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66 Exigências de Proteína e Minerais para Bovinos Confinados 97 EXIGÊNCIAS DE PROTEÍNA E MINERAIS PARA BOVINOS CONFINADOS Prof. Dr. Antonio Ferriani Branco PhD em Nutrição e Produção de Ruminantes 1. EXIGÊNCIAS EM PROTEÍNA O NRC (2000) trabalha com Proteína Metabolizável (Proteína Absorvida), sendo este, um sistema que quantifica a degradação da proteína e, separa as exigências em necessidades dos microrganismos e dos animais. Proteína Metabolizável (PM) é definida como a proteína verdadeira absorvida pelo intestino, suprida por proteína de origem microbiana e proteína da dieta que não sofreu degradação no rúmen. A estimativa da necessidade diária de Proteína Bruta pode ser obtida pela divisão da necessidade diária de Proteína Metabolizável por valores entre 0,64 e 0,80, dependendo da degradabilidade da proteína da dieta. Os coeficientes 0,64 e 0,80 aplicam-se quando toda a proteína é degradada no rúmen, ou quando toda proteína não é degradada no rúmen, respectivamente. Assim pode-se estimar usando a seguinte equação: PB = PM / [0,64 + (PÑDR x 0,0016)] em g/dia 98 2.1. Síntese de Proteína Microbiana A proteína bruta microbiana pode suprir de 50% a 100% das exigências de PM de bovinos de corte dependendo do conteúdo de PÑDR da dieta. Segundo o NRC (2000), a estimativa da síntese de proteína bruta microbiana (PBm) para dietas com menos de 40% de volumoso pode ser obtida usando-se a seguinte equação : PBm (g/dia) = 6,25 x NDT x (8,63 + 14,6 x IngVol - 5,18 x IVol2 + 0,59 x IngConc) Onde, NDT = Kg ingerido/dia PBm = proteína bruta microbiana, IngVol = ingestão de volumoso (% do PV), IngConc = ingestão de concentrado (% do PV). A estimativa da síntese de proteína bruta microbiana (inclui proteína microbiana verdadeira e principalmente ácidos nucléicos) para dietas com mais do que 40% de volumoso pode ser obtida usando-se a seguinte equação: PBm(g/dia) = 6,25 (-31,86 + 26,12 x NDT), onde : NDT = Kg de NDT ingerido/dia O valor de 13 g de PBm/100 g de NDT é uma boa generalização para dietas com mais de 40% de volumoso, mas não é um valor adequado para todas as situações. Para dietas com menos de 40% de forragem a equação de Russell et al. (1992) é usada, ou seja, ocorre uma redução de 2,2% na síntese de PBm para cada 1% de decréscimo no FDN efetivo (FDNe) quando o FDN é inferior a 20%. O FDNe é definido como o FDN presente na fração do alimento ou dieta total que apresenta tamanho de partícula superior à 1,18 mm. 99 No modelo do NRC (2000) o usuário é capaz de modificar o valor da eficiência de síntese em relação ao NDT ingerido. Os dados revisados sugerem que este valor pode ser de 0,08 (8%) com ingestão de dietas contendo baixo NDT (50-60%) e níveis de ingestão de matéria seca entre 1,9-2,1% do PV. Valores menores também podem ser esperados com baixa ingestão de dietas mais ricas em energia. A quantificação da digestão de carboidratos no rúmen é a maneira mais adequada de estimar síntese de PBm, e este mecanismo é utilizado no Modelo 2 de simulação e validação de rações do NRC (2000). No entanto, para alimentos usados na alimentação de bovinos de corte poucos dados de boa qualidade a respeito das taxas de digestão e passagem de diferentes carboidratos potencialmente digestíveis no rúmen estão