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ANDRESSA MARIA FREIRE DA ROCHA ARANA FERNANDA SANSÃO RAMOS LUCIANA FERREIRA FURTADO DE MENDONÇA 1ª Edição Brasília/DF - 2024 Capítulo 1 A gestão democrática da Educação: os Sistemas de Ensino e seus mecanismos de para a descentralização Gestão Educacional: Orientação Educacional e Pedagógica Autoria Andressa Maria Freire da Rocha Arana Fernanda Sansão Ramos Luciana Ferreira Furtado de Mendonça Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração 3 Introdução Figura 1. O papel da comunidade escolar para a gestão democrática educacional. Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/18275/inclusao-na-educacao-quais-os-desafios-para-realmente-atender- pessoas-com-deficiencia. “Gestão Educacional” é uma expressão que ganhou espaço e aceitação entre os educadores, sobretudo a partir dos anos 1990, e vem-se constituindo em um conceito comum no discurso de orientação das ações de sistemas de ensino e de escolas. No entanto, o entendimento de gestão como concepção não se encontra devidamente entendido por boa parte dos profissionais em Educação, tornando-se necessário esclarecer questões básicas dessa concepção. O conceito de gestão resulta de um novo entendimento a respeito da condução dos destinos das organizações, que leva em consideração o todo em relação com as suas partes e destas entre si, de modo a promover maior efetividade do conjunto (Morin, 1985; Capra, 1993, apud Luck, 2006). A gestão aparece como superação das limitações do conceito de administração, como estudaremos nos tópicos seguintes. Para Luck (2006, p. 35) a Gestão Educacional corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema de ensino como um todo, de coordenação das escolas em específico, afinado 1 CAPÍTULO A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO 4 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO com as diretrizes e políticas educacionais públicas, para a implementação das políticas educacionais e projetos pedagógicos nas unidades de ensino. Essa postura, as ações, requerem compromisso com os princípios da democracia e com métodos que organizem e criem condições para um ambiente educacional: » autônomo (promotor de soluções próprias, no âmbito de suas competências); » participativo e de compartilhamento (propicie tomada de decisão conjunta e efetivação de resultados); » autocontrole (acompanhamento e avaliação com retorno de informações para o desenvolvimento integral do sujeito); » e transparência (que possibilite a demonstração pública de seus processos e resultados). Dessa forma, a lógica da gestão nas escolas deve ser orientada pelos princípios da democratização, caracterizando-se pelo reconhecimento da importância da participação consciente e esclarecida das pessoas nas decisões sobre a orientação, organização e planejamento de seu trabalho e articulação das várias dimensões e dos vários desdobramentos de seu processo de implementação. Conforme afirmado em trabalho conjunto entre Unesco e MEC: (...) o dirigente escolar é cada vez mais obrigado a levar em consideração a evolução da ideia de democracia, que conduz o conjunto de professores, e mesmo os agentes locais, à maior participação, a maior implicação nas tomadas de decisão (Valérien, 1993 apud Luck, 2006, p. 37). Portanto, nesta aula, estudaremos a escola como organização, destacando a sua administração numa perspectiva democrática. Identificaremos os princípios e as características de uma gestão escolar participativa e a importância da autonomia dos (a) seus (a) participantes, especialmente, a postura do (a) pedagogo (a) diante às práticas administrativas Figura 2. A participação social como pilar para uma gestão democrática. Fonte: https://revistacasacomum.com.br/participacao-social-pilar-da-democracia/. Portanto, nesse capítulo 1, nossos objetivos são: 5 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 Objetivos » Conhecer os aspectos Gerais da Gestão Democrática Educacional. » Identificar os Sistemas de Ensino no Brasil, bem como os mecanismos vigentes da gestão educacional. » Entender o processo de autonomia na Gestão Escolar. No próximo tópico, aprofundaremos os nossos estudos por meio do seguinte convite: compreender a escola como uma organização. Para Duarte (2002) isso significa entender como um espaço que possibilita o desenvolvimento humano, integral, de diferentes competências que nos apoiarão na nossa atuação como cidadãos, um local onde possamos realizar nossa natureza pessoal e social em sua expressão máxima. 1.1 Escola como Organização: a administração numa perspectiva democrática Para iniciarmos as nossas reflexões, convidamos você a ler o poema “A escola é “escrito, pelo patrono da educação brasileira, Paulo Freire (2003): Escola é … o lugar que se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, Programas, horários, conceitos… Escola é sobretudo, gente Gente que trabalha, que estuda Que alegra, se conhece, se estima. O Diretor é gente, O coordenador é gente, O professor é gente, O aluno é gente, Cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor Na medida em que cada um se comporte Como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados” Nada de conviver com as pessoas e depois, 6 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO Descobrir que não tem amizade a ninguém. Nada de ser como tijolo que forma a parede, Indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, É também criar laços de amizade, É criar ambiente de camaradagem, É conviver, é se “amarrar nela”! Ora é lógico… Numa escola assim vai ser fácil! Estudar, trabalhar, crescer, Fazer amigos, educar-se, ser