Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DA 
ARQUITETURA E 
URBANISMO II
Autores: Angélica Linhares Buchmayer; Carina Mendes 
dos Santos Melo e Elis Monteiro dos Santos Pacheco.
Capa para impressão_2022.indd 3Capa para impressão_2022.indd 3 12/12/2022 14:30:5212/12/2022 14:30:52
História da 
Arquitetura e 
Urbanismo II
© by Ser Educacional
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro 
tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia 
autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional.
Imagens e Ícones: ©Shutterstock, ©Freepik, ©Unsplash.
Diretor de EAD: Enzo Moreira.
Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato.
Coordenadora de projetos EAD: Jennifer dos Santos Sousa.
Equipe de Designers Instrucionais: Carlos Mello; Gabriela Falcão; Isis Oliveira; 
José Felipe Soares; Márcia Gouveia; Mariana Fernandes; Mônica Oliveira; 
Nomager Sousa.
Equipe de Revisores: Everton Tenório; Helayne Lima ; Lillyte Berenguer ; 
Maria Gabriela Pedrosa.
Equipe de Designers gráficos: Bruna Helena Ferreira; Danielle Almeida; 
Jonas Fragoso; Lucas Amaral; Sabrina Guimarães; Sérgio Ramos e Rafael 
Carvalho.
Ilustrador: João Henrique Martins.
Buchmayer, Angélica Linhares; Melo, Carina Mendes dos Santos; Pacheco, 
Elis Monteiro dos Santos.
História da Arquitetura e Urbanismo II:
Recife: Editora - 2023.
114 p.: pdf
ISBN: xxx-xx-xxxxx-xx-x
1. palavra chave 2. palavra chave 3. palavra chave.
Grupo Ser Educacional
Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro
CEP: 50100-160, Recife - PE
PABX: (81) 3413-4611
E-mail: sereducacional@sereducacional.com
Iconografia
Estes ícones irão aparecer ao longo de sua leitura:
ACESSE
Links que 
complementam o 
contéudo.
OBJETIVO
Descrição do conteúdo 
abordado.
IMPORTANTE
Informações importantes 
que merecem atenção.
OBSERVAÇÃO
Nota sobre uma 
informação.
PALAVRAS DO 
PROFESSOR/AUTOR
Nota pessoal e particular 
do autor.
PODCAST
Recomendação de 
podcasts.
REFLITA
Convite a reflexão sobre 
um determinado texto.
RESUMINDO
Um resumo sobre o que 
foi visto no conteúdo.
SAIBA MAIS
Informações extras sobre 
o conteúdo.
SINTETIZANDO
Uma síntese sobre o 
conteúdo estudado.
VOCÊ SABIA?
Informações 
complementares.
ASSISTA
Recomendação de vídeos 
e videoaulas.
ATENÇÃO
Informações importantes 
que merecem maior 
atenção.
CURIOSIDADES
Informações 
interessantes e 
relevantes.
CONTEXTUALIZANDO
Contextualização sobre o 
tema abordado.
DEFINIÇÃO
Definição sobre o tema 
abordado.
DICA
Dicas interessantes sobre 
o tema abordado.
EXEMPLIFICANDO
Exemplos e explicações 
para melhor absorção do 
tema.
EXEMPLO
Exemplos sobre o tema 
abordado.
FIQUE DE OLHO
Informações que 
merecem relevância.
SUMÁRIO
Brasil pré-colonial � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 11
A história dos povos pré-cabralinos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 11
Formas de morar e viver dos indígenas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 16
Aldeias � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �17
Tipos de casas� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 20
Métodos e materiais utilizados pelos indígenas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 25
Cultura arquitetônica e urbanística portuguesa na época do 
“Descobrimento” � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 27
Influências que marcaram a identidade urbana portuguesa � � � � � � � � 28
Formação do Estado Português (século XIII) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 31
Românico (1100–1230) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 32
Gótico (c.1230-c.1450) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �33
Período dos Descobrimentos (1415-1543) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 34
Resultados formais das influências sobre as cidades portuguesas no 
século XV � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 35
Cidade portuguesa e a sua transferência para o Brasil � � � � � � � � � � � 41
Núcleos urbanos brasileiros � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 43
A arquitetura desenvolvida pelos portugueses: séculos XV e XVII 47
Estilos arquitetônicos e a arquitetura erudita � � � � � � � � � � � � � � � � � � �50
Arquitetura residencial e administrativa � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �51
Construções públicas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 54
Arquitetura religiosa � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 55
Ordens religiosas e suas construções � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 57
Arquitetura militar � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �61
Evolução das estruturas urbanas e de urbanização a partir da 
metade do século XVII � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 69
Características do lote urbano e sua relação com a Arquitetura � � � � � 70
Características da arquitetura colonial � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 74
Introdução ao estilo Barroco no Brasil � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �80
Principais características do Barroco � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 83
Escolas regionais do Barroco no Brasil � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 89
Barroco Mineiro � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 90
Barroco carioca � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 92
Rococó no Brasil � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �95
Rococó mineiro � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 96
Rococó pernambucano � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 97
Outros estilos do século XVIII � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 99
Processo de urbanização no Brasil colonial (1750-1822) � � � � � � � �102
Introdução ao neoclassicismo � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �105
O sistema Beaux-Arts � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 107
Missão Francesa e a linguagem acadêmica � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 108
Autoria
Angélica Linhares Buchmayer
Carina Mendes dos Santos Melo
Elis Monteiro dos Santos Pacheco
UN
ID
AD
E
1
8
Introdução
Olá!
Você está na unidade 1 – Os povos pré-cabralinos. Aqui você 
vai conhecer a história dos povos que habitavam o Brasil pré-colo-
nial, as características da arquitetura construída por eles e seus mé-
todos construtivos e materiais de construção. Também conhecerá a 
arquitetura e as características do urbanismo português do século 
XVI, bem como as suas origens.
Bons estudos!
9
Brasil pré-colonial
A Carta de Pero Vaz de Caminha (1500) é considerada o primeiro do-
cumento escrito da história do Brasil. Em suas quatorze páginas, ela 
relata a chegada da frota comandada por Pedro Álvares Cabral ao 
território denominado de Ilha Vera Cruz. A carta foi redigida para 
comunicar o rei D. Manuel I. É nesta carta que se encontra a pri-
meira referência à arquitetura dos nativos em um curto relato sobre 
uma visita, de parte da tripulação da nau portuguesa, à aldeia dos 
nativos:
E segundo depois diziam, foram bem uma légua e meia a uma 
povoação, em que haveria noveIsso, porque a própria evolução do 
sítio, decorrente das dinâmicas urbanas, resultaram em demoli-
ções, sobreposições, alterações etc. É mais fácil encontrar edifica-
ções isoladas ou resquícios do traçado original, mas para povoar a 
imaginação do leitor, apresentamos a seguir a imagem da “Cidade 
de Parati/RJ”. Ainda que seu traçado e desenvolvimento tenha ocor-
rido ao longo do século XVIII, esta imagem nos permite apreciar al-
gumas das características que tratamos até aqui, e outras que serão 
abordadas mais adiante.
44
Figura 1 - Cidade de Parati (RJ)
Fonte: Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: Na imagem, há uma foto da cidade de Parati no Rio de Janeiro com 
arquitetura do século XVIII.
45
A arquitetura desenvolvida pelos 
portugueses: séculos XV e XVII
O histórico de formação do Estado Português resultou numa ex-
pressiva diversidade de contribuições à cultura portuguesa, que teve 
certamente reflexos na arquitetura desenvolvida em solo brasileiro. 
Os romanos estiveram na península ibérica até 476 d.C., dominan-
do-a por mais de 600 anos. Em seguida, foi a vez dos povos germâ-
nicos (também chamados de bárbaros), que por ali permaneceram 
por cerca de 300 anos até as invasões islâmicas. Essa presença de 
muçulmanos na região durou, aproximadamente, 700 anos, quan-
do foram então expulsos pelas guerras de Reconquista, com a re-
tomada consolidada do território, em 1492, e a fundação do Estado 
Português.
Essa influência se dará também pela referência aos estilos 
arquitetônicos que durante os séculos XVI e XVII se desenvolveram 
em Portugal. Carvalho et al. (2000, p.6) ressaltam que no período 
de formação da nacionalidade portuguesa esteve presente o estilo 
românico, de forma que algumas características acabaram se in-
corporando no gosto da cultura portuguesa: “o peso, a rigidez, a 
simplicidade e o caráter estático constituíam tendências que iriam 
permear a produção arquitetônica”. Outra característica que se tor-
nou marcante na arquitetura portuguesa, essa associada à herança 
cultural islâmica, foi a prática de preencher e compartimentar su-
perfícies e inserir formas menores em maiores. (CARVALHO et al., 
2000).
Podemos dizer que esses foram aspectos que em linhas gerais in-
fluenciaram a arquitetura portuguesa e por desdobramento a ar-
quitetura colonial brasileira. As contribuições e influências na 
arquitetura popular portuguesa, nos dois primeiros séculos de 
empresa colonial brasileira, podem ser sistematizadas em 3 ramos 
FIQUE DE OLHO
46
de heranças culturais: a dos romanos, a dos germânicos e a dos 
islâmicos.
Do período de domínio romano, a arquitetura portuguesa 
herdou a diversidade de programas, técnicas e formas arquitetôni-
cas. Em relação aos programas, podemos citar os templos, basílicas, 
fontes, termas, aquedutos, pontes, anfiteatros, castros (castelos), 
palácios etc. Das técnicas de construção, herdou a maneira de as-
sentar as pedras, com argamassas de cal e de cimento e, provavel-
mente, as técnicas da taipa e do adobe. Em função do contato dos 
romanos com o Oriente, temos a técnica de produção de cerâmicas 
para a confecção de tijolos e telhas, também introduzida e aperfei-
çoada em solo português. No que diz respeito às formas, arcos, abó-
badas, cúpulas, colunas e pilastras fazem parte do repertório que 
influenciaram a história da Arquitetura de modo geral.
Dos povos germânicos, a estrutura fortificada foi uma im-
portante herança, com a construção de castelos e fortes, sendo que 
até as igrejas podiam apresentar aspectos e recursos defensivos. 
Mas, segundo Weimer (2005, p.85), “há quem julgue que foram 
herdeiros e continuadores da arquitetura de defesa romana”, e che-
garam inclusive a fazer uso do arco pleno, adotando o arco apontado 
somente mais tarde. A grande contribuição, diz o mesmo autor, foi 
a introdução das estruturas de enxaimel, paredes com requadro de 
madeira que formavam panos independentes e que eram fechados 
por adobe, tijolos, pedra etc. Essa solução deixava aparentes as pe-
ças de madeira que estruturavam paredes e vãos.
Com base nos estudos de Weimer (2005) abordaremos a in-
fluência da cultura islâmica na arquitetura portuguesa em duas 
correntes: a árabe e a berbere. Em relação à primeira, sua interfe-
rência na forma e no partido da arquitetura portuguesa foi restrita, 
porque os árabes se estabeleceram efetivamente na Andaluzia, ter-
ritório espanhol, mantendo apenas representações no lado portu-
guês. A casa árabe vai influenciar de forma mais direta a solução das 
casas senhoriais e dos claustros conventuais, que adotavam como 
partido o pátio central, em torno do qual se organizavam os demais 
47
compartimentos. Mais evidentes e difundidas foram as referências 
adotadas em elementos arquitetônicos, como o emprego abundante 
de adufas (fechamentos em treliça) e muxarabis (balcões fechados 
por treliças).
O lado ocidental da península, que corresponde ao atual ter-
ritório português, era administrado efetivamente pelos berberes, 
povos oriundos do norte da África, que deixaram marcas mais sig-
nificativas na arquitetura local. Segundo Weimer (2005), as casas 
muçulmanas que mais influenciaram as portuguesas e, por conse-
quência, as casas brasileiras, em termos de forma, foram variações 
das casas berberes.
As casas berberes eram geminadas (coladas umas às outras 
nas divisas laterais dos lotes), seus cômodos eram ordenados li-
nearmente de forma perpendicular à rua, contavam ainda com pou-
cas aberturas. Nessas casas havia uma única entrada e nos fundos 
podia haver pequenas janelas, que davam para um pátio fechado por 
muros altos. A ordem de disposição dos cômodos a partir da entra-
da era: sala, dormitórios e cozinha. A cobertura podia ser plana, em 
áreas mais secas e de duas águas de telhado com ponto de cumeeira 
baixo, para as zonas mais úmidas.
Essa tipologia foi adaptada para Portugal, recebendo o nome 
de “casa de pescadores” e para o Brasil, como veremos, recebendo o 
nome de “casa de porta e janela” (WEIMER, 2005).
Inúmeras palavras que usamos no vocabulário arquitetônico têm 
origem árabe e berbere. Você provavelmente já ouviu falar em algu-
mas delas. Confira: açoteia, adobe, adufa, alcova, aldeia, alfândega, 
algeroz, alicerce, alisar, almofada, almoxarifado, alpendre, alvará, 
alvenaria, andaime, armazém, arrabalde, azulejo, bairro, baldrame, 
chafariz, coxim, enxaimel, enxovia, fasquia, harém, masmorra, 
mastaba, medina, mesquita, minarete, mudéjar, muxarabi, saguão, 
sanefa, sarrafo, sofá, tabique, taipa, trapiche, zarcão etc.
FIQUE DE OLHO
48
Estilos arquitetônicos e a arquitetura 
erudita
O românico era o estilo em voga durante boa parte do período da 
Reconquista, que se estendeu do século VIII ao
XV. Carvalho et al. (2000) atribuem a sobriedade e a rigidez 
da arquitetura portuguesa a essa ocorrência, como uma referência 
presente no imaginário luso. No entanto, é preciso investigar um 
pouco mais, pois outros estilos se sucederam desde o românico dos 
séculos XII e XIII. O gótico e o gótico tardio, esse último também 
conhecido como estilo Manuelino, em referência ao rei de Portu-
gal D. Manuel I, presentes desde o século XIII até princípios do XVI, 
aportaram outra linguagem arquitetônica, refletida numa arquite-
tura mais verticalizada, bem ornamentada, com arcos e elementos 
pontiagudos.
Apesar dessa sucessão de estilos, observa-se nos séculos XVI 
e XVII o retorno do gosto português pela mencionada sobriedade e 
rigidez, mas agora em razão da influência do Renascimento italia-
no. À arquitetura que se desenvolveu nessas centúrias em Portugal, 
pós-Manuelino, convencionou-se chamar de maneirista, mas há 
controvérsias no emprego do termo. Carvalho et al. (2000) atribuem 
essa controvérsia ao pouco domínio da linguagem clássica pelos 
portugueses, pois, ainda que o estilo maneirista se caracterizasse 
pelo rompimento dos cânones clássicos, era preciso conhecê-los 
profundamente.
Há autores, contudo, que preferem se referir à arquitetura 
que se produziu nesse período,sobretudo a religiosa, por arquite-
tura chã ou estilo chão, como uma manifestação própria da cultura 
portuguesa. Esse termo foi cunhado pelo historiador George Kluber, 
em 1972, no livro A Arquitectura Portuguesa Chã. Entre as Especia-
rias e os Diamantes, 1521-1706, que até hoje suscita reflexão. Senos 
(2012), por exemplo, questiona se esse estilo é uma expressão da 
nacionalidade portuguesa ou é de fato uma reação anticlássica ou 
anti-italiana.
49
Tenha ou não acertado no emprego dos referenciais clássicos, 
o fato é que a arquitetura erudita desse período valorizou aspectos 
como a simplicidade e a austeridade. Sobre suas características, 
Carvalho et al. (2000, p.6) a descrevem:
pela tentativa de usar a linguagem clássica a 
partir de formas geométricas básicas, com a 
proporção das fachadas próxima ao quadrado, 
frontão triangular e forte contraste entre as 
linhas marcadas pelo uso da pedra e do para-
mento branco, revelando um caráter eminen-
temente bidimensional e ainda a subordinação 
da ornamentação à estrutura compositiva.
Já em fins do século XVII, ganha terreno a arquitetura barro-
ca, que se caracterizava pela expressividade da linguagem clássica, 
subvertendo-a definitivamente no uso de frontões interrompidos, 
colunas torcidas, encurvamento de superfícies e profusão de orna-
tos. Seu aparecimento em Portugal vai coincidir com a descoberta 
do ouro no Brasil, o que proporcionou uma pujança econômica e a 
construção de ricos e belos exemplares desse estilo.
Arquitetura residencial e administrativa
Na arquitetura civil, residencial e administrativa, pode-se dizer que 
as influências que predominaram foram as das heranças culturais 
e seus desdobramentos na arquitetura popular portuguesa, que 
abordamos anteriormente. Os recursos e as técnicas construtivas 
eram aqui ainda rudimentares, pois não havia capacitação técnica, 
instrumentos acurados de medição e ferramentas mais elaboradas 
(como aquelas ligadas ao trabalho de carpintaria, por exemplo). O 
trabalho escravo ajuda a explicar, em parte, essa limitação e explica 
ainda como puderam funcionar as casas no Brasil colônia, despro-
vidas que eram de sistemas de abastecimento de água e de esgoto. 
Vejamos esses e outros aspectos na sequência.
Para compreender a arquitetura residencial que se implantou 
e se desenvolveu nos dois primeiros séculos de ocupação portugue-
sa no Brasil, é preciso conhecer a própria conformação da sociedade 
50
e da família brasileira. Enquanto sociedade, sua conformação é uma 
miscigenação de brancos, indígenas e africanos; e sua estrutura é 
essencialmente rural, patriarcal, hierárquica e escravocrata. O mo-
delo familiar nasceu no meio rural, onde o homem (o senhor), mais 
que o chefe de família era o “dono da terra, dos escravos, da vida e 
da morte de seus subordinados” (MENDES et al., 2010, p.118).
Dito isso, podemos sistematizar, a fim de generalizar, as 
formas de morar no Brasil colônia nesse período em rural e urba-
na. Aliás, vimos como o funcionamento dos núcleos urbanos eram, 
essencialmente, vinculados ao mundo rural, construídos para abri-
gar moradores das fazendas em dias de festa. Como observa Reis 
Filho (1997, p. 30) “vilas e centros menores tinham vida urbana 
intermitente, apresentando normalmente um terrível aspecto de 
desolação”.
A morada rural que abordaremos aqui é aquela vinculada ao 
cultivo monocultor da cana e à produção do açúcar para exportação, 
mas cabe dizer que existiam outras, de outros tipos, como as fazen-
das de gado no Nordeste. As principais construções desses comple-
xos agroindustriais eram a casa grande (residência do senhor e sua 
família), a senzala (alojamento dos escravos) e o engenho (constru-
ção destinada ao processo de beneficiamento da cana, que acabou 
denominando as próprias propriedades latifundiárias produtoras 
de cana). Dependendo do tamanho e importância, seu programa 
poderia incluir ainda: capela (espaço de devoção religiosa da famí-
lia), depósitos, alambiques, casas de capatazes e de colonos, entre 
outros.
A casa grande era a sede, ficava geralmente em ponto alto do 
terreno, permitindo ao senhor um controle visual de suas terras. 
Entre esse ponto elevado e a fonte de água (seja rio ou mar), por 
onde se escoava a produção e cuja força hidráulica era utilizada para 
girar moendas, espalhavam-se as demais construções do comple-
xo. As casas grandes eram compostas por salas, alcovas, quartos de 
hóspedes e cozinhas, além da varanda – espaço que desempenhava 
função de amenizar os efeitos do clima, mas também servia ao lazer 
e ao controle da fazenda – e da capela, podendo estar colada ou se-
parada fisicamente da casa.
51
Havia em geral dois tipos de senzala: a doméstica e a de eito, 
ou de trabalho. A primeira destinada ao abrigo dos escravos com 
tarefas relacionadas ao funcionamento da casa, como cozinhar, 
limpar e arrumar; e a segunda, voltada à mão de obra pesada, que 
trabalhava nas plantações ou no beneficiamento da cana (MENDES 
et al., 2010). Já o engenho era um amplo galpão localizado junto a 
um rio ou curso d’água, que viabilizasse o funcionamento hidráu-
lico da moenda, abrigando também outros espaços relacionados às 
demais etapas do processo.
O senhor do engenho tinha, geralmente, uma casa no nú-
cleo urbano mais próximo, para onde se deslocava com sua famí-
lia nos dias de festividades ou compromissos políticos. As moradas 
urbanas, seja em pequenos povoados, seja em vilas e/ou cidades 
apresentavam profundas semelhanças. Elas podiam ser térreas ou 
assobradadas, mas eram sempre coladas às divisas frontal e late-
rais, com um quintal aos fundos, destinado a pomares, hortas e ao 
trabalho relacionado à cozinha. A disposição dos cômodos seguia 
a referência berbere que mencionamos: à frente a sala de receber, 
sucedida pelas alcovas, sala de viver e aos fundos a cozinha, geral-
mente num volume anexo ao principal. Essas casas também pos-
suíam um corredor que ligava a porta da frente à dos fundos. Nos 
sobrados, a parte térrea comportava comércio, escravos, hóspedes, 
animais etc.; já a casa, seguindo essa mesma disposição de planta, 
se desenvolvia no segundo andar, longe dos olhos de quem passava 
na rua.
Mendes et al. (2010, p.20), atribuem o descolamento da co-
zinha do corpo da casa a uma influência da cultura indígena: “Com 
o índio [o português] aprendeu que cozinhar era uma tarefa a ser 
realizada do lado de fora, no terreiro, numa varanda ou num puxa-
do do lado da casa.” Não havia banheiro como compartimento em 
planta nas casas, seja urbana ou rural, ele era substituído por equi-
pamentos como urinóis e retretas, disponíveis nos cômodos de usos 
íntimos. O funcionamento das casas, nesse período, se alicerçava 
no trabalho da mão de obra escrava. Mendes et al. (2010) nos con-
tam que os dejetos, por exemplo, eram armazenados em barris em 
uma edícula no fundo do quintal e depois carregados pelos “tigres” 
(escravos que transportavam as águas servidas para despejo) para 
52
áreas molhadas – rios, lagoas, mares, brejos – próximos ao núcleo 
urbano. Ou eram jogados pelas janelas, precedidos por um “lá vai 
água”.
Construções públicas
As construções empreendidas pelo governo na colônia eram majo-
ritariamente de função militar, uma vez que, até meados do século 
XVII, a administração pública cabia em geral aos donatários e aos 
colonos, confundindo-se, como assinala Reis Filho (1968, p.162), 
“a administração – quase inexistente – com a camada dominan-
te”. Nos núcleos maiores se assentavam construções oficiais de re-
levante importância. Em Salvador, a partir de fontes documentais, 
Reis Filho (1968) identifica que havia na Cidade Baixa a “casa de 
fazenda e alfandegas e almazens [sic] e ferrarias” e na Cidade Alta, 
a Casa dos governadores, a Câmara e o Tribunal da Relação. Quase 
nada existe atualmente, visto que a partir de meados do século XVII, 
esses foram sendo substituídos por construções mais imponentes e 
arrojadas.