disponíveis. Os valores de NDT ainda são os mais exatos e ocorrem com maior freqüência, e as formulas para predizer NDT podem ser utilizadas para predizer síntese de PBm. Portanto, o NDT é usado como indicador de disponibilidade de energia no rúmen para o Modelo 1 do NRC (2000). O NRC (2000) usa os seguintes valores para digestibilidade intestinal de PBm e PÑDR: Pelo fato da PBm conter aproximadamente 20% de ácidos nucléicos, para obtermos PBmV (Proteína Bruta Microbiana Verdadeira) temos que multiplicar o valor de PBm por 0,8. PBmV = PBm x 0,8 A digestibilidade da proteína bruta microbiana verdadeira é considerada 80%, então: PBmVDI (Proteína Bruta Microbiana Verdadeira Digestível no Intestino)= PBmV x 0,8 Para resumir podemos calcular: PBmVDI = PBm x 0,64 Para PÑDR assume-se uma digestibilidade intestinal de 80%. 100 2.2. Requerimentos de Proteína Metabolizável para Mantença No NRC (1984 e 1985), as exigências para PM eram calculadas pelo método fatorial. Os fatores incluíam, perda metabólica fecal, perdas urinárias, perda de pêlo, crescimento, crescimento fetal e leite. O NRC (2000) usa o valor de 3,8 g de PM por Kg PV0,75 (3,8 x Kg PV0,75) para estimar as exigências de mantença. A transformação de PM para PL (Proteína Líquida) é obtida através de valores constantes, ou seja, de 0,5 para ganho e 0,65 para lactação. Estes valores são baseados em dois componentes: 1) o valor biológico da proteína, e 2) eficiência de uso de mistura ideal de aminoácidos. É necessário ainda, destacar que a eficiência de uso da PM para ganho não é constante em diferentes pesos vivos e taxas de ganho. Com base nos dados do INRA (1988) e de outros autores, a equação proposta pelo NRC (2000) é: Se o EqPCVz (Equivalente Peso Corporal Vazio) do grupo genético em questão for menor que 300 Kg, a eficiência de transformação da PM para PL é : 83,4 - (0,114 x EqPCVz). Portanto, para um animal com EqPCVz de 200 Kg, teremos uma eficiência de : 83,4 – (0,114 x 200) = 60,6%. Assim, se o animal absorve 100 gramas de PM depositará 60,6 gramas de PL (proteína líquida) no ganho. Se o EqPCVz ≥ 300 Kg, então assume-se um valor constante de 49,2%. A equação prevê uma eficiência de conversão de PM para PL de 66,3% para um bezerro com 150 Kg de EqPCVz, e 49,2 % para um novilho com 300 Kg de EqPCVz. Para estimarmos a quantidade de proteína que será depositada em um determinado ganho em peso, usamos uma equação que usa ER e o GPCJe desejada para uma dada situação. O conteúdo de proteína do GPCJe é dado como (NRC, 1984): Proteína Retida (g/dia) = GPCJe x {268 - [29,4 x (ER/GPCJe)]} 101 O peso ao qual os bovinos atingem a mesma composição química difere dependendo do peso à maturidade e do sexo. Considerando que atualmente a composição e o peso à maturidade da maior parte dos grupos genéticos ainda não são conhecidos, a composição do corpo e a subseqüente exigência de EL deve ser predita do peso estimado da vaca à maturidade (Aula 5). EQPCJe = PCJe x (PCP / PCFJe), onde: PCP = peso corporal padrão (referência para a esperada gordura corporal final), PCFJe = PC Final Jejum 2. REQUERIMENTOS DE AMINOÁCIDOS Considerando os valores médios dos poucos estudos realizados até o momento, considera-se como exigências os seguintes valores (g/100 g proteína do corpo vazio): arginina = 3,3; histidina = 