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o O sangramento uterino anormal (SUA) é todo sangramento em mulheres não grávidas proveniente do corpo uterino com anormalidade, seja na sua regularidade, no volume, na frequência, ou na duração • Normalidade de cada parâmetro: ➢ Frequência: ➢ Infrequente: > 38 dias ➢ Normal: ≥ 24 dias e ≤ 38 dias ➢ Frequente: 8 dias ➢ Regularidade: ➢ Regular: ≤ 7 a 9 dias ➢ Irregular: ≥ 10 dias ➢ Volume: ➢ Leve ➢ Normal ➢ Intenso ➢ Sangramento intermenstrual: ➢ Normal: sem sangramento ➢ Aleatório: quando não previsível ➢ Cíclico: quando previsível ➢ Sangramento não programado em usuárias de hormônio: ➢ Normal: ausente ➢ Prolongado: presente o Afeta 40% de mulheres no mundo o Antes de diagnosticar SUA, é importante descartar sangramentos que não sejam provenientes do útero, como sangramentos da vagina, da vulva, até mesmo hemorroidas o Para considerar ‘perda sanguínea’ é preciso ter uma perda maior que 80 ml de sangue por ciclo o 35% das pacientes com SUA tem anemia, e 13,7% delas evoluem com anemia severa (Hb➢ Indicado para mulheres com contraindicação ao estrogênio ➢ São opções (ataque): ➢ Noretisterona 5-15 mg/dia VO até parar o sangramento, por pelo menos 2 dias ➢ Megestat 80-160 mg/dia VO até parar o sangramento, por pelo menos 2 dias ➢ Estrogênio EV: ➢ Não disponível no Brasil ➢ É preciso ter cuidado com o risco de câncer de endométrio ➢ Estimula a contração das artérias uterinas e promove agregação plaquetária e coagulação ➢ Posologia: 25 mg EV 4/4h ou 6/6h por 24 horas ➢ Acetato de ulipristal: ➢ Não disponível no Brasil ➢ É um modulador seletivo dos receptores de progesterona ➢ Induz amenorreia em mulheres com miomas uterinos ➢ Também serve de anticoncepção de emergência c. Tratamento cirúrgico: ➢ É a segunda linha de tratamento no SUA ➢ Está reservado para casos refratários ao tratamento clínico ou para causas estruturais, como miomas submucosos e pólipos endometriais ➢ Métodos cirúrgicos: ➢ Balão intrauterino: não há evidências de sua eficácia ➢ Histeroscopia: tem preferência à curetagem ➢ Embolização de artéria uterina: adotada quando se deseja preservar a fertilidade ➢ Histerectomia: reservada para último caso 1. Anamnese e exame físico ➢ Fundamental questionar: ➢ Idade ➢ DUM ➢ Método contraceptivo utilizado ➢ Paridade ➢ Características do sangramento como volume, cor, sintomas associados e tratamentos prévios ➢ Antecedentes pessoais e cirúrgicos, como comorbidades, medicações de uso contínuo, cirurgias prévias e vícios 2. Solicitar b-hCG ➢ Mesmo que a mulher refira ligadura tubária, uso ACO ou DIU, que negue ter tido relação, .... 3. Exame especular 4. Toque bimanual ➢ Permite avaliar o canal vaginal, o colo uterino (mobilidade, consistência e tumorações palpáveis) e o útero (mobilidade, volume e dor) 5. Hipótese diagnóstica ➢ Se história clínica alterada e exame físico ou imagem normais, pensar em COEIN ➢ Se história clínica alterada associada a alteração anatômica no exame físico ou de imagem, pensar em PALM ➢ É guiada, principalmente, por: a. Resultado do b-hCG ➢ Se b-hCG positivo, pensar na causa do sangramento conforme o trimestre da gestação ➢ Se b-hCG negativo, pensar em PALM-COEIN b. Idade da paciente ➢ Adolescentes: pensar em causas não estruturais, sobretudo anovulação (COEIN) ➢ Exemplos: ➢ Gravidez ➢ Causa ovariana por insuficiência ovariana ou imaturidade do eixo HHO ➢ Anovulação por hiperandrogenismo como na SOP, hiperplasia adrenal congênita ou tumor produtor de androgênio ➢ Coagulopatia por DVW ➢ Disfunção hipotalâmica por obesidade, baixo peso ou stress ➢ Hiperprolactinemia ➢ Doenças da tireoide ➢ Uso de contracepção