Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS 110 • Cantinho das atividades domésticas Neste ambiente podem ser disponibilizadas panelinhas, pratinhos, colheres, copos, xícaras, potes, frascos, fogãozinho (que pode ser construído com caixas de papelão), pia com torneira (sem água, é claro), mamadeiras, canecas, geladeira, armário, micro-ondas (estes últimos três itens também podem ser construídos com caixas de papelão), ferro de passar, mesinhas, cadeiras, almofadas, vassouras pequenas, entre outros objetos. Figura 12 – CANTINHO DAS ATIVIDADES DOMÉSTICAS- U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL/SC FONTE: A autora • Cantinho do salão de beleza Este ambiente pode possuir espelhos, cadeiras, armários, estantes, frascos vazios de shampoos, desodorantes, perfumes, pentes, escovas, toalhinhas, tiaras, prendedores de cabelo, secadores de brinquedo, pedaços de madeira para fazer de sabonete, tudo o que lembre um salão de beleza (infantil) e estimule a fantasia, a interação, o cuidado etc. FIGURA 13 – CANTINHO DO SALÃO DE BELEZA – U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL/SC FONTE: A autora TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 111 • Cantinho do mercado Este espaço pode conter rótulos de diversos materiais, vendidos habitualmente nos mercados como: materiais de higiene, alimentação, limpeza, entre outros. “[...] fazer compra em supermercado, pagando com ‘dinheiro’ feito pelas crianças, são exemplos de brincadeiras que introduzem no mundo da matemática a criança, que já começa a fazer hipóteses de como medir e quantificar” (KISHIMOTO, 2010, p. 7). Além disso, a criança desenvolve a noção de valores e poder de compra e aprende a importância de economizar para poder adquirir os produtos/objetos desejados. Como você pode perceber, caro acadêmico, são várias as possibilidades de organização dos espaços em sala de aula e você, enquanto professor, pode criar outros ambientes ou subdividir os que indicamos, por exemplo: ao invés de fazer o cantinho da arte, fazer o cantinho da massinha, da bandinha rítmica, variando os espaços de tempos em tempos para estimular as crianças. Pode também disponibilizar a cada dia apenas um material ou objeto para as crianças manusearem, exemplo: um dia tintas e papéis, outro dia bandinha rítmica, em outro, massinha, e assim por diante. O fundamental é estimular o desenvolvimento integral da criança, em todos os aspectos. Para ampliar a lista de materiais que podem ser disponibilizados às crianças de um a seis anos, apresentamos, a seguir, algumas sugestões de Kishimoto (2010): QUADRO 2 – SUGESTÕES DE BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA CRIANÇAS DE UM ANO A SEIS ANOS IDADE SUGESTÕES Crianças pequenas (um ano a três anos e onze meses) • túneis, caixas e espaços para entrar e esconder-se; • brinquedos para empurrar, puxar,bater; • bolas de diversos tamanhos e cores, cordas, bambolês, papagaio (pandorga, pipa), perna de pau, amarelinha; • quebra-cabeças simples, jogos de memória e depercurso; • livros de história, fantoches (de diversas formas, tamanhos e cores) e teatro; • blocos, encaixes; • massinha e tinturas de dedo; • bonecas, brinquedos, mobiliários e acessórios para brincadeiras de faz de conta; • sucata doméstica e industrial e materiais da natureza. Sacolas e latas com objetos diversos de uso cotidiano para exploração; • TV, computador, aparelho de som, CD; • triciclos e carrinhos para empurrar e dirigir; • tanques/canchas de areia, brinquedos de areia e água; • estruturas para trepar, subir, descer, balançar, esconder; UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS 112 • materiais de artes e construções; • tecidos diversos; • bandinha rítmica. Crianças maiores (quatro a seis anos) • boliches, jogos de memória, quebra-cabeça, dominó, blocos lógicos, loto, jogos de profissões e outros temas; • materiais de arte, pintura, desenho; • CD com músicas, danças, TV, máquina fotográfica, gravador, aparelho de som, computador, impressora; • jogos de construção, brinquedos para faz de conta e acessórios para brincar; • teatro e fantoches (de famílias de diversas etnias, de animais, de personagens do folclore, entre outros); • materiais e brinquedos estruturados e não estruturados; • bandinha rítmica; • brinquedos de parque, tanques de areia e materiais diversos para brincadeiras na água e areia; • sucata doméstica e industrial e materiais da natureza; • papéis, papelão, cartonados, revistas, jornais, gibis, cartazes e folhas de propaganda; • bola, corda, bambolê, pião, papagaio, cinco marias, bilboquê, perna de pau, amarelinha, varetas gigantes, triciclos, carrinhos; • livros infantis, letras móveis, material dourado, globo, mapas, lupas, balança, peneiras, copinhos e colheres de medida. FONTE: Adaptado de Kishimoto (2010) 3.2 SALA MULTIUSO OU BRINQUEDOTECA A sala multiuso é um espaço destinado para a realização de atividades diferenciadas, propostas pelo professor no planejamento, como: • assistir a vídeos, filmes, DVDs: este tipo de atividade não deve ocorrer diariamente, pois, em casa, a maioria das crianças já passa muito tempo em frente à televisão. Por isto também é importante que a televisão não fique na sala de atividades e sim num espaço específico para este momento; • ouvir uma história ou manusear os livros: apesar de a própria sala de atividades ter um ambiente para a leitura, o fato de as crianças se deslocarem para um novo espaço, mais silencioso, para ouvir uma história, assistir a um teatro de fantoches, entre outros, faz com que elas se tornem mais receptivas e atentas; TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 113 • escutar uma música, dançar, fantasiar-se etc.: como vimos anteriormente, estas atividades também podem ser realizadas na sala de atividades conforme o planejamento do professor. Caso não seja possível ter em cada sala um espaço com roupas e sapatos de adultos para as crianças brincarem (canto da fantasia), este espaço também pode ser utilizado para isto, já que todas as turmas podem ter acesso a ele. 3.3 REFEITÓRIO O refeitório é o espaço utilizado para as crianças se alimentarem, estimulando que elas se sirvam e se alimentem sozinhas assim que possível, de forma a desenvolver a sua autonomia. Também é um espaço de socialização entre crianças de diversas faixas etárias. Conforme os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), este espaço deve se localizar próximo da cozinha e contar com um mobiliário móvel, de forma a possibilitar diversas formas de organização do ambiente e prevendo a utilização por 1/3 das crianças do turno maior, intercalando as turmas no horário da alimentação. FIGURA 14 – REFEITÓRIO U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL/SC FONTE: A autora Este espaço também pode ser decorado com móbiles, desenhos das crianças, deixando-o ainda mais divertido e interessante para elas. Os móveis devem ser adaptados ao tamanho das crianças, possibilitando que elas se sentem, se levantem e se alimentem sozinhas. DICAS UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS 114 3.4 BANHEIROS O ideal é que estejam próximos das salas das crianças, porém bem longe da cozinha e do refeitório, sem ter ligação direta com eles. De acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), os pisos e paredes precisam ser de fácil limpeza, as janelas com boa iluminação, as portas não devem conter chaves nem trincos e os lavatórios precisam ser adequados de acordo DICAS 154 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 43 – LIVRO PEDAGOGIA DA AUTONOMIA FONTE: . Acesso em: 10 set. 2020. 4 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE Identidade tem a ver com “quem somos”, com o grupo do qual fazemos parte, em que acreditamos, o que de fato praticamos, nossas crenças, valores ou ideais, enquanto seres aprendentes. Essa identidade vai sendo construída à medida que interagimos com os outros ao longo da vida. Enquanto crescemos, vamo-nos desenvolvendo em todos os sentidos, inclusive na construção do próprio eu, passando a compreender de fato e gradativamente “quem somos”. Nossa identidade, recém-construída, não é fixa, ela pode mudar e se refazer o tempo todo, dependendo das necessidades ou experiências vividas. Não somos sempre iguais nem temos sempre os mesmos comportamentos, às vezes, apresentamos identidades distintas, pois, se em um momento somos solidários, no momento seguinte podemos ser extremamente egoístas; se num instante parecemos bonzinhos, segundos mais tarde, podemos demonstrar o quanto somos tiranos. Faça as suas anotações e considerações sobre o assunto. DICAS TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 155 Temos, portanto, identidades diferentes e necessitamos ter liberdade de nos posicionar também de diferentes maneiras. FIGURA 44 – CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE FONTE: . Acesso em: 2 maio 2020. Aos poucos, as crianças também vão descobrindo que não existe uma única maneira de ser. Passam a se posicionar diante das diversas identidades que vão desenvolvendo e compreendem em si as mudanças, sendo então capazes de compreendê-las, também, nos outros. De acordo com Moyles (2010, p. 71): [...] uma criança pequena pode saber que é uma ‘ótima autora’ quando as pessoas gostam das suas histórias na escola, que é a ‘menininha amada’ da mamãe e do papai, a ‘irmã mais velha boazinha’ do irmãozinho bebê ou a ‘irmã menor chata’ da irmã mais velha quando ela quer participar das brincadeiras dos mais velhos. FIGURA 45 – DIVERSAS IDENTIDADES FONTE: . Acesso em: 2 maio 2020. 156 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS De acordo com o Parecer CNE/CEB nº 20/2009, aprovado em 11 de novembro de 2009, no documento intitulado Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil: Cada criança apresenta um ritmo e uma forma própria de colocar-se nos relacionamentos e nas interações, de manifestar emoções e curiosidades, e elabora um modo próprio de agir nas diversas situações que vivencia desde o nascimento conforme experimenta sensações de desconforto ou de incerteza diante de aspectos novos que lhe geram necessidades e desejos e lhe exigem novas respostas. Assim busca compreender o mundo e a si mesma, testando, de alguma forma, as significações que constrói, modificando-as continuamente em cada interação, seja com outro ser humano, seja com objetos. Cabe às instituições de Educação Infantil assegurar às crianças a manifestação de seus interesses, desejos e curiosidades ao participar das práticas educativas, valorizar suas produções, individuais e coletivas e trabalhar pela conquista por elas da autonomia para a escolha de brincadeiras e de atividades e para a realização de cuidados pessoais diários. Tais instituições devem proporcionar às crianças oportunidades para ampliarem as possibilidades de aprendizado e de compreensão de mundo e de si próprias trazidas por diferentes tradições culturais e a construir atitudes de respeito e solidariedade, fortalecendo a autoestima e os vínculos afetivos de todas as crianças (BRASIL, 2009). E agora, caro acadêmico, ficou um pouco mais fácil? Para auxiliá- lo, traremos, a seguir, algumas dicas de como estimular o desenvolvimento saudável da identidade das crianças, nas instituições de Educação Infantil. • Reconheça a importância da “construção da identidade” para a aprendizagem e o desenvolvimento. • Apoie e incentive a criança diante da posição ou mudança de identidade que adotar. • Incentive movimentos de autoconhecimento e autoestima entre as crianças para que elas aprendam a se conhecer e a se ver como os outros a conhecem e a veem. • Provoque situações que levem as crianças a manifestarem seus sentimentos de diversas maneiras. • Crie situações para que interajam com o grupo e deixe-as livres para que possam tomar decisões e ocupar posições enquanto se relacionam socialmente. • Seja sensível a tudo aquilo que as crianças lhe disserem, preste atenção a elas. Para Moyles (2010, p. 84): [...] Se a criança sente que os adultos importantes da sua vida se importam com ela, a valorizam e a aceitam como ela é, provavelmente terá uma autoestima elevada. Para ajudar as crianças que estão desenvolvendo seu senso de self e garantir que sua autoestima se mantenha elevada, os profissionais devem conhecer e ser sensíveis aos discursos aos quais a criança tem acesso – assim, compreenderão melhor como ela está escolhendo se posicionar ou está sendo posicionada pelos outros. Os profissionais também precisam ter em mente a natureza multifacetada e fluída da identidade e procurar dar à criança acesso a uma grande variedade de discursos e “maneiras de ser”. TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 157 • Deixe espaço para que as crianças possam manifestar os próprios gostos e preferências, como, por exemplo, escolhendo a brincadeira, o livro ou a música que irão cantar. • Favoreça atividades para que elas percebam suas habilidades e limites e sejam capazes de perceber-se como um ser único e especial, no meio de tantos outros igualmente únicos. • Não esqueça que este processo de autoconhecimento inicia quando a criança nasce e a acompanha até o final da vida, sendo marcado pela história, pela cultura, pela família e pelo ambiente onde vive esta criança. Valorize, portanto, cada um destes detalhes. • Não faça comparações, cada criança é única. • Chame cada criança pelo nome, evite apelidos ou diminutivos. • Fique atento às diferentes manifestações das crianças (gestos, atitudes, choro etc.), elas podem se comunicar com você, mesmo sem saber ou querer falar. Sinta-se importante durante todo o processo de construção da identidade das crianças. 158 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Sujeito autônomo é aquele que sabe aonde quer chegar e os caminhos que deve percorrer, seguindo suas próprias leis e tomando decisões. • Para desenvolver a independência/autonomia nas crianças, é necessário dar- lhes a oportunidade de fazer escolhas. • Quando o professor decide tudo sozinho, não deixa espaço para a construção autônoma e perde oportunidades de desenvolver a criatividade, responsabilidade, iniciativa e independência, na criança. • O professor que formula atividades nas quais as crianças são levadas a pensar e a tentar sozinhas, as conduz à situações de aprendizagens significativas. • Partir do conhecimento prévio das crianças nos dá subsídios para elaborar atividades ou projetos. • Todo bom professor tem consciência de que necessita refletir a sua prática todos os dias. • Se somos capazes de oferecer momentos de construção de conhecimentos e de estabelecimento de metas, e ainda, se planejamos com esta convicção, tornamo-nos educadores por excelência. • Professor que ama o que faz não faz distinções e conduz sua profissão com amorosidade, sendo coerente em sua prática. • Ensinar exige comprometimento. É impossível formar-se professor sem saber disso. • Para ensinar as crianças é preciso querer bem a elas. É preciso conhecê-las, compreendê-las e, sobretudo, amá-las. • Identidade tem a ver com “quem somos”, com o grupo do qual fazemos parte, em que acreditamos, o que de fato praticamos. • Não somos sempre iguais nem temos sempre os mesmos comportamentos, às vezes, apresentamos identidades distintas. • Temos múltiplas identidades e necessitamos ter liberdade de nos posicionar também, de múltiplas maneiras. 159 1 Escolha, entre os 29 itens do sumário do livro “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire, cinco frases/tópicos marcantes para você, a respeito da palavra ensinar, que poderiam lhe servir como base de um trabalho bem feito. Justifique sua escolha. 2 Por que dizemos que quando o professor toma todas as decisões no planejamento e condução da aula ele está perdendo grandes oportunidades junto às crianças? 3 Identidade tem a ver com quem somos, o que nos torna únicos. No entanto, ao longo da vida, apresentamos múltiplas identidades. O que isso significa? 4 Para desenvolver a independência/autonomia nas crianças basta dar-lhes uma oportunidade específica. Com base no que estamos falando, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Da oportunidade de aprender com os adultos. b) ( ) Da oportunidade de ouvir e imitar os outros. c) ( ) Da oportunidade de falar o que quer. d) ( ) Da oportunidade de fazer escolhas. AUTOATIVIDADE 160 161 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Sabemos que a Educação Infantil faz parte da primeira etapa da educação básica. Por ser a primeira, necessita ser muito especial, pois se trata do início e do fundamento do processo educacional das crianças. Esta base tem que ser sólida, tem que ter qualidade no atendimento, no planejamento e na formação continuada dos profissionais. Os eixos estruturantes das práticas pedagógicas da Educação Infantil são as interações e a brincadeira, “experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização” (BRASIL, 2018, p. 37). Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo a expressão dos afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação das emoções (BRASIL, 2018, p. 37). A partir dos eixos estruturantes e das competências gerais da BNCC para a Educação infantil, foram elencados seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento e é sobre cada um deles que falaremos neste tópico. Aproveite esta nova oportunidade para ampliar seus conhecimentos. Bons estudos! TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 2 DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL De acordo com a BNCC (BRASIL, 2018, p. 37), os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento: asseguram, na educação infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem- se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. 162 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 46 – DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO FIGURA 47 –APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO FONTE: as autoras FONTE: . Acesso em: 12 maio 2020. No Quadro 6, apresentaremos uma síntese de cada um dos “seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil”, de acordo com a BNCC (BRASIL, 2018, p. 36). TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 163 QUADRO 6 – SEIS DIREITOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL FONTE: a autora • Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do ou- tro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. • Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tem- pos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversifi- cando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imagina- ção, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. • Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamen- to da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes lin- guagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emo- ções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da na- tureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. • Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questio- namentos, por meio de diferentes linguagens. • Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, consti- tuindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário. 3 OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS Considerando os eixos estruturantes e os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, a BNCC estruturou cinco campos de experiências, que cabem direitinho na vida cotidiana das crianças, juntamente com seus saberes e fazeres (experiências), tanto pedagógicas, quanto sociais, culturais ou patrimoniais. Eis os campos em que se organiza a BNCC, para a Educação Infantil: • O eu, o outro e o nós. • Corpo, gestos e movimentos. • Traços, sons, cores e formas. • Escuta, fala, pensamento e imaginação. • Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. 164 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS A seguir, traremos a explicação de cada um dos campos, de acordo com a BNCC (BRASIL, 2017, p. 38): O EU, O OUTRO, O NÓS – É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais. Ao mesmo tempo que participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio. Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos. Toda criança adora brincar e interagir com outras crianças ou mesmo com adultos e, enquanto faz isso, desenvolve tantas aprendizagens que vale a pena refletir elas e a sua importância dentro do processo de ensino-aprendizagem. Conforme Nascimento (2000, p. 1): A criança não é um adulto que ainda não cresceu, ela tem características próprias. Para alcançar o pensamento adulto (abstrato), ela precisa percorrer todas as etapas de seu desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional. Brincando, a criança desenvolve potencialidades; ela compara, analisa, nomeia, mede, associa, calcula, classifica, compõe, conceitua, cria, deduz etc. Sua sociabilidade se desenvolve; ela faz amigos, aprende a compartilhar e a respeitar o direito dos outros e as normas estabelecidas pelo grupo e a envolver-se nas atividades apenas pelo prazer de participar, sem visar recompensas nem temer castigos. Brincando, a criança estará buscando sentido para sua vida. Sua saúde física, emocional e intelectual depende, em grande parte, dessa atividade lúdica. TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 165 FIGURA 48 – O EU, O OUTRO E O NÓS FIGURA 49 – DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. FONTE: a autora Perceba, prezado acadêmico, como é grande a lista de vantagens que se esconde em um simples brincar e interagir, para o desenvolvimento de aprendizagens signifi cativas. Enquanto brinca e interage, a criança desenvolve: Ela aprende também a: 166 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 50 – APRENDENDO A DIVIDIR FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Por tudo isso, Nascimento (2000, p. 1) afirma que: Brincar é tão importante para a criança como trabalhar é para o adulto. É o que a torna ativa, criativa, e lhe dá a oportunidade de relacionar- se com os outros; também a faz feliz e, por isso, mais propensa a ser bondosa, a amar o próximo, a ser solidária. Enquanto a criança brinca, percebe a necessidade do outro e passa a preferir brincar em companhia de mais crianças do que sozinha, mesmo que essa parceria, às vezes, seja conflituosa e frustrante. Com isso, desenvolve sua inteligência emocional, tão importante para o crescimento. Em grupo, especialmente através de jogos, ela aprende também o significado de “ganhar e perder”. Prezado acadêmico! Não é novidade alguma que a criança utiliza múltiplas maneiras de se comunicar ou se expressar, concorda? Durante os jogos ou brincadeiras, o que fica evidente é o movimento como linguagem, não apenas como ato de se mover, pois, enquanto se movimenta, a criança é capaz de expressar seus sentimentos, quer sejam eles manifestados por gestos, emoções ou posturas corporais, principalmente quando a criança ainda não fala. O corpo demonstra aquilo que a criança sente ou quer falar e nós, educadores, precisamos ter sensibilidade para perceber isso. Partindo deste pressuposto, vamos ao segundo campo de experiência: CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS – Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu en- torno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 167 FIGURA 51 – CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS FONTE: . Acesso em: 12 maio 2020. sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progres- sivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comu- nicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identifi cam suas potencialidades e seus limites, de- senvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um risco a sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na intera- ção com seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.). FONTE: Brasil (2018 (p. 40-41). Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 18): O movimento para a criança pequena signifi ca muito mais do que mexer partes do corpo ou deslocar-se no espaço. A criança se expressa e se comunica por meio dos gestos e das mímicas faciais e interage utilizando fortemente o apoio do corpo. A dimensão corporal integra- se ao conjunto da atividade da criança. [...] Pode-se dizer que no início do desenvolvimento predomina a dimensão subjetiva da motricidade, que encontra sua efi cácia e sentido principalmente na interação como meio social, junto às pessoas com quem a criança interage diretamente. A internalização de sentimentos, emoções e estados íntimos poderão encontrar na expressividade do corpo um recurso privilegiado. 168 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS O terceiro campo de experiência, já vem chegando, na sequência: TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS – Conviver com diferentes manifesta- ções artísticas, culturais e científi cas, locais e universais, no cotidiano da insti- tuição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversifi cadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografi a etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diver- sos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a fa- vorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfi gurem, permanen- temente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas FONTE: Brasil (2018 (p. 41). FIGURA 52 – TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. As crianças adoram cantar ou ouvir música, certamente porque desde muito pequeninas esta linguagem as acompanha, desde as canções de ninar dos pais ao gosto musical que a própria família lhes impõe, muitas vezes de maneira inconsciente. Quanto mais estimulada a ouvir, cantar e até mesmo tocar diferentes ritmos musicais, maior será o desenvolvimento da criança; ela será capaz de TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 169 FIGURA 52 – TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. produzir sons com o próprio corpo ou com diferentes objetos, ampliando seu repertório. Por isto, é importante ao educador selecionar músicas de qualidade, como citamos anteriormente. A música está diretamente ligada à sensibilidade, à expressão e à alegria. É muito importante que ofertemos diferentes oportunidades de apreciação e fazer musical para as crianças, tais como: os sons da natureza, do corpo, de diferentes instrumentos musicais, de jogos cantados, exploração de ritmos, gestos, canções de roda ou parlendas, o que as desenvolverá social e intelectualmente. A música tem que ser entendida como uma linguagem e não como uma forma de estratégia para banalizá-la. Tem que mostrar um amplo universo de sons para o aluno. Isso vai ajudá-lo a ampliar seus sen- tidos, como a visão, o tato e, principalmente, a audição. Nosso pro- pósito com essas aulas não é o de formar músicos profi ssionais, mas, como música é cultura, ela vai despertar nessa pessoa também o sen- so crítico, fazendo com que esse indivíduo não aceite passivamente todo esse material cultural descartável (LIMA apud LAGINSKI, 2012). As artes plásticas ou visuais também compõem a lista de preferências da criança na Educação Infantil. Quando ela tem a oportunidade de manusear diferentes materiais e criar suas próprias obras, manifesta no mesmo instante uma série de sentimentos, ampliando, assim, sua percepção de mundo. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 89): Na infância as artes visuais estão presentes desde muito cedo. As crian- ças rabiscam, desenham, mesmo que não tenham papéis e lápis. Utili- zam-se do próprio corpo, usam gravetos, rabiscam na areia, mas já se expressam através dessa linguagem. [...] as artes visuais devem ser con- cebidas como uma linguagem que tem estrutura e características pró- prias, (e ocorre) por meio da articulação dos aspectos: (a) fazer artístico – centrado na exploração, expressão e comunicação de produção de trabalhos de arte [...]; (b) apreciação – percepção do sentido que o obje- to propõe [...] (c) refl exão – considerado tanto no fazer artístico quanto na apreciação, é pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico [...]. 