2,5; isoleucina = 2,8; leucina = 6,7; lisina = 6,4; metionina = 2,0; fenilalanina = 3,5; treonina = 3,9 e valina = 4,0. Os estudos e seus resultados têm sugerido que ambos, a quantidade e a proporcionalidade dos aminoácidos disponíveis são importantes para atingir a demanda em função da energia disponível para ganho. Os passos críticos envolvidos na estimativa das exigências de aminoácidos essenciais pelos bovinos, bem como o suprimento dietético é: 1) crescimento microbiano e sua composição; 2) quantidade e composição da proteína da dieta que escapa da degradação ruminal; 3) digestão e absorção intestinal; 4) fluxo líquido dos aminoácidos para os tecidos. Face às limitações em se fazer estas determinações e estimativas, as exigências de aminoácidos devem ser tomadas apenas como valores de referência. 102 A síntese líquida diária de proteína tecidual é um balanço entre síntese e degradação. Os estudos mostram que um boi com 500 kg e deposição líquida diária de 150 g de proteína degrada e resintetiza pelo menos outras 2.550 g. Dado o presente nívelde conhecimento existente na área de exigências de aminoácidos, o Sub Comitê de Gado de Corte (NRC, 2000) decidiu que as estimativas de exigências de proteína e aminoácidos para crescimento (ganho de peso) devem ser baseadas nos valores de deposição líquida diária que atualmente têm sido encontrados. A exigência de proteína para mantença tem sido estimada em ensaios de metabolismo ou ensaios de crescimento com níveis de proteína ligeiramente superiores aos de mantença. A deposição diária de proteína e aminoácidos tem sido quantificada e validada através de abate comparativo. No entanto, o Sub Comitê (NRC, 2000) recomenda que modelos tais como os de OLTJEN et al. (1986) sejam desenvolvidos, refinados e validados e assim no futuro estes procedimentos poderão ser usados para permitir uma predição mais exata das exigências diárias de aminoácidos. 3. EXIGÊNCIAS DE MINERAIS Nas Tabelas 1 e 2 mostramos as exigências de macro e micro minerais conforme o NRC (2000), bem como, os níveis toleráveis máximos. Na Tabela 3 trazemos os níveis máximos toleráveis no caso daqueles minerais que são considerados tóxicos aos ruminantes. 103 Tabela 1 – Exigências de macro e micro elementos minerais por bovinos de corte (NRC, 2000) Exigências Vacas Mineral Unidade Crescimento e Terminação Gestação Início Lactação Níveis Máximos Toleráveis Magnésio % 0,10 0,12 0,20 0,40 Potássio % 0,60 0,60 0,70 3,00 Sódio % 0,06-0,08 0,06-0,08 0,10 Enxofre % 0,15 0,15 0,15 0,40 Cromo mg/kg 1000,00 Cobalto mg/kg 0,10 0,10 0,10 10,00 Cobre mg/kg 10,00 10,00 10,00 1000,00 Iodo mg/kg 0,50 0,50 0,50 50,00 Ferro mg/kg 50,00 50,00 50,00 1000,00 Manganês mg/kg 20,00 40,00 40,00 1000,00 Molibdênio mg/kg 5,00 Níquel mg/kg 50,00 Selênio mg/kg 0,10 0,10 0,10 2,00 Zinco mg/kg 30,00 30,00 30,00 500,00 As estimativas das exigências de cálcio e fósforo são obtidas através de equações (Tabela 2), onde se considera o PCJe para a manutenção e a PRg (proteína retida no ganho) para crescimento. 