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Apostila fisiologia cardiovascular medicina (Faculdade Estácio de Alagoinhas) Digitalizar para abrir em Studocu A Studocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade Apostila fisiologia cardiovascular medicina (Faculdade Estácio de Alagoinhas) Digitalizar para abrir em Studocu A Studocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=apostila-fisiologia-cardiovascular https://www.studocu.com/pt-br/document/faculdade-estacio-de-alagoinhas/medicina/apostila-fisiologia-cardiovascular/68411247?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=apostila-fisiologia-cardiovascular https://www.studocu.com/pt-br/course/faculdade-estacio-de-alagoinhas/medicina/5424980?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=apostila-fisiologia-cardiovascular https://www.studocu.com/pt-br?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=apostila-fisiologia-cardiovascular https://www.studocu.com/pt-br/document/faculdade-estacio-de-alagoinhas/medicina/apostila-fisiologia-cardiovascular/68411247?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=apostila-fisiologia-cardiovascular https://www.studocu.com/pt-br/course/faculdade-estacio-de-alagoinhas/medicina/5424980?utm_campaign=shared-document&utm_source=studocu-document&utm_medium=social_sharing&utm_content=apostila-fisiologia-cardiovascular FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR Mande perguntas e comentários para g.schoorlemmer@unifesp.br A função mais importante do sistema cardiovascular é o suprimento de nutrientes como oxigênio e glicose para as células, e a eliminação de produtos do metabolismo como CO2. O sistema cardiovascular cumpre esse papel no repouso e no exercício físico, e pode tolerar condições adversas como a perda de sangue ou dano na bomba cardíaca. Este sistema também transporta hormônios, regula a perda de calor, e protege o organismo contra agentes patógenos. 1) Anatomia do coração O coração tem o formato de um punho e pesa 250 – 300 g. A figura mostra a vista da frente (portanto o direito da figura mostra o lado esquerdo do paciente). O coração está cercado por uma membrana dura dupla, o pericárdio. A presença de fluido entre as duas membranas do pericárdio permite o deslizamento sem atrito. Inflamação pode causar acúmulo de fluido no pericárdio, e comprometer o enchimento cardíaco. Circulação pulmonar e sistêmica O coração contem duas bombas separadas. Cada uma tem uma bomba auxiliar leve, o átrio, que ajuda encher a bomba principal, o ventrículo. O lado direito do coração bombeia sangue para os pulmões, onde O2 é absorvido e CO2 é eliminado. O sangue voltando dos pulmões entra no lado esquerdo do coração, que bombeia o sangue para a circulação sistêmica. A pressão é 7 vezes menor na circulação pulmonar, portanto o trabalho do ventrículo direito é 7 vezes menor, e sua parede é muito mais fina que do ventrículo esquerdo. Válvulas cardíacas são folhas tendinosas e finas (0,1 mm) que permitem o fluxo de sangue em uma direção só. Elas abrem e fecham porque são levadas pelo fluxo de sangue, e não têm controle externo. Válvulas AV (entre átrio e ventrículo) fecham durante a contração ventricular (sístole) e impedem o refluxo de sangue ventricular no átrio. Estas válvulas abram durante diástole, permitindo o enchimento do ventrículo. Válvulas semilunares (entre ventrículo e artéria) fecham durante o relaxamento cardíaco (diástole), e impedem o refluxo de sangue arterial no ventrículo. Estas válvulas abrem na sístole, permitindo a passagem de sangue ventricular para a artéria pulmonar e a aorta. válvulas em sístole válvulas em diástole Disfunções valvulares Uma válvula pode não fechar completamente (regurgitação), ou não abrir completamente (estenose = estreitamento). Estes defeitos podem causar fluxo turbulento, que pode ser observado com um estetoscópio. A localização do barulho na caixa torácica e a localização do barulho no ciclo cardíaco permitem deduzir a válvula afetada, e o tipo de problema. Por exemplo, a regurgitação da válvula aórtica causa um barulho na diástole, causado por vazamento de sangue na aorta para o ventrículo esquerdo. Estenose desta válvula causa um barulho na sístole. Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 mailto:g.schoorlemmer@unifesp.br 2) Marca passo e sistema de condução Um coração que está isolado bate, porque contém um marca- passo que produz um ritmo regular. Este ritmo pode ser modificado por mecanismos externos, como o sistema nervoso autônomo. Para um bombeamento eficiente, é importante que primeiro o átrio contraia, bombeando seu conteúdo no ventrículo, antes que o ventrículo contraia. Um sistema especializado de condução elétrica ajuda a produzir esta sequência. Geração do ritmo cardíaco O marca-passo cardíaco é o nó sinoatrial, um grupo de células localizadas na parede do átrio direito, perto da entrada da veia cava superior. O potencial de repouso destas células é instável: elas despolarizam espontaneamente, e produzem um potencial de ação quando despolariza das suficientem ente. Veja os passos: 1. Canais de K+ gradualmente fecham, reduzindo o fluxo de K+ para fora. Ao mesmo tempo, canais de sódio começam a abrir. Estas mudanças deixam o interior da célula menos negativo (membrana despolariza lentamente). 2. Canais de Ca2+ sensíveis a voltagem se abrem, o Ca2+ entra na célula, e o potencial intracelular aumenta mais ainda (potencial de ação). 3. Canais de Ca2+ fecham, e canais de K+ abrem. K+ sai da célula, deixando-a mais negativa (repolarização). O sistema nervoso autônomo muda a velocidade da despolarização espontânea. A adrenalina e a noradrenalina aumentam a frequência cardíaca porque eles aceleram a despolarização espontânea. Ambas abrem canais de sódio e cálcio, e assim aumentam o fluxo de carga positiva para dentro da célula. A acetilcolina reduz a frequência cardíaca porque desacelera a despolarização espontânea. A acetilcolina abre canais de K+, assim mais carga positiva sai da célula. Propagação do sinal do marca passo Um sistema de condução elétrica espalha o sinal do marcapasso pelo coração inteiro, e garante uma sequencia de ativação, primeiro dos átrios, depois do ventrículo inteiro. 1. O nó sinoatrial (SA) se despolariza 2. A desporarização espalha pelos átrios, mas não atinge os ventrículos, porque a região fibrosa que dá suporte para as válvulas não conduz o impulso elétrico. 3. A despolarização é retardado no nó atrioventricular (AV) e na faixa AV. 4. A despolarização espalha rapidamente para o ventrículo inteiro pelos ramos esquerdo e direito e as fibras de Purkinje. Muitas regiões cardíacas podem funcionar como marca passo. O ritmo cardíaco, porém, é determinado pela região que atinge mais rápido o limiar para despolarização. Em condições normais, essa região é o nó SA, mas se ele não funcionar, outras regiões funcionarão como marca passo. Nestes casos, o ritmo cardíaco será mais lento. No caso de falta de condução nos ramos esquerdo ou direito, ou nas fibras de Purkinje, o potencial de ação é conduzido pelos gap junctions entre os miócitos. Neste caso, a onda de despolarização será mais lenta, e a eficiência da bomba reduzida. 