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DIREITO PENAL PARTE I (AVA1) Curso Direito Penal 1 – Rogerio Grego 1)Função do Direito Penal A finalidade do Direito Penal é proteger os bens jurídicos mais importantes e necessários para a sobrevivência da sociedade, por meio da cominação, aplicação e execução de penas. Quando esta tutela não mais se faz necessária, ele deve afastar-se e permitir que os demais ramos do direito assumam, sem a ajuda, esse encargo de protegê-lo. a) Imputáveis: Indivíduos que possuem a capacidade de entender o caráter ilícito de suas ações e de se autodeterminarem. Possuem plena capacidade metal e podem ser responsabilizados criminalmente. b) Inimputáveis: Indivíduos que em razão de condições como a saúde mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardo, e outras causas que afetem sua capacidade de entender a ilicitude de seus atos, NÃO podem ser responsabilizados criminalmente, adotando medidas de segurança como: tratamento médico, internação psiquiátrica. * Os menores de 18 anos respondem pelo ECA. 2) A seleção dos bens jurídicos-penais A fonte de seleção está na Constituição Federal de 1988 que orienta o legislador com os valores fundamentais e indispensáveis para a manutenção da sociedade. Na Carta magna, que abriga os valores como: Liberdade, segurança, bem-estar social, igualdade e justiça. O Direito Penal deve intervir quando esse bem é atacado ou sofre ameaça. 3) Códigos Penais do Brasil → 1° e único Código Criminal de 1830; → Código Penal de 1940: Atual; → Ao todo o Brasil teve 7 códigos. 3.1) Código Penal de 1940 a) Parte Geral (arts.1° a 120°) → Define princípios; instrução; destinada à edição de normas que vão orientar o intérprete quando a verificação a ocorrência; define quando é considerado crime; conceitos fundamentais; elenca causas que excluem o crime; dita regra que são aplicadas ao C.P. e a legislação extravagante. b) Parte Especial (arts.121° a 360) → Define crimes e comina penas. 4) Código Penal x Legislação Penal Especial Ambos são fundamentais para o funcionamento do sistema judicial, complementam-se na regulação das condutas ilícita e na definição e suas respectivas penas. a) Legislação Penal Especial: Inclui leis fora do C.P, que também regulam crimes e infrações penais especiais. Criadas para atender a necessidades ou áreas de criminalidade específicas, muitas vezes relacionada a avanços sociais e tecnológicos. Ex. Lei de drogas; Lei Maria da Penha etc. b) Código Penal: É a principal norma que regula os crimes e comina penas. Trata de crimes comuns, abrangendo a maioria das infrações penais, como: Homicídio, furto, roubo, crimes contra a honra etc. Diferenças principais: → Abrangência: O C.P. é geral, aplicando- se a um leque amplo de crimes. Já a L.P.E. trata de crimes específicos que requerem um tratamento diferenciado. → Sistemática: O C.P. é estruturado de forma consolidada, enquanto a legislações especiais são leis complementares, criadas para tratar de nova demandas criminai. 5) Princípios do Direito Penal a) Última ratio/ intervenção mínima: O Direito Penal só deve intervir quando todos os outros ramos do direito falharem. R – Reduzido grau e reprovabilidade do comportamento; I –Inexpressividade da lesão jurídica; M- Mínima ofensividade da conduta; A - Ausência de periculosidade social da ação. b) Princípio da Legalidade: Não há crime sem lei anterior que o defina. (art.5, CF/1988). → Consequências: Segurança jurídica; proteção ao indivíduo; previsão legal; limite estatal; proteção aos direitos individuais, nulidade de atos ilegais. → Funções: Proibir a irretroatividade da lei; proibir a criação de crimes e penas pelo costume; proibir o emprego de analogia para criar crime; proibir incriminações vagas e indeterminada. - Nasce do anseio de estabelecer na sociedade regras permanentes e válidas que fossem obra de razão e pudessem abrigar os indivíduos, uma conduta arbitrária e imprevisível da parte dos governantes; - Tudo o que não for expressamente proibido é lícito em Direito Penal; - Toda imposição de regra pressupõe uma lei penal; - É inviolável; 1)Legalidade formal: Obediência aos tramites procedimentais previstos pela CF para que determinado diploma legal possar vir a fazer parte do ordenamento jurídico. 