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1 Resistência Bacteriana: O Papel do Farmacêutico na Prevenção do Uso Indiscriminado dos Antibióticos Jéssica Danielli Melo Alves1 Marcio Homem da Silva Rizzon2 3 RESUMO O presente trabalho por meio de uma revisão bibliográfica, aborda a resistência bacteriana e o papel do farmacêutico no combate ao uso indiscriminado de antibióticos. O uso indiscriminado e inadequado desses medicamentos, levou ao surgimento da resistência bacteriana a esses fármacos, um dos principais desafios de saúde pública, sendo motivo de preocupação em todo o mundo. O objetivo geral do presente trabalho foi analisar a atuação do farmacêutico nesse contexto e suas responsabilidades, explorar os mecanismos de resistência bacteriana e os principais mecanismos de ação dos antibióticos, e as iniciativas criadas para combater a resistência bacteriana e o uso indiscriminado dos antibióticos. Além disso, discutiu-se o impacto da resistência bacteriana na saúde pública, destacando a importância da prevenção do uso indiscriminado de antibióticos. O farmacêutico desempenha um papel crucial na prevenção e controle da resistência bacteriana, através da educação, avaliação criteriosa das prescrições e colaboração interprofissional. O estudo também apontou a necessidade de medidas públicas e legais mais rigorosas para combater o uso indiscriminado de antibióticos, bem como melhorias na atenção farmacêutica, tanto no setor público quanto no privado. Em suma, este trabalho ressalta a urgência de uma abordagem multidisciplinar e a eficácia das normas regulatórias para garantir o uso adequado de antibióticos e combater a resistência bacteriana. A metodologia fundamenta-se em uma revisão bibliográfica, embasando-se em análise de estudos relevantes. Palavras-chave: Antibióticos. Resistência. Bacteriana. Farmacêutico. Papel do farmacêutico 1 Acadêmica do curso de Farmácia da Faculdade Anhanguera. 2 Orientador(a). Docente do curso de Farmácia da Faculdade Anhanguera. 2 1 INTRODUÇÃO Os antibióticos são substâncias desenvolvidas para tratar doenças infecciosas, e podem ser categorizados como sintéticos ou de origem natural. Sua descoberta no século XX representou um avanço significativo no tratamento de doenças infecciosas, resultando em melhorias substanciais na saúde da população. Essa descoberta marcou um dos momentos mais emblemáticos da medicina moderna, contribuindo significativamente na redução das taxas de mortalidade (Furtado et al., 2019). No entanto, o uso indiscriminado e inadequado dos antibióticos, levou ao surgimento da resistência bacteriana aos antibióticos, um fenômeno no qual as bactérias desenvolvem a capacidade de resistir aos efeitos dos antibióticos, isso acontece quando as bactérias sofrem mutações ou adquirem genes de resistência que as tornam menos suscetíveis aos antibióticos. O uso indevido de antibióticos, como a automedicação, interrupção prematura do tratamento ou prescrição desnecessária por profissionais de saúde, cria condições para que as bactérias sobrevivam e desenvolvam resistência (FRANCO et al.,2015). O uso de forma errada e sem orientação desses fármacos, não apenas compromete a eficácia desses medicamentos, mas também a prolongação das hospitalizações, diminuição das opções terapêuticas, aumento dos custos e, mais preocupante ainda, a disseminação de cepas bacterianas resistentes (Pires et al.,2023). Grande parcela significativa do consumo de antibióticos é, na verdade, desnecessária e, muitas vezes, essa prática se deve à falta de compreensão por parte da população, que erroneamente acredita que os antibióticos são eficazes para tratar qualquer situação que julguem necessário, desde dores em geral a inflamações na garganta. A Organização Mundial da Saúde adverte sobre a possibilidade de uma era pós-antibiótica caso o uso indiscriminado desses medicamentos não seja interrompido (OLIVEIRA; PEREIRA; ZAMBERLAM,2020). Nesse contexto, o farmacêutico surge como um agente crucial na prevenção e promoção do uso racional dos antibióticos, fornecendo informações, educação e acompanhamento aos pacientes, sejam nas farmácias e drogarias, ou no setor da saúde pública, ou privada, proporcionando uma maior taxa de segurança e sucesso na terapia medicamentosa, promovendo melhorias na qualidade de vida dos pacientes. 3 O presente trabalho tem como objetivo geral revisar a literatura a respeito do uso indiscriminado dos antibióticos, e suas consequências, e o papel do farmacêutico no combate a resistência bacteriana, e como objetivos específicos esclarecer o mecanismo da resistência bacteriana, discutir sobre os fatores que ocasionam a resistência bacteriana e compreender a importância do uso racional dos antibióticos 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Metodologia A pesquisa do presente trabalho fundamenta-se em uma revisão Bibliográfica, embasando-se em livros, dissertações, revistas e artigos científicos selecionados mediante buscas nas seguintes bases de dados: Google Acadêmico, Scielo, Portal da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Conselho Federal de Farmácia (CFF), Pubmed, artigos científicos, dissertações, teses, e revistas eletrônicas. A palavras-chave utilizadas na busca serão: resistência bacteriana, antibióticos, uso de antibióticos, resistência bacteriana, infecção hospitalar, papel do farmacêutico na resistência bacteriana. Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram os trabalhos publicados no período de 2013 a 2024, em língua portuguesa e inglesa, os artigos que apresentassem informações coerentes com o tema do trabalho. Os critérios de exclusão foram artigos que não se encontravam no período determinado ou que fugissem ao tema. 2.2 Resultados e Discussão Resistência bacteriana: um problema de saúde pública. A história dos antibióticos tem seu marco inicial com a descoberta da penicilina em 1928 por Alexander Fleming, médico e pesquisador inglês, um evento que teve um impacto imensurável na história da ciência, medicina e farmácia do século XX, no controle das infecções bacterianas, que contribuiu para a prevenção e redução de inúmeras mortes. A descoberta da penicilina foi um acaso, quando Fleming havia semeado uma placa de cultivo de Staphylococcus aureus e deixou em sua bancada, após retornar ao local depois de um determinado período de férias, notou que um 4 fungo do gênero Penicillium havia contaminado a placa onde havia a bactéria, Fleming percebeu que próximo ao fungo, as bactérias não estavam se proliferando, inibindo o crescimento das bactérias próximas ao local de contaminação. Ao cultivar o Penicillium notatum, Fleming posteriormente investigou e observou uma forte capacidade do fungo de inibir o crescimento de outras bactérias patogénicas. Esse achado deu início a uma nova era na medicina, transformando a prática médica em todo o mundo, impulsionando uma série de descobertas subsequentes (PEREIRA; PITA, 2018). No entanto, a utilização indiscriminada e sem critérios apropriados dos antibióticos pode resultar no desenvolvimento da resistência bacteriana, um fenômeno em que cepas de bactérias conseguem crescer e sobreviver mesmo na presença de concentrações de antibióticos que originalmente seriam eficazes em inibi-las. Isso pode ocorrer devido à evolução natural das bactérias ao longo do tempo, onde desenvolvem mecanismos de resistência como parte de sua adaptação (FURTADO et al.,2019) Entretanto, o uso indevido desses fármacos tem acelerado esse processo, como o uso descontrolado dessas medicações pela população, muitas vezes administrados sem supervisão profissional, por pessoas com infecções virais, como resfriados, gripes e inflamações de garganta, que acreditam que apenas os antibióticos podem garantir uma recuperação rápida, interrupção prematura do tratamento, prescrições erradas por profissionaisde saúde, no que se refere a desnecessidade ou de amplo espectro com períodos e doses incorretas, levantou sérias preocupações em relação à resistência bacteriana (OLIVEIRA; PEREIRA; ZAMBERLAM,2020;LOUREIRO ET AL., 2016). No entanto, à medida que mais bactérias se tornam resistentes aos antibióticos existentes e se espalhando pelo mundo, o arsenal terapêutico disponível para combater infecções diminui, tornando o tratamento de doenças infecciosas consideradas comuns como infecções urinárias, infecções respiratórias, gonorreia e Salmonelose, podem não responder aos antibióticos usados rotineiramente, e exigir o uso de tratamentos mais complexos e de maior custo, resultando em doenças prolongadas, incapacidade ou até morte. Estima-se que até 2050 o problema causará, anualmente, a perda de 10 milhões de vidas em todo o mundo, além de um prejuízo econômico de 100 trilhões de dólares (ANVISA, 2020; AVISA,2022). 5 O crescente aumento global das infecções hospitalares, causadas por microrganismos, associada à resistência antimicrobiana, emergiu como um dos principais desafios de saúde pública sendo motivo de preocupação em todo o mundo decorrendo do aumento da morbidade, mortalidade e internações relacionadas a infecções hospitalares. (FRANCO et al.,2015). Devido à extrema necessidade em abordagens e soluções para esse assunto, a Organização Mundial da Saúde, define resistência a antimicrobianos (doravante, AMR, da sigla em inglês) e em 2015, os Estados-Membros da OMS aprovaram por unanimidade um Plano de Ação Global para combater a AMR (doravante, GAP-AMR, da sigla em inglês). Tendo como um dos objetivos garantir, o maior tempo possível, o tratamento bem-sucedido e prevenção de doenças infecciosas com medicamentos eficazes e seguros, utilizados de forma responsável e acessíveis a todos os que deles necessitam (OMS, 2024). Em 22 de outubro de 2015 durante a sexagésima oitava Assembleia Mundial da Saúde, a OMS lançou o Sistema Global de Vigilância da Resistência e Utilização de Antimicrobianos (doravante, GLANS, da sigla em inglês) o primeiro esforço colaborativo global para padronizar a vigilância da RAM, criado para apoiar a iniciativa GAP-AMR de “fortalecer o conhecimento através da vigilância e da investigação”, e continuar a preencher lacunas de conhecimento, com o objetivo de informar estratégias em todos os níveis (OMS, 2024). O GLANS fornece uma abordagem padronizada para a recolha, análise, interpretação e partilha de dados globais, analisando taxas da resistência antimicrobiana e dados sobre o consumo de antimicrobianos em humanos. Além disso, o GLASS promove uma mudança de abordagens de vigilância baseadas apenas em dados laboratoriais para um sistema que inclui