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O GRANDE LIVRO DO BATISMO E DESPEDIDA A década de 1980 foi marcada pelo uso oficial do nome Fusca, mas também pelo primeiro encerramento da produção ESPECIAL 7 Telegram @clubederevistas https://t.me/clubederevistas 04 12 20 28 34 42 50 O fim do mito: o encerramento do Fusca na Alemanha e no Brasil Batismo oficial: as últimas versões 1300, agora Fusca! Sedan 1600: o besouro se despede do mercado nacional Última Série: o charme da exclusiva versão de encerramento Repaginado: acessórios e tendências no velho besouro Volkswagen Gol: herdeiro do prestígio e do sucesso nas vendas Análise Técnica: a evolução mecânica, apesar do triste fim SUMÁRIO PRESIDENTE: Paulo Roberto Houch • VICE-PRESIDENTE EDITORIAL: Andrea Calmon (redacao@editoraonline. com.br) • JORNALISTA RESPONSÁVEL: Andrea Calmon (MTB 47714) • EQUIPE RESPONSÁVEL PELA EDIÇÃO: Roberto Marks, Luiz Guedes Jr e Bob Sharp (textos e edição); Aluízio Lemos (consultoria histórica); Adilson Nicollette (diagramação) • COORDENADOR DE DIAGRAMAÇÃO: Rubens Martim • COORDENADORA DE ARTE E CRIAÇÃO: Patricia Paiva (diagramacao@editoraonline.com.br) • DIRETORA COMERCIAL: Arines Garbin • DIRETORA DE PUBLICIDADE: Patricia Massini (publicidade@editoraonline.com.br) • DIRETORA DE MARKETING: Yuko Lenie Tahan • SUPERVISORA DE MARKETING: Cassia Silva • ASSISTENTE DE MARKETING: Bruno de Oliveira • CANAIS ALTERNATIVOS: Luiz Carlos Sarra • DEP. 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A Volkswagen do Brasil assumiu o bastão e manteve o modelo ainda durante bom tempo como um dos mais produzidos do mundo. Por sinal, desde 1975 a fábrica brasileira já era a maior fabricante do Fusca superando a produção conjunta das fábricas de Emden na Alemanha e Puebla no México. Da mesma forma, naquela ocasião o mercado brasileiro pas- sou a ser o maior consumidor de Fuscas no mundo superando em vendas tanto o da Alemanha como o dos Estados Unidos. O Fusca fazia grande sucesso por aqui naquilo que se conven- cionou chamar “Milagre econômico brasileiro” e o besouro era o símbolo de mobilidade para uma boa parte dos brasilei- ros. Mas, assim mesmo, acendia-se um sinal de alerta. A rápi- da modernização da indústria automobilística do País passou a ser um risco para o Fusca. Na segunda metade da década de 1970, apesar de manter ven- das superiores a 200 mil unidades por ano, a curva de vendas do Fusca no mercado brasileiro começava dar mostras de um ligeiro declínio, ano a ano, e a VW se mobilizou para isso. O projeto do futuro modelo Gol, iniciado em 1976, era um sinal disso. A proposta de aproveitar a mesma confiável e versátil me- cânica do Fusca em um modelo com linhas mais moderna e, principalmente, tração dianteira, já davam os indícios de que a VW estava preparando um possível sucessor para o Fusca. Mesmo assim, o besouro ainda se manteve com fôlego no mer- cado por mais alguns anos, mesmo após o lançamento do Gol, no começo de 1980. E, pode-se afirmar, que não foi nem o novo modelo da VW, nem os da concorrência, que acabaram provo- cando o fim da produção do Fusca no Brasil, mas sim a difícil conjuntura econômica que o País enfrentou, principalmente na primeira metade da década de 1980 e que se refletiram dire- tamente na redução das possibilidades de financiamento fácil para veículos, como ocorreu nos anos setenta. Como as classes menos favorecidas não tendo acesso ao crédito, o Brasil teve seu mercado de automóveis reduzido e o popular Fusca foi o mais prejudicado. Mesmo assim, somente em 1983 deixou de ser o modelo mais vendido no nosso mercado, após manter essa primazia por trinta anos – desde 1963. A partir daí já era sabido que os dias do Fusca no nosso mercado estavam contados, era só uma questão de tempo, o que acabou ocorrendo no começo de 1986 quando a VW do Brasil anunciou o en- cerramento da produção do modelo no País, apesar que isso só ocorreu de fato no fim de outubro daquele ano. To m az V el lo CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C163G FASC. 7 CALMON, ANDREA, 1968 O GRANDE LIVRO DO FUSCA EM FASCÍCULOS, 7 : BATISMO E DESPEDIDA/ [ANDREA CALMON]. - RIO DE JANEIRO : INSTITUTO BRASILEIRA DE CULTURA, 2011. 48 P. : IL. ; 28 CM CONTEÚDO: A DÉCADA DE 1980 FOI MARCADA PELO USO OFICIAL DO NOME FUSCA, MAS TAMBÉM PELO PRIMEIRO ENCERRAMENTO DA PRODUÇÃO INCLUI ÍNDICE ISBN 978-85-8073-156-9 (OBRA COMPLETA) 978-85-8073-163-7 (FASC. 7) 1. FUSCA (AUTOMÓVEL) - HISTÓRIA. I. TÍTULO. 11-3629. CDD: 629.22209 CDU: 629.331 15.06.11 20.06.11 027285 Telegram @clubederevistas Com o fim da produção do Fusca na Alemanha, a filial brasileira em São Bernardo do Campo se tornou no maior pólo produtor do modelo A decisão do comando da VW em encerrar a fabricação do Fusca na Alemanha, em 1978, repre- sentou o fim da longa trajetória de produção do modelo em seu país de origem. Foram mais de trinta anos em li- nha de montagem e um total que superou a fenomenal marca de 17 milhões de uni- dades produzidas. Mas, se interrompida na Alemanha, esta trajetória bem-suce- dida continuaria sendo mantida nos anos seguintes nas filiais da VW no Brasil e, em menor escala, na do México. No Brasil, inclusive, a produção do Fusca já era então superior a 200 mil uni- dades anuais. Uma marca significativa e que mantinha o popular besouro como um dos modelos mais produzidos na indústria automobilística mundial. Por sinal, a filial brasileira da VW havia se tornado a maior fábrica do besouro antes mesmo da linha de montagem de Emden ser encerrada. Isso ocorreu a partir de 1975, quando a fábrica de São Bernardo do Campo pro- duziu mais 233 mil unidades, contra cer- MUDANÇA DE RUMO À esquerda, jornal anuncia o fim da produção em 1986. À direita, material promocional da linha 1983, a primeira a trazer de fábrica a palavra “Fusca” no capô traseiro 4 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A F Ô L E G O E X T R A Telegram @clubederevistas ca de 212 mil Fuscas montados na Alemanha e México. Porém, enquanto a produção alemã ainda se destinava a di- versos mercados espalhados pelo mundo, a da fábrica brasileira era absorvida quase que na sua tota- lidade internamente. Desta for- ma, o Brasil também se tornou, a partir de 1975, o maior mercado consumidor de Fusca e somente naquele ano foram comercializa- dos mais de 205 mil besouros no país, o que significou participação de 31,1 % do total de automóveis vendidos aqui. Mesmo assim, a curva de ven- das do modelo também já estava em queda no mercado do Brasil, justamente no momento em que a comercialização de automóveis crescia exponencialmente naqui- lo que se convencionou chamar de “Milagre econômico brasilei- ro”. Do pico de vendas alcançado em 1972, quando o mercado ab- sorveu mais de 223 mil unidades do Fusca e que representaram 48,8% do total de automóveis vendidos no Brasil, a participa- ção do Fusca foi caindo lenta a gradualmente. CONCORRÊNCIASaveiro, esta ainda equi- pada com o valente motor 1600 de refrigeração a ar. Em março de 1984, em res- posta ao lançamento do esportivo Ford Escort XR3, a Volkswagen decidiu lançar o Gol GT, pri- meira versão do modelo equipada com motor de refrigeração líqui- da. Contudo, embora as inevitá- veis comparações apontassem em vantagens para este motor, ainda havia no mercado quem admiras- se a boa e velha versão a ar origi- nal do Fusca. Se por um lado perdia em Se por um lado perdia em velocidade e aceleração, o Gol equipado com motor boxer mostrava-se superior no quesito estabilidade, tudo graças à melhor distribuição de peso entre os eixos O visual esportivo da carroceria sugeria um motor mais forte. Mesmo assim, o Gol foi produzido durante seis anos com a mecânica original do besouro 4 8 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A V W G O L 19 8 0 - 8 6 Telegram @clubederevistas QUASE RETORNO Segundo boatos alimentados por ex-fun- cionários da Volkswagen do Brasil, o Gol empurrado pela mecânica 1600 refrigerada a ar por pouco não voltou à cena em 1993, no lugar do retorno do que acabou sem po- pularmente chamado de Fusca “Itamar”. Pelo que consta, quando iniciou o projeto de carro popular incentivado pelo governo, a fábrica chegou a cogitar a hipótese de voltar a fabri- car o Gol “batedeira”, algo que seria a alter- nativa mais viável do ponto de vista técnico: bastaria pegar peças nas “prateleiras”, já que tanto o Gol como o motor boxer que equipa- va a Kombi continuavam em plena produção. Contudo, talvez incentivada pelo pedido do presidente da República, que tinha um ca- rinho especial pelo Fusca, na ocasião a VW optou pelo caminho mais complicado e que obrigou recriar a linha de montagem do be- souro, que não existia mais havia sete anos. Hoje, pelo menos a comunidade “fuscamaní- aca”, agradece por isso... velocidade e aceleração, o Gol equipado com motor boxer mos- trava-se superior no quesito es- tabilidade, tudo graças à melhor distribuição de peso entre os ei- xos (conseguida pelo fato de o motor a ar pesar bem menos: 98 kg, contra 124,5 kg da versão a água) e por proporcionar o centro de gravidade mais baixo e recu- ado. Essas qualidades, aliás, fi- cavam ainda mais destacadas na picape Saveiro, que oferecia de- sempenho em curva capaz de fa- zer inveja a muitos esportivos. Mesmo assim, o motor 1.6 a ar ficou limitado à Saveiro S e ao Gol BX, que em vários aspectos lem- brava a popular e espartana série Pé de Boi do Fusca, fabricada por curto período na década de 1960, já que os modelos vinham sem luz de ré, porta do passageiro sem chave e nem para-sol do lado di- reito, além de outros detalhes. As discussões apontavam que existia mercado para ambos os motores. Contudo, as novas