feliz. É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo. O educador José Pacheco, conhecido pelas estratégias inovadoras da Escola da Ponte, sempre inicia a sua fala, chamando a nossa atenção “A escola não são prédios, são as pessoas”. É claro que todos os recursos, a infraestrutura, o giz, o computador, entre muitas outras ferramentas pedagógicas são essenciais para a qualidade do ensino. No entanto, o que ambos os autores nos alertam é que a escola é viva, é vida, feita de pessoas é esse deve ser o nosso foco, o alvo principal de todo o sistema. As pessoas formam-se e são constituídas por seus valores, pelas políticas públicas de ensino, gerando um propósito, a ideia de um projeto de educação. E a elaboração de um “projeto” significa movimento coletivo, com muitas mãos e pensamentos. E podemos considerar que nesta “orquestra”, onde cada instrumento musical é importante e determinante para a apresentação final da sinfonia, o “maestro”, com a batuta em mãos “lidera” cada integrante para alcançar o objetivo final. E, assim, podemos pensar, de uma forma poética, o papel do (a) gestor educacional. Figura 3. Orquestra com seus diferentes instrumentos sob a liderança do seu maestro. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/geneva-november-30-antoine-marguier-conducts-177445016. 7 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 E para pensar nesse “papel”, ou melhor, nas ações que compõem essa função social, de gestor escolar, gestor educacional, é interessante o nosso retorno ao passado. Assim, conheceremos algumas mudanças no exercício e no cotidiano deste profissional, sempre presente nas unidades de ensino brasileiras. Num determinado tempo histórico passado, os fundamentos da “administração escolar” eram baseados no enfoque científico-racional, que via a escola como uma organização convencional, formal e operacional. Portanto, já se pensava sobre os recursos que envolviam a organização do espaço escolar (físicos, materiais,financeiros e humanos), mas não se considerava, muitas das vezes, as especificidades de cada contexto e a participação de toda a comunidade, apoiando e orientando o trabalho do(a) dirigente escolar. Figura 4. Características das primeiras escolas implementadas no Brasil somente para a educação de meninos. Fonte: https://oresgate.net.br/enfim-fomos-estudar-na-sede-do-municipio-de-peri-mirim/. Dessa forma, podemos compreender que “gestão escolar e administração escolar”, não são conceitos sinônimos, possuem diferenças não somente na terminologia, especialmente, nas suas ações práticas do cotidiano educacional. “Administração” é utilizado para ilustrar e, também, explicar o controle dos processos, sendo mais utilizado no âmbito corporativo, nos últimos anos. Lima (2005) aponta que essa relação com o contexto escolar ocorria, pois não tínhamos muitos estudos específicos sobre o espaço educacional e, assim, recorríamos aos autores das outras áreas de conhecimento na tentativa de explicarmos as necessidades do nosso cotidiano. E, nesse esforço crítico, emerge o alerta de que não podemos “enxergar” a escola com os mesmos “óculos” utilizados para a análise empresarial ou de outras instituições. A Escola possuí uma organização própria, com objetivos bem definidos, tendo uma função social bem diferente das empresas ou outros grupos sociais. 8 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO Figura 5. Mensagem destacada na parede de uma unidade de ensino brasileira “educação não é mercadoria”. Fonte: https://www.brasildefatope.com.br/2021/04/28/a-escola-nao-e-uma-empresa. Diferentemente dos fundamentos da administração escolar, com enfoque científico-racional, que viam a escola como uma organização convencional, formal e operacional (com ênfase nos recursos físicos, materiais, financeiros e humanos). Surge uma nova abordagem importante para orientar o trabalho do dirigente escolar que precisa de “novos contornos” e prioridades. Mas ainda utilizamos o termo “administração”, no contexto escolar, quando mencionamos o planejamento, a organização e o controle de processos, recursos, visando o alcance de determinada finalidade. Consideramos como “recursos”: os funcionários da unidade de ensino, os recursos financeiros, os materiais e os insumos, os equipamentos necessários para a realização da atividade educacional, o tempo, entre muitos outros. Você percebeu? Que o uso da palavra “administração” se relacionou mais às questões técnicas e estratégicas? Para avançarmos os nossos estudos, conheça ações que compõem esse conceito no ambiente escolar: Quadro 1. Exemplos de ações referentes à administração escolar. Planejar e coordenar as estratégias dos setores administrativos da escola. Estipular metas e objetivos. Medir o resultado das atitudes tomadas. Fazer análises financeiras. Definir orçamentos. Analisar os pontos fortes e fracos da escola. Identificar oportunidades, riscos e ameaças à instituição. Verificar o andamento do trabalho dos colaboradores/funcionários. Planejar e organizar os calendários e cronogramas. Delegar tarefas. Fonte: Luck, 2007. Nesse momento você deve estar questionando: mas e gestão? Como esse conceito foi adotado e de que forma se relaciona com a “administração? Será que essas “palavras” se integram ou se afastam? 