dados epidemiológicos, clínicos e ao nível populacional (OMS, 2024). O último relatório GLASS foi publicado em dezembro de 2022, fornece informações desde 2017, tendo alcançado em seis anos a contribuição de 127 países com territórios e áreas com 72% da população mundial. Nesse relatório, foi exposto elevados índices de resistência em bactérias causadoras de sepse, juntamente com um aumento significativo na resistência a tratamentos de diversas bactérias que causam infecções comuns entre a população (OPAS, 2022). Conforme o documento, foi descrito e relatado altos níveis de resistência acima de 50% em bactérias que são causadoras frequentes de sepse em hospitais, como 6 Klebsiella pneumoniae ou Acinetobacter spp. Segundo os dados relatados, 8% das infecções causadas por essas bactérias eram resistentes aos carbapenêmicos. Além disso, mais de 60% das cepas isoladas de Neisseria gonorréia, mostraram resistência a um dos antibióticos orais mais utilizados, o ciprofloxacino. Outro dado alarmante é que mais de 20% das cepas isoladas de E.coli, mostraram-se resistentes aos medicamentos de primeira e segunda linha (OPAS, 2022). Outro ponto crítico no enfrentamento da resistência bacteriana é a falta de novos medicamentos disponíveis no mercado. De acordo com informações divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), dos 43 antibióticos atualmente em fase de desenvolvimento clínico, nenhum apresenta uma solução eficaz contra bactérias altamente perigosas e resistentes a antibióticos. Além disso, destaca-se que a maioria dos antibióticos lançados no mercado nas últimas décadas são derivados de classes de medicamentos já existentes, muitos dos quais foram descobertos na década de 1980 (BRASIL, 2021). No Brasil, várias medidas estão sendo tomadas para combater a resistência bacteriana, isso inclui a implementação de programas de controle de infecções em hospitais e unidades de saúde, a promoção do uso racional de antibióticos por meio de campanhas de conscientização e educação para profissionais de saúde e para o público, e o estímulo à pesquisa e desenvolvimento de novos tratamentos antimicrobianos. Além disso, o país está fortalecendo sua vigilância epidemiológica para monitorar e detectar precocemente os casos de resistência bacteriana, permitindo uma resposta mais eficaz e direcionada (ANVISA, 2017). RESOLUÇÃO – RDC Nº 20, DE 5 DE MAIO DE 2011 A regulação e controle do uso de antibióticos são fundamentais para combater a resistência bacteriana, impondo a percepção do problema como relevante e carente de resposta adequada, que se configurou na criação da RDC n.º 20/2011, uma norma emitida pela Anvisa criada estabelecendo a inclusão dos medicamentos à base de substâncias classificadas como antimicrobianos no SNGPC e a obrigatoriedade de retenção de receita, seja em farmácias públicas ou privadas. Essa resolução estabelece normas para a prescrição, dispensação, controle, embalagem e rotulagem desses medicamentos, dificultando o fácil acesso de pacientes a estes fármacos 7 visando garantir a segurança e a utilização correta desses produtos no Brasil (OLIVEIRA; PEREIRA; ZAMBERLAM,2020; BRASIL, RDC n.º 20/2011). Os antibióticos podem ser prescritos em receituário privativo do prescritor ou do estabelecimento de saúde, a receita deve ser prescrita de maneira clara e legível, sem rasuras, em duas vias, assinadas por um profissional qualificado, nome do medicamento ou da substância prescrita, sob a forma de Denominação Comum Brasileira (DCB), dosagem, forma farmacêutica, quantidade e posologia, identificação do profissional prescritor, com sua inscrição no Conselho Regional ou nome da instituição, assinatura e marcação gráfica (carimbo), endereço completo, telefone, identificação do paciente, idade e sexo, identificação do comprador com nome completo número do documento oficial de identificação, endereço completo e telefone. No verso da receita deve conter a data da emissão da prescrição, e anotação da quantidade dispensada e número do lote, a receita de antimicrobianos é válida por 10 (dez) dias a contar da data de sua emissão (BRASIL, RDC n.º 20/2011). Principias Mecanismo de ação dos antibióticos. Os antibióticos exercem sua atividade terapêutica por meio de diversos mecanismos de ação, cada um direcionado a um aspecto específico do ciclo de vida bacteriano. Quanto ao mecanismo de ação, são eles: inibição da síntese da parede celular, inibição da síntese ou dano da membrana citoplasmática, inibição da síntese proteica dos ribossomos, alterações na síntese dos ácidos nucleicos e alterações do metabolismo celular. Inibição da Síntese da Parede Celular: A estrutura da parede celular bacteriana consiste em uma rede de macromoléculas conhecidas como peptidoglicanos. Os antibióticos exercem sua ação ao inibir de forma irreversível a enzima transpeptidase, que catalisa a reação de transpeptidação, essencial na formação das ligações cruzadas entre as cadeias de peptidoglicano na parede celular bacteriana, esse processo leva ao enfraquecimento da parede celular bacteriana, aumento da permeabilidade da paredecelular, interferindo em diversas enzimas envolvidas na etapa final de sua síntese e consequentemente, à morte da célula bacteriana. Entre os principais representantes desse grupo estão os antibióticos β-lactâmicos, a bacitracina e os glicopeptídios como a vancomicina (Almeida et al., 2021). 