exi- gências referentes à redução na emissão de poluentes e a preocu- pação com o consumo jogavam a favor da refrigeração líquida e da recém-lançada família de motores AP. Em 1986, coincidentemen- te o ano do fim da produção do Fusca (antes do modelo retornar em 1993, com a chamada “Série Itamar”), o Gol equipado com motor refrigerado a ar deixou de ser produzido. No ano seguinte, já somente com a opção do motor de refri- geração líquida, conquistou fi- nalmente a liderança do mercado nacional para não mais perdê-la. Ao menos no que diz respeito à resistência, longevidade e prestí- gio, o Gol, agora já na sua quinta geração, foi o legítimo sucessor do Fusca e importante legado deixa- do pela confiável mecânica refri- gerada a ar... v (Luiz Guedes Jr.) A maioria dos primeiros exemplares do Gol era a álcool e trazia um reservatório de gasolina para a partida a frio O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 4 9 Telegram @clubederevistas A MECÂNICA DE 1980 A 1986 Com a crise mundial do petróleo, o besouro passou a “beber” álcool tanto na versão 1300 como na de 1.600 cm³ To m az V el lo 5 0 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A T É C N I C A Telegram @clubederevistas O Brasil ainda não havia se recuperado to- talmente da crise do petróleo de 1973 e dos efeitos funestos na balança de paga- mentos devido à sextuplicação do preço do barril de petróleo em apenas três meses imposto pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a temível Opep na época, quando eclodiu a guerra Irã- Iraque em 1980, provocando instabilidade na região do golfo pérsico e novo aumento de preço do petró- leo, além de embargo principalmente aos Estados Unidos, que apoiavam o Iraque com aviões e armamentos. Os gastos do Brasil com petróleo aumentaram ainda mais, colocan- do o país em dificuldade. Seguiu- se uma medida de redução geral do consumo de combustível promo- vida pelo poder executivo militar, através do Ministério de Minas e Energia, chamado Peco (Programa de Economia de Combustível). O objetivo do Peco, efetivado para o ano-modelo 1984, era reduzir em 5% o consumo de combustível todos os veículos fabricados no Brasil. No Fusca — nome oficializado um ano antes — isso representou pistões, cilindros e cabeçotes redesenhados, válvulas de escapamento maiores, diferencial 5,8% mais longo, de 4,125:1 para 3,875:1 e pedal de acelerador de dois estágios, com endurecimento a partir de determinado ponto do curso. A instabilidade não era só na região do Golfo, mas na própria Volkswagen. Enquanto em 1983 só era produzido o Fusca 1300, no ano seguinte só ha- via o 1600, assim permanecendo até o encerramento da produção em 1986 e no renascimento e morte de 1993-1996. O diferencial mais longo prejudicou bastante o desempenho do Fusca 1600, especialmente na série “Itamar”, cujos pneus radiais 165-15 eram 5% maiores em diâmetro do que os 5.60-15 diagonais. A relação 4,125:1 era perfeita e fez do 1600 sedã o melhor Fusca de todos, na opinião de muitos, inclusive a minha. O Fusca encontrava-se num excelente estágio, pequenos defeitos haviam sido eliminados, quando chegou o seu momento de dizer adeus. Para muitos, o Sedan 1600 foi o melhor Fusca de todos lugar do “bumerangue”. Não foi uma ideia feliz, tal desenho do volante é para agradar mais ao estilista do que ao motorista. Era um motor parrudo, de 57 cv de potência lí- quida, mas seu desempenho ficou aquém do espera- do pelo motivo visto acima, diferencial longo demais. Foram oferecidas tanto versões a gasolina quanto a álcool e mais para o final da década, o Fusca já fora de produção, a participação do carro a álcool chegou a nada menos de praticamente 90%. Havia versões de outros modelos, como o Gol GTS 1.8 e o Escort XR3, que nem versões a gasolina tinham. O Fusca encontrava-se num excelente estágio de produção, pequenos defeitos haviam sido eliminados fazia tempo, quando chegou o seu momento de dizer adeus. O mercado queria algo mais moderno e efi- ciente e na própria Volkswagen o Gol despontava com substituto do Fusca com toda honra: em 1987 assumiu a dianteira do mercado brasileiro, posição que nunca mais perdeu e que sustenta até hoje, decorridos 24 anos, um feito admirável sem a menor dúvida. v (Bob Sharp) Na década de 1980 o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) deslanchou e o VW participaram com força desse período. Os motores “a ar” começou no combustível de origem vegetal em versão 1300 de dois carburadores de 42 cv que não agradou muito. Só em 1984 chegaria a versão 1600 álcool, que fica- ria até o fim, aliás os dois fins, o de 1986 e o derra- deiro, de 1996. Em 1981 ocorreu uma das poucas modificações do período, a adoção de volante de “V” invertido no O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 5 1 Telegram @clubederevistas 4ª CAPA Untitled-1 1 30/05/2011 13:19:20 Telegram @clubederevistas https://t.me/clubederevistasINTERNA Isto, em boa parte, ocorreu por- que o mercado brasileiro também ficou mais competitivo. Se na dé- cada de 1960 o Fusca não teve con- correntes à altura, para contestar sua liderança num mercado ainda em consolidação, a partir dos anos setenta este panorama mudou ra- Com o fim da produção do Fusca na Alemanha, as atenções da Volkswagen com a mecânica a ar se voltaram para o Brasil, que passou a exportar para diversos países Fo to s D iv ul ga çã o O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 5 Telegram @clubederevistas Mas, se interrompida na Alemanha, a trajetória bem-sucedida do popular besouro continuaria sendo mantida nos anos seguintes nas filiais da Volkswagen no Brasil e, em menor escala, no México Além do Brasil, o besouro também era produzido no México durante a década de 1980. Caso do modelo acima, lançado em 1984 em comemoração aos 30 anos do “Vocho” naquele país dicalmente e o besouro passou a enfrentar concorrência não só de modelos de outras marcas, mas até mesmo dentro da linha VW, com o lançamento do Brasilia em 1973 e que, apesar de mais caro, caniba- lizou uma significativa parcela das vendas de Fusca. Assim, ano a ano foi diminuin- do a participação do Fusca no mer- cado brasileiro. Tanto que, no fim da década 1970, apesar de ainda ser o modelo mais popular do Brasil, sua “fatia” já ficava abaixo dos 20 por cento, enquanto dez anos an- tes as vendas dele representaram mais da metade dos automóveis comercializados no País. Em 1979, quando o mercado brasileiro alcan- çou a comercialização recorde de 828.733 automóveis, foram vendi- dos 159.650 Fuscas o que signifi- cou participação de 19,3%. Mesmo assim, ainda era uma produção considerável, além de lucrativa para a VW. Mas a que- da constante no gráfico de vendas preocupava o comando na matriz. Por isso, em 1976 foi iniciado o projeto de um novo modelo popu- lar para o mercado brasileiro que, a princípio, não tinha o objetivo de suceder o Fusca, mas sim de refor- çar a posição da marca que na oca- sião ainda mantinha uma folgada liderança no Brasil, com mais de 40% de participação nas vendas totais de veículos no País. Para comandar esse projeto, foi enviado ao Brasil o engenheiro Philipp Schmidt que havia coor- denado o projeto EA 276, protóti- po que antecipou o estilo do Golf, mas que foi equipado com o motor refrigerado a ar montado na dian- teira. Apesar de ser descartado por Rudolf Leiding para ser o sucessor do Fusca na Alemanha, o projeto EA 276 acabou servindo de base para o desenvolvimento do VW Gol. A versão brasileira, entretan- to, teve suas linhas inspiradas nas do esportivo VW Scirocco. Lançado no começo de 1980 no mercado brasileiro, o Gol agra- dou pelas linhas modernas e espa- ço interno, mas decepcionou por um erro de marketing da fábrica. Como, na época, ocorria a segun- da crise mundial do petróleo a VW decidiu lançar seu novo mo- delo com o mesmo motor boxer 1.300 cm³ do Fusca. Com isso, o Gol era apenas ligeiramente mais veloz e ágil do que o Fusca, apesar de bem mais caro. E, em vez de F Ô L E G O E X T R A Telegram @clubederevistas atacar a concorrência, o novo mo- delo acabou afetando as vendas do próprio Fusca ao cativar os consu- midores que desejavam fazer um up-grade dentro da linha VW e, ao mesmo tempo, queriam conti- nuar usufruindo da confiável me- cânica a ar. TEMPOS DIFÍCEIS Mas o pior ainda estava por vir. Com a economia americana em crise, o que fez o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) aumentar significativa- mente a taxa de juros básicos, o Brasil foi um dos países mais afe- tados por esta decisão. Devido à elevada dívida externa em dólar contraída para impulsionar o cres- cimento do País nos anos setenta, o governo brasileiro teve sérias dificuldades não só para “rolar” esta dívida, mas também para im- portar o petróleo, que estava mais caro e do qual o Brasil ainda era tremendamente dependente de fornecimento externo. Tudo isso, se refletiu numa for- te recessão na economia brasileira que, a partir de 1981, fez o País voltar a níveis de produção se- melhantes ao início da década de 1970. Assim, as vendas de auto- móveis em 1981 tiveram uma re- dução de 43,5% com relação aos resultados do ano anterior. Mas a queda de vendas do Fusca foi ain- da mais significativa: de 52%. Dos 146.319 Fuscas vendidos em 1980 a comercialização caiu para pouco mais de 70 mil unidades em 1981. Com isso, a “fatia” do besouro no mercado brasileiro de automóveis também se reduziu, para 15,7%. As dificuldades econômicas au- mentaram ainda mais em 1982, quando o governo brasileiro decre- tou a moratória da dívida externa. Isso, somado ao início de um pro- cesso de inflação elevada, reduziu ainda mais a oferta de crédito afe- tando diretamente a vendas