9 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 Paro (2005) destaca que para compreendermos essa complexa atividade de “cuidar e empreender uma instituição de ensino” se faz imprescindível o relacionamento com a sua comunidade, com todos os atores participantes deste grande projeto. E, assim, relacionamos a “gestão” a abordagem mais humanizada que favorece aspectos que desenvolvam o outro em sua integralidade. Observe algumas ações que podemos relacionar ao processo de gestão: Quadro 2. Exemplos de ações referentes à gestão escolar. Manter os funcionários motivados. Engajar todo a comunidade que integra a escola. Mediar conflitos. Estimular e proporcionar condições para o aprimoramento profissional. Desenvolver formações e treinamentos. Incentivar a proatividade e os aspectos singulares dos indivíduos e da comunidade. Conhecer os integrantes da comunidade. Fonte: Luck, 2007. O novo paradigma da administração escolar, que se baseia no conceito de gestão, focaliza o entendimento de que os problemas globais demandam de ação coletiva; que ação conjunta, participativa, se associa à autonomia competente; que a concepção de gestão supera a de administração e não a substitui. Atualmente, a lógica da gestão nas escolas é orientada pelos princípios da democratização e caracteriza-se pelo reconhecimento da importância da participação consciente e esclarecida das pessoas nas decisões sobre a orientação, organização e planejamento de seu trabalho e articulação das várias dimensões e dos vários desdobramentos de seu processo de implementação. Segundo ainda os estudos de Luck (2006), sobre gestão educacional observa-se claramente que, ao longo da história de nossa educação, os esforços para a melhoria da qualidade do ensino têm se privilegiado de ações que focalizam, de acordo com a prioridade definida na ocasião. Portanto, ora nos concentramos nas melhorias das metodologias do ensino; ora n domínio de conteúdo pelos professores e/ou a sua capacitação em processos pedagógicos, ora na melhoria das condições físicas e materiais da escola; ora nas reformas do currículo em seu aspecto formal; ora no ensino; ora na aprendizagem; ora na avaliação. Essas estratégias isoladas, que objetivam soluções imediatas e específicas, de acordo com Luck (2006), deveriam ser encontradas e pensadas num envolvimento maior nos processos de gestão da escola. Entende-se que resultam em meros paliativos aos problemas enfrentados na escola, e que a falta de articulação entre a gestão escolar e os diversos atores do processo educativo, explicaria o fracasso e a falta de eficácia na aplicação de esforços e recursos para a melhoria da qualidade do ensino. 10 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO Embora existam certos instrumentos e condições para orientar a realização do ensino de qualidade, estes se tornam ineficazes por falta de ações articuladas e conjuntas. Firma-se o entendimento de que tem faltado, para a promoção da qualidade da educação, uma visão global de escola como instituição social e uma percepção abrangente da teia de relações entre os vários componentes que delineiam a experiência educacional. Essa sinergia promovida [integração dos saberes e das mais diferentes áreas], estimulada e orientada sob a liderança da gestão escolar, voltada para a dinamização e coordenação do processo coparticipativo para atender, na escola, às demandas educacionais da sociedade dinâmica e centrada na tecnologia e conhecimentos (Luck, 2006, p. 42). Dessas relações surge a importância da gestão educacional, pautada no enfoque participativo, com base nos princípios de democratização e descentralização, na determinação dessa sinergia que evoca um novo caminho no processo escolar. Essa concepção de gestão permitirá superar a limitação da fragmentação e da descontextualização e construir, sob a ótica abrangente e interativa, a visão e a orientação de conjunto, no qual se desenvolvem ações articuladas e mais consistentes no ambiente educativo. A organização escolar é definida como uma unidade social que reúne pessoas que reagem entre si, intencionalmente, operando por meios de estruturas e de processos organizativos próprios, a fim de alcançar objetivos educacionais. (Libâneo; Oliveira; Toschi, 2012, p. 316). Tem como objetivo primordial: o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes, valores),para se tornarem cidadãos participativos na sociedade em que vivem. Assim, podemos compreender a escola como uma instituição que promove a socialização dos indivíduos, com a função social de ensinar conhecimentos e habilidades essenciais e necessárias à preservação da sociedade. Dessa forma é uma das organizações sociais responsáveis por partilhar as normas e as regras sociais, muitos autores, pensam na escolha um espelho da sociedade, reproduzindo as suas tensões e os seus conflitos (Duarte, 2002). Figura 6. Gestão para a diversidade e a democracia na unidade de ensino. Fonte: http://www.jornaldosudoeste.com.br/noticia.php?codigo=203115. 11 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 Enquanto organização, a principal função social da escola, é o desenvolvimento de características específicas em seus estudantes como: autonomia, capacidade de reflexão crítica, tomada de decisões, capacidade de análise, síntese, argumentação, cooperação, criatividade entre outras. É recente o estudo da escola como organização, no campo nacional e internacional, tecendo críticas que possibilitam uma chamada “modernização” das ações nos territórios educacionais, reforçando e enfatizando-a como um espaço de formação, organização do trabalho e lugar de aprendizagem. Compreender a escola como uma “organização” reconfigura o seu papel na sociedade e possibilitando novas formas de atuação por meio da sua autonomia, palavra-chave, nesse novo cenário (Lima, 2001; Nóvoa, 1992; Canário, 2005). Para Luck (2007) a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases na Educacional Nacional vigentes, por meio dos seus inúmeros dispositivos, possibilitaram a implementação de mecanismos de participação social nos sistemas educacionais e