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57 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 4 O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais Até agora discutimos as escolas clássicas com abordagens que en- fatizavam a importância dos processos produtivos, da estrutura organi- zacional e dos sistemas burocráticos. Neste capítulo, nossa discussão tomará outro rumo: o foco no in- divíduo e em seu comportamento no ambiente de trabalho. O homem passa a ser reconhecido por seu papel fundamental no ambiente orga- nizacional e no processo, e não apenas parte da engrenagem, como defendia a estrutura mecanicista que até então prevalecia. Apresentaremos a escola das relações humanas, que traz em sua teoria contribuições da psicologia e da sociologia. A discussão do ho- mem social, aquele que é influenciado pela dinâmica e pelos valores do grupo no qual está inserido, é uma ideia central dessa escola. 58 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Discutiremos ainda a escola comportamentalista, uma evolução da escola das relações humanas. Nela, há o entendimento do homem complexo, que busca valorização e reconhecimento. Para compreendê- -la, foram desenvolvidas diversas teorias motivacionais e de liderança. As escolas das relações humanas e comportamentalista surgiram como oposição à Teoria Clássica da Administração, propondo uma nova forma de ver o trabalhador e sua contribuição para as organizações. 1 A Escola das Relações Humanas A Teoria das Relações Humanas, escola que marca o início da preo- cupação com o fator humano nas organizações, surgiu principalmente com uma importante pesquisa realizada entre 1927 e 1933 na fábrica de Hawthorne da Wester Electric, coordenada por Elton Mayo, psicólogo e professor da Harvard Business School. PARA SABER MAIS Elton Mayo (1880-1949), australiano, cientista social e psicólogo. Viveu boa parte de sua vida nos Estados Unidos. Chegou a trabalhar com ve- teranos de guerra, avaliando seus aspectos psicológicos em estado de choque. Depois, seguiu carreira como professor em Harvard, sendo con- siderado o mais importante protagonista e incentivador da Escola das Relações Humanas. Com base nas descobertas da experiência realizada em Hawthorne, escreveu três livros que deram origem a essa escola (SO- BRAL, 2012, p. 82). Ficou conhecida como “a experiência de Hawthorne”. “Nenhum es- tudo na história da administração recebeu tanta publicidade, foi alvo de tantas interpretações e foi tão aceito, e ao mesmo tempo, tão duramen- te criticado” (SILVA, 2013, p. 190). 59O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. De fato, os resultados mostravam uma desconstrução das ideias que prevaleciam naqueles tempos, em que o foco dos estudos organi- zacionais girava em torno dos processos (Taylor) e da estrutura organi- zacional (Fayol). Todavia, antes de apresentarmos a experiência, vamos compreender a origem das teorias humanistas, bem como o desenvolvimento da psi- cologia do trabalho. Podemos considerar que a Teoria das Relações Humanas se origi- nou (CHIAVENATO, 2014): • da necessidade de humanizar e democratizar a administração, em contraponto aos conceitos rígidos e mecanicistas das teorias que predominavam na época; • do desenvolvimento das ciências humanas, principalmente da psicologia, que passa a ter suas primeiras aplicações nas organizações; • das ideias da filosofia pragmática e da psicologia dinâmica, que trouxeram contribuições para o humanismo nas organizações; • das conclusões da pesquisa de Hawthorne, que colocaram em xeque os princípios clássicos de Taylor e Fayol. A psicologia do trabalho trouxe importantes contribuições para a Escola das Relações Humanas. Seu objetivo inicial foi buscar formas de influenciar positivamente as atitudes dos empregados em relação ao seu trabalho e de entender o impacto das condições psicológicas dos funcionários sobre a produtividade (SILVA, 2013). Naquela época, dois aspectos fundamentais eram considerados na psicologia do trabalho: a análise e adaptação do trabalhador ao traba- lho ― estudando o processo de seleção, métodos de aprendizagem e fadiga/acidentes do