de mo- delos populares. E, apesar do mer- cado de automóveis ter crescido em cerca de 24% com relação ao ano anterior, as vendas do Fusca con- tinuavam em queda, de 2%, sen- do que sua participação caiu para 12,4%. Também em 1983, apesar do mercado brasileiro continuar se recuperando lentamente, as ven- das do besouro se mantiveram em Abaixo, o Fusca mexicano fabricado nos anos 80 revela diferenças significativas em relação aos exemplares nacionais O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 7 Telegram @clubederevistas queda. Naquele ano, o besouro re- presentou apenas 10,4% das vendas totais de automóveis. Com isso, após três décadas, o Fusca acabou perdendo, durante aquele ano, a liderança nas vendas para o Chevrolet Chevette, mode- lo derivado do Opel Kadett. Nos anos seguintes, as dificuldades no mercado brasileiro continua- ram afetando as vendas de auto- móveis e, o crédito reduzido, fez com que os automóveis passassem a ser vendidos praticamente à vista ou então pelo popular sistema de consórcio. Isso, fez com que o au- tomóvel mais vendido no País nos anos de 1984, 1985 e 1986 fosse o Chevrolet Monza, modelo de- rivado do Opel Ascona – Projeto J-Car da General Motors – e que se destinava a faixa médio-alta do mercado brasileiro. CRISE NA MATRIZ Na mesma ocasião em que o Brasil entrou na crise econômica e que se refletiu diretamente nas vendas do Fusca, a VW enfrenta- va dificuldades internas de certa forma também provocadas pelos Estados Unidos, onde as ven- das do Golf, ou Rabbit, como o modelo era denominado naquele mercado, não alcançavam os re- sultados almejados pelo fabri- cante. Apesar de produzido na Filadélfia e de alcançar relativo sucesso, as vendas do Rabbit nun- ca chegaram perto das do Fusca no mercado americano. Mesmo sendo um modelo mo- derno, que fazia muito sucesso no mercado europeu, o Golf/Rabbit não tinha o mesmo “carisma” do popular besouro. Além disso, os consumidores americanos já co- meçavam a ser cativados pelos automóveis japoneses, menores e mais econômicos. E assim, da mesma forma que o Fusca fora uma referência para diversas ge- rações de jovens americanos nas décadas anteriores, os modelos fa- bricados no Japão assumiram este espaço no coração da juventude americana da década de 1980. Assim, o investimento na fábri- ca americana demorava a ser amor- tizado, ao mesmo tempo em que a filial brasileira, que sempre garan- tiu bons lucros à matriz, passou a dar prejuízo. Além disso, acome- tido por um ataque do coração em meados de 1981, Toni Schmücker ficou afastado temporariamente do comando da empresa. Para re- verter esta situação, o Conselho de Vigilância da VW decidiu nomear um novo executivo-chefe por oca- Em 1981, o Fusca superou a marca de 20 milhões de exemplares produzidos, com festa na fábrica da Volkswagen em Puebla, no México 8 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A F Ô L E G O E X T R A Telegram @clubederevistas sião da assembleia dos acionistas realizada no começo de 1982. A solução, desta vez, foi buscar novamente no histórico da empre- sa um executivo quetivesse “co- nhecimento de causa”, assim como fora quando Rudolf Leiding suce- dera Kurt Lotz. A escolha recaiu sobre Carl Horst Hahn um dos responsáveis pelo sucesso comer- cial do Fusca nos Estados Unidos e que de 1958 a 1965 foi o presi- dente da VW of America. Sua imagem ficou tão ligada a este su- cesso, que ele acabou sendo apeli- dado pelos entusiastas americanos do besouro como “Mister VW”. Por tudo isso, Hahn era na vi- são do Conselho de Vigilância da empresa o executivo ideal para tentar reverter a situação crítica da marca no mercado americano, que durante muito tempo garantiu ga- nhos extraordinários à VW. Mas, no caso de Hahn, o Conselho teve que se dignar a convidá-lo para re- tornar a empresa já que, na ocasião, ele ocupava o cargo de presidente da fábrica de pneus Continental, que assumira em 1973, quando deixou desiludido o staff de co- mando da empresa. Isso porque, quando retor- nou a Alemanha em meados dos anos sessenta para assumir o co- mando geral de vendas da VW, Hahn era considerado o herdeiro natural de Nordhoff. A nomea- Ano a ano diminuía a “fatia” do Fusca no mercado brasileiro. No fim da década de 1970, já ficava abaixo dos 20%. Dez anos antes, suas vendas representavam mais de 50% do total comercializado no País As importações de “Vochos” para a Europa foram encerradas em 1985, fato marcado pela série comemorativa “Jubiläums Käfer” (Fusca Jubileu, à esq. e abaixo), com produção limitada a 3.150 unidades na fábrica de Puebla O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 9 Telegram @clubederevistas ção de Kurt Lotz, em 1968, foi o primeiro baque às aspirações de Hahn. Depois, com a escolha de Rudolf Leiding para suceder Lotz, o executivo acreditou que não havia mais espaço para ele dentro da fábrica de Wolfsburg e resolveu aceitar o convite para comandar a tradicional fábrica de pneus alemã. NOVOS CAMINHOS De volta à VW, Hahn procurou inicialmente tentar reverter a situ- ação da marca na America, mas rapidamente se deu conta que seria muito difícil enfrentar a dinâmi- ca dos fabricantes japoneses, isso também porque o marco alemão valorizado em relação ao dólar não dava muita margem de mano- bra para uma estratégia agressiva de comercialização, como fora a do Fusca, vinte e cinco anos an- tes. Além disso, a gama de mode- los VW era bastante reduzida em relação à variada oferta das marcas japonesas. Assim, Hahn procurou fortale- cer a participação da VW no mer- cado europeu, ao mesmo tempo em que iniciou negociações para se estabelecer no mercado asiáti- co, em especial no da China que, então, dava seus primeiros passos. Enquanto isso, a difícil situação econômica do Brasil fazia com que a filial brasileira permanecesse no vermelho o que gerou rumores de que a VW poderia reavaliar sua atuação no País podendo, inclusi- ve, reduzir consideravelmente seus investimentos aqui. Isso, porque, com as vendas do Fusca em queda e a difícil “deco- lagem” comercial do Gol, mesmo com a adoção do motor 1.600-cm³ “a ar” e, posteriormente, do mo- tor AP de refrigeração líquida, a marca continuou perdendo parti- cipação no mercado brasileiro, que também se mantinha estagnado Nunca antes uma fábrica havia realizado uma campanha publicitária para se “despedir” de um modelo. No caso do Fusca, não só a VW o fez (acima), mas também a concorrência (à direita, anúncio elaborado pela GM). Na página ao lado, a festa promovida na fábrica de São Bernardo do Campo no final de 1986 1 0 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A F Ô L E G O E X T R A Telegram @clubederevistas UM CARRO, MUITOS NOMES... Foi em 1983, mais de trinta anos após os primeiros besouros desembarcarem no porto de Santos, que a Volkswagen do Brasil finalmente oficializou o po- pular apelido Fusca como denominação oficial para o modelo. Em praticamente todos os países do mundo onde foi co- mercializado o Volkswagen Sedan ga- nhou um apelido peculiar. Traduzindo, porém, a maioria desses nomes varia da palavra besouro, a exemplo de Käfer (em alemão), Beetle (em inglês) e Escarabajo (em espanhol). No Brasil, como em al- guns outros países, o modelo acabou ga- nhando um apelido bem diferenciado. Isso porque a fonética da língua alemã soava estranha para a maioria dos brasi- leiros, que não conseguiam compreender a razão pela qual a fábrica destacava seu sedan como “Folksvaguen”. Assim, com o tempo, o simpático carrinho ficou co- nhecido simplesmente por Fusca, apesar de algumas derivações como Fuca ou Fuque, mais populares no sul do País. Conheça a seguir alguns dos apelidos do popular modelo ao redor do mundo: v Bug e Beetle (EUA) v Vocho (México) v Coccinelle (França) v Maggiolino (Itália) v Carocha (Portugal) v Kever (Bélgica) v Garbus (Polônia) v Buba (Sérvia) v Kobe (Tanzânia) v Kifuu (Quênia) v Foxi (Paquistão) v “Be-doblebe” (Cuba) v Peta (Bolívia) v Volky (Porto Rico) v Kuplavolkkari (Finlândia) v Hipushit (Israel) v Cucaracha (Honduras) v Weevil (Canadá) v Volla (África do Sul) praticamente, algo que perdurou durante toda a década de 1980. Apesar de tentar reavivar as ven- das do Fusca com o lançamento de diversas séries especiais e versões mais luxuosas, como o GL lança- do em 1982, e até um GLS que, pelo que se sabe, não passou de um “balão de ensaio”, a VW não con- seguiu reverter a acelerada queda na curva de comercialização. Assim, em 1985, último ano de participação plena no merca- do brasileiro a “fatia” do Fusca foi de 7,3% com vendas totais de apenas 44 mil unidades – resul- tado semelhante ao alcançado 22 anos antes, em 1963 –, algo que, segundo o comando da empre- sa, inviabilizava sua produção comercial. Assim, no começo de 1986, o Conselho de Vigilância na Alemanha acatou a decisão da diretoria executiva em en- cerrar a produção brasileira do Fusca, mas ela continuou até o f im de outubro daquele ano, apesar de baixa, apenas 29.308 unidades, que signif icaram uma participação de apenas 3,9% no mercado brasileiro de automó- veis e comerciais leves. Desta forma, era encerrado mais um importante capítulo na bem-sucedida trajetória de suces- so do Fusca, justamente 40 anos após o início da sua produção co- mercial em Wolfsburg e 28 anos após o lançamento do Fusca brasi- leiro que, neste período, teve mais de 3 milhões e 300 mil unidades fabricadas em São Bernardo do Campo, das quais cerca de 3 mi- lhões ficaram no mercado interno e as restantes, foram exportadas. Apesar de deixar de ser produzido no Brasil, o Fusca ainda continu- aria por muitos anos em produção na fábrica de Puebla, México, uti- lizando componentes básicos do motor