) ciência da educação e educador.</p><p>b. ( ) acompanhamento e vigilância / educador.</p><p>c. ( ) acompanhamento e vigilância / condutor da criança ou escravo</p><p>que guiava as crianças à escola.</p><p>d. ( ) condutor da criança ou escravo que guiava as crianças à escola /</p><p>acompanhamento e vigilância.</p><p>e. ( ) todas as alternativas estão corretas.</p><p>34</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>3 - O filósofo e escritor contemporâneo Jean Paul Sartre (França 1905-</p><p>1980) sintetizou seu pensamento sobre as correntes filosóficas na frase:</p><p>a existência precede a essência. Com base no texto, analise a frase de</p><p>Sartre sob o seu ponto de vista. Registre a seguir a sua opinião.</p><p>4 - Na seção 2 está a afirmativa de que na “pedagogia moderna acontece</p><p>a união da educação e da vida, de modo que não seja necessário um</p><p>ideal ou a definição de um ideal tal que a vida real não seja necessária”.</p><p>Interprete essa afirmação registrando a seguir o seu parecer.</p><p>5 - A Pedagogia, nos tempos modernos, segue três tradições: a 1a –</p><p>francesa, a 2a - alemã, e a 3a - americana. Devem-se essas tradições às</p><p>contribuições de três pensadores que, embora de origens diferentes,</p><p>marcaram profundamente a história da Pedagogia. Sobre esses</p><p>pensadores não seria correto afirmar que:</p><p>a. ( ) Durkheim é responsável pela tradição francesa e pela difusão da</p><p>ideia de que não cabe à educação a transmissão do patrimônio</p><p>cultural de uma geração para outra.</p><p>b. ( ) Herbart, responsável pela tradição alemã, não separa ciência e</p><p>Pedagogia – formulador da ideia da pedagogia como ciência da</p><p>educação.</p><p>c. ( ) Dewey, da tradição americana, defende que Pedagogia, Filosofia</p><p>e Filosofia da Educação tornam-se em alguma medida sinônimos.</p><p>35</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 1</p><p>Saiba mais</p><p>Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você</p><p>poderá pesquisar os seguintes livros:</p><p>ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed.</p><p>Rio de Janeiro: Zahar, 1981.</p><p>CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo:</p><p>UNESP, 2002.</p><p>GHIRALDELLI JR, Paulo. O que é Pedagogia? São Paulo:</p><p>Brasiliense, 1996. (Coleção Primeiros Passos).</p><p>LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação e da pedagogia.</p><p>2. ed. São Paulo: Nacional, 1963.</p><p>ROHMANN,</p><p>Chris. O livro das ideias: pensadores, teorias</p><p>e conceitos que formam nossa visão de mundo. Rio de Janeiro:</p><p>Campus, 2000.</p><p>SUCHODOLSKI, Bogdan. A pedagogia e as grandes</p><p>correntes filosóficas. 2. ed., Lisboa: Horizonte, 1978.</p><p>2UNIDADE 2</p><p>Pedagogia e Pedagogos: O</p><p>Contexto Social como Cenário</p><p>Objetivos de aprendizagem</p><p>� Compreender os fundamentos da educação e</p><p>estabelecer relações com a prática pedagógica, bem</p><p>como entre Pedagogia e ideologia política.</p><p>� Apreender a relação entre prática pedagógica e</p><p>formação para a cidadania.</p><p>� Entender que a prática educativa está fundamentada</p><p>em princípios pedagógicos e político-ideológicos que</p><p>interferem no desenvolvimento humano e social.</p><p>Seções de estudo</p><p>Seção 1 Fundamentos da Educação e Pedagogia</p><p>Seção 2 Pedagogia e ideologia política</p><p>Seção 3 Intencionalidades da prática pedagógica</p><p>Seção 4 Educação e cidadania</p><p>38</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Para início de estudo</p><p>Você já parou alguma vez e se perguntou por que é que a gente tem</p><p>de aprender? E para que serve o que aprendemos? O que nos move</p><p>a querer aprender? Por que é que existem escolas ou outros espaços</p><p>organizados para educar? Ou mais, será que só aprendemos em</p><p>locais institucionalizados ou preparados para tal? E por que em</p><p>muitos espaços outros escolhem o que se deve aprender?</p><p>Bom, antes que você se pergunte “mas afinal estou iniciando</p><p>o curso para responder ou para obter respostas?”, vamos</p><p>combinar: procuraremos juntos algumas respostas mantendo</p><p>a rigor o benefício da dúvida que deverá instigá-lo a buscar,</p><p>principalmente em si mesmo, muitas respostas.