Nos núcleos urbanos menores, as obras oficiais eram de 
iniciativamunicipal e, em geral, se limitavam à Casa de Câmara e 
cadeia e a algumas obras de infraestrutura, como pontes, calça-
mento, fontes, chafarizes etc. Mesmo uma vila podia ter uma Casa 
de Câmara e Cadeia, e essa constituía a principal edificação do local, 
representava o poder municipal, congregando funções adminis-
trativas, judiciárias e penitenciárias. Situava-se em frente à praça 
e, normalmente, erguia-se à sua frente o Pelourinho, símbolo do 
poder municipal. É difícil identificar um padrão formal e constru-
tivo entre elas, visto que dependiam basicamente da importância 
política e econômica do núcleo urbano. Pode-se dizer que, em geral, 
tinham dois pavimentos, funcionando a Câmara na parte superior, 
com a sala do juiz, sala do conselho, secretaria e gabinetes; e a Ca-
deia no térreo.
O abastecimento de água nas vilas e cidades era uma ques-
tão que merecia importância, mas enquanto houve escravidão, as 
obras efetivamente realizadas foram poucas. Nos centros menores o 
53
abastecimento era realizado pela própria população, com transporte 
de água da fonte até as casas pelos escravos. Nos centros maiores, o 
crescimento populacional demandava outra solução. Assim, no Rio 
de Janeiro, já no início do século XVII, iniciaram-se os trabalhos de 
captação e condução das águas do rio Carioca, concluídos somente 
no século XVIII, com a construção de aquedutos, fontes e chafarizes.
O calçamento de ruas era raro, levando em consideração que 
era realizado em pedra, atendendo a demandas pontuais em função 
do aumento do tráfego e dos problemas de conservação dele decor-
rentes. Em Salvador, com o crescimento da cidade, a partir de 1650, 
procuraram-se novas formas de solucionar o problema da mobi-
lidade, o que tornou este assunto o principal foco de preocupação 
da Câmara. Resolvem assim os oficiais, em 1656, para dar conta de 
executar esses serviços “estabelecer um impôsto sôbre as matanças 
nos currais e açougues da cidade” [sic] (REIS FILHO, 1968, p.138). Já 
as pontes, foram poucas as construídas, exemplos são as de Recife 
e de Belém.
Arquitetura religiosa
A Colonização era um projeto de expansão comercial portuguesa, 
mas também de expansão religiosa, de dominação cultural. Tanto é 
verdade, que a esquadra de Cabral já contava com frades francisca-
nos em sua tripulação, dentre eles Frei Henrique Soares, que cele-
brou a primeira missa na Ilha de Vera Cruz; e que em 1549, vieram 
para o Brasil, junto com o primeiro governador geral, Tomé de Sou-
za, representantes da Ordem dos Jesuítas.
Assim, as construções religiosas estiveram presentes desde 
os primeiros tempos do Brasil colônia, que, além das funções re-
ligiosas, desempenhavam funções administrativas, uma vez que 
Igreja e Estado andavam lado a lado nesse período. As igrejas paro-
quiais concentravam, por exemplo, a função de registros de nasci-
mento, casamento e óbito, bem como realizavam as celebrações de 
cunho religioso. Mais imponentes, contudo, eram os conventos com 
suas igrejas. As diferentes ordens se fizeram presentes nos princi-
pais núcleos urbanos, especialmente ao longo do litoral. Reis Filho 
54
(1968) registra como os conventos se organizaram como grandes 
proprietários de terra e engenhos, reunindo volumosos recursos fi-
nanceiros; e que, apesar da pobreza do meio em que viviam, conse-
guiram financiar atividades culturais e artísticas.
Esse mesmo autor, analisando as igrejas em Salvador a partir 
do estudo iconográfico, observa a homogeneidade no padrão, cujas 
fachadas apresentavam “uma única porta, óculo e frontão triangu-
lar, características do tipo de risco românico”, e completa “a única a 
aparecer com tôrre [sic] é a da Sé, talvez porque na época só as ma-
trizes pudessem tê-la” (REIS FILHO, 1968, p.179). A fachada, com 
um corpo central ladeada por torres, com destaque das principais 
linhas e elementos de cantaria em contraste com o fundo branco, 
parece ser uma constante, com mais ou menos variações.
Observa-se também nas plantas um padrão básico a partir do 
qual a arquitetura foi se alterando pelas intervenções sucessivas. O 
modelo da nave única retangular com capela-mor aos fundos, for-
mada por um retângulo menor e profundo, mais a sacristia como um 
pequeno quarto lateral, constitui a base geral. Conforme foi se tor-
nando mais complexo o programa desses centros religiosos, foram 
sendo anexados outros compartimentos com outros usos. A partir 
da segunda metade do século XVII ocorrem mudanças quantitati-
vas e qualitativas na produção da arquitetura religiosa. As sucessi-
vas Invasões Holandesas, no Nordeste do Brasil, colocaram freios 
ao projeto de expansão católica. Mas, com a Restauração do Tro-
no Português, em 1640 – seguida da expulsão desses invasores em 
1654 – as Ordens tomaram novo fôlego. Foram comuns a ampliação 
e a reforma de construções antes singelas e rústicas, dotando-as de 
ornamentação e revestimentos mais elaborados.
Para se fazer uma leitura mais generalizada dessa arquitetu-
ra, os historiadores procuram enquadrá-las por semelhanças. Mas 
essa é uma tarefa difícil, ainda mais considerando que a obra de uma 
igreja pode durar diversos anos, quem sabe décadas, de forma que, 
mudam-se gostos e estilos. Tomemos, assim, a abordagem de San-
tos (1981) e Mendes et al. (2010), que as analisam pelas ordens reli-
giosas que as construíram.
55
Figura 2 - Catedral Basílica de Salvador Fonte: Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: Na imagem, há uma arquitetura religiosa que mostra a catedral Basílica 
de Salvador.
Ordens religiosas e suas construções
Fundada em 1534, a Companhia de Jesus configurou-se como um 
dos braços mais eficientes para pôr em ação as resoluções da Con-
trarreforma. Com a missão de angariar novos fiéis (e retomar os an-
tigos perdidos para o movimento protestante) e de ampliar a ação 
e os domínios da Igreja. Com isso, em 1534, o líder da Companhia, 
Inácio de Loyola, enviou padres para diversos países com o objeti-
vo de implantar escolas e seminários. Os jesuítas tiveram papel de 
56
destaque no ensino. No Brasil, ministravam a catequese, alfabeti-
zavam leigos e gentios, nas naves das suas igrejas e nas construções 
agregadas, denominadas colégios (MENDES et al., 2010).
As atividades da Companhia de Jesus, no Brasil, desenvolve-
ram-se de 1549, com a chegada do primeiro grupo jesuítico no país, 
até 1759, quando foram expulsos em função dos problemas que vi-
nham gerando seus posicionamentos e estratégias políticas, bem 
como pela popularidade e alcance de suas ações. As determinações 
do Concílio de Trento, realizado em 1545 – e que marcou o início 
da Contrarreforma, assim como os referenciais arquitetônicos eu-
ropeus – vão ajudar a moldar a arquitetura que se levantará em ter-
ras brasileiras pelos jesuítas. Dentre as alterações demandadas pela 
Contrarreforma, temos a inclusão do púlpito, um espaço localizado 
dentro da nave, voltado para os fiéis, onde o pároco proclamava a 
palavra de Deus na língua natal do seu público. Essa determinação 
ajudou a eliminar as naves laterais, visto que dificultavam a inser-
ção do púlpito na nave central. O diálogo com a cultura cristã local 
também se efetuava pela incorporação dos santos aos quais eram 
devotos os frequentadores, inserindo-se suas imagens em altares e 
capelas laterais (MENDES et al., 2010).
Havia certa uniformidade na solução arquitetônica dos colé-
gios jesuítas no século XVI, até meados do XVII. A planta da igreja 
era retangular e colada com o colégio, ambos organizados em torno 
de um pátio interno. Na fachada principal, estavam dispostos se-
quencialmente e em um mesmo plano: a igreja, a torre sineira e o 
colégio. A entrada se dava por uma única porta de acesso, e sobre ela 
havia um óculo ou janelas. São exemplos ainda hoje existentes, com 
algumas alterações: a Igreja N. S. da Assunção, em Anchieta/ES e a 
Igreja Matriz de São Pedro da Aldeia/RJ.
Tratam-se de construções rústicas, com a nave despida de 
ornamentação, paredes caiadas e telha vã. Alguma decoração via-senos retábulos e altares por causa de trabalhos de talha. Apesar da 
simplicidade, a solução acabou servindo de modelo para as demais 
ordens que por aqui estiveram e se estabeleceram e, ainda, para as 
pequenas capelas, sejam urbanas ou rurais.
57
Bury (2006) destaca a Igreja São Roque de Lisboa (1573), em 
Portugal, como o precedente de maior importância para a arquite-
tura dos jesuítas no Brasil. Com efeito, tendo em vista a precarie-
dade das primeiras construções jesuíticas, Mendes et al. (2010) nos 
conta que a Coroa enviou ao Brasil, em 1577, o irmão Francisco
Dias, arquiteto que havia colaborado na referida constru-
ção. São a ele atribuídos os projetos de reconstrução do Colégio de 
Olinda, de 1584, e do Rio de Janeiro, de 1585, verificado inclusive na 
semelhança do partido em planta, que seguiu a de São Roque, com-
posta por uma nave única, capela-mor com duas capelas colaterais 
(que são dispostas na mesma parede em que localiza a capela-mor, 
uma em cada lado da mesma).
As influências clássicas oriundas da arquitetura maneirista 
(ou chã) de São Roque na fachada dos exemplares brasileiros podem 
ser associadas à simplicidade das formas, ao emprego do frontão 
triangular, às linhas verticais bem marcadas e à sua bidimensio-
nalidade. Mas o marco principal da arquitetura jesuítica, no Bra-
sil, será a construção do seu principal e maior templo, em 1654, em 
Salvador. Vemos na figura “Catedral de Salvador/BA” a combinação 
do frontão com volutas e torres laterais, interpretada como uma 
síntese entre a Igreja de Jesus (Chiesa del Gesú) de Roma, sede da 
Companhia de Jesus, e da Igreja de São Vicente de Fora de Portugal, 
de 1602; ambas maneiristas. Essa solução acabou repercutindo em 
outras igrejas, inclusive de outras ordens religiosas, de irmandades 
e confrarias.
A Ordem Franciscana, criada por Francisco de Assis no século 
XIII, esteve presente na colônia desde 1500 em missões de evan-
gelização, mas somente em 1584 é que foi dada a autorização para 
a implantação da Ordem em Pernambuco. O primeiro convento foi 
fundado em 1585, o Convento de Nossa Senhora das Neves de Olin-
da, seguido de outros; de forma que em 1659 já se registravam vinte 
conventos, geralmente implantados ao longo do litoral, em terrenos 
doados por grandes proprietários de terras (MENDES et al., 2000).
Diferente da arquitetura dos jesuítas, as igrejas conven-
tuais dos franciscanos eram precedidas por um pórtico com arca-
das, um elemento de transição exterior-interior. Já as plantas eram 
58
compostas por nave única, com a capela-mor mais estreita e com 
sacristia. Os conventos eram como os colégios dos jesuítas, colados 
à igreja e com um pátio interno, para o qual, nesse caso, se voltava 
o claustro. Esses tipos de conventos possuíam, em geral, uma única 
torre sineira levemente destacada em relação à fachada. Além disso, 
outro elemento comum nos conventos franciscanos é a presença do 
adro com um cruzeiro, de forma a preparar o fiel para uma sequên-
cia lógica: “mundo exterior, representado no adro, o pórtico como 
transição até o espaço de contrição composto pela nave da igreja, 
que gradativamente tornava-se mais decorada” (MENDES et al., 
2010, p. 187).
A Ordem do Carmo, fundada no século XII por cruzados lei-
gos que chegaram ao Monte Carmelo, em Israel, pousou por essas 
bandas em 1580 pelas mãos de quatro carmelitas. Em Olinda elas 
fundaram seu primeiro convento (1583), em terras recebidas em 
doação. Mendes et al. (2010) registram suas chegadas em Salvador 
(1586), Santos (1589) e Rio de Janeiro (1590). Sua arquitetura tam-
bém teve influência dos modelos jesuítas, com o uso da linguagem 
clássica e pouca ou nenhuma ornamentação. Em fins do século XVII 
foram incorporados alguns elementos de inspiração barroca.
As fachadas com composições tripartidas continham arcadas 
no pavimento térreo. Sobre os partidos de planta, é possível dizer 
que eles possuíam semelhança não só com o dos jesuítas, mas tam-
bém com os dos franciscanos, não ocorrendo grandes mudanças de 
programa: “Um claustro, frequentemente distribuído por dois pa-
vimentos, com alas dispostas em quadra, em torno de um ou dois 
pátios internos. As igrejas continuavam com nave única, eventual-
mente acrescida de capelas laterais” (MENDES et al., 2010, p.190).
Para finalizar, temos ainda a Ordem dos Beneditinos, fundada 
em 529 por Bento de Núrsia em Monte Cassino na Itália. Chegaram 
ao Brasil em 1581, com a missão de fundar um mosteiro na capital do 
Governo Geral. A ordem se expandiu por Olinda, Rio de Janeiro, Pa-
raíba, São Paulo e Santos. Por conta da característica reclusa desta 
Ordem, os conjuntos arquitetônicos, apesar da sua importância, não 
tiveram repercussão junto à população.
59
Exemplar de destaque das construções beneditinas é o Mos-
teiro de São Bento, no Rio de Janeiro e projetado pelo Engenheiro-
-mor Francisco Frias de Mesquita, com obras iniciadas em 1633. 
Mendes et al. (2010) destacam as proporções românicas das facha-
das com linguagem geométrica resolvida em um único plano. As 
duas torres sineiras encontram-se levemente recuadas das facha-
das, mas sem comprometer a sua bidimensionalidade. No trecho 
inferior da fachada, entre as torres, uma galilé (alpendre à frente 
da fachada principal) com três arcos, proporciona a transição ex-
terior-interior, preparando-nos para a profusão decorativa do seu 
interior, obra já do período barroco.
Encontram-se em curso os trabalhos relativos à candidatura do 
Conjunto de Fortificações Brasileiras como patrimônio mundial 
da humanidade pela UNESCO. Engloba um conjunto de 19 fortes e 
fortalezas já tombados pelo IPHAN, que testemunham o sistema de 
ocupação e defesa do território nacional.
Arquitetura militar
O sistema de defesa do território brasileiro configurou-se 
primeiramente pela descentralização, seguindo a própria estratégia 
de ocupação dos portugueses. Ao deixarem a missão aos donatários 
e colonos, não tinham qualquer controle sobre a defesa destes. Em 
meados do século XVII, com a política de centralização empreendi-
da pela Metrópole, a estratégia de defesa seguiu essa tendência. A 
arquitetura militar vai sendo gradualmente reforçada ou substituí-
da e, com isso, se constroem verdadeiros complexos arquitetônicos 
para esse fim.
Nos primeiros anos de ocupação portuguesa, os esquemas 
defensivos eram rudimentares em função da escassez de recursos. 
FIQUE DE OLHO
60
As feitorias funcionaram como uma espécie de fortim, com paliça-
da em seu entorno. Quando da implantação das primeiras vilas, a 
defesa era realizada pelos próprios colonos, que as defendiam com 
cercas ou muros; algumas inclusive de madeira (REIS FILHO, 1968, 
p. 167).
Os muros, construções grosseiras e pouco resistentes, foram 
sendo substituídos de acordo com as pressões de invasão. Conforme 
as cidades e vilas iam crescendo, os muros mais antigos iam sendo 
abandonados e eram criados outros; outras linhas de fortificações 
em direção à expansão do núcleo urbano. Segundo Reis Filho (1968), 
os muros da cidade de Salvador foram refeitos, renovados e amplia-
dos em várias oportunidades e completava o sistema de defesa da 
cidade as fortalezas e os diques, conformando o mais complexo es-
quema defensivo do período no Brasil.
Ponto crítico é que logo os muros se tornaram obsoletos em 
função do aparecimento da pólvora e das peças de artilharia, obri-
gando os colonizadores a implantarem outras estratégias de defesa. 
As construções no alto, no topo de colinas, por exemplo, consti-
tuíam um cenário mais eficaz, e essa foi a opção adotada no caso do 
Rio de Janeiro, cujo núcleo urbano, após instalado em local menos 
abrigado, foi deslocado para o Morro do Castelo; e de Olinda, que 
em contraste com Recife, apresentava melhores características de 
implantação em sítio elevado. A mudança de localização de Iguape, 
no sul do Estado de São Paulo, também ilustra essa preocupação de-
fensiva, tirando partido das características geográficas. O primeiro 
núcleo urbano, localizadojunto à barra do rio Ribeira de Iguape, foi 
posteriormente transferido para terras abrigadas por uma ilha e um 
braço de mar.
Com a ruralização do Brasil, confirma-se a descentralização 
do sistema defensivo. No interior assiste-se inclusive ao apareci-
mento de pontos fortificados reunidos em torno das casas grandes 
com suas torres. Exemplo ainda hoje existente, apesar de estar em 
ruínas, é a torre de Garcia d’ Ávila na Bahia.
Apesar disso, havia discretos pontos de coordenação desses 
postos nas vilas próximas, que por sua vez, e aos poucos, foram 
sendo controladas por um centro administrativo regional. Esses 
61
centros, de responsabilidade política e administrativa da Coroa, 
eram verdadeiras fortalezas, dotados de corpo efetivo (tropas regu-
lares) e equipamento bélico pesado. Foram instalados esses centros 
em Salvador, Rio de Janeiro, São Luiz e Belém e, com isso, assiste-
-se a um processo de centralização dos esquemas de defesa (REIS 
FILHO, 1968).
Essa política centralizadora, que teve início em meados do 
século XVII, apresentou como efeitos a ampliação do repertório de 
construções militares: baluartes, fortes, fortins, fortalezas, arse-
nais, quartéis etc.; e a valorização dos centros regionais, que pas-
saram a exercer controle também sobre as atividades políticas e de 
comércio das suas regiões. São elaborados verdadeiros esquemas de 
fortificações, como na defesa do Rio de Janeiro, cuja entrada da Baía 
de Guanabara, foi ladeada pelas fortalezas de Santa Cruz e São João 
no trecho mais estreito; e também em Santa Catarina, com as for-
talezas de Santo Antônio de Ratones, Santa Cruz de Anhatomirim 
e São José da Ponta Grossa, formando um triângulo de defesa para 
invasores que se aproximavam pelo Norte.
As soluções empíricas foram aos poucos se tornando fruto de 
estratégias e planejamento. Inspirados nos modelos de Vauban, en-
genheiros militares projetaram fortins, fortes e fortalezas, a serem 
executados por mestres de obras e soldados. Aliás, sobre a formação 
desses profissionais, é importante registrar que em 1647, os portu-
gueses criaram em Lisboa a aula de fortificações e arquitetura mi-
litar com fundamentos na tratadística renascentista. E, mesmo no 
Rio de Janeiro, foi criada uma aula de fortificação em 1699. Ainda 
no século XVI, eram enviados pela Metrópole engenheiros militares, 
com o intuito de elaborar projetos de fortes e confeccionar mapas e 
plantas para estudos de defesa de cidades.
As construções destinadas ao sistema defensivo podem ser 
ordenadas em termos de complexidade, do menos ao mais comple-
xo: reduto, bateria, fortim, forte, fortaleza e praça forte. A fortaleza 
é considerada o último nível de obras de uso estritamente militar, já 
que a praça forte se configura como uma cidade murada, abrangen-
do também a função de moradia (CASTRO, 2016).
62
Castro (2016b) define forte como uma construção única, fe-
chada, capaz de promover a defesa e resistir ao ataque por um pe-
ríodo relativamente prolongado. Não se trata somente de abrigo, 
o forte tem que possibilitar também a ofensiva contra o inimigo. 
Possuem quartéis e paióis (depósito de munição e alimentos), o que 
os distinguem dos fortins, que não têm esses apoios. O forte pode, 
ainda, ser subordinado a uma fortaleza, já que essa se diferencia do 
forte, justamente por ter obras auxiliares, como redutos, baterias e 
outros fortes. Assim, pode-se dizer que “a fortaleza não é mais do 
que um forte que tem outras obras a ele subordinadas” (CASTRO, 
2016a).
Todas essas estruturas defensivas se instalaram nesse pri-
meiro momento de ocupação, principalmente, ao longo do litoral. 
Configuraram um esforço descentralizado de proteção do território, 
levado a cabo, sobretudo, pelos donatários e colonos das diferen-
tes capitanias, sem maiores apoios das metrópoles. Em diversas si-
tuações, a implantação dessas fortificações acabou dando origem a 
vilas ou cidades, como foi o caso do Forte dos Reis Magos, que deu 
origem à cidade de Natal.
Os fortes eram em geral construídos com quatro ou cinco 
pontas, ou baluartes. Apesar de projetados para serem regulares, as 
vezes o relevo forçava uma adaptação, gerando distorções no de-
senho original. O Forte dos Reis Magos em Natal mantém até hoje 
o formato pentagonal. Já o Forte de Cinco Pontas de Recife que já 
teve cinco baluartes, hoje tem apenas quatro, devido às sucessivas 
alterações.
Encontram-se em curso os trabalhos relativos à candidatura do 
Conjunto de Fortificações Brasileiras como patrimônio mundial 
da humanidade pela UNESCO. Engloba um conjunto de 19 fortes e 
fortalezas já tombados pelo IPHAN, que testemunham o sistema de 
ocupação e defesa do território nacional.
FIQUE DE OLHO
63
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender o processo de ocupação do território brasileiro e 
sua associação com os primeiros ciclos econômicos do Brasil 
Colonial, além da conformação e características dos primeiros 
núcleos urbanos aqui implantados a partir dos modelos portu-
gueses de cidades;
• conhecer a arquitetura que se desenvolveu em Portugal nos 
dois primeiros séculos após o “descobrimento” a partir de duas 
vertentes: aquelas oriundas das heranças culturais que confor-
maram o próprio povo português e aquelas que podem ser clas-
sificadas como “estilos arqui
SINTETIZANDO
64
UN
ID
AD
E
3
66
Introdução
Olá! (apresentação)
Você está na unidade 3. Conheça aqui um pouco do processo 
de ocupação do território brasileiro, a partir das estruturas urba-
nas definidas em meados do século XVII, correspondente ao Período 
Colonial, os parâmetros que nortearam a configuração urbana, suas 
causas e características. Entenda a conformação primária dos lotes, 
as configurações arquitetônicas, de que forma esses elementos que 
compõem o núcleo urbano interagem e se influenciam, bem como 
qual o resultado disso na paisagem urbana. Além disso, veremos 
também, de forma introdutória, os parâmetros que configuraram a 
arte e arquitetura barroca no Brasil. Principalmente na Arquitetura 
religiosa, onde esse estilo foi mais retratado.
Bons estudos!
67
Evolução das estruturas urbanas e de 
urbanização a partir da metade do século XVII
Durante o Período Colonial no Brasil, o processo de ocupação e ur-
banização das cidades era motivado pela organização de um sistema 
defensivo. Normalmente, esses núcleos eram implantados em ter-
renos elevados, com traçado regular das vias e lotes com dimensões 
padrões – testada estreita, compridos – configurando uniformida-
de e rigidez à estrutura urbana.
