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ANA BEATRIZ DE ARRUDA DANTAS GABRIEL PEREIRA XAVIER JOÃO PEDRO FARIAS JOÃO RUBENS DA SILVA GUEDES LÍVIA NOEMY AIRES DE LUCENA MARIA ESTÊPHANNY PEREIRA DA SILVA RESUMO: PASTEURELOSES E NOCARDIOSE Trabalho apresentado à disciplina Doenças Infecciosas do curso bacharelado em Medicina Veterinária, como pré- requisito para avaliação na referida disciplina. Orientador(a): Prof.ª Dr.(a) Luciana Cavalcanti de Arruda Coutinho. VITÓRIA DE SANTO ANTÃO 2024 1. DEFINIÇÃO: O QUE SÃO PASTEURELOSES As Pastereullas são pequenas bactérias cocobacilos gram-negativos que habitam a cavidade oral e o trato gastrintestinal de muitos animais e causam vários problemas infecciosos, incluindo sepse e pneumonia. Existem várias espécies de bactérias, sendo a P. multocida a mais clinicamente relevante para espécies domésticas e selvagens P. multocida pertence à família Pasteurellaceae que engloba os gêneros Pasteurella, Actinobacillus, Haemophillus e diversos outros com maior ou menor semelhança fenotípica e genotípica. O primeiro isolamento de uma bactéria do gênero Pasteurella ocorreu entre 1880 e 1881, sendo o nome Pasteurella, dado em homenagem a Louis Pasteur, que em 1887 isolou o agente em casos de cólera aviária de perus. P. multocida é uma espécie heterogênea subdividida em três subespécies de acordo com os padrões de fermentação de carboidratos. A P. multocida subsp. multocida que inclui a maior parte das amostras que causam infecção em humanos, bovinos, suínos, aves domésticas, gatos e coelhos, a P. multocida subsp. septica tem sido isolada em felinos e aves silvestres e a P. multocida subsp. gallicida tem sido descrita em aves e suínos. A espécie P. multocida apresenta cinco tipos capsulares, A, B, D, E e F. Além da classificação baseada nos componentes capsulares as amostras de P. multocida podem ser classificadas de acordo com os antígenos somáticos. Até o momento foram identificados 16 sorotipos somáticos. 2. FATORES DE VIRULÊNCIA: Toxinas: Algumas cepas de P. multocida produzem uma toxina proteica de 145 kDa (toxina dermonecrótica ou Tox A). A toxina produzida pela P. multocida tem a habilidade de alterar a morfogênese de um tecido ou órgão. Esta toxina está diretamente envolvida nos casos de rinite atrófica em suínos. Nestes casos este processo se dá nos ossos turbinados nasais. As alterações nos ossos turbinados incluem um aumento no número de osteoclastos e uma progressiva degeneração dos osteoblastos; Proteínas Externas de Membrana (OMPs): As OMPs de P. multocida funcionam como barreiras seletivas e desempenham funções cruciais na sobrevivência bacteriana, incluindo absorção de nutrientes e transporte de moléculas. Elas são imunogênicas e potenciais candidatas para vacinas, além de algumas atuarem como fatores de virulência. As OMPs estão envolvidas na captação de ferro e na adesão às células- alvo; Fímbrias: As fímbrias são apêndices bacterianos que ajudam na adesão às células do hospedeiro e estão associadas à patogenicidade. A fimbria tipo 4, expressa pelo gene ptfA, é uma candidata para vacinas, apesar da variação genética que pode limitar sua eficácia. Cápsula: A cápsula de P. multocida, composta por polissacarídeos, é essencial para a virulência, proporcionando resistência à fagocitose. Existem cinco tipos de cápsulas (A, B, D, E e F), cada uma associada a diferentes infecções em animais. Cepas acapsulares são menos virulentas. Enzimas: A neuraminidase, uma enzima produzida por P. multocida, remove ácido siálico de glicoproteínas e glicolipídios, mas sua relevância na virulência é incerta. Outras enzimas como hialuronidase, fosfatase alcalina, esterase e lipase também são produzidas, mas seu papel na virulência não é bem compreendido. 