</p><p>Seção 1 – Fundamentos da Educação e Pedagogia</p><p>Ao estudar os registros históricos da Pedagogia você percebeu</p><p>que ela foi se estruturando ao longo dos tempos. Nesta seção, o</p><p>estudo está voltado para uma análise filosófica dos fundamentos</p><p>e objetivos da educação. Lembre-se, continuamos falando da</p><p>educação no sentido amplo e não somente do ensino escolarizado.</p><p>Para abordar esses temas filosóficos, escolhemos sintetizar</p><p>os postulados de Roque Spencer Maciel de Barros (2000)</p><p>corroborando e complementando suas ideias.</p><p>Todos sabemos que a educação é possível e necessária porque o</p><p>homem pode se modificar e se transformar. Estamos falando da</p><p>transformação interior que faz do homem um ser histórico. A</p><p>vida do animal é hoje como foi há milhares de anos, entretanto</p><p>a do homem se transmuda permanentemente. O mundo animal</p><p>é o da natureza e o do homem é o da cultura. Ocorre na vida do</p><p>homem um enriquecimento em que cada momento do tempo</p><p>contém mais do que havia nos momentos anteriores.</p><p>39</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>Quando falamos em “modificabilidade” e “desenvolvimento”,</p><p>admitimos que o homem é livre para transcender a con dição</p><p>natural. O animal vive apenas o presente e o homem circula</p><p>no tempo, mantém na memória o passado e o revive e também</p><p>antecipa o futuro. O homem está compreendido na própria</p><p>essência do mundo, mas ao mesmo tempo dele se distingue e</p><p>se afasta transcendendo-o na medida em que tem consciência.</p><p>E é essa possibilidade de transcendência que fundamenta a</p><p>“modificabilidade” e o “desenvolvimento” humanos.</p><p>Poder transcender é ter liberdade de opção e de</p><p>escolha, é liberar-se de um “des tino pré-traçado”.</p><p>É a liberdade que possibilita e justifica a tarefa da educação.</p><p>Ser livre para mudar e desenvolver-se implica ação. Agir</p><p>exige fins, pois toda atividade humana é finalística, sempre se</p><p>objetiva realizar algo por algum motivo. Agimos como homens</p><p>conscientes em função da representação de alvos ou ideias que se</p><p>apoiam em valores.</p><p>Como reforça Barros, liberdade, modificabilidade,</p><p>desenvolvimento, valores, finalidade e, por trás de tudo isso,</p><p>temporalidade, sem pretender esgotar a lista, são categorias</p><p>existenciais básicas de conduta humana e, portanto, fundamentos</p><p>da educação. O exame dos fundamentos da educação nos conduz</p><p>aos fins e objetivos da educação.</p><p>A partir de dois pressupostos que marcam a filosofia ocidental,</p><p>acreditamos que seja possível esta belecer um fim, acima de todos</p><p>os outros, universalmente válido para a educação:</p><p>Pressuposto 1: crença na identidade da natureza</p><p>hu mana.</p><p>Pressuposto 2: identidade entre o bem, o belo e o</p><p>verdadeiro.</p><p>40</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>O segundo pressuposto está claramente manifesto na teoria</p><p>platônica das ideias. Ou seja, se é possível, mesmo que</p><p>extremamente difícil, chegar à verdade, e se o belo e o bem, isto</p><p>é, os valores, se identificam com o ser, quando encontramos a</p><p>verdade, automaticamente encontramos os valo res e os fins que</p><p>dela decorrem.</p><p>A identificação do verdadeiro, belo e bom sustenta a crença de</p><p>que é possível determinar fins e valores verdadeiros e, portanto,</p><p>universalmente válidos, distinguindo-os de outros falsos, que</p><p>devem ser renegados e afastados.</p><p>Foi justamente a busca desses fins universalmente válidos que</p><p>motivou os teóricos da educação ocidental. Não é nosso objetivo</p><p>adentrar na história da educação e esgotar a relação de autores,</p><p>entretanto, como exemplos, observemos alguns clássicos:</p><p>Comenius, Locke e Condillac. A proposta de cada um deles</p><p>aspirava a um ideal humano e propunha fins que se apresentavam</p><p>como se fossem perenes. Aqui se trata da formação do cristão,</p><p>ali do gentleman, mais adiante do príncipe – ou do súdito e dos</p><p>funcionários.