trabalho; e a análise e adaptação do trabalho ao 60 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . trabalhador ― com os estudos da motivação, da liderança e os relacio- namentos interpessoais na organização (SILVA, 2013). PARA SABER MAIS Considerado o marco do início da Escola das Relações Humanas, o ex- perimento de Hawthorne trouxe importantes contribuições para a nova concepção do ser humano, que passa a ser visto como ser social, que sofre influências do grupo social no qual está inserido. As organizações precisam considerar seus colaboradores como membros de grupos, observando que os fatores econômicos, considerados até então os principais motivadores para o alto desempenho, eram secundários, dando lugar à motivação pelo reconhecimento, aprovação social e participação nas atividades dos grupos com os quais convivem ( CHIAVENATO, 2014). Estamos na década de 1920 e Elton Mayo, professor de Harvard, está analisando um problema curioso. Um grupo de pesquisadores foi or- ganizado por ele para estudar o efeito das variações no ambiente físi- co de trabalho sobre a produtividade, como alterações na iluminação. O estudo foi realizado na fábrica da Western Electric (WE), situada no bairro de Hawthorne, em Chicago. Cerca de 30.000 pessoas trabalham nessa fábrica. Foram organizados dois grupos de funcionários, um experimental e um de controle. Ambos sabiam que estavam participando da pesquisa. As mo- dificações no ambiente seriam aplicadas apenas no grupo experimental. Os pesquisadores aumentaram a iluminação no grupo experimental e observaram que a produção aumentou nos dois grupos. Então diminuí- ram a luz e, surpreendentemente, a produção continuou a subir em am- bos os grupos. Isso também ocorreu ao introduzir e depois retirar bene- fícios, como lanches e intervalos para descanso. A produção aumentava sistematicamente qualquer que fosse a modificação realizada, mesmo aquelas que presumiam afetar negativamente os resultados do grupo. Ninguém entendia o que estava acontecendo. A única coisa que os pesquisadores conseguiam demonstrar naquele momento era a au- sência de qualquer relação entre os fatores pesquisados do ambiente (iluminação e benefícios) e a produtividade. Mas por que a produção só subia? Quais motivos estariam levando os funcionários a colabo- rar com a empresa? 61O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Os pesquisadoresde Hawthorne observaram que, com seus comporta- mentos, as pessoas estavam por algum motivo influenciando a produti- vidade. A partir desse momento, outros experimentos foram realizados em Hawthorne com o objetivo de compreender o impacto das questões relacionais e sociais no ambiente de trabalho (Maximiano (2011) Ao longo deste capítulo, detalharemos a pesquisa e seus resulta- dos. Destacamos, entretanto, que muito antes da pesquisa de Mayo em Hawthorne, outros estudiosos já davam suas contribuições para a discussão sobre o papel das pessoas nas organizações, antecipando alguns resultados encontrados nessa experiência. Dentre esses estu- diosos apresentamos a importância das ideias de Mary Parker Follett. 1.1 Mary Follett Mary Follett foi uma mulher à frente de seu tempo. Mais do que uma acadêmica, Mary foi uma pensadora política, social e de administração, pregando que “qualquer sociedade duradoura, produtiva, deveria se fun- damentar no reconhecimento dos desejos motivacionais do indivíduo do grupo” (SILVA, 2013, p. 174). Na administração, analisou de forma pioneira a motivação humana a partir dos valores individuais e sociais. Para ela, a administração pre- cisava "compreender as pessoas, os grupos e a comunidade, para con- seguir a integração e a coordenação de suas atividades” (SILVA, 2013). Com uma abordagem psicológica, desenvolveu estudos relativos à di- nâmica do indivíduo quando inserido nos grupos. Mostrou que seu com- portamento está intrinsicamente ligado ao comportamento do grupo e que “a verdade individual é a verdade do grupo” (SILVA, 2013, p. 174). Defendia que a ênfase nas relações humanas deveria ser a mesma dada às práticas de gestão da época, refletidas nos processos mecâni- cos e operacionais de produção (COLTRO, 2015). 