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RESUMO Este trabalho tem como o objetivo o esclarecimento sobre o debate existente no meio civil, mais especificamente no âmbito da prisão civil do devedor de alimentos, quais os impactos na vida do alimentante e do alimentado. A discussão sobre o assunto tomou uma proporção maior em meio a pandemia de COVID 19 que vivemos e a correlação dela com a superpopulação no sistema de cárcere, abordando os métodos atenuantes desta questão, foi levantada a discussão novamente sobre outros métodos de coação e/ou punição da falta de pagamento dos alimentos devidos. Com novas recomendações e novas jurisprudências, o assunto tomou um embasamento muito superior a anos anteriores e trás a oportunidade de uma revisão dos caminhos para garantir o melhor cenário ao alimentado, individuo mais importante desta lide. Ao decorrer do texto haverá abordagens de diversos autores renomados no âmbito civil, observações cruciais de jurisprudências e recomendações e uma reflexão sobre como acontece na realidade. O objetivo desse trabalho é vizualizar a discussão referente a prisão civil do devedor de alimentos e os efeitos causados entre as partes. Um debate toma força em meio a pandemia do Covid 19, tendo a realidade da super lotação do sistema carcerário. No intuito de buscar outros métodos eficazes e auternativos para a inadimplência dos alimentos devidos. A busca de novas jurisprudências e recomendações vem mudar o que era feito em anos anteriores, surgindo novas maneiras que garantem ao principal individuo desta lide, um olhar mais seguro ao alimentado. Por meios de autores renomados na área civil, ter a intenção de buscar um olhar realista diante desse tema tão presente em nossa sociedade. INTRODUÇÃO O Instituto Jurídico dos alimentos visa proteger os alimentos previstos na lei, porém será englobado tudo o que for necessário para garantir uma vida digna ao alimentado, exemplos tais como: vestuário, lazer, estudo, convívio social, saúde mental e física, e tudo que for relacionado e que garantirá o seu sustento. Será abordado nesse projeto o papel fundamental do alimentante, seus direitos e suas responsabilidades, e como essas ações afetam a vida do alimentado. Mais conhecida como Convenção de São José da Costa Rica, a Convenção Internacional dos Direitos Humanos, foi a responsável por incorporar ao nosso ordenamento jurídico a possível prisão civil do alimentante inadimplente, sendo previsto no Artigo 5º, LXVII, da Constituição Federal: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel” 1. Há bons ano, foi proibida a prisão do depositário infiel, matéria inclusive sumulada pelo Supremo Tribunal Federal, através da Súmula Vinculante 25 afirmando que “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito” 2. Os motivos para a prisão civil são diferentes da prisão criminal, ou seja, o trangressor ao cometer um crime, será punido; enquanto a prisão civil se destina a forçar um indivíduo a cumprir as obrigações de forma coercitiva. Instituto Jurídico dos alimentos tem como objetivo garantir ao alimentado previsto por lei, desde itens de higiene, roupas, lazer, escola, convívio, e tudo que engloba seu sustento, saúde psicológica e física, todo o necessário para garantir lhe garantir uma vida digna. Neste projeto iremos abordar assuntos como por exemplo a função do alimentante, seus deveres e direitos e como esses atos impactam a vida do alimentado. A Convenção Internacional de Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, incorporou ao ordenamento jurídico brasileiro a possibilidade de se decretar a prisão civil do devedor de alimentos inadimplente, o que está previsto no Artigo 5º, LXVII, da Constituição Federal: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel” 1. Há bons ano, foi proibida a prisão do depositário infiel, matéria inclusive sumulada pelo Supremo Tribunal Federal, através da Súmula Vinculante 25 afirmando que “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito” 2. A prisão civil tem justificativa diversa da prisão penal, em que o transgressor comete ilícito penal tipificado, praticando, assim, uma conduta criminosa sendo punido; enquanto a prisão civil visa forma coercitiva de impor que o indivíduo cumpra com a obrigação. Referente ao caráter coercivo da prisão civil de um devedor de alimentos não terá um cumprimento preciso ao desempenho da sua função, pois a coação muita das vezes acaba transferirindo a responsabilidade do pagamento para um terceiro, na maioria dos casos um familiar, evitando assim a privação de liberdade do indivíduo. Sobre esse devedor alimentante, haverá um debate da eficiência de uma prisão civil e como funciona se tratando em casos reais. Em determinadas circunstâncias, de acordo alguns estudiosos, verificaremos que a prisão pode ser a segurança para um bom resultado, pois vem sendo um dos meios que melhor acelera a resolução das inadimplências existentes, por outro lado poderá trazer prejuízos, uma vez que as prisões podem agravar e adiar ainda mais as condições para o adequado cumprimento da alimentação, o executado se encontrando preso pessoa ficará impossibilitado de trabalhar e, portanto, não conseguirá obter renda para a quitação dos débitos de alimentos atrasados, continuando assim devedor. O caráter coercitivo da prisão civil do devedor de alimentos não possui exatidão quanto ao cumprimento de sua função, visto que o coagir acaba por transferir a responsabilidade pelo pagamento para outra pessoa, na maioria das vezes, o seu familiar, com vistas a evitar o seu aprisionamento e, consequentemente, a sua privação de liberdade. No caso do alimentante inadimplente, haverá a discussão sobre o quão eficaz a prisão civil é, como ela age no caso real, Em alguns casos, a eficácia desta prisão, 10 segundo doutrinadores, que iremos verificar, é um dos meios que mais agiliza a resolução da inadimplência existente, mas que também podem trazer prejuízos visto que, a prisão pode acentuar e retardar mais ainda as condições para o devido cumprimento alimentar, pois estando preso, o executado não terá como trabalhar, não auferindo dessa forma, renda para o pagamento dos alimentos em atraso, continuando com a sua inadimplência Portanto, discute se a prisão civil do devedor inadimplente alcança o resultado satisfatório quanto a sua função social exclusiva de observar a eficácia da prisão do devedor de alimentos inadimplente referindo se a sua obrigação alimentar. As questões envolvidas demonstram que a privação da liberdade do devedor não é um meio suficiente e eficaz para garantir que o incumpridor de alimentos execute as suas obrigações, sendo uma forma insuficiente para atingir seu ideal, resultando na não obtenção de alimentos, afinal quem recebe não pode esperar. E ao alimentante ao estar recolhido em cela, impedido de conseguir meios para atingir o objetivo de suas obrigações, surge a problemática de ao privar o devedor de sua liberdade para coagi lo, o alimentado não receberá os devidos benefícios que garantem a dignidade sua vida. Assim, questiona-se se a prisão civil do devedor de alimentos cumpre satisfatoriamente com sua função social específica, com vistas à observância da eficiência da prisão do prestador de alimentos inadimplente no que diz respeito ao cumprimento da obrigação alimentar. A problemática envolvida ao assunto evidencia que mesmo a privação de liberdade no inadimplemento não é capaz de assegurar de forma adequada e eficaz que a obrigação seja cumprida pelo inadimplente alimentar, sendo assim tal meio insuficiente ao seu propósito, que gera insegurança para o alimentando que necessita da prestação alimentar sem poder aguardar, e o alimentante que pode ficar recolhido a cela tem dificultado a possibilidade de que se cumpraque façam, de fato, pais e mães capacitados, diante desse mercado de trabalho competitivo e cada vez mais seletivo. Numa perspectiva que garentem a renda das famílias, podendo assim, cumprir seus papéis na vida, no desenvolvimento basicamente saudável, e de todas as necessidades básicas de seus filhos.o esperado, tem-se então o devedor privado de sua liberdade, do outro o alimentante sem a prestação devida que garante sua vida digna. A metodologia desenvolvida baseia-se no levantamento de dados de diversas fontes: livros, revistas jurídicas, artigos, leis e até jurisprudências que abordam e refletem o assunto. Dessa maneira, o trabalho é construído por meio de