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FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO Fisiopatologia Clínica na Saúde do Idoso Rosana Pazim Nalesso Rosana Pazim Nalesso G RU PO SER ED U CACIO N AL gente criando o futuro Iniciaremos os estudos ressaltando a importância do conhecimento do processo de envelhecimento, sempre tendo em mente que nos depararemos com os muitos pro- cessos patológicos decorrentes deste evento biológico, mas também com a senes- cência, oriunda do envelhecimento fi siológico. Para que possamos compreender as diferentes enfermidades relacionadas ao enve- lhecimento, alguns conceitos sobre a reumatologia e as bases do sistema imunoló- gico, principalmente no que concerne às respostas imunes, necessitam ser revistos, pois auxiliam no entendimento acerca da etiologia das doenças reumáticas, bem como sua classifi cação em doenças autoimunes e não autoimunes, explicando suas distintas etiologias. Por ser o sistema osteoarticular muito comprometido em decor- rência das doenças reumáticas, uma breve revisão sobre suas estruturas e fi siologia essenciais serão discutidas, dando-lhes subsídios para interpretarem como ocorre a fi siopatologia das doenças autoimunes. Atualmente, em razão da transição demográfi ca e epidemiológica, torna-se impres- cindível ao futuro profi ssional da área da saúde conhecer sobre a população idosa, compreendendo, portanto, o que motiva o elevado crescimento das doenças crônicas não transmissíveis nos dias atuais. SER_ FISIO_FISCSI_CAPA.indd 1,3 08/04/2021 12:57:08 © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Rosana Pazim Nalesso DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 2 08/04/2021 12:07:27 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 3 08/04/2021 12:07:28 Unidade 1 - Introdução à reumatologia e às doenças reumáticas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Introdução à reumatologia ................................................................................................. 13 Doenças reumáticas ....................................................................................................... 13 Bases do sistema imunológico ..................................................................................... 15 Anatomia e fisiologia osteoarticular essencial .......................................................... 16 Semiologia reumatológica ................................................................................................. 18 Manifestações articulares ............................................................................................. 18 Manifestações extra-articulares .................................................................................. 20 Interpretação de exames em reumatologia ................................................................ 21 Envelhecimento celular ...................................................................................................... 22 Teorias do envelhecimento celular .............................................................................. 23 Consequências do envelhecimento celular ................................................................ 25 Síndromes dolorosas ........................................................................................................... 26 Síndromes dolorosas do ombro (SDO) ......................................................................... 27 Epicondilite lateral (cotovelo de tenista) ..................................................................... 30 Síndromes compressivas de membros superiores ................................................... 31 Sintetizando ........................................................................................................................... 35 Referências bibliográficas ................................................................................................. 36 Sumário SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 4 08/04/2021 12:07:28 Sumário Unidade 2 – Doenças reumáticas Objetivos da unidade ........................................................................................................... 39 Alterações musculoesqueléticas (comprometimento axial) ....................................... 40 Fibromialgia ...................................................................................................................... 41 Hérnia discal ................................................................................................................... 43 Alterações musculoesqueléticas degenerativas de membros inferiores ............... 46 Fascite plantar ................................................................................................................ 46 Esporão do calcâneo ...................................................................................................... 48 Doenças metabólicas ósseas ............................................................................................ 50 Raquitismo ........................................................................................................................ 50 Osteoporose ..................................................................................................................... 52 Doença de Paget ............................................................................................................. 55 Doenças reumáticas degenerativas e inflamatórias ................................................... 57 Osteoartrose ..................................................................................................................... 58 Artrite reumatoide .......................................................................................................... 62 Sintetizando ........................................................................................................................... 65 Referências bibliográficas ................................................................................................. 66 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 5 08/04/2021 12:07:28 Sumário Unidade 3 – Doenças reumáticas II Objetivos da unidade ...........................................................................................................Considerações gerais sobre o sistema imunológico. Manual MSD. [s.l.], abr. 2020. Disponível em: . Acesso em: 21 jan. 2020. FREITAS, E. V. Tratado de geriatria e gerontologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guana- bara Koogan, 2016. FULLER, R. Anamnese e avaliação inicial do paciente reumatológico. Medicina- Net. [s.l.], 2008. Disponível em: . Acesso em: 27 jan. 2021. GAVA, A. A.; ZANONI, J. N. Envelhecimento celular. Arquivos de Ciências da Saú- de da Unipar, Umuarama, v. 9, n. 1, jan./mar. 2005. Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2021. MENDES, T. A. B (Coord.). Geriatria e gerontologia. Barueri: Manole, 2014. PINHEIRO, P. Reumatismo – o que é, sintomas e tratamento. [s.l.], [s.d.]. Dispo- nível em: . Acesso em: 21 jan. 2021. RAMOS, C. H. Tendinite calcária no ombro (tendinite calcificada). [s.l.], [s.d.]. Disponível em: . Acesso em: 01 mar. 2021. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 36 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 36 08/04/2021 12:08:28 SCR - SOCIEDADE CATARINENSE DE REUMATOLOGIA. 14 sinais de alerta para as doenças reumáticas. Florianópolis, 2019. Disponível em: . Acesso em: 21 jan. 2020. SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Tendinites e bursites. São Paulo, 2011. Disponível em: . Acesso em: 02 fev. 2021. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 37 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 37 08/04/2021 12:08:28 VIDEOAULA Clique aqui DOENÇAS REUMÁTICAS 2 UNIDADE SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 38 06/04/2021 17:02:06 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Abordar as doenças reumáticas que causam alterações musculoesqueléticas com comprometimento axial e de membros inferiores, destacando as síndromes dolorosas que acometem o pé do idoso; Promover conhecimentos sobre as doenças reumáticas metabólicas relacionadas ao metabolismo ósseo, sua fisiopatologia, diagnóstico e respectivas condutas; Demonstrar a relevância das complicações ocorridas na osteoporose para a população idosa; Apresentar aspectos relacionados à osteoartrose, elencando seu conceito, fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e impacto na qualidade de vida; Apontar as principais características da artrite reumatoide, abordando seus critérios de diagnóstico, suas limitações físicas e deformidades; Aplicar os preceitos da integralidade/interdisciplinaridade junto à pessoa com as doenças reumáticas apresentadas e o paciente idoso. Alterações musculoesqueléti- cas (comprometimento axial) Fibromialgia Hérnia discal Alterações musculoesqueléti- cas degenerativas de membros inferiores Fascite plantar Esporão do calcâneo Doenças metabólicas ósseas Raquitismo Osteoporose Doença de Paget Doenças reumáticas degenera- tivas e inflamatórias Osteoartrose Artrite reumatoide FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 39 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 39 06/04/2021 17:02:06 Alterações musculoesqueléticas (comprometimento axial) Vamos iniciar nossos estudos trazendo uma abordagem sobre as alte- rações musculoesqueléticas e seu impacto no envelhecimento. Sabe- mos que, no decorrer de sua existência, o ser humano defronta-se com um processo natural de envelhecimento, que culmina em inúmeras modifica- ções das características anatomofuncionais de vários órgãos e sistemas. Isso resulta em alterações estruturais e funcionais no organismo. O profissional da área da saúde – se vier a atuar com a população idosa –, deve imprescindivelmente ter conhecimento sobre as particularidades anatomofisiológicas que o processo do envelhecer exerce no organismo, sabendo diferenciar o que são efeitos naturais (senescência) das mudan- ças sofridas pelas muitas patologias que podem afetar o idoso (senilidade). As alterações morfofuncionais causadas pelo envelhecer do sistema musculoesquelético causam grande impacto na capacidade, função e, con- sequentemente, na autonomia do idoso. Podemos, dentro desse contexto, afirmar que essas alterações anatômicas ocorridas no sistema musculoes- quelético são oriundas do processo de envelhecer, a exemplo da sarco- penia e da osteoporose, e essas transformações contribuem diretamente para que enfermidades crônicas se desenvolvam. Saiba que as alterações musculoesqueléticas, quando re- lativas a deficit funcionais, refletirão no metabolismo basal, interferindo em funções do sistema renal, cardíaco, pul- monar, como também na capacidade vital, potencializando a evolução de doenças crônicas, como osteoporose, diabetes, síndromes dolorosas (fibromialgia), degenerativas (hérnia discal), entre outras. Essa contextualização conclui que as alterações ocorridas no sistema musculoesquelético são as grandes alte- rações morfofuncionais causadoras da de- terioração no movimento e no estado funcional do sujeito em processo de envelhecimento. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 40 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 40 06/04/2021 17:02:06 Fibromialgia A fi bromialgia é uma síndrome dolorosa crônica, que apresenta etiopato- genia multifatorial e complexa, acometendo em maior número as mulheres. Caracteriza-se por dores musculoesqueléticas difusas e sítios dolorosos es- pecífi cos à palpação, denominados tender points. Associam-se a esse quadro álgico distúrbios do sono, fadiga, sintomatologia somática e cognitiva e distúr- bios psíquicos. Essa síndrome apresenta etiologia obscura, ainda desconhecida, porém manifesta-se pelo quadro álgico severo, difuso e crônico. Também é possível que se manifeste por alteração de sensibilidade nas articulações, músculos e tendões, e todas essas manifestações ocorrem por uma alteração da inter- pretação dos estímulos enviados pelo cérebro, como também por receptores cutâneos. A fi bromialgia teve seus critérios de diagnóstico elaborados em 1990 pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR, na sigla em inglês), que instituiu que ela seria classifi cada por apresentar dor espalhada, ou seja, distribuída tanto no hemicorpo direito quanto esquerdo, acima e abaixo da cintura e no esquele- to axial, de caráter crônico, incidindo no paciente por mais de três meses. Essa dor se associa a uma hipersensibilidade hiperálgica, que aumenta à palpação digital (alodinia), a qual deve corresponder a uma pressão de aproximadamen- te 4 kg em, pelo menos, 11 dos 18 tender points (MARQUES; ASSUMPÇÃO; MA- KSUTANI, 2015). EXPLICANDO Vamos explicar o signifi cado da palavra “alodinia”, fenômeno que ocorre na fi bromialgia. Nessa patologia, um simples toque pode resultar em uma dor intensa. Portanto, alodinia é uma maneira pela qual a pessoa sente sua dor, quando um estímulo que não deveria provocar dor passa a causá- -la. Podemos exemplifi car como passar levemente uma pena na derme e desencadear, assim, um grande desconforto. Esses critérios são validados aqui no Brasil? Em 1999, concluiu-se que deve- riam ser atribuídos à combinação de dor espalhada e crônica, além da presen- ça de nove ou mais dos 18 tender points. Isso porque havia melhores proprie- dades métricas com essa alteração, com a qual se demonstrou sensibilidade FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 41 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 41 06/04/2021 17:02:06 Figura 1. Tender points relacionados aos critérios de classificação de fibromialgia estabelecidos em 1990 pelo Colégio Americano de Reumatologia.Fonte: MARQUES; ASSUMPÇÃO; MAKSUTANI, 2015, p. 4. de 93,2%, especificidade de 92,1% e acurácia de 92,6%. Outras propostas surgi- ram, como a de Wolfe e colaboradores, em 2010, que propunha novos critérios diagnósticos, considerando a combinação associada de dor espalhada e uma escala de severidade dos sintomas. A Figura 1 ilustra os tender points instituí- dos nos critérios de diagnóstico elaborados em 1990 pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR). CURIOSIDADE A fibromialgia apresenta uma sintomatologia ampla; porém, muitos pa- cientes procuram o neurologista apresentando queixas de cefaleia ten- sional crônica e recebem tratamento para enxaqueca. Outros procuram o otorrinolaringologista, queixando-se de tontura e zumbidos, e recebem diagnóstico de labirintite. Finalmente, há os que recorrem ao cardiologista, com queixas de dor torácica e palpitações, e, depois de realizados exa- mes como a eletrocardiografia e ecocardiografia, estes se apresentam normais. Fato é que todas essas manifestações podem estar presentes em portadores de fibromialgia. (1 e 2) Occipital: inserção dos músculos suboccipitais (3 e 4) Cervical baixa: anteriormente, entre os processos transversos de C5-C7 (5 e 6) Trapézio: ponto médio das fibras superiores do músculo trapézio (7 e 8) Supraespinhal: inserção do músculo supraespinhal, acima da espinha da escápula, próximo ao ângulo medial (9 e 10) Segunda articulação costocondral: lateral e superiormente à articulação (11 e 12) Epicôndilo lateral: 2 cm distalmente ao epicôndilo (13 e 14) Glúteo: quadrante superior e lateral das nádegas (15 e 16) Trocânter maior: posterior à proeminência trocantérica (17 e 18) Joelho: coxim gorduroso medial, próximo à linha articular 17 11 3 4 10 12 15 13 7 5 1 2 6 8 14 16 18 9 FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 42 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 42 06/04/2021 17:02:06 Conforme os critérios estabelecidos pelo ACR, são manifestações clássicas nessa síndrome a presença de dor espalhada e crônica, com maior frequência nos ombros e região cervical, parede torácica e membros, que, muitas vezes, se asso- ciam à rigidez matinal, alterações do sono, fadiga, cefaleia crônica, sensação de edema, parestesias, ansiedade, depressão, alterações intestinais, como síndrome do cólon irritável, entre outros sintomas. Alguns pacientes relatam comprometi- mento cognitivo e apresentam defi cit de memória e raciocínio, alterações emocio- nais, como ansiedade e depressão, além de comprometimento físico e de impacto na qualidade de vida (MARQUES; ASSUMPÇÃO; MAKSUTANI, 2015). Pela complexidade de seu quadro clínico, o tratamento da dor e das outras sintomatologias não são sanados com o uso de anti-infl amatórios ou analgé- sicos simples. Há necessidade da prescrição de antidepressivos, neuromodu- ladores e relaxantes musculares. Fato é que, ao serem empregados, o reuma- tologista necessita conscientizar o paciente de que a medicação atuará sobre os mecanismos que envolvem a geração e inibição da dor e de outras sinto- matologias apresentadas, independentemente de interferirem no estado de dinamismo do próprio paciente. Um grande aliado nessa síndrome é a prática regular de atividades físicas, tanto as modalidades aeróbicas quanto anaeróbicas. Modalidades fi siotera- pêuticas, como o Pilates, recursos eletrotermofototerápicos, cinesioterapia, entre outras, são bem-vindas se indicadas na fase correta da síndrome. Cui- dados com a alimentação, adquirindo-se hábitos saudáveis e condições que possibilitem uma boa noite de sono também são imprescindíveis, otimizando a qualidade de vida dos portadores de fi bromialgia. Hérnia discal A hérnia de disco é uma das doenças degenerativas mais frequentes da coluna vertebral lombar, representada pela falência mecânica do ânulo fi broso em manter o núcleo pulposo no interior do disco intervertebral. Também é bastante recorrente na coluna cervical, sendo esses dois segmentos os mais afetados devido à maior amplitude de movimento que apresentam. A hérnia discal ocorre em aproximadamente 2% da população geral e é um pouco mais prevalente em homens do que em mulheres. Os episódios estão FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 43 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 43 06/04/2021 17:02:07 associados a tarefas ocupacionais ou mesmo do dia a dia, como levantamento de peso (esforço) imediatamente prévio ao início dos sintomas. Está clara a re- lação entre a incidência de “alterações discais”, como protrusões, abaulamen- tos etc., em indivíduos assintomáticos após os 40 anos de idade, e isso ocorre em 64% das pessoas, sendo o envelhecimento um de seus fatores causais. A hérnia de disco apresenta-se como uma doença degenerativa discal, e, em seu estágio inicial, há a ruptura interna do ânulo discal. A hérnia do núcleo pulposo dá-se através dessa ruptura anular, podendo ser o núcleo empurrado externamente ao do disco, caso haja pressão suficiente. Veja bem: para que ocorra uma hérnia, o disco necessita de fluidez, ou seja, discos bem hidratados de indivíduos jovens apresentam maior probabilidade a herniar. Sua classificação está em conformidade com a morfologia, localização e tempo de evolução. Morfologicamente, no início do processo, há um quadro degenerativo no ânulo fibroso. Posteriormente, podem-se apresentar protru- sas, conceituadas pelo abaulamento excêntrico de um ânulo fibroso parcial- mente intacto; extrusas, nas quais a característica é a presença de material que cruza o ânulo fibroso, mas permanece contínuo com o restante do núcleo dentro do espaço discal; e as sequestradas, em que há a presença de material do núcleo, que não mantém contato com o restante, conforme ilustra a Figura 2 (BARROS FILHO; CAMANHO; CAMARGO, 2012). Figura 2. Hérnia discal e respectiva classificação morfológica. Fonte: Smart Servier Medical Art, 2019. Hérnia discal Degeneração Extrusão Sequestro Protrusão FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 44 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 44 06/04/2021 17:02:12 A hérnia de disco cervical pode acometer um nervo, ou a medula es- pinhal. Seu quadro manifesta-se por quadro álgico em membros superio- res, pescoço e região superior do dorso, e, quando há compressão nervosa, aumenta-se a sensibilidade aos estímulos dolorosos. O paciente poderá, ainda, apresentar dificuldade em movimentos do pescoço e membros supe- riores, bem como apresentar fraqueza e parestesia em toda a extensão dos membros superiores. Na fase aguda da hérnia de disco lombar, há a presença de dor com irra- diação para o membro inferior, caracterizada como súbita e lancinante. Por vezes, o quadro de lombalgia pode-se iniciar de maneira aguda, e, após um período variável (horas ou dias), a lombalgia melhora concomitantemente ao início da dor ciática no membro inferior. O diagnóstico é elaborado por meio da anamnese, quando inicialmente deve ser observado o quadro do paciente. Em casos agudos, é desnecessá- ria a solicitação de exames complementares. No entanto, frente à persistên- cia ou piora da sintomatologia, em casos crônicos ou na presença de sinais de alarme, como trauma, febre, dor noturna etc., exames de imagem devem ser solicitados. Na radiografia convencional, não se detecta a hérnia de disco, mas pode haver alterações que indiquem esse quadro, como alterações do esqueleto axial sugestivas de doença degenerativa discal (osteófitos, diminuição do espaço intervertebral, hipertrofia de facetas, entre outras). Boa parte dos pacientes com hérnia discal lombar aguda melhoram os sintomas de ciatalgia em um período de 1 a 6 meses, sem que haja neces- sidade de intervenção cirúrgica. A fisioterapia é uma grande aliada nesses quadros, sendo a cinesioterapia recomendada assim que haja melhora no quadro álgico, com foco nos glúteos, musculatura flexora do joelho e mus- culatura abdominal. A eletrotermofototerapia e recursos manuais também apresentarão bons resultados nos quadrosálgicos e no relaxamento muscular. O tratamento medicamentoso deverá incluir a prescri- ção de anti-inflamatórios não hormonais, drogas opioi- des, relaxantes musculares e, eventualmente, corticos- teroides intramusculares. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 45 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 45 06/04/2021 17:02:12 Alterações musculoesqueléticas degenerativas de membros inferiores Dando sequência aos nossos estudos, vamos agora fazer uma aborda- gem sobre as condições musculoesqueléticas que acometem o pé. Apren- demos que, no processo de envelhecimento fi siológico normal, o sistema musculoesquelético vai-se alterando gradativamente. Vamos, então, neste tópico, falar sobre duas patologias resultantes de al- terações degenerativas: a fascite plantar e o esporão de calcâneo. Denomina- da, pela literatura, síndrome dolorosa subcalcânea (SDS), essa enfermidade envolve ambas as patologias, tendo sido descrita originalmente em 1812. Sua incidência é grande, constituindo uma questão ortopédica muito comum, que atinge principalmente o sexo masculino, entre 40 e 70 anos de idade. Alguns estudos se referem à síndrome dolorosa subcalcânea como sinô- nimo de esporão do calcâneo, o que nos remeteria a usar esse termo para nos referirmos à dor no calcanhar plantar por indução mecânica, sendo fre- quentemente confundida com a fascite plantar. A fascite plantar, por sua vez, apresenta-se com muita frequência, sendo uma causa de dor muito comum na região plantar calcânea, embora, quan- do encontrada no contexto da síndrome dolorosa subcalcânea, sua etiolo- gia ainda não seja bem esclarecida. Já o esporão do calcâneo associou-se ao grupo da síndrome dolorosa sub- calcânea em 1915, embora essa ligação nunca tenha sido fortemente afi rma- da. Sabe-se de sua presença, porém, em aproximadamente 50% de pacientes com SDS. Vamos falar, portanto, das duas patologias distintamente, uma vez que podem se manifestar independentemente do contexto da SDS. Fascite plantar A fáscia plantar é composta por uma banda fi brosa densa de tecido conjun- tivo que se estende da tuberosidade medial do calcâneo (“osso do calcanhar”) até as falanges proximais e é responsável pelo fornecimento de suporte ao pé. A fascite plantar, segundo alguns estudos, pode ter sua causa pelo uso excessivo, encurtamento da fáscia e/ou presença de um osteófi to no calcâneo. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 46 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 46 06/04/2021 17:02:12 Em relação à presença de osteófitos, essa condição pode apresentar-se de ma- neira assintomática. Outros fatores, como a obesidade oriunda de uma ges- tação, podem aumentar a carga sobre a fáscia, resultando na fascite plantar (GRANT; HERRERA, 2009). Seu ápice de incidência ocorre entre os 40 e os 60 anos de idade, afetando os sexos feminino e masculino na mesma proporção. O quadro clínico manifesta-se por queixas de dor, principalmente sobre o calcanhar medial, que pode prolongar-se ao longo do arco do pé, com piora matinal, ao dar o primeiro passo do dia. Isso acontece devido à contração da fáscia plantar à noite, durante o sono. Dando-se o primeiro passo, ocorre o es- tiramento da fáscia, o que causa uma irritação no local inflamado. A realização da dorsiflexão passiva poderá também gerar dor. Figura 3. Fascite plantar. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/02/2021. O diagnóstico da fascite plantar é estritamente clínico e deve ser baseado na anamnese e no exame físico. Em algumas circunstâncias, exames comple- mentares poderão ser úteis para confirmar o diagnóstico, excluir outras pato- logias e elaborar a terapêutica. Fascite plantar Fáscia plantar Calcâneo Fáscia plantar inflamada Pé saudável Fascite plantar FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 47 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 47 06/04/2021 17:02:16 A fi sioterapia é bastante efi caz para a fascite plantar. A aplicação de criote- rapia e cinesioterapia às custas do alongamento da fáscia plantar e do tendão do calcâneo são recursos indicados. Órteses poderão ser indicadas, como uma tala noturna para imobilização do tornozelo em dorsifl exão, que pode ser útil para que a fáscia fi que alongada. Sobre o tratamento medicamentoso, infi ltra- ções poderão auxiliar na recuperação. Recentemente, alguns médicos têm usado a infi ltração de toxina botulíni- ca como procedimento. Os resultados iniciais são promissores, com menores riscos quando comparados à infi ltração com esteroide. Intervenção cirúrgica faz-se necessária em menos de 5% dos casos – e as opções cirúrgicas devem incluir a liberação parcial da fáscia plantar. Esporão do calcâneo Também denominada síndrome do esporão do calcâneo, essa enfermi- dade apresenta um crescimento ósseo “extra”, que, na síndrome dolorosa subcalcânea (SDS), pode formar-se quando a fáscia plantar realiza uma tração demasiada sobre o calcâneo. O esporão do calcâneo emerge, normalmente, na base do osso calcâneo, ou seja, na sola do pé, ou pode emergir na região posterior do calcâneo, próximo ao local onde se insere o tendão de Aquiles. A Figura 4 ilustra os locais de aco- metimento da patologia. Figura 4. Esporão do calcâneo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 13/02/2021. Esporão do calcâneo (esporão no calcanhar) Ossos do pé humano (visão lateral) Esporão dorsal Esporão plantar FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 48 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 48 06/04/2021 17:02:30 Podemos atribuir o desenvolvimento do esporão a microtraumas e infla- mações crônicas da parte inferior do calcanhar, em que o acometimento pode estender-se para os tendões e a fáscia plantar. Os vários microtraumas e pro- cessos inflamatórios crônicos por período prolongado podem favorecer a for- mação de calcificações nos tecidos que se encontram rodeando o osso do cal- canhar, o que culmina no crescimento dos esporões. Entre os fatores de risco, estão o envelhecimento, excesso de peso, alte- rações no arco plantar, atividades esportivas que impactem o pé, atividades laborais em ortostatismo prolongado, excesso de uso de salto alto, bem como calçados inadequados (velhos, apertados etc.), além de patologias que causem alterações na marcha, entre outros. A sintomatologia, por vezes, pode estar ausente, e dados revelam que cerca de 95% dos pacientes são assintomáticos. Fato é que, para que haja dor, se faz necessária a presença de um quadro inflamatório nos tecidos que rodeiam o calcanhar, o que, conforme já citamos, se dá geralmente pelo acometimento da fáscia plantar, devido aos microtraumas repetitivos (GRANT; HERRERA, 2009). DICA Geralmente, apenas o espetamento de um esporão não é suficiente para que os pacientes se queixem de dor, o que nos leva a concluir que as dores, nessa patologia, estão associadas à fascite plantar. Dessa manei- ra, o esporão é somente um indicativo de que aquele local do calcanhar permaneceu, nos últimos tempos, exposto a microtraumas e estresses constantes. No caso de processos inflamatórios, o sintoma mais comum será a dor, localizada ao redor da base do calcâneo e no arco plantar, caracterizada pela piora quando se levanta da cama ou após um longo período em sedestação. O diagnóstico do esporão do calcâneo é baseado na história clínica. O profissional poderá também solicitar alguns exames de imagem, como a ra- diografia convencional do pé, exame muito indicado para que se confirme o diagnóstico. Caso detectado o esporão, os procedimentos a serem adotados somente serão necessários caso o processo inflamatório ao redor tenha se desenvol- vido, prementemente na forma de fascite plantar, devendo ser adotada a conduta já abordada nessa patologia. Intervenções cirúrgicas para retirar o FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 49 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 49 06/04/2021 17:02:31 esporão apresentam-se como última alternativa, uma vez que o controle da dor pode ser realizado por condutas conservadoras. Doenças metabólicasósseas As doenças metabólicas estão aumentando gradativamente, e profi s- sionais da área da saúde apontam a obesidade como a grande vilã para esse acontecimento. Vamos, neste tópico, referir-nos a um grupo de doen- ças atreladas a alterações do metabolismo, que nada mais são do que rea- ções químicas existentes no nosso organismo, que asseguram que sejam supridas nossas demandas energéticas e estruturais. Para que possamos compreender melhor essas alterações, há dois pro- cessos que ocorrem no metabolismo: o anabolismo e o catabolismo. No anabolismo, a síntese de biomoléculas é usada para produzir novas subs- tâncias necessárias para o corpo humano, e há energia sufi ciente. Já no ca- tabolismo, há quebra ou desdobramento molecular sufi cientes para liberar a energia necessária para a execução de nossas atividades. Abordaremos, a partir daí, as doenças metabólicas ósseas (osteome- tabólicas), caracterizadas por transtornos do metabolismo ósseo que cul- minam na perda de massa óssea, fragilidade do tecido ósseo e suscetibilida- de à ocorrência de fraturas. As doenças osteometabólicas ocorrem pelo desequilíbrio no metabolis- mo mineral, como exemplo a defi ciência de cálcio, e merecem tratamento adequado. Algumas delas são: osteoporose, doença de Paget e raquitismo, focos de nosso estudo. Raquitismo Para que o osso creça normalmente, há necessidade da ingestão de dois componentes: o cálcio adequado e níveis de fósforo normais. Isso faz com que ocorra a mineralização óssea, que, caso se encontre defi ciente, pode acarretar o raquitismo e/ou a osteomalacia. O raquitismo nada mais é do que uma mineralização defi ciente localizada na placa de crescimento, quando se rompe a arquitetura dessa estrutura no FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 50 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 50 06/04/2021 17:02:31 osso recém-formado. Já a osteomalacia refere-se ao deficit de mineralização na matriz óssea. Essas duas alterações geralmente estão associadas, sendo que o raquitismo se desenvolve enquanto as placas de crescimento encon- tram-se abertas, e a osteomalacia, quando estas já se fundiram. Brandão Neto (2016) cita que [...] defeitos de mineralização podem ocorrer por diversos motivos como alterações na produção de osteoide, falta dos substratos (cál- cio e fósforo), carência nutricional, deficiência na produção ou ab- sorção de vitamina D, tubulopatias perdedoras de fósforo, alteração do potencial hidrogeniônico (pH), deficiência de fosfatase alcalina, entre outras causas. Esses defeitos da mineralização são classifica- dos de acordo com a deficiência mineral predominante. O raquitismo poderá ser calcipênico, em que ocorre deficit de calcio, ge- ralmente ligado à ingestão e/ou metabolismo inadequado do cálcio com níveis normais de vitamina D; e fosfopênico, em que normalmente ocorre desperdí- cio de fósforo renal. O raquitismo manifesta-se costumeiramente no antebraço distal, no joelho e nas junções costocondrais. Isso reside no fato de essas estruturas apresen- tarem sítios de crescimento ósseo acelerado, com forte necessidade de cálcio e fósforo para que ocorra a mineralização. As crianças poderão desenvolver estatura baixa ou ter diminuição na velocidade de seu crescimento. São alguns dos achados esqueléticos encontrados no raquitismo: o retardo do fechamen- to das fontanelas, ossos do crânio moles (craniotabes), junção costocondral e punho alargados; rádio e ulna arqueados distalmente; e fêmur e tíbia lateral- mente arqueados (progressivamente). O diagnóstico do raquitismo pode ser feito pelo exame radiológico, que per- mite observar o alargamento da placa de crescimento, bem como a ausência da definição da zona de calcificação provisória na interface epifiseal/metafisária. Na evolução da doença, são observadas a desorganização da placa de crescimento e a construção de esporões corticais, osteopenia no eixo dos ossos longos e camada cortical óssea delgada, com trabéculas reduzidas e grosseiras. Poderão, ainda, ser observadas fraturas e pseudofraturas patológicas (BRANDÃO NETO, 2016). Os exames laboratoriais poderão identificar aumento da fosfatase alcalina sérica; concentrações de fósforo no soro mais baixas; concentração sérica de FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 51 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 51 06/04/2021 17:02:31 cálcio menor ou normal no raquitismo calcipênico; e cálcio sérico comumente normal no fosfopênico. As condutas a serem adotadas devem estar em consonância com a causa. Se há defi cit de vitamina D, indica-se preparo oral de vitamina D e suplemen- tá-lo com cálcio em crianças que apresentam pobre ingestão desses compo- nentes. O médico pediatra também deverá monitorar o crescimento, observar o desenvolvimento de deformidades ósseas ou quaisquer complicações asso- ciadas ao raquitismo. Osteoporose A denominação “osteoporose” foi introduzida no século XIX, na França e na Alemanha, para fazer a descrição do achado histológico da porosidade óssea. Mais tarde, com o surgimento da densitometria óssea, defi niu-se osteoporose como doença sistêmica esquelética, cuja característica principal é a baixa mas- sa óssea e desorganização da microarquitetura desse tecido, aumentando, as- sim, tanto a fragilidade quanto a propensão às fraturas (MARTINS et al., 2009). Pela defi nição da Organização Mundial da Saúde (OMS), densitometrica- mente, a osteoporose apresenta densidade de massa óssea inferior a 2,5 des- vios-padrão (SD) em relação à média para mulheres jovens brancas saudáveis, conforme descreve o Quadro 1. Esse quadro se refere à densidade do sujeito comparada a de adultos jovens normais do mesmo sexo (T-Score). Vale ressaltar que ainda não há defi nição em como deveria ser aplicado esse critério diagnós- tico para crianças e homens ou para distintos grupos étnicos. QUADRO 1. CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA OSTEOPOROSE PELA OMS Categoria Defi nição (T-Score) Normal Valor da densidade óssea superior a -1 desvio-padrão em relação à média dos valores para adultos jovens saudáveis (T-Score) Osteopenia Valor da densidade óssea entre -1 e -2,5 desvios-padrão em relação à média dos valores para adultos jovens saudáveis Osteoporose Valor da densidade óssea menor que -2,5 desvios-padrão em relação à média dos valores para adultos jovens saudáveis Osteoporose estabelecida Valor da densidade óssea menor que -2,5 desvios-padrão em relação à média dos valores para adultos jovens saudáveis e pelo menos uma fratura por fragilidade óssea Fonte: MARTINS et al., 2009, p. 461.(Adaptado). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 52 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 52 06/04/2021 17:02:31 A prevalência da osteoporose aumenta no mundo, uma vez que a popula- ção está cada vez mais envelhecida, e suas complicações são hoje um problema de saúde pública, que comprometem principalmente a independência funcio- nal do sujeito e sua qualidade de vida. A osteoporose acomete o idoso e incide mais nas mulheres devido à meno- pausa e sua interferência na perda de massa óssea. Nos idosos, a redução de massa óssea é natural, ou seja, é um processo senescente. O que ocorre nessa população é que, com o envelhecimento, também há redução de massa mus- cular, o que os torna mais suscetíveis aos quadros de fraturas. Fisiopatologicamente, a osteoporose apresenta um desequilíbrio entre a reabsorção e a formação óssea, ou seja, o organismo reabsorve mais osso do que forma, apresentando um saldo negativo nessa relação. ASSISTA Para que você aprimore seus conhecimentos sobre a fisiopatologia da osteoporose, assista ao vídeo Osteoporo- se: como ocorre, que explica de maneira clara e objetiva a participação das células ósseas no processo de remode- lação – e quando esse processo deixa de acontecer. São fatores de risco não modificáveis para a osteoporose: a idade, mu- lheres, antecedentes familiares de osteoporose, etnia branca, menopausa ou intervenção cirúrgica de histerectomia,uso de glicocorticoides a longo prazo e quadros artríticos, como a artrite reumatoide. Já entre os fatores de risco mo- dificáveis estão o tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, entre outros. A osteoporose é classificada como primária e secundária. Vale ressaltar que a osteoporose primária não apresenta causa conhecida para que ocorra a di- minuição da massa óssea. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 53 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 53 06/04/2021 17:02:47 QUADRO 2. CLASSIFICAÇÃO DA OSTEOPOROSE Osteoporose primária Osteoporose juvenil idiopática Osteoporose idiopática em adulto jovem Osteoporose involucional Osteoporose pós-menopausa Osteoporose senil Osteoporose secundária Doenças endocrinológicas Síndrome de Cushing Hiperparatireoidismo Hipertireoidismo Hipogonadismo Doença celíaca Síndromes de má absorção Doença pulmonar obstrutiva crônica Doença neurológica crônica Artrite reumatoide Aids/HIV Neoplasias Mieloma múltiplo Linfoma e leucemia Doenças hereditárias do tecido conjuntivo Síndrome de Ehlers-Danlos Homocistinúria Síndrome de Marfan Osteogênese imperfeita Medicações Fonte: MARTINS et al., 2009, p. 463.(Adaptado). Passamos agora a falar sobre uma complicação grave da osteoporose: as fratu- ras, que impactam muito a qualidade de vida da população idosa: • Fratura de quadril: a incidência dessa fratura aumenta com a idade, sendo que, acima dos 50 anos de idade, a fratura acontece na proporção de duas mulheres para cada homem. Esse fato ocorre pela osteoporose e em mulheres após a meno- pausa, pela deficiência de estrogênio. Ocorre, muitas vezes, pela queda da própria altura, em pacientes com diminuição da massa e resistência óssea, principalmente dentro de casa. A fratura mais temida é a do colo do fêmur, por ser incapacitante e apresentar probabilidade de óbito em 20% dos acometidos após um ano do evento; • Fratura vertebral: essa fratura por osteoporose se apresenta duas vezes mais comum que a anterior, acometendo 25% das mulheres. Vai na contramão das fratu- ras de quadril, que, na maioria das vezes, são decorrentes de quedas. Pode ocorrer por um trauma mínimo ou inexistente. A vértebra porótica não consegue sustentar a tensão e pressão normais e pode desabar com movimentos simples, como flexão do tronco, espirros ou outros movimentos simples, como flectir o tronco, virar rapi- damente ou levantar um peso. São comumente acometidas as vértebras dorsais e lombares; FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 54 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 54 06/04/2021 17:02:48 • Fratura do antebraço distal (Colles): fratura da extremidade distal do rádio, frequente nos quadros de osteoporose. Ocorre, de modo geral, após uma queda com o braço em extensão, e um deslocamento de há fragmento ósseo para trás e para o exterior. No idoso, a perda de equilíbrio e os quadros osteoporóticos são fatores que favorecem essa fratura. O diagnóstico da osteoporose pode ser feito pela constatação das fraturas cita- das ou, antes que isso aconteça, pela medida da densidade mineral óssea (DMO). As técnicas de quantifi cação da massa óssea (densitometria) tornaram possível de- tectar pacientes que apresentam maior risco de desenvolver fraturas, bem como permitir o monitoramento da massa óssea. Com relação à prevenção e tratamento da osteoporose, estes devem objetivar a prevenção de quedas, uma vez que nenhuma terapia restaura completamente a massa óssea perdida. Devem ter como base a otimização do pico de massa óssea na juventude, impedindo, assim, a perda da massa óssea, conservando a integridade da estrutura do esqueleto. As medidas devem consistir em: medidas não farmacoló- gicas, adequação do aporte de cálcio e vitamina D e medidas farmacológicas. Praticar atividade física é uma medida de extrema valia dentro do tratamento e prevenção da osteoporose por favorecer a integridade dos ossos. O fortalecimento muscular auxilia na criação de músculos que protegem os ossos, reduzindo o risco de fraturas. Portanto, tanto as atividades aeróbicas, como andar, dançar quanto as anaeróbicas, como a musculação, estão indicadas. A prática do Pilates também é recomendada, uma vez que aumenta a massa óssea e contribui para melhorar o alongamento e a fl exibilidade. No entanto, mesmo auxiliando muito, apenas os exercícios não são sufi cientes para prevenir ou tratar um quadro de osteoporose. São necessárias medidas que atuem em conjunto. Aliar alimentação adequada, com foco no consumo de nutrien- tes necessários para os ossos, é imprescindível nesse processo, e o cálcio e vitamina D apresentam-se como expoentes máximos inseridos nesses nutrientes. Doença de Paget A doença de Paget, também denominada osteíte deformante, constitui-se em uma doença óssea localizada e crônica. Sua característica é a remodela- ção óssea maior e a arquitetura anormal do osso, e pode ser encontrada nas FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 55 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 55 06/04/2021 17:02:48 formas monostótica (apenas um osso ou uma parte de um osso é afetado) ou poliostótica (dois ou mais ossos estão envolvidos). É difícil estimar sua prevalência, uma vez que a maior parte dos pacientes é assintomática. Prevalece mais em homens, e raramente é diagnosticada antes dos 40 anos de idade. Fisiopatologicamente, a alteração inicial da doença de Paget manifesta- -se pelo aumento da reabsorção óssea executada por osteoclastos anor- mais em sítios pagéticos (sítios ósseos acometidos). Isso incorre no au- mento da reabsorção óssea, havendo formação óssea veloz produzida por maior número de osteoblastos nesses sítios. Posteriormente, há produção de fibras de colágeno, as quais se depositam irregularmente, desenvol- vendo um osso não lamelar com tecido conjuntivo fibroso que se insere no espaço medular ósseo. Esse novo osso é mais propenso a deformidades ou fraturas do que um osso normal (MARTINS et al., 2009). Com relação ao quadro clínico, a maioria dos pacientes é assintomáti- ca, e há de 5 a 30% de pacientes sintomáticos. Como, então, a doença é diagnosticada? Pode ser detectada durante a execução de uma radiografia pélvica ou da coluna, ou também por uma alta concentração de fosfatase alcalina sérica. Em pacientes sintomáticos, as manifestações mais comuns são dor (óssea ou articular) e deformidades (esqueleto). São locais mais acometidos pela doença de Paget: pelve, coluna verte- bral, crânio, fêmur e tíbia. Saiba que, com a atual terapêutica disponível, dificilmente novos sítios progridem nos ossos que se apresentaram nor- mais na elaboração do diagnóstico. É característica nessa patologia a deformidade do esqueleto, que se manifesta como um aumento de tamanho, ou estrutura anormal do osso. A deformidade característica dos ossos longos é o arqueamento e o au- mento de tamanho do diâmetro, conforme ilustra a Figu- ra 5. Deformidades cranianas podem-se desenvolver, apresentando como queixa a cefaleia, zumbidos e vertigem. Maxilar e mandíbula aumentados podem incorrer em perdas dentárias. A cifose dorsal pode- -se desenvolver, como também alterações das vérte- bras, além de fraturas por compressão. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 56 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 56 06/04/2021 17:02:48 As fraturas são uma das complicações mais recorrentes nessa doença, e ocorrem em aproximadamente 7% dos pacientes. São mais frequentes fra- turas femorais, tibiais e umerais, que não se consolidam completamente. O sistema nervoso poderá estar comprometido, por compressões radiculares dos nervos, sendo a estenose espinal a mais frequente entre as complicações neurológicas. Surdez, perda parcial ou completa da visão, aumento do débito cardíaco e, raramente, insuficiência cardíaca de alto débito também poderão desenvolver-se. Para o diagnóstico da doença, deve-se solicitar exame radiológico do esque- leto, cintilografia óssea e avaliação laboratorial dos marcadores bioquímicos envolvidosno metabolismo ósseo (fosfatase alcalina e interligadores C-termi- nais do colágeno tipo I – CTx). Biópsias ósseas podem auxiliar para descartar outros diagnósticos. A tomografia computadorizada e a ressonância magnética (RNM) podem ser solicitadas para investigação de complicações neurológicas, como estenose espinal. Atualmente, com o desenvolvimento dos bisfosfonatos mais potentes, as opções terapêuticas progrediram muito. Essa medicação inibe a atividade os- teoclástica, diminuindo, então, a reabsorção óssea. A conduta deve objetivar o alívio dos sintomas, como a dor, calor em excesso na região sobre o osso, cefa- leia ocasionada pelo comprometimento do crânio e lombalgia por comprome- timento vertebral. As deformidades instaladas ficam inalteradas após o trata- mento, e, caso se desenvolva a surdez, geralmente ela também será definitiva. Figura 5. Arqueamento dos ossos longos. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/02/2021. Doença de Paget FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 57 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 57 06/04/2021 17:02:48 Osteoartrose Iniciemos essa abordagem falando sobre a nomenclatura empregada para a osteoartrose, que pode ser encontrada na literatura como osteoar- trite, doença articular degenerativa, artrose ou osteoartrose. Trata-se da doença reumática com maior prevalência na população idosa, principal- mente acima dos 65 anos de idade. Doença crônica, de etiologia multifatorial, evolui para incapacidade fun- cional progressiva. Ocorre por insufi ciência cartilaginosa, desencadeada Doenças reumáticas degenerativas e inflamatórias As doenças reumáticas comumente manifestam-se como lesões e pro- cessos infl amatórios que alteram o sistema musculoesquelético do paciente, impactando sua qualidade de vida, causando limitações e, por vezes, defor- midades. Os mais de cem tipos de doenças reumáticas detectadas pela medicina dividem-se em grandes grupos, e, entre eles, estão as doenças de caráter infl amatório e de caráter degenerativo. Mulheres são as grandes vítimas des- sas doenças, embora os homens também sejam atacados por algumas delas. Via de regra, a maior parte dessas doenças surge na faixa etária dos 50 anos em diante. Na mulher, a origem disso seria o período pós-menopausa, de maior manifestação de quadros artríticos. Pelo fato de a menopausa ser um processo natural oriundo da diminuição de estrógeno e progesterona, uma doença que está relacionada a essa dimi- nuição hormonal é a osteoartrose, que resulta na degeneração articular pela diminuição do estrogênio. Vamos falar um pouco mais sobre esta patologia. No caso de pacientes assintomáticos, a terapêutica deverá objetivar a prevenção das complicações, com foco na premissa de inibir a remodelação óssea do locais com a doença de Paget. Dessa maneira, deve-se indicar o tratamento para esses pa- cientes com lesão em locais em que a deformidade óssea possa culminar em com- pressões neuroló gicas, osteoartrose secundária ou fratura (MARTINS et al., 2009). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 58 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 58 06/04/2021 17:02:48 Figura 6. Osteoartrose de joelho. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 11/02/2021. pelo desequilíbrio entre a formação e a destruição dos principais elemen- tos que compõem a cartilagem. Está vinculada a uma série de condições, tais como: sobrecarga mecânica, mudanças bioquímicas na cartilagem e na membrana sinovial, como também fatores genéticos (COIMBRA et al., 2004). É uma afecção dolorosa das articulações, em que, além da insuficiência da cartilagem, há intensa atividade metabólica nessa estrutura, com forma- ção dos osteófitos oriundos da proliferação marginal da cartilagem e do osso, conforme ilustra a Figura 6. A idade é um fator de risco evidente, uma vez que as articulações ficam mais vulneráveis. Outros fatores de risco são o sexo feminino (com maior prevalência), obesidade, uso excessivo ou sobrecarga articular, como em determinados esportes e atividades laborais, e dieta, que também desem- penha importante papel na osteoartrose, destacando-se aqui o papel dos antioxidantes como protetores contra a evolução da doença. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 59 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 59 06/04/2021 17:02:52 CURIOSIDADE Você sabia que o tão conhecido “bico de papagaio” nada mais é do que o osteófito, formação óssea que caracteriza a osteoartrose? Dá-se por um crescimento anormal do tecido ósseo ao redor de uma articulação verte- bral, quando o disco intervertebral, que teria a função de amortecedor en- tre as vértebras, está comprometido. Esses “bicos de papagaio” emergem subsequentemente à desidratação discal, favorecendo a aproximação das vértebras e tornando possível que raízes nervosas se comprimam. As manifestações clínicas incluem dor articular, rigidez e limitação funcio- nal. A dor tem relação direta com a atividade; porém, com a evolução da doen- ça, pode apresentar-se frequente. A rigidez articular é mais proeminente pela manhã. A incapacidade funcional pode ser traduzida por restrições físicas, di- ficuldade para as atividades de vida diária, atividades laborais, físicas, entre outras. Portanto, seu caráter progressivo e irreversível, quando associado à dor e perda funcional, traz consigo grande impacto na qualidade de vida, tanto em questões sociais quanto de recursos para a saúde. As articulações mais comumente acometidas pela osteoartrose são: quadris, joelhos, primeira carpometacarpal, interfalangeanas proximais e distais, coluna cervical e lombar, primeira metatarsofalangeana e subtalar. Conforme Vanni, Stucky e Schwarstmann (2008, p. 463): A artrose é caracterizada radiograficamente por: cistos subcondrais, di- minuição do espaço articular, esclerose subcondral, osteófitos e sublu- xação articular. De todos os sinais radiológicos, a diminuição do espaço articular é aceita como fator mais relevante para avaliar a progressão da osteoartrose. Entretanto, na maioria das vezes, os ortopedistas ava- liam o espaço articular em radiografias em decúbito dorsal, o que pode falsear a real diminuição do mesmo, pois a articulação não está sendo avaliada durante a sua função, isto é, em ortostatismo monopodálico. Para diagnosticar a osteoartrose, é necessário o conhecimento do qua- dro clínico, pois este é baseado na sintomatologia, na observação articular, como também em suas manifestações radiológicas. A ecografia é um exame auxiliar para o estabelecimento do diagnóstico diferencial. O tratamento a ser adotado frente aos quadros de osteoartrose devem ob- jetivar a analgesia e a melhora da função articular. Procedimentos que retardem ou cessem a evolução da doença devem ser indicados o mais breve possível. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 60 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 60 06/04/2021 17:02:52 As intervenções devem ser baseadas no estágio em que se encontra a degeneração cartilaginosa, bem como na resposta da doença frente às con- dutas menos invasivas. Uma terapia farmacológica que apresente mínimas reações adversas deverá ser mantida sempre que o quadro álgico e a função articular apresentarem relevante melhora e esteja evidente a estagnação da doença. Caso a doença continue seu curso, poderão ser indicados inicialmente os procedimentos menos invasivos, como a artroscopia, que propicia bom prognóstico por até três anos. Também são eficazes procedimentos aber- tos, como o implante de condroprotetores. Se, porém, nenhuma das condutas descritas oferecer bons resultados, um desfecho específico é a realização de artroplastia total ou parcial. A ar- troplastia de quadril, por exemplo, é uma intervenção cirúrgica realizada para substituir a articulação do quadril, e é colocada uma prótese. Esse pro- cedimento é mais comum em idosos, principalmente a partir dos 68 anos de idade, mas a cirurgia traz possíveis complicações: são frequentes a rigidez articular, a embolia pulmonar comtrombose venosa profunda, problemas de cicatrização, óbito, luxação da prótese, quadros infecciosos, entre outras. Exercícios físicos, em especial os aeróbicos, como a caminhada; exercí- cios aquáticos, o ciclismo e a dança, podem ser auxiliares no tratamento conservador da osteoartrose. Isso porque contribuem para o fortalecimen- to muscular e melhoria do quadro álgico e da rigidez articular. Com relação à intensidade, os estudos demonstram que tanto exercícios de alta como de baixa intensidade de repetições apresentam igual efetivida- de para analgesia e melhora funcional. Se o paciente não apresentar comor- bidades restritivas para a realização dos exercícios, os aeróbicos de alta ou baixa intensidade estão indicados como conduta preventiva e terapêutica. Os exercícios podem estar contraindicados e necessitam ser avaliados criteriosamente em algumas condições, tais como: importante destruição da articulação, subluxações, sintomas de fraqueza muscular, baixa resistên- cia cardiovascular e deficit de equilíbrio e marcha. A fisioterapia por agentes físicos eletrotermofototerápicos é utilizada para a redução do processo inflamatório e do quadro álgico, favorecendo a mobilidade e a função articular. A crioterapia auxilia na analgesia por pro- FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 61 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 61 06/04/2021 17:02:52 Artrite reumatoide A artrite reumatoide (AR) é uma doença reumática infl amatória crônica, autoimune, ou seja, de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite simétrica perifé rica. Geralmente evolui para lesões articulares e incapaci- dade fí sica. Apresenta caráter sistêmico, com uma gama de manifestações extra-articulares, que incluem fadiga, nódulos subcutâneos, acometimento pulmonar, pericardite, neuropatia perifé rica, vasculite e anormalidades he- matológicas (FAUCI; LANGFORD, 2014). Sua incidência aumenta entre os 25 e 55 anos de idade, atingindo seu platô até os 75 anos, regredindo após essa idade. Manifesta-se inicialmente por quadro infl amatório em articulações, tendões e bursas. De modo geral, os pacientes referem queixas de inchaço matinal articular, com duração de mais de uma hora, melhorando com a atividade fí sica. Inicialmente, são acometidas as pequenas articulações das mãos e pés, sendo o padrão inicial monoarticular, oligoarticular (≤ 4 articulações) ou po- liarticular (> 5 articulações), que cursa distribuído simetricamente. Quando o processo da AR se estabelece, as articulações cárpicas, metacarpofalan- geanas (MCP) e interfalangeanas proximais (PIP) acabam tendo o maior aco- metimento. A Figura 7 ilustra o acometimento da AR nas mãos. Figura 7. Artrite reumatoide (mãos). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 16/02/2021. mover efeito na diminuição de sensibilidade local, por ser vasoconstritora e por bloquear os estímulos nervosos articulares. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 62 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 62 06/04/2021 17:03:10 É frequente na AR a tenossinovite do tendão flexor, acarretando deficit de movimento, fraqueza ao pegar objetos e dedos inseguros. As deformida- des crônicas irreversíveis ocorrem pela destruição progressiva das articula- ções e tecidos moles. Pode ocorrer desvio ulnar, resultante da subluxação das articulações MCP, com subluxação da falange proximal do lado volar da mão (FAUCI; LANGFORD, 2014). Algumas deformidades características podem se desenvolver. A deformi- dade em pescoço de cisne corresponde à hiperextensão da articulação PIP com flexão da articulação DIP. Já a deformidade de boutonnière corresponde à flexão da articulação PIP com hiperextensão da articulação DIP. A defor- midade da linha Z corresponde, por seu turno, à subluxação da primeira ar- ticulação MCP com hiperextensão da primeira articulação interfalangeana – IP (FAUCI; LANGFORD, 2014). Nos pés podem surgir deformi- dades no início da doença, como o envolvimento da articulação meta- tarsofalangeana (MTP), característica do início do quadro. O tornozelo e as regiões medianas do tarso são co- mumente afetados posteriormente, predispondo ao desenvolvimento dos pes planovalgus (“pés chatos”). Articu- lações do joelho e ombro são geral- mente acometidas quando a doença já se estabeleceu, mas podem permanecer assintomáticas por muitos anos após o aparecimento da AR (FAUCI; LANGFORD, 2014). Poderá ocorrer acometimento atlantoaxial na coluna cervical, clinica- mente relevante, já que se pode desenvolver mielopatia compressiva e dis- função neurológica. Instabilidade progressiva de C1 em C2 poderá ocorrer pela subluxação atlantoaxial (FAUCI; LANGFORD, 2014). Para que seja feito o diagnóstico da AR, devem ser obtidos pelo menos quatro dos critérios do Quadro 3, que deverão estar presentes por um pe- ríodo de pelo menos seis semanas. Os critérios são adotados pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 63 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 63 06/04/2021 17:03:42 QUADRO 3. CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA AR CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA ARTRITE REUMATOIDE (ACR) • Rigidez articular matinal durando pelo menos 1 hora • Artrite em pelo menos três áreas articulares • Artrite de articulações das mãos: punhos, interfalangeanas proximais (articulação do meio dos dedos) e metacarpofalangeanas (entre os dedos e mão) • Artrite simétrica (por exemplo, no punho esquerdo e no direito) • Presença de nódulos reumatoides • Presença de fator reumatoide no sangue • Alterações radiográficas: erosões articulares ou descalcificações localizadas em radiografias de mãos e punhos Fonte: BRASIL, 2015; SBR, 2011. Além desses critérios, o reumatologista deverá avaliar a necessidade de solicita- ção de exames complementares para auxiliar no diagnóstico. Os exames laborato- riais podem detectar o fator reumatoide, que é encontrado em aproximadamente 75% dos casos, quando a doença se inicia. Anticorpos contra filagrina/profilagrina e anticorpos contra peptídeo citrulinado cíclico (PCC) poderão ser detectados em estágios precoces da AR, porém os exames apresentam alto custo. VHS e proteína C-reativa são provas de atividade inflamatória relacionadas ao curso da doença. Para a detecção dos sinais, os exames de imagem, como radiografias, RNM, tomo- grafia computadorizada (TC), ultrassonografias, entre outros, serão úteis. A conduta é medicamentosa e vai variar conforme o curso da doença, sua fase e gravidade. Serão grandes aliadas a fisioterapia e a terapia ocu- pacional, uma vez que há necessidade da manutenção das amplitudes de movimento, prevenindo, assim, as articulações das deformidades. A massa muscular também deve ser fortalecida, já que isso colabora para a integri- dade articular e contribui para que o paciente continue sua rotina e consiga realizar suas atividades da vida diária. A cinesioterapia poderá beneficiar o paciente em seu condicionamento físico, abrangendo atividades tanto aeróbicas quanto anaeróbicas, exercí- cios resistidos, alongamentos, relaxamentos, devendo o profissional sem- pre respeitar os critérios de tolerância individual. Recursos eletrotermofo- toterápicos e hidroterápicos auxiliarão os pacientes nos quadros álgicos, na rigidez e na prevenção das deformidades. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 64 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 64 06/04/2021 17:03:42 Sintetizando Realizamos a presente abordagem para trazer a você mais conhecimento sobre algumas doenças reumáticas específicas, nas quais há acometimento do sistema musculoesquelético do esqueleto axial e dos membros inferiores. Pude- mos falar de síndromes dolorosas, como a fibromialgia, e duas patologias que causam quadros dolorosos nos pés, interferindo na marcha – e, assim, na quali- dade de vida da população idosa. Pudemos também contextualizar as doenças reumáticas metabólicas, inter- -relacionando-as a seus respectivos metabolismos ósseos, abrangendo aqui o raquitismo,a doença de Paget e a osteoporose – e explicitando conceitos, etio- patogenia, métodos de diagnóstico e condutas adotadas em cada uma, desde a prevenção às condutas conservadoras. Pudemos concluir que especialmente a osteoporose, por estar no processo de envelhecimento natural, implica no idoso graves complicações, que são as fraturas, o que impacta a qualidade de vida dessa população pelas limitações físicas e comorbidades decorrentes de condutas cirúrgicas. Em uma breve contextualização sobre a osteoartrose, que também faz parte do processo natural do envelhecimento, pudemos observar seu caráter degene- rativo e oligoarticular, que, com a evolução de seu curso, traz complicações articu- lares que acabam culminando em processos cirúrgicos, por vezes levando o pa- ciente a comorbidades e mortalidade em função de complicações pós-cirúrgicas. Finalizamos esta unidade com um breve apanhado sobre a artrite reumatoi- de, doença de caráter inflamatório crônico, autoimune, que culmina em respos- tas muito agressivas tanto articulares quanto extra-articulares. Fato é que, com o passar da idade, essas doenças acabam interferindo nas atividades de vida diária – e, subsequentemente, impactam a qualidade de vida da população idosa, uma vez que naturalmente essa população perde, gradati- vamente, muitas de suas funções. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 65 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 65 06/04/2021 17:03:42 Referências bibliográficas BARROS FILHO, T. E. P.; CAMANHO, G. L.; CAMARGO, O. P. (ed.). Clínica ortopédica. Barueri, SP: Manole, 2012, v. 2. BRANDÃO NETO, R. A. Raquitismo. Medicina Net, Porto Alegre, 12 dez. 2016. Dispo- nível em: . Acesso em: 11 fev. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Artrite reumatoide e artrose (osteoartrite). BVS – Bi- blioteca Virtual em Saúde, Brasília, 23 fev. 2015. Disponível em: . Acesso em: 11 fev. 2021. COIMBRA, I. B. et al. Osteoartrite (artrose): tratamento. Revista Brasileira de Reu- matologia, São Paulo, v. 44, n. 6, p. 450-453, 2004. Disponível em: . Acesso em: 11 fev. 2021. FAUCI, A. S.; LANGFORD, C. A. (org.). Reumatologia de Harrison. 3. ed. Porto Alegre: AMGH [Artmed], 2014. GRANT, C.; HERRERA, J. E. Manual de medicina musculoesquelética. Tradução de Jacques Vissoky. Porto Alegre: Artmed, 2009. MARQUES, A. P.; ASSUMPÇÃO, A.; MATSUTANI, L. A. Fibromialgia e fisioterapia: avaliação e tratamento. 2. ed. rev. atual. Barueri: Manole, 2015. MARTINS, M. A. et al. (ed.). Clínica médica: doenças endócrinas e metabólicas, doenças ósseas, doenças reumatológicas. Barueri: Manole, 2009, v. 5. OSTEOPOROSE: como ocorre. Postado por Canal da Osteoporose Dr. Claudio Man- cini. (6min. 12s.). son., color., port. Disponível em: . Acesso em: 9 fev. 2021. SBR – SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Comissão de Artrite Reumatoi- de. Artrite reumatoide: cartilha para pacientes. São Paulo: SBR, 2011. Disponível em: . Acesso em: 11 fev. 2021. SMART SERVIER MEDICAL ART. Disc herniation: degeneration, prolapse, extrusion, sequestration. 1 imagem, color. Wikimedia Commons, [s.l.], 2019. Disponível em: . Acesso em: 9 fev. 2021. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 66 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 66 06/04/2021 17:03:42 VANNI, G. F.; STUCKY, J. M.; SCHWARSTMANN, C. R. Avaliação radiológica do espaço articular na artrose do quadril: estudo comparativo em decúbito e ortostatismo. Re- vista Brasileira de Ortopedia, São Paulo, v. 43, n. 10, p. 460-464, 2008. Disponível em: . Acesso em: 11 fev. 2021. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 67 SER_ FISIO_FISCSI_UNID2.indd 67 06/04/2021 17:03:42 DOENÇAS REUMÁTICAS II 3 UNIDADE SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 68 06/04/2021 18:05:21 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Transmitir conhecimentos sobre as artropatias na infância; Promover conhecimentos sobre a artrite séptica aguda e crônica, apresentando sua classificação aguda em gonocócica e não gonocócica; Contextualizar as artropatias soronegativas, apresentando as características desse grupo de doenças; Apontar as principais características da espondilite anquilosante e da artrite psoriásica, bem como suas manifestações clínicas, critérios de diagnóstico e respectivas condutas multidisciplinares. Artropatias na infância Artrite reumatoide juvenil Febre reumática Artrite séptica Artrite séptica crônica Artrite séptica aguda não gono- cócica Artrite séptica aguda gonocócica Espondiloartropatias soronega- tivas Espondilite anquilosante Artrite psoriásica FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 69 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 69 06/04/2021 18:05:21 Artropatias na infância A maior parte da população acredita que as doenças reumáticas são exclu- sividade da população adulta, principalmente dos idosos, daí o emprego do ter- mo reumatismo. É fato que várias das condições ditas reumáticas se associam a enfermidades degenerativas, como a osteoartrose. Todavia há uma grande quantidade de doenças que podem acometer a população infantil, oriundas de outras causas que não a degenerativa, como as doenças osteometabólicas. A sintomatologia se apresenta semelhante nas diferentes faixas etárias, como a rigidez articular, levando a limitações permanentes, prognóstico desfa- vorável e grande impacto na qualidade de vida das crianças. Estima-se que cerca de 25% das doenças reumáticas acometem indivíduos menores de 16 anos em países desenvolvidos, esse número é ainda maior em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. No Brasil, a febre reumática lidera o ranking das doenças reumáticas mais frequentes em crianças em idade escolar e adolescentes, seguida pela artrite reumatoide juvenil. Doenças reumáticas infl amatórias, como o lúpus eritematoso sistêmico (LES), a dermatopolimiosite (DMP), a esclerodermia (ESP), as vasculites, entre outras, apresen- tam-se como motivos importantes da procura por reumatologistas pediátricos. Artrite reumatoide juvenil A artrite reumatoide juvenil (ARJ), também denominada de doença de Still ou artrite idiopática juvenil (AIJ), é uma doença reumática de caráter infl ama- tório, crônico e sistêmico, que acomete, em seu curso, articulações e órgãos. Manifesta-se clinicamente por quadros de artrite, caracterizada pela resposta infl amatória nas articulações, manifestações que se iniciam, de modo caracterís- tico, sempre antes dos 16 anos de idade (SHINIO; MOREIRA, 2021). ASSISTA A artrite reumatoide juvenil é um tipo de artrite que acomete crianças até os 16 anos. O vídeo O que é Artrite Reumatóide Juvenil apresenta, de modo bastante didático, o que é essa patologia, suas principais caracte- rísticas e manifestações clínicas. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 70 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 70 06/04/2021 18:05:21 Como uma das denominações sugere, sua etiologia é desconhecida, po- dendo estar relacionada a fatores imunológicos, genéticos e infecciosos. Ou seja, histórico familiar, infecções virais ou bacterianas, estresse emocional e traumas articulares podem ser fatores desencadeantes da doença. O diagnóstico da Artrite Reumatóide Juvenil é clínico e baseia- -se na presença de artrite em uma ou mais articulações com duração igual ou maior a 6 semanas. Várias doenças, como por exemplo, as infecções, devem ser pesquisadas e descartadas, uma vez que a artrite é manifestação comum em várias doen- ças não reumáticas. Além da dor e da inflamação articular pode ser observada uma certa dificuldadena movimentação ao acor- dar (rigidez matinal), fraqueza ou incapacidade na mobilização das articulações, além de febre alta diária (> 39º C) por períodos maiores do que 2 semanas (SBR, 2019a). Com relação às manifestações clínicas, a ARJ pode se apresentar em três formas mais comuns, conforme apresentado no Quadro 1. Formas de manifestação Características Pauciarticular (ou oligoarticular) Acometimento de até quatro articulações, sendo joelhos e os tornozelos mais incidentes. Poliarticular Envolvimento de cinco ou mais articulações, com maior ocorrência para os joelhos, tornozelos, punhos, cotovelos e pequenas articulações das mãos e dos pés. Sistêmico Caráter insidioso, presença de artrite associada à febre alta em um ou dois picos diários (39º C), erupção na pele (exantema, rash cutâneo), gânglios, serosite (inflamação da pleura e do pericárdio) e aumento de fígado e baço ao exame clínico. QUADRO 1. FORMAS DE MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ARTRITE REUMATOIDE JUVENIL Fonte: SBR, 2019a. (Adaptado). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 71 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 71 06/04/2021 18:05:21 Esse comprometimento articular é acompanhado por quadro álgico nas articulações, sinais inflamatórios e res- trição de movimentos. Essa dor pode se apresentar em leve intensidade e é oriunda da inflamação da fina mem- brana sinovial, que cobre a parte inter- na das articulações. Pode surgir rigidez matinal ou até mesmo durante o dia, perdurando por um longo período em que o corpo esteja em repouso. Crianças com ARJ tendem ficar na postura de semiflexão e isso ocorre para prevenir as dores articulares, o que pode desenvolver quadros de atrofia muscular e deformidades. A Figura 1 ilustra o acometimento articular, onde o caráter autoimune da ARJ causa uma lesão articular, com episódios que vão destruindo a cartilagem, inflamando a região, diminuindo o espaço articular e causando a rigidez e defor- midade conforme as crises vão ocorrendo. CURIOSIDADE Os quadros de uveíte, em geral, não manifestam sintomas. Entretanto podem desenvolver complicações como glaucoma, catarata e, inclusive, perda parcial da visão, principalmente se o diagnóstico da ARJ for tardio. Isso justifica a relevância dos exames periódicos ao oftalmologista, como a realização da biomicroscopia entre três e quatro meses. Interessante que esse quadro de uveíte pode se manifestar associado ao quadro artríti- co ou anos após estes terem se manifestado. Algumas outras características da ARJ são: • Crianças com o tipo pauciarticular necessitam realizar avaliações of- talmológicas constantes, em intervalos de três ou quatro meses, visto que a úvea poder inflamar sem apresentar sinais visíveis; • No poliarticular, o paciente pode ter febre intermitente, sendo que o fator reumatoide pode estar presente em, aproximadamente, 10% dos pacientes. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 72 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 72 06/04/2021 18:05:23 Articulação saudável Normal Artrite Ligamento Líquido sinovial Inchaço do ligamento Destruição da cartilagem Inflamação sinovial Lesão articular Cartilagem Figura 1. Acometimento articular na ARJ. Fonte: Viver Medicina, 2020. (Adaptado). Exames de imagem são imprescindíveis para fortalecer o diagnóstico da ARJ, pois auxiliam em diagnósticos diferenciais, no monitoramento da doença e na resposta terapêutica. Além disso, ajudam na detecção do tipo e extensão dos da- nos articulares, descartando outras alterações ósseas, relacionadas a tumores, necrose avascular etc. Podem ser encontrados, nos exames por imagem, os seguintes achados: • Edema de partes moles; • Osteopenia; • Diminuição de espaço articular; • Erosão e anquilose; • Alterações do crescimento secundárias à inflamação; • Hipertrofia óssea, em particular nas falanges, metacarpos, metatarsos e joelhos; FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 73 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 73 06/04/2021 18:05:26 • Encurtamento ósseo resultante da fusão precoce da placa cartilaginosa de crescimento; • Assimetria de membros inferiores, podendo resultar em escoliose secundária; • Micrognatia secundária ao acometimento dos côndilos mandibulares (ge- ralmente poliarticular). A febre e as manifestações sistêmicas podem estar presentes por meses ou anos até que o acometimento articular ocorra, dificultando ainda mais o diagnóstico. O acometimento do sistema dérmico se dá pela presença de exantema típico, que se faz presente em 95% dos casos, podendo aparecer ou ser exacerbado pela febre. São lesões maculares e maculopapulares róseo-salmão medindo de 2 a 6 mm, divididas entre o tronco e estruturas proximais dos membros, sendo raras na face, região palmar e plantar. Normalmente tem caráter evanescente, ou seja, tendem a se dissipar, se alterar e/ou se transformar, podendo ter duração de mi- nutos ou horas, mas persistindo por meses ou anos (MORAES, A. J. P. et al., 2012). Figura 2. Exantema (rash). Fonte: SILVA; CAMPOS; SALLUM, 2018, p. E-2. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 74 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 74 06/04/2021 18:05:28 O acometimento do sistema cardiovascular se dá pela pericardite, manifes- tada por taquicardia, dor torácica e atrito no pericárdio; e pela miocardite, aco- metendo cerca de 10% dos pacientes com ARJ. A serosite pode estar presente, caracterizando-se por apresentar pleurite clinica ou radiologicamente. Adenomegalias podem ocorrer, dificultando o diagnóstico, principalmente quando volumosas. Em geral, apresentam-se simétricas e acometem gânglios cer- vicais, axilares, inguinais, epitrocleares e mesentéricos (MORAES, A. J. P. et al., 2012). Para finalizar essa abordagem sobre a ARJ, vale considerar os principais ti- pos de tratamento e o impacto que traz para a população infantil. A conduta a ser adotada deve ter cunho multidisciplinar, incluindo orientações, tanto para o paciente como para a família, em que devem entrar cuidados domiciliares e adequações na vida social do paciente. Cada modo de ARJ deve ter seu próprio tratamento, sendo necessária estraté- gia terapêutica específica em conformidade com as suas manifestações clínicas. Em manifestações articulares leves podem ser prescritos anti-inflamatórios não hormonais isolados e corticoides, objetivando o controle da inflamação e da dor. As chamadas drogas de base podem ser prescritas gradativamente em casos persistentes de inflamação em que a resposta aos anti-inflamatórios é deficiente, sendo os mais administrados a hidroxicloroquina, a sulfassalazina e o metotrexato. A fisioterapia é uma conduta imprescindível para manter e recuperar a mo- bilidade das articulações comprometidas, devendo ser iniciada assim que o qua- dro clínico permita, cujo objetivo é reabilitar o paciente para suas atividades de vida diária por meio do fortalecimento muscular, alongamento de estruturas, ora encurtadas, e aumento da amplitude articular de movimento. A termoterapia é indicada para o controle da dor, principalmente em está- gios iniciais da doença. Cabe ao fisioterapeuta a orientação familiar relativa a adaptações para a realização das tarefas diárias como: alimentar-se, escrever e na execução de exercícios domiciliares. A prática esportiva necessita de supervisão de um especialista em reabilitação para que possam ser pro- tegidas as articulações de possíveis traumatismos. Devem ser prevenidos esportes com impacto (futebol, vôlei), enquanto se deve estimular a natação. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 75 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 75 06/04/2021 18:05:28 É importante destacar que qualquer doença crônica impacta em inúmeras dimensões da vida da criança, como também de seus familiares, envolvendo aspectos físicos, sociais, emocionais, econômicos e educacionais, alterando a dinâmica familiar. Portanto, as trocas de informações entre paciente, família e profi ssionais envolvidos no processode cura se torna fundamental para a mini- mização desse impacto. Alguns aspectos emocionais relacionados à tristeza e à raiva de intensidade variável difi cultam o retorno da criança para uma “vida normal”. Entretanto, as crianças com ARJ devem ser motivadas para esse retorno, o mais breve possível, para viver socialmente e frequentar a escola. O acompanhamento de um es- pecialista em saúde mental, psiquiatra ou psicólogo, é fundamental, assistindo tanto aos pacientes como seus familiares. Já na esfera escolar, o professor precisa estar orientado sobre a doença, para que possa atuar frente às necessidades do paciente. Como a capacidade física tem melhora lenta, devem ser estimuladas atividades intelectuais e artísticas. Febre reumática A febre reumática (FR), descrita em algumas literaturas como febre reumá- tica aguda, trata-se de uma doença multissistê mica, que resulta de uma reação autoimune, mediada por uma infecção por estreptococo do grupo A em seu ca- ráter multissistêmico. Quase todas as manifestações regridem completamente, todavia há uma exceção que corresponde à lesão valvar cardíaca, denominada cardiopatia reumática (CR), que pode permanecer depois que os outros achados tenham desaparecido (FAUCI; LANGFORD, 2014). A FR acomete, via de regra, crianças na faixa etária entre 5 e 14 anos, sendo que os eventos iniciais são incomuns em adolescentes mais velhos e adultos jovens e são raros em pessoas na faixa etária dos 30 anos de idade. Com relação à sua patogenia, a FR apresenta evidências de ser exclusivamen- te causada por infecção do trato respiratório superior com estreptococos do grupo A. Quando um hospedeiro susceptível encontra um es- treptococo do grupo A, ocorre uma resposta autoimune, causan- do danos aos tecidos humanos em decorrência de reatividade cruzada entre epí topos no microrganismo e no hospedeiro. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 76 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 76 06/04/2021 18:05:28 Embora seja bastante complexo, é importante entender esse processo. Os epíto- pos de reatividade cruzada estão presentes na proteína M estreptocócica e na N-ace- tilglicosamina do carboidrato estreptocócico grupo A e são imunologicamente seme- lhantes às moléculas humanas na miosina, tropomiosina, queratina, actina, laminina, vimentina e N-acetilglicosamina. Desse modo, é possível reconhecer uma reação de autoimunidade. Por essa semelhança ocorrer, a resposta imune do organismo se vol- ta contra o próprio organismo, agredindo as células cardíacas. Atualmente, acredita- -se que a lesão inicial seja devido a anticorpos de reatividade cruzada que se unem ao endotélio da valva cardíaca, possibilitando a entrada de células T CD4+ instruídas, levando à subsequente inflamação mediada por células T (FAUCI; LANGFORD, 2014). O diagrama 1 ilustra a via patogênica para febre reumática aguda e cardiopatia reumática. EXPLICANDO Também denominado de determinante antigênico, um epítopo é a menor porção de antígeno com potencial de desencadear uma resposta imune. Representa a área da molécula do antígeno que se une aos receptores celulares e aos anticorpos. Fonte: FAUCI; LANGFORD, 2014, p. 83. (Adaptado). DIAGRAMA 1. VIA PATOGÊNICA PARA FEBRE REUMÁTICA AGUDA E CARDIOPATIA REUMÁTICA. Infecções repetidas por estreptococos grupo A Infecções repetidas ou presentes, possivelmente direcionando a resposta inflamatória valvar Episódios de FRA recorrente Instrução da resposta imune Fatores ambientais, especialmente aglomeração Mimetismo molecular entre antígenos de estreptococos grupo A e tecidos do hospedeiro Resposta exagerada de células T imunes Fatores do hospedeiro determinados geneticamente Hospedeiro suscetível CR Evento precipitante: infecção com uma cepa de estreptococos grupo A portando fatores de virulência específicos Primeiro episódio de FRA FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 77 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 77 06/04/2021 18:05:29 O período latente para que surjam as manifestações clínicas da FR é por volta de três semanas (uma a cinco semanas) após a infecção por estreptococos do gru- po A precipitante. Todavia, há exceções relacionadas à coreia e à cardite indolente, podendo preceder os longos períodos de latência, chegando a até seis meses. A febre reumática apresenta critérios de diagnóstico maiores e menores, conforme apresenta o Quadro 2. VHS: velocidade de hemossedimentação; PCR: proteína C reativa; ECG: ele- trocardiograma. Critérios maiores Critérios menores Cardite Febre Artrite Artralgia Coreia de Sydenham Elevação dos reagentes de fase aguda (VHS, PCR) Eritema marginado Intervalo PR prolongado no ECG Nódulos subcutâneos Observação: o diagnóstico de febre reumática aguda precisa de duas manifestações maiores ou uma maior e duas menores e evidência de infecção do grupo A de estreptococos. QUADRO 2. CRITÉRIOS DE JONES MODIFICADOS PARA O DIAGNÓSTICO DE FEBRE REUMÁTICA VHS: velocidade de hemossedimentação; PCR: proteína C reativa; ECG: eletrocardiograma. Fonte: COMHUPES, 2012, p. 6. (Adaptado). Considerando os dados do Quadro 2, vale ressaltar que aproximadamente 60% dos pacientes com FR evoluem para cardiopatia reumática (CR), onde tan- to o endocárdio como pericárdio ou miocárdio podem ser acometidos. A lesão valvar é o principal marco da CR, sendo o acometimento da valva mitral bastan- te frequente, por vezes concomitante ao acometimento da valva aórtica, sendo raro essa valva ser comprometida isoladamente. A doença evolui com episódios recorrentes, repercutindo em espessamen- to de folhetos, fibrose, calcificação e estenose valvar. Por isso, a manifestação característica da cardite, em indivíduos não acometidos previamente, é a insufi- ciência mitral, algumas vezes acompanhada por insuficiência aórtica. O comprometimento articular na FR se manifesta pela artrite, podendo ser monoarticular ou poliarticular, com o envolvimento de mais de uma articulação. A artrite está presente em 75% dos casos, com evolução autolimitada e sem apre- sentar sequelas. A forma poliarticular apresenta caráter migratório, movendo-se FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 78 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 78 06/04/2021 18:05:29 de uma articulação para outra em um período de horas. São afetadas grandes articulações, mais frequentemente em joelhos, tornozelos, quadris e cotovelos, com caráter assimétrico. A dor é intensa e, em geral, incapacitante, até que se inicie a conduta medicamentosa com anti-inflamatórios. Também pode ocorrer um acometimento articular menos grave, o que se apresenta como uma mani- festação menor que o acometimento citado anteriormente. A coreia de Sydenham pode se manifestar, normalmente na falta de outras manifestações, seguida de um período de latência longo após a infecção por estreptococos do grupo A, sendo encontrada principalmente em mulheres. Os movimentos coreicos acometem em particular a cabeça e os membros superio- res, podendo ser difusos ou acometer apenas um hemicorpo. O eritema marginado é o exantema clássico da FR, se iniciando como mácu- las róseas claras no centro, deixando uma borda serpiginosa difusa. Essa erup- ção apresenta caráter evanescente e costuma ocorrer no tronco, algumas vezes nos membros, mas quase nunca na face. Os nódulos subcutâneos se manifestam por caroços móveis, pequenos, va- riando de 0,5 a 2 cm, indolores, subcutâneos, acima de proeminências ósseas, em particular nas mãos, pés, cotovelos, occipício e, às vezes, sobre as vértebras. É uma manifestação atrasada que surge duas a três semanas após a doença, durando somente alguns dias ou por, no máximo, até três semanas, e está fre- quentemente associado à cardite. A febre é bastante recorrente na FR, em grau elevado (≥ 39°C), mas elevações de temperatura em graus mais baixos não são anormais. A elevação dos reagen- tes da fase aguda da doença também ocorre na maioria dos casos. Quando se confirma o69 Artropatias na infância........................................................................................................ 