62 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .Além disso, identificou que os gerentes das indústrias enfrentavam problemas relacionados ao poder, controle, participação e conflito, es- tudando esses fatores. Foi pioneira ao apresentar o conceito de “lide- rança participativa” e de “conflito construtivo”. É importante ressaltar que sua visão humanística ocorreu na época em que a administração científica prevalecia, ou seja, cronologicamente pertenceu à era das ideias de Taylor. Filosófica e intelectualmente fa- lando, no entanto, Mary estava muito além de seu tempo, inserindo-se na era do ser social (SILVA, 2013) e trazendo discussões que não eram comuns naquele contexto. Por esse motivo, Mary Follett foi chamada de “profetisa da administração” (SOBRAL, 2012). PARA SABER MAIS Mary Parker Follett nasceu em Quincy (Massachusetts, Estados Uni- dos), graduando-se em Economia, Administração Pública, Direito e Fi- losofia. Foi uma escritora muito popular e conferencista no mundo dos negócios. Embora esquecida por muitos, as modernas teorias de administração devem muito ao pioneirismo de seus estudos e suas teorias. Em sua trajetória, encontram-se fatos que evidenciam sua determinação e sua incansável dedicação aos estudos relativos a melhorias no ambiente de gestão (GRAHAM, 1997). Para conhecer mais sobre as realizações de Mary Follett, leia o capítulo 3 do livro Teoria geral da administração, de Coltro (2015, p. 102-107). Como dissemos, outros estudiosos procuraram investigar aspec- tos relacionados ao impacto das pessoas nas organizações, mas foi apenas após a experiência de Hawthorne que a Escola das Relações Humanas se inicia de fato. 63O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 1.2 A experiência de Hawthorne e a Escola das Relações Humanas Na abertura deste capítulo, apresentamos a experiência de Hawthorne. Vamos agora mostrar suas fases e seus principais resultados, além de sua contribuição para o início da Escola das Relações Humanas. A pesquisa de Hawthorne durou seis anos (1927 a 1933) e só foi descontinuada devido à crise econômica da época. “Os estudos realiza- dos na Western Electric constituem talvez o mais importante programa de pesquisa do Comitê do Trabalho na Indústria, do Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos” (SILVA, 2013, p. 190). Apesar de ter falhado em seu propósito básico, que era a determina- ção da relação entre as variações do ambiente físico e a produtividade, as questões descobertas foram muito mais importantes e trouxeram um profundo impacto para a história da administração. A pesquisa foi dividida em quatro fases, apresentadas a seguir (SILVA, 2013; CHIAVENATO, 2014). 1.2.1 Primeira fase: os estudos da iluminação Na primeira fase, foram realizados estudos para analisar a relação entre o nível de iluminação e a produtividade no trabalho. A expectativa dos pesquisadores era grande, pois acreditavam que os fatores exter- nos eram os principais meios de motivar o trabalhador. Dois grupos de funcionários participariam da pesquisa: um experi- mental, no qual seriam introduzidas as variações de iluminação; e um de controle, em que a intensidade da iluminação permaneceria constante. No entanto, se surpreenderam ao constatarem que a produtividade do grupo experimental crescia não apenas quando se aumentava a ilu- minação, mas também quando a diminuíam. 64 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Os observadores não encontraram correlação direta entre ilumina- ção e produtividade, porém notaram a existência do fator psicológico: os operários reagiam à experiência de acordo com suas suposições pes- soais, ou seja, eles se julgavam na obrigação de produzir mais quando a intensidade da luz era maior; desenvolveram a ideia de que precisam continuar produzindo mais mesmo quando a iluminação era diminuída, pois estavam sendo observados. 