170 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS Prezado acadêmico! Vale lembrar que a criança se expressa através do desenho, mas que, no início, ela só faz “rabiscos”, depois passa a dar formas e contornos. Durante todo este processo ela precisa ser compreendida e valorizada para que exerça de forma espontânea e saudável sua evolução. Enquanto educador, ofereça o maior número de materiais artísticos à criança, dê-lhe autonomia para criar e perceba que ela os experimentará com entusiasmo, criatividade e imaginação, que lhe são tão naturais. E por falar em comunicação e expressão, vem aí nosso próximo campo de experiência: ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO – Desde o nascimento, as crianças participam de situações comunicativas cotidianas com as pessoas com as quais interagem. As primeiras formas de interação do bebê são os mo- vimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros recursos vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. Progressi- vamente, as crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e demais recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se da língua materna – que se torna, pouco a pouco, seu veículo privilegiado de interação. Na Educa- ção Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas ela- boradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e per- tencente a um grupo social. Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infantil, a imersão na cul- tura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvol- vimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêne- ros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da di- reção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhe- cendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da língua. Fonte: Brasil (2018, p. 42). TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 171 A fala é o principal veículo de comunicação entre a criança, os familiares, professores e colegas. Por meio da fala, a criança expressa seus sentimentos, desejos ou angústias. Este desenvolvimento pode acontecer através de conversas informais (roda da conversa) ou planejadas, como numa entrevista ou apresentação. Deve-se proporcionar estes momentos em sala de aula ou mesmo fora dela, e é importante incentivar que todos falem, que todos opinem, que manifestem seus interesses e que saibam compartilhar como grupo o que pensam e o que sentem a respeito de determinado assunto, fazendo-se compreender. Neste tipo de atividade, exercita- se também a escuta, outro fator determinante na aprendizagem. Enquanto a criança fala e é ouvida pelos colegas e pela professora, ela sente-se importante, ampliando sua leitura de mundo, apropriando-se de novos conceitos e aumentando sua capacidade de argumentação. Na roda da conversa, enquanto a criança narra seu fi nal de semana, por exemplo, é possível descobrir muitas coisas a respeito de uma rotina familiar tranquila ou de uma convivência familiar complicada, que, porventura, esteja afetando a vida desta criança. Enquanto relata, ela expressa desejos, sentimentos, medos, abusos, enfi m, fatos reais do seu dia a dia. Temos que fi car bem atentos aos “sinais” que as crianças nos dão e criar um ambiente que valorize e incentive o diálogo e a livre expressão da criança. FIGURA 54 – A CONVERSA DURANTE A BRINCADEIRA FONTE: . Acesso em: 12 maio 2012. A leitura também faz parte da linguagem oral, e não é só à leitura de livros que estamos nos referindo, existe a leitura de mundo (pessoas, ambientes, espaços), de objetos, de imagens ou de músicas, que ajudarão no de senvolvimento da criança. 172 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 55 – LEITURA DE IMAGEM FONTE: . Acesso em: 12 maio 2012. Para desenvolver crianças leitoras, é preciso que o educador seja apaixonado pelos livros e faça da leitura uma atividade diária, desde aEducação Infantil. Para isso, faz-se necessário ter um bom acervo literário na instituição, se possível montar um cantinho de leitura dentro da própria sala de aula, onde as crianças tenham oportunidade de manusear diferentes materiais impressos como: livros, revistas, jornais, panfl etos etc. Sabemos que a maioria das crianças de creche e pré-escola ainda não lê o código escrito, por isso esta tarefa cabe ao educador, mas é muito interessante deixá-las manusear os diferentes materiais, observar a imagens e levar as obras preferidas paracasa. Ao escolher o livro que lerá para a turma, nunca se esqueça, futuro(a) educador(a), de que você precisa preparar a leitura com antecedência, para que possa dar a devida entonação à história. Crianças amam histórias bem contadas e não é legal fazer feio nesta hora, concorda? Em relação à linguagem escrita, é possível afi rmar que ela acontece naturalmente, dentro do processo construído com a criança até então. A criança da Educação Infantil vai avançando em sua etapa alfabética à medida que mantém contato com as letras e com os livros, num mundo de descobertas e aprendizagens. A escrita é um produto da cultura humana e se insere no percurso do desenvolvimento da função simbólica. Portanto, a criança, para adquiri-la precisa efetivar uma série de realizações do domínio da Mesmo sem ler o código escrito, a criança pode abrir um livro ou revista e inventar a história a partir das imagens que vê e do conhecimento prévio que possui. Quem nunca se encantou vendo uma criança com um livro nas mãos lendo as imagens como se lesse realmente a história? TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 173 FIGURA 56 – LINGUAGEM ORAL E ESCRITA FONTE: . Acesso em: 13 maio 2012. função simbólica. Uma delas é ser capaz de dar signifi cado a uma forma, capacidade que ela adquire realizando colagens, dobradura, desenho, brincadeiras, principalmente, de faz de conta e outras que incluem especifi camente a representação. A partir disto, podemos afi rmar que a escrita é uma linguagem em construção na criança pequena. Exercendo as atividades próprias do desenvolvimento da função simbólica – o desenho, a narrativa pelo movimento e a narrativa oral – a criança estará construindo as bases, por assim dizer, necessárias para a leitura e para a escrita (LIMA, 2002, p. 28). Conforme a imagem anterior, pode-se trabalhar com letras móveis, cartelas ou listas de palavras oferecendo reais possibilidades de escrita e leitura enquanto as crianças brincam e interagem com os colegas. E, para fechar nosso ciclo de apresentação dos campos de experiências, teremos: ESPAÇOS, TEMPOS, QUANTIDADES, RELAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES – As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde muito pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a 174 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS diversidade entre elas etc.). Além disso, nessas experiências e em muitas outras, as crianças também se deparam, frequentemente, com conhecimentos matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais etc.) que igualmente aguçam a curiosidade. Portanto, a Educação Infantil precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informação para buscar respostas às suas curiosidades e indagações. Assim, a instituição escolar está criando oportunidades para que as crianças ampliem seus conhecimentos do mundo físico e sociocultural e possam utilizá-los em seu cotidiano. FONTE: Brasil (2018, p. 42-43). As crianças têm verdadeiro fascínio pela natureza e estabelecem com ela laços de afetividade. Este é, sem dúvida alguma, o assunto de maior interesse e curiosidade das crianças, que, com o auxílio do educador, pode possibilitar descobertas, questionamentos, experiências e diferentes formas deinvestigações. De acordo com Tiriba (2005 apud BRASIL, 2006c, p. 17-18): Da mesma forma que defendemos uma perspectiva educacional que respeite a diversidade cultural e promova o enriquecimento perma- nente do universo de conhecimentos, atentamos para a necessida- de de adoção de estratégias educacionais que permitam às crianças, desde bebês, usufruírem da natureza, observarem e sentirem o vento, brincarem com água e areia, atividades que se tornam especialmente relevantes se considerarmos que as crianças ficam em espaços inter- nos às construções na maior parte do tempo em que se encontram nas instituições de Educação Infantil. Criando condições para que as crianças desfrutem da vida ao ar livre, aprendam a conhecer o mun- do da natureza em que vivemos, compreendam as repercussões das ações humanas nesse mundo e sejam incentivadas em atitudes de preservação e respeito à biodiversidade, estaremos difundindo uma concepção de educação em que o ser humano éparte da natureza e não seu dono e senhor absoluto. TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 175 FIGURA 57 – NATUREZA FIGURA 58 – DIA DE CHUVA FONTE: . Acesso em: 14 maio 2020. FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. As crianças percebem a natureza enquanto observam o voo dos pássaros ou borboletas, enquanto experimentam a textura de folhas, enquanto sentem o perfume das fl ores e até mesmo enquanto vigiam o caminhar das formigas. As crianças têm mais tempo e maior sensibilidade para observar os pequenos animais do jardim, para sentirem a brisa no rosto ou a garoa nos cabelos. Para elas, nem o sol é tão forte que as impeça de brincar e nem a chuva tão prejudicial à saúde, como dizem os adultos. Sujar os pés na lama, encher os olhos de areia ou fartar-se de tanto rolar na grama faz parte do show, conhecido por elas como vida. 176 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS Nos primeiros anos de vida, a criança vai aprendendo inúmeras possibilidades sobre o mundo que está a sua volta, com suas cores e texturas. Aos poucos, ela vai estabelecendo contatos com a natureza e construindo novos conhecimentos. Percebe que a natureza interage com ela e vice-versa. Compreende que os outros também participam desta comunhão e que são igualmente responsáveis pela natureza. Surge, neste momento, a noção de sociedade e, junto com ela, a corresponsabilidade em relação aos cuidados com a vida, com o próximo e com a natureza. É fundamental, prezado acadêmico, que, enquanto educadores, nos esforcemos para despertar nas crianças a consciência de que todos somos responsáveis pelas questões ambientais. Esta consciência precisa ser estimulada nas crianças desde bem pequeninas e nas pequenas atitudes do dia a dia, quer sejam em relação à questão do lixo, do desperdício, dos cuidados com a água, como com os animais, com as plantas, com o solo, com o ar, pequenas ações que poderão salvar o planeta. E qual é a melhor maneira de fazer tudo isso? Nossa dica é a de formar sujeitos que percebam o quanto precisam dos recursos naturais para sua sobrevivência. Sujeitos que, desde a Educação Infantil, aprendam a pesquisar, a ser críticos, reflexivos e participativos, que saibam tomar decisões e desenvolver ações humanas em favor da vida e do planeta. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 172): Dada a grande diversidade de temas que este eixo oferece, é preciso estruturar o trabalho de forma a escolher os assuntos mais relevantes para as crianças e o seu grupo social. As crianças devem, desde pe- quenas, ser instigadas a observar fenômenos, relatar acontecimentos, formular hipóteses, prever resultados para experimentos, conhecer diferentes contextos históricos e sociais, tentar localizá-los no espaço e no tempo. Podem também trocar ideias e informações, debatê-las, confrontá-las, distingui-las e representá-las, aprendendo, aos poucos, como se produz um conhecimento novo ou por que as ideias mu- dam ou permanecem. TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 177 FIGURA 59 – CRIANÇA E CIÊNCIA FIGURA 60 – GEOMETRIA COM BOTÕES FONTE: . Acesso em: 14 maio 2020. Além de abordar a natureza, este campo de experiência também envolve a matemática, percebeu? Por mais incrível que possa parecer, a matemática surge muito cedo na vida da criança, que é capaz de realizar uma série de raciocínios matemáticos (a sua maneira, é lógico): resolver pequenos problemas, efetuar contagens, agrupamentos ou seriações e, para isso, utiliza muitas vezes o próprio corpo ou pequenos objetos, tais como pedrinhas ou botões. Os jogos e brincadeiras que envolvem regras, noções espaciais (em cima, embaixo, atrás), conceitos, organização, sequência, geometria e contagem oral são excelentes recursos para a construção de conhecimentos matemáticos que poderão se dar, naturalmente, enquanto brincam. FONTE: . Acesso em: 14 maio 2020. 178 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS Jogos de encaixe, brinquedos de empilhar ou ordenar, quebra-cabeças, jogos da memória ou de formas geométricas são sempre bem-vindos para o trabalho com este importante eixo, pois ensinam na prática o que ainda é abstrato na teoria. Sobre isso, Smole (2003, p. 9-13) afi rma que: As crianças devem perceber que é bom ser capaz de explicar e jus- tifi car seu raciocínio e que saber como resolver um problema é tão importante quanto obter sua solução. Esse processo exige que as ati- vidades contemplem oportunidades para as crianças aplicarem sua capacidade de raciocínio e justifi carem seus próprios pensamentos durante a tentativa de resolução dos problemas que se colocam. Acreditamos que, desde a escola infantil, as crianças podem perceber que as ideias matemáticas encontram-se inter-relacionadas e que a matemática não está isolada das demais áreas do conhecimento. FIGURA 61 – JOGOS DE MATEMÁTICA FONTE: . Acesso em: 14 maio 2020. Prezado acadêmico! As crianças adoram os números e eles estão em toda parte: nos jogos, brincadeiras, músicas infantis, histórias, enfi m, eles fazem parte do cotidiano das crianças. Cabe a todos nós, educadores, estimular e fortalecer os laços entre a matemática e a vida real das crianças. Sejamos criativos e aproveitemos ao máximo todos os recursos existentes, além de uma boa dose de criatividade e imaginação, para levar nossas crianças a pensar, exercitar o raciocínio lógico, formular respostas e não apenas reproduzir respostas prontas; criar e resolver situações problemas e comunicar-se matematicamente com o mundo a sua volta. TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 179 QUADRO 7 – FAIXAS ETÁRIAS FONTE: a autora Se você se considera um futuro educador, leitor ou pesquisador, e está interessado em saber mais a respeito de como trabalhar a resolução de problemas com as crianças pequenas, confira esta dica de leitura: • SMOLE, S. K; DINIZ, I. M; CÂNDIDO, P. Resolução de problemas: matemática de 0 a 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. DICAS Agora que você já sabe um pouco mais sobre cada um dos campos de experiências, reforçamos que os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento são separados em cada um destes cinco campos, em três grupos, por faixa etária, assim divididos: CRECHE PRÉ-ESCOLA Bebês (zero a um ano e seis meses) Crianças bem pequenas (um ano e sete meses a três anos e onze meses) Crianças pequenas (quatro anos a cinco anos e onze meses) 4 A TRANSIÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Para que as crianças superem com sucesso os desafios da transição, é indispensável um equilíbrio entre as mudanças introduzidas, a continuidade das aprendizagens e o acolhimento afetivo, de modo que a nova etapa se construa com base no que os educandos sabem e são capazes de fazer, evitando, assim, a fragmentação e a descontinuidade do trabalho pedagógico (BRASIL, 2017, p. 51). Pensando nisso e considerando os direitos e os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, a BNCC apresenta uma síntese das aprendizagens esperadas em cada um dos campos de experiências, para que todo o processo iniciado na educação infantil possa ser ampliado e aprofundado. Acompanhe: 180 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS QUADRO 8 – SÍNTESE DAS APRENDIZAGENS SÍNTESE DAS APRENDIZAGENS O eu, o outro e o nós Respeitar e expressar sentimentos e emoções; atuar em grupo e demonstrar interesse em construir novas relações, respeitando a diversidade e solidarizando-se com os ou- tros; conhecer e respeitar regras de convívio social, mani- festando respeito pelo outro. Corpo, gestos e movimentos Reconhecer a importância de ações e situações do cotidia- no que contribuem para o cuidado de sua saúde e a manu- tenção de ambientes saudáveis; apresentar autonomia nas práticas de higiene, alimentação, vestir-se e no cuidado com seu bem-estar, valorizando o próprio corpo; utilizar o corpo intencionalmente (com criatividade, controle e ade- quação) como instrumento de interação com o outro e com o meio; coordenar suas habilidades manuais. Traços, sons, cores e formas Discriminar os diferentes tipos de sons e ritmos e interagir com a música, percebendo-a como forma de expressão in- dividual e coletiva; expressar-se por meio das artes visuais, utilizando diferentes materiais; relacionar-se com o outro empregando gestos, palavras, brincadeiras, jogos, imita- ções, observações e expressão corporal. Escuta, fala, pensamento e imaginação Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situa- ções de interação, por diferentes meios; argumentar e relatar fatos oralmente, em sequência temporal e causal, organizan- do e adequando sua fala ao contexto em que é produzida; ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas; co- nhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demons- trando compreensão da função social da escrita e reconhe- cendo a leitura como fonte de prazer e informação. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações Identificar, nomear adequadamente e comparar as propriedades dos objetos, estabelecendo relações entre eles; interagir com o meio ambiente e com fenômenos naturais ou artificiais, demonstrando curiosidade e cuidado com relação a eles; utilizar vocabulário relativo às noções de grandeza (maior, menor, igual etc.), espaço (dentro e fora) e medidas (comprido, curto, grosso, fino) como meio de comunicação de suas experiências; utilizar unidades de medida (dia e noite; dias, semanas, meses e ano) e noções de tempo (presente, passado e futuro; antes, agora e depois), para responder a necessidades e questões do cotidiano; identificar e registrar quantidades por meio de diferentes formas de representação (contagens, desenhos, símbolos, escrita de números, organização de gráficos básicos etc.). FONTE: a autora TÓPICO 4 — A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) 181 Atenção: estes objetivos não são pré-requisitos para o acesso ao ensino fundamental, são apenas objetivos a serem explorados na educação infantil e ampliados no decorrer do processo formativo dos estudantes. É com esta reflexão que encerramos o tópico e o convidamos a ler a BNCC para a Educação Infantil, na íntegra, pois os Campos de Experiências apresentam objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, de maneira muito interessante e completa, porém não há como abordá-la inteira neste Livro Didático, não é mesmo? Permaneça firme em seus estudos, rumo à Unidade 3, na qual falaremos um pouco mais sobre a brincadeira, a linguagem corporal, musical e afetiva, dentro da abordagem de Reggio Emília. Agradecemos sua companhia! Siga em frente, com o mesmo empenho e dedicação! 182 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • Os eixos estruturantes das práticas pedagógicas da Educação Infantil são as interações e a brincadeira, “experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações e interações com seus pares e com os adultos, o que possibilita aprendizagens, desenvolvimento e socialização” (BRASIL, 2018, p. 35). • Enquanto a criança brinca, desenvolve: autonomia, criatividade, identidade, imaginação, imitação, senso de justiça, convivência e socialização. • Enquanto brinca, ela aprende também: a ouvir a opinião do outro; esperar a vez de falar ou de jogar; a ceder de vez em quando; respeitar o grupo; cooperar e a cumprir regras. • Enquanto se movimenta, a criança é capaz de expressar seus sentimentos, quer sejam eles manifestados por gestos, emoções ou por postura corporal; • Quanto mais estimulada a ouvir, cantar e até mesmo tocar diferentes ritmos musicais, maior será o desenvolvimento da criança. • A música está diretamente ligada à sensibilidade, à expressão e à alegria. • A fala é o principal veículo de comunicação entre a criança, os familiares, professores e colegas. Por meio dela, a criança expressa seus sentimentos, desejos ou angústias. • Para desenvolver crianças leitoras, é preciso que o educador seja apaixonado pelos livros e faça da leitura uma atividade diária, desde a Educação Infantil. • As crianças percebem a natureza enquanto observam o voo dos pássaros ou borboletas, enquanto experimentam a textura de folhas, enquanto sentem o perfume das flores e até mesmo enquanto vigiam o caminhar das formigas. • É preciso formar sujeitos que percebam o quanto precisam dos recursos naturais para sua sobrevivência. Sujeitos que, desde a Educação Infantil, aprendam a pesquisar, a ser críticos, reflexivos e participativos, que saibam tomar decisões e desenvolver ações humanas em favor da vida e do planeta. 183 • Os jogos e brincadeiras que envolvem regras, noções espaciais (em cima, embaixo, atrás), conceitos, organização, sequência, geometria e contagem oral são excelentes recursos para a construção de conhecimentos matemáticos que poderão se dar, naturalmente, enquanto brincam. • Jogos de encaixe, brinquedos de empilhar ou ordenar, quebra-cabeças, jogos da memóriaoudeformasgeométricassãosemprebem-vindosparaotrabalhocom este importante eixo, pois ensinam na prática o que ainda é abstrato na teoria. • Os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento “asseguram , na educação infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e o mundo social e natural” (BRASIL, 2018, p. 35). • Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da Educação Infantil não são pré-requisitos para o acesso ao ensino fundamental, são apenas objetivos a serem explorados na educação infantil e ampliados no decorrer do processo formativo dos estudantes. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 184 1 Desafio – procure entrevistar a diretora ou coordenadora de uma creche para conhecer quais são as doenças mais comuns nas diferentes idades das crianças e nos diferentes momentos do ano. Compartilhe com seus colegas de sala, no próximo encontro, o resultado de sua pesquisa. a) Faça uma lista contendo cinco vantagens de se trabalhar a brincadeira e os jogos infantis como recursos pedagógicos. b) Faça uma lista das vantagens de se trabalhar a música e a dança na rotina escolar. 2 Em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018, p. 37) , existem dois eixos estruturantes das práticas pedagógicas para a Educação Infantil. Por meio destes eixos, desenvolvem-se experiências nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de conhecimentos, aprendizagens e trocas. Diante disso, assinale a alternativa que apresenta corretamente os dois eixos estruturantes: a) ( ) Brincadeiras e aprendizagem b) ( ) Interações e socialização c) ( ) interações e brincadeira d) ( ) socializações e aprendizagem 3 De acordo com a BNCC (2018, p. 37) , existem seis (6) direitos de aprendizagem e desenvolvimento que asseguram, na educação infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas quais possam desempenhar papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a sentirem-se provocadas a resolvê-los, construindo significados sobre si, os outros e o mundo social e natural. Partindo desta informação, assinale a alternativa que apresenta corretamente os seis (6) direitos: a) ( ) ser, viver, brincar, conhecer, agir e aprender; b) ( ) aprender, interagir, crescer, participar, decidir e argumentar; c) ( ) conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se; d) ( ) conviver, aprender, interagir, descobrir, pensar e falar. 4 Os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento na educação infantil precisam ser bem compreendidos. Neste sentido, apresentamos uma pequena síntese de cada um deles para que você faça as devidas associações entre as alternativas a seguir: I- Conviver II- Brincar AUTOATIVIDADE 185 III- Participar IV- Explorar V- Expressar VI- Conhecer-se ( ) Este direito envolve o contato com outras crianças e adultos, respeitando a diversidade cultural e social; ( ) Este direito envolve o estar junto na hora do planejamento e das atividades propostas pelo professor, ajudando nas decisões; ( ) Este direito envolve a descoberta e a ampliação de saberes sobre a cultura em suas diversas modalidades; ( ) Este direito envolve diferentes formas, espaços e tempos, com diferentes parceiros e muitas experiências emocionais, corporais e sensoriais; ( ) Este direito ajuda na construção da identidade pessoal, social e cultural, na instituição escolar, na família e na comunidade; ( ) Este direito se utiliza de diferentes linguagens para expressar sentimentos, dúvidas e opiniões. 186 REFERÊNCIAS ARRIBAS, T. Educação infantil: desenvolvimento, currículo e organização esco- lar. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. BARBOSA, M. C. S. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselho Na- cional de Educação. Base nacional comum curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação; Secretaria de Educação Básica; Conselho Nacional de Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_ EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 2 ago. 2023. BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, 2010. BRASIL. Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação infantil: encarte 1. Brasília: MEC, 2006a. BRASIL. Parâmetros básicos de infraestrutura para instituições de educação infantil. Brasília: MEC, 2006b. BRASIL. Parecer CNE/CEB 20/2009. Revisão das Diretrizes Curriculares Na- cionais para a Educação Infantil. 2009. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ index.php? option=com_content&view=article&id=12992:diretrizes-para-a-edu- cacao-basica&catid=323:orgaos-vinculados. Acesso em: 10 maio 2012. BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. [v. 1, 2, 3] Brasília: MEC, 1998. CECCON, C.; O., M. D.; OLIVEIRA, R. D. A vida na escola e a escola da vida. Petrópolis: Vozes; lDAC, 1982. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. HORN, M. G. S. O papel do espaço na formação e na transformação do educa- dor infantil. Revista Criança do Professor de Educação Infantil, Brasília, n. 38, p. 27-30, jan. 2005. KAMII, C. A autonomia como finalidade da educação: implicações da teoriade Piaget. In: KAMII, C. A criança e o número: implicações educacionais da teoria de Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. São Paulo: Papirus, 1997 [1982]. 187 KISHIMOTO, T. M. Brinquedos e brincadeiras na educação infantil. 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&- view=download&alias=6672-brinquedosebrincadeiras&category_slug=setem- bro-2010-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 17 jul. 2012. LAGINSKI, F. A importância da música na educação. 2012. Disponível em: http://www.parana-online.com.br/editoria/almanaque/news/320514/. Acesso em: 12 maio 2012. LIMA, E. S. Quando a criança não aprende a ler e a escrever. São Paulo: Sobra- dinho, 2002. MOYLES, J. R. (Org.). Fundamentos da educação infantil: enfrentando o desa- fio. São Paulo: Artmed, 2010. NASCIMENTO, K. S. Desenvolvimento infantil: a importância de brincar. Re- vista Alô Bebê, São Paulo, n. 3, 2000. Disponível em: https://www.alobebe.com. br/revista/a-importancia-de-brincar.html,351. Acesso em: 30 maio. 2021. OSTETTO, L. Encontros e encantamentos na educação infantil. 4. ed. São Pau- lo: Papirus, 2004. PERES, S.; TATIT, P.; DEARDYK, E. Depois de. Intérpretes: Sandra, Paulo e Edi- th. In: SANDRA; PAULO; EDITH. Canções de ninar. São Paulo: Eldorado, 1994. [1 CD. Faixa]. SMOLE, K. (Org.). Figuras e formas. Coleção Matemática de 0 a 6. Porto Alegre: Artmed, 2003. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 188 189 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender que as múltiplas linguagens fazem parte da vida das crianças na Educação Infantil; • identificar a importância da afetividade e das interações no relacionamento com as crianças. • aprofundar seu conhecimento a respeito dos projetos pedagógicos desenvolvidos na Educação Infantil; • reforçar a necessidade da observação, registro e avaliação formativa na Educação Infantil. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS TÓPICO 2 – A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL TÓPICO 3 – PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL TÓPICO 4 – AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 190 191 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Desde que a criança nasce, ela é apresentada ao mundo. Imediatamente ela comunica-se com ele, seja através do choro, do sorriso, do pedido de colo, da calma aparente diante de uma canção de ninar ou até mesmo na forma de birra infantil. FIGURA 1 – A CRIANÇA E O MUNDO FONTE: . Acesso em: 9 jan. 2020. À medida que vai crescendo, essa comunicação torna-se mais ampla e a criança passa a demonstrar, através da fala, dos olhares, desenhos, imitações ou gestos, o que sabe, o que pensa que sabe (por meio das hipóteses), o que conhece e o que pretende conhecer do mundo que está a sua volta. Ela aprende enquanto se senta para ouvir uma história, imagina cenas através das imagens que vê, deixa-se encantar pelo tom de voz de quem lê, embarca em suas próprias fantasias e sente-se imensamente feliz, a ponto de sorrir enquanto ouve cada nova palavra ou expressão proferida pela professora. Nesta fase, o “tocar, o sentir, o brincar, o experimentar, o vivenciar e o interagir” recebem toda a força que carregam em suas palavras e devem constituir os eixos da ação pedagógica na Educação Infantil. Estas palavras passam a fazer sentido à medida que se encontram nas atividades do dia a dia, como pintar, desenhar, cantar, dançar, brincar e interagir com os colegas. TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 192 Partindo desse pressuposto, traremos para seu conhecimento, caro acadêmico, a abordagem de Reggio Emília na educação da primeira infância e, na sequência, reflexões e conceitos que definam o aprender e o ensinar na Educação Infantil. Boa leitura! 2 A ABORDAGEM DE REGGIO EMÍLIA NA EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA Caro acadêmico! Diferentemente do que você está pensando, Reggio Emília não é o nome de algum teórico ou de uma escola, trata-se de uma cidade de aproximadamente 130.000 habitantes, no nordeste da Itália. Esta cidade tornou-se conhecida e valorizada por ter um dos melhores sistemas de educação do mundo para a primeira infância. O que torna a cidade um fenômeno, em termos de educação, é o fato de que a proposta pedagógica não ocorre em um contexto de elite ou de educação particular e, sim, em um nível municipal de ensino. Nesta abordagem, as crianças pequenas são desafiadas o tempo todo a explorarem o ambiente e manifestarem as suas linguagens verbais e não verbais no uso de palavras, gestos, movimentos, brincadeiras, música, artes cênicas ou visuais. Por meio destas manifestações, desenvolvem a criatividade, a curiosidade, o espírito investigativo e, por consequência, uma série de habilidades e competências. A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de jogar e de falar. Cem sempre, cem modos de escutar as maravilhas de amar. Cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar. Cem mundos para sonhar. A criança tem cem linguagens [...] (MALAGUZZI, 1999, p. 21) Se você gostou deste trecho da poesia de Loris Malaguzzi, sugerimos a leitura do livro “As Cem Linguagens da Criança”, escrito por Carolyn Edwards, Lella Gandinie George Forman. Através desta leitura, você conhecerá quem foi Loris Malaguzzi e se encantará por sua história de vida e paixão pela educação. DICAS TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS 193 FIGURA 2 – CAPA DO LIVRO SUGERIDO FONTE: . Acesso em: 25 maio 2021. O principal professor, inspirador e organizador desta proposta pedagógica desenvolvida em Reggio Emília, foi Loris Malaguzzi. De acordo com Hoyuelos (2004), o trabalho de Malaguzzi apresentava duas constantes: projetar e ter confiança no futuro. FIGURA 3 – LORIS MALAGUZZI FONTE: . Acesso em: 9 jan. 2020. A história de amor de Malaguzzi pela educação começou logo após o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando se iniciava o processo de reconstrução das escolas públicas de Reggio Emília. Malaguzzi desejava uma escola que rompesse com o formato anterior, determinado pelos fascistas. Queria uma escola que lutasse contra o tédio e a acomodação e que, acima de tudo, contribuísse com a formação humana. O lema deste importante educador era “PARA AS CRIANÇAS, É PRECISO OFERECER O MELHOR”. E o que seria este melhor? UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 194 Na opinião de Malaguzzi (apud EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999), esse melhor era ter um espaço onde as crianças fossem acolhidas, ouvidas, desafiadas, estimuladas de todas as formas e nas mais diferentes linguagens, levando-as a se tornarem autônomas em todos os sentidos. Barbosa e Horn (2008, p. 118-121) sintetizaram alguns princípios que regem a pedagogia reggiana, que resumiremos no quadro a seguir: QUADRO 1 – PRINCÍPIOS DA PEDAGOGIA REGGIANA A escola/instituição de Educação Infantil O professor As crianças Não tem muros, é conec- tada com as crianças e a cidade onde está loca- lizada, com as diversas organizações políticas, sociais e culturais e, de modo especial, com as famílias. Tem uma proposta pe- dagógica transparente, que considera o entorno físico e social como um parceiro na construção dos processos de conhe- cimento. Possui uma pedagogia sistêmica, porque nasce de uma relação entre pessoas. Entende que é preciso dialogar, conversar Considera as inúmeras potencialidades das crianças e respeita sua cultura. Acredita que elas são competentes e curiosas e as impulsiona a usarem suas capacida- des para prever, resolver problemas, planejar, encontrar soluções, orga- nizar seu trabalho, esta- belecer relações e com- preender como funciona o mundo, construindo sua história. Em vez de ser falan- te, aprende a escutar as crianças. “Escutar” através da observação, da sensibilidade, da atenção, das diferentes linguagens. São pessoas, não apenas alunos. Malaguzzi afir- mou: “É necessário que estejamos convencidos, nós, os adultos, de que as crianças não possuem apenas direitos, mas que são portadoras de uma cultura própria. Que têm capacidade de elabo- rar cultura, que podem construir sua cultura e contaminar a nossa” (apud HOYUELOS, 2004, p. 56). São ouvidas e valorizadas como pessoas que têm algo a dizer e que preci- sam ser escutadas. Ao passarem de uma linguagem para outra, descobremquecada Pare por um instante e pense sobre isso. Tente formular oralmente pelo menos cinco itens que definam para você, caro acadêmico, “esse melhor” que se pode oferecer às crianças. Em seguida, vá até a página de autoatividades, ao final deste tópico, e escreva todos os itens que lhe vieram à mente neste momento. Este é um importante exercício. Se você, enquanto educador, mentalizá-lo todas as vezes que planejar suas aulas, verá a diferença! ATENCAO TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS 195 sobre tudo e, fundamen- talmente, entre todos. Cuida de sua “memória” através da documenta- ção que é um processo para o registro da leitura e dos valores dos pro- cessos de aprendizagem das crianças, constituin- do-se em um instrumen- to de interpretação e de conhecimento. A docu- mentação é suporte para a pesquisa do professor, para o conhecimento do grupo, para a proposição de conteúdos. Investe na formação per- manente dos professores a partir daquilo que os próprios educadores produzem, acreditando que as competências educativas nascem da interação com a práti- ca educativa e com as crianças e quem está com elas. Entende que todos os seres humanos têm cem linguagens, principal- mente as crianças e por isso oferece a elas muitas experiências com dife- rentes linguagens, assim como diferentes formas de representação, como o desenho e a mode- lagem, para que elas possam tornar visíveis as suas aprendizagens. Cuida da qualidade dos espaços escolares que refletem uma nova forma de pensar a edu- cação. A organização do ambiente é uma lin- guagem silenciosa que sugere conteúdos, ideias, relações e propostas. Os espaços são elaborados para trabalhar em gru- po, conversar, refletir, revisar as experiências e teorias para, assim, poder encontrar ordem e significado. transformação gera algo de novo, complexifica e faz aprender sobre aque- la linguagem expressiva, comunicativa, simbólica, cognitiva, ética, metafó- rica, lógica, imaginative e relacional. São vistas como pesso- as capazes de dialogar, argumentar e refletir. É essencial que elas participem e sintam-se parte, protagonista seres ponsáveis pelos acon- tecimentos presentes e futuros. São estimuladas em ateliês, que represen- tam espaços especiais de questionamentos, de atenção à arte, à estética, à investigação visual e à criatividade. Estes es- paços possuem objetos e instrumentos que podem gerar fazeres e pensa- res, despertando as cem linguagens. Na pedagogia de Reggio Emília, acredita-se que quanto mais sensível for o adulto, quanto mais ele conhecer sobre as diferentes áreas de conhecimentos, mais ele será capaz de oferecer às crianças situações de aprendizagens diferen- tes. Trabalha os conteúdos dentro da pedagogia de projetos, construin- do vínculos e relações com as crianças. Plane- ja rigorosamente que perguntas fazer, quais materiais utilizar, como documentar a experiên- cia, colocando em ação a ideia de co-ensino entre adulto e criança. Recebem de seus pro- fessores “vestígios do mundo”, sobre os quais farão perguntas e os auxiliarão a construir ca- minhos. Desse modo, as crianças criam vínculos entre os conhecimentos, os pontos de intersecção e as aprendizagens. UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 196 O trabalho é desenvol- vido com projetos e na dimensão de Reggio Emília; projetar significa prever e antecipar ideias. Enxerga todos os adultos e crianças como seres criativos, capazes de gerar aprendizagem. Caracteriza o ensino principalmente pela oportunidade da palavra dada às crianças, pelo prestar atenção ao que observam, dialogam e brincam, enfim, por tudo o que pode interessá-las. No trabalho com pro- jetos, elas vivenciam uma rica experiência nos pequenos ou gran- des grupos e percebem que suas ideias voltam, voam alto ou se diluem. O conhecimento chega- -lhes através de conver- sas, de diálogos, discus- sões, negociações ou de organizações de ideias, capazes de gerar novos conhecimentos. FONTE: Adaptado de Barbosa e Horn (2008, p. 118-121) A maneira de tratar a educação e as crianças em Reggio Emília deve ir além de ser apenas exemplo de uma experiência precursora e bem-sucedida de trabalho e, sim, servir como fonte inspiradora de novas posturas, olhares e fazeres pedagógicos. FIGURA 4 – MENINOS FELIZES FONTE: . Acesso em: 9 jan. 2020. Prezado acadêmico! Se você ficou interessado em saber mais sobre projetos pedagógicos na Educação Infantil, falaremos mais sobre este assunto. Aguarde! ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS 197 3 APRENDER E ENSINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL No início desta unidade, mais precisamente na Introdução, pontuamos diferentes maneiras ou recursos dos quais a criança se utiliza para aprender no seu dia a dia. Desde o momento em que vem ao mundo, a criança inicia o processo de aquisição de diferentes aprendizagens. O ambiente lhe possibilitará todos os recursos necessários às primeiras descobertas, cheiros, gostos e sensações. Ninguém precisa, por exemplo, ensinar ao bebê recém-nascido o que ele tem de fazer quando o peito da mãe se aproxima de sua boca. Tudo acontece como em um “passe de mágica”, afetivo, biológico e natural. FIGURA 5 – AMAMENTAÇÃO FONTE: . Acesso em: 9 jan. 2020. Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) (BRASIL, 1998, p. 21), “[...] a criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas, emocionais e cognitivas, podendo aprender nas trocas sociais com diferentes crianças e adultos cujas percepções e compreensões da realidade também são diversas”. Aprender e ensinar são, portanto, palavras que se inter-relacionam e se complementam. Quanto mais aprendo, melhor ensino. Quanto mais ensino, mais aprendo. O aprendizado transcende os espaços de uma escola, de uma sala de aula com horários preestabelecidos de aprendizagem ou rotina. Ele está em todo lugar e em qualquer tempo, fazendo-nos companhia do primeiro ao último dia de nossas vidas. UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 198 O educador, que tem essa concepção de que aprende enquanto ensina, também é capaz de enxergar com outros olhos suas crianças, valorizando-as, compreendendo-as em suas diferenças e dificuldades. Preocupa-se em ofertar para elas um ambiente escolar rico e desafiador, que realmente as “prepare para a vida”, em todos os níveis do comportamento humano: biológico, psicológico e social. No mundo contemporâneo, as informações circulam a uma velocidade surpreendente, e o educador precisa sentir-se desafiado o tempo todo para buscar novos conhecimentos, viabilizando outras formas de repassá-los e apropriando- se de recursos que sejam capazes de atrair as crianças. Ele precisa conhecer as novas mídias (as crianças já as conhecem), sem se esquecer de dar especial atenção à formação integral dos educandos, os valores humanos como: solidariedade, respeito, cidadania, responsabilidade, justiça, entre tantos outros, igualmente relevantes na formação das crianças. FIGURA 6 – AS CRIANÇAS E A TECNOLOGIA FONTE: . Acesso em: 25 maio 2021. Aprender é muito mais do que ouvir, exercitar e reproduzir conteúdos programáticos. Apreender (escrito com dois “ês”) significa tomar o conhecimento para si, apropriar-se dele. É deste tipo de aprendizagem que estamos falando. Da aprendizagem que tem objetivo, contexto e significação para a vida das crianças, desde a mais tenra idade. Que bom que é assim, não é mesmo, caro acadêmico? Enquanto você lê este livro, internaliza uma série de conceitos, realiza reflexões que poderão lhe abrir novos caminhos e, consequentemente, ampliar sua forma de aprender e ensinar. ATENCAO TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS 199 É importante ressaltar, prezado acadêmico, que a criança da Educação Infantil está protegida por documentos importantes que lhe garantem direitos em relação ao seu atendimento e desenvolvimento integral. Entre eles, podemos citar: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI); Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI); Parâmetros Nacionais de Qualidade da Educação Infantil (PNQEI); e Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que traduzem as políticas estabelecidas em leis nacionais, servindo como base para todo o país. O professor da Educação Infantil necessita ter uma postura pedagógica que articule as múltiplas linguagens com o objetivo de atingir suas metas educativas. É fundamental que ele desperte nas crianças o desejo de aprender, de construir e de vivenciar o conhecimento em todas as suas vertentes, através da música, da arte, da dança, da escrita, da fala, do teatro, do raciocínio lógico-matemático, da relação com a natureza, da inventividade, da criatividade, da autonomia, da interação com os colegas e professores e, especialmente, da alegria, no mais amplo sentido da palavra. A grande questão é oferecer às crianças diferentes possibilidades de comunicação, expressão e aprendizagem, com todas as especificidades, criando novos conceitos ou até mesmo recriando ou ressignificando conceitos já existentes. Nas palavras de Zabalza (1998, p. 52): A dimensão estética é diferente da psicomotora, embora estejam relacionadas. O desenvolvimento da linguagem avança por caminhos diferentes dos da sensibilidade musical. A aprendizagem de normas requer processos diferentes dos necessários para a aprendizagem de movimentos psicomotores finos. Sem dúvida, todas essas capacidades estão vinculadas (neurológica, intelectual, emocionalmente), mas pertencem a âmbitos diferentes e requerem, portanto, processos (atividades, materiais, orientações) bem diferenciados de ação didática. Prezado acadêmico! A partir deste momento, vamos reforçar determinados assuntos já apresentados no Tópico 4 da Unidade 2, ou seja, apresentaremos alguns dos eixos norteadores, na forma também de múltiplas linguagens, defendidas por importantes teóricos. A criança aprende muito enquanto brinca e interage com os colegas. Para Piaget (apud FONTANA; CRUZ, 1997, p. 120): A brincadeira infantil é uma assimilação quase pura do real ao eu. É uma atividade utilizada pela criança para assimilar uma infinidade de acontecimentos, de objetos e relações que ela ainda não compreende. [...] é na brincadeira do faz de conta, que ele chama de jogo simbólico, que as crianças revivem e repensam acontecimentos interessantes do seu dia a dia. UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 200 Por meio das brincadeiras, as crianças vivem situações do mundo real e aprendem a elaborar o seu imaginário, a buscar a realização de seus desejos e, portanto, a estruturar o pensamento. Entender as brincadeiras das crianças é fundamental para possibilitar-lhes que representem os papéis que escolheram para brincar: brincar de casinha, sendo mãe, pai e filhos; brincar com panelinhas ou de boneca; jogar futebol; saltar; correr; pular; brincar de herói ou bandido, recriando os heróis que fazem parte do seu cotidiano, de sua sociedade. FIGURA 7 – CRIANÇAS BRINCANDO FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Para Vygotsky et al. (1998, p. 48): A brincadeira é uma necessidade da criança. Ela se desenvolve no contexto das práticas histórico-culturais e surge do interesse de dominar o mundo. Por isso, ela age sobre os objetos como fazem os adultos. Durante o desenvolvimento das brincadeiras, são estabelecidas relações humanas e sociais. [...] é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, exercendo uma enorme influência no seu desenvolvimento, ou seja, a brincadeira tem um papel fundamental no desenvolvimento da criança, porque permite que, ao substituirum objeto por outro, ela opere com o significado das coisas, dando um passo importante em direção ao pensamento conceitual, que se baseia nos significados e não nos objetos. Já para Ferraz e Fuzari (1993, p. 86), “Brincar na infância é o meio pelo qual a criança vai organizando suas experiências, descobrindo e recriando seus sentimentos e pensamentos a respeito do mundo, das coisas e das pessoas com as quais convive”. Assim, estamos possibilitando a descoberta e o conhecimento, de forma prazerosa, do mundo que rodeia as crianças, fazendo com que aprendam a lidar com o respeito mútuo, divisão de tarefas, de brinquedos e a se expressarem, ampliando as suas experiências. Junto ao brincar, outra importante linguagem se manifesta: a linguagem corporal. É através do corpo que a criança estabelece contato com o mundo e com as pessoas que a rodeiam. É com o próprio corpo que ela experimenta as mais diversas emoções e sensações. TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS 201 De acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 21), [...] O diálogo afetivo que se estabelece com o adulto, caracterizado pelo toque corporal, pelas modulações da voz, por expressões cada vez mais cheias de sentido, constitui-se em espaço privilegiado da aprendizagem. A criança imita o parceiro e cria suas próprias reações: balança o corpo, bate palmas, vira ou levanta a cabeça etc. FIGURA 8 – LINGUAGEM CORPORAL FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. As crianças adoram aliar os movimentos (gestos, dança, faz de conta) à música, surgindo então outra importante linguagem: a musical. Através dela, sensações e sentimentos podem ser experimentados, laços afetivos, culturais e sociais podem ser fortalecidos e novos conhecimentos podem ser oportunizados. “Quem canta seus males espanta”, já diz um ditado popular, não é mesmo? Toda criança adora cantar, tocar e dançar, isto faz parte de seu repertório infantil. Diante disso, cabe a nós, adultos, oferecer-lhes situações prazerosas de interação e estimuladas ao máximo, pois, segundo Rosseti-Ferreira (2007, p. 113), As experiências musicais ampliam o repertório de linguagem e sentimentos. com a altura das crianças (algo em torno de 0,60 cm), os sanitários também necessitam ser pequenos. FIGURA 15 – LAVATÓRIO U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉLINO KUHNEN INDAIAL/SC FONTE: A autora É importante que os banheiros sejam adequados ao tamanho das crianças, para permitir que elas façam uso do espaço de forma cada vez mais autônoma. Para as crianças identificarem qual o banheiro correto a ser utilizado (para os meninos e para as meninas), é interessante identificá-los com figuras que lembrem objetos utilizados por eles ou até mesmo imagens de meninos e/ou meninas. 3.5 PÁTIO COBERTO O pátio coberto precisa ser amplo, para que todas as crianças da instituição consigam usá-lo ao mesmo tempo. Também é necessário prever a sua utilização para festas ou reuniões com os pais e para a realização das atividades físicas em dias de chuva. De acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), caso a instituição não possua um espaço coberto, próprio para estes fins, pode-se utilizar o refeitório. TÓPICO 1 — ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 115 3.6 ÁREA EXTERNA Este espaço necessita ser amplo para poder ser usado por todas as crianças da instituição, para as festas da escola ou comunidade, para as atividades físicas e de lazer, entre outros. Por ser uma área descoberta, é mais comum ser utilizada em dias nublados ou com sol. Além disso, os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a, p. 26) sugerem que estes espaços contemplem, sempre que possível: [...] duchas com torneiras acessíveis às crianças, quadros azulejados com torneira para atividades com tinta lavável, brinquedos de parque, pisos variados, por exemplo, grama, terra e cimento. Havendo possibilidades, deve contemplar anfiteatro, casa em miniatura, bancos, brinquedos como escorregador, trepa-trepa, balanços, túneis etc. Deve ser ensolarada e sombreada, prevendo a implantação de área verde, que pode contar com local para pomar, horta e jardim. Caso a instituição tenha playground, é preciso ficar atento se está em boas condições de uso e observar como as crianças farão uso dos brinquedos. Por serem bastante ativas, pode acontecer de tentarem pular de onde “não devem” ao invés de escorregar ou descer pela escada, subir por caminhos inadequados e fáceis de causar uma queda, pelo simples fato de se sentirem desafiadas pelas novidades. No mais, o playground é um espaço de interação, com diversos “[...] desafios motores, como morros, estruturas para escalar, pular, descer, girar, balançar” (KISHIMOTO, 2010, p. 9). FIGURA 16 – PLAYGROUND U.E.I. BAIRRO JOÃO PAULO II – JOSÉLINO KUHNEN, INDAIAL/SC FONTE: A autora Nestes espaços é comum encontrar canchas de areia para as crianças brincarem. No entanto, é importante que a areia seja cercada e coberta, evitando assim que animais contaminem a areia, causando doenças nas crianças que utilizam o espaço. Também é importante disponibilizar brinquedos ou objetos que possam ser transformados, transportados e manipulados facilmente pelas crianças. ATENCAO UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS 116 Caro acadêmico! Chegamos ao final de mais um tópico. Gostou das dicas que disponibilizamos no decorrer do texto? No próximo tópico, traremos diversas informações sobre a organização do tempo e da rotina pelo professor da Educação Infantil. Não perca, continue conosco! Agradecimentos especiais à Secretaria Municipal de Educação de Indaial (SC) e à Unidade de Educação Infantil, do Bairro João Paulo II – José Lino Kuhnen – pela disponibilização dos espaços nas fotografias que ilustraram este tópico. DICAS 117 Neste tópico, você aprendeu que: • Os espaços para crianças de zero a um ano de idade devem ser organizados privilegiando o cuidar e o educar, a fim de desenvolver as crianças de forma plena. Deve conter: sala de repouso, sala para atividades, fraldário, lactário e solário. • O espaço físico para crianças de um a seis anos de idade deve possibilitar e contribuir para a vivência e a expressão das culturas infantis, por meio de jogos, brincadeiras, músicas e histórias. Os espaços mais utilizados pelas crianças desta faixa etária são: sala de atividades, sala multiuso, refeitório, banheiro, pátio coberto e área externa. • As salas de atividades são espaços lúdicos, organizados em cantinhos. Entre eles, podemos citar: cantinho da fantasia, da leitura, dos brinquedos, dos jogos, das artes, das atividades domésticas, do salão de beleza, do mercado. • A forma como são organizadas as salas nas instituições de Educação Infantil depende do planejamento do professor, dos objetivos que ele pretende alcançar, do que quer desenvolver/estimular nas crianças, sendo parte integrante da prática pedagógica. • Por ser um parceiro da prática educativa, a organização dos ambientes não deve ser engessada e sim modificada periodicamente. RESUMO DO TÓPICO 1 118 1 Você se lembra de que, lá no início do tópico, pedimos para socializar as dicas de organização dos espaços que você conhece e que não foram indicadas no livro didático? Mãos à obra! Complete o quadro a seguir, informando a faixa etária, o espaço onde esta dica pode ser utilizada (sala de atividades, refeitório, banheiros etc.) e a dica em si. Socialize suas ideias com os colegas no momento da correção das autoatividades. Bom trabalho! AUTOATIVIDADE Faixa etária Espaços Dica 2 De acordo com o Livro didático, quais são os espaços que não podem faltar numa instituição que atende crianças de 0 a 1 ano de idade? 3 No caso do atendimento de crianças de 1 a 6 anos de idade, quais são os espaços essenciais? 4 Os espaços de atendimento para crianças de 0 a 1 ano de idade são organizados pensando em privilegiar dois elementos específicos. Sobre quais são esses elementos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O cuidar e alimentar. b) ( ) O educar e desenvolver. c) ( ) O cuidar e educar. d) ( ) O desenvolver e alimentar. 5 Os espaços de atendimento para crianças de 1 a 6 anos de idade, são organizados pensando em privilegiar dois elementos específicos. Sobre quais são esses elementos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As vivências e expressões da cultura infantil. b) ( ) As atividades físicas. c) ( ) As tarefas escoalres. d) ( ) As atividades disciplinares. 119 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A palavra rotina normalmente nos remete a algo sempre igual, realizado da mesma maneira, todos os dias, com horários preestabelecidos, de maneira chata, sem graça e cansativa, não é mesmo? Pois é importante deixar claro que esta definição para rotina acontece em 90% dos casos, na concepção dos adultos. Rotina para as crianças é algo muito mais interessante e significa, basicamente, tudo o que eles terão para fazer durante o período em que estiverem na escola. Isso exige, por parte dos educadores, planejar criativamente atividades novas e diferentes, respeitando os mesmos espaços e tempos disponíveis na unidade escolar. O melhor de tudo isso é saber que cada instituição tem liberdade para decidir como serão as suas rotinas, contando com o apoio e participação de seus gestores e equipe pedagógica. Em alguns casos, até os pais e crianças podem opinar. Ficou curioso? Quer saber mais? Continue conosco, então! 