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Derivados do endoderma O dobramento crânio caudal leva a expansão da cavidade amniótica, reposicionamento do mesoderma cardíaco, do septo transverso (localizado entre as regiões em que se formam o coração e o fígado; formação do mesentério ventral na região do fígado) e do alantóide, formação do ducto vitelino e delimitação do intestino primitivo. O ducto vitelino conecta o saco vitelino ao intestino médio e o mesentério dorsal conecta o intestino primitivo à parede corporal dorsal. Posteriormente às bolsas faríngeas, é possível identificar um divertículo do endoderma (divertículo respiratório), próximo à porção torácica do esôfago. Na região ventral, onde estão localizados a região cardíaca e o septo transverso, junto a outro derivado mesentério dorsal, surge uma membrana de separação entre as cavidades torácica e abdominal. Na imagem à direita, está ilustrada parte do tubo digestório com localização abdominal; três artérias nutrem as três regiões intestinais localizadas na cavidade abdominal. Parte do diafragma é formado a partir do septo transverso e do mesentério dorsal do esôfago (membrana que separa as cavidades torácica e abdominal). O que define a posição de cada um dos órgãos? Desde antes do fechamento do embrião, existe uma especificação definida por expressão diferencial de proteínas, que podem ser secretadas e criam gradiente de concentração importante para a definição do posicionamento dos órgãos ao longo do eixo corporal crânio caudal. Além desse evento inicial, na sequência do desenvolvimento (com a curvatura cefálico cranial e com a curvatura caudal) essas regiões se tornam cada vez mais especificadas e nítidas, devido à expressão de diferentes fatores de transcrição. Durante a gastrulação é estabelecida a assimetria direita-esquerda; ao longo do desenvolvimento, os lados esquerdo e direito se diferenciam, embora morfologicamente semelhantes, através da expressão diferencial de proteínas. Como consequência dessa assimetria e do padrão de diferenciação ao longo do eixo crânio caudal, os órgãos adquirem suas formas características no decorrer do tempo. O estômago, por exemplo, a princípio (A) é visto como um tubo relativamente simples. Sua porção dorsal cresce mais rapidamente que a parte ventral e, como consequência da maior proliferação das células dessa região, ocorre a formação de uma curvatura maior. Nesse mesmo momento, ocorre uma rotação do órgão (que depende da relação do órgão com as membranas que o prendem à parede corporal — mesoderma lateral esplâncnico); a parte esquerda do estômago se volta, então, para a região ventral e o estômago adquire sua anatomia característica. A conformação das estruturas ao redor do estômago também muda. Os ramos do nervo vago (parte em azul, inicialmente na região esquerda, passam para a porção ventral; o mesentério ventral (parte em vermelho) assume posição anatômica à direita. Próximo à saída do estômago (região posterior), localiza-se o duodeno; no esquema ao lado é possível notar que, da região do duodeno, surgem brotamentos, ou seja, regiões de proliferação do endoderma em direção ao mesoderma, importantes para a formação de glândulas. Ao longo do desenvolvimento, o mesentério ventral em torno do fígado recebe nomes diferentes. A parte que liga o fígado à parede ventral do corpo forma o ligamento falciforme e a parte que o liga ao estômago e à região do duodeno é chamado de omento menor. O fígado tem crescimento muito acelerado e ocupa grande região da cavidade abdominal; atinge a parte onde está se formando o diafragma (área nua do fígado). Na parte do duodeno onde se formam os brotamentos hepáticos, surgem também brotamentos que dão origem ao pâncreas. Forma-se um brotamento dorsal e um brotamento ventral e, com o giro do estômago e do duodeno, o broto pancreático ventral gira em torno do eixo do duodeno e assume posição próxima ao brotamento dorsal. Com o deslocamento da região ventral do pâncreas, o ducto biliar que passa na região dorsal se insere junto ao canal que sai do pâncreas e persiste como ducto pancreático