3. TIPOS As diversas formas da infecção são: • A doença do tecido cutâneo/subcutâneo é um flegmão séptico que se desenvolve classicamente na mão e no antebraço após uma mordida de gato. Os sinais inflamatórios se desenvolvem muito rapidamente; em 1 ou 2 horas aparecem edema, dor intensa e exsudato serossanguinolento. Pode-se observar febre, moderada ou muito alta, juntamente com vômitos, dor de cabeça e diarreia. A linfangite é comum. São possíveis complicações, na forma de artrite séptica, osteíte, ou evolução para cronicidade; • A sepse é muito rara, mas pode ser tão fulminante quanto a peste septicêmica, com febre alta, calafrios e vômitos, seguidos de choque e coagulopatia; • A doença pneumonia também é rara e aparece em pacientes com alguma patologia pulmonar crônica. Geralmente se apresenta como pneumonia consolidada bilateral, às vezes muito grave; • Zoonose, pasteurelose pode ser transmitida aos humanos através dos gatos; • Outras localizações são possíveis, como artrite séptica, meningite e endocardite aguda, mas são muito raras. 4. TRANSMISSÃO • Inalação de partículas infecciosas e aerossóis; • Ingestão de alimentos contaminados, carcaças infectadas, água ou solo; • Arranhões ou mordidas de um animal infectado; • Contato com animais infectados ou vetores mecânicos; • Artrópodes como pulgas, carrapatos, piolhos e baratas; • Foi demonstrado que a P. multocida persiste no carrapato de aves (Argas persicus) por pelo menos um mês; • Ácaros de aves (Dermanyssus spp.). 5. PATOGÊNESE DAS PASTEURELOSES P. multocida causa inúmeras condições patológicas em animais domésticos. Atua frequentemente com outros agentes infecciosos, como espécies e vírus de Chlamydia e Mycoplasma. As condições ambientais (transporte, deficiência habitacional e mau tempo) também desempenham um papel. Estas doenças são consideradas causadas por P. Multocida, isoladamente ou associadas a outros patógenos: • A febre do transporte em bovinos e ovinos ("febre do transporte" também pode ser causada por Mannheimia haemolytica , na ausência de P. multocida , e M. haemolytica sorovar A1 é conhecido como a causa mais comum da doença.] A condição patológica geralmente surge quando o organismo causador se estabelece por infecção secundária, após uma infecção bacteriana ou viral primária, que pode ocorrer após estresse, por exemplo, devido ao manuseio ou transporte ); • Pneumonia enzoótica de ovinos (e caprinos , com intervenção frequente de M. haemolytica ); • Cólera aviária ( frangos e outras aves domésticas e aves de gaiola); • Pneumonia enzoótica e rinite atrófica de suínos; • Pasteurelose de coelhos. A pasteurella sp. em virtude das causas predisponentes, ou por seleção de uma variante muito patogênica, a partir de seu habitat pode invadir e multiplicar-se ativamente nos pulmões. Por ação direta e de endotoxinas desencadeia-se estado inflamatório com grande aumento da permeabilidade vascular, exsudação de líquidos, fibrina e eventualmente hemorragias. O resultado é uma pneumonia serofibrinosa, com edema intersticial, ou dos septos interlobulares, apresentação de hepatização vermelha, petéquias pleurais e serofibrinosa, tendendo a formar aderências entre as pleuras visceral e parietal. Em alguns casos a Pasteurella sp. antes de chegar aos pulmões ingressa no tecido linfóide tonsilar e determina a formação de edema faríngeo, laríngeo e que, as vezes, se estende para a região cervical ventral. A forma pneumônica, e em menor proporção a cérvico-faringea edematosa, com hemorragias, são as mais comuns em bovinos, suínos, ovinos e caprinos, geralmente determinando a morte em 3 a 10 dias. Em suínos a forma subaguda e crônica leva a morte de leitões em 15 a 30 dias após a infecção, ou tem seu crescimento prejudicado e morrem em dois a três meses, ou são levados a necropsia pela falta de desenvolvimento encontrando-se extensa pneumonia purulenta, mais comumente nos lobos apicais e médios, com abscessos e aderências pleurais. Em gatos a Pasteureloseé relativamente frequente no tempo frio ou quando há excessivas variações climáticas. A multocida e a pneumotropica é com mais