8 Os β-lactâmicos são caracterizados pela presença de um anel β-lactâmico em sua estrutura molecular, conferindo-lhes atividade bactericida. Esses medicamentos atuam bloqueando a reação de transpeptidação e inibindo o crescimento do peptidoglicano. Dentro dessa categoria, encontram-se as penicilinas (como penicilina G, penicilina V, meticilina, oxacilina, amoxicilina e ampicilina), as cefalosporinas de diferentes gerações, os carbapenêmicos e os monobactâmicos (Almeida et al., 2021). Os glicopeptídeos exercem sua ação ao se ligarem à extremidade terminal do peptídeo D-Ala-D-Ala da cadeia de peptidoglicano, bloqueando assim as ligações cruzadas entre o ácido N-acetilmurâmico e o N-acetilglucosamina, exercendo um efeito bacteriostático, ao inibir a síntese da parede celular bacteriana através da ligação de alta afinidade às unidades precursoras da parede célula, essenciais para a formação e a integridade da parede celular (FRANCO et al.,2015). Por sua vez, a bacitracina atua bloqueando a conversão do pirofosfato- bactoprenol em fosfobactoprenol, um importante precursor na síntese da parede celular, e age como um transportador de membrana associado em bactérias Gram- negativas (FRANCO et al.,2015). Inibição da Síntese de Proteínas: Nas células, tanto procarióticas quanto eucarióticas, ocorre a síntese proteica. Nas bactérias, que são procarióticas, a síntese proteica acontece no ribossomo bacteriano, composto por duas subunidades, 30S e 50S. Os mecanismos de ação de alguns antibióticos como os aminoglicosídeos, tetraciclinas, oxazolidinonas, lincosamidas, macrolídeos e cloranfenicol ocorre ao nível ribossômico, modificando ou inibindo o processo de síntese proteica, afetando a síntese das proteínas. Alguns atuam na unidade 30S do ribossomo, enquanto outros atuam na unidade 50S, se ligando a componentes do ribossomo bacteriano, impedindo a tradução do RNA mensageiro em proteínas, interferindo na produção de enzimas essenciais para o metabolismo, crescimento e multiplicação bacteriana (Santos et al., 2018). Os aminoglicosídeos como a estreptomicina e a gentamicina, neomicina, e as tetraciclinas, por exemplo, iniciam seu mecanismo de ação ligando-se à parede celular bacteriana e sendo transportados para o citoplasma por um processo dependente de gasto energético. Uma vez no citoplasma, eles se ligam à fração 30S do Ácido Ribonucleico Ribossômico (RNAr), induzindo uma leitura errada do RNAm. Isso resulta na codificação de proteínas defeituosas que ao serem incorporadas na 9 membrana celular afetam a permeabilidade, levando ao vazamento de moléculas e íons essenciais para a bactéria (TEIXEIRA; FIGUEIREDO; FRANÇA,2019). Os macrolídeos, por sua vez, têm geralmente um efeito bacteriostático, inibindo a síntese proteica. Eles se ligam aos receptores da subunidade 50S do ribossomo, impedindo as reações de transpeptidação e translocação, resultando na inibição da síntese proteica. Quando usados em concentrações elevadas, os macrolídeos podem ter um efeito bactericida (Santos et al., 2018). Inibição da Replicação de Ácidos Nucleicos: A classe de antibióticos que atua interferindo no metabolismo do ácido nucleico inclui as fluoroquinolonas e as rifampicinas. Esses fármacos exercem sua ação, os inibidores da síntese de ácido nucleico interferem nos processos de replicação do ácido desoxirribonucleico (DNA) e transcrição das bactérias. As quinolonas, como ciprofloxacino, norfloxacino e ofloxacino, atuam inibindo a ação do DNAgirase (em bactérias Gram-negativas) e da topoisomerase IV (em bactérias Gram-positivas), enzimas essenciais para o enrolamento e desenrolamento das moléculas de DNA, necessárias para o crescimento e divisão das células bacterianas. Ao bloquear essas enzimas, as fluoroquinolonas impedem todos os processos subsequentes, levando à morte da célula bacteriana. Por outro lado, a rifampicina é um bactericida que se liga de maneira irreversível às RNA polimerases, inibindo-as. Essas enzimas são responsáveis pelo processo de transcrição, impedindo a síntese do mRNA e, consequentemente, a síntese de proteínas (TEIXEIRA; FIGUEIREDO; FRANÇA,2019). Destruição da Membrana Celular: Os antibióticos que operam por meio desse mecanismo de ação são as polimixinas, caracterizadas como moléculas anfipáticas tensoativas, são semelhantes a detergentes catiônicos, ao conterem grupos básicos (NH³+) e uma cadeia lateral de ácidos graxos em sua estrutura molecular. Quando em contato com a membrana citoplasmática do microrganismo, esses compostos interagem com os lipopolissacarídeos (LPS) presentes na membrana, a parte lipídica da molécula de ácido graxo se incorpora à membrana, enquanto o grupo básico fica na superfície. Ao se ligarem aos LPS, as polimixinas provocam a remoção de íons de cálcio e magnésio, cruciais para a estabilidade da membrana, resultando em danos à membrana plasmática, causando alterações em sua permeabilidade. Como consequência, ocorre a desestabilização da membrana celular bacteriana, perda de 10 metabólitos essenciais para a célula microbiana, e entrada de água na célula, levando à sua eliminação (FRANCO et al.,2015). Inibição da síntese de folato: A inibição da síntese de metabólitos