pesquisa documental, revelando o tema discutido sob a perspectiva de diversos autores. No primeiro capítulo discute a evolução histórica do conceito de família, estruturando toda a conversa subsequente sobre obrigações alimentares. Este capítulo explora o poder familiar, a evolução das leis hierárquicas dentro da família, o surgimento de opções para os casais deixarem de coexistir e o desaparecimento de leis que perderam o seu significado à medida que a sociedade se desenvolveu. No segundo capítulo discorre de casos específicos que ocorrem no cotidiano de nosso país, bem como a realidade da convivência do provedor, do alimentado e da obrigação de alimentar, com dados importantes para estabelecer uma visão sobre o tema. A metodologia desenvolvida realizou-se a partir de investigações de dados em diversas fontes: livros, revistas jurídicas, artigos, leis e, até mesmo, jurisprudências que abordem e reflitam a temática. Desta forma, o trabalho foi construído utilizando pesquisas bibliográficas para expor o tema abordado sob a visão de vários autores. O primeiro capítulo discorre sobre a evolução histórica do conceito de família, estruturando todo o diálogo posterior sobre a obrigação de alimentar. Neste capítulo há a abordagem sobre o poder familiar, a evolução de leis sobre a hierarquia dentro de uma família, o surgimento da opção de não mais convivência entre o casal e sobre a extinção de leis que perderam o sentido com o desenvolvimento da sociedade. O segundo capítulo aborda casos específicos de nosso país, como ocorre no dia a dia e na realidade a convivência do alimentante, alimentado e a obrigação de alimentar, há dados importantes para a construção de uma opinião sobre o assunto. No terceiro capítulo abordaremos um quesito importante. O Pacto de São José da Costa rica, que permite a prisão do alimentante inadimplente quando suas obrigações alimentares não forem cumpridas, sendo a única maneira, na atualidade, em que existe a privação de liberdade no meio Civil. No quarto tópico analisa o impacto que a pandemia de Covid 19 quanto a prisão do devedor alimentante, como foi a lide diante desta situação e de que formas o alimentado foi prejudicado neste ambiente. No terceiro capítulo observamos um elemento importante que foi o Pacto de São José da Costa rica, que admite a prisão do alimentante no cenário do não pagamento da pensão alimentícia, sendo a única forma, nos dias de hoje, em que há a privação de liberdade no meio Civil. Já no quarto tópico abordamos a influência que a pandemia de Covid 19 teve em relação a prisão do alimentante quando inadimplente, como foi a lide com esta situação e como o alimentado foi afetado neste meio. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS NO BRASIL Primeiramente, é necessário refletir sobre as leis existentes em seus conteúdos e as transformações que andam de acordo com as mudanças obtidas ao londo do tempo da sociedade sobre o cumprimento da obrigação da prestação de alimentos em nosso país. No Código Civil de 1916, um dos maiores exemplos que fora citado, seja o histórico da prestação de alimentos, seguindo primeiramente uma que primeiro seguiu uma linha totalmente baseada na autoridade paternalista, onde os filhos gerados fora do matrimônio, considerados filhos ilegítimos, deveriam ser soltos à própria deriva, não podendo assim pleitear alimentos. Permanecendo no Código Civil de 1916, se tratando de casamento, costuma inserir, no ordenamento jurídico brasileiro, o dever da pensão alimentícia, permanecendo irrevogável, onde se extingue em caso de morte ou dissolução, cabendo assim à mulher que ao fugir de casa ou a qualquer situação onde a sociedade daquela época a condenesse em casos relacionados à liberdade sexual, independente da falta de condições para sua sobevivência, cabendo a extinção da obrigação de sustento. Através do desenvolvimento da sociedade no decorrer do tempo, houve a necessidade de romper as regras recolocando as mulheres, que por muitas vezes desempenham a função de chefe de família, passando a existir mudanças nas leis atingindo as relações familiares, tais como os direitos e obrigações de cada integrande da da família. O “novo” Código Civil de 2002, anexado à Constituição de 1988, cria um conjunto de princípios humanitários que regulam os direitos individuais, como o direito à dignidade, e definem o direito à vida e à integridade física. a importância última da “honra” proporciona um princípio de solidariedade, assegurando o apoio a uma pessoa com determinadas responsabilidades parentais, que não pode viver sozinha. Com a evolução da sociedade e a busca pela quebra de tabus e reposicionamento das mulheres, muitas vezes tomando o lugar de chefe de família, trouxe a mudança nas leis impactando as relações familiares e os direitos e deveres de cada membro da família. O “novo” Código Civil de 2002, atrelou-se com a Constituição de 1988, construindo um conjunto de normas mais humanas, que legislavam em cima dos direitos de cada indivíduo como por exemplo o direito dignidade da pessoa humana, implicando no direito à vida e a integridade física, substituindo a importância excessiva da “honra” para trazer em seu lugar o princípio da solidariedade, garantindo o suporte a alguém de determinado vínculo parental, que com suas próprias forças não consegue sobreviver Primeiramente, é necessário retratar sobre as leis existentes em seus conteúdos e as transformações que andam de tratado com as mudanças obtidas ao londo do época da associação sobre o saudação da trabalho da quota de alimentos em nosso país. Um dos melhores exemplos é a tradição da quota de alimentos, mencionada no Código Civil de 1916, que original seguiu uma baraço extraordinariamente paternalista, quando foi resoluto desistir os vergôntea em fora de empresa. para os seus fins, por serem ilegais, não podem chamar alimentos. Ainda no Código Civil de 1916, que voz em casamento, costuma incluir, em nosso distribuição jurídico, a trabalho de dotação alimentícia, que permanece irrevogável, só deixada de andar em aventura de ruína ou dissolução, cabendo à amante “Portanto , ao desertar de empresa ou a qualquer movimento condenada pela associação da tempo relacionada à opção sexual, extinguiu-se a trabalho de sustento, independentemente de a dona não ter mais meios de ficar ou não . Com o ampliação da associação e a imprescindibilidade de romper as regras e reposicionar as mulheres, que muitas vezes ocupam o função de comandante de família, surgem mudanças nas leis que afetam as trato familiares, com saúde quão os direitos e obrigações de cada membro da família. O “novo” Código Civil de 2002, aposto à Constituição de 1988, filhote um adjunto de elementos humanitários que regulam os direitos individuais, quão o reto à autoridade, e definem o reto à alma e à dignidade física. a valimento última da “honra” proporciona um início de solidariedade, assegurando o aplauso a uma criatura com determinadas responsabilidades parentais, que não pode suportar sozinha. Um dos maiores exemplos que seja o cronologia da quota de alimentos, que em fora apontado no Código Civil de 1916, pela primeira vez numa baraço respeitável extrema em que lugar, num absurdo, haveria sido resoluto que vergôntea em fora do casamento eram deixados à própria sorte, pois por não serem legítimos, não poderiam disputar alimentos. Ainda no Código Civil de 1916, trazendo registro ao casamento, em que lugar muitas vezes cabe, em nosso distribuição jurídico, a trabalho de alimentar, ele permanecia indissolúvel, deixando de andar levemente em aventura de ruína ou anulação, cabendo a amante a trabalho da “honestidade”, portanto em aventurade derrelição do lareira ou qualquer obra condenado pela associação da tempo, em relacionamento a opção sexual, extinguia-se a trabalho de alimentar, independente se a dona não tivesse modos possíveis de ficar. Com a evolução da associação e a alcance pela rebentação de tabus e reposicionamento das mulheres, muitas vezes tomando o altura de comandante de família, trouxe a diversificação nas leis impactando as trato familiares e os direitos e deveres de cada membro da família. O “novo” Código Civil de 2002, atrelou-se com a Constituição de 1988, construindo um adjunto de normas mais humanas, que legislavam em cima dos direitos de cada indiviso quão por escola o reto autoridade da criatura humana, implicando no reto à alma e a dignidade física, substituindo a valimento excessiva da “honra” para chamar em seu altura o início da solidariedade, garantindo o sustento a alguém de determinado nexo parental, que com suas próprias forças não consegue ficar 1.1 O QUE É O PODER FAMILIAR SEGUNDO A LEGISLAÇÃO? O Poder Familiar, é a relação de direitos e deveres existentes na convivência entre pais e filhos. Onde busca a harmonia do lar e a família, equilibrando e zelando por um ambiente ajustado. Ao executar o cumprimento dos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana como aos princípios do Estatuto da Criança e Adolescente de proteção integral e do melhor interesse para a criança e adolescente. Previsto a igualdade entre as pessoas em nossa sociedade, validando para ambos os pais o poder familiar, buscando sempre a proteção da criança ou adolescente. Conforme Venosa O pátrio poder, poder familiar ou pátrio dever, nesse sentido, tem em vista primordialmente a proteção dos filhos menores. A convivência de todos os membros do grupo familiar deve ser lastreada não em supremacia, mas em diálogo, compreensão e entendimento. 