70 Artrite reumatoide juvenil .............................................................................................. 70 Febre reumática ............................................................................................................... 75 Artrite séptica ....................................................................................................................... 79 Artrite séptica crônica .................................................................................................... 80 Artrite séptica aguda não gonocócica ........................................................................ 82 Artrite séptica aguda gonocócica ................................................................................ 83 Espondiloartropatias soronegativas ................................................................................. 85 Espondilite anquilosante ................................................................................................ 86 Artrite psoriásica ............................................................................................................. 90 Sintetizando ........................................................................................................................... 94 Referências bibliográficas ................................................................................................. 95 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 6 08/04/2021 12:07:28 Sumário Unidade 4 – Doenças reumáticas III Objetivos da unidade ........................................................................................................... 99 Síndrome de Reiter............................................................................................................. 100 Formas epidemiológicas da síndrome de Reiter ...................................................... 101 Manifestações articulares ........................................................................................... 101 Manifestações extra-articulares ............................................................................... 103 Doença mista do tecido conjuntivo ................................................................................ 105 Lúpus Eritematoso Sistêmico ...................................................................................... 106 Esclerose Sistêmica ...................................................................................................... 113 Artropatias microcristalinas ........................................................................................... 117 Gota .................................................................................................................................. 117 Pseudogota ..................................................................................................................... 121 Sintetizando ......................................................................................................................... 125 Referências bibliográficas ............................................................................................... 126 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 7 08/04/2021 12:07:28 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 8 08/04/2021 12:07:28 Iniciaremos os estudos ressaltando a importância do conhecimento do pro- cesso de envelhecimento, sempre tendo em mente que nos depararemos com os muitos processos patológicos decorrentes deste evento biológico, mas tam- bém com a senescência, oriunda do envelhecimento fi siológico. Para que possamos compreender as diferentes enfermidades relaciona- das ao envelhecimento, alguns conceitos sobre a reumatologia e as bases do sistema imunológico, principalmente no que concerne às respostas imunes, necessitam ser revistos, pois auxiliam no entendimento acerca da etiologia das doenças reumáticas, bem como sua classifi cação em doenças autoimu- nes e não autoimunes, explicando suas distintas etiologias. Por ser o sistema osteoarticular muito comprometido em decorrência das doenças reumáticas, uma breve revisão sobre suas estruturas e fi siologia essenciais serão discuti- das, dando-lhes subsídios para interpretarem como ocorre a fi siopatologia das doenças autoimunes. Atualmente, em razão da transição demográfi ca e epidemiológica, torna-se imprescindível ao futuro profi ssional da área da saúde conhecer sobre a popu- lação idosa, compreendendo, portanto, o que motiva o elevado crescimento das doenças crônicas não transmissíveis nos dias atuais. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 9 Apresentação SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 9 08/04/2021 12:07:28 Dedico este trabalho a todos os meus colegas de classe e profi ssionais da área da saúde que cruzaram meu caminho, me fazendo, hoje, compreender que a saúde só é praticada dentro do contexto da interdisciplinaridade. A professora Rosana Pazim Nalesso é especialista em Saúde Coletiva pela Universidade do Paraná - UNOPAR (2016) e em Consultoria Empresarial pelo Centro Universitário Ítalo-Brasi- leiro - UNIÍTALO (2008). É, ainda, mes- tre em Ciências do Movimento, pela Universidade Guarulhos - UNG (2002). Cursou especialização também em Fi- sioterapia em Ortopedia e Traumatolo- gia pela Universidade do ABC - UNIABC (1999). É graduada em Fisioterapia pela Pontifície Universidade de Campinas - PUCCAMP (1983). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1116165438533227 FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 10 A autora SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 10 08/04/2021 12:07:29 INTRODUÇÃO À REUMATOLOGIA E ÀS DOENÇAS REUMÁTICAS 1 UNIDADE SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 11 08/04/2021 12:08:03 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Abordar sobre a reumatologia e respectivas doenças reumáticas; Entender o envelhecimento celular e a fisiopatologia das doenças reumáticas que o acompanha; Interrelacionar a etiopatogenia com as diferentes formas de tratamento clínico; Apresentar os aspectos relacionados à semiologia reumatológica e apontar a interpretação de exames complementares dentro deste contexto; Indicar as principais síndromes dolorosas dos membros superiores, diagnósticos e condutas empregadas. Introdução à reumatologia Doenças reumáticas Bases do sistema imunológico Anatomia e fisiologia osteoarti- cular essencial Semiologia reumatológica Manifestações articulares Manifestações extra-articulares Interpretação de exames em reumatologia Envelhecimento celular Teorias do envelhecimento celular Consequências do envelhecimento celular Síndromes dolorosas Síndromes dolorosas do ombro (SDO) Epicondilite lateral (cotovelo de tenista) Síndromes compressivas de membros superiores FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 12 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 12 08/04/2021 12:08:03 Introdução à reumatologia É possível conceituar a reumatologia como a área do conhecimento médico que tem como ocupação estudar as doenças que acometem o sistema muscu- loesquelético (não traumáticas) em estruturas como ossos, músculos, cartila- gens, tendões, fáscias e ligamentos, apresentando um caráter, muitas vezes, de comprometimento sistêmico. Estas patologias são, geralmente, designadas de doenças reumáticas. Há, atualmente, mais de cem variedades de doenças reumatológicas de- tectadas pela área médica, sendo que pesquisas e tratamento destas doenças competem à especialidade em reumatologia. Doenças reumáticas As doenças reumáticas caracterizam-se por sua cronicidade e são, muitas vezes, funcionalmente limitantes e até deformantes. É fato que o paciente aco- metido por uma doença reumática pode não apresentar queixas articulares, mas, sim, um quadro clínico relacionado a outros órgãos e sistemas. Outra ca- racterística importante destas doenças é que podem acometer qualquer faixa etária e ambos os sexos, com predomíniodiagnóstico de FR, a profilaxia primária consiste em realizar uma dose de penicilina benzatina (600.000 a .200.000 unidades) intra- muscular, objetivando a erradicação do estreptococo do organismo. Somado a esses cuidados, faz-se necessário tratar a artrite, a cardite ou a coreia com a terapêutica medicamentosa adequada para cada condição, de acordo com a gravidade do caso e, se necessário, internar a criança, principalmente nos casos de desenvolvimento de cardite grave. Partindo dessa terapêutica, dá-se início a profilaxia secundária com penicilina benzatina a cada 21 dias, para prevenir um novo con- tato da criança com o estreptococo, vindo a ter uma recaída. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 79 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 79 06/04/2021 18:05:29 Artrite séptica Também conhecida como artrite bacteriana ou atrite piogênica, esse termo faz referência a um quadro de infecção articular mediada por germe viável. São classificadas em agudas e crônicas. As agudas são classificadas em gonocócicas e não gonocócicas, e as crônicas por etiologia fúngica ou micobactérias, sendo consideradas as formas mais destrutivas de artrite. Esses processos infecciosos bacterianos acometem as articulações peri- féricas, da coluna vertebral, bem como estruturas periarticulares, como as bainhas tendinosas e bursas sinoviais. Conforme Imboden, Hellmann e Stone (2014), a incidência anual da artri- te séptica tem variado de dois a dez casos por 100 mil habitantes na popula- ção em geral. Esse índice se torna mais expressivo em pacientes com artrite reumatoide ou com próteses articulares, apresentando-se mais significativa nas crianç as que nos adultos. A artrite séptica (bacteriana) é considerada uma emergência médica e, infelizmente, quando há demora em ser diagnosticada e iniciar a conduta adequada, pode haver destruição articular irreversível, bem como aumen- tar a mortalidade. Esse índice de lesão articular irreversível secundária varia de 25 a 50%. O percentual de mortalidade da artrite bacteriana na forma monoarticular é muito alto (11%), e quando o acometimento é poliarticular, pode chegar a até 50% dos casos. O Staphylococcus aureus é o grande vilão dessa patologia, e as grandes ar- ticulações suportadoras de carga, como os joelhos, são as mais comumente atingidas na forma clínica da monoartrite. A patogênese das infecções bacterianas ocorre do seguinte modo: em mais de 50% dos casos, as bactérias patogênicas acessam os espaços ar- ticulares pela disseminação hematogê nica, por inoculação direta ou dis- seminação de focos infecciosos dos ossos ou tecidos moles adjacentes. A ausência de membrana basal limitante e a grande vascularização da sinó via propiciam o acesso das bactérias. As bactérias ao espaço articular fechado e, após algumas horas, há a infecção da sinó via, resultando na proliferação e na infiltração da membrana sinovial por leucócitos polimorfonucleares e outras células inflamatórias. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 80 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 80 06/04/2021 18:05:29 Esses eventos levam a uma reação infl amatória, com decomposição da car- tilagem articular mediada por enzimas e citocinas, neovascularizaç ã o e, por fi m, formação de tecido de granulação. Caso não haja tratamento adequado, ocorre a destruição irreversível da cartilagem e do osso subcondral alguns dias depois da infecção inicial (IMBODEN; HELLMANN; STONE, 2014). Fêmur Cartilagem articular Ligamento colateral lateral Ligamento cruzado anterior Ligamento colateral medial Ligamento cruzado posterior Bactéria Glóbulos brancos Menisco TíbiaFíbula Figura 3. Fisiopatologia da artrite séptica. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/03/2021. Artrite séptica crônica A artrite séptica crônica evolui por longas semanas e sua etiologia, em geral, está relacionada a bactérias com baixa patogenicidade, micobactérias ou fungos. A artrite infecciosa crônica responde por 5% das artrites infecciosas. Segundo Schmitt (2019), “ela pode se desenvolver em pessoas saudáveis, mas pacientes com risco maior são aqueles com Artrite reumatoide, Infecção pelo HIV, Imunossupressão (câncer hema- tológico, outros tipos, uso de fármaco imunossupressor), Próteses articulares”. Pela sua manifestação lenta, pode ocorrer a proliferação da membrana si- novial, causando erosão tanto na cartilagem articular como no osso subcondral. Inicia-se indolente, com processo infl amatório discreto, em que há um edema gradativo, leve aumento de temperatura e ausência ou mínimo rubor na região articular, podendo apresentar discreta dor. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 81 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 81 06/04/2021 18:05:32 O diagnóstico é feito pela cultura fúngica e micobacteriana por meio da co- leta do líquido ou do tecido sinovial. Outras técnicas incluem testes molecula- res que conseguem detectar micobactérias. Essas artrites requerem tratamen- to prolongado, normalmente tratadas com antibióticos múltiplos, dependendo da sensibilidade que os testes podem fornecer (SCHMITT, 2019). As articulações com próteses são mais susceptíveis à artrite séptica e ocor- rem muito em idosos. Via de regra, acontecem menos de quatro semanas após a colocação protética ou podem se apresentar secundárias à disseminação he- matogênica, causando febre, dor, edema e aumento da temperatura local. Já os quadros infecciosos por microrganismos de baixa virulência penetrados durante o ato cirúrgico são evidenciados após quatro semanas da colocação protética, iniciando-se insidiosamente com dor e outros sinais de infecção. As infecções das articulações com próteses podem ser classificadas como imediatas ou tardias, e isso depende do tempo passado desde o ato cirúrgico. CURIOSIDADE De modo geral, as infecções que ocorrem imediatamente após a implanta- ção da prótese podem ser tratadas preservando a prótese, todavia, quan- do a infecção ocorre tardiamente, pode ser necessário substituí-la. Alguns pacientes podem desenvolver quadros de infecção até dois anos após a implantação protética. São consideradas imediatas quando: • Apresentam-se como feridas contaminadas no período perioperatório pela flora cutânea; • Ocorre contaminação dos equipamentos ou da equipe do centro cirúrgico; • Bactérias são transportadas pelo ar. Fato é que cirurgias demoradas, equipe cirúrgica inexperiente e fatores rela- tivos ao paciente, como idade avançada, doenças crônicas associadas e doenças autoimunes são fatores de risco para que ocorra a infecção articular. Já as infecções tardias são as que acontecem mais de um mês após a ar- troplastia, resultando em disseminação hematogênica de corpos estranhos e tecidos naturais danificados dentro das próteses articulares, ou podem ser causadas por microrganismos de baixa virulência que penetram durante o ato cirúrgico (IMBODEN; HELLMANN; STONE, 2014). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 82 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 82 06/04/2021 18:05:32 Artrite séptica aguda não gonocócica Ocasionada por bactérias, se apresenta com início rápido e pode afetar tanto pessoas saudáveis como pessoas com fatores de risco. Necessita de tratamento, pois pode destruir os tecidos articulares no prazo de dias. Conforme Pasoto (2010), na população adulta, a principal bactéria responsá- vel é o Staphylococcus aureus, com ocorrência de até 70%, seguida por Streptococ- cus sp, presente em 25%, Gram-negativos, presente de 11 a 32%, e anaeróbios, presentes em 2%. Embora haja alguns fatores que predisponham o desenvolvimento da artri- te séptica, quem deve determinar sua presença e extensão é a relação entre o hospedeiro e o agente infeccioso. Exemplifi cando, os fatores relativos ao hospe- deiro corroboram tanto para a persistência de bacteremias recorrentes como para que seja erradicado o processo infeccioso que se estabeleceu. O Quadro 3 aponta esses fatores. Apresentação clínica Fatoresde ocorrência Diminuição das defesas do hospedeiro Idosos, neoplasias, doenças crônicas graves, como diabetes mellitus, cirrose, doença renal crônica e anemia falciforme, uso de medicamen- tos imunossupressores, como glicocorticoides, quimioterapia e defei- tos de fagocitose (defi ciências do complemento). Inoculação por via hema- togênica Uso de drogas ilícitas por via venosa, procedimentos invasivos como os cateteres intravenosos. Inoculação iatrogênica Após artrocentese ou artroscopia. As infi ltrações intra-articulares com corticosteroides podem, algumas vezes, ser responsáveis por artrite bacteriana ( 95%. 40 a 50%. Evolução Boa em > 95%. Problemática em 30 a 50%. QUADRO 4. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DAS ARTRITES SÉPTICAS GONOCÓCICA E NÃO GONOCÓCICA Fonte: PASOTO, 2010. (Adaptado). As principais complicações da artrite séptica são a osteomielite, infecção per- sistente ou redicivante, drástica redução da mobilidade articular, anquilose ou dor persistente. Cerca de 70 a 85% dos pacientes com infecções causadas por estreptococos do grupo A se recuperam sem sintomas residuais, entretanto até 50% dos pacientes com artrite séptica secundária ao S. aureus ou aos bastonetes Gram-negativos apresentam sequelas residuais articulares. Os pacientes com AR e infecção poliarticular apresentam prognóstico desfavorável com percentuais de sobrevivência menores que 50% (IMBODEN; HELLMANN; STONE, 2014). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 85 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 85 06/04/2021 18:05:32 As atrites agudas devem ser tratadas com antibioticoterapia, devendo esse pro- cedimento ser instituído imediatamente depois de ser realizada a cultura e ter sido comprovado o diagnóstico, tendo como base os prováveis microrganismos envoltos no processo patológico. Deve-se considerar a idade do paciente, suas condições clíni- cas e resultados da coloração de Gram. A drenagem articular também está indicada, podendo ser realizada via artrocentese ou por cirurgia aberta (artrotomia). CURIOSIDADE O diagnóstico precoce é imprescindível para o êxito do tratamento da artrite séptica. A demora em iniciar o tratamento por antibioticoterapia apropriada e realizar o debridamento necessário resulta, na maioria dos casos, em consequências deletérias. Os dois componentes principais do tratamento são drenagem e antibióticos intravenosos. A mobilização articular progressiva também ajuda a prevenir algumas complicações crônicas da artrite séptica. Analgésicos e anti-infl amatórios não hormonais devem ser administrados, relevando se há contraindicações. O repouso articular na fase aguda é indica- do, entretanto deve ser por um período curto. A indicação de exercícios pode ser feita após o segundo dia e o ideal é iniciar com a mobilização passiva. Caso a articulação acometida seja de carga, como joelhos e tornozelos, a marcha deve ser realizada gradual e espontaneamente pelo paciente, conforme a evolução de seu quadro clínico. Deve-se, portanto, priorizar a amplitude de movimento articular, prevenindo as atrofi as muscula- res. A cinesioterapia ativa é indicada apenas ao término da dor. A mobilização passiva também está indicada para a prevenção da forma- ção de aderências, bem como para facilitar a eliminação do exsudato purulen- to depois da regressão da reação infl amatória aguda, devendo ser substituída gradativamente por exercícios de fortalecimento ativo das estruturas periarticulares para auxiliar na prevenção de con- traturas articulares. Espondiloartropatias soronegativas As espondiloartrites contextualizam um conjunto de alterações que com- partilham algumas manifestações clínicas e associações genéticas, autoimunes. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 86 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 86 06/04/2021 18:05:33 Entre as patologias que compõem esse grupo, destaca-se: espondilite anquilo- sante, artrite reativa (associadaa doenças infecciosas), artrite e espondilite pso- rí acas (associada à psoríase), artrite e espondilite enteropá ticas (associadas à doença de Crohn, retocolite ulcerativa, doença de Whipple etc.), espondiloartrite (EspA) de início juvenil e EspA indiferenciada. As semelhanças quanto às mani- festações clínicas e predisposição genética sugerem que essas doenças têm em comum mecanismos patogênicos (SBR, 2019b; SHINIO, MOREIRA, 2021). A SBR (2019b) defi ne esse grupo de doenças como: As Espondiloartropatias Soronegativas (Espondiloartrites) corres- pondem a um grupo de doenças que apresentam as seguintes ma- nifestações clínicas em comum: artrite, com preferência ao acome- timento das articulações sacroilíacas e da coluna vertebral; pesquisa negativa para o fator reumatóide (FR: exame de sangue); infl amação nos tendões e ligamentos que se ligam ao osso (entesi- tes); marcador genético semelhante (HLA-B27). Nessa abordagem, é importante destacar as principais características da espondilite anquilosante (EA) e da artrite psoriásica (AP). Sendo que a EA se apresenta como um tipo de doença reumática que provoca infl amação, pre- mentemente na coluna vertebral e nas articulações sacroilíacas. A psoríase, que todos imaginam ser uma patologia restrita à pele, é uma enfermidade que pode abranger tanto sintomas dérmicos quanto articulares, visto que a possibilidade de pacientes desenvolverem a artrite psoriásica é de aproximadamente 40%, sendo que os agravantes de lesões dérmicas e sintomas articulares nem sempre acontecem ao mesmo tempo. Espondilite anquilosante Destaca-se que espondilite faz menção ao quadro infl amatório da coluna e anquilosante quer dizer fusão (solda) de dois ossos em um único. A espondili- te anquilosante (EA) é um distúrbio infl amatório sem causa conhecida, ou seja, uma doença autoimune que acomete o esqueleto axial, as articulações perifé- ricas e estruturas extra-articulares. Seu início ocorre na segunda ou terceira dé- cadas, prevalecendo no sexo masculino, com incidência de 2:1 e 3:1 em relação ao sexo feminino. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 87 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 87 06/04/2021 18:05:33 A epidemiologia da EA apresenta uma correlação marcante com o antíge- no de histocompatibilidade HLA-B27. Considera-se que os locais de inflamação axial na EA são inacessíveis à biópsia, sendo que o conhecimento da histopa- tologia axial é baseado na evolução da doença. Precocemente, a manifestação mais frequente é a sacroileíte, onde são encontrados sinovite, pannus, medula óssea mixoide, tecido de granulação subcondral, edema de medula óssea, ente- site e diferenciação condroide. Nos locais acometidos, há presença de macrófagos, células T e osteoclastos. A doença evolui para margens erodidas da articulação que são substituídas gra- dativamente por regeneração fibrocartilaginosa, ocorrendo, assim, a ossificação, podendo obliterar completamente a articulação. No esqueleto axial, prolifera um tecido inflamatório de granulação, que se localiza na junção do anel fibroso com o osso vertebral. Há substituição das fibras anulares exteriores por osso, formando o início da marca registrada da EA, os sindesmófitos. Os sindesmófitos crescem pela ossificação endocondral progressiva, fazen- do uma ponte com os corpos vertebrais adjacentes. A progressão dessas pontes é ascendente, desenvolvendo um sinal chamado coluna de bambu. Portanto, quando o sistema imunológico é ativado, há um ataque na coluna e nas articu- lações, ocorrendo a ossificação dos ligamentos da coluna, o que faz com que os ossos se soldem, resultando na anquilose. Coluna saudável Corpo da vértebra Inflamação das articulações Fusão dos ossos “Coluna de bambu” Disco Espondilite anquilosante Figura 4. Espondilite anquilosante (coluna de bambu). Fonte: Shutterstock. Acesso em: 09/03/2021. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 88 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 88 06/04/2021 18:05:35 Outras alterações encontradas podem ser (FAUCI; LANGFORD, 2014; SHINIO; MOREIRA, 2021): • Osteoporose difusa; • Erosão dos corpos vertebrais na margem do disco; • Vértebras “quadradas” ou “em barril”; • Inflamação e destruição da fronteira disco-osso. A sinovite periférica na EA mostra vascularidade acentuada, hiperplasia da camada de revestimento, infiltração linfoide e formação de pannus. Erosões cartilaginosas centrais, causadas pela proliferação de tecido de granulação sub- condral são comuns. Inflamação na entese fibrocartilaginosa, a região onde um tendão, ligamento ou cápsula articular se prende ao osso, é uma lesão caracte- rística na EA e outras espondiloartrites, tanto em locais axiais quanto periféricos. A entesite está associada a edema proeminente da medula óssea adjacente e é caracterizada, frequentemente, por lesões erosivas que, finalmente, sofrem ossificação (FAUCI, LANGFORD, 2014; SHINIO; MOREIRA, 2021). O Quadro 5 resume os critérios de diagnóstico estabelecidos pela Assess- ment of SpondyloArthritis International Society (ASAS) para classificação da es- pondiloartrite axial, a serem aplicados em pacientes com dor nas costas maior ou igual a três meses e idade de início menor de 45 anos. Sacroileíte no estudo de imagem mais ≥ 1 aspecto de EspA Ou HLA-B27 mais ≥ outro aspecto de EspA Sacroileíte no estudo de imagem Aspectos de EspA • Inflamação ativa (aguda) na RM altamente sugestiva de sacroileíte associada a EspA e/ou; • Sacroileíte radiográfica definida de acordo com os critérios de Nova Iorque modificados. • Dor inflamatória nas costas; • Artrite; • Entesite (calcanhar); • Uveíte anterior; • Dactilite; • Psoríase; • Doença de Crohn ou colite ulcerativa; • Boa resposta a AINE; • História familiar de EspA; • HLA-B27; • Proteína C reativa elevada. QUADRO 5. CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DA ESPONDILITE ANQUILOSANTE PELA ASAS PARA CLASSIFICAÇÃO DA ESPONDILOARTRITE AXIAL AINE: anti-inflamatórios não esteroides; EspA: espondiloartrite; RM: ressonância magnética. Fonte: FAUCI; LANGFORD, 2014, p. 208. (Adaptado). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 89 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 89 06/04/2021 18:05:35 A manifestação inicial é uma dor contínua sentida profundamente na re- gião lombar inferior ou glútea, seguida de rigidez matinal na parte inferior das costas de até poucas horas de duração, que melhoram com a atividade e retornam na inatividade. Depois de alguns meses de seu início, a dor se torna persistente e bilateral. Pela dor se exacerbar à noite, o paciente é forçado a levantar e se movimentar. O quadro de artrite isolada severa do quadril pode ser a manifestação inicial. Já os quadros de artrite de articulações periféricas, com exceção dos quadris e ombros, normalmente de caráter assimétrico, ocorrem em até 30% dos pacientes. Tardiamente pode ocorrer dor e rigidez no pescoço por aco- meter a coluna cervical. Shinio e Moreira (2021) destacam as seguintes manifestações específicas da EA: • Diminuição/perda da mobilidade da coluna, refletindo na limitação da flexo-ex- tensão anterior e lateral da coluna lombar e alteração da expansibilidade torácica; • Espasmos musculares secundários à dor e inflamação; • Dor nas articulações sacrilíacas; • Dor à palpação nos locais de hipersensibilidade óssea sintomática; • Espasmo muscular paraespinal; • Limitação ou dor ao movimentar quadris ou ombros estão presentes, caso essas articulações estejam acometidas. Sobre as manifestações extra-articulares, a mais comum é a uveíte anterior aguda, ocorrendo em 40% dos pacientes, podendo inclusive preceder a espon- dilite com ataques unilaterais, ocasionando dor, fotofobia e lacrimejamento aumentado. Catarata e glaucoma secundário não são sequelas recorrentes. Até 60% dos pacientes apresentam inflamações no colo ou íleo, sendo assin- tomáticas. Pode ocorrer insuficiência aórtica, algumas vezes levando à insufi- ciência cardíaca congestiva, entretanto isso ocorre emum pequeno percentual de pacientes. Lesões pulmonares subclínicas e disfunção cardíaca podem ser relativamente comuns. Pode ocorrer a síndrome da cauda equina e fibrose do lobo pulmonar superior, essas complicações são raras e podem aparecer tardiamente. Fibrose retroperitoneal é uma condição raramente as- sociada. A prostatite pode ter uma prevalência aumentada na EA. No diagnóstico da EA, inclui-se ainda o histórico do paciente, se apresenta dores localizadas nas nádegas e nas costas, os si- FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 90 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 90 06/04/2021 18:05:35 nais e sintomas da doença, como espasmos musculares, postura e mobilidade, achados dos exames laboratoriais de sangue, bem como os achados em exames de imagem (radiografi a, tomografi a computadorizada e ressonância nuclear magnética) referentes às articulações sacroilíacas (sacroileíte), coluna e outras articulações afetadas, confi rmando assim o diagnóstico. Ao exame físico podem ser realizados testes, como o teste de Schober modi- fi cado, sendo útil para avaliar a fl exão da coluna lombar. Nesse teste, o paciente fi ca ereto, com calcanhares juntos e são realizadas marcas sobre a coluna, onde há a junção lombossacral identifi cada por uma linha horizontal, aplicada entre as espinhas ilíacas posterossuperiores e 10 cm acima. Solicita-se ao paciente realizar uma inclinação máxima para frente, com os joelhos completamente em extensão, sendo medida a distância entre as duas marcas. Em pacientes que apresentam mobilidade normal, essa distância aumenta em ≥ 5 cm, e diminui emlesão há erosão proximal e exostose distal da articulação acometida. No esqueleto axial, podem ser vistos sindesmófitos paravertebrais assimétricos e grosseiros (raio x), como também sacroileíte assimétrica uni ou bilateral e, nos membros inferiores, em especial na fáscia plantar e tendão do calcâneo, os esporões. A ultrassonografia é útil por detectar inflamações em enteses e na membra- na sinovial. A ressonância magnética auxilia na avaliação óssea, articular, como também em tecidos moles periarticulares. Erosões, edema ósseo e osteoprolife- ração podem ser vistos mesmo na forma oligoarticular ou assintomáticos. A conduta a ser empregada nos casos de APs dependem do reconhecimento de como a doença se apresenta. As medidas não farmacológicas são impres- cindíveis na terapêutica das APs, incluindo educação dos pacientes, execução de um programa de exercícios físicos, fisioterapia, terapia ocupacional e, se ne- cessário, prescrição de órteses. Já a escolha da terapia farmacológica deve ser calcada no tipo de manifestação musculoesquelética e na gravidade da doença. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 94 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 94 06/04/2021 18:05:37 Sintetizando Esta unidade objetivou trazer conhecimentos sobre algumas doenças reumáti- cas que acometem todas as faixas etárias, de caráter autoimune e não autoimune. Abordamos a artrite reumatoide juvenil como uma doença que acomete crianças até os 16 anos, bem como a febre reumática, onde o corpo apresenta uma resposta autoimune contra o coração, articulações e outros tecidos. Elencamos as manifestações clínicas da artrite séptica, destacando suas for- mas aguda e crônica, apresentando as características das artrites gonocócicas e não gonocócicas, bem como suas respectivas diferenças, critérios de diagnóstico e conduta multidisciplinar. Com essa abordagem, concluímos que o tratamento prévio nas artrites sépticas é o fator determinante para um bom prognóstico, principalmente no que concerne ao quadro articular. Por fim, apresentamos uma explanação sobre as espondiloartropatias soro- negativas, dando ênfase às patologias autoimunes (espondilite anquilosante e ar- trite psoriásica), destacando o acometimento do esqueleto axial e da articulação sacroilíaca e o acometimento articular periférico que ocorre na artrite psoriásica. Desse modo, concluímos que as doenças reumáticas, tanto autoimunes como não autoimunes, acometem as diferentes idades, sendo que algumas in- cidem em faixas etárias específicas, como a ARJ, o que não ocorre com as artro- patias sépticas, onde o determinante é o agente infeccioso envolvido, e a artrite gonocócica, que está atrelada ao estilo de vida sexual. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 95 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 95 06/04/2021 18:05:37 Referências bibliográficas CHAMBÔ FILHO, A.; RABELO, P. C. Artrite gonocócica em mulher jovem: relato de caso. J Bras Doenças Sex Transm, v. 17, n. 4, p. 311-313, 2005. Disponível em: . Acesso em: 08 mar. 2021. COMHUPES - COMPLEXO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO PROFESSOR EDGARD SANTOS. Diretrizes clínicas: diagnóstico da febre reumática. Salvador, out. 2012. Disponível em: . Acesso em: 09 mar. 2021. FAUCI, A. S.; LANGFORD, C. A. Reumatologia de Harrison 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. IMBODEN, J. B.; HELLMANN, D. B.; STONE, J. H. Current reumatologia: diagnós- tico e tratamento. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. MOLL, J. M. H.; WRIGHT, V. Psoriatic arthritis. Semin Arthritis Rheum, v. 3, n. 1, p. 55-78, 1973. Disponível em: . Acesso em: 09 mar. 2021. MORAES, A. J. P. et al. Artrite Idiopática Juvenil: diagnóstico. São Paulo: AMB; SBP; SBR, 2012. (Projeto Diretrizes). Disponível em: . Acesso em: 03 mar. 2021. O QUE é Artrite Idiopática Juvenil? Postado por Sociedade Brasileira de Reu- matologia. (03min. 50s.). son. color. port. Disponível em: . Acesso em: 03 mar. 2021. PASOTO, S. G. Artrites infecciosas agudas. MedicinaNet, 30 maio 2010. Disponí- vel em: . Acesso em: 05 mar. 2021. SCHMITT, S. Artrite infecciosa crônica. Manual MSD – Versão para Profissionais de Saúde, jan. 2019. Disponível em: . Acesso em: 04 fev. 2021. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 96 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 96 06/04/2021 18:05:37 SBR - SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Artrite Idiopática Juvenil: Doença inflamatória crônica que acomete as articulações e outros órgãos, como a pele, os olhos e o coração.São Paulo: SBR, 2019a. Disponível em: . Acesso em: 02 fev. 2021. SBR - SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA. Espondiloartrites. SPaulo: SBR, 2019b. Disponível em: . Acesso em: 08 mar. 2021. SILVA, C. A. A.; CAMPOS, L. M. A; SALLUM, A. M. E. Doenças reumáticas na crian- ça e no adolescente. 3. ed. Barueri: Manole, 2018. SHINIO, S. K.; MOREIRA, C. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2. ed. Barueri: Manole, 2021. VIVER MEDICINA. Tudo o que você precisa saber sobre a artrite idiopática juvenil. Belo Horizonte, 29 out. 2020. Disponível em: . Acesso em: 03 mar. 2021. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 97 SER_ FISIO_FISCSI_UNID3.indd 97 06/04/2021 18:05:37 DOENÇAS REUMÁTICAS III 4 UNIDADE SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 98 08/04/2021 12:53:52 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Contextualizar a síndrome de Reiter como uma doença associada ao grupo das espondiloartropatias soronegativas, apresentando suas formas epidemiológicas e o acometimento articular e extra-articular; Conceituar a Doença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC), apresentando suas características; Apresentar conceitos, manifestações clínicas, critérios diagnósticos e condutas adotadas no Lúpus Eritematoso Sistêmico e na Esclerose Sistêmica; Trazer uma abordagem sobre as artropatias microcristalinas, elencando as características da gota e da pseudogota, bem como suas manifestações clínicas, critérios diagnósticos e condutas empregadas. Síndrome de Reiter Formas epidemiológicas da síndrome de Reiter Manifestações articulares Manifestações extra-articulares Doença mista do tecido conjun- tivo Lúpus Eritematoso Sistêmico Esclerose Sistêmica Artropatias microcristalinas Gota Pseudogota FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 99 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 99 08/04/2021 12:53:52 A SR consiste em uma artrite infl amatória decorrente de infecções gastrin- testinais ou geniturinárias antecedentes em que o quadro artrítico se mani- festa por oligoartrite assimétrica, afetando mais prementemente os membros inferiores e havendo presença de entesite e dactilite. Já as manifestações extra-articulares incluirão alterações oculares com a presença de conjuntivite, uveí te anterior, ure- trite, alterações dérmicas, como a balanite circinada, úlceras orais e ceratodermia blenorrá gica (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). Na maioria dos casos, a sintomatologia poderá ser autolimitada e a remissão espontânea, após várias semanas ou meses; porém, em alguns pacientes, estas manifestações podem tornar- -se crônicas,ao passo que em outros os sintomas podem tornar-se crônicos. Artropatias na infância A síndrome de Reiter (SR) ou artrite reativa pertence a um grupo de doen- ças denominadas espondiloartropatias soronegativas, as quais apresentam predisposição hereditária em conjunto com a presença do antígeno do com- plexo de histocompatibilidade maior (HLA-B27). Em comum, elas possuem ní- veis variados de manifestações articulares, dérmico-mucosas e oculares (IM- BODEN; HELMANN; STONE, 2014). Esta enfermidade pode acometer diferentes faixas etárias, mas possui pre- ferência pelo indivíduo adulto do sexo masculino, sendo considerada como uma das causas mais comuns de artrite em indivíduos jovens. CURIOSIDADE Em relação às duas denominações encontradas na literatura (síndrome de Reiter e artrite reativa), é importante destacar que o nome síndrome de Reiter é atribuído à tríade de uretrite/cervicite, conjuntivite e artrite. O que ocorre é que as pesquisas atualmente têm evidenciado que nem todos os pacientes com síndrome de Reiter apresentam essa tríade sintomática, o que fez com que a enfermidade passasse a ser denominada de artrite reativa, tornando a nomenclatura anterior inapropriada. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 100 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 100 08/04/2021 12:53:53 Formas epidemiológicas da síndrome de Reiter A SR poderá se manifestar epidemiologicamente de duas maneiras distintas: de forma endêmica ou venérea, que tem início com um quadro de uretrite inespe- cífi ca, em que o agente causal mais proeminente é a infecção por Chlamydia tracho- matis (20 a 40 anos), podendo também ocorrer pelo Ureaplasma e o Mycoplasma; e a forma epidêmica ou pós-disentérica, em que ocorre uma infecção intestinal por microrganismos Gram negativos denominados artritogênicos, estando aqui inclusos Shigella, Salmonella, Yersinia, Campylobacter e Clostridium. Quando uma in- fecç ã o genituriná ria é o fator desencadeante inicial da artrite reativa, o paciente pode ter uretrite ou cervicite - ou ambas (IMBODEN; HELMANN; STONE 2014). É importante destacar que a minoria dos pacientes acometidos por estas infecções não desenvolve a manifestação de artrite reativa. Este desenvolvi- mento está relacionado à predisposição genética do gene HLA-B27, caracterís- tica das espondiloartropatias soronegativas. O subtipo de artrite reativa relativo à s infecç õ es do trato gastrintestinal aco- mete tanto homens e mulheres; já o subtipo, que ocorre depois das infecç õ es do trato genituriná rio, acomete predominantemente homens, na razão de 9:1 (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). A disseminação da infecção gonocócica sugere o envolvimento dos mem- bros inferiores e superiores da mesma maneira, possui caráter migratório, não provoca lombalgia e as vesículas normalmente não se apresentam hipercera- tosas. Portanto, a artrite reativa que ocorre após uma doença sexualmente transmissível tem sua associação vinculada a quadros de uretrite ou cervicite. Estas podem ocorrer tanto de maneira sintomática como assintomática, mas geralmente são manifestadas por disúria ou secreção uretral/vaginal. Já o acometimento entérico na artrite reativa poderá apresentar-se de maneira leve ou mesmo passar despercebido (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Manifestações articulares As manifestações articulares se iniciam geralmente como uma oligoartrite assimé trica aguda em articulaç õ es perifé ricas, as quais surgem após muitas semanas do momento em que a infecção ocorreu. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 101 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 101 08/04/2021 12:53:53 A patogênese da artrite reativa inicia-se no prazo de uma a quatro semanas após o evento da gastrenterite causada por Shigella, Salmonella, Campylobacter ou Yersinia ou após a infecção oriunda de uma doença sexualmente transmissí- vel, mais comumente pela Chlamydia trachomatis e, ocasionalmente, na infecção por HIV. O que se sabe é que aproximadamente 25% dos pacientes não apre- sentam sinais e sintomas imputáveis a uma infecção antecedente (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). As articulações dos membros inferiores, como joelhos, tornozelos e pés, têm preferência de acometimento quando comparadas às articulações dos membros superiores. Desta maneira, poderão ser acometidas as articulações esternoclavicular e temporomandibular. O que se desenvolve nas articulações são quadros de rigidez após o repouso e melhora com os movimentos, edema e dor (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). Figura 1. Artrite reativa (síndrome de Reiter). Fonte: WIKIMEDIA COMMONS, 2005. Já no acometimento articular do esqueleto axial há maiores evidências de dor lombar baixa inflamatória, podendo ocorrer em até 50% dos pacientes com síndrome de Reiter. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 102 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 102 08/04/2021 12:53:55 Radiologicamente, é possível observar sacroileíte mais comumente uni- lateral em aproximadamente 20% a 25% dos pacientes, o que contrasta com a sacroileíte na espondilite anquilosante, simé trica e bilateral. A prevalê ncia do acometimento do esqueleto axial é maior entre os pacientes com doenç a crô nica e nos indiví duos HLA-B27 positivos, visto que 90% dos pacientes com achados radiográ fi cos de sacroileíte são positivos para HLA-B27. Sinais radiológicos, tais como periostite algodonosa, representada por al- teraç õ es proliferativas ao longo das diá fi ses dos ossos, e erosõ es ó sseas, tam- bém poderão ser detectadas nas zonas de infl amaç ã o articular. Outro achado radiológico também pode ser a destruiç ã o osteolí tica e a anquilose ó ssea (IM- BODEN; HELMANN; STONE, 2014). A entesite é uma manifestaç ã o clí nica marcante da artrite reativa, sendo as estruturas mais acometidas o tendã o do calcâ neo, a fá scia plantar e os ossos pé lvicos. Nestas entesites, podem ser evidenciados o edema dos tecidos mo- les, o calor local e a hipersensibilidade à palpaç ã o. Já a dactilite, que associa a sinovite com a entesite dos artelhos tanto dos pés como das mãos, repercute no edema difuso do dedo, classi- fi cando-se como a conhecida dactilite ou dedo em salsicha, muito presente na artrite reativa e na artrite psoriásica. Os eventos tendem a ser autolimitados, porém há casos em que podem persistir por anos ou décadas. Sabe-se que em aproximadamente 1/4 dos pacientes com SR crônica esta evolui para sacroileíte ou espondilite anquilosante. Manifestações extra-articulares As manifestações mucocutâ neas fazem parte da tríade da SR e se eviden- ciam por muitas alterações, as quais variam em 8% a 32% dos pacientes (IMBO- DEN; HELMANN; STONE, 2014). Entre elas, temos: • Balanite circinada: lesã o infl amatória da glande ou corpo do pê nis (Fi- gura 2), característica da SR. Se apresenta de duas maneiras: em homens não circuncidados como ú lceras superfi ciais, ú midas, serpiginosas e indolores com elevação das bordas, e em homens circuncidados como placas hipercerató ticas secas semelhantes à psorí ase, sendo dolorosas em alguns casos; FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 103 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 103 08/04/2021 12:53:55 Figura 2. Balanite circinada. Fonte: WIKIMEDIA COMMONS, 2019. • Ceratodermia blenorrá gica: erupç ã o papulosa cé rea, que incide princi- palmente nas regiões palmoplantares (fi gura 4.3), podendo surgir como uma erupç ã o vesiculosa e evoluir para nó dulos maculopapulosos. São prévias ao de- senvolvimento de lesõ es hipercerató ticas descamativas semelhantes à psorí ase; • Ú lceras aftosas: costumeiramente são superfi ciais e indolores, podendo se desenvolver tanto na mucosa oral como genital; • Alterações ungueais: poderão ser similares às que se desenvolvem na artrite psoriá tica. As chamadas unhas de Reiter apresentam-se como leitos ungueais espessados com desenvolvimento posterior de onicodistrofi a. Seu aspecto clí nico pode ser confundido com onicomicoses, as quais causamalte- raç õ es semelhantes. Em relação ao acometimento ocular, estas manifestações ocorrem como infl amaç ões oculares: conjuntivite acompanhada por eritema, ardência, la- crimejamento e fotofobia. Menos frequentes são as uveítes, irites, esclerites, episclerites e ceratites. Estas manifestações se associam à artrite reativa em cerca de 25% dos casos e apresentam caráter intermitente, que se evidencia pela congestã o das escleró ticas, dor ocular, alteraç õ es visuais e opacifi caç ã o da có rnea. Um percentual pequeno dos pacientes com uveí te recidivante pode evoluir para uveíte crô nica, podendo culminar em defi ciência visual ou até mes- mo cegueira irreversí vel. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 104 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 104 08/04/2021 12:53:58 EXPLICANDO Para que seja possível estabelecer distinções entre a artrite reativa aguda e crônica, pode-se conceituá-las da seguinte maneira: a artrite reativa crônica é caracterizada por apresentar um período maior que seis meses de permanência, duração que é diagnosticada como crônica. Já a artrite reativa aguda tem período de permanência menor a este. O diagnóstico da SR tem como base a detecção da tríade clínica, bem como exames sanguíneos para a identifi cação do HLA-B27 positivo, o que ocorre em aproximadamente 75% dos pacientes. A presença da artrite típica da SR (aguda e assimétrica em grandes articulações de membros inferiores), manifestações de infecção gastrointestinal ou geniturinária prévias (diarreia ou disúria) ou manifestações características extra-articulares da SR devem trazer suspeitas. Também faz-se necessário estabelecer o diagnóstico diferencial com outras formas de espondiloartropatias soronegativas. As condutas adotadas devem priorizar a erradicação da infecção subjacen- te por meio de antibióticos, bem como estabelecer medidas analgésicas e anti- -infl amatórias (não esteroidais -AINE). Glicocorticoide intra-articular e sulfassa- lazina são utilizados se os AINE não controlarem os sintomas adequadamente. Com relação ao quadro artrítico, o descanso e a proteção articular podem ser medidas necessárias. Ademais, os exercícios físicos e condutas fi sioterapêuti- cas poderão auxiliar no tratamento (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010). Não há um prognóstico estabelecido, e aproximadamente 2/3 dos pacien- tes evoluem para desconforto articular prolongado, lombalgia ou entesopatia após a SR aguda. As sequelas crônicas graves poderão se desenvolver em 30% a 50% dos pacientes, que experimentarão recidivas ou sintomas prolongados por muitos anos, manifestados por infl amação ou deformidade articular axial e podendo culminar em incapacitação. Doença mista do tecido conjuntivo A Doença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC) é defi nida como uma doença autoimune e sistêmica em que se apresentam altos títulos de anticorpos anti-U1 ribonucleoproteína (RNP). Conforme afi rmam Iglesis, Santos e Fraga, estes anticorpos estão “associados a manifestações clínicas comuns a mais de uma colagenose, incluindo Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), dermatopolimiosite (DPM), Esclerose Sistêmica (ES)” (2014, p. 1). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 105 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 105 08/04/2021 12:53:58 A presença dessas enfermidades em um mesmo paciente raramente é re- ferida, principalmente no que concerne ao público infantil. Na grande maioria das situações de DMTC, o LES se encontra inserido. Assim, o padrão raro está em caracterizar o paciente com manifestações clínicas de LES, ES e DPM e Ar- trite Reumatóide (AR), acrescidas de elevados títulos de anticorpo antinuclear circulante a um antígeno ribonucleoprotéico (RNP). Conforme afi rma Nevares (2018), as manifestações clínicas iniciais nos pa- cientes com DMTC são: edema difuso de dedos ou mãos (Figura 3), fraqueza muscular (75% dos pacientes), fenômeno de Raynaud, poliartrite, miopatia in- fl amatória, hipomotilidade esofágica e doença pulmonar intersticial. Poderão ocorrer, como manifestações gerais, febre, perda de peso e adinamia. Figura 3. Edema difuso dos dedos. Fonte: MARTINS, 2009, p. 561. O diagnóstico é realizado pela associação das manifestações clínicas, altos títulos de anticorpos anti-RNP e inexistência de especifi cidade de anticorpos para outras enfermidades autoimunes. O diagnó stico da DMTC pode ser re- tardado em alguns anos, e este fato também está relacionado à raridade da doença, assim como à ausência de investigaç ã o de sistematizaç ã o silenciosa, como a pneumopatia intersticial, a hipertensã o arterial pulmonar e a esofa- gopatia (MARTINS, 2009). Lúpus Eritematoso Sistêmico O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença infl amatória crônica, autoimune, de etiologia pouco conhecida e resultante de um desequilíbrio do sistema imunológico e da produção de autoanticorpos, os quais atacam muitas FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 106 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 106 08/04/2021 12:54:03 proteínas celulares. O resultado disto é a formação de imunocomplexos que, quando se depositam em vasos de pequeno calibre, culminam em uma vascu- lite e alteração do local acometido. A doença é pleomórfica, ou seja: apresenta várias maneiras de se mani- festar e de evoluir, uma vez que o envolvimento sistêmico ocorre em diversas combinações, graus e gravidade. Há, na evolução clínica do LES, períodos de exacerbação da atividade inflamatória, os quais se intercalam com a remissão parcial ou completa, sendo a duração dessas fases da doença também variá- vel. Ademais, alguns pacientes podem manter um padrão de atividade crônica (SHINIO; MOREIRA, 2021). Embora a doença incida mais em mulheres em idade de reprodução, tam- bém pode ocorrer em crianças e adultos mais velhos. Trata-se de uma enfer- midade universal, acometendo todas as etnias e nas mais variadas áreas geo- gráficas; porém, suas características e gravidade, bem como sua prevalência, podem distinguir-se entre os diversos grupos étnicos. O LES apresenta uma etiologia multifatorial em que participam fatores genéticos, epigenéticos, hormonais, ambientais e imunológicos, e o papel pa- togênico dos hormônios tem como base a hipótese de imunomodulação. Em relação a seu predomínio no sexo feminino em idade reprodutiva, isto ocorre devido ao fato de os estrógenos apresentarem papel estimulador de várias células imunes, como macrófagos e linfócitos T e B, favorecendo a ligação dos mononucleares ao endotélio vascular, estimulando a secreção de algumas cito- cinas e desencadeando a resposta imune. Quanto aos fatores genéticos envolvidos na etiologia do LES, podemos citar, de forma resumida, a presença de agregação familiar, ocorrência de 25% a 50% de gêmeos monozigóticos e associação com HLA-DR2 e HLA-DR3. Também é importante ressaltar a etiologia ambiental relacio- nada ao papel da luz ultravioleta (UV), em que a exposição à luz solar é fator determinante na apoptose de queratinócitos que, em suma, também liberará a secreção de citocinas com amplificação da resposta imune, além de propi- ciar a ativação de macrófagos e o processamento de antígenos, o que desencadeia uma resposta inflama- tória sistêmica. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 107 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 107 08/04/2021 12:54:03 Já em relação à etiologia virótica, pode-se afirmar que os vírus são fortes estimuladores da ativação da resposta imune, havendo indícios da interface entre a infecção por Epstein-Barr virus (EBV), citomegalovírus (CMV) e Mycobac- terium tuberculosis com o LES (SHINIO; MOREIRA, 2021) CURIOSIDADE É imprescindível ressaltar que a utilização de algumas medicações, em es- pecial a hidralazina e a isoniazida, poderão desencadear sintomas seme- lhantes ao LES, assim como ter impacto de gatilho para as manifestações da enfermidade. Já o tabagismo, atuando como o segundo fator ambiental mais atrelado ao desenvolvimento de LES (sendo o primeiro a luzUV), atua reduzindo os efeitos terapêuticos da hidroxicloroquina, uma vez que esta medicação atua reduzindo as manifestações da doença. É importante que conheçamos a patogênese do LES: esta se caracteriza por inúmeras falhas no sistema imune, o qual perde a autotolerância, resultando em um processo que se inicia na ruptura da homeostasia celular. Este evento desencadeia a produção anormal de autoanticorpos, cujo surgimento antece- de em anos as primeiras manifestações da doença. Portanto, a patogênese do LES parte da produção irregular de autoanticor- pos pelas células B, sendo alguns de seus específicos o anti-DNA, o anti-smith e o anti-P, os quais, produzidos em demasia, irão ativar o imunocomplexo. Isto irá resultar no estímulo da resposta imune inata mediada pelas IL1/TNF, culmi- nando na resposta inflamatória (SHINIO; MOREIRA, 2021). O LES pode apresentar, como manifestações gerais iniciais, a anorexia e a perda de peso, precedendo o surgimento de outras manifestações em meses. A febre de causa indeterminada pode ocorrer em menos de 5% dos pacientes, podendo este ser o primeiro sinal da doença. A linfadenopatia generalizada ou localizada com predomínio nas cadeias cervical e axilar poderá ser vista em mais de 1/3 dos casos, assim como a presença de hepato e/ou esplenomegalia (SHINIO; MOREIRA, 2021). Abordemos agora as manifestações específicas do LES, tais quais as manifestações cutâneas, sistêmicas e imunológicas. As manifestações cutâneas são imprescindíveis como critérios de diagnóstico, sendo detectadas em 70% dos pacientes no início da doença e em até 80%-90% em sua evolução. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 108 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 108 08/04/2021 12:54:03 O Quadro 1 expressa os critérios de classificação do LES estabelecidos em 2012 pela Systemic Lupus International Collaborating Clinics Classification Criteria for Systemic Lupus Erythematosus – ou SLICC. QUADRO 1. CRITÉRIOS SLICC PARA DIAGNÓSTICO DO LES Critários SLICC para diagnóstico de LES 1. Lúpus cutâneo agudo: inclui rash malar, lúpus bolhoso e rash fotossenssível; 2. Lúpus cutâneo crônico: rash discoide, hipertrófico ou paniculite lúpica; 3. Úlceras orais: palato, boca e língua; úlceras nasais; 4. Alopecia não cicatricial; 5. Sinovite de duas ou mais articulações, com edema ou derrame articular (ou artralgia, e rigidez matinal maior que 30 minutos); 6. Serosite: dor pleurítica típica por mais de um dia ou derrame pleural ou atrito pleural; dor pericárdica típica por mais de um dia ou efusão pericárdica ou atrito pericárdico ou eletrocardiograma com sinais de pericardite; 7. Renal: relação entre proteina e creatinina urinárias (ou proteinúria de 24 horas) com mais de 500 mg de proteínas nas 24 horas, ou cilindros hemáticos; 8. Neurológico: convulsão, psicose, mielite; mononeurite múltipla, neuropatia cranial ou periférica, estado confusional agudo; 9. Anemia hemolítica; 10. LeucopeniaPor exemplo: uma dieta saudável aliada à atividade física regular é essencial, uma vez que isto beneficia o sistema imunológico e a qualidade de vida, reduzindo a fadiga, melhorando o condicionamento cardiovascular e aumentando a proteção da massa óssea. A priorização no tratamento de todos os pacientes com LES é a prescrição de antimaláricos, preferencialmente a hidroxicloroquina, desde o diagnóstico, independentemente da gravidade da doença. A utilização liberal de corticos- teroides (CE) tem passado atualmente por críticas contundentes devido à ele- vada frequência de suas complicações, como o surgimento de catarata, osteo- porose, osteonecrose e aterosclerose acelerada. Por fim, medidas preventivas, como proteger-se contra luz solar ou quaisquer outras maneiras de irradiação ultravioleta, também são recomendadas. O tratamento fisioterapêutico deverá focar em medidas relativas às estru- turas acometidas por meio de recursos analgésicos e anti-inflamatórios, possi- bilitando assim a preservação da amplitude de movimento e a força muscular. Deve-se, portanto, restaurar o equilíbrio osteomuscular, promover o condicio- FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 112 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 112 08/04/2021 12:54:13 namento cardiorrespiratório e atuar na densidade de massa óssea, prevenindo fraturas, entre outras medidas. A utilização de Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS) poderá ser indicada como medida analgésica, uma vez que estimula as fi bras nervosas transmissoras de sinais encefálicos. Já a cinesioterapia ativa atuará nas disfun- ções mioarticulares, na fadiga e no condicionamento cardiovascular e pulmo- nar, podendo aplicar-se para estes condicionamentos faixas elásticas com re- sistência, pesos e hidrocinesioterapia, entre outros. Esclerose Sistêmica Considerada rara, a Esclerose Sistêmica (ES) ou esclerodermia é uma doen- ça multissistêmica, crônica, causada por uma alteração endotelial e imunológi- ca que compromete o tecido conjuntivo da pele, o sistema musculoesquelético e os órgãos internos, em particular coração, rins, pulmões e trato gastrointes- tinal. A denominação esclerodermia signifi ca “pele dura”, termo que traduz o acometimento clí nico mais dramático desta enfermidade, a fi brose cutânea. Esta apresenta como características alterações infl amatórias, fi bróticas e atrófi cas acompanhadas de endarterite proliferativa e lesões capilares obstru- tivas, sendo que os mecanismos que envolvem sua fi siopatologia ainda são pouco conhecidos. Isso posto, é possível afi rmar que as alterações vasculares, o acúmulo de colágeno e a ativação do sistema imunológico representam suas principais características (SHINIO; MOREIRA, 2021). No Brasil, esta doença atin- ge aproximadamente 11,9 pessoas por milhão de habitantes, e é mais prevalen- te no sexo feminino, variando de 3 a 15:1. A doença surge em média entre os 45 e 64 anos de idade, sendo rara na infância. Em sua patogênese há interação entre célula-célula, célula-citocina e célu- la-matriz, e cada uma destas interações contribui para o processo patogênico; ademais, acredita-se que a vasculopatia pode originar-se depois da lesão e ati- vação das células endoteliais por aspectos desconhecidos. Subsequentemente, esta lesão endotelial crônica acarreta em adesão de plaquetas e ativação do sistema fi brinolítico somadas a um aumento da permeabilidade vascular e ade- são leucocitária à parede vascular. Todo este processo leva à síntese e deposi- ção de moléculas da membrana extracelular, ocorrendo então a fi brose, com FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 113 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 113 08/04/2021 12:54:13 perda da elasticidade e diminuição progressiva da luz do vaso, o que ocasiona hipóxia progressiva e necrose tecidual. Outro dado relevante desta patogênese é o comprometimento do sistema imune, tanto humoral como celular, em que os mediadores representam a liga- ção entre a vasculopatia e a fibrose tecidual. Assim, é provável que tanto a imu- nidade inata como a imunidade adaptativa exerçam um papel na patogênese. A pele termina por desenvolver fibras colágenas mais compactadas na der- me reticular, epiderme mais fina, ausência de rede de vasos e apêndices dér- micos atróficos. Há ainda acúmulo de linfócitos, os quais desenvolvem uma fibrose difusa tanto nas camadas subcutâneas como na derme. Nas pregas ungueais, alguns capilares podem se dilatar e outros podem se perder. Em ex- tremidades, a membrana sinovial encontra-se inflamada e fibrosada cronica- mente, processo que se estende aos tecidos moles periarticulares. QUADRO 3. CLASSIFICAÇÃO DA ES E RESPECTIVOS COMPROMETIMENTOS. Classificação Comprometimento Esclerodermia limitada (síndrome CREST) CREST: calcinose cutânea; fenômeno de Raynaud; dismotilidade esofágica; esclerodactilia; telangiectasias; Esclerodermia generalizada (comprometimento cutâneo difuso) Comprometimento cutâneo difuso; fenômeno de Raynaud; complicações gastrointestinais; rápida evolução; doença pulmonar intersticial; crise renal esclerodérmica; Esclerodermia sem comprometimento cutâneo Anticorpos relacionados com a esclerodermia e manifestações viscerais da doença, mas sem endurecimento da pele. Conforme evidencia a literatura, as duas formas clássicas de apresentação da ES são a forma cutânea limitada e a cutânea difusa, conforme demonstra o Quadro 3, sendo que a esclerodermia sem comprometimento cutâneo não reflete o espessamento dérmico. Na forma limitada, o espessamento cutâneo fica restrito às extremidades dos membros e face, sendo tipificado pela associação da presença de anticor- po anticentrômero e hipertensão arterial pulmonar. Já na manifestação difusa, este espessamento cutâneo ocorre precocemente, se estendendo à região pro- ximal dos membros, tronco e face. A fibrose pulmonar e a crise renal esclero- dérmica são mais recorrentes, sendo os anticorpos predominantes o anti-Scl70 FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 114 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 114 08/04/2021 12:54:13 e o anti-RNA polimerase III. Uma minoria de pacientes apresenta achados clí- nicos e laboratoriais típicos da ES, mas sem envolvimento cutâneo, sendo esta classificada como sine scleroderma. Para auxiliar no diagnóstico da ES, os profissionais da área da saúde podem recorrer aos critérios de classificação para esclerodermia do American College of Rheumatology (ACR) ou da European League Against Rheumatism (EULAR), con- forme ilustra a Tabela 1. TABELA 1. CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO PARA ES PROPOSTOS PELO ACR E PELA EULAR EM 2013 item Subitem Valor Espessamento cutâneo dos dedos das mãos. proximal às articulações metacarpofalângicas 9 Espessamento cutâneo dos dedos (só computar o maior escore) Distal às articulações metacarpofalângicas Edema de mãos 4 2 Lesões de polpa digital (só computar o maior escore) Úlceras digitais Microcicatrizes 2 3 Fenômeno de Raynaud 3 Autoanticorpos específicos para ES (anticentrômero, anti- RNA polimerase III, antitopoisomerase I [anti-Scl70]) 3 Telangiectasias 2 Capilaroscopia periungueal alterada 2 Hipertensão arterial pulmonar ou doença intersticial pulmonar 2 Fonte: SHINIO; MOREIRA, 2021, p. 238. Destaquemos aqui o acometimento musculoesquelético da ES, em que os sintomas vão desde artralgias leves até artrites erosivas avançadas, com qua- dro de sinovite similar ao de artrite reumatóide. Note que a esclerose da pele dos dedos das mãos ou membros geralmente associa-se às contraturas arti- culares. Isso posto, a fibrose dos tecidos profundos também pode acometer fáscias e músculos subjacentes. Isto incorre no comprometimento de áreas lo- calizadas ao redor dos tendões, fazendo com que haja redução da amplitude dos movimentos articulares, tanto ativa como passivamente, e dor (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 115 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 115 08/04/202112:54:13 O espessamento da pele proximal às metacarpofalangeanas já basta para realizar o diagnóstico de ES, em que há três fases: edematosa (puffy fingers), em que ocorre a inflamação; indurativa, quando o edema regride; e atrófica, quando a cútis se afina e adere aos planos profundos, culminando em visíveis estigmas da doença. Exemplos destes estigmas são: a garra esclerodérmica (Figura 6), a microstomia e o afilamento do nariz (SHINIO; MOREIRA, 2021). Figura 6. ES - garra esclerodérmica. Fonte: NEVARES, 2018, n.p. A fraqueza muscular é uma queixa recorrente, podendo ter como causa a dor, o desuso prolongado dos músculos, a desnutrição e a disfunção gradati- va lentamente progressiva dos músculos estriados esqueléticos. Outro motivo desta fraqueza também pode ser a fibrose localizada ou o desenvolvimento de miopatia necrosante. Uma porcentagem pequena dos pacientes tem miopatia inflamatória verdadeira (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). Com relação ao tratamento, nenhuma conduta medicamentosa estanca a evolução da ES; porém atuarão no alívio da sintomatologia e na redução de lesões sistêmicas os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e medicamentos imunossupressores. Antibióticos como ciprofloxacino e metronidazol também são indicados. Por fim, um bloqueador dos canais de cálcio poderá ser indica- do, o que dependerá da fase e gravidade da doença. O tratamento fisioterapêutico será fundamental na prevenção de compli- cações osteomioarticulares, atuando nas contraturas e na restrição dos mo- vimentos, bem como na manutenção da funcionalidade nos sistemas acome- tidos. Por fim, ele também será auxiliar no que concerne ao condicionamento cardiopulmonar e cardiovascular. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 116 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 116 08/04/2021 12:54:15 Artropatias microcristalinas Grande parte dos eventos que culminam no adoecimento articular por acú- mulo de substâncias ocorre pela precipitação de cristais dentro da articulação. De forma abrangente, esses eventos patológicos são conhecidos como artro- patias microcristalinas. Desta maneira, pode-se afi rmar que as artropatias microcristalinas consis- tem em um grupo de enfermidades metabólicas, que se manifestam devido ao depósito de cristais minerais nos tecidos musculoesqueléticos. Estas deposições de cristais culminam em alterações patológicas representadas por processos infl amatórios agudos que podem evoluir para a cronicidade, causan- do dano articular e o desenvolvimento de quadros de osteoartrose secundários. Os cristais depositados neste grupo de enfermidades são o que caracteri- zam a doença. Desta maneira, temos que os cristais de monourato de sódio caracterizam a gota, ao passo que os cristais de pirofosfato de cálcio caracte- rizam a pseudogota. Gota A gota é uma artropatia infl amatória decorrente da formação de cristais de urato monossódico di-hidratado nos tecidos articulares, sendo esta a forma de enfermidade articular infl amatória mais comum da espécie humana. Cristais de urato monossódico di-hidratado Gota (artrite infl amatória) Figura 7. Cristais de urato monossódico di-hidratado nos tecidos articulares. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 18/03/2021. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 117 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 117 08/04/2021 12:54:15 CURIOSIDADE Nas últimas décadas, nota-se uma forte tendência para que a gota seja uma enfermidade mais prevalente. Isto ocorre devido ao atual estilo de vida populacional, com maior ingestão de proteínas, alimentos ricos em purinas, calorias, bebidas adoçadas, bebida alcoólica e frutose, além do aumento da longevidade, a utilização de medicamentos como diuréticos e ácido acetilsalicílico, o aumento das doenças renais crônicas e o desen- volvimento da síndrome metabólica. A etiologia da gota está relacionada à formação dos cristais, o que de- corre da supersaturação de urato dos tecidos envolvidos. O limite de solu- bilidade do urato em fluidos corporais no pH de 7,4 e temperatura de 37 °C é de até 7 mg/dL (algumas literaturas citam o limite de 6,8 mg/dL). Valores acima do citado são definidos como hiperuricemia e os fluidos que contêm ácido úrico saturam-se, o que favorece a precipitação cristalina. O ácido úrico (AU), quando formado, não pode degradar-se, sendo que 70% de sua excreção acontece pela via renal e o restante pelo intestino. A excreção re- nal diária é de 300 mg a 800 mg em 24 h. O principal mecanismo para a crise inflamatória é a ativação do inflamas- soma NLRP3, que ocorre via interação cristal-macrófago. Todavia, somente a presença do cristal intra-articular não se apresenta como fator suficiente para que ocorram danos articulares severos. O que se dá é que, na lesão, o cristal é reconhecido pelos fagócitos como uma estrutura que não faz parte do orga- nismo, o que desencadeia uma resposta inflamatória de caráter agudo e tran- sitório. Portanto, a destruição articular se dá por uma exposição cíclica a esse processo, gerando sequelas articulares irreversíveis, ou seja: uma osteoartrite secundária (SHINIO; MOREIRA, 2021). Em suma, a hiperuricemia é a condição necessária para o desenvolvimento da gota, havendo nesta propensão para a precipitação dos cristais de urato nas articulações e nos tecidos periarticulares. Caso não tratada, haverá precipita- ção de cristais contínua, evoluindo para a formação de agregados de cristais cada vez maiores, os quais são conhecidos como tofos. As manifestações clínicas se apresentam em três fases: 1. hiperuricemia assintomática; 2. gota aguda e intermitente (ou intercrítica); e 3. gota tofácea crônica, conforme ilustra a Figura 8. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 118 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 118 08/04/2021 12:54:15 Estágio I Hiperuricemia assintomática Sem artrite Duração 1 a 2 semanas Intervalos 1 semana a 2 meses Artrite persistente com crises agudas superpostas 6 meses a 2 anos 2 semanas a 4 meses Tofos Número de articulações afetadas 1 a 2 4 a 5 Artrite gotosa aguda e gota intercrítica Artrite gotosa crônica Estágio II Estágio III Figura 8. História natural da gota em três estágios. Fonte: IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014, p. 358. A artrite gotosa aguda tem início entre 10 a 30 anos após o início da hipe- ruricemia assintomática. Em um período de 8 a 12 horas, a dor progride de leves pontadas até seu nível mais intenso. Via de regra, o primeiro episódio acomete apenas uma articulação, e em 50% dos casos, envolve a primeira arti- culação metatarsofalangiana, denominada podagra. Também podem ser comprometidas, na fase inicial, articulações da região intermediária do pé, tornozelo, calcanhar e joelho. Os punhos, os dedos e os cotovelos são as articulações comprometidas em casos típicos da doença mais evoluída. A intensidade da dor é tamanha que o paciente sequer pode supor- tar o peso do lençol do leito incidindo na região afetada, quanto mais andar quando há acometimento dos membros inferiores, majoritariamente as arti- culações dos pés (SHINIO; MOREIRA, 2021). Na artrite gotosa crônica ou artrite tofácea crônica a manifestação se apresenta pela formação de tofos em forma de caroços (nódulos cutâneos) que rodeiam as articulações, comprometendo tecidos moles e causando alterações destrutivas em ossos e tendões. Os tofos gotosos localizam-se preferencialmente sobre dedos, joelhos, pavilhão auricular e cotovelos. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 119 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 119 08/04/2021 12:54:15 Radiologicamente, no início da doença não há achados, mas em sua mani- festação como artrite gotosa aguda poderão ser observados edemas nas par- tes moles da articulação acometida. As alterações ósseas sugestivas da depo- sição de cristais de urato (microtofos) irão se desenvolver somente anos após o início da doença. O quadro erosivo ósseo avançado da gota crônica costumeiramente é ca- racterísticodo sexo feminino. Segundo a Sociedade Catarinense de Reumatologia (2019), além das dores articulares, que é uma das manifestações mais comuns, outros sinais e sinto- mas podem surgir, como: edema; rubor; aumento de temperatura articular; limitação em movimentos; rigidez articular matinal; limitação na amplitude de movimento e na fl exibilidade da coluna; limitação para a realização de ativi- dades de vida diária; fadiga muscular; alterações oculares, como vermelhidão EXPLICANDO O termo “reumatismo” pertence a uma denominação médica antiga, tendo se tornado obsoleto, porém ainda é bastante usado, empregando-se a patologias dos sistemas mio-osteoarticular de etiologia não traumática. Este emprego geralmente está relacionado a quadros de artrite, mas vale ressaltar que há um número extenso de patologias que podem desenvol- ver um quadro desse tipo, alcançando desde infecções a situações de etiologia imunológica (PINHEIRO, s.d.). FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 13 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 13 08/04/2021 12:08:03 e secura; alteração térmica em extremidades como pés e mãos; alteração de coloração (fenômeno de Raynaud); e alterações bucais, podendo ser desenca- deadas ulceração oral, gengivite e periodontite. As doenças reumáticas podem ser classifi cadas conforme sua etiologia, como mostra o Quadro 1. QUADRO 1. CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS REUMÁTICAS 1. Artropatias infl amatórias crônicas a. Artrite reumatoide b. Artropatias soronegativas i. Espondiloartrites ii. Artrite psoriática c. Doenças do tecido conjuntivo i. Lupus eritematoso sistêmico ii. Doença de Sjögren 2. Osteoartrose 3. Artropatias microcristalinas (Exemplo: gota) 4. Artropatias infecciosas (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) 5. Artropatias reativas 6. Artropatias metabólicas a. Osteoporose b. Doença de Paget 7. Vasculites sistêmicas 8. Reumatismo extra-articular a. Bursite b. Tendinite c. Fibromialgia 1. Artropatias infl amatórias crônicas1. Artropatias infl amatórias crônicas a. Artrite reumatoide b. Artropatias soronegativas 1. Artropatias infl amatórias crônicas a. Artrite reumatoide b. Artropatias soronegativas 1. Artropatias infl amatórias crônicas a. Artrite reumatoide b. Artropatias soronegativas i. Espondiloartrites ii. Artrite psoriática c. Doenças do tecido conjuntivo 1. Artropatias infl amatórias crônicas a. Artrite reumatoide b. Artropatias soronegativas i. Espondiloartrites ii. Artrite psoriática c. Doenças do tecido conjuntivo i. Lupus eritematoso sistêmico 1. Artropatias infl amatórias crônicas b. Artropatias soronegativas i. Espondiloartrites ii. Artrite psoriática c. Doenças do tecido conjuntivo i. Lupus eritematoso sistêmico ii. Doença de Sjögren 2. Osteoartrose 1. Artropatias infl amatórias crônicas b. Artropatias soronegativas i. Espondiloartrites ii. Artrite psoriática c. Doenças do tecido conjuntivo i. Lupus eritematoso sistêmico ii. Doença de Sjögren 2. Osteoartrose 1. Artropatias infl amatórias crônicas b. Artropatias soronegativas ii. Artrite psoriática c. Doenças do tecido conjuntivo i. Lupus eritematoso sistêmico ii. Doença de Sjögren 2. Osteoartrose 3. Artropatias microcristalinas c. Doenças do tecido conjuntivo i. Lupus eritematoso sistêmico ii. Doença de Sjögren 2. Osteoartrose 3. Artropatias microcristalinas 4. Artropatias infecciosas c. Doenças do tecido conjuntivo i. Lupus eritematoso sistêmico 3. Artropatias microcristalinas 4. Artropatias infecciosas i. Lupus eritematoso sistêmico 3. Artropatias microcristalinas 4. Artropatias infecciosas 5. Artropatias reativas 3. Artropatias microcristalinas 4. Artropatias infecciosas 5. Artropatias reativas 6. Artropatias metabólicas a. Osteoporose 3. Artropatias microcristalinas 4. Artropatias infecciosas 5. Artropatias reativas 6. Artropatias metabólicas a. Osteoporose b. Doença de Paget 3. Artropatias microcristalinas (Exemplo: gota) 4. Artropatias infecciosas 5. Artropatias reativas 6. Artropatias metabólicas a. Osteoporose b. Doença de Paget 7. Vasculites sistêmicas (Exemplo: gota) (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) 5. Artropatias reativas 6. Artropatias metabólicas a. Osteoporose b. Doença de Paget 7. Vasculites sistêmicas 8. Reumatismo extra-articular (Exemplo: gota) (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) 6. Artropatias metabólicas b. Doença de Paget 7. Vasculites sistêmicas 8. Reumatismo extra-articular a. Bursite b. Tendinite (Exemplo: gota) (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) 6. Artropatias metabólicas 7. Vasculites sistêmicas 8. Reumatismo extra-articular a. Bursite b. Tendinite c. Fibromialgia (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) 7. Vasculites sistêmicas 8. Reumatismo extra-articular b. Tendinite c. Fibromialgia (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) 8. Reumatismo extra-articular c. Fibromialgia (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) 8. Reumatismo extra-articular (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) 8. Reumatismo extra-articular (Exemplos: virais, bacterianas e fúngicas) Apesar de muitas doenças reumáticas serem autoimunes, há as não au- toimunes. Sobre as doenças autoimunes, Abrão e colaboradores (2016, p. 01) citam que “nessa categoria podem ser incluídas: a artrite reumatoide (AR), (...) as miopatias infl amatórias (MI), a esclerose sistêmica (ES), o lúpus eritematoso sistêmico (LES) e a síndrome de Sjögren (SS)”. Já entre as doenças reumáticas não autoimunes bastante incidentes estão os itens 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 das doen- ças reumáticas apresentadas no Quadro 1. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 14 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 14 08/04/2021 12:08:05 Figura 1. Artrite reumatoide. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 29/01/2021. Bases do sistema imunológico O sistema imunológico detém a grande responsabilidade de defender o or- ganismo de invasores que nos ofereçam perigo. Porém, para que desempenhe esta função, é preciso ser capaz de discernir entre o que é pertencente ao or- ganismo ou não. Dessa maneira, é denominado antígeno qualquer substância que este sistema consiga identifi car, estimulando, assim, a resposta imunológi- ca (DELVES, 2020). Mas como explicar a resposta autoimune ocorrida nas artro- patias infl amatórias crônicas citadas no Quadro 1? Podemos, então, conceituar a autoimunidade como uma resposta imune específi ca frente a um antígeno ou vários antígenos próprios. Portanto, as doenças autoimunes apresentam-se como uma síndrome desencadeada por lesão tecidual ou uma alteração funcional provocada por resposta autoimune. Erosão do osso Linfócito Deslocamento do osso Cartilagem e osso subjacente desintegram Osteoclasto (quebra o tecido ósseo) Citocina Anticorpos Macrófagos Artrite reumatoide FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 15 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 15 08/04/2021 12:08:07 O organismo geralmente produz baixa porcentagem (5%) de anticorpos com reconhecimento de suas estruturas. São exemplos: os anticitocinas, antiDNA e o anticolágeno. No entanto, essa produção de anticorpos denominados autor- reativos apresenta-se desequilibrada nas doenças autoimunes, atacando de 1 a 5% dos sujeitos em determinado momento da vida. Dessa maneira, em de- corrência da falha no mecanismo de autotolerância, há a autoimunidade, cuja resposta se manifesta contra antígenos próprios. Já quando o sistema imune é incapaz de exterminar por completo os autoantígenos, ele apresenta uma resposta contínua, que resulta em uma maneira de infl amação crônica, desen- cadeando, portanto, a doença autoimune. Podemos, então, concluir que as doenças autoimunes se apresentam como respostas imunes adaptativas, em que as células do sistema imune têm sua ação frente às células do próprio organismo em razão da incapacidade do cor- po em acabar com os autoantígenos. Nesta resposta, linfócitos T, que reagem aos elementos do próprio organismo, fogem do processo de apoptose quando o timo realiza a seleção central,no exame radiográfico, com lesões afastadas da fenda articular. O espaço articular pode estar preservado ou apresentar estreitamento seme- lhante ao que é causado pela osteoartrose, e a ultrassonografia pode ser útil para que se estabeleça o diagnóstico. A alteração típica é o “sinal de duplo contorno”, que aparece como uma faixa hiperecoica (mais densa) na superfície cartilaginosa articular. A RM e a TC também são técnicas diagnósticas sensíveis para detectar tofos e erosões. QUADRO 4. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA ARTRITE GOTOSA AGUDA Presença de cristais de urato típicos no líquido articular, ou; Um tofo no qual se comprova a presença de cristais de urato por métodos químicos ou microscopia de luz polarizada, ou; Presença de seis dos doze seguintes critérios clínicos, laboratoriais e radiográficos relacionados a seguir; 1. Mais de uma crise de artrite aguda; 2. Inflamação máxima no primeiro dia; 3. Episódio de artrite monoarticular; 4. Eritema articular detectável; 5. Dor e edema da primeira articulação metatarsofalangiana; 6. Artrite unilateral envolvendo a primeira articulação metatarsofalangiana; 7. Artrite unilateral envolvendo a articulação do tarso; 8. Lesão sugestiva de tofo; 9. Hiperuricemia; 10. Edema sintomático dentro da articulação (demonstrado radiograficamente); 11. Cistos subcorticais sem erosões (demonstrados radiograficamente); 12. Cultura negativa do liquido articular para microrganismos durante o episódio de inflamação articular Fonte: IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014, p. 360. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 120 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 120 08/04/2021 12:54:15 Com relação às condutas adotadas frente a uma Crise Aguda de Gota (CAG), o tratamento deverá ser iniciado imediatamente, preferencialmente nas primei- ras 24 horas. É muito importante que, na CAG, o paciente seja instruído a não interromper a medicação, em que a conduta uricorredutora é necessária. A ma- nutenção do repouso deve ser orientada, prevenindo sobrecargas articulares e subsequente aumento da dor, bem como a indicação de compressas com gelo no local da infl amação, medidas necessárias nos primeiros dias da CAG. A conduta farmacológica consiste na prescrição de anti-inflamatório não hormonal (AINH), colchicina ou corticosteroide (oral, intramuscular ou intra-articular), isoladamente ou em certas combinações (AINH + colchici- na ou corticosteroide + colchicina). O uso de medicações uricorredutoras (MUR) é amplamente indicado para pacientes que apresentem um ou mais tofos, dano articular radiográfico ou dois ou mais episódios de CAG por ano (SHINIO; MOREIRA, 2021). A fisioterapia em pacientes com gota visa proporcionar medidas anti- -inflamatórias e analgésicas, como a aplicação da crioterapia, TENS, ultras- som, iontoforese, mobilização passiva (crises recorrentes repercutem em déficits nas amplitudes de movimentos articular e propriocepção, permi- tindo assim melhora da dor e da rigidez dos tecidos) e trações manuais, entre outros. Na fase aguda o repouso articular poderá ser mantido, se necessário com órteses de posicionamento. Pseudogota A pseudogota é uma artropatia microcristalina associada à deposiç ã o de cristais de pirofosfato de cálcio di-hidratado (CPPD), podendo se apresentar as- sintomaticamente ou evoluir com várias manifestações clí nica. O termo “pseu- dogota” foi concebido a partir da descoberta de que alguns pacientes que apa- rentemente tinham gota apresentavam cristais de CPPD no líquido sinovial, ao invés de cristais de ácido úrico (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). A etiologia desta deposição de cristais não é conhecida, mas recentemente descobriu-se que mutações do gene ANKH, do cromossomo 5p, relacionam-se à condrocalcinose familiar, supostamente classifi cada como um distúrbio dos mecanismos de transporte do pirofosfato inorgânico (PPi). Os percentuais bai- FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 121 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 121 08/04/2021 12:54:15 xos de fosfato inorgânico (Pi) e pirofosfato inorgânico (PPi) propiciam o depósi- to dos cristais de CPPD nas articulações. Há pesquisas que revelam que na pa- togênese da pseudogota o sistema imune pode ter influência, desenvolvendo a pseudogota por intermédio da secreção de interleucina-1 e outras citocinas, as quais favorecem a inflamação dos tecidos articulares (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). EXPLICANDO Embora muitas literaturas utilizem o termo pseudogota e condrocalcinose como sinônimos, atribui-se a nomenclatura condrocalcinose para desig- nar “calcinose” ao depósito dos cristais e “condro” por se depositarem na cartilagem articular. Portanto, a condrocalcinose é detectável em exames de imagem da articulação, sendo comumente observada na radiografia de indivíduos com pseudogota. Nesta enfermidade o envelhecimento apresenta-se como forte fator de ris- co, visto a deposição de CPPD ocorrer em indivíduos que vivem mais. Também é possível atribuir a deposição desses cristais a fatores genéticos, visto terem sido descritos muitos casos familiares de deposição de CPPD em alguns países. Com relação ao quadro clínico, sua característica é uma artrite inflamatória aguda, comumente monoarticular, que permanece por muitos dias ou até duas semanas. As crises podem se apresentar como autolimitadas, variando de in- tensidade, da mesma forma que podem emergir repentinamente. Os períodos intercrises normalmente são assintomáticos. Febre e outros sintomas também poderão ocorrer, o que assemelha a pseu- dogota à artrite reumatóide. Um outro dado que dificulta diferenciar estas duas enfermidades é que um pequeno percentual dos pacientes com patolo- gias associadas à deposição de CPPD apresenta títulos baixos de fator reuma- toide circulante. Os joelhos são comprometidos mais frequentemente, seguidos menos co- mumente pelos punhos, articulações metacarpofalangeanas, quadris, joelhos, ombros, cotovelos e tornozelos. O comprometimento simétrico é característico e as deformidades e contraturas em flexão de muitas articulações são recor- rentes. O joelho em valgo é uma das deformidades que sugerem uma doença relacionada à deposição de cristais de CPPD, bem como a doença localizada na articulação patelofemoral. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 122 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 122 08/04/2021 12:54:15 Raramente há depósito dos cristais de CPPD no esqueleto axial. Caso isto ocorra, o ligamento amarelo é a estrutura mais comumente comprometida. Assim, o Quadro 5 apresenta os critérios diagnósticos para a pseudogota as- sociada à deposição de cristais de CPPD, bem como as categorias diagnósticas. QUANDRO 5. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DA PSEUDOGOTA E RESPECTIVAS CATEGORIAS DIAGNÓSTICAS Critérios 1. Demonstração dos cristais de CPPD nos tecidos ou no líquido sinovial por técnicas definitivas (p. ex., padrão típico na difração de raios X ou análises químicas); 2A. Detecção de cristais monoclínicos ou triclínicos com pouca ou nenhuma birrefringência positiva à microscopia de luz polarizada compensada; 2B. Presença de calcificações radiográficas típicas; 3A. Artrite aguda, principalmente dos joelhos ou outras articulações grandes; 3B. Artrite crônica, principalmente joelho, quadril, punho, carpo, cotovelo, ombro ou metacarpofalangeanas, especialmente se houver exacerbações agudas associadas. A artrite crônica tem as seguintes características, que ajudam a diferenciá-la da osteoartrite: Localização incomum - punho, articulação metacarpofalangeanas, cotovelo ou ombro; Aspecto radiográfico - estreitamento do espaço da articulação radiocarpiana ou patelofemoral, principalmente quando é a única anormalidade (patela “enrolada” ao redor do fêmur); Formação de cistos subcondrais desproporcionais à gravidade da degeneração - evolução progressiva com colapso do osso subcondral e fragmentação com formação de corpos radiodensos intra-articulares; Formação de osteófitos - varáveis e inconstantes;Calcificação dos tendões – principalmente do tríceps, do calcâneo e dos obturadores; Categorias diagnósticas Doença definitiva: os critérios 1 ou 2A devem estar presentes; Doença provável: os critérios 2A ou 2B devem estar presentes; Doença possível: os critérios 3A ou 3B devem alertar o médico quanto à possibilidade desta doença. Fonte: IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014, p. 366. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 123 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 123 08/04/2021 12:54:16 O diagnóstico pode ser realizado pelos achados laboratoriais, buscando evi- denciar a deposição dos cristais específicos, detectados mais frequentemente no líquido sinovial. Assim, a artrocentese dos pacientes com pseudogota apre- senta líquido turvo com pouca viscosidade. Os exames de imagem confirmam o diagnóstico da doença associada à de- posição de cristais de CPPD, nos quais também poderá ser detectada a forma- ção de cistos subcondrais, osteofitose e calcificação tendínea. O diagnóstico dos pacientes para doença por deposição de cristais de CPPD pode ser reali- zado com quatro radiografias, incluindo a incidência anteroposterior (AP) de cada joelho, uma incidência AP pélvica e uma incidência posteroanterior (PA) das mãos e dos punhos. Quando essas radiografias não mostram evidências de deposição de cristais, é improvável que outros exames radiológicos sejam conclusivos (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). As condutas recomendadas para as crises agudas da pseudogota consistem em opções terapêuticas como anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), colchi- cina oral ou intravenosa e corticoides intravenosos ou intra-articulares quando houver intolerância ao tratamento via oral. Exercícios físicos orientados, dispo- sitivos auxiliares, condutas analgésicas, AINEs, infiltrações intra-articulares de corticoides e, por fim, tratamento cirúrgico são recursos eficazes comprovada- mente (IMBODEN; HELMANN; STONE, 2014). A fisioterapia poderá auxiliar nas crises agudas orientando sobre a utiliza- ção de talas ou tipoias, que em muitos casos podem ser uma medida analgési- ca. A aplicação de termoterapia, como calor superficial, auxilia na diminuição a dor, aliviando os espasmos musculares que rodeiam as articulações, ao passo que a aplicação de crioterapia poderá auxiliar como medida analgésica e anti- -inflamatória. Posteriormente à fase aguda, a fisioterapia poderá objetivar: ree- ducação da postura, maximização das funções do sistema musculoesquelético e condicionamento cardiovascular e respiratório, entre outros. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 124 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 124 08/04/2021 12:54:16 Sintetizando Esta unidade teve como objetivo oferecer a você, aluno(a), conhecimentos sobre algumas doenças reumáticas, abrangendo as espondiloartropatias soro- negativas e as Doenças Mistas do Tecido Conjuntivo (DMTC), bem como descre- ver as principais artropatias microcristalinas. Pudemos contextualizar a Síndrome de Reiter e suas formas epidemiológi- cas, elucidando aspectos relacionados à sua forma aguda e crônica. Além disso, também destacamos suas manifestações articulares e extra-articulares. Em relação às DMTC, trouxemos estudos realizados sobre a sua sintomato- logia, tratando separadamente os conceitos, manifestações clínicas, critérios diagnósticos e condutas empregados no Lupus Eritematoso Sistêmico e na Es- clerose Sistêmica, apontando os comprometimentos sistêmicos e articulares destas enfermidades. Assim, finalizamos esta unidade com um tópico referente às artropatias cristalinas mais recorrentes na população, a gota e a pseudogota, ambas oriun- das da deposição de microcristais em tecidos articulares e periarticulares. Con- cluímos, portanto, que as distinções entre ambas se encontram nos diferentes cristais depositados, os quais permeiam as manifestações clínicas das respec- tivas patologias. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 125 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 125 08/04/2021 12:54:16 Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Consulta pública nº 13, de 10 de março de 2010. Disponível em: . Acesso em: 16 mar. 2021. CAZNOCH, C. J. et al. Padrão de comprometimento articular em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico e sua associação com presença de fator reumatóide e hiperelasticidade. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, n. 4, 2006, v. 46. IGLESIS, R.; SANTOS, M. I. L.; FRAGA, A. C. M. Doença Mista do Tecido Conjuntivo: Um relato de caso. Residência Pediátrica, [online], n. 1, 2014, v. 4. IMBODEN, J. B.; HELLMANN, D. B.; STONE, J. H. Current reumatologia: diagnós- tico e tratamento. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. MARTINS, M. A. et al. Clínica médica - volume 5: doenças endócrinas e metabó- licas, doenças ósseas, doenças reumatológicas. Barueri: Manole, 2009. MOCARZELINT, L. O. C. et al. Lúpus Eritematoso Sistêmico: revisão das mani- festações cardiovasculares. Internacional Journal of Cardiovascular Sciences, [s.l.], n. 3, 2015, v. 28. NEVARES, A. M. Doença mista do tecido conjuntivo (DMTC). 2018. Disponível em: . Acesso em: 16 mar. 2021. SHINIO, S. K.; MOREIRA, C. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2. ed. Barueri: Manole, 2021. SOUSA, A. E. S. et al. Síndrome de Reiter: relato de caso. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, n. 3, 2003, v. 78. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 126 SER_ FISIO_FISCSI_UNID4.indd 126 08/04/2021 12:54:16chegando na periferia, onde reside o órgão linfoide periférico, capaz de reagir contra antígenos do próprio (Acγ-próprio). Anatomia e fisiologia osteoarticular essencial O sistema osteoarticular é severamente acometido pelas doenças reumá- ticas, visto a importância do conhecimento anátomo-fi siológico deste sistema, que abrange tanto as estruturas ósseas quanto articulares. EXEMPLIFICANDO De modo a exemplifi car o acometimento do sistema osteoarticular com o desenvolvimento da osteoartrite, vale mencionar que este é o tipo mais comum de artrite, se devendo à ocorrência de degeneração cartilaginosa associada a alterações das estruturas ósseas ao redor. Sua maior incidên- cia se dá sobre as articulações das mãos, joelhos, coluna e coxofemorais (FREITAS, 2016). Os ossos são compostos por células como os osteócitos, que se apresen- tam como células ósseas adultas, nutridas pelos vasos sanguíneos. Há, ainda, uma matriz óssea, disposta ao redor dos osteócitos de forma rígida, e que é FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 16 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 16 08/04/2021 12:08:07 composta por sais minerais (cálcio e fósforo, responsáveis pela rigidez óssea) e proteínas (o colágeno, responsável pela flexibilidade, considerando que sua ausência deixa os ossos quebradiços). Fisiologicamente, o osso realiza o processo de remodelação óssea por meio da reabsorção e da formação dos ossos. Estes processos são intermediados, respectivamente, pelos osteoclastos e osteoblastos, pelos quais, no decorrer da reabsorção, ossos são dissolvidos e digeridos por ácidos e enzimas elabo- radas pelos osteoclastos. Já o processo de formação óssea, processado pelos osteoblastos, é executado por meio da síntese de colágeno e outras proteínas, que se depositam na matriz e, depois, são mineralizados. Vejamos os componentes e a fisiologia da articulação sinovial, tendo em vista que os processos reumáticos desenvolvem os quadros inflamatórios nestas articulações. Para que haja movimento, as estruturas ósseas neces- sitam deslizar, o que só é possível se as peças que se articulam se interpu- serem por meio do líquido sinovial. Somado a este líquido, as articulações sinoviais precisam de características essenciais oferecidas pela cartilagem articular (tipo hialina), cápsula articular e cavidade articular. É em razão da cartilagem articular que as superfícies articulares se mostram lisas, es- branquiçadas e com polimento, fatores facilitadores para que as superfícies articulares se deslizem. Outras características são a desvascularização e a ausência de inervação. A cápsula articular, como um manguito, envolve a articulação sinovial. O es- paço que existe entre as superfícies articulares é denominado cavidade articular, e o líquido sinovial a preenche. Já ligamentos e cápsula articular objetivam a ma- nutenção da união entre os ossos, como também evitam os movimentos em pla- nos indesejáveis, reduzindo a amplitude de movimentos considerados normais. Com relação à membrana sinovial, esta é a camada mais inter- na da cápsula articular, que, ao contrário da cartilagem articular, apresenta-se extremamente vascularizada e inervada, sendo de sua responsabilidade a produção do líquido sinovial. Outras estruturas, como meniscos (forma de meia lua), são encontradas na articulação do joelho, bem como os discos constituem as articula- ções temporomandibular e esternoclavicular. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 17 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 17 08/04/2021 12:08:07 Semiologia reumatológica As doenças reumáticas acometem não apenas o sistema musculoesque- lético, mas também o tecido conjuntivo em sua totalidade. Portanto, de uma maneira didática, as manifestações encontradas podem ser divididas em arti- culares e extra-articulares. Manifestações articulares Artrites e a artralgia apresentam-se bastante recorrentes, porém, clinica- mente, a artrite, por apresentar-se com maior especifi cidade para diagnósticos e evidência, deve ser detectada no exame físico, que detém maior valor na ela- boração do diagnóstico. As artralgias indicam, geralmente, menor especifi cidade. Esses quadros ál- gicos são caracterizados por dor articular inalterável ao exame físico; no entan- to, se presentes em uma mesma articulação por um longo período começam a, clinicamente, indicar um signifi cado maior. Figura 2. Sistema osteoarticular saudável e outro acometido por doença reumática. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 28/01/2021. Músculo Cartilagem Bursa Cápsula da articulação Cartilagem afi nada Ossos acabam se roçando Tendão Osso Membrana sonovial Articulação saudável Osteoartrite Erosão do osso Membrana sinovial inchada infl amada Artrite reumatoide FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 18 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 18 08/04/2021 12:08:10 O Quadro 2 expressa dados importantes colhidos na anamnese, bem como a interpretação de diagnósticos por meio desta coleta. QUADRO 2. ANAMNESE EM REUMATOLOGIA E DIAGNÓSTICOS SUGESTIVOS Dados da anamnese Exemplos práticos de possíveis diagnósticos Paciente jovem • Febre reumática; • Leucose. Paciente idoso • Osteoartrose; • Gota. Sexo masculino • Gota. Sintomas gerais (febre, emagrecimento, fadiga e anorexia) • Artrite séptica; • Microcristalinas; • Artrite infl amatória; • Neoplasia (síndrome paraneoplásica). Artrite recorrente • Microcristalinas; • Hidroartrose intermitente; • Sinovite eosinofílica. Artrite episódica • Trauma; • Artrite séptica. Duração aguda • Artrites microcristalinas; • Artrites infecciosas e transinfecciosas; • Febre reumática inicial; • Artropatias relacionadas a traumas. Duração crônica (mais de seis semanas) • Artrite reumatoide; • Artrites soronegativas; • Doença difusa do tecido conjuntivo (DDTC); • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). Número de articu- lações envolvidas • Monoarticular - gota; • Infecciosas; • Osteoartrite; • Oligoarticular - artropatias soronegativas; • Febre reumática; • Poliarticular - artrite reumatoide; • DDTC; • Osteoartrite; • Artropatias soronegativas. Simetria • Simétrica: artrite reumatoide, DDTC; • Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas. Paciente jovemPaciente jovem Paciente idoso Paciente jovem Paciente idoso Sexo masculino Paciente idoso Sexo masculino Sintomas gerais (febre, emagrecimento, fadiga • Febre reumática; • Leucose. Sexo masculino Sintomas gerais (febre, emagrecimento, fadiga e anorexia) • Febre reumática; • Leucose. • Osteoartrose; • Gota. Sintomas gerais (febre, emagrecimento, fadiga e anorexia) Artrite recorrente • Febre reumática; • Osteoartrose; • Gota. Sintomas gerais (febre, emagrecimento, fadiga e anorexia) Artrite recorrente • Artrite séptica; • Microcristalinas; • Artrite infl amatória; Artrite recorrente Artrite episódica • Artrite séptica; • Microcristalinas; • Artrite infl amatória; • Neoplasia (síndrome paraneoplásica). Artrite episódica Duração aguda • Artrite séptica; • Microcristalinas; • Artrite infl amatória; • Neoplasia (síndrome paraneoplásica). • Microcristalinas; • Hidroartrose intermitente; • Sinovite eosinofílica. Artrite episódica Duração aguda • Artrite infl amatória; • Neoplasia (síndrome paraneoplásica). • Microcristalinas; • Hidroartrose intermitente; • Sinovite eosinofílica. • Trauma; • Artrite séptica. Duração aguda Duração crônica (mais de seis semanas) • Neoplasia (síndrome paraneoplásica). • Microcristalinas; • Hidroartrose intermitente; • Sinovite eosinofílica. • Trauma; • Artrite séptica. • Artrites microcristalinas; Duração crônica (mais de seis semanas) • Neoplasia (síndrome paraneoplásica). • Hidroartrose intermitente; • Sinovite eosinofílica. • Artrite séptica. • Artrites microcristalinas; • Artrites infecciosas e transinfecciosas; • Febre reumática inicial; • Artropatias relacionadas a traumas. Duração crônica (mais de seissemanas) • Neoplasia (síndrome paraneoplásica). • Hidroartrose intermitente; • Artrites microcristalinas; • Artrites infecciosas e transinfecciosas; • Febre reumática inicial; • Artropatias relacionadas a traumas. (mais de seis semanas) • Artrite reumatoide; • Artrites soronegativas; Número de articu- lações envolvidas • Artrites microcristalinas; • Artrites infecciosas e transinfecciosas; • Febre reumática inicial; • Artropatias relacionadas a traumas. • Artrite reumatoide; • Artrites soronegativas; • Doença difusa do tecido conjuntivo (DDTC); • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). Número de articu- lações envolvidas • Artrites microcristalinas; • Artrites infecciosas e transinfecciosas; • Febre reumática inicial; • Artropatias relacionadas a traumas. • Artrite reumatoide; • Artrites soronegativas; • Doença difusa do tecido conjuntivo (DDTC); • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). Número de articu- lações envolvidas • Monoarticular - gota; • Infecciosas; • Artrites infecciosas e transinfecciosas; • Artropatias relacionadas a traumas. • Artrite reumatoide; • Artrites soronegativas; • Doença difusa do tecido conjuntivo (DDTC); • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). • Monoarticular - gota; • Infecciosas; • Osteoartrite; • Oligoarticular - artropatias soronegativas; Simetria • Artrites infecciosas e transinfecciosas; • Artropatias relacionadas a traumas. • Artrites soronegativas; • Doença difusa do tecido conjuntivo (DDTC); • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). • Monoarticular - gota; • Infecciosas; • Osteoartrite; • Oligoarticular - artropatias soronegativas; • Febre reumática; • Poliarticular - artrite reumatoide; • DDTC; Simetria • Artropatias relacionadas a traumas. • Doença difusa do tecido conjuntivo (DDTC); • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). • Monoarticular - gota; • Oligoarticular - artropatias soronegativas; • Febre reumática; • Poliarticular - artrite reumatoide; • DDTC; • Osteoartrite; • Artropatias soronegativas. • Doença difusa do tecido conjuntivo (DDTC); • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). • Oligoarticular - artropatias soronegativas; • Febre reumática; • Poliarticular - artrite reumatoide; • Osteoartrite; • Artropatias soronegativas. • Simétrica: artrite reumatoide, DDTC; • Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas. • Doença difusa do tecido conjuntivo (DDTC); • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). • Oligoarticular - artropatias soronegativas; • Poliarticular - artrite reumatoide; • Artropatias soronegativas. • Simétrica: artrite reumatoide, DDTC; • Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas. • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). • Oligoarticular - artropatias soronegativas; • Poliarticular - artrite reumatoide; • Artropatias soronegativas. • Simétrica: artrite reumatoide, DDTC; • Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas. • Artrite infecciosa (micobactérias, fungos, Lyme, HIV). • Oligoarticular - artropatias soronegativas; • Poliarticular - artrite reumatoide; • Artropatias soronegativas. • Simétrica: artrite reumatoide, DDTC; • Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas. • Oligoarticular - artropatias soronegativas; • Simétrica: artrite reumatoide, DDTC; • Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas. • Simétrica: artrite reumatoide, DDTC; • Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas.• Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas.• Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas.• Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas.• Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas.• Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas.• Assimétrica: artropatias soronegativas; artropatias microcristalinas. Fonte: FULLER, 2008. Vejamos a questão da dor na semiologia reumatológica. Um dos aspectos a ser observado é a forma em que a dor se distribui e quais os possíveis diagnósticos. Quando a dor se mostra difusa, sugere-se diagnóstico de miopatias, fi bromialgia e FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 19 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 19 08/04/2021 12:08:11 síndromes miofasciais. Esta dor pode apontar para características mecânicas, ou seja, relacionadas ao movimento, o que pode ocorrer ao iniciar uma movimenta- ção ou quando feito de maneira mais prolongada; ou, ainda, pode se dar em cará- ter infl amatório, tendendo a ser mais contínua, aparecendo no repouso noturno, por exemplo, o que sugere diagnóstico de artropatias infl amatórias crônicas. É preciso considerar, também, a intensidade da dor, que geralmente está as- sociada à proporção dos episódios infl amatórios e à destruição da articulação. A evolução desta dor também deverá ser avaliada, ou seja, se há um curso articu- lar progressivo, como na artrite reumatoide, ou se a evolução ocorre em surtos, como na febre reumática. A evolução pode, ainda, caracterizar-se como episódi- ca ou autolimitada, como nos diagnósticos de artropatias microcristalinas. Outras manifestações que devem ser investigadas são os sinais articulares, como o aumento de volume (sinovite), eritema e calor (casos mais graves), além de derrame articular. A rigidez matinal geralmente se apresenta quando o acometi- mento é de pequenas articulações, como as das mãos, sendo sugestivo de quadros de doenças infl amatórias articulares crônicas. Devemos dar maior importância clí- nica à rigidez manifestada por mais de 30 minutos. Caso seja superior a 60 minutos, esta perfaz os critérios diagnósticos da artrite reumatoide (AR) (FULLER, 2008). Manifestações extra-articulares Abordamos sobre o caráter sistêmico das doenças reumatológicas, com- preendendo que podem apresentar tanto manifestações articulares como ex- tra-articulares. Algumas delas estão expressas no Quadro 3, relacionadas aos respectivos sistemas e diagnósticos. QUADRO 3. MANIFESTAÇÕES EXTRA-ARTICULARES E RESPECTIVOS DIAGNÓSTICOS Sistemas Manifestações Acometimento Dérmico • Fotossensibilidade; • Alopecia; • Fenômeno de Raynaud. • Ocorre nas DDTC, principal- mente no lúpus; • Comum no lúpus, podendo surgir em outras DDTC; • Ocorre em todas as DDTC, principalmente na esclerose sistêmica. DérmicoDérmicoDérmico • Fotossensibilidade; • Alopecia; • Fotossensibilidade; • Alopecia; • Fenômeno de Raynaud. • Fotossensibilidade; • Alopecia; • Fenômeno de Raynaud. • Fotossensibilidade; • Fenômeno de Raynaud. • Fotossensibilidade; • Fenômeno de Raynaud.• Fenômeno de Raynaud.• Fenômeno de Raynaud.• Fenômeno de Raynaud. • Ocorre nas DDTC, principal-• Ocorre nas DDTC, principal- mente no lúpus; • Comum no lúpus, podendo • Ocorre nas DDTC, principal- mente no lúpus; • Comum no lúpus, podendo surgir em outras DDTC; • Ocorre nas DDTC, principal- mente no lúpus; • Comum no lúpus, podendo surgir em outras DDTC; • Ocorre em todas as DDTC, principalmente na esclerose • Ocorre nas DDTC, principal- mente no lúpus; • Comum no lúpus, podendo surgir em outras DDTC; • Ocorre em todas as DDTC, principalmente na esclerose sistêmica. • Ocorre nas DDTC, principal- mente no lúpus; • Comum no lúpus, podendo surgir em outras DDTC; • Ocorre em todas as DDTC, principalmente na esclerose sistêmica. • Ocorre nas DDTC, principal- • Comum no lúpus, podendo surgir em outras DDTC; • Ocorre em todas as DDTC, principalmente na esclerose sistêmica. • Ocorre nas DDTC, principal- • Comum no lúpus, podendo surgir em outras DDTC; • Ocorre em todas as DDTC, principalmente na esclerose • Comum no lúpus, podendo surgir em outras DDTC; • Ocorre em todas as DDTC, principalmente na esclerose • Comum no lúpus, podendo • Ocorre em todas as DDTC, principalmentena esclerose • Ocorre em todas as DDTC, principalmente na esclerose FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 20 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 20 08/04/2021 12:08:13 Cardiorrespiratório • Hipertensão arterial; • Pleurite/pericardite. • Geralmente associada a medicamentos utilizados nos pacientes reumáticos; • Em todas as DDTC, principal- mente no lúpus. Gênito-urinário • Nefrites. • Ocorrem principalmente no lúpus, mas também em ou- tras DDTC e vasculites. Digestório • Alteração de motilidade; • Xerostomia. • Pode ocorrer na ES; • Síndrome de Sjögren. Visual • Conjuntivite/uveíte/irite/ iridociclite; • Episclerite. • Artropatias soronegativas; • AR. Nervoso • Neuropatias; • Coreia; • Convulsões. • DDTC e vasculites; • Lúpus e febre reumática; • Lúpus e vasculites. Hematológico • Anemia hemolítica/citope- nias/plaquetopenia; • Tromboses arteriais e veno- sas/plaquetopenia. • Lúpus e DDTC; • Síndrome antifosfolípide. CardiorrespiratórioCardiorrespiratórioCardiorrespiratórioCardiorrespiratório Gênito-urinário Cardiorrespiratório Gênito-urinárioGênito-urinário Digestório Gênito-urinário DigestórioDigestório Visual • Hipertensão arterial; Visual • Hipertensão arterial; • Pleurite/pericardite. • Hipertensão arterial; • Pleurite/pericardite. Nervoso • Hipertensão arterial; • Pleurite/pericardite. Nervoso • Hipertensão arterial; • Pleurite/pericardite. • Nefrites. Hematológico • Hipertensão arterial; • Pleurite/pericardite. • Nefrites. Hematológico • Hipertensão arterial; • Pleurite/pericardite. • Nefrites. • Alteração de motilidade; • Xerostomia. Hematológico • Alteração de motilidade; • Xerostomia. • Conjuntivite/uveíte/irite/ Hematológico • Geralmente associada a • Alteração de motilidade; • Xerostomia. • Conjuntivite/uveíte/irite/ iridociclite; Hematológico • Geralmente associada a medicamentos utilizados nos pacientes reumáticos; • Alteração de motilidade; • Xerostomia. • Conjuntivite/uveíte/irite/ iridociclite; • Episclerite. • Geralmente associada a medicamentos utilizados nos pacientes reumáticos; • Em todas as DDTC, principal- • Alteração de motilidade; • Conjuntivite/uveíte/irite/ iridociclite; • Episclerite. • Neuropatias; • Coreia; • Geralmente associada a medicamentos utilizados nos pacientes reumáticos; • Em todas as DDTC, principal- mente no lúpus. • Alteração de motilidade; • Conjuntivite/uveíte/irite/ • Episclerite. • Neuropatias; • Coreia; • Convulsões. • Geralmente associada a medicamentos utilizados nos pacientes reumáticos; • Em todas as DDTC, principal- mente no lúpus. • Ocorrem principalmente no • Alteração de motilidade; • Conjuntivite/uveíte/irite/ • Neuropatias; • Coreia; • Convulsões. • Anemia hemolítica/citope- • Geralmente associada a medicamentos utilizados nos pacientes reumáticos; • Em todas as DDTC, principal- mente no lúpus. • Ocorrem principalmente no lúpus, mas também em ou- tras DDTC e vasculites. • Conjuntivite/uveíte/irite/ • Neuropatias; • Convulsões. • Anemia hemolítica/citope- nias/plaquetopenia; • Geralmente associada a medicamentos utilizados nos pacientes reumáticos; • Em todas as DDTC, principal- mente no lúpus. • Ocorrem principalmente no lúpus, mas também em ou- tras DDTC e vasculites. • Pode ocorrer na ES; • Conjuntivite/uveíte/irite/ • Convulsões. • Anemia hemolítica/citope- nias/plaquetopenia; • Tromboses arteriais e veno- sas/plaquetopenia. medicamentos utilizados nos pacientes reumáticos; • Em todas as DDTC, principal- mente no lúpus. • Ocorrem principalmente no lúpus, mas também em ou- tras DDTC e vasculites. • Pode ocorrer na ES; • Síndrome de Sjögren. • Anemia hemolítica/citope- nias/plaquetopenia; • Tromboses arteriais e veno- sas/plaquetopenia. medicamentos utilizados nos • Em todas as DDTC, principal- • Ocorrem principalmente no lúpus, mas também em ou- tras DDTC e vasculites. • Pode ocorrer na ES; • Síndrome de Sjögren. • Artropatias soronegativas; • Anemia hemolítica/citope- nias/plaquetopenia; • Tromboses arteriais e veno- sas/plaquetopenia. • Em todas as DDTC, principal- • Ocorrem principalmente no lúpus, mas também em ou- tras DDTC e vasculites. • Pode ocorrer na ES; • Síndrome de Sjögren. • Artropatias soronegativas; • AR. • Anemia hemolítica/citope- nias/plaquetopenia; • Tromboses arteriais e veno- sas/plaquetopenia. • Em todas as DDTC, principal- • Ocorrem principalmente no lúpus, mas também em ou- tras DDTC e vasculites. • Pode ocorrer na ES; • Síndrome de Sjögren. • Artropatias soronegativas; • AR. • Anemia hemolítica/citope- nias/plaquetopenia; • Tromboses arteriais e veno- sas/plaquetopenia. • Ocorrem principalmente no lúpus, mas também em ou- tras DDTC e vasculites. • Pode ocorrer na ES; • Síndrome de Sjögren. • Artropatias soronegativas; • DDTC e vasculites; • Lúpus e febre reumática; • Anemia hemolítica/citope- • Tromboses arteriais e veno- sas/plaquetopenia. • Síndrome de Sjögren. • Artropatias soronegativas; • DDTC e vasculites; • Lúpus e febre reumática; • Lúpus e vasculites. • Tromboses arteriais e veno- • Síndrome de Sjögren. • Artropatias soronegativas; • DDTC e vasculites; • Lúpus e febre reumática; • Lúpus e vasculites. • Tromboses arteriais e veno- • Artropatias soronegativas; • DDTC e vasculites; • Lúpus e febre reumática; • Lúpus e vasculites. • Lúpus e DDTC; • Síndrome antifosfolípide. • Artropatias soronegativas; • DDTC e vasculites; • Lúpus e febre reumática; • Lúpus e vasculites. • Lúpus e DDTC; • Síndrome antifosfolípide. • Lúpus e febre reumática; • Lúpus e vasculites. • Lúpus e DDTC; • Síndrome antifosfolípide. • Lúpus e febre reumática; • Lúpus e vasculites. • Lúpus e DDTC; • Síndrome antifosfolípide. • Lúpus e febre reumática; • Síndrome antifosfolípide.