Em algumas cidades, como São Luís do Maranhão, além da 
estruturação do território em função da proteção, as missões reli-
giosas desempenharam papel decisivo na ocupação e delimitação do 
território. É possível depreender que a cidade estava sendo organi-
zada pela implantação das edificações religiosas, que funcionavam 
como polos de atração, provocando a ocupação e o adensamento da 
área. Algumas dessas edificações podem ser definidas como marcos 
e limites da cidade. Por exemplo, o Convento de Nossa Senhora do 
Carmo, que pode ser considerado como o marco na paisagem e li-
mite da cidade no século XVII (SENADO FEDERAL, IPHAN, 2007). 
Para compreender a evolução das estruturas urbanas, é importan-
te analisar a configuração do lote urbano; a relação da arquitetu-
ra produzida a partir desse lote; e o resultado dessa interação nas 
características arquitetônicas e seus respectivos usos. Ademais, o 
contexto histórico das motivações e as necessidades de ocupação de 
dado território, assim como os usos e setorização espacial da cidade, 
definiram a forma e modelo de ocupação das cidades.
Figura 1 - Convento Nossa Senhora do Carmo na paisagem urbana de São Luís (MA)
Fonte: Stefano Ember, Shuttersock, 2020.
#PraCegoVer: A imagem é uma foto da fachada e do entorno do Convento Nossa 
Senhora do Carmo, em São Luís (MA).
68
Características do lote urbano e sua relação com a 
Arquitetura
Durante o período colonial os lotes tinham configuraçõesclara-
mente definidas. Segundo Reis Filho (1983, p. 22): “Aproveitando 
antigas tradições urbanísticas de Portugal, nossas vilas e cidades 
apresentavam ruas de aspectos uniformes, com residências cons-
truídas sobre o alinhamento das vias públicas e paredes laterais so-
bre os limites dos terrenos”.
Figura 2 - Cidade de Paraty (RJ)
Fonte: Wtondossantos, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: A imagem é uma foto de uma das ruas de Parati (RJ), na qual podemos 
ver a representação da implantação da edificação junto à rua, delimitando o traçado 
urbano.
Dessas ocupações, resultaram configurações espaciais de 
ruas, quadras, implantação das edificações nos lotes e atribuição de 
usos que se alteraram com o tempo, com os interesses econômicos, 
com os modos de ocupação da região e de apropriação das edifica-
ções, resultando na conformação e aparência urbanas atuais.
69
A rua era definida a partir da sequência das edificações cons-
truídas alinhadas umas às outras, estabelecendo espacialmente os 
limites dos passeios. Essa uniformidade e rigidez nas linhas urba-
nas é característica do período em que Portugal estava sob domínio 
espanhol (1580 – 1640), o qual repercutiu, entre outras coisas, na 
aplicação do traçado ortogonal diferente dos projetos empregados 
pela Coroa Portuguesa, que procuravam respeitar as linhas de ter-
reno e outros elementos naturais para compor seu traçado urbano, 
gerando estruturas mais orgânicas.
Segundo Bury (2006, p. 170), essas plantas ortogonais são re-
sultantes da cultura da Europa Ocidental, originárias da Antiguidade 
Clássica. No entanto, como já afirmado, esse traçado não é comum 
em Portugal e também são raros nas cidades mais antigas fundadas 
pelos portugueses: “Parece que a intenção básica no Brasil era simi-
lar à da América espanhola, no sentido de dar plantas ortogonais aos 
centros administrativos”.
Para aplicação desse traçado ortogonal, eram utilizados ins-
trumentos rudimentares, como cordas e estacas. No entanto, a ga-
rantia desse traçado regular somente era obtida com a construção 
dos edifícios, erguidos nos limites das vias públicas e laterais con-
figurando uma paisagem urbana densa, ainda que o núcleo ocupado 
fosse reduzido (REIS FILHO, 1983, p. 24).
Em São Luís do Maranhão, por exemplo, até aproximada-
mente 1700, a cidade ficou estabelecida no traçado ortogonal de-
senhado por Frias de Mesquita, respeitando a divisão de lotes e a 
implantação das edificações. Porém, a partir de 1750, é iniciado o 
processo de consolidação da ocupação da cidade, primeiramen-
te motivado pelo controle de acesso à região – sendo, por isso, 
transformada em acampamento militar –, tornando-se, então, 
entreposto comercial. Essa mudança suscitou duas grandes conse-
quências na urbanização: elevou o número de habitantes – provo-
cado pela migração das famílias vindas do arquipélago dos Açores 
e, sobretudo, pelos escravos africanos –, e diversificou as funções 
ali realizadas, concentrando atividades e provocando a valorização 
do solo urbano nas áreas ligadas ao porto. Tal transformação possi-
bilitou, ainda, a ampliação das dimensões dos lotes na cidade para 
abrigar edificações de maior porte para atender às novas atividades 
70
e aos ricos proprietários, que ansiavam por ostentar sua riqueza por 
meio das exuberantes edificações.
Figura 3 - Vista aérea do Centro Histórico de São Luís (MA)
Fonte: Josereisjr, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: A imagem é uma vista aérea do Centro Histórico de São Luís (MA), no 
qual podemos ver algumas características próprias de cidades brasileiras coloniais.
Além de garantir o traçado e dimensões das vias, a implan-
tação da edificação no lote é feita de forma a preservar uma área do 
terreno livre para a criação de jardim ou horta, consequentemente, 
apta para captação das águaspluviais, uma vez que as coberturas ti-
nhas suas águas dos telhados direcionadas para a fachada frontal e 
para os fundos do terreno, evitando que a água invadisse o terreno 
vizinho (SILVA, 1998, p. 52).
71
Figura 4 - Ouro Preto (MG)
Fonte: Felipequeiroz, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: Imagem das fachadas de algumas edificações históricas de Ouro Preto 
(MG) representando a simetria da fachada por meio da volumetria, coberturas em 
telha de barro e a disposição ritmada dos vãos.
Tal uniformidade conferida aos lotes resultava da regulari-
dade dos partidos arquitetônicos empregados nas edificações, ca-
racterizadas por sólidas volumetrias com padrões de aberturas e 
coberturas previamente definidos por Cartas Régias ou em normas 
de posturas municipais.
Em São Luís, as mudanças na forma de ocupação se concre-
tizam com a elaboração de leis e decretos pelo governo, a fim de 
normatizar a expansão da cidade, ou seja, o Estado passa a orien-
tar, por meio desses códigos, a ocupação e a organização do espaço 
urbano. Essas normas deram continuidade ao padrão de ocupação/
expansão desenhado por Frias de Mesquita, assim como os códigos 
de 1842, 1866 e 1893 e, posteriormente, o Código de Posturas, de 
1932, que passou a regular o modelo de expansão urbanístico pela 
malha ortogonal.
72
Características da arquitetura colonial
Das tipologias arquitetônicas desenvolvidas durante esse período 
podemos destacar a militar, a religiosa, a civil e a residencial. So-
bre a arquitetura religiosa colonial no Brasil podemos observar que 
estão geograficamente concentradas ao longo do litoral brasileiro, 
em uma faixa que vai desde Belém do Pará até Santos. Outras se lo-
calizam na província mineradora de Minas Gerais e Goiás. Desses 
exemplares remanescentes destacamos a mais importante estrutu-
ra seiscentista que ainda subsiste no Brasil: a antiga Igreja do Colé-
gio da Companhia de Jesus, hoje Catedral de Salvador, caracterizado 
por William Beckford (2006, p. 175) como “o estilo majestoso que 
prevaleceu durante o domínio espanhol em Portugal”. Ainda se-
gundo este autor: “A fachada, sóbria e digna, construída com um 
arenito local, áspero, cinzento e emassado, surge com grande des-
taque no fundo de uma praça longa e estreita, que como um adro, 
tem no centro uma cruz monumental”.
Figura 5 - Fachada da Igreja de São Francisco, em Salvador (BA)
Fonte: Helissa Grundemann, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: Imagem da fachada da Igreja de São Francisco, no Centro Histórico de 
Salvador (BA).
73
Importante elemento empregado na sua fachada dá supor-
te para o desenvolvimento da arquitetura religiosa no Brasil: série 
de volutas livremente entrelaçadas, que circundam a parte central 
do frontão. Esses traços indicam o ponto de partida do processo da 
arte e arquitetura barroca, a partir do rompimento dos rigorosos 
padrões da arquitetura do fim da Renascença. De acordo com Bury 
(2006, p. 177): “A partir desse início, à medida que avança o século, 
a progressiva emancipação quanto às regras restritivas da compo-
sição clássica se evidencia na substituição das formas ortogonais 
tradicionais pelas novas formas curvas e móveis, e pelos perfis em 
forma de ‘S’” .
Da arquitetura civil, podemos mencionar como as obras mais re-
presentativas dessa tipologia as Casas de Câmara, as residências 
dos governadores e bispos, as casas rurais ou solares das famílias 
patrícias e as casas-grandes de engenhos e fazendas. Das casas de 
câmara um bom exemplo é o edifício de Ouro Preto.
Figura 6 - Casa de Câmara em Ouro Preto (MG) 
Fonte: EAFO, Shutterstock, 2020. 
#PraCegoVer: Na imagem há a Casa de Câmara em Ouro Preto (MG).
FIQUE DE OLHO
74
É preciso lembrar que, sendo a arquitetura uma arte social, o 
projeto das residências particulares merece também atenção espe-
cial. A categoria é vasta, abrangendo desde cabanas de pau-a-pique 
de um ou dois cômodos até residências urbanas de pedra, grandes 
até mesmo para padrões europeus, tais como a Casa de Contos em 
Ouro Preto.
Figura 7 - Casa de Contos em Ouro Preto (MG) 
Fonte: Vanessa Volk, Shutterstock, 2020.
A casa-grande do senhor do engenho ou fazendeiro também 
seguia o padrão mais oumenos constante, derivado das práticas 
costumeiras em Portugal. Característica tradicional são os telhados 
de quatro águas, a escadaria externa e a varanda, cujo telhado incli-
nado com vigas aparentes era sustentado por uma fileira de gros-
sas colunas ou pilares de pedra. Um belo exemplo é a casa-grande 
da fazenda Colubandê, Rio de Janeiro, de meados do século XVIII 
(BURY, 2006, p.194).
Das edificações residenciais urbanas podemos acrescentar 
que estas estão associadas diretamente ao traçado da cidade e às di-
mensões do lote em que serão construídas. Segundo o professor e 
arquiteto Nestor Goulart Reis Filho, uma característica dessa arqui-
tetura é a relação a depender do tipo de lote em que está implantada: 
75
“Assim, as casas de frente de rua [...] são conjuntos tão coerentes, 
que não é possível descrevê-los completamente sem fazer referên-
cia à forma de sua implantação” (REIS FILHO, 2000, p. 16).
Em São Luís é possível verificar esse vínculo direto entre a 
edificação e sua implantação no lote, de forma que as edificações 
erguidas durante os séculos XVIII e XIX apresentam a implantação 
sobre a testada e limites laterais do lote, ou seja, resultam em plan-
tas que não incluem corredores para acesso lateral.
Figura 8 - Edificação junto à testada do lote, em São Luís (MA) 
Fonte: Stefano Ember, Shutterstock, 2020. 
#PraCegoVer: Imagem de uma rua no Centro Histórico de São Luís (MA), na qual 
podemos ver a implantação da edificação junto à testada do lote.
Em relação à volumetria, verifica-se que não há associação 
entre as suas variações e as dos partidos das plantas. No entanto, 
é possível perceber a direta ligação das plantas e a distribuição das 
águas da cobertura. Além disso, para cada programa é possível iden-
tificar uma tipologia arquitetônica, vinculada à melhor distribuição 
das funções e dos cômodos. Além disso, a topografia dos lotes, nos 
quais as edificações são implantadas (plano ou inclinado), também 
influencia as características arquitetônicas da edificação.
76
As normas que regulavam as linhas arquitetônicas, o número 
de aberturas, alturas dos pavimentos e alinhamentos eram deter-
minados em função da necessidade de garantir que as cidades brasi-
leiras exprimissem aparência portuguesa. A paisagem urbana passa 
a ser definida por fachadas: “simetricamente riscadas e com ligeira 
supremacia de cheios sobre os vazios, sem reentrâncias ou saliên-
cias, exceto as resultantes dos beirais, das sacadas, das portas e das 
guarnições dos vãos e das quinas” (SILVA, 1998, p. 51). Além disso, 
observa-se o alinhamento dos vãos e o nivelamento das vergas, que 
reforçam a simetria e ritmo nas fachadas.
A monotonia volumétrica dessas edificações era quebrada 
quando introduzido elementos na cobertura, como a água furtada 
ou camarinha, que além de servir para ventilação e iluminação na-
tural daquele pavimento superior, enriquecia o skyline da rua, per-
mitindo diferentes perspectivas daquele núcleo urbano.
Figura 9 - Centro Histórico de Salvador (BA)
Fonte: Cassiohabib, Shutterstock, 2020. 
#PraCego Ver: Representação do ritmo volumétrico das edificações, interrompido pela 
presença da água furtada, em Salvador (BA).
77
A rigidez expressa nas fachadas também era aplicada nas 
plantas, pois, conforme descrito por Reis Filho, cada ambiente era 
pensado de acordo com a sua função doméstica e com o perfil do seu 
ocupante (REIS FILHO, 1983,p. 24).
Dentro desse contexto podemos distinguir, basicamente, 
duas tipologias arquitetônicas das habitações: o sobrado e a casa 
térrea. Essas tipologias diferenciavam, além do número de pa-
vimentos, pelo acabamento de piso utilizado. A primeira com uso 
predominante de assoalho e a segunda de chão batido. Essa carac-
terística definia não só o tipo de habitação, mas significava a cama-
da social a qual cada uma abrigava: no sobrado a classe mais rica, 
ao contrário da casa térrea, que abrigava a população mais pobre. 
Essa divisão não se restringia às edificações de forma individual, 
mas também de forma específica. No sobrado, por exemplo, quando 
analisados individualmente – “os pavimentos térreos dos sobra-
dos, quando não eram utilizados como lojas, deixavam-se para aco-
modação dos escravos e animais ou ficavam quase sempre vazios” 
(REIS FILHO, 1983, p. 28).
A simplicidade das técnicas construtivas adotadas denuncia-
va o restrito desenvolvimento tecnológico da nossa sociedade co-
lonial: abundância de mão de obra determinada pela existência do 
trabalho escravo, mas ausência de aperfeiçoamentos. Como vimos, 
a abundância dessa mão de obra determinava as formas de uso das 
edificações, a distribuição dos cômodos e a dinâmica diária da casa 
(REIS FILHO, 1983, p. 26).
78
Introdução ao estilo Barroco no Brasil
Segundo as autoras Albernaz e Lima (1997), o estilo arquitetônico 
Barroco reúne grande parte das manifestações artísticas surgidas 
na Europa de meados do século XVII a meados do século seguinte. 
Baseia-se em expressões dinâmicas, percepção ilusória, profundi-
dade, claro-escuro e elementos decorativos. Predominam nesse es-
tilo o movimento e não linearidade das massas construídas, assim 
como a unidade do conjunto.
Na Arquitetura Brasileira o Barroco é predominantemente utilizado 
em construções religiosas, mais frequente durante o século XVIII e 
em Minas Gerais. A Matriz de N. Sra. do Bom Sucesso, Caeté, MG; 
Capela de N. Sra. Ó. Sabará, G é um claro exemplar desse estilo (AL-
BERNAZ; LIMA, 1997 – 1998, p. 85).
Esse estilo foi muito bem desenvolvido nas igrejas francis-
canas no nordeste do Brasil, a partir da substituição de formas tra-
dicionais de ortogonalidade e rigidez pelas formas curvas e móveis. 
A igreja de Marechal Deodoro, de 1793, é um modelo representati-
vo dessa transformação, por apresentar uma fachada com detalhes 
curvilíneos, ausência de entablamento inferior e uma sequência de 
curvas dinâmicas.
FIQUE DE OLHO
79
Figura 10 - Igreja na cidade de Marechal Deodoro (AL) 
Fonte: Lana Endermar, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: Imagem da fachada de uma igreja na cidade de Marechal Deodoro (AL), 
com características próprias de edificações franciscanas do Nordeste do Brasil.
A incorporação desses elementos dinâmicos não se restringe 
à fachada dessas edificações religiosas. Bury (2006,p. 20) acrescen-
ta que as igrejas coloniais brasileiras possuem em seu interior uma 
rica decoração barroca, que inclui “pinturas de tetos em perspec-
tivas ilusionista, mobiliário barroco, lavabos de sacristia, púlpitos, 
tapa-ventos e, acima de tudo, retábulos de talha dourada, consti-
tuindo as “igrejas todas de ouro” e outros interiores inteiramente 
revestidos, como, por exemplo, a Igreja Nossa Senhora da Concei-
ção dos Militares de Recife.
Os efeitos espetaculares produzidos nos interiores das edifi-
cações eram buscados também nas vias de acessos para as constru-
ções consideradas mais importantes. Aqui, temos como referência 
o conjunto dos Passos e adro dos Profetas, do Santuário de peregri-
nação do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (BURY, 2006, p. 
222). O santuário fica no alto de uma colina, e o acesso é feito por 
um caminho em ziguezague, que passa por seis capelas de Passos, 
seguido por uma monumental escadaria dupla que leva ao adro da 
80
igreja. A localização retirada e o panorama delimitado por longín-
quas serras causam extraordinária impressão, e a elegante escada-
ria curvilínea do adro, com doze estátuas de profetas no parapeito, 
esculpidas por Aleijadinho, constitui imagem inesquecível (BURY, 
2006, p.190).
Figura 11 - Igreja Bom Jesus de Matosinhos e o conjunto de Profetas, em Congonhas (MG)
Fonte: Inspired By Maps, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: Imagem da fachada da Igreja Bom Jesus de Matosinhos e o conjunto de 
Profetas, em Congonhas (MG).
Em frente à igreja, uma área pavimentada e limitada por um 
guarda-corpo integra o conjunto. Com função de acomodar o gran-
de grupo de peregrinos possibilitando que ouvissem dali, por meio 
das portas abertas,as missas realizadas no interior da edificação. 
Dessa forma, o adro se configura como uma extensão da igreja e as 
paredes da escadaria como o avanço da fachada.
81
Figura 12 - Igreja Bom Jesus de Matosinhos e o conjunto de Profetas, em Congonhas (MG)
Fonte: Luciano Queiroz, Shuttersotck, 2020.
#PraCegoVer: Vista da Igreja de Congonhas assentada sobre um calçamento 
delimitado com guarda-corpo para receber os fiéis, em Congonhas (MG).
Nesse caso, as esculturas dos profetas, da forma que estão 
incorporadas ao contexto, assumem, junto ao valor escultórico in-
trínseco, um valor arquitetônico e o efeito produzido é considerado 
autenticamente barroco, dada a intensa teatralidade que o conjunto 
da obra produz (BURY, 2006, p. 191).
Principais características do Barroco
Sobre o Barroco, podemos pontuar algumas características funda-
mentais que o diferenciam de outros estilos arquitetônicos. Bury 
(2006) aponta três definições de Anthony Blunt como as caracterís-
ticas marcantes dessa arquitetura: preferência pela grande escala, 
por formas complexas e pelos efeitos teatrais (BURY, 2006, p. 218).
Segundo o autor (BURY, 2006), os arquitetos barrocos tinham 
tendência a desenvolver volumes altos e imponentes. Além disso, 
as plantas e fachadas em contraste côncavo-convexo se destacam, 
82
criando efeitos de movimento, uma das principais características 
desse estilo. As plantas ogivais também eram muito apreciadas.
A igreja de Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto repre-
senta o resultado final e mais avançado de todas as experiências já 
feitas em Portugal e no Brasil com plantas poligonais e curvilíneas. 
É uma estrutura autenticamente barroca, não apenas na decoração. 
Tem a fachada arqueada, torres redondas e a nave e a capela-mor 
elípticas, só a sacristia permanecendo retangular. Projetada para ser 
vista por todos os lados, sua construção iniciou depois de 1753 e foi 
terminada provavelmente em 1785, data inscrita acima do frontão 
(BURY, 2006. P. 185).
Figura 13 - Igreja Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto (MG)
Fonte: Diego Grandi, Shutterstock, 2020. 
#PraCegoVer: Imagem da fachada da Igreja Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto 
(MG).
Segundo Bury (2006), antecederam à igreja de Nossa Senhora 
do Rosário, com a planta em dupla elipse, as singelas igrejas no Rio 
de Janeiro: Nossa Senhora da Glória do Outeiro e São Pedro dos Clé-
rigos (1733 – 1738, demolida em 1943).
83
Além da busca por movimento, através do jogo de volumes, 
as concepções arquitetônicas barrocas faziam uso de referenciais 
teatrais, como a luz dirigida, que se originavam de locais ocultos, 
assim como as ilusões óticas proporcionadas através de pinturas 
nos tetos com simulações de arquitetura ascendentes e a falsa apa-
rência de abóbada com um profundo céu. Para a concepção desse 
ambiente cênico foram empregados alguns materiais, porém com 
custo menor dos habitualmente utilizados.
Figura 14 - Forro da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG)
Fonte: T photography, Shutterstock, 2020. 
#PraCegoVer: Imagem do forro da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto 
(MG).
84
SINTETIZANDO
Externamente, a arquitetura barroca se expressa por meio do 
enquadramento dos vãos e arremate das fachadas e torres. No Brasil 
é mais frequente encontrarmos este estilo aplicado nos ornamen-
tos, mas, ainda assim, temos exemplares significativos do barroco 
arquitetônico no Rio de Janeiro – Igreja São Pedro dos Clérigos (já 
demolida) e outras duas em Minas Gerais – São Pedro dos Clérigos, 
em Mariana e Nossa Senhora do Rosário, em Ouro Preto.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
 • entender a influência dos elementos urbanísticos e arquitetô-
nicos na composição da paisagem durante o período colonial;
 • observar que a ocupação do solo ocorreu em função do uso e 
destinação do território;
 • estudar que a representação dos usos das arquiteturas também 
ocorre através dos materiais empregados;
 • estudar as características básicas do estilo Barroco e observar 
o quanto elas contrastam com as regras rígidas adotadas pelas 
arquiteturas coloniais;
 • compreender que o estilo Barroco não se restringe à arquitetu-
ra, ele está presente nos ornamentos, esculturas e técnicas de 
acabamentos.
UN
ID
AD
E
4
86
Introdução
Olá! (apresentação)
Você está na unidade 4 – Do Barroco ao Neoclássico. Conhe-
ça, aqui, as manifestações artístico-estilísticas que se desenvol-
veram no Brasil do século XVIII até princípios do XIX. Partindo das 
escolas regionais do barroco e do rococó, veremos como os referen-
ciais estilísticos de matrizes europeias foram sendo interpretados, 
adaptados e aclimatados no Brasil, como é o caso, por exemplo, do 
estilo Aleijadinho.