e transmissão fabricados pela filial brasileira, porém com a carroceria de área envidraçada maior e para-brisa ligeiramente curvo que fora lançada em 1965 na Alemanha, mas que não foi pro- duzida aqui no Brasil. Esta é tal- vez a maior dívida da Volkswagen para com seus fiéis consumidores brasileiros. v (Roberto Marks) Apesar de deixar de ser produzido no Brasil, o Fusca ainda continuaria por muitos anos em produção na fábrica de Puebla, utilizando componentes básicos do motor e transmissão fabricados pela filial brasileira O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 1 1 Telegram @clubederevistas BATISMO OFICIAL Após 16 anos de produção, o motor 1300 deixou de equipar o popular besouro. Não sem antes deixar uma importante marca: foi com ele que a Volkswagen do Brasil oficializou de vez a denominação Fusca. Fo to s: S au lo M az zo ni 1 2 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A S E D A N 1 3 0 0 19 8 0 - 8 3 Telegram @clubederevistas N o começo da década de 1980, o Fusca “empur- rado” pelo motor de 1300 cm³ mantinha a posição de veículo mais barato produzido no Brasil. Mas a queda nas vendas começava a preocupar a fábrica. Na tentativa de esticar ao máximo a vida útil do besou- ro, a Volkswagen do Brasil usou de duas táticas: primeiro, lançou umasérie de versões especiais, calcadas em acessórios e acabamentos mais luxuoso; segundo, procurou intro- duzir constantes novidades à linha do besouro – embora nada que acarretasse um novo projeto ou ele- vação de custos na produção. Em 1980, por exemplo, além de uma versão especial batizada de Série Prata, a principal novida- de foi o lançamento da opção com motor 1300 a álcool – exclusivida- de brasileira e o primeiro VW em todo o mundo a funcionar com o combustível vegetal. Embora con- sumisse em média 25% a mais do que a versão equipada com motor a gasolina, o Fusca 1300 a álcool revelava-se até 24% mais econô- mico na hora de abastecer, devido as diferenças de preços entre os dois combustíveis na ocasião, que foi fixado pelo governo e no qual o litro do álcool deveria custar 65% do litro da gasolina comum. Em testes de consumo realizados na época, o Fusca a álcool registrou média de 8,75 km/litro contra 11,35 km/litro da versão movida pelo derivado do petróleo. Além de outras diferenças téc- nicas (como o peso de 798 kg con- tra 790 kg da versão a gasolina), o motor 1300 a álcool também se diferenciava pela utilização de um segundo carburador e pela potên- cia de 49 cv brutos, com velocidade máxima de 117 km/h. No caso do modelo abastecido com gasolina a carburação era simples e a po- tência, de 46 cv, sendo que a ve- A linha “básica” de 1982, equipada com motor 1300, ainda mantinha a lanterna pequena na traseira (usada desde 1962) e a capa dos piscas dianteiros pintadas na mesma cor da carroceria O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 1 3 Telegram @clubederevistas locidade máxima ficava em torno dos 110 km/h. Vale lembrar que o motor 1300 a álcool desenvolvi- do inicialmente pela Volkswagen do Brasil tinha 54 cv de potência bruta, mas que foi reduzida antes de estrear no mercado em favor de menor consumo de combustível. Um detalhe: nos dias com tem- peratura acima de 15 °C, a partida na versão a álcool podia ser dada normalmente. Abaixo disso, era preciso injetar gasolina nos car- buradores por meio de um botão na parte inferior esquerda do pai- nel, num movimento simultâneo ao giro da chave de ignição. Para tanto, um pequeno reservatório de gasolina com capacidade para 1,5 litro foi acomodado no interior do porta-malas dianteiro – sistema que vinha ainda acompanhado por uma luz espia no painel para lembrar que deveria abastecê-lo. Já o afogador, automático, era armado ao pisar no acelerador até o fim de seu curso. NOVO PAINEL O ano de 1981 foi marcado como o último do painel com ins- trumentos circulares. No ano se- guinte, além do desaparecimento do volante de direção “bumeran- gue” (que foi substituído pelo uti- lizado no VW Gol, com diâmetro menor, dois raios em forma de “V” invertido e a haste da buzina ador- nada ora pelo lobo de Wolfsburg, ora pelo símbolo VW), toda a li- nha do besouro nacional recebeu um novo painel, caracterizado por instrumentos “retangulares”. A diferença é que no 1300 básico esses instrumentos estavam aco- modados em um pequeno nicho A linha 1981 foi marcada como a última do painel com instrumentos circulares e por uma alteração estética: o desaparecimento do volante de direção “bumerangue”, substituído pelo utilizado no VW Gol O Fusca 1982 inaugurou um novo desenho de painel, com instrumentos “quadrados”. Na versão 1300, o capô do motor permanecia sem aberturas de ventilação 1 4 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A S E D A N 1 3 0 0 19 8 0 - 8 3 Telegram @clubederevistas O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 1 5 Telegram @clubederevistas O Fusca 1300 mantinha o pacote que o caracterizava como “standard”, marcado por lanternas pequenas, ausência de friso no capô do porta-malas e dos piscas dianteiros com carcaça na cor da carroceria posicionado à frente do motorista, sendo todo o restante do painel me- tálico pintado na mesma tonalidade da carroceria – no caso das versões 1600 e 1300-L, o painel era total- mente revestido por uma capa de plástico preto. Além disso, o Fusca básico equipado com motor 1300 man- tinha o pacote que o caracteriza- va como “standard”. É o caso, por exemplo, das lanternas pequenas (usadas desde 1962), da ausência do friso cromado no capô do por- ta-malas e dos piscas dianteiros com carcaça na cor da carroceria. Outra novidade na linha 1982 foi o lançamento da luxuosa versão “especial” 1300 GL, que durou menos de seis meses e teve pou- quíssimas unidades produzidas. FINALMENTE FUSCA! Mas foi em 1983 que a Volks- wagen promoveu uma verdadeira guinada na trajetória do popular Simplicidade e funcionalidade: características marcamntes das versões básicas do besouro produzidas na década de 1980 1 6 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A S E D A N 1 3 0 0 19 8 0 - 8 3 Telegram @clubederevistas besouro. A começar pela inter- rupção definitiva de produção da versão 1300-L e pela interrupção temporária de fornecimento do motor de 1.600 cm³. Naquele ano, o Fusca foi produzido apenas com o bom e velho motor 1300 (que podia ser a gasolina ou álcool). E com ele o ano de 1983 acabou marcado por grandes aconteci- mentos. A principal novidade na oca- sião não aconteceu na área técnica, mas nas ações de marketing. Após mais de três décadas no mercado nacional, a Volkswagen do Brasil finalmente oficializou na “certi- dão de nascimento”, ou melhor, no documento de registro do mo- delo o nome “Fusca”. Até então, nos certificados de propriedade, o carro era simplesmente deno- minado Volkswagen Sedan. Para O interior da linha 1983 traz o mesmo acabamento da versão anterior. Uma novidade importante era o surgimento da caixa de câmbio tipo “life time”, que dispensava a troca periódica de lubrificante Telegram @clubederevistas Novo volante (idêntico ao utilizado no VW Gol) com diâmetro menor, dois raios em forma de “V” invertido e botão de buzina adornado ora pelo lobo de Wolfsburg, ora pelo símbolo VW. E V O L U Ç Ã O T É C N I C A 19 80 A linha 1300 ganhou a opção do motor a álcool com dupla carburação e um pequeno reservatório de 1,5 litro de gasolina para a partida a frio, acionada manualmente por meio de um botão no canto inferior esquerdo do painel. Apoio de cabeça nos bancos dianteiros (opcional). Lançado modelo Série Prata (veja matéria no próximo fascículo). Novo painel com instrumentos em formato retangular (a tampa do porta-luvas conti- nua preta e o restante do painel metálico pintado na cor da carroceria). Coxins redesenhados para o conjunto motor- transmissão. Lançado modelo 1300 GL (veja matéria no próximo fascículo).19 82 destacar a nova identificação, a fá- brica adicionou à tampa do motor o emblema com o logo “FUSCA”. Finalmente, o modelo até então mais produzido no Brasil passou a ter uma genuína “marca nacio- nal” – o que também pôde ser vis- to como tática de marketing para garantir uma sobrevida num mer- cado que já dava claros sinais de cansaço do modelo. Do ponto de vista técnico, a linha 1983 teve incorporada ao transeixo (conjunto câmbio-eixo motriz) o conceito “Life-time” (toda a vida, em inglês), que dis- pensava a troca periódica de óleo lubrificante, sendo somente ne- cessário checar o nível em espaços mais longos. E, no caso específico do motor 1300 a álcool, embo- ra disponível para o Fusca desde 1980, foram feitos alguns aperfei- çoamentos. Os carburadores, por exemplo, receberam um novo tra- tamento químico de cobre-níquel; a bomba de combustível passou a ser revestida com camadas de cá- dmio, níquel e ferro, enquanto o pescador do tanque de combus- tível passou a ser estanhado. Por fim, o reservatório com capacida- de para 1,5 litro de gasolina colo- cado no porta-malas para auxiliar na partida a frio passou a ser co- mandado pelo sistema de afogador automático. No que se refere à estética, a li- nha fabricada em 1983 surgiu com importantesnovidades. Na trasei- ra, além do logotipo com a palavra “Fusca” na tampa do motor sem ranhuras de refrigeração, a ver- Em 1983, o besouro nacional ficou limitado à mecânica 1300, oficializou o uso do nome Fusca e ganhou aprimoramentos mais técnicos do que visuais. No fim daquele ano, o motor 1300 seria aposentado em definitivo 1 8 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A S E D A N 1 3 0 0 19 8 0 - 8 3 Telegram @clubederevistas A linha do Sedan nacional ficou restrita aos modelos com mo- tor 1300 (álcool e gasolina). Adoção oficial do nome Fusca, com logotipo aplicado na tam- pa traseira (que permaneceu sem ranhuras de refrigeração do motor). Lanternas maiores (popular “Fafá”). Caixa de câmbio tipo “life time”, que dispen- sa a troca periódica de lubrificante. Sistema de aquecimento (opcional). Painel coberto por uma capa de plástico preto (opcional). Novos bancos (iguais aos do VW Gol). Bancos revestidos de tecido (opcional). Assoalho revestido de carpete (opcional). Filtro de ar em banho de óleo (opcional). Ignição eletrônica (opcional). Carburadores com nova proteção anti-corrosiva “re- vestidos com camada de cobre-níquel” (exclusivo para versão a álcool). Bomba de combustível blindada (impossível desmontá-la para serviço), protegida por camada de cádmio, cromo e ferro (exclusivo para versão a álcool). Novo filtro com elemento de papel e carcaça plástica (exclusivo para versão a álcool). Válvulas termopneumáticas localizadas na entrada dos filtros de ar, que atua no controle da temperatura do ar aspirado e otimizam a queima da mistura ar- combustível (exclusivo para versão a ál- cool). Partida a frio com bomba elétrica para injetar gasolina nos carburadores (exclusivo para versão a álcool). 