essenciais é um mecanismo de ação de alguns antibióticos, como as sulfonamidas e trimetoprima, sendo ambos antagonistas do ácido fólico, atuando inibindo a síntese do folato, um composto essencial para as funções fisiológicas. Esses medicamentos agem competitivamente inibindo enzimas específicas dos microrganismos, conhecidas como antimetabólitos, que são semelhantes ao substrato da enzima. Por exemplo, as sulfonamidas que atuam competitivamente inibindo a enzima di-hidropteroato sintetase, responsável por integrar o Ácido Para-Aminobenzóico (PABA) ao diidropteróico difosfato. Essa inibição impede a utilização do diidropteróico difosfato na síntese do ácido fólico, agindo como análogos do PABA e competindo com ele pela enzima. Já o trimetoprima, quando combinado com as sulfonamidas, atua como um inibidor competitivo da dihidrofolato redutase, enzima essencial para a redução do diidrofolato a tetraidrofolato nas células microbianas. Assim, microrganismos dependentes da síntese do ácido fólico são sensíveis a essa classe de antimicrobianos (NOGUEIRA et al., 2020). Mecanismo da Resistência Bacteriana. A resistência bacteriana aos antibióticos se manifesta em duas formas principais, a Intrínseca, ou seja, mecanismos de resistência naturalmente presentes em um determinado gênero ou espécie bacteriana, ou adquirida, a qual resulta de mutações nos próprios genes ou da aquisição de genes por meio da transferência de genes que conferem resistência a outros micro-organismos, quando submetidas a medicação, se parte delas sobrevive, diz-se que esta adquiriu resistência. Existem diversos mecanismos que conferem às bactérias resistência aos antibióticos como a produção de enzimas que degradam ou modificam antibióticos, redução da permeabilidade da membrana externa, sistemas de efluxo levando a extrusão do antibiótico, alteração do sítio alvo (de ligação) do antibiótico, mutações nos genes de resistência, troca de informações genéticas, pressão seletiva exercida pelo ambiente e a proliferação e disseminação de clones multirresistentes (NOGUEIRA et al., 2020). 11 Inativação enzimática do antibiótico: É o mecanismo de resistência mais comum e importante, caracterizado pela destruição ou inativação dos antibióticos por meio de enzimas. As β-lactamases, enzimas produzidas pelas bactérias que degradam ouinativam esses fármacos, atuam hidrolisando o anel β-lactâmico das penicilinas e das cefalosporinas, promovendo a abertura anel β-lactâmico, impedindo sua ação ao destruir o sítio de ligação dos antimicrobianos às proteínas ligadoras. Muitas bactérias, tanto gram-positivas quanto gram-negativas, têm a capacidade de produzir essa enzima, com a existência de mais de 200 tipos de β-lactamase (Costa; Júnior, 2017). A modificação enzimática é o principal mecanismo de resistência aos aminoglicosídeos. Esse tipo de resistência pode levar a um alto grau de resistência a esses antimicrobianos. Os genes responsáveis por essa resistência geralmente estão presentes em plasmídeos ou transposons. Mais de 50 enzimas modificadoras de aminoglicosídeos foram identificadas e classificadas. Essas enzimas podem modificar os grupos amino ou hidroxila presentes na estrutura dos aminoglicosídeos, reduzindo sua capacidade de se ligar ao ribossomo e, consequentemente, de inibir a síntese proteica bacteriana (Santos et al., 2018). Alterações na permeabilidade do antibiótico: A penetração do fármaco nas bactérias depende de características físico-químicas dos antibióticos como a polaridade e o tamanho das moléculas, a permeabilidade da membrana bacteriana é crucial para que os antibióticos possam exercer seu efeito desejado. Para atingir o alvo e agir no meio intracelular, os antibióticos devem ultrapassar a membrana externa ou toda a parede celular. Alterações na permeabilidade representam um dos mecanismos pelos quais as bactérias podem resistir à entrada de substâncias tóxicas para meio intracelular. Bactérias Gram-negativas, devido à presença de uma membrana interna e outra externa, são naturalmente menos permeáveis a muitos antimicrobianos. Mudanças nessas regiões podem limitar ainda mais a entrada do antibiótico. As porinas são proteínas localizadas na membrana externa que tornam essa camada mais permeável do que a membrana interna, facilitando a entrada de pequenas moléculas. As proteínas da membrana externa (OMPs) desempenham funções importantes no transporte, nutrição e secreção de substâncias tóxicas, atividades essenciais para a sobrevivência da célula bacteriana. Este mecanismo pode afetar principalmente a entrada de antibióticos beta-lactâmicos e de fluoroquinolonas (Andrade; Darini, 2020). 