Veja também como ocorreu o processo de urbanização no 
Brasil, a partir da segunda metade do século XVIII, com a intensifi-
cação do surgimento de vilas e cidades, e como essas se configuram 
arquitetônica e urbanisticamente. Por fim, faremos uma introdução 
ao estudo do neoclassicismo, a fim de entender como ocorreram as 
primeiras manifestações desse estilo.
Bons estudos!
87
Escolas regionais do Barroco no Brasil
Ao ler no título deste item “Barroco no Brasil”, é bem provável 
que, já de antemão, algumas imagens ou palavras-chave venham 
à mente do leitor: igrejas, ciclo do ouro, Minas Gerais, Aleijadinho, 
entre outras. Todas elas são pertinentes e se associam ao tema que 
trataremos aqui, mas não só. De antemão, é preciso dizer que a ex-
pressão do barroco na arquitetura extrapolou a região das Minas 
Gerais e também teve palco em outras cidades brasileiras. Por isso, 
falaremos, aqui, sobre algumas escolas regionais.
Vamos lembrar que a ascensão do estilo barroco esteve es-
treitamente vinculada à descoberta do ouro no Brasil, que ocorreu 
ainda em fins do século XVII. O enriquecimento rápido proporcio-
nado pela mineração mudou a rotina colonial ao longo do século se-
guinte, com a “intensificação da vida urbana, capital de giro, contato 
com a Europa, valorização do luxo e do conforto, [...] cenário extre-
mamente favorável para abrigar o gosto barroco” (MENDES et al., 
2010a, p.193). Será sobretudo nas igrejas que veremos a sua expres-
são, especialmente naquelas das ordens seculares e leigas (ordens 
terceiras, irmandades e confrarias), já que a Coroa proibiu a instala-
ção das ordens regulares nas proximidades dos locais de mineração. 
Tratou-se de uma postura de disputa política, especialmente contra 
os jesuítas, cujo poder vinha aumentando progressivamente.
Cabe esclarecer que as ordens terceiras, organizações vin-
culadas a uma ordem religiosa, antes do século XVIII, não tinham 
edificações próprias, ocupando capelas no corpo das igrejas pri-
meiras ou segundas (MENDES et al., 2010a). Com o ciclo do ouro, 
tais ordens passaram a construir edifícios próprios, principalmente 
a Ordem dos Carmelitas e dos Franciscanos, que ascenderam eco-
nomicamente no período. Assim, é comum vermos conjuntos com 
a igreja da ordem religiosa e outra anexa, tão imponente quanto, 
pertencente à ordem terceira.
Há um debate sobre a originalidade do chamado “barroco 
mineiro”, mas Oliveira (2001) relativiza essa visão e a atribui, de 
forma mais ampla, às regiões que emergiram como centros de poder 
político e econômico no século
88
XVIII. Primeiramente, a capitania de minas do ouro e seu 
porto, no Rio de Janeiro, enriquecido pelo comércio e pela condição 
de sede do governo a partir de 1763. Depois, as capitanias de Per-
nambuco e Paraíba, seguidas por Belém do Pará, ambas com econo-
mias fortalecidas em função das companhias de comércio regionais. 
Veremos a seguir duas dessas escolas, uma no interior e outra no 
litoral, e algumas de suas particularidades. Antes, contudo, vale re-
lembrar que sua origem deriva do barroco italiano, cujas caracterís-
ticas são assim sintetizadas por Oliveira (2008, p.119):
[...] formas grandiosas das construções, com ornamentação 
abundante e desenho variado e complexo das plantas e fachadas,com emprego de secções curvilíneas. Nas decorações internas, a re-
gra é a opulência, com revestimento integral das superfícies e uso 
de materiais nobres e preciosos, como os mármores policromos e o 
bronze dourado. Da mesma forma, os relevos de madeira ou estu-
que recobertos com folhas de ouro ou prata foram usados nos países 
ibéricos e na Europa Central.
O barroco brasileiro, contudo, deriva de sua pré-adaptação 
em Portugal, e já nesse país apresenta variações. Bom ter em mente 
que, apesar do conceito de obra integral, isto é, que segue o princí-
pio de integração das artes (arquitetura, pintura, escultura); o esti-
lo se manifestou com mais recorrência nos interiores, ganhando as 
plantas e fachadas já na segunda metade do século XVIII. Por isso, é 
cabível a interpretação de Mendes et al. (2010a, p.211), de que a ar-
quitetura genericamente denominada barroca, produzida no referi-
do período, “(...) contou com manifestações singulares que incluíam 
resquícios do maneirismo dos séculos anteriores, o dinamismo es-
pacial do barroco propriamente dito e a decoração superficial do 
rococó”.
Barroco Mineiro
O distanciamento da região aurífera do litoral acabou conferindo à 
arquitetura, que ali se desenvolveu, certas particularidades. O uso 
de materiais locais é uma delas. A dificuldade de transportar a pe-
dra lioz, que chegava nos navios até a região mineira, incorreu na 
89
sua substituição pela pedra sabão, de fácil trabalhabilidade e larga-
mente disponível naquelas regiões. Ademais, elementos decorati-
vos, como azulejos, também foram substituídos por pinturas, que 
contavam com a habilidade de profissionais como o Mestre Manoel 
da Costa Athaíde.
O distanciamento da região aurífera do litoral acabou confe-
rindo à arquitetura que ali se desenvolveu certas particularidades. O 
uso de materiais locais é uma delas. A dificuldade de transportar a 
pedra lioz que chegava nos navios até a região mineira, incorreu na 
sua substituição pela pedra sabão, de fácil trabalhabilidade e larga-
mente disponível naquelas bandas. Ademais, elementos decorati-
vos, como azulejos, também foram substituídos por pinturas, que 
contavam com a habilidade de profissionais como o Mestre Manoel 
da Costa Athaíde.
Sem dúvida, atribui-se aos trabalhos de pedra sabão uma das 
originalidades do barroco mineiro. As portadas de igrejas, ricamente 
decoradas, constituem traços do estilo. Além das portadas, foi em-
pregado também em cunhais, molduras, vergas, sobrevergas, frisos 
e em magníficos grupos escultóricos, como no adro do Santuário de 
Bom Jesus de Matosinhos, a última grande obra do Mestre Antônio 
Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
O Barroco, sobretudo em sua fase inicial, terá expressão nos 
interiores das igrejas, em trabalhos de talha, pinturas e esculturas. 
Nos primeiros exemplares, as paredes eram decoradas com pintu-
ras emolduradas com talhas douradas, formando painéis, como na 
Capela de Nossa Senhora do Ó, em Sabará. Mas, conforme foi evo-
luindo, transmutou-se para uma visão global, sem divisões, preen-
chendo todo o ambiente. Nos forros, a ornamentação também era, 
assim, compartimentada, panos de pintura emoldurados, os cha-
mados “caixotões”; evoluindo mais tarde para as pinturas ilusio-
nistas, com céu em perspectiva, dando efeito tridimensional. Eram 
pinturas sobre forros abobadados em tabuado corrido.
As mudanças em plantas só vão ocorrer a partir de meados do 
século XVIII, com a introdução das plantas poligonais e curvilíneas. 
Os movimentos do espaço interior e da fachada vão contribuir para a 
grande retórica barroca, sua dramaticidade e opulência. São poucas, 
90
entretanto, as plantas a apresentar essa característica, que con-
tabilizam 13 apenas, num universo de centenas construídas nesse 
período no Brasil (cf. OLIVEIRA, 2001). Em Minas, de tipologia poli-
gonal, temos a Igreja Nossa Senhora do Pilar, de Ouro Preto (1731), 
e de tipologia curvilínea, ainda no espírito barroco, as de São Pedro 
dos Clérigos, de Mariana (1753), e de Nossa Senhor do Rosário, de 
Ouro Preto (1757).
As mais comuns continuavam a ser as plantas retangulares, 
seguindo ainda o estilo jesuítico (ou maneirista), e as fachadas com 
aberturas formando um “V”, ou seja, com a porta centralizada e 
duas janelas simétricas situadas na altura do coro. Bury (2006) ob-
serva que, no segundo quartel do século XVIII, foram construídas 
várias igrejas de pedra de tamanho considerável e com torres la-
deando a fachada, mas que manteve o padrão de abertura diagonal 
da fachada, contrastando com outras soluções adotadas no litoral. O 
autor atribui esse conservadorismo à situação de isolamento terri-
torial de Minas. Caracterizam ainda as fachadas barrocas mineiras: 
os frontões curvilíneos e bem ornamentados e a abertura de óculos 
acima das portadas com a adequação da cornija ou do entablamento.
Principais característica do Barroco Mineiro:
 ◼ pinturas e esculturas com temática sacra/cristã;
 ◼ adereços e ornamentos em ouro e outros materiais nobres no 
interior das igrejas;
 ◼ utilização da pedra-sabão.
Barroco carioca
Por sua condição portuária, o Rio de Janeiro assimila mais rápi-
da e diretamente os referenciais estilísticos europeus do período, 
além do fato de tornar-se capital, em 1763. Observa, assim, Olivei-
ra (2008) que essa foi a primeira cidade a assimilar a talha joanina 
(em referência ao monarca) e a pintura em perspectiva, novidades 
importadas da Itália e que revolucionaram o barroco português no 
período de D. João V. O mesmo ocorreu com as plantas poligonais e 
91
curvilíneas, que foram primeiramente adotadas nas igrejas cario-
cas, cerca de vinte anos antes de suas incidências em Minas Gerais.
Exemplo de maior relevância, ainda hoje existente e consi-
derada a “joia barroca” da cidade, é a Igreja de Nossa Senhora da 
Glória do Outeiro, cuja planta se configura pela intersecção de dois 
polígonos (octógonos), gerando volumetria com interessante mo-
vimento de fachadas. Curioso nesse caso é a torre única à frente 
da fachada, sobre galilé de um arco, constituindo tipologia diversa 
daquela de duas torres laterais, comumente empregada nas igrejas 
brasileiras setecentistas. Mendes et al. (2010a) atribuem ao referido 
exemplar o papel de fonte inspiradora para as igrejas mineiras com 
torre única no eixo da composição.
Salvo raros exemplares, as plantas e fachadas não se liber-
taram da regularidade e rigidez formal típicas do maneirismo, e o 
barroco se restringiu a detalhes ou trechos da composição, como 
nas formas curvas e no exagerado relevo de elementos. Analisando 
a igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, no centro da 
cidade, Carvalho et al. (2010, p.10) registram aspectos característi-
cos do barroco luso: “a força da cornija superior e da modenatura 
do frontão e a respectiva sombra que projeta na fachada, associada 
à expressividade de seu revestimento total em pedra e aos grandes 
capitéis de ordem gigante”. Além da portada com torção de elemen-
tos verticais, característica encontrada em vários retábulos.
Muitos interiores receberam ornamentação de inspiração 
barroca: altares, arcos-cruzeiros, retábulos. Todos eram ricamente 
recobertos de talha dourada, pintura com coloridos quentes, e ainda 
azulejos, muitas vezes monocromos, em branco e azul. Mas, como 
observa Oliveira (2008), a condição do Rio de Janeiro como local de 
novidades, fez com que se sobrepusessem outros estilos, mais fa-
cilmente do que naqueles exemplares de Minas Gerais, cujo rápido 
declínio da exploração aurífera, praticamente cessou a produção 
arquitetônica naquela região. Ainda assim, no Rio de Janeiro, ape-
sar de algumas mudanças, existem exemplares que mantiveram de 
forma dominante a estética barroca em seu interior, como podemos 
ver na Figura “Nave principal da Igreja de Nossa Senhora de Mont-
serrat”, pertencente ao Mosteiro de São Bento.
92
Figura 1 - Nave principal da Igreja de Nossa Senhora de Montserrat no Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: Shutterstock, 2020. 
#PraCegoVer:Vemos na imagem a Nave Principal da igreja Nossa Senhora de 
Montserrat, no Rio de Janeiro (RJ), com características barrocas.
A Igreja São Pedro dos Clérigos situada na cidade do Rio de Janeiro 
constituía outro exemplar de planta curvilínea de inspiração bar-
roca, em um desenho que associava cinco formas de seção curvi-
línea à nave central de formato elíptico. Infelizmente, a igreja foi 
totalmente demolida em 1943, em função da abertura da Avenida 
Presidente Vargas.
SAIBA MAIS
93
Rococó no Brasil
Na historiografia da arte e da arquitetura, o rococó foi definido 
como estilo a partir da década de 1940. Antes disso, suas caracte-
rísticas eram consideradas pertencentes ao quadro mais amplo do 
Barroco. Esse estilo nasceu na França, durante o reinado de Luiz XV, 
vinculado à ideia de conforto e prazer, expressando-se sobretudo 
na decoração de interiores e no mobiliário. Caracterizava-se pela 
suavidade e leveza, podendo ser interpretado “como uma suaviza-
ção e diluição das fortes, expressivas e dinâmicas formas do barro-
co” (CARVALHO et al., 2000, p.11).
Em termos de ornamentação, os temas eram as conchas, 
pedrinhas, curvas, contracurvas, flores e folhagens, apresentan-
do formato irregular e ondulante. Esses ornatos, quando internos, 
geralmente eram dourados e combinados com fundos brancos ou 
de tons suaves, mantendo-se espaços sem preenchimentos, para 
“descanso dos olhos”. Eram aplicados em paredes e tetos por meio 
de painéis emoldurados com perfis delicados. Quando nas fachadas, 
os ornatos eram em pedra, contrastando com as alvenarias brancas.
No Brasil, o rococó passou a ser adotado mais largamente 
a partir de aproximadamente 1770, portanto, já em fins do século 
XVIII. Nessa época, o ciclo do ouro vinha apresentando sinais de 
exaustão, e a adoção de um estilo menos ornamentado, tornou-se 
mais adequado economicamente, diminuindo os gastos com o ex-
cesso de ornamentação e de douramentos. Em fins desse século, 
muitos templos permaneceram inacabados, em função do empo-
brecimento das ordens leigas. “Vilas do sertão e cidades litorâneas 
assistiram à interrupção de um ciclo de prosperidade que se refletia 
no cotidiano, nas migrações de retorno, na tentativa de retomar a 
agricultura abandonada” (MENDES et al., 2010a, p.218).
O estilo rococó no Brasil, também, cabe ser estudado por meio 
de suas expressões regionais, das quais destacaremos duas escolas, 
mais uma vez a mineira, em função de sua centralidade econômi-
ca e artística; e, para proporcionar um comparativo com a aborda-
gem anterior do barroco, a pernambucana, trazendo o panorama de 
94
outra cidade litorânea. É válido dizer, entretanto, que também teve 
expressão do rococó no Rio de Janeiro.
Rococó mineiro
Parte da originalidade atribuída ao barroco mineiro, sobretudo pe-
los modernistas em princípios do século XX, se vincula mais apro-
priadamente ao rococó que, como vimos, só foi delimitado como 
estilo por volta da década de 1940 na Europa. As obras de Aleijadi-
nho representam a expressão máxima desse estilo.
Suas primeiras manifestações ocorreram nos interiores, nas 
talhas, com o emprego do tema da rocalha e, sobretudo, nos retá-
bulos encontraremos essa linguagem. Oliveira (2001), assinala que 
o mais característico do rococó em Minas foi o retábulo com coroa-
mento em arbaleta (um tipo de arma medieval, também chamada 
canga de boi), mas outros dois tipos merecem atenção.
O retábulo com coroamento em frontão, conjugando curvas 
e contracurvas.
O retábulo com a colocação de grupos escultóricos, criação de 
Aleijadinho, e característica circunscrita à sua obra.
Nas naves das igrejas, a decoração se dava pela sequência rít-
mica desses retábulos, configurando estruturas autônomas e não 
inseridas em arcadas. Esta conformação favoreceu o aumento de 
sua altura, adequando-se à do pé direito da nave, com a aplicação 
de sanefas protetoras (ou guarda-pó; é uma barra disposta na parte 
superior do retábulo, colocada horizontalmente). O efeito visual de 
movimento é obtido pelo desenho ondulado destas sanefas dispos-
tas ao longo das paredes; acima das quais, janelas permitem a en-
trada de luz, “fazendo cintilar os ornatos dourados da talha contra 
os fundos brancos ou em tons suaves, segundo a estética própria do 
rococó”. (OLIVEIRA, 2001, p.160).
Nos tetos abobadados entram as pinturas em perspectivas 
realizadas sobre tabuados corridos. Oliveira (2001) destaca que um 
padrão de particular popularidade foi o que desenhava uma varanda 
ou muro baixo na parte baixa do teto, no encontro com as paredes, 
95
deixando um espaço vazio entre esse elemento e o medalhão, que se 
localizava na parte central. Evidências do estilo serão encontradas 
também nas portadas, como se pode notar na figura 2 – “Igreja São 
Francisco de Assis, Ouro Preto”, elaborada por Aleijadinho. Aliás, 
essa igreja vem sendo considerada como a obra prima do rococó.
Figura 2 - Igreja São Francisco de Assis, Ouro Preto (MG)
Fonte: Shutterstock, 2929. 
#PraCegoVer: Na imagem há uma foto da fachada e da área externa da Igreja São 
Francisco de Assis, Ouro Preto (MG).
Na mesma igreja pode ser observada outra característica do 
rococó mineiro, a planta de partido curvilíneo sinuoso, onde as su-
perfícies laterais da fachada levemente curvadas se conectam com 
as torres de formato cilíndrico. Essa característica também pode ser 
encontrada nas igrejas de Nossa Senhora do Carmo, em Ouro Preto; 
e na igreja de São Francisco de Assis, em São João del-Rei.
Rococó pernambucano
Pernambuco, assim como o Rio de Janeiro, era privilegiado pela con-
dição litorânea e encontrava sua economia fortalecida em função 
96
das companhias de comércio regionais. Essa condição favoreceu a 
chegada das novidades das terras europeias, com forte influência 
das formas portuguesas do rococó. Afirma Oliveira (2001) que, as-
sim como Minas, as manifestações do estilo ultrapassaram os in-
teriores, atingindo aspectos externos das igrejas, como frontões e 
coroamento de torres. Merece destaque também o uso de azulejos 
portugueses, importados em larga escala, decorando o interior de 
construções religiosas; mono ou policromos com cabeceiras recor-
tadas, como os dos claustros dos conventos franciscanos de Olinda 
e Recife.
A ornamentação interna das igrejas pernambucanas, desse 
estilo, associavam a talha dourada, os azulejos e as pinturas, em 
uma composição integrada e harmônica. Os trabalhos de talha apre-
sentavam a conjugação de referenciais eruditos portugueses com 
expressões dos artistas locais. Os retábulos, por sua vez, foram sen-
do progressivamente liberados dos nichos tradicionais, ganhando 
como proteção, as sanefas, que tinham também caráter ornamental. 
Dos forros, abobadados e em tabuado corrido, possuímos poucos 
registros das pinturas em perspectiva, segundo Oliveira (2001), isto 
ocorre do fato de que muitos não chegaram mesmo a ser executa-
dos, e outros porque foram arruinados em épocas posteriores.
Arquitetonicamente, assim como nas demais regiões em que 
o rococó esteve presente, as plantas continuaram a ser retangulares, 
composta por nave única e capela-mor alongada. Constitui exceção 
apenas a Igreja de São Pedro dos Clérigos em Recife, com seu espa-
ço interno poligonal. As fachadas apresentam particularidades em 
função do tratamento elaborado dos frontões, cada vez mais altos, 
com desenhos escultóricos de volutas, combinando curvas e con-
tracurvas; pelo coroamento das torres em bulbos; e pelo movimento 
ondulatório da cimalha (OLIVEIRA, 2001). São exemplos: a Igreja 
Matriz de Santo Antônio; a Igreja da Ordem Terceira do Carmo; e a 
Igreja do Convento de Nossa Senhora do Carmo, todas localizadas 
em Recife.
97
SAIBA MAIS
Conheça mais sobre o vocabulário específico relativo à arte sacra, 
bem como algumas das características estilísticas de talhas, retá-
bulos e pinturas, acessando o “Guia de Identificação da Arte Sacra” 
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Outros estilos do séculoou dez casas, as quais diziam que 
eram tão compridas, cada uma, como esta nau capitânia. E eram de 
madeira, e das ilhargas de tábuas, e cobertas de palha, de razoável 
altura; e todas de um só espaço, sem repartição alguma, tinham de 
dentro muitos esteios; e de esteio a esteio uma rede atada com cabos 
em cada esteio, altas, em que dormiam. E de baixo, para se aquen-
tarem, faziam seus fogos. E tinha cada casa duas portas pequenas, 
uma numa extremidade, e outra na oposta. E diziam que em cada 
casa se recolhiam trinta ou quarenta pessoas, e que assim os en-
contraram; e que lhes deram de comer dos alimentos que tinham, 
a saber muito inhame, e outras sementes que na terra dá, que eles 
comem. E como se fazia tarde fizeram-nos logo todos tornar; e não 
quiseram que lá ficasse nenhum.
A região que serviu de primeiro porto aos portugueses, hoje 
Porto Seguro, era habitada por duas nações indígenas do grupo lin-
guístico tupi: os Tupinambás, que ocupavam a faixa compreendida 
entre Camamu e a foz do rio São Francisco; e os Tupiniquins em uma 
área que se estendia de Camamu até a fronteira entre Bahia e Espí-
rito Santo. Seguindo para o interior, encontrava-se a área ocupada 
pelos Aimorés.
A história dos povos pré-cabralinos
A história dos antigos povos indígenas do Brasil é baseada em três 
ramos distintos de informação disponível atualmente, que são: os 
10
relatos deixados pelos exploradores e pesquisadores, que visitaram 
o país nos séculos que se seguiram ao “descobrimento”; as pesqui-
sas realizadas por arqueólogos em sítios antes habitados por esses 
povos; e os trabalhos realizados, principalmente por etnólogos, nas 
últimas décadas que nos permitem conhecer a cultura e os costumes 
atuais dos povos indígenas.
Os exploradores europeus faziam levantamento das terras a 
fim de informar à coroa portuguesa o que haviam encontrado nas 
novas terras do rei. Outra parte dos relatos antigos foi feita por na-
turalistas que, curiosos sobre o “novo mundo”, vieram ao Brasil 
com intuito de conhecer as suas terras. Segundo Derenji (2002, p. 
26-27), foram várias as expedições realizadas nos primeiros sécu-
los após o “descobrimento”. A expedição de Palmier de Gonneville 
chegou a Santa Catarina em janeiro de 1504 e em seus relatos cons-
tam referências às tribos nativas e às suas habitações.
A expedição do normando Jean de Léry visitou o país no pe-
ríodo de 1555 a 1557 e o pesquisador faz um relato minucioso sobre 
a cultura dos povos nativos, mas segundo Derenji (2002, p. 26-27) 
sem abordar sua arquitetura. O autor cita ainda o explorador alemão 
Hans Staden, que fez duas viagens ao Brasil, respectivamente, em 
1548 e em 1551, deixando descrições sobre as aldeias dos Tupinambá 
onde foi feito prisioneiro.
Formam aldeias de trinta, quarenta, cinquenta 
ou oitenta cabanas, feitas à maneira de galpões 
com estacas unidas umas às outras, ligadas por 
ervas e folhas, com as quais os ditos habitantes 
são igualmente cobertos; e têm por chaminé 
um buraco, para fazer sair fumaça. As portas 
são bastões corretamente ligados; e eles as 
fecham com chaves de madeira, quase como 
as que usam, nos campos da Normandia, nos 
estábulos (STADEN, 1945 p. 35, apud DERENJI, 
2002, p. 27).