104 Tabela 2 - Exigências de cálcio e fósforo por bovinos de corte em manutenção e crescimento Exigências (g/dia) Mineral Manutenção1 Crescimento2 Níveis máximos toleráveis Cálcio (0,0154 x PCJe)/0,50 (PRg x 0,071)/0,50 0,2 x IMS Fósforo (0,0160 x PCJe)/0,68 (PRg x 0,045)/0,68 0,1 x IMS 1Para manutenção o PCJe = peso corporal em jejum 2Para crescimento a PRg = proteína retida no ganho Tabela 3 - Concentrações máximas toleráveis de elementos minerais tóxicos para bovinos Elemento mg/kg Alumínio 1000,00 Arsênico 50,00 (de formas orgânicas 100,00) Bromo 200,00 Cádmio 0,05 Flúor 40,00-100,00 Chumbo 30,00 Mercúrio 2,00 Estrôncio 2000,00 Nas Tabelas 4 e 5 podem ser obtidas informações com relação è exigências de algumas categorias, bem como, a composição em cálcio e fósforo de alimentos usados com freqüência em confinamentos. Nestas duas tabelas procuramos evidenciar que em confinamentos há uma regra prática importante a ser observada. Quanto maior a inclusão de grãos na dieta, maior deverá ser a preocupação com os níveis de cálcio e, tal fato decorre dos baixos níveis de cálcio encontrado nos grãos de cereais. Já quando trabalhamos com ganhos diários mais baixos, quando as dietas apresentam maior percentual de volumoso, a preocupação maior deverá ser com o fósforo. Nestas tabelas podem ser obtidos também as exigências diárias de novilhos com peso variando de 200 a 400 kg e ganho médios diários variando de 0,4 a 0,9 kg/dia e 1,3 kg/dia. 105 Tabela 4 – Composição de alimentos e exigências de cálcio em bovinos Alimento %Cálcio Exigência (%MSI) 0,4-0,9 kg/GPV/dia Exigência (%MSI) 1,3 kg/GPV/dia Milho 0,04 Sorgo 0,05 Aveia 0,06 Farelo de Arroz 0,10 Farelo de Algodão 0,16 Farelo de Soja 0,30 Casca de Soja 0,53 Polpa de Citros 1,85 Tanzânia 0,48 Silagem de Sorgo 0,46 Coastcross 0,46 Silagem de Milho 0,31 Braquiária 0,29 Cana 0,21 0,31 – 0,51 (200 kg PV) 0,25 – 0,36 (300 kg PV) 0,22 – 0,29 (400 kg PV) 0,70 (200 kg PV) 0,48 (300 kg PV) 0,37 (400 kg PV) Tabela 5 – Composição de alimentos e exigências de fósforo em bovinos Alimento % Fósforo Exigência (%MSI) 0,4-0,9 kg/GPV/dia Exigência (%MSI) 1,3 kg/GPV/dia Polpa de Citros 0,13 Casca de Soja 0,18 Milho 0,31 Sorgo 0,34 Aveia 0,35 Farelo de Soja 0,70 Farelo de Algodão 0,75 Farelo de Arroz 1,73 Silagem de Milho 0,24 Silagem de Sorgo 0,22 Tanzânia 0,18 Coastcross 0,16 Braquiária 0,10 Cana 0,06 0,18 – 0,27 (200 kg PV) 0,15 – 0,21 (300 kg PV) 0,14 – 0,17 (400 kg PV) 0,36 (200 kg PV) 0,26 (300 kg PV) 0,21 (400 kg PV) 106 4. ESTIMATIVA DE GANHO DE PESO VIVO EM NOVILHOS Considerando as exigências conforme estudado anteriormente façamos um exemplo de desempenho de bovinos confinados. Consideremos um grupo de novilhos (castrados) de 300 kg de peso vivo, da raça Nelore, consumindo uma dieta com 1,66 Mcal de ELm /kg de MS e 1,05 Mcal de ELg /kg de MS, e ingerindo 2,3% do seu peso vivo em matéria seca. Considere que estes animais apresentam uma condição de escore corporal igual a 4. Portanto, devemos fazer as correções para sexo, grupo genético e ganho compensatório. Considerando a concentração de ELm e ELg da dieta, qual será o desempenho deste grupo de animais e quais as exigências de proteína e minerais? 