Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral Direito Penal Parte Geral Princípios do Direito Penal Introdução Direito penal é "a reunião das normas jurídicas pelas quais o estado proíbe determinadas condutas, sob ameaças de sanção penal, estabelecendo ainda os princípios gerais do direito e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança, disciplinando as relações jurídicas daí derivadas para estabelecer a aplicabilidade da pena e a tutela do direito de liberdade em face do poder de punir do Estado" de acordo com o prof. José Frederico Marques. O direito penal é o direito com maior carga principiológica. Esses princípios são dirigidos a todos, logo, possuem generalidade e abstração (erga omnes). Além disso, os princípios podem estar de fato escritos – sendo explícitos – ou não (implícitos). Princípios do Direito Penal Os princípios são normas que se caracterizam por estabelecerem um rumo a ser seguido, embora não apontem um único caminho para o caso concreto. Possuem, portanto, um grau de generalidade relativamente alto. O direito penal possui alguns princípios, são eles os listados a seguir. ● Intervenção mínima➜ indica que o direito penal deve ser o último a ser chamado dentre todos os direitos, já que é o mais forte e coativo. Ele possui dois caráteres: ○ Fragmentário➜ o direito penal só tutela os bens jurídicos (valores) mais importantes para a sociedade (o bem jurídico da vida é maior que o da junção conjugal) ○ Subsidiário➜ se outro ramo do direito resolver o problema, deve-se priorizá-lo no lugar do direito penal ● Alteridade ou exteriorização do fato➜ o direito penal só se aplica para crimes que ferem o bem jurídico de terceiros (suicídio não é crime, mas homicídio sim) ● Ofensividade➜ só podem ser criminalizadas condutas que provocam lesão ao bem jurídico em questão, ou, ao menos, exponham-no ao perigo ○ Crimes de dano➜ provocam, de fato, lesão ao bem jurídico (como homicídio ou agressão física) ○ Crimes de perigo➜ basta a probabilidade de dano para consumar um crime, podendo ser abstrato ou concreto ○ Perigo abstrato➜ tipo de crime de perigo constitucional que não exige a comprovação de perigo, somente a conduta (como dirigir com a carteira cassada) ○ Perigo concreto➜ quando há, de fato, perigo envolvido (dirigir com carteira cassada sem respeitar a sinalização e altas velocidades) ● Individualização da pena➜ a individualização judicial prevê um julgamento individual para para os envolvidos. No âmbito legislativo, a individualização garante uma margem mínima e máxima para a pena correspondente ao crime ● Proporcionalidade (razoabilidade ou conveniência das liberdades públicas)➜ princípio implícito que garante a proporção entre a gravidade do crime e a resposta estatal. Pode ser uma proibição de excesso (dar a mesma resposta para consumo de drogas e tráfico de drogas) ou proteção à proteção deficiente (lei maria da penha) ● Humanidade➜ os crimes não podem ser julgados de forma desumana (é vedado prisão perpétua, pena de morte e tortura, por exemplo). Há exceção como os crimes de guerra. ● Pessoalidade (intranscendência da pena)➜ as penas não passam da pessoa do condenado, sejam elas penas privativas de liberdade, restritivas de direitos ou pecuniárias (multas). O que pode passar é a indenização cível pode ser executada contra os sucessores ● Responsabilidade penal subjetiva➜ ninguém pode responder criminalmente sem que tenha agido com culpa ou dolo, sendo vedada a responsabilidade penal objetiva ● Coculpabilidade➜ o estado também é responsável por delitos decorrentes da desigualdade social e econômica, garantindo ao infrator o direito a uma atenuante inominada (art. 66). Nota-se que o Estado não pode sofrer uma ação penal, uma vez que ele não pode aplicar uma pena a si próprio e também não é ativo em nenhum crime. ● Ne bis in idem➜ princípio implícito previsto em norma supra penal que diz que o agente não pode ser acusado, processado ou condenado mais de uma vez pelo mesmo fato dentro do mesmo ramo do direito (mas pode ser em direitos diferentes como o penal, cível e administrativo) ● Presunção de inocência➜ ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em julgado (período do processo em que não cabe mais recurso) de sentença penal condenatória ● Responsabilidade do fato➜ o direito penal não pune as pessoas, e sim os atos por elas cometidos 1 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. ● Legalidade➜ (art. 1º, CPB) não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Sendo "crime" e "pena" dados em ampla definição [infração penal = crime e contravenção; sanção penal = pena e medida de segurança]. Esse princípio possui alguns desdobramentos Desdobramentos do Princípio da Legalidade Como o princípio da legalidade possui seus cinco desdobramentos, desrespeitar qualquer um deles significa desrespeitar o próprio princípio. ● Não há crime sem lei➜ no direito penal precisa-se de uma lei formal (que tenha passado pelo processo legislativo), com estrita legalidade e reserva legal. Ou seja, uma medida provisória e lei delegada, por exemplo, não se qualificam como direito penal, por estarem em sentido material e não formal ● Não há crime sem lei anterior➜ (princípio da anterioridade) crime é a violação da lei, logo, não pode haver o descumprimento da lei antes que ela exista ● Não há crime sem lei escrita➜ há países que adotam o modelo consuetudinarismo (direito dos costumes) e não é o caso do Brasil, pois aqui é preciso que as leis estejam escritas, todavia as leis podem ser interpretadas de forma diferentes de acordo com os costumes de determinada localidade ● Não há crime sem lei estrita➜ serve para disciplinar o emprego da analogia (aplicação de leis para casos semelhantes quando não há lei própria para um determinado fato) no direito penal. Só é empregada a analogia no direito penal se ela for boa para o réu (in bonam partem) e não quando é ruim para o réu (in malam partem) ● Não há crime sem lei certa➜ (princípio da taxatividade ou mandado da certeza) a lei penal precisa ser clara ao mencionar sobre o que especificamente ela está falando. Esse desdobramento admite dois tipos penais Tipos Penais do Princípio da Taxatividade O princípio da taxatividade não impede que haja, no Brasil, tipos penais abertos e tipos penais em branco. Logo, esses tipos penais não desrespeitam o quinto desdobramento. ● Tipo penal em aberto➜ a lei descreve a conduta mas é necessário uma interpretação valorativa (existem crimes culposos, mas precisa-se de uma interpretação de valores sobre a culpa do agente) ● Norma penal em branco➜ é um tipo penal que, para ter aplicação, necessita de um complemento no preceito primário (descrição da conduta), podendo ser esse complemento da lei ou de ato infracional (ato administrativo) ○ Heterogênea➜ (chamada de própria ou em sentido estrito) o complemento vem de ato infralegal (como os crimes de drogas, já que a definição de droga vêm de uma portaria da ANVISA) ○ Homogênea➜ (imprópria ou em sentido amplo) o complemento vem da própria lei, podendo ser destrinchada em dois tipos ○ Homovitelina➜ a lei vem do mesmo ramo do direito (art. 312, CPB menciona "funcionário público" que é definido pelo próprio código penal) ○ Heterovitelina➜ a lei vem de ramo diferente do direito (art. 236, CPB menciona "impedimento para casamento" que é definido pelo código civil) ● Tipo penal em branco ao avesso➜ (ou imperfeita, ao revés ou secundariamente remetida) o tipo penal necessita de complemento no preceito secundário (descrição da pena), podendo esse complemento vir somente de lei escrita (art. 304, CP coloca a pena a cominada à falsificação ou à alteração, ou seja, precisa de complemento na pena) Aplicação da Lei Penal no Tempo Introdução No código penal há somente três artigos que tange esse tema especificamente (art, 2, 3 e 4). A importância desse assunto é avaliar "em que momentoo crime foi considerado praticado" e "qual lei é aplicável a determinado caso concreto em havendo sucessão de leis penais". Momento do Crime Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Como expresso no artigo 