2)Legalidade Material: Obediência ao conteúdo da lei. c) Princípio da Anterioridade: Não há crime em lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. (art. 2°, C.P.). d) In dubio pro réu: Na dúvida, absolva o réu. e) Irretroatividade da lei: A lei só retroage em benefício do réu. f) Jus puniende: Poder Exclusivo do Estado de impor sanções/penas á aqueles que cometem crimes e criação de infrações. g) Jus puniende positivo: Poder do Estado para criar tipos penais e executar decisões condenatórias. h) Jus puniende negativo: Faculdade de derrogar preceitos penais ou restringir o alcance e figuras delitivas (delitos). --> Função do STF quando declara que há inconstitucionalidade de lei penal. i) Ne bis in idem: Ninguém pode ser julgado/condenado pelo mesmo fato 2x. j) Dignidade da pessoa humana: Assegura a integridade física, moral e psicológica de todo ser humano, proibindo tratamentos degradantes, cruéis e desumanos. j) Bagatela/insignificância: A punição deve ser proporcional à lesão causada, não sendo necessário recorrer aos meios judiciais em casos de condutas que não sejam suficientemente graves. k) Erga omnes: Para todos. l) la llege e´ uguale per tutti: A lei é igual para todos. 6) Individualização da pena --> Cominação+ aplicação+ execução Assegura que a punição aplicada ao condenado seja adequada à gravidade o crime, as circunstâncias e as características pessoas do réu. Ocorre em 3 fases: 1- Legislativa: O legislador define os tipos penai, e as penas máximas e mínima. --> Cominação: Privação ou restrição de liberdade; perda de bens; multa; prestação social alternativa; suspensão ou interdição de direitos. 2- Judicial: Durante o julgamento, o juiz fiz a pena dentro dos limites da lei, levando em conta agravantes, atenuantes e outros fatores. --> Aplicação 3- Executória: Na fase de cumprimento de pena, são aplicadas medidas como progressão de regime e benefícios legais. Adequação social: Impede a punição de atos que, embora tipificados como crime, são aceitos pela sociedade como normais e legítimos, evitando a criminalização de condutas socialmente aceitas. Ex. Boxe, pois embora o ato de agredir alguém seja tipificado como crime de lesão corporal, é aceito no contexto desportivo. 7) Proibir incriminações vagas e indeterminadas: É vedado a criação de hipóteses que de alguma forma, venham a prejudicar o agente, seja criando crimes, incluindo novas causas de aumento de pena de circunstâncias agravantes. Se o fato não previsto, não pode o intérprete socorrer-se das analogias a fim de tentar abranger fatos similares aos legislados em prejuízo do agente. 8) Vigência e validade da lei A lei penal formalmente editada pelo Estado, pode, decorrido o período de vacatio legis, ser considerada em vigor. Contudo, a sua vigência não é o suficiente para que ela possa ser efetivamente aplicada. Assim, somente depois de conferir a sua conformidade com o texto condicional (for recepcionada), é que ela terá plena aplicabilidade, sendo considerada válida. 9) Analogias no Direito Penal É uma forma de autointegração da norma, consistente em aplicar a uma hipótese não prevista na lei a disposição legal relativa a um caso semelhante, atendo-se, assim, ao brocardo bi eadem ratio, ubi eadem legis dispositio. Analogia jurídica ou juris é aquela em que os princípios gerais do direito são utilizados a fim de que seja suprida uma lacuna existente. • In bonam partem: Em benefício do agente. “Por analogia, costuma-se fazer referência a um raciocínio que permite transferir a soluçãoprevista para determinado caso a outro não regulado expressamente pelo ordenamento jurídico, mas que comparte com o primeiro certo caracteres essenciais ou a mesma ou suficiente razão, isto é, vinculam-se por uma matéria relevante simili ou a pari. “Luiz Regis. “Não cabe ao Julgador aplicar uma norma, por assemelhação, em substituição a outra validamente existente, simplesmente por entender que o legislador deveria ter regulado a situação de forma diversa da que