</p><p>O que se observava era que, de acordo com os diferentes</p><p>interesses sociais, com as crenças diversas, com as preferências</p><p>pessoais, o fim da edu cação se deslocava, marcando com isso o</p><p>seu caráter eminentemente histórico. Explicar-se-ia, portanto,</p><p>a diversidade dos fins da educação como etapas ou momentos</p><p>necessários da evolução histórica, pois ora quer-se fazer do</p><p>homem um cristão, ora um herói, ora um súdito e assim por</p><p>diante. Entretanto, para além dessa diversidade, quer-se sempre</p><p>fazer do homem algo diferente do que ele é, se quer moldá-lo</p><p>a partir de um esquema exterior, em última instância, quer-se</p><p>subordinar o homem individual às cren ças e aos interesses sociais,</p><p>integrá-lo no grupo e torná-lo, de algum modo, eficiente para a</p><p>realização dos fins sociais.</p><p>Em resumo, as múltiplas proposições de fins de</p><p>educação pretendem sempre para o homem a sua</p><p>heteronomia, isto é, a subordinação da vontade e do ser</p><p>individual a um ideal exterior ao indivíduo que se educa.</p><p>41</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>Considerando os fins sociais da educação, podem ser elencados</p><p>como objetivos, sob uma perspectiva genérica: a formação ética;</p><p>o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento</p><p>crítico; a aquisição dos meios necessários para entender o mundo</p><p>em que vive e o momento histórico em que está situado; a</p><p>apropriação de condições para poder defender-se de influências</p><p>nocivas para a sua vida e para a comunidade a que pertence;</p><p>enfim, a preparação para o exercício da cidadania.</p><p>Analisando nosso momento histórico, atingir esses objetivos é</p><p>uma questão de sobrevivência e de defesa da dignidade humana.</p><p>Vivemos numa época em que os meios de comunicação,</p><p>sobretudo a televisão, tendem a tratar o homem como um</p><p>ser passivo e manipulável. A sociedade, como um todo, está</p><p>dominada por um hedonismo que substitui os valores pessoais</p><p>do homem e tende a transformá-lo num joguete, sujeito a</p><p>perder-se no vício das drogas, da violência, do sexo irrespon sável</p><p>e do consumo pelo consumo.</p><p>Lutar contra a banalização do homem e a sua submissão</p><p>significa tomar partido dos objetivos propostos. Caberá a</p><p>todos aqueles que se pretendam educadores e professores</p><p>colocá-los como meta preferencial, pois só assim estarão à</p><p>altura da responsabilidade pedagógica implícita na profissão e</p><p>na consciência esclarecida de educador.</p><p>Veja a ilustração a seguir e estabeleça uma reflexão com base no</p><p>que foi estudado nesta seção!</p><p>Figura 2.1: Charge Mafalda</p><p>Fonte: Quino. Toda a Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993.</p><p>Falar em consciência esclarecida implica definir e identificar</p><p>ideologias e isso será abordado</p><p>na próxima seção.</p><p>42</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Seção 2 – Pedagogia e ideologia política</p><p>Como todo sistema capitalista, a sociedade brasileira baseia-se</p><p>na legitimidade da propriedade privada dos meios de produção</p><p>e declara como princípio básico o poder exclusivo do capital e a</p><p>busca ilimitada do lucro. Caracteriza-se, portanto, por marcantes</p><p>desigualdades econômicas, políticas, sociais e culturais. Essas</p><p>desigualdades servem de suporte e facilitam ações injustas e</p><p>autoritárias. A não percepção do jogo ideológico do poder leva à</p><p>aceitação e ao conformismo.</p><p>Há muito tempo a educação vem sendo pensada e discutida como</p><p>contribuinte na afirmação da ideologia dominante. Então, analise</p><p>conosco, se de um lado a prática dos educadores vai interferir na</p><p>formação deste ou daquele cidadão, de outro lado, as ideologias</p><p>que permeiam as ações sociais vão interferir na prática deste ou</p><p>daquele educador.</p><p>Por ideologia, entendemos um conjunto de possíveis</p><p>pseudoverdades e valores que servem ou que perpetuam</p><p>privilégios para alguns e marginalizam outros.