na gestão escolar, proporcionando espaços para a atuação da comunidade e outras entidades. Dessa forma, estratégias que promovam o envolvimento e o engajamento da comunidade interna e externa a escola são estimuladas e solicitadas. A expressão “participação social” está atualmente em toda parte. Com sentidos e projetos diferentes, é encontrada nas práticas de instituições públicas das várias instâncias governamentais, nos arranjos institucionais de, praticamente, todas as políticas sociais e nos programas de governo de partidos de todos os matizes. A intensificação da participação social, entendida aqui como a participação da sociedade em espaços públicos de interlocução com o Estado, reflete a configuração de um tecido social que foi se tornando mais denso e diversificado desde meados dos anos 70, período de surgimento dos novos movimentos sociais. A Constituição Federal de 1988, por sua vez, coroou esse processo atribuindo relevância à participação da sociedade na vida do Estado, ao instituir vários dispositivos nas esferas públicas de âmbitos federal e local. Portanto, Participação social é direito assegurado e está na Constituição, podendo acontecer por meio de diferentes canais. Os mais comuns são os conselhos gestores de políticas públicas que atuam nos estados e municípios (Conselhos de Assistência Social, de Saúde, de Educação). Figura 7. Desenho infantil da “escola dos meus sonhos”: o papel da construção coletiva, especialmente, dos estudantes como espaço de segurança e de formação integral. Fonte: https://aprendizagemcriativa.org/atividade/vamos-construir-nossa-escola-dos-sonhos. 12 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO A construção coletiva do projeto político pedagógico, as reuniões com a comunidade e as famílias, entre outras ações, ressaltam o compromisso com a democracia e a transparência no processo gestor, evidenciando métodos que organizem e promovam um aprendizado autônomo (soluções próprias e adequadas às características de cada comunidade), de participação compartilhada (tomada conjunta de decisões e efetivação dos resultados), com autocontrole (acompanhamento e feedback das informações) e demonstração pública de todos os resultados. Para sobreviver, uma organização tem que ser contemporânea a seu tempo. Ela precisa se ajustar às exigências das mudanças, pois vida é essencialmente mudança. É preciso por conseguinte conhecer com antecedência razoável, o sentido da mudança. (...) mais do que nunca vai ser preciso uma acuidade mental muito grande, para os empresários e dirigentes de organizações evitarem o desaparecimento dos sistemas que lideram (Weil, 1995, p. 45). De acordo com o Weil (1995) o indivíduo, os (a) estudantes, precisam saber o “para quê”, “para quem” e “porque “eles estudam ou realizam determinado trabalho, sendo que o entusiasmo somente será possível se o sentimento de pertencimento e de contribuição à humanidade for despertado. Portanto, a escola deve estar preparada para estimular cada integrante com o comprometimento pela sua formação ao longo da vida, aprendizagem continuada, valorizando a responsabilidade social, a participação individual e coletiva na sociedade. Para isso precisamos pensar em novas organizações escolares, em estratégias que possibilitem a intensa e a crítica interação entre os mais diferentes pares que compõem essa comunidade, incentivando o exercício da democracia e da autonomia. 1.2 Princípios e características da gestão escolar participativa: a autonomia da Gestão escolar Figura 8. Gestores e técnicos de escolas do município de Imperatriz, participando de capacitação do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola). Fonte: https://imperatriz.ifma.edu.br/2023/03/01/campus-imperatriz-promove-reuniao-de-pais-e-responsaveis/. 13 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 O território escolar é o espaço privilegiado onde as políticas educacionais e públicas se desenvolvem, são materializadas. Na escola o (a) docente planeja, implementa e avalia as ações que favorecem o processo de aprendizagem do (a) estudante. Como uma organização, com suas próprias demandas e necessidades, devemos pensar em graus progressivos de autonomia pedagógica, especialmente, nas unidades de ensino públicas (Art. 15, da LDB, 1996). Por meio de uma gestão participativa, ou seja, que considera as perspectivas individuais de cada integrante, em prol dos benefícios de toda a coletividade. Portanto, a visão de mundo de cada pessoa é de extrema relevância, mas o objetivo maior sempre será “proporcionar experiências que qualifiquem e ampliem a aprendizagem de todos os alunos”. Assim, as unidades de ensino são compreendidas como uma grande rede que pertence ao sistema de ensino brasileiro, sendo que para assegurarmos a eficiência necessária, o processo de gestão escolar deve possibilitar: o diagnóstico educacional de cada unidade de ensino, a definição de indicadores referentes ao que consideramos “sucesso” e as suas metas, a elaboração de estratégias, o monitoramento e a avaliação como rotina do cotidiano pedagógico, o planejamento e a articulação entre as mais diferentes iniciativas. Como gestor/a é muito importante que você saiba a organização dos níveis e modalidades de ensino no Brasil. Também, esteja sempre atento/a, às legislações e suas atualizações, atualmente, todas disponíveis na web, gratuitamente. Figura 9. Níveis e Modalidades de Ensino no Brasil. 