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W BA 01 48 _V 3. 0 ANDRAGOGIA 2 Neide Rodriguez Barea Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2024 ANDRAGOGIA 1ª edição 3 2024 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Leonardo Ramos de Oliveira Campanini Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Adriana dos Santos Cunha Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Barea, Neide Rodriguez Andragogia/ Neide Rodriguez Barea, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A 2024.2024. 32 p. ISBN 978-65-5903-529-8 1. Educação 2. Aprendizagem 3. Heutagogia I. Barea, Neide Rodriguez. II. Título CDD 370 ________________________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 B248a © 2024 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Andragogia: a educação de jovens e adultos ________________ 07 Modelo andragógico e estilos de aprendizagem _____________ 18 Métodos, técnicas e práticas andragógicos __________________ 30 Heutagogia e a aprendizagem autodirigida __________________ 43 ANDRAGOGIA 5 Apresentação da disciplina Olá, estudante! Nesta disciplina, você conhecerá a Andragogia com mais profundidade, entendendo seus preceitos, sua importância e como se constitui como modelo de estudo sobre a aprendizagem de estudantes adultos. Além de aprender sobre os pilares andragógicos e estilos de aprendizagem, você entenderá a diferença entre a Pedagogia, Andragogia e Heutagogia. Daremos foco na aprendizagem autodirigida, pois é um caminho que se mostra muito potente para o momento presente e para o futuro. Na primeira aula, abordamos a origem da Andragogia e seus princípios, bem como sua importância para os dias atuais. Na segunda e na terceira aula, tratamos do método andragógico, um conjunto de orientações que favorecerá a dinâmica de aprendizagem do adulto e que o andragogo (isto é, o professor de adultos) pode empregar de acordo com as diversas situações e objetivos de aprendizagem. Enfocamos as melhores práticas didáticas e técnicas que levarão ao sucesso de aprendizagem, entendendo o papel fundamental do estudante em seu processo de aquisição do conhecimento. Por fim, na nossa última aula, abordamos a Heutagogia, ou seja, quando o estudante organiza o seu próprio processo de aprendizagem e a aprendizagem autodirigida, na qual ele próprio substitui o professor. Certamente você já foi um professor de adultos, muito provavelmente isso aconteceu de forma não intencional. Ao finalizar esta disciplina, você estará preparado para atuar de forma mais assertiva e eficaz na 6 formação de adultos, inclusive organizando melhor os seus próprios processos de aprendizagem! Aproveite! 7 Andragogia: a educação de jovens e adultos Autoria: Neide Rodriguez Barea Leitura crítica: Adriana dos Santos Cunha Objetivos • Compreender as diferenças entre a Pedagogia e a Andragogia. • Identificar as características da aprendizagem do adulto e as diferenças em relação à aprendizagem da criança. • Conhecer os pressupostos da Andragogia. 8 1. Pedagogia e Andragogia – as diferenças entre os processos de aprendizagem das crianças e dos adultos Olá, estudante, seja muito bem-vindo a esta disciplina! Para iniciar, vamos refletir um pouco sobre situações que permeiam a educação de adultos. Em primeiro lugar, é importante que você se lembre que muitos adultos e idosos, hoje em dia, foram crianças e jovens que não puderam estudar por diversos motivos: • Não conseguiam acompanhar as aulas e acabavam desistindo, porque a escola não se preocupava com educandos que precisavam de acompanhamento individualizado e maior suporte; • Abandonavam a escola porque precisavam trabalhar para ajudar o sustento da família; • Os pais não permitiam que as meninas concluíssem os estudos porque, dessa forma, elas ficavam responsáveis por cuidar dos irmãos mais novos enquanto os pais saíam para trabalhar. • Repetências múltiplas desestimulavam a continuidade dos estudos e os alunos abandonavam a escola. Você também precisa saber que quando falamos de educação de adultos, estamos englobando a população jovem e idosa também, de acordo com termos e nomenclaturas que aparecem em legislações e políticas públicas. A Andragogia também se refere aos estudos realizados após a educação básica, inclusive para os educandos que concluíram esta etapa no período esperado e para a educação profissional e processos de aprendizagens diversos ao longo da vida. 9 Figura 1 – Andragogia Fonte: Shutterstock.com. Aqui você iniciará os estudos sobre o fascinante universo da aprendizagem do adulto, que é o seu próprio modelo de aprendizagem, já que ultrapassou a etapa da educação básica e se encontra na etapa do ensino superior. Estudar sobre a aprendizagem do adulto é estudar sobre si próprio, sobre suas preferências e sobre a forma como você e outros adultos constroem e organizam seus conhecimentos. Para isso, vamos conhecer as principais diferenças do processo de ensino e aprendizagem direcionado a crianças (Pedagogia) e adultos (Andragogia), pois um profissional que trabalha com adultos não pode cometer equívocos e direcionar o processo de forma inadequada para jovens, adultos e idosos. Também aprofundaremos os pressupostos da Andragogia, o seja, as melhores premissas identificadas para que o processo de ensino e aprendizagem de adultos seja bem-sucedido. Então, para começar, vamos entender a diferença entre Pedagogia e Andragogia. 10 A Pedagogia é a ciência que estuda os processos de aprendizagem de bebês, crianças e jovens em período escolar, investigando e construindo métodos e técnicas que favoreçam a aquisição dos conhecimentos construídos pela humanidade. O foco é a educação, seus processos e as relações com a sociologia, história, filosofia, psicologia e economia na formação dos educandos. As primeiras referências aos pedagogos foram encontradas na Grécia Antiga: eram escravos cultos, capturados em guerras nas quais a Grécia saia vencedora, que cuidavam e ensinavam crianças, acompanhando-as nas escolas da época. Até meados do século XVIII, as crianças eram consideradas miniadultos. Foi somente após o trabalho pioneiro de Jean-Jacques Rousseau sobre a infância, apresentado no livro Emílio ou Da educação em 1762, que essa percepção começou a mudar. Rousseau explicou que as crianças são distintas dos adultos em seu processo de desenvolvimento e exigem tratamento especial, que leve em conta suas singularidades, desenvolvimento físico e emocional, bem como sua capacidade cognitiva (Cambi, 1999). Friederich Froebel foi um dos primeiros educadores voltado ao universo infantil. Também era um estudioso do desenvolvimento humano e defendia que o indivíduo passava por cinco etapas: a infância, a meninice, a puberdade, a mocidade e a maturidade. Sendo assim, os processos escolares devem acompanhar e respeitara característica de cada etapa. Froebel foi o criador dos “jardins de infância”, defendendo a ideia de que esta etapa da educação deve ajudar os pequenos a florescerem (Cambi, 1999). A Pedagogia entende que os educandos precisam se apropriar de conhecimentos e desenvolver habilidades, atitudes e competências essenciais à vida em sociedade, ou seja, aprender sobre o mundo e 11 a se tornarem cidadãos ativos. O professor é o principal gestor do processo de ensino e aprendizagem e deve se basear na proposta nacional organizada para desenvolver suas ações e conduzir seus estudantes. Esta proposta é a Base Nacional Comum Curricular — BNCC (Brasil, 2018). Além disso, considera também as orientações do Projeto Pedagógico da escola na qual trabalha. Quando falamos de Andragogia, há outros critérios a serem observados. Os adultos já possuem uma visão de mundo e já atuam nele, tendo constituído seu sistema de valores e desenvolvido habilidades e competências, o que leva a novas reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem e à necessidade de um método de trabalho educacional apropriado a este público. É o que vamos conhecer agora. 