4º, o crime já é praticado no momento da conduta, sendo essa a conduta de ação ou de omissão. ● Teoria da atividade ou ação➜ considera o momento em que o crime foi praticado, independente do lugar onde ele se consumou ● Princípio da coincidência ou congruência➜ é no momento da conduta que os três elementos do crime (estudados posteriormente) estão presentes para ser considerado como crime Obs.: em crimes permanentes (como sequestro) entende-se que o crime renova a consumação a todo o instante. Dessa forma, é considerada a idade do sujeito 2 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral ativo na cessação da permanência e não no início da conduta. Sucessão de Leis Penais Sucessão de lei penal ocorre quando uma lei nova sucede outra lei antiga e, por consequência, revoga a lei antiga. A aplicação da lei penal no tempo segue a regra tempus regit actum (lei do tempo rege o ato), logo, quando uma lei entra em vigor, ela se aplica aos fatos a partir desta data. ● Princípio da continuidade normativa➜ no Brasil, quando uma lei é publicada e entra em vigor, ela fica em vigor indefinidamente (somente quando outra lei a revogar) Há, contudo, exceções à regra do tempus regit actum. Uma lei penal pode retroagir (se aplique a fatos que aconteceram antes dela existir) ou ultra-agir (continue a reger determinado fato mesmo após sua revogação). No caso dessas exceções, elas só podem ocorrer no direito penal quando for para beneficiar o réu, sendo a retroatividade e a ultra-atividade sendo do gênero da extra-atividade. Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. § Único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. O novatio legis in mellius indica que nada pode impedir uma nova lei benéfica para o réu de retro ou ultra-agir. O abolitio criminis indica que, se uma nova lei descriminalize uma conduta, são cessados todos os efeitos penais (não os extrapenais). Na abolitio criminis, há uma revogação formal (o tipo penal é retirado da lei) ematerial (a conduta deixa de ser considerada criminosa). Já na continuidade normativo-típica (estudada posteriormente), a revogação é somente formal, ou seja, é retirada da lei mas ainda é considerada crime através de outro tipo penal (transmudação geográfica-típica). Em período de vacatio legis (lei publicada mas não em vigor), ela não pode ser aplicada, mesmo que seja mais benéfica para o agente. Ademais, não é admitida a lex tertia (combinação de leis penais) para melhor benefício do réu (se uma pena for de 2 a 8 anos e a outra for de 3 a 6 anos, não haverá uma combinação de pena de 2 a 6 anos, e sim uma melhor avaliação de qual delas é mais benéfica para o réu). Casos Especiais Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência. ● Leis excepcionais➜ possui data de início de vigência mas não data de término ● Leis temporárias➜ possui data de início e data de término São exceções ao princípio da continuidade as leis excepcionais e temporárias, já que são auto revogáveis e sempre ultra-ativas. Em casos de crime continuado ou permanente, a nova lei penal se aplica sempre que entra em vigor durante o crime, não interferindo se ela é mais benéfica ou não que a lei anterior. (se uma lei A tem pena de 1 a 4 anos é revogada por uma lei B com pena de 2 a 8 anos antes de um sequestro acabar, a lei B será aplicada). ● Lei intermediária➜ ocorre quando, por sucessão de leis penais, a lei que estão agindo no momento não é nem a lei revogada que existia quando o crime foi consumado, nem a lei que está em vigor atualmente (lei A descriminalizada pela lei B e criminalizada novamente pela lei C). Aplicação da Lei Penal no Espaço Lugar do Crime Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado O artigo sexto descreve a chamada teoria da ubiquidade em que, para fins da aplicação da lei penal brasileira, o Brasil se considera competente para o julgamento do agente tenha sido a conduta ou o resultado ocorrido dentro ou fora do país. Nessa teoria, o lugar do crime é o lugar da ação ou omissão, bem como o lugar onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. ● Teoria da ubiquidade➜ conduta dentro do Brasil e resultado fora, ou conduta fora do Brasil e resultado dentro, o Brasil entende que pode aplicar sua lei Princípio da Territorialidade e Suas Exceções Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 3 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar. § 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. ● Território brasileiro➜ é o gênero do qual decorrem duas espécies: território físico e jurídico ○ Território físico➜ é o território terrestre (extensão do mapa brasileiro até a fronteira dos outros países), território marítimo (toda a extensão de mar, dentro de 12 milhas marítimas a partir do fim da terra) e território aéreo (tudo o que sobrevoar o território terrestre ou marítimo) ○ Território jurídico➜ (art. 5º, § 1º, CPB) território jurídico sempre será um navio ou avião. Se for público ou privado a serviço do governo, é território jurídico do país ao qual pertence. Se privado e não a serviço do país, se considera território jurídico brasileiro somente até o alto mar (fora das 12 milhas marítimas do país), fora esse limite, a responsabilidade é do país da embarcação ○ Embaixada➜ as embaixadas não são extensões territoriais do país de origem. As leis das embaixadas são as leis do território físico ● Princípio da territorialidade➜ a fatos que aconteçam dentro do território de uma país, esse país tem direito sobre a pessoa. Possui duas exceções (ou seja, a territorialidade é temperada, mitigada ou relativa) ○ Intraterritorialidade➜ o fato ocorre dentro do território brasileiro mas o Brasil abdica do seu direito de aplicar sua lei (ex.: imunidade diplomática) ○ Extraterritorialidade➜ o fato ocorre fora do território brasileiro mas o Brasil, em tese, pode aplicar sua lei Resumindo: Fato Lei Territorialidade Brasil Brasil Intraterritorialidade Brasil Outro País Extraterritorialidade Outro País Brasil Existem três tipos de extraterritorialidade na lei penal brasileira, são elas: ○ Incondicionada➜ (art. 7º, I, CP) aplica-se a lei penal Brasileira a fato ocorrido fora do território brasileiro independentemente de qualquer condição ○ Condicionada➜ (art. 7º, II, CP) aplica-se a lei penal Brasileira a fato ocorrido fora do território brasileiro (todas as condiçõe do parágrafo segundo devem ser verdadeiras) ○ Hipercondicionada➜ (art. 7º, II, § 3º, CP) aplica-se a lei penal Brasileira a fato ocorrido fora do território brasileiro desde que preenchidas as condições previstas no segundoe terceiro parágrafo do artigo em questão Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público; c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço; d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil; II - os crimes: a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro; c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados. § 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro. § 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. § 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. 4 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral Penas Internacionais Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Esse artigo diz que se as penas (qualitativamente) forem diferentes no Brasil e em outro país, as penas são atenuadas. Se forem as mesmas, a pena é computada no Brasil (ex.: se, no extrangeiro, a pena for de 10 anos de prisão e, no Brasil, for de 12 de prisão, como as duas penas são de prisão o agente cumpre 10 anos lá e 2 anos aqui. Se a pena no Brasil for de multa, ele cumpre as duas penas). Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para: I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - sujeitá-lo a medida de segurança. § Único - A homologação depende: a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada; b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do Ministro da Justiça. Para que a sentença estrangeira possa produzir determinados efeitos no Brasil, ela deverá ser homologada pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ). A execução de pena é um ato de soberania. ● Passagem inocente➜ um navio privado que está usando mares brasileiros somente como passagem (sem intenção de atracar) responde ao seu país em caso de crime que não prejudica o Brasil Sujeitos e Objetos do Crime Sujeitos do Crime ● Sujeito ativo➜ é a pessoa física que comete o crime (em regra, só o ser humano maior de 18 anos) A única exceção a essa definição é a pessoa jurídica cometendo crimes de natureza ambiental. Pela responsabilidade apartada, a pessoa jurídica tem pena separada das pessoas físicas envolvidas. ● Sujeito passivo mediato, constante ou formal➜ será sempre o Estado ● Sujeito passivo imediato, eventual ou material➜ é o titular do bem jurídico violado, ou seja, a vítima Civilmente incapaz, pessoa jurídica, recém-nascido, entes sem personalidade jurídica e feto são exemplos de possíveis vítimas de crimes. Pessoas mortas e animais não podem ser vítimas de crime. Assim como o ser humano não pode ser um sujeito ativo e passivo ao mesmo tempo pelo princípio da alteridade. ● Crimes de dupla subjetividade passiva➜ crime que, necessariamente, possuem mais de uma vítima ao mesmo tempo (ex.: violação de correspondência, sendo vítimas o destinatário e o remetente) Penas Internacionais ● Objeto material➜ é a coisa ou, se não havendo coisa, a pessoa sobre a qual recai a conduta criminosa. Pode acontecer de vítima e objeto material serem idênticos, diferentes e até haver crime sem objeto material ● Objeto jurídico➜ (bem jurídico) é todo o bem ou interesse que a lei visa proteger quando incriminada determinada conduta ○ Crime mono-ofensivo➜ ofende apenas um bem jurídico (ex.: o patrimônio no furto) ○ Crime pluriofensivo➜ ofende mais de um bem jurídico (ex.: a liberdade individual e o patrimônio no roubo) Elementos do Crime Introdução aos Elementos do Crime O crime só existe se existirem a junção de três elementos (conceito analítico tripartido do crime) que são, por sua vez, cumulativos e com uma ordem pré-definida . A ordem é a seguinte: 1. Fato típico➜ o fato precisa ser descrito em lei como crime 2. Fato antijurídico➜ sua prática não estar em acordo com o direito (o fato pode ser uma exclusão de antijuridicidade ou ilicitude) 3. Culpabilidade➜ a pessoa que praticou o fato típico e antijurídico ser passível de ter contra si infligida uma pena Exclusão da Ilicitude e Culpabilidade O artigo 23 declara quais são as situações que tornam a execução do fato típico excludentes de antijuridicidade, ou seja, a execução de um ato que está previsto como crime no código penal não é considerado crime por não estar em acordo com o fato antijurídico (ex.: homicídio em legítima defesa não é crime. É possível que um fato típico e antijurídico não seja crime quando há um excludente de culpabilidade no momento da conduta. Os excludentes de culpabilidade são: ○ (art. 26, caput, CP) Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado que deixou o sujeito incapaz de entender o fato ilícito no momento da conduta ○ (art. 27, CP) Menoridade 5 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral ○ (art. 28, §1º, CP) Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior ○ (art. 21, caput, 1a parte, CP) Erro de proibição inevitável ○ (art. 22, CP) Coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico Fato Típico Conduta Penalmente Relevante O fato típico é o primeiro elemento do crime. Para que exista o fato típico nos crimes materiais, ele precisa obedecer a quatro elementos (conduta penalmente relevante, resultado, nexo causal e tipicidade). Em crimes formais e de mera conduta precisa de dois elementos (conduta penalmente relevante e tipicidade). ● Conduta penalmente relevante➜ sendo conduta o comportamento de ação ou omissão, a conduta penalmente relevante é aquela que necessita ser (em ordem): ○ Humana➜ (análise objetiva) a conduta precisa ser realizada por um humano, sendo a única outra possibilidade a conduta criminosa de pessoa jurídica em crime ambiental ○ Voluntária➜ (análise objetiva) ocorre quando o movimento corporal (ação) ou inação corporal (omissão) acontecendo são de total controle do agente (ex.: sonambulismo, hipnose, reflexo involuntário e coação humana involuntária. Ação em curto circuito é parcialmente voluntária, portanto pode ser considerada a pena) ○ Dolosa ou Culposa➜ (análise subjetiva, não sendo possível ser culposa e dolosa ao mesmo tempo) Crime Doloso Art. 18 - Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. § Único - salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido com fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. ● Crime doloso➜ (art. 18, I, CP) o código penal extrai dois tipos de dolo: ○ Teoria da vontade➜ quando o agente quis o resultado (o agente quer o resultado, logo,temos dolo direto) ○ Teoria do assentimento➜ quando o agente assumiu o risco de produzir o crime (porém, o agente não queria o resultado, logo, temos dolo eventual) ● Dolo direto➜ pode ter dois graus diferentes ○ 1º grau➜ o agente, com consciência (elemento cognitivo) e vontade (elemento volitivo), quer causar determinado resultado e age em busca disso (ex.: matar uma pessoa querendo matá-la) ○ Elemento cognitivo➜ sempre precede o elemento volitivo e indica que você tem consciência da existência do crime ○ Elemento volitivo➜ o agente tem a vontade e, portanto, intenção de consumar o crime ○ 2º grau➜ ocorre quando o agente escolhe um meio para efetuar o crime doloso direto de 1º grau que, necessariamente, provoca, por consequência, outros crimes dolosos por causa do meio escolhido, sendo esses outros crimes, portanto, dolosos diretos de 2º (ex.: colocar uma bomba em um avião para matar uma pessoa e, sabendo que iria matar o restante da tripulação, pratica a conduta da mesma forma, tendo havido dolo de 2º grau com o restante da tripulação) ● Dolo eventual➜ o agente não quer causar o resultado. Contudo, pratica uma conduta de risco, percebe (tem previsão) o que ela pode causar e, por indiferença do resultado (o que difere dolo eventual da culpa é a indiferença), assume o risco da conduta, logo, responde como crime doloso Crime Culposo ● Crime culposo➜ (art. 18, II, CP) ocorre quando o agente deu causa ao resultado (não o querendo) por imprudência, negligência ou imperícia Há alguns elementos do crime culposo – que é, por sua vez, um crime material (sempre causa um resultado) – obrigatórios e cumulativos. São eles: 1. Conduta humana voluntária; 2. Resultado lesivo involuntário (mas a conduta é voluntária), [não querer (dolo direto) e não assumir o risco (dolo eventual)]; 3. Violação de um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia) As formas com as quais o agente viola o dever objetivo de cuidado são: ○ Negligência➜ comportamento negativo em que o sujeito deixa de fazer o que deveria (desídio, desleixo, desatenção…) ○ Imprudência➜ comportamento positivo em que o sujeito faz o que não deveria (precipitação, afoiteza…) ○ Imperícia➜ ausência de qualificação técnica e/ou habilidade necessária para o exercício da arte, profissão, ofício ou atividade 4. Nexo de causalidade entre conduta e resultado; 5. Tipicidade [(art. 18, p. único, CPB) crime doloso é a regra, o culposo é a exceção, devendo estar prevista na lei]; 6 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral 6. Previsibilidade (a culpa se subdivide em consciente e inconsciente). A previsibilidade precisa estar presente em todos os elementos de culpa. Todavia, a previsão só existe em culpas conscientes. A previsibilidade se analisa em relação ao fato, ou seja, se o fato era ou não possível de se imaginar que ia acontecer. A previsão se analisa em relação ao agente, logo, se no caso concreto o agente percebeu o que estava para acontecer, houve previsão, caso contrário, não houve. ○ Culpa consciente➜ há um 7º elemento, a previsão. Não quer causar o resultado, percebe um risco na conduta mas acredita que nada vai acontecer (ex.: lascívia) ○ Culpa inconsciente➜ não há o 7º elemento previsão. O agente não quer o resultado, contudo, pratica uma conduta de risco e causa o resultado sem perceber (percebendo só depois) A diferença, portanto, do dolo eventual com a culpa consciente é que no dolo eventual o agente é indiferente ao resultado previsível. ● Compensação de culpas➜ figura do direito civil (logo, não existe no direito penal) em que há eliminação da culpabilidade porque tanto o agente quanto a vítima estavam agindo culposamente ● Concorrência de culpas➜ é possível no direito penal, sendo a concorrência de culpas quando dois indivíduos, um ignorando a participação do outro, concorrem involuntariamente para a produção de um fato definido como crime Portanto, a culpa da vítima não exclui a responsabilidade criminal do autor. Quando há culpa exclusiva da vítima, não há ato criminoso envolvido (ex.: motorista acima do limite de velocidade que atropela um pedestre fora da faixa). Preterdolo e Exteriorização da Conduta ● Preterdolo➜ conduta dolosa que causa um resultado culposo mais grave que a intenção inicial (ex.: agressão dolosa que gerou morte culposa da vítima que é uma lesão qualificada pela morte) devendo ser previsto em lei Se o crime mais grave ocorrer em condições imprevisíveis, o agente só responde pelo dolo inicial. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. § 1º - (Superveniência de causas independentes) A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. § 2º - (Relevância da omissão) A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Como é explicitado, os tipos penais só fazem referências a condutas criminosas, podendo elas serem de duas espécies: ● Comissão➜ quando a conduta descrita no tipo penal exprime a ideia de ação, logo, são praticados por uma ação (ex.: falsificar, matar, subtrair…) ● Omissão própria➜ quando o tipo penal exprime a ideia de inação, logo, são praticados através de uma omissão (ex.: deixar de prestar, deixar de fazer…) ● Omissão imprópria➜ (comissão por omissão) ocorre para uma categoria especial de pessoas, os agentes garantidores, sendo um crime comissivo praticado por uma omissão (ex.: policial presenciando um crime e não intervindo) ○ Agente garantidor➜ (art. 13, § 2º, CP) são as pessoas que tem o dever jurídico (causalidade normativa, logo, respondem pelo crime) de evitar um resultado ○ Garantidor voluntário➜ (art. 13, § 2º, alínea b, CP) são aquelas pessoas que não tem o dever legal de cuidado, proteção ou vigilância mas, naquele contexto, assumiu a responsabilidade previamente 7 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral ○ Ingerência➜ (art. 13, § 2º, alínea c, CP) ocorre quando uma pessoa cria um risco, logo, é responsabilizado por evitar que o risco se concretize A redação do tipo penal de crimes omissivos impróprios é: "artigo do crime c/c art. 13, § 2º, 'a, b ou c'" tal que c/c significa "combinado com". O omissor impróprio pode responder de forma dolosa – omissão intencional – ou culposa (se o crime permitir a forma culposa). Resultado O resultado pode ser classificado como jurídico ou naturalístico: ● Resultado jurídico➜ é a violação da norma e, por isso, todos os crimes o possuem ● Resultado naturalístico➜ é o que está previsto no tipo penal, logo, nem todo crime o possui (ex.: só há homicídio se houver morte como resultado sendo, portanto, naturalístico e jurídico) Quanto à possibilidade ou necessidade de ter resultado naturalístico, os crimes são classificados em três tipos diferentes: ● Crimes materiais➜ o tipo penal contém conduta e resultado naturalístico, sendo esta indispensável à consumação (ex.: homicídio simples (exige morte) e lesão corporal (exige a ofensa)) ● Crimes formais➜ o tipo penal contém conduta e resultado naturalístico, sendo este dispensável à consumação (ex.: extorsão – tem a intenção de obter vantagem econômica, mesmo sem obter a vantagem, a conduta foi consumada) ● Crimes de mera conduta➜ o tipo penal contém somente a conduta, sem mencionar resultado naturalístico (ex.: violação de domicílio) Nexo Causal e Concausas ● Nexo causal➜ (art. 13, caput, CP) é a ligação entre a conduta penalmente relevante e o resultado naturalístico, logo, é característica de crimes formais ○ Causa➜ tudo aquilo, sem restrição, que, caso não existisse, o resultadonão teria ocorrido da forma que ocorreu (Conditio sine qua non). Porém, a imputação do crime de determinado resultado natural é referente à pessoa vinculada objetivamente (conduta humana e voluntária) e subjetivamente (dolo ou culpa) ● Concausas➜ concurso de eventos que vão em busca de um mesmo resultado (ex.: um assassino consuma o ato de agressão que levará a morte de alguém, mas antes que ela possa morrer de fato, outro evento a mata, sendo duas causas para o mesmo resultado) Quando há situações assim, o primeiro passo é saber qual foi o evento paralelo à conduta. Em seguida, precisa compreender se o evento paralelo causou sozinho o resultado ou se ele foi complementar para consumar o resultado. ● Concausa absolutamente independente➜ ocorre quando o evento paralelo causa o resultado sozinho, logo, excluindo o nexo causal entre o agente da tentativa do crime, fazendo com que ele responda por crime tentado – pode ser preexistente, concomitante ou superveniente (ex.: um lustre cai em cima da vítima que tinha acabado de ingerir veneno, morrendo por causa do impacto) ● Concausa relativamente independente➜ situação em que o evento paralelo "uniu forças" com o ato criminoso para gerar um resultado e, portanto, possuindo nexo causal e tornando o crime consumado – pode ser preexistente ou concomitante (ex.: alguém tem um ataque cardíaco por levar um tiro no ombro, resultando em morte) A teoria da causalidade adequada é a que tange todas as concausas relativamente independentes, exceto as supervenientes. ○ Relativamente independente superveniente➜ (art. 13, §1º, CP) na primeira situação, o crime é consumado quando a concausa por si só não causou o resultado ou o resultado se deu na mesma linha de desdobramento natural da conduta do agente (ex.: um tiro não mata de imediato a vítima, que, quando levada para o hospital, contrai um vírus e morre) Na segunda situação, o agente responde por crime tentado quando a concausa por si só causou o resultado (ex.: após o tiro, a vítima é levada para o hospital que, quando chega lá, morre soterrada por um desabamento) Tipicidade ● Tipicidade➜ é o encaixe de determinada conduta, a qual lesiona o bem jurídico ou o expõe a perigo de lesão, de forma significativa, a determinado tipo penal incriminador A tipicidade quanto gênero é composta por duas partes, a primeira é a tipicidade formal e a segunda é a material. 1. Tipicidade formal➜ a conduta se encaixa em algum tipo penal incriminador (logo, se há uma conduta descrita em lei prevê uma pena) 2. Tipicidade material➜ quando a conduta ocorrida lesiona o bem jurídico ou o expõem em perigo Quando há os dois tipos de tipicidade, respectivamente, há tipicidade penal. Quando só houver a tipicidade formal, a tipicidade é formalmente típica e materialmente atípico, e se aplica em algum dos dois princípios a seguir: ● Princípio da insignificância➜ a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico é ínfimo, irrisório, írrita, insignificante (ex.: furto de uma caneta bic de uma livraria) 8 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral ● Princípio da adequação social➜ incidiria porque a conduta praticada é aceita, tolerada pela sociedade (ex.: praticar de jogos de azar) Ambos os princípios são doutrinários e instrumentos de interpretação restritiva do tipo penal. A diferença é que os tribunais superiores aceitam o princípio da insignificância e rechaçam, sempre, o princípio da adequação social. O princípio da insignificância é aceito pelo STF e STJ quando os vetores (abaixo) estejam, cumulativamente, presentes e não haja vedação absoluta tomando como base a natureza da infração penal. Vetor 1.Mínima ofensividade da conduta do agente Vetor 2.Ausência da periculosidade social da ação Vetor 3.Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento Vetor 4.Inexpressividade da lesão jurídica causada ○ Vedação absoluta➜ determinados tipos penais não admitem a aplicação do princípio da insignificância (contrabando, maria da penha, furto qualificado…) ○ Vedação relativa➜ quando presentes os quatro valores, alguns tipos penais admitem o princípio da insignificância (furto simples, crimes ambientais, descaminho…) Fato Antijurídico Excludentes de Ilicitude ● Fato antijurídico➜ (ou fato ilícito) ocorre quando um fato típico é praticado em contexto de contrariedade ao direito Caso o fato típico seja praticado em contexto onde não existe contrariedade ao direito, este fato típico estará justificado perante o ordenamento jurídico, não sendo, portanto, um crime ● Indiciariedade➜ (ratio cognoscendi) necessariamente, um fato antijurídico precisa de um fato típico para existir, porém, não significa que todo fato típico será antijurídico, mesmo sendo muito provável que sim Quando um fato for lícito no direito penal, ele será lícito para todas as áreas do direito, contudo, a recíproca não é verdadeira (ex.: ilicitude no civil que não é considerada crime). Para um fato ser considerado como antijurídico, ele precisa, respectivamente, ser um fato típico e, em seguida, que ele não tenha sido praticado em contexto de contrariedade ao direito (exclusão de antijuridicidade), sendo esses contextos os seguintes previstos no art. 23 do CP. Além dessas causas de exclusão de ilicitude, há exclusão de antijuridicidade nas situações em que há consentimento do ofendido, sendo ela doutrinária e, logo, extra legal. Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. § Único - (Excesso punível) O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. Os tópicos a seguir irão especificar cada um dos casos mais abrangentemente, incluindo também as exceções de ilicitude que não são consideradas crimes, porém, ainda assim possuem consequência nas outras esferas do direito. Estado de Necessidade Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. ● Estado de necessidade➜ a compreensão inicial do estado de necessidade é que alguém irá sacrificar determinado bem jurídico com a finalidade de proteção a outro bem jurídico. Contudo, uma particularidade indica que o titular do bem jurídico sacrificado e o do ofendido devem estar em condições de licitude ○ Reciprocidade➜ pela característica de ambos estarem em condições lícitas, um pode estar em estado de necessidade com o outro ao mesmo tempo, sendo chamado de estado de necessidade recíproco A doutrina extrai a partir da lei os requisitos (cumulativos e obrigatórios) para que o agente possa ser excluído de ilicitude pelo estado de necessidade: 1. O agente precisa estar em perigo atual (não o perigo iminente) 2. O agente não pode ter sido provocador doloso deste perigo 3. Possuir finalidade de salvamento de bem jurídico próprio ou de terceira pessoa 4. O fato típico do contexto precisa ser indispensável para a proteção do bem jurídico – logo, se houvesse uma alternativa menos grave (commodus discessus) não se poderá cogitar estado de necessidade 5. O agente não pode possuir o dever legal de enfrentamento do perigo 6. Precisa haver proporcionalidade entre o bem jurídico que foi sacrificado e o protegido A teoria unitária não permite que o estado de necessidade justifique o fato típico praticado para proteger um bem jurídico caso esse bem possua valor menor do que o sacrificado, somente uma redução de pena. 9 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral ● Estado de necessidade defensivo➜ ocorre quando o sacrifício é em relação ao provocador do perigo ● Estado de necessidade agressivo➜ ocorre quandoo agente sacrifica bem jurídico de terceiros que não têm nada a ver com o contexto ● Conhecimento da situação justificante➜ não se aplica o estado de necessidade quando o agente não sabe que está agindo para salvar um bem jurídico próprio O conhecimento acerca da situação de risco é chamado de elemento subjetivo da excludente da ilicitude ● Estado de necessidade com erro na execução➜ é possível que o agente erre a execução da proteção do bem jurídico e acabe por atingir bens jurídicos de terceiros, tendo, assim, cometido o fato contra a pessoa ou o objeto pretendido, não contra aquele efetivamente atingido em decorrência do erro Legítima Defesa Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. § Único - Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. ● Legítima defesa➜ nesse tipo de exclusão de ilicitude, uma pessoa irá se defender ou defender terceiro de uma agressão humana injusta, atual ou iminente, a bem jurídico próprio ou alheio, logo, envolve sempre um ato lícito em defesa de um ato ilícito A doutrina extrai a partir da lei os requisitos (cumulativos e obrigatórios) para que o agente possa ser excluído de ilicitude por legítima defesa: 1. O agente precisa estar diante de agressão injusta e atual ou iminente (não basta que seja apenas uma provocação) 2. Possuir a finalidade de autodefesa ou defesa de terceiro 3. Proporcionalidade na defesa ● Agressão➜ qualquer conduta humana direcionada, seja ou não criminosa, a lesar ou pôr em perigo um bem juridicamente tutelado ○ Agressão injusta➜ toda aquela, criminosa ou não, que não é autorizada pelo direito. Havendo proporcionalidade, todo bem jurídico pode ser protegido por legítima defesa ○ Atualidade e iminência da agressão➜ a agressão atual é quando está acontecendo e iminente é quando está prestes a acontecer, ambas admitindo legítima defesa ● Proporcionalidade na defesa➜ o agente está autorizado a fazer apenas o necessário para que a agressão injusta ao bem cesse Alguns questionamentos especiais temos: 1. Conhecimento da situação justificante➜ é necessário o conhecimento acerca da situação de risco – chamado de elemento subjetivo da excludente de ilicitude (animus defendendi) – para haver legítima defesa 2. Legítima defesa com erro na execução➜ (art. 73, CP) é possível que, por causa de erro na execução da legítima defesa, o agente acaba lesando bem jurídico de terceiros inocentes, nesse caso, considera-se cometido o fato contra a pessoa ou o objeto pretendido, não contra aquele que efetivamente foi atingido por causa do erro (responde na esfera cível, não na criminal) Art. 73 - (Erro na execução) Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código. ● Legítima defesa sucessiva➜ ocorre quando, uma vítima de agressão injusta age em legítima defesa e impossibilita o agressor de continuar a agressão e, por algum motivo, a vítima continua a agredir o agressor inicial, tornando-se, assim, o novo agressor e não agindo mais em legítima defesa, mas sim em agressão injusta ● Commodus discessus➜ diferentemente do estado de necessidade, haver uma opção menos grave em relação à defesa do bem jurídico não desqualifica o ato como legítima defesa Estrito Cumprimento do Dever Legal ● Estrito cumprimento do dever legal➜ ocorre quando o agente é obrigado, por lei (tem o dever), a praticar determinado fato típico Art. 30 - (Circunstâncias incomunicáveis) Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Esse excludente é comunicável, nos termos do art. 30 do CP (ex.: se um policial com ordem de arrombar uma casa pede ajuda para um vizinho, ambos estão agindo no estrito cumprimento do dever legal) Exercício Regular de Direito ● Exercício regular de direito➜ ocorre quando o agente tem o direito (não o dever) de praticar determinado fato típico Logo, a diferença entre o exercício regular de direito e o estrito cumprimento do dever legal é que, respectivamente, 10 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral um exclui a criminalidade porque está dentro do direito de fazer e o outro é um dever da pessoa fazer. ● Ofendículos➜ são aparatos visíveis destinados a defesas da propriedade ou de qualquer outro bem jurídico (ex.: cerca elétrica no seu muro), sendo eles lícitos desde que não em excesso, logo, o responsável não responde por eventuais resultados lesivos por exercício regular de direito pelo seu patrimônio ● Armadilhas➜ são aparatos ocultos que têm a mesma finalidade dos ofendículos, contudo não amparados pelo direito (ex.: cerca elétrica de baixo de arbustos), logo, há resposta criminal Consentimento do Ofendido ● Consentimento do ofendido➜ doutrinariamente, pode