hormonal ou terapia anticoagulante ➢ IST’s ➢ Tumor ovariano produtor de estrogênio, de androgênio, ou rabdomiosarcoma ➢ Menacme: pensar em causas estruturais, sobretudo miomatose (PALM) ➢ Perimenopausa (> 40 anos): pensar em anovulação ➢ A principal causa de sangramentos na perimenopausa é a anovulação ➢ Sempre solicitar USTV para excluir patologias endometriais malignas ➢ Pós-menopausa (> 50 anos): pensar em atrofia endometrial ➢ Se atrofia endometrial, a conduta pode ser o acompanhamento ou TRH ➢ Sempre solicitar USTV para excluir patologias endometriais malignas c. Padrão de sangramento ➢ Regular, com fluxo aumentado e período prolongado ➢ Pode sugerir: ➢ Adenomiose ➢ Mioma ➢ Coagulopatia ➢ Malignidade ➢ Regular e com escapes intermenstruais ➢ Pode sugerir: ➢ Pólipo ➢ Carcinoma endometrial ➢ Sarcoma uterino ➢ Endometrite crônica ➢ Irregular e com volume e duração variáveis ➢ Pode sugerir: ➢ Disfunção ovariana ➢ SOP ➢ Alterações da tireoide ➢ Carcinoma endometrial ➢ Sarcoma uterino 6. Exames complementares, após formulação da hipótese diagnóstica a. Investigação de causas PALM: ➢ USTV: tem boa sensibilidade (96%), mas baixa especificidade (14%) ➢ Histeroscopia: tem melhor especificidade e permite biópsia para análise histopatológica b. Investigação de causas COEIN: ➢ O exame é solicitado conforme a suspeita diagnóstica ➢ Biópsia de endométrio: ➢ Indicações: ➢ ≥ 45 anos ➢ Sangramento na pós-menopausa ➢ Risco elevado de carcinoma endometrial: IMC ≥ 30, disfunção ovulatória crônica (como SOP), uso de estrogênio sem oposição de progesterona, tabagismo, ... ➢ Tratamento medicamentoso sem sucesso ➢ Suspeita de coagulopatia: ➢ Checar uso de anticoagulantes como cumarínicos, heparinas ou anticoagulantes orais diretos → nesses casos, basta rever e alterar o esquema terapêutico ➢ Geralmente essa paciente deve ser encaminhada ao hematologista ➢ Solicitar: ➢ Contagem de plaquetas ➢ Fibrinogênio plasmático ➢ Tempo de protrombina (TP) ➢ Tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPA) ➢ Fator de Von Willebrand ➢ Teste de agregação plaquetária ➢ Pesquisa de hemofilias (se relato de equimoses ou sangramento fácil com história familiar sugestiva) ➢ Suspeita de causa infecciosa: ➢ Solicitar: ➢ Teste para gonococo e clamídia ➢ Teste para tricomoníase ➢ Suspeita de causas hormonais: ➢ Solicitar: ➢ Prolactina ➢ Provas de tireoide ➢ FSH e LH ➢ Androgênios ➢ Investigar também anovulação crônica e SOP 7. Tratamento direcionado a. Se PALM: ➢ Tratamento direcionado à patologia estrutural: ➢ Se hiperplasia de endométrio ou neoplasia uterina: conduta específica ➢ Se pólipo endometrial: remoção cirúrgica ➢ Se mioma uterino ou adenomiose: métodos farmacológicos clínicos e, se falha clínica, considerar abordagem cirúrgica b. Tratamento clínico hormonal: ➢ DIU de levonorgestrel: ➢ Efetivo para prevenir o sangramento menstrual intenso ➢ Reduz perda sanguínea por atrofia endometrial ➢ Está associado a alta taxa de satisfação e de melhora na qualidade de vida ➢ É vantajoso pois preserva a fertilidade da mulher ➢ Progestágenos sistêmicos isolados: ➢ Promove atrofia endometrial e tem ação anti-inflamatória ➢ Pode ser VO ou IM → cuidado com a opção IM pois a injeção de progesterona pode desregular o ciclo e causar um sangramento ainda maior ➢ Está indicado para mulheres com contraindicações ao estrogênio ➢ Geralmente é pensado antes mesmo dos ACO porque a mulher comumente é obesa, tem DM, tem HAS, ..., que são fatores de risco para trombose, o que contraindica o estrogênio ➢ Reduz até 87% do sangramento e causa amenorreia em até 15% dos casos ➢ Está bem indicado nas causas anovulatórias e ovulatórias de