A expedição do normando Jean de Léry visitou o país no pe-
ríodo de 1555 a 1557, período em que o pesquisador faz um relato 
minucioso sobre a cultura dos povos nativos, mas sem abordar a 
arquitetura, segundo Derenji (2002, p. 26-27). O autor cita ainda 
11
o explorador alemão Hans Staden, que fez duas viagens ao Brasil, 
respectivamente, em 1548 e em 1551 e deixou descrições sobre as 
aldeias dos Tupinambá onde foi feito prisioneiro (STADEN, 1945 p. 
35, apud DERENJI, 2002, p. 27):
Levantam cabanas de mais ou menos 14 pés de largura por 150 
de comprimento e duas braças de alto, com tetos redondos, como 
abóbada. Cobrem-nas depois com folhas de palmeira de modo que 
não chova dentro. Ninguém tem quarto separado; cada casal ocupa 
na cabana um espaço de uns 12 pés, e fica um casal ao lado do outro. 
Enchem-se, assim, as cabanas, cada grupo com seu fogo. O chefe 
ocupa o centro. As cabanas em geral têm três entradas, uma em cada 
extremo e uma no centro, são muito baixas, de modo que, para en-
trar, as criaturas precisam curvar-se. Poucas aldeias têm mais que 
sete dessas cabanas.
A história do explorador alemão Hans Staden virou filme em 1999. O 
relato se passa no século XVI, durante a segunda viagem de Staden 
ao Brasil. Dois anos após sua chegada, ele foi capturado pelos Tu-
pinambás, da tribo Ubatuba no litoral de São Paulo, dos quais per-
maneceu refém por nove meses. Quando foi libertado e voltou para 
Europa, Staden lançou o livro “Duas Viagens ao Brasil”, publicado 
originalmente, em 1557, na Alemanha. O livro foi um grande sucesso 
na época de lançamento e, ainda hoje, é considerado um dos mais 
importantes documentos sobre o Brasil Colônia. A direção do filme 
“Hans Staden” é de Luís Alberto Pereira. Vale a pena conferir!
Outros registros importantes sobre os costumes dos povos 
indígenas, realizados nessa fase inicial da colonização do Brasil, 
são citados ainda por Derenji (2002, p. 28), um deles é o trabalho de 
Ferdinand Dénis publicado pela primeira vez em 1888. Neste estudo 
são descritos os costumes e as habitações dos Tupinambás.
FIQUE DE OLHO
12
Outra fonte de informação sobre a história dos povos do Brasil 
pré-colonial são as pesquisas arqueológicas contemporâneas, que 
permitem a obtenção de dados sobre os povos que viveram no Brasil 
durante o início do período colonial. Eles estudam os vestígios dei-
xados pelas tribos que já não existem, buscando construir um qua-
dro da cultura desses povos. No Brasil, essa tarefa se caracterizava 
como particularmente difícil, porque os ameríndios que habitavam 
a América Portuguesa utilizavam como principal matéria-prima, 
tanto de suas construções quanto de seus artefatos do uso cotidiano, 
a palha, um material frágil e de duração curta em comparação, por 
exemplo, com as civilizações indígenas da América Espanhola, que 
utilizavam pedra como matéria-prima de suas construções, assim 
como os Incas, os Astecas, entre outros povos.
Somam-se ainda os estudos etnográficos realizados por an-
tropólogos, etnógrafos, arquitetos, entre outros tantos pesquisado-
res, que visitam as tribos remanescentes nos nossos dias e, a partir 
destes dados, tentam identificar o que ainda é original de seus an-
tepassados; quais costumes e tecnologias foram mantidas através 
do tempo e podem servir como testemunho de costumes da época; 
para que possamos ver o que não foi transformado mediante o con-
tato com a civilização ou com os povos ditos “civilizados”; e quais 
costumes foram adquiridos e adaptados à realidade atual.
Todas essas obras contêm testemunhos de povos que desa-
pareceram ou mudaram seu modo de ser. Com base nesses estudos 
e relatos, é possível obter dados sobre o tamanho das comunidades, 
movimento das populações, relações entre as tribos e as influências 
externas sofridas. Face à ruptura demográfica e social promovida 
pela colonização portuguesa, é preciso entender que os padrões de 
organização social e de manejo dos recursos naturais das popula-
ções indígenas que ocupam o território brasileiro atualmente ofere-
cem indícios dos padrões das sociedades pré-coloniais.
Na realidade, o processo de colonização causou o extermínio 
de milhares de indígenas. Isso, porque o contato direto e indire-
to com os europeus deixa a população indígena exposta a diversas 
doenças por eles trazidas, além da violência contra os grupos que 
tentavam resistir à colonização. Com efeito, a população que se 
acredita ter sido de milhões caiu para cerca de 150 mil em meados do 
13
século XX. Apesar da impossibilidade de se quantificar a população 
indígena do período colonial com exatidão, o arqueólogo Eduardo 
Góes Neves indica estimativas de que “a população nativa do con-
tinente chegava, à época da conquista, a mais de cinquenta e três 
milhões de pessoas,XVIII
É sempre tarefa complicada encaixar as manifestações artísticas 
em “gavetas”, ou tentar colocar “etiquetas”, a partir de semelhan-
ças encontradas em diversos exemplares. Mas é isso que a história 
da arte e da arquitetura basicamente tenta fazer, seja para melhor 
compreender essas manifestações e suas relações com outros as-
pectos da história (social, política, econômica etc.), seja para faci-
litar o ensino.
Apesar dos estilos característicos do século XVIII serem o 
barroco e o rococó, já abordados até aqui, há historiadores que iden-
tificam outros, em função de suas peculiaridades, que podem con-
figurar um afastamento dessas correntes principais. Vejamos então 
os chamados estilo pombalino e o estilo Aleijadinho.
O Estilo pombalino teve como matriz a arquitetura erigida na 
reconstrução de Lisboa, promovida pelo Secretário de Estado, Mar-
quês de Pombal, logo após o terremoto de 1755. Por contenção de 
despesas e pela necessidade de rápida solução, foi empregada uma 
forma de construção mais simplificada, mais rígida, retornando à 
matriz clássica. Tais construções foram caracterizadas pelas facha-
das planas e inteiramente revestidas em pedra, com ornamentação 
concentrada nas portadas, painéis e sobrevergas, torres em forma 
de bulbo e frontões contracurvados com terminação em ápice, como 
os que vemos no Rio de Janeiro, nas igrejas da Ordem Terceira do 
Carmo e de São Francisco de Paula. Nos interiores, predomina o re-
vestimento em mármore, ou a pintura marmorizada.
98
Mas o estilo desenvolve-se, aqui no Brasil, de forma particu-
lar. Nos interiores há a preferência pela talha, mas sem o trabalho 
de douramento, adotando-se a decoração rococó, já nas fachadas, a 
preferência se dá pelo emprego do contraste da pedra com o bran-
co, como na Igreja da Candelária no Rio de Janeiro. Sobre essa igre-
ja e seu caráter criativo, descrevem Carvalho et al. (2000, p.10): “A 
leveza da sua composição resulta em grande parte do movimento 
suave e ondulante obtido pela diferença na altura e no perfil das so-
brevergas curvas dos vãos, cuja forma é enfatizada pelos painéis de 
cantaria que as encimam”.
A Igreja da Ordem Terceira do Carmo, da qual destacamos 
anteriormente suas feições barrocas da fachada, impressas na cor-
nija, no frontão e nos capitéis de ordem gigante, são mais especifi-
camente enquadradas por Oliveira (2001), como características do 
pombalino. Não é um erro ou um contrassenso estas duas visões, 
já que o pombalino pode ser classificado como um barroco tardio, 
sendo esse o gosto empregado nas reconstruções lisboetas.
Conta a autora que as formas do pombalino aqui aportaram 
sobretudo pelos elementos ornamentais de pedra lioz, importados e 
vindos de Portugal como lastro dos navios comerciais. Não por aca-
so, ele ocorre somente em duas cidades brasileiras que por conjun-
tura política estiveram mais ligadas à Lisboa nesse período: o Rio 
de Janeiro, transformada em capital dos vice-reis a partir de 1763, 
e Belém do Pará, capital do extremo Norte, que teve como governa-
dor, a partir de 1751, um irmão do Marquês de Pombal.
Além da introdução dos elementos em pedra lioz em Belém, 
marco fundamental na adoção do estilo pombalino nessas terras, 
outro fator importante foi a presença do arquiteto italiano Anto-
nio Giuseppe Landi, que ali permaneceu por quase quatro décadas, 
desde 1753. Suas primeiras intervenções ocorreram em igrejas com 
construção já adiantada, de planta retangular, onde, além das por-
tadas e molduras já previstas em projeto, adicionou frontões con-
tracurvados e coroamentos de torres de inspiração bolonhesa (sua 
terra de origem). O projeto da Matriz de Santana e o da Igreja de 
São João Batista são integralmente concebidos por ele, conectan-
do- se diretamente à tradição italiana, configuradas com plantas de 
99
espaços centralizados com cúpulas e sem torres, apesar da primeira 
tê-las recebido posteriormente (OLIVEIRA, 2001).
O Estilo Aleijadinho foi o termo cunhado pelo historiador 
John Bury, em 1955, para delimitar as obras do Mestre Aleijadinho, 
já que elas apresentam traços tanto barrocos quanto rococós, não 
se encerrando, assim, em nenhum dos dois estilos. Abarca um total 
de cinco construções que são a ele integralmente atribuídas: Igrejas 
da Ordem Terceira do Carmo e de São Francisco de Assis em Ouro 
Preto; as de mesmo nome em São João del-Rei; e o adro da Igreja 
de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo. Cabe dizer, 
contudo, que Aleijadinho também executou trabalhos em outras 
obras, mas esses de forma parcial, sendo interpretado como mode-
los de transição pelo historiador.
O estilo teve caráter ocasional, de forma que seu momento 
criativo se restringe, basicamente, ao último quartel do século XVIII. 
Poucos artistas aderiram. Além do próprio Aleijadinho, os pedreiros 
Domingos Moreira de Oliveira e Francisco de Lima Cerqueira, bem 
como o pintor Manoel da Costa Athaíde. O estilo não apresentava 
novidade em si, explica Bury (2001, p.117):
A originalidade está em sua combinação, na maneira como 
foram empregadas. O aspecto mais nítido e marcante é a ornamen-
tação externa esculpida em alto-relevo, essencialmente associada à 
atuação do próprio Aleijadinho. A pedra-sabão local [...] permite que 
seja trabalhada tão facilmente quanto a madeira, o que possibilitava 
aos escultores mineiros a obtenção de efeitos ornamentais e delica-
deza extraordinárias.
Bury (2006) considera a expressão máxima da obra de Aleija-
dinho, representando-o de modo mais completo, a igreja São Fran-
cisco de Assis, de São João del Rei. Apesar da fachada apresentar o 
traçado habitual português para igrejas matrizes, os princípios do 
tratamento maneirista foram abandonados. Especialmente nas tor-
res, onde apresentam formato cilíndrico, e são encimadas por cú-
pulas semi-ovais coroadas por obeliscos. A nave da igreja é elíptica 
e a porta principal é precedida por uma escadaria monumental, com 
acesso ao adro.
100
O autor delineia, em linhas gerais e do ponto de vista arqui-
tetônico, como traços típicos do estilo, o tratamento refinado da or-
namentação de fachadas e os efeitos alcançados pelo uso de seções 
curvas nas paredes, combinadas de forma harmônica entre si, e com 
as superfícies planas adjacentes.
Processo de urbanização no Brasil colonial 
(1750-1822)
A descoberta do ouro na Capitania de Minas Gerais contribuiu para o 
processo de interiorização do Brasil. Os locais de mineração passa-
ram a atrair pessoas de todos os tipos. Nos primeiros anos, “diversos 
arraiais nasceram e desapareceram, alguns sem deixar notícias de 
sua existência” (MENDES et al, 2010a, p.35), pois tratava-se do ouro 
de aluvião, que rapidamente se exauriu. Somente com a exploração 
das minas de ouro e diamante, ocorreu de fato a fixação de arraiais, 
normalmente no fundo dos vales e próximos às regiões de interes-
se, erigindo-se neles construções mais duradouras. Nesse período, 
apareceram núcleos urbanos como Vila Rica (atual Ouro Preto), Vila 
do Carmo (atual Mariana), São João del-Rei, entre outros.
Contribuíram também para esse processo de interiorização, 
os bandeirantes, que faziam expedições em busca de metais precio-
sos e de índios; e a pecuária, cujo produto, que servia à força tração 
e à alimentação, era necessário tanto nas regiões mineiras, como 
nas fazendas de cana-de-açúcar ainda existentes. Surgiram assim, 
vilas nas estradas e caminhos que compunham a rota do ouro (in-
clusive na sua conexão com os portos escoadouros), bem como nos 
da rota do gado (cuja criação se dava em áreas longínquas, como 
no sertão da paraíba e nos pastos na região sul, gerando longos 
deslocamentos).
A importância econômica da região mineira acabou contri-
buindo ainda mais com a transferência da capital para o Rio de Ja-
neiro, em meados do século XVIII, pela maior proximidade do novo 
polo econômico. Essa mudança, associada também aos movimentos 
migratórios, acabou “esvaziando de importância” regiões, até en-
tão, prósperas do Nordeste brasileiro,como a Bahia.
101
Esses processos marcam uma nova etapa de urbanização no 
Brasil, com o rápido aparecimento de cidades e vilas, especialmente 
ao longo dessas rotas, a partir da segunda metade do século XVIII.
A rapidez com que surgiram as vilas mineiras ajudam a ex-
plicar o traçado irregular de sua malha, aspecto fortalecido pelas 
necessidades de adequação topográfica, entre morros e vales. Mas, 
além de Minas, foram muitas as vilas que surgiram ao longo do sé-
culo XVIII, decorrentes de processos diversos. Santos (1968) nos 
fornece um panorama amplo de exemplos, que evidenciam a di-
versidade de suas origens: Goiás (hoje Goiás Velho) e Cuiabá foram 
fundadas por bandeirantes; Manaus e Macapá foram fundadas nas 
proximidades de fortificações; Barcelos foi fundada por religiosos 
da ordem carmelita; e Mazagão, por um “mameluco aventureiro 
‘audacioso e intrépido’” (SANTOS, 1968, p.63).
Percebe-se, sobretudo a partir da metade do século XVIII, 
a preferência pelos traçados ortogonais naqueles núcleos urbanos 
implantados a partir de projetos, tanto por influência da Engenharia 
Militar quanto pela proximidade dos modelos hispânicos de cida-
des. Santos (1968) observa que a opção pelo desenho xadrez perfei-
to, seguida pelos militares se deve à essa influência hispânica, num 
momento marcado pelas aproximações entre os dois povos, espe-
cialmente em função do Tratado de Madri (1750), que ensejou tra-
balhos relativos à demarcação das novas fronteiras. Pará, Amazonas 
e Mato Grosso foram percorridos pelos engenheiros da Comissão de 
Demarcação, onde, dentre outros, estava Landi, que, como já vimos, 
teve grande destaque no projeto de igrejas em Belém.
Propagou-se, assim, a malha xadrez, cuja rigidez só era dis-
torcida em função da presença de acidentes geográficos. Esse foi o 
caso, por exemplo, de Mazagão (AP), elevado a vila em 1770, cuja 
monotonia da malha xadrez foi rompida pela necessária adequação 
aos alagadiços, igarapés etc. Mas não foi o caso de Vila Bela da San-
tíssima Trindade (MT), cujo terreno permitiu a implantação do tra-
çado retilíneo quase perfeito, com a praça quadrada e ruas partindo 
ortogonalmente dos cantos, seguindo quase à risca os traçados his-
pânicos como os de Buenos Aires e Santiago do Chile. (SANTOS, 
1968).
102
Os estilos arquitetônicos eram empregados nas construções 
de maior porte – nas construções religiosas ou das classes mais 
abastadas. No geral, a arquitetura de menor porte seguia um padrão 
muito semelhante ao do século anterior, isto é, com a edificação co-
lada nas divisas laterais e frontal do lote, espaço ao fundo para o 
quintal, e coberta com telhado capa e canal com cumeeira paralela à 
rua. Explica essa persistência a configuração da própria sociedade, 
ainda escravocrata, que mantinha o mesmo esquema de uso das ha-
bitações e os mesmos métodos construtivos tradicionais.
A implantação no lote praticamente não se alterou, seguiu-se 
o mesmo padrão por praticamente todo o período colonial. Algumas 
pequenas alterações foram sendo realizadas, sobretudo em função 
de novos materiais. Reis Filho evidencia algumas, ao descrever um 
conjunto de sobrados daquela época ainda existente na rua do Cate-
te, no Rio de Janeiro:
Sua aparência difere apenas em pequenos de-
talhes das construções coloniais. Em alguns a 
porta de entrada, maior do que as outras, ocu-
pando posição central, abre para um saguão 
relativamente amplo, valorizado por barras 
de azulejos coloridos e pela presença de uma 
escada de madeira torneada. Em outros, como 
nos velhos modelos descritos por Debret, essa 
passagem corresponderia ao acesso às es-
trabarias do quintal e abrigo para carruagens 
(REIS FILHO, 1997, p. 36).
A economia mineradora ajudou a conformar áreas com uma 
população de caráter expressivamente urbano. O fluxo de metais e 
pedras preciosas promoveu o enriquecimento de camadas da po-
pulação residentes nas vilas e cidades; além do incremento e da 
diversidade de atividades comerciais e relações sociais que ali se es-
tabeleciam. Ocorreu, assim, um processo de adensamento das áreas 
urbanas que, sem uma infraestrutura de serviços adequada, piorou 
a qualidade de vida da população residente. Desse modo, no século 
XVIII, apareceu a tipologia das casas de chácaras, um meio termo 
entre a morada urbana e a rural, localizadas nas periferias das vilas e 
cidades, para onde se deslocou a população mais abastada (MENDES 
103
et al., 2010a). O novo arranjo resolvia a questão de abastecimento, 
constantemente em crise nas zonas urbanas. Nas chácaras, além 
da criação de alguns animais e da plantação de subsistência, alia-
ram-se as vantagens da proximidade aos cursos d’água, suprindo 
a carência dos equipamentos hidráulicos das áreas urbanas (REIS 
FILHO, 1991).
Somente com a vinda da família real, em 1808, e a conse-
quente abertura dos portos às nações amigas, naquele mesmo ano, 
é que ocorreram alterações mais significativas nos esquemas de im-
plantação e configuração arquitetônica, viabilizadas pela introdu-
ção em massa de novos materiais construtivos. Além disso, um novo 
estilo arquitetônico começa a despontar no início do século XIX: o 
neoclássico.
O filme brasileiro Carlota Joaquina, princesa do Brasil conta a história da 
rainha, esposa de Dom João VI, registrando sua vida na corte portu-
guesa e depois em terras brasileiras. Recomendamos o filme não só 
pela diversão, mas também pelo registro e reconstituição de época, 
fornecendo um bom retrato do Brasil em princípios do século XIX.
Introdução ao neoclassicismo
O neoclassicismo é o nome dado ao estilo arquitetônico que reto-
ma a matriz clássica da Antiguidade greco-romana, já interpretada 
pelo Renascimento. Pautado nos ideais iluministas e classicizantes, 
Rocha-Peixoto (2000), identifica sua entrada no Brasil ainda em 
meados do século XVIII, interpretando alguns exemplares arqui-
tetônicos associados ao estilo pombalino por outros autores como 
neoclássico. Foi principalmente por meio do Marquês de Pombal 
que uma nova racionalidade se instalou oficialmente no país.
DICA
104
No entanto, podemos dizer que somente a partir da chega-
da da família real ao Brasil, em 1808, o neoclassicismo começa a se 
firmar como tendência da arquitetura oficial, especialmente no Rio 
de Janeiro, cidade que comportou os membros da coroa portuguesa 
e sua comitiva. Some-se a esse evento, a vinda da Missão Francesa, 
logo após, em 1816, e a abertura da Academia Imperial de Belas Ar-
tes, em 1826, que tiveram papéis fundamentais e estruturantes na 
aceitação e propagação desse estilo, que vigorou ao longo de quase 
todo o século XIX.
A arquitetura neoclássica, difundida pela Academia, era mar-
cada pela composição rígida de elementos tomados do vocabulário 
clássico, caracterizado pela simplicidade das formas e constância 
das proporções (ROCHA- PEIXOTO, 2000, p.34). Essas caracterís-
ticas eram mais facilmente perceptíveis nas construções de cará-
ter excepcional, como edificações públicas e residências da classe 
dominante. Entre o casario do centro da cidade, a adoção do estilo 
limitou-se, quando muito, ao emprego simplificado do vocabulá-
rio clássico, que passava a revestir superficialmente construções já 
existentes.
No que diz respeito a essa arquitetura popular, modificações 
mais significativas se deram sobretudo em função da entrada em 
maior volume de materiais de construção, como o ferro e o vidro. 
A possibilidade da execução de calhas, por exemplo, permitiu es-
conder os telhados pelo uso das platibandas, bem como a execução 
de desenhos mais elaborados de cobertura. Assim, as construções 
urbanas ao longo do século XIX foram progressivamente se afas-
tando das divisas, recebendo aberturas nas fachadas laterais, que 
passaram a iluminar e ventilar cômodos que antes permaneciam na 
penumbra. Entretanto, para essa introdução, vamos nos concentrar 
na arquitetura erudita, aquela que serviu ao gosto oficial do recém-
-instaurado Império do Brasil.
Características do Neoclassicismo no Brasil:◼ influência das ideias do Iluminismo, ligadas à razão;
 ◼ valorização de temas e padrões estéticos da arte;
 ◼ clássica da Antiguidade Ocidental;
105
 ◼ valorização da simplicidade e pureza estética, em contraste 
com o Barro e o Rococó.
O sistema Beaux-Arts
Retomemos antes, como era o ensino da arquitetura e da engenha-
ria na França e que constituiu a base de referência para o neoclas-
sicismo brasileiro. O denominado Sistema Beaux-Arts surgiu em 
princípios do século XIX, fruto da união dos processos de projeto da 
École des Beaux-Arts e da École Polytechnique. Segundo Mendes et 
al. (2020b), os arquitetos da École des Beaux-Arts se pautavam num 
processo de projeto com base na composição tipológica, cujo re-
pertório era buscado nos partidos da Antiguidade Clássica, ou seja, 
templos, panteões, arcos do triunfo, basílicas etc. A preferência por 
essa linguagem e repertório vinha de encontro à necessidade de re-
presentar os regimes políticos – de base republicana –, surgidos 
após as Revoluções Francesa e Americana, erigindo-se monumen-
tos de ares clássicos imponentes e destacados na paisagem.