19 83 são 1300 recebia – pela primeira vez – lanternas maiores, já conhe- cidas popularmente como “Fafá”. Na dianteira, a novidade foram os piscas com capas cromadas, embo- ra o capô do porta-malas continu- asse sem o friso central. De resto, a carroceria se caracterizava por maçanetas e fechaduras pintadas de preto, além de bocal do tanque de combustível com chave. Internamente o Fusca tam- bém sofreu mudanças naquele ano. Por questões de escala de produção, os bancos passaram a ser os mesmo do Gol, revestidos em courvim – mas com a opção do acabamento em tecido, além do apoio de cabeça nos encostos dianteiros. O comprador também podia escolher o revestimento do assoalho, que podia ser em bor- racha ou carpete. Quem optasse pela segunda opção também le- vava o material revestindo a área inferior das laterais internas das portas. De resto, figuravam ainda na lista de opcionais: sistema de aquecimento, volante espumado, acendedor de cigarros, revesti- mento plástico preto para todo o painel, ignição eletrônica e filtro de ar banhado a óleo, indicado pela fábrica especialmente para quem utilizava o carro em estra- das poeirentas... No fim de 1983, as versões equi- padas com motores 1300 (a álcool e a gasolina) foram retiradas de linha, encerrando um dos mais importan- tes capítulos na história do besouro nacional. v (Luiz Guedes Jr.) Ao lado, a linha fabricada em 1983 oficializou o nome Fusca com um emblema no capô traseiro, mas também marcou a despedida da mecânica de 1.300 cm³ – sendo a única a aliar esse motor com as populares lanternas “Fafá” O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 1 9 Telegram @clubederevistas MORTE NATURAL Fo to s: T om az V el lo 2 0 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A S E D A N 1 6 0 0 19 8 0 - 8 6 Telegram @clubederevistas MORTE NATURAL Foram quase quatro décadas de sucesso. Mas a hora de se retirar do mercado também acabou chegando para o Besouro brasileiro... C omo nenhum outro automóvel, o Fusca cumpriu a missão de popularizar – e até democratizar – a motorização no Brasil, que foi proposta a partir da década de 1950. Dos modelos disponíveis naquela fase pionei- ra da indústria nacional, o Volkswagen Sedan foi um dos poucos a sobreviver por um longo período. Mais precisamente 36 anos, desde a chegada das primeiras unidades, ainda importadas da Alemanha. Porém seu ciclo também teria de chegar ao fim. Uma morte lenta, quase em doses homeopáticas, mas ao mesmo tempo esperada, como a de alguém com idade avan- çada que falece de morte natural. Os primeiros sintomas de que o fim estava se aproximando ocorreram na segunda metade da dé- cada de 1970, quando a curva de vendas do besouro começou a cair. Nos anos que se seguiram, o que se viu foi um esforço da Volkswagen para que o mode- lo tivesse uma sobrevida, trabalho que obteve êxito O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 2 1 Telegram @clubederevistas durante seis anos, período marca- do por pequenas mudanças e mui- tas versões especiais. Aliás, a aparição de contínu- as séries especiais parece mesmo ser o melhor termômetro para indicar que um modelo estava se despedindo do mercado. A estratégia favorita dos fabrican- tes: repaginar antigas fórmulas com acessórios e atrativos na tentativa de aguçar o desejo do consumidor... De 1980 a 1986, o Fusca teve nada menos do que cinco modelos considera- dos Séries Especiais, incluindo a Última Série, que marcou o encerramento definitivo da pro- dução, na ocasião. ALTOS E BAIXOS Após ganhar as lanternas “Fafá” e outras pequenas novidades esté- ticas em 1979, o Fusca “topo de linha”, equipado com motor de 1.600 cm³ entrou nos anos oitenta sem nenhuma alteração importan- te (a linha 1300, esta sim, ganhou motorização a álcool e uma versão especial, batizada de Série Prata). A inércia seguiu-se em 1981. Em 1982, no entanto, toda a li- nha foi marcada por um novo vo- lante, idêntico ao usado no VW Gol, com diâmetro menor e dois raios em forma de “V” invertido. Além disso, o painel de instru- mentos ganhou um novo desenho. No caso da versão 1600, os novos instrumentos de formato retan- gular foram acomodados na capa plástica preta que revestia comple- tamente o painel. Naquele momento, a Volks- wagen, ao que tudo indica, notou certa predileção do mercado pela versão mais simples – e barata – do besouro, equipada com motor de 1300 cm³. Tanto que em 1982 essa linha novamente foi agraciada com um novo e luxuoso Série Especial, batizado de 1300 GL. Assim, no ano de 1983, a produção nacional do besouro ficou restrita apenas O acabamento oferecido nas versões de 1984 a 1986 eram praticamente o mesmo, alternando apenas os opcionais oferecidos 2 2 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A S E D A N 1 6 0 0 19 8 0 - 8 6 Telegram @clubederevistas ao modelo equipado com o motor 1300, naquela altura também a única a oferecer a opção a álcool ou a gasolina como combustível. Mas o que parecia ser o fim da versão topo de linha, equipada com o motor de 1.600 cm³, acabou não passando de “ano sabático”. Em 1984, foi a vez do motor 1300 deixar a linha de produção, dessa vez em definitivo. Em seu lugar, a Volkswagen (re)lançou o Fusca com um “novo” motor 1600, mar- cado por alguns aprimoramentos estéticos e técnicos, componen- tes que retornavam à linha e uma nova versão especial, que ficou co- nhecida como “Série Love”. Uma das novidades da linha 1984 era a opção dos motores 1600 a gasolina ou a álcool. Mas não era a única: redesenhado pela engenharia da Volkswagen, o pro- pulsor ganhava novos pistões, ci- lindros e cabeçotes, além de vál- vulas de escapamento maiores e câmaras de combustão que apri- moravam a queima da mistura ar-combustível. O resultado? Um Fusca ainda mais veloz do que o “aposentado” dois anos antes. Junto do novo pacote de moto- rização, o Fusca 1600 vendido em 1984 retomou à linha do besouro Após deixar de ser fabricada em 1983, a mecânica de 1.600 cm³ voltou em 1984 com várias novidades, inclusive a opção da alimentação a álcool. E acompanhou o Fusca até o fim da produção, em 1986 O G R A N D E L I V R O D O FU S C A | 2 3 Telegram @clubederevistas E V O L U Ç Ã O T É C N I C A 19 80 O Fusca 1600 não apresentou nehuma novidade importante neste ano. Apenas ganhou apoio de cabeça nos bancos dianteiros (opcional). Novo volante (idêntico ao utilizado no VW Gol) com diâmetro menor, dois raios em forma de “V” invertido e botão de buzina adornado ora pelo lobo de Wolfsburg, ora pelo símbolo VW. Painel revestido por capa plástica preta com novos instrumentos em formato retangular. Coxins redesenhados para o conjunto motor/transmissão. O motor 1600 não é produzido durante todo o ano, já que a linha do besouro nacional ficou restrita à mecânica de 1.300 cm³.19 82 19 83 o uso de freio a disco na dianteira, porém agora como itens de série (na antiga versão 1300 ele jamais foi oferecido, sequer como opcio- nal). Outro “retorno” comemorado foi o capô traseiro com aberturas de arrefecimento, muito embora sem a antiga e útil proteção contra entrada de água, substituída por “saquinhos” plásticos pretos (feios e nada eficientes) na bobina e no distribuidor, assim como no Gol. No resto, o pacote técnico era completado por uma nova barra compensadora traseira, ignição eletrônica de série e um novo al- ternador de 35 ampères (que subs- tituiu o antigo de 25 ampères). Do ponto de vista estético, além do capô traseiro ranhurado com a inscrição Fusca, o besouro 1600 se diferenciava do extinto 1300 pelos novos bancos, redesenhados, com encosto de cabeça e sistema contí- nuo de regulagem de altura dos en- costos dianteiros. Já os cintos de se- gurança finalmente passaram a ser de três pontos, embora ainda não retráteis. Como opcional, voltaram as janelas traseiras basculantes, além de o cliente poder escolher revestir os bancos com tecido aveludado no lugar do courvim tradicional. Apesar de mais potente, a ver- são 1600 ficou mais econômica que a extinta com a mecânica 1300. Isso porque, graças à potência ex- tra, não era mais necessário diri- gir o tempo todo com o acelerador sempre acionado até o fim do cur- so. Em testes realizados na época, o Fusca 1600 atingiu velocidade má- xima de 133 km/h (quase 20 km/h acima da registrada pelo 1300) e acelerou da imobilidade até os 100 km/h em 17,16 segundos (o 1300 levava demorados 38,97 segundos para atingir a mesma marca). Desde 1984, os motores 1600 podiam vir a álcool ou a gasolina, que