2. Andragogia: a educação de jovens, adultos e idosos Você já parou para refletir sobre o seu processo de aprendizagem e como ele é diferente de quando você era criança? Você já desenvolveu suas preferências e sabe como conduzir seus estudos. A forma como adultos aprendem é muito diferente da forma como crianças aprendem: você não precisa mais experimentar e vivenciar tudo, é capaz de compreender ideias complexas a partir da comunicação oral, da leitura, da explanação e de suas próprias pesquisas. Alguns temas não são mais do seu interesse, você não procura por eles, já tem autonomia para fazer escolhas. E é capaz de se dedicar e se aprofundar em temas que são relacionados ao seu foco, interesse ou necessidade. Agora, como adulto(a), você já tem experiências e conhecimentos diversos, além de interesses bem mais definidos. 12 A Andragogia é entendida como a arte de ensinar adultos, considerando- os como pessoas que possuem experiências, valores e interesses próprios, que precisam ser considerados durante o processo de ensino e aprendizagem. Neste sentido, seria melhor definir a Andragogia como a arte de orientar adultos a aprenderem. O pedagogo alemão Alexander Kapp utilizou o termo Andragogia pela primeira vez em 1833, explicando que o adulto tem condições de aprendizagem diferentes das crianças e que precisam ser atendidas. A palavra Andragogia deriva dos termos gregos: andros (homem) + agein (conduzir) + logos (ciência), significando a ciência da educação de adultos. Portanto, a Andragogia podia ser entendida como uma oposição à Pedagogia. O termo se popularizou a partir de 1970, quando Malcolm Knowles o empregou em diversos livros que publicou (Lopes, 2018). Knowles; Holton e Swanson (2011) evidenciaram algumas percepções sobre a aprendizagem de adultos: 1. Diferente da criança, o educando adulto está pronto para aprender e tem maior clareza de suas necessidades de aprendizagem, dessa forma consegue dialogar com seus orientadores (professores) e consigo mesmo e decidir o que aprenderá e de que forma fará isso, escolhendo as melhores estratégias para si; 2. O educando adulto possui motivação intrínseca, ou seja, ele é auto orientado para a aprendizagem dos temas que são importantes para ele, pois seu interesse está voltado à aplicação direta do objeto estudado; 3. O adulto é capaz de assumir responsabilidade sobre o que deseja aprender, portanto é fundamental permitir que ele participe das decisões sobre as temáticas e prazos de estudo; 4. As experiências que o adulto acumulou são os principais filtros pelos quais um conhecimento é considerado importante ou 13 não, ou seja, ele remente tudo aquilo que está estudando às experiências que vivenciou, decidindo se o conteúdo é válido ou não para sua vida; 5. O professor exerce o papel de um orientador e um companheiro que entende as necessidades do aluno e o norteia em relação à sua aprendizagem, estimulando-o. Oliveira (2018, p. 8) considera que o adulto é o “indivíduo maduro o suficiente para assumir as responsabilidades por seus atos diante da sociedade” e apresenta catorze princípios que contribuem para a Andragogia, observados no quadro a seguir. Quadro 1 – Princípios que contribuem para a educação de adultos Princípio Descritivo 1 O adulto possui um tipo de consciência (crítica ou ingênua) que o leva a um tipo de comportamento frente à aprendizagem (postura proativa ou retroativa, respectivamente). 2 Compartilhar experiências é fundamental para o adulto. 3 O processo de ensino e aprendizagem de adultos funciona melhor quando baseado na interação e diálogo entre professor e educando, em um formato de liberdade e aprendizagem mútua, já que o professor também aprende. 4 A motivação do adulto relaciona-se com a negociação sobre seu interesse em participar da aprendizagem, ou seja, as temáticas precisam ser do seu interesse. 5 A aprendizagem é o centro das atividades do educando adulto. 6 A decisão sobre o que aprender é do adulto, ele é o centro do processo de ensino e aprendizagem. 7 A aprendizagem do adulto envolve a aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores, construindo competência sobre aquilo que estuda. 8 Adultos aprendem melhor quando o processo está organizado desta forma: sensibilização (motivação), pesquisa (estudo), discussão (esclarecimento), experimentação (prática), conclusão (convergência) e compartilhamento (sedimentação). 14 Princípio Descritivo 9 A motivação da aprendizagem do adulto está relacionada à experiência: quanto mais ele puder falar de suas histórias, discutir ideias, dar opiniões, apresentar o que compreendeu, chegar a conclusões, mais estará conectado com o aprender. 10 A essência do processo de ensino e aprendizagem de adultos é o diálogo. 11 Os assuntos vivenciados como práxis (prática reflexiva e ativa que promove melhorias no contexto de vida) são mais bem aprendidos. 12 O professor não pode se colocar na figura de Deus, entendendo-se como ser superior no processo de ensino e aprendizagem, a relação com o adulto que aprende é de parceria e orientação mútua. 13 Um professor que adote técnicas de educação tradicionais leva o educando adulto a se sentir inferiorizado, dificultando sua aprendizagem. 14 Um processo de educação que visa “depositar” conhecimentos no repertório do educando adulto, sem sua participação e colaboração, estabelece uma hierarquia entre professor e aluno e dificulta o processo de aprendizagem. Fonte: adaptado de Oliveira (2018). Estes princípios norteiam como o processo de educação deve ser estruturado para o público adulto. O sucesso da aprendizagem do adulto está em conhecer suas características e preferências e respeitá-lo, envolvendo-o em um processo dialógico acerca das decisões sobre sua aprendizagem. 3. Pilares da Andragogia Andragogo é o profissional que orienta o processo de aprendizagem de adultos, considerando suas características e interesses. Em relação processo andragógico, Knowles; Holton e Swanson (2011) desenvolveram pilares que precisam ser considerados pelo andragogo, apresentados a seguir. 15 Figura 2 – Pilares da Andragogia Fonte: adaptada de Knowles, Holton e Swanson (2011). 16 É preciso considerar que um dos aspectos mais significativos do processo de ensino e aprendizagem do educando adulto é a flexibilidade. É preciso que o andragogo saiba fazer as adaptações necessárias, os ajustes pertinentes e dê espaço e abertura para a participação do aprendiz, que pode envolver-se com decisões sobre os temas que deseja e/ou precisa aprender. Quando perceber que o estudante está desmotivado ou diminuiu sua prontidão para aprender, o professor pode estabelecer um diálogo para entender o que está acontecendo e buscar exemplos e orientações para ajudar o educandoa retomar o processo de aprendizagem, bem como empregar estratégias didáticas que auxiliem o educando a retomar sua orientação para aprendizagem. Conectando à realidade: exemplos práticos Você costuma fazer seminários nas disciplinas que está es udando? Lembra dos seminários que fez quando estava na graduação? Como você se sentia? Era difícil, tinha insegurança de apresentar? Ou não? E quando finalizava, como se sentia? Agora, bem cá entre nós — você concorda que os seminários deixaram marcas profundas na sua aprendizagem? Foram os processos, apesar de tensos, mais profícuos para sua aquisição de conhecimentos e dos quais você se lembra até hoje? Pois bem, uma estratégia didática das mais eficazes para a aprendizagem do educando adulto é a realização de seminários, que levam o educando a pesquisar, buscar relações com os conteúdos estudados em sala de aula e com situações da vida cotidiana. O fato de apresentar os resultados da pesquisa e contextualizá-los leva o aprendiz adulto a exercitar os seis pilares da Andragogia. 