3) Músculo cardíaco, contração, ECG Estrutura do músculo cardíaco Cardiomiócitos são células mononucleares, acopladas umas às outras por discos intercalados. Os discos intercalados contêm desmosomos, que fornecem resistência mecânica, e gap junctions, canaisque permitem a troca de moléculas pequenas e portanto formam uma coneção elétrica entre as células. Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 Geração do potencial de ação no músculo cardíaco O cardiomiócito é levemente despolarizado quando células vizinhas despolarizam porque “gap junctions” entre as celulas permitem o fluxo de íons. Esta despolarização pequena desencadeia um potencial de ação que pode ser dividido em várias fases: 0. Canais de Na+ sensíveis à voltagem se abrem. O Na+ entra na célula estimulado por gradientes de concentração e de voltagem. A entrada de carga positiva na célula rápidamente aumenta o potencial intracelular. 1. Os canais de Na+ fecham pouco tempo depois. 2. Canais de Ca2+ sensíveis à voltagem abrem. O Ca2+ entra na célula estimulado por gradiente de concentração, e mantém a célula despolarizada. O potencial de membrana muda pouco (platô) porque a entrada de Ca2+ é balançada pela saída de K+ (K+ sai da célula por gradiente de concentração). 3. Finalmente, os canais de Ca2+ fecham, e mais canais de K+ abrem, permitindo a repolarização da célula. 4. A repolarização “arma” os canais de Na+, que agora podem abrir de novo, assim que a célula é despolarizada. Isso termina o período refratário, durante o qual o cardiomiócito não responde a novos estímulos. Obs: o potencial de ação no músculo cardíaco se asemelha ao potencial de ação do marcapasso, mas existem diferenças: a presença de canais de sódio no miócito causa uma despolarização mais rápida, e o potencial de membrana é mais baixo e mais estável. De despolarização até contração. A despolarização do miócito causa a abertura de canais de Ca2+ na membrana celular. A entrada de Ca2+ na célula causa a liberação de mais Ca2+ do retículo sarcoplasmático. O Ca2+ livre se liga a troponina e desloca tropomiosina, o que permite a interação de actina e miosina, resultando em contração. A intensidade da contração depende da [Ca2+] intracelular. Ca2+ é eliminado da citoplasma por transportadores no retículo e membrana celular. A contração termina com a remoção de Ca2+ da célula. A contratilidade cardíaca é modificada por vários fatores. 1. Um século atrás, Frank e Starling demonstraram que, quando mais sangue entra no coração, o coração ejeta com mais força (lei de Frank-Starling). O estiramento do miocárdio aumenta a sensibilidade de troponina para Ca2+, permitindo a interação de mais moléculas de miosina e actina. 2. Noradrenalina e adrenalina estimulam a contratilidade cardíaca. Elas estimulam a fosforilação de transportadores que eliminam Ca2+ do citoplasma, favorecendo transporte para dentro do retículo sarcoplasmático em vez de para fora da célula. No batimento seguinte, este Ca2+ é liberado do retículo, causando uma contração mais intensa. O ECG identifica anormalidades da despolarização cardíaca Com dois eletrodos, um em cada lado do coração, você pode avaliar a direção da onda de despolarização no tecido cardíaco, de maneira não-invasivo. A figura mostra um exemplo do registro: A onda P é causada por despolarização dos átrios. O complexo QRS é causado por despolarização dos ventrículos. A onda T é causada pela repolarização dos ventrículos. É possível avaliar vários tipos de anormalidades da despolarização cardíaca. Por exemplo, uma mudança no caminho de despolarização do ventrículo vai mudar o complexo QRS. Mudanças na repolarização do ventrículo (causado por exemplo por hipóxia do miocárdio) mudam a onda T. Hipertrofia do ventrículo esquerdo causa um desvio da direção da despolarização para o esquerdo, e isso pode ser avaliado também. Exemplos de alguns ECGs atípicos Outras anormalidades identificáveis no ECG: hipertrofia cardíaca (desvio do eixo do septo) hipóxia (repolarização anormal) Para o detetive da ECG: http://www.skillstat.com/tools/ecg-simulator#/-prep Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 http://www.skillstat.com/tools/ecg-simulator#/-prep 4) O ciclo cardíaco e o débito cardíaco O coração bate aproximadamente 100000 vezes por dia. Em cada batimento, o seguinte ciclo de eventos acontece: 1. Enchimento ventricular (válvulas AV abertas, pulmonar e aórtica fechadas). Note que a contração atrial contribui só com uns 10 mL na pessoa em repouso. Durante exercício físico, a frequência cardíaca aumenta, e menos tempo é disponível para enchimento, e nesta condição o papel dos átrios fica mais importante. 2. Contração ventricular isovolumétrica: a pressão ventricular aumenta, mas não é suficiente ainda para vencer a pressão aórtica. Válvulas AV fecham, produzindo a primeira bulha cardíaca (audível com estetoscópio). 3. Ejeção (pressão ventricular maior que aórtica causa abertura da válvula aórtica) 4. Relaxamento isovolumétrico: a pressão ventricular cai para valor menor que pressão aórtica, a válvula aórtica fecha, produzindo a segunda bulha cardíaca. . Regulação do débito cardíaco O débito cardíaco é a quantidade de sangue bombeado por tempo, por um lado do coração. Na pessoa em repouso, é aproximadamente 5 L/min, ou 7000 L/dia. Durante exercício físico, o débito cardíaca pode aumentar para 30 L/min. A capacidade do coração para ejetar sangue pode aumentar em várias maneiras: A frequência cardíaca pode mudar pelas mudanças no sistema autônomo. O sistema simpático produz noradrenalina e adrenalina, que aumentam a frequência cardíaca, e o sistema parassimpático libera acetilcolina, que reduz a frequência cardíaca. O volume ejetado cada batimento (volume sistólico) pode aumentar. Dois mecanismos são importantes: o mecanismo de Frank-Starling (um coração cheio contrai com mais força), e a atividade simpática (noradrenalina e adrenalina estimulam a força de contração). O débito cardíaco depende não só da capacidade do coração para ejetar sangue, mas também do retorno venoso (a quantidade de sangue que volta dos capilares para o ventrículo): obviamente o coração não ejeta mais sangue do que entra. O retorno venoso depende da gradiente de pressão entre os capilares e a entrada do ventrículo. O coração é flexível e não consegue sugar sangue, mas pode facilitar o retorno venoso, mantendo a pressão ventricular durante a fase de enchimento baixa. Por exemplo, noradrenalina reduz o volume sistólico final porque ele aumenta a contratilidade do coração e a frequência cardíaca, e assim facilita o retorno venoso. O retorno venoso também é estimulado pelo aumento do tono venoso e do volume sanguíneo, e pela ativação da bomba muscular e da bomba respiratória, como descrito na seção sobre as veias. Problemas cardíacos como infartos, disfunção das válvulas, e disfunção diastólica (relaxamento ventricular comprometido) aumentam o volume e a pressão intraventricular durante diástole, e portanto dificultam o retorno venoso. Em condições assim, o retorno venoso pode ser restaurado por o aumento do tono venoso e do volume sanguíneo. 