14 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO E afirmamos que a gestão deve estar a serviço da educação! Se a educação que defendemos é aquela que contribui para a democracia, a escola deve começar por ela mesma a se organizar como campo de relações democráticas que antecipem uma ordem social mais coletiva, mais participativa, mais igualitária, mais comprometida com a construção de uma sociedade mais justa (Antunes, 2005, p.26). Para apoiar e propiciar a participação democrática nos espaços escolares contamos com órgãos vinculadosà gestão dos sistemas de ensino. Os conselhos de políticas públicas e educacionais possui uma função consultiva e normativa, por exemplo, os Conselhos Municipais e Estaduais de Educação, tendo como principal finalidade cooperar e zelar pela aprendizagem nas escolas. A comunidade escolar pode e deve participar desses conselhos para assegurarmos a gestão democrática, presente e viva, no cotidiano de cada unidade de ensino. Essa noção de partilha de responsabilidades, envolvendo e engajando todos os integrantes da escola nos processos decisórios, somente é possível por meio da autonomia, um componente implícito ao princípio da gestão democrática. Figura 10. Escola Municipal de Boa Vista do Ramos recebe selo da UNICEF pelo excelente desempenho e gestão democrática: uma boa prática e inspiração. Fonte: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/boa-vista-do-ramos-se-torna-o-primeiro-municipio-do- selo-unicef-a-alcancar-meta-do-indique. A gestão democrática da educação está ligada ao estabelecimento de mecanismos legais e institucionais e à organização de ações que desencadeiem a participação social tais como os listados a seguir (Luck, 2006): 15 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 Figura 11. Ações que desencadeiam a participação social. Planejamento Formulação de políticas educacionais Tomada de decisões Execução das deliberações coletivas Definição do uso de recursos e necessidades de investimento Avaliação escolar Democratização do acesso Estratégias que garantam a permanência na escola; Debate sobre a qualidade do ensino Fonte: Luck, 2006. Para o desenvolvimento das ações destacadas, a autora (Luck, 2006) nos alerta a necessidade e a existência de determinados princípios que garantem e norteiam uma gestão autônoma e democrática, são eles: comprometimento, competência, liderança, mobilização coletiva, transparência, visão estratégia, visão proativa, iniciativa e criatividade. Figura 12. Princípios que norteiam a gestão escolar autônoma e democrática. Comprometimento: corresponde a uma atitude de sentir-se responsável pela educação como um todo e pelos seus resultados e não apenas com suas funções, atividades e horário de trabalho. Competência: refere-se a uma circunstância associada à profissionalização, à busca contínua pelo aprimoramento da capacidade profissional e pessoal Liderança: estilo de atuação pelo qual se toma a iniciativa de contribuir para o bem- estar geral, oferecendo ideias, sugestões, orientações e atuando de modo sinérgico. Mobilização coletiva: boa ação é aquela que se integra a outras e não a que é isolada. Trabalha bem quem, por meio de suas ações, mobiliza o interesse, a atenção e a ação de outros para a mesma finalidade. Transparência: a abertura e divulgação do modo de agir, das ideias que sustentam as ações, dos resultados pretendidos, dos interesses a serem atendidos constituem-se em condição para que os demais membros da comunidade escolar possam apoiar essas ações. Visão estratégica: implica visão de futuro e abrangente da realidade. É uma condição para que a escola possa responder aos seus desafios mais amplos em vez de fechar- se ao comodismo. Visão proativa: consiste em uma orientação positiva da capacidade própria de enfrentar desafios, assumir responsabilidades e criativamente enfrentá-los. Iniciativa: sem a capacidade de tomar iniciativa na busca de soluções a dificuldades observadas e de envolver-se a partir desse princípio no esforço para essa solução, a autonomia deixa de existir. Criatividade: implica olhar diferente a realidade e buscar nela novas alternativas de trabalho. Fonte: Luck, 2006. 16 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO A autonomia escolar viabiliza uma gestão democrática e participativa, pois descentraliza a tomada de decisão, possibilitando que a comunidade educacional possa fazer suas escolhas, considerando suas necessidades e especificidades. Mas como você compreende o significado da palavra “autonomia”? Como podemos, e se podemos, exercê-la em nosso dia a dia? No dicionário virtual Michaelis a palavra “autonomia” é definida da seguinte forma: 1. Capacidade de autogovernar-se, de dirigir-se por suas próprias leis ou vontade própria; soberania; 2. faculdade própria de algumas instituições quanto à decisão sobre organização e normas de comportamento, sem se dobrar ou ser influenciadas por imposições externas; 3. Direito de se administrar livremente, dentro de uma organização mais vasta, liderada por um poder central. Claro que outros significados podem ser apreendidos, no entanto, no contexto educacional, Barroso (1996) nos alerta que toda autonomia é relativa, tendo em vista que ainda temos que seguir as orientações e determinações legais nacionais (Constituição Federal, LDBEN- 1996, entre outras normativas). A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autónomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua acção se exerce sempre num contexto de interdependência e num sistema de relações. A autonomia é também um conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos mais, ou menos, autónomos; podemos ser autónomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as suas próprias leis (Barroso, 1996, p. 17). Portanto, a autonomia escolar, também, possui suas limitações que podem e devem ser superadas por meio da participação de toda a comunidade. O projeto