12 Bombas de efluxo: As bombas de efluxo são proteínas localizadas na membrana bacteriana, responsáveis por expelir do meio intracelular substâncias nocivas à bactéria. São mecanismos naturais de excreção de produtos tóxicos resultantes do metabolismo bacteriano e estão presentes na parede celular das bactérias. Essas bombas podem ser específicas para determinados substratos, como a Tet, que seletivamente expulsa as tetraciclinas, ou podem atuar sobre uma variedade de substratos com estruturas diferentes. Nesse caso, são chamadas de bombas de resistência a múltiplos fármacos, sendo este um mecanismo de resistência que impacta todas as classes de antibióticos, especialmente os macrolídeos, tetraciclinas e fluoroquinolonas. Essa capacidade de expulsar os antibióticos pode ser observada tanto em bactérias gram-positivas quanto gram-negativas (Costa; Júnior, 2017). Mudança no sítio de ligação do antibiótico: A maioria dos antibióticos se liga especificamente aos seus alvos com alta afinidade, impedindo a atividade normal desses alvos. No entanto, quando ocorre alguma modificação no alvo do antibiótico que possa impedir ou reduzir essa afinidade de ligação, isso afeta a eficácia do fármaco, permitindo ainda, que essa estrutura, mesmo modificada, continue atuando em suas funções. Em alguns casos, o antibiótico pode não reconhecer mais aquela célula bacteriana como um alvo válido. Essa alteração no alvo pode ser causada por mutações naturais no alvo, modificações na estrutura do alvo ou substituição do alvo nativo por um alvo alternativo resistente. Esse mecanismo ocorre devido à redução na capacidade de ligação do fármaco ao alvo ou pela presença de um novo alvo que não se liga ao antibiótico, impedindo a ação dos antimicrobianos. Assim, a bactéria pode continuar suas funções escapando da ação dos antibióticos (Costa; Júnior, 2017). O papel do farmacêutico no combate à resistência bacteriana Assistência Farmacêutica é compreendida como o conjunto de ações e serviços destinados a garantir uma assistência terapêutica completa, promovendo, protegendo e recuperando a saúde, tanto no individual, como no coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial, visando o acesso e uso racional de medicamentos, o farmacêutico desempenha um papel crucial nesse contexto, sendo responsável por manter-se sempre atualizado. Como profissional de saúde acessível 13 ao público, o farmacêutico oferece aconselhamento e orientação aos pacientes, contribuindo para a seleção da melhor terapia medicamentosa. Essa abordagem é essencial para garantir a eficácia e segurança do tratamento farmacológico, promovendo melhores resultados clínicos e qualidade de vida, o papel do farmacêutico é fundamental no combate ao uso irracional, infecções e resistência na bacteriana (CFF, 2013). Atualmente, os antimicrobianos representam uma das classes de medicamentos frequentemente prescritos. No entanto, uma prescrição consciente requer não apenas uma avaliação abrangente do estado de saúde do paciente, mas também um profundo entendimento da farmacodinâmica e farmacocinética desses fármacos, incluindo suas doses, interações medicamentosas e, sobretudo, seus mecanismos de ação. Nesse contexto, o farmacêutico, como profissional com vasto conhecimento sobre a farmacologia dos medicamentos, desempenhando um papel crucial na promoção do uso racional desses produtos tão amplamente prescritos (Silva; Paixão, 2021). O farmacêutico desempenha um papel fundamental nas farmácias e drogarias no controle do uso racional de antimicrobianos, para que o farmacêutico possa cumprir efetivamente esse papel, é necessário que ele possua habilidades e adote atitudes que contribuam para a integração com a equipe de saúde, interação eficaz com os pacientes e o envolvimento com a comunidade, de forma a educar sobre o uso adequado dos antimicrobianos, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, em especial no êxito farmacoterapêutico. Além disso, entre as atribuições do farmacêutico nesse contexto, destacasse a avaliação criteriosa das prescrições para identificar erros e possíveis interações medicamentosas, a prestação de assistência ao paciente quanto ao uso adequado dos antimicrobianos, prestando orientações sobre horários de administração alertando sobre a importância de administração no horário prescrito, condições de armazenamento adequado, a notificação ao Sistema Nacional de Notificações para a Vigilância Sanitária (NOTIVISA) em caso de eventos adversos e queixas técnicas que comprometam o tratamento farmacoterapêutico, e a realização de treinamentos regulares para os funcionários, com foco na dispensação apenas mediante prescrição e de forma correta (FRANCO et al.,2015). No Brasil, estima-se que de 3% a 15% dos pacientes desenvolvem infecções hospitalares, representando um sério problema de saúde pública. Em 6 de janeiro de 1997, entrou em vigor a Lei Federal 9431, que tornou obrigatória a existência de uma 14 Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), com o objetivo de reduzir ao máximo a incidência e a gravidade das infecções hospitalares, implementando medidas para minimizar as infecções no ambiente hospitalar e, consequentemente, a resistência bacteriana. O farmacêutico, como membro da CCIH, é um profissional capacitado e desempenha um papel importante, sugerindo ajustes quando necessário para garantir um uso racional desses medicamentos, avaliação das prescrições de antimicrobianos, colabora juntamente com uma equipe multidisciplinarna elaboração do Guia Farmacêutico, que padroniza o uso de antimicrobianos no hospital, realiza testes de identificação do agente infeccioso e da sensibilidade aos antimicrobianos para orientar a seleção do tratamento adequado, além disso, o farmacêutico pratica a atenção farmacêutica, fornecendo informações sobre o uso correto dos medicamentos, promove a terapia sequencial, elabora relatórios de consumo e