frequência isolada em gatos. Já os coelhos são muito sensíveis a Pasteurella sp. e é comum encontrar diferentes formas da pasteurelose primária que ora surgem epidemicamente, ora se mantêm endêmicas nas granjas cunículas, podendo ser na forma septicêmica . A evolução é superaguda ou aguda, matando numerosos animais em um mesmo dia, ou da noite pro dia. Em aves o gênero Pasteurella multocida é o que mais acomete, no entanto, a P. haemolytica, P. galinarum e a Riemerella anatipestifer, também podem gerar a enfermidade. A pasteurelose costuma acometer animais com mais de 6 semanas de vida e, o principal meio de infecção são as carcaças de aves que morreram com a doença e o agente etiológico pode permanecer no ambiente por até 3 meses, sendo que o agente infeccioso chega até as criações através de rato e outros roedores. 6. SINTOMATOLOGIA DAS PASTEURELOSES A Pasteurella multocida induz quadros clínicos variáveis, dependendo do grau de imunidade do animal, da virulência da cepa e do sorotipo envolvido. Os sintomas mais agressivos ocasionam pneumonia hemorrágica, pleurite e pericardite. Morcegos • Pleurite; • Pericardite, epicardite, miocardite; • Necrose do fígado e baço; • Nefrite. Ovinos • Depressão; • Temperaturas entre 41 à 42º C; • Espuma pela boca, tosse; • Corrimento nasal e ocular claro; • Corrimento mucopurulento (caso avançado); • Rinite atrófica e atrofia dos cornetos nasais; • Dificuldade respiratória (especialmente após exercício); • Pneumonias e/ou quadros de septicemia; • Emagrecimento progressivo; • Morte súbita (mais comum em animais jovens). Aves • Enterite mucóide com placas necróticas-diftéricas; • Inflamação mucóide do trato respiratório superior; • Acompanhada por vacuolização citoplasmática, exsudato mucopurulento, perda de cílios e descamação; • Parênquima pulmonar pode conter focos de acúmulo de bactérias cercados por neutrófilos; • Hemorragias petequiais na superfície do coração; • Necrose focal do fígado e outros órgãos. Suínos e Bovinos • Dificuldade para respirar; • Respiração abdominal; • Prostração; • Falta de apetite; • Temperatura corporal alta (41,6ºC). Cães e gatos • Dispnéia; • Febre; • Tosse; • Corrimento nasal mucopurulento ou seroso; • Letargia; • Anorexia e perda de peso. Coelhos • Rinite com descarga nasal purulenta; • Pneumonia; • Otite média; • Piometra; • Orquites; • Abscessos; • Conjuntivites; • Septicemia. A tosse aparece como um sinal relevante quando esta bactéria está associada à pneumonia enzoótica ou influenza e, nesses casos a redução no desempenho é significante. A mortalidade nesses casos pode chegar a 40%. A doença ocorre com maior frequência no período de terminação dos suínos, depois de 100 dias de idade, até o abate. 7. DIAGNÓSTICO DAS PASTEURELOSES O diagnóstico é baseado no isolamento do agente ou na realização de testes para demonstração da sua presença ou seus antígenos, como sorologia ou provas moleculares. O isolamento normalmente é feito em meios enriquecidos, principalmente naqueles suplementados com soro ou sangue. A utilização de meios seletivos tem sido indicada por vários autores para aumentar a probabilidade do isolamento da P. multocida a partir de secreções nasais e de pulmões, devido à sua frequente associação com outros microorganismos. Com base nos antígenos capsulares, a P. multocida tem sido classificada em 5 grupos sorológicos (A, B, D, E e F), sendo que os sorotipos A e D estão relacionados respectivamente com pneumonia e rinite atrófica em suínos. Deve ser feito o diagnóstico diferencial com outros agentes envolvidos em pneumonias como Actinobacillus pleuropneumoniae, vírus da influenza, Mycoplasma hyopneumoniae e outros agentes como o Streptococcus spp 8. TRATAMENTO DAS PASTEURELOSES 8.1.Tratamento de lesões infectadas complicadas As complicações da lesão infectada incluem doença sistêmica (febre, hipotensão, taquicardia) e disseminação para tecidos moles mais profundos. A rápida