5) Fluxo, pressão, e resistência vascular O coração produz a pressão que bombeia o sangue. Pressão afeta o fluxo em um vaso desta forma: fluxo = (pressão no início do vaso – pressão no fim do vaso) resistência no vaso (Lei de Darcy) Note que fluxo é um volume por tempo (por exemplo, L/min). A fórmula não diz nada sobre a velocidade do sangue. A pressão é expressa em força/área, por exemplo em N/cm2. Mas a pressão sanguínea sempre é expressa em mm Hg (1,3 N/cm2 = 100 mm Hg). Três exemplos mostram conseqências desta lei: 1) em repouso, o fluxo de sangue para o miocardio é menor que para os rins. A fórmula diz que a resistência vascular do miocárdio é maior que dos rins. 2) Durante exercício físico, o fluxo de sangue para o músculo esquelético pode aumentar 20 vezes, embora a gradiente de pressão mudou pouco. A fórmula diz que a resistênciavascular caiu no músculo ativado. 3) A pressão na circulação pulmonar é 7 vezes menor que na circulação sistêmica. A fórmula diz que a resistência vascular pulmonar é 7 vezes menor. P re ss ão ( m m H g) 80 40 0 120 ECG Bulhas cardíacas Fase Válvulas AV Valv. semilunares 50 120 V o lu m e ve n tr ic u la r (m L) 1 Aberta 3 Aberta 1 Aberta Aorta Ventrículo esquerdo Átrio esquerdo Volume diastólico final Volume sistólico final Volume sistólico 2 4 Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 Resistência em um vaso depende de três fatores: comprimento do vaso = L, raio do vaso = r, e viscosidade do fluido = η. A fôrmula para fluxo fica: fluxo = (Δ pressão * r4) / (8π * L * η) (Lei de Poseuille) Note que mudanças no raio do vaso têm um efeito muito grande sobre o fluxo. É importante lembrar que a parede dos vasos (capilares excluídos) contem músculo liso, portanto, o diâmetro do vaso pode mudar. É este o mecanismo responsável para a regulação do fluxo sanguíneo. Sangue bombeado pelo ventrículo esquerdo pode ir para a cabeça, para os rins, ou para outros órgãos de acordo com a necessidade. A mesma organização paralela está presente dentro dos tecidos, e permite controle regionalizado do fluxo. Quanto de sangue cada leito vascular irá receber depende da resistência vascular do leito (lei de Darcy). Há necessidade maior de sangue nas pernas? Então, a resistência vascular dos vasos da perna terá de ser reduzida. Os vasos sanguíneos (capilares excluidos) têm parede com músculo liso, e portanto são capaz de mudar seu diâmetro. Se o diâmetro dos vasos da perna aumenta em 19%, a resistência vascular destes vasos cai pela metade, e o fluxo dobrará (1,194 = 2). Distribuição do débito cardíaco (%) Cérebro 15 Coração 5 Rins 25 Fígado e trato gastrointestinal 30 Músculo esquelético 15 Pele 10 6) As funções dos vasos Vasos diferentes têm funções diferentes. Artérias elásticas como a aorta armazenam temporariamente o sangue bombeado durante sístole, e assim facilitam o trabalho do coração. Arteríolas controlam o fluxo pelo leito capilar, e você vai ver que vários mecanismos controlam estes vasos. Capilares cuidam da função mais importante: troca de substâncias como oxigênio e CO2. Veias afetam o retorno venoso, e assim afetam a quantidade de sangue que será bombeado pelo coração. Finalmente, um outro rede de vasos, o sistema linfático, afeta a partição do fluido extracelular entre vasos sanguíneos e espaço intersticial. A estrutura da parede vascular. A parede vascular tem 3 camadas: uma camada endotelial no interior, uma camada média de músculo liso, e uma camada externa que conecta o vaso ao tecido em volta. Os capilares só têm a camada interna. As paredes das veias são muito mais finas e flexíveis que das artérias. Pressões no sistema cardiovascular A pressão muda pouco na aorta e nas artérias grandes. A pressão cai nas arteríolas, e perde o caráter pulsátil. A pressão continua a cair nos capilares e veias, e cai para perto de 0 mm Hg na entrada do coração. As artérias grandes grandes como a aorta dilatam durante a sístole porque têm uma parede elástica. Até 60% do sangue ejetado pelo coração fica assim armazenado temporariamente. A elasticidade das artérias grandes facilita a ejeção de sangue pelo ventrículo: é mais fácil ejetar para um reservatório mais flexível. O sangue que acumulou nas artérias elásticas durante sístole é gradualmente liberado durante a diástole. Assim, estas artérias ajudam a transformar o fluxo periódico produzido pelo coração em um fluxo contínuo. Os vasos ficam mais rígidos com o avanço da idade. Com o endurecimento das artérias elásticas, a ejeção de sangue pelo ventrículo causa um aumento maior da pressão na aorta. Por isso, a diferença entre pressão sistólica e diastólica é maior em idosos, e o sintoma disso é um pulso mais forte. Como consequência do aumento maior da pressão na aorta, o coração do idoso tem que trabalhar mais: ele tem que ejetar contra uma pressão maior. Quando você sabe a pressão sistólica e pressão diastólica, você pode calcular pressão média assim: pressão Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 diastólica + 1/3 da diferença entre pressão sistólica e diastólica. Pressão de pulso é a diferênça entre pressão sistólica e diastólica. Você pode monitorar ele com um dedo no pulso. Alto volume sistólico, bradicardia, e artérias mais duras resultam em um pulso mais forte. As artérias musculares distribuem o sangue para os órgãos. Eles podem se contrair suficientemente para bloquear completamente o fluxo de sangue em situações de emergência, como o corte do vaso, ou durante ativação simpática intensa como choque hemorrágico, mas em condições normais não determinam o fluxo de sangue para o órgão. Arteríolas regulam o fluxo local. As arteríolas determinam grande parte da resistência periférica total. Portanto, mudanças na resistência da arteríola têm efeito significante na resistência total do leito, e resultam em mudanças no fluxo pelo leito. Vários mecanismos são importantes para regular o fluxo pelo leito. 1. O mecanismo metabólico é importante para aumentar o fluxo para tecido ativo. Metabolismo aumenta localmente [CO2], [H+], [adenosina], [K+] (liberado durante repolarização muscular) e osmolaridade (por degradação de nutrientes em moléculas menores), e reduz O2 e glicose. O músculo liso na arteríola é sensível a estas mudanças, reagindo com vasodilatação. (A potência destes vários fatores varia com o tecido.) 