2 A ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DA ROTINA As rotinas são extremamente importantes na educação infantil, pois elas auxiliam na organização do trabalho pedagógico dos educadores e, também, diminuem o nível de ansiedade das crianças, quando estas compreendem a sequência das atividades a serem desenvolvidas. Depois de acordar, mamar. Depois de mamar, sorrir. Nesse sentido, a linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 202 Para finalizar, não poderíamos deixar de mencionar a linguagem que pode ser considerada uma das mais significativas, quando o assunto é Educação Infantil: a linguagem afetiva. É através das emoções que a criança manifesta seus desejos ou angústias. Conforme afirmam Mahoney e Almeida (2004, p. 18): O afetivo é, portanto, indispensável para energizar e dar direção ao ato motor e ao cognitivo. Assim como o ato motor é indispensável para a expressão do afetivo, o cognitivo é indispensável na avaliação que estimulará emoções e sentimentos. FIGURA 9 – AFETIVIDADE FONTE: . Acesso em: 25 maio 2021. Prezado acadêmico! Falaremos mais sobre afetividade no próximo tópico, aguarde! E por falar em “quem canta seus males espanta”, sugerimos o livro de mesmo nome, de Theodora Maria Mendes de Almeida, Editora Caramelo, que vem acompanhado de CD para que a festa seja completa. Todos nós sabemos que cantar é uma das brincadeiras mais divertidas da criança. Neste livro, foram resgatadas 73 cantigas de roda, entre elas: O sapo não lava o pé; Cai, cai, balão; Ciranda cirandinha... Enfim, canções típicas do Brasil. Além disso, é ricamente ilustrado por trabalhos, recortes e ilustrações feitas por crianças. Vale a pena conhecer. FONTE: . Acesso em: 7 jun. 2021. DICAS TÓPICO 1 — A CRIANÇA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS 203 Esperamos que você tenha compreendido a relação entre ensinar e aprender na Educação Infantil. Que tenha percebido, também, o quanto as múltiplas linguagens são essenciais para o desenvolvimento infantil, pois são elas que abrem as portas do mundo às crianças, desdobrando-se na construção de novos conhecimentos, à medida que interagem com seus semelhantes. Veja, a seguir, uma mensagem de Içami Tiba. Não existe alguém que nunca teve um professor na vida, Assim como não há ninguém que nunca tenha tido um aluno. Se existem analfabetos, provavelmente não é por vontade dos professores. Se existem letrados, é porque um dia tiveram seus professores. Se existe Prêmio Nobel, é porque seus alunos superaram seus professores. Se existem grandes sábios, é porque transcenderam suas funções de professores. Quanto mais se aprende, mais se quer ensinar. Quanto mais se ensina, mais se quer aprender. Içami Tiba INTERESSANTE 204 Neste tópico, você aprendeu que: • Reggio Emília é uma cidade de aproximadamente 130.000 habitantes, do nordeste da Itália. • A cidade se tornou conhecida e valorizada por ter um dos melhores sistemas de educação do mundo para a primeira infância. • A proposta pedagógica em Reggio Emília ocorre no sistema municipal de ensino. • Loris Malaguzzi é o nome do professor, inspirador e organizador da proposta pedagógica desenvolvida em Reggio Emília. • “PARA AS CRIANÇAS É PRECISO OFERECER O MELHOR”, esse era o lema de Loris Malaguzzi. • Sua proposta priorizava que as crianças fossem acolhidas, ouvidas, desafiadas, estimuladas de todas as formas e nas mais diferentes linguagens, levando-as a se tornarem autônomas em todos os sentidos. • Aprender e ensinar são palavras que se inter-relacionam e se complementam: quanto mais aprendo, melhor ensino e quanto mais ensino, mais aprendo. • O aprendizado transcende os espaços e horários preestabelecidos de estudo. • O educador, que tem acredita que aprende enquanto ensina, oferece às crianças um ambiente escolar rico e desafiador, que as “prepare para a vida”. • Apreender significa tomar o conhecimento para si, apropriar-se dele. • A aprendizagem deve ter objetivo, contexto e significação para a vida de nossas crianças, necessitando da participação efetiva delas. • A criança da Educação Infantil está protegida por documentos importantes que lhe garantem direitos em relação ao seu atendimento e desenvolvimento integral. Entre eles, podemos citar os RCNEI, DCNEI,PNQEI e BNCC. • O professor da Educação Infantil deve articular as múltiplas linguagens das crianças com sua metas educativas. • O professor da educação infantil precisa despertar nas crianças o desejo de aprender, de construir e de vivenciar o conhecimento em todas as suas linguagens e possibilidades. RESUMO DO TÓPICO 1 205 • A criança aprende muito enquanto brinca e interage com os colegas. • Através do corpo, a criança estabelece contato com o mundo e com as pessoas que a rodeiam. É com o próprio corpo que ela experimenta as mais diversas emoções e sensações. • Na linguagem, a musical diferentes sensações e sentimentos podem ser experimentados, laços afetivos e sociais podem ser fortalecidos e novos conhecimentos podem ser oportunizados. • A linguagem afetiva pode ser considerada uma das mais significativas às crianças, pois é através das emoções que elas manifestam seus desejos ou angústias. 206 1 De acordo com Malaguzzi, “Para as crianças é preciso oferecer o melhor”. De acordo com o livro didático, como esse “melhor” poderia ser definido? Que tipo de escola ele desejava? 2 Quando Loris Malaguzzi afirma que as crianças têm “cem linguagens”, o que ele quer dizer com isso? 3 De acordo com Hoyuelos (2004), o trabalho de Malaguzzi apresentava duas constantes. Assinale a alternativa que as apresenta corretamente: a) ( ) Delegar e confiar nos professores. b) ( ) Projetar e ter confiança no futuro. c) ( ) Planejar e confiar na escola. d) ( ) Ensinar e fazer o melhor. 4 Aprender é muito mais do que ouvir, exercitar e reproduzir conteúdos programáticos. Apreender (escrito com dois “ês”), de acordo com o livro didático significa: a) ( ) Tomar o conhecimento para si, apropriar-se dele. b) ( ) Realizar uma atividade de aprendizagem superficial. c) ( ) Esperar a hora certa e o lugar ideal para aprender algo. d) ( ) Aprender por aprender e, quando crescer, aprofundar-se. 5 Existem importantes documentos que norteiam a educação infantil de nosso país. Dentre eles podemos citar: RCNEI, DCNEI, PNQEI e BNCC que traduzem as políticas estabelecidas em leis nacionais, servindo como base para todo o Brasil. O que signifia a sigla DCNEI? a) ( ) Documento Comum Nacional da Educação Infantil. b) ( ) Diretriz Comum Nacional da Educação Infantil. c) ( ) Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. d) ( ) Diretrizes Curriculares Normatizadas para a Educação Infantil. AUTOATIVIDADE 207 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! Tudo o que você estudou até aqui refere-se a duas palavras fundamentais que compõem o universo da Educação Infantil: afetividade e interação. Quando não há um ambiente acolhedor, afetivo e interativo, entre educadores e educandos, dificilmente haverá aprendizagens significativas. Quando não há vínculos positivos entre as pessoas que compartilham dos mesmos espaços e interesses podem surgir barreiras emocionais que impeçam o “prazer de conviver, ensinar e aprender em grupo”. Vida de grupo dá muito trabalho e muito prazer. Porque eu não construo nada sozinho; tropeço a cada instante com os limites do outro e os meus próprios, na construção da vida, do conhecimento, da nossa história. (FREIRE, 1993, p. 26). FIGURA 10 – TRABALHO EM GRUPO FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Aprendizagem, afetividade e interação caminham juntas. Justamente por isso, prezado acadêmico, abordaremos este conteúdo no presente tópico, enfocando as relações de afetividade nas interações do dia a dia da Educação Infantil e a parceria positiva entre os pais e educadores na educação das crianças. Bons estudos e novas aprendizagens! TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 208 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 2 RELAÇÕES DE AFETIVIDADE NAS INTERAÇÕES DO DIA A DIA Quando uma criança vai à unidade de educação infantil ou à escola pela primeira vez, normalmente chora. Não chora porque é manhosa ou medrosa, mas por não perceber no novo espaço vínculos afetivos. Ela não conhece ninguém, e, por mais simpáticos que sejam os professores ou funcionários, eles dificilmente conseguem conquistar sua confiança nos primeiros dias. A criança rompe naquele momento o “segundo cordão umbilical” que a liga à família, aos parentes mais próximos, à babá, a sua casa, aos seus brinquedos. É como se estivesse nascendo novamente num mundo completamente diferente daquele até então habitado por ela. Aos poucos, esse “novo espaço”, tão assustador, vai parecendo-lhe mais amistoso, acolhedor e menos estranho. A criança, mesmo que de maneira tímida, passa a trocar olhares com outros colegas, começa lentamente a deixar-se encantar pela professora, confia nela e sente-se segura ao seu lado. Percebe, também, que está rodeada de amigos e que nada de ruim vai lhe acontecer, então deixa de chorar ou exigir a presença dos pais. Isso pode durar um dia, uma semana ou até mesmo um mês. Cada criança tem seu tempo para adaptar-se, cabe à instituição e aos pais respeitarem esse tempo. FIGURA 11 – AMIZADE E INTERAÇÃO FONTE: . Acesso em: 11 jan. 2020. Conforme Gandini e Edwards (2002, p. 136): O processo de inserimento requer um ambiente cuidadosamente planejado e preparado, que transmita mensagens imediatas de acolhimento e respeito às crianças e famílias. [...] O principal indicador de acolhimento que os pais podem receber é o fato de serem convidados a passar o maior tempo possível na creche. TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 209 Quando a instituição de Educação Infantil finalmente passa a fazer parte do “mundo infantil” da criança e estabelece vínculos afetivos com ela, conquista todo o seu amor e carinho, a sua afeição e respeito e, por que não dizer, a sua paixão e curiosidade, que lhe são tão peculiares. As crianças, em geral, sentem necessidade do toque, do olhar carinhoso, do ouvido atento e do sorriso acolhedor do professor, pois, devido às tecnologias e à correria da atualidade, as relações estão cada vez mais distantes, as famílias cada vez menores, os pais cada vez mais envolvidos com seus compromissos profissionais e, muitas vezes, ausentes no lar, o que leva muitas famílias a comporem um cenário contraditório, em que as crianças têm tudo em termos materiais, mas são carentes de afeto. “As crianças têm necessidade do pão: do pão do corpo e do pão do espírito. Mas necessitam ainda mais do teu olhar, da tua voz, do teu pensamento e da tua promessa” (FREINET apud ELIAS, 1997, p. 91). FIGURA 12 – PROFESSORES AFETIVOS FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Entre os diversos autores que trabalharam sobre o tema “AFETIVIDADE E EMOÇÃO”, combinando aspectos da psicologia com a educação, destaca-se Henri Wallon, educador e médico francês, que viveu de 1879 a 1962. Para Wallon, a emoção estaria relacionada ao componente biológico do comportamento humano, referindo-se a uma reação de ordem física. Wallon foi o primeiro a levar, não só o corpo da criança, mas também suas emoções para dentro da sala de aula. Para aprofundar seus estudos sobre ele, sugerimos: • GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 1995. • DANTAS, H. A infância da razão: uma introdução à psicologia da inteligência de Henri Wallon. Manole, 1990. • WALLON, H. As origens do caráter na criança. São Paulo: Nova Alexandria, 1986. • WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo: Manole, 1989. • TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K. de; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky e Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial, 1992. FONTE: . Acesso em: 7 jun. 2021. DICAS 210 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Os profissionais precisam estar afetiva e profissionalmente preparados para receber estas crianças, em um espaço acolhedor e diversificado, para que possam ser atendidas também em suas necessidades básicas. No dia a dia da Educação Infantil é possível perceber e transformar esta necessidade afetiva em momentos de interação positiva, através de trabalhos em grupo, conversas coletivas, atividades cooperativas, cantos, teatros, brincadeiras ou “roda” da conversa, da história e de muitas outras coisas, pois, conforme Ostetto, (2006, p. 158), “A roda, feito espiral em movimento circular ascendente, une todos, e o seu movimento a cada volta modifica o desenho do cotidiano, da prática pedagógica, integrando papéis e histórias, incorporando as diferenças”. FIGURA 13 – RODA DE CONVERSA FONTE: .Acesso em: 09 jun. 2021. Veja alguns motivos para utilizar a roda como recurso pedagógico na figura a seguir. FIGURA 14 – A RODA FONTE: As autoras TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 211 A roda fortalece os vínculos afetivos do grupo, pois eles passam a sentir-se parte da vida do outro a partir do momento em que estabelecem relações, quer seja como ouvintes ou como protagonistas da vida real. Para Warschauer (1993, p.50), [...] a roda é o momento privilegiado da rotina em que a troca entre os participantes do grupo ocorre. Sentar-se de forma que todos se vejam, em círculo, já é um convite a querer falar e ouvir. O respeito pela individualidade é a base de construção do grupo. De acordo com Freire (1993, p. 162): [...] é no encontro do grupo que nos defrontamos com as diferenças. É no grupo que aprendemos esse difícil processo de conviver com as divergências, os conflitos, as diferenças. Isso tudo envolve e significa processo de construção de conhecimento, significa processo de apropriação do saber de cada um para deflagrar o que ainda não se conhece. FIGURA 15 – RODA DE AMIGOS FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. O interessante desta posição circular é a questão de que não há início e nem fim, nem o primeiro ou o último, ou ainda diferença nos posicionamentos, todos se encontram numa mesma linha, juntos e em equilíbrio. Todos estão incluídos e têm as mesmas chances de participação, o que facilita a união, distanciando-se da competição e da disputa de poder. De acordo com Ostetto (2006, p.158): [...] mais do que fazer a roda e chamar para o encontro, por si só já é uma ação carregada de simbolismo, entra em jogo o exercício de uma atitude e um pensamento circular. Pensar circularmente significaria não pensar em linha reta, na afirmação da verdade, da única voz, do conhecimento único. Significaria abrir-se ao diálogo, ao acolhimento da dúvida e da diversidade, à construção de múltiplos enredos afirmados no encontro das singularidades de crianças e adultos, de alunos e professores. Não uma técnica, procedimento metodológico, mas um modo de agir, de ser, de acolher. Além de tudo, a roda nos aproxima das crianças e nos torna, de certa forma, “cúmplices”, parceiros e amigos, ampliando de maneira natural nossos vínculos afetivos. 212 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL FIGURA 16 – RODA DA CONVERSA FONTE: . Acesso em: 12 jan. 2020. Provavelmente, estimado acadêmico, o que fez com que você lembrasse o profissional escolhido foram suas qualidades relativas à afetividade entre ambos, ou seja, como este professor era com você, modo de tratar, se era querido, carinhoso, atencioso etc. Dificilmente você o escolheu por questões cognitivas, por algo que ele tenha lhe ensinado, falando de conteúdos propriamente ditos. Bons professores merecem ser lembrados também pelos ensinamentos que nos trazem, é lógico, mas só o serão se aliarem afetividade a sua prática. Para Snyders (apud ELIAS, 1997, p. 92), O aluno aprende realmente bem o que o cativa, numa atmosfera de aula que lhe pareça segura, com um professor que saiba criar afinidades. Eis por que a escola, ao mesmo tempo, tem que conciliar o intelectual e o afetivo e constitui um lugar privilegiado para operar essa conciliação. A alegria na escola só é possível na medida em que o intelectual e o afetivo conseguem não se opor. Por falar em cumplicidade, parceria e amizade, prezado acadêmico, relembre momentos de sua vida escolar. Em seguida, pense num professor ou professora que tenha marcado positivamente sua fase estudantil, desde a Educação Infantil até os dias atuais. De quem você se lembrou? Relembre também, as qualidades desse profissional e reflita sobre o que fez com que ele ou ela merecesse ser lembrado(a) por você. UNI TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 213 FIGURA 17 – CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Nesse sentido, tanto conhecimento quanto aprendizagem podem ser entendidos como um conjunto de momentos amorosos, criativos, alegres e prazerosos e que são essencialmente fundamentais para o desenvolvimento biopsicossocial das crianças. De acordo com Freire (1996, p. 66), O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que ele se ponha em seu lugar ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento do seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência. Saber que devo respeito à autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática em tudo coerente com este saber. Freire (1996, p. 75) nos faz refletir: “[...] como ser educador, se não desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educandos, com quem me comprometo e ao próprio processo formador de que sou parte?” Então “mãos à obra”, acadêmico! Há muito que fazer a partir das reflexões realizadas até aqui: há que se possibilitar mais momentos de interação e motivação, de toque, de carinho, de afetividade, de afago, de atenção, de cuidados e delicadeza no falar, no olhar, no ouvir, no pensar, no planejar e no agir, quando se trata de educação de crianças, especialmente as da Educação Infantil. 3 PAIS E EDUCADORES: UMA IMPORTANTE PARCERIA NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS Prezado acadêmico! “Feliz é o educador que tem os pais ao seu lado”, formando uma tríade perfeita entre ESCOLA/FAMÍLIA/CRIANÇA. Você concorda com isso? 214 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL FIGURA 18 – PARCERIA ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA FONTE: . Acesso em: 13 jan. 2020. No entanto, ter o apoio e o carinho dos pais, nem sempre é uma tarefa fácil. Pensando nisso, lhe traremos algumas dicas que facilitarão a realização desta tríade: QUADRO 2 – DICAS PARA UMA PARCERIA ENTRE A ESCOLA, A FAMÍLIA E A CRIANÇA • Abra os portões e deixe os pais entrarem na instituição, eles também precisam sentir-se parte integrante dela. • Receba a criança e a acolha diante dos pais com simpatia e amor, nenhum pai aprecia sentir o professor indiferente à presença de seu filho. • Seja cordial e receptivo às dúvidas dos pais, por mais impertinentes ou simplórias que possam parecer. • Coloque-se à disposição para ouvi-los, desde que isso não ultrapasse o momento de estar com as crianças. • Agende horários para conversas, fora do horário de aula, com os pais necessitados de atenção. • Mantenha-se transparente em todas as suas ações. Pais seguros interferem menos e acabam nos auxiliando em nosso trabalho. • Comunique-se de todas as formas possíveis. Comunicação é fundamental. • Convide os pais para prestigiarem momentos especiais e agradáveis da instituição, não só para conversas difíceis ou entrega de avaliações. • Auxilie os pais a conhecerem e valorizarem a função educativa da instituição. Estabeleça vínculos de confiança e respeito mútuo com a criança e seus pais. • Seja sincero, não omita as verdades, diga o que pensa e o que precisa ser dito, mas saiba fazê- lo com delicadeza. • Procure a ajuda de profissionais especializados quando perceber algo diferente na criança (alguma síndrome ou dificuldade de aprendizagem) – não dê diagnósticos, encaminhe. • Estabeleça contato também via e-mail ou telefone com os pais em caso de necessidade e mostre-se preocupado em atendê-los. TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 215 • Convide-os a participar de momentos ou decisões importantes da instituição. Apresente registros, fotos, jornais ou materiais que esteja desenvolvendo com a turma. • Desta maneira, você estará possibilitando aos pais acompanharem todo o processo ensino-aprendizagem do filho. Os pais que acompanham o trabalho do professor de perto o valorizam mais. • Realize reuniões de caráter pedagógico ou formativo. • Lembre-se de que não existem duas famílias iguais e, sendo assim, respeite as peculiaridades de cada uma. • Procure estabelecer com os pais um “mesmo direcionamento” diante de alguma necessidade da criança. Procurem falar a mesma língua e não sejam contraditórios diante dela. • Mantenha-se aberto às críticas e paciente às grosserias, elas vão ocorrer inevitavelmente. Acalme os pais de maneira amistosa, fale baixo e com diplomacia, defenda-se, se for o caso. • Parta do pressuposto de que cada pai conhece o filho que tem e vá com calma na hora de falar dele. Comece sempre elogiando a criança e aos poucos relate sobre a situação que preocupa você. • Mostre aos pais que você é justo, que trata a todas as crianças com igualdade e respeito, que não há preferidos ou privilegiados em sua turma. • Demonstre segurança em seus gestos, atitudes ou palavras. Os pais precisam sentir que deixaram o filho em boas mãos. • Leia muito sobre as crianças – é preciso conhecê-las para amá-las e compreendê-las verdadeiramente. Conheça suas histórias de vida. • Brinque com suas crianças, mostre-se feliz na presença delas. O professor ou professora, que brinca com as crianças, é facilmente lembrado por elas, mesmo quando não estão na escola. • Enfim, compartilhe seus momentos mais especiais na instituição com os pais das crianças, e descobrirão que, embora em espaços diferentes, ambos lutam pelo mesmo objetivo: o crescimento pessoal e integral da criança, numa atmosfera alegre e prazerosa. FONTE: As autoras Quando o assunto é “família e escola”, toda a nossa atenção é necessária, pois esta parceria é fundamental na educação das crianças. Se você, prezado acadêmico, sentiu-se motivado a saber mais sobre o assunto, aceite nossa sugestão de leitura: • BASSEDAS, E.; HUGET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na educação infantil. Trad. Cristina Maria de Oliveira. Porto Alegre: Artmed, 1999. O livro possui um capítulo inteirinho dedicado a este assunto e traz importantes reflexões. FONTE: . Acesso em: 25 maio 2021. DICAS 216 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Estabelecer parceria com as famílias pressupõe aceitá-las em suas individualidades e características próprias, não se esqueça disso! Hoje sabemos que famílias são compostas de diferentes maneiras. Não há mais apenas um padrão de família nuclear, em que o pai é o chefe e provedor e a mãe cuida dos filhos. As famílias apresentam formações diversas: com pais separados, netos criados por avós, mães que cuidam sozinhas dos filhos, pais abandonados por esposas que assumem os filhos etc. FIGURA 19 – PAPAI E BEBÊ FONTE: . Acesso em: 13 jan. 2020. O professor necessita de informação e preparação para lidar com todos os tipos de famílias, despindo-se completamente de qualquer preconceito ou pudor. De acordo com Oliveira (2008, p.176-177): A cultura da violência (física ou simbólica) presente em muitas famílias (agressões, espancamentos, ameaças, castigos, humilhações), os abusos sexuais existentes em muitas delas, a diminuição da disponibilidade de tempo que os pais têm para ficar com os filhos, o conhecimento de casos de abandono da criança (desde não lhe trocar a fralda por muitas horas até trancá-la no quarto ou deixá-la por longo tempo vendo TV) arranham a imagem da família como ambiente protetor da prole. Não obstante isso, a família não pode ser destituída de seu papel de importante agência educativa dos filhos em proveito da creche ou pré-escola. Os pais não podem se eximir do compromisso na educação dos filhos, eles necessitam ser chamados à responsabilidade, precisam resgatar o sentimento de coparticipação na educação dos mesmos diante da escola e não simplesmente delegar a ela toda a responsabilidade, o êxito ou a culpa pela educação dos filhos. Por outro lado, os professores também devem abrir espaço às famílias. TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 217 FIGURA 20 – A FAMÍLIA NA ESCOLA FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Conforme Oliveira (2008, p. 177): As equipes de creches e pré-escolas, apesar de reconhecerem a importância do trabalho com a família, costumam considerá-la despreparada e menos competente que o professor, particularmente em se tratando de famílias de baixa renda ou famílias formadas por pais adolescentes. Os professores declaram-se insatisfeitos por aquilo que entendem ser ausências e descompromissos dos pais com os filhos. E se aborrecem quando os pais contestam o trabalho da instituição e buscam controlar o que é proposto a seus filhos. Quando os pais percebem que são acolhidos, juntamente com a criança quando chegam à instituição, passam a ver o professor não como alguém que compete com eles, mas sim como alguém que tem muito a acrescentar, aprender e ensinar ao filho, tanto no âmbito educacional quanto psicológico, social e afetivo. 4 OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO De acordo com Antunes (2008, p. 45-46): [...] educar não significa apenas transmitir o legado cultural às novas gerações, mas também ajudar o aluno a aprender o aprender, despertar vocações, proporcionar condições para que cada um alcance o máximo de sua potencialidade e, finalmente, permitir que cada um conheça suas finalidades e tenha competências para mobilizar meios para concretizá-las, chega-se ao sentido estrutural da questão: o que significa educar. Em síntese: aprender a conhecer, fazer, viver junto e aprender a ser. Essa ideia que se faz da educação recebeu forte subsídio com um novo papel da educação que se discutiu em Jomtien, em 1990, em uma Conferência Internacional sobre Educação promovida pela UNESCO, quando produziu o documento ‘A Declaração Mundial sobre a Educação para Todos’. 218 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Nesse documento se ressaltava que o principal compromisso da educação baseava-se em quatro aprendizagens essenciais: FIGURA 21 – QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO FONTE: Antunes (2008, p. 45-46) Para seu melhor entendimento, caro acadêmico, conceituaremos cada um dos pilares, de acordo com Antunes (2008, p. 45-46) dentro do quadro a seguir: QUADRO 3 – QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO – CONCEITO Aprender a conhecer Aprender a fazer Aprender a viver junto Aprender a ser Quem aprende a conhecer, em última análise, aprende a aprender e, dessa forma, a dominar competências para assumir o legado cultural conquistado como instrumento de reflexão e de ação e não apenas como domínio de informações pré- organizadas. Reitera a certeza de que é a escola/ instituição de Educação Infantil um espaço para estímulo e aprendizagem de competência para o trabalho, não como sinônimo de profissão, mas como domínio de habilidades essenciais à geração de bens e de riquezas, e, sobretudo, de realização pessoal e construção social. Retira da escola/ instituição de Educação Infantil a imagem de um espaço competitivo, onde se destacam e são aplaudidos os melhores, transformando-a em ambiente no qual se ensina solidariedade, em que o aluno aprende a se conhecer e a conhecer e respeitar integralmente o outro. Envolve uma ideia ampla de autoconhecimento, na qual se descobre que a educação necessita preparar integralmente, portanto, espírito e corpo, inteligência e sensibilidade, sentido estético e responsabilidade pessoal, ética e espiritualidade. FONTE: Adaptado de Antunes (2008, p. 45-46) TÓPICO 2 — A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE E DAS INTERAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL 219 Neste momento, você deve se perguntar como aplicar cada um destes pilares essenciais na Educação Infantil, ou seja, que atividades práticas podem ser desenvolvidas objetivando sua aquisição. Contudo, isso é perfeitamente possível, e, para ajudá-lo ainda mais, caro acadêmico, traremos a sugestão de algumas atividades ou dinâmicas: QUADRO 4 – SUGESTÕES DE ATIVIDADES EM RELAÇÃO A CADA PILAR DA EDUCAÇÃO Aprender a conhecer Aprender a fazer Aprender a viver junto Aprender a ser • Desenvolva atividades que estimulem a pesquisa, através do manuseio de livros ou revistas. • Verifique o conhecimento prévio que as crianças têm do assunto e as questione, colocando-as em dúvida e, desta forma, despertará nelas o espírito de investigação. • Realize e registre o levantamento de hipóteses que elas farão. • Estimule a curiosidade pela busca de respostas. • Deixe as crianças falarem e as ouça com atenção através de incontáveis “rodas de conversa” sobre determinados assuntos. • Leve-as ao computador para que conheçam outras fontes depesquisa. • Evite respostas prontas, provoque-as a • Deixe as crianças colocarem a “mão na massa” para que aprendam fazendo e não apenas ouvindo como é que se faz. • Auxilie-as nos primeiros momentos, elas precisam sentir-se à vontade durante a atividade prática. • Realize experiências científicas, elas simplesmente adoram. • Faça conexões entre a teoria e a prática, qualquer conteúdo torna- se melhor compreendido quando passa por estes dois eixos. • Demonstre como fazer e deixe com que tentem sozinhos, independentemente do resultado final, a experiência de“fazer sozinho” terá valido a pena para a criança. • Valorize a iniciativa e a criatividade da criança. Perceba cada pequeno gesto ou progresso everbalize seu contentamento. • Reúna as crianças várias vezes ao dia para que façam atividades coletivas como: brincar, cantar, ouvir histórias, conversar. • Pratique o recurso da “roda” para cada um destes momentos. • Estimule atividades que envolvam trabalho em grupo. • Desenvolva jogos que necessitam da cooperação do grupo e não da competição propriamente dita. • Incentive suas crianças a prestigiarem e aplaudirem seus colegas após uma apresentação. • Ensine-as a serem solidárias, a amarem e respeitarem o próximo, do jeito que ele é, por mais “diferente” que seja. • Realize, em parceria com as famílias, projetos sociais como as campanhas do agasalho, do brinquedo ou do alimento. • Fortaleça nas crianças a importância do “SER” e não apenas do “TER”. • Trabalhe, intensa e diariamente, valores humanos com elas: paz, amor, verdade, justiça, tolerância, respeito, paciência, responsabilidade, solidariedade, empatia, doação, voluntariado, convivência, entre outros valores que nos fazem “SER” pessoas melhores. • Faça reflexões dialogadas a respeito de preconceito, discriminação e desigualdades sociais com as crianças, você se surpreenderá com o bom senso delas. • Desenvolva atividades que promovam a autorreflexão e o autoconhecimento da criança ou grupo de trabalho. • Prepare as crianças para que possam se desenvolver integralmente através de atividades que exijam corpo, 220 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL responder às próprias perguntas • Não tenha receio de que as crianças se sujem com tinta ou barro, isso faz parte e não terá a menor importância diante do momento e das aprendizagens vividas. • Preste atenção para que não ingiram substâncias perigosas ou se machuquem durante as atividades, fora isso, tudo “vira festa”, pois o que importa são as vivências e as sensações possibilitadas. Depois, faça um passeio levando as crianças a entregarem estes donativos às famílias carentes da comunidade, confrontando- as com outras realidades e levando-as a perceber o quanto o “outro também precisa de nós, ao mesmo tempo em que nós precisamos dele”. • Pratique falas coerentes e dê exemplos positivos. mente e sensibilidade. FONTE: As autoras Caro acadêmico! Desta forma ficou mais fácil perceber a aplicabilidade dos “quatro pilares da educação” ao dia a dia da Educação Infantil. Lembre-se de que estas foram apenas algumas sugestões, você pode utilizar muitas outras maneiras, fique à vontade para planejar e criar. Use sua criatividade e força de vontade! Querendo saber mais, leia o relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre educação para o século XXI, coordenada por Jacques Delors. O relatório está publicado em forma de livro no Brasil, com o título “Educação: um tesouro a descobrir” (UNESCO, MEC, Cortez Editora, São Paulo, 1999). Neste livro, a discussão dos "quatro pilares" ocupa todo o quarto capítulo, p. 89-102. Aprofunde-se no assunto, é bem interessante! DICAS 221 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Aprendizagem, afetividade e interação caminham juntas. • Quando a escola passa a fazer parte do “mundo infantil” da criança e estabelece vínculos afetivos com ela, a conquista rapidamente. • Henri Wallon destaca-se entre os diversos autores que trabalharam sobre o tema “AFETIVIDADE E EMOÇÃO”. • Para Wallon, a emoção está relacionada ao componente biológico do comportamento humano, ou seja, é uma reação de ordem física. • Wallon foi o primeiro a levar as emoções da criança para dentro da sala de aula. • A roda possibilita o contato visual das crianças com todos os demais colegas; é o espaço de falar e de esperar a sua vez; de ouvir e ser ouvido; de aprender a respeitar a opinião dos outros; de contar as suas novidades; falar de seus sentimentos e de acontecimentos engraçados ou tristes da sua vida. • Na roda, se pratica a liberdade de expressão e opinião; em que se aprende a conveiver com as diferenças. • Na roda também, se resolvem conflitos e se estabelecem regras de conduta. • Conhecimento e aprendizagem formam um conjunto de momentos amorosos, criativos, alegres e prazerosos que são fundamentais para o desenvolvimento biopsicossocial de nossas crianças. • Estabelecer parceria com as famílias pressupõe aceitá-las em suas individualidades e características próprias. • Os pais não podem se eximir do compromisso na educação dos filhos, eles precisam ser chamados à responsabilidade e à co-participação na educação dos filhos. • Os professores também precisam abrir espaço às famílias. • Os quatro pilares da educação, considerados como “aprendizagens essenciais”, são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser. 222 1 Quais são os quatro pilares da educação, considerados como “aprendizagens essenciais”? Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) Aprender a ler, aprender a escrever, aprender a conviver e aprender a ser. b) ( ) Aprender a ser, aprender a conviver, aprender a aprender e aprender a ensinar. c) ( ) Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser. d) ( ) Aprender a respeitar, aprender a ler, aprender a escrever e aprender a viver. 2 Onde, quando e como nasceu essa ideia que se faz da educação a partir destes quatro pilares? 3 Várias dicas foram dadas em relação à melhoria no relacionamento entre pais e educadores, gerando uma excelente parceria em prol da educação das crianças. Dentre as dezesseis dicas apresentadas no llivro didático, mencione ao menos cinco dicas: 4 Dentre os diversos autores que trabalharam sobre o tema “AFETIVIDADE E EMOÇÃO”, combinando aspectos da psicologia com a educação, destaca- se um educador e médico francês, que viveu de 1879 a 1962. Quem é ele? a) ( ) Jean Piaget. b) ( ) Celéstin Freinet. c) ( ) Henri Wallon. d) ( ) Paulo Freire. 5 Os pais não podem se eximir do compromisso na educação dos filhos, eles precisam ser chamados à responsabilidade e desenvolver sentimento de coparticipação na educação deles, junto à escola. Por sua vez, a escola também precisa abrir espaço às famílias. Isso pressupõe: a) ( ) Permitir que deem “ordens” à equipe gestora. b) ( ) Aceitar que interfiram na rotina da escola, sem convite prévio. c) ( ) Aceitar suas individualidades e características próprias. d) ( ) Permitir que interfeiram no planejamento do professor. AUTOATIVIDADE 223 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico! Você já ouviu falar na metodologia de trabalho por projetos? Conhece alguma escola ou creche que desenvolva este tipo de trabalho? Interessa-se por este tema? Este tópico abordará este assunto tão interessante, atual e dinâmico dentro do panorama educacional de algumas escolas brasileiras, podendo abranger da Educação Infantil à universidade. Iniciaremos abordando a pedagogia de projetos e, na sequência, focaremos nossas atenções na postura do professor, das crianças, do grupo, das famílias e da comunidade dentro desta pedagogia. Boa leitura! FIGURA 22 – PROJETOS NA ESCOLA FONTE: Acesso em: 09 jun. 2021. 2 A PEDAGOGIA DE PROJETOS A sociedade atual encontra-se mais globalizada e informatizada do que nunca. Ela evoluiu de maneira significativa em pouco tempo e, pelas perspectivas, continuará fazendo isso. O que não se pode aceitar é que os adultos pensem que apenas eles evoluíram dentro deste processo. As crianças também evoluíram e não podem ser tratadas dentro dos mesmos moldes de 30 anos atrás. TÓPICO 3 — A PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 224 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Da mesma maneira, a escola precisa evoluir e sair do posto de transmissora de conhecimentos acumulados, para a função de estimuladora da busca e mediadora/organizadora dos conhecimentos das crianças. FIGURA 23 – A EVOLUÇÃO DAS CRIANÇAS FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Conforme Barbosa e Horn (2008, p. 28), Passou-se de uma concepção segundo a qual as crianças eram vistas como seres em falta, incompletos, apenas a serem protegidos, para uma concepção das crianças como protagonistas do seu desenvolvimento, realizado por meio de uma interlocução ativa com seus pares, com os adultos que as rodeiam, com o ambiente no qual estão inseridas. As crianças são capazes de criar teorias, interpretações, perguntas e são coprotagonistas na construção dos processos de conhecimento. Diante desta nova demanda, destas “novas” crianças, o sistema educacional não pode fazer-se de rogado e fechar os olhos. Precisa antenar-se para novas maneiras de ensinar e aprender, respeitando as múltiplas linguagens, as experiências socioculturais, a individualidade das crianças com as próprias histórias e as diferentes maneiras de organizar o conhecimento. A pedagogia de projetos pode dar conta de tudo isso. Inúmeras revistas ou materiais de publicação com circulação nacional já vêm abordando esta nova proposta de organizar o ensino-aprendizagem. Segundo Barbosa e Horn (2008, p. 29): [...] não há uma única forma de trabalharmos com projetos, mas várias, e ainda podem ser criadas nas instituições educativas muitas outras, na medida que trabalhar com projetos na universidade, ou na escola de 0 a 3 anos, ou no ensino médio, exige adaptações e transformações que, não ferindo os princípios básicos, podem contemplar essa diversidade. TÓPICO 3 — A PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 225 FIGURA 24 – PROJETOS EDUCACIONAIS FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. “Projetar” significa visualizar o que está à frente, planejar adiante, isto é, pensar ou executar uma ação, direcionando-a para o futuro. Um projeto pode nascer de uma intenção, necessidade ou desejo e vai sendo construído à medida que se fortalece, embasado na curiosidade das crianças, no objetivo dos educadores e no interesse em “descobrir”, de ambos. Nas palavras de Barbier (1993, p. 52), “O projeto não é uma simples representação do futuro, do amanhã, do possível, de uma ideia; é o futuro a fazer, um amanhã a concretizar, um possível a transformar em real, uma ideia a transformar em ato”. Barbosa e Horn (2008) apresentam alguns conceitos para a palavra projeto dentro da realidade escolar. Para elas, PROJETO pode ser entendido como: QUADRO 5 – CONCEITOS PARA A PALAVRA PROJETO • Um plano de trabalho, ordenado e particularizado para seguir uma ideia ou um propósito, mesmo que vagos. • Um plano com características e possibilidades de concretização. • Um plano de ação intencionado que potencializa a capacidade de avaliar o futuro a quem o propõe ou vive; que, por antecipar-se na consciência e ter como base o passado e o presente, oferece uma consequente capacidade metodológica para a escolha dos meios necessários para a concreta realização do plano. • Uma abertura para possibilidades amplas de encaminhamento e de resolução, envolvendo uma vasta gama de variáveis, de percursos imprevisíveis, imaginativos, criativos, ativos e inteligentes, acompanhados de uma grande flexibilidade de organização. • Uma proposta que permite criar, sob forma de autoria singular ou de grupo, um modo próprio para abordar ou construir uma questão e respondê-la. 226 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL • Proposta esta que possibilita momentos de autonomia e de dependência do grupo; momentos de cooperação do grupo sob uma autoridade mais experiente e também de liberdade; momentos de individualidade e de sociabilidade; momentos de interesse e de esforço; momentos de jogo e de trabalho como fatores que expressam a complexidade do fato educativo. • Uma proposta que leva as crianças a pensarem em temas importantes do seu ambiente, refletirem a atualidade e considerarem a vida fora da escola. • Uma proposta elaborada e executada para as crianças aprenderem a estudar, a pesquisar, a procurar informações, a exercitar a crítica, a duvidar, a argumentar, a opinar, a pensar, a gerir as aprendizagens, a refletir coletivamente. • E o mais importante, os projetos são elaborados e executados com as crianças e não para as crianças. FONTE: Adaptado de Barbosa e Horn (2008, p. 31-34) FIGURA 25 – CRIANÇAS PROTAGONISTAS FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Prezado acadêmico! Muitos teóricos e autores renomados falam sobre o trabalho com projetos, mas decidimos utilizar o livro “Projetos pedagógicos na Educação Infantil”, de Maria Carmen Silveira Barbosa e Maria da Graça Souza Horn, como principal bibliografia para este tópico. Estas autoras conseguem sintetizar de maneira clara e objetiva os pontos relevantes dessa abordagem. FIGURA 26 – CAPA DE LIVRO SUGERIDO FONTE: Adaptada de . Acesso em: 25 maio 2021. TÓPICO 3 — A PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 227 Trabalhar com projetos exige do professor uma postura diferente daquela a que estamos acostumados. Este novo professor precisa deixar de lado velhos hábitos e materiais com sequências rígidas e buscar novos conhecimentos, interligando as disciplinas e contextualizando os conteúdos ao tema. Não é fácil quebrar velhos paradigmas com currículo normalmente inflexível e conteúdos fragmentados, obrigatórios e uniformes, e abrir espaço para o novo, para a pesquisa, para o debate. Enfim, o professor que trabalha com projetos precisa tornar-se um pesquisador e não temer os desafios, pois eles surgirão, inevitavelmente. FIGURA 27 – UM PROFESSOR DIFERENTE FONTE: . Acesso em: 15 jan. 2020. No entanto, nem todos os professores estão dispostos a este novo olhar sobre a educação. Nem todas as escolas desejam avançar neste sentido, de modo que, de acordo com Morin (2000, p. 15), em muitas delas, ainda hoje: [...] nos ensinam a isolar os objetos (de seu meio ambiente), a separar as disciplinas (em vez de reconhecer suas correlações), a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar. Obrigam-nos a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está ligado; a decompor,e não a recompor; a eliminar tudo o que causa desordens ou contradições em nosso entendimento. Morin (2000, p. 16), citando Elliot, pergunta-se: “Onde está o conhecimento que perdemos na informação?”. Vivemos em uma sociedade da informação, mas o conhecimento só é conhecimento quando está organizado, relacionado com as informações e inserido no contexto destas. Sabemos que só o conhecimento não é suficiente nos dias de hoje. O que de fato faz a grande diferença é o que fazemos com o conhecimento que temos; para que esta ou aquela informação nos será útil; de que forma é aplicada, na prática, fora da instituição, os conhecimentos adquiridos dentro dela; no que posso ajudar a partir daquilo que sei fazer; de que maneira posso contribuir com o planeta ou com a cidade onde vivo, entre outros questionamentos que precisam ser respondidos com tranquilidade pelas crianças. De acordo com Barbosa e Horn (2008, p. 38): 228 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Para construir uma programação flexível, é preciso, em primeiro lugar, redefinir e construir, de forma sintética e clara, os objetivos que temos para a educação das crianças pequenas e os conhecimentos que consideramos essenciais para a sua inserção no mundo. Muitas vezes, as propostas pedagógicas e as programações curriculares são enormes, extremamente detalhadas e contêm minúcias dos conteúdos a serem desenvolvidos. Porém, quando perguntamos quem a escreveu e o que consta naquela proposta pedagógica, os professores não têm a menor noção, pois foi feita apenas para constar na documentação legal da escola. Lipman (1997, p. 71) afirma que: Cada assunto pode desdobrar-se, construir sobre si mesmo, questionar- se, iluminar-se a partir de dentro e erguer pontes com as disciplinas parceiras. [...] Afinal de contas, o mais importante não é que o professor consiga dar toda a sua matéria, mas sim que os alunos adquiram os significados que estão disponíveis no assunto em questão. Caro acadêmico! No caso da Educação Infantil, estas “disciplinas parceiras”, citadas por Lipman (1997), podem se referir perfeitamente às diferentes linguagens, integradas entre si. E agora, reflita: Segundo Santomé (1998, p. 27): O currículo globalizado e interdisciplinar converte-se assim em uma categoria guarda-chuva capaz de agrupar uma variedade de práticas educacionais desenvolvidas nas salas de aula, e é um exemplo significativo do interesse em analisar a forma mais apropriada de contribuir para melhorar os processos de ensino e aprendizagem. Reflita a respeito do seguinte questionamento: Seria possível trabalhar com projetos, lidando com as disciplinas ou linguagens isoladas/fragmentadas ou, este processo torna-se mais viável dentro de um trabalho interdisciplinar? Pense nisso e prossiga com a leitura! UNI TÓPICO 3 — A PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 229 FIGURA 28 – INTERDISCIPLINARIDADE FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Segundo Hernández e Ventura (1998, p. 48): [...] qualquer tema, por mais complexo que seja, pode ser explorado em classe. Em uma perspectiva sociointeracionista de aprendizagem, em que a ação pedagógica é dinamizada constantemente pelas relações que se estabelecem em sala de aula e no espaço da escola, isso se torna possível. Desse modo, o papel do professor não é o de mero espectador em relação ao caminho que o aluno vai percorrendo no processo ensino-aprendizagem. Perguntamos, então, qual é o papel do professor dentro da pedagogia de projetos? Continue conosco, prezado acadêmico, e você saberá! 3 O PROFESSOR NA PEDAGOGIA DE PROJETOS Conforme afirmamos, falaremos sobre o papel e a postura do professor, dentro da pedagogia de projetos. Para isso, utilizaremos definições de Barbosa e Horn (2008, p. 45, 85-87), sintetizadas nos quadros a seguir: Cabe ao professor: • organizar estratégias e materiais, colocando as crianças em contato com diferentes objetos de cultura; • apontar vários caminhos que as crianças poderão seguir, adotando uma atitude de escuta e diálogo; • planejar atividades, organizá-las e definir os materiais e recursos que serão utilizados; • considerar o que as crianças já sabem sobre o tema em discussão; • favorecer um estudo multidisciplinar, entendendo que o conhecimento não é algo fragmentado e que não aprendemos a partir de um único enfoque ou tema; 230 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL • permitir que o “mundo entre na sala de aula”; • organizar o espaço de maneira que ele se torne desafiador às crianças e que ao mesmo tempo promova atividades conjuntas entre parceiros; • promover a construção da autonomia moral e intelectual das crianças, estimulando a sua curiosidade; • oferecer as estruturas narrativas da tradição, mas também observar a emergência do novo, conectar os conhecimentos da realidade das crianças aos conhecimentos científicos; • ser um articulador, um membro mediador que oferece os apoios indispensáveis, para que as crianças os utilizem na construção de seu processo; • intermediar as ações das crianças e os objetos do conhecimento. FIGURA 28 – O PROFESSOR E O PROJETO FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. A pedagogia de projetos oferece aos professores a possibilidade de: • reinventar o seu profissionalismo, de sair da queixa, da sobrecarga de trabalho, do isolamento, de fragmentação de esforços para criar um espaço de trabalho cooperativo, criativo e participativo; • desenvolver uma escuta atenta e um olhar perspicaz, isto é, uma capacidade de observar, de escutar o que está circulando no grupo, quais os fragmentos que estão vindo à tona, quais os interesses e necessidades das crianças; • conhecer e registrar os modos como cada criança se envolve e participa na construção dos conhecimentos propostos em um projeto; • desenvolver atividades dinâmicas e interativas; Estimado acadêmico! Para que você saiba como montar um projeto com as crianças, faça a leitura do texto que se encontra ao término desta unidade. ATENCAO TÓPICO 3 — A PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 231 • repensar a sua prática, atualizar-se e transformar a compreensão do mundo pelo estudo contínuo e coletivo sobre diferentes temas, junto às as crianças; • revisar seu modo de ensinar e, com isso, transformar a própria história como sujeito educador; • analisar metacognitivamente o processo de aprendizagem realizado pelo grupo, avaliar e reinstrumentalizar para continuamente qualificar o seu ofício; • criar um ambiente propício em que a curiosidade, as teorias, as dúvidas e as hipóteses das crianças tenham lugar e sejam realmente escutadas, legitimadas e operacionalizadas para que se construa a aprendizagem; • articular o tema com os objetivos gerais previstos para o ano letivo ou ciclo e realizar uma previsão dos assuntos ou linguagens que podem vir a ser trabalhadas; • atualizar-se com relação ao tema, discuti-lo com outros educadores da instituição e ampliar seus conhecimentos, apresentando propostas de trabalho para o grupo; • ser aquele que registra e que cria a memória: “[...] facilitar a narração, fazer que flua, recapitular, recordar o que já dissemos, os acordos que fizemos, as bifurcações, os pontos de encontro, o que ainda temos por percorrer” (LOPEZ RUIZ; ANGUITA , 2004, p. 86); • ter paixão e encantamento com o mundo e com as pessoas; • ligar o mundo e o conhecimento à vida das crianças na instituição. FIGURA 29 – O PAPEL DO PROFESSOR FONTE: Acesso em: 09 jun. 2021. 4 AS CRIANÇAS E O GRUPO NA PEDAGOGIA DE PROJETOS Conforme Barbosa e Horn (2008, p. 87-88), as contribuições desta pedagogia são enormes e estão sintetizadas no quadro a seguir: 232 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL QUADRO 6 – CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA DE PROJETOS PARA AS CRIANÇAS E O GRUPO PARA O GRUPO: PARA A CRIANÇA: • Os projetos propiciam a criação de uma história de vida coletiva, com significados compartilhados. Eles estimulam a aprendizagem do diálogo, do debate, da argumentação, do aprender a ouvir os outros, do cotejar diferentes pontos de vista, do confronto de opiniões, do negociar significados, da construção coletiva, da cooperação e da democracia. • Os projetos possibilitam a construção de um grupo de aprendizagem que colabora, que se envolve com as tarefas e que é corresponsável pelo empreendimento coletivo. • Dentro de um trabalho de projetos com parcerias, as crianças aprendem a conviver e a respeitar os limites da vida coletiva. • Trabalhar com projetos é também aprender a trabalhar em grupo e experimentar a aprendizagem como uma função intersubjetiva, acompanhando as tendências da ciência e da tecnologia de construção coletiva do conhecimento, criando uma cultura de aprendizagem mútua. • A experiência de aprendizagem dos conhecimentos por meio da vida coletiva alarga o conhecimento, enriquece o espírito e oferece significação mais profunda à vida. • Os projetos possibilitam que elas se engajem nas próprias aprendizagens, na construção do conhecimento, no desenvolvimento de novas habilidades e no aperfeiçoamento daquelas já dominadas, no prazer de expor o seu saber, no ver e sentir as controvérsias e na construção de uma visão coletiva. • Os projetos podem ser criados individualmente pelas crianças, em pequenos grupos, em duplas ou em grandes grupos. • A pedagogia de projetos vê a criança como um ser capaz, competente, com um imenso potencial e desejo de crescer. Alguém que se interessa, pensa, duvida, procura soluções, tenta outra vez, quer compreender o mundo a sua volta e dele participar, alguém aberto ao novo e ao diferente. • Para as crianças, a metodologia de projetos oferece o papel de protagonistas de suas aprendizagens, de aprender em sala de aula, além dos conteúdos, os diversos procedimentos de pesquisa, organização e expressão dos conhecimentos. • Ao acompanhar o processo de desenvolvimento dos projetos, as crianças vão construindo formas pessoais de registro e documentação, uma singularidade para aprender, descrever, criar uma memória e uma versão, materializar para poder contribuir mostrando a sua obra. FONTE: Adaptado de Barbosa e Horn (2008, p. 87-88) TÓPICO 3 — A PROJETOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 233 FIGURA 30 – A CRIANÇA E O PROJETO FONTE: . Acesso em: 25 maio 2021. Prezado acadêmico, além da escola, dos professores e das crianças, quem mais aprende com a metodologia de projetos? Prossiga com sua leitura e você saberá! 5 AS FAMÍLIAS E A COMUNIDADE NESTA PEDAGOGIA Uma das grandes contribuições da pedagogia de projetos, segundo Barbosa e Horn (2008), é a sua dimensão social. Através dela: QUADRO 7 – CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA DE PROJETOS PARA A FAMÍLIA Aprendem as crianças, os professores/educadores, os funcionários, os pais, a instituição, a sociedade, isto é, toda a comunidade troca informações, cria conhecimentos comuns, formula perguntas e realiza ações. Cria-se uma instituição aberta, onde os sujeitos aprendem uns com os outros e onde as investigações sobre o emergente têm um papel fundamental. Pensa-se a instituição como uma comunidade educativa, que inclui em seus projetos a participação da família e da comunidade, ampliando as fronteiras sociais. A participação dos pais torna-se uma parceria valiosa em todos os sentidos. Para que eles possam acompanhar os trabalhos das crianças, é importante que a instituição os mantenha informados sobre os projetos que estão sendo realizados pelas crianças e os temas estudados para que possam participar na seleção e no envio de materiais, na proposição de experiências, na partilha dos saberes. A comunidade e, em especial, os pais são, portanto, ótimos parceiros de estudo e informantes para as crianças. FONTE: Adaptado de Barbosa e Horn (2008, p. 85-90) 234 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL FIGURA 31 – A FAMÍLIA NA ESCOLA FONTE: Acesso em: 15 jan. 2020. 235 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • Projetar significa atirar longe, arremessar, planejar, isto é, pensar ou fazer uma ação direcionada para o futuro. • Um projeto pode nascer de uma intenção, necessidade ou desejo. • Um projeto vai sendo construído embasado na curiosidade das crianças, no objetivo dos educadores e no interesse de ambos em “descobrir”. • Trabalhar com projetos leva as crianças a pensarem em temas importantes do seu ambiente, refletirem sobre a atualidade e considerarem a vida fora da escola. • Com os projetos as crianças aprendem a: estudar, pesquisar, procurar informações, exercitar a crítica, duvidar, argumentar, opinar, pensar, gerir as aprendizagens e refletir coletivamente. • Os projetos são elaborados e executados com as crianças e não para as crianças. • Na Pedagogia de Projetos aprendem os alunos, os professores, os funcionários, os pais, as instituições, a sociedade, isto é, toda a comunidade. • Neste cenário, cria-se uma instituição aberta, em que os sujeitos aprendem uns com os outros, como uma comunidade educativa, que inclui em seus projetos a participação da família e da comunidade, ampliando as fronteiras sociais. • Para as crianças, a metodologia de projetos oferece o papel de protagonistas de suas aprendizagens, de aprender em sala de aula para além dos conteúdos. 236 1 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Não há uma única forma de trabalhar com projetos, mas várias. ( ) Um projeto não pode nascer de uma intenção, necessidade ou desejo. ( ) Os projetos são elaborados e executados com as crianças e não para as crianças. ( ) É muito fácil quebrar velhos paradigmas em que o currículo, normalmente inflexível e com conteúdos fragmentados, obrigatórios e uniformes, não abre espaço para o novo, para a pesquisa e para o debate. ( ) Todas as escolas e todos os professores estão dispostos a este novo olhar sobre a educação. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V – F – F. b) ( ) F – F – V – V – V. c) ( ) F – F – F – V – V. d) ( ) V – V – F – V – V . 2 Escreva, pelo menos, quatro benefícios que a Pedagogia de Projetos traz: aos professors; às crianças e ao grupo; às famílias e à comunidade. 3 Uma das grandes contribuições da Pedagogia de Projetos, segundo Barbosa e Horn (2008, p. 85, 89-90), é: a) ( ) A sua dimensão histórica. b) ( ) A sua dimensão social. c) ( ) A sua dimensão cultural. d) ( ) A sua dimensão estética. 4 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas, em relação ao conceito de projeto: ( ) É um plano de trabalho, ordenado e particularizado para seguir uma ideia ou um propósito, mesmo que vagos. ( ) É Um plano sem características e possibilidades de concretização. ( ) É um plano de ação intencionado que potencializa a capacidade de avaliar o futuro a quem o propõe ou vive. ( ) Uma abertura para possibilidades amplas de encaminhamento e de resolução. ( ) É uma proposta que não permite criar, sob forma de autoria singular ou de grupo. AUTOATIVIDADE 237 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V – V – F. b) ( ) F – F – V – V – V. c) ( ) F – F – F – V – V. d) ( ) V – V – F – V – V. 5 Uma proposta que possibilita momentos de autonomia e de dependência do grupo; momentos de cooperação do grupo sob uma autoridade mais experiente e também de liberdade; momentos de individualidade e de sociabilidade; momentos de interesse e de esforço; momentos de jogo e de trabalho como fatores que expressam a complexidade do fato educativo refere-se ao conceito de: a) ( ) Autonomia infantil. b) ( ) Identidade estudantil. c) ( ) Projeto pedagógico. d) ( ) Liberdade educativa. 238 239 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A avaliação sempre foi e sempre será motivo de muitas discussões entre os educadores e estudiosos do assunto. Ela predomina em muitas das formações pedagógicas, por ser considerada a principal “vilã” das crianças maiores. Quando utilizada de maneira incorreta e autoritária, gera colapsos nervosos, mas quando realizada de maneira holística e global, passa quase que despercebida, o que seria perfeito. Afinal de contas, como deve ser a avaliação na Educação Infantil? O que precisamos observar, avaliar e registrar para que a avaliação seja consciente e coerente? Quais critérios adotar? Quais instrumentos utilizar? É sobre esta importante temática que trataremos neste último tópico deste Livro didático. Não poderíamos encerrá-lo sem abordar a avaliação e o registro. Então, vamos lá! Bons estudos! 