3 O poder familiar tem como característica, primeiramente de um múnus público, ou encargo, conforme declinamos acima. De acordo com Rizardo Ao Estado interessa o seu bom desempenho, tanto que existem normas sobre o seu exercício, ou sobre a atuação do poder dos pais na pessoa dos filhos. No próprio caput do art. 227 da Carta Federal notam-se a discriminação de inúmeros direitos em favor da criança e do adolescente, os quais devem ser a toda evidência, observados no exercício do poder familiar: direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à cultura, à dignidade, entre outros. A incumbência é ressaltada ainda, no art. 229 da mesma Carta, mas genericamente. No Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), há várias normas de proteção, como a do art. 22, o que também fazia o Código Civil de 1916, no art. 384, e reedita o artigo 1634 do vigente código. [...] Se de um lado a autoridade do Estado não pode substituir a autoridade dos pais, de outro, em especial num país com tantas deficiências culturais como o Brasil, deve impor-se a autoridade do Poder Público em inúmeros setores, como, aliás, o faz a Lei 8069/90. 4 Tais regras irão definir os deveres e as obrigações dos pais para com seus filhos, incluindo as consequências nos casos de omissão, tais como devendo operar na criação da criança e na educação do adolescente, testificando os direitos dos filhos e assegurando pelo seu bem-estar, uma vez que seria inviável por si só. É impossível transferir o poder familiar a outra pessoa, pois o poder familiar não se pode renunciar, salvo caso de adoção como sendo a única excessão. 3 VENOSA, S. D. S. Direito Civil. 4ª. ed. São Paulo: Jurpidico Atlas, 2004, p.367. 4 RIZZARDO, A. Direito de Família. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.602. Para mais, segundo Venosa, o poder familiar é indisponível. “Decorrente da paternidade natural ou legal, não pode ser transferido por iniciativa dos titulares, para terceiros.” 5 De acordo citado acima, os pais ao consentirem a adoção estão renuciando e não transferindo o poder familiar. Sendo assim, os pais apenas por livre vontade não poderão renunciar ao poder familiar, considerando essa relação entre pais e filhos um elo. Portanto, o poder familiar é indivisível e imprescritível, não se extinguirá as incumbências dos pais quando separados , independente que por alguma circunstância não possa ser praticado, salvo das hipóteses legais. Ao que se dispõe sobre a titularidade do poder familiar, diz o artigo 226, § 5º da Constituição Federal: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher” 6, então o poder familiar pode ser exercido em igualdade de condições pelos pais. Ainda, o artigo 21 da Lei 8069/90 declara: O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. 7 Confirmado pelo Código Civil, em seu artigo 1631: Art. 1631- Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro exercerá com exclusividade. Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurada a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo. 8 Civil. A extinção, a suspensão e a perda do poder familiar que são reguladas pelo Código Dando-se a extinção quando, independentemente da vontade dos pais, a lei expressamente define no artigo 1635 do CC. 5 VENOSA, 2004, p. 723 6 BRASIL, 1988 7 COLLOR, F. et al. Lei 8069/90. Governo, 1990. Disponivel em: . Acesso em: 21 maio 2022. 8 BRASIL. Código Civil. 3ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. Art. 1635 - Extinguir o poder familiar: I – pela morte dos pais ou do filho. II – pela emancipação, nos termos do artigo 5º, § único do Código Civil. III – pela maioridade. IV – pela adoção. V – por decisão judicial, na forma do artigo 1638, quando da perda familiar quando o pai ou mãe castigam imoderadamente o filho ou o coloca em situação de abandono ou o expõe à situação de risco e de imoralidade. 9 De acordo com o artigo 1637 do Código Civil determina que poderá se suspender o poder familiar quando se verificado a falta aos deveres e o abuso de autoridade cometido pelos pais, através de negligência, incapacidade, impossibilidade de seu exercício, omissão habitual no cumprimento, ou quando, existir a dilapidação dos bens dos filhos ou condenação pós-sentença irrecorrível, praticado crime com pena de prisão superior a dois anos. Quando esta é cumprida, restaura-se o poder familiar. Máxime será motivo de suspensão quando o filho é deixado em estado habitual de vadiagem, mendicidade, libertinagem, criminalidade, ou tendo os pais colaborando para tal situação. Mesmo quando eles não se mostrarem capazes de oferecer uma vida de razoável dignidade humana aos filhos; quando se mostrarem também incapazes de proporcionarem um lar ou moradia, a alimentação sadia, ou não envidarem esforços para mantê-los distantes das más companhias, da desocupação constante e diária, e nem se preocuparem em oportuniza-lhes a matrícula e freqüência em estabelecimento de ensino. O Estatuto da Criança e do Adolescente, ao determinar certas obrigações aos pais, automaticamente abre caminho para a suspensão do poder familiar se desatendidas as mesmas. Assim, os encargos mais primários e singelos, exemplificados no art. 22: Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda, e educação dos filhos menores, cabendo-lhes, ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. 10 O Estatuto da Criança e do Adolescente também prevê quando existir a falta de possibilidade material, ela não será cabível a suspensão ou perda do poder familiar. Artigo 23: “A falta ou carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão do pátrio poder.” 11 1.2 EVOLUÇÃO DO PODER FAMILIAR Sofremos grande influência romana em nosso país, dasOrdenações do Reino adotadas em 1823 até o Código Civil de 1916. Inicialmente o pátrio poder era apenas direcionado ao pai, de forma patriarcal, posteriormente em 1962 havendo mudanças com o surgimento a lei 4.121 que veio modificar o entendimento, disponibilizando favorável à mãe a oportunidade de participação como contribuidora na criação de sua prole. Seguindo a redação do art. 380 após a vigência da supracitada lei: Art. 380. Durante o casamento compete o pátrio poder aos pais, exercendo- o o marido com a colaboração da mulher. Na falta ou impedimento de um dos progenitores, passará o outro a exercê-lo com exclusividade. Parágrafo único. Divergindo os progenitores quanto ao exercício do pátrio poder, prevalecerá a decisão do pai, ressalvado à mãe o direito de recorrer ao juiz, para solução da divergência. 12 Silvo de Salvo Venosa, ressalva que: Na redação originária do Código Civil, cabia ao marido, como chefe da sociedade conjugal, exercer o pátrio poder sobre os filhos menores e somente em sua falta ou impedimento a incumbência era deferida à mulher, nos casos em que ela passava a exercer a chefia da sociedade conjugal. 13 Diversas leis foram surgindo posteriormente ao Código Civil do 1916, exigindo por mudança de algumas normas, e trazendo requinte à algumas outras, sendo criado o Código Civil de 2002, influenciado pela Constituição Federal de 1988. As principais inovações foram: 1) a família não mais advém somente do casamento; 2) os homens e as mulheres são iguais em direitos e deveres, inclusive no que diz respeito à sociedade conjugal; 3) equiparação dos filhos, legítimos ou não, biológicos ou não. O próprio pensamento de família foi dado tratamento abrangente e igualitário. Nesse mesmo sentido houve então alterações no conceito de família. Na visão de Maria Berenice Dias: 12 GOULART, J.; ROCHA, F. B. D.; OLIVEIRA NETO, C. D. Lei Nº 4.121. Planalto, 1962. Disponivel em: . Acesso em: 21 maio 2022. 