2. O mecanismo miogênico ajuda a manter o fluxo constante mesmo quando a pressão varia. Este mecanismo é ativado nas pernas ao levantar, ou no corpo inteiro com aumento da pressão arterial. Um aumento da pressão distende a parede arteriolar, e causa a abertura de canais iônicos sensíveis ao estiramento. A entrada de Ca2+ na célula através destes canais causa vasoconstrição arteriolar, normalizando o fluxo. 3. O endotélio vascular libera o vasodilatador óxido nítrico em resposta ao atrito causado pelo fluxo sanguíneo. Este fator local reduz tono vascular basal, mas ele também ajuda a dilatar as artérias maiores, que têm pouco contato com os fatores metabólicos produzidos pelo tecido. 4. Hipoxia tecidual estimula angiogênese: a formação de vasos novos. Condições como crescimento rápido, alta taxa metabólica, desenvolvimento, treinamento de resistência, e cicatrização estimulam angiogênese pela produção de peptídeos como o fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e o fator de crescimento de fibroblastos (FGF). A redução da liberação de fatores angiogênicos leva à perda de vasos pequenos. Enquanto estes mecanismos ajudam a levar a quantidade correta de oxigênio para os tecidos, outros mecanismos ajudam a reduzir o fluxo quando mais sangue é necessário para funções especiais. 1. Noradrenalina, liberada pelo sistema simpático, é um vasoconstritor potente, pela ação em receptores α1 presentes no músculo liso vascular. 2. Muitos hormônios têm ação vascular. Adrenalina causa vasodilatação pela ação em receptor β2, abundante em músculo esquelético, e vasoconstrição em outros tecidos pela ação em receptor α1. Vasoconstritores potentes incluem angiotensina II e o hormônio antidiurético, vasopressina. Capilares cuidam da função cardiovascular mais importante: a troca de substâncias. Estas trocas dependem de difusão, que é um processo eficiente em distâncias curtas: glicose difunde 50 µm em 1 s. Entretanto, glicose precisa 10 min para difundir 1 mm, e 14 h para difundir 1 cm! Por isso, tem poucas células mais distantes de 50 µm de um capilar. A parede superfina do capilar (endotélio sem músculo liso, portanto não contrátil) facilita difusão. A taxa de transporte por difusão também depende de gradientes deconcentração. Substâncias lipofílicas como O2 e CO2 podem difundir pela membrana celular, portanto a superfície disponível para troca é enorme: um campo de futebol. Substâncias hidrofílicas como íons, glicose, peptídeos podem difundir pelas fendas intercelulares, que ocupam ~0,1% da superfície do capilar. A água passa pelas fendas entre as células endoteliais, movida pelos gradientes de pressão como explicado em seguinte. Proteínas como a albumina e as imunoglobulinas são grandes demais para passar pelas fendas intercelulares. Elas podem passar pela célula por transporte vesicular (pinocitose). As vênulas coletam sangue dos capilares. Eles são contráteis, e contraem na presença de noradrenalina, mas não respondem aos fatores metabólicos. As veias levam o sangue de volta para o coração. Elas têm parede fina e contrátil, e contêm grande parte do volume Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 sanguíneo total. Elas são inervadas pelo sistema simpático. Veias e vênulas determinam o retorno venoso ao coração, e portanto controlam o débito cardíaco. Quatro mecanismos estimulam o retorno venoso: 1. O retorno venoso depende do volume sanguíneo. Um aumento do volume sanguíneo (por exemplo, por transfusão de sangue) aumenta a pressão venosa, e assim aumenta o retorno venoso. 2. O retorno venoso depende do tono venoso. Noradrenalina causa venoconstrição (aumenta do tono venoso), que aumenta a pressão venosa, e estimula o retorno venoso. As veias esplâncnicas (fígado, baço, intestino) são especialmente sensíveis à noradrenalina. 3. Veias nos membros têm válvulas que facilitam o retorno venoso contra a gravidade. Durante atividade muscular rítmica, como andar, a contração dos músculos comprime periodicamente as veias dos membros. A compressão periódica força o sangue pelas válvulas na direção do coração. Isso é chamado a bomba muscular. 4. O aumento da respiração, como por exemplo acontece durante exercício físico, também facilita o retorno venoso. Durante a inspiração, a pressão torácica é baixa, e a descida do diafragma comprime as veias no abdômen. Portanto, durante inspiração, sangue do abdômen é bombeado para o tórax. Durante expiração, a pressão abdominal cai, facilitando o retorno de sangue das pernas. E na próxima inspiração, este sangue será transportado para o tórax. Isso é chamado a bomba respiratória. 7) Sistema linfático e edema Os capilares são permeáveis à água, portanto plasma pode virar fluido intersticial (= no espaço entre as células), e vice versa. Portanto o volume sanguíneo depende do movimento de fluido pela parede capilar. A acumulação de fluido no interstício leva a edema. O sistema linfático leva este fluido de volta para a circulação. Forças hidrostáticas e osmóticas determinam o transporte de água pela parede do capilar Água escapa do capilar pelas fendas entre as células endoteliais. A quantidade que escapa depende de: Permeabilidade do capilar à água Forças hidrostáticas e osmóticas. A pressão hidrostática no capilar é produzida pelo coração, e estimula a saída de água do capilar. A pressão hidrostática do fluido intersticial normalmente é perto de 0 mmHg, e seu aumento reduz a saída de água do capilar. Pressões osmóticas são causadas porque a parede capilar é uma barreira semipermeável: água e solutos pequenos passam, mas proteínas plasmáticas não passam. Por isso, a concentração de proteína no interstício é baixa. A concentração alta de proteína no plasma cria uma força osmótica estimulando a entrada de água intersticial no capilar. A pressão osmótica produzida por proteinas é chamada pressão coloidosmótica ou pressão oncótica. Note que proteina atrai água. Portanto, a força para transporte de água pela parede capilar depende de 4 forças (as forças de Starling): 1. A pressão hidrostática no capilar estimula a saída de água do capilar (filtração). 2. A pressão hidrostática no espaço intersticial estimula a entrada de água no capilar (reabsorção). 3. A pressão osmótica produzida por proteína no capilar estimula a reabsorção. 