Já os engenheiros da École Polytechnique se baseavam em 
um método de projeto criado pelo professor Jean-Nicolas- 
Louis Durand, em que tomava por base a coluna como elemento de 
comando da composição. Projetava- se a partir de um quadrado re-
ticulado, de forma que “a planta era caracterizada pela modulação, 
simetria axial e ritmo constante, determinando sempre o sistema 
construtivo que poderia ser composto de paredes, arcadas, corpos 
de edifícios, pátios interior” (MENDES et al, 2010b, p.37). O método 
atendia às necessidades das novas tipologias arquitetônicas surgi-
das durante a Revolução Industrial, entre o século XVIII e XIX, como 
fábricas, estações ferroviárias, hospitais, escolas, entre outros. Pelo 
método, os engenheiros livraram-se da necessidade de relacionar a 
linguagem da construção à alguma referência da Antiguidade, con-
ferindo grande flexibilidade aos arranjos.
Os modelos tipológico e metodológico de composição se uni-
ram e formaram o sistema Beaux-Arts, que foi usado durante todo 
o século XIX. Mendes et al. (2010b), ainda explicam que, para que 
o processo tipológico não ficasse esvaziado, Quatremère de Nancy 
106
criou os conceitos de decoro, linguagem e caráter próprio, atributos, 
que deveriam ter a obra arquitetônica, como elementos prévios ao 
processo projetivo. Essas diretrizes se somaram à metodologia de 
Durand.
Missão Francesa e a linguagem acadêmica
No Brasil, o estilo neoclássico passou a vigorar efetivamente a partir 
do funcionamento da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de 
Janeiro, isto é, já depois da Proclamação da Independência. A Missão 
Francesa, chefiada por Joachim Lebreton, trouxe uma leva de artis-
tas para o país, dentre os quais estava Jean-Baptiste Debret, pintor 
e desenhista, cujos registros, até hoje, nos ajudam a delinear como 
era a vida em terras brasileiras nas primeiras décadas do século XIX. 
Entre outros, veio também, o único arquiteto da comitiva, Grand-
jean de Montigny, a quem pode ser atribuído o papel de responsável 
pela introdução do ensino regular de arquitetura no país.
Em termos de linguagem, o neoclassicismo rejeitava a pro-
fusão ornamental do rococó e do barroco tardio, prezando por uma 
linguagem mais simples e austera. No entanto, “não significou a re-
jeição de qualquer forma de ornato, mas apontou para a escolha dos 
temas decorativos passíveis de serem racionalmente justificados” 
(ROCHA-PEIXOTO, 2000, p.26). A linguagem era formada a par-
tir do vocabulário clássico, ajustado dentro de um rígido padrão de 
composição, conforme os preceitos do Sistema Beaux-Arts.
O Rio de Janeiro, por sua centralidade e importância política 
naquele momento, tornou-se o centro irradiador da tendência clas-
sista. A instalação da família real na cidade deu início a uma série de 
transformações urbanas e incrementou as atividades econômicas. 
Instaurou-se sem dúvida uma nova urbanidade. Foram criadas ins-
tituições como o Banco do Brasil, a Biblioteca Real e o Jardim Botâ-
nico. O neoclassicismo como linguagem arquitetônica atendia aos 
novos paradigmas e uma série de construções com essas feições de 
releitura clássica foram construídos na cidade, a exemplo do prédio 
da antiga Casa da Moeda (atual Arquivo Nacional), e da antiga Praça 
107
do Comércio (atual Casa França Brasil), esse último, projeto de au-
toria do próprio Grandjean de Montigny.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
 • aprofundar o conhecimento sobre o barroco brasileiro, a partir 
de suas escolas regionais, podendo perceber como a linguagem 
artística proveniente da Europa foi recebendo contornos e ca-
racterísticas locais;
 • conhecer o estilo rococó, um novo gosto artístico que teve seus 
reflexos aqui no Brasil já em fins do século XVIII, cuja preferên-
cia era por uma linguagem mais leve e suave se comparada aos 
tons fortes e carregados do barroco;
 • distinguir as características gerais do barroco e do rococó;
 • aprender sobre outros estilos que se desenvolveram no Brasil 
durante o século XVIII derivados das correntes predominantes: 
o estilo pombalino, em referência à arquitetura da reconstru-
ção de Lisboa e que ficou restrito ao Rio de Janeiro e à Belém do 
Pará; e o estilo aleijadinho, em referência à obra do Mestre An-
tônio Francisco Lisboa (Aleijadinho) e que ficou restrito à Minas 
Gerais;
 • compreender o processo de urbanização no Brasil a partir da se-
gunda metade do século XVIII, com a preferência pelo desenho 
urbano em malha xadrez, que podia apresentar pequenas dis-
torções a depender do sítio de implantação;
 • entender que houve pouca alteração na arquitetura popular, 
ordinária, que acabou mantendo as características do século 
anterior;
 • iniciar seus conhecimentos sobre o estilo neoclássico, sabendo 
sobre sua origem francesa e como passou a figurar como ten-
dência dominante, a partir de princípios do século XIX.
SINTETIZANDO
108
Referências Bibliográficas
Unidade 1
CAMINHA, P. V. A carta de Pero Vaz Caminha, 1500. Disponível em: 
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/carta.
pdf Acesso em: 15/01/2020.
COSTA, M. H. F. et. al.. “Habitação indígena brasileira”. In: RIBEI-
RO, Berta G. (Org.). SUMA etnológica brasileira. Petrópolis: Vozes, 
1986. p. 68,73-74.
COUTO, J. A construção do Brasil. Lisboa: Cosmos, 1995.
DERENJI, J. “Indígena”. In: MONTETEZUMA, Roberto (Org.) Arqui-
tetura Brasil 500 anos: uma invenção recíproca. Universidade Fede-
ral de Pernambuco, Recife, 2002.
GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1993.
IBGE. CENSO demográfico 2010. Disponível em: (IBGE, 2010). ht-
tps://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo? busca=1&id=3&idno-
ticia=2194&t=censo-2010-poblacao-indigena-896-9-mil-tem-
-305-etnias-fala- 274&view=noticia, Acesso em 07/12/2019.
ISA, Instituto Socioambiental. Povo Yawalapiti. 2019a. Disponível 
em: https://www.socioambiental.org/. Acesso em 07/12/2019.
_. Povo Karajá. 2019b. Disponível em: https://www.socioambiental.
org/. Acesso em 07/12/2019.
_. Povo Xavante. 2019c. Disponível em: https://www.socioambien-
tal.org/. Acesso em 07/12/2019.
_. Povo Timbira. 2019d. Disponível em: https://www.socioambien-
tal.org/. Acesso em 07/12/2019.
LADEIRA, M. E. Uma aldeia Timbira. In NOVAES, Sylvia Caiuby (Org.) 
Habitações indígenas. São Paulo: Nobel; Edusp, 1983.
109
MATTOSO, J. (Direção). América do Sul: Patrimônio de origem por-
tuguesa no mundo. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
MENDES, F.R. Arquitetura no Brasil: de Cabral a D. João VI. Rio de 
Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2011. MOUTINHO, M. C. A arquitec-
tura popular portuguesa. Lisboa: Editorial Estampa, 1979.
NEVES, E. G. “Os índios antes de Cabral: arqueologia e históriaindí-
gena no Brasil”. In: SILVA, Arací Lopes; GRUPIONI, Luís D.B. (Org.). 
A temática indígena na escola: novos subsídios para professores do 
1° e 2° graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995.NOVAES, S. C. (Org.). Habitações indígenas. São Paulo: Nobel; 
Edusp, 1983.
PERRONE-MOISÉS, L. Vinte Luas: viagem de Palmier de Gonneville 
ao Brasil 1503-1505. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
RIBEIRO, O. Geografia e civilização: temas portugueses. Lisboa: Le-
tra Livre, 2013.
SÁ, C. Observações sobre a habitação em três grupos indígenas bra-
sileiros. In NOVAES, S. C. (Org.). Habitações indígenas. São Paulo: 
Nobel; Edusp, 1983.
STADEN, H. Suas viagens e cativeiro entre os índios do Brasil. São 
Paulo: Nacional, 1945.
TEIXEIRA, M.l C. A forma da cidade de origem portuguesa. São 
Paulo Ed. Unesp: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012.
VELTHEM, L. H. Onde os Wayana penduram suas redes? In NOVAES, 
S. C. (Org.). Habitações indígenas. São Paulo: Nobel; Edusp, 1983.
Unidade 2
BURY,. Arquitetura e arte no Brasil Colonial. Brasília: IPHAN/Mo-
numenta, 2006
CARVALHO, C. et al. Guia da arquitetura colonial: introdução. 
In: CZAJKOWSKI, J. Guia da arquitetura colonial, neoclássica e 
110
romântica no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: Pre-
feitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2000.
CASTRO, A. H. F. “Fortaleza”. In: GRIECO, B. et. al. (Orgs.). Dicioná-
rio IPHAN de Patrimônio Cultural. 2. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro, 
Brasília: IPHAN/DAF/Copedoc, 2016a. (verbete).
CASTRO. “Forte”. In: GRIECO, B. et al. (Orgs.). Dicionário IPHAN 
de Patrimônio Cultural. 2ª ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro, Brasília: 
IPHAN/DAF/Copedoc, 2016b. (verbete).
MENDES, C. et al. Arquitetura no Brasil: de Cabral a Dom João VI. 
Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010. 
REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuições ao estudo da evolução 
urbana do Brasil (1500/1720). São Paulo: Editora da USP, 1968.
REIS FILHO. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Editora 
Perspectiva, 1997.
SENOS, N. A arquitectura portuguesa chã antes e depois de George 
Kluber. In: Revista Tritão, n.1, dezembro de 2012. Disponível em: 
www.revistatritao.cm-sintra.pt. Acesso em: 30/11/2019.
SANTOS, P. F. Formação de cidades no Brasil colonial. Coimbra: V 
Colóquio Internacional de Estudos Luso- Brasileiros, 1968.
SANTOS. P. F. Quatro séculos de arquitetura. Rio de Janeiro: IAB, 
1981.
WEIMER, G. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins 
Fontes, 2005.
Unidade 3
ALBERNAZ, M. P. et. al. Dicionário Ilustrado de Arquitetura. São 
Paulo: Pro Editores, 1997-1998. 1 v.
BURY, J. et al. Arquitetura e arte no Brasil colonial. Brasília: Iphan/
Monumenta, 2006. 256 p. Disponível em: http://portal.iphan.gov.
br/files/johnbury.pdf. Acesso em: 18 jul. 2022.
111
PACHECO, E. M. dos S. O papel das normativas na preservação e 
ocupação do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de São Luís – 
MA. Dissertação (Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) 
– PEP, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de 
Janeiro, 2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/
ckfinder/arquivos/Dissertacao_Ellis_Pacheco.pdf. Acesso em: 18 
jul. 2022.
REIS FILHO, N. G. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Pers-
pectiva, 1983.
SENADO FEDERAL; IPHAN. Cidades Históricas Inventário e Pes-
quisa: São Luís. Brasília: Senado Federal/IPHAN, 2007.
SILVA F, O. P. da. Arquitetura Luso-Brasileira no Maranhão. 2. ed. 
Belo Horizonte: Formato, 1998.
Unidade 4
BURY, J. et al. Arquitetura e arte no Brasil colonial. Brasília: Iphan/
Monumenta, 2006. 256 p. Disponível em: http://portal.iphan.gov.
br/files/johnbury.pdf. Acesso em: 18 jul. 2022.
CARVALHO, C. et al. Guia da arquitetura colonial: introdução. In: 
CZAJKOWSKI, Jorge. Guia da arquitetura colonial, neoclássica e 
romântica no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: Pre-
feitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2000.
MENDES, C. et al. Arquitetura no Brasil: de Cabral a Dom João VI. 
Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010a.
MENDES, C.et al. Arquitetura no Brasil: de Dom João VI a Deodoro. 
Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2010b. 
OLIVEIRA, M. A. R. Barroco e Rococó na arquitetura religiosa brasi-
leira. In: IPHAN. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Na-
cional, n.29, 2001.
OLIVEIRA, M. A. R. Barroco e Rococó nas igrejas do Rio de Janeiro. 
Brasília: IPHAN / Programa Monumenta, 2008.
112
SANTOS, P. F. Formação de cidades no Brasil colonial. Coimbra: V 
Colóquio Internacional de Estudos Luso- Brasileiros, 1968.
REIS FILHO, N. G. Contribuições ao estudo da evolução urbana do 
Brasil (1500/1720). São Paulo: Editora da USP, 1968.
REIS FILHO, N. G. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Edi-
tora Perspectiva, 1997.sendo que só a bacia Amazônica teria mais de 
cinco milhões e seiscentos mil habitantes” (NEVES, 1995, p. 173). 
Tais figuras não são, no entanto, aceitas unanimemente, já que os 
documentos usados para a elaboração dessas estimativas não for-
necem dados exatos.
Calcula-se que antes do “descobrimento” eram faladas mais 
de 1300 línguas nativas. Atualmente, são contabilizadas 274 lín-
guas pelo IBGE, mas muitas delas correm risco de desaparecer, pois 
possuem poucos falantes e não estão devidamente documentadas. 
As línguas indígenas se dividem em dois grandes troncos linguísti-
cos, o tupi e o macro-jê. O total de tribos classificadas chega a 216 
(IBGE,2010).
Os povos indígenas brasileiros são formados por diferentes 
grupos étnicos, que formam parte do grupo maior dos povos ame-
ríndios que habitam o Brasil. Estudos arqueológicos recentes esta-
belecem a chegada dos primeiros habitantes do Brasil à Bahia e ao 
Piauí entre 20 mil e 40 mil anos atrás.
No início do século XVI, quando tem início a colonização 
do Brasil, a população nativa era composta por tribos seminôma-
des que viviam da coleta, caça, pesca e agricultura de subsistência. 
Periodicamente, a aldeia mudava de lugar, conforme os recursos 
naturais das regiões ocupadas se esgotassem. Essa transferência 
permitia que as áreas, antes ocupadas e exploradas pelas tribos, ti-
vessem tempo de se recuperar e voltar a produzir.
14
Formas de morar e viver dos indígenas
Figura 1 - Indígenas brasileiros 
Fonte: Shutterstock.
#PraCegoVer: Na imagem, há 3 índios fazendo um ritual.
Os povos ameríndios espalhados pelo continente americano 
possuem características bastante diversas, algumas delas baseadas 
no ambiente em que existiam. Em outros países da América do Sul, 
os ameríndios desenvolveram uma arquitetura bastante diversa dos 
povos situados no Brasil e países limítrofes. As construções andi-
nas de pedra e outras construções de material duradouro, como a 
argila, descobertas pelos arqueólogos, são testemunhos de civiliza-
ções altamente desenvolvidas, urbanas e letradas, que viviam em 
uma sociedade complexa e com alta capacidade tecnológica. Alguns 
grupos chegaram a desenvolver grande poderio militar e riqueza 
material, realizando grandes obras de engenharia para adequação 
do ambiente natural ao seu redor. Os povos radicados no Brasil, se-
parados dessas culturas intensamente aprimoradas, permaneceram 
15
silvícolas e seminômades e, assim, desenvolveram uma arquitetura 
leve e relativamente “efêmera”, em acordo com o modo de vida de-
les, construída a partir dos materiais disponíveis e de rápida cons-
trução, já que a aldeia mudava de lugar de acordo com a época do 
ano. Desse modo, o domínio das técnicas de fabricação, tanto de 
artefatos quanto de arquitetura, foi essencial para a adaptação das 
tribos brasileiras ao meio ambiente (COSTA e MALHANO, 1986).
O granito, encontrado em grande quantidade no Norte de Portu-
gal, era uma matéria-prima muito utilizada na construção castreja, 
mesmo antes dela e também depois pelos romanos, que permanece 
até os dias de hoje. Existe, em função do uso de matérias-primas 
distintas na arquitetura, a definição de civilização do granito para 
a região norte e civilização do barro para região sul (RIBEIRO, 2013, 
p.17-45).
Aldeias
É preciso definir os termos estabelecimento, aldeia e casa, para 
avançar em relação ao estudo dos tipos de construções indígenas. O 
estabelecimento compreende toda a área usada pela tribo, incluin-
do locais de caça, água, onde pescam ou se banham, e também os 
caminhos que levam a eles. A aldeia engloba o conjunto de casas, a 
área comum, chamada de praça e os caminhos que percorrem esses 
dois espaços. Já a casa, é a construção que abriga as famílias e seu 
tamanho e a quantidade de habitantes varia de acordo com a tribo.
De forma geral, as tribos se apresentam como sociedades co-
munais, descentralizadas, mas com certo grau de hierarquia com 
papéis sociais nítidos e divisão de trabalho entre homens e mulhe-
res. As tribos são compostas por várias aldeias ligadas por paren-
tesco ou interesses comuns. A forma das aldeias varia em função 
FIQUE DE OLHO
16
das tradições relativas a cada tribo. Podemos classificá-las confor-
me a planta de situação em três tipos: aldeias circulares, lineares e 
retangulares.
O formato da planta de situação das aldeias circulares pode 
variar entre o círculo fechado, dois semicírculos ou arco de círculo. 
A planta circular de situação é amplamente difundida, sendo en-
contrada na Amazônia, na região da bacia do Rio Xingu e na região 
central do país, no planalto Mato-Grossense. Na época do “desco-
brimento” era o modelo utilizado pelos Tupinambás (Tupi) da faixa 
litorânea. Muitas das aldeias de conformação circular apresentavam 
uma paliçada exterior circundando a aldeia e outra “paliçada inter-
na, em forma de linha poligonal quebrada” (COSTA e MALHANO, 
1986, p. 29).
Os Yawalapiti vivem no Alto Xingu, sua população atual é 260 
pessoas e pertence ao tronco linguístico aruak. O primeiro contato 
historicamente registrado dos Yawalapiti com não indígenas ocor-
reu em 1887, quando foram visitados pela expedição do etnólogo 
alemão Karl von den Steinen. (ISA, 2019a). Seguindo o padrão alto- 
xinguano, a aldeia yawalapiti é circular. As casas são dispostas ao 
redor da praça, espaço destinado a atividades comunitárias como 
celebrações, rituais, assembleias, entre outras. No centro da pra-
ça fica localizada a casa-dos- homens ou casa das flautas e é nesta 
casa que os homens se reúnem para realizar atividades exclusiva-
mente masculinas. A entrada das mulheres é proibida, salvo em al-
gumas ocasiões. A casa das flautas tem construção semelhante às 
residências, as flautas sagradas apapálu ficam penduradas na viga 
mestra e são utilizadas nos rituais da tribo.
As casas abrigam várias famílias, aparentadas entre si e seu 
tamanho varia de acordo com o número de moradores. Cada casa 
forma uma unidade autônoma em relação às outras e contam com 
uma cozinha e um depósito de alimentos comuns a todos habitantes. 
No espaço interno da casa as famílias armam redes contiguamente. 
À noite, a casa é fechada com portas feitas de madeira e palha e cada 
família acende uma pequena fogueira próxima a suas redes para re-
gular a temperatura interna.
17
As aldeias lineares são alinhadas paralelamente às margens 
do rio, em uma ou duas fileiras de casas. A circulação principal é fei-
ta em frente as casas por um caminho que ladeia o rio e um caminho 
secundário contorna a parte de trás. A casa-dos-homens fica a uma 
certa distância das casas e possui um caminho de acesso separado 
dos outros. As aldeias Karajá estão localizadas nos Estados do To-
cantins, Mato Grosso, Goiás e Pará. Os Karajá, atualmente, têm uma 
população de 3768 pessoas e suas aldeias, antigas e recentes, são 
constituídas de alinhamentos de casas paralelas ao rio Araguaia, 
podendo ocorrer um, dois ou mais arruamentos formados pelas fi-
leiras de casas; ou ainda, uma única fileira.
Antigamente, a aldeia dos Karajá não era fixa variando sua 
localização de acordo com a época do ano. Na estação das chuvas, 
as casas eram construídas afastadas das margens do rio, possuíam 
estrutura de madeira e a cobertura de palha cobria toda a casa, até o 
chão. Na estação seca eram construídas casas mais simples, cons-
truções estacionais, por estarem próximas das margens do rio, fa-
cilitavam o abastecimento de água e a pesca. Atualmente, esse ciclo 
de construção estacionais foi abandonado e as aldeias se fixaram em 
locais permanentes.
Entre os textos etnográficos mais antigos, há a rica descri-
ção de Paul Ehrenreich, que visitou os Karajá em 1888, depois de 
ter participado da segundo viagem de Karl von den Steinen ao Alto 
Xingu. Lançado em Berlim em 1891, seu trabalho foi traduzido para 
o Português por Egon Schaden e publicado com introdução e notas 
de Herbert Baldus em 1948, com o título Contribuições para a Etno-
logia do Brasil, que se inicia com a seção“As tribos Karajá do Ara-
guaia (Goiás)”. Depois temos a descrição bastante confiável de Fritz 
Krause, que viajou pelo Araguaia em 1908 e publicou Nos sertões do 
Brasil. Instituto Socioambiental (ISA, 2019b).
A tribo dos Xavante tem uma população de cerca de 13.000 
pessoas abrigadas em diversas Terras Indígenas que constituem 
parte do seu antigo território de ocupação tradicional há pelo menos 
180 anos, no estado do Mato Grosso. Segundo o Instituto Socioam-
biental (ISA, 2019c), o povo Xavante se dividia entre uma aldeia base 
e acampamentos temporários, construídos ao longo do ano, duran-
te as migrações. As tribos se deslocavam por grandes distâncias, 
18
pois viviam em meio a um conjunto de bacias hidrográficas respon-
sáveis pela rica biodiversidade regional. Suas viagens eram longas, 
chegando a durar vários meses. Os grupos de viajantes se encon-
travam em grandes aldeias semipermanentes para realizar rituais 
e atividades coletivas. Mesmo esses acampamentos temporários 
mantinham a composição original da aldeia base na forma de uma 
ferradura. Os grupos se mantinham em comunicação por meio de 
sinais de fumaça, para que pudessem se reunir durante e também 
ao final da expedição. Atualmente, o modo de vida seminômade foi 
abandonado pelos Xavante, pois grandes pedaços das terras habita-
das pelos grupos foram ocupados pela agropecuária extensiva, em 
especial a produção de soja.
Tipos de casas
Apesar das semelhanças nos métodos construtivos e matérias-pri-
mas empregadas pelas tribos brasileiras, é possível identificar as 
construções pertencentes aos diferentes grupos, pois tanto no nível 
ecológico como no social e no religioso, assim como nos meios de 
adaptação às características do terreno de implantação, as cons-
truções apresentam uma grande diversidade. A escolha do sítio, o 
tempo de permanência no local, a quantidade de famílias que habi-
tarão a casa e suas funções são fatores determinantes da forma final 
e variam de acordo com a tradição cultural de cada um dos povos.
Sem dúvida, o material usado para a construção de casas e 
abrigos varia pouco: a matéria-prima é a madeira para esteios e tra-
vessões, as folhas de palmeira para a cobertura e as tiras de embira 
para a amarração. Mesmo assim, podemos imediatamente reco-
nhecer uma casa Xavante e distingui-la de uma casa Yawalapiti.