1) Calcula-se inicialmente a ingestão de matéria seca que deverá ser destinada para a manutenção: ELm (Mcal/dia) = (PCJe0,75 x 0,077) x CS x CGG x CGC CS = 1 CGG = 0,9 CGC = 0,8 + (CC – 1) x 0,05 = 0,8 + (4 – 1) x 0,05 = 0,8 + 3 x 0,05 = 0,95 ELm (Mcal/dia) = (71,73 x 0,077) x 1 x 0,9 x 0,95 ELm (Mcal/dia) = 4,72 Mcal/dia Para obtermos a ingestão de MS para a manutenção do novilho, dividimos a exigência pela concentração de ELm da dieta: IMSmanutenção (kg/dia) = 4,72 / 1,66 IMSmanutenção (kg/dia) = 2,85 kg/dia 107 2) Em seguida, considerando a provável IMS calcula-se quanto restará para ganho de peso: Se a ingestão total de MS é de 2,3% do peso vivo do animal, então será 6,9 kg/dia ([300 x 2,3]/100). MS para ganho = MStotal – MSmanutenção MS para ganho = 6,9 – 2,85 = 4,05 kg/dia 3) Calcula-se então quanto de retenção de energia (RE) o novilho terá com estes 4,05 kg para ganho em peso: RE = MS para ganho x ELg da dieta RE = 4,05 kg/dia x 1,05 Mcal/kg RE = 4,25 Mcal/dia 4) Escolhe-se o peso padrão referência (PPR) que depende do grau de acabamento que queremos dar aos animais e, que está relacionado ao grupo de animais que geraram as equações do NRC. Em seguida define-se qual o provável peso corporal final em jejum (PCFJe; no grau de acabamento escolhido) do grupo genético em questão. PPR = 478 kg (28% de gordura na carcaça) 462 kg (26,8% de gordura na carcaça) 435 kg (25,2% de gordura na carcaça) Vamos escolher 478 kg (28% de gordura na carcaça). Supondo que o novilho em questão pertence a um grupo de GEC 4 (Nelore), podemos considerar que seu PCFJe será de aproximadamente 440 kg. 5) Calcular o PCVz, EQPCJe e o EQPCVz PCJe = PV x 0,96 = 300 x 0,96 = 288 kg PCVz = 0,891 x PCJe = 0,891 x 288 = 256,6 kg 108 EQPCJe = PCJe x (PPR / PCFJe) = 288 x (478 / 440) = 288 x 1,086 = 312,8 kg EQPCVz = 0,891 x EQPCJe = 0,891 x 312,8 kg = 278,7 kg Observa-se um EQPCJe e um EQPCVz maiores que o PCJe e o PCVz porque este grupo genético é de peso à maturidade menor (GEC 4) do que o grupo de animais que geraram as equações do NRC que em sua maioria são de GEC 5. Significa que se transformamos estes animais para um grupo genético de tamanho a maturidade maior (GEC 5) eles na realidade equivalem a animais mais pesados 6) Em seguida, estimamos inicialmente o ganho de peso corporal vazio RE = 0,0635 x EQPCVz0,75 x GPCVz1,097 4,25 = 0,0635 x (278,7)0,75 xGPCVz1,097 4,25 = 0,0635 x 68,2 x GPCVz1,097 4,25 = 4,33 x GPCVz1,097 4,25 / 4,33 = GPCVz1,097 0,98 = GPCVz1,097 1,097 0,98 = GPCVz 0,982 kg/dia = GPCVz 7) Agora estimamos o ganho de peso corporal em jejum GPCVz = 0,956 x GPCJe GPCJe = GPCVz / 0,956 GPCJe = 0,982 / 0,956 GPCJe = 1,03 kg/dia 8) E por último, estimamos o ganho de peso vivo GPV = GPCJe / 0,96 GPV = 1,03 / 0,96 GPV = 1,08 kg/dia 109 9) A composição do ganho deste novilho pode ser estimada conforme abaixo: Proporção de gordura (%) = [0,122 x RE – 0,146] x 100 Proporção de gordura (%) = [0,122 x 4,25 – 0,146] x 100 = 37,25% Isto significa uma deposição de aproximadamente 0,402 kg ou 402 gramas de gordura por dia [(1,08 kg x 37,25)/100]. Proporção de proteína (%) = [0,248 – (RE x 0,0264)] x 100 Proporção de proteína (%) = [0,248 – (4,25 x 0,0264)] x 100 Proporção de proteína (%) = [0,248 – 0,1122] x 100 = 13,58% Isto significa uma deposição de aproximadamente 0,147 kg ou 147 gramas de proteína por dia [(1,08 kg x 13,58)/100]. ESTIMATIVA DA EXIGÊNCIA DE PROTEÍNA BRUTA PARA O GANHO PREVISTO Considerando que foi possível estimar o ganho provável, precisamos agora definir qual deve ser a concentração de proteína bruta que esta dieta deverá ter para atender este ganho. 