2 A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CRIANDO ALTERNATIVAS QUE RESPEITEM A DIVERSIDADE Falar de avaliação é, certamente, abrir espaço para a discussão, pois a respeito deste assunto, nunca se esgotam as possibilidades, necessidades e, principalmente, as dificuldades que permeiam esse movimento dentro do universo educacional. A avaliação na Educação Infantil é cercada de subjetividade, pois avaliamos as nossas crianças com palavras e não com números, o que pode ser ainda mais difícil ao professor. Como encontrar as palavras certas? Como avaliar com justiça e coerência? Como traduzir o que as crianças conhecem bem ou ainda precisam conhecer mais, apenas pelas atividades cotidianas e/ou pela observação? Essas e outras perguntas serão abordadas a seguir. Eu avalio Tu avalias Ele avalia Nós avaliamos Vós avaliais Eles avaliam TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 240 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Sendo assim, caro acadêmico, todo mundo avalia algo ou alguém. No entanto, pense um pouco e tente responder: • De que maneira fazemos isso? • Será que somos justos? • Será que utilizamos os instrumentos necessários e coerentes com a faixa etária das crianças? • Será que, de fato, respeitamos as diversidades? • Será que somos capazes de avaliar de maneira holística e global? • Será que deixamos claro, às crianças, os critérios de avaliação? • Será que os pais compreendem nossos métodos? São tantas as dúvidas que cercam este tema que, por mais que tentemos, não conseguiremos respostas plausíveis a cada uma delas. O que vale a pena reforçar é que a reflexão e a preocupação em fazer uma avaliação cada vez mais humana e global existem e persistem, entre grande parte dos educadores/ professores e gestores pedagógicos. Esperamos que você esteja entre eles! Conforme Bassedas, Huguet e Solé: Os educadores e educadoras planejam programas com a intenção de alcançar determinados objetivos. Posteriormente, estes programas são postos em prática e é necessário avaliar se foram alcançados ou não os objetivos propostos. É preciso observar se as crianças aprenderam o que se pretendeu expor no planejamento, se aprenderam outras coisas igualmente interessantes, se é preciso introduzir algumas outras atividades na aula, se a atividade programada deve ser adiada etc. Quando fixamos determinados objetivos educativos, devemos considerar sempre a hipótese que depois, com a avaliação, poderemos avaliar em que medida e com que diversidade foi alcançado o objetivo. Assim, a avaliação deve servir basicamente para intervir, modificar e melhorar a nossa prática, a evolução e a aprendizagem dos alunos (1999, p. 174, grifos no original). Vamos refletir os três verbos grifados na citação anterior? Vejamos: • intervir – quando percebemos que o aluno ou a turma não estão respondendo de acordo com o esperado, precisamos intervir; • modificar – então é preciso abordar outros instrumentos e mudar a maneira de ensinar este ou aquele conteúdo; • melhorar a nossa prática – quem sabe somos nós que não estamos encontrando a melhor forma de ensinar, talvez não estejamos sendo criativos na abordagem, ou tenhamos que nos aprofundar no assunto para ensinar melhor. Trabalhando estes três verbos, A EVOLUÇÃO E A APRENDIZAGEM dos alunos passam a acontecer naturalmente, ou por meio da mediação, assim como reforçaram Bassedas, Huguet e Solé (1999). TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 241 FIGURA 32 – TIRINHA SOBRE AVALIAÇÃO FONTE: Acesso em: 09 jun. 2021. A avaliação na Educação Infantil sofreu uma profunda alteração quando a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, estipulou que ela “[...] far-se-á mediante o acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental” (Lei nº 9.394/96, artigo 31 apud BRASIL, 1996). Segundo Barbosa e Horn (2008, p. 97): Os procedimentos que utilizamos para avaliar nossos alunos revelam nossas concepções sobre a aprendizagem, a infância e a educação, expondo, assim, os modelos teóricos que nos apoiam. Nos últimos tempos, muitas modificações curriculares têm-se apresentado na Educação Infantil e, consequentemente, nosso entendimento do que seja avaliar nessa etapa de ensino também se transformou. Duas diferentes tradições destacam-se em relação à avaliação da Educação Infantil. A primeira, mais objetivista, foi muito utilizada nas décadas de 1960 e 1970 e baseava-se em objetivos comportamentais, os quais apontavam pautas do desenvolvimento humano configuradas pela psicologia do desenvolvimento, tendo como parâmetros uma criança idealizada e tida como capaz de realizar determinadas atividades, desenvolver habilidades e evidenciar competências. Os modelos de avaliação, nesta tradição, constituíam-se em várias lacunas para serem preenchidas com cores ou siglas. Os objetivos eram divididos em áreas afetiva, cognitiva e motora. As avaliações entregues às famílias, quase sempre enormes e repletas de informações fragmentadas, pouco falavam da vida da criança na escola, de seu desenvolvimento e da sua relação com os demais. Nos anos de 1980, segundo Barbosa e Horn (2008), com a democratização do país, com os questionamentos sobre o poder e a exclusão social, com a introdução de abordagens mais qualitativas de coleta de dados nas pesquisas e com a ampliação das perspectivas de desenvolvimento, criou-se uma nova forma de abordar a avaliação na Educação Infantil. Ela se tornou mais descritiva, menos comparativa e mais singular. Assim, a avaliação com um caráter mais subjetivista foi sendo estruturada a partir da proposta dos pareceres descritivos ou relatórios avaliativos. 242 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Este “novo tipo” de avaliação deu um pouco mais de trabalho aos professores, já que descrever em um texto observações de desempenho, relacionadas à criança, exigia muito mais de sua atenção e cuidado do que simplesmente atribuir “X” para esta ou aquela questão. Não se poderia escrever qualquer coisa ou conceito nas avaliações, era necessário elaborar uma avaliação criteriosa, coerente, significativa, justa e ética, de cada criança. Barbosa e Horn (2008) apresentam alguns princípios em forma de alternativas, para que nossa avaliação seja coerente e eficaz, respeitando a diversidade, conforme a figura a seguir. FIGURA 33 – PRINCÍPIOS PARA QUE A AVALIAÇÃO RESPEITE A DIVERSIDADE FONTE: Adaptado de Barbosa e Horn (2008, p. 100) Barbosa e Horn (2008) sugerem, ainda, uma mudança de paradigma nas concepções de aprendizagem: TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 243 FIGURA 34 – MUDANÇA DE PARADIGMA FONTE: Adaptado de Barbosa e Horn (2008, p. 101) Avaliar, portanto, não é tarefa fácil, envolve comprometimento com a educação, respeito à profissão e, especialmente, amor à criança. Uma avaliação malfeita poderá repercutir negativamente por toda a vida escolar das crianças. Em contrapartida, uma avaliação bem-feita trará benefícios imensuráveis a elas. Como nos diz Oliveira (2008, p. 255): Avaliar a Educação Infantil [...] exige o redimensionamento do contexto educacional – repensar o preparo dos profissionais, suas condições de trabalho, os recursos disponíveis, as diretrizes defendidas, os indicadores usados – para promovê-lo ainda mais como ferramenta para o desenvolvimento infantil. Envolve conhecer os diversos contextos de desenvolvimento da cada criança, sendo um retrato aberto, que pontua uma história coletivamente vivida, aponta possibilidades de ação educativa, avalia as práticas existentes. Trata-se de um campo de investigação, não de julgamento, que contribui decisivamente para a busca de uma proposta pedagógica bem delineada. No entanto, sabemos que nem todas as crianças aprendem da mesma maneira e ao mesmo tempo, então, prezado acadêmico, perguntamos: como realizar uma avaliação que respeite de fato a diversidade? Prezado acadêmico! Se o tema “avaliação” lhe causa interesse e desperta o desejo de saber mais, leia o livro de Jussara Hoffman (1995) “Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade”. DICAS 244 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Seguem sugestões de critérios que podem ser levados em consideração, quando se busca este tipo de avaliação: • Analisar o tempo necessário e a organização dos espaços, para a realização da atividade de acordo com cada criança. • Elaborar atividades que permitam seu desenvolvimento integral. • Estimular as diferentes habilidades e competências nas atividades desenvolvidas. • Explorar as múltiplas linguagens na avaliação, isto é, variar os instrumentos avaliativos. • Planejar atividades que aceitem diferentes respostas ou caminhos, para uma mesma pergunta. • Identificar as diferentes dificuldades dos alunos e planejar atividades que os auxiliem, sem deixá-los perceber, para que não se sintam menos capazes que os demais. • Lembrar que cada criança é única e, como tal, merece atenção e avaliação individualizada. • Colher informações importantes a respeito da criança com a família e lhe dar feedbacks avaliativos. • Constatar o que as crianças sabem, o que elas ainda não sabem e por que não sabem e, a partir desta constatação, pensar maneiras de ajudá-las. FIGURA 35 – AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. 3 OBSERVAÇÃO, REGISTRO E AVALIAÇÃO FORMATIVA Observar as crianças enquanto brincam, interagem com o grupo ou desenvolvem atividades é uma excelente maneira de avaliá-las. Através destas observações, podemos: • Perceber suas expressões ou reações. • Analisar como resolvem os pequenos problemas ou conflitos. • Observar a interação delas com o grupo. TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 245 • Verificar atitudes de autodesvalorização ou baixa autoestima. • Medir seu tempo de ação, reação e concentração. • Melhorar comportamentos sociais, excludentes ou agressivos. • Trabalhar situações de desconforto ou preconceito, entre as crianças. • Notar os papéis que defendem perante o grupo, ou seja, identificar lideranças ou subordinações. • Qualificar suas produções ou pequenas conquistas. FIGURA 36 – OBSERVAÇÃO FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. No que se refere à avaliação formativa, de acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 66): Deve-se ter em conta que não se trata de avaliar a criança, mas sim as situações de aprendizagem que foram oferecidas. Isso significa dizer que a expectativa em relação à aprendizagem da criança deve estar sempre vinculada às oportunidades e experiências que foram oferecidas a ela. Conforme Bassedas, Huguet e Solé (1999, p. 176), Avaliação formativa é a avaliação que se realiza de uma maneira progressiva e paralelamente às diferentes situações e atividades que se desenvolvem. É a que possui mais sentido e importância na questão educativa (de fato, também nas outras), pois permite modificar a intervenção a partir das informações que se obtêm nas próprias atividades da aula. Este tipo de avaliação acontece durante todas as atividades desenvolvidas pelas crianças, inclusive enquanto brincam. Ela acontece especialmente por meio da observação e da escuta, por parte do educador, que interage com suas crianças, fazendo perguntas, propondo novas interações ou provocando situações de diálogo ou debate. 246 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL As crianças pequenas aprendem com muita facilidade e parecem descobrir um mundo novo a cada dia. Isso acontece porque são naturalmente curiosas e estão formando identidade, ao mesmo tempo em que buscam autonomia em suas ações. Elas desejam tornar-se independentes dos adultos e precisam ser estimuladas a tentar sozinhas. FIGURA 37 – CRIANÇA APRENDIZ FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. Cada pequeno gesto precisa ser valorizado: comer sozinha, escovar os dentes sem ajuda, pedir para usar o banheiro em tempo hábil, guardar seu lanche, pendurar a lancheira, entre outros. O professor precisa sinalizar estas ações às crianças, de maneira positiva, por meio de elogios, gestos ou conversas, fazendo- as perceber sua evolução. De acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 67): [...] dos três aos seis anos, pode-se esperar que as crianças manifestem suas preferências, seus desejos e desagrados [...] desde que elas percebam que tais manifestações são recebidas e levadas em consideração. Uma criança que percebe que suas colocações, sejam elas expressas verbalmente ou de outra forma, são desconsideradas, tende a desistir de fazê-lo e acreditar que suas tentativas são inócuas. Isso não significa dizer que todas as queixas e desejos das crianças devam ser satisfeitos, mas sim que devem ser ouvidos e sempre respondidos. Se não há possibilidade de atendê-los, é uma boa atitude deixar isso claro para a criança e explicitar a razão da negativa. A observação não é apenas um instrumento de acompanhamento. Ela pode nos ajudar na avaliação e até mesmo no planejamento das aulas. Enquanto observamos as crianças em suas atuações espontâneas ou não, somos capazes de descobrir seus saberes, desejos ou intenções. Caro acadêmico! Para que qualquer observação faça sentido e tenha função pedagógica, precisa ser registrada. Então vamos adiante! Conforme Zabalza (1994, p. 95), TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 247 O próprio fato de escrever, de escrever sobre sua prática, leva o professor a aprender através da sua narração. Ao narrar a sua experiência recente,o professor não só a constrói linguisticamente, como também a reconstrói ao nível do discurso prático e da atividade profissional (a descrição se vê continuamente excedida por abordagens reflexivas sobre os porquês e as estruturas de racionalidade e justificação que fundamentamos fatos narrados). Quer dizer, a narração constitui-se em reflexão. FIGURA 38 – A ESCRITA DO PROFESSOR FONTE: . Acesso em: 09 jun 2021. 4 POR QUE E PARA QUE REGISTRAR Muitos professores são maravilhosos, extremamente criativos e competentes, mas falham por não realizar corretamente seus registros. Sem registro, perde-se a memória, não há provas, não há comprovação histórica. Sem registro, não há conhecimento “palpável” para os que não vivenciaram a aprendizagem da criança. Os pais, por exemplo, sem o registro das atividades práticas do filho, não têm como acompanhar, compreender ou admirar aquela atividade. Eles poderão basear-se apenas no que o filho contar em casa (se é que vai contar, pois nem todos contam). Em sua dissertação de mestrado, Warschauer (1993, p. 56) afirma que, Além de favorecer a reflexão, o registro possibilita a construção da memória e da história, enfatizando o papel do diálogo e da experiência grupal na formação. [...] Percebe-o como possibilidade de formação, de reflexão, de introversão, tendo em vista a compreensão, a busca de sentido para a ação cotidiana em sala de aula. O registro é um grande instrumento para a sistematização e organização dos conhecimentos. É, também, a possibilidade de que a roda não se feche em si mesma, mas se abra para o mundo. Através de textos, os conhecimentos ali gestados podem, por exemplo, atingir outros grupos. 248 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Quando um professor registra, está exercitando também profunda reflexão e avaliação de sua própria prática pedagógica. Ele passa a questionar- se pelos resultados obtidos, a vibrar pelas conquistas alcançadas ou buscar alternativas para os objetivos pendentes. Passa a compreender a realidade e a encontrar maneiras de transformá-la, além de contribuir com a documentação pedagógica da escola. Conforme Oliveira-Formosinho e Azevedo (2002, p. 135), “A documentação oferece aos professores uma oportunidade ímpar para escutar de novo, para olhar de novo, para revisitar os acontecimentos e os processos dos quais indireta e colaborativamente foram coprotagonistas [...]”. Registrar não deve ser encarado pelos professores como uma tarefa obrigatória, penosa e sem gratificação alguma. Registrar tem que ser uma prática feliz, prazerosa, compensatória, pelo valor humano e profissional, pela paixão que temos pelas crianças, pelo crescimento pessoal que este exercício nos traz e pela história que ajudamos a escrever nos livros da educação brasileira. Registrar o cotidiano não é burocracia! Não é escrever para mostrar ou prestar contas a alguém. É, ao contrário [...] comprometer-se com a própria prática, comprometer-se com a coerência de uma prática que vai sendo refletida num processo de formação permanente. (OSTETTO; OLIVEIRA; MESSINA, 2001, p. 24). FIGURA 39 – REGISTRO FONTE: . Acesso em: 17 jan. 2020. Esse registro pode ser feito diariamente (que seria o ideal), pois é quando toda a nossa memória a respeito daquele período de aula mantém-se preservada. Pode ser feito também de maneira rápida, com palavras-chaves ou frases curtas, para mais tarde ser melhorado; pode ser feito através de filmagens ou gravações de vozes, enfim, a maneira de registrar vai da vontade e/ou disponibilidade de cada professor, o importante é que se faça o registro. TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 249 Contudo, de acordo com Barbosa e Horn (2008, p. 111-113), “Para estes registros terem sentido, Depois de sorrir, cantar. Depois de cantar, comer. Depois de comer, brincar. Depois de brincar, pular. Depois de pular, cair. Depois de cair, chorar. Depois de chorar, falar. Depois de falar, correr. Depois de correr, parar. Depois de parar, ninar. Depois de ninar, dormir. Depois de dormir, sonhar (PERES; TATIT; DEARDYK, 1999). De acordo com Barbosa (2006, p. 35): A importância das rotinas na educação infantil provém da possibilidade de constituir uma visão própria como concretização paradigmática de uma concepção de educação e de cuidado. É possível afirmar que elas sintetizam o projeto pedagógico das instituições e apresentam a proposta de ação educativa dos profissionais. A rotina é usada, muitas TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 120 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS vezes, como o cartão de visitas da instituição, quando da apresentação desta aos pais ou à comunidade ou como um dos pontos centrais de avaliação da programação educacional. Afinal, o que faz parte dessa rotina? Absolutamente tudo o que acontece na instituição, seria a resposta. Desde o horário de entrada e saída das crianças, a hora do lanche, da higiene, da história, da brincadeira, do canto, entre outras atividades que compõem o cotidiano da Educação Infantil. A rotina nada mais é do que um esquema, uma pauta do que se vai fazer e de como será feita esta ou aquela atividade. Como elaborar uma rotina que satisfaça as necessidades dos bebês e crianças pequenas? Antes de tudo é preciso lembrar que, em tudo que se faz na Educação Infantil, há que se estabelecer uma fortíssima relação entre o cuidar e o educar. As necessidades básicas das crianças como a alimentação, o descanso e a higiene são tão importantes quanto às necessidades de interação, afetividade e cognição. Quando conseguimos atender as nossas crianças em suas necessidades básicas, aliando-as às finalidades educativas, estamos muito próximos daquilo que consideramos a educação ideal. Com os bebês não é fácil manter uma rotina fixa, pois eles dormem mais, trocam mais vezes de fralda, choram mais, querem colo, mas, à medida que vão crescendo, também passam a incorporar estas rotinas, tão fundamentais ao seu desenvolvimento. Com relação aos demais, sugerimos que essa rotina seja exposta em sala, com figuras, desenhos ou imagens fotografadas do próprio grupo, representando cada atividade a ser desenvolvida. Quando a criança visualiza a sequência das atividades daquele dia, sente-se mais segura e tranquila. Crianças menores adoram saber o que vai acontecer. Desta forma, também aprendem a esperar, compreendendo que nem tudo acontece na hora e do jeito que elas desejam. FIGURA 17 – SABENDO APROVEITAR O TEMPO FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 121 O que temos que levar em conta na hora de planejar nossa rotina de maneira que saibamos aproveitar o tempo de que dispomos com nossas crianças? Devemos levar em conta, principalmente, a idade das crianças. Não se aconselha planejar atividades que ultrapassem o tempo de concentração delas; também não se pode dar pouco tempo às brincadeiras no parque, porque elas vão reclamar; os recados e combinados muitas vezes não serão compreendidos de primeira, ou seja, com as crianças menores, a repetição dos comandos é absolutamente natural, até que todos compreendam as normas e estejam adaptados a elas. Conheça, a seguir, um exemplo de rotina na Educação Infantil, para cada dia da semana. Note que algumas atividades aparecerão na rotina de todos os dias, pois são consideradas essenciais: a acolhida, o parque e as brincadeiras, a leitura de história, a roda do canto, o lanche, a higiene, o descanso e a despedida. Já as demais atividades e momentos de socialização vão sendo encaixados à rotina, de acordo com a disponibilidade dos professores ou o ritmo do grupo: QUADRO 3 – ROTINAS Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Acolhida Acolhida Acolhida Acolhida Acolhida Parque e brincadeiras Parque e brincadeiras Parque e brincadeiras Parque e brincadeiras Parque e brincadeiras Psicomotricidade Inglês Musicalização Formação Psicomotricidade Roda do Canto Roda do Canto Roda do Canto Roda do Canto Roda do Canto Higiene (troca de fraldas)- descanso Higiene (troca de fraldas)- descanso Higiene (troca de fraldas)- descanso Higiene (troca de fraldas)- descanso Higiene (troca de fraldas)- descanso Lanche Lanche Lanche Lanche Lanche Escovação Escovação Escovação Escovação Escovação Leitura de história Leitura de história Leitura de história Leitura de história Leitura de história Atividade artística/jogo Atividade artística/jogo Atividade artística/jogo Atividade artística/jogo Atividade artística/jogo despedida despedida despedida despedida despedida FONTE: A autora 122 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS Vale destacar, prezado acadêmico, que na elaboração das rotinas é interessante equilibrar a intensidade, intercalando atividades mais calmas e agitadas, individuais ou coletivas, que incentivem a concentração ou a cooperação, que estimulem a autonomia ou o trabalho em equipe. É muito importante também pensar nas crianças que permanecem o dia todo na instituição e gerar uma rotina diversificada e criativa, para que elas não se aborreçam. Sugerimos que a primeira coisa do dia seja a apresentação da rotina às crianças, controlando o nível de ansiedade do grupo. FIGURA 18 – ROTINA DO DIA FONTE: . Acesso em: 30 maio. 2021. A rotina planejada não deve ser considerada pronta e acabada, ou seja, fechada a novos desafios e tampouco gerar frustrações ao educador pela não realização de algum item em função de outro mais interessante ou pela falta de tempo hábil para seu cumprimento. Esta rotina precisa ser flexível e prever novas situações, auxiliando as crianças a lidarem com os imprevistos. UNI A rotina pode ser alterada e, por que não, até ser combinada com as crianças, que “ajudam” a professora a montar a sequência das atividades no varal de fotos ou quadro de rotinas daquele dia. Experimente! As crianças, desta forma, se sentirão protagonistas em seu próprio processo de ensino-aprendizagem. UNI TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 123 E a questão do tempo, como funciona para as crianças? Quando a criança passa a compreender a sequência das atividades e a sua duração, começa a desenvolver as primeiras noções de tempo. Essas noções se desenvolvem durante a primeira infância, num processo relativamente longo. Não é nada incomum ouvirmos uma criança pequena dizer que “amanhã eu fui no meu avô” ou que” amanhã eu fiz aniversário”. Isso mostra a confusão que a questão do tempo ainda provoca nelas durante o processo de desenvolvimento. Por isso, é importante estabelecer com elas uma rotina, por meio de uma sequência de acontecimentos em uma determinada ordem com início, meio e fim. Segundo Jaume (apud ARRIBAS, 2004, p. 35): Toda a segurança que a criança irá sentir no ambiente escolar se dá no adequado planejamento das atividades. Portanto, o tempo é fator essencial neste planejamento. São necessários pontos de referência estáveis, que se repitam diariamente. É desta forma que a criança se estrutura, tendo a segurança do que virá depois. As crianças, ao visualizarem, por exemplo, a rotina do dia e encontrarem a figura do lanche, são capazes de descobrir o que vem antes dele (que está no meio da manhã ou da tarde) e o que vem depois; percebem que, quando a professora realiza uma atividade artística ou jogo, já se aproxima a hora de ir embora é preciso que estejam organizados. Essa organização pode ser sob a forma de portfólios, dossiês ou arquivos biográficos”. Vamos conhecer um pouco mais sobre cada um destes formatos, de acordo com Barbosa e Horn (2008), sintetizados a seguir: FIGURA 40 – FORMAS DE REGISTRO FONTE: Adaptado de Barbosa e Horn (2008) 4.1 PORTFÓLIO De origem inglesa, a palavra portfólio vem sendo usada principalmente para registrar ações realizadas por artistas plásticos, modelos fotográficos, entre outros profissionais. Para estas pessoas, os portfólios são coleções dos produtos acabados. Diferentemente das pastas (portfólios) utilizadas nas instituições de Ensino para as crianças, onde são consideradas obras em processo. FIGURA 41 – PORTFÓLIO FONTE: Acesso em: 18 jan. 2020. Em uma dimensão mais pedagógica, os portfólios são caixas ou pastas que recolhem os trabalhos produzidos pelas crianças através de variadas modalidades de expressão durante um período de tempo. Os materiais são periodicamente analisados com as crianças e com os pais para que se discutam os progressos, as áreas em que se deve trabalhar para ampliar as potencialidades, os progressos, as dificuldades das crianças e a proposta de novos desafios. 250 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL De acordo com Hernández (1998), “A função do portfólio se apresenta, assim, como facilitadora da reconstrução e reelaboração, por parte de cada estudante, de seu processo ao longo de um curso ou de um período de ensino”. Os portfólios não são apenas a seleção dos materiais. É preciso apreciar, analisar, interpretar, construir sentidos, planejar o futuro, criar uma narrativa. Além disso, todos devem ter espaço para o registro: os pais, ao enviar comentários sobre a criança e o processo educativo propiciado pela escola; as crianças, ao selecionar materiais, desenhar, ditar mensagens, fazer autoavaliação; a professora. ao transcrever entrevistas com as crianças, contar pequenas histórias e apresentar imagens. As crianças também podem participar da elaboração dos portfólios de seus amigos, e as disciplinas especializadas, mesmo quando orientadas por outro professor, podem estar incluídas nele. Alguns portfólios apresentam espaços de brincadeira e interação com as crianças. É necessário ter cuidado com a sua apresentação, para que ele seja resistente ao manuseio, tenha um tamanho adequado e uma linguagem bastante comunicativa e clara, tanto para os pais quanto para as crianças. Existem também portfólios virtuais, como os blogs. FIGURA 42 – PORTFÓLIO EM BLOG FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2021. 4.2 DOSSIÊ De origem francesa, os dossiês referem-se à organização de materiais sobre temas e assuntos. São temáticos, realizados pelo professor e pelas crianças, e construídos para a compreensão do processo de ensino-aprendizagem realizado pelo grupo. TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 251 Tem o intuito de organizar e apresentar as aprendizagens relativas a determinado tema. Os dossiês nos permitem que façamos exposições, instalações ou painéis, apresentando os trabalhos elaborados pelo grupo. Oferecer à família CDs com gravações dos dossiês é uma boa estratégia de democratização do material, assim como entregar um exemplar para a biblioteca da escola. 