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2 A Escravidão no Brasil Pedro Érick Moura de Souza¹ Tutor Externo: Geyssa Gleycia Barbosa Andrade² Centro Universitário Leonardo da Vinci – Uniasselvi Licenciatura/História (FLC2857) 11/06/2023 RESUMO O trabalho escravo é uma forma de submissão de um homem ao outro, com condições de trabalho calamitosas, maus-tratos e violência, tanto física como moral. Os escravizados são considerados propriedades de seu dono. A escravidão no Brasil perdurou por mais de três séculos, até o ato da abolição, quando ocorreu a libertação dos escravos por meio de decreto assinada pela Princesa Isabel, em 1888. Palavras-chave: Trabalho Escravo; Escravos; Abolição. 1. INTRODUÇÃO O presente ensaio busca demonstrar como a Escravatura foi e ainda é presente em nossa sociedade, mesmo com ela sendo proibida por lei desde 1888, quando a Princesa Isabel por meio de decreto declarou extinta a escravidão no Brasil. O reconhecimento da cidadania negra no Brasil é uma conquista do povo no período pós-abolição. No entanto, mais de 135 anos se passaram e não foi totalmente implementado, e ainda existem muitos problemas na representação desse grupo de pessoas. Assim, surge o seguinte questionamento: Quais são os motivos pelos quais os negros ainda carecem de representação política? O objetivo deste é investigar e analisar o avanço da cidadania negra no Brasil no período pós-abolicionista. Este artigo é baseado em uma abordagem hipotético-dedutiva, com a participação de técnicas de pesquisa bibliográfica. Assim, até 1988, o reconhecimento da inércia institucional das questões públicas envolvendo esse grupo havia sido ignorado, o que serviu de catalisador para o afastamento dos negros da vida política. Além disso, o Brasil parece ser o último país das Américas a abolir a escravidão, muito tarde e de forma incompleta, e embora houvesse liberdade legal, garantida pela Lei Áurea, essa abolição não aconteceu de fato porque eles continuaram vivendo no mesmo país. situação de pessoas escravizadas, mas não integradas na sociedade ou com direitos plenamente reconhecidos. Segundo Gomes (2019), o Brasil foi o maior estado escravagista da região oeste, contribuindo com cerca de 5 milhões de africanos; atualmente possui a segunda maior população negra do mundo. População negra é o termo utilizado pelo IBGE (2019) e inclui os autodenominados pretos e pardos, que compõem 56,10% da população brasileira, aproximadamente 110 milhões de pessoas. Mas a legislatura é em grande parte branca, com apenas 106 dos 594 membros do Congresso, ou 17,8%, negros. Artigo CF/88 O artigo 45 define a Câmara dos Deputados como um órgão composto por representantes do povo para fiscalizar, controlar e propor normas no interesse de todos, mas isso não aconteceu, deixando a maioria dos brasileiros sem representação. Assim, surge o seguinte questionamento: Por que os negros ainda são sub-representados na política? 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O tráfico de escravos era essencial para atender a alta demanda por escravos no Brasil, e com a sua proibição, a tendência era que a população de escravos fosse reduzindo-se gradativamente até a abolição acontecer, uma vez que não haveria a renovação dessa. Ainda assim, os escravocratas fizeram de tudo para que essa transição fosse o mais lenta possível. Em sequência, é imprescindível ressaltar que o ponto de partida da luta pela democratização da cidadania negra no Brasil se manifestou desde a resistência dos africanos escravizados ao sistema colonial do Brasil, que começou a tomar corpo com maior determinação a partir da abolição da escravatura (GUIMARÃES, 2012). Além disso, é perceptível que a transição do período escravista para a liberdade foi o marco fundamental que finalmente concedeu para todo o povo brasileiro a condição de igualdade e liberdade