13 VENOSA, 2004, p. 288 [...] outorgou a ambos os genitores o poder familiar com relação aos filhos. O ECA acompanhou a evolução das relações familiares, mudou substancialmente o instituto. Deixou de ter um sentido de dominação para se tornar sinônimo de proteção, com mais características de deveres e obrigações dos pais para com os filhos do que de direitos em relação a eles.14 Posteriormente se criou o Estatuto da Criança e Adolescente, buscando onde faça se valer os direitos e o zelo pela proteção dos protagonistas das leis presente em seu interior. Destacando o assunto do Pátrio Poder no art. 21 do mesmo: O pátrio poder deve ser exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma que dispuser a legislação civil, assegurando a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução de divergência. 15 Neste meio tempo houve mudança, não sendo mais chamado de Pátrio Poder e sim de poder familiar, prevalecendo e garantindo a igualdade entre os homens e as mulheres na Constituição vigente. O pátrio poder passou a ser definido como poder familiar, o que vigora até os dias de hoje. Essa mudança ocorreu para igualar os pais como detentores de direitos sobre o filho. 16 Na Constituição Federal de 1988, precisamente em seu artigo 5° da Constituição Federal, inciso I, descreve que ‘‘homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações’’. Assim, não era mais possível estabelecer diferenças entre homens e mulheres, pois a própria constituição entrou em concordância com a alteração. 17. 14 DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 4ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 377. 15 BRASIL, 1990 16 VENOSA, S. D. S. Poder Familiar e Tutela: à luz do novo Código Civil e do Estatuto da Criança e do Adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2005, p. 353. 17 LEVY, F. R. L. Guarda de Filhos: Os Conflitos no Exercício do Poder Familiar. São Paulo: Atlas, 2008, p. 125. 2 A PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS NO BRASIL Analisando as lições recebidas, primeiramento iremos observar o conceito de “alimentos”. O doutrinador Yussef Said Cahali vem trazer a definição de alimentos da seguinte forma: “A palavra alimentos vem a significar tudo o que necessário para satisfazer aos reclamos da vida; são as prestações com as quais podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não pode prove-las por si; mais amplamente, é a contribuição periódica assegurada a alguém, por um título de direito, para exigi-la de outrem, como necessário à sua manutenção.” 18 No mesmo sentido, Maria Berenice Dias, citando Paulo Lôbo, diz que: “Os alimentos não são devidos somente para atender as necessidades básicas de sobrevivência. Como lembra Paulo Lôbo, alimentos tem significado de valores, bens ou serviços destinados as necessidades existenciais de pessoas, em virtude de relações de parentesco, do dever de assistência ou de amparo.” 19 Podemos relatar assim que depois de anos, e uma grande transformação histórica, foi estabelecido que “alimentos”, nos termos jurídicos se relacionam as necessidades básicas dos alimentados, não se limitam apenas para a sobrevivência, também se tratando ao do bem estar, possívelmente evidenciaando que o Instituto em evidência pretende garantir uma vida digna, englobando o lazer, a educação, vetimentas e tudo considerado necessário para suprir as necessidades daquele que se encontra impossibilitado ou impedido de executá- lo através da sua própria força de trabalho, não se limitando ao stricto sensu da palavra. Tratando da natureza jurídica dos alimentos, há uma discordância entre os e estudiosos e os doutrinadores. Enquanto uma parte defende que os alimentos têm a finalidade extrapatrimonial pessoal, com objetivo de suprir as necessidades do alimentado, não hevendo dele nenhum interesse financeiro. Outra corrente contrária vem defender que os alimentos tem a destinação patrimonial, sob a justificativa tratando-se de uma prestação regular paga na moeda corrente. 18 CAHALI, Y. S. Dos Alimentos. 6ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 15. 19 DIAS, 2017, p. 23 Segundo Orlando Gomes e Maria Helena Diniz os alimentos dispõe de natureza mista em razão do seu caráter especial, em virtude de que a prestação alimentar poderá ser efetuada por meio de um pagamento em dinheiro ou em forma de provimentos ao alimentando. Maria Helena Diniz doutrina que: “Bastante controvertida é a questão da natureza jurídica do instituto dos alimentos. Há os que consideram como um direito pessoal extrapatrimonial, como o fazem, Ruggiero, Cicu e Giorgio Bo, em virtude de seu fundamento ético-social e do fato de que o alimentado não tem nenhum interesse econômico, visto que a verba recebida não aumenta seu patrimônio, nem serve de garantia a seus credores, apresentando-se, então como uma das manifestações do direito à vida, que é personalíssimo.” 20 Acrescenta: “(…) Nele vislumbram um direito, com caráter especial, com conteúdo patrimonial e finalidade pessoal, conexa a um interesse superior familiar, apresentando-se como uma relação patrimonial de crédito-débito, uma vez que consiste no pagamento periódico de soma de dinheiro ou no fornecimento de víveres, remédios e roupas, feito pelo alimentante ao alimentando, havendo, portanto, um credor, que pode exigir de determinado devedor uma prestação econômica.” 21 O jurista Carlos Roberto Gonçalves defende: “prepondera o entendimento daqueles que, como Orlando Gomes, atribuem- lhe natureza mista, qualificando-o como um direito de conteúdo patrimonial e finalidade pessoal.” 22 Yussef Cahali entende que: “A obrigação alimentícia não se funda exclusivamente sobre um interesse egoístico-patrimonial próprio do alimentando, mas sobre um interesse de natureza superior que se poderia qualificar como um interesse público familiar.” 23 20 DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 27ª. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5, 2012, p. 632. 21 DINIZ, 2012,p. 632 22 GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família de acordo com a Lei n. 12.874/2013. 11ª. ed. São Paulo: Saraiva, v. 6, 2014, p. 337. 23 CAHALI, 2009, p. 33 2.1 CONCEITO DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR Entendemos que os alimentos terão como o objetivo diminuir a situação de miséria humana, tendo como a natureza mista a mais ideal e competente, sendo o ser humano um ser social, tendo necessidades além do dinheiro, abrangendo convívio, lazer e educação. Os alimentos é a base considera para que o alimentado enquanto ser dependente possa garantir sua dignidade. Dipondo no Código Civil de 2002, em seu artigo 1.694, prevendo em relação ao cônjuge ou companheiro o direito potestativo a alimentos, considerado um direito recíproco, sendo que, quem cobra também poderá igualmente ser ser cobrado. No seu parágrafo primeiro, cita o binômio relacionado a possibilidade-necessidade, destinado como base para quantificar as prestações alimentícias, fixada de forma precisa, para que seja estipulada nessa todas as necessidades do alimentado, pois tal resultado indicará o valor máximo da pensão. A prestação será fixada de acordo com as necessidades a serem supridas, independente do alimentante possuir rendimentos superiores às necessidades do alimentado, evitando assim o enriquecimento ilícito; limitando a expectativa do reclamante dos alimentos referente ao reclamado, independente que a necessidade do alimentado seja considerada grande, sendo ela fixada baseada na capacidade do devedor, sendo assim, se tratando de uma capacidade econômica pequena, o valor atribuído a pensão será proporcional a suas condições. Devemos considerar a capacidade financeira do alimentante com a procorcionalidade entre a necessidade do alimentado para se fixar um teto de alimentos. Já em seu segundo parágrafo do mesmo artigo, ao cônjuge considerado culpado diante de uma separação judicial teria o direito de exigir a pensão alimentícia uma vez que for necessária para sua sobrevivência, portanto existe a divergência diante da previsão legal. Se tornando uma visão ultrapassada, por permitir um inocente ser condenado a pagar para um culpado. Uma vez que não existe fundamentação legal sobre a culpa quando se trata de uma separação judicial. Súmula 309 do STJ – "O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo." 24 Previsto no Código Civil em seu artigo 1.695, define que: “Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.” 