4.3 ARQUIVO BIOGRÁFICO Constitui-se em valioso documento de acompanhamento que busca oferecer aos protagonistas (crianças, professores e pais) a oportunidade de reouvir, revisitar, relembrar experiências e acontecimentos que marcaram significativamente suas histórias na escola de Educação Infantil. Por ser um documento que recolhe diferentes materiais, como desenhos, pinturas, falas das crianças e fotos, revela a unicidade e a diversidade de cada criança por meio destes recortes do cotidiano. FIGURA 43 – ARQUIVO BIOGRÁFICO FONTE: . Acesso em: 09 jun. 2020. Conforme Barbosa e Horn (2008, p. 114): Certamente, não basta agruparmos e organizarmos materiais produzidos na sala de aula. [...] eles só têm sentido se o educador puder apreciá-los, analisá-los, interpretá-los, contextualizá-los, construindo um sentido para essas produções e, a partir disso, criando novas narrativas para a inserção das crianças e dando novos rumos a sua prática cotidiana junto a elas. Para encerrar este caderno, prezado acadêmico, desejamos compartilhar com você uma afirmação lindíssima de Donatella Giovanini (apud GANDINI; EDWARDS, 2002, p. 114) a respeito da elaboração de arquivos biográficos: Educar uma criança [...] exige algo a mais do adulto [...] uma certa generosidade de atitude e uma disposição para devolver à criança – e aos pais – os acontecimentos, os pensamentos, os sentimentos 252 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL e as ideias que fazem o cotidiano e a história da creche. Exige uma capacidade de recontar, de colocar os acontecimentos e as pequenas histórias pessoais no contexto de uma história mais ampla. De modo que um momento de sua infância possa ser entregue a cada criança. Além disso, a construção da documentação sobre a criança é uma maneira de lhe dar uma atenção especial e de valorizar e identificar diferenças e estilos individuais. Permite que cada professor torne a experiência de cada criança única e especial. FIGURA 44 – EDUCAÇÃO INFANTIL EM AÇÃO FONTE: . Acesso em: 20 jan. 2020. Caro acadêmico! Agradecemos sua presença, sua paciência, sua dedicação e olhar sensível diante deste Livro didático. Foi muito importante e significativo escrever pensando em você, objetivando auxiliá-lo em seu processo de formação pessoal e pedagógica. Esperamos ter atingido suas expectativas! TÓPICO 4 — AVALIAÇÃO E REGISTRO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 253 COMO MONTAR UM PROJETO Montar um projeto não é um bicho de sete cabeças, mas requer um bom planejamento e muita pesquisa. Geralmente, ele é discutido e planejado entre coordenadores e professores, e cada professor faz adaptações para adequá-lo a seus alunos e as suas necessidades. Apresentamos a seguir algumas dicas para ajudar você a montar um projeto. Bom trabalho! Escolha o tema Que assunto abordar? Quando estiver pensando em um tema para seu projeto, você pode se perguntar, por exemplo, até que ponto ele vai despertar (e manter) a atenção dos seus alunos; o quanto vai contribuir para ampliar o conhecimento deles; quais são as vantagens e desvantagens de escolher esse ou aquele tema, o que ele teria a oferecer Uma boa forma de escolher um tema é conversar com seus alunos. Como eles são os maiores interessados, por que não propor uma votação? Você pode até se surpreender com o resultado. Estabeleça o objetivo (ou os objetivos) Pense no que você pretende conseguir com esse projeto. Provavelmente, surgirão muitas metas. Para não se perder em meio a tantos objetivos, você pode se perguntar: “O que gostaria que meus alunos (e/ou todos os participantes desse projeto) aprendessem com ele?”. Pesquise Procure informações a respeito do tema escolhido em diferentes fontes (jornais, livros, revistas, internet, filmes etc.) e certifique-se de que seus alunos poderão encontrar material suficiente na biblioteca da escola (é um dos primeiros lugares em que vão pesquisar). Caso sua escola não tenha uma, verifique qual a mais próxima e peça ajuda à comunidade, solicitando empréstimo de livros, jornais, revistas etc. A internet também pode ser uma boa aliada nesse momento. Planeje o projeto Que atividades você vai propor aos alunos? De que materiais ou ferramentas vocês vão precisar? Isso vai gerar algum custo (para a escola e/ ou para os alunos)? Como você vai conduzir o projeto? Que disciplinas serão abordadas? Quantas aulas você usará para executá-lo? Que estratégias vai usar para incentivar os alunos e manter o interesse deles? As respostas a essas perguntas nortearão seu trabalho e orientarão os procedimentos seguintes. Nesse momento, é importante trocar ideias com os colegas e com a coordenação da escola. Faça uma previsão do que poderia se LEITURA COMPLEMENTAR 254 UNIDADE 3 — AÇÃO E INTERAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL tornar um “fator complicador” (a necessidade de comprar algum material, por exemplo) e pense em alternativas possíveis para o caso de algo não dar certo. Organize seu projeto por etapas e monte um cronograma para ajudar a turma a não se dispersar. Na hora de formalizar o projeto e colocá-lo no papel, você pode se basear no esquema a seguir. Tema • Série a que se destina. • Duração. • Justificativa (explique por que você escolheu esse tema). • Objetivos. • Conteúdos trabalhados (cite que disciplinas e assuntos serão abordados). • Estratégias/procedimentos (explique como você pretende alcançar os objetivos). • Material necessário (relacione que recursos serão necessários). • Avaliação (cite como você pretende avaliar os alunos). Sensibilize seus alunos Converse abertamente com sua turma e fale sobre o projeto. Exponha seus planos com animação. Isso certamente vai contagiar os alunos. Planeje as atividades de forma a permitir que eles escolham aquelas em que preferem participar e prepare-se para alterar atividades de que eles absolutamente não gostarem. Lembre-se: se eles não se entusiasmarem com a ideia do projeto, o resultado poderá ser comprometido. Você pode começar o projeto com um filme, uma notícia, um evento, uma música, um livro, enfim, algo que prenda a atenção da turma para o que virá. Mostre os resultados À medida que o projeto for “caminhando”, ajude a turma a expor os resultados para que outras classes vejam o seu progresso. Se possível, organize com eles um mural em um lugar que os pais tenham acesso; assim, eles poderão acompanhar o trabalho dos filhos. Se houver recursos (computador, acesso à internet, editor de html), sua turma pode montar uma página na internet com os resultados do projeto. Outra opção é publicá-los em um livro produzido pelos próprios alunos. Avalie o projeto com a turma Organize um painel em que a classe possa expor o que mais a agradou e o que não foi tão bom. Dê seu parecer e ouça o que os alunos têm a dizer. Você alcançou seus objetivos (ou pelo menos um deles)? E os pais, têm algo a dizer? Aproveite críticas e sugestões para aperfeiçoar os projetos futuros. FONTE: . Acesso em: 10 set. 2020. 255 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • A avaliação deve servir basicamente para “intervir, modificar e melhorar a nossa prática, a evolução e a aprendizagem dos alunos”. • Nossa forma de avaliar revela nossas concepções sobre a aprendizagem, infância e educação. • A avaliação na Educação Infantil se tornou mais descritiva, menos comparativa, mais singular. • Uma avaliação mal feita pode repercutir negativamente na vida escolar de nossas crianças. • Observar as crianças enquanto brincam, é uma excelente maneira de avaliá-las. • Quando um professor registra, está exercitando também profunda reflexão e avaliação de sua própria prática pedagógica. • A organização dos registros pode ser sob a forma de portfólios, dossiês ou arquivos biográficos. • Os portfólios são caixas ou pastas que recolhemos trabalhos produzidos pelas crianças através de variadas modalidades de expressão durante um período de tempo. • De origem francesa, os dossiês referem-se à organização de materiais sobre temas e assuntos. • O arquivo biográfico constitui-se em um valioso documento de acompanhamento que busca oferecer aos protagonistas (crianças, professores e pais) a oportunidade de reouvir, revisitar, relembrar experiências e acontecimentos que marcaram significativamente suas histórias na escola de Educação Infantil. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 256 1 Com relação à nossa prática, à evolução e à aprendizagem dos alunos, Bassedas, Huguet e Solé (1999) afirmam que a avaliação deve servir basicamente para: a) ( ) Intervir, repetir e reforçar. b) ( ) Intervir, modificar e melhorar. c) ( ) Intervir, insistir e repetir. d) ( ) Intervir, retomar e reforçar. 2 Analise a tirinha a seguir e responda às perguntas: FIGURA – TIRINHA DA MAFALDA FONTE: . Acesso em: 20 jan. 2020. a) De quem a Mafalda está falando? b) Qual a mensagem subliminar que Mafalda deseja nos transmitir? c) Mafalda mostra-se satisfeita com os conhecimentos que vai adquirir? Ela os considera essenciais? d) Qualidade ou quantidade de informações? Qual é a maneira de lidar hoje com o conhecimento? 3 Qual é a importância do registro para o professor? Assinale a alternativa CORRETA: AUTOATIVIDADE 257 a) ( ) Entregar esse material para seus gestores. b) ( ) Estar em dia com os fins burocráticos. c) ( ) Refletir e avaliar sua própria prática pedagógica. d) ( ) Treinar sua escrita e sua capacidade de síntese. 4 Essa palavra é de origem inglesa e vem sendo usada principalmente para registrar ações realizadas por artistas plásticos, modelos fotográficos, entre outros profissionais. De que palavra estamos nos referindo? Assinale: a) ( ) Dossiê. b) ( ) Arquivo biográfico. c) ( ) Portfólio. 5 Em uma dimensão mais pedagógica, os portfólios são obras em processo, ou seja, vão sendo construídos pelas crianças e professores, durante um período de tempo. A partir disso, descreva três características de um portfólio: 258 REFERÊNCIAS ANTUNES, C. Professores e professauro: reflexões sobre a aula e práticas pedagógicas diversas. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. BARBIER, J. Elaboração de projetos de acção e planificação. Porto: Porto Editora, 1993. BARBOSA, M. C. S. Por amor e por força: rotinas na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006. BARBOSA, M. C.; HORN, M. G. S. Projetos pedagógicos na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008. BASSEDAS, E.; HUGUET, T.; SOLÉ, I. Aprender e ensinar na educação infantil. Trad. Cristina Maria de Oliveira. Porto Alegre: Artmed, 1999. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017. BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília, 2010. BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, 1998. v. 1, 2, 3. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. Acesso em: 24 jan. 2020. EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN, G. As cem linguagens da criança. A abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre, 1999. ELIAS, M. D. C. Célestin Freinet: uma pedagogia de atividade e cooperação. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. ELIAS, M. D. C. (Org.). Pedagogia Freinet. Teoria e prática. Campinas: Papirus, 1997. FERNANDES, E. O sujeito epistêmico de Piaget. Nova Escola, São Paulo, 2012. Disponível em: https://bit.ly/35HfPnw. Acesso em: 09 jun. 2021. FERRARI, M. Jean Piaget, o biólogo que colocou a aprendizagem no microscópio. Nova Escola, São Paulo, 2012. Disponível em: https://bit.ly/35GcVj0. Acesso em: 09 jun. 2021. FERRAZ, M. H.; FUZARI, M. F. Metodologia do ensino da arte. São Paulo: Cortez, 1993 (Coleção Magistério 2º Grau. Série Formação do Professor). 259 FONTANA, R.; CRUZ, N. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997. FREIRE, M. Aspectos pedagógicos do construtivismo pós-piagetiano II. In: GROSSI, Ester; BORDIN, J. (Orgs.). Construtivismo pós-piagetiano. Petrópolis: Vozes, 1993. GANDINI, L.; EDWARDS, C. (Orgs.). Bambini: a abordagem italiana à educação infantil. Trad. Daniel E. Burguño. Porto Alegre: Artmed, 2002. HOYUELOS, A. La ética em el pensamiento y obra pedagógica de Loris Malaguzzi. Barcelona: Ediciones Octaedro, 2004. LIPMAN, M.N. Diálogos vygotskianos. Porto Alegre: Artmed, 1997. MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. (Orgs.). A constituição da pessoa na proposta de Henri Wallon. São Paulo: Loyola, 2004. MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. NASCIMENTO, K. S. Desenvolvimento infantil: a importância de brincar. Revista Alô Bebê, São Paulo, n. 3, 2000. Disponível em: https://www.alobebe.com.br/ revista/a-importancia-de-brincar.html,351. Acesso em: 09 jun. 2021. OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; AZEVEDO, A. O desenvolvimento profissional das educadoras de infância: entre os saberes e os afetos, entre a sala e o mundo. In: KISHIMOTO, T. M. (Org.). Formação em contexto: uma estratégia de integração. Pioneira Thompson Learning. São Paulo, 2002. OLIVEIRA, Z. R. de. Educação infantil: fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008. OSTETTO, L. Educadores na roda da dança: formação-transformação. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006. OSTETTO, L. E.; OLIVEIRA, E. R.; MESSINA, V. da S. Deixando marcas: a prática do registro no cotidiano da educação infantil. Florianópolis: Cidade Futura, 2001. ROSSETI-FERREIRA, M. C. Os fazeres na educação infantil. São Paulo: Cortez, 2007. SANTOMÉ, J. Globalização e interdisciplinaridade. Porto Alegre: Artmed, 1998. VYGOTSKY, L. S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone; EDUSP, 1988. 260 VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos e superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. WARSCHAUER, C. A roda e o registro: uma parceria entre professor, alunos e conhecimento. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. ZABALZA, M. Á. Diários de aula: contributo para o estudo dos dilemas práticos dos professores. Porto: Porto Editora, 1994. ZABALZA, M. Á. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. e, desta forma, mesmo sem conhecer as horas, estabelecem suas próprias relações com a questão do tempo. Com o avançar da idade, sentem-se interessadas em saber sobre as horas, os dias da semana, os meses e assim por diante. FIGURA 19 – O TEMPO FONTE: . Acesso em: 30 maio. 2021. Barbosa (2006, p. 151) questiona: 124 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS A quem pertence o tempo? Às instituições? Aos professores? Às crianças em grupo ou no singular? Um dos objetivos centrais da temporalização da vida das crianças está relacionado à estruturação do tempo coletivo, mas deve-se fazer isso sem deixar de respeitar os tempos pessoais. 3 ROTINA E PLANEJAMENTO: O PAPEL DO PROFESSOR De acordo com Ostetto (2004), o educador deve assumir o planejamento educativo como um momento reflexivo, pois ele não é apenas um papel que preencherá, é atitude e envolve todas as ações e situações cotidianas presentes em seu trabalho pedagógico. E quando este mesmo educador pensar a rotina, deve fazê-lo de modo a criar espaço para os cuidados básicos em consonância com a aprendizagem das crianças por meio da interação individual ou coletiva. FIGURA 20 – PLANEJAMENTO FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Para o aprofundamento teórico destas e outras questões pertinentes à Educação Infantil, sugerimos a leitura das seguintes bibliografias: • LOPES, A. C. T. Educação infantil e registro de práticas. Cortez, 2009. • SCHILLER, P. ; ROSSANO, J. Ensinar e aprender brincando: mais de 750 atividades para a educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008. • MILLER, K. Educação infantil: como lidar com situações difíceis. Porto Alegre: 2008. KRAEMER, M. L. Aprendendo com criatividade. São Paulo: Autores Associados, 2010. DICAS TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 125 Neste sentido, o planejamento torna-se indispensável. Todos os detalhes devem ser pensados, pois muitos momentos diferentes formam a proposta pedagógica da Educação Infantil, que hoje não pode mais ser encarada de maneira assistencialista, ou seja, o lugar onde as crianças recebem apenas os “cuidados” e a educação, o estímulo e a cognição não teriam espaço. Considerando a quantidade de horas que as crianças passam no cenário ‘escola’, é fácil pensar que este ambiente será de significação relevante na história e na vida delas e que, portanto, deve ser devidamente pensado e planejado em função dos objetivos, dos sujeitos. Trata-se de utilizar a escola como uma ferramenta pedagógica (MUNTAÑOLA, 1980 apud ARRIBAS, 2004, p. 364). O educador infantil deve ser consciente da importância de seu papel na vida das pequenas crianças, conhecê-las profundamente, estabelecer laços de afetividade com elas e, principalmente, estar ciente de todas as etapas que compõem o desenvolvimento infantil. Desta forma, planejará suas ações pautadas nas Múltiplas Linguagens e nos Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, de acordo com a BNCC da Educação Infantil, em seus Campos de Experiências, possibilitando o desenvolvimento integral das crianças. Na hora de planejar, o que não pode faltar? Em primeiríssimo lugar, o respeito pelas crianças em suas especificidades, de acordo com a faixa etária do grupo. Em seguida, deve-se pensar nas experiências essenciais às crianças, como: a brincadeira, o movimento, a autonomia, a identidade, a linguagem oral, a música e a arte. Vale a pena investir em um planejamento que se aproveite destas “palavras mágicas” tão presentes no mundo infantil. Para Ostetto (2004, p. 190), Elaborar um “planejamento bem planejado” no espaço da Educação Infantil significa entrar na relação com as crianças (e não com os alunos!), mergulhar na aventura em busca do desconhecido,construir a identidade de grupo junto com as crianças. Assim, mais do que conteúdos da matemática, da língua portuguesa e das ciências, o planejamento na Educação Infantil é essencialmente linguagem, formas de expressão e leitura do mundo que nos rodeia e que nos causa espanto e paixão por desvendá-lo, formulando perguntas e convivendo com a dúvida. Ficou interessado em saber quais são os Campos de Experiências da Educação Infantil? O Tópico 4 desta unidade abordará com mais profundidade cada um destes campos, aguarde! ESTUDOS FU TUROS 126 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS Prezado acadêmico. A seguir, traremos dicas de como se pode planejar a rotina, levando em consideração os eixos norteadores da Educação Infantil, com responsabilidade, criatividade e, acima de tudo, comprometimento com a difícil, porém encantadora, arte de cuidar/educar na Educação Infantil. Para isso, traremos as mesmas atividades sugeridas na rotina semanal que criamos, elencando seus principais objetivos e incorporando-os à prática, pode ser? Vamos lá, então! Acolhida • É um dos momentos mais importantes, pois conforme o próprio nome já diz:é o momento de acolher, receber a criança e oferecer-lhe a certeza de que estará em boas mãos enquanto os pais não estarão com ela. • Essa acolhida precisa ser calorosa, amorosa, verdadeira. • A criança precisa sentir que a professora está feliz em vê-la e que está disposta a estar com ela, em todos os momentos, até a volta dos pais. FIGURA 21 – ACOLHIDA FONTE: . Acesso em: 8 ago. 2020. Parque/Brincadeiras • As crianças amam os parques porque se divertem ao ar livre. Nestes espaços é que se possibilita facilmente desenvolver atitudes de preservação ecológica (o professor deve aproveitar essa oportunidade). • Enquanto brinca a criança interage e convive com os colegas, desenvolvendo sua imaginação, autonomia, identidade e movimento. • Crianças transformam tudo o que encontram em brinquedos. Adoram a caixa de areia e brinquedos de plástico que facilitem seu transporte de um canto a outro ou que se transformam em panelas de comida ou formas de bolo, para as incríveis receitas ali mesmo preparadas. • É através da brincadeira que a criança entende o mundo, ampliando seu universo de informações. TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 127 • Brincar é um direito que as crianças têm – o professor pode e deve envolver- se nas brincadeiras e tornar estes momentos tão prazerosos em experiências educativas. FIGURA 22 – PARQUES FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Roda do Canto/Musicalização • É a hora de “pôr a voz para fora”: até as crianças mais tímidas adoram cantar. • Através da música, é possível estreitar laços com as crianças e até mesmo com as próprias famílias, quando se faz, por exemplo, um resgate das canções de ninar. • As canções podem vir acompanhadas de palmas, rodas, cirandas, dramatizações etc. ampliando a atenção e a percepção sonora das crianças. • Aos poucos, a criança vai ampliando seu repertório, desenvolvendo cada vez mais a fala, a escuta atenta, a participação e a memória. • Através do manuseio de instrumentos musicais ou de sucata, as crianças começam a compreender os diferentes ritmos e sons. • Todos devem participar na escolha das canções. Cabe ao professor coordenar esta tarefa (em forma de rodízio, ajudante do dia). • É importante selecionar músicas de qualidade, sempre! FIGURA 23 – RODA DO CANTO FONTE: . Acesso em: 8 ago. 2020. 128 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 24 – CD PALAVRA CANTADA FONTE: . Acesso em: 30 maio. 2021. Higiene/escovação/descanso • É um dos primeiros sentimentos de independência de que a criança desfruta na instituição. Para ela, escovar os dentes ou lavar as mãos sozinha representa uma grande conquista, tanto que é bem comum a professora ter que intervir para que feche a torneira, pois ela perde literalmente a noção do tempo, enquanto “brinca” com a água. • Quando participa efetivamente dos cuidados com o próprio corpo, a criança aprende a conhecê-lo melhor. Aos poucos, vai aprendendo a lavar e secar as mãos, fazer xixi e cocô sem utilizar a fralda e limpar-se sozinha (este é um processo lento que precisa ser estimulado gradativamente); dar descarga, assoar o nariz e escovar os dentes. • Durante a escovação, é importante auxiliar de perto as crianças e administrar o creme dental sobre a escova – elas acabam “comendo mais creme” do que escovando os dentes, até porque hoje eles possuem cheiros e gostos bastante atrativos. Você já ouviu falar nos CDs da “Palavra Cantada”? Sandra Peres e Paulo Tatit são músicos compositores e produtores. Eles escrevem canções infantis que valorizam a inteligência e a sensibilidade inata das crianças, integrando a riqueza da tradição musical brasileira a um novo repertório. Em 2019, eles comemoraram 25 anos de muito sucesso nos palcos, instituições e lares infantis! Vale a pena conhecer! DICAS TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 129 • As fraldas devem ser trocadas sempre que houver necessidade e com todos os cuidados possíveis. É importante evitar a exposição das crianças – sugerimos um cantinho mais reservado da sala. Enquanto a criança está sendo trocada, o ideal é que se converse, cante ou que se sorria para ela, transformando este momento em algo gostoso, natural. Deve-se evitar qualquer comentário negativo à criança, por exemplo: “Nossa, que cocô fedido”, ou, então, “Nossa, quanto cocô você fez hoje!” entre outros, pois a criança pode entender que você não gosta de limpá-la, preferindo trancar suas fezes. Para Gutierrez (apud ARRIBAS, 2004, p. 36): Os hábitos relacionados à higiene têm duas vertentes: uma de relação, outra de educação. No aspecto de relação, a limpeza se apresenta para criar uma imagem positiva do próprio corpo. Este modelo vem dos adultos. No aspecto da educação, é necessário perceber a riqueza dos prazeres que a higiene proporciona ao corpo, a abundância de sensações que ativa e seu significado para a saúde psicofísica, assim como a quantidade de valores e diretrizes que transmite nos hábitos que estão relacionados a ela. • O momento do descanso é muito mais comum nas creches ou escolas de tempo integral, onde as crianças permanecem mais tempo, sendo opcional nas escolas em que ficam apenas um dos períodos. Ele deve representar um momento tranquilo na rotina da criança. Para isso, sugerimos berços ou colchonetes em salas específicas, distantes do barulho e com música clássica ao fundo. A criança poderá auxiliar na hora de arrumar as “camas”, sentindo- se segura nesta tarefa por estar acompanhada da professora e demais colegas. Outra dica interessante é deixá-la trazer de casa seu travesseiro, cheirinho ou bichinho de pano (antialérgico) para a hora do descanso. FIGURA 25 – HORA DO SONINHO FONTE: . Acesso em: 11 ago. 2020. • Na hora de despertar as crianças de seu soninho, deve-se fazê-lo com muita cautela, com voz baixa, afago nos cabelos, delicadeza. Nem todas as crianças despertam bem humoradas e dispostas. 130 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS Alimentação • Ao se dirigir ao lanche ou refeição, cada criança (com exceção dos bebês que devem ser alimentados e conduzidos ao local) deve ser incentivada a: o carregar sua própria lancheira ou prato de comida até a mesa, com equilíbrio e cuidado; o sentar-se à mesa e aguardar que todos estejam acomodados; o cantar ou rezar, conforme o hábito da instituição; o abrir a lancheira ou servir-se sozinha; o trazer ou comer alimentos saudáveis; o abrir potes, segurar o prato e os talheres, controlar a quantidade de comida que leva à boca, comer mastigando bem e segurar seu copo com líquido. • Assim que terminar, cada criança deve: o recolher suas coisas; o jogar cada lixo na lixeira adequada (plásticos, papel, restos de comida etc.); o os maiores já podem até deixar a louça suja na pia; o aguardar os colegas terminarem ou a professora liberá-los para a escovação. • Desta forma, são trabalhados diferentes conceitos com as crianças: autonomia (enquanto realizam as tarefas sozinhas), alimentação saudável e tranquila, paciência (ao aguardarem o tempo dos outros colegas para concluírem sua refeição), reciclagem (na separação dos lixos), cooperação (um podendo ajudar o outro), empatia e solidariedade (quando a professora os auxilia nas tarefas mais difíceis) e finalmente alegria, porque comer deve ser algo prazeroso e feliz para as crianças. • Pode-se experimentar diferentes estratégias com as crianças para que elas desenvolvam hábitos de alimentação saudável. Uma boa dica é oferecer aulas de culinária – as crianças adoram! Outra dica é construir com elas uma horta escolar, onde elas desenvolvam o gosto pelo plantar, cuidar e colher os alimentos, levando-os posteriormente à mesa, em forma de salada, sopa ou torta de legumes. O ideal é envolvê-las, também, no processo de cozimento ou preparo destes alimentos. Elas sentem-se desafiadas a experimentar tudo o que venha a ser fruto do trabalho e envolvimento delas, porém é importante respeitar o gosto de cada criança, não devendo obrigá-las a comer o que não gostam. TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 131 FIGURA 26 – ALIMENTAÇÃO FONTE: . Acesso em: 11 ago. 2020. Formação • Em todos os momentos da rotina, é preciso trabalhar valores com as crianças. Estes valores referem-se aos conteúdos atitudinais, ou seja, atitudes que as crianças têm com elas mesmas e com os outros. • Deve-se trazer questões pertinentes ao convívio familiar e escolar, como a questão das brigas, palavrões, mentiras, preguiça, birra infantil, teimosia, choro desnecessário, falta de limites, desrespeito com os colegas ou com a natureza, desperdício, desobediência, intolerância, entre outros. • O professor pode aproveitar as situações que observa no dia a dia para trabalhar estes conceitos, e isto pode ser feito através de canções, teatros de fantoches, dramatizações, leitura de histórias ou roda de conversa. • Pode-se aproveitar toda e qualquer oportunidade para trabalhar a formação humana entre as crianças, pois, assim, favoreceremos seu crescimento emocional e pessoal, o que poderá lhes servir por toda a vida. • A escola precisa trabalhar mais os conceitos atitudinais entre as crianças, desde o berçário, para que tenhamos no futuro pessoas mais humanas, sensíveis e comprometidas com o bem-estar da humanidade. 