individual perante a lei, influenciando a concepção de cidadania nacional (GARCIA, 1986). Todavia, faz-se necessário elucidar que entre a escolha e a prática destes princípios sempre se manteve um distanciamento, vários eram os empecilhos que atrapalhavam a assimilação do negro como um dos componentes centrais da nova sociedade brasileira, um indivíduo portador de direitos e deveres (GUIMARÃES, 2012). Assim, é possível criar uma concepção de como os primeiros anos da República foram complicados para o exercício da liberdade que recém à conquistaram. Nesse ínterim, retrata-se que tais indivíduos eram mais assujeitos do que sujeitos no meio social (GARCIA, 1986), conforme Cação: No dia 13 de maio de 1888, uma lei imperial, a chamada Lei Áurea, deu fim à instituição que por mais de três séculos marcou de maneira profunda a vida cotidiana no Brasil: modos de viver e de pensar, relações de poder, etiquetas de mando e obediência. Desde então, aquele segundo domingo do mês de maio de 1888 deixaria de ser apenas um dia qualquer do calendário para ganhar as páginas da história do país, como um momento fundador, decisivo e crucial. (CAÇÃO; REZENDE FILHO, 2018, p. 370). Sob a forma de racismo, cujo papel central no século XIX nunca será demais ressaltar, a biologia era essencial para uma ideologia burguesa teoricamente igualitária, pois deslocava a culpa das evidentes desigualdades humanas da sociedade para a “natureza”. (HOBSBAWM, 2008, p. 221). A desastrosa tradição escravista herdada dos colonizadores europeus existe na sociedade brasileira há séculos e, mesmo após sua abolição, seus vestígios ainda perduram no seio da sociedade brasileira. A Lei 3.353 de 13 de maio de 1888, aprovada pela princesa Isabel, cobrou em seu artigo primeiro a erradicação da escravidão no território brasileiro, revelando o fim de um sistema muito lucrativo para os senhores de escravos. No entanto, uma ideologia baseada no elitismo e uma biologia de puro preconceito transcendeu a ordem legislativa, permitindo que os efeitos da escravidão reverberassem em nosso tempo, como diz Hobsbawm: Em geral, tem sido dito que o escravo possui três características definidoras: sua pessoa é a propriedade de outro homem, sua vontade está sujeita à autoridade do seu dono e seu trabalho ou seus serviços são obtidos através da coerção. (DAVIS, 2001, p. 49). No contexto do Brasil colônia, pode-se dizer que “combinava três caracteres: grande propriedade, monocultura e trabalho escravo” (PRADO JÚNIOR, 1978, apud GORENDER, 1980, p.17.) Sob o Estado de Direito, todos são iguais. Porém, a primeira constituição republicana permitia que todos os homens maiores de 21 anos votassem, exceto mulheres, mendigos, analfabetos, praças e monges, o que foi um grande avanço. Deve-se levar em conta que, devido à recente abolição da escravatura, os negros libertos não tinham nenhuma instrução e eram muito pouco alfabetizados, realidade que Ferreira disse ser evidente não só entre essa população, mas em toda a sociedade. do total da população negra é analfabeta. Além disso, especula-se que o voto neste período tenha sido apenas obrigatório por lei, desconectado da realidade social, uma ferramenta do status quo para manter o poder durante a Primeira República, já que apenas pouco mais de 4% da população pôde votar. A população preta, majoritariamente, não estava representada, não existia norma que expressamente os impedia de votar, como ocorria nos Estados Unidos ou na África do Sul, mas exigia-se pressupostos para o exercício dessa democracia, de acordo com José Afonso da Silva: […] Coerente com sua essência antidemocrática, o elitismo assenta-se em sua inerente desconfiança do povo que reputa intrinsecamente incompetente. Por isso sua “democracia” sempre depende de pressupostos notoriamente elitistas, tais como os de que o povo precisa ser preparado para a democracia, de que esta pressupõe certo nível de cultura, certo amadurecimento social, certo desenvolvimento econômico, e reclama que o povo seja educado para ela. (SILVA, 2014, p. 129). 