1.2.2 Segunda fase: sala de montagem de relés Nesta fase, decidiu-se montar um grupo menor e isolá-lo em uma sala para que pudessem analisar seu comportamento. O grupo foi mon- tado por operadoras de produção experientes e com um histórico de relacionamento amigável com todos. Seria verificado o efeito do descanso nos trabalhadores, com pausas ao longo do dia, além de dias e semanas mais curtas de trabalho. A produção aumentou à medida que as pausas e a redução de car- ga horária de trabalho foram introduzidas, porém houve crescimento espantoso na fase em que esses benefícios foram retirados do grupo. Os pesquisadores perceberam que não foram os benefícios os cau- sadores diretos do aumento de produtividade e chegaram às seguintes conclusões (CHIAVENATO, 2014, p. 106): I. As mulheres gostavam de trabalhar na sala de provas porque era divertido e a supervisão era branda (ao contrário da supervisão de controle rígido da fábrica), permitindo trabalhar com liberdade e menos ansiedade. II. Havia um ambiente amistoso e sem pressões, no qual a conversa era permitida, o que aumentava a satisfação no trabalho. III. Não havia temor ao supervisor, pois ele funcionava como orientador. 65O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculadoem curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. IV. Houve um desenvolvimento social do grupo experimental. As mulheres faziam amizade entre si e se tornaram uma equipe. V. O grupo desenvolveu objetivos comuns, como o de aumen- tar o ritmo de produção, embora fosse solicitado trabalhar normalmente. 1.2.3 Terceira fase: programa de entrevistas Na terceira fase, os pesquisadores resolveram se fixar no estudo das relações humanas no trabalho em função das grandes diferenças de atitudes encontradas entre o grupo experimental e o grupo de controle. Na fase anterior, evidenciou-se o impacto da supervisão sobre os gru- pos, mas pouco se sabia sobre os fatores que levavam a essa situação. Decidiu-se, então, iniciar o programa de entrevistas com os empregados a fim de conhecer suas atitudes, o que sentiam em relação ao seu tra- balho, a supervisão, a empresa e as condições de trabalho, bem como ouvir sugestões. Entre 1928 e 1930 foram entrevistados mais de 21.126 empregados, sendo mais da metade deles do setor operacional e o restante das diver- sas seções da fábrica de Hawthorne. Em 1931, a técnica de entrevista foi alterada para não diretiva, aquela que não adota um roteiro prévio, e os trabalhadores puderam falar livremente. O programa de entrevistas identificou uma organização informal. Nela, os funcionários se agrupavam e se protegiam uns aos outros contra o que consideravam ameaças da organização ao seu bem-estar (SILVA, 2013). Silva (2013, p. 194) discute que esse comportamento se manifestou pelos seguintes aspectos: 66 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . I. Produção controlada: padrões que os operários achavam que de- veriam constituir a produção normal. II. Práticas não formalizadas de punição: o grupo aplicava pu- nições aos operários que excediam os padrões de produção estabelecidos. III. Expressões de insatisfação com relação ao pagamento de incen- tivos por produção em grupo: os resultados não eram os espera- dos pelos operários. IV. Liderança informal de indivíduos que se dedicavam a manter os grupos de operários unidos: para que os grupos obedecessem às regras de conduta. V. Preocupações fúteis relacionadas a promoções. VI. Contentamentos e descontentamentos exagerados: com relação aos superiores imediatos, em consequência de atitudes assumi- das por eles sobre o comportamento dos operários. VII. Apesar de os operários se manterem unidos pela lealdade ao gru- po, também se observou que, quando os funcionários queriam ser leais à empresa, sentimentos como conflito, tensão, inquieta- ção e descontentamento eram gerados a ambas as partes, tanto ao operário quanto ao grupo. 1.2.4 Quarta fase: sala de montagem de terminais O objetivo desta fase foi analisar a organização informal dos fun- cionários. Um grupo experimental foi escolhido para trabalhar em uma sala especial nas mesmas condições de trabalho dos outros operários do departamento. Logo se percebeu que, mesmo com as determinações da empre- sa, era o grupo que determinava as quantidades que deveria produzir. 