4. A pressão osmótica produzida por proteína no espaço intersticial estimula a filtração. A força resultante é 1 – 2 – 3 + 4. A tabela abaixo mostra valores típicos para estas forças. Normalmente, a filtração é um pouco maior que a reabsorção. A quantidade que não é reabsorvida pelos capilares (3 L/dia) volta para a circulação pelos vasos linfáticos. Pressão em mm Hg hidrostática capilar 20 hidrostática intersticial -3 oncótica capilar 28 oncótica intersticial 8 RESULTANTE 20 –(-3) – 28 + 8=3 (filtração) Mudanças nestes forças afetam a partição do fluido entre espaço intersticial e vascular. Por exemplo, hemorragia reduz a pressão hidrostática no capilar, e portanto facilita a reabsorção de fluido intersticial. Esta transferência de fluido do espaço intersticial ajuda a restaurar o volume sanguíneo. Outro exemplo: desidratação aumenta a concentração de proteína no plasma, e isso também ajuda a restaurar o volume sanguíneo. Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 O sistema linfático é uma rede de vasos que transporta fluido do espaço intersticial para o sangue. Fluido que entra nos capilares linfáticos é bombeado por contração do músculo liso da parede do vaso linfático. O transporte linfático também é facilitado pela compressão periódica dos vasos linfáticos por respiração, contração de músculo esquelético, e pulsação arterial. Linfa entra na circulação pelas veias subclávias. Este sistema transporta cerca 3 L de linfo por dia. Quando a filtração capilar aumenta, o fluxo de linfo vai aumentar também, mas quando a quantidade de fluido filtrado supera a capacidade do sistema linfático, fluido acumula no espaço intersticial, caracterizando edema. Edema dificulta difusão e pode deixar as células com hipóxia. Edema nos pulmões comprometa a oxigenação do sangue, e pode levar rapidamente à morte. O sistema linfático também é importante para eliminar proteína acumulado no espaço intersticial. A permeabilidade da parede capilar para proteína é baixa, mas não é nula. Na ausênçia de função linfática, proteína acumula no espaço intersticial, aumentando a força para filtração. A consequência pode ser edema grave, como no paciente do foto, que tem elefantíase, causada por um parasita (filária) que bloqueia o fluxo pelos nódulos linfáticos. Mudanças nas forças de Starling podem levar ao edema Várias mudanças nas forças de Starling aumentam a filtração, e podem levar à edema. A pressão hidrostática intracapilar nas pernas aumenta ao levantar: inchação dos tornozelos e pés após um dia levantado é bastante comum. Falência cardíaca aumenta a pressão no átrio, levando ao aumento da pressão intracapilar (com falência do lado esquerdo, nos pulmões; com falência do lado direito, na circulação sistêmica). A pressão intracapilar também aumenta com trombose venosa, e com cirrose do fígado, que dificulta o retorno venoso do intestino, e assim aumenta a pressão nos capilares intestinais. A pressão oncótica intravascular cai após a redução da produção de proteínas circulantes pelo fígado, causado por insuficiência hepática ou má-nutrição, ou após a perda renal de proteína causado por disfunção renal. A concentração de proteína no fluido intersticial pode aumentar por aumento da permeabilidade vascular em inflamação, ou por insuficiência linfática, por exemplo após remoção cirúrgico de nódulos linfáticos em pacientes com câncer de mama.O bloqueio da função do sistema linfático pode causar edema grave. 8) Mecanismos de curto prazo para a regulação da pressão arterial Sistemas neurais e hormonais rapidamente mudam a resistência vascular e o débito cardíaco, os determinantes da pressão arterial. Os terminais simpáticos liberam noradrenalina, que tem osseguintes efeitos: aumento da frequência cardíaca aumento da contratilidade cardíaca vasoconstrição arterial e venosa (liberação de renina) (redução da perda renal de sódio) Adrenalina, hormônio liberado da glândula adrenal, tem efeitos semelhantes, mas causa vasodilatação em músculos esqueléticos. O sistema simpático tem efeitos cardiovasculares potentes porque não só aumenta a capacidade do coração para bombear, mas também estimula o retorno venoso pela vasoconstrição venosa. A ativação simpática também desvia o fluxo de sangue para os órgãos nobres -cérebro e coração- porque ela causa vasoconstrição arteriolar forte no leito esplâncnico, nos rins, e no músculo esquelético em repouso, mas tem pouco efeito sobre arteríolas do cérebro e coração. Os terminais parassimpáticos liberam acetilcolina, que reduz a frequência cardíaca. O sistema simpática e o sistema parassimpática têm atividade basal significante, portanto tanto redução da atividade e aumento da atividade tem efeitos. Por exemplo, a interrupção das vias simpáticas por dano na medula espinal fortemente reduz a pressão arterial pelo redução do débito cardíaco e vasodilatação generalizado. O sistema autônomo também está envolvido em vários reflexos que regulam a pressão arterial. Três reflexos que abordaremos em mais detalhes são o barorreflexo, o quimorreflexo, e o reflexo de Cushing. O reflexo barorreceptor estabiliza a pressão arterial Quando um músculo grande é ativado, as arteríolas do músculo abrem, e o fluxo sanguíneo no músculo aumenta. Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 Entretanto, isso pode reduzir a pressão nos outros vasos, reduzindo o fluxo de sangue para órgãos importantes como o cérebro. O sistema cardiovascular conta com o reflexo barorreceptor para manter a pressão arterial constante em condições assim. Barorreceptores são sensores localizados na parede vascular, que são sensíveis ao estiramento. Eles aumentam a produção de potenciais de ação quando a pressão aumenta. Eles estão localizados na bifurcação carótida e no arco da aorta, e se projetam para o tronco cerebral. A ativação destes barorreceptores causa mudanças na atividade do sistema simpático e parassimpático que ajudam a normalizar a pressão arterial. A figura mostra como este reflexo é eficiente. Na ausência do reflexo, mudanças na resistência vascular total causam grandes variações na pressão arterial. O barorreflexo também é importante ao levantar da posição horizontal. Nesta condição, a pressão arterial cai, reduzindo a perfusão cerebral. O baroreflexo ajuda a manter a pressão arterial normal, facilitando a perfusão cerebral. O baroreflexo é importante na regulação de curto prazo, mas não de longo prazo porque os barorreceptores adaptam em um ou alguns dias. Em pessoa normotenso, o baroreflexo mantem a pressão constante perto do normal. Em pessoa cronicamente hipertenso, ele mantem a pressão perto do nível característico desta pessoa. O reflexo quimorreceptor garante o fornecimento de oxigênio aos tecidos mais importantes Quimoreceptores estão localizados na bifurcação carotídea, no arco da aorta, e no tronco cerebral, e são sensíveis à hipóxia e hipercapnia (alto CO2). Hipóxia e hipercapnia não só aumentam a ventilação pulmonar, mas também a atividade simpática. O aumento da atividade simpática causa vasoconstrição, especialmente no fígado, intestino, e rins. Assim oxigênio presente no sangue é reservado para os órgãos essenciais: cérebro e coração. Com intensa hipóxia e hipercapnia, a frequência cardíaca cai por