adotou; não se pode, por analogia, criar sanção que o sistema legal não haja determinado, sob pena de violação do princípio da reserva legal” Recurso especial. “É preciso notar, porém, que a analogia pressupõe falha, omissão da lei, não tendo aplicação quando estiver claro no texto legal que a mens legis quer excluir de certa regulamentação determinados casos semelhantes.” a) Analogia legal: Aquela que é levada a efeito quando o intérprete aplica a um caso omisso uma determinada lei que regula caso semelhante. b) Analogia in malam partem: Prejudica o réu. → In lege: Aplicação de uma norma específica a casos semelhantes que não estão expressamente previstos em lei; → Per analogiam: Aplicação de normas já existentes, mas não para a criação de novas condutas tipificadas ou penas; → Não se pode usar de forma que amplie o alcance da norma em desfavor do réu. 10) Infração Penal É o gênero que abrange as condutas violadoras da lei penal, dividias em crimes/delitos e contravenções penais. A distinção entre elas, está na gravidade das condutas e as penas aplicáveis. Pena em abstrato = Pena prevista no C.P.; Pena em concreto = Pena adequada ao caso concreto. 11) Crime x Contravenção Art. 1º/ Lei 3.914/1941: Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. A exemplo do fato de que não se pune a tentativa de contravenção penal (LCP, art. 4º), sendo que nos crimes isso deverá ser verificado em cada tipo penal; as ações penais, nas contravenções penais, são sempre de iniciativa pública incondicionada (LCP, art. 17), podendo, no entanto, variar, de acordo com o crime em análise, em ações penais de iniciativa pública incondicionada, condicionada ou mesmo privada (CP, art. 100) etc. a) Crime/delito: Alta gravidade; podem ser punidos com reclusão (prisão fechada) ou multa. Ex. Homicídio, roubo, estupro. b) Contravenção Penal: Menor gravidade; puníveis com prisão simples (regime aberto ou semiaberto) ou multa; ofende bens jurídicos não tão importantes como aqueles protegidos quando se cria a figura típica de um delito, ação pública incondicionada é uma modalidade de ação penal em que o M.P. pode iniciar e conduzir o processo criminal sem depender da vontade da vítima ou de qualquer outra condição. Ex. Jogos de azar, perturbação ao sossego. 11) Elementos do crime “A tipicidade, a antijuridicidade/ilicitude e a culpabilidade são três elementos que convertem uma ação em um delito.” 1- Tipicidade: a) Enquadramento na lei penal; c) Ação ou omissão; d) Resultado; e) Nexo causal (material/normativo: 1- Nexo causal material: Relação direta e objetiva entre a conduta do agente e o resultado produzido, é a conexão FÍSICA entre a AÇÃO e o RESULTADO. 2- Nexo causal normativo: Relação entre a conduta e o resultado, considerando as normas jurídicas. O foco é analisar se a conduta foi uma causa adequada para o resultado, levando em conta a previsibilidade e a tipicidade do ato F) Dolo: O agente tem a intenção de cometer o crime ou assume o risco. É a vontade livre consciente; Todo crime é doloso, somente havendo a possibilidade de punção pela prática de conduta culposa se a lei assim previr expressamente. → O dolo é a regra; a culpa, a exceção. G) Culpa: O agente não tem a intenção de cometer o crime, mas o faz por negligência, imprudência ou imperícia. Ex. Homicídio, incêndio, lesão corporal. A conduta humana voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado. Faz-se necessária a ocorrência de um resultado, como regra, naturalístico. (exceção art. 228/229). a) Conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; b) Inobservância de um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência e imperícia); c) O resultado lesivo não querido, tampouco assumido pelo agente; d) Nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado lesivo dela advindo; e) Previsibilidade; f) Tipicidade. f) Dolo eventual: Assume o risco de produzi-lo (Foda-se). O agente não quer diretamente produzir o resultado, mas se este vier a acontecer, pouco importa. (art. 18) g) Culpa consciente: Excesso de confiança (Fodeu). O agente, sinceramente, acredita que pode evitar o resultado. → Álcool + direção = Dolo eventual. (não é regra!!) - Qualificadora. Concepção hipotética de Tyren: Proporção da punição ao crime. A pena deve corresponder a gravidade do fato típico e de acordo com o impacto social. 