17 Esperamos que você tenha aproveitado os estudos deste tema e tenha ampliado seu repertório sobre a aprendizagem de adultos e sobre a sua própria aprendizagem! Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 3 jan. 2024. CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999. KNOWLES, M. S.; HOLTON, E. F.; SWANSON, R. Aprendizagem de resultados: uma abordagem prática para aumentar a efetividade da educação corporativa. Tradução de Sabine Alexandra Holler. Rio de Janeiro: Eselvier, 2011. LOPES, E. B. Andragogia – Arte de ensinar adultos. Curitiba: Instituto Emater, 2018. OLIVEIRA, A. B. de. Andragogia - a educação de adultos. Disponível em: https://www.academia.edu/5366286/ANDRAGOGIA_ANDRAGOGIA_A_ EDUCA%C3%87%C3%83O_DE_ADULTOS. Acesso em: 3 jan. 2024. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. https://www.academia.edu/5366286/ANDRAGOGIA_ANDRAGOGIA_A_EDUCA%C3%87%C3%83O_DE_ADULTOS. https://www.academia.edu/5366286/ANDRAGOGIA_ANDRAGOGIA_A_EDUCA%C3%87%C3%83O_DE_ADULTOS. 18 Modelo andragógico e estilos de aprendizagem Autoria: Neide Rodriguez Barea Leitura crítica: Adriana dos Santos Cunha Objetivos • Aprofundar os conhecimentos sobre as características da aprendizagem do adulto. • Refletir sobre a proposta de um modelo andragógico para educação de adultos. • Conhecer as perspectivas de Barbe, Fleming e Kolb sobre os estilos de aprendizagem andragógico. • Ser capaz de elaborar propostas metodológicas e estratégias didáticas voltadas ao público jovem e adulto. 19 1. Introdução Olá, estudante! Seja bem-vindo a esta aula! Hoje vamos estudar temas importantes para a Andragogia que exploram os estilos de aprendizagem de adultos para você entender os processos psicológicos e cognitivos que envolvem a aquisição do conhecimento. Estes temas são conhecidos como estilos de aprendizagem. Já sabemos que a forma como os adultos aprendem é diferente da forma como as crianças aprendem, já que a relação com os novos conhecimentos se dá de forma diferente, variando de acordo com as experiências, vivências e interesses do aprendente adulto. O processo de aprender de adultos possui características próprias, que foram investigadas por dois pesquisadores, os quais estruturaram propostas conhecidas como estilos de aprendizagem. Os estilos de aprendizagem foram estruturados a partir de pesquisas e experiências realizadas por Walter Burke Barbe (que propôs um modelo de aprendizagem andragógico, conhecido como Modelo de Barbe, posteriormente aprofundado por Neil Fleming no Modelo Vark) e por David Kolb (que ressaltou a importância da experimentação e da observação, apresentando uma proposta de aprendizagem experiencial). Por fim, vamos refletir sobre a constituição de um modelo andragógico de educação voltado à aprendizagem do adulto, tema focal para profissionais que atuam, precisam ou desejam atuar como andragogos. Vamos lá? 2. Modelo de Barbe e Modelo Vark Um estilo de aprendizagem é composto por características: 20 • Cognitivas (processos cerebrais de aquisição, acomodação e aplicação de conhecimentos); • Afetivas (gerenciamento de emoções e do sistema de valores) e • Psicológicas (envolvendo a motivação e a dedicação). Walter Burke Barbe nasceu em 1926 e dedicou-se a estudar o processo de aprendizagem, identificando, com sua equipe, três canais sensoriais que são os mais utilizados para aprender, chamados: visual, auditivo e cinestésico, modelo bastante conhecido pelos educadores e reconhecido pela neurociência. Posteriormente, o modelo proposto por Barbe e equipe foi incorporado por Fleming (2001) que acrescentou mais um estilo de aprendizagem: leitura e escrita. Vamos começar com o Modelo de Barbe (Barbe; Milone Jr., 1981). De uma forma simples, a aprendizagem ocorre a partir das informações que chegam ao cérebro e são processadas, sendo memorizadas no sistema de conhecimentos que o indivíduo já possui (Cosenza; Guerra, 2011). E como essas informações chegam ao cérebro? É preciso que certos canais as transportem. Veja alguns exemplos: • ao analisar um quadro, o estudante está utilizando principalmente o canal visual — ao longo desta análise, o aprendiz está aprendendo sobre pinceladas, mistura de cores, sombra e luz, perspectiva, intencionalidade do pintor, mensagem transmitida etc.; • ao assistir uma palestra, o estudante está utilizando principalmente o canal auditivo — neste caso, ele está colhendo informações a partir da organização de ideias e da fala de outra pessoa; • ao praticar os fundamentos de um esporte, o estudante está aprendendo através dos movimentos, experimentação e controle da força e dos membros do corpo, portanto utilizando o canal cinestésico. 21 Assim, o Modelo de Barbe considera a existência de três estímulos que conduzem à aprendizagem: visual, cinestésico e auditivo. Barbe e Milone Jr. (1981) consideram que os indivíduos têm suas preferências em relação à utilização dos canais de aprendizagem, ou seja, alguns estudantes preferem aprender ouvindo, outros preferem aprender fazendo e outros preferem aprender observando, porém todos são capazes de utilizar os três canais que, inclusive, são utilizados simultaneamente, com predominância de um deles. E isso é bastante óbvio: aprendemos melhor quando usamos o canal de nossa preferência. No entanto, cabe ressaltar que nem sempre o canal de preferência do estudante é a melhor forma de aprender. Veja, por exemplo, um estudante de Artes Plásticas: ele pode ter o canal visual como preferido, porém, a aprendizagem das técnicas de pintura ocorrerá melhor pelo canal cinestésico. Posteriormente, Fleming (2001) acrescentou mais um estilo de aprendizagem: leitura e escrita e estruturou um modelo, que intitulou de VARK (Visual, Auditivo, Leitura e Escrita = Read, Cinestésico = Kinesthetic). Figura 1 – Estilos de aprendizagem Fonte: adaptada de Fleming (2001). 22 De acordo com Barbe e Milone Jr. (1981) e Fleming (2001), o estilo de aprendizagem visual está associado ao campo que a visão consegue alcançar e as informações são obtidas a partir de imagens, formas, gráficos e pela leitura, inclusive a leitura corporal. Aprendizes com preferência por este estilo de aprendizagem conseguem memorizar até mesmo o local da página em que a informação está escrita, gostam de assistir aula e têm boa análise estética. As aulas para estes estudantes devem ter informações visuais suficientes sem serem excessivas. Há uma tendência destes estudantes olharem a situação de forma panorâmica e só depois focarem nos detalhes. Gostam de utilizar códigos de cores para ressaltar informações (tais como marcadores com cores diferentes para diferentes assuntos) e, se conhecerem a técnica, gostam de utilizar mapas mentais para seus registros, em vez de resumos. Já estudantes com preferência pelo estilo auditivo acabamretendo mais facilmente as informações que foram ouvidas, portanto quando o professor explica o que deve fazer (fornecendo orientações orais) acaba favorecendo a aprendizagem. Pode acontecer que esses aprendizes repitam em voz alta as orientações, como uma forma de reforçá-las, e também pode ser que acabem verbalizando suas considerações, sendo esta uma maneira de memorizar a aprendizagem. Estímulos auditivos, como música de fundo suave, tendem a ajudar esses alunos, desde que não atrapalhem a audição da fala. As aulas preparadas para esses alunos devem conter elementos sonoros, os estudantes podem pedir para gravar a aula para ouvi-la posteriormente. O professor deve permitir e estimular a leitura de textos em voz alta. Estudantes que preferem construir e manipular objetos, se movimentar, fazer experiências, fazer demonstrações provavelmente têm preferência pela cinestesia. As aulas para estudantes que preferem o canal 23 cinestésico devem ter trabalhos em grupo, apresentações no formato de teatro ou dramatizações, dinâmicas, experiências, jogos e brincadeiras. Já o estilo de aprendizagem chamado leitura e escrita (Fleming, 2001) está relacionado à preferência pela decodificação e codificação da linguagem, ou seja, são estudantes que gostam de ler e escrever e utilizam essas habilidades para aprender cada vez mais. As aulas, para esses estudantes, devem ter momentos de leituras em diversos portadores de texto e momentos para que o educando possa registrar suas ideias, fazendo resumos, resenhas e pequenos textos de sua autoria. Talvez você esteja se perguntando qual é a diferença entre os estilos visual e de leitura e escrita. O estilo visual está relacionado mais diretamente à leitura de imagens, gráficos, esquemas e poucas palavras. O estilo de leitura e escrita está mais associado à leitura e interpretação de textos densos, estruturados, nos quais o autor vai desenvolvendo suas ideias. O andragogo pode conhecer os estilos de aprendizagem de seus alunos a partir de entrevistas e testes específicos que podem ser localizados na internet e, a partir de tais conhecimentos, elaborar suas aulas de acordo com os canais de aprendizagem que discutimos neste tópico. 