progressão dos sintomas também pode ocorrer apesar da terapia antibiótica oral. Antibióticos parenterais devem ser considerados nesses pacientes, bem como naqueles previamente identificados como de alto risco. Se forem usados antibióticos parenterais, eles devem ser continuados até que o paciente apresente sinais claros de resolução da infecção, momento em que é sugerida a transição para um regime oral por mais 5-14 dias. O manejo cirúrgico pode ser indicado para infecções mais profundas de tecidos moles, incluindo feridas com tecido desvitalizado, evidência de formação de abscesso ou desenvolvimento de características de infecção necrosante. Se for necessário desbridamento, ele deve ser realizado antes do início dos antibióticos para que as amostras da ferida possam ser enviadas para cultura. Se possível, o fechamento da ferida deve ser evitado após o desbridamento para permitir uma drenagem adequada. Em pacientes que necessitam de desbridamento superficial da ferida ou drenagem de abscesso sem outros sinais de infecção sistêmica, a alta com 5 a 14 dias de antibióticos orais é uma opção de tratamento razoável. A duração do regime pode ser prolongada se o paciente apresentar uma resposta lenta. Pacientes com infecções profundas complicadas, como osteomielite, tenossinovite ou artrite séptica, podem necessitar de um tratamento prolongado com antibióticos. Regimes específicos são discutidos abaixo. • Tratamento antimicrobiano; • Tratamentos antiinflamatórios auxiliares; • Metafilaxia de populações de alto risco. É necessária a identificação precoce de doenças respiratórias e a introdução de um tratamento antimicrobiano eficaz. O tratamento antimicrobiano normalmente consiste em tetraciclinas de ação prolongada, antimicrobianos beta-lactâmicos de amplo espectro, macrolídeos ou florfenicol. A cultura bacteriológica e o teste de suscetibilidade antimicrobiana de isolados clínicos podem ser indicados para direcionar o tratamento antimicrobiano. Os padrões de suscetibilidade antimicrobiana de M. haemolytica, B. trehalosi e P. multocida mostraram resistência às penicilinas (todos os três organismos), sulfadimetoxina ( P. multocida ) e tetraciclinas (B. trehalosi e ocasionalmente M. haemolytica), embora a resistência à tetraciclina seja menos prevalente em pequenos ruminantes. doença do que no gado. Espera-se que a ampicilina, o ceftiofur, o danofloxacino, o florfenicol, o sulfametoxazol-trimetoprima, a tilmicosina e a tulatromicina tenham boa eficácia. O tratamento é frequentemente pouco recompensador, a menos que seja iniciado no início do processo da doença, devido à rápida progressão dos danos pulmonares e à liberação de endotoxinas. Fluidos parenterais e agentes antiinflamatórios são potenciais complementos ao tratamento antimicrobiano. Tratamentos anti-inflamatórios auxiliares (por exemplo, flunixina ou dexametasona) são frequentemente utilizados, mas não são bem apoiados pela literatura. Embora os AINEs sejam especificamente apropriados diante da endotoxemia, não há consenso sobre a eficácia para melhores resultados clínicos na pasteurelose de pequenos ruminantes e há poucas evidências positivas quando usados para doenças respiratórias bovinas. Os corticosteróides não são indicados na pasteurelose de pequenos ruminantes. Embora a pasteurelose septicêmica tenha suscetibilidade antimicrobiana favorável, a resposta ao tratamento é frequentemente decepcionante.por testes de suscetibilidade local do isolado. 9. PREVENÇÃO Essa doença pode ser evitada por vacinação, que é feita juntamente com a do paratifo (vacina polivalente). 