132 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 27 – PARCERIA FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Leitura de história • Ler histórias é fundamental em todas as idades, mas, na Educação Infantil, este ato é ainda mais valorizado, pois, pelo fato de as crianças ainda não lerem, ouvir histórias torna-se essencial para o desenvolvimento da imaginação, da fantasia e do encantamento. • Ler para os pequenos nos traz sensações agradáveis, pois eles interagem com a história, acreditam em tudo o que ouvem e os olhos brilham e arregalam-se diante de cada nova página ou gravura. • As crianças amam os livros e muitas vezes são fiéis a eles, pedindo que se leia a mesma história “milhões” de vezes (chegam a decorar trechos, é impressionante o tamanho do fascínio que uma história bem lida pode acarretar nas crianças). • O professor pode incentivá-las a “ler” as imagens sozinhas, manusear livremente as obras e contar espontaneamente o que “leram” aos colegas. • Quanto mais livros na sala, melhor! • Ao professor, cabem duas tarefas básicas e, diríamos até, obrigatórias: selecionar obras de qualidade para ler às crianças; e preparar anteriormente a leitura, para dar à história mais vida, entonação e emoção. TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 133 FIGURA 28 – HORA DA HISTÓRIA FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Psicomotricidade/Movimento • Quando falamos em psicomotricidade, não estamos nos referindo apenas aos momentos de recreação, de educação física, pois ela se encontra até mesmo no ato de abrir e fechar a mochila, pegar os materiais na estante ou recolher os brinquedos, afinal, usamos o corpo o tempo todo para aprender. • A recreação/educaçãofísica trabalha com atividades/exercícios, que estimularão ainda mais o corpo, para que a criança se descubra e desenvolva a consciência corporal. • Esta descoberta do próprio corpo, através da psicomotricidade, trará às crianças o desenvolvimento da atenção, percepção visual e auditiva, coordenação motora ampla e fina, orientação espacial, lateralidade, além da habilidade em observar, comparar, medir, classificar e ordenar. • Através destes momentos, desenvolve-se uma série de novas sensações nas crianças: alegria, cooperação, competição, liberdade, diversão, disputa, equilíbrio, agilidade, flexibilidade, resistência, respiração adequada, compreensão de regras, limites, vitórias e derrotas (aprendendo a ganhar e perder), autocontrole, paciência, tolerância, entre outras. • A massagem e o alongamento são excelentes recursos para a estimulação corporal dos bebês, aconselhados igualmente às crianças maiores. 134 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 29 – PSICOMOTRICIDADE FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Atividade artística/jogo • A hora de realizar atividades é o momento em que o professor consegue perceber a evolução individual de cada uma de suas crianças. É o momento de fazê-las experimentar toda a sua autenticidade, criatividade, imaginação e percepção de mundo. • Para cada dia, pedem-se novos desafios: recortar, colar, pintar, desenhar, realizar contagens, estabelecer relações, construir conceitos, enfim, deixar o espaço livre para manifestarem todo tipo de conhecimento. • As atividades precisam ser elaboradas com antecedência, dentro do planejamento do professor, respeitando a faixa etária do grupo, de forma criativa e contextualizada, de acordo com a temática escolhida. • Estas atividades agrupadas por temas ou semestres devem compor um portfólio individual da criança, para que sirvam de registro escrito e possam ser acompanhadas e apreciadas pelas famílias. • O jogo com objetivos pedagógicos significa um importante instrumento educativo às crianças. Brincando elas aprendem uma série de conceitos e regras. O professor pode criar ou adaptar os jogos de acordo com as temáticas de estudo. • Quando a criança não leva o jogo para casa, para mostrar aos pais, pode- se realizar um registro fotográfico de cada etapa e montar um pequeno informativo, explicando o objetivo, as regras e o resultado daquele jogo. Todos recebem este informativo e, cada dia, uma criança pode levar o jogo para casa e ensiná-lo aos pais, com o compromisso de trazê-lo de volta no dia TÓPICO 2 — A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA E O PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 135 seguinte. Os pais podem escrever um depoimento a respeito do dia em que o “jogo” esteve em sua casa e podem, inclusive, fotografar este momento, para que fique registrado no portfólio de todas as crianças. FIGURA 30 – JOGO EM FAMÍLIA FONTE: . Acesso em: 30 maio. 2021. Linguagem Oral/Inglês • Na Educação Infantil, a língua estrangeira acontece muito mais na oralidade, não há obrigação de registros escritos. Ela se dá através da música, de pequenos vídeos, de conversação e jogos (brincadeiras). • O ideal é que a professora utilize o vocabulário da criança e dentro da temática estudada pelo grupo, pois, havendo contextualização, há maior compreensão de uma segunda língua. • Sugere-se a introdução dessa segunda língua após os três anos de idade, já que os menores encontram-se ainda no processo de aquisição da língua materna. FIGURA 31 – AULAS DE INGLÊS FONTE: . Acesso em: 30 maio. 2021. 136 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS Despedida • Despedir-se é um momento tão especial quanto acolher. É necessário entregar a criança aos pais com todo o carinho e atenção. Deve-se relatar a eles qualquer fato que tenha sido importante na rotina daquele dia, com relação àquela criança: machucou-se, bateu no colega, teve dor, chorou, foi ao banheiro muitas vezes, não comeu, entre outras questões que possam ser pertinentes ao conhecimento dos pais. • Também é interessante relatar pequenos progressos, falas engraçadas, momentos em que exercitou autonomia, liderança, enfim, os pais adoram receber notícias deste tipo ao buscarem seus filhos. Esta relação os aproxima dos professores, estabelecendo laços de confiança e tranquilidade. • Antes de entregar a criança, deve-se verificar se ela está levando para casa tudo o que trouxe para a instituição (casaco, mochila, sapato, camisa reserva, material de higiene etc.); se está com o rosto, o nariz e as mãos limpas (nenhum pai aprecia receber a criança em condições ruins de higiene). • Despedir-se da criança com um abraço ou beijo estreita seus laços com ela e lhe passa a certeza de que deseja revê-la no dia seguinte. FIGURA 32 – DESPEDIDA FONTE:.Acesso em: 30 maio 2021. 137 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Rotina é tudo o que acontece na instituição, desde o horário de entrada e saída das crianças, a hora do lanche, da higiene, da história, da brincadeira, do canto, entre outras atividades que compõem o cotidiano da Educação Infantil. • É preciso estabelecer uma fortíssima relação entre o cuidar e o educar. • As necessidades básicas das crianças como a alimentação, o descanso e a higiene são tão importantes quanto as necessidades de interação, afetividade e cognição. • Devemos levar em conta, principalmente, a idade das crianças. Não se aconselha planejar atividades que ultrapassem o tempo de concentração delas. • Na elaboração das rotinas é interessante equilibrar a intensidade delas, intercalando atividades mais calmas e agitadas, individuais ou coletivas, que incentivem a concentração ou a cooperação, que estimulem a autonomia ou o trabalho em equipe. • A rotina planejada não deve ser considerada pronta e acabada, ou seja, fechada a novos desafios e tampouco gerar frustraçõesaoeducadorpelanãorealização de algum item em função de outro mais interessante ou pela falta de tempo hábil para seu cumprimento. Esta rotina precisa ser flexível e prever novas situações, auxiliando as crianças a lidarem com os imprevistos. • Quando o educador pensa sua rotina, ele deve criar espaço para os cuidados básicos em consonância com a aprendizagem das crianças através da interação individual ou coletiva. 138 1 A partir de tudo o que você aprendeu a respeito dos espaços, tempo, planejamento e eixos norteadores da Educação Infantil, elabore uma rotina semanal (diferente desta que criamos no livro didático) para uma turma de crianças de três anos. Capriche! Seja criativo e explore ao máximo tudo o que você considera importante para esta faixa etária. AUTOATIVIDADE Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira 2 O educador infantil deve ser consciente da importância de seu papel na vida das pequenas crianças, isto é, conhecê-las profundamente. Explique com suas palavras o que é rotina na educação infantil e por que ela é importate. 3 Em todos os momentos da rotina, é preciso trabalhar valores com as crianças. Cite duas características importante que devem ser levadas em consideração na elaboração da rotina. 4 As rotinas são extremamente importantes na educação infantil, pois elas auxiliam na organização do trabalho pedagógico. Com base nisso, classifque V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A rotina pode ser planejada junto com as crianças. ( ) A rotina precisa vir pronta e não pode ser alterada, pois sua flexibilização poderia atrapalhar o planejamento do professor. ( ) Ao ser elaborada, a rotina precisa levar em conta a idade das crianças. ( ) O professor deve levar em conta o cuidar e o educar, na hora de planejar a sua rotina. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – V – V. b) ( ) F – F – V – F. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – F – V. 139 5 Na frase “Quando o educador pensa a rotina da turma, ele deve criar espaço para os cuidados básicos em consonância com a aprendizagem das crianças”. Existe um meio para isso. Sobre esse meio, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Imaginação. b) ( ) Interação. c) ( ) Disciplina. d) ( ) Educação. 140 141 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Quando falamos em autonomia logo nos vem à cabeça a questão da independência, ou seja, o “saber se virar sozinho”, pois um sujeito autônomo é aquele que sabe aonde quer chegar e os caminhos que precisa percorrer, seguindo suas próprias leis e tomando decisões, sem precisar da opinião ou ajuda constante do outro. E isto não é tão fácil quanto parece, principalmente se não formos “desafiados” para isso, desde a primeira infância. Quando não somos estimulados a desenvolver a autonomia, nos tornamos cidadãos normalmente acomodados e passivos diante das adversidades da vida, aceitando com tranquilidade as “coisas” tais como se apresentam. Dê uma olhada a sua volta e verifique: entre os adultos que o cercam, quantos preferem deixar que os outros decidam, intercedam por eles ou liderem ações simples do dia a dia por não se sentirem capazes, desafiados ou competentes para a realização daquela determinada função? Quantas vezes, eles deixam de tentar sozinhos algo que com certeza dariam conta, por pura insegurança, falta de iniciativa ou medo de errar? Com as crianças, isso dificilmente acontece. Elas são naturalmente autônomas e não se preocupam com o que os outros vão dizer, se estarão “certas ou erradas”, se “estragarão algo” na tentativa de “consertar”, se aquilo tem que ser feito “desse ou daquele jeito”, enfim, dificilmente pedem opinião, pois seguem seus instintos: são corajosas e curiosas por natureza. Para tratarmos destas questões, abordaremos, neste tópico, o desenvolvimento da independência na aprendizagem, a pedagogia da autonomia de acordo com Paulo Freire e a construção da identidade, como pressupostos para uma infância autônoma, consciente e feliz. Boa leitura! TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 142 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 33 – AUTONOMIA FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. 2 O DESENVOLVIMENTO DA INDEPENDÊNCIA NA APRENDIZAGEM Prezado acadêmico! Como futuro educador, uma pergunta pode pipocar seus pensamentos neste momento: Como desenvolver a independência/autonomia nas crianças? A resposta, porém, é muito simples: dando-lhes a oportunidade de fazer escolhas. Isso mesmo, deixando-as tomar decisões, não o tempo todo, é lógico, mas em determinadas situações. Este exercício tão simples fará a grande diferença na vida de nossas crianças, constituindo-as como “sujeitos ativos e participativos” no próprio processo de ensino-aprendizagem. Quando o professor toma todas as decisões na condução da aula, há pouco espaço para a construção autônoma, pois é ele quem decide tudo: o que vai acontecer, como vai acontecer, quem fará o que e de que forma tem que ser feita esta ou aquela atividade. Perde-se, neste momento, a grande oportunidade de desenvolver a criatividade, a responsabilidade, a iniciativa e a independência, que funcionariam como geradoras de autonomia. Já o professor que permite em suas aulas atividades que levarão as crianças a pensar, atentar sozinhas e a gerir o próprio conhecimento, em comunhão com o grupo de maneira dinâmica, promove situações de aprendizagem significativas. Para isso, cabe ao professor “facilitar” a independência das crianças deixando brinquedos e materiais ao alcance delas em mobília mais baixa, em caixotes ou prateleiras. Desta forma, o acesso a estes materiais será favorecido, como já vimos no Tópico 1 desta unidade, dispensando o auxílio da professora. O professor pode também simular momentos em que ele precisará da ajuda das crianças, como, por exemplo, na preparação da mesa do lanche, na entrega de materiais ou atividades para a turma, enfim, pode criar situações em que as crianças desenvolvam a autonomia ajudando/cooperando com os colegas TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 143 ou com a professora, mudando a forma autoritária e individualista a que estamos acostumados na maioria das escolas. Segundo Ceccon, Oliveira e Oliveira (1982, p. 71), “[...] a escola como está organizada não estimula a solidariedade, a ajuda mútua entre os alunos ou o trabalho em equipe”. E é isto que queremos e precisamos mudar! Outra dica bem interessante é criar o “ajudante do dia”, que auxiliará a professora e a turma em tudo o que for preciso. As crianças adoram e cooperam com muita disposição e alegria. Como afirma Kamii (1997, p. 108): A essência da autonomia é que as crianças tornem-se aptas a tomar decisões por si mesmas. Mas, [...] a autonomia significa levar em consideração os fatos relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade quando se considera apenas o próprio ponto de vista. É preciso encorajar a criança a tentar sozinha, desde as mais simples tarefas como: pendurar, abrir e fechar a lancheira, lavar as mãos, escovar os dentes, retirar e depois guardar o próprio lanche, comer sozinha, recortar, colar, desenhar, falar em voz alta, entre outras coisas. No início, a criança precisa conhecer a rotina; precisa de modelos do que deve ser feito; precisa que a ensinemos a fazer, que a acompanhemos passo a passo durante as primeiras tentativas, mas, aos poucos, vai se tornando cada vez mais autônoma e, do seu jeito, dentro do seu ritmo e faixa etária, vai conquistando sua independência. FIGURA 34 – INDEPENDÊNCIA FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. E como fazer isso? Para auxiliá-lo na compreensão deste tópico, trazemos dicas práticas de como desenvolver a autonomia das crianças, tornando-as independentes e felizes na realização de tarefas: 144 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS QUADRO 4 – DICAS PARA DESENVOLVER A AUTONOMIA DAS CRIANÇAS Converse com os pais para que as crianças tragam seu próprio material à sala de aula. Assim que chegarem à sala, receba a todos de maneira atenciosa e carinhosa e incentive as crianças a pendurarem sua mochila ou guardarem seus materiais sozinhas, em local previamente combinado. Dê as coordenadas, mas deixe que a criança execute sozinha seus pedidos. Exemplo: escolha brinquedos na caixa, pegue uma almofada e junte-se ao grupo, busque a pasta de atividades etc. Na hora do canto ou da história, sente-se com uma almofada no chão e aguarde que todos façam o mesmo a sua volta. Se for necessário, nas primeiras vezes, dê o comando. Com o passar do tempo, quando você se sentar, eles entenderão o que deve ser feito sem que você o diga. Na hora do lanche, incentive-as a lavar as mãos e a usar o banheiro sozinhas. Os menores (zero a três anos) precisarão de ajuda, os maiores (quatro a seis anos) já tentarão sozinhos. Ainda na hora do lanche, demonstre a forma de sentar, de abrir a lancheira, retirar, abrir e fechar os potes ou garrafinhas, servir-se ou conduzir o prato até a mesa e, aos poucos, deixe as crianças tentarem. Cada dia, deve ser dado um pouquinho mais de autonomia à criança. Ela precisa ser encorajada a tentar, mesmo que mostre resistência ou diga que não consegue. Mostre a ela que é capaz, pois ela confia em você. Incentive-a a comer sozinha, por mais “lambança” que faça, ela se sente feliz e vitoriosa quando consegue. Após lanchar, comece todo o ritual novamente: jogar o lixo na lixeira, guardar no pote o que sobrou, fechar o pote, guardar na lancheira, fechar o zíper e ir até a sala de aula, levar o prato de comida até a pia (tudo isso sozinha e no seu ritmo). Algumas crianças farão mais depressa que outras, o que pode gerar ansiedade nas que ainda não terminaram, preferindo abandonar tudo para juntar-se ao grupo. Neste momento, o professor deve fazê-la recuar e, pacientemente, acompanhá-la em todo o seu processo, mostrando a ela que o mais importante é concluir a tarefa e não ser a mais rápida. Na hora da escovação, cada criança deve identificar seu material de higiene (ela encontrará meios para isso, pois ainda não sabe ler) e encaminhar-se ao tanque para escovar os dentes sozinha. Observe a necessidade de auxiliar os que ainda não escovam direitinho e os ajude de maneira bem sutil, demonstrando, com sua escova nos seus dentes, como a criança deverá escovar os dentes dela. Desta forma, você não lhe tirará a autonomia e ela não se sentirá incapaz de realizar aquela tarefa sozinha. TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 145 Durante as atividades, deixe as crianças buscarem os materiais necessários, já disponíveis e ao alcance delas: tinta guache, cola, tesoura etc. Deixe-as opinar em relação à cor, ao formato, ao tipo de atividade que desenvolverão. Permita que sugiram, na hora do canto, as canções preferidas e que cada dia crianças diferentes possam opinar. Estimule atividades cooperativas onde as crianças precisem se ajudar. Sempre que acabarem de brincar, incentive as crianças que recolham e guardem seus brinquedos. O mesmo acontecerá com os materiais pedagógicos ou livros. Ensine-as o lugar das coisas e espere que, de maneira autônoma elas desenvolvam esta função, mas, se isto não acontecer, faça o papel de “mediador”, até que este gesto seja internalizado. Estimule suas crianças a fazerem perguntas e evite responder a questões que elas têm condições de responder sozinhas, ou seja, incentive-as a pensar, devolvendo-lhes a pergunta. Isso traz resultados mágicos, faça a experiência! FONTE: A autora Gostou das dicas? Esperamos que sim! Elas são bastante simples, porém fundamentais para o desenvolvimento da independência na aprendizagem e na vida das crianças! 3 A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA, SEGUNDO PAULO FREIRE O Livro Pedagogia da Autonomia foi a última obra publicada pelo educador brasileiro Paulo Freire em vida, em 1996. É uma obra que trata daquilo que o mestre considera como saberes necessários à prática educativa, ou seja, sobre como os professores devem ensinar os alunos a “serem muito mais”, a partir de ações transformadoras. Quando se lê o sumário da obra de Paulo Freire, “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa”, percebe-se que é um livro de grande valor educativo, um livro gigante, apesar de apresentar tamanho bem menor do que grande parte dos livros que circulam por aí. O sumário traz, em sua sequência, frases/tópicos marcantes a respeito da palavra ensinar, que poderiam nos servir perfeitamente como base de todo nosso trabalho. Leia a amostra do sumário na sequência e perceba a profundidade poética atribuída ao verbo ensinar, por Freire (1996): 146 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS QUADRO 5 – SUMÁRIO DO LIVRO: PEDAGOGIA DA AUTONOMIA 1. Ensinar exige rigorosidade metódica. 2. Ensinar exige pesquisa. 3. Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. 4. Ensinar exige criticidade. 5. Ensinar exige estética e ética. 6. Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo. 7. Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. 8. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. 9. Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural. 10. Ensinar não é transferir conhecimento. 11. Ensinar exige consciência do inacabamento. 12. Ensinar exige o reconhecimento do ser condicionado. 13. Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando. 14. Ensinar exige bom senso. 15. Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores. 16. Ensinar exige apreensão da realidade dos educadores. 17. Ensinar exige alegria e esperança. 18. Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível. 19. Ensinar exige curiosidade. 20. Ensinar é uma especificidade humana. 21. Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade. 22. Ensinar exige comprometimento. 23. Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo. 24. Ensinar exige liberdade e autoridade. 25. Ensinar exige tomada consciente de decisões. 26. Ensinar exige saber escutar. 27. Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica. 28. Ensinar exige disponibilidade para diálogo. 29. Ensinar exige querer bem aos educandos. FONTE: A autora De todos os tópicos listados por Freire (1996), escolhemos alguns para uma abordagem mais profunda (não teríamos como abordar todos, embora sejam igualmente importantes). TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 147 FIGURA 35 – TÓPICOS ESCOLHIDOS FONTE: A autora Faremos, agora, uma pequena reflexão, amparados por Freire (1996), sobre cada um dos itens selecionados anteriormente. Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos Sabemos que todas as crianças têm saberes socialmente construídos quando chegam à instituição de Educação Infantil. Elas conhecem com propriedade e sabem se posicionar a respeito de determinados assuntos, a ponto de surpreender quem estiver disposto a ouvi-las, sobretudo as crianças a partir dos três anos. Partir do conhecimento prévio das crianças nos dá subsídios para elaborar atividades ou projetos. Por exemplo, se uma criança convive com o descaso das autoridades em relação ao lixo despejado no riacho próximo de sua casa, pode- se discutir com a criança a respeito da postura dos habitantes e das autoridades, as consequências desta atitude para os demais munícipes, o problema da contaminação da água, a importância do tratamento para o consumo, enfim, uma série de assuntos poderão surgir a partir dessa situação trazida pela criança. FIGURA 35 – LIXO NO RIO FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. 148 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS Freire (1996, p. 34) desafia: “por que não estabelecer uma necessária ‘intimidade’ entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos?” Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática Todo professor precisa ter consciência de que necessita refletir a sua prática todos os dias, pois sempre há algo que se possa fazer diferente, fazer melhor ou de outras maneiras, para não cair na rotina ou na zona de conforto, dois perigosos labirintos que levam o professor ao desânimo e/ou decadência profissional. Freire indica a reflexão da prática como forma de alinhamento ao discurso teórico que permeia a prática. O "pensar criticamente" aqui, em Freire, é o pensar acadêmico, epistemológico. Para Freire (1996, p. 43): [...] na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. [...] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de por que estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar. FIGURA 36 – PROFESSOR CRIATIVO FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Ensinar não é transferir conhecimento Existe algo que, segundo Freire (1996, p. 53), é fundamental ao educador: TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 149 [...] saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula, devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não a de transferir conhecimento. Se sou capaz de oferecer momentos de construção de conhecimentos, estabelecer metas para que o aprendizado ocorra de fato e se planejo com esta convicção e com esta consciência, torno-me, neste momento, um educador por excelência. Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando O respeito defendido por Freire em relação à autonomia encontra- se profundamente interligado às ações e motivações pedagógicas, além do respeito em si. De acordo com Freire (1996, p. 66), “O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. O respeito é uma das palavras mais belas no vocabulário dos professores em relação às crianças e ao trabalho que desenvolve com e para elas. Cabe-lhes respeitar cada pequeno ser que lhe chega às mãos, independentemente da idade, classe social, cor, raça, credo ou religião. Professor que ama o que faz não faz distinções, não tem nenhum tipo de preconceito ou preferência. Dá de si o que há de melhor e busca o que há de melhor nos outros, respeitando a autonomia e a identidade de cada educando. Leva com amor a profissão e é coerente em sua prática. IMPORTANTE 150 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS FIGURA 37 – EDUCAÇÃO PARA TODOS FONTE: . Acesso em: 1 maio 2020. Ensinar exige alegria e esperança A alegria de estar com as crianças deve ser comparada ao tempero essencial de um prato que se espera degustar todos os dias. Quando estamos com fome, o tempero se torna ainda mais marcante. É assim que deve ser o nosso “gosto” para as crianças. Um gosto que desperta a fome de saber, de aprender, de viver novos conhecimentos, de compartilhar ideias, de arriscar novos “pratos”, cada dia mais saborosos, diferentes e dispostos a deixar as crianças com água na boca, com gostinho de quero mais. Um prato recheado de alegria e esperança, pois, de acordo com Freire (1996, p. 80), Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podem aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e, juntos igualmente, resistir aos obstáculos à alegria. [...] a esperança faz parte da natureza humana. FIGURA 38 – ALEGRIA NA ESCOLA FONTE: . Acesso em: 1 maio 2020. TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 151 Ensinar exige curiosidade Feliz do professor que tem alunos curiosos; Feliz do professor que tem alunos questionadores; Feliz do professor que tem alunos pesquisadores; Feliz, feliz, feliz! Feliz do aluno que tem professores que estimulam sua curiosidade; Feliz do aluno que tem professores que o incentivam a buscar respostas para seus questionamentos; Feliz do aluno que tem professores que reconhecem a importância da pesquisa e da mesma forma se tornam pesquisadores; Feliz, feliz, feliz! FONTE: A autora Freire (1996, p. 95) reforça: Como professor, devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino. Exercer a minha curiosidade de forma correta é um direito que tenho como gente e a que corresponde o dever de lutar por ele, o direito à curiosidade. [...] o exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser. FIGURA 39 – ALUNOS CURIOSOS E PESQUISADORES FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Ensinar exige comprometimento Impossível formar-se professor sem saber disso. Sem ter a certeza de que o nosso comprometimento com a educação é quase que integral, ou seja, ocupará grande parte do nosso tempo, de nossa dedicação e do nosso empenho, enquanto profissionais conscientes de nossa importância. Para Freire (1996, p. 108), 152 UNIDADE 2 — DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS [...] não é possível exercer a atividade do magistério como se nada ocorresse conosco. Como impossível seria sairmos na chuva expostos totalmente a ela, sem defesas, e não nos molhar. Não posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem importância capital para o meu desempenho. Daí, então, que uma das minhas preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação cada vez maior entre o que eu digo e o que eu faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo. FIGURA 40 – PROFESSOR COMPROMETIDO FONTE: . Acesso em: 30 maio 2021. Ensinar exige querer bem aos educando Para ensinar as crianças, é preciso querer bem a elas. É preciso conhecê- las, compreendê-las e, sobretudo, amá-las. Esta abertura ao querer bem, para Freire (1996, p. 159): [...] significa, de fato, que a afetividade não me assusta, que não tenho medo de expressá-la. Significa esta abertura ao querer bem a maneira que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. A minha abertura ao querer bem significa a minha disponibilidade à alegria de viver. Justa alegria de viver, que, assumida plenamente, não permite que me transforme num ser “adocicado” nem tampouco num ser arestoso e amargo. TÓPICO 3 — A CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA E DA IDENTIDADE DA CRIANÇA 153 FIGURA 41 – PROFESSOR AFETIVO FONTE: . Acesso em: 1 maio 2020. Para finalizar esta reflexão sobre ensinar de Paulo Freire, vamos usar uma frase de sua autoria que diz: “a alegria não chega apenas no encontro doachado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não podem se dar fora da procura, fora da boniteza e da alegria” (FREIRE, 1996, p. 159). FIGURA 42 – PAULO FREIRE FONTE: . Acesso em: 12 jan. 2020. Se você ficou curioso e deseja conhecer os itens do sumário que não foram abordados neste livro didático, leia o livro “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa” de Paulo Freire, 1996. São Paulo: Paz e Terra.