3. A aprendizagem experiencial de Kolb David Kolb (1984) é um profundo pesquisador das teorias de Dewey, Lewin e Piaget e utilizou os achados dessas teorias para elaborar seis proposições da Aprendizagem Experiencial: 1. A aprendizagem deve ser entendida como um processo e não como um resultado (fim em si mesma). 2. O processo da aprendizagem é contínuo e se baseia em experiências. 24 3. O processo de aprendizagem exige a resolução de conflitos decorrentes das diferentes visões de mundo. 4. Aprender é um processo holístico de adaptação à realidade. 5. A aprendizagem envolve trocas entre o aprendiz e o ambiente. 6. Aprendizagem é o processo de construção do próprio conhecimento. Para Kolb (1984, p. 38) a aprendizagem experiencial é “o processo pelo qual o conhecimento é construído através da transformação da experiência” e se constitui como um ciclo que envolve quatro modos de aprendizagem: experiência concreta (EC), observação reflexiva (OR), conceituação abstrata (CA) e experimentação ativa (EA), descritos no quadro a seguir. Quadro 1 – Modos de aprendizagem Fonte: adaptado de Souza et al. (2013). 25 Kolb (1984) explica que as informações são captadas e internalizadas pelo estudante a partir de duas dimensões opostas. A preensão é a dimensão composta pela combinação da experiência concreta (EC) e da conceituação abstrata (CA) — nesta dimensão, a aprendizagem ocorre pela apreensão (captação da realidade a partir dos cinco sentidos: audição, olfato, tato, paladar e visão) seguida da compreensão (interpretação das informações captadas e formalização da aprendizagem). A transformação é a dimensão composta pela combinação da experimentação ativa (EA) e da observação reflexiva (OR) — nessa dimensão, a aprendizagem ocorre pelos processos de intenção (ação interna de reflexão sobre as situações às quais o estudante está exposto) e extensão (manipulação ativa do objeto de conhecimento). A figura a seguir demonstra como as dimensões se relacionam. Figura 2 – Modelo da aprendizagem experiencial Fonte: Schmitt e Domingues (2016, p. 366). 26 Kolb (1984) entendeu que os aprendizes possuem preferências em relação à forma como aprendem e, a partir da combinação dos modos de aprendizagem em duplas, propôs quatro estilos de aprendizagem. Quadro 2 – Estilos de aprendizagem propostos por Kolb Fonte: adaptado de Souza et al. (2013). Souza et al. (2013) explica que o aprendiz de estilo divergente é criativo, compreende as pessoas, identifica problemas, gera grande quantidade de ideias, tem mente aberta. O estudante de estilo assimilador planifica com facilidade, cria modelos, é capaz de pontuar problemas, desenvolve teorias e conceitos e é paciente. Já o estudante de estilo convergente compreende e resolve problemas, toma decisões, racionaliza as deduções, fundamentando-as, e é lógico. Por fim, o aprendiz de estilo acomodador é líder, assume riscos, é prático, faz com que os projetos aconteçam e adapta-se com facilidade. O conhecimento destes estilos permite ao andragogo preparar melhor suas aulas e dosar os desafios propostos, bem como a composição de grupos heterogêneos. 27 4. Refletindo sobre um modelo andragógico de aprendizagem de adultos Vamos refletir um pouco sobre o que estudamos nesta aula. Principalmente a partir da década de 1970, a educação de adultos começou a ser foco de pesquisas. Com a evolução da tecnologia, as transformações digitais, necessidade de qualificação da mão de obra, a ampliação da indústria, do comércio e das necessidades sociais, o aumento da longevidade e a procura por novos sentidos para vida, a identificação do propósito individual, a busca pela escolarização que não foi concluída no período esperado, a formação continuada, as novas descobertas científicas, todos esses fatores e muito mais levaram adultos e idosos a continuarem estudando. Porém, a aplicação de técnicas voltadas a crianças e adolescentes não é funcional para adultos, tendo em vista que a motivação para a aprendizagem do adulto é outra. Ele tem objetivos claros e vai em busca destes com motivação e velocidade. Nesse sentido, é preciso que a escola e os professores adotem uma metodologia própria voltada à educação de adultos. Essa metodologia deve considerar características próprias do público- alvo: 1. Há motivação para aprendizagens específicas (por exemplo: uma nova técnica para ser aplicada no trabalho, um conhecimento aprofundado ou uma competência que permitirá avanço na carreira ou algo transformador para a vida do aprendiz; 2. Há um volume significativo de conhecimento que já foi adquirido e de experiências vividas que são importantes para o adulto e que ele emprega como base para adquirir os novos conhecimentos; 3. Adultos gostam de trocar experiências e aprender uns com os outros. 28 Dessa forma, o andragogo precisa refletir sobre as práticas que adotará ao ensinar adultos. Em primeiro lugar, não poderá ter atitude autoritária e ensinar de forma exclusivamente expositiva, afastando- se de seus alunos e colocando-se em posição superior em relação a eles. Pelo contrário, deve conhecer cada um de seus educandos, entender suas motivações e propor aulas dinâmicas, interessantes, que permitam a participação dos estudantes e que os levem a ampliar seus conhecimentos e suas práticas. Conectando à realidade: exemplos práticos Nesta aula estudamos sobre estilos e aprendizagem. Você já parou para refletir sobre seu próprio estilo de aprendizagem? Neste Conectando à realidade, você vai ter a oportunidade de descobrir seu estilo de aprendizagem. Primeiro, vá à internet e pesquise por: Inventário de Estilo de Aprendizagem de Kolb. Localize a página chamada Teste de Aprendizagem de Kolb e responda as 12 questões. Em seguida,receba o resultado. Como você prefere aprender? As considerações representam sua forma de aprender? Após analisar seu resultado, veja os demais estilos de aprendizagem e compare com os conteúdos que estudamos nesta aula! Esperamos que você tenha aproveitado esta aula e perceba que o que estudamos hoje está relacionado diretamente também à sua própria aprendizagem! 29 Referências BARBE, W. B.; MILONE JR., M. N. What we know about modality strengths. Educational Leadership (Association for Supervision and Curriculum Development), p. 378–380, fev. 1981. Disponível em: http://www.ascd.org/ASCD/pdf/ journals/ed_lead/el_198102_barbe.pdf. Acesso em: 14 jan. 2024. COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre (RS): Artmed, 2011. FLEMING, N. D. Teaching and learning styles: VARK strategies. Christchurch, New Zealand: N. D. Fleming, 2001. KOLB, D. Experiential learning: experience as the source of learning and development. Englewood Cliffs, NJ (USA): Prentice Hall, 1984. SCHMITT, C. S.; DOMINGUES, M. J. C. S. Estilos de aprendizagem: um estudo comparativo. Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 21, n. 2, p. 361-385, jul. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/aval/a/ CgyjHL3TRXbgwRdWphLbcks/?format=pdf. Acesso em: 17 jan. 2024. SOUZA, G. H. S. et al. Estilos de aprendizagem dos alunos versus métodos de ensino dos professores do curso de Administração. In: RACE, C. Ed. Especial Anpad, p. 9-44, 2013. http://www.ascd.org/ASCD/pdf/journals/ed_lead/el_198102_barbe.pdf. http://www.ascd.org/ASCD/pdf/journals/ed_lead/el_198102_barbe.pdf. https://www.scielo.br/j/aval/a/CgyjHL3TRXbgwRdWphLbcks/?format=pdf. https://www.scielo.br/j/aval/a/CgyjHL3TRXbgwRdWphLbcks/?format=pdf. 30 Métodos, técnicas e práticas andragógicos Autoria: Neide Rodriguez Barea Leitura crítica: Adriana dos Santos Cunha Objetivos • Identificar as características da aprendizagem do adulto, os estilos de aprendizagem e o modelo andragógico. • Conhecer e explorar técnicas, metodologias e práticas didáticas voltadas ao público andragógico, incluindo as tecnológicas. • Ser capaz de elaborar propostas metodológicas e estratégias didáticas voltadas ao público jovem e adulto. 31 1. O Método andragógico de Malcolm Knowles Olá, estudante! Seja bem-vindo a esta aula! Vamos iniciar o estudo deste tema com uma reflexão. Gostaria que você se lembrasse da última vez que você ensinou alguma coisa a um adulto. Pode ser um exemplo simples, como indicar a direção para chegar em determinado local ou qual condução tomar para chegar em tal local. Pode ser uma receita culinária. E pode ser também uma aula sobre alguma temática. Reflita como isso ocorreu. Que tipo de linguagem utilizou? Foi uma linguagem infantil ou adotou uma linguagem adequada para seu aprendiz? Provavelmente utilizou uma linguagem adequada à necessidade do seu aprendiz, talvez tenha gesticulado um pouco e respondeu as dúvidas que ele teve, apresentando até algumas “dicas”. Precisou fazer uma introdução para sensibilizar ou motivar seu aprendiz? Provavelmente não, porque ele buscava uma informação precisa ou um conhecimento específico. É bem provável que você tenha sido bastante objetivo. Isso já nos mostra que a forma de aprendizagem é particularizada, assim como deve ser a forma de ensiná-los. Malcolm Knowles é conhecido como o “pai” da Andragogia por sua preocupação em entender como o adulto aprende e por produzir vasto material sobre o assunto. Sua grande preocupação foi transformar a ideia de que a Andragogia é o processo de ensinar/educar adultos para a ideia de ajudá-los a aprender. Assim, considerando a Andragogia como a ciência da educação de adultos, Knowles desenvolveu um método de trabalho educacional baseado em seis pilares, o qual chamou de Método Andragógico (Knowles; Holton e Swanson, 2011). Os seis pilares são: 32 I. Necessidade de saber. II. Autoconceito do aprendiz. III. Papel das experiências prévias. IV. Prontidão para aprender. V. Orientação para aprendizagem. VI. Motivação. Vamos conhecê-los com mais detalhes: A necessidade é o que leva o adulto a se organizar e buscar conhecimento, pois algum desafio ou desejo se apresenta, impulsionando-o nessa busca. A aprendizagem só acontece mesmo quando faz sentido para o adulto, ou seja, ele precisa entender o que será aprendido e qual sua relevância no seu contexto de vida. Não adianta ensinar química se não fizer sentido para o educando. Adultos demandam uma grande energia em descobrir os benefícios de aprender determinado tema e se preocupam com possíveis dificuldades que podem encontrar quando estão estudando. Adultos se tornam mais disponíveis para a aprendizagem quando percebem sua importância. Assim, é importante que o andragogo consiga estimular seu estudante a perceber a relação do novo conhecimento com seu dia a dia, auxiliando-o a se engajar. Em termos práticos, o andragogo deve empregar estratégias que levem o educando à necessidade de aprender e pode fazer isso utilizando dinâmicas, textos motivacionais, perguntas inquietantes e até mesmo imagens provocativas. É fundamental que haja contextualização da nova aprendizagem e tanto o andragogo quanto os educandos podem se responsabilizar por essa etapa. Aliás, quanto mais os educandos se mobilizarem, maior será o engajamento com a aprendizagem. O autoconceito do aprendiz está intimamente relacionado com a necessidade de saber. Esse pilar indica que o adulto quer ser tratado 33 como um adulto e qualquer digressão pode levá-lo à desmotivação. Uma fala infantilizada ou um material inapropriado pode ser suficiente para gerar afastamento do adulto em relação à aprendizagem. Por outro lado, adultos apreciam o respeito à sua autonomia, tanto de atitudes quanto de pensamento. Dessa forma, um andragogo centralizador traz a sensação de perda de autonomia para seus estudantes, o que pode afetar suas emoções em relação à aprendizagem. O andragogo deve tratar o adulto como adulto, respeitando e valorizando seus conhecimentos, experiências de vida, necessidades e desejos. Para isso, precisa conhecer seus educandos, descobrir o que eles já sabem, suas experiências e suas necessidades de aprendizagem. E isso se faz com uma postura aberta, permitindo a participação nas escolhas dos temas a serem estudados e na forma como isso será conduzido. Ou seja, é necessário que o andragogo, no início e durante o processo, faça reuniões de alinhamento de expectativas e de ação, estimulando a participação de todos os educandos e respeitando as decisões (o andragogo deve se posicionar sempre, porém as decisões acabam tendo caráter mais coletivo). O adulto é um aprendiz que traz uma bagagem enorme de conhecimentos e experiências prévias. O novo conhecimento é constituído a partir dessas experiências e será acomodado e consolidado sobre elas. Sempre que um conhecimento novo é apresentado, o aprendente busca em suas experiências e conhecimentos prévios algo que seja próximo e possa servir como um suporte para absorver as novas informações. Caso esse novo conhecimento seja muito diferente daquilo que já está estabelecido, ou até mesmo inédito, o adulto pode entender que não é um conhecimento válido (veja, por exemplo, como é difícil que o adulto aceite novas teorias ou se desprenda de crendices populares quando são refutadas cientificamente). As experiências prévias têm o papel de certezas subjetivas que o adulto construiu ao longo da vida, sendo muito difícil reformulá-las, mas não 34 impossível. Para isso, o andragogo precisará trazer novas experiências e apresentar novos pontos de vistas, novas habilidades e o valor do novo conhecimento para o dia a dia. A prontidão para aprender relaciona-se de forma lógica com o pilar da necessidade de aprender, ou seja, quanto mais houver necessidade de aprender, mais pode haver prontidão para a aprendizagem. Um outro fator que influencia a prontidão para aprender é a percepção deque o conhecimento é importante para o seu dia a dia. Como Knowles, Holton e Swanson (2011, p. 74) explicam “os adultos ficam prontos para aprender as coisas que têm de saber e para as quais precisam se tornar capazes de realizar a fim de enfrentar as situações da vida real”. Isso quer dizer que a maturidade para aprender leva um tempo e também está associado à necessidade ou desejo de aprender. Nem sempre o andragogo pode esperar o tempo do educando. Muitas vezes, é preciso usar técnicas específicas para motivar o educando e estimular sua prontidão, tais como: fazer exercícios de simulação, construir projetos etc. O quinto pilar do Método Andragógico é a orientação para a aprendizagem. Adultos “assimilam novos conhecimentos, percepções, habilidades, valores e atitudes de maneira mais eficaz quando são apresentados a contextos de aplicação a situações da vida real” (Knowles; Holton e Swanson, 2011, p. 74). A orientação para a aprendizagem trata-se do foco intenso que o adulto consegue dar ao objeto de estudo, quando ele é significativo