atuar como excludente de ilicitude (regra) ou de tipicidade (exceção) ○ Exclusão de ilicitude➜ quando a existência ou inexistência de consentimento da vítima não afeta o juízo de tipicidade (lesão corporal no masoquismo ainda é um fato típico, porém não ilícito). Os requisitos para isso são: ○ Ofendido capaz (capaz de receber pena) ○ Bem jurídico disponível (patrimônio, ao contrário da vida que é indisponível) ○ Consentimento explícito e anterior ou concomitante à agressão ○ Exclusão de tipicidade➜ ocorre quando a existência ou inexistência do consentimento da vítima afetar o juízo da tipicidade (ex.: ato sexual consentido (a partir de 14 anos) é atípico, ao contrário do sem consentimento que é estupro) Excesso Punível Art. 23 - (Excesso punível) O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. ● Excesso punível➜ (art. 23, CP) todos os excludentes de ilicitude possuem uma razão para existir; cessada essa razão, eles desaparecem e o agente responde por todos os atos que praticar além dela, seja dolosamente ou culposamente Culpabilidade Introdução ● Culpabilidade➜ é o 3º elemento do crime cujo conceito é um juízo de reprovabilidade que recai sobre o autor de um fato (conduta) típico e antijurídico (ilícito) Para existir culpabilidade, deve haver três elementos obrigatórios e cumulativos – imputabilidade, potencial consciência sobre a ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa. Imputabilidade ● Imputabilidade➜ é a possibilidade de se atribuir alguém a responsabilidade por algum fato, ou seja, o conjunto de condições mentais à época da conduta, que dá ao agente a capacidade para lhe ser juridicamente imputada a prática de uma infração penal Podemos verificar a imputabilidade pelos excludentes de imputabilidade, chamado de inimputabilidade, sendo os três tipos descritos a seguir: ● Inimputabilidade por anomalia psíquica➜ (art. 26, caput, CP) é um critério biopsicológico porque, para sua constatação, exige-se a constatação da anomalia (por perícia) e da sua capacidade de entendimento e/ou autodeterminação quando da prática da conduta – temos um injusto penal Art. 26 - (Inimputáveis) É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. § Un. - (Redução de pena) A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Logo, esse tipo de inimputabilidadeexige uma doença ou retardomental juntamente à incapacidade de entender o caráter ilícito do fato ou ser inteiramente incapaz de se comportar de acordo com seu entendimento. Nesses casos, não há crime, mas pode haver medida de segurança ○ Semi-imputabilidade➜ (art. 26, § Único, CP) o sujeito não é inteiramente capaz (há capacidade parcial) de entender o caráter ilícito de sua conduta, logo, há redução de pena ● Inimputabilidade por menoridade➜ (art. 27, CP) não são imputáveis pessoas menores de 18 anos de idade, que são somente sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial Art. 27 - (Menores de dezoito anos) Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Caso um menor etário provoque um fato típico e antijurídico, não houve crime, mas sim um ato infracional, 11 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral resultando na necessidade de uma medida socioeducativa. ● Inimputabilidade por embriaguez➜ (art. 28, II, § 1º, CP) Art. 28 - (Emoção e paixão) Não excluem a imputabilidade penal: I - a emoção ou a paixão; II - (embriaguez) a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. § 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. § 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. A embriaguez no direito penal pode se dar por álcool ou qualquer substância com efeitos similares. A embriaguez pode ser voluntária (ficou embriagado porque quis) ou involuntária (ficou embriagado sem querer) e não acidental (ingeriu a substância porque quis) ou acidental (ingeriu sem querer): ● Embriaguez voluntária➜ o sujeito ficou embriagado porque quis ○ Dolosa➜ (não acidental) quis ingerir a substância e quis ficar embriagado, mas não causar um crime previamente ○ Preordenada➜ (não acidental) quis ingerir a substância e quis ficar embriagado com a intenção de cometer um crime, sendo um agravante da pena ● Embriaguez involuntária➜ o sujeito ficou embriagado sem querer ○ Culposa➜ (não acidental) quis ingerir a substância porém não quis ficar embriagado ○ Caso fortuito➜ (acidental) o sujeito não queria ingerir a bebida e nem ficar embriagado, porém ocorreu sem estar ciente ○ Força maior➜ (acidental) o sujeito não queria ingerir a bebida e nem ficar embriagado, porém foi forçado a ingerir Nos casos de embriaguez não acidental, o sujeito é imputável sempre. Nos casos das acidentais, se a embriaguez é completa, o sujeito é inimputável, se parcial, é semi-imputável, logo, com pena reduzida. Potencial Consciência da Ilicitude ● Potencial consciência da ilicitude➜ possibilidade do agente conhecer a antissocialidade, imoralidade de sua conduta, de acordo com suas condições educacionais e culturais Art. 21 - (Erro sobre a ilicitude do fato) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. § Un. - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. O art. 21 do CP prevê que todo brasileiro já saiba da lei a todo momento, não sendo artefato de inculpabilidade. Porém, o erro de proibição ocorre quando algo não é permitido na lei mas é na sua cultura e educação, sendo excludente de culpabilidade se inevitável e redutor de pena caso inevitável. Exigibilidade de Conduta Diversa ● Exigibilidade de conduta diversa➜ possibilidade de que seja possível, no caso concreto, exigir de alguém um comportamento conforme o direito. Logo, não é possível que o direito, em determinada situação, exija de você uma conduta diversa (ex.: te obrigam a cometer um ato típico e antijurídico sob ameaça) Art. 22 - (Coação irresistível e obediência hierárquica) Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. ○ Coação moral irresistível➜ ocorre quando uma determinada pessoa é coagida a si ou a outrem, por ameaça ou violência, (coação moral, não a coação física, já que ela exclui a voluntariedade da conduta) O autor da coação responde pelo fato típico e antijurídico do coagido e por tortura (art. 1º, I, "b", lei. 9.455/97). Já o que sofreu a coação não responde por coisa alguma se irresistível – se a coação é resistível, daí o sujeito responde pelo fato típico e antijurídico com direito a atenuante ● Obediência à ordem não manifestamente ilegal de superior hierárquico➜ cuida-se de situação em que não seria exigível que o subordinado tomasse uma atitude diferente da ordem que recebeu (que aparentemente era legal, mas não era). Deve seguir os seguintes requisitos: ○ Ordem proferida por superior hierárquico (administração pública) ○ Ordem não manifestamente legal ○ Que o cumpridor da ordem se atente aos limites da ordem Por doutrina, ainda temos: ● Causas supralegais de inexigibilidade de conduta diversa➜ objeção de consciência e desobediência civil 12 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral ● Objeção de consciência➜ nos termos da cláusula de consciência, estará isento de pena aquele que, por motivo de consciência ou crença, praticar algum fato previsto como crime, desde que não viole direitos fundamentais individuais ● Desobediência civil➜ a desobediência civil representa atos de insubordinação que têm por finalidade transformar a ordem estabelecida, demonstrando a sua injustiça e necessidade de mudança. Exige-se para o reconhecimento desta dirimente: (a) que a desobediência esteja fundada na proteção de direitos fundamentais; (b) que o dano causado não seja relevante Iter Criminis Iter Criminis O Iter criminis é a análise sobre quais são as fases do crime (doloso), sendo elas compostas por cogitação, atos preparatórios, execução e consumação: ● Cogitação➜ é a fase em que o agente pensa no crime, mas não sai do pensamento, de forma que, pelo princípio da alteridade, não há relevância penal ● Atos preparatórios➜ é a preparação da ação delituosa que constitui os chamados atos preparatórios, os quais são externos ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva. Mas