pedagógico da instituição educacional é considerado essa bússola norteadora das práticas, quando fruto de uma discussão real entre os profissionais, os estudantes e sua comunidade. E, nessa caminhada autônoma, a presença da família dos alunos e dos indivíduos que residem próximo a unidade de ensino, asseguram a participação democrática e ativa. Segundo Luck (2006, p. 94), a questão da autonomia é complexa, dinâmica e envolve situações submetidas à controvérsia, crítica e restrições, apesar de ser considerada como uma necessidade para o desenvolvimento de pessoas e organizações Vamos conhecer algumas reflexões importantes sobre a autonomia (Luck, 2006): » Autonomia é processo: é característica de um processo social de realização cotidiana, que se expressa mediante iniciativas coletivas, orientadas para a resolução dos problemas afetos à escola e sua capacidade de oferecer educação de qualidade para seus alunos. 17 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 » Autonomia é processo contraditório: como processo social de construção compartilhada envolve pessoas com vários interesses, assim como múltiplos fatores dicotômicos que interagem entre si, trazendo, muitas vezes, tensão e conflitos. » Autonomia se orienta por princípios: são necessários princípios sociais e institucionais com foco nos resultados educacionais. Os princípios constituem-se de códigos sociais amplos, que servem de guia para a ação em toda e qualquer situação e para todo e qualquer desdobramento. » Autonomia é ampliação do processo decisório: ao se construir a autonomia da gestão da escolar, amplia-se o poder de decisão sobre seu trabalho. É pelo envolvimento no processo de decisão que as pessoas assumem responsabilidade própria à implementação de ações determinadas e a realização dos resultados pretendidos. » Autonomia é um processo de dupla mão e de interdependência: não se constrói a autonomia da escola senão mediante um entendimento recíproco entre gestores e comunidade escolar (incluindo os pais), a respeito de que tipo de educação cabe à escola promover e de como todos, em conjunto, vão agir para realizá-lo. » Autonomia e heteronomia se complementam: autonomia dagestão da escolar não significa total e absoluta condição e direito da escola e de seus profissionais na condução de seus próprios destinos, ou seja, de agir com total liberdade. Tal situação é irreal na dimensão social, que demanda a interdependência como regra geral para seu bom funcionamento. » Autonomia implica responsabilização: não existe autonomia quando não existe a capacidade de assumir responsabilidades, isto é, de responder por suas ações, de prestar contas de seus atos, de realizar seus compromissos e estar comprometidos com eles, enfrentando dificuldades e desafios. » Autonomia é expressão de cidadania: quando a escola se propõe a promover a cidadania crítica, em seus alunos emerge como condição natural da realização desse objetivo a construção de sua autonomia, que se constitui em processo por si só pedagógico. » Autonomia implica gestão compartilhada: autonomia é um processo coletivo e participativo de compartilhamento de responsabilidades emergentes, resultando do estabelecimento conjunto de decisões. » Autonomia implica empoderamento: conhecer é poder e o conhecimento advém da práxis, ou seja, das práticas realizadas em associação com processos reflexivos. A autonomia escolar pode ainda ser realizada em quatro dimensões: a financeira, a política, a administrativa e a pedagógica, sendo que nenhuma delas se basta a si mesma para caracterizar a autonomia da gestão escolar, uma vez que são interdependentes e se reforçam reciprocamente, estando umas a serviço de outras. Essa autonomia se constrói com autoridade: intelectual (capacidade conceitual); política (capacidade de compartilhar poder); social (capacidade de liderar e orientar-se por liderança) e técnica (capacidade de produzir resultados e monitorá-los) (ibid., p. 104). A autonomia é um processo aberto de participação do coletivo da escola, na construção de uma escola competente, em que seus colaboradores assumem responsabilidades e as cumprem e onde seus alunos alcançam o sucesso educativo. 18 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO Moacir Gadotti (2004, p. 202), pedagogo e pesquisador brasileiro, pontua que: A luta pela autonomia da escola insere-se numa luta maior pela autonomia no seio da própria sociedade. Portanto, é uma luta dentro do instituído, contra o instituído, para instituir outra coisa. A eficácia dessa luta depende muito da ousadia de cada escola em experimentar o novo caminho de construção da confiança na escola e na capacidade dela resolver seus problemas por ela mesma, confiança na capacidade de autogoverna-se (Gadotti, 2004, p. 202). Para Libâneo (2013) e Barroso (1996) ao assumirmos o nosso poder de decisão, devemos reconhecer que existe a autonomia relativa (determinada pelas políticas, estudos teóricos e normativas) e a autonomia construída, sendo que essa última deve ser o nosso grande objetivo para a construção e a efetivação de espaços de ensino-aprendizagem que emancipem o ser humano de forma integral. Luck (ibid., p. 114), enumera ainda algumas estratégias para a construção da autonomia numa gestão democrática na escola: » Organização de mecanismo de gestão colegiada: como a ação autônoma se realiza na tomada de decisão em conjunto e pelas ações coletivas, para implementá-las, esta deve ser organizada, estimulada, orientada, monitorada e avaliada em seus processos e resultados. É importante criar e fazer funcionar mecanismos de gestão colegiada tais como: conselho escolar, grêmios, parcerias, comissão de