25 Segundo o professor Dalmo de Abreu Dallari leciona que: “O respeito à vida de uma pessoa não significa apenas não matar essa pessoa com violência, mas também dar a ela a garantia de que todas as suas necessidades fundamentais serão atendidas. Toda pessoa tem necessidades materiais, as necessidades do corpo, que, se não forem plenamente atendidas, levarão à morte ou a uma vida incompleta, que não se realiza totalmente e que já é o começo de morte.” 26 Oque podemos definir afinal sobre a dimensão de dignidade humana? O professor Dalmo Dallari nos explica sobre esse questionamento: “Assim, também, as pessoas têm necessidades espirituais, como a necessidade de amor, e beleza, de liberdade, de gozar do respeito dos semelhantes, de ter suas crenças, de sonhar, de ter esperança. Todos os seres humanos têm direito de exigir que respeitem sua vida. E só existe respeito quando a vida, além de ser mantida, pode ser vivida com dignidade”. 27 Ao abordar a legitimidade com os sujeitos da obrigação alimentar, a legislação prevê que a obrigação alimentar deriva da relação de parentesco, não se limitando apenas entre pai s e filho, descrito pelo artigo 1.696 do Código Civil: 24 STJ. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça. STJ.jus. Disponivel em: . Acesso em: 22 maio 2022. 25 BRASIL, 2003 26 DALLARI, D. D. A. Direitos Humanos e Cidadania. 2ª. ed. São Paulo: Moderna, 2004, p. 36. 27 DALLARI, 2004, p. 36 “Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.” 28 Diante deste artigo a obrigação de maneira recíproca de disponibilizar a prestação de alimentos se definirá aos parentes em linha reta; podendo filho pleitear alimentos ao pai, igualmente o pai pode reclamar alimentos ao filho, outro exemplo, a avó ao neto, o neto a avó. Portanto, o grau de parentesco será analisado para que seja um parente em linha reta próximo, quando não houver outro mais próximo, somente assim será permitido, sendo levado em consideração a falta da existência desse parente próximo, ou pela incapacidade financeira do parente que era o mais próximo em linha reta. Também será abordado a a respeito da legitimidade para propositura de demanda alimentícia no artigo 1.694 do Código Civil: “Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.” 29 Diante da explicação dada pelo doutrinador Yussef Cahali: “A obrigação de prestar alimentos fundada no jus sanguini repousa sobre o vínculo de solidariedade humana que une os membros do agrupamento familiar e sobre a comunidade de interesse, impondo aos que pertencem ao mesmo grupo o dever recíproco de socorro.” 30 Somente serão sujeitos a serem demandados ou a demandar uma ação alimentícia os parentes consanguíneos.. O jurista Washington Monteiro de Barros leciona a esse respeito: “Acentua-se, desde logo, cunho tipicamente familiar do instituto que se funda, exclusivamente, no vínculo conjugal, nas relações de união estável e no vínculo de parentesco, neste último incluído o jus sanguinis e aquele decorrente da adoção. Quando decorrentes de vínculo de parentesco, só os parentes consanguíneos, isto é, as pessoas cujo elo decorre da adoção devem alimentos. A obrigação não tem limites na linha reta e é limitada ao 2º grau de parentesco na linha colateral (Cód. Civil, arts. .1.696 e 1.697). Não 28 BRASIL, 2003 29 BRASIL, 2003 30 CAHALI, 2009, p. 466 existe semelhante obrigação entre afins, por mais próximo que seja o grau de afinidade.” 31 A doutrina irá discriminar o dever de sustento a obrigação alimentar, sendo o primeiro vinculado ao poder familiar e devido aos filhos menores de idade, no caso do direito de assistência familiar e ao princípio da solidariedade a obrigação alimentar que estará vinculada. Distingue da seguinte forma Maria Berenice Dias: “(…) o dever alimentar em razão do poder familiar dos pais para com os filhos incapazes dispõe da presunção absoluta de necessidade, o que dispensa provas. Já a obrigação de prestar alimentos, em face dos vínculos parentais e de solidariedade, goza de presunção relativa, havendo a necessidade de o credor comprovar sua necessidade e a possibilidade do réu.” 32 Advém do poder familiar o dever do sustento, que, nas lições de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona 33, será um conjunto de direitos e obrigações determinados aos pais em virtude e diante dos limites da autoridade parental que desempenham em face dos seus filhos, enquanto forem menores e incapazes. Ao se tratar do sustento resultante do poder familiar, Yussef Said Cahali diz: “[…] não se altera diante da precariedade da condição econômica do genitor. O pai, ainda que pobre, não se isenta por esse motivo, da obrigação de prestar alimentos ao filho menor, do pouco que ganhar, alguma coisa deverá dar ao filho, a alegada impossibilidade material não pode constituir motivo de isenção do dever dos pais de contribuir para a manutenção, eventualmente,a prestação ficaria descumprida, pois ao impossível ninguém está obrigado, a obrigação, no entanto, sempre subsistirá.” 34 Ao deixar de existir a menoridade, poderá ser pleiteada a obrigação alimentar baseando no artigo 1.694 do Código Civil. Outro aspecto que deve ser concedido a prestação de alimentos é a realidade de não serem compensáveis, sendo tal atributo assegurado e previsto no artigo 1.707, do Código Civil de 2002: 31 MONTEIRO, W. D. B.; SILVA, R. B. T. D. Curso de Direito Civil, 2: Direito de Família. 42ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 522. 32 DIAS, 2015, p. 607 33 GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo Curso de Direito Civil: Direito de Família. 4ª. ed. São Paulo: Saraiva, v. 6, 2014, p. 596. 34 CAHALI, 2009, p. 526 “Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.” 35 Não sendo assim, permitindo ao devedor cumprir apenas o que se foi acordado referente a sua obrigação alimentar, não havendo modificação ou compensação diante do dever em relação a prestação de alimentos, pois dada sua necessidade natural de manter o mínimo para a subsistência do alimentado. O caráter personalíssimo comporta também o direito a alimentos, destinado a a quem única e de modo exclusico não poderá por si próprio prover seu sustento e necessidade, garantindo o direto fundamental de proteção da vida, que não pode ser transferido. Os alimentos podem também serem transmitidos para os herdeiros do devedor alimentar, sendo necessário para fazer essa transmissão a observação do patrimônio deixado de herança, se possuí bens ou se é suficiente para assumir com a prestação alimentícia, nãosendo possível a responsabilização dos herdeiros pessoalmente, consoante a previsão legal do artigo 1.700, do Código Civil de 2002: “Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694” 36 Cita Maria Berenice Dias (2016): “Como em regra, o credor dos alimentos é herdeiro, ao receber seu quinhão hereditário passa a prover a sua própria subsistência. Se para isso não é suficiente a herança percebida, surge o direito de pleitear alimentos frente aos parentes. Mas é obrigação de outra origem, tendo por fundamento a solidariedade familiar” 37(DIAS, 2016, p. 562) Portanto, convém indicar que é divisível a prestação alimentícia, sendo diversas pessoas consideradas aptas para a responsabilidade por prestar alimentos, devendo existir concorrência que respeita a forma proporcional os cabidos recursos de cada um desses sujeitos diante dessa obrigação alimentar. 35 CARDOSO, F. H.; FERREIRA FILHO, A. N. Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Planalto, 2002. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022. 36 CARDOSO e FERREIRA FILHO, 2002 37 DIAS, M. B. Manual de Direito das Famílias. 11ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. O Código Civil prevê que: Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide 38 Um exemplo do dispositivo legal, podendo mensionar que um reclamante alimentar (filho), ao atestar a condição social de seu genitor (pai/ mãe), quando identificado que o alimentante indicado não possuí o cenário necessário para arcar totalmente com a prestação de alimentos, esitirá a possibilidade do reclamante em indicar seus avós, tendo eles a responsabilidade subsidiária em relação a pensão alimentícia. Porém, os avós somente serão indicados para assumir tal prestação quando os genitores se encontrarem incapacitados de realizar tal encargo, a responsabilidade desses avós diante dessa situação será em caráter exclusivo, complementar, sucessivo e não solidário. 