</p><p>Para Marx e Engels (apud Silva, 1986, p. 571), com base</p><p>no marxismo:</p><p>[...] as ideologias são formas de consciência falsa, são</p><p>sistemas de ideias distorcidas e enganadoras, baseadas</p><p>em ilusões – contrapondo-se às teorias ou opiniões</p><p>científicas. Assim, Marx escreve que a ideologia é</p><p>a consciência da realidade na qual “os homens e as</p><p>circunstâncias aparecem de cabeça para baixo, tal como</p><p>uma câmera obscura. Tais sistemas podem ser as regras</p><p>que fundamentam, por exemplo, o comportamento</p><p>moral, trabalho de uma igreja, uma estrutura política</p><p>ou legal. Apresentam-se também como pensamentos</p><p>e teorias sobre esses assuntos, diretrizes para as</p><p>situações sociais ou concepções sobre a estrutura social.</p><p>Manifestam-se ainda sob a forma de credos em que</p><p>se alicerçam tais avaliações, definições e, como diriam</p><p>os marxistas, as superestruturas, fenômenos mentais,</p><p>determinados ou regulados por classe, tais como a</p><p>linguagem e a moral.</p><p>43</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>Portanto, há ideologias de classes dominantes que contribuem</p><p>para privilegiar os que detêm o poder.</p><p>Mas o que tudo isso tem a ver com educação?</p><p>Tudo. Na medida em que a educação pretende o desenvolvimento</p><p>humano, a formação para o exercício da cidadania, ela se</p><p>compromete com modelos de homem. Ou educa para acatar e</p><p>tomar como verdadeiras determinadas ideologias ou para auxiliar</p><p>no desmascaramento destas. Todo educador “pratica” educação,</p><p>agimos pedagogicamente e interferimos de alguma forma na</p><p>formação de alguém.</p><p>Fala-se muito em educação democrática, e como educadores se torna</p><p>necessário estudar e refletimos sobre os pressupostos que emperram</p><p>e os que possibilitam as mudanças sociais, ou seja, precisamos</p><p>entender que as ideologias políticas podem induzir as relações sociais</p><p>e podem também contribuir para manter ou modificar a sociedade,</p><p>idealizando determinado tipo de comportamento, buscando o fim</p><p>último de formar determinado tipo de homem.</p><p>O autor Robert Henry Srour (1997) ressalta que as ideologias</p><p>políticas se movem e sofrem redefinições ao longo do tempo. As</p><p>ideologias políticas contemporâneas, distintas a partir de vários</p><p>critérios, possuem um princípio ordenador que prevalece através</p><p>dos tempos: a crença na igualdade / desigualdade entre os homens.</p><p>Para esclarecer melhor essa questão, veja a seguir o resumo sobre</p><p>os pressupostos das ideologias contemporâneas, organizados a</p><p>partir do que acreditam e defendem para o homem e a sociedade.</p><p>1. Ideologia política tradicionalista</p><p>� Sociedade naturalmente desigual;</p><p>� governo confiado a herdeiros natos de um passado</p><p>valioso, capazes de manterem a lei e a ordem;</p><p>� homens submissos, conformados com o lugar que Deus</p><p>lhes destinou, educados para aceitar e seguir os valores e</p><p>as verdades absolutas.</p><p>44</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>2. Ideologia política conservadora</p><p>� Sociedade submetida às mesmas leis que regulam a</p><p>todos;</p><p>� funções sociais diferentes, necessárias e indispensáveis,</p><p>ajustadas funcionalmente;</p><p>� homens comuns não têm como aprimorar-se, devem</p><p>satisfazer-se com as funções mais simples deixando</p><p>as mais complexas para aqueles que são naturalmente</p><p>superiores;</p><p>� os valores éticos, morais, culturais, religiosos e as</p><p>ideias herdadas proporcionam estabilidade social e</p><p>continuidade histórica.</p><p>3. Ideologia política liberal</p><p>� Sociedade aberta e pluralista, com defesa dos direitos</p><p>individuais, da liberdade pessoal, da dignidade e da</p><p>vida, além das liberdades econômicas e da propriedade</p><p>privada;</p><p>� uma das funções fundamentais do Estado é salvaguardar</p><p>os direitos do homem;</p><p>� o Estado deve assegurar o princípio da liberdade;</p><p>� as funções do Estado restringem-se à garantia do</p><p>mínimo legal para o funcionamento da economia,</p><p>à correção das injustiças sociais e à assistência aos</p><p>desempregados.