10. DEFINIÇÃO: O QUE É NOCARDIOSE Entre as doenças dermatológicas mais comunsem pequenos animais, as dermatopatias bacterianas se destacam (Cardoso et al., 2011; Larsson, 1996). Dentro desse grupo, os actinomicetos, que incluem os gêneros Nocardia, Rhodococcus e Corynebacterium, são particularmente patogênicos para animais e humanos (Radostits et al., 2010). Os actinomicetos são bactérias aeróbicas, gram-positivas, parcialmente álcool-ácido resistentes, filamentosas e ramificadas (Beaman & Beaman, 1994). Dentre as espécies do gênero Nocardia, temos Nocardia asteroides, N. farcinica, N. nova, N. brasiliensis, N. otitidiscaviarum e N. transvalensis (Corti & Fioti, 2003), microrganismos ubíquos encontrados em solo, água, matéria orgânica em decomposição, vegetais e matéria fecal (Ettinger et al., 2017; Radostits et al., 2010; Sykes, 2015). Apesar da sua ampla distribuição ambiental, esses microrganismos podem se tornar patogênicos, causando enfermidades (Golynski et al., 2006). A nocardiose, uma infecção causada por espécies de Nocardia (Corti & Fioti, 2003), é mais comum em indivíduos imunocomprometidos (Sykes, 2015). Por isso, os clínicos veterinários devem estar atentos ao risco de infecção por Nocardia em pacientes imunossuprimidos (Condas et al., 2015; Hilligas et al., 2014; MacNeill et al., 2010). Nocardia asteroides é reconhecida como a espécie mais patogênica para humanos (Ackerman et al., 1982) e animais em geral (Greene et al., 1993; Radostits et al., 2010). Outras espécies comuns e patogênicas incluem Nocardia brasiliensis, Nocardia farcinica e Nocardia novas (Greene et al., 1993; Scott et al., 1996). Em cães, a nocardiose geralmente está associada à infecção pelo vírus da cinomose canina, uso prolongado de drogas imunossupressoras ou hipotireoidismo (Ribeiro et al., 2008; Hilligas et al., 2014; MacNeill et al., 2010; Leal et al., 2016). Fatores adicionais de risco incluem manejo nutricional inadequado, higiene deficiente e falta de controle de ectoparasitas (Frade et al., 2018). A infecção pode ocorrer por inalação de aerossóis, ingestão ou contato com ambiente contaminado, ou por inoculação percutânea por traumas (Beaman & Sugar, 1983; Kirpensteijn & Fingland, 1992; Sykes, 2015). As infecções por Nocardia em animais são caracterizadas por lesões supurativas a granulomatosas, com evolução crônica e dificuldade de resolução terapêutica (Beaman & Beaman, 1994). Estudos identificaram diversas espécies de Nocardia envolvidas em lesões cutâneas e pulmonares em cães (Frade et al., 2018; Ribeiro et al., 2008). A correta identificação da espécie é crucial para determinar o tratamento adequado com antibioticoterapia (Marino & Jaggy, 1993). 11. PATOGÊNESE DA NOCARDIOSE A nocardiose em animais pode ser desencadeada por diferentes mecanismos de infecção e fatores predisponentes. Entre eles, a contaminação por solo é uma via comum de entrada para os agentes causadores, Nocardia spp. Esses microrganismos são onipresentes no meio ambiente, encontrados no solo, água, matéria orgânica em decomposição e poeira. A exposição direta a esses ambientes contaminados pode resultar na introdução de Nocardia spp. no corpo do animal, especialmente através de feridas cutâneas. Além disso, a imunossupressão é um fator de risco significativo para o desenvolvimento da nocardiose. Animais com sistemas imunológicos comprometidos, seja por doenças subjacentes como cinomose canina ou hipotireoidismo, pelo uso prolongado de drogas imunossupressoras, ou por outras condições que afetam a imunidade, estão mais suscetíveis à infecção por Nocardia spp. Traumas, como mordeduras, cortes ou feridas penetrantes, também podem fornecer uma rota de entrada para Nocardia spp. Em ambientes onde os animais estão expostos a solo contaminado, como fazendas ou áreas rurais, o contato com objetos ou superfícies contaminadas também pode levar à inoculação desses microrganismos e à subsequente infecção. Além disso, a inalação de aerossóis contendo Nocardia spp. pode resultar em infecções respiratórias em animais. Uma vez estabelecida a infecção local, Nocardia spp. podem se disseminar para outras partes do corpo do animal, resultando em infecções sistêmicas graves. 