1) O primeiro passo é estimar a exigência de proteína líquida para o ganho previsto usando a equação abaixo: PLg (g/dia) = GPCJe x {268 – [29,4 x (RE / GPCJe)]} PLg (g/dia) = 1,03 x {268 – [29,4 x (4,25 / 1,03)]} PLg (g/dia) = 1,03 x {268 – 121,3} PLg (g/dia) = 1,03 x 146,7 PLg (g/dia) = 151,1 g/dia 110 2) O segundo passo é estimar a exigência de proteína metabolizável para o ganho previsto: Conforme já visto anteriormente, a eficiência de transformação da PM para PL para animais com EQPCVz ≤ 300 é: PM = PLg / [0,83 – (EQPCVz x 0,00114)] PM = [0,83 – (278,7 x 0,00114)] PM = 0,512 Calculamos agora a exigência diária de PMg PMg (g/dia) = 151,1/0,512 = 296,3 g/dia 3) Em seguida estimamos a exigência de proteína bruta para o ganho previsto. Vamos assumir que a degradabilidade ruminal da proteína desta dieta é de 68%, então a proteína não degradável é de 32%. PBg (g/dia) = PMg / [0,64 x (PNDR x 0,0016)] PBg (g/dia) = 296,3 / [0,64 x (32 x 0,0016)] PBg (g/dia) = 296,3 / 0,6912 PBg (g/dia) = 428,7 g/dia 4) Considerando a exigência de PM para manutenção podemos calcular a exigência de PB para manutenção. O NRC (2000) usa o valor de 3,8 g/dia de PM /kg de PV0,75 como exigência diária para manutenção. PMm (g/dia) = PV0,75 x 3,8 111 PMm (g/dia) = 72,1 x 3,8 PMm (g/dia) = 274 g/dia PBm (g/dia) = PMm / [0,64 x (PNDR x 0,0016)] PBm (g/dia) = 274 / [0,64 x (32 x 0,0016)] PBm (g/dia) = 274 / 0,6912 PBm (g/dia) = 396,4 g/dia 5) Finalmente podemos estimar a exigência total de proteína bruta PBtotal (g/dia) = PBm + PBg PBtotal (g/dia) = 396,4 + 428,7 PBtotal (g/dia) = 825,1 g/dia 6) Calcular a concentração de proteína da dieta Se a ingestão de MS for 6,9 kg/dia (6900 g/dia), então: % PB da dieta = (PBtotal / IMS) x 100 % PB da dieta = (825,1 / 6900) x 100 % PB da dieta = 11,96% = 12% ESTIMATIVA DAS EXIGÊNCIAS DE MINERAIS 1) Exigências de Cálcio (Tabela 2) Manutenção = (0,0154 x PCJe)/0,50 = (0,0154 x 288)/0,5 = 8,87 g/dia Ganho = (PRg x 0,071)/0,5 = (151,1 x 0,071)/0,5 = 21,46 g/dia Exigências totais de Cálcio = 30,33 g/dia % na dieta = (30,33/6900)*100 = 0,44% 112 2) Exigências de Fósforo (Tabela 2) Manutenção = (0,0160 x PCJe)/0,68 = (0,0160 x 288)/0,68 = 6,78 g/dia Ganho = (PRg x 0,045)/0,68 = (151,1 x 0,045)/0,68 = 10 g/dia Exigências totais de Fósforo = 16,78 g/dia % na dieta = (16,78/6900)*100 = 0,24% 3) Exigências dos outros minerais As exigências de todos os outros minerais são calculadas com base na MS ingerida. Considerando que a ingestão de matéria seca foi de 6900 g/dia, temos: Magnésio = 0,10% de 6900 = (0,1 * 6900)/100 = 6,9 g/dia Sódio = 0,08% de 6900 = (0,08 * 6900)/100 = 5,52 g/dia Enxofre = 0,15% de 6900 = (0,15 * 6900)/100 = 10,35 g/dia Cobalto = 0,1 mg/kg de MSI = 0,1 x 6,9 = 0,69 mg/dia Cobre = 10 mg/kg de MSI = 10 x 6,9 = 69 mg/dia Iodo = 0,5 mg/kg de MSI = 0,5 x 6,9 = 3,45 mg/dia Manganês = 20 mg/kg de MSI = 20 x 6,9 = 138 mg/dia Ferro = 50 mg/kg de MSI = 50 * 6,9 = 345 mg/dia Selênio = 0,1 mg/kg de MSI = 0,1 x 6,9 = 0,69 mg/dia Zinco = 30 mg/kg de MSI = 30 x 6,9 = 207 mg/dia 5. PREDIÇÃO DA INGESTÃO DE ALIMENTOS EM BOVINOS DE CORTE O NRC (2000) apresenta equações para estimar a ingestão de MS. Na edição de 2000 são discutidas as modificações efetuadas em relação à última edição do NRC de bovinos de corte (1984), comparando-se equações e demonstrando-se as validações efetuadas nas equações desenvolvidas. Um