atividades extraclasse, comissão de projetos etc. » Formação de parcerias: como a gestão democrática se constrói a partir da participação e contribuição da comunidade escolar para a qualidade do ensino, é importante estabelecer linhas de parcerias entre os membros escolares internos e externos para essa contribuição. Por meio de acordos com diferentes pessoas para que contribuam com suas competências é possível aumentar o capital cultural e intelectual da escola. » Desenvolvimento de espírito comunitário e de equipe: esta é uma estratégia que demanda atenção dos gestores educacionais de forma constante. Para promovê-la é fundamental que se tenha em mente não apenas os resultados a serem obtidos por uma atividade, mas, também, aos processos sociais com que ela é realizada. O reforço aos resultados coletivos, às ações colaborativas e ao espírito em conjunto é fundamental numa gestão democrática e participativa. » Desenvolvimento de competências de autogestão: os gestores necessitam promover o desenvolvimento entre os profissionais da escola de conhecimentos, habilidades e atitudes que se associem aos princípios, estratégias e características explicitadas para a construção da autonomia. No próximo tópico, concentraremos os nossos esforços no papel do (a) pedagogo (o), explicitando as estratégias e as posturas consideradas necessárias para que propicie nas unidades escolares uma gestão democrática. 19 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 1.3 As práticas administrativas e a postura do pedagogo na gestão democrática Figura 13. Paulo Freire. Fonte: https://www.paulofreire.org/paulo-freire-patrono-da-educacao-brasileira. No livro “Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos”, do pesquisador e filósofo Paulo Freire (2000, p.12), a seguinte frase ecoa e segue nos chamando atenção “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Esse “chamamento” para uma educação inclusiva, participativa, democrática e que somente pode ser construída por muitas mãos, destaca a relevância de uma escola, de uma gestão, acolhedora e que respeite as especificidades e necessidades de cada comunidade. Podemos nortear as nossas práticas e as nossas posturas a partir dessa frase, ou melhor, dessa premissa, considerando que toda a ação realizada numa unidade de ensino deve estar a serviço da educação. E para que possamos pensar numa gestão escolar comprometida com o aprendizado do(a) estudante devemos considerar a eficiência das nossas ações, assegurando efetividade e eficácia. Observe a figura a seguir: Figura 14. Princípios para a gestão escolar. Eficiência - capacidade de produzir resultando, utilizando o mínimo de recursos e esofrços, avaliando custos e benefícios das propostas Efetividade - capacidade de se promover os resultados pretendidos. Ser efetivo significa planejar e identificar estratégias que atendam à necessidade e possa atingir afinalidade almejada. Eficácia - remete aos resultados desejados, o quanto a ação cumpriu com o objetivo proposto e solucionou o problema identificado. Fonte: Adaptado de Instituto Ayrton Senna, 2022. Disponível em: https://institutoayrtonsenna.org.br/nossos-materiais/ guias-tematicos/guia-gestao-de-aprendizagem/ferramentas-da-gestao-eficiente/. Acesso em 24 de março de 2023. 20 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO Considerando os princípios destacados, articulando recursos e conhecimento, lançando mão de ferramentas gerenciais, o (a) pedagogo (a) pode assegurar a comunidade, em especial, aos professores a autonomia e o ambiente necessário para que possa atuar pedagogicamente, com os estudantes. Como já foi apontado, a finalidade é o processo de ensino aprendizagem, evidenciando os seguintes papéis no cotidiano educacional. Figura 15. Papéis/funções no ambiente educacional. Fonte: Instituto Ayrton Senna, 2022. Disponível em: https://institutoayrtonsenna.org.br/nossos-materiais/guias-tematicos/ guia-gestao-de-aprendizagem/ferramentas-da-gestao-eficiente/ Acesso em 24 de março de 2023. Nas suas práticas gestoras, o (a) pedagogo (a), deve considerar que o seu foco sempre deverá ser na aprendizagem, no ensino, na rotina escolar e nas constantes melhorias do espaço escolar. Na aprendizagem,por meio da sua equipe pedagógica, deverá conhecer as dificuldades dos docentes e dos seus profissionais de apoio ao processo de ensino-aprendizagem, planejar intervenções que assegurem a efetividade e a eficácia; atender a toda a sua comunidade de forma rápida, educada e pontual, respeitando o ritmo de cada indivíduo, lançar mão de estratégias diagnósticas e avaliativas para conhecer seus estudantes, promover ações de auto avaliação institucional de forma permanente, organizar e manter a infraestrutura de forma adequada para a promoção do aprendizado. O (a) pedagogo (a) deve estar sempre atento aos indicadores sociais da sua região, aos resultados avaliativos dos seus estudantes e professores, para que possibilitem o ensino e a aprendizagem, o desenvolvimento das competências, incluindo as socioemocionais. Todos esses fatores somente serão possíveis a partir da estruturação de uma rotina escolar que envolvem elementos físicos, emocionais e cognitivos. Vamos conhecer algumas demandas internas e externas essenciais para uma boa rotina escolar, que dependem da ação gestora? 