3. METODOLOGIA Para atingir os objetivos apresentados neste artigo, foram utilizados estudos bibliográficos e de periódicos, nos quais foram levantados materiais de diversosautores. Aprofundando a compreensão sobre os temas revelados neste trabalho. Imagem 1: Imagem do decreto assinado pela Princesa Isabel abolindo a Escravidão no Brasil. Neste ensaio tive como norte mostrar como a população negra mesmo com direitos após a Abolição da Escravatura continuou sendo uma parte excluída da sociedade. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste trabalho vimos que, mesmo com a Escravatura entrando em colapso no mundo, o Brasil foi um dos últimos países a abolir à escravidão. Vimos também que sob o Estado Democrático de Direito somos todos iguais, porém, mesmo com as mulheres e os negros sendo maioria em nossa sociedade, essas maiorias são minorias nos espaços de poder. Com este ensaio, busco mostrar que para o futuro temos que relembrar o passado e com isto, andar para frente. Não é possível que em pleno século XXI vejamos tantos casos de racismo ou sub-representações nos espaços de poder. 5. CONCLUSÃO Deve-se concluir que ao longo deste trabalho questões foram levantadas sobre porque negros ainda carecem de representação política. Percebemos que existem mazelas históricas que foram ignoradas durante a república e só foram reconhecidas na constituinte de 1988, envolvendo a sociedade e os poucos deputados pretos eleitos. Portanto, entendemos que embora a população negra tenha agora todos os mesmos direitos formalmente que a população branca, eles não são materialmente iguais. Porque sabemos que são 331 anos de escravidão e outros 100 anos de discriminação. Isso destaca que, assim como a lei Áurea de 1888, a constituição de 1988 é um marco importante na criação de um novo Estado que busca acabar com os graves traumas, a brutal escravidão e a desigualdade infligidas ao povo brasileiro. e fracassos passados. De modo que todos esses aspectos só podem ser resgatados com democracia, participação política e popular, ressaltando nesse aspecto, a importância do Estatuto da Igualdade Racial para estabelecer políticas públicas, voltadas para garantir à população negra a concretização da igualdade de oportunidades. 6. REFERÊNCIAS CAÇÃO, Felipe; REZENDE FILHO, Cyro. Papel dos escravos negros após a abolição. Semina – Revista Dos Pós-Graduandos em História da UPF, Passo Fundo, v. 9, n.2, 2014. Disponível em: . Acesso em: 15 jun. 2023. GUIMARÃES, Antonio. “Cidadania e retóricas negras de inclusão social”. Lua Nova: Revista de Cultura e Política. São Paulo. n. 85, p. 13-40, 2012. Disponível em: . Acesso em: 16 jun. 2023. HOBSBAWM, Eric. A Era dos Impérios. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: . Acesso em: 15 jun. 2023. IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). IBGE. 2019. Disponível em: . Acesso em: 15 jun. 2023. GARCIA JR., Afrânio. “Libres et assujettis”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales. Revista Pensée. Paris: v. 65, p. 14-40, 1986. Disponível em: . Acesso em: 16 jun. 2023. GOMES, Laurentino. ESCRAVIDÃO: do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares. Globo Livros. Rio de Janeiro. GERAL, B. A. [Decreto de extinção da escravidão no Brasil] [manuscrito]. www2.senado.leg.br, 13 maio 1888. GARIBOTI, D. DE F. Cidadania negra no Brasil do pós abolição: a representatividade política dos negros. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 09, n. 12, p. 39–50, 20 dez. 2021. 1. Pedro Érick Moura de Souza¹ 2. Geyssa Gleycia Barbosa Andrade Centro Universitário Leonardo da Vinci – Uniasselvi – Licenciatura/História (FLC2857) 11/06/2023 [Digite aqui] image1.png