2- Antijurídico/ilicitude: Violação do ordenamento jurídico, quando o agente não atua em: Estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito (art. 23, C.P.). → Quanto ao consentimento do indivíduo: a) Que o ofendido tenha capacidade para consentir; b) Que o bem sobre qual recaia a conduta do agente seja disponível; c) Que o consentimento tenha sido dado anteriormente, ou pelo menos uma relação de simultaneidade. Ausente um desses requisitos, o consentimento do ofendido não afasta a ilicitude do fato. 3- Culpabilidade: Capacidade do agente de se responsabilizar pelo ato. → Imputável/inimputável; → Possibilidade agir de outra forma; → Menores de 18; → Doenças mentais; → Potencial consciência sobre a ilicitude do fato; → Possibilidade de conduta adversa. OBS: - Importunação sexual somente passou a ser crime em 2008, antes era uma contravenção. - Conduta imoral não necessariamente está respaldado na lei. - O tipo penal deve ser claro, normativo e preciso. 11) Classificação dos crimes (art. 14) a) Crime impossível: Mesmo que o agente tente cometer o crime, é impossível que ele se consuma. Art.17: Não se pune a tentativa quando por ineficácia absoluta do meio por ele utilizado na execução do crime ou por absoluta impropriedade do objeto contra o qual recaia a sua conduta, é impossível consumar-se o crime. - Há previsão legal no ordenamento jurídico da infração penal que o agente pretendia praticar; - Ineficácia absoluta do meio: Quando os meios utilizados para cometer o crime são absolutamente incapazes de produzir o resultado pretendido. Ex. Tentar matar alguém que já está morto; tentar realizar aborto sem feto; envenenar alguém sem veneno. - Impossibilidade relativa: Apesar de haver alguma chance do crime ser consumado, a situação impede a consumação. Ex. Tentar roubar algo de um bolso vazio. c) Crime comum: Pode ser cometido por qualquer pessoa, não exige uma condição especial. Ex. Homicídio, furto, roubo, lesão corporal. d) Crime próprio: Só podem ser cometidos por pessoas que possuem uma condição ou qualidade específica do agente ativo e passivo, conforme exigido pela lei. Ex. Aborto e infanticídio. e) Crime de mão própria: Não pode ser cometido por terceiros, apenas a própria pessoa pode cometer. Ex. Crime de falso testemunho, lesão corporal, homicídio. f) Crime simples: Apena uma infração penal. g) Crime complexo: duas ou mais infrações penais. h) Crime comisso: Violação da lei por meio de uma ação positivado agente. i) Crime omissivo: Ocorre com a FALTA de ação do agente, se abstendo de agir quando deveria agir. i.1) Crime omissivo próprio: Ocorre quando a simples ausência de ação já configura o crime, sem precisar de resultado. (lei mandatária) Ex. Omissão de socorro. i.2) Crime omissivo impróprio: Ocorre quando o agente não realiza uma ação que tinha o dever legal de realizar e essa omissão gera um resultado específico. Nesse tipo de crime, é exigido que o agente tenha um dever legal de evitar esse resultado, posição de garantidor. Ex. Relações familiares ou contratuais, obrigação profissional, condutas anteriores que colocaram a vítima nessa situação. Apenas há esse tipo de delito quando gera um resultado. j) Crime consumado: Ocorre quando todos os elementos do tipo penal são cumpridos e o resultado pretendido é efetivamente alcançado. (Art.14) k) Crime tentado: Ocorre quando o agente começa a executar o crime, mas não se consuma por circunstâncias alheias a sua vontade. (art.14, II) 1- A conduta seja dolosa, que exista uma vontade livre e consciente de querer praticar determinada infração penal; 2- O agente ingresse, obrigatoriamente, na fase de execução; 3- Não consiga chegar a consumação do crime, por circunstâncias alheias a sua vontade. OBS: Tentativa de uma contravenção não é punível. l) Crime material: CONDUTA+ RESULTADO. Ex. o material do crime de homicídio é o corpo morto. m) Crime formal: A consumação ocorre com a prática da conduta, independe de resultado. Ex. Crime de ameaça. n) Crime de mera conduta: O que importa é apenas a ação ou omissão do agente, sem que exija um resultado. NÃO TEM RESULTADO Ex. Violação de domicílio. o) Crimes hediondos: Infrações penais consideradas gravíssimas, devido a crueldade, periculosidade e impacto social. p) Crimes assemelhados: Apesar de não estarem diretamente listados na lei de crimes hediondos, tem tratamento semelhante devido a natureza cruel, como: tráfico de drogas, terrorismo, tortura. 