• Síndrome antifosfolípide.• Síndrome antifosfolípide.• Síndrome antifosfolípide. Fonte: FULLER, 2008. (Adaptado). Interpretação de exames em reumatologia A solicitação de exames pelo reumatologista faz parte do processo de diag- nóstico e da adequação da conduta, principalmente no que concerne à infl a- mação articular. Por muitas vezes, os processos artríticos, em radiografi as simples, só podem ser detectados tardiamente, e a presença de lesões e as respectivas condutas acabam não ocorrendo, a exemplo dos casos em que há erosões. Outra desvantagem destes exames é ser incapaz de detectar compro- metimento em estruturas como tendões e ênteses. A ultrassonografia somada ao recurso do power doppler (transdutores de alta frequência) é um exame útil e de fácil execução, além de ser apto para detectar alterações com maior precisão que o exame físico, avalian- do mais precocemente do que a radiologia convencional alterações reu- matológicas e respectivos processos inflamatórios. É um exame indicado para diagnosticar bursites, tendinites, entesites periféricas, síndrome de Túnel do Carpo, artropatias microcristalinas, síndrome de Sjögren, entre outras alterações. A ressonância nuclear magnética (RNM) é um exame que detecta, de ma- neira precoce, um edema da medula óssea por alterações visíveis na radio- FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 21 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 21 08/04/2021 12:08:15 grafi a. Portanto, transformou-se em parte integrante dos critérios de diag- nóstico das espondiloartrites, representando o instrumento de imagem mais premente para a classifi cação e monitoramento desta doença reumática. Os exames laboratoriais desempenham um imprescindível papel para o diagnóstico das doenças reumáticas. Geralmente, os mais solicitados são: ASLO (antiestreptolisina O), VHS (velocidade de hemossedimentação), FR (fator reu- matoide), FAN (fator antinuclear), PCR (proteína C reativa) e ANCA (anticorpos anticitoplasma de neutrófi lo). Cabe ressaltar que muitas doenças reumáticas não apresentam alterações laboratoriais sanguíneas, e quando estas ocorrem, algumas delas usualmente não indicam especifi cidade. Em suma, exames de sangue são meios potenciais parao reumatologista investigar o signifi cado dos resultados inseridos em uma condição clínica espe- cífi ca que o paciente apresente. Pelo exposto, a avaliação em reumatologia necessita ser criteriosa, no in- tuito de obter um diagnóstico correto para que a integralidade de atendimento seja administrada por uma equipe interdisciplinar, objetivando atuar em todos os níveis de necessidade do paciente. Os idosos, conforme já abordamos nesta unidade, estão mais suscetíveis a desenvolver doenças reumáticas. Por isso, condutas de prevenção, proteção, cura e reabilitação devem estar presentes na assistência a esta população. Envelhecimento celular O envelhecimento celular caracteriza-se como um processo que ocorre em todos os níveis do organismo, porém cada tecido apresenta suas peculia- ridades. Pode ser traduzido como a danifi cação molecular, celular e tecidual, em que gradativamente há perda da capacidade de adaptação ou reparação de algum dano. O termo senescência faz alusão ao processo natural do envelhecimento humano. Portanto, a senescência celular é o advento em que a divisão celular estagna, e não existe mais a substituição das células que, por alguma razão, cessaram seu metabolismo. Segundo Gava e Zanoni (2005, p. 41): O envelhecimento pode ser defi nido como um processo deteriorati- vo progressivo e irreversível, característico da maioria dos sistemas FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 22 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 22 08/04/2021 12:08:15 e que, por ser progressivo, há uma grande probabilidade de morte, seja de uma célula, um tecido, um órgão ou mesmo de um indivíduo. É um processo muito complexo, infl uenciado pela estrutura genética do indivíduo, estilo de vida e o meio ambiente. O corpo se desenvolve a partir de uma única célula, resultando na formação de um organismo constituído por milhares de outras células, e, neste desenvol- vimento, há a reparação e regeneração celular constante. O tempo individual é constituído partindo do tempo biológico, no qual aspectos genéticos têm papel imprescindível no processo biológico do envelhecer. Vários fatores interferem neste processo de envelhecimento, tais quais: he- rança genética; sexo; raça; condições ambientais condizentes com o estilo de vida, como a alimentação; vícios; atividade física; entre outros. Teorias do envelhecimento celular As teorias do envelhecimento celular surgiram para tentar explicar o motivo do envelhecimento. Vejamos, resumidamente, no que consistem: • Teoria genética de envelhecimento: pesquisadores defendem que o mo- tivo do envelhecimento celular se baseia na genética. Apoiam a ideia de que, o corpo humano, desde a ocorrência da fecundação até sua maturidade sexual, segue sob o controle do material genético, e que, portanto, as alterações ocor- ridas pelo envelhecimento também têm este controle; • Teoria telomérica do envelhecimento: em cromossomos normais, os extremos são formados por estruturas denominadas telômeros, os quais têm a função de desempenhar um relevante papel no seu comportamento, como bloquear a junção entre os cromossomos; • Teoria do entrelaçamento cruzado: fundamentada nas alterações mole- culares defendidas em razão da idade nas moléculas que se localizam inseridas em compartimentos extra e intracelulares. Reforça também que essas altera- ções acontecem quando duas ou mais moléculas se juntam covalentemente. Exemplifi cando, o entrelaçamento molecular do colágeno poderia minimizar a a solubilidade, a elasticidade e a permeabilidade, levando ao aumento da visco- sidade de modo extracelular, impedindo, assim, reações metabólicas críticas, como a liberação de hormônios; FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 23 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 23 08/04/2021 12:08:15 • Teoria imunológica do envelhecimento: fundamenta-se em dois pontos. O primeiro afirma que, à medida que os sujeitos envelhecem, diminui quanti- tativa e qualitativamente a capacidade do sistema imunológico de base celular e humoral. Nessa fase de existência, o sistema imunocompetente se defronta com suas maiores deficiências, acarretando posteriormente no seu fracasso. Já o segundo ponto defende que, conforme as respostas imunológicas diminuem, as manifestações de autoimunidade apresentam um gradativo aumento con- forme a idade avança, e tal sistema indica cada vez menor eficiência na distin- ção do que são estruturas próprias das estruturas estranhas no organismo, acarretando em uma maximização de doenças autoimunes; • Teoria dos radicais livres: é uma das teorias mais conhecidas sobre o envelhecimento celular. Esta teoria fundamenta-se na ideia de que o envelheci- mento acontece geralmente por reações, tais como as células e suas organelas estarem expostas a radiações ionizantes, reações tanto enzimáticas como não enzimáticas, as quais colaboram para que haja redução de O2 e de água, com subsequente elaboração de espécies que reajam ao oxigênio ou também deno- minados de radicais livres. Estes radicais são moléculas com mais um elétron ímpar, ficando esse desemparelhado em sua órbita externa, normalmente de- rivado do O2. Gava e Zanoni (2005, p. 43) citam que: São formados na mitocôndria geralmente durante a produção de energia a partir de glicose e O2 e neutralizados imediatamente pelas enzimas contidas no interior dessas. Para uma ótima atividade de tais enzimas, há necessidade da presença de diversos minerais como ferro e manganês. Quando ocorre uma deficiência significativa desses mine- rais, há um aumento no número de radicais livres que podem sair do interior da mitocôndria e atingir a corrente sanguínea e as células. Esses radicais agem no processo de envelhecimento, visto que atingem cons- tante e diretamente as células e tecidos, resultando em uma ação acumulativa. Vale ressaltar que estilos de vida nos quais há alimentação desbalanceada, uso excessivo de álcool, tabagismo e poluição atmosférica são grandes colaborado- res para que nosso corpo se exponha a esses componentes químicos altamente reativos. O resultado disso é a conhecida oxidação celular, considerada a fase inicial de inúmeras enfermidades cardiorrespiratórias, vasculares e neoplásicas. Tal processo pode ser reduzido pela presença de vitaminas. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 24 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 24 08/04/2021 12:08:15 Figura 3. Oxidação celular. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 29/01/2021. Consequências do envelhecimento celular Devido ao envelhecimento celular, o organismo vai perdendo sua capaci- dade para as funções de reparação e regeneração, fi cando mais suscetível a alterações teciduais. Por exemplo, todos observamos que, a partir dos 30 anos de idade, ocorrem alterações na pele, surgindo rugas fi nas e, gradativamente, com o decorrer dos anos, em razão da exposição de radiação solar, a pele tor- na-se opaca, seca, amarelada e escamosa. Poderão surgir manchas senis no rosto, pescoço e mãos. O envelhecimento celular acarreta em declínio tanto funcional como cogniti- vo, uma vez que o envelhecimento é caracterizado por transformações gênicas, atribuídas ao aumento do estresse oxidativo, os quais causam mutações e di- minuição nos telômeros, como defende a teoria telomérica do envelhecimento. Os órgãos têm seu pleno funcionamento quando suas células trabalham bem, o que nos indica que o funcionamento de células velhas é defi citário. Al- guns órgãos também não conseguem substituir as células mortas, diminuin- do, então, o número de células atuantes. Podemos exemplifi car testículos, ovários, fígado e rins, em que a quantidade de células diminui drasticamente com o envelhecimento. Célula Radicais livres atacando a célula Oxidação celular Oxidação celular FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 25 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 25 08/04/2021 12:08:17 Se a quantidade de células fi ca muito baixa, os órgãos adoecem, e isto é o que explicao corpo padecer de doenças com o envelhecimento. Mas não são em todos os órgãos que ocorre perda celular grande, como, por exemplo, o cérebro, e é por isso que pessoas idosas senescentes não apresentam perda de muitas células cerebrais (MENDES, 2014). EXEMPLIFICANDO Em pacientes que sofreram acidente vascular encefálico (AVE) ou outra doença que instigue perda progressiva de células nervosas, como as doenças neurodegenerativas de Alzheimer e Parkinson, há grande perda celular. Quando um órgão declina sua função, seja por algum distúrbio ou pelo próprio envelhecimento, outros podem ser afetados. Um exemplo está em pacientes com aterosclerose, em que os rins podem ter seus vasos estreitados, tendo em vista que o sangue chega a ele de maneira reduzida (GAVA; ZANONI, 2005). Síndromes dolorosas As síndromes dolorosas são quadros muito comuns em membros superio- res (MMSS), podendo decorrer de processos metabólicos, degenerativos, infec- ciosos, infl amatórios, entre outros. Vários são os fatores para seu desenvolvi- mento, que, em geral, afetam o sistema musculoesquelético, a derme, os vasos, os nervos e a região cervical. Enfocaremos a abordagem em tendinite calcária do ombro, capsulite adesiva do ombro, epicondilite lateral, as síndromes com- pressivas de MMSS, como a síndrome do túnel cubital e túnel do carpo. Alguns aspectos a serem considerados sobre este grupo de enfermidades é que estas síndromes apresentam maior prevalência com a evolução da idade. Infelizmente, acabam por não serem diagnosticadas corretamente e, em de- corrência disto, são, geralmente, subtratadas. Sua prevalência é potencializada com o envelhecimento e, prementemente, em pacientes com idade acima dos 60 anos, estes quadros chegam a duplicar. Para o correto manejo da dor, provocada por estas síndromes na popula- ção idosa, esta população esbarra em várias barreiras, como o descaso e a FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 26 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 26 08/04/2021 12:08:17 negligência de familiares e profi ssionais da área da saúde, como também por parte da sociedade. Com relação aos profissionais de saúde, são exemplos de barreiras: o pouco conhecimento próprio sobre o manejo da dor, bem como o receio da produção de efeitos colaterais pe- los opiáceos, e a noção populariza- da de que dor é comum em pessoas idosas. Já sobre as barreiras dos pa- cientes e seus familiares, estão pre- sentes o receio dos efeitos colaterais medicamentosos, o fato de a dor es- tar inserida no contexto do envelhecimento, entre outros, e, finalmente, as barreiras sociais incluem os custos do Sistema de Saúde, além de crendices culturais a respeito do uso de opiáceos (COSTA, 2008). Síndromes dolorosas do ombro (SDO) A dor no ombro é uma queixa corriqueira e muito incidente, podendo acarretar na incapacidade funcional do sistema musculoesquelético na po- pulação de um modo geral, contribuindo para uma estimativa de 15% a 25% entre a população que recorre a clínicas ortopédicas e fi sioterapêuticas. Geralmente, as condutas adotadas para seu tratamento são medidas con- servadoras por meio de medicamentos e fi sioterapia, apresentando seus efeitos mensurados com base na funcionalidade e intensidade da dor que o paciente refere. Tendinite calcárea do ombro consiste em um acúmulo de cálcio sobre o tendão do manguito rotador. Este depósito calcáreo emerge de maneira grada- tiva, em que os tecidos ao redor podem desenvolver um processo infl amatório, acarretando em dor de leve a moderada. No entanto, em algumas situações, pode gerar um quadro infl amatório agudo, apresentando dor acentuada e in- capacitante. É possível também que, em casos mais avançados, interfi ra na movimentação e amplitude do ombro. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 27 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 27 08/04/2021 12:08:18 Figura 4. Tendinite calcárea. Fonte: RAMOS. Acesso em: 02/02/2021. O diagnóstico pode ser obtido por meio de RX do ombro, e tanto a ultrasso- nografia como a RNM auxiliam o profissional a realizar diagnósticos diferenciais. Os procedimentos variam dependendo do estágio da doença, sendo que, de maneira geral, costuma responder bem com conduta anti-inflamatória, analgésica e fisioterapia para ambos os quadros. Em condições refratárias, outras condutas devem ser empregadas por meio da extração da calcificação ou estímulos para sua reabsorção, como, por exemplo, medida terapêutica por ondas de choque. Capsulite adesiva, também denominada “ombro congelado”, é uma SDO. Uma de suas características consiste na redução gradativa e importante nas amplitudes de movimento do ombro. O interessante é que há remissão espon- tânea completa ou praticamente completa no decorrer de um variado período de tempo (1 a 3 anos). Outras pesquisas apontam que a maior parte dos aco- metidos por ela apresenta uma função satisfatória do ombro, em média, após dois anos da doença. Calcificação Tendão Imagem de calcificação na ressonância magnética Imagem da calcificação ao RX FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 28 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 28 08/04/2021 12:08:20 Figura 5. Capsulite adesiva. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/02/2021. O diagnóstico é realizado por meio da anamnese e exame físico, sendo um diagnóstico excludente para artrite séptica, posição inadequada de material ortopédico, afecções do manguito rotador, bem como casos de osteoartrose ou radiculopatias na região cervical. O que se espera encontrar, clinicamente, é a dor no ombro e, posteriormente, o desenvolvimento da perda progressiva dos movimentos tanto ativa como passivamente, em função da instalação da fibrose da cápsula da articulação glenoumeral. Os procedimentos a serem adotados devem incluir medidas analgésicas, anti-inflamatórias e recuperação dos movimentos. O tratamento primário deve estar calcado na reabilitação por meio da utilizando da fisioterapia, com aplicação de cinesioterapia e condutas anti-inflamatórias, ressaltando que os resultados não devem ser considerados resolutivos para todos os casos, neces- sitando, por vezes, de outras maneiras de intervenção. Capsulite adesiva Ombro congelado Cápsula de articulaçao inflamada Movimento do ombro causa dor e alcance de movimento começa a ficar limitado Clavícula É classificado como primário se sua origem for idiopática, e secundário se emergir por uma etiologia conhecida ou após intervenção cirúrgica. Subdivide- -se em três fases: inflamatória ou aguda (dor difusa, podendo persistir por seis meses; é possível que seja, ainda, limitante); congelamento (perda gradativa da amplitude de movimento do ombro, podendo persistir por mais de doze meses; quadro álgico de menor intensidade) e descongelamento. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 29 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 29 08/04/2021 12:08:21 Epicondilite lateral (cotovelo de tenista) Essa patologia consiste em um processo infl amatório e degenerativo dos tendões, estando localizada na estrutura óssea lateral do cotovelo, denomi- nado epicôndilo lateral, que faz conexão com esta região e com os músculos responsáveis pelos movimentos de extensão dos dedos e punhos. Quando são realizadas ações que solicitam extensão repetitiva do punho, como no tênis de quadra, é produzida carga excessiva sobre estes tendões, causando microlesões em suas fi bras. O quadro se desenvolve quando há inca- pacidade de o organismo cicatrizar estas fi bras, ocorrendo, então, sua degene- ração e, consequentemente, dor. Essa última pode ter início agudo ou progres- sivo, sendo localizada na parte lateral do cotovelo, piorando quando o paciente estende o punho com a palma da mão virada para baixo. Somada a esta dor há a fraqueza do membro e, com a evolução da doença, podem surgir difi culdades para a realização das atividades de vida diária. O diagnóstico é realizado, principalmente, pelo exame clínico. A ultrasso-nografi a do cotovelo auxilia na identifi cação das condições iniciais em que o quadro álgico pode ainda não estar bem localizado. O tratamento requer que sejam avaliadas as fases da patologia, e caso o paciente não reaja a condutas convencionais, como medidas anti-infl amatórias e analgésicas, medidas mais avançadas devem ser adotadas. Precisamos estar cientes de que o processo de recuperação é muito lento, tendo em vista que, FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 30 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 30 08/04/2021 12:08:23 Síndromes compressivas de membros superiores As síndromes compressivas consistem em uma compressão local de um nervo, acarretando em alterações tanto sensitivas como motoras, bem como variações de graus de atrofi a muscular. Podemos citar como exemplos as sín- dromes do túnel carpo e a do túnel cubital. Síndrome do túnel do carpo (STC) é uma enfermidade causada pela com- pressão do nervo mediano, o qual é responsável por inervar a região externa da mão. O túnel do carpo é um tipo de canal na estrutura do punho, em que seu assoalho é composto pelos ossos do punho, e seu teto é o ligamento car- pal transverso, onde trafegam nove tendões responsáveis pelo movimento dos dedos e do nervo mediano. Figura 6. Epicondilite lateral. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/02/2021. Cotovelo de tenista Úmero Tendão extensor comum Músculos extensores Ulna Área de dor e infl amação Epicondilite lateral quando as manifestações ocorrem, o processo degenerativo já vem se desen- volvendo há, pelo menos, meses. A fi sioterapia será de grande valia com a aplicação de crioterapia, podendo ser realizada por meio de compressas de gelo na região do cotovelo, associada à medicação analgésica e anti-infl amatória. Quando não se obtém resposta ao tratamento conservador, o que é uma condição rara, devemos optar pela inter- venção cirúrgica, objetivando a inspeção e retirada dos tendões degenerados, estimulando, assim, uma melhor cicatrização. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 31 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 31 08/04/2021 12:08:25 Sua fisiopatologia se configura em qualquer fator que cause diminuição do espaço dentro do canal e que comprima o nervo mediano. Seus sintomas são: desenvolvimento do processo inflamatório e edema das estruturas no interior do canal, como tendões. Conforme há sofrimento do nervo mediano, sintomas clássicos como dor e parestesia se localizam na região da mão em que o nervo atua. Estes sintomas tendem a piorar durante a noite. Figura 7. Síndrome do túnel do carpo. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/02/2021. O diagnóstico pode dar-se por meio de testes simples, os quais desenca- deiam a dor característica desta síndrome. São alguns testes possíveis: mano- bra de Phalen, em que deve haver flexão máxima dos punhos, com a região dorsal das mãos encostados uma na outra; e o teste de Tinel, em que são realizadas percussões do nervo mediano na região do canal. O tratamento consiste em considerar a evolução da patologia. Em casos leves, pode-se fazer uso da crioterapia e imobilizar o punho, reduzindo, assim, o edema e aliviando a sintomatologia. Condutas clínicas com a prescrição de anti-inflamatórios auxiliam no alívio da dor, apesar de sua utilização ser con- troversa quanto ao controle desse sintoma. Injeções de corticoides (cortisona) no local apresentam-se como uma opção eficaz em casos moderados, ressal- Nervo médio Área de dor e dormência FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 32 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 32 08/04/2021 12:08:26 tando que seu efeito, em muitas situações, é temporário. A cirurgia pode estar indicada nos casos moderados/graves que não apresentam efetividade com o tratamento clínico, tendo como objetivo a descompressão do canal, liberando o nervo mediano. Síndrome do túnel cubital/ulnar (STC) é uma patologia que envolve tanto o estiramento como a compressão do nervo ulnar, ocasionando parestesia nos dedos anelar e mínimo, quadro álgico no antebraço e fraqueza nas mãos. Este nervo perpassa um sulco localizado no lado interno do cotovelo. No início, este quadro de neuropatia cubital é estritamente sensitivo, como a parestesia a nível da região do cúbito, internamente à mão. Conforme a doença evolui, dá-se origem à atrofia dos músculos nos quais este nervo atua, abaixo do cotovelo. Figura 8. Síndrome do túnel cubital. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 01/02/2021. O diagnóstico da STC é puramente clínico. O paciente apresenta parestesias da quarta e da quinta falanges da mão, associando-se, por vezes, ao quadro de dor na face interna dos antebraços e cotovelos. Podem ser detectadas também a garra do quarto e do quinto dedos, que se caracterizam por hiperextensões Úmero Rádio Ulna Nervo ulnar Síndrome do túnel cubital/ulnar FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 33 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 33 08/04/2021 12:08:28 metacarpofalângicas e flexões interfalângicas, além de quadros de atrofia dos músculos intrínsecos da mão. Geralmente, o tratamento conservador está indicado como primeira opção, principalmente em casos de compressões leves do nervo cubital. Este trata- mento consiste em condutas anti-inflamatórias não esteroides e a mudança da atividade, prevenindo posturas e tarefas que associem flexão do cotovelo e compressão no nervo. Talas noturnas podem auxiliar a manter o cotovelo em extensão, melhorando a sintomatologia, e órteses podem proteger o nervo da compressão direta. Exercícios de cinesioterapia são úteis, incluindo aqueles de alongamento muscular e deslizamento do nervo. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 34 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 34 08/04/2021 12:08:28 Sintetizando Esta unidade objetiva apontar características e noções gerais sobre algumas bases da reumatologia, abordando as doenças reumáticas e respectivas respos- tas do sistema imunológico, como a resposta autoimune. Tratamos, também, dos aspectos relacionados ao envelhecimento celular, indicando as teorias fun- damentadas neste processo, trazendo conceitos sobre os envelhecimentos se- nescente e o senil, além de suas consequências para o organismo. Conforme pudemos observar, a avaliação em reumatologia necessita ser cri- teriosa, no intuito de obter o diagnóstico correto para que a integralidade de atendimento seja administrada por uma equipe interdisciplinar, de modo a pres- tar apoio em todos os níveis de necessidade do paciente. Apontamos algumas das mais incidentes síndromes dolorosas dos membros superiores, relacionando cada qual ao seu respectivo conceito, quadro clínico, diagnóstico e tratamentos. Os idosos apresentam maior fragilidade para o desenvolvimento das doen- ças reumáticas, e as teorias do envelhecimento sustentam esta premissa. Por isso, condutas de prevenção, proteção, cura e reabilitação deverão estar presen- tes na assistência a essa parcela da população. É necessário que pensemos na saúde populacional em um contexto de inte- gralidade, em que a assistência deve vir em consonância com a demanda gerada, satisfazendo, portanto, as necessidades de toda a população e, em especial, da população idosa, visto sua necessidade de maior cuidado e atenção. FISIOPATOLOGIA CLÍNICA NA SAÚDE DO IDOSO 35 SER_ FISIO_FISCSI_UNID1.indd 35 08/04/2021 12:08:28 Referências bibliográficas ABRÃO, A. L. P. et al. O que o reumatologista deve saber sobre as manifesta- ções orofaciais das doenças reumáticas autoimunes. Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 56, n. 5, p. 441-450, out. 2016. Disponível em . Acesso em: 21 jan. 2021. COSTA, E. D. G. M. M. Síndromes de amplificação dolorosa. Einstein, São Pau- lo, v. 6, Supl. 01, p. S151-S158, 2008. Disponível em: . Acesso em: 01 fev. 2021. DELVES, P. J.