ponto 113 interessante nesta nova edição é a inclusão de alguns fatores de ajustes nos modelos, o que tem melhorado significativamente a predição da ingestão de alimentos. É importante salientar que estes fatores de ajustes foram desenvolvidos baseados em informações obtidas em condições distintas às observadas no Brasil, necessitando, portanto, serem adequados a partir de informações geradas em nossas condições. Animais em Crescimento e em Acabamento 1) Concentração Energética da Dieta A partir de trabalhos publicados entre os anos 1980 e 1992 no Journal of Animal Science, desenvolveu-se a seguinte equação, relacionando a ingestão energia líquida com a concentração energética da dieta: IELm = PCJe0,75 x (0,2435 x ELm - 0,0466 x ELm2 - 0,1128) onde: IELm = ingestão diária de energia líquida de mantença (Mcal/dia); PCJe = é o peso corporal em jejum médio para o período de alimentação e ELm = concentração energética da dieta (Mcal/kg de MS). A ingestão de MS pode ser obtida pela divisão: IELm (Mcal/dia) ELm (Mcal/kg de MS) Para novilhos e novilhas de sobreano o intercepto a ser utilizado na equação acima será -0,0869 e não -0,1128. Assim, a equação para estes animais será: IELm = PCJe 0,75 x (0,2435 x ELm - 0,0466 x ELm 2 - 0,0869) No caso de grupos genéticos com GEC diferente de 5 (grupos que geraram as equações) devemos usar o EQPCJe. Uma comparação entre a equação utilizada nesta edição e aquela da edição passada (1984), indica que para dietas de baixa densidade energética as 114 equações fornecem valores semelhantes de ingestão; para dietas com densidade energética intermediária a edição anterior estima uma ingestão superior e, para dietas de densidade energética elevada a edição atual estimada uma ingestão superior. Como no desenvolvimento da equação utilizaram-se informações referentes à média do período de alimentação, que variou de 52 a 212 dias, deve-se utilizar o peso corporal médio esperado para o período (média de peso entre o peso inicial e final) de alimentação quando da utilização da equação para fins de predição da ingestão. Como visto anteriormente, estas equações deverão ser utilizadas apenas como um referencial, devendo-se quando possível efetuar ajustes baseando-se em dados obtidos em cada situação particular de alimentação. 2) Fatores de ajuste Baseados nos fatores que afetam a ingestão de MS, como visto anteriormente, o NRC (2000) propõe incluir alguns parâmetros de ajuste nos resultados obtidos através da equação que obtém IELm. A Tabela 6 mostra os ajustes recomendados para cada fator. 115 Tabela 6 - Fatores de ajuste para a ingestão de matéria seca estimada pela equação1. Fator Ajuste Raça Holstein 1,08 Holstein x Bov. Corte 1,04 Teor de Gordura na carcaça (%) (TGC) 21,3 (350 kg) 1,00 23,8 (400 kg) 0,97 26,5 (450 kg) 0,90 29,0 (500 kg) 0,82 31,5 (550 kg) 0,73 Implantes anabólicos (Imp) Com Implantes 1,00 Sem implantes 0,94 Temperatura (0C)> 35, sem resfriamento noturno 0,65 >35, com resfriamento noturno 0,90 25 a 35 0,90 15 a 25 1,00 5 a 15 1,03 -5 a 5 1,05 -15 a –5 1,16 Lama Moderada (10 a 20 cm) 0,85 Severa (30 a 60 cm) 0,70 116 Literatura de Apoio NRC. Nutrient Requirement of Beef Cattle. Seventh Revised Edition. National Academy Press, Washington, DC, 2000. 248 p.
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