12) Infrações penais de menor potencial ofensivo – Lei n° 9.099/95. Crimes e contravenções penais com pena máxima de 2 anos, recebem tratamento mais brando, buscando rápida solução e evitando o encerramento em casos de menor gravidade. - Aplicação de medidas alternativas: Prestação de serviços sociais a comunidade e multas; - Juizados Especiais; - Ex. Ameaça, desacato, calúnia, furto simples, lesão corporal leve. 13) Institutos jurídicos Instrumento jurídico utilizado para proteger o direito à liberdade de locomoção de um indivíduo que está sendo ameaçado ou já está privado de sua liberdade de forma ilegal. a) Habeas corpus: Ação judicial para garantir liberdade diante de prisão ilegal. b) Mandado de segurança: Protege o direito líquido e certo de uma pessoa física e jurídica, ameaçada ou lesada por ato abusivo de autoridade. c) Ação popular: Permite que qualquer cidadão questione atos administrativos. * Crimes que não prescrevem: racismo, tortura, terrorismo, tráficos de drogas, genocídio etc. 14) Termos do Direito a) Iter criminis: Designa as etapas que o indivíduo percorre até a consumação de um crime, em 4 etapas: 1- Cogitação: Pensamento inicial de cometer o crime (não é punível). 2- Preparação: Preparativos ou planejamentos para o crime. Nesta etapa o indivíduo pode tomar ações em direção ao crime, mas dependendo da legislação e do contexto, essas ações podem ou não serem puníveis. 3- Execução: Momento em que o autor começa a realizar o crime, tentando concretizar o ato ilícito, mesmo que o resultado ainda não tenha sido alcançado. Esta fase pode incluir a tentativa de crime, caso o ato não seja consumado. 4- Consumação: Ocorre quando o crime se realiza plenamente, cumprindo todos os elementos necessários para a sua caracterização. 5- Exaurimento: Ocorre quando o crime se realiza plenamente, cumprindo todos os elementos necessários para a sua caracterização. 15) Desistência voluntária (art.15) O agente por livre vontade, interrompe a execução do crime antes de completar todos os atos necessários para a consumação. Mesmo que ele tenha dado início á execução, ele desiste espontaneamente antes de concluir o ato. - O processo de execução ainda está ocorrendo - Formula de Frank: Se o agente disser: “posso prosseguir, mas não quero” = desistência voluntaria; - Se o agente disser “quero prosseguir, mas não posso” = crime tentado. - Quando o agente desiste, mesmo podendo ter continuado, apenas responde pelos atos já cometido e não pela tentativa de homicídio. 16) Arrependimento eficaz (art.15) O agente após realizar todos os atos da consumação do crime, toma uma ação para evitar que o resultado ocorra. É considerado eficaz se a intervenção do agente for bem-sucedida em impedir o resultado. --> a execução já foi encerrada. 16) Arrependimento posterior (art.16) Quando o agente, após consumar o crime, reparou o dano e restitui voluntariamente o bem a vítima. É aplicável a crimes sem violência e grave ameaça e arrependimento deve ocorrer antes do início da ação penal. O arrependimento não exclui o crime, mas pode permitir a redução de pena entre 1 e 2/3, incentivando o agente a reparar os danos causados. 17) Lei penal no tempo Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Lei excepcional ou temporária: Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. 