conduz treinamentos sistemáticos para prevenir a propagação de patógenos e garantir a eliminação adequada do ambiente hospitalar pela equipe de saúde (Silva; Paixão, 2021). Nesse contexto, o farmacêutico surge como um agente crucial na prevenção e promoção do uso racional dos antibióticos, fornecendo informações, educação e acompanhamento aos pacientes, sejam nas farmácias e drogarias, ou no setor da saúde pública, ou privada, proporcionando uma maior taxa de segurança e sucesso na terapia medicamentosa, promovendo melhorias na qualidade de vida dos pacientes. Ao combater o uso inadequado, indiscriminado e excessivo de antibióticos, o farmacêutico contribui diretamente para a redução da resistência microbiana. Após a coleta do material didático e a análise dos documentos pertinentes, constatou-se que os antibióticos são frequentemente utilizados de maneiras consideradas irracionais. Isso inclui casos em que são prescritos para o tratamento de doenças não infecciosas e febris, prescrição, dispensação, e automedicação de forma irresponsável, bem como seus impactos na saúde da população. Essa constatação é compartilhada por diversos autores, que corroboram entre si nesse aspecto. Diante disso, o farmacêutico assume responsabilidades essenciais na proteção e promoção da saúde, engajando-se em atividades de educação em saúde, prevenção e fornecimento cuidadoso e seguro de medicamentos para os cidadãos. Além disso, há uma percepção equivocada por parte de alguns pacientes, que acreditam que apenas os antibióticos podem garantir uma recuperação rápida. Muitas vezes, esses pacientes solicitam diretamente aos médicos a prescrição de 15 antibióticos, levando os profissionais a cederem devido à falta de conhecimento detalhado sobre o caso específico do paciente ou por insegurança. Esses comportamentos contribuem para o ciclo de resistência bacteriana e dificultam o controle da disseminação de bactérias resistentes (OLIVEIRA; PEREIRA; ZAMBERLAM,2020). Um estudo apresentado no congresso da Sociedade Espanhola de Médicos de Atendimento Primário (Semergen), em Palma de Mallorca, revelou em sua amostra de 120 respostas que alguns médicos, embora em minoria, admitiram prescrever antibióticos por solicitação dos pacientes, por falta de tempo para explicações adequadas e para manter a confiança dos mesmos. Esses achados ressaltam a necessidade de melhorias significativas no atendimento em centros de saúde, justificando a implementação de um Programa de Otimização do Uso de Antibióticos (GUELI, 2018). Com base nesse entendimento, torna-se evidente a necessidade de medidas públicas e legais mais rigorosas para combater o uso indiscriminado de antibióticos. O crescente número de drogarias e farmácias amplia os desafios de fiscalização nesses estabelecimentos, uma vez que a aplicação da RDC 20/11, que controla a venda de antibióticos, não tem apresentado resultados eficazes após 13 anos de sua publicação. É necessário um maior controle das prescrições para garantir sua efetividade. A automedicação é apontada pelos autores como um dos principais fatores contribuintes para o aumento das bactérias resistentes aos antibióticos. De acordo com CFF (2019), aproximadamente 77% dos brasileiros têm o hábito de se automedicar, e mesmo com medicamentos prescritos, mais da metade dos entrevistados relatam alterar a dose prescrita. Os medicamentos mais utilizados pelos brasileiros em um período de 6 meses, como um percentual de 42% foram os antibióticos, superados apenas pelo porcentual declarado para analgésicos e antitérmicos de 50%. Além disso, FRANCO et al. (2015) destacam a importância de combater o uso indiscriminado de antibióticos devido aos prejuízos tanto no setor privado quanto no público. Portanto, ambos os autores enfatizam que uma prescrição adequada, que evite a automedicação, ou a orientação do profissional de saúde ao paciente, além de preservar a vida deste paciente, impede com que outras vidas sejam afetadas. Segundo os autores, o farmacêutico possui um papel de responsabilidade social, ao 16 ser responsável por melhorar a qualidade de vida do paciente, evitando problemas relacionados aos medicamentos por meio de uma farmacoterapia adequada para cada caso. De acordo com Franco et al. (2015), há ainda muito a ser realizado tanto no setor público quanto no privado no que diz respeito à atenção farmacêutica. No setor público, a implementação de uma atenção farmacêutica eficaz pode resultar em uma redução significativa nos custos e em uma melhoria substancial na qualidade de vida dos pacientes. Por outro lado, no setor privado, a ênfase na atenção farmacêutica pode levar a uma melhoria significativa na confiança dos pacientes, contribuindo para a fidelização dos mesmos. O farmacêutico é um profissional diretamente ligado na política de uso racional de medicamentos, possuindo um papel de extrema importância por ser com ele que acontece o último contato do paciente com um profissional da saúde, no momento da dispensação, sendo responsável por uma boa orientação que consequentemente garantirá o sucesso no tratamento e o uso correto e seguro dos antibióticos. Diante dos estudos mencionados, é inegável que as pesquisas reforçam a gravidade do problema em escala global, demandando uma abordagem multidisciplinar abrangente e a eficácia das normas regulatórias que abrangem desde o processo de atendimento clínico-hospitalar até o início efetivo do tratamento medicamentoso do paciente. Nesse sentido, é imperativo que os profissionais de saúde estejam atualizados e adotem uma conduta direcionada para garantir a eficácia na saúde pública, unindo esforços para que a atenção farmacêutica e a assistência farmacêutica sejam efetivamente implementadas. 