ainda não há lesão ao bem jurídico, então não há relevância penal a não ser que a preparação, por si só, constitua um fato típico ● Atos executórios➜ são aqueles que se dirigem diretamente à prática do crime, isto é, a realização concreta dos elementos constitutivos do tipo penal ● Consumação➜ é o momento de conclusão do delito, reunindo todos os elementos do tipo penal Institutos de Não Consumação Há a possibilidade do agente não chegar até a consumação, mesmo tendo chegado até os atos executórios. Nesse caso, há quatro possibilidades de institutos que não são possíveis de existirem mutuamente. Art. 14 - Diz-se o crime: I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. § Un. - (Pena tentativa) Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. ● Crime tentado➜ (art. 14, II, CP) o agente inicia a execução, existe possibilidade de consumação, mas esta não ocorre porque algo ou alguém a impediu, mas sempre quis a consumação Logística: eu queria consumar o crime, mas não consegui. Natureza jurídica: causa de diminuição de pena. Consequência: diminuição de ⅓ a ⅔. ○ Tentativa branca➜ (incruenta) o alvo da conduta criminosanão é tocado – a redução de pena é ⅔ ○ Tentativa vermelha➜ (cruenta) o alvo da conduta criminosa é tocado – a redução é ⅓ ○ Tentativa perfeita➜ o sujeito pratica todos os atos executórios que acredita que é necessário para se consumar o crime, mesmo não se consumando ○ Tentativa imperfeita➜ o sujeito não praticou tudo o que queria praticar para consumar o crime na sua interpretação Art. 17 - (crime impossível) Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. ● Crime impossível➜ (art. 17, CP) são aqueles que não são possíveis de se consumar. Nesse caso, o agente não responde pela tentativa do crime que queria consumar mas responde pelos atos anteriores, desde que criminosos (ex.: tentativa de aborto para uma mulher que não está grávida) Logística: não se pune o que não ocorreu por ser impossível de ocorrer. Natureza jurídica: causa de atipicidade da conduta inicialmente pretendida. Consequência: o sujeito não responde pela tentativa do crime que inicialmente quis, mas pode responder por outros atos que sejam considerados criminosos. Art. 15 - (Desistência voluntária e arrependimento eficaz) O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. ● Desistência voluntária➜ (art. 15, parte 1, a, CP) o agente inicia a execução, mas, durante esta, muda de ideia no sentido de não querer mais a consumação do crime que inicialmente quis e, por isso, desiste de prosseguir na execução sem encerrá-la, não necessitando ser expontânea Logística: eu podia consumar o crime, nada me impedia, mas mudei de ideia durante a execução e desisti. Natureza jurídica: causa de atipicidade da conduta inicialmente pretendida. Consequência: o sujeito não responde pela tentativa do crime que inicialmente quis, mas pode responder por outros atos que sejam considerados criminosos. ● Arrependimento eficaz➜ (art. 15, in fine, CP) o agente inicia a execução, encerra a execução e, neste momento, se arrepende e atua impedindo a consumação, não necessitando ser expontânea Logística: eu podia, após encerrar a execução, esperar a consumação do crime, mas me arrependi e impedi a 13 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral consumação. Natureza jurídica: causa de atipicidade da conduta inicialmente pretendida. Consequência: o sujeito não responde pela tentativa do crime que inicialmente quis, mas pode responder por outros atos que sejam considerados criminosos. Institutos de Pós Consumação Aqui está presente o instituto que ocorre após a consumação do crime, o dito arrependimento posterior. Logo, difere-se do arrependimento eficaz já que o crime foi efetivamente consumado. Art. 16 - (Arrependimento posterior) Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. ● Arrependimento posterior➜ (art. 16, CP) ocorre em crimes que não há violência ou grave ameaça a pessoa, sendo necessário o agente reparar o dano ou restituir a coisa voluntariamente antes que a denúncia seja feita, com redução de pena de ⅓ a ⅔ Erro Erro de Tipo No direito penal, o erro pode acontecer por tipo (art. 20, CP) ou por proibição (art. 21, CP). Art. 20 - (Erro sobre elementos do tipo) O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei. § 1º - (Descriminantes putativas) É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. § 2º - (Erro determinado por terceiro) Responde pelo crime o terceiro que determina o erro. § 3º - (Erro sobre a pessoa) O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. ● Erro de tipo essencial➜ o agente não quer praticar determinada conduta descrita em tipo penal, contudo a pratica sem saber que a está praticando, logo, nunca existe dolo (ex.: um policial, o qual você deu carona, esqueceu a arma no seu carro, e você portou ela por um longo trajeto mas não sabia que ela estava ali) ○ Escusável➜ (erro inevitável) além de não existir dolo, não existe culpa, logo, o sujeito não responde por nenhuma conduta penalmente relevante ○ inescusável➜ (erro evitável) o crime é passível de culpa, logo, o agente responde pelo fato praticado na forma culposa ● Erro de tipo acidental➜ o agente quer praticar determinada conduta descrita em lei como tipo penal e a pratica, sabendo que é crime (existe dolo). Todavia, erra sobre o desfecho de sua conduta, mesmo o tipo continuando o mesmo e, portanto, não interferindo na tipicidade (ex.: alguém quer matar pessoa A, mas acaba matando pessoa B por confundi-las). ○ Erro sobre o objeto➜ (error in objecto) queria praticar um fato típico com um objeto determinado mas acabou, por erro, cometendo contra outro objeto – 14 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral nesse caso, a pena será em cima do objeto que foi efetivamente lesionado ○ Erro sobre a pessoa➜ (error in persona) o agente confunde as pessoas que gostaria de atingir – o agente responde dolosamente pelo fato típico. (art. 20, § 3º, CP) Contudo, a punição deve considerar as quantidades ou condições pessoais da vítima virtual (pretendida) e não as da vítima real (atingida) ○ Erro sobre a execução➜ (aberratio ictus) o agente atinge pessoa diferente que queria porque errou o alvo – o agente responde dolosamente pelo fato típico. (art. 20, § 3º, CP) Contudo, a punição deve considerar as quantidades ou condições pessoais da vítima virtual (pretendida) e não as da vítima real (atingida) ○ Resultado diverso do pretendido➜ (aberratio criminis) há duas possibilidade, no primeiro caso, o agente deseja atingir uma pessoa mas acaba atingindo uma coisa, já no segundo caso, o inverso ocorre – em ambos os casos, você responde em termos do crime que envolve a pessoa, e não a coisa, a diferença é que, no primeiro caso, você responde por tentativa e, no segundo, por crime culposo ○ Erro sobre o nexo causal➜ (aberratio causae) consiste basicamente no erro, pelo agente, quanto ao meio de execução por ele utilizado que efetivamente atingiu o resultado criminoso (ex.: atira-se com a intenção de matar e joga-se o corpo no rio com a intenção de escondê-lo, mas descobre-se posteriormente que o corpo morreu por afogamento, não pelo tiro, sendo assim, responde-se por homicídio doloso qualificado) Erro de Proibição ● Erro de proibição➜ (art. 21, CP) o agente sabe perfeitamente a conduta que pratica, contudo, por razões de educação e cultura, acredita que sua conduta é permitida quando, na verdade, é proibida Art. 21 - (Erro sobre a ilicitude do fato) O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. § Un. - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. ○ Evitável➜ ocorre quando o agente poderia ter evitado o fato ocorrido, havendo diminuição de pena de ⅙ a ⅓ ○ Inevitável➜ quando o agente não conseguiria ter consciência de que tal ato é proibido, não havendo pena para esses caso Prescrição Cálculo do Prazo Prescricional ● Prescrição➜ é o limite temporal ao direito de o Estado punir (pretensão punitiva) ou executar uma punição criminal (pretensão executória) (o intermediário da punição definida e da execução, de fato, da punição chama trânsito em