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1 - Como não esquecer quais documentos devem acompanhar o re- curso e como ele deve ser instruído? Primeiramente, em relação ao conteúdo da peça, você deve utilizar como base o artigo 1.016 do Código de Processo Civil, que indica desde o endereçamento da petição, apontando que deve ser dirigida ao tribunal, até os tópicos que devem constar no seu recurso e elementos de conteúdo específicos ao agravo de instrumento. Já quanto aos documentos a serem juntados, a sua base de consulta é o ar- tigo 1.017 do CPC, o qual indica quais são eles, dividindo-os em obrigatórios e facultativos. Os documentos obrigatórios precisam ser juntados com o recurso e, na hipó- tese de não existirem, é possível que o advogado substitua esse documento inexistente por uma declaração de inexistência de documento, assinada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal. 2 - Despachar ou não com o julgador? É algo que deve ser utilizado, sempre que necessário, de modo adequado nas hipóteses em que há urgência ou quando há um elemento fático distinto dos demais processos. É importante estabelecer uma interlocução respeitosa e, ao mesmo tempo, altiva, com conhecimento jurídico e dos fatos que contextualizam o seu caso. Este despacho com o julgador pode servir de elemento de convencimento e até mesmo de auxílio na atividade jurisdicional, demonstrando ao cliente, principalmente, controle da gestão do processo, além de um acompanhamen- to diferenciado. 3 - Atenção aos requisitos de admissibilidade! Sempre verifique os requisitos de admissibilidade do recurso tanto ao recor- rer quanto no momento de apresentar resposta ao recurso da outra parte em contrarrazões. Lembrando que os requisitos de admissibilidade se dividem em requisitos ge- rais de admissibilidade e requisitos específicos. Os gerais são aqueles cabíveis e necessários a todo e qualquer recurso. Na classificação tradicional, os requisitos gerais se dividem em requisitos intrín- secos e extrínsecos. Os intrínsecos estão relacionados ao próprio direito de recorrer, sendo eles: cabimento, legitimidade, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extinti- vo do direito de recorrer. Os extrínsecos estão relacionados ao modo de exercer o direito ou forma de recorrer, sendo: tempestividade, preparo e regularidade formal. Existem ainda os requisitos específicos que são ligados a cada recurso. Por exemplo, o Recurso Extraordinário ao STF exige a repercussão geral, que é requisito específico utilizado apenas nessa modalidade recursal. Fique sempre atento a esses elementos porque quando você deixa de atender a um deles, a parte recorrida, em contrarrazões, pode apontar a inexistência de algum requisito e, com isso, o seu recurso pode ser inadmitido ou “não co- nhecido”, o que implica dizer que sequer será analisado no seu mérito. 4 - O que rebater na hora de recorrer? Sempre esteja atento à decisão recorrível e ao recurso cabível. Se a decisão for interlocutória, você deve, pontualmente, atacar os elementos ou sustentar aquela decisão interlocutória. Se, por exemplo, for o deferimento de uma tutela de urgência, você deve agra- var alegando que, naquele caso, não estavam preenchidos os requisitos de tutela de urgência. Ao contrário, se você requerer uma tutela de urgência e o juiz a indeferir, você deverá solicitar por meio de agravo de instrumento que o tribunal analise a presença desses requisitos. Logo, o seu recurso de agravo de instrumento deverá destacar, no primeiro caso, a ausência dos requisitos de tutela de urgência e, no segundo caso, a presença desses requisitos. Atenção ao fato de que o agravo de instrumento é um recurso formal que deve preencher requisitos específicos, bem como deve trazer documentos obrigatórios. Ainda, no agravo de instrumento, no caso de decisões interlocutórias, lembre- -se que são agraváveis apenas as decisões interlocutórias do artigo 1.015 do CPC, que tem o rol taxativo. No entanto, o STJ reconheceu a possibilidade de outras situações serem agraváveis além do artigo 1.015, sendo nos casos em que há presença de urgência e de haver inutilidade em aguardar o julgamento até o final para alegar essa questão como preliminar de apelação. Esse tema foi denominado como Teoria da Taxatividade Mitigada e é o que prevalece hoje na jurisprudência. 5 - Cobre honorários na fase recursal! Atuar em recursos é uma grande oportunidade para sua advocacia. Se você se especializar e ser reconhecido como alguém que domina o tema, muitas ve- zes, além de ser procurado pela parte interessada, também poderá ser procu- rado por outros colegas que buscam um trabalho preciso, técnico, atualizado e com resultado na confecção e interposição de recursos. Portanto, recursos também é uma oportunidade de cobrar honorários tanto pelo trabalho pro labore, quanto pelos honorários de êxito, visto que há a pos- sibilidade de se reverter a situação em instância superior ou mesmo de ser contratado pela parte recorrida. Isso porque você permanece com o papel de manter aquela pessoa em uma posição de vitória, já que, quando se é contra- tado para responder um recurso, você tem tanta responsabilidade quanto no momento que foi contratado para recorrer. 