67O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Como recebiam pela produção do grupo, tratavam de atingir a meta, sem ultrapassá-la. O grupo informal não permitia que se trabalhasse nem menos, nem mais. Além disso, ninguém poderia dizer algo aos supervisores que pre- judicasse outro colega de trabalho e todos tinham que aceitar as ordens do grupo (SILVA, 2013). A pesquisa apontou a importância dos aspectos subjetivos e emo- cionais do indivíduo. O quadro 1 mostra as principais conclusões da experiência de Hawthorne. Quadro 1 — Principais conclusões da experiência de Hawthorne Os empregados não eram motivados somente por fatores externos, como pagamento e condições físicas do ambiente de trabalho. Os fatores psicológicos afetavam a produtividade, como o reconhecimento, a aprovação social e a participação nas atividades sociais. O nível de produção não era determinado pelo nível de competência do funcionário, mas por sua capacidade social. Quanto maior a integração social do grupo, maior a disposição para trabalhar. O comportamento do indivíduo era fortemente afetado pelas normas estabelecidas pelo grupo, agindo ou reagindo não como indivíduo, mas como o grupo esperava. Desvios das normas do grupo resultavam em punições sociais ou morais para que, assim, o funcionário se ajustasse aos padrões do grupo. O relacionamento social entre os funcionários e a supervisão afetava a produtividade. Uma liderança mais humanizada favorecia o aumento da produção e a cooperação. A satisfação ou insatisfação com as tarefas realizadas afetava fortemente o resultado da produção e a intenção dos funcionários. Fonte: adaptado de Silva (2013) e Chiavenato (2014). Constatou-se que o aumento da produtividade não era causado por eventos físicos, mas por uma complexa reação de cadeia emocional. Levantou-se a possibilidade de que a melhora na produtividade duran- te o experimento tenha ocorrido mais pela atenção que os indivíduos receberam dos pesquisadores do que por outros fatores, o que se chamou de efeito Hawthorne (SILVA, 2013). 68 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .A Escola das Relações Humanas estudou a liderança e a forma como era exercida, dando origem a várias teorias que serão apresen- tadas na disciplina de liderança. As conclusões dos experimentos de Hawthorne trouxeram à tona a importância do fator social, ao contrário do que pregava a Administração Científica, que via a empresa como uma máquina e o indivíduo como parte dessa engrenagem. Dessa forma, ganharam destaque os estudos da psicologia e socio- logia para as organizações, visto que se verificou a formação de um sistema social na organização do trabalho. A Escola das Relações Humanas trouxe uma nova forma de pen- sar o trabalho, alterando a atitude dos gestores em relação aos seus funcionários. O contato entre as pessoas, o estímulo à participação, à cooperação, são alguns exemplos de práticas valorizadas nas empre- sas nos dias de hoje e originárias da forma de Elton Mayo pensar as relações humanas, especialmente no contexto de trabalho. Muitas foram as diferenças entre a Escola das Relações Humanas e as teorias clássicas, que são apresentadas resumidamente no quadro 2. Quadro 2 — Diferenças fundamentais entre a Teoria Clássica e a Escola das Relações Humanas TEORIAS Características CLÁSSICA RELAÇÕES HUMANAS Estrutura Mecanicista, impessoal A organização é um sistema social Comportamento na organização Produto de regras e regulamentos Produto de sentimentos e atitudes Foco No trabalho e nas necessidades econômicas dos trabalhadores Nos pequenos grupos e nas qualidades humanas e emocionais dos empregados (Cont.) 69O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de alunom atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Características CLÁSSICA RELAÇÕES HUMANAS Ênfase Pessoas tentam maximizar recompensas: ênfase na ordem e na racionalidade Ênfase na segurança pessoal e nas necessidades sociais dos trabalhadores para alcançar as metas organizacionais Resultados Alienação no trabalho, insatisfação Empregados felizes tentando produzir mais Fonte: adaptado de Silva (2013, p. 199). 