aumento da atividade parassimpática. Isso não só reduz o uso de O2 pelo coração, mas também facilita a perfusão do miocárdio. (A perfusão do miocárdio é mais difícil na sístole porque a pressão intraventricular comprime os capilares do miocárdio). O reflexo de Cushing protege contra isquemia cerebral Isquemia cerebral causa uma ativação simpática intensa, aumentando a pressão arterial para até 250 mm Hg. Durante edema cerebral, esta resposta permite a abertura de vasos fechados pela alta pressão intracraniana. Bloqueio do reflexo leva ao óbito. Outros mecanismos que afetam a atividade simpática A atividade do sistema simpático depende, além de barorreceptores arteriais e quimiorreceptores, também de barorreceptores venosos (monitorando o volume sanguíneo). Adicionalmente, sinais do córtex motor e de receptores musculares estimulam a atividade simpática durante exercício físico. Finalmente, estresse estimula a atividade simpática. Controle vascular em leitos diferentes Nos órgãos nobres (cérebro e coração), mecanismos locais (metabólicos) garantem a perfusão adequada em todas as condições. Estes leitos vasculares são pouco sensíveis aos mecanismos neurais e hormonais. Em órgãos como rim, intestino, e fígado, o fluxo depende de mecanismos locais, neurais, e hormonais. Quando outros órgaõs precisam de mais sangue, mecanismos neurais e hormonais podem reduzir o fluxo para estes órgãos abaixo do nível necessário para o seu funcionamento. No músculo esquelético em repouso, o aumento da atividade simpática causa vasoconstrição. No músculo ativado, mecanismos locais (metabólicos) podem aumentar o fluxo sanguíneo até 20 vezes, mesmo quando ao mesmo tempo a atividade simpática aumenta. 9) Mecanismos de longo prazo para a regulação da pressão arterial Mecanismos de controle de longo prazo agem no rim. Os rins controlam a excreção de sódio e água, e assim afetam o volume extracelular e o volume sanguíneo. Mudanças no volume sanguíneo afetam débito cardíaco, e assim afetam a pressão arterial. Sódio tem um papel crítico na regulação do fluido extracelular, e pode ser visto como o esqueleto do fluido extracelular. A perda de água sem a perda de sódio não tem Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 efeitos duradouros no volume extracelular porque a água perdida é reposta rápidamente pela estimulação de sede e antidiurese. Em contraste, a perda de água e sódio não estimula sede e antidiurese, e a água perdida só será reposta após a reposição do sódio perdido. Por isso, drogas que aumentam a perda renal de sódio são anti-hipertensivas, e drogas que aumentam a perda renal de água mas não do sódio são ineficazes. Diurese por pressão A excreção renal de água e sódio aumenta quando aumenta a pressão arterial. Este mecanismo é chamado “diurese por pressão”, e é a base da regulação da pressão no longo prazo. Sempre quando a pressão arterial aumenta, a perda renal de água e sódio aumenta, reduzindo o volume sanguíneo, o retorno venoso, e consequentemente, a pressão arterial. Vários hormônios afetam a excreção renal de sódio, e portanto afetam a regulação de longo prazo. A angiotensina II, aldosterona, e o hormônio natriurético atrial são os mais importantes. Angiotensina II Angiotensina II é o produto final de uma serie de reações. Angiotensinogênio é uma proteina circulante de 437 aminoácidos produzida pelo fígado. Renina, uma enzima circulante liberada pelo rim, libera do angiotensinogênio um fragmento de 10 aminoácidos chamado angiotensina I. Angiotensina I é convertida para angiotensina II pela enzima conversora de angiotensina (ECA), localizada no endotélio vascular, especialmente nos pulmões. A concentração plasmática de angiotensina II é determinada pela quantidade de renina liberada pelo rim. Renina tipicamente é liberada em condições de hipovolemia e hipotensão. A liberação de renina depende de: Barorreceptores renais (pressão baixa estimula). Atividade simpática (atividade aumentada estimula). Sensor intrarrenal de sódio (quantidade baixa estimula). Quando falta sódio no corpo, geralmente a quantidade de sódio no sensor de sódio intrarrenal (macula densa) é baixa. Angiotensina II tem os efeitos seguintes: Reduz a perda renalde sódio (por estimular a liberação de aldosterona e por ação direta no rim). É um vasoconstritor potente. Angiotensina II é essencial para manter a pressão arterial constante, mesmo quando a ingestão de sódio varia. Quando sódio é ingerido, angiotensina II cai, estimulando a perda de sódio. Quando a ingestão de sódio é baixa, angiotensina II aumenta, e reduz a perda renal de sódio. A relevância deste sistema é evidenciada pelo uso frequente de drogas que bloqueiam este sistema para tratar hipertensão. Drogas que bloqueiam a enzima conversora, o receptor de angiotensina AT1, e a ação de renina são anti- hipertensivos. Aldosterona A aldosterona é um esteroide produzido pelo córtex da glândula adrenal em resposta à angiotensina II. Ela age em receptores intracelulares. O complexo receptor e hormônio é transportado para o núcleo da célula, e estimula a síntese de canais de sódio que reabsorvem sódio no rim. Portanto, aldosterona reduz a perda renal de sódio. Aldosterona também é liberada em resposta à hipercalemia (alta [K+] plasmática), e estimula a perda renal de potássio. Hormônio natriurético atrial O hormônio natriurético atrial é um peptídeo liberado dos átrios cardíacos em resposta ao estiramento atrial (hipervolemia). As ações dele são opostas às da angiotensina II, e incluem: aumento da perda renal de água e sódio inibição da liberação de renina, aldosterona e o hormônio antidiurético vasodilatação (ação direta nas arteríolas e indireta pela redução do nível de angiotensina) aumento da permeabilidade vascular (reduz o volume sanguíneo pela transferência de plasma para o espaço intersticial) Este hormônio é bem menos potente que angiotensina II. Vasopressina = hormônio antidiurético Este hormônio peptídico é liberado da hipófise posterior e reduz a perda renal de água (antidiurético). Níveis altos de vasopressina também causam vasoconstrição importante. Sua liberação é estimulada por osmorreceptores hipotalâmicos sensíveis a hipernatremia (alta [Na+] plasmática). Além disso, hipovolemia e hipotensão grave causam a liberação de grandes quantidades do hormônio. Este hormônio é bastante importante para a regulação da concentração de sódio no sangue. Seu papel no controle do volume sanguíneo (e pressão de longo prazo) é limitado. Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 A figura mostra como estes mecanismos controlam o volume sanguíneo após a ingestão de sódio. A ingestão de sódio causa sede e a liberação do hormônio antidiurético, levando ao aumento do volume sanguíneo. Isso estimula a liberação do peptídeo natriurético atrial. A hipervolemia também aumenta a pressão arterial, reduzindo angiotensina, aldosterona, atividade simpática renal, e ativando mecanismos intrarenais. Todos estes mecanismos aumentam a perda renal de água e sódio, normalizando o volume sanguíneo e a pressão arterial. 