6 - Como recorrer da sentença? Quais pontos devem ser enfrentados? A apelação é o recurso cabível sobre o pronunciamento jurisdicional definido como sentença, nos termos do artigo 203, parágrafo 1°, do CPC. O mais impor- tante, neste caso, é ter em mente que a sentença é um ato que acontece uma única vez no processo, a menos que ela seja anulada. Então, qualitativamente, ela tem uma importância ímpar, porque é nela que o juiz vai julgar procedente ou improcedente os pedidos contidos na inicial. Inclusive, é nela que se pode conceder ou negar uma tutela. Neste recurso de apelação, é importante, antes de começar a produzi-lo, ana- lisar se, durante o processo da petição inicial até a sentença, houve alguma decisão interlocutória sobre a qual não cabia agravo de instrumento, pois uma decisão interlocutória não agravável, se existir, vai ser trabalhada como preli- minar da apelação. Na ordem de enfrentamento das questões, é importante separar a peça em duas partes: uma parte que analisa pontos processuais e outra parte que é sobre a própria aplicação do direito ou do conteúdo probatório. Nesse contexto, a ordem de enfrentamento na apelação é, preliminarmente, as questões envolvendo procedimento e eventual error in procedendo e, depois, as questões envolvendo a aplicação do direito, eventual error in judicando. Isso também vale para o pedido. Na sua peça, você deve pedir para o recurso ser admitido e, no mérito, ser provido. E esse provimento pode ser para o fim de anular a sentença ou para reformá-la. Lembrando que o pedido para anular a sentença estará fundado em error in procedendo e, para reformar a senten- ça, estará fundado no error in judicando, ou seja, contra a aplicação do direito. 7 - Dê a devida atenção ao recurso de agravo de instrumento! Não é qualquer advogado que sabe efetivamente como elaborar um de boa qualidade. Então, invista seu tempo estudando a matéria e a jurisprudência aplicada, além de treinar como se deve fazer um agravo de instrumento, des- de a abordagem inicial até o pedido de tutela antecipada recursal de efeito suspensivo puro ou efeito suspensivo ativo. Aliás, além de muitos colegas não saberem fazer um bom agravo, ainda existe um segundo patamar, que é fazer um agravo eficaz, com verdadeiras chances de êxito e reversão. Muitas vezes, o agravo de instrumento é a oportunidade que você tem de mos- trar a quem te contratou o quanto você vale. Especialmente, o quanto você tem de conhecimento técnico a ponto de convencer um tribunal de que a de- cisão de 1º grau está equivocada. Então, este também é um fato muito impor- tante para que se tenha em mente que, muitas vezes, a diferença está no que você entrega durante o processo, principalmente na fase recursal. 8 - Como evitar a multa e que os seus embargossejam considerados protelatórios? Primeiramente, você deve fundamentar qual é o vício e qual é a parte da deci- são que incide no vício de omissão, obscuridade, contradição ou erro material, alinhando este vício com as hipóteses previstas no CPC, bem como o pedido adequado. Se falar de omissão, você vai pedir para suprir a omissão. Se for obscuridade, você vai pedir para esclarecê-la. Se for contradição, pedir para eliminar a contradição. Você tem que deixar bem claro na decisão e demons- trar que realmente o vício existe. Em outros casos, você também pode entrar com embargos de declaração com o objetivo de prequestionar a matéria dian- te de um acórdão do tribunal, por exemplo, que deixou de enfrentar um ponto que é fundamental, que seja prequestionado para que você possa buscar no segundo momento o recurso especial ou o recurso extraordinário. Deixe muito claro, adeque de forma bem comparativa o vício apontado, transcreva a parte da decisão que tem esse vício, moldando ao dispositivo aplicável a esse vício, fazendo o pedido adequadamente. 9 - Atenção para o efeito suspensivo e para o efeito regressivo dos recursos! Efeito suspensivo: este efeito tem como consequência evitar a eficácia ime- diata da decisão. Mas atenção! Este efeito, em regra, não é automático, portan- to, depende de um requerimento do recorrente, um tópico solicitando efeito suspensivo e a concessão por parte do destinatário do recurso deste efeito suspensivo. Lembrando que, para obter efeito suspensivo, a parte deverá de- monstrar os requisitos do perigo de dano e da probabilidade do direito. Efeito regressivo: Quanto ao efeito regressivo, é um efeito que possibilita que o recorrente possa buscar a retratação do juízo, ou seja, que o juiz possa, diante do recurso interposto, rever sua posição interior. Por meio deste efeito regres- sivo, você inaugura uma nova interlocução com o juízo que proferiu aquela de- cisão. Mas agora, solicitando a ele que considere as ações recursais para que ele possa exercer o efeito regressivo e retratar-se sobre a decisão anterior. Estes dois efeitos geram impactos muito importantes no processo e, se bem utilizados e fundamentados, podem ser justamente um instrumento de rever- são ou de nova solução favorável ao seu cliente. 10 - A importância de se tornar um expert em recursos! Imagine também a situação em que você, até então, não é o advogado da cau- sa, mas é procurado por um colega advogado para auxiliar na interposição do recurso, na análise da decisão e na interposição do recurso, ou mesmo pro- curado por uma parte que está insatisfeita com a atuação do colega anterior. Nas duas hipóteses, você está sendo procurado porque lhe enxergam como al- guém que entende do assunto. Isso, além de ser uma oportunidade, um nicho de atuação na advocacia, é também uma forma de atuação que pode trazer re- sultados que, até então, não foram obtidos em primeiro grau. Então, você pode atuar na fase recursal sendo advogado do processo ou também pode atuar a partir dali, por meio de um substabelecimento, em conjunto com o advogado que já estava no processo, ou até mesmo, se for da vontade da parte, em uma contratação dali para frente. Outra oportunidade que você pode ser procurado é quando a pessoa teve uma decisão favorável de 1º grau, mas sente uma insegurança se a sentença vai ser mantida, ou se essa decisão vai ser mantida diante do recurso da parte contrá- ria que trouxe elementos novos, questões que trazem um risco de alteração do entendimento de 1º grau. Neste caso, a sua atuação vai ser na defesa, ou seja, apresentando contrarrazões ao recurso da parte contrária, com o objetivo de manter aquele cliente, aquela parte vitoriosa, dando sustentáculo e subsídios para que todos os fundamentos da sentença sejam reforçados e sejam conso- lidados em favor do direito daquele que te contrata para essa fase.