2 A Escola Comportamentalista A Escola Comportamentalista pode ser considerada um desdobra- mento da Escola das Relações Humanas. Seus precursores criticavam a rigidez e o mecanicismo das teorias clássicas e trouxeram um novo enfoque às teorias da administração, com maior valorização do com- portamento do indivíduo e dos grupos (SILVA, 2013). O conceito do homem social da Escola das Relações Humanas é substituído pela ideia do homem complexo, que está em busca cons- tante de autonomia, realização e autodesenvolvimento. Nessa abordagem foi adotada “uma orientação mais psicológica, com foco no ajustamento pessoal do trabalhador na organização e nos efeitos dos relacionamentos intergrupais e estilos de liderança” (SILVA, 2013, p. 205). Teorias de motivação mais abrangentes começam a ser desenvol- vidas com base no conceito do homem complexo, considerando que o indivíduo é influenciado tanto por aspectos econômicos como por aspectos biológicos, sociais e psicológicos (SOBRAL, 2012). 70 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . 2.1 Relacionamento intergrupal: dinâmica de grupos Lewin (SILVA, 2013), nascido na Alemanha e doutor em psicologia, marcou a passagem da Escola das Relações Humanas para a Escola Comportamentalista por meio de seus estudos sobre a dinâmica de grupos. Lewin foi pioneiro ao adotar na psicologia a experimentação para estudar a vida dos grupos, utilizando em seus experimentos o mes- mo rigor científico dos experimentos químicos ou físicos. Ele estudou os pequenos grupos, destacando “a coesão grupal, pa- drões grupais, motivação, participação, processo decisório, produtivi- dade, tensões, estilos de liderança” (SILVA, 2013, p. 206), entre outros. Para Lewin, a formação dos grupos ocorre no consenso interpessoal, gerando concordância de objetivos e dos meios para alcançá-los. Tal pesquisador constatou que os grupos se estruturam, passam a controlar o comportamento de seus integrantes, são resistentes a mu- danças e neles são formados líderes. Desta forma, assim como um gru- po coeso pode trazer vantagens para uma organização, também poderá influenciar negativamente, por exemplo, fixando metas inferiores às que poderiam ser obtidas, ou ainda promovendo resistência à mudança. 2.2 Motivação: a teoria da hierarquia das necessidades de Maslow Nas discussões sobre motivação, Abraham Maslow foi um dos pri- meiros a trazer suas contribuições. Logo outros pesquisadores apresen- taram importantes ideias que acabaram por consolidar essas teorias, entre eles Douglas McGregor, Frederick Herzberg, Victor Vroom, Stacey Adams e Burrhus Frederic Skinner. 71O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Em sua teoria, Maslow apresentou os cinco níveis de necessidades do indivíduo (SOBRAL, 2012, p. 96): 1. Necessidades fisiológicas: fome, sede, sono, sexo, abrigo. 2. Necessidades de segurança: segurança contra danos físicos e emocionais. 3. Necessidades sociais: afeto, aceitação e sentimento de perten- cer a um grupo. 4. Necessidade de estima: necessidades internas, como respeito próprio e autonomia, e externas, como reconhecimento e status. 5. Necessidade de autorrealização: crescimento, desenvolvimento e realização do próprio potencial. Ele classificou as duas primeiras como necessidades básicas (ou primárias) do ser humano, relacionadas à sobrevivência; já as demais são apresentadas como necessidades secundárias. Maslow ainda mostrou que existe uma hierarquia dessas necessida- des e que o indivíduo só procura satisfazer uma necessidade quando a mais básica (do que esta) for satisfeita. Assim, a necessidade social só poderá ser obtida depois que a fisiológica e a de segurança forem satisfeitas, e assim por diante. A figura 1 a seguir ilustra a Pirâmide de Maslow, representando a hierarquia das necessidades: 72 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Figura 1 — Pirâmide da hierarquia das necessidades de Maslow Necessidades secundárias Necessidades primárias Necessidades de autorrealização Necessidades de estima Necessidades sociais Necessidades de segurança Necessidades fisiológicas Fonte: adaptado de Sobral e Peci (2013). Na administração, esse processo deve ser observado e facilitado. Os gestores precisam desenvolver políticas que