julgado), tal que, após esse limite, a punibilidade é extinta O cálculo do prazo prescricionalé dado da seguinte forma para os casos: ● Pretensão punitiva ○ Em abstrato➜ não há sentença criminal condenatória com pena aplicada, ou há, mas a acusação recorreu, tal que nesses casos o cálculo do prazo prescricional se dá em cima da pena máxima prevista para o crime (pena abstrata) ○ Retroativa➜ há sentença condenatória com pena aplicada, a acusação recorreu, mas a defesa sim, de forma que o cálculo do prazo prescricional se dá em cima da pena aplicada na sentença (pena concreta) ○ Superveniente➜ há sentença condenatória com pena aplicada, a acusação recorreu, mas a defesa sim, de forma que o cálculo do prazo prescricional se dá em cima da pena aplicada na sentença (pena concreta) ● Pretensão executória➜ há sentença condenatória com pena aplicada e já ocorreu trânsito em julgado para ambas as partes, tal que o cálculo do prazo prescricional se dá em cima da pena aplicada na sentença (pena concreta) Art. 109 - (Prescrição antes de transitar em julgado a sentença) A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos. Qualquer que seja a prescrição, o prazo é reduzido pela metade se o agente é menor que 21 anos ou maior que 70 anos (art. 115, CP). 15 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I - No dia em que o crime se consumou; II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal. O prazo prescricional começa a contar dependendo do tipo de prescrição. Se ocorreu a prescrição em abstrato, o prazo começa no dia de consumação do crime. Na prescrição retroativa, na data na qual a sentença condenatória transitou em julgado para a acusação. Na prescrição superveniente, na data na qual a sentença condenatória transitou em julgado para a acusação. Na prescrição executória, na data na qual a sentença condenatória transitou em julgado para a acusação. O prazo prescricional, todavia, pode ser suspenso ou interrompido: ● Suspensão➜ não se desconsidera o prazo que já correu ○ Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime ○ Enquanto o agente cumpre prazo no estrangeiro ○ Durante o tempo que durar a sustação de processo que apura infração penal cometida por deputado ou senador, por crime ocorrido após a diplomação. ○ Durante o período de suspensão do processo ○ Se o acusado, citado por edital, não comparecer em juízo, nem constituir advogado. ○ Durante o prazo para cumprimento de carta rogatória de acusado que está no estrangeiro em lugar sabido. Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela pronúncia; III - pela decisão confirmatória da pronúncia; IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; VI - pela reincidência. § 1º - (Pretensão punitiva) Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles. § 2º - (Pretensão executória) Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. ● Interrompimento➜ se desconsidera o prazo que já correu ○ Os casos são explicados pelo art. 117, CP Tipos de Prescrição ● Prescrição em abstrato➜ se entre a data do fato (como regra) e a data do trânsito em julgado para a acusação tiver transcorrido o prazo prescricional, observadas, sempre, as causas de interrupção e suspensão. (ex.: Fulano praticou crime de homicídio simples no ano de 2000. Em 2009, foi oferecida e recebida denúncia em seu desfavor (interrompida). No ano de 2030, foi proferida sentença condenatória em seu desfavor (21 anos). Neste caso, a sentença é inválida, pois proferida quando já havia ocorrido a prescrição em abstrato) ● Prescrição retroativa➜ se entre a data do recebimento da acusação e a data da publicação da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação tiver transcorrido o prazo prescricional, observadas, sempre, as causas de interrupção e suspensão. (ex.: Fulano praticou crime de homicídio simples no ano de 2000. Em 2009, foi oferecida e recebida denúncia em seu desfavor. No ano de 2024, foi proferida sentença condenatória em seu desfavor, aplicando-lhe pena de 8 anos. A acusação não recorreu. Neste caso, considerando a pena aplicada na sentença, ocorreu prescrição retroativa, pois da sentença voltando ao recebimento da denúncia passou mais de 12 anos) ● Prescrição superveniente➜ se entre a data de publicação da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação e o trânsito em julgado final da condenação tiver transcorrido o prazo prescricional, observadas, sempre, as causas de interrupção e suspensão. (ex.: Fulano praticou crime de homicídio simples no ano de 2000. Em 2009, foi oferecida e recebida denúncia em seu desfavor. No ano de 2014, foi proferida sentença condenatória em seu desfavor, aplicando-lhe pena de 8 anos. A acusação não recorreu, mas a defesa sim. O julgamento do recurso mais seu trânsito em julgado ocorreu no ano de 2027. Neste caso, considerando a pena aplicada na sentença, ocorreu prescrição superveniente/intercorrente, pois da sentença até o trânsito em julgado final transcorreu mais de 12 anos) ● Prescrição executória➜ se entre a data de publicação da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação e o cumprimento da pena tiver transcorrido o 16 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral prazo prescricional, observadas, sempre, as causas de interrupção e suspensão. (ex.: Fulano praticou crime de homicídio simples no ano de 2000. Em 2009, foi oferecida e recebida denúncia em seu desfavor. No ano de 2014, foi proferida sentença condenatória em seu desfavor, aplicando-lhe pena de 8 anos. A acusação não recorreu, tendo ocorrido trânsito em julgado para ela no mesmo ano de 2014. Após o trânsito em julgado da condenação também para a defesa, foi expedido mandado de prisão para que Fulano comece o cumprimento da pena. Fulano foi capturado em 2027. Neste caso, não será possível o cumprimento da pena, pois entre o trânsito em julgado para a acusação e a captura do condenado passou mais de 12 anos. Ocorreu, portanto, prescrição da pretensão executória) ● Prescrição da pena de multa➜ (art. 114, CP) prescreve em 2 anos quando única cominada ou aplicada, ou no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada ● Prescrição do crime de porte ou posse de drogas para consumo pessoal➜ prescreveem 2 anos ● Prescrição em caso de concurso de crimes➜ (art. 119, CP) a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um de forma isolada ● Causas de aumento ou diminuição de pena➜ quando ainda não houver sentença condenatória com pena aplicada e transitada em julgado para a acusação, as causas de aumento e diminuição de pena deverão ser consideradas no cálculo do prazo prescricional. No caso da causa de aumento, será considerada a fração que mais aumenta; no caso da causa de diminuição, será considerada a fração que menos diminui. 17 Gustavo Meira - EQ ⋅ UEM Direito Penal - Parte Geral Princípios do Direito Penal 1 Introdução 1 Princípios do Direito Penal 1 Desdobramentos do Princípio da Legalidade 2 Tipos Penais do Princípio da Taxatividade 2 Aplicação da Lei Penal no Tempo 2 Introdução 2 Momento do Crime 2 Sucessão de Leis Penais 3 Casos Especiais 3 Aplicação da Lei Penal no Espaço 3 Lugar do Crime 3 Princípio da Territorialidade e Suas Exceções 3 Penas Internacionais 5 Sujeitos e Objetos do Crime 5 Sujeitos do Crime 5 Penas Internacionais 5 Elementos do Crime 5 Introdução aos Elementos do Crime 5 Exclusão da Ilicitude e Culpabilidade 5 Fato Típico 6 Conduta Penalmente Relevante 6 Crime Doloso 6 Crime Culposo 6 Preterdolo e Exteriorização da Conduta 7 Resultado 8 Nexo Causal e Concausas 8 Tipicidade 8 Fato Antijurídico 9 Excludentes de Ilicitude 9 Estado de Necessidade 9 Legítima Defesa 10 Estrito Cumprimento do Dever Legal 10 Exercício Regular de Direito 10 Consentimento do Ofendido 11 Excesso Punível 11 Culpabilidade 11 Introdução 11 Imputabilidade 11 Potencial Consciência da Ilicitude 12 Exigibilidade de Conduta Diversa 12 Iter Criminis 13 Iter Criminis 13 Institutos de Não Consumação 13 Institutos de Pós Consumação 14 Erro 14 Erro de Tipo 14 Erro de Proibição 15 Prescrição 15 Cálculo do Prazo Prescricional 15 Tipos de Prescrição 16 18
Compartilhar