3 CONCLUSÃO Resistência bacteriana, fruto do uso indiscriminado de antibióticos, permanece como um desafio grave de saúde pública. Para mitigar esse problema global, é essencial que os profissionais de saúde, estejam cada vez mais cientes deste mal, sejam conscientes e diligentes em suas responsabilidades diárias com os pacientes. No entanto, isso por si só não é suficiente. Órgãos governamentais devem intensificar suas iniciativas informativas e implementar regulamentações mais eficazes para conscientizar a população sobre os riscos da automedicação e incentivar uma abordagem responsável ao uso de antibióticos. 17 Diante do exposto ao longo deste trabalho, podemos concluir que a resistência bacteriana aos antibióticos é um problema de extrema importância, e de nível global, que afeta não apenas a saúde pública, mas também a prática clínica e a qualidade de vida dos pacientes. O objetivo principal deste estudo foi analisar o papel do farmacêutico no combate à resistência bacteriana, destacando suas responsabilidades e desafios no contexto do uso racional de antibióticos. A evolução do papel do profissional de farmácia transcendeu sua função administrativa tradicional, centrada no controle de estoques e recursos financeiros, para uma prática mais voltada diretamente ao paciente, onde o medicamento é visto como um instrumento para o cuidado da saúde, e não mais como um fim. Além do cumprimento das obrigações legais, que incluem a exigência de apresentação e retenção da receita para a dispensação de antimicrobianos, o profissional de farmácia tem o compromisso de transmitir conhecimento, buscar constante capacitação e interagir de forma próxima comos pacientes e outros profissionais envolvidos nesse processo. A atuação proativa e responsável dos farmacêuticos é fundamental, por serem essenciais na educação dos pacientes e na prevenção do uso inadequado de antibióticos. É preciso reconhecer que a resistência bacteriana não é um problema individual, mas sim uma questão de saúde pública global. O custo futuro para a saúde pública pode ser significativo, especialmente se as indústrias farmacêuticas reduzirem os investimentos na produção de novos antibióticos, aumentando as taxas de internação hospitalar. Sugestões de medidas preventivas como o incentivo à indústria farmacêutica para pesquisa e desenvolvimento de novos antibióticos, a implementação de tecnologias para identificação precoce de bactérias e campanhas educacionais sobre o uso racional de antibióticos. Os profissionais farmacêuticos devem se envolver ativamente em projetos de lei, na comunidade e no treinamento de suas equipes. No decorrer da pesquisa, foi possível constatar que o farmacêutico desempenha um papel fundamental na promoção do uso adequado de antibióticos, através da educação dos pacientes, avaliação criteriosa das prescrições e colaboração com outros profissionais de saúde. No entanto, também ficou evidente que existem desafios significativos a serem enfrentados, como a prática comum de automedicação, a prescrição indiscriminada de antibióticos e a falta de controle efetivo sobre sua dispensação. 18 Diante disso, é crucial abordar esse problema de forma multidisciplinar, considerando diversos aspectos, como a natureza das doenças infecciosas, as opções terapêuticas disponíveis e os fatores ambientais, políticos e socioeconômicos relacionados ao tema. Os farmacêuticos podem desempenhar um papel crucial na prevenção da disseminação de microrganismos resistentes e na promoção de práticas de uso adequado de antimicrobianos, através do desenvolvimento de protocolos e medidas de controle de infecções. Embora tenhamos avançado na compreensão do problema e das possíveis soluções, é importante reconhecer que este estudo apresenta algumas limitações. Uma delas é a falta de dados quantitativos para embasar nossas conclusões, limitando a generalização dos resultados. Em suma, embora ainda haja desafios a serem superados, a pesquisa realizada contribui para ampliar o conhecimento sobre o tema e destacar a importância do envolvimento do farmacêutico na promoção do uso racional de antibióticos. Espera-se que os resultados deste estudo possam servir de base para a implementação de medidas eficazes no enfrentamento desse problema crescente e complexo. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Raquel da Costa; MIRANDA, Camila Vicente de. A importância do farmacêutico na dispensação e controle de medicamentos classificados como antimicrobianos. Revista saude muldisciplinar, [S. l.],7. ed, p. 01-12, 9 nov. 2023. Disponível em: https://fampfaculdade.com.br/wp-content/uploads/2020/08/Artigo-13- A-IMPORT%C3%82NCIA-DO-FARMAC%C3%8AUTICO-NA- DISPENSA%C3%87%C3%83O-E-CONTROLE-DE-MEDICAMENTOS- CLASSIFICADOS-COMO.pdf. Acesso em: 15 out. 2023. ANVISA. 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