Para uma compreensão adequada da função deste espaço ar-
quitetônico, a casa deve ser considerada parte de contexto etnográ-
fico mais amplo, em conjunto com os outros espaços ocupados pela 
tribo. As casas são pensadas em conjunto com os caminhos, praça 
e outras casas, não de maneira isolada. Para os grupos indígenas é, 
em geral, a aldeia o ponto para elaboração da identidade, um espaço 
19
mais amplo que vai além das casas, englobando toda comunidade e 
o espaço territorial ocupado pelo grupo (SÁ, 1983, p. 119-125).
As grandes casas Tukano abrigam uma comunidade inteira 
que, em seu interior, desenvolve tanto atividades cotidianas quanto 
grandes rituais. Neste caso, a importância atribuída à casa manifes-
ta-se no requinte arquitetônico e decorativo. Para outros povos, a 
casa pode ser vista simplesmente como uma unidade, com funções 
específicas, dentro de um contexto espacial habitado mais amplo, 
como a aldeia, ou mesmo o território tribal, quando se trata de gru-
pos seminômades.
Embora as sociedades indígenas sejam muito diferentes 
umas das outras, é possível afirmar que, entre elas, não existe um 
alto grau de especialização do espaço. Isso não significa que o espa-
ço nas sociedades indígenas seja homogêneo e indiferenciado, mas 
indica uma grande integração entre as atividades realizadas pelo 
grupo. O espaço de trabalho, convívio familiar, lazer e outros são 
sobrepostos coexistindo de forma harmoniosa.
Algumas técnicas de construção, que otimizam os espaços 
habitados, são comuns a muitas tribos. Normalmente as casas têm 
um pé direito alto que facilita a ventilação do interior e funciona 
como uma espécie de chaminé, levando a fumaça das fogueiras para 
o alto, liberando a parte baixa habitada. As portas de entrada são 
baixas dificultando, propositalmente, o acesso por questões de se-
gurança. A ausência de janelas e pouca altura das entradas mantêm 
o ambiente escuro afastando os insetos. Quando necessário, faz-se 
uma abertura temporária para a iluminação diurna.
Nas casas de moradia, as entradas anterior e posterior cor-
respondem a espaços com funções específicas, decorrentes da divi-
são sexual de áreas e do conceito de espaço público e privado. Assim, 
as áreas de domínio masculino – abertas aos visitantes – são aque-
las situadas à entrada principal da casa. As áreas de domínio femini-
no se localizam em setores mais resguardados (COSTA e MALHANO, 
1986, p. 68,73-74).
Para facilitar o estudo, as casas indígenas serão divididas em 
grupos, considerando suas diferentes tipologias, classificadas em 
20
cinco tipos básicos: casas com planta baixa circular, planta elíptica, 
retangular e poligonal.
As casas de planta circular são comuns em vários grupos 
indígenas, apresentando uma grande variação na distribuição in-
terna dos espaços, dos elementos estruturais e no formato de suas 
coberturas. As versões mais simples são compostas por apenas um 
elemento estrutural central de onde partem uma série de caibros 
flexíveis (taquaras cortadas ao meio), enterrados no solo formando 
uma cúpula, nos quais são atadas com cipó taquaras no sentido ho-
rizontal, sobre as quais serão presas as folhas de palmeira formando 
a cobertura. Um exemplo deste tipo de construção é a casa Xavante, 
que possui um diâmetro de aproximadamente 7 metros altura de 4,5 
metros com apenas uma abertura voltada para o centro da aldeia. 
Nesses espaços, podem viver duas ou três famílias (DERENJI, 2002, 
p. 41).
Outro exemplo de casa de planta circular é a casa Tukussi-
pan da tribo Wayana. A Tukussipan ocupa o centro da aldeia e exerce 
duas funções, a de casa-dos-homens e a de acolher grupos visitan-
tes durante as festividades.
A Tukussipan possui planta circular com diâmetro de apro-
ximadamente 10 metros e altura total de 2 metros. Possui o teto em 
formato de cúpula e em seu centro o esteio central atravessa a co-
bertura e projetando-se por mais um metro e meio. É composta por 
oito esteios na periferia além do central e não possui paredes (VEL-
THEM, 1983, p. 171-177).
As casas xinguanas dos Yawalapiti são belos exemplos de 
construções de planta elíptica. As proporções e a forma da casa tra-
dicional xinguana variam, ligeiramente, de uma aldeia para outra e 
sua construção dura em torno de seis meses. Essas casas têm uma 
dimensão de aproximadamente 28 m de comprimento por 13 m de 
largura e altura de 8 m. Sua estrutura é formada por cinco pilares de 
madeira (ou esteios) com 50 cm de diâmetro e 10 metros de compri-
mento. Os pilares recebem as peças da cumeeira e quatro estruturas 
em X, que fazem o apoio intermediário da cobertura, formando a 
estrutura da casa. A cobertura de palha se estende até o chão co-
brindo toda a construção, mas internamente a casa conta com uma 
21
parede formada por uma paliçada de troncos de 1,5 m de altura. Pos-
suem duas portas opostas centralizadas em relação a lateral maior 
(SÁ, 1983, p. 119-125).
As casas das aldeias Timbira têm, em geral, plantas de for-
mato retangular, tendo como frente um dos lados maiores da cons-
trução que, dependendo do grupo, pode ter a cobertura formada por 
duas ou quatro águas, feita de folhas de babaçu ou inajá. Do mesmo 
material são feitas as paredes. Toda a ligação é feita por amarração 
com cipó. Todas as folhas de palmeira são aplicadas em posição ho-
rizontal, com os folíolos pendentes para um lado só.
Algumas vezes, as folhas são aplicadas em sentido vertical, 
de ponta para baixo e com os folíolos em posição natural. Segun-
do Ladeira, essa forma de construir parece ser a forma original dos 
Timbira construírem suas casas (LADEIRA, 1983, p. 22-27).
Os Timbira atuais estão localizados nos camposdo cerrado 
do Maranhão e de Goiás. Suas aldeias são construídas em lugares 
planos, em solo não pedregoso e perto de córregos d’água. Nas 
proximidades deve haver mata ciliar para os roçados; quando, em 
consequência das derrubadas anuais, esta mata se acaba, a aldeia 
é reconstruída em outro lugar, de acordo com o Instituto Socioam-
biental (ISA, 2019d). Os Timbira eram grupos seminômades, que vi-
viam da coleta e da caça se deslocando durante os períodos do ano 
por uma vasta região. Por esse motivo, construíam acampamentos 
temporários, formados por abrigos simples, e tinham uma cultura 
de produzir artefatos de palha (ainda hoje são produzidos), como 
cestos para transportar ferramentas e utensílios, bem como para 
armazenar alimentos.
As aldeias Timbira são circulares. Todas as casas estão loca-
lizadas a mesma distância do centro da aldeia de onde partem ca-
minhos ligando o centro a cada uma das casas. Um outro caminho 
circular passa pela frente de todas as casas, ligando umas às outras e 
formando dessa maneira uma divisão entre o espaço de produção da 
aldeia (produção doméstica das famílias e suas moradias), domínio 
das mulheres, e o pátio da aldeia, espaço dos homens.
As casas são fechadas por paredes de todos os lados, mas, em 
alguns casos, a casa pode ter a parte da frente total ou parcialmente 
22
aberta em substituição a porta frontal. A porta frontal está sempre 
voltada para o centro da aldeia e a ela corresponde uma porta dos 
fundos na parte de trás da casa (LADEIRA, 1983, p. 22-27).
Como exemplo de casas indígenas de planta poligonal temos 
a casa-aldeia dos Marúbo. Casa-aldeia ou maloca é uma casa uni-
tária que abriga toda a tribo e onde são realizados tanto os rituais 
quanto as atividades do dia a dia. Essas construções são mais co-
muns entre outras tribos da região amazônica situadas na bacia do 
Rio Negro, fronteira com a Colômbia, que habitam a região a mais 
de dois mil anos. Pertencem às famílias linguísticas: Aruak, Maku e 
Tukano.
Em algumas tribos a maloca possui divisões internas que se-
param as famílias, mas durante festividades ou cerimônias, essas 
divisórias internas são rearranjadas para dar espaço às danças dos 
homens adultos.
Os Marúbo vivem na terra indígena Vale do Javarí, junto com 
os Korubo, Mayá, Matis, Matsés, Kanamari, Kulina Pano, entre ou-
tros povos isolados. É uma região cheia de pequenas colinas ligadas 
entre si por cristas e coberta pela floresta amazônica.
As casas-aldeia dos Marúbo têm planta decagonal e são cons-
truídas no alto das colinas e rodeadas por roças. Cada casa abriga um 
grupo local.
Em volta do cimo da colina, onde está implantada a maloca, 
também existem casas sobre pilotis, que constituem depósitos ou 
oficinas. O tamanho da maloca é proporcional à quantidade de ha-
bitantes. A casa Marúbo, assim como as casas alto-xinguanas, são 
construções antropomórficas, tendo cada uma de suas partes iden-
tificada com as partes do corpo do Xamã.
A maloca é construída seguindo um modelo padrão, cuja plan-
ta baixa tem forma poligonal, irregular, de dez lados. Ela apresenta 
simetria em relação a um eixo longitudinal, em cujas extremidades 
são colocadas as portas da referida maloca. Os lados intermediários 
do decágono, situados nas extremidades de um eixo transversal, são 
maiores que os demais. Suas medidas variam entre 9 e 31 metros de 
comprimento, 7 e 17 metros de largura e 8 metros de altura.
23
A maloca apresenta um total de vinte e quatro esteios, sen-
do oito centrais mais elevados e dezesseis periféricos dispostos em 
duas fileiras paralelas aos esteios principais. Terças de madeira são 
amarradas sobre o topo dos esteios e sobre elas apoiam os caibros 
que sustentam a cumeeira; já a cobertura é finalizada com folhas 
de jarina amarradas na horizontal, diretamente sobre os caibros. A 
estrutura das paredes é formada por uma paliçada de troncos finos 
fincados no chão, que têm cerca de um metro de altura, chegando 
até a altura da extremidade dos caibros, fechando toda a altura late-
ral da construção (COSTA e MALHANO, 1986, p. 68,73-74).
Métodos e materiais utilizados pelos indígenas
Existem pequenas variações em relação aos materiais utili-
zados na construção das casas indígenas, que ocorrem em função do 
local dos assentamentos e das espécies vegetais disponíveis.
A estrutura principal das casas varia de acordo com a forma 
da planta e cobertura. As peças de madeira que formam a estrutura 
das casas são escolhidas por sua resistência e durabilidade e as di-
mensões variam de acordo com o uso: esteio, viga, caibro ou ripa, 
que em alguns casos são substituídas por taquaras partidas ao meio. 
As taquaras, ou hastes de bambu, são flexíveis e, por isso, muito uti-
lizadas em estruturas curvas como, por exemplo, as coberturas em 
abóbada ou ogiva. Nas casas circulares com cobertura cônica, uma 
ou duas séries de esteios suportam as vigas e o conjunto de terças e 
caibros que se curvam para definir a forma cônica ou a cúpula da co-
bertura, como nas casas Tiriyó e Wayana Tukussipan. Caso se pre-
tenda reforçar a resistência de tal elemento curvo, usa-se a técnica 
do enlaçamento das varas encurvadas com cipó. Isto era observado 
nas antigas casas Xavante e Karajá, nas Tapirapé e Tiriyó, e ainda 
no alto Xingu. Enfim, todas as construções cupulares e de cobertura 
com seção reta em ogiva ou abóbada (caso do alto Xingu) apresen-
tam tal tipo de amarração.
Na cobertura são utilizadas folhas de palmeiras como ubim, 
bacaba, açaí ou inajá, dependendo da disponibilidade do local. Uma 
exceção à regra do uso de folhas de palmeira é a casa xinguana, em 
24
cuja cobertura é utilizado o sapé, preso à estrutura por meio do en-
laçamento de molhos dessa gramínea.
Para a fixação das folhas de palmeira nas estruturas tanto 
de cobertura quanto de fechamento é utilizada também a técnica 
de amarração cipós, sendo os talos das folhas presos ao ripamento. 
Quando as paredes são independentes da cobertura, o fechamento 
pode ser feito com a mesma palha, mas sendo trançada diretamen-
te na estrutura. Outras formas de fechamento podem ser utilizadas, 
como a paliçada composta por estacas de madeira cravadas verti-
calmente no solo, erguendo-se até o encontro com a cobertura. Em 
algumas construções são utilizadas cascas de árvore no fechamento. 
No alto Xingu a taipa também é muito utilizada, não só no fecha-
mento como também na cobertura.
Segundo Costa e Malhano (1986, p. 74):
A amarração – chamamos amarração ao conjunto de procedi-
mentos técnicos visando a fixar os elementos construtivos incluídos 
na estrutura ou revestimento. Todos os grupos indígenas brasileiros 
empregam o cipó na técnica de amarração por enlace. Usavam-no 
os Karajá para a construção da casa antiga. O encaixe lateral, assim 
como a técnica mista (encaixe lateral conjugado ao enlaçamento), 
são correntes entre os Tiriyó. O encaixe em topo é utilizado no alto 
Xingu, e também entre os Tukâno.
Entre as maneiras de fixar os elementos estruturais, cabe citar 
o enlaçamento das peças de madeira com cipó. Além da amarração, 
para fixar as peças de madeira maiores e mais pesadas, também, é 
utilizada a técnica de encaixe lateral, ou seja, as peças têm as pontas 
escavadas, criando pontos de encaixe que evitam o deslocamento 
produzido pelo excesso de peso.
Como não poderia deixar de ser, a casa e a aldeia indígena 
procuram atender às necessidades básicas de vida comunitária e à 
observância de características locais: topografia, clima e materiais 
de construção disponíveis. As construções indígenas se fundem com 
o local onde estão implantadas, pois sua matéria-prima vem dire-
tamente da natureza que a circunda, ao mesmo tempo que a organi-
zação do espaço, seguindo as necessidades e tradições culturais das 
tribos, contrasta com o ambiente natural.
25
Cultura arquitetônica e urbanística 
portuguesa na época do “Descobrimento”
Em virtude de sua localização, o território português foi, ao 
longo dos séculos, alvo de interesse de vários povosque ocuparam 
o território. Na Antiguidade, o mar Mediterrâneo interligava dife-
rentes civilizações que, por meio das navegações constituíram uma 
rede comercial de extrema importância para a economia desses di-
ferentes povos. Por volta do século III a. C., ocorreram as coloni-
zações do Mediterrâneo oriental, com as feitorias fenícias, gregas e 
cartaginesas, que se implantaram no território, estimulando o de-
senvolvimento da região e deixando suas influências marcadas na 
cultura local. Com o fim das Guerras Púnicas, a região passou a ser 
ocupada pelos romanos no século II a.C. No século V, é a vez da re-
gião ser ocupada pelos povos chamados “bárbaros” pelos romanos, 
os suevos, vândalos, alanos, francos e visigodos. A partir do século 
VIII, tem início a invasão árabe, que dura até o século XIII. Apesar 
dos territórios sob o domínio desses vários povos por vezes estarem 
sobrepostos, o Norte de Portugal ficou marcado do ponto de vista 
cultural e civilizacional, pela influência da Europa central, enquan-
to o Sul adquiriu um caráter mediterrânico. Essa diferenciação é 
acentuada pelas características climáticas das duas regiões e pela 
matéria-prima disponível para a construção em cada uma delas. Ao 
Norte, desenvolveu-se a civilização do granito; enquanto no Sul, 
a matéria-prima dominante era o barro. Essa diversidade cultural 
tomou forma mediante a arquitetura e a configuração dos espaços 
urbanos portugueses, definindo características específicas que di-
ferenciam Portugal no contexto da tradição urbana europeia.
26
Figura 2 - Cidade brasileira com características coloniais 
Fonte: Shutterstock 108994037.
#PraCegoVer: Na imagem, há uma cidade com arquitetura de características coloniais 
coloridas.
Influências que marcaram a identidade urbana 
portuguesa
Os castros, ou citânias, eram núcleos de povoamento que, no pe-
ríodo pré-romano, ocupavam os pontos dominantes do território 
que, mais tarde, veio a se tornar Portugal. As principais caracterís-
ticas de assentamento, praticadas por essa civilização pré-roma-
na, permaneceu em muitas cidades portuguesas, bem como nas 
cidades coloniais construídas por Portugal no contexto da expan-
são ultramarina. Seguindo essa tradição, as cidades têm seu núcleo 
primitivo erigido no topo de uma colina proeminente, a partir da 
qual se desenvolvem. São várias as características do mundo me-
diterrâneo que subsistiram na tradição urbana portuguesa. Entre 
alguns aspectos, podemos destacar: a localização privilegiada dos 
27
núcleos urbanos na costa marítima; a escolha de lugares elevados 
para a implantação do núcleo defensivo; a adaptação do traçado à 
topografia; a estruturação do núcleo urbano em cidade alta, que en-
globa os núcleos institucional, político e religioso, e em cidade baixa 
dedicada às atividades portuária e comercial. A conformação urbana 
que segue as linhas naturais do território também é uma caracterís-
tica da cultura castreja do norte da península, uma das mais antigas 
expressões da civilização do granito e que subsistiu até à ocupação 
romana (TEIXEIRA, 2012, p.23).
O granito encontrado em grande quantidade no Norte de Portugal 
era matéria-prima muito utilizada na construção castreja e mesmo 
antes dela e também depois pelos romanos e permanece até os dias 
de hoje. Existe, em função do uso de matérias-primas distintas na 
arquitetura, a definição de civilização do granito para a região norte 
e civilização do barro para região sul (RIBEIRO, 2013, p. 17-45).
Com a ocupação romana, do século II a.C. ao século V d.C., 
várias cidades são fundadas e os romanos são responsáveis pela 
realização de grandes obras de infraestrutura que aceleram o de-
senvolvimento da região, como pontes, estradas e aquedutos. A or-
denação do território, seguindo os preceitos romanos, contribuía 
para a romanização das populações conquistadas. A regularidade do 
traçado criava um cenário comum a todos que viviam sob o domí-
nio romano. O Castrum, era uma bem-sucedida estratégia de sim-
bolização utilizada para dividir a cidade em quatro seções usando 
o cruzamento de eixos viários monumentais como lugar simbólico, 
reunia tanto os poderes administrativos quanto o povo. Os princí-
pios urbanísticos baseados na regularidade, na racionalidade e na 
geometria foram impostos também às cidades já existentes e visa-
vam a circulação de pessoas e de mercadorias, fatores indispensá-
veis para uma conomia mercantil em larga escala como a romana. 
As cidades de Braga, Beja e Évora, entre outras, mantêm, ainda hoje, 
FIQUE DE OLHO
28
as marcas da presença romana. Essa herança cultural, partilhada 
por tantos outros países europeus, se traduz em formas urbanas 
baseadas na geometria e na regularidade. O urbanismo português 
está incluído nessa cultura urbana europeia, mas apresenta especi-
ficidades que são resultado tanto de seu posicionamento geográfico 
quanto das outras tantas influências culturais incorporadas ao lon-
go de sua história.
O império romano foi desestruturado pela sequência de in-
vasões bárbaras que tiveram início no século IV. A população dei-
xou as cidades em direção ao meio rural, que sofria menos ataques 
dos invasores. As grandes propriedades rurais passaram, então, a 
representar o papel antes desempenhado pelas cidades. Nos feudos, 
o castelo, inicialmente construído de madeira e depois de pedra, 
tornou-se o centro político. Com o passar dos séculos, os feudos já 
não dispunham de terras suficientes para a população em constante 
crescimento. Assim as cidades voltam a ser ocupadas e surgem no-
vos núcleos mercantes, estabelecendo uma vasta rede de comércio 
entre os burgos e fortalecendo a burguesia, o que era um segmento 
da sociedade até então pouco relevante na pirâmide social.
Após a conquista muçulmana do século VIII, e durante sua 
permanência em território português, até o século XIII, a cultura 
urbana dos muçulmanos ficou inscrita em muitas cidades. Vários 
fatores determinavam a forma da cidade islâmica: as condições ma-
teriais e ambientais do espaço em que se implantavam e os fatores 
culturais e religiosos. Em relação aos primeiros, a presença muçul-
mana contribuiu para reforçar as características mediterrâneas já 
presentes nas cidades do Centro e do Sul, ocupadas e adaptadas às 
necessidades desse povo. Muitas características que habitualmente 
se atribuem à cidade muçulmana ibérica são antes características da 
cidade mediterrânea, segundo TEIXEIRA (2012). Essas caracterís-
ticas são visíveis nos critérios de localização, na escolha dos sítios 
para a implantação dos núcleos urbanos, na capacidade de adapta-
ção ao terreno e na organização funcional da cidade. As cidades islâ-
micas eram situadas de forma a dominar grandes percursos de água, 
tais como Al-Usbuna (Lisboa), Santarim (Santarém), Kulümriyya 
(Coimbra), Märtula (Mértola) ou Silb (Silves). Cidades estas que re-
ciclaram espaços, estruturas e materiais do período romano.
29
Na arquitetura desse período foram adotadas várias soluções 
e técnicas construtivas, originalmente apresentadas pelos árabes 
para a resolução de problemas de ordem estrutural dos edifícios. Os 
arcos ferradura, as arcadas de colunas com capitéis, por vezes, rica-
mente trabalhados com motivos árabes, foram soluções estruturais 
largamente utilizadas nesse período.
Formação do Estado Português (século XIII)
No ano de 1139, Afonso Henriques de Borgonha tornou seu território 
(o condado Portucalense localizado no extremo Norte Ocidental da 
Península Ibérica) independente. Durante a dinastia de Borgonha, 
Portugal deu continuidade às guerras de Reconquista, ampliando 
seu território em direção ao sul.
Reconquista é o processo histórico em que os reinos cristãos 
da Península Ibérica procuraram dominar a região durante o pe-
ríodo do Al-Andalus. Este processo decorreu entre 718 ou 722 (data 
provável da Batalha de Covadonga, liderada por Pelágio das Astú-
rias) e 1492, com a conquista do Reino de Granada pelos reinos cris-
tãos. O controle progressivoda península ganhou destaque por ter 
possibilitado a fundação de novos reinos cristãos como o Reino de 
Portugal e o Reino de Castela, precursores de Portugal e de Espanha.
Com a morte do último rei da dinastia Borgonha e a ascen-
são de D. João I, iniciou-se da dinastia de Avis, que marcou a vitória 
dos interesses burgueses, fortalecidos pelo surgimento de uma nova 
rota comercial que ligava as cidades italianas à região da Flandres, 
fazendo escala em Lisboa. Tendo sido o novo monarca apoiado pela 
burguesia, ele agiu de acordo com seus interesses e, assim, foram 
criadas as condições necessárias para a expansão marítima em bus-
ca de novas terras.
Ao final do período da Reconquista, uma das primeiras preo-
cupações do poder cristão em Portugal foi eliminar de imediato 
qualquer influência visível da presença muçulmana no território 
português, resgatando a fé cristã. As medidas tomadas pelo Estado 
incluíam a descaracterização dos edifícios públicos que continham 
traços da arquitetura árabe, eliminando vestígios da técnica ou 
30
elementos característicos. As mesquitas foram demolidas ou trans-
formadas para atender a ofícios religiosos cristãos. Mas as técnicas 
construtivas e certos elementos arquitetônicos não puderam ser 
completamente eliminados do conhecimento popular.