10) Sistema cardiovascular em ação: levantar, exercício, choque, mergulho Respostas cardiovasculares ao levantar Quando você levanta, uma coluna de sangue começa a pressionar nas arteríolas do pé. Imediatamente a pressão nas arteríolas aumenta. Este aumento da pressão estica a parede arteriolar, aumenta seu diâmetro, reduz sua resistência vascular, e aumenta o fluxo de sangue para os pés. Em contraste, nas artérias da cabeça a pressão cai, as arteríolas ficam com diâmetro menor, resistência vascular aumenta, e fluxo cai. Por tanto, ao levantar, mais sangue vai para os pés, e menos para a cabeça! E não é só isso: ao mesmo tempo, o retorno venoso cai. Isso acontece porque sangue que passa pelos capilares do pé acumula nas veias dependentes. O volume das veias nos membros dependentes pode aumentar até 0.5 L nos 15 s após levantar. Por causa deste represamento, o débito cardíaco cai. Adicionalmente, o aumento de pressão nas capilares do pé aumenta a filtração, o que tende a reduzir o volume sanguíneo. Levantar ativa vários mecanismos que ajudam a manter a circulação. O estiramento da parede capilar ativa o mecanismo miogênico. O mecanismo metabólico também é ativado. Andar ajuda porque ativa a bomba muscular. Mesmo assim, a pressão arterial cai, ativando o baroreflexo. A atividade simpática aumenta, causando 1) venoconstrição, aumentando o retorno venoso, 2) aumento da contratilidade e frequência cardíaca, e 3) vasoconstrição arteriolar, especialmente no leito esplâncnico e renal, e no músculo esquelético. Na ausênçia do baroreflexo, a pressão cerebral ao levantar fica tão baixa que desmaios são comuns. Respostas cardiovasculares em exercício físico Durante exercício físico, o débito cardíaco pode aumentar 4 ou 5 vezes. Para bombear este volume, o coração precisa bater mais rápido e com mais força. Frequência cardíaca aumenta porque a atividade simpática aumenta, e a atividade parassimpática cai, consequência de sensores musculares e sinais do cortex motor. Contratilidade cardíaca aumenta porque atividade simpática aumenta. O volume diastólico final também pode aumentar, ativando o mecanismo de Frank- Starling. Assim, todo o sangue que entra no coração é bombeado para as artérias. Um aumento do débito cardíaco só é possível com um aumento do retorno venoso. O retorno venoso é facilitado por ativação da bomba muscular e da bomba respiratória, e por venoconstrição, especialmente no fígado, intestino, e baço (consequência da ativação simpática). A tabela mostra que o músculo esquelético (40 % do corpo) recebe muito mais sangue durante exercício. Durante repouso, só 25% dos capilares no músculo recebem sangue ao mesmo tempo porque as arteríolas se abrem e se fecham algumas vezes por minuto. Durante exercício físico, o mecanismo metabólico (efeito direto de baixo O2 e alto CO2 na arteríola) aumenta o fluxo em 20 vezes. Este mecanismo consegue aumentar o fluxo sanguíneo no músculo esquelético até quando a atividade simpática está alta. Adrenalina também aumenta o fluxo sanguíneo no músculo esquelético. Enquanto o fluxo de sangue para o músculo ativado aumenta, o fluxo de sangue nos órgãos não essenciais cai. Estes órgãos, como rins, intestino, fígado, e músculo esquelético inativo são bastante sensíveis ao aumento da atividade simpática, e reagem com vasoconstrição. O fluxo de sangue para a pele é regulado para manter a temperatura do corpo. Inicialmente, a atividade simpático para a pele aumenta, reduzindo fluxo de sangue para a pele. Quando o sensor de temperatura no hipotálamo esquenta, a atividade simpática para a pele cai, aumentando o fluxo para a pele e facilitando a perda de calor. Repouso Atividade Cérebro 0,75 1 Coração 0,25 1 Rins 1,15 0,25 Esplâncnico 1,35 0,5 Músculo esq. 0,75 20 Pele 0,35 0,2 – 1,75 Total 4,6 24 Fluxo de sangue em L/min Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 Respostas cardiovasculares em hemorragia A perda de mais que 2 litros de sangue pode ser letal. O débito cardíaco cai porque a falta de sangue nas veias reduz o retorno venoso. Como consequência acumulam vasodilatadores como CO2 nos tecidos. A combinação da redução do débito cardíaco e vasodilatação generalizada causa uma hipotensão grave. Hemorragia ativa vários mecanismos que ajudam a restaurar a função do sistema cardiovascular: barorreceptores, quimorreceptores, e em caso de isquemia cerebral, sensores no cérebro são ativados e estimulam a atividade simpática. O efeito nas arteríolas é vasoconstrição, especialmente no intestino, nos rins, no músculo esquelético, e na pele, reduzindo o fluxo de sangue para estes órgãos, e aumentando a pressão arterial. O efeito nas veias é venoconstrição, especialmente no fígado, aumentando o retorno venoso. O efeito no coração é aumento do débito cardíaco pelo aumento da contratilidade e frequência cardíaca. Vasoconstritores como angiotensina II e vasopressina são liberados. A baixa pressão nos capilares favorece a reabsorção de fluido intersticial. O sangue fica diluído com a entrada deste fluido (porcentagem de hemácias cai). As perdas renais de água e sódio param. Mesmo com todas estas respostas, o paciente pode morrer. Os problemas mais graves que ele encontra são: Hipóxia e hipercapnia tecidual causam vasodilatação intensa, reduzindo ainda mais a pressão arterial. Hipóxia cardíaca reduz a eficiência da bomba cardíaca. Hipóxia interfere com a função das regiões cerebrais responsáveis pela geração da atividade simpática intensa. Isquemia intensa causa danos renais e intestinais. Endotoxinas (fragmentos da parede celular de bactérias) entram na circulação intestinal e causam vasodilatação intensa. Coagulação sanguínea intravascular é comum. Respostas cardiovasculares em mergulho A foto mostra um mergulhador procurando pérolas na costa de Kuwait. O mergulho induz a ativação simultânea da atividade simpática e parassimpática. A resposta é estimulada por água entrando no nariz, e por ativação dos quimorreceptores arteriais. A ativação simpática causa vasoconstrição nos rins, fígado, e pele, preservando o oxigênio presente no sangue para cérebro e coração. Ela também causa vasoconstrição nas artérias musculares (artérias maiores que não são sensíveis à hipóxia tecidual). Os músculos, portanto, funcionam de forma anaeróbica (produzem ATP a partir da degradação de glicose para ácido láctico). Vasoconstrição na pele reduz a perda de calor. A ativação parassimpática causa bradicardia intensa (de 70 para 30 bpm). Bradicardia reduz o uso de oxigênio pelo miocárdio. Adicionalmente, bradicardia facilita a perfusão do miocárdio. Durante sístole, a pressão intraventricular alta comprime os vasos do miocárdio. Portanto, a perfusão do miocárdio acontece durante diástole! Com bradicardia tem mais diástole. (Para mais informações, veja: Cardiovascular defense against asphyxia. Science 153(3739): 941-949, 1966.) Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 11) O sistema cardiovascular em doença: hipertensão, falência cardíaca, infarto Hipertensão arterial Aumentos crônicos da pressão não impedem a eficiente troca de substâncias, mas aumentam o desgaste do coração e dos vasos. Hipertensão aumenta o trabalho cardíaco. Por isso, causa hipertrofia do ventrículo esquerdo, e pode levar à insuficiência cardíaca congestiva. Desgaste vascular pode levar a aterosclerose, isquemia cardíaca, acidente vascular cerebral, doença renal, e retinopatia. Para medir a pressão arterial você pode usar uma manguita e um estetoscópio. Você deve primeiro inflar a manguita para 200 mm Hg, suficiente para completamente bloquear o fluxo de sangue pela artéria radial, e depois lentamente liberar a pressão na manguita. Quando a pressão dentro da manguita é menor que a pressão máxima na artéria, sangue comece a passar. Este fluxo de sangue é turbulento, e você pode detectar ele com o estetoscópio. Annote a pressão neste momento: é a pressão máxima na artéria, é a pressão sistólica. Continuando liberar a pressão na manguita, os soms vão enfraquecer porque sangue passa fácilmente. A pressão com que os sons desaparecem é perto da pressão diastólica. Quando sua pressão diastólica é maior que 90 mm Hg, ou a pressão sistólica é maior que 140 mm Hg, você tem hipertensão, assim como um quarto da população adulta, e é melhor tratar. Metade dos hipertensos não sabe que tem hipertensão, e dos que sabem, só 20% tem a pressão controlada adequadamente. As causas de hipertensão são complexos, e incluem a redução da capacidade do rim para excretar sódio. O acúmulo de sódio aumenta o volume sanguíneo, aumentando o retorno venoso, o débito cardíaco, e a pressão arterial. O aumento da pressão normaliza a perda de sódio pelos rins. Com tempo, o aumento da perfusão tecidual causa a perda de vasos pequenos, aumentando a resistência vascular. Portanto, o débito cardíaco volta para normal, mas a pressão continua alta por causa do aumento da resistência vascular. Tratamentos não medicamentosos incluem redução do peso, exercício físico, parar de fumar, uma dieta com mais frutas e vegetais e menos sódio, gorduras saturadas, e álcool. Se isso não resolver, deve usar fármacos anti-hipertensivos: bloqueadores do sistema renina-angiotensina-aldosterona, diuréticos, bloqueadores adrenérgicos, bloqueadores de canais de cálcio, ou outros. É comum que uma droga não seja suficiente para resolver a hipertensão porque muitos mecanismos controlam a pressão de longo prazo: a droga bloqueia um, mas outros são ativados e mantêm a pressão alta. Por exemplo, a administração de um vasodilatador reduz a pressão arterial, mas também estimula a produção de angiotensina II e aldosterona, que reduzem a excreção de água e sódio, aumentando o volume sanguíneo, e aumentando a pressão arterial. O bloqueio destes efeitos secundários com um bloqueador de Ang II ou um diurético pode potenciar a redução da pressão. Insuficiência cardíaca congestiva A capacidade do coração para bombear sangue está reduzida em pacientes com infarto, insuficiência das válvulas cardíacas, e hipertensão. Quando o ventrículo não consegue ejetar o sangue que entra, sangue acumula no ventrículo, no átrio, e nas veias. A congestão ajuda restaurar a capacidade do coração para bombear, porque o volume diastólico final aumentará, e a força de contração aumenta pela ativação de mecanismo de Frank-Starling. Entretanto, o aumento do volume diastólico final tem um preço: o coração tem que produzir mais força para produzir a mesma pressão. Em condições mais graves, mesmo assim o coração não consegue bombear sangue suficiente, e a pressão arterial fica baixa. Esta pressão baixa estimula várias respostas: renina será liberada, aumentando o volume sanguíneo, e aumentando ainda mais o volume diastólico final e a força de contração cardíaca. a atividade simpática aumenta, aumentando a força de contração cardíaca, e redistribuindo o fluxo de sangue para os órgãos mais importantes. Estas respostas ajudam restaurar o débito cardíaco, mas também têm efeitos colaterais perigosos: A congestão aumenta a pressão venosa, que pode levar á edema, comprometendo as trocas capilares, que já estavam comprometidos pelo falta de fluxo de sangue. No caso de falência do ventrículo esquerdo, a congestão dos pulmões dificulta a respiração, causando falta de ar. Em caso mais grave pode acontecer edema pulmonar. Aumento da pressão na circulação pulmonar também pode sobrecarregar o ventrículo direito. Falência do ventrículo direito pode levar à edema na circulação sistémica. A ativação simpática e angiotensina II causam vasoconstrição, dificultando o bombeamento do coração. Os tratamentos: Drogas para estimular a contratilidade cardíaca (digitálicos). Drogas para reduzir a resistência vascular podem ser úteis: em alguns pacientes, a capacidade de bombeamento do coração aumenta bastante mesmo com uma redução pequena da pressão arterial. Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327 Drogas para reduzir o volume sanguíneo (diuréticos) podem ser úteis: em alguns pacientes, a capacidade de bombear sangue cai pouco quando cai o volume diastólico final. Isso acontece porque estiramento cardíaco intenso demais não estimula a contratilidade. Infarto O infarto é um necrose do miocárdio causado por bloqueio do fluxo coronário. A causa comum é aterosclerose. Aterosclerose é especialmente traiçoeira nas artérias coronárias grandes. Estes tem uma baixa resistência ao fluxo, e por isso uma oclusão de 70% da luz pode ter pouco efeito. Entretanto, nesta condição perigosa, qualquer coágulo pequeno pode completamente fechar a região estreito, comprometendo parte grande do miocárdio. Um bloqueio súbito e grande causa necrose porque a circulação colateralnão fornece sangue suficiente para sobrevivência celular. Com entupimento lento, o desenvolvimento de uma circulação colateral pode garantir uma perfusão coronária adequada. O dano muscular reduz a capacidade para bombear sangue, portanto débito cardíaco pode cair. A presença de regiões isquêmicas aumenta também o risco de arritmias como fibrilação ventricular. A isquemia cardíaca causa dor no peito (angina). Angina é mais comum durante exercício. Em repouso, uma artéria coronária estreita pode permitir um fluxo coronário normal com uma vasodilatação mais intensa das arteríolas cardíacas. Em exercício, nem relaxamento arteriolar máximo permite um fluxo sanguíneo adequado. Baixado por Bruna Ferreira (brunna331silva@gmail.com) lOMoARcPSD|40945327