38 CARDOSO e FERREIRA FILHO, 2002 1 PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA 1.1 O QUE É O PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA A Convenção Americana de Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de São José da Costa Rica é um tratado celebrado pelos países integrados na Organização de Estados Americanos (OEA), foi adotada e aberta para assinatura no decorrer da Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, realizada em San José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969. Entrou em vigor em 18 de julho de 1978, após a ratificação do décimo primeiro instrumento, iniciado por Granada. O objetivo da convenção é estabelecer os direitos fundamentais da pessoa humana, como o direito à vida, à liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à educação, entre outros direitos semelhantes. O preâmbulo do pacto de São José da Costa Rica disserta sobre esses princípios: “Os Estados americanos signatários da presente Convenção, Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direitos essenciais do homem; Reconhecendo que os direitos essenciais do homem não derivam do fato de ser ele nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos; Considerando que esses princípios foram consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem e que foram reafirmados e desenvolvidos em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbito mundial como regional; Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, só pode ser realizado o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas condições que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e Considerando que a Terceira Conferência Interamericana Extraordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a incorporação à própria Carta da Organização de normas mais amplas sobre direitos econômicos, sociais e educacionais e resolveu que uma convenção interamericana sobre direitos humanos determinasse a estrutura, competência e processo dos órgãos encarregados dessa matéria” 39 39 OEA. Convenção Americana sobre Direitos Humanos. CIDH, 1969. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022. O propósito para a constituição deste tratado internacional é a procura da consolidação de um regime de liberdade pessoal e de justiça social entre os países americanos, baseado no respeito aos direitos humanos essenciais, independentemente do país onde a pessoa nasceu ou onde viva. Um dos legados mais importantes do Pacto de São José é cetamente a criação do sistema Comissão Interamericana de Direitos Humanos/Corte Interamericana de Direitos Humanos, sistema com a finalidade de avaliar casos de violação dos direitos humanos, que ocorrem nos países membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), desde que reconheçam a competência do mesmo. Tendo o documento um total de 81 artigos, contendo as disposições transitórias, com objetivo de determinar os direitos fundamentais da pessoa humana. Entre esses direitos estão o direito à vida, à liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à educação, entre outros similares. A escravidão e a servidão humana são proibidas pela convenção, que também aborda as garantias judiciais, a liberdade de consciência e religião, o pensamento e a expressão, além da liberdade de associação e a proteção à família. No Brasil, o documento só foi ratificado em 25 de setembro de1992, passando a ser válido internamente através do Decreto 678 de 6 de novembro de 1992. Através da promulgação da Emenda Constitucional número 45 de 2004 (se tratando da reforma do Judiciário), os tratados relacionados a questão de direitos humanos passaram a ter vigência imediata e foram nivelados às normas constitucionais. Eles devem ser aprovados por uma maioria de três quintos dos votos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, em dois turnos em cada casa. 1.2 COMO O PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA E A PRISÃO NO CASO DO DEVEDOR DE ALIMENTOS CONVIVEM NO MESMO ORDENAMENTO JURÍDICO O Pacto de São José da Costa Rica participa de uma sequência de tratados e acordos internacionais establecidos para instituir e assegurar os direitos humanos em todo o mundo ocidental. Desde o fim da segunda guerra mundial o ocidente tem se esforçado em amplificar a participação da comunidade internacional na formulação e consolidação dos direitos mínimos para todos, com intuito de impossibilitar ou atenuar que surjam ou se robustem-se de horrores como os executados pelo nazifascismo. Já em 1988, também conhecido como Protocolo de San Salvador o Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matérias de Direitos Econômicos Sociais e Culturais, foi assinado, que estabelece em seu artigo 1º a obrigação do Estado-parte de adquirir medidas concretas que concedam o cumprimento efetivo dos direitos sociais, econômicos e culturais, levando em consideração as normas do direito interno, e a realidade de cada País, dado que a Convenção não regula esses direitos, mas os indicam aos Estados-parte, logo tais direitos estão presentes na Carta da Organização dos Estados Americanos. 40 Evidencia-se que dentre os mais importantes direitos e liberdades determinadas na Convenção em questão, em seu artigo 7º está previsto o direito à liberdade pessoal, acentauando o item 7, que diz “Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.” 41 Desenvolve Gonçalves: Para garantir o fiel cumprimento da obrigação alimentar estabelece a lei diversas providências, dentre elas a prisão do alimentante inadimplente (CF, art. 5º, LXVII; CPC, art. 733, caput e §§1º, 2º e 3º). Trata-se de uma das poucas exceções ao princípio segundo o qual não há prisão por dívidas, justificada pelo fato de o adimplemento da obrigação de alimentos atender não só ao interesse individual, mas também ao interesse público, tendo em vista a preservação da vida do necessitado, protegido pela Constituição Federal, que garante a sua inviolabilidade (art. 5º, caput). 42 Na mesmo assunto, Porto salienta: Ao tratarmos do pedido de prisão do devedor de alimentos, é necessário sabermos, desde logo, que este deve ser dirigido apenas contra o devedor relapso, recalcitrante, avesso ao cumprimento de suas obrigações. Certamente é esta a mens legis estabelecida nos arts. 733 do CPC e 19 da Lei de Alimentos. Com isto estamos a afirmar que o pedido de prisão do devedor visa atingir aquele que podendo implementar sua obrigação não o faz, revelando-se ladino. Esta posição leva por suporte o fato de que a prisão do devedor de alimentos não é pena, mas meio coercitivo de execução; visa 40 VALENTIM, D. R.; MANDELLI JUNIOR, R. M. Convenção Americana de Direitos Humanos. Grupo de Trabalho de Direitos Humanos, Procuradoria Geral do Estado. Direitos humanos: construção da liberdade e igualdade. São Paulo: Centro de Estudos, 2000, p. 326. 41 OEA, 1969 42 GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 5ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 499. compelir o devedor ao pagamento da dívida alimentar e não simplesmente puni-lo, tanto que pagando o devedor a prisão será levantada. 43 Nessa concepção, pode-se inferir que a prisão civil por débitos alimentar será uma exceção ao princípio segundo de não haver prisão por dívidas, sendo regulamentada na Constituição Federal, no Código de Processo Civil, na Lei de Alimentos na Convenção Americana de Direito Humanos, de modo a garantir o cumprimento da obrigação alimentar e, assim, proteger a vida da pesso que necessita desses alimentos. Segundo Athanásio: “Prisão Civil se realiza no âmbito do Direito Privado, consumando-se em face da dívida impagável, fundada em norma jurídica de natureza civil. (...)”. 44 Para Cahali: “Decreta-se a prisão civil não como pena, não como fim de punir o executado pelo fato de não ter pagado a prestação alimentícia, mas sim com o fim, muito diverso, de coagi-lo a pagar”. Para Porto: “a prisão do devedor de alimentos não é pena, mas meio coercitivo de execução que visa compelir o devedor ao pagamento da dívida alimentícia e não simplesmente puni-lo, tanto que pagando o devedor a prisão será levantada”. 