para sua vida. Essa orientação não se relaciona à idade ou à quantidade de experiências vividas, mas à importância do novo conhecimento. O andragogo deve empregar diferentes estratégias para evidenciar o valor do conhecimento ao educando que não estiver orientado para essa aprendizagem. Por fim, a motivação é um conjunto de fatores biológicos, psicológicos e sociais que influenciam o comportamento do aprendiz e o leva a agir 35 e buscar atingir seus objetivos. A motivação pode estar relacionada a fatores externos (promoção no trabalho, reconhecimento social, obter uma nota alta na avaliação etc.) e a fatores internos (satisfação, melhoria na autoestima, maior qualidade de vida etc.). Em geral, os fatores internos são mais fortes que os externos e o andragogo pode ressaltar os fatores que levariam o educando a mobilizar sua motivação para aprender, a partir do conhecimento que tem sobre seus alunos. Knowles; Holton e Swanson (2011) explicam o que o Modelo Andragógico deve ser revisto e adaptado a cada situação de aprendizagem e há muitos outros fatores que influenciam o sucesso ou não da aquisição de conhecimentos por adultos. Eles esclarecem que esse modelo precisa ter flexibilidade e se adaptar a cada caso. Também ressaltam o papel do andragogo, que deve escolher e focalizar as melhores estratégias visando a aprendizagem bem- sucedida de seus educandos. Uma das críticas a este modelo é que ele é bastante focado no processo de ensino e aprendizagem, mas menciona pouco as mudanças sociais decorrente desse processo. Por outro lado, não se pode esperar que a Andragogia dê conta de todos os impactos que a educação de adultos pode promover, não seria possível realizar tal feito. A Andragogia visa ajudar adultos em seu processo de aprendizagem, independentemente de propósitos específicos, mas sendo aberta a vários deles, de acordo das situações a serem enfrentadas. 2. Metodologias, técnicas e práticas andragógicas Já sabemos que a educação de adultos possui características próprias e até mesmo um método desenvolvido, chamado Método Andragógico. 36 Método é um conjunto de princípios e, como vimos, o Método Andragógico possui seis. A metodologia é a forma de aplicar o método. Existem diversas metodologias de ensino e aprendizagem, tais como: tradicionalista, construtivista, sociointeracionista, freireana, montessoriana, entre outras. Considerando as características da aprendizagem do aluno adulto e o Método Andragógico, aprofundaremos três metodologias de ensino e aprendizagem e suas respectivas técnicas e práticas. São elas: as metodologias ativas, a aprendizagem baseada em problemas e a aprendizagem baseada em projetos. As metodologias ativas, de acordo com Bacich e Moran (2018), são aquelas que promovem a ação do educando para a aquisição de conhecimentos em oposição à passividade encontrada na simples transmissão de informações. A ação, neste caso, está relacionada tanto aos processos cognitivos de investigação, dedução, assimilação e acomodação do conhecimento quanto ao próprio movimento corporal que leva à manipulação e exploração do ambiente e dos objetos de aprendizagem. A isso se junta a construção de uma visão crítica e a problematização da realidade acerca do que se estuda no momento. As metodologias ativas são diversas, vamos enfocar aqui a gamificação, a sala de aula invertida, os estudos de caso e os seminários, aprofundados a seguir. 37 Figura 1 – Quatro exemplos de metodologias ativas Fonte: elaborada pela autora. A aprendizagem baseada em problema é aquela em que se apresenta um problema ao educando ou ao grupo para que seja solucionado. Por exemplo: o que deve ser feito para solucionar o problema de poluição do riacho que passa atrás da escola? 38 Para que essa metodologia atinja o seu potencial de aprendizagem, é interessante que o problema seja real e que envolva a interdisciplinaridade. Para resolver esse problema, os educandos precisarão compor conhecimentos em Biologia, Geografia, Políticas Públicas, Química, Matemática, Língua Portuguesa, História, Urbanização, Sociologia, entre outros. A aprendizagem baseada em projeto visa a construção de um projeto para resolução de um problema ou demanda, o qual não necessariamente precisa estar associado a uma situação real. Por exemplo, construir o projeto de um centro de atendimento a idosos. Nesse caso, a proposta é produzir um projeto para a captação de recursos e implementação da instituição. 3. Novas tecnologias de informação e comunicação, ensino híbrido e a educação a distância (EAD) As novas tecnologias, principalmente as de informação e comunicação, propiciaram um enorme avanço nos processos de aprendizagem de adultos. Todo o conhecimento divulgado na internet, a partir de redes sociais, blogs, portais, jornais eletrônicos, e-mails, vídeos e aplicativos, entre outros, são fontes cada vez mais acessíveis para aquisição de conhecimentos associadas ao Método Andragógico, pois saciam a necessidade de saber, respeitam o autoconceito do aprendiz, se relacionam com as experiências prévias, com a prontidão e a orientação para aprender e estimulam a motivação. Munhoz (2017) trabalha com o interessante conceito de Redes Sociais Digitais (RDS) em conectividade. Para ele, “o segredo da aprendizagem está associado à capacidade que pode ser adquirida durante a 39 construção dessas redes de relacionamento e a navegação por elas de forma segura, objetiva e favorável” (Munhoz, 2017, p. 90). Assim, as RDS podem exercer um papel muito importante no processo de aprendizagem do adulto, principalmente se for orientado com objetividade e em parceria com o andragogo. Figura 2 – Exemplos de RDS Fonte: adaptada de Munhoz (2017). O uso de tecnologia e das RDS em sala de aula pode favorecer muito a dinâmica do andragogo, aprimorando sua prática e trazendo elementos inovadores, diferenciados e estimulantes que favorecem o foco, a atenção, a aquisição e a consolidação da aprendizagem do aluno adulto. O ensino híbrido integra experiências de aprendizagem que mesclam o modelo presencial e a distância. Ainda pode ter caráter on-line e off-line e as aulas a distância podem ser síncronas ou assíncronas. Para a aprendizagem do adulto, principalmente aquela que ocorre após a educação básica, o ensino híbrido tem se mostrado uma metodologia muito interessante, pois tem um grau de flexibilidade importante para o 40 adulto que enfrenta desafios da vida cotidiana e precisa administrar seu tempo conforme ajusta a sua demanda. O sistema híbrido propõe que uma parte da aprendizagem ocorra individualmente e outra parte ocorre em grupo, como uma sala de aula, com a presença de um professo. Isso leva o educando adulto a uma postura muito mais ativa, consciente e engajada em relação à sua própria aprendizagem. Semelhante à sala de aula invertida, o momento coletivo no ensino híbrido é dedicado a debates,esclarecimento de dúvidas e aprofundamento dos conteúdos estudados, bem como aplicação prática deles. Por fim, falamos da educação a distância, um formato que tem sido adotado para alguns cursos de graduação, pós-graduação e formação continuada (por exemplo, a formações específicas de cunho profissional e/ou de interesse do educando). Nesta metodologia, há aulas on-line síncronas e/ou assíncronas, indicações de leituras e estudos para aprofundamento do conhecimento, exercícios, desafios, projetos e avaliações, sendo que todas as ações são mediadas pela tecnologia (computador, tablet ou smartphone). O educando pode entrar em contato com seu professor ou tutor utilizando recursos como e-mail, chat e videochamadas. A educação a distância vem ganhando cada vez mais espaço no cenário educacional, porque agrega vários elementos interessantes para a formação de adultos, como a assincronicidade, que lhe permite estudar no horário mais conveniente; a liberdade geográfica, que lhe permite acessar o curso de qualquer lugar; a facilidade de alternar entre diversos contextos (inicia uma aula, interrompe, estuda um texto, volta para a aula, responde uma questão, volta para a aula, faz anotações etc.), entre outras tantas facilidades, que conectam a educação a distância com os seis pilares do Método Andragógico. 