causa endometrial ➢ São opções: ➢ Noretisterona (2,5 a 6 mg/d) ➢ Acetato de megesterol (200 a 400 mg/d) ➢ Progesterona micronizada (200 a 400 mg/d) ➢ Anticoncepcionais orais combinados (ACO): ➢ Reduz o sangramento menstrual em até 69% ➢ As formulações monofásicas com 30 a 35 mcg de estrogênio são mais efetivas e devem ser administrados em regime contínuo ou com o menor intervalo sem hormônio possível ➢ Se houver indicação de evitar o metabolismo de primeira passagem, podem ser adotadas vias de administrações alternativas, como adesivos ou anel vaginal ➢ É importante respeitar os critérios de elegibilidade da OMS c. Tratamento clínico não hormonal: ➢ Ácido tranexâmico (= Transamin): ➢ Reduz o sangramento em 26 a 54% ➢ Indicado para mulheres com desejo de gestar ou que não podem usar hormônio ➢ Contraindicado para mulheres com risco aumentado de tromboembolismo ➢ Posologia: 1 a 1,5 g VO 8/8h ou 6/6h por 3 a 5 dias ➢ AINE’s: ➢ Reduz o sangramento em 10 a 52% ➢ Pode ser utilizado de forma isolada ou adjuvante ao tratamento hormonal ➢ Deve ser evitado em pacientes com coagulopatia ➢ São opções: ➢ Áxido mefenâmico 500 mg VO 8/8h ➢ Naproxeno 500 mg VO 12/12h Manejo da Anemia Ferropriva o 30% dos casos de anemia na mulher são causadas por deficiência de ferro, cuja principal causa é a menstruação excessiva o Essa anemia da menstruação pode ser por perda sanguínea crônica pelo hiperfluxo menstrual,ou fisiológica por aumento da demanda por ferro o Se manifesta com fraqueza, cefaleia, irritabilidade, síndrome das pernas inquietas, intolerância aos exercícios ou até mesmo com a síndrome pica com apetite pervertido o São exames complementares importantes a serem solicitados: • Hemograma completo • Dosagem de ferritina → 50 ng/ml ➢ A dose preconizada de ferro elementar é 150 a 200 mg/dia ➢ São opções: ➢ Sulfato ferroso (Henfer) 190 mg ➢ Ferripolimaltose (Noriurum) 150 mg ➢ Glicinato férrico (Neutrofer) 333 mg ➢ Endovenoso: ➢ Indicado para pacientes intolerantes à via oral, ou renais crônicos, ou com processos disabsortivos como doenças inflamatórias intestinais ➢ É contraindicado para anemias não relacionadas à deficiência de ferro, se saturação de transferrina > 45%, ferritina > 500 ng/ml, infecção ativa ou sepse, disfunção hepática ou cardíaca grave e gestantes no primeiro trimestre ➢ São opções: ➢ Noripurum 20 mg/ml 100-200 mg 1 a 3x/semana ➢ Monofer 100 mg/ml 500 mg/dia até 3x/semana • Orientações nutricionais: ➢ Carne tem ferro heme: 100 mg de carne equivale a 1 kg de feijão ➢ O consumo de sucos de frutas com vitamina C potencializa a absorção do ferro ➢ Evitar filatos, fosfatos e carbonatos (abacaxi, hortaliças e leite), taninos (chá e café), fosfoproteínas (gema de ovo) e medicamentos que aumentem o pH gástrico e diminui a absorção de ferro ➔ Exemplos: CC1: Paciente 44 anos, com quadro de sangramento vaginal iniciado há alguns dias e com piora há 2 horas. Tem histórico de laqueadura tubária. Chega ao serviço com PA 80/40 mmHg e FC 134 bpm. Primeiro passo é estabilizar a paciente: acesso venoso calibroso e reposição volêmica. Após estabilidade clínica, solicitar b-hCG → b-hCG positivo Com exames de imagem foi vista uma gravidez ectópica rota e a paciente foi encaminhada para a cirurgia. CC2: Paciente 44 anos, com quadro de sangramento vaginal irregular há 2 anos. Tem histórico de laqueadura tubária. Conduta inicial: colher anamnese e solicitar USTV CC3: Paciente 14 anos, atleta de natação, com quadro de sangramento vaginal moderado iniciado há 7 dias. Não faz uso de nenhuma medicação. Refere menarca aos 12 anos. Principal hipótese diagnóstica: pela idade, pensar em distúrbios de coagulação