45 Segundo Yussef Said Cahali: “(...) a execução tem, na quase totalidade dos casos, caráter patrimonial; nem todos os processos civis têm conteúdo exclusivamente econômico, mas a coação possível por parte do Estado visa, quase sempre, direta ou indiretamente, a resultado econômico. Assim, a prisão civil é meio executivo de finalidade econômica; prende-se o executado não para puni-lo, como se criminoso fosse, mas para forçá-lo 43 PORTO, S. G. Doutrina e Prática dos Alimentos. 4ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 115-116. 44 ATHANÁSIO, E. E. G. A Prisão Civil por Dívida Alimentícia. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2008. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022, p. 48. 45 PORTO, 2011, p. 115-116 indiretamente a pagar, supondo-se que tenha meios de cumprir a obrigação e queira evitar sua prisão, ou readquirir sua liberdade.” 46 A prisão civil não é uma penalidade, e sim, um meio de coação usado para compelir o devedor de alimentos a cumprir sua obrigação, quando não o faz de maneira voluntária. Os tratados internacionais, ou seja, àqueles cujo não abordam os direitos humanos, possuem natureza de norma infraconstitucional, reconhecidas como lei ordinária federal, por força do artigo 102, III, b, e do artigo 105, III, a, ambos da Carta Magna, conforme leciona Souza 47. A Emenda Constitucional nº 45, promulgada em 30 de dezembro de 2004, além de alterações, inseriu no artigo 5º da Constituição Federal o parágrafo 3º, o qual estabelece que: “[o]s tratados e convenções internacionais de direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos os respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.” 48 No entanto, como já mencionado anteriormente, no próprio texto da Convenção há caligrafado a exceção do débito alimentar, em seu artigo 7°, item 7: Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados-partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas. 3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários. 4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra ela. 46 CAHALI, 2009 47 SOUZA, G. R. A prisão civil no ordenamento jurídico brasileiro. Naviaraí: Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, 2010. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022, p. 48. 48 BRASIL. Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004. Planalto, 2004. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022. 5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade,sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. 7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar. 49 49 OEA, 1969 1 A INFLUÊNCIA DO COVID 19 NA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS Em 2019 nos deparamos em uma pandemia em virtude de um grande número de pessoas infectadas pela COVID 19. Diante daquela situação a prisão por dívida alimentar fora flexibilizada e postergada, como pode ser visto na Recomendação n. 62/2020, artigo 6°: Art. 6° Recomendar aos magistrados com competência cível que considerem a colocação em prisão domiciliar das pessoas presas por dívida alimentícia, com vistas à redução dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de disseminação do vírus 50 Já havendo provimentos no sentido da Recomendação no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – TJDFT: “Os Desembargadores da 8ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios - TJDFT, por unanimidade, deram provimento a recurso para assegurar o uso de outras formas de tomada de bens do devedor de pensão alimentícia, uma vez que a prisão civil do inadimplente encontra-se suspensa durante a pandemia do novo coronavírus. Substituição de regime fechado para domiciliar – pandemia COVID 19 – observância dos direitos fundamentais” 51 Também decisões presentes em Acórdãos, assim como, citado abaixo: “1. A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LXVII, prevê a possibilidade de prisão civil "pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia". 2. O Conselho Nacional de Justiça - CNJ emitiu aos Tribunais e magistrados a Recomendação n. 62/2020, objetivando a adoção de medidas preventivas à propagação do Coronavírus (Covid-19) no sistema de justiça penal e socioeducativo, especificando em seu artigo 6º a recomendação de substituir o regime fechado, nos casos de prisão civil, para o de prisão domiciliar, com vistas à redução dos riscos epidemiológicos. 3. O Superior Tribunal de Justiça, em recente decisão, determinou que os presos por dívidas alimentares do Estado do Ceará passem para o regime domiciliar, destacando que, considerando o crescimento exponencial da pandemia em nosso país e no mundo, e com vistas a assegurar efetividade às recomendações do CNJ para conter a propagação da doença, concedo parcialmente a liminar para determinar o cumprimento das prisões civis por devedores de alimentos do estado do Ceará, excepcionalmente, em regime domiciliar. 4. Restando caracterizada a circunstância excepcional enfrentada pelo País e o mundo em decorrência da pandemia de coronavírus, verifica- se a necessidade de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos e da 50 TOFFOLI, D. Recomendação nº 62, de 17/03/2020. CNJ, 2020. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022. 51 TJDFT. Covid-19: Turma autoriza penhora de bens diante da impossibilidade de prisão de devedor de alimentos. TJDFT, 2020. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022. população em geral. 5. Ordem concedida, em caráter excepcional, apenas para substituir o regime de cumprimento da prisão civil (fechado) para o domiciliar.” Acórdão 1247669, 07042800620208070000, Relator: SANDOVAL OLIVEIRA, Segunda Turma Cível, data de julgamento: 6/5/2020, publicado no DJE: 18/5/2020. 52 1.1 PENHORA E PRISÃO DOMICILIAR O cenário do COVID 19 levantou um questionamento antigo com relação a possibilidade de outras maneiras para disciplinar o alimentante inadimplente, tendo como exemplo a prisão domiciliar e a penhora, diante da situação privativa da pandemia: “Por serem os alimentos indispensáveis à subsistência do alimentando, "possuindo indiscutível caráter imediato", o ministro entendeu que deve ser permitida, ao menos enquanto perdurar a suspensão da prisão civil no DF a adoção de atos de constrição no patrimônio do devedor antes de se concretizar a prisão civil, sem que haja a conversão do rito.” 53 As inúmeras formas de coerção são analisadas e discutidas, visto que existe uma tendência defendendo a ausência de eficácia da prisão civil, ponderando que uma vez que, o alimentante se encontrar encarcerado, não terá meios para alimentar. A prisão civil tem o objetivo de reforçar o cumprimento da obrigação resguardando o interesse e direito do alimentado que necessita do sustento, não se apresentando como medida penal, nem como ato de execução pessoal. Porém, quando o alimentante demonstra total incapacidade para pagamento do débito o ato coercitivo se torna punitivo, logo, ineficaz. Nesse caso, o alimentante/executado é levado à cárcere, tem sua dignidade agredida, não pode trabalhar (com risco de demissão, em razão da prisão), não consegue sequer tomar qualquer atitude para conseguir dinheiro e quitar a dívida. 54 52 TJDFT. Prisão civil do devedor de alimentos – pagamento da obrigação ou justificativa da impossibilidade. TJDFT, 2020. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022. 53 CONJUR. Vedação à prisão do devedor de alimentos autoriza penhora de bens sem mudança de rito. conjur, 2021. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022. 