Alguns elementos que sobreviveram aos ataques cristãos são 
os azulejos, os ferros forjados e os objetos de luxo como os tapetes, 
alguns trabalhos em couro e o metal. Na arquitetura, principalmen-
te as muralhas e os castelos mantiveram seus estilos, bem como o 
traçado de ruelas e becos de algumas cidades do sul do país. São tes-
temunhos da ascendência árabe os terraços das casas algarvias (re-
gião Sul de Portugal) e outros exemplos emblemáticos da influência 
arquitetônica árabe em Portugal seriam: o Castelo de Silves, no Al-
garve; o Castelo dos Mouros, em Sintra; o Castelo e a Igreja Matriz 
de Mértola, que são de um reaproveitamento cristão da antiga mes-
quita muçulmana.
Agora, veja os estilos arquitetônicos presentes em Portugal 
no período da Reconquista!
Românico (1100–1230)
Nos tempos que seguiram à queda do Império Romano não 
houve o surgimento de nenhum estilo original até o século XII, com 
o surgimento do românico fortemente inspirado pelo Cristianismo 
e que foi usado principalmente na construção de igrejas. Sob o co-
mando do Conde D. Henrique, fundador da Casa de Borgonha em 
Portugal, um conjunto de nobres e monges franceses implantaram, 
de forma gradual, o românico no país. Durante a Reconquista foram 
construídas muitas igrejas como forma de recuperar a fé cristã em 
Portugal, que foram construídas no estilo românico. A característica 
inerente à arquitetura românica é o arco de volta perfeita presente 
nas portas, janelas, arcadas, abóbadas e, ainda, em muitos detalhes 
decorativos. As primeiras igrejas tinham telhados de madeira que 
foram gradualmente sendo substituídos por abóbadas construídas 
em pedra. Esse peso extra exigia que a estrutura fosse reforçada com 
contrafortes lisos encostados às paredes. As torres altas poderiam 
ter planta circular, quadrada ou octogonal e os edifícios possuíam 
31
janelas pequenas por motivos estruturais. Além disso, a planta da 
igreja românica é sempre em cruz.
Em Portugal, o Românico sofre influência francesa dando 
origem a igrejas orientadas para o Oeste, normalmente, com duas 
torres-campanário e três naves em abóbada de berço; já as igrejas 
orientadas para o Leste, com três naves cobertas por abóbadas de 
berço e uma torre-campanário sobre o transepto. Contudo, as igre-
jas românicas portuguesas fugiram um pouco ao estilo original as-
semelhando-se mais a grandes fortalezas devido às paredes grossas 
e poucas aberturas.
Gótico (c.1230-c.1450)
O estilo gótico nasceu na França e parte, a princípio, de inova-
ções técnicas que permitem a construção de edifícios mais arrojados 
do que os do período anterior. O método construtivo que utiliza-
va dois arcos transversais para construir as abóbadas das igrejas 
permitia a edificação de estruturas mais altas e leves, e permitia a 
abertura de grandes janelas, já que não havia mais a necessidade 
das grossas paredes de pedra que antes suportavam a estrutura. Os 
construtores descobriram que os pilares eram suficientes para sus-
tentar os arcos da abóbada, abrindo espaço para os grandes panos 
de vidro que vieram a substituir as paredes de pedra, que antes fa-
ziam o fechamento dos edifícios.
O estilo gótico era focado, sobretudo, nas construções reli-
giosas e em Portugal prolongou-se até o século XV por meio do esti-
lo Manuelino. O Gótico chegou mais tarde a Portugal do que no resto 
da Europa, concentrando-se fundamentalmente no centro do país, 
onde muitas igrejas e sés construídas no estilo românico sofreram 
adaptações e foram alargadas com um transepto gótico ou com ele-
mentos desse estilo. O Mosteiro de Alcobaça (construção iniciada 
em 1178) foi o primeiro edifício gótico a ser construído em Portu-
gal, em conjunto com o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, um dos 
mais importantes mosteiros medievais portugueses.
32
O estilo gótico pode ser dividido em três períodos: o gótico 
primitivo, o gótico clássico e o gótico tardio ou flamejante. Cada um 
destes períodos com suas próprias particularidades.
Período dos Descobrimentos (1415-1543)
Com motivações de ordem econômica, em 1419, o Infante Dom 
Henrique reuniu, na vila de Lagos, vários especialistas com o ob-
jetivo de investigar os mistérios da navegação transoceânica, o que 
permitiu a Portugal o pioneirismo nas grandes navegações. Os lu-
cros do comércio de especiarias nas primeiras décadas do século XIV 
permitiram o surgimento de um estilo arquitetônico luxuoso, uma 
categoria do estilo Gótico tardio e que veio a ficar conhecido como 
estilo Manuelino por ter sido empregado nos edifícios construídos 
durante o reinado de Manuel I.
A Era dos “Descobrimentos” é o período em que acontece 
o conjunto de conquistas realizadas pelos portugueses nas explo-
rações marítimas entre 1415 e 1543. Período que foi iniciado com a 
conquista de Ceuta no continente africano. Com o fim do período da 
Reconquista, os portugueses se voltaram à procura de rotas alter-
nativas que poderiam trazer mais riquezas do que as já conhecidas 
rotas de comércio no Mediterrâneo. Portugal realizou importantes 
avanços tecnológicos que permitiram aos seus navios viajar com se-
gurança em mar aberto, cobrindo, assim, enormes distâncias.
O estilo Manuelino está inserido na corrente arquitetôni-
ca denominada como gótico tardio ou flamejante, que aconteceu 
em toda a Europa. No século XIV, as cidades haviam se converti-
do em grandes centros de comércio. Esse estilo passou a ser apli-
cado na construção das casas particulares dos nobres e burgueses 
e em edifícios públicos, contrastando com os períodos anteriores, 
quando o gótico era aplicado quase exclusivamente na construção 
de catedrais.
Os construtores do século XIV já não se contentavam em re-
produzir as formas das catedrais góticas tradicionais, além do fato 
de que era cada vez mais comum a encomenda de edifícios gran-
diosos que não tinham nenhuma relação com a igreja. As cidades 
33
se desenvolviam com grande rapidez. Dessa forma, buscaram exibir 
suas habilidades decorativas, cobrindo os edifícios com rendilha-
dos complexos e utilizando os mais variados temas. De acordo com 
Gombrich (1993, p. 156), “nas cidades prósperas e em permanen-
te expansão, muitos edifícios seculares tiveram que ser projetados 
e construídos: municipalidades, sedes das guildas e corporações, 
universidades, palácios, pontes e portas das cidades”.
Em Portugal não foi diferente, apesar do estilo ter chegado 
com atraso em relação ao resto da Europa. São poucas as diferenças 
do Manuelino em relação ao gótico final de outros países europeus, 
seguindo a tendência de homogeneizar os espaços internos, que nas 
igrejas se materializava na preferência por naves de mesma altura, 
dando, assim, unidade ao espaço interno,ausência de transepto e 
cabeceira regular em oposição às plantas em cruz. Nos edifícios ci-
vis, as plantas retangulares também prevalecem e as fachadas são 
ricamente decoradas. Os motivos mais presentes na decoração são 
os naturalistas marinhos, cordas, uma rica variedade de animais e 
motivos vegetais. O estilo revela o crescente gosto pelo exotismo, 
desde o início da expansão marítima. O primeiro edifício manuelino 
conhecido é o Mosteiro de Jesus de Setúbal, construído entre 1490 e 
1510, do arquiteto Diogo Boitaca, considerado um dos criadores do 
estilo.
Resultados formais das influências sobre as 
cidades portuguesas no século XV
O modelo que regeu o desenvolvimento urbano português, presente 
em todos os momentos históricos, vem da sua herança mediterrâ-
nea, de natureza vernacular e é percebida principalmente pelo fato 
de as vias principais acompanharem a topografia natural existente 
e a utilização das partes altas do terreno (dominantes) para a im-
plantação dos edifícios notáveis. Sendo assim, a conformação final 
da cidade construída é uma expressão do território onde foi criada, 
as vias seguem a natureza do terreno e, naturalmente, levam aos 
pontos dominantes, marcados com a presença de edifícios impor-
tantes e também para as praças construídas a fim de acompanhar 
esses edifícios.
34
Essa vertente de urbanização, definida por Teixeira (2012) 
como vernacular, gera uma grande diferenciação entre os espaços, 
uma variedade de formas que torna a cidade mais legível e permite 
que cada área tenha uma identidade própria. Estes princípios vão, 
mais tarde, ser disseminados pelas colônias portuguesas ao redor 
do mundo, dando origem a cidades que apresentam características 
morfológicas específicas, as quais as distinguem dos espaços urba-
nos de outras culturas. Apesar de ser possível encontrar essas carac-
terísticas morfológicas, consideradas individualmente, em outros 
contextos históricos e geográficos, a articulação desses elementos 
e sua síntese são especificamente portuguesas.
As especificidades da cidade de origem portuguesa têm a ver 
com muitos aspectos, incluindo suas heranças culturais, já apresen-
tadas aqui, nas culturas dos vários povos que ocuparam a região an-
tes dela se tornar Portugal e ficaram sedimentadas no conhecimento 
popular, sendo adaptadas umas às outras. A lógica empregada para 
a escolha dos sítios onde foram implantados os núcleos urbanos, 
seguindo a tradição mediterrânea pré-romana e a influência ára-
be que formou vários núcleos em Portugal. As formas primordiais 
na construção do traçado urbano são uma combinação da herança 
geométrica romana: seus traçados regulares e cruzamentos simbó-
licos; lugar de praças e edifícios públicos importantes; os elementos 
árabes que concebem vias em concordância com a topografia natu-
ral do terreno, que naturalmente levam aos pontos topográficos de 
destaque etc. A hierarquia entre os diversos elementos de referên-
cia do território cria uma percepção rica e heterogênea do espaço 
urbano: as praças e seu papel na organização urbana, as estruturas 
de quarteirão e de loteamento e os processos de planejamento e de 
construção da cidade.
No século XV as principais cidades do país passaram por pro-
gramas de modernização urbana, associando a intervenção urbana 
com a arquitetura. Em meados do século XV, D. Afonso V, preocu-
pado com a harmonia estética e funcionamento do espaço urbano 
de Lisboa, decretou que “as casas deveriam passar a ser construí-
das com paredes de pedra e cal sobre arcos de cantaria” (TEIXEIRA, 
2012, p. 76). No século XVI, o processo de modernização continua 
pelas mãos de D. Manuel I, que realizou grandes reformas nos es-
paços públicos existentes e regulamentou o ordenamento das áreas 
urbanas em expansão, dotando essas áreas de equipamentos urba-
nos e espaços públicos:
35
Como consequência, os traçados urbanos portugueses rara-
mente eram geometricamente rigorosos. Além de suas referências 
geométricas, tais traçados adaptavam-se à topografia, à hidrogra-
fia e ao ambiente físico de seus locais de implantação, sendo fre-
quentemente subvertidos para uma melhor adequação ao terreno, 
sob o ponto de vista funcional, formal ou simbólico. Essa plastici-
dade dos traçados urbanos portugueses não se traduzia, contudo, 
em estruturas amorfas. Pelo contrário, as cidades portuguesas eram 
estruturadas e hierarquizadas, facilmente legíveis e paisagistica-
mente valorizadas. Essa adaptação ao território e ao clima e sua 
não sujeição a rígidos princípios geométricos produziram cidades 
eminentemente maleáveis e adaptáveis às diferentes circunstâncias 
que surgiram ao longo do tempo. O urbanismo português, de forma 
geral, seguiu um plano com base em uma regularidade subjacente a 
seu traçado, ainda que nem sempre de uma forma explícita, mas que 
leva em consideração as particularidades do sítio e as explora, no-
meadamente, por meio da definição das principais vias estruturan-
tes sobre as linhas naturais do território e da criteriosa localização 
dos edifícios notáveis em posições dominantes (TEIXEIRA, 2012, p. 
36).
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
 • conhecer a história dos povos pré-cabralinos;
 • estudar a configuração das aldeias indígenas com base em ele-
mentos culturais tradicionais;
 • conhecer os diferentes tipos de casa construídas por esses 
povos;
 • aprender sobre a história da formação de Portugal;
 • conhecer as influências culturais estrangeiras que deram forma 
à arquitetura e ao urbanismo português;
 • estudar o estilo manuelino, em uso no país na época do 
descobrimento.
SINTETIZANDO
36
UN
ID
AD
E
2
38
Introdução
Olá!
Você está na unidade 2 – Arquitetura colonial nos séculos XVI 
e XVII. Conheça, aqui, como se deu o processo de ocupação do terri-
tório brasileiro pelos portugueses nos primeiros séculos da coloni-
zação e quais foram as suas estratégias para exploração econômica 
das novas terras.
Veja também quais heranças esses colonizadores deixaram 
em nossa arquitetura e na conformação de nossas cidades, a partir 
das influências culturais que carregavam de suas origens e das in-
fluências que receberam em terras brasileiras, pelo contato com os 
povos indígenas e africanos. Conheça também as características dos 
principais programas arquitetônicos do período: arquitetura resi-
dencial e administrativa, religiosa e militar.
Bons estudos!
39
Cidade portuguesa e a sua transferência 
para o Brasil
Os modelos de cidades portuguesas podem ser sistematizados em 
duas grandes vertentes: a primeira de referência medieval mu-
çulmana e a segunda pautada no ideário renascentista. Esses dois 
modelos estão na “gênese da maioria dos traçados das cidades bra-
sileiras” (MENDES, 2010, p.20). Com esses referenciais em mente, 
os portugueses promoveram o processo de colonização do territó-
rio brasileiro. Esse processo se deu em consonância com os ciclos 
econômicos aqui estabelecidos. Dois ciclos econômicos marcaram 
a ocupação do território brasileiro no arco de tempo que tratamos 
nesta unidade: o ciclo do pau brasil e o da cana-de-açúcar.
Os trinta primeiros anos da presença dos portugueses nas 
terras recém-descobertas corresponderam a um período de ex-
ploração rudimentar de recursos naturais, principalmente do pau 
brasil. Essa atividade resultou no estabelecimento das feitorias, que 
funcionavam como entreposto comercial e se situavam ao longo da 
costa litorânea. De acordo com Mendes et al. (2010, p.23), as feito-
rias formavam núcleos de povoamento, criados pelos colonizado-
res, que reuniam cerca de 20 homens. Mencionam ainda os autores 
que “a escassa iconografia registra estes assentamentos como um 
conjunto de pouquíssimas casas de madeira a palha, protegidas por 
uma paliçada, também de madeira, fornecida pela nossa abundante 
floresta litorânea” (MENDES et al, 2010, p.23).
Uma ocupação efetiva do território brasileiro só terá início 
com a vinda de Martim Afonso de Souza, em 1531, a mando de Dom 
João III, que fundou,no ano seguinte, as duas primeiras vilas: São 
Vicente e Piratininga. Diante das constantes ameaças francesas, 
adotou-se como solução para a colonização e povoamento das ter-
ras o sistema de Capitanias Hereditárias, experiência que os portu-
gueses já haviam aplicado em suas colônias nos Açores e na Ilha da 
Madeira. As terras situadas a leste das Tordesilhas foram assim di-
vididas em 14 capitanias doadas a 12 donatários. Tratava-se de en-
tregar a empresa da colonização à iniciativa particular de fidalgos, 
que assumiam o ônus econômico da ocupação, podendo legislar, 
40
controlar e fundar vilas e povoados. A metrópole fiscalizava e rece-
bia os impostos.
O sistema de Capitanias obteve relativo sucesso, tendo em 
vista o interesse predominante no comércio com o Oriente. Algu-
mas foram recompradas pela Coroa Portuguesa virando Capitanias 
Reais. Reis Filho (1968, p.31) informa que, em 1548, um ano antes da 
criação do Governo Geral, haviam sido fundadas cerca de 16 vilas e 
povoados no litoral brasileiro, que já exportavam mercadorias para 
a Metrópole. O estabelecimento de um Governo Geral caracteriza-
va-se como um esforço de centralização, uma forma de coordenar 
militar e administrativamente as capitanias e povoados, compen-
sando os “excessos de dispersão” gerados pelo sistema de Capita-
nias (REIS FILHO, 1968, p.32). Esse governo centralizado funcionou 
na primeira cidade fundada em 1549: São Salvador da Baía de Todos 
os Santos.
Esse segundo momento de ocupação do território foi mar-
cado pelo ciclo econômico da cana-de-açúcar, caracterizado pelas 
grandes propriedades de terras, com uma produção monocultural 
e extensiva, toda pautada no trabalho escravo. Esse ciclo teve maior 
importância nos dois primeiros séculos da colonização, pois a des-
coberta do ouro nas Gerais, em fins do século XVII, redireciona e re-
dimensiona a economia colonial.
Além dos portugueses, estiveram por nossas terras os franceses e 
os holandeses. Os franceses praticavam, desde 1550, escambo com 
os índios para obtenção do pau-brasil, mas, em 1555, lideraram a 
empresa de fundar no Brasil a França Antártica; porém sem suces-
so. Já os holandeses, com interesse na economia açucareira, após 
um período de tentativas de invasão, se estabeleceram no Nordeste 
entre 1637 e 1654.
FIQUE DE OLHO
41
Núcleos urbanos brasileiros
Olá! Para darmos continuidade assista ao vídeo sobre as técnicas 
construtivas dos dois primeiros séculos de colonização no Brasil.
Apesar de essencialmente rural nos dois primeiros séculos da 
colonização, o Brasil passou também por processos de urbanização, 
com a criação de diversos núcleos urbanos. Cabia aos donatários a 
fundação de vilas, que podemos definir como aglomerações de me-
nor importância política. Contudo, as cidades só podiam ser funda-
das por decisão e ação da Coroa.
Conforme dados de Reis Filho (1968), dos 37 povoados fun-
dados, entre 1532 e 1650, apenas 7 seriam por conta da Coroa, tendo 
sido os demais fundados por donatários e seus colonos. Esse mesmo 
autor coloca que, até meados do século XVII, existiam duas políticas 
urbanizadoras promovidas por Portugal: uma estimulava a forma-
ção de vilas indiretamente nos territórios pertencentes aos dona-
tários, para serem estabelecidas às expensas desses, devendo ser 
orientadas pelas Ordenações Régias; a outra fundava diretamente 
as cidades reais, centros de controles regionais, para o que fornecia 
pessoal e recursos. Depois de Salvador, em 1549, foram fundadas as 
cidades reais do Rio de Janeiro, em 1565, e, no século XVII, São Luís 
e Belém.
As Ordenações Régias conformavam um conjunto de leis, 
aplicáveis a Portugal e às suas colônias, que incorporaram elemen-
tos do código civil, penal e administrativo, estabelecendo normas e 
orientações para o funcionamento de vilas e cidades. A partir delas 
definiram-se as práticas de regularidade para os traçados e cons-
truções dos núcleos urbanos, práticas que se consolidaram “sob 
o impulso da racionalidade renascentista” (MENDES et al., 2010, 
p.20). Houve também influência das Leis das Índias, conjunto de 
códigos e diretrizes voltados à criação das cidades nas colônias es-
panholas, especialmente na América, que determinavam, do ponto 
de vista urbanístico, o traçado regular, com nítidas bases no modelo 
das cidades romanas, apesar de voltadas oficialmente às colônias 
hispânicas. Este documento era de amplo conhecimento dos Portu-
gueses, que acabavam fazendo uso de seus preceitos.
42
Podemos dizer que o modelo de fato implementado no Bra-
sil, nos dois primeiros séculos de colonização, foi um híbrido de 
cidade medieval e renascentista, predominando um ou outro mo-
delo dependendo da cidade. Ainda que se tenha buscado implantar 
a regularidade pregada pelas disposições Reais, o projeto esbarrou 
em duas dificuldades. Uma relativa às condições geográficas locais, 
muitas vezes acidentadas, havendo necessidade de adaptação. Outra 
relativa à insuficiência de profissionais qualificados para a tarefa e à 
falta de instrumentos de precisão para demarcar ruas, lotes e situar 
as edificações. O trecho a seguir, exemplifica a falta de rigidez na 
implantação e desenvolvimento da cidade-sede do Governo Geral:
Salvador, originalmente, obedeceu a traços 
regulares por determinação real, mas o enxa-
drezado de ruas e praças foi flexível, permitin-
do a adaptação de terrenos disponíveis entre 
o mar, as encostas e lençóis d’água, às ruas 
das extremidades, determinando quarteirões 
de formas, tamanhos e proporções diversas 
(MENDES et al., 2010, p.49).
Em Salvador, adotaram-se ainda duas estratégias de inspira-
ções medievais na sua implantação: localização em sítio elevado e a 
construção de muralhas à sua volta. Mas a solução já se implantou 
tardiamente, em função da descoberta da pólvora, tornando-as ob-
soletas e inócuas. Assim, devido ao seu crescimento, a cidade trans-
cendeu a muralha, alcançando a beira-mar, dividindo-se em Cidade 
Alta e Cidade Baixa.
Podemos dizer, grosso modo, que havia uma regularidade 
relativa nos traçados das cidades brasileiras, os lotes seguiam um 
padrão similar nesse primeiro período de ocupação, mantendo-se 
praticamente inalterados até princípios do século XIX. Eram retan-
gulares e alongados, ou seja, eles tinham a largura voltada para a rua 
estreita e as laterais compridas. Os lotes agrupavam-se em quadras, 
com linhas contínuas de construções, cujos alinhamentos junto à 
rua, deixaram um vazio na parte posterior, que correspondiam aos 
quintais das casas.
43
A imagem das ruas era de duas faixas contínuas de cons-
truções, coladas umas às outras, sem interrupção. Em geral, as 
ruas eram estreitas, com alinhamentos e nivelamentos precários, 
apresentando um aspecto pouco regular. Como observa Reis Filho 
(1968), numa mesma rua poderia haver diferença em sua largura ao 
mudar de uma quadra para outra. Não contavam com passeios para 
circulação de pedestres, e em poucos casos havia a possibilidade de 
existir algumas lajes sob os beirais para proteção das águas das chu-
vas. Poucas eram as que contavam com calçamento, que, quando 
existia era em pedra. O calçamento de ruas começou a se popularizar 
quando se tornou necessário separar os tráfegos de circulação: os 
pedestres dos transportes sobre rodas. Em núcleos urbanos maio-
res, a presença de ruas comerciais passou a caracterizar espaços de 
permanência e pontos de reunião.
No entanto, o centro principal da vida urbana eram as pra-
ças. Nelas “se realizavam as cerimónias [sic] cívicas e toda sorte de 
festividades: religiosas e recreativas; e serviam ainda aos mercados 
e às feiras” (REIS FILHO, 1968, p.64). Nas praças se localizavam as 
principais construções da cidade, em geral: a Casa de Câmara e Ca-
deia, a Igreja Matriz e o Pelourinho, símbolo da autonomia munici-
pal colonial, representado por um marco, que podia ainda servir ao 
castigo público de alguns infratores.
Nos dias de hoje, é difícil encontrar um núcleo urbano dos sé-
culos XVI e XVII ainda íntegro.

Mais conteúdos dessa disciplina