</p><p>4. Ideologia política social-democrata</p><p>� O Estado deve prover as necessidades básicas da</p><p>população;</p><p>45</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>� implementar políticas públicas para combater as</p><p>desigualdades sociais e reduzir os desníveis regionais;</p><p>� formular políticas de fiscalização e de indução de</p><p>mercado, deixando para os setores privado e terciário a</p><p>execução dos serviços públicos;</p><p>� uma nova sociedade baseada no capitalismo social;</p><p>� sociedade civil deve controlar toda a máquina pública;</p><p>5. Ideologia política socialista</p><p>� Condições dignas de vida para todos os homens;</p><p>� sociedade justa e igualitária;</p><p>� indústrias básicas e monopólios naturais são propriedades</p><p>estatal ou pública.</p><p>6. Ideologia política anarquista</p><p>� Sociedade regulada pelo acordo mútuo, igualdade,</p><p>descentralização, autogestão e trabalho de todos;</p><p>� duas escolas de pensamento se confrontam para defender</p><p>o modelo de homem:</p><p>1. confiança na racionalidade e na capacidade de</p><p>aperfeiçoamento intelectual e moral;</p><p>2. defesa da intuição e espiritualidade;</p><p>� regime de democracia direta ou semidireta, propriedade</p><p>cooperativa ou comunitária dos meios de produção com</p><p>escambo voluntário dos produtos (abolição do dinheiro).</p><p>46</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>7. Ideologia política comunista</p><p>� Sociedade sem classes sociais;</p><p>� todos seriam habilitados a fazer tudo e escolheriam suas</p><p>ocupações segundo seus gostos e capacidades.</p><p>8. Ideologia política fascista</p><p>� Organização corporativa com o agrupamento de patrões</p><p>e trabalhadores por ramos de produção;</p><p>� formação do homem novo, heroico, voltado para o futuro</p><p>e livre de preconceitos;</p><p>� partido único detém o poder do Estado e governa com</p><p>disciplina militar, controla os meios de comunicação e</p><p>educação da juventude impondo a ideologia única.</p><p>O conhecimento das ideologias deve levar o educador a refletir</p><p>sobre a sua prática pedagógica para entender que ela não é neutra,</p><p>que está sempre impregnada de intenções políticas. A nossa</p><p>intenção foi de possibilitar a você o entendimento de que muitos dos</p><p>comportamentos ou valores que defendemos e em que acreditamos</p><p>podem ser partidários de ideologias diversas, ou seja, em alguma</p><p>medida podemos estar sendo tradicionalistas, em outras socialistas</p><p>etc. Não estamos fazendo juízo de valor, não se trata do certo e do</p><p>errado, mas de conhecer para optar e agir conscientemente.</p><p>O desconhecimento pode, não raras vezes, conduzir</p><p>para um desencontro entre o que teoricamente</p><p>consideramos relevante e o que realmente vamos</p><p>atingir com as nossas ações.</p><p>Se o objetivo é educar para as transformações na sociedade,</p><p>devemos primar pela formação de indivíduos participativos,</p><p>confiantes e atuantes. Se, ao contrário, objetivamos a manutenção</p><p>da realidade, ensinamos para a submissão, para o individualismo</p><p>e para o conformismo. O objetivo estabelecido, numa prática</p><p>pedagógica coerente, encaminhará para a adoção dos métodos,</p><p>das técnicas e das atividades, funcionando como uma bússola</p><p>para orientar a elaboração do trabalho proposto.</p><p>47</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade</p><p>2</p><p>Reforçamos: toda prática pedagógica traz consigo</p><p>intenções explícitas ou não, que contribuirão para</p><p>resultados positivos ou negativos.</p><p>Na seção seguinte você verá com mais profundidade essas</p><p>questões. Para reforçar esse assunto, leia a reportagem a seguir:</p><p>O paradoxo da miséria no Brasil</p><p>O Brasil passou por uma transformação admirável nos últimos</p><p>25 anos. O produto interno bruto aumentou 85%, o número de</p><p>domicílios com TV subiu 150%, o número de residências com</p><p>telefone e a frota de veículos triplicou.</p><p>Infelizmente, a taxa de miséria permaneceu praticamente inalterada.