54 TRIPODE, F. R. A ineficácia da prisão civil e a punição do devedor de alimentos. migalhas, 2021. Disponivel em: . Acesso em: 05 jun. 2022. Com relação as prisões brasileiras que encontram-se em más condições e carecem de estruturas adequadas para fornecer para fornecer habitação adequada e dignas, necessitando de celas para que haja a devida separação entre presos considerados comuns dos presos de alto risco. Afianl, estar com outros prisioneiros coloca em risco pessoas “inocente”, onde apenas é considerado um devedor inadimplente, mesmo com o peso que se tem uma dívida por alimentos. Além disso, as prisões brasileiras não atingem o resultado de reeducar o condenado, dando a possibilidade de um devedor alimentício conviver em um ambiente considerado uma verdadeira escola do criminalidade, visto que infelizmente é a realidade da população carcerária em nosso país. Como entidade secundário, o Estado precisará buscar o equilíbrio entre quem deve alimentos e quem recebe, porém sem violar os direitos fundamentais e de personalidade. A prisão civil pode ser considera uma medida incompetente, levando em consideração que impede o devedor de trabalhar e, portanto, impossibilita o credor em obter os rendimentos. Logo, qual o propósito deste instituto? A dívida pode ser paga ou o devedor poderá ser preso? O maior objetivo não pode ser priorizar o interesse público sobressaindo o interesse particular em encontrar uma solução de acesso ao abastecimento dos alimentos. Segundo Pena Júnior afirma que:Fazer da prisão civil meio de coerção pessoal para o devedor de alimentos, equiparando-o a um criminoso qualquer, é de uma violência medonha. Acreditamos que os próprios alimentados, em sua maioria, filhos do devedor de alimentos, se não contaminados pela síndrome da alienação parental, em sendo consultados, não concordariam com esse tipo de punição aos seus pais. A dignidade e integridade deles devem ser asseguradas com o pagamento das prestações alimentícias e não com a prisão de seus genitores. Esta, com certeza, não estará em sintonia com o melhor interesse dos filhos. Somos contra a prisão civil do devedor de alimentos, principalmente por uma questão de respeito à dignidade dessas pessoas, porém ferrenhos defensores de providências imediatas e eficazes de combate à sonegação da prestação alimentícia. Se o devedor de alimentos é solvente, deve-se atacar seu patrimônio. Abalar sua condição econômico- financeira, seja pela expropriação de seus bens, da aplicação de multa diária, de anotações restritivas ao seu nome nos serviços de proteção ao crédito e nas instituições bancárias e por outras medidas cabíveis. Agora, tudo isso de maneira uniforme e urgente. Questões de alimentos devem ser resolvidas no máximo em setenta e duas horas, e esse é o grande desafio do sistema processual, já que a fome não pode esperar. 55 55 PENA JÚNIOR, M. C. Direito das pessoas e das família (doutrina e jurisprudência). São Paulo: Saraiva, 2008, p. 123. Ainda, se justifica elevar novamente a posição do Conselho Nacional de Justiça, dado o diminuição considerada dos casos na pandemia, assim como, o avanço da vacinação. Embora os números também demonstraram que muitos ainda não tinham recebido a dose de reforço, a subsistência alimentar de crianças e adolescentes continua sendo prioridade, diante disso o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou na 95ª Sessão do Plenário Virtual, devendo os magistrados retomam a decretar a prisão de devedores alimentades inadimplentes, principalmente aos que recuasam se vacinar, e consequentemente tardariam o pagamento de seus débitos de alimentos: “Consideramos a importância fundamental dos alimentos, o longo período de espera dos credores da verba alimentar – que são crianças e adolescentes -, o avanço da imunização nacional, a redução concreta dos perigos causados pela pandemia e o inegável fato de que o cumprimento da obrigação alimentícia só ocorre com o anúncio da expedição do mandado prisional”, argumentou o conselheiro Luiz Fernando Keppen, relator da norma. “Crianças e adolescentes continuam sofrendo com o recorrente inadimplemento, porquanto o direito à liberdade e saúde do devedor tem prevalecido sobre a subsistência e dignidade das crianças e adolescentes, muito embora sejam a parte vulnerável da relação”, justificou o relator. O CNJ, m março de 2020, orientava aos magistrados com competência civil a colocar em prisão domiciliar as pessoas condenadas a prisão civil por dívida alimentícia, evitando assim m aiores riscos de contaminação e propagação da Covid-19 no sistema prisional. Em junho do mesmo ano o Congresso Nacional publicou a Lei 14.010, sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no cenário da pandemia do coronavírus. Este documento prevê que até 30 de outubro de 2020, as cobranças cíveis de alimentos em atraso deveriam ser efetuadas exclusivamente no domicílio, sem prejuízo da capacitância de cumprimento das obrigações. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), constatou através dessa prática a inadimplência fora obtendo aumento e, posteriormente a vigência da Lei a Corte disponibilizou alternativas onde a prisão domiciliar não fosse o regime fechado”. 56 Esta recomendação do CNJ pelo Ato Normativo 0007574- 69.2021.2.00.0000, aponta aos magistrados dos Tribunais de Justiça dos estados e do Distrito Federal, que considerem o cenário vivido naquele momento, do local do contágio epidemiológico, o calendário de vacina do município onde reside o devedor de alimentos. Além disso, a real situação de contágio dentro do sistema carcerário local devem ser considerados junto da possibilidade desse devedor em recusar se vacinar como o intuito de adiar o pagamento das pensões vencidas, não se importando com as necessidades e vindo assim, a prejudicar o alimentando. No fim o texto da Recomendação reforçou: “A prisão domiciliar não configura medida eficaz apta a constranger o devedor de alimentos a quitar sua dívida e o inegável fato de que o cumprimento da obrigação alimentícia só ocorre com o anúncio da expedição do mandado prisional”. 57 56 ANDRADE, P. CNJ recomenda retomada de prisão de devedor de pensão alimentícia. CNJ, 2021. Disponivel em: . Acesso em: 03 jun. 2022. 57 ANDRADE, 2021 2 CONCLUSÃO O principal impedimento é quanto a aplicabilidade da justiça de maneira eficiente, procurando trazer ao mais vulnerável, no caso o alimentado o que realmente interessa para sua subsitência. Podemos afirmar que as necessidades do alimentando não cessam, mesmo em tempos de pandemia, podemos considerar que até sejam aumentadas, uma vez que, impedido de frequentar a escola, que muitas das vezes é considerada não apenas com função educadora, mas também como base de alimentação de muitos que se encontram em condisções desfavoráveis, as necessidades básicas foram grandemente agravadas diante esse cenário de pandemia. Por outro lado, o Poder Judiciário passou a não decretar a prisão civil, pois, os devedores alimentantes também se encontravam impedidos de trabalhar, entre outros problemas que foram surgindo, como demissão, redução salarial ou até o ingresso na informalidade. Dessa forma, houve uma orientação para que não se decretasse a prisão civil do devedor de alimentos, mesmo, vinculando a apresentação do comprovante de vacinas, porém, em medida excepcional, que se funda numa Recomendação (orientação). Após o atingimento relevante do número de vacinados e o arrefecimento da pandemia, o CNJ veio recomendar a decretação da prisão civil novamente, como medida de pagamento pela constrição dos alimentos em atrasados. Analisando o desenvolvimento social, o vínculo do Poder Familiar, a nova conjuntura familiar que vieram e vem surgindo diariamente, trazendo mudanças em nossa sociedade e também em nosso ordenamento jurídico, apesar da evolução, podemos ver que ainda há muito o que melhorar e progredir. O poder de adaptação é muito rápido, ficou explicito no período e no ambiente de pandemia, observando assim o por qual motivo essa agilidade não é aplicada no dia a dia, quando a fome não pode esperar três meses de uma prisão civil ou ainda um alimentante inadimplente, devendo o meio jurídico determinar maneiras mais eficientes na coerção ou aplicação da justiça por meios que garantem um resultado mais o objetivo. Esse comportamento fragiliza o convívio entre pais e filhos. A Prisão civil vem apenas intimidando, porém semser uma medida satisfatória, tendo em vista que a prisão, no ordenamento jurídico, a função de ressocializar um condenado perigoso, é fracassada, que dirá abrigar, dentro do cárcere, um membro de família. Portanto, busca-se soluções que sejam completamente eficaz, evitando “dupla rejeição da criança e do adolescente”; no primeiro caso, priorizando a criança e o aolescente que se encontra diante de famílias sem estruturas suficientes para garantir um sustento digno. Já no segundo caso pelo Estado, com meios insuficientes para alcançar a totalidade da sociedade, a fim de garantir a dignidade da pessoa humana na ausência da família, buscando substituir por formas mais eficazes e mais céleres para que tal problemática social seja sanada. Portanto, conclui-se que, existe uma grande necessidade em do investimento em políticas públicas abrangentes que possam amparar a todos, em especial, ao trabalhador, na medida que se promovam emprego e a renda, além, das políticas educacionais