18) Abolitio criminis Quando o legislador, atento às mutações sociais resolve não mais continuar a incriminar determinada conduta, retirando do ordenamento jurídico-penal a infração que a previa, pois passou a entender que o Direito Penal não mais fazia necessário á proteção de determinado bem. Quando uma nova lei extingue um crime, ou seja, deixa de considerar a conduta como criminosa, essa extinção retroage e ninguém pode ser processado ou punido por um ato que deixou de ser crime. Faz cessar todos os efeitos penais da sentença condenatória, permanecendo, contudo, seus efeitos civis. 19) Norma Penal em branco É uma norma que não define completamente uma conduta criminosa, dependendo de outra norma (geralmente infralegal) para completar seu conteúdo. São: - Incompletas: Descrição genérica, precisando de complementação - Previsão em lei: Deve estar expressamente prevista na legislação. Tipos: - Simples: Menciona apenas a norma a ser aplicada; - Complexa: Faz referência a normas que podem variar. Importância: Flexibilidade, permitindo adaptações rápidas a novas realidades sociais; especificada detalham condutas em áreas técnicas sem sobrecarregar a lei penal. 20) Termos em latim a. Novatio legis incriminadora: Criação de uma nova lei que tipifica uma conduta como criminosa, tornando um ato anteriormente permitido em crime. → Aplica-se apenas a fatos que ocorrem após a vigência da nova lei. b. Novatio legis in mellis: Mudança na lei penal que beneficia o réu. → A lei retroage em benefício do réu. c. Novatio legis in pejus: Alteração na norma penal que agrava a situação do réu, tipificando uma conduta já existência de forma mais grave. → Em regra, a nova lei não retroage, assim, não se aplica a fatos que ocorreram antes da nova lei, a menos que a nova norma determine explicitamente sua aplicação retroativa. d. Inter criminis - É um instituto jurídico para os crimes dolosos, é o caminho do crime. 3 fases: a) Cogitação; b) preparação (atos preparatórios); c) execução(atos de execução); d)consumação; e) exaurimento. 21) Garantidores → São pessoas que têm o dever legal de agir para impedir um resultado danoso ou lesivo. A omissão de um garantidor, quando a lei exige que ele aja, pode resultar em responsabilidade criminal. → A figura do garantidor surge no Código Penal no crime omissivo impróprio, também conhecido como comissivo por omissão. Esse crime ocorre quando o agente não executa uma atividade que a lei exige. A posição de garantidor pode ser assumida por pessoas que: → Têm por lei a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; → Assumiram a responsabilidade de impedir o resultado; → Criaram o risco da ocorrência do resultado com seu comportamento anterior. 22) Teoria do Erro (art. 20) Conceito jurídico utilizado para analisar situações em que uma pessoa pratica um ato acreditando estar na legalidade ou sem consciência de uma determinada condição que tornaria seu ato ilegal. a) Erro do tipo: Ocorre quando alguém não conhece um fato, uma circunstância que pertence ao tipo legal, não reconhece que seu ato é tipificado como crime. → Afastando a vontade e a consciência do agente, exclui sempre o dolo. Entretanto, há situações em que se permite a punição em virtude de sua conduta culposa, se houver previsão legal. b) Erro de proibição (art.21): Ocorre quando o agente sabe o que está fazendo, mas não compreende que seu ato é ilícito, por desconhecer a proibição legal. Esse erro pode ser evitável ou inevitável. → Pode excluir a culpabilidade; → Se for evitável a pena pode ser reduzida; → Pode ser por falta de conhecimento ou não buscou saber da lei. c) Erro sobre a pessoa: O agente se engana quanto a identidade da vítima. → Responde pelo crime que iria cometer om a pessoa visada; → A lei considera a intenção original do agente. d) Erro determinado por terceiros: Quando o agente é induzido a cometer um crime por influência ou ação de outra pessoa, podendo a culpa ser excluída. e) Erro na execução: Ocorre quando o agente deseja atingir uma pessoa, mas por erro, atingi outra. Ex. Dispara contra uma pessoa e acidentalmente atinge outra. f) Erro sobre o objeto: O agente erra sobre o objeto do crime. 