é o caso deste exemplar 1985 2 4 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A S E D A N 1 6 0 0 19 8 0 - 8 6 Telegram @clubederevistas O motor 1300 é substituído definitivamente por um novo 1600 (álcool e gasolina), com pistões, cilindros e cabeçote redesenhados. Válvulas de es- capamento maiores. Novas câmaras de combustão que melhoram a queima da mistura ar-combustível. Freios a disco dianteiros. Barra compensadora trasei- ra. Ignição eletrônica. Alternador de 35 ampères (antes era de 25 ampères). Bancos redesenhados, com encosto de cabeça e sistema contínuo de regula- gem da altura dos encostos. Cintos de segurança dianteiros de três pontos. Janelas traseiras basculantes (opcio- nal). Bancos em courvim (padrão) ou tecido (opcional). Tampa do motor com ranhuras de arrefecimento (porém sem proteção contra água, substituída por 19 84 No caso dos motores a gasolina, a tampa traseira trazia um curioso sistema de ventilação, localizado abaixo do suporte de placa O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 2 5 Telegram @clubederevistas E V O L U Ç Ã O T É C N I C A “saquinhos” plásticos pretos na bobina e no distribuidor). Lançado modelo especial Série Love (veja matéria no próximo fascículo). Série Especial verde Cristali- no (veja no próximo fascículo). Versão Standard: painel na cor da carroceria. Bancos em courvim (série) ou tecido (opcional). Painel na cor da carroceria. Bancos em courvim (série) ou tecido (opcional). Lançado modelo Última Série, limitado a 850 unidades (veja matéria a seguir).19 85 19 86 ERRO DE ESTRATÉGIA Em 1985, a Volkswagen voltou à velha estratégia de dividir a li- nha do besouro nacional em duas versões: uma básica e outra “top”. Porém, como não podia mais fa- zer isso na base dos motores, lan- çou duas versões para o Fusca 1600: uma delas, com acessórios especiais e a exclusiva cor verde Cristalino, adotada até mesmo nas rodas, nos para-choques e nos aros dos faróis, foi batizada de Série Especial. A outra, chamada de Standard, regrediu até mesmo em relação ao modelo fabricado no ano anterior. Isso porque, den- tre outras coisas, voltou a ser uti- lizado o painel que mesclava um nicho plástico e o restante com o aço da carroceria aparente (carac- terística fora de linha desde 1982 e que havia sido adotada apenas nas antigas versões “básicas” do 1300). A incoerência nas estratégias de lançamentos da Volkswagen era mais um indício do desalento da fábrica com relação aquele que fora seu carro-chefe. Isso porque Os bancos de vinil eram o padrão na linha 1985, que contava com revestimento em tecido cp,p 2 6 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A S E D A N 1 6 0 0 19 8 0 - 8 6 Telegram @clubederevistas as novidades visivelmente já não visavam recuperar a posição per- dida de líder de vendas, mas sim de apenas prolongar um pouco mais a vida do besouro no merca- do nacional. Contudo, a compa- ração com os novos – e modernos – modelos era inevitável. Modelos inclusive da própria Volkswagen, como o Gol e o Santana. Com isso, a fábrica anunciou em agosto de 1986 o fim definitivo da pro- dução do Fusca, o que acabou ocorrendo no começo de outubro daquele ano. O modelo “normal” fabrica- do neste ano de despedida aca- bou sendo o mesmo “standard” fabricado em 1985, inclusive com o painel de aço na tonalidade da carroceria. Como edição “come- morativa”, a Volkswagen lançou também a versão Última Série, recheada de detalhes especiais. Contudo, a fábrica mais uma vez pecou na estratégia. Em vez de disponibilizar o Última Série ao mercado, limitou a produção a 850 unidades destinadas a cada um dos concessionários da marca. v A incoerência nas estratégias de lançamentos da Volkswagen era mais um indício do desalento da fábrica em relação ao besouro, que fora seu carro-chefe ao longo das três últimas décadas O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 2 7 Telegram @clubederevistas O ADEUS QUE VIROU ATÉ BREVE... Fo to s: A nd ré L ar an ge ir a 2 8 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A V W F U S C A Ú LT I M A S É R I E 19 8 6 Telegram @clubederevistas O Fusca Última Série de 1986, programado para ser a derradeira do besouro produzido no Brasil, perdeu status após o relançamento do modelo, sete anos mais tarde. Mas não perdeu seu valor histórico... O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 2 9 Telegram @clubederevistas A té o anúncio da reto- mada da produção do Fusca brasileiro, em 1993, o modelo come- morativo batizado como Última Série era a mais emblemática ver- são especial do besouro nacional. Criada para celebrar o encerra- mento – até então definitivo – do ciclo comercial do modelo no País, no final de 1986, esta edição teve produção limitada às últimas 850 unidades e tendo a numeração (de 001 a 850) e a inscrição “Última Série” grafadas tanto no para-bri- sa como no vigia. Fora isso, cada exemplar vinha acompanhado de um kit compos- to por uma “chave pintada na cor ouro”, um certificado assinado pelos principais executivos da fá- brica na época, adesivos e uma fita de vídeo (VHS) com as melhores propagandas do besouro exibidas na televisão desde 1960. ACABAMENTO PADRÃO Em termos de acabamento, no entanto, os exemplares da chama- da Última Série em nada se dife- renciavam da versão comum de linha – eles até se distinguiam do modelo básico vendido na ocasião; mas essa diferença caía por terra quando o comprador em questão resolvia “equipar” o modelo com os opcionais oferecidosem qual- quer revenda. Isso porque, na verdade, tudo o que a Volkswagen fez foi equipar a linha na Última Série com acessó- rios e equipamentos opcionais para o Fusca básico. Maquiagens como desembaçador do vigia, painel to- talmente revestido por capa plás- tica preta e acendedor de cigarros, além de pintura metálica. De resto, nem mesmo o relógio à esquerda do velocímetro (também opcional naquele ano) figurava na lista de itens de série. Ou seja, o Fusca Última Série nada mais era do que um modelo “equipado” com alguns dos opcio- nais disponíveis na ocasião, tendo como único diferenciador a numera- Criada para celebrar o encerramento – até então definitivo – do ciclo comercial do Sedan no País, no final de 1986, a edição do Última Série teve produção limitada às últimas 850 unidades fabricadas pela VW A versão Última Série nada mais era do que um Fusca “de luxo”, com praticamente todos os opcionais disponíveis na ocasião 3 0 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A V W F U S C A Ú LT I M A S É R I E 19 8 6 Telegram @clubederevistas ção comemorativa colada nos vidros. Por fora, o modelo exibia a mes- ma simplicidade de qualquer bom e velho Fusca, inclusive nas imperfei- ções, como a existência de retrovi- sor externo apenas do lado do mo- torista. Já o interior se destaca pelos bancos revestidos em tecido, encos- to de cabeça nos bancos dianteiros, laterais de portas em courvim com faixa inferior acarpetada, assoalho revestido com carpete e vidros late- rais traseiros basculantes. A mecânica dos 850 exempla- res caracterizados como Última Série também era a mesma usada nos modelos sem a nomenclatu- ra comemorativa. Ou seja: freio a disco de série nas rodas dianteiras e o funcional motor de 1.600 cm³ com dupla carburação – sendo um detalhe interessante o fato de que todos os exemplares da série espe- cial eram a álcool. POLÍTICA EQUIVOCADA Além de não trazer nenhum pacote visual que justificasse o tí- tulo de “série especial”, o Última Série também teve a sua imagem arranhada na época devido à po- lítica de marketing adotada pela Volkswagen. Em vez de serem disponibilizadas ao público, as 850 unidades produzidas foram destinadas exclusivamente aos concessionários da marca, sendo que cada revenda do país recebeu uma unidade. Não é necessário dizer que a grande maioria das concessioná- rias vendeu sua “relíquia” de ime- diato e por bom preço. A boa notí- cia, neste caso, é que grande parte dos compradores foi composta por alguns colecionadores e entusias- tas do besouro, que tomaram para si a obrigação de preservar o his- tórico modelo. Prova disso é que, A versão comemorativa era equipada com acendedor de cigarros, capa preta sobre o painel, vidros verdes e vidros traseiros basculantes O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 3 1 Telegram @clubederevistas Cada exemplar acompanhava um kit composto por uma “chave na cor ouro”, um certificado assinado por principais executivos da época, adesivos e uma fita VHS com as melhores propagandas Acima, detalhe da numeração gravada no para-brisa e do kit que acompanhava cada modelo S au lo M az zo ni 3 2 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A V W F U S C A Ú LT I M A S É R I E 19 8 6 Telegram @clubederevistas ainda hoje, é bastante comum encontrar unidades com baixíssi- ma quilometragem ou até mesmo zero-quilômetro. Após o anúncio da retomada da produção nacional do Fusca, durante o governo do presidente Itamar Franco, o interesse de co- lecionadores pelos exemplares da Última Série chegou a diminuir bastante, fazendo com que alguns proprietários retirassem seus mo- delos de cavaletes para colocá-los a rodar normalmente no dia a dia. Contudo, essa mentalidade mu- dou a partir de meados dos anos 2000, momento em que o Fusca passou a ser encarado no meio antigomobilista como automóvel clássico e de valor histórico. Desde então, mesmo tendo perdido o status de “derradeiro Fusca produzido pela Volkswagen do Brasil”, os besouros perten- centes à Última Série são vistos como modelos exclusivos e de alto valor, capaz de enriquecer o acervo de qualquer fã do mode- lo. Prova maior é a de um Fusca “Última Série” no AutoMuseum, em