41 Conectando à realidade: exemplos práticos A realidade da sala de aula na educação de adultos Imagine que você foi escolhido para fazer um processo de formação de adultos na empresa na qual trabalha. A dificuldade que a empresa encontra é que parte dos trabalhadores não está mais motivada: alguns colaboradores chegam atrasados, não cumprem prazos estabelecidos e demonstram insatisfação. Por outro lado, há uma parte dos funcionários que está satisfeita, porém não consegue avançar em suas tarefas por conta da postura dos demais colegas. A diretoria da empresa acredita que uma formação sobre valores, ética, responsabilidade profissional e mundo do trabalho ajudaria a melhorar a motivação dos trabalhadores e favoreceria o clima de colaboração entre todos. Com base nos conhecimentos estudados nesta aula, você será capaz de elaborar o minicurso que a empresa solicita em quatro encontros. Aplicabilidade: • Começar conhecendo seus colegas de trabalho e identificando seus valores, interesses, desafios e o motivo de insatisfação; • Realizar dinâmicas (tais como dramatizações) em que eles precisem abordar temáticas pertinentes às relações de trabalho, por exemplo: peça que alguns participantes demonstrem como é sua rotina desde que saem de casa até que voltem; • Criar grupos de estudo e delegar temas para que apresentem, tais como: cooperação, ética no dia a dia, postura profissional, responsabilidade, entre outros. 42 • Manejar situações de insatisfação orientando ao próprio educando que busque, em suas experiências e conhecimentos, o motivo de estar trabalhando neste local e os ganhos diretos e indiretos de seu trabalho (ganhos diretos: salário, férias, 13º. salário, seguridade social; indiretos: reconhecimento social, autoestima, valor próprio, capacidade intelectual, entre outros). Esperamos que você tenha aproveitado bastante esta aula e que os conhecimentos trazidos aqui contribuam com o exercício da sua profissão. Referências BACICH, L.; MORAN, J. (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. KNOWLES, M. S.; HOLTON, E. F.; SWANSON, R. Aprendizagem de resultados: uma abordagem prática para aumentar a efetividade da educação corporativa. Tradução: Sabine Alexandra Holler. Rio de Janeiro: Eselvier, 2011. MUNHOZ, A. S. Andragogia: a educação de jovens e de adultos em ambientes virtuais. Curitiba: InterSaberes, 2017. 43 Heutagogia e a aprendizagem autodirigida Autoria: Neide Rodriguez Barea Leitura crítica: Adriana dos Santos Cunha Objetivos • Compreender as diferenças entre a Andragogia e a Heutagogia. • Refletir sobre a formação continuada como um processo vital para o desenvolvimento profissional e pessoal de adultos. • Compreender a aprendizagem autodirigida, suas técnicas e ferramentas. 44 1. Heutagogia Olá, seja bem-vindo ao estudo deste tema! Você já ouviu falar do termo Heutagogia? Talvez você esteja estranhando bastante o título deste tema… o que isso significa? Vamos descobrir? Mas antes, vamos entender um pouco mais o contexto atual e a necessidade de desenvolvermos práticas heutagógicas. Vivemos um tempo de rápidas e profundas transformações, com a geração de novos conhecimentos diários e novas exigências para a vida moderna em sociedade. O trabalho se tornou mais exigente, o cuidado com a saúde e com a alimentação exigem novas informações e novas práticas. As relações sociais não se limitam mais ao bate-papo e se tornaram espaços de troca de conhecimentos. Nos preocupamos mais com a fazer o dinheiro render e estudamos sobre aplicações financeiras. Hobbies ficaram mais especializados e aos poucos estamos introduzindo práticas de outras culturas, tais como meditação. Buscamos conhecimentos para a mente e para nosso prazer. Antigos saberes são refutados, novas descobertas são realizadas, novas práticas são implementadas. As propostas e exigências do mundo contemporâneo levam as pessoas a estudarem como prática de sobrevivência e de adaptação ao mundo e termos como lifelong learning ou aprendizagem durante toda a vida ou, ainda, formação continuada se tornam cada vez mais comuns. Estudar é uma rotina e uma exigência que não nos abandonará mais. Ninguém pode pensar que deixará de estudar ao final da educação básica ou do ensino superior. A modalidade de estudo apenas se transforma, se torna autodirigida. E para dar conta de todos os desafios modernos, o adulto encontra uma forma própria, autônoma e autodirigida, de ampliar seus conhecimentos. Isso é a Heutagogia. 45 Figura 1 – Diferença entre Andragogia e Heutagogia Fonte: elaborada pela autora. Heutagogia vem da junção de dois termos: Bellan (2008, p. 18) define Heutagogia como “uma progressão natural da Pedagogia (ensino de crianças) e da Andragogia (ensino de adultos), sendo então que, nesta proposta, o aprendiz determina o que e como vai aprender”. Na Heutagogia, a aprendizagem é autodirecionada, isto é, o estudante é o gestor de sua aprendizagem e ele mesmo programa seu processo de aquisição do conhecimento. Para tanto, o educando precisará desenvolver quatro grandes habilidades: a. Autodidatismo: estudar e adquirir conhecimento por si próprio, independente de professores e orientações externas, independência e proatividade; 46 b. Autodisciplina: motivação intrínseca para buscar os resultados que deseja, envolvendo a capacidade de saber priorizar o que precisa ser feito, afastar distratores e evitar a procrastinação; c. Autorregulação: capacidade de gerenciar as emoções e retomar a rota ou organizar nova rota de aprendizagem, compromisso. d. Auto-organização: ordenamento dos materiais, horários e demais elementos para dar condições de atingir o objetivo de aprendizagem proposto. Assim, é o estudante que decide o que e como vai aprender, de acordo com suas experiências, necessidades, disponibilidade de tempo e disponibilidade cognitiva (ou seja, capacidade de assimilação de conhecimento e desenvolvimento de novas habilidades). 2. Aprender a aprender Aprender a aprender é um dos quatro pilares da educação propostos pela Unesco (Delors, 1998), o princípio básico, aquele que norteará os outros três: aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos. O aprender a aprender considera o propósito e as razões que levam o educando a buscar as novas aprendizagens, aproveitando seu estilo de aprender na produção de um caminho (projeto, etapas, planos) eficientes para aquisição do conhecimento. Na Heutagogia, o educando substitui o professor e realiza o processo de aprendizagem por si próprio, identificando o objetivo da aprendizagem,selecionando os recursos e os materiais necessários, estudando efetivamente e realizando o processo de avaliação da aprendizagem. Tal como em uma viagem, o educando tem o controle de sua aprendizagem e decide o caminho que vai tomar. 47 Isso não quer dizer que o percurso é solitário. O educando que opta por um processo heutagógico pode contar com diversos recursos materiais e pessoais. Quadro 1 – Processo heutagógico e recursos de aprendizagem Fonte: elaborado pela autora. 