</p><p>O número de desamparados, incapazes de sair de sua situação sem</p><p>ajuda, aumentou. Somam hoje, cerca de 23 milhões.</p><p>Os termos miséria e pobreza, de significado impreciso, chegaram a</p><p>uma definição quase matemática na pesquisa de alguns estudiosos</p><p>que estabeleceram duas grandes linhas:</p><p>Linha da pobreza: abaixo dela estão aqueles cuja renda não é</p><p>suficiente para cobrir os custos mínimos de manutenção da vida</p><p>(alimentação, moradia, transporte e vestuário). Isso prevendo</p><p>educação e saúde fornecidos de graça pelo governo.</p><p>Linha da miséria (ou da indigência): determina quem não</p><p>consegue ganhar o bastante para garantir a mais básica das</p><p>necessidades – a alimentação.</p><p>No Brasil há 53 milhões abaixo da linha da pobreza. Destes, 30</p><p>milhões vivem entre a linha da pobreza e acima da linha de miséria.</p><p>Cerca de 23 milhões estariam na situação que se define como</p><p>indigência ou miséria, representando 3% do problema mundial.</p><p>O Brasil é hoje o país mais rico do mundo com a maior taxa de</p><p>pobreza. A isso se chama injustiça social.</p><p>Do ponto de vista econômico a pobreza reduz a competitividade e</p><p>restringe as possibilidades de mover a economia. Os miseráveis não</p><p>produzem e pouco consomem, ou seja, nem entram na equação</p><p>econômica do país. Teoricamente a economia pode funcionar sem</p><p>levar em conta a sua existência.</p><p>48</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>A economia brasileira esta entre as dez maiores do mundo, quase</p><p>metade dos usuários de internet da América Latina concentra-se</p><p>no Brasil, depois dos Estados Unidos é a nação que mais compra</p><p>aviões executivos e tem a cidade com a segunda maior frota de</p><p>helicópteros do planeta. No campo da medicina há hospitais e</p><p>centros de pesquisas que servem de referência mundial e todas estas</p><p>conquistas ocorreram sem que a miséria se tenha retraído.</p><p>A questão da miséria no Brasil tem componentes ainda mais</p><p>perversos que a simples escassez de recursos. Ela abrange dois</p><p>grandes paradoxos:</p><p>� No Brasil da miséria há comida sobrando. Ásia e África convivem</p><p>com a fome clássica há séculos, lá falta comida.</p><p>� Nunca se gastou tanto dinheiro na área social, mesmo assim a</p><p>situação não melhora.</p><p>O Brasil, apesar de não se tratar de uma nação pobre, mantém</p><p>um fosso gigantesco entre a base e o topo da pirâmide. Enquanto</p><p>no país mais rico do mundo, Estados Unidos a diferença de renda</p><p>média entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos é de 8 vezes,</p><p>no Brasil é de 33 vezes. Numericamente isso pode ser traduzido</p><p>de outras formas: 1% da população, a parcela mais rica, detém a</p><p>mesma quantidade de recursos que os 50% mais pobres, de outro</p><p>modo pode se dizer os 10% mais ricos concentram metade da renda</p><p>nacional. (Fonte: Reportagem da Revista VEJA, 23/01/2002)</p><p>Veja a ilustração a seguir e estabeleça uma reflexão com base no</p><p>que foi estudado nesta seção!</p><p>Figura 2.2: Charge Mafalda</p><p>Fonte: Quino. Toda a Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993.</p><p>49</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>Seção 3 – Intencionalidades da prática pedagógica</p><p>A prática dos que fazem a educação acontecer está norteada,</p><p>quer implícita ou explicitamente, por tendências pedagógicas</p><p>divergentes. Cada educador, através dos procedimentos e valores</p><p>adotados, provoca uma formação distinta, fazendo da educação</p><p>um ato político, o que implica dizer que a educação “não é um</p><p>processo estritamente técnico-pedagógico e autônomo, mas</p><p>dependente da questão política” (SAVIANI, 1995).</p><p>O que podemos observar são, de um lado, tendências da</p><p>Pedagogia Liberal, que é absolutamente individualista, pois</p><p>“sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os</p><p>indivíduos para o desempenho de papéis sociais de acordo com as</p><p>aptidões individuais” (LIBÂNEO, 1986, p.20), e de outro lado,</p><p>a Pedagogia Progressista, que vem questionar esta sociedade,</p><p>analisando-a criticamente, visando educar para a participação, e</p><p>não para a submissão, procurando preparar sujeitos.