12. SINTOMATOLOGIA DA NOCARDIOSE Em animais de companhia, a nocardiose cutânea geralmente se manifesta por lesões tegumentares cutâneas ou subcutâneas que evoluem para formar abscessos crônicos localizados. Esses abscessos frequentemente apresentam fístulas e úlceras necróticas que drenam uma secreção serossanguinolenta, semelhante a uma "sopa de tomate" (Kirpensteijn & Fingland, 1992; Medleau et al., 2003; Ribeiro et al., 2008). Além disso, a nocardiose pode se manifestar como lesões pulmonares (Kirpensteijn & Fingland, 1992; Ribeiro et al., 2008). Em um estudo conduzido por Frade et al. (2018) com cães diagnosticados com nocardiose, observou-se predominantemente lesões no sistema respiratório, comumente associadas ao envolvimento do sistema nervoso central (SNC), e também foram observadas lesões cutâneas que se disseminaram sistemicamente a partir dessas lesões primárias. As lesões cutâneas são mais comumente encontradas na região cervical e inguinal e podem se apresentar na forma de abscessos, nódulos, úlceras e linfadenopatia (Condas et al., 2015; Hilligas et al., 2014). Além disso, a pele, músculos, ossos e vasos linfáticos são locais comuns de infecção após inoculação traumática (Beaman & Beaman, 1994). As lesões também podem afetar membros ou abdômen, e a linfadenomegalia periférica é comum (Medleau et al., 2003). Em felinos, a forma cutânea da nocardiose é mais prevalente (Edwards, 1998). Na cavidade oral de cães, a nocardiose pode causar doença periodontal, com os microrganismos podendo ser identificados na cavidade oral dos carnívoros. A inoculação desses microrganismos através de mordeduras ou lambeduras pode levar ao desenvolvimento de lesões piogranulomatosas, principalmente em pacientes imunossuprimidos (Fonseca et al., 2011; Fornazari et al., 2007; MacNeill et al., 2010). A presença de inapetência, emagrecimento e apatia são sinais comuns de afecções por Nocardia spp. em cães e gatos (Edwards, 1998). 13. DIAGNÓSTICO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA NOCARDIOSE O diagnóstico da nocardiose em animais requer uma abordagem abrangente que inclui avaliação clínica, exames laboratoriais e técnicas microbiológicas. Em cães jovens, a presença de sinais respiratórios e neurológicos progressivos, bem como lesões cutâneas com envolvimento do subcutâneo e linfonodos regionais, deve levantar a suspeita dessa infecção. Durante a avaliação clínica, é essencial realizar uma anamnese detalhada e um exame físico completo para identificar possíveis fatores predisponentes, doenças sistêmicas subjacentes ou imunossupressão. Exames laboratoriais, como hemograma, podem revelar leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, características frequentes em casos de nocardiose. O diagnóstico primário geralmente é realizado por meio de exame citológico do exsudato da lesão cutânea, corado pelo método de Gram. Esse exame permite a observação de bactérias cocoides gram-positivas filamentosas, parcialmente ácido- resistentes, juntamente com células inflamatórias como neutrófilos e macrófagos. Para o diagnóstico definitivo, a cultura bacteriana em meio aeróbico ou enriquecido com dióxido de carbono é fundamental. Além disso, em casos onde o aspecto macroscópico da lesão dificulta a coleta de material para cultivo, o exame histopatológico por meio da coloração com ácido periódico de Schiff (PAS) pode ser uma ferramenta útil. Técnicas moleculares, como análise de enzimas de restrição e PCR, também podem ser empregadas para caracterização das espécies patogênicas de Nocardia spp. O diagnóstico sorológico em cães naturalmente infectados também pode ser considerado em algumas situações. Figura 8. Numerosos netutrófilos e macrófagos. Bactérias cocóides filamentosasramificadas (Diff-quick, x1000) Fonte: Golynski et al. (2006). Do ponto de vista morfológico, Nocardia e Actinomyces apresentam semelhanças, tornando o diagnóstico diferencial desafiador. No entanto, em colorações especiais, como a impregnação pela prata (GMS) e o teste de Gram, o Actinomyces é identificado como Gram positivo, mas não é álcool-ácido resistente, ao contrário da Nocardia. A semelhança morfológica entre Nocardia e fungos também pode causar confusão no diagnóstico. Por isso, é crucial utilizar técnicas de citologia adequadas e considerar a morfologia do crescimento colonial para distinguir entre esses microrganismos. 