principal, que normalmente degenera. A rotação assimétrica é dependente da expressão inicial do lado esquerdo de nodal, lefty e Pitx2. As células da região esquerda (tanto do mesoderma quanto do endoderma) se proliferam mais, formando uma alça e consequentemente levando ao giro (rotação). Inicialmente, o pâncreas e o duodeno ocupam plano médio e intraperitoneal (na cavidade intraperitoneal, revestidos pelo mesoderma esplâncnico). Com a rotação dos órgãos, o pâncreas, junto ao duodeno, passa a ocupar posição retroperitoneal, à esquerda; ou seja, apenas um lado é revestido pelo mesoderma lateral esplâncnico. A alça intestinal representada na ilustração à direita está presa à região ventral pelo pedículo vitelino e à parede corporal melo mesentério dorsal, rico em vasos sanguíneos. O mesentério é fundamental para a passagem de vasos sanguíneos e linfáticos e para a inervação dos órgãos em formação. Durante o momento em que o desenvolvimento das alças intestinais ocorre de forma acelerada, a parte em que ela se localiza, no intestino médio, é ocupada, em grande parte, pelo crescimento do fígado; consequentemente, seu crescimento ocorre rumo à cavidade do cordão umbilical (herniação do intestino médio). Enquanto se desenvolve, o intestino médio gira em torno da artéria mesentérica superior e volta para a cavidade abdominal. Durante o desenvolvimentos desses órgãos, as membranas que os ligam uns aos outros e à parede corporal também se desenvolvem; a imagem ao lado ilustra o crescimento dessas estruturas e alteração da forma do mesentério dorsal. Na representação ao lado é possível identificar a cloaca e o intestino posterior, em comunicação com o alantóide; nessa região será formada a bexiga urinária. As estruturas representadas são separadas pelo crescimento de uma prega de mesoderma chamada de septo urorretal. As duas regiões são relacionadas uma ao intestino e outra ao sistema urinário.O proctodeu é a região de formação do ânus que, assim como a boca, será revestido por ectoderma de revestimento, em vez de endoderma, como as demais estruturas do intestino. Na quarta semana do desenvolvimento embrionário forma-se o divertículo respiratório (ou broto pulmonar). Esse divertículo está em ampla comunicação com o esôfago; no decorrer do desenvolvimento é formado um tubo mais longo a partir do divertículo (traquéia) e, com o alongamento do esôfago, os dois órgãos se separam. A traquéia ramifica, formando dois brotos, a partir dos quais se formarão os pulmões. Nesse momento, há comunicação entre as cavidades corporais. Os brotos pulmonares passam pelo canal pericárdio peritoneal; à medida que os pulmões e a traquéia se alongam, os pulmões mudam de posição. Com a formação do septo transverso, forma-se o diafragma. Da quarta à oitava semana de gestação, o que fora o divertículo respiratório sofre ramificações de forma assimétrica, conforme ilustrado no esquema à esquerda. Ao final do período embrionário as ramificações do divertículo formam três lobos no pulmão direito e dois lobos no pulmão esquerdo. Até que os pulmões estejam plenamente formados, eles passam por cinco estágios de desenvolvimento: fase embrionária, pseudoglandular, canalicular, saccular e alveolar. O processo de alveolização ocorre nos primeiros anos de vida pós natal. Os bronquíolos respiratórios, formados na 28ª semana, são os responsáveis pela respiração do recém nascido. Por volta da 27ª semana do desenvolvimento, as células epiteliais que revestem as cavidades dos pulmões se tornam achatadas e associadas às células endoteliais dos capilares; formam-se os sacos terminais que darão origem aos alvéolos. Após o nascimento, essas células epiteliais estão ligadas por membrana às células endoteliais, o que permite que ocorram as trocas gasosas. Na sequência do desenvolvimento pós natal, o ducto alveolar dá origem aos alvéolos. A célula alveolar epitelial tipo I é responsável pelas trocas gasosas, enquanto o tipo II produz o surfactante, importante para a diminuição da tensão superficial na interface ar-alvéolo, evitando o colapso dos alvéolos durante a expiração, após o nascimento.