</p><p>Considere que ser sujeito é ir além de ser indivíduo.</p><p>A Pedagogia Liberal, numa visão ideológica conservadora, coloca</p><p>a educação como um importante instrumento de socialização,</p><p>definindo, num processo amplo, o comportamento individual</p><p>dentro da sociedade, seguindo normas sociais regulamentadas.</p><p>Através da socialização, os indivíduos são condicionados a</p><p>desempenharem papéis considerados legítimos, ou seja, para</p><p>acatar normas sociais consideradas adequadas. Ou seja, a educação</p><p>acaba por desempenhar dois papéis fundamentais:</p><p>� primeiro, cria condições para que os indivíduos</p><p>aprendam a exercer um papel socialmente adequado, uma</p><p>função especial no organismo social;</p><p>� segundo, controla a aquisição de hábitos e práticas que</p><p>assegurem a estabilidade social.</p><p>Numa visão renovada, a pedagogia passou a atribuir à educação</p><p>um novo papel: o de responsável pela construção de uma</p><p>sociedade aberta, funcionando como instrumento de correção</p><p>das desigualdades sociais produzidas pela ordem econômica.</p><p>Nas teorias sociais é</p><p>comum entender que</p><p>sujeito é aquele que age</p><p>consciente de sua ação</p><p>e não simplesmente se</p><p>submete às imposições</p><p>do controle social.</p><p>50</p><p>Universidade do Sul de Santa Catarina</p><p>Acredita que a educação não está ligada à ordem que produz</p><p>as desigualdades e que pode vir a produzir algo diferente</p><p>daquilo que a economia produz. Entretanto, nem sempre</p><p>as oportunidades são franqueadas a todos. Há uma grande</p><p>desigualdade na qualidade da educação, nas condições materiais</p><p>de vida, na alimentação, no desenvolvimento de certas destrezas,</p><p>resultantes da vida que cada classe social leva e que vão interferir</p><p>no modo de ser de cada pessoa.</p><p>Em contraponto, para a Pedagogia Progressista a educação se</p><p>desenvolve relacionando dialeticamente o indivíduo e a sociedade</p><p>num processo de humanização e personalização. Propõe a</p><p>formação de agentes de mudança para acabar com as injustiças.</p><p>Torna a educação um ato abertamente político. Instrumentaliza</p><p>para o sucesso individual sem deixar de considerar o bem</p><p>comum. Contrariando os princípios liberais, parte de uma</p><p>análise crítica das realidades sociais, sustentando as finalidades</p><p>sociopolíticas da educação.</p><p>Para que você compreenda melhor as tendências Liberal e</p><p>Progressista, apresentamos nos quadros que seguem uma</p><p>síntese, em divisão e textos próprios, dos escritos de Libâneo</p><p>(1986) sobre as tendências da Pedagogia Liberal e as tendências</p><p>da Pedagogia Progressista.</p><p>TENDÊNCIAS PRESSUPOSTOS MISSÃO AÇÃO PEDAGÓGICA</p><p>Tradicional Acentua o ensino humanístico e de cultura geral.</p><p>Predominam a palavra do professor, as regras</p><p>impostas e o cultivo intelectual.</p><p>Educar para que o aluno atinja,</p><p>pelo próprio esforço, a sua</p><p>realização pessoal.</p><p>Veiculada a partir da</p><p>realidade histórica.</p><p>Renovada Ênfase na cultura.</p><p>Valorização da autoeducação e da experiência direta.</p><p>Educar para a autorrealização e</p><p>para as relações interpessoais.</p><p>Centrada no aluno e no</p><p>grupo.</p><p>Tecnicista Educação subordinada à sociedade.</p><p>A tecnologia é o meio mais eficaz para maximizar</p><p>a produção e garantir um ótimo funcionamento da</p><p>sociedade.</p><p>Preparação de mão de obra. Recurso tecnológico.</p><p>Quadro 2.1: Tendências da Pedagogia Liberal</p><p>Fonte: Libâneo (1986).</p><p>51</p><p>Introdução à Pedagogia</p><p>Unidade 2</p><p>TENDÊNCIAS PRESSUPOSTOS MISSÃO AÇÃO PEDAGÓGICA</p><p>Liberal Contrária ao autoritarismo</p><p>Valorização da aprendizagem</p><p>grupal em detrimento da</p><p>memorização de conteúdos.</p><p>Educar para a prática</p><p>social.</p><p>Baseada na experiência vivida.</p><p>Libertária</p>

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