23) Concausas → Fatores/eventos que junto com a ação ou omissão do agente, contribuem para a produção de um resultado criminoso. A) Concausa absolutamente independe: São aquelas que não possuem nenhuma ligação causal com a conduta do agente, de modo que o resultado ocorre por fatores alheios a sua ação ou omissão. Neste caso, mesmo que agente tenha realizado uma conduta que poderia levar ao resultado, a causa independente é TOTALMENTE responsável pelo desfecho. a.1) Preexistentes: Uma causa anterior a ação do agente que, por si só, é suficiente para gerar o resultado. Ex. Uma pessoa envenenada por outra pessoa morre antes de ser atingida por uma tentativa de homicídio de um segundo agente. a.2) Concomitante: Ocorre no mesmo momento de ação do agente, mas o resultado acontece exclusivamente por essa causa independente. Ex. O agente tenta matar uma pessoa em um acidente de carro, mas, no mesmo instante, um raio atinge a vítima e causa sua morte. a.3) Spuerveniente: Ocorre após a ação do agente e rompe a relação causal entre a conduta do agente e o resultado. Ex. A vítima de uma agressão médica leve recebe lata e, em um segundo momento, morre em um acidente sem qualquer relação com a agressão inicial. B) Concausa relativamente independente: Apesar de possuírem uma ligação com a ação do agente, tem uma certa autonomia. Elas influenciam o resultado, mas não rompem completamente com o nexo causal entre a conduta do agente e o evento final. Assim, o resultado é uma combinação entre a conduta do agente e a causa relativamente independente. b.1) Preexistente: Ocorre antes da ação do agente, mas é agravada ou potencializada pela sua conduta. → Ex.: Léo com dolo de matar, atira no pé da vítima, só que ela é hemofílica (dificuldade de coagulação do sangue) ; → Os dois fatores contribuíram para a morte; → Responde pelo homicídio consumado. b.2) Concomitante: Ocorre no mesmo momento da ação do agente e colabora com o resultado. → Ex.: A desfere um tiro no pé de B, o estresse o faz eclodir um colapso cardíaco. → Responde pelo resultado: Homicídio. b.3) Superveniente: Ocorre após a ação do agente, mas continua contribuindo para o resultado. → Ex. :A com dolo de matar, desfere um tiro em B. O tiro pega no pé da vítima. A vítima é socorrida e internada no hospital. (tentado) → a) No dia da internação, ocorre o incêndio que mata a vítima. (tentado). - fator externo → A vítima morre de infecção hospitalar: Consumação do homicídio. - Ligação direta com o tiro. QUESTÕES: 1) Qual o conceito de criminologia? R: Estuda o crime como um problema social. Não examina o fato criminoso isoladamente, mas em conjunto formado pela: infração, autor do fato, vítima e meios de controle social. 2)Quais os métodos de estudo da criminologia? R: São dois. O método empírico que utiliza a observação e o método interdisciplinar, que se vale de outras disciplinas para obter conclusões. 3)Caio, jovem de 19 anos de idade adora bailes funk. Certa noite, conhece Ticia, jovem de 13 anos e meio, que não aparenta a idade que tem e que só entrou no baile, que é proibido para menores de 18 anos, porque pulou o muro do clube. Caio se apaixona por Ticia e mantém com ela relações sexuais, recebendo dias depois uma intimação judicial para responder pelo crime de estupro de vulnerável. A partir dos fatos narrados, aponte a responsabilidade penal. R: Não há crime, pois o agente agiu em erro do tipo (idade), não havendo culpa, conforme o art. 20 do C.P. . 4) Capitu auxilia seu companheiro Bentinho a fugir da ação de autoridade pública. Bentinho foi condenado por crime e roubo. A partir de tais fatos, responda: a) Capitu deverá responder pelo crime de “favorecimento pessoal” previsto no art.348 do Código Penal? R: De acordo com o mesmo art.348, parágrafo segundo, não, pois ela é respaldada pela lei por ser companheira do réu. 5) Maria abandona seu marido, pessoa idosa, e que necessita de seus cuidados. O delegado indicia Maria nas penas do art.133, parágrafo terceiro, inciso II do C.P. . Caso Maria fosse companheira da vítima e não cônjuge, haveria alguma alteração no enquadramento policial? R: Não, pois não pode-se fazer analogia in malam partem. 