Wolfsburg – que, diga-se, não guarda nenhum exemplar da série “Itamar”. v Todos os 850 exemplares da Última Série são equipados com motor de 1.600 cm³, com dupla carburação e alimentação a álcool O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 3 3 Telegram @clubederevistas VISUAL A popularidade do Fusca é ainda tão forte que o versátil besouro também se atualizou às modernas tendências do tuning DIFERENCIADO Fo to s: S au lo M az zo ni 3 4 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A T E N D Ê N C I A S Telegram @clubederevistas F usca mexido, com motor “brabo” e características mais esportivas nunca foi nenhuma novidade. Desde a década de 1950 diver- sos especialistas se dedicaram a explorar o enorme potencial do versátil besouro, desenvolvendo “venenos” específ icos e se pre- ocupando também em garantir um visual mais jovial, inclusive com o aproveitamento de mui- tos componentes originais dos carros esporte Porsche, já que o DNA é o mesmo. Nos últimos anos, porém, se popularizaram as definições California Look e German Look, termos que ser- vem para diferenciar as tendên- cias de customização dos dois lados do Atlântico. Na verdade, essas duas ten- dências, apesar de já serem re- conhecidas desde o começo da década de 1960, só acabaram “catalogadas” of icialmente com a explosão do tuning, mania que se popularizou mundialmente a partir do f im dos anos setenta, começo da década de 1980, e que teve suas raízes justamente nos Estados Unidos e Alemanha, os dois países que na época tinham as maiores frotas de automóveis. Assim, enquanto os americanos sempre costumaram abusar da O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 3 5 Telegram @clubederevistas criatividade para fazer seus car- ros não apenas mais potentes, mas também bastante diferen- tes, os discretos alemães nor- malmente se contentaram em aprimorar seus carros af inando (tuning) à mecânica e o visual. No caso específico do Fusca, estas diferenças de tendência são bem fáceis de distinguir, já que no California Look tudo é permitido, desde instalar o popular compressor volumé- trico ou turbocompressor para aumentar a potência do motor, até recortar a carroceria para rebaixar ou retirar o teto e in- clusive arrancar os para-lamas. Já um legítimo German Look se caracteriza por um visu- al bem mais comportado, para não dizer conservador, mas não menos charmoso, e não deixa nada a desejar no que se refe- re a desempenho e potência com relação à moda americana, apesar de comumente o motor “cubicado” (cilindrada aumen- tada) continuar sendo aspirado e geralmente carburado. GERMAN LOOK As raízes do Fusca à moda German Look vêm desde a déca- da de 1950, quando proprietários de besouro passaram a equipar seus carros com componentes do Porsche 356. Tendência essa que se ampliou nos anos sessenta e principalmente na década de 1970 com o lançamento das séries 1302 e 1303, nas quais era mais fácil instalar os componentes dos mo- delos Porsche da época. Desta for- ma, eles procuravam melhorar o desempenho dos Fusquinhas para enfrentar as velozes Autobahnen, as superestradas alemãs nas quais se pode rodar a quanto quiser, sem limite de velocidade. Como um Fusca original chegava a no má- ximo 125 km/h, muitos proprie- tários do modelo passaram a pro- curar preparadores especializados com a finalidade de aumentar a Um detalhe que caracteriza os Fuscas German Look é a utilização das rodas de Porsche, originais ou réplicas, já que por segurança os besouros também precisam de freio compatível à nova potência do motor Instrumentos de painel e rodas originais de Porsche 911, volante de Porsche 914, tetosolar europeu e outros acessórios tornam este Fusca 1994 em um legítimo German Look. As agressivas saídas de escapamento denunciam a preparação do motor, que foi a 2.200 cm³ 3 6 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A T E N D Ê N C I A S Telegram @clubederevistas potência e por conseguinte o de- sempenho do Fusquinha. Mas a explosão desta tendência se deve a uma espécie de “revol- ta”, principalmente daqueles que haviam adquirido os modelos da série Jubilee, a última do Fusca comercializada oficialmente pela marca na Alemanha, em 1985, e que era importada do México. Apesar de pagarem um preço ra- zoável pelo modelo, eles come- çaram a ser “perseguidos”, já que não podiam desfrutar com total tranqüilidade de seus Fuscas ze- ro-quilômetro nas superestradas, onde eram alertados pela polícia rodoviária para só andarem nas faixas da direita, de menor velo- cidade, nas quais passavam a ser “assombrados” por grandes e po- tentes caminhões, mais velozes que o tranquilo besouro original. Isso fez surgir um movimento que foi ganhando força e adeptos e que acabou fazendo ressurgir na Alemanha uma forte “indústria” de equipamentos e componentes para transformar os Fuscas em modelos mais potentes com moto- res de até 2.900 cm³, que podem superar facilmente os 200 cv de potência, bem como os 200 qui- lômetros por hora. Mas, exter- namente, costuma ser mantido o desenho original da carroceria. Num Fusca German Look, a úni- ca exceção são os para-lamas, que geralmente precisam ser alargados em alguns centímetros para aco- modar rodas e pneus maiores e bem mais largos, de acordo com o desempenho e segurança. PEÇAS DE PORSCHE Por causa disso, um detalhe externo que caracteriza basica- mente os Fuscas German Look é a utilização das rodas de modelos Porsche, originais ou réplicas, já que por questão de segurança os besouros também são obrigados a ter um sistema de freio compa- tível com o desempenho propor- cionado pelo motor, conforme determina o TüV, órgão que ho- mologa os veí culos naquele país. Algo que nem pode ser conside- rado uma heresia, já que ambas as marcas têm o mesmo DNA. Além de se tornarem mais se- guros com os freios superdimen- sionados de Porsche, os Fuscas O Sedan 1967 ficou mais esportivo após “vestir” acabamento original de Porsche 356; das rodas aos faróis; das lanternas aos frisos, estendendo-se até os instrumentos no painel O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 3 7 Telegram @clubederevistas ficam também bem mais charmo- sos e, principalmente, com visual mais jovial. Nos modelos que uti- lizam sistemas mais modernos do Porsche 911, séries 993 e 996, as rodas precisam ter aro mínimo de 17 pol, devido ao grande diâmetro dos discos, enquanto os modelos com sistemas mais antigos, tam- bém do Porsche 911, podem utili- zar rodas de aro 15 e 16 pol, como a tradicional Fuchs. Outro detalhe que caracteriza os Fuscas German Look se refe- re à cor da carroceria, geralmen- te sóbria, na sua grande maioria com tons escuros ou metaliza- dos, como boa parte dos mode- los Porsche que circulam por aí. Com raras exceções, alguns German Look têm cores mais vi- vas como o branco em especial e com faixas coloridas de Porsche. Além disso, componentes como para-choques, maçanetas, estri- bos e frisos ou são normalmente pintados na cor da carroceria ou em preto fosco. MOTOR VW Mas, se os componentes dos freios são normalmente de Porsche, o “coração” de um German Look deve ser obrigatoriamente o tra- dicional VW de quatro cilindros contrapostos a ar, claro que de- vidamente “cubicado” para pro- porcionar um desempenho com- patível. Tentar adaptar um motor semelhante, tanto de quatro como de seis cilindros de Porsche, foge à concepção básica da tendência German Look. Apesar de uma ampla gama de ofertas, que vão até Componentes de Fusca alemão se misturam a acessórios da linha Porsche neste besouro nacional fabricado em 1986 3 8 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A T E N D Ê N C I A S Telegram @clubederevistas 2.900 cm³, a maioria dos besouros, à moda German Look, tem moto- res de 2.000 a 2.500 cm³. Um 2.100, por exemplo, bem acertado, pode chegar aos 140 cv e, com marchas mais longas, especial- mente a quarta, em que geralmente é utilizada a relação 0,82:1 (no lu- gar das tradicionais 0,89:1 e 0,93:1), enquanto no diferencial é utiliza- da a coroa e pinhão de 31:8 dentes (3,88:1, como no SP2 e Fusca 1984), o besouro pode rodar facilmente em torno dos 200 km/h, sem muito esforço. Esse, por sinal, é o obje- tivo dos proprietários de German Look, que não têm a pretensão de ser o mais veloz da Autobahn. Essa primazia é deixada para os proprie- tários dos Porsche. A idéia deles é apenas de “assombrar” os motoris- tas de modelos pequenos e também velozes, além de se vingar dos antes témidos caminhoneiros. FORÇA BRUTA Já o estilo California Look se- gue a tendência americana de ba- sear o “veneno” na “força bruta”, apelando para qualquer tipo de componente que aumente a potên- cia de maneira exponencial. Para isso, eles não somente aumentam a cilindrada, mas também insta- lam os compressores volumétricos, como o pioneiro Judson que, ain- Já o estilo California Look segue a tendência americana de basear o “veneno” na “força bruta”, apelando para qualquer tipo de componente que aumente a potência de maneira exponencial Caso raro no Brasil, o proprietário deste Sedan “Cornowagen” 1966 abandonou a mecânica VW e instalou um legítimo motor de Porsche 356, com 100 cv de potência O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 3 9 Telegram @clubederevistas da na década de 1950, foi utilizado para garantir melhor desempenho aos Fusquinhas 1200. Mais tarde, os preparadores americanos tam- bém passaram a utilizar os turbo- compressores. É claro que para este aumento substancial de potência a carcaça deve ser reforçada e vira- brequim e bielas são forjados. Outra característica do California Look é a “liberdade de expressão” no que se refere aos de- talhes de estilo. Aí também “vale