ofereçam condições aos seus colaboradores de atenderem às cinco necessidades apresentadas por Maslow. PARA SABER MAIS O filme À procura da felicidade (2006) mostra a história real de Chris Gardner, um norte-americano que, de mendigo, se tornou um empresário milionário. Nele, você poderá encontrar aspectos das necessidades de Maslow e acompanhar a busca do personagem em atendê-las. 2.3 Teoria dos Dois Fatores Considerada uma extensão da Teoria da Hierarquia das Necessi- dades de Maslow, a Teoria dos Dois Fatores foi elaborada por Frederick 73O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Herzberg, psicólogo norte-americano que entrevistou muitas pessoas em empresas de diversos países, em relação ao que provocava satisfa- ção ou insatisfação no trabalho. Como resultado, observou que os sentimentos de desmotivação esta- vam ligados aos fatores extrínsecos ao trabalho e que, quando falavam que se sentiam satisfeitas, estavam se referindo aos fatores intrínsecos. Os fatores extrínsecos foram chamados por Herzberg de “fatores hi- giênicos”, e os intrínsecos, de “fatores motivacionais”. O quadro apresenta as características desses dois fatores: Quadro 3 — Características da Teoria dos Dois Fatores, de Herzberg FATORES HIGIÊNICOS FATORES MOTIVACIONAIS Fatores extrínsecos, ligados ao ambiente, ou seja, externos ao trabalho Ex: salário, benefícios, condições físicas de trabalho, políticas da empresa, entre outros Fatores intrínsecos, geram satisfação. Ex: conteúdo do cargo, reconhecimento, possibilidade de crescimento, entre outros Previnem a insatisfação Afetam a satisfação Produzem nível zero de motivação, se mantidos Incitam os indivíduos a um desempenho superior Nunca são completamente satisfeitos Dinheiro é o mais importante deles Levam a um maior comprometimento do funcionário Fonte: adaptado de Silva (2013). Evidencia-se, portanto,que os fatores motivacionais, aqueles in- trínsecos ao indivíduo, é que produzem a satisfação, levando ao maior comprometimento e dedicação do indivíduo com a organização. A Escola Comportamentalista abordou muitas outras teorias de mo- tivação e liderança que você terá a oportunidade de discutir nas próxi- mas disciplinas. 74 Modelos organizacionais e teorias M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Considerações finais Este capítulo teve como objetivo apresentar a Escola das Relações Humanas e a Escola Comportamentalista. A experiência de Hawthorne, coordenada por Elton Mayo, marcou o início da Escola das Relações Humanas, apresentando o fator huma- no na análise organizacional. Nesta escola, foram discutidos aspectos como o homem social, formado pelas interações que ocorrem nos gru- pos sociais em que o indivíduo está inserido, e a influência dos grupos informais na produtividade. Na Escola Comportamentalista, observamos a importância do com- portamento dos indivíduos e dos grupos sociais. O homem passa a ser visto em sua complexidade – homem complexo –, destacando a moti- vação e a liderança como aspectos fundamentais para o entendimento e a gestão do comportamento humano no contexto organizacional. Evidenciou-se ainda que os causadores de motivação no indivíduo estão mais ligados aos fatores intrínsecos (conhecidos como fato- res motivacionais) do que aos extrínsecos (encontrados no ambiente externo). Referências CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 9. ed. Barueri, São Paulo: Manole, 2014. COLTRO, Alex. Teoria geral da administração. Curitiba: InterSaberes, 2015. E-book. GRAHAM, Pauline. Mary Parker Follett: profeta do gerenciamento. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1997. 75O impacto das teorias humanistas nos modelos organizacionais M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da administração. São Paulo: Atlas, 2011. PERCÍLIA, Eliene. Robert Owen. Brasil Escola.com. 2019. Disponível em: . Acesso em: 7 set. 2018. SILVA, Reinaldo O. Teorias da administração. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2013. SOBRAL, Felipe. Teorias da administração. São Paulo: Pearson, 2012. SOBRAL, Felipe; PECI, Alketa. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson, 2013.