14. TRATAMENTO DA NOCARDIOSE O tratamento da nocardiose com antibioticoterapia é recomendado, considerando a gravidade da infecção, sua localização anatômica e a imunidade do hospedeiro. As combinações de trimetoprim-sulfonamidas, cefalosporinas, amicacina, ampicilina, imipenem, minociclina e linezolida são medicamentos frequentemente prescritos para o tratamento de infecções por Nocardia. O curso da antibioticoterapia é prolongado, geralmente durando semanas a meses, e a medicação deve ser mantida por pelo menos quatro semanas após a completa resolução clínica. É essencial combinar o tratamento com terapia de apoio e, em alguns casos, intervenção cirúrgica. A escolha do antibiótico deve ser orientada pelos resultados da cultura e do antibiograma, sempre que possível, para garantir a eficácia do tratamento. Nos casos de recorrência ou resposta terapêutica insuficiente, o debridamento cirúrgico das áreas afetadas é recomendado. Estudos indicam que a abordagem mais eficaz para a nocardiose cutânea envolve a combinação de remoção cirúrgica dos tecidos infectados e tratamento com antibióticos sensíveis, identificados por meio de cultura e antibiograma. Esta abordagem prolongada é mais eficiente do que o tratamento apenas com antibioticoterapia. 15. PROGNÓSTICO DA NOCARDIOSE O diagnóstico e o tratamento precoces desempenham um papel crucial no prognóstico favorável da nocardiose. Infelizmente, em casos de infecções disseminadas em animais de companhia, o prognóstico é muitas vezes incerto. Especificamente em animais com condições imunossupressoras associadas, o prognóstico é desfavorável, conforme observado por Condas et al. (2015). Não existem medidas específicas para o controle e prevenção da nocardiose devido à ampla distribuição do microrganismo no ambiente. 16. CONSIDERAÇÕES FINAIS As pasteureloses representam um desafio significativo para a saúde animal em diversas espécies, incluindo bovinos, suínos, ovinos, caprinos, gatos, coelhos e aves. Essas doenças respiratórias, causadas por bactérias do gênero Pasteurella, podem resultar em morbidade e mortalidade elevadas nos rebanhos, além de impactar negativamente a produção e o bem-estar dos animais. Por outro lado, a nocardiose, embora rara em cães e gatos, requer atenção devido a seu potencial gravidade. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são cruciais para melhorar o prognóstico e reduzir a mortalidade dos pacientes afetados. O médico veterinário deve estar atento a sinais de infecção por Nocardia spp., especialmente em feridas e abscessos não responsivos à antibioticoterapia convencional. Essas abordagens ajudam a garantir melhores resultados para os pacientes. 17. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORRÊA, W. M. Enfermidades Infecciosas dos Mamíferos Domésticos. 2 Ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1992. MORAES, H.L.S.; GARCIA, D.M.; MORAES, L.B. Pasteurelose Aviária em Matrizes de Corte. Disponível em: www.sovergs.com.br/site/conbravet2002/1691.htm. Acesso em: 21 mar 2012. VIÇOSA. Universidade Federal de. Principais Doenças das Aves. Disponível em: www.acercsp.org/doencas.htm. Acesso em: 21 mar 2012. PFISER. Infecção por Pasteurella haemolytica. Disponível em: http://www.pfizersaudeanimal.com.br/bov_doencas_haemolytica.asp. Acesso em: 21 mar 2012. BOROWSKI, Sandra Maria. Pasteurelose pulmonar: Uma atualização. Centro de Pesquisa Veterinária Desidério Finamor, Laborátorio de Patologia Suína, RGS, Brasil. VECHIATO, Thales dos Anjos de Faria, Pasteurelose: a pneumonia dos confinamentos; USP-São Paulo.