21 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 Figura 16. Alguns exemplos de demandas internas e externas essenciais para uma boa rotina escolar, que dependem da ação gestora. Elaboração e planejamento de informativos, circulares, relatórios e prestação de contas. Organizar e manter com os recursos adequados a infraestrurua física, a merenda, o transporte, a segurança, o material didático, as ferramentas tecnológicas, entre outros. Resolver problemas, analisando-os e adotando ações rápidas e eficientes. Acompanhar de forma funcional seus funcionários, intervindo quando necessário. Promover um ambiente escolar limpo, seguro, confiável e harmônico. Fonte: Paro, 2015. Percebemos que o cotidiano escolar não se esgota nesses exemplos listados acima, mas já conseguimos identificar, um recorte da relevância da função do gestor para um bom funcionamento do ambiente educacional. No Brasil, em consonância com as políticas públicas vigentes, temos uma “Matriz Nacional Comum de Competências do Diretor Escolar”, aprovada em maio do ano de 2021, pelo Conselho Nacional de Educação. No documento é destacado que as competências e habilidades de liderança necessárias aos desafios postos pela sociedade contemporânea, chamamos a atenção para o seguinte trecho da minuta: É consenso de que a figura desenhada para o diretor há décadas não corresponde aos desafios que precisam ser enfrentados nos dias atuais e futuros. Aos líderes educacionais das escolas do século XXI são requisitadas não só habilidades para resolução de problemas de carácter administrativo, gerencial, financeiro e de recursos humanos, mas também de relações públicas, de garantia da qualidade da educação e de liderança em prol da melhoria do ensino e da aprendizagem (CNE 2021, p. 01). A “Matriz de Competências” apresenta uma proposta com quatro dimensões nas quais as competências são listadas, descritas e relacionadas às funções e as práticas esperadas: A) Político Institucional, B- Pedagógica, C- Administrativo- Financeira e D- Pessoal e relacional. Ao todos são 24 competências e 117 atribuições apresentadas ao longo das quatro dimensões. Em consonância com os documentos organizados e implementados em anos anteriores, a Base Nacional Comum Curricular e a BNC-Formação. 22 CAPÍTULO 1 • A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO Para a consolidação do documento atual, finalizado, foram realizadas consultas públicas a instituições e a profissionais especializados, embasando a “Base Nacional Comum de Competências do Diretor Escolar – a BNC Diretor”. E, sendo assim, 10 competências Gerais foram listadas e 17 específicas. É um excelente material consultivo e de análise para todo (a) pedagogo (a) que deseja seguir a sua trajetória na Gestão Escolar. Ainda que esse documento não seja uma política pública educacional brasileira mostra a sua validade por estar em sintonia com o relatório da UNESCO “Como alavancar as políticas educacionais para 2030”. O link para acesso ao documento está disponível em nossa aula interativa, no Portal do Aluno. Ao gestor escolar, tendo o (a) pedagogo (a) nessa função, é esperado que o (a) profissional apresente atributos de ordem pessoal, habilidades técnicas e conhecimentos em gestão. A identidade individual do (a) gestor influencia o cotidiano educacional, para Luck (2012) “a escola tem a cara de seu diretor”. Portanto, recomenda que: Figura 17. Características necessárias ao Gestor(a) Contemporâneo. Ser uma liderança positiva Conviver de forma respeitosa com os diferentes e as diferenças Aprender sempre Estar aberto a possibilidades de novas aprendizagens Defender as próprias convicções, sem deixar de escutar e acolher opiniões contrárias que podem enriquecer a tomada de decisões Saber argumentar Ter humildade para reconhecer valores de outrem e seus próprios limites Fonte: Luck, 2012. As habilidades técnicas são apreendidas a partir do constante aprendizado formal e informal. Esse primeiro passo já foi dado com o início da sua graduação, mas deve estar atento aos atributos referentes às necessidades da sua comunidade e da sociedade contemporânea. Luck (2012) enfatiza que a melhoria da formação do gestor costuma elevar as competências técnicas de toda a sua equipe. Finalizamos essa primeira aula com diferentes referências nacionais sobre a gestão autônoma democrática e participativa no cenário contemporâneo. Essas reflexões nortearão nossos próximos estudos, possibilitando na prática, novas configurações e posturas como gestores educacionais. 23 A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO: OS SISTEMAS DE ENSINO E SEUS MECANISMOS DE PARA A DESCENTRALIZAÇÃO • CAPÍTULO 1 O que aprendemos nesta Aula? » Gestão Educacional é uma expressão que ganhou espaço e aceitação entre os educadores, sobretudo a partir dos anos 1990, e vem-se constituindo em um conceito comum no discurso de orientação das ações de sistemas de ensino e de escolas; » A gestão escolar corresponde ao processo de gerir a dinâmica do sistema de ensino como um todo e de coordenação das escolas em específico, afinado com as diretrizes educacionais para a implementação das políticas e projetos pedagógicos das escolas; » Ser gestor é ter uma visão ampla: de gestão de pessoas, de conflitos, de finanças para manter a escola, especialmente, de estar sempre apto a aprender a aprender. » As escolas são, pois, organizações, e nelas sobressai a interação entre as pessoas, para a promoção da formação humana. Portanto, a sua lógica é orientada pelos princípios da autonomia e da democratização. » A organização escolar necessária é aquela que favorece o trabalho dos professores, existindo interdependência entre os objetivos, as funções da escola e a organização e gestão do trabalho escolar; » Estudos recentes sobre o sistema escolar e as políticas educacionais têm se centrado na escola como unidade básica e espaço de realização dos objetivos e metas do sistema educativo; » O estilo de gestão pode expressar o tipo de objetivos e de relações humanas que vigoram na instituição.