tudo” seguindo as diversas deri- vações da “vocação” hot rod e que permitem até o carro rodar sem os para-lamas, algo que a legislação de trânsito dos Estados Unidos não coíbe. Rebaixar o teto, uma característica bastante comum dos street rods, é outro detalhe que garante um visual bem “brabo” aos Fusquinhas, assim como o au- mento do entre-eixos, o que é feito alterando a fixação do eixo dian- teiro no cabeçote. Tudo isso, com a finalidade de garantir um visu- al bem diferenciado dos modelos convencionais. NO BRASIL Essas duas tendências já estão bem difundidas aqui no Brasil, onde o German Look se sobre- põe ao California Look, em parte devido às restrições da legislação brasileira de trânsito. Por outro lado, o brasileiro, assim como o alemão, também é bem mais con- servador no que se refere aos deta- lhes visuais do carro. Desde mea- dos da década de 1990 já haviam proprietários brasileiros de Fuscas investindo na preparação de mo- tores e também no visual German Look. Vinicius Losacco, um dos mais renomados preparadores de motores do País, tanto para as pis- tas como para rua, afirma que já “cubicou” muito motor de Fusca com mais de 2 litros. Porém, ao contrário dos mo- delos alemães, os donos dos German Look brasileiros prefe- Mais para o estilo Califórnia Look, este Sedan 1954 ganhou motor 1800 preparado, rodas de Porsche 911, volante de Fusca alemão e uma completa “relojoaria” no painel, além de bancos esportivos 4 0 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A T E N D Ê N C I A S Telegram @clubederevistas rem deixar o carro afinado ape- nas com a finalidade de “arrepiar” em arrancadas, do que para ob- ter velocidade máxima. Por isso, os modelos nacionais geralmente têm marchas mais curtas, o que faz a velocidade máxima ficar na faixa de 180 a 200 km/h. O curio- so é que muitosdestes besouros nacionais foram montados com peças importadas fabricadas no Brasil. Isso mesmo: vários compo- nentes que equipam os California e German Looks no exterior são fabricados no Brasil para a ex- portação, como os kits de pistão e cilindro, virabrequins especiais e até a carcaça do motor. Mais recentemente também co me çou a se popularizar aqui no Brasil a tendência americana de re- cortar os Fuscas, rebaixando ou su- primindo o teto, além de aumentar a potência com a utilização de com- pressor ou turbocompressor. Esses componentes, entretanto, ainda são mais utilizados nos besouros de competição que participam de maneira destacada nas provas de arrancada, outra mania americana que está se popularizando no País. Com isso, já existem muitas ofi- cinas especializadas neste tipo de preparação, como também na de serviços de modificação do visual da lataria. v (Roberto Marks) Vários componentes que equipam os California e os German Looks no exterior são fabricados no Brasil para a exportação, como os kits de pistão e cilindro, virabrequins e até a carcaça do motor De visual contemporâneo, este Fusca 1984 mescla acessórios modernos de Porsche a outros da linha VW, porém importados. O interior também foi personalizado, num misto de German e Califórnia Look O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 4 1 Telegram @clubederevistas Fo to s: S au lo M az zo ni 4 2 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A V W G O L 19 8 0 - 8 6 Telegram @clubederevistas M aior sucesso comer- cial na história da indústria automobi- lística brasileira, o Volkswagen Gol também pode ser considerado o último modelo de- rivado do Fusca. Apesar da carro- ceria monobloco e da tração dian- teira, esse modelo foi lançado, em 1980, empurrado – ou seria puxa- do? – pelo mesmo motor refrige- rado a ar e a transmissão utilizada no besouro. Àquela altura, a pro- posta da VW era garantir a seus clientes uma opção mais moderna, porém mantendo a confiabilidade e a versatilidade do tradicional conjunto mecânico do Sedan. Batizado como Projeto BX, o Gol nasceu nos planos da Volkswagen em meados da dé- cada de 1970. Na ocasião, a filial brasileira passou a sentir que pre- cisava rapidamente desenvolver um sucessor para o Fusca, que começava, após quase três déca- das de mercado, a perder espaço para concorrentes com projetos mais modernos, como o Chevrolet Chevette e logo depois o Fiat 147. Vale lembrar que, em 1974, a em- presa já havia lançado o Passat, que agradou boa parte de sua “fre- guesia”. Para alguns fiéis compradores da marca, entretanto, o Passat era tido como um “anti-Volkswagen”, por suas características mecânicas – sobretudo o motor de refrigera- ção líquida – deporem exatamente contra a filosofia pregada pela fá- brica desde a sua chegada ao Brasil. DIGNO SUCESSOR Recordista em vendas no Brasil, com mais de 4,5 milhões de unidades já produzidas, o Gol também herdou o “coração” do Fusca no começo de sua trajetória O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 4 3 Telegram @clubederevistas Na ocasião, a filial brasileira passou a sentir que precisava rapidamente desenvolver um sucessor para o Fusca, que começava a perder espaço para concorrentes com projetos mais modernos O interior mais moderno do Gol oferecia mais conforto e instrumentos inexistentes na linha Fusca. Apenas o volante era o mesmo para os dois modelos 4 4 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A V W G O L 19 8 0 - 8 6 Telegram @clubederevistas De fato, exceto pelo Passat, todo o restante da linha Volkswagen na- quele momento era baseada na re- ceita criada pelo Fusca, com o mo- tor traseiro refrigerado a ar. A solução para um novo pro- jeto nacional teve inspiração no protótipo EA 276 (EA é sigla de Entwicklunsgarbeit, trabalho de desenvolvimento, e 276 a nume- ração sequencial de engenharia), desenvolvido pela matriz alemã em 1969, mas que não entrou em produção. Porém, com um estilo mais moderno do que o protótipo alemão, as linhas do Gol se desta- cavam pelo visual jovial de linhas retas, típicas da época, que mar- caram a primeira geração do novo VW brasileiro. Como as condições de nossas ruas e estradas exigiam uma plata- forma bem mais resistente que as adotadas na Alemanha, o projeto do Gol foi entregue ao engenhei- ro iugoslavo naturalizado alemão, Philipp Schmidt, que também já havia chefiado a equipe alemã que desenhou o EA 276. Enviado ao Brasil, ele coordenou a equipe criada para desenvolver esta nova família de modelos Volkswagen. POTÊNCIA EXTRA Os primeiros esboços foram realizados em maio de 1976 e já traziam a configuração hatchba- ck, com a terceira porta trasei- ra abrangendo o vigia traseiro. A inspiração, dessa vez, foi o dese- nho do Volkswagen Scirocco, es- portivo baseado na plataforma do Golf, que chegou a ter algumas unidades importadas para testes. Diferentemente dos últimos lan- çamentos europeus, bem como do Passat, a equipe nacional optou por utilizar a mecânica boxer de 1.300 cm³ original do Fusca. O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 4 5 Telegram @clubederevistas A diferença em relação ao besouro e a todos os derivados produzidos até aquele momento é que o motor, dessa vez, foi transferido para a dianteira. Com isso, a potência passava de 38 para 42 cv Após nascer com a mecânica do Fusca 1300, o Gol rapidamente adotou um motor mais forte, de 1.600 cm³ 4 6 | O G R A N D E L I V R O D O F U S C A V W G O L 19 8 0 - 8 6 Telegram @clubederevistas A diferença em relação ao be- souro e a todos os derivados é que o motor, dessa vez, foi transferido para a dianteira. Com isso, a po- tência passou de 38 para 42 cv em função da turbina de arrefecimento, que não precisava de tanta vazão, já que o motor recebia ar pela grade dianteira. Mas se enganou quem imaginou que apenas esse incre- mento de potência seria suficiente para o Gol fazer sucesso. Lançado em maio de 1980, o modelo logo agradou pelo visual moderno, de apelo esportivo. Contudo, esporti- carburadores. Com isso, a acelera- ção de 0 a 100 km/h passou de 22 segundos (versão 1300) para 15,4 segundos, enquanto a velocidade máxima saltou de 130 km/h para 143 km/h. Se o desempenho havia me- lhorado, ficavam as reclamações sobre o elevado nível de ruído gerado pelo motor boxer origi- nal do besouro. Até por isso, es- sas primeiras gerações do Gol são hoje conhecidas como “batedeira” – injustamente, pois o ruído vem apenas de muita folga de válvu- vidade era tudo que o Gol não ofe- recia na hora em que o motorista exigia do acelerador. O erro de avaliação ocorreu por o marketing da empresa resolveu priorizar a economia de combustí- vel, optando pela versão de 1.285 cm³ de um só carburador – sendo que até a versão mais potente do Fusca trazia motor de 1.584 cm³ com dupla carburação. Agindo rá- pido, entretanto, a fábrica lançou em fevereiro de 1981 as versões S e LS, ambas equipadas com o mo- tor de 1.600 cm³ dotado de dois O G R A N D E L I V R O D O F U S C A | 4 7 Telegram @clubederevistas las, resultado exclusivo de falta de manutenção. Além disso, o ad- vento do segundo carburador for- çou a mudança do estepe para o porta-malas, roubando boa parte do espaço destinado às bagagens. Quanto a isso, entretanto, há uma história curiosa: o dono de uma concessionária autorizada VW notou que bastava montar o estepe invertido sobre o segundo carburador para voltar a acomodá- lo junto ao motor. A ideia, simples, mas eficaz, logo foi adotada pela própria Volkswagen. A FAMÍLIA CRESCE Em maio daquele ano, a linha BX cresceu com o lançamento do Voyage, que já chegou ao merca- do equipado com motor de refri- geração líquida, mesma receita adotada pelo terceiro integrante, a perua Parati, apresentada ao público em junho de 1982. Três meses mais tarde, a família fica- va completa com o surgimento da picape