48 Independentemente de como o educando vai organizar o seu processo de aprendizagem heutagógico, é certo que ela dependerá de sua capacidade crítica e questionadora. A capacidade crítica permitirá ao educando questionar as teorias em uso, podendo compreendê-las e aceitá-las ou, até mesmo, abandoná- las em favor de uma nova teoria (qualquer destas situações promoverá sua aprendizagem). Se ele não interrogar as teorias em uso, ele apenas as reproduzirá, sem transformar-se, portanto, sem aprender. O questionamento das teorias em vigor é que permite ao educando transformar sua prática e seu conhecimento. Vejamos um exemplo: imaginemos um operário de fábrica que tem como objetivo progredir na carreira e obter uma remuneração melhor. Ele pode estudar para se tornar um funcionário público, ele pode se capacitar para buscar um cargo de liderança na empresa em que trabalha ou em outra, ele pode se tornar um empreendedor, ele pode querer mudar de carreira, entre outras possibilidades. Porém, independente de qual seja sua opção, ele precisará aprender novos conhecimentos, desenvolver novas habilidades e aprimorar suas competências. E isso promoverá transformações em seus conhecimentos, em suas práticas, em suas crenças e na construção de seus valores. Segundo Inácio, Juliani e Bleicher (2016), o processo de aprendizagem autodirigida organiza-se em três etapas: 1. Planejamento; 2. Monitoramento e 3. Avaliação. A figura a seguir demonstra a composição de cada uma das etapas. 49 Figura 2 – Etapas da aprendizagem autodirigida Fonte: adaptada de Inácio, Juliani e Bleicher (2016). Para fechar nossos estudos sobre a Heutagogia e a aprendizagem autodirigida, é preciso focarmos no processo de avaliação. Quando fazemos um curso formal, a avaliação da aprendizagem é estruturada de acordo com os objetivos do curso, os quais se espera que o educando tenha alcançado. São utilizados instrumentos como provas, trabalhos de conclusão de curso, seminários, entrevistas, resumos, redações, papers e apresentações, entre outros. Mas, e quando estamos falando da aprendizagem autodirigida, aquela que o educando estuda por conta própria, de acordo com seus objetivos e planejamento, como ele pode saber que realmente aprendeu? Bem, nestes casos, ele pode usar alguns instrumentos e práticas específicas, tais como: 50 • Autoavaliação: significa comparar os objetivos que ele se propôs a alcançar e verificar, através de comparativos entre seus conhecimentos prévios e os novos conhecimentos, se houve acréscimo e se isso foi suficiente. Pode utilizar algum tipo de checklist que ele mesmo elabora. • Experimentar os novos conhecimentos: como isso ocorre? Imagine um cozinheiro que quer incrementar uma receita: ele estuda novos sabores, novos temperos, verifica se combinam e coloca em prática (confecciona a nova receita), é a partir do resultado e da degustação que saberá se aprendeu. No caso de uma situação do trabalho, o aprendiz pode testar a nova técnica aprendida em um momento prático, por exemplo. • Buscar por feedback: esta opção funciona melhor quando o processo de aprendizagem foi voltado para a mudança de um comportamento, por exemplo, e o educando pergunta em que aspectos a pessoa ou as pessoas podem evidenciar a melhoria (está mais calmo para resolver uma situação, menos estressado, tem sido mais assertivo, conduz melhor as orientações para seus subordinados etc., explicitando situações reais). • Refletir: muitas vezes não é possível conseguir feedbacks porque o foco da aprendizagem não consegue ser evidenciado externamente, neste caso é o próprio educando que precisa analisar e refletir se atingiu os objetivos que procurava com seu estudo. • Revisar: é um processo que consiste em retomar os estudos para ter a certeza da aprendizagem – ao retomar o estudo, o aprendiz consegue ter noção se aprendeu de fato ou se as informações ainda são novas, o que significa que a aprendizagem não foi consolidada em novos conhecimentos. Por fim, o processo de retomada passa a ser necessário quando o educando percebe que não atingiu os objetivos que havia proposto inicialmente. 51 Conectando à realidade: exemplos práticos O termo lifelong learning, em tradução livre para o português, significa aprendizagem ao longo da vida e você ouvirá falar dele cada vez mais. Também pode ser entendido como aprendizagem contínua e expressa o dinamismo do mundo atual. Parte da premissa que nunca é tarde para aprender algo novo e está muito alinhado às demandas do mercado de trabalho e às demandas corporativas. O lifelong learning é uma capacidade dos profissionais mais bem preparados para enfrentar os desafios emergentes, residindo na habilidade de antever, acompanhar e conjugar-se às transformações do mercado de trabalho e da sociedade. Vejamos um exemplo, para que você possa entender melhor. Imagine uma empresa que fabrica sapatos de couro. Essa empresa vai muito bem, tão bem que decidiu ampliar seu portifólio de produtos e agora vai produzir bolsas de couro. Como os colaboradores vão se posicionar frente a esta novidade? Farão enfrentamentos, do tipo: “Não fui contratado para desenvolver uma nova linha de produtos”? “Sou especializado em sapatos, não quero me envolver com bolsas, isso é muito feminino para mim”? Ou buscarão informações, novos conhecimentos, novas perspectivas, buscarão entender do novo o mercado que se apresenta, dos estudos financeiros, desenvolverão designs alinhados com a marca e procurarão vender mais? No primeiro grupo de pessoas podem estar aqueles com perfil mais acomodado, sem proatividade e com pouco interesse em se transformar. No segundo grupo estão os preparados para enfrentar os desafios e, mesmo não conhecendo o novo produto, vão estudar, se transformar e buscar novas oportunidades comerciais e profissionais. 52 O que acontecerá, ninguém pode dizer exatamente, mas é provável que o segundo grupo se adapte melhor e encontre maiores e melhores oportunidades, pois demonstraram abertura ao novo, interesse, capacidade de buscar novos conhecimentos e de se envolver no novo desafio. Já o primeiro grupo, se conseguir permanecer no emprego, ficará em posição estacionada. Veja, nesse exemplo, a empresa não informou antecipadamente os colaboradores para que se preparassem, o desafio foi lançado (em defesa da empresa: a gestão estratégica dos negócios não pode ser discutida de forma ampla, é preciso sigilo para ter vantagem competitiva) e espera-se uma postura dos trabalhadores, minimamente de engajamento. Como você se posicionaria frente uma situação de inovação no trabalho? Faria adesão ou enfrentamento? Aqui fica a reflexão. Esperamos que esta aula ajude você a compreender os princípios da Heutagogia e que perceba o quanto, como adultos, já temos incorporados vários valores da aprendizagem autodirigida e do movimento lifelong learning. Referências BELLAN, Z. Heutagogia: aprenda a aprender mais e melhor. Santa Bárbara D’Oeste: SOCEP, 2008. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1998. INÁCIO, F. L.; JULIANI, D. P.; BLEICHER, S. Aprendizagem autodirigida. EduCAPES, 2016. Disponível em: https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/734901/2/ Aprendizagem_Autodirigida_impresso.pdf. Acesso em: 12 fev. 2024. LOPES, E. B. Andragogia: arte de ensinar adultos. Curitiba: Emater – Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, 2018. https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/734901/2/Aprendizagem_Autodirigida_impresso.pdf.https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/734901/2/Aprendizagem_Autodirigida_impresso.pdf. 53 Sumário Apresentação da disciplina Andragogia: a educação de jovens e adultos Objetivos 1. Pedagogia e Andragogia - as diferenças entre os processos de aprendizagem das crianças e dos adu 2. Andragogia: a educação de jovens, adultos e idosos 3. Pilares da Andragogia Referências Modelo andragógico e estilos de aprendizagem Objetivos 1. Introdução 2. Modelo de Barbe e Modelo Vark 3. A aprendizagem experiencial de Kolb 4. Refletindo sobre um modelo andragógico de aprendizagem de adultos Referências Métodos, técnicas e práticas andragógicos Objetivos 1. O Método andragógico de Malcolm Knowles 2. Metodologias, técnicas e práticas andragógicas 3. Novas tecnologias de informação e comunicação, ensino híbrido e a educação a distância (EAD) Referências Heutagogia e a aprendizagem autodirigida Objetivos 1. Heutagogia 2. Aprender a aprender Referências