6)Mulher moradora da região amazônica, onde não há médicos, é estuprada por um forasteiro. A mulher acaba por engravidar. Conhecendo a lei, sabe que neste caso o aborto é legal, desde que praticado por médicos. Como já se disse, não há médicos na região, mas há uma experiente parteira que se dispõem a interromper a gestação. A partir de tais fatos, a presente parecer jurídico, que possa solucionar este imbróglio? R: O artigo 128, II, do Código Penal Brasileiro permite o aborto sem punição quando a gravidez resulta de estupro, desde que realizada por um médico. O entendimento do legislador, neste caso, foi de proteção à vítima, aliviando-a do ônus de uma gravidez decorrente de violência sexual; A Constituição Federal de 1988 (art. 6o e art. 196) assegura o direito à saúde e o dever do Estado de garantir o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. Diante da ausência de médicos na região, pode-se argumentar que a ineficiência do Estado em provar esses serviços viola esse direito, especialmente em um contexto de urgência e vulnerabilidade como o presente caso. R: Culpa exclusiva da vítima + sem denúncia ao motorista + tem que socorrer a vítima. b) se o motorista foi pego no radar estando em alta velocidade? • Em Direito Penal as culpas não se compensam/anulam. • Nesse caso, o condutor responde por culpa consciente - homicídio consumado. • OBS: Caio e Ticio discutem de forma agressiva. Caio com dolo de lesionar empurra Ticio, não percebendo que próximo havia uma escada. Tício tropeça , rola a escada e morre. → Lesão corporal dolosa com homicídio culposo. → Trata-se de crime preterdoloso (ocorre quando o agente tem a intenção de cometer um crime, mas acaba cometendo um crime mais grave por culpa.) com dolo antecedente e culpa consciente. 7) Exímio atirador de facas, em que a pessoa que com ele trabalha fica presa a um alvo giratório. O atirador representa como possível o fato de acertar na pessoa que se encontra presa ao alvo. No entanto, em razão de sua habilidade pessoal, confia sinceramente que esse resultado não vá ocorrer. Caso erre o alvo, estaremos diante de um crime culposo (homicídio ou lesão corporal), que deverá a ele ser imputado a título de culpa consciente. 8) em uma manifestação popular, um dos participantes resolva soltar um rojão de fogos em direção a determinado policial, seu vizinho, aproveitando a ocasião para se vingar de uma animosidade anterior que havia entre eles. Tal policial, contudo, estava ao lado de outro companheiro de farda, que também é visto pelo agente. Ainda assim, mesmo antevendo como possível acertar o outro policial, que o agente sequer conhecia e nada tinha contra ele, leva adiante seu plano criminoso, acende o rojão e faz a mira, vindo, contudo, a atingir a pessoa que se encontrava ao lado de seu vizinho. Nesse caso, embora o agente não quisesse diretamente a produção desse resultado, havia assumido, aceitado o risco de produzi- lo, OBS: Na interpretação analógica ele discrimina pra você o que ele quer que você leia, e em certo momento ele deixa em aberto – e isso não é uma analogia em Direito Penal. Na interpretação analógica, o legislador descreve uma situação e, depois, deixa o texto "em aberto" para que outros casos semelhantes também possam ser incluídos na mesma norma, mesmo que não especifiquem expressamente especificados. No Direito Penal, a interpretação analógica ocorre quando a lei menciona um exemplo específico e, em seguida, utiliza expressões genéricas que possibilitam a aplicação da norma a situações análogas. • A distinção entre interpretação analógica e analogia reside na forma como cada uma trata o texto da lei e os casos não previstos por ela: 1. Interpretação Analógica: Ocorre quando a própria lei já menciona , ao menos parcialmente, um exemplo específico e, em seguida, utiliza um termo genérico ou expressão ampla para incluir outros casos semelhantes. Na interpretação analógica, a norma já traz uma descrição que permite abranger outros casos semelhantes. Em outras palavras, a lei diz algo específico e, em seguida, usa um termo geral que sugere a